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comte e durkheim

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MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. 38°Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos)
Embora Auguste Comte seja considerado o pai da Sociologia, Durkheim é apontado como um de seus primeiros grandes teóricos. Era positivista e, por essa razão, queria definir com rigor a sociologia como ciência, rompendo com as ideias de senso comum. Definiu o objeto da sociologia como sendo os fatos sociais. O fato social é experimentado pelo indivíduo como uma realidade independente e preexistente. E possui três características, apontadas a seguir.
A coerção social é a força com que os atos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformarem-se às regras da sociedade em que vivem, independentemente de sua vontade e escolha. A coerção social se manifesta através das sanções legais e das sanções espontâneas. As sanções legais são as sanções prescritas pela sociedade sob a forma de leis. (Ex: Multas de trânsito). As sanções espontâneas são as sanções que afloram como resposta a uma conduta considerada inadequada por um grupo ou pela sociedade. (Ex: Olhares de reprovação). 
A educação, formal e informal, desempenha uma importante tarefa nessa conformação dos indivíduos à sociedade em que vivem. Após algum tempo, as regras são internalizadas nos membros do grupo e transformadas em hábitos. 
A exterioridade é um fato social que existe e atua sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente, sendo, assim, “exteriores aos indivíduos”. 
E a generalidade é geral, isto é, se repete em todos os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles. A natureza do fato social é coletiva.
Durkheim definiu o método de conhecimento da sociologia. Para ele, como para todos os positivistas, a explicação científica exige que o pesquisador estabeleça e mantenha certa distância e neutralidade em relação ao seu objeto de estudo. É preciso manter a objetividade da análise. Assim, o sociólogo, para que não distorça a realidade dos fatos, deve deixar de lado suas “prenoções” (sentimentos pessoais em relação àquilo que está sendo estudado).
Levando às últimas consequências essa proposta de distanciamento entre o cientista e seu objeto de estudo, o que já era assumido pelas ciências naturais, Durkheim aconselhava o sociólogo a encarar os fatos sociais como coisas, ou seja, como objetos que lhe são exteriores. Propunha o exercício da dúvida metódica, isto é, o constante questionamento a ser realizado pelo cientista sobre a objetividade dos fatos estudados, procurando anular sempre a influência de suas prenoções.
Em relação ao suicídio, Durkheim estudou profundamente, utilizando nesse trabalho toda a metodologia defendida por ele. Para ele, o suicídio é um fato social por sua presença universal em toda e qualquer sociedade e por suas características exteriores e mensuráveis, completamente independentes das razões que levam cada suicida a acabar com a própria vida. O suicídio dependeria das leis sociais e não da vontade individual do suicida. A prova disso estava na regularidade com que variavam as taxas de suicídio de acordo com as alternâncias das condições históricas.
A sociedade, como todo organismo, apresenta estados que podem ser considerados normais ou patológicos (saudáveis ou doentios). O fato social é normal quando se encontra generalizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua a adaptação ou para a evolução desta sociedade. O fato social se encontra generalizado pela sociedade quando representa o consenso social, isto é, quando representa a vontade coletiva a respeito de determinada questão. Sobre o fato desempenhar alguma importante função social, temos como exemplo o crime: Punindo o criminoso, os membros de uma coletividade reforçam seus princípios, renovando-os. O fato social é patológico quando, ao contrário, se encontrar fora dos limites permitido pela ordem social e pela moral vigente.
Segundo Durkheim, os fatos sociais tem existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam uma consciência individual (seu modo próprio de pensar e agir), pode-se notar, no interior da sociedade, formas padronizadas de pensamento e conduta. Existe, portanto, uma consciência coletiva.
Com base em apurada observação experimental, comparou as diversas sociedades, classificando-as das mais simples às mais complexas. Estabeleceu ainda a passagem da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica como o motor de transformação de toda e qualquer sociedade.
Solidariedade mecânica é a solidariedade que predominava nas sociedades pré-capitalistas. São pequenas sociedades, nas quais os indivíduos se identificam em muitos aspectos: família, religião, tradição e costumes. É essa correspondência de valores que garante a coesão social. Aqui a consciência coletiva exerce todo o seu poder de coerção sobre os indivíduos. 
De modo distinto, a solidariedade orgânica é a solidariedade típica das sociedades capitalistas, ditas mais “modernas” ou “complexas”. Nestas, há maior diferenciação individual e social. Além de não compartilharem dos mesmos valores e crenças sociais, os interesses individuais são bastante distintos e a consciência de cada indivíduo é mais acentuada. A consciência coletiva se afrouxa. A coesão social não está assentada em crenças e valores sociais, religiosos, na tradição ou nos costumes compartilhados, mas nas normas jurídicas e também na união social que surge na medida em que a acelerada divisão do trabalho social tornou os indivíduos interdependentes. 
Durkheim se distingue dos demais positivistas pela sua rigorosa postura empírica, centrada na verificação dos fatos que poderiam ser observados, mensurados e relacionados por meio de dados coletados diretamente pelo cientista. 
COSTA, Cristina. Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. 3ª Ed. 2005.

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