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Direitos Reservados:
Virtus Consultoria e Serviços Ltda.
Autor:
T. Hojo & Paulo Maezono
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58
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS
Edição 3 - 2012
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Introdução e índice 2 de 58
SOBRE OS AUTORES
Eng. Paulo Koiti Maezono
Formação
Graduado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1969.
Mestre em Engenharia em 1978, pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá, com os créditos
obtidos em 1974 através do Power Technology Course do P.T.I – em Schenectady, USA. Estágio
em Sistemas Digitais de Supervisão, Controle e Proteção em 1997, na Toshiba Co. e EPDC –
Electric Power Development Co. de Tokyo – Japão.
Engenharia Elétrica
Foi empregado da CESP – Companhia Energética de São Paulo no período de 1970 a 1997, com
atividades de operação e manutenção nas áreas de Proteção de Sistemas Elétricos, Supervisão e
Automação de Subestações, Supervisão e Controle de Centros de Operação e Medição de
Controle e Faturamento. Participou de atividades de grupos de trabalho do ex GCOI, na área de
proteção, com ênfase em análise de perturbações e metodologias estatísticas de avaliação de
desempenho.
Atualmente é consultor e sócio da Virtus Consultoria e Serviços Ltda. em São Paulo – SP. A Virtus
tem como clientes empresas concessionárias de serviços de energia elétrica, empresas projetistas
na área de Transmissão de Energia, fabricantes e fornecedores de sistemas de proteção, controle
e supervisão. Já colaborou com o Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e Instituto Presbiteriano Mackenzie.
Área Acadêmica
Foi professor na Escola de Engenharia e na Faculdade de Tecnologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie no período de 1972 a 1987. É colaborador na área de educação
continuada da mesma universidade, de 1972 até 2009.
Foi colaborador do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da EPUSP –
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, desde 1999 até 2009, com participação no
atendimento a projetos especiais da Aneel, Eletrobrás e Concessionárias.
Eng. Toshiaki Hojo
Graduado em engenharia elétrica pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de
São Paulo em 1975, com curso de especialização em Sistemas Elétricos de Potência (“Power
System Engineering Course”) pela General Electric Co. – USA em 1982.
Foi empregado da CESP – Companhia Energética de São Paulo no período de 1976 a 1998 e da
CTEEP – Transmissão Paulista de 1998 a 2001.
Foi engenheiro consultor e associado da Virtus Consultoria e Serviços Ltda. em São Paulo – SP
de 2001 a 2008. Está na TBE desde 2008.
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Introdução e índice 3 de 58
INDICE
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 5
1.1 SINAIS PARA REPRESENTAÇÃO DE CORRENTES / TENSÕES NOMINAIS E RELAÇÕES
NOMINAIS .................................................................................................................................................................... 5
1.1.1 Exemplos para TC´s ...................................................................................................................................... 5
1.1.2 Exemplos para TP´s: ..................................................................................................................................... 6
1.2 ESCOLHA DOS TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS ............................................................ 7
1.3 NORMAS TÉCNICAS ...................................................................................................................................... 8
1.3.1 ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) ..................................................................................... 8
1.3.2 IEC (International Electro technical Commission) ....................................................................................... 8
1.3.3 ANSI (American National Standards Institute) ............................................................................................. 8
1.3.4 VDE (Verband Deutscher Elektrotechniker) ................................................................................................ 8
2. TRANSFORMADORES DE CORRENTE ............................................................................................................ 9
2.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 9
2.2 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA E POLARIDADE DE UM TC ....................................................................... 9
2.3 RELAÇÃO DE TRANSFORMAÇÃO DO TC ............................................................................................... 10
2.4 CIRCUITO EQUIVALENTE DO TC ............................................................................................................. 11
2.5 CARACTERIZAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR DE CORRENTE ....................................................... 12
2.5.1 Carga Nominal. ........................................................................................................................................... 12
2.5.2 Classe de Exatidão Nominal. ...................................................................................................................... 13
2.5.3 Fator de Sobrecorrente do TC. ................................................................................................................... 13
2.5.4 Fator Térmico Nominal. .............................................................................................................................. 14
2.5.5 Corrente Térmica Nominal. ........................................................................................................................ 14
2.5.6 Corrente Dinâmica Nominal. ...................................................................................................................... 15
2.6 TRANSFORMADORES DE CORRENTE PARA SERVIÇO DE MEDIÇÃO. ............................................. 15
2.7 TRANSFORMADOR DE CORRENTE PARA SERVIÇO DE PROTEÇÃO. ................................................ 16
2.7.1 Classe A ....................................................................................................................................................... 16
2.7.2 Classe B ....................................................................................................................................................... 17
2.7.3 Classe de Exatidão segundo ANSI .............................................................................................................. 18
2.7.4 Classe de Exatidão segundo ABNT ............................................................................................................. 20
2.7.5 Classe de Exatidão Equivalente em ANSI e ABNT ..................................................................................... 22
2.8 EXEMPLOS DE BURDEN ............................................................................................................................. 23
2.9 TABELA COMPARATIVA DE CARGA (“BURDEN”) SEGUNDO NORMAS .......................................... 25
2.10 TABELA COMPARATIVA DE CLASSE EXATIDÃO SEGUNDO ANSI E IEC PARA PROTEÇÃO ....... 25
2.11 DEFINIÇÃO DE JOELHO (KNEE POINT) DA CURVA DE MAGNETIZAÇÃO DO NÚCLEO DO TC ... 26
2.12 BURDEN NOMINAL ..................................................................................................................................... 26
3. REQUISITOS DE TC’S PARA PROTEÇÃO CONSIDERADOS POR NORMA OU ALGUNS
FABRICANTES DE RELÉS .........................................................................................................................................em uma tensão mais alta,
reduzindo assim a corrente I.
Dessa maneira, a tensão V1 torna-se uma tensão intermediária, a qual, com a ajuda do
transformador, é reduzida a uma tensão secundária final.
Conhecendo-se o valor das capacitâncias do divisor de tensão, podemos determinar a tensão
intermediária V1 e a relação de transformação.
A indutância necessária para a compensação do divisor de tensão capacitivo é normalmente
incluída no transformador intermediário, consistindo das indutâncias normais de dispersão
dos enrolamentos do transformador e de uma indutância adicional em série.
O circuito completo para um divisor capacitivo de potencial é mostrado na figura seguinte,
onde o transformador intermediário é representado de maneira convencional, sendo R1 a
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 51 de 58
resistência primária, L1 a indutância série, R2 e L2 a resistência e a indutância secundárias
referidas ao lado primário e Zm a impedância de magnetização resultante da resistência Rm
em paralelo com a indutância Lm. A indutância série total L1 + L2 inclui as indutâncias normais
de dispersão mais a indutância adicional necessária para obter a compensação desejada da
capacitância equivalente Ce = Ca + Cb do divisor de tensão capacitivo. A impedância Z
representa a carga nos terminais secundários.
V
Cb
R1
Ca
Im
I
ZV2
Z1
R2
Rm
L1 L2
Lm
Z2
Zm
Figura 6-10 - Divisor Capacitivo de Potencial - Circuito Completo
6.4.1 Divisor Capacitivo de Potencial em Vazio.
Na figura seguinte, é mostrado o diagrama equivalente do DCP com o enrolamento
secundário aberto. É interessante observar que a única diferença entre um DCP e um TP
comum é a capacitância em série com o enrolamento primário.
A tensão em vazio Vvazio é obtida pela seguinte equação:
Vvazio = V1 - Ze.Im - Z1.Im
Vvazio =
ZZZ
Z
e1m
m
.V1
V1
Ce R1
Ze
Im
Vvazio
Z1
R2
Rm
L1 L2
Lm
Z2
Zm
TP Comum
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 52 de 58
Figura 6-11 - Divisor Capacitivo de Potencial em Vazio
A equação acima expressa como a tensão secundária a vazio desvia da tensão ideal V1.
Assim, é possível se determinar o erro de relação 0 e o erro de ângulo de fase 0 do DCP
a vazio:
0 + j 0 =
V
VV
1
1vazio = -
ZZZ
ZZ
e1m
e1
As condições a vazio são graficamente mostradas na figura seguinte. O erro de relação 0
pode ser corrigido através da relação de espiras do transformador. Para assegurar que o
erro de ângulo de fase 0 seja conservado, em limites razoáveis é essencial que a maior
parte da indutância de compensação esteja no circuito primário ao transformador.
0 + j 0
Im
R1 Im
V1
V1
V1
= 1
Vvazio = V1 - Ze.Im - Z1.Im 0 + j 0 =
Vvazio - V1
V1
Vvazio
= 1 + 0 + j 0
V1
L1 Im
V1
Ce V1
Im
Figura 6-12 - Diagrama Fasorial do DCP em Vazio
6.4.2 Divisor Capacitivo de Potencial em Carga
Consideremos o DCP mostrado na figura a seguir, com uma carga de impedância Z, que
consome uma corrente I e a potência aparente S.
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 53 de 58
V
Cb
R1
Ca
Im
I
ZV2
Z1
R2
Rm
L1 L2
Lm
Z2
Zm
Figura 6-13 - Divisor Capacitivo de Potencial em Carga
A relação entre a tensão primária V e a tensão secundária V2 é dada pela equação:
V2 =
ZZZ
Z
e1m
m
.
CC
C
ba
b
. V - Z2 +
ZZZ
ZZ.Z
e1m
e1m
. I
Foi visto também que:
V1 =
CC
C
ba
b
. V
Vvazio =
ZZZ
Z
e1m
m
.V1
e a expressão entre colchetes da equação de V2:
Z2 +
ZZZ
ZZ.Z
e1m
e1m
representa a impedância interna entre os pontos em que temos Vvazio, na figura 4.4.2 do
Divisor Capacitivo de Potencial a vazio, se o lado de entrada é imaginado curto circuitado.
Assim, a equação de V2 acima corresponde ao circuito equivalente da figura seguinte, onde
é possível observar como os elementos componentes influenciam nas propriedades de
medição do DCP.
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 54 de 58
Ze Z1
Zm
Z2
ZVvazio V2
I
Figura 6-14 - Circuito Equivalente
Para maior facilidade no estudo de dependência de carga, podemos desprezar a
impedância de magnetização Zm, pois a mesma é na prática, da ordem de 50 a 500 vezes
a impedância (Ze + Z1).
Isto conduz ao circuito mostrado na figura seguinte que é um circuito simplificado, através
do qual se analisarão algumas propriedades características dos divisores capacitivos de
potencial.
Vvazio
Ce
I
ZV2
RL
Z1 + Z2Ze
Figura 6-15 - Circuito Simplificado
A queda de tensão (Ze + Z1 + Z2) I expressa a variação da tensão secundária com a carga.
Quando o circuito é exatamente sintonizado para a frequência angular n, as quedas de
tensões reativas
C
I
n e
e n LI cancelam-se, sendo os erros em carga 1 e 1 na figura que
mostra o erro de relação e o erro de ângulo de fase, determinados unicamente pela queda
R.I.
Os erros resultantes e são obtidos pela soma dos erros a vazio e com carga conforme
figura a seguir, considerando a carga indutiva com ângulo de fase .
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 55 de 58
0 + j 0
I
V1
V1
= 1
Vvazio
V1
1 + j 1
+ j
R I
V1
V2
= 1 + + j
V1
L I
V1
Ce V1
I
Figura 6-16 - Erro de Relação e Ângulo de Fase
No transformador de potencial há sempre uma queda de tensão reativa devido a indutância
de dispersão nos enrolamentos. Essa queda de tensão pode ser evitada nos DCP´s por
adequada sintonização.
Uma variação de freqüência provoca alteração no erro de relação e ângulo de fase do
DCP, assim como uma modificação na carga Z também provoca alteração no erro de
relação e ângulo de fase.
6.5 Exemplos de DCP
1
2
3
1 - Divisor de Tensão Capacitivo
2 - Transformador de Potencial Intermediário
3 - Conexão para Carrier
Figura 6-17 - DCP ASEA
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 56 de 58
F
ilt
ro
C
a
rr
ie
r
S
2
S
1
L2
L4
T
1
1
15
V
66
,4
V
0 066
,4
V
1
15
V
20
V
20
V
20
V
80
V
80
V
80
V
13
0N
N N N 4N 4N
50
50
V
C
2
C
1A
C
1B
C
1C
Figura 6-18 - DCP GE
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 57 de 58
Tr
H1
H2 E
G
F
L
S
K
P
x1
x2
x3
y1
y2
y3
H2HF
Rd
Rd
C2
C1a
C1b
Figura 6-19 - DCP HAEFELY
7. FERRORESSONÂNCIA
Em TP´s ligados entre fase e neutro em sistemas isolados pode ocorrer em certas condições,
um fenômeno de oscilação ressonante entre a capacitância da rede e a indutância dos TP´s.
É a chamada ferroressonância.
Apesar de no Brasil não ser comum sistemas com neutro isolado, o fenômeno da
ferroressonância deve ser pesquisado e evitado pois pode provocar sobretensões muito
elevadas ou até mesmo a destruição térmica do TP.
O fenômeno da ferroressonância pode ocorrer em circuitos contendo um capacitor e um
reator incorporado num núcleo de ferro (indutância não linear).
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 58 de 58
Tanto o TP capacitivo como o indutivo pode ser envolvidos no fenômeno da ferroressonância.
TP Indutivo
A ferroressonância num TP indutivo é uma oscilação entre a indutância do TP e a
capacitância da rede. A ferroressonância pode acontecer somente em redes isoladas, porém,
mesmo em redes aterradas, há a possibilidade de algum trecho ficar isolado em certas
circunstâncias.
Uma oscilação é normalmente iniciada pela súbita mudança na tensão da rede. O fenômeno
da ferroressonância pode ocorrer tanto nas freqüências harmônicas como subharmônicas.
Geralmente é difícil se determinar quando há risco de ocorrência de ferroressonância porém,
tão logo se verifique um “não aterramento” do TP devido a alguma circunstância, deverão ser
tomadas medidas preventivas. (considerar inclusivea condição de conexão de TP´s em
sistemas capacitivos).
A eliminação da ferroressonância é feita normalmente com a conexão de um resistor de 27 a
60 ohms, 200 W, no enrolamento do delta aberto. O valor do resistor deve permitir circulação
de uma corrente tão alta quanto possível, mas abaixo do valor do coeficiente térmico do TP.
TP Capacitivo
O TP capacitivo, com o seu capacitor e o transformador indutivo de acoplamento por si só já é
um circuito ferro ressonante. O fenômeno é iniciado pela variação súbita da tensão.
Uma oscilação subharmônica pode ser iniciada e é preciso que seja eliminada para evitar
danos no TP.
A norma IEC especifica que os TP´s capacitivos devem ter dispositivos anti ferro-ressonância.
Normalmente são constituídos de um reator saturável e um resistor em cada fase.
8. BIBLIOGRAFIA
“Current Transformers for Differential Relaying – Requeriments and Dimensioning” –
Gerhard Ziegler – Belo Horizonte, November 2005.
“Critérios para a Escolha de Transformadores para Instrumentos” - Eng. Ricardo Rocha
Lage.
“Uma Interpretação da Norma de Transformadores para Instrumentos” - Johann Meier
“Proteção de Sistemas Elétricos de Potência - Volume I” - Geraldo Kindermann
“Transformadores para Instrumentos” - Eng. Carlos A. Biella e Décio J. Perez
“Instrument Transformers for Relaying” - W. A. Elmore
“Protection Application Handbook” - ABB
“Manuais dos Relés 7SA6, 7UT6” - Siemens
“Manuais de TC´s e TP´s” - Arteche
.....
Janela de Dados Móvel
4
Edição MODIFICAÇÃO DATA POR DATA APROV.
PROJETO
CURSO DE PROTEÇÃO
DETALHE
Noções de Proteção Digital
Direitos Reservados:
Virtus Consultoria e Serviços Ltda.
Autor:
Paulo Koiti Maezono
Instrutores:
Paulo Koiti Maezono
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130
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Edição 4
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Índice 2 de 130
SOBRE O AUTOR
Eng. Paulo Koiti Maezono
Formação
Graduado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1969.
Mestre em Engenharia em 1978, pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá, com os créditos
obtidos em 1974 através do Power Technology Course do P.T.I – em Schenectady, USA. Estágio
em Sistemas Digitais de Supervisão, Controle e Proteção em 1997, na Toshiba Co. e EPDC –
Electric Power Development Co. de Tokyo – Japão.
Engenharia Elétrica
Foi empregado da CESP – Companhia Energética de São Paulo no período de 1970 a 1997, com
atividades de operação e manutenção nas áreas de Proteção de Sistemas Elétricos, Supervisão e
Automação de Subestações, Supervisão e Controle de Centros de Operação e Medição de
Controle e Faturamento. Participou de atividades de grupos de trabalho do ex GCOI, na área de
proteção, com ênfase em análise de perturbações e metodologias estatísticas de avaliação de
desempenho.
Atualmente é consultor e sócio da Virtus Consultoria e Serviços S/C Ltda. em São Paulo – SP. A
Virtus tem como clientes empresas concessionárias no Brasil e na América do Sul, empresas
projetistas na área de Transmissão de Energia, fabricantes e fornecedores de sistemas de
proteção, controle e supervisão.
Área Acadêmica
Foi professor na Escola de Engenharia e na Faculdade de Tecnologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie no período de 1972 a 1987. É colaborador na área de educação
continuada da mesma universidade, de 1972 até 2009.
Foi colaborador do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da EPUSP –
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, desde 1999 até 2009, com participação no
atendimento a projetos especiais da Aneel, Eletrobrás e Concessionárias de Serviços de
Eletricidade.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Índice 3 de 130
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 5
2. SITUAÇÃO NO BRASIL ........................................................................................................................................ 6
3. COMPARAÇÃO DE TECNOLOGIAS ................................................................................................................. 9
3.1 TECNOLOGIAS EMPREGADAS EM SISTEMAS DE PROTEÇÃO ............................................................. 9
3.2 TECNOLOGIA ELETROMECÂNICA ............................................................................................................ 9
3.3 TECNOLOGIA MISTA .................................................................................................................................. 11
3.4 TECNOLOGIA ESTÁTICA ........................................................................................................................... 12
3.5 TECNOLOGIA DIGITAL .............................................................................................................................. 14
4. CONFIGURAÇÃO BÁSICA E PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO......................................................... 17
4.1 BLOCOS FUNCIONAIS ................................................................................................................................ 17
4.2 BLOCO DE CONVERSÃO DE SINAIS ANALÓGICOS EM DADOS DIGITAIS ....................................... 20
4.2.1 Filtro Anti-Aliasing ..................................................................................................................................... 21
4.2.2 Circuito Sample & Hold (S/H) .................................................................................................................... 28
4.2.3 Multiplexador .............................................................................................................................................. 30
4.2.4 Unidade Conversora A/D ............................................................................................................................ 31
4.3 BLOCO DE PROCESSAMENTO ARITMÉTICO ......................................................................................... 38
5. NOÇÕES BÁSICAS DE FILTRAGEM DIGITAL E ALGORITMOS ........................................................... 40
5.1 IDÉIA DA FILTRAGEM DIGITAL ............................................................................................................... 40
5.2 IDÉIA DE ALGORITMOS COM BASE EM SENÓIDES .............................................................................. 43
5.2.1 Cálculo de Defasamento ............................................................................................................................. 43
5.2.2 Cálculo da Amplitude .................................................................................................................................. 44
5.2.3 Cálculo da Diferença de Ângulo de Fase ................................................................................................... 48
5.2.4 Alguns Algoritmos para Características de Impedâncias ........................................................................... 50
6. PROCESSOS DE FILTRAGEM E ALGORITMOS .......................................................................................... 52
6.1 CONCEITOS BÁSICOS ................................................................................................................................. 52
6.2 MÉTODO DOS MÍNIMOS QUADRADOS ................................................................................................... 52
6.3 ALGORITMOS DE FOURIER E DERIVADOS ............................................................................................ 54
6.4 FILTRO DE WALSH ...................................................................................................................................... 62
6.5 FILTRO KALMAN .........................................................................................................................................63
6.6 TEMPO DE RESPOSTA NUM FILTRO DIGITAL ....................................................................................... 63
6.7 FILTRAGEM DE COMPONENTE DC .......................................................................................................... 64
6.8 TEMPO DE OPERAÇÃO DA PROTEÇÃO E A TAXA DE AMOSTRAGEM ............................................. 66
6.9 ALGORITMOS NÃO FASORIAIS ................................................................................................................ 67
6.9.1 Equações Diferenciais no Domínio do Tempo ............................................................................................ 67
6.9.2 Ondas Trafegantes ...................................................................................................................................... 69
7. EXEMPLO DE UM RELÉ DIGITAL COMERCIAL E SEUS RECURSOS .................................................. 70
7.1 CONVERSÃO A/D ......................................................................................................................................... 70
7.2 FILTROS DIGITAIS ....................................................................................................................................... 71
7.3 FILTRAGEM ADAPTATIVA ........................................................................................................................ 72
8. IMPACTOS DA TECNOLOGIA DIGITAL EM PROJETOS, INSTALAÇÕES E NA OPERAÇÃO. ........ 73
8.1 INSTALAÇÕES E PROJETOS ....................................................................................................................... 73
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Índice 4 de 130
8.1.1 Substituição de Equipamentos “Stand Alone” por Funções Digitais ......................................................... 73
8.1.2 Sistemas de Comando e Controle por Lógicas Embutidas em Relés ou Outros Dispositivos Eletrônicos
Inteligentes ............................................................................................................................................................... 74
8.1.3 Disponibilidade de Novas Funções de Proteção ......................................................................................... 74
8.1.4 Constatações ............................................................................................................................................... 75
8.2 OPERAÇÃO .................................................................................................................................................... 76
8.2.1 Integração com a Supervisão ...................................................................................................................... 77
8.2.2 Acesso Remoto ............................................................................................................................................ 77
8.2.3 Constatação ................................................................................................................................................ 78
9. CONFIABILIDADE E MANUTENÇÃO DA PROTEÇÃO DIGITAL ............................................................ 79
9.1 SISTEMAS DE AUTO VERIFICAÇÃO, MONITORAMENTO CONTÍNUO E AUTO-TESTE ................. 79
9.2 CONFIABILIDADE OPERACIONAL DE RELÉS DIGITAIS ...................................................................... 83
9.3 MANUTENÇÃO DE RELÉS DIGITAIS ........................................................................................................ 89
9.4 EXEMPLO DE PERIODICIDADE DE INTERVENÇÃO NA PROTEÇÃO ................................................. 90
10. BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................................ 93
11. ANEXO – BASE MATEMÁTICA ................................................................................................................... 94
11.1 FUNÇÕES PERIÓDICAS ............................................................................................................................... 94
11.2 FUNÇÕES ORTOGONAIS ............................................................................................................................ 94
11.3 ANÁLISE DE FOURIER ................................................................................................................................ 95
11.3.1 Série de Fourier e Coeficientes ............................................................................................................... 95
11.3.2 Simetria Ímpar ........................................................................................................................................ 97
11.3.3 Simetria Par ............................................................................................................................................ 98
11.3.4 Simetria de Meia Onda ........................................................................................................................... 99
11.3.5 Espectro de Harmônicas ....................................................................................................................... 100
11.3.6 Construindo Série de Fourier de Gráficos e Tabelas ........................................................................... 100
11.3.7 Forma Complexa (Exponencial) da Série de Fourier ........................................................................... 101
11.3.8 Transformada de Fourier ..................................................................................................................... 102
11.3.9 Propriedades da Transformada de Fourier .......................................................................................... 105
11.3.10 Forma de Onda Amostrada – Transformada Discreta de Fourier ....................................................... 109
11.3.11 Transformada Rápida de Fourier ......................................................................................................... 112
11.4 FUNÇÃO DE WALSH .................................................................................................................................. 113
11.5 INTRODUÇÃO À PROBABILIDADE E PROCESSOS RANDÔMICOS ................................................... 116
11.5.1 Introdução à Estatística [15] ................................................................................................................ 116
11.5.2 Funções de Probabilidade e Distribuições de Freqüência [15] ........................................................... 118
11.5.3 Densidade da Probabilidade ................................................................................................................ 124
11.5.4 Processos Randômicos e Método dos Mínimos Quadrados [9] ........................................................... 125
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Introdução 5 de 130
1. INTRODUÇÃO
Desde os anos 60 tem-se pensado no uso de computadores digitais na proteção de sistemas
elétricos de potência. As primeiras funções pensadas para serem executadas através de
computadores foram aquelas efetuadas através dos centros de operação como, por exemplo,
rejeição de carga e de detecção de oscilação de potência [1]. Na época, toda a pesquisa
relativa a proteção através de computadores estava baseada em minicomputadores. A
pesquisa relativa a algoritmos de proteção, que já vinha sendo estudada desde os anos 50
pelos primeiros visionários, começou a ter avanço significativo nos anos 70. Salienta-se que
nos EUA, o comitê de relés para Sistemas de Potência do IEEE, estabeleceu o “Computer
Relaying Subcommittee” no ano de 1971 que trabalhou no período 1971-1978 [1].
No fim dos anos 70, com o relativo avanço dos microprocessadores, já era dominante a idéia
de se utilizar sistemas específicos apenas para proteção.
Com o desenvolvimentode microprocessadores de alguma capacidade de processamento e
com o barateamento dos mesmos, a área de proteção digital teve avanço significativo no
começo dos anos 80, sendo que os primeiros produtos comerciais foram lançados nos
meados daquela década.
1970 1980 1990 2000
Viabilidade P&D 1a. Geração 2a. Geração 3a. Geração 4a. Geração
Tipo Bipolar “Bit Slice” Tipo MOS Tipo RISC
Microondas tipo FDM Microondas tipo TDM
Fibra Óptica TDM
Ref. Toshiba Co. - Japão
Figura 1.1 – Evolução Histórica segundo Toshiba Co.
Hoje, com o avanço significativo da tecnologia de hardware incluindo processadores
confiáveis e rápidos, conversores A/D e memórias e a consolidação de muitos algoritmos já
aplicados e melhorados com a experiência, a proteção numérica de tecnologia digital
microprocessada é o caminho natural para a área elétrica devido aos aspectos como
economia, performance, confiabilidade, flexibilidade e principalmente devido à integração com
sistemas de controle e supervisão que permitem a total automação das subestações e
centrais de geração de energia elétrica em qualquer nível de tensão e de aplicação.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Introdução 6 de 130
2. SITUAÇÃO NO BRASIL
Novas Instalações Elétricas
Sistemas de proteção com relés numéricos de tecnologia digital microprocessada já possuem
blindagem e proteção adequadas para surtos, bom como condição para operar em altas
temperaturas ambientais. Podem, devem e estão sendo aplicados em sistemas industriais,
comerciais e em sistemas elétricos de potência (geração, transmissão e distribuição).
Sua principal contribuição funcional é a capacidade de integração com sistemas locais de
controle e supervisão, bem como a possibilidade de completo acesso remoto, permitindo
instalações não atendidas diretamente pelo ser humano. Os ajustes. Parametrizações e a
aquisição de dados podem ser feitos remotamente, inclusive o diagnóstico de falhas internas
a esses dispositivos eletrônicos inteligentes (acronismo “IED” em inglês).
Sua principal contribuição tecnológica sob o ponto de vista de confiabilidade operacional da
proteção digital é a possibilidade de autodiagnose das falhas e defeitos internos ao relé,
através de processos de monitoramento e verificação automáticos, bem como, em algumas
proteções, de funções de auto teste.
Instalações Existentes
Ainda no Brasil a maior parte da proteção e controle é realizada através de dispositivos de
tecnologia eletromecânica e/ou eletrônica estática. Na área de geração e transmissão de
energia elétrica, menos de 5% (cinco porcento) das instalações possuem proteções
numéricas de tecnologia digital (segundo dados do ONS – Operador Nacional do Sistema
Elétrico em 2001).
As empresas concessionárias de serviços de energia elétrica (principalmente as grandes
empresas) estão atualmente na fase de substituir sistemas de proteção antigos por aqueles
digitais, dando prioridade à substituição de relés de tecnologia estática que estão no fim da
sua vida útil (20 anos no máximo).
Especialistas em Proteção e Procedimentos
É desejável que um profissional da área de Proteção tenha sua formação baseada em
conceitos de proteção de equipamentos, instalações e sistemas, independentemente da
tecnologia do dispositivo empregado para a proteção. Entretanto, alguns conceitos ou
posturas devem ser revistos principalmente nas áreas de:
Manutenção da Proteção, quando se envolve dispositivo digital.
O advento de sistemas de auto verificação, de monitoramento contínuo e eventualmente
de auto teste nos modernos dispositivos eletrônicos inteligentes (“IED’s”) fazem com que
grande parte da intervenção periódica preventiva para esses dispositivos torne-se
desnecessária.
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NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Introdução 7 de 130
Por outro lado, as instalações externas a esses dispositivos como circuitos de comando e
alimentação auxiliar continuam exigindo ensaios funcionais periódicos para garantia da
confiabilidade.
A manutenção corretiva também muda de figura. Não se faz mais reparos de cartelas
eletrônicas em laboratório próprio ou contratado. Simplesmente se faz a reposição de
partes da proteção ou mesmo do relé em si, com o apoio do fabricante. Ter relé de
reserva para troca imediata e tempo suficiente para posterior reposição é uma boa política
de manutenção.
Operação.
Os ajustes e reajustes das proteções podem ser feitos remotamente, não se exigindo a
presença física na subestação do técnico em proteção. Geralmente, excetuando os casos
mais complexos, apenas no comissionamento essa presença seria necessária.
Procedimentos de operação podem ser revistos, uma vez que na maior parte dos casos
um ajuste ou reajuste da proteção não requer desligamento do terminal ou do
equipamento de potência para a execução da atividade. Isso vem de encontro com as
novas políticas do Setor Elétrico onde um desligamento (interrupção) pode significar ônus
financeiro extra para a Empresa
Pós Operação.
Ainda se depende da recepção de dados de sinalizações dos relés e alarmes nas
subestações, além da coleta ou encaminhamento de oscilogramas (papel), para aqueles
registradores de perturbações de tecnologia eletromecânica e de tecnologia estática
(ainda aplicados no sistema), para posterior análise de desempenho de relés
eletromecânicos e estáticos.
Com o advento de registradores de perturbações e relés de proteção digitais, os dados de
eventos e oscilografia passaram a ser adquiridos remotamente através de meios de
comunicação, reduzindo drasticamente o tempo e a quantidade de H x horas envolvidas.
Para concessionárias de serviços de energia elétrica, mesmo considerando que menos de
5% das instalações têm tecnologia digital, essa facilidade é significativa uma vez que as
novas instalações (expansões) e as trocas iniciadas nos sistemas de EAT requerem cada
vez mais essa facilidade. Este aspecto torna-se cada vez mais importante devido à
redução da quantidade de técnicos especializados em análise e proteção, como se tem
observado no país.
Projetos Integrados de sistemas de proteção, controle e supervisão.
Lógicas de controle e comando que eram feitas através de relés e dispositivos
eletromecânicos podem agora ser feitos digitalmente, seja através de recursos embutidos
nos relés digitais de proteção ou através de módulos de controle digitais integrados a
sistemas de supervisão. A quantidade de cabos de controle e de cablagem de painéis
pode ser diminuída significativamente.
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NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Introdução 8 de 130
Os profissionais da área têm a necessidade de se atualizarem quanto a esses recursos,
principalmente em prol da economia e da simplicidade dos projetos de controle e
supervisão de instalações elétricas.
O técnico especialista em proteção já não pode se ater exclusivamente a itens de
proteção, mas deve adquirir e incorporar conhecimentos de controle e supervisão da
instalação, uma vez que o relé digital tem parte significativa no todo. O mesmo deve
participar da elaboração do projeto elétrico executivo da instalação. Os ajustes da
proteção já incorporam aspectos de parametrização que dependem do projeto de controle
e supervisão.
Especificação de sistemas.
A especificação de um sistema de proteção já não pode ser feita de modo independente
dos sistemas de controle e supervisão, devido à integração entre os mesmos em prol da
sinergia que pode ser incorporada, resultando em economia e simplicidade.
Assim, protocolos e dispositivos de comunicação entre os dispositivos eletrônicos de
proteção, controle e supervisão devem ser escolhidos de tal modo que se garanta o
máximo de integração com o mínimo de custo.
Um grande problema é a compatibilidade entre sistemas de diferentes fornecimentos que
na maior parte dos casos necessitam ser integrados para uma mesma instalação, quantoa redes e sistemas de comunicação para um sistema de supervisão ou base de dados
únicos. Cuidados na especificação de sistemas e previsão de serviços de integração são
sempre necessários.
Há uma tendência lenta, mas contínua, no sentido de se ter entendimento entre
fabricantes quanto a normas e protocolos comuns, de modo que se possa ter maior
facilidade na integração de dispositivos de diferentes origens.
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Comparação de Tecnologias 9 de 130
3. COMPARAÇÃO DE TECNOLOGIAS
3.1 TECNOLOGIAS EMPREGADAS EM SISTEMAS DE PROTEÇÃO
O histórico mundial na evolução da tecnologia empregada em relés de proteção pode ser
observado na figura a seguir:
1960 1970 1980 1990 2000
Eletromecânico Estático Digital
Figura 3.1 – Evolução Tecnológica de Relés de Proteção
Evidentemente, nos países desenvolvidos, o emprego da proteção digital tem ocorrido num
ritmo mais acentuado.
E como pano de fundo, tem-se o aumento da complexidade do Sistema de Potência, os
requisitos sociais e econômicos para a prestação dos serviços de energia elétrica e, o
desenvolvimento, evolução e barateamento das tecnologias associadas à Proteção.
Na área de evolução tecnológica, tem-se:
Componentes
Eletromecânico Transistor Microprocessador
Telecomunicações
Carrier Frequency Divided Modulation Time Divided Modulation
Analógico Digital Fibra Ótica
3.2 TECNOLOGIA ELETROMECÂNICA
Desde o advento de sistemas elétricos no fim do século passado e até os anos 80, a
tecnologia eletromecânica era empregada em grande escala para os relés de proteção.
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Comparação de Tecnologias 10 de 130
São dispositivos de medição de módulos e ângulos de grandezas elétricas senoidais e
dispositivos de chaveamento, baseados em princípios do eletromagnetismo como:
Unidades de atração magnética
Unidades de indução magnética (disco e cilindro magnético)
Unidades D´Arsonval (bobina móvel)
Unidades térmicas
A composição dessas unidades, através de circuitos elétricos adequados permite a
formação dos chamados dispositivos eletromecânicos nas mais diversas funções, como:
Comparadores de amplitude
Comparadores de ângulo de fase
Unidades auxiliares
Unidades de temporização
Elementos térmicos
Etc.
E a composição desses elementos permite a construção de Relés de Proteção, com funções
e aplicações específicas.
Vantagens
Uma proteção eletromecânica apresenta as seguintes características que podem ser
consideradas vantajosas:
Durabilidade e Robustez. Com a devida manutenção, um relé eletromecânico pode
apresentar tempo de vida útil superior de 40 anos.
Tolerância a Altas Temperaturas de Operação. A temperatura ambiente de instalação da
proteção ou a temperatura de operação não são fatores críticos para o bom funcionamento
desses relés.
Baixa sensibilidade a surtos eletromagnéticos. Há necessidade de uma energia de surto
relativamente grande para danificar um relê eletromecânico. Os surtos normais que ocorrem
em uma instalação elétrica, em geral, não afetam as proteções eletromecânicas.
Confiabilidade. Em decorrência do desenvolvimento contínuo da tecnologia de construção
desses relés, ao longo de dezenas de anos, têm-se como resultados dispositivos de alta
confiabilidade, seja do ponto de vista de segurança contra operações desnecessárias como
do ponto de vista de dependabilidade.
Desvantagens
Por outro lado, as seguintes características de um relé eletromecânico podem ser
consideradas desvantagens:
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Comparação de Tecnologias 11 de 130
Custo. Uma proteção eletromecânica tem um custo que pode ser considerado, hoje, elevado
em função da tecnologia que envolve dispositivos de alta precisão, inclusive no aspecto
mecânico, que demandam infra-estrutura e mão de obra especializada na sua fabricação.
Ainda mais para funcionalidades mais complexas, a composição e o ajuste de elementos
eletromecânicos apresenta custos elevados.
Custo da Instalação e Cablagens. O uso de relés eletromecânicos não permite usufruir a
maior parte dos recursos hoje existentes de comunicações (digitais, em fibras ópticas),
demandando instalações onerosas e pesadas quanto a painéis e cablagens.
Precisão. Quanto mais preciso um dispositivo eletromecânico, maior seu custo, em função
dos necessários recursos de eletromagnetismo e de mecânica fina. E há limite para essa
precisão em função da própria tecnologia.
Manutenção especializada. A manutenção de relés e dispositivos eletromecânicos exige
capacitação específica e muita experiência de campo e de laboratório. Conseqüentemente,
pode ser considerada uma manutenção cara. A possibilidade de obsoletismo associada a
falta de componentes de reposição é muito grande. Os fabricantes das proteções
eletromecânicas já não possuem especialistas na manutenção desses relés
eletromecânicos.
Limitação de Funcionalidades. Funcionalidades requeridas para redução de custos de
manutenção e garantia da confiabilidade não são, na maior parte dos dispositivos
eletromecânicos, possíveis de serem implementados. E também quanto às funções de
proteção desejadas, quanto mais elaborada a função, mais complexa a proteção
eletromecânica. Quanto mais complexa uma proteção eletromecânica, menor a sua
confiabilidade ou a sua velocidade.
Considerando as vantagens e desvantagens citadas, ainda podem existir aplicações onde a
proteção eletromecânica seria necessária, pelo menos até o presente. São aplicações em
ambientes agressivos a componentes eletrônicos, estáticos ou microprocessados, onde o
custo da preparação do ambiente para modernas tecnologias exigiria investimento
desproporcional ao benefício esperado.
3.3 TECNOLOGIA MISTA
Pouco se utilizou a eletrônica convencional como aplicação maciça, na área de proteção por
relés. Esta tecnologia foi utilizada, na maior parte dos casos e a partir dos anos 50, na
composição de elementos específicos como as unidades lógicas e elementos direcionais de
relés eletromecânicos (tecnologia mista).
Através da utilização de diodos, tiristores, associação de resistores e capacitores,
construíram-se dispositivos que propiciaram maior rapidez e precisão nos relés de proteção,
menor carga ligada aos TC´s e TP´s, além de uma maior facilidade de manutenção pela
eliminação de muitas partes móveis com tecnologia eletromecânica.
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Na realidade, com exceção das proteções mais simples como as de sobrecorrente ou
sobretensão, os atuais relés chamados eletromecânicos são, na realidade, proteções com
tecnologia mista.
3.4 TECNOLOGIA ESTÁTICA
A partir da segunda metade dos anos 60 e com ênfase nos anos 70, iniciou-se a maciça
utilização de tecnologia eletrônica com componentes semicondutores, inclusive com
circuitos integrados, na chamada tecnologia estática para confecção de relés de proteção.
Os dispositivos eletromecânicos, nessas proteções, se restringiram a partes muito
específicas como os contatores de saída, onde o chaveamento de circuitos exigia algo mais
robusto. E mesmo assim, não na totalidade dos casos.
Todas as funções de proteção, das mais simples às composições mais complexas foram
concebidas e fabricadas com a tecnologia estática, com maciça utilização de circuitos
integrados, acopladores, conversores, fontes DC / DC e filtros. Várias gerações de relés
estáticos, cada geração incorporando inovações, se sucederam desde o fim dos anos 60 até
os anos 80.
Os chamados relés analógicos são aqueles nos quais as quantidades AC medidas (dos Tp´s
e Tc´s) são manipuladas na forma analógica e subseqüentemente convertidas em ondas
quadradas de tensão (binário). Circuitos lógicos e amplificadores operacionais comparam
amplitudes e ângulos de fasedas ondas quadradas ou sinais retificados, para tomar
decisões. São típicos da tecnologia estática.
TP's e TC's
Conversor
de Sinal
Chaveamentos e
amplificação de sinais
com transistores
Figura 3.2 – Tecnologia Estática para Relés de Proteção
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Vantagens
Entre as vantagens das proteções estáticas, podem ser citadas as seguintes:
Menor Custo. Se comparadas com as eletromecânicas com as mesmas funções.
Maior velocidade. Como conseqüência direta da tecnologia empregada, foi possível a
fabricação de relés muito rápidos, que finalmente chegaram a atender as exigências de
determinados sistemas e situações críticas.
Baixo Consumo e Menor Carga. As dificuldades observadas no passado quanto ao
consumo de energia das proteções eletromecânicas e quanto à carga imposta nos lados
secundários dos transformadores de instrumentos (TP´s e TC´s) passaram a não mais
existir para terminais com proteções de tecnologia estática.
Facilidade de manutenção. A manutenção tornou-se mais simples e direta. Isto se refletiu
diretamente nos custos de manutenção. A mantenabilidade foi incrementada com circuitos
de autodiagnose naqueles relés de geração mais recente.
Confiabilidade. A experiência no uso de relés estáticos ao longo de 15 a 25 anos, nos
Sistemas Interligados Brasileiros, demonstrou que essas proteções eram tão confiáveis
quanto as eletromecânicas, porém para uma vida útil bem menor (máximo 20 anos).
Deve-se observar, entretanto, que todas essas vantagens, no caso da experiência brasileira,
foram adquiridas gradualmente, ao longo dos anos. Principalmente quanto à confiabilidade
dessas proteções, que depende direta e integralmente da sua correta manutenção.
Cerca de 10 anos foram necessários para que as empresas concessionárias de energia
elétrica dos Sistemas Interligados pudessem absorver e dominar, totalmente, a manutenção
dessas proteções. Ao sair de uma tecnologia eletromecânica convencional, partindo para
uma nova tecnologia estática no início dos anos 70, foram necessários anos de experiência
e de capacitação e formação de mão de obra especializada para fazer frente aos desafios.
Relés com tecnologia estática estão, hoje, aplicadas na proteção da maior parte das linhas
de transmissão de Extra Alta Tensão do nosso País. Para linhas de Alta Tensão, ainda
existe uma parte significativa de proteções eletromecânicas (tecnologia mista) instaladas.
Desvantagens
As seguintes desvantagens das proteções estáticas podem ser citadas:
Maior sensibilidade a surtos. Componentes eletrônicos exigem menor energia de surto que
os eletromecânicos para se danificarem. Instalações nas subestações e usinas tiveram que
ser melhoradas quanto à proteção para surtos desses tipos de relés.
Envelhecimento. Os relés estáticos possuem componentes que perdem suas características
num prazo de 8 a 20 anos. Capacitores eletrolíticos têm que ser substituídos a cada 8 anos
em média. Circuitos inteiros de medição podem perder sua característica em 20 anos, o que
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Comparação de Tecnologias 14 de 130
pode demandar na necessidade de troca da proteção. Para os sistemas brasileiros, este é
um aspecto muito sério.
Limitação de Funcionalidades. Funcionalidades requeridas de proteção continuaram difíceis
de serem implementadas nos relés estáticos. Basicamente, o uso de componentes e
sistemas eletrônicos para a execução da função desejada, se complexa, torna-se dificultoso
e caro.
3.5 TECNOLOGIA DIGITAL
Conseqüência do uso de recursos que tiveram avanço significativo nos anos 80 e 90,
principalmente microprocessadores, memórias e conversores A/D. A conseqüência imediata
do uso dessa moderna tecnologia é o barateamento do custo da proteção, com a redução
de circuitos que exigiam engenharia complexa para a sua realização.
Os chamados relés numéricos são, na essência, computadores (inclusive com
processamento paralelo) que realizam as diversas funções de proteção. Isto é, passou-se a
usar programas computacionais para realizar as funcionalidades desejadas, que antes eram
feitos por sistemas eletromecânicos ou circuitos eletrônicos.
São relés nos quais os valores AC medidos são seqüencialmente adquiridos por
amostragem e convertidos na forma de dados numéricos através de multiplexadores e
conversores analógicos / digitais. Microprocessadores executam operações aritméticas e/ou
lógicas, com base em algoritmos que emulam funções de proteção (sobrecorrente,
sobretensão, impedância, diferencial, etc.).
TP's e
TC's Amostragem
(S/H)
Conversor
A/D
Processamento
Aritmético com
Microprocessador
Multiplex
tempo
0 1 0 1 1 0 1
1 1 1 0 0 1 1
1 0 1 1 0 1 1
0 0 1 1 1 1 1
0 1 0 1 1 0 1
1 1 1 0 0 1 1
1 0 1 1 0 1 1
0 1 0 1 1 1 1
Figura 3.3 – Tecnologia Digital para Relés de Proteção
Vantagens
Hoje são evidentes as seguintes vantagens proporcionadas pela proteção digital,
relativamente aos relés de tecnologia eletromecânica ou estática:
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Custo. Cada vez menor, inversamente proporcional ao mercado atendido. Sendo que a
porção cada vez mais significativa deste custo relaciona-se ao algoritmo emulador da função
de proteção. E o fato de se ter várias funcionalidades agregadas em um único dispositivo, o
custo global de supervisão, controle e proteção se torna mais baixo.
Funcionalidades agregadas. Uma proteção digital pode agregar um conjunto de outras
funções que no passado eram feitas por dispositivos separados. Assim, é muito comum,
hoje em dia, ter-se proteção de linha, transformador ou de alimentador com funções de
MEDIÇÃO, LOCALIZAÇÃO DE DEFEITOS, OSCILOGRAFIA, REGISTRO DE EVENTOS,
MONITORAMENTO DO DISJUNTOR E FALHA DE DISJUNTOR. Para linhas e
alimentadores, também se tem agregada a função de RELIGAMENTO AUTOMÁTICO,
inclusive com check de sincronismo onde necessário.
Tamanho. Como as funcionalidades são realizadas por software e não por dispositivos
eletromagnéticos ou eletrônicos e, também em função da agregação de outras funções
numa mesma proteção, já não há necessidade de grandes painéis como aqueles bastante
conhecidos nas subestações convencionais. Alguns “racks” substituem vários painéis de
proteção, comando, controle e supervisão.
Comunicação. A comunicação de dados em ambiente digital é uma tecnologia já
suficientemente evoluída e diretamente aplicável na área de Proteção. Todas as tecnologias
hoje disponíveis (sistemas digitais de comunicação, seja com rádios digitais ou com fibras
ópticas, processadores de comunicação, rede de fibras, LAN, WAN, etc.) permitem uma
integração da proteção com outras funções e permitem facilidades inimagináveis no
passado.
Integração com supervisão e controle, com acesso remoto. Em decorrência das
funcionalidades agregadas e as facilidades de comunicação, principalmente com o uso de
rede de fibras ópticas dentro de uma subestação, tem-se a integração da supervisão,
comando, controle e proteção. Esta rede local pode se comunicar com uma rede ampla
(WAN), outras redes ou diretamente com qualquer centro ou pessoa através de meios de
comunicação. Esse meio pode ser: fibra óptica, rádio digital, rádio analógico, onda
portadora, satélite, linha dedicada. Podem-se utilizar canais contratados ou até telefone ou
celular automaticamente discado para ligação automática com computador remoto ou
acionamento de “pagers”.
Custo da instalação. Para uma nova subestação, observa-se que, com o uso de fibras
ópticas, se reduz substancialmente os cabos de comando e controle de cobre.
Principalmente se a ARQUITETURA contemplar processamento distribuído, com aquisição
dedados e comandos junto aos processos.
Interface Homem x Máquina. Como todo computador, a interação entre o humano e a
proteção digital, juntamente com todas as informações agregadas (como a seqüência de
eventos, oscilografia, localização de defeitos) e também com supervisão e controle, torna-
se rápida e amigável, com facilidades e flexibilidades para ajustes e ensaios impossíveis de
serem pensados no passado. Isso pode ser feito local ou remotamente, para
acompanhamento do desempenho, reajustes e outras intervenções.
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Flexibilidade e sofisticação a baixo custo. Tudo o que pode ser feito por um computador
digital pode ser feito por uma proteção numérica. Assim, funcionalidades de proteção antes
impossíveis de serem realizadas a custo razoáveis são possíveis com relés numéricos.
Facilidades para Auto-monitoramento e Auto-verificação. Um computador pode ser
programado para monitorar continuamente vários subsistemas do seu “hardware” e
“software” e introduzir lógicas e procedimentos para garantir a confiabilidade necessária e
desejada para a proteção. Circuitos de autodiagnose implementados em computadores
(relés numéricos) são muito mais flexíveis e poderosos que aqueles dedicados,
desenvolvidos para relés estáticos dos anos 80.
Confiabilidade. A confiabilidade dos relés digitais é conseqüência direta da contínua
monitoração das próprias condições de funcionamento e também da implementação de
circuitos tolerantes a falhas. Há uma redução de atuações não corretas, melhorando seu
desempenho operacional.
Cuidados
Sensibilidade a Surtos. Tanto os relés com tecnologia estática como os relés digitais
necessitam de proteção especial e blindagem para surtos e interferências eletromagnéticas,
tanto nos circuitos que chegam e saem da proteção como para as interferências irradiadas.
Surtos ou interferências de baixa energia já são suficientes para danificar os modernos
circuitos digitais. Assim, cuidados especiais são tomados para separar a parte “suja”
(Cablagens ligadas a TP’s, TC’s, comandos de disjuntores, alimentação CC) que estão
sujeitos a surtos, da parte “limpa”.
Sensibilidade a Temperaturas elevadas. Todo dispositivo estático ou digital é sensível a
altas temperaturas. Apesar do avanço da tecnologia, apenas os componentes
especialmente desenvolvidos para tal suportam temperaturas antes suportadas pelos
dispositivos eletromecânicos.
Software não portável e às vezes não atualizável. Os algoritmos emuladores de funções de
proteção são desenvolvidos em linguagem assembler ou, mais recentemente, em linguagem
de alto nível como o “C”. Esses códigos são exclusivos para cada tipo de processador e
ambiente de processamento e não são portáveis (apesar de que está ocorrendo tendência
no sentido de se buscar portabilidade). Alguns relés digitais do passado possuem algoritmos
não muito adequados e não podem ser alterados.
Entretanto, com a experiência dos fabricantes e a conseqüente otimização desses
algoritmos, esta dificuldade se tornará cada vez menos relevante. Não se cogita, para o
usuário, a possibilidade de alterar ou efetuar manutenção do software (algoritmos e funções)
de proteção.
Tecnologia relativamente nova na área de Proteção. Como toda nova tecnologia, a sua
absorção e repasse pelos usuários envolvem um processo demorado e custoso. E o novo
enfoque de utilização de computador para emular relê ou função de Proteção, que requer
novas posturas de operação e de manutenção, implica em mudança cultural de absorção
lenta. Esta tendência, entretanto, de uso de relés numéricos é inexorável e inevitável.
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Configuração Básica e Princípio de Funcionamento 17 de 130
4. CONFIGURAÇÃO BÁSICA E PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO
4.1 BLOCOS FUNCIONAIS
A figura a seguir mostra os principais blocos funcionais e seu relacionamento com as
instalações externas:
Bloco de
Conversão
Analógico - Digital
Lógicas da Proteção e Outras
Entradas
Analógicas Entradas Digitais
Saídas
Digitais
Alimentação Auxiliar
Comunicações
e Sincronismo
Série ParalelaDC / DC
Condicionamento
de Sinal
Condicionamento
de Sinal
Condiciona-
mento de
Sinal
Filtragem
Digital
Dados
Digitais
Brutos
Dados
Históricos -
Oscilografia
Parte Externa
Isolação,
Supressores, etc.
Conversão de Sinais analógicos
para Dados Digitais
Processamentos Aritméticos
Figura 4.1 – Blocos Funcionais de um Relé Digital Microprocessado
O bloco de conversão analógico / digital tem a finalidade de converter os sinais oriundos dos
TP’s e TC’s em dados digitais processáveis através de microprocessadores.
O bloco de processamento aritmético, que pode ter de um a vários processadores, efetua
todas as lógicas, filtragens digitais, cálculos de algoritmos, supervisão e gerenciamento
interno da proteção digital.
Esses blocos são detalhados, posteriormente, neste mesmo documento.
O condicionamento dos sinais que entram e saem do relé é muito importante considerando
que uma proteção digital executa operações aritméticas de alta velocidade (inferior a 0,3
microssegundo) usando sinais de nível relativamente baixo (2 a 5 Volts).
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Configuração Básica e Princípio de Funcionamento 18 de 130
Considerando que o relé estará instalado em um ambiente hostil de alta ou extra alta
tensão, sujeito a surtos e interferências eletromagnéticas de vários tipos e intensidades, ele
deve ser dotado de blindagem, supressores de surtos e isolações em um nível mais intenso
que aquele que era adotado para relés analógicos (estáticos).
Os surtos e ruídos incluem:
Aqueles que ocorrem no lado da alta tensão, como surtos de chaveamento de
equipamentos de manobra, curtos-circuitos e descargas atmosféricas.
Ruídos induzidos de outros equipamentos da mesma estação, como o chaveamento de
circuito DC.
Ruídos que ocorrem na proteção em si, como chaveamento de relés auxiliares.
Interferência eletromagnética irradiada por diversas fontes.
Os caminhos pelos quais esses surtos e ruídos chegam à proteção incluem:
TC’s e TP’s e respectivos circuitos secundários.
Sistema de serviço auxiliar.
Circuitos de entrada e saída do relé.
Pelo ar.
As seguintes medidas são, portanto, tomadas para condicionamento dos sinais que entram
e saem do relé e para os sinais internos ao relé:
1) Capacitores de “bypass” (para drenagem de surtos) e/ou filtro de linha são utilizados nos
circuitos de entrada de TC’s, TP’s e Alimentação auxiliar.
Filtros para surtos e ruídos
Frequência de corte da ordem de centenas de kHz (não afeta proteção)
Também são utilizados VARISTORES para supressão de surtos
Figura 4.2 – Filtros de linha e Varistores para Surtos
Deve-se salientar que os níveis de proteção para surtos e ruídos estão normalizados:
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1. IEEE – Standard C37.90A
2. IEC – Standard 255-4
2) Transformadores (circuito de TP’s e TC’s) e fotoacopladores (entradas digitais) são
usados para isolar circuitos internos dos externos. Para a alimentação auxiliar, o próprio
conversor DC / DC proporciona separação.
3) São feitas blindagens de toda a proteção com material condutivo, para interferências
irradiadas.
4) A fiação interna é separada em grupos: de circuitos de alta potência e de baixa potência.
Cada grupo de fios juntados de modo a evitar transferência de ruído dos circuitos de alta
potência para os de baixa potência.
5) Para sinais de importância especial, cabos trançados ou blindados são utilizados.
6) O projeto do circuito é feito de modo que os circuitos de suprimento de energia e de
aterramento sejam reforçados.
7) Capacitores de “bypass” são instalados em pontos importantes doscircuitos internos.
8) Circuitos são blindados quando necessários.
A figura a seguir mostra parte do condicionamento citado:
RELÉ
TP's
TC's
Disjuntores
Alimentação
Auxiliar
Seccionadoras
DC/DC
FONTE DE
RUÍDOS
Parte LimpaParte Suja
Figura 4.3 – Separação entre as partes “sujas” e “limpas”
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4.2 BLOCO DE CONVERSÃO DE SINAIS ANALÓGICOS EM DADOS DIGITAIS
Os sinais analógicos provenientes da medição de grandezas elétricas do sistema elétrico
protegido variam continuamente de magnitude no decorrer do tempo. Por outro lado, no
bloco de processamento aritmético que executa os cálculos, as quantidades digitais têm sua
magnitude variada discretamente no tempo.
Assim o bloco de conversão de sinais analógicos em dados digitais tem a finalidade de
efetuar essa conversão de modo mais preciso possível, dadas as limitações de tecnologia e
os requisitos de proteção do sistema, sem esquecer o aspecto econômico / comercial de
uma proteção digital num mercado altamente competitivo.
A figura a seguir mostra os principais componentes desse bloco:
Filtro Anti
- Aliasing
S/H
Filtro Anti
- Aliasing
S/H
Filtro Anti
- Aliasing
S/H
Filtro Anti
- Aliasing
S/H
Clock
MPX A / D A
Bloco Conversor Analógico - Digital
Transdutores
de Entrada
Multiplex
Conversor A/D
Canal 1 a n Canal 1 a n
Instante t0 Instante t1
Canal 1
Canal 2
Canal 3
Canal n
TP's
e
TC's
Figura 4.4 – Configuração do Conversor Analógico - Digital
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NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
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4.2.1 Filtro Anti-Aliasing
Erro de Aliasing
Um filtro “Anti-Aliasing” é usado para evitar possíveis erros na reconstrução digital dos
dados de entrada, após o bloco de conversão Analógico / Digital mostrado na figura
anterior, quando se usa a técnica de amostragem e retenção S/H – “Sample and Hold”. O
resultado da digitalização do sinal pode incorporar erros chamados de erros de “aliasing”.
Basicamente é um erro de magnitude do sinal à freqüência FUNDAMENTAL, para mais ou
para menos.
Qualquer sinal de entrada amostrada a N*60 Hz (Brasil, EUA) ou N*50 Hz (Europa,
Paraguai) pode apresentar o chamado “aliasing” se o sinal de entrada contém harmônicas
da ordem N±1, 2.(N±1), .... x.( N±1).
Para se compreender esse tipo de erro, apresenta-se na figura a seguir um exemplo de um
sinal composto de uma senóide fundamental (60 Hz) e uma senóide de 11ª. Harmônica
entrando na proteção para taxa de amostragem de 12 por ciclo, isto é, harmônica (N-1):
amostragens
Figura 4.5 – Exemplo de erro de Aliasing no processo S/H
Observa-se que a resultante da digitalização resultará na senóide fundamental somado a
um aparente sinal de 60 Hz (mostrado em tracejado na figura), proporcionando um erro de
magnitude para mais em 60 Hz.
O exemplo a seguir mostra um sinal composto de uma senóide fundamental (60 Hz) e uma
senóide de 7ª. Harmônica entrando na proteção para taxa de amostragem de 8 por ciclo,
isto é, harmônica (N-1):
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-1
-0.5
0
0.5
1
P
or
U
ni
da
de
SENOIDE COM SETIMA HARMONICA COMO ENTRADA
8 AMOSTRAGENS POR CICLO
Fundamental
de entrada
Harmônca
de entrada
Fundamental
Aparente de Saída
Fundamental Aparente
gerada pela amostragem
sobre a harmônica
Figura 4.6 – Exemplo de erro de Aliasing no processo S/H
Observa-se que a resultante da digitalização resultará na senóide fundamental somado a
um aparente sinal de 60 Hz (mostrado em tracejado na figura), proporcionando um erro de
magnitude para menos em 60 Hz.
Daí se verifica a obrigatoriedade de um filtro analógico de entrada, para evitar erros de
medição que afetam a FUNDAMENTAL.
Outra Função do Filtro Analógico de Entrada
Rejeitar (atenuar) as freqüências não utilizadas para a proteção, como a componente DC e
outras de alta freqüência. Entretanto, deve-se observar que:
Há filtragem digital numa etapa posterior, antes do processamento propriamente dito,
que pode eliminar componente DC e outras freqüências.
Pode-se dizer que, para cada aplicação de proteção (funções predominantes de proteção),
o filtro deve se adequar aos algoritmos e filtros digitais para a redução desse erro ao
mínimo aceitável.
Taxa de Amostragem e o Erro de Aliasing
Considerando o domínio de freqüências de 60 Hz e as freqüências normalmente geradas
no sistema elétrico, pode-se dizer que o erro de aliasing ocorre basicamente devido às
baixas taxas de amostragem para a conversão A/D.
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Critério de Nyquist
O chamado critério de Nyquist preconiza que, para evitar o erro de “aliasing”, todo sinal
cuja freqüência seja superior à metade (1/2) da freqüência de amostragem precisa ser
filtrada (atenuada). Isto é, a freqüência de corte seria fixada para metade da freqüência de
amostragem.
Esse critério deriva do “Teorema de Amostragem de Nyquist” que postula que se um sinal
contém somente as freqüências menores que a freqüência de corte fc, então todas as
informações no sinal podem ser capturadas com uma taxa de amostragem de 2 x fc,
Assim, para um relé com 12 amostragens por ciclo (720 Hz) deverá haver filtro analógico
para atenuar todo sinal superior a 360 Hz (6ª. Harmônica).
Na prática, entretanto, pode haver filtros para atenuação de sinais com freqüência superior
a (1/3) da freqüência de amostragem. Entretanto, esse estreitamento pode introduzir
problemas, conforme comentado posteriormente.
Filtros Analógicos [1]
Há diversos tipos de filtros que, de um modo geral, podem ser classificados em:
Filtro passa baixa.
Filtro passa alta.
Filtro passa banda.
O filtro passa baixa deve atenuar todo sinal superior a uma dada freqüência, conforme
mostra a figura teórica (ideal) a seguir sobreposta à curva real (tracejada). Por outro lado,
o filtro passa alta deve atenuar todo sinal inferior a uma dada freqüência. O filtro passa
banda faz com que se tenha atenuação para valores inferiores e superiores a uma banda
de freqüências:
Ganho
Frequênciafc
1
0
Atenuação
Frequênciafc
0
Figura 4.7 – Filtro passa baixa
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O filtro passa baixa é mostrado na figura anterior é muito utilizado. Em tracejado, a
característica de um filtro real, enquanto que em linha cheia tem-se a característica ideal.
Ganho 0 (zero) significa atenuação “infinita” (ou bloqueio de sinal) para aquela freqüência.
Ganho 1 (um) significa atenuação “zero” (ou passagem livre do sinal) para aquela
freqüência.
Nesse caso, a componente DC do sinal de entrada (freqüência 0) é filtrado posteriormente
(filtro digital).
Na figura a seguir mostra-se o filtro passa alta:
Frequênciafc
Ganho
1
0
Atenuação
dB
Frequênciafc
1
0
Figura 4.8 – Filtro passa alta
Observa-se que esse filtro atenua as freqüências abaixo da freqüência de corte.
Para se ter um filtro passa banda, se faz uma associação dos dois anteriores, conforme
mostrado na figura a seguir.
Frequênciafc2fc1
Ganho
1
0
Figura 4.9 – Filtro passa banda
Filtros Ativos e Passivos
Filtros passivos são aqueles que usam componentes que não geram tensões, como
resistores, indutores, capacitores e transformadores.
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Ganho
Frequênciafc
1
0
Figura 4.10 – Exemplo de Filtro Passivo (passa baixa)
Para se conseguir boas características de filtragem, um filtro analógico pode ser ativo, istoé, conter amplificador operacional associado a componentes passivos (R, C). Os tipos de
filtros utilizados na prática têm o nome dos idealizadores das funções de transferência
adotados no projeto do filtro (Buttherworth, Chebyshev e Bessel).
+
-
Figura 4.11 – Filtro Ativo Butterworth para 360 Hz [9]
A figura a seguir mostra a característica do filtro anti-aliasing de um relé da Toshiba Co. de
terceira geração (1995 – 1997):
frequência
(Hz)f0 12 f0
atenuação em
dB
Figura 4.12 – Filtro ativo, passa banda
Trata-se de um filtro passa banda de dois estágios, com amplificadores operacionais
associados a resistores e capacitores para relé de 12 amostragens por ciclo. Observa-se
que esse filtro atenua também a componente DC que eventualmene se sobrepõe à
senóide (freqüência 0).
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Características Dinâmicas do Filtro
Adicionalmente à característica em regime do filtro analógico, há de se considerar a
resposta dinâmica do filtro, para qualquer aplicação.
Os aspectos mais importantes dessa característica dinâmica são: o tempo de elevação
(“rise time”), o qual indica quanto tempo um filtro passa baixa leva para atingir o seu valor
final para um degrau introduzido na entrada; e o “overshoot” que indica o nível acima do
valor final que resposta atinge, transitoriamente, em resposta a um degrau na entrada.
Na prática seria a introdução de defasamento entre os sinais de entrada e de saída do
filtro, que corresponde um atraso no tempo no fluxo de informações, o que implica numa
fase posterior de processamento em tempo maior na operação da Proteção.
Um aspecto importante a observar é que, quanto mais a freqüência de corte do filtro se
aproxima da freqüência fundamental, o mencionado defasamento aumenta.
E quando se deseja uma resposta em freqüência o mais próximo do ideal, piora a resposta
dinâmica no tempo, com “overshoot”. A figura a seguir [9] ilustra o citado atraso de tempo e
o “overshoot”, para dois tipos de respostas em freqüência:
Ganho
Hzfc
1
0
Tempo
0
Resposta em Frequência Resposta para um Degrau
Figura 4.13 – Conflito entre Respostas em Freqüência e no Tempo
A figura a seguir mostra um exemplo de filtro passivo projetado para 12 amostragens por
ciclo com freqüência de corte de 360 Hz, e o “rise time” [9]:
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Ganho
720 Hz
1
0
1,26 k 2,52 k
0,1 F 0,1 F
360 Hz
0,7
1 2 3 4
ms
1
Saída
Figura 4.14 – Filtro Passivo Para 12 Amostragens por Ciclo e Característica Dinâmica
Para este exemplo tem-se um valor razoável de saída com cerca de 0,8 ms após a
aplicação de um degrau na entrada. Esse atraso corresponderá a um defasamento de
certa ce 11 graus para fasor de 60 Hz. Note que o intervalo de amostragem é ( 1000 x 1
/720 = 1,39 ms).
Um filtro ativo pode influenciar tanto o ganho como esse atraso no tempo, conforme
ilustrado na figura a seguir para os chamados filtros Chebyshev, Butterworth comparados
com o filtro passivo RC mostrado [9]:
1 ms 2 ms720 Hz360 Hz
1 1
Cherbichev
Butterworth
RC
Cherbichev
Butterworth
RC
Ganho
Figura 4.15 – Comparação dos filtros Chebyshev e Butterworth com Filtro RC para 360 Hz
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Características desejáveis para um filtro
Tempo de resposta rápido, com pouco defasamento (largura de banda razoável).
Comportamento transitório aceitável.
Simples para projetar, construir e fabricar em série (manufatura).
Em conjunto com a filtragem digital que será visto posteriormente, deve apresentar as
seguintes características:
Resposta tipo “passa banda” sobre a fundamental, pois os demais componentes não
são de interesse para as funções de proteção.
Rejeição de componentes DC exponenciais e de Rampa.
Atenuação de harmônicas ou rejeição para limitar os efeitos das não linearidades.
4.2.2 Circuito Sample & Hold (S/H)
O circuito efetua amostragem de uma grandeza analógica a intervalos pré determinados
(taxa de amostragem) e efetua a retenção do sinal amostrado até que se complete a etapa
seguinte de conversão A/D. É feita amostragem simultânea para todos os canais, a cada
intervalo de amostragem
O circuito consiste basicamente de um capacitor e uma chave eletrônica usando FET –
“Field Efect Transistor”, como ilustrado na figura a seguir:
sinal do clock
de controle
saídaentrada
sinal do clock
de controle
saídaentrada
fechado
intervalo de amostragem
chaveamento
fechado
intervalo de amostragem
chaveamento
CH
Figura 4.16 – Princípio de um circuito Sample & Hold
Fechando-se a chave CH tem-se através do capacitor uma tensão igual ao do sinal de
entrada naquele instante. Abrindo a chave, permanece no capacitor a tensão que havia no
sinal amostrado imediatamente antes da abertura.
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Repetindo ciclos de abertura e fechamento é possível obter sinais amostrados por faixa de
tempo, com intervalo pré-determinado conforme é mostrado na figura a seguir:
Figura 4.17 – Sinais Analógicos Amostrados
A cada amostragem se tem nova medição, porém retendo as medições anteriores
(“buffer”). Isto é, a cada nova amostragem, aquela mais antiga é descartada. Pode-se
observar o princípio através das “janelas de dados” se movendo ao longo do tempo,
conforme mostrado na figura a seguir.
.....
Janela de Dados Móvel
Figura 4.18 – Janela de Dados para Amostragem
Características da Taxa de Amostragem
A taxa de amostragem deve levar em conta os harmônicos eventualmente desejáveis
para cálculos nas funções de proteção (dependendo da função de proteção).
É desejável que o intervalo de amostragem corresponda a ângulo elétrico que facilite a
aplicação de algoritmos de cálculo, reduzindo sua complexidade. Também o tempo de
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atuação da função de proteção está estreitamente ligado aos algoritmos utilizados e a
taxa de amostragem.
A maior parte dos cálculos importantes das funções de proteção são efetuadas a
intervalo de amostragem. Assim, uma taxa muito alta com cálculos intensivos pode
esbarrar na capacidade e velocidade de processamento dos microprocessadores
empregados.
A taxa de amostragem deve estar em harmonia com a tecnologia disponível e com as
características do sistema de comunicações empregadas para a proteção (se
empregadas).
Por exemplo, a taxa de amostragem não deve ser superior a um determinado valor que
supere a capacidade de conversão A/D da etapa posterior ao multiplexador.
4.2.3 Multiplexador
Um multiplexador é uma chave eletrônica que permite que um único conversor A/D faça
a medição de vários canais de entrada, eliminando o alto custo de se ter vários
conversores.
Sua função é colocar os sinais analógicos amostrados e retidos nos vários canais
agrupados para cada intervalo de amostragem, conforme mostra a figura a seguir:
Canal 1 a n Canal 1 a n
Instante t0 Instante t1
MUX
Canal 1
Canal 2
Canal 3
Canal n
Controles e
Referência
PGA A/D
Conversor
Analógico / Digital
Canal n
Figura 4.19 – Multiplexação para permitir o uso de um único A/D
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O amplificador de ganho programável (PGA) permite que, para cada canal de entrada do
MUX se tenha diferentes ganhos e faixas de variação, uma vez que vários canais são
varridos seqüencialmente.
O uso de um A/D com multiplexadorlimita a taxa de amostragem do bloco de conversão
analógico – digital. Por exemplo, um A/D que poderia amostrar a 10 kHz para um único
canal seria limitado a (10/12 = 830 Hz) por canal, para um conjunto de 12 canais. Isto é, as
características do A/D dependem da quantidade de canais multiplexados e da taxa de
amostragem e vice-versa.
4.2.4 Unidade Conversora A/D
Um conversor A/C (ADC em inglês) tem a finalidade de efetuar a conversão de grandezas
analógicas em digitais (binários) para uso subseqüente de processadores aritméticos. O
número digital representa a grandeza de entrada para aquela amostra daquele canal com
resolução finita.
Resolução
A resolução do ADC é representada pelo número de bits que compõem o número digital.
Um ADC de n bits tem uma resolução de 1 parte em 2n. Por exemplo:
Conversor de 12 bits: tem resolução de 1 / 212 = 1 para 4.096
Isto corresponde a 2,44 mV para 10 V.
Conversor de 16 bits: tem resolução de 1 / 216 = 1 para 65.536
Isto corresponde a 0,153 mV para 10 V.
Tipos de ADC
Muitos tipos de ADC estão disponíveis. Diferem entre si quanto à resolução, precisão e
velocidade. Os mais populares tipos de ADC são:
Conversor Paralelo (“Flash”)
Conversor de Aproximações Sucessivas
Tipo Tensão para Freqüência
Tipo Integrador
Conversor Paralelo
É o mais simples dos conversores A/D. Ele usa uma tensão de referência correspondente
à escala plena do sinal de entrada. Possui divisor de tensão composto de (2n + 1)
resistores em série, sendo n a resolução do ADC em bits.
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O valor da tensão de entrada é determinado utilizando um comparador para cada um dos
(2n) tensões de referência criadas no divisor de tensão. A figura a seguir mostra um
exemplo de ADC do tipo Conversor Paralelo de 2 bits.
+
-
+
-
+
-
+
-
Comparadores
Codificador
Saída
Binária
V EntradaV Referência
R/2
R/2
R
R
R
Figura 4.20 – Esquema de ADC do tipo Conversor Paralelo, para 2 bits.
Este tipo de conversor é muito rápido (até 500 MHz) devido aos bits serem determinados
em paralelo. O método requer uma grande quantidade de comparadores, portanto
geralmente limitando a resolução a 8 bits (256 comparadores). São geralmente
encontrados em osciloscópios digitais e digitalizadores de transitórios.
Conversor de Aproximações Sucessivas
Esta unidade A/D utiliza um Conversor Digital para Analógico (DAC em inglês) e um
comparador. Ela faz a chamada “busca binomial” iniciando com um valor de saída 0 (zero).
Ela ajusta provisoriamente cada bit do DAC, começando pelo bit mais significativo. A
busca efetua a comparação da saída analógica do DAC com a tensão que está sendo
medida. Se o ajuste do bit para “1” causa uma saída do DAC maior do que a tensão de
entrada, então esse bit é ajustado para “0”. Caso contrário, é mantido em “1”. Passa-se
para o bit seguinte e assim sucessivamente.
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+
-
DAC
Comparador
Conversor
Digital -
Analógico
Saída
Digital
V Entrada
V Referência
Lógica de Controle
e Registros de
Comparação
….
…
.
Bit mais significativo
Bit menos significativo
…
.
Gerador de
Tensão de
Referência
Figura 4.21 – Esquema de ADC do tipo Conversor de Aproximações Sucessivas
Este tipo de conversor é mais lento que o do tipo Paralelo, pois as comparações são feitas
em série, sucessivamente, com tempo adicional para ajustar cada bit. Entretanto podem
ser encontrados esses tipos de ADC para taxas de conversão até 200 kHz.
Este tipo de ADC é relativamente barato para implementar resoluções de 12 e 16 bits. Por
conseqüência é o ADC mais comumente utilizado e pode ser encontrado em muitos
sistemas de aquisição de dados baseados em PC’s.
Conversor do Tipo Tensão para Freqüência
A figura a seguir mostra o princípio do ADC Tensão para Freqüência. Ele converte a
tensão de entrada em um trem de pulsos digitais com a freqüência proporcional à tensão
de entrada.
Conversor
Tensão para
Frequência
Contador de
Pulsos
Trem de
Pulsos
Digitais
Saídas
Digitais
Circuito de
Timing
Tensão
de
Entrada
Figura 4.22– Esquema de ADC do tipo Tensão para Freqüência
A freqüência é determinada efetuando-se a contagem dos pulsos para um determinado
intervalo de tempo e a tensão é inferida através de uma relação conhecida.
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A conversão Tensão para Freqüência tem um alto grau de rejeição a ruídos pelo fato da
tensão de entrada ser efetivamente integrada no período de contagem. Este tipo de ADC é
utilizado para conversão de sinais lentos e ruidosos. Ele é útil para aquisição remota de
sinais em ambientes ruidosos. O trem de pulsos digitais é transmitido através de um par de
fios até o contador. Isso elimina o ruído que poderia ser introduzido na transmissão de um
sinal analógico.
Conversor do Tipo Integração
Este tipo de ADC usa a técnica de integração, que mede o tempo para carga e descarga
de um capacitor para determinar a tensão de entrada. A figura a seguir mostra a chamada
integração “Dual-slope”, que é uma técnica muito utilizada.
V ENTRADA / V REFERENCIA
T i T d
Tempo de
Integração
Tempo de
Descarga
Corrente Fixa
de Descarga
I VENTRADA
V
ca
p
a
ci
to
r
= T i / T d
Figura 4.23– Integração e Descarga em Conversor do tipo Integração
Usando uma corrente que é proporcional à tensão de entrada, um capacitor é carregado
por um intervalo de tempo definido. A tensão média de entrada é determinada medindo-se
o tempo para descarga do capacitor usando uma corrente constante.
Com a integração da entrada por um determinado período de tempo reduz-se a influência
dos ruídos na tensão de entrada, desde que o tempo de integração seja ajustado para um
valor múltiplo do período (1/f) da tensão de entrada.
Este tipo de ADC é utilizado para multímetro digital de precisão e indicadores digitais de
painel. Pode haver resolução de 20 bits. A desvantagem é a taxa de conversão
relativamente lenta (60 Hz no máximo).
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Sumário para os Tipos de Conversores ADC
Tipo de ADC Resolução Típica Velocidade Típica
Paralelo 4 – 8 bits 100 kHz – 500 MHz
Aproximações Sucessivas 8 – 16 bits 10 kHz – 1 MHz
Tensão para Freqüência 8 – 12 bits 1 – 60 Hz
Integração 12 – 24 bits 1 – 60 Hz
Precisão e Resolução
A precisão é um fator importante quando se seleciona um ADC pra uso em aplicações que
envolvam testes e medições. O erro de resolução de um ADC é chamado de:
Erro de quantização
Tensão de Entrada (V)
2 4 6 8
S
aí
da
d
o
A
D
C
Erro de
Quantização
Figura 4.24– ADC Ideal, com apenas erro de quantização
Mas não é a única fonte de erros de um ADC. Há também:
Erro de offset
Erro de ganho
Erro de linearidade
Erro de sinal perdido
Mas um bom ADC se aproxima ao “erro de quantização” (proveniente da resolução). Esses
erros podem decorrer de alguns parâmetros ambientais como:
Ruído
Variação de Temperatura.
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Erro de Offset
2 4 6 8
S
aí
da
d
o
A
D
C
Erro de sinal perdido
2 4 6 8
S
aí
da
d
o
A
D
C
Erro de Ganho
2 4 6 8
S
aí
da
d
o
A
D
C
Erro de Linearidade
2 4 6 8
S
aí
da
d
o
A
D
C
Figura 4.25– Tipos de Erros num ADC
Deve-se observar, também, que o erro de quantização é tanto maior quanto maior for a
escala adotada ( “full scale” ) para a faixa de grandeza que se quer medir (por exemplo,
uma faixa de 0 a 100 x In). Assim, deve-se adotar uma escala máxima27
3.1 REQUISITO GENÉRICO CONSIDERANDO SATURAÇÃO DE TC COM CORRENTE ASSIMÉTRICA ............................ 27
3.2 APLICAÇÃO EM PROTEÇÃO DIFERENCIAL DE ALTA IMPEDÂNCIA ..................................................................... 29
3.3 APLICAÇÃO PARA USO COM RELÉS COM DETECÇÃO DE SATURAÇÃO DE TC .................................................... 30
3.4 REQUISITOS DE ACORDO COM A CARACTERÍSTICA DE REMANÊNCIA DO TC .................................................... 31
4. SATURAÇÃO DE TC E A REMANÊNCIA ....................................................................................................... 35
4.1 SATURAÇÃO ................................................................................................................................................. 35
4.2 REMANÊNCIA NO NÚCLEO DO TC ........................................................................................................... 36
5. TRANSFORMADORES DE POTENCIAL ........................................................................................................ 40
5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 40
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Introdução e índice 4 de 58
5.2 CARACTERIZAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR DE POTENCIAL ...................................................... 40
5.2.1 Carga Nominal. ........................................................................................................................................... 41
5.2.2 Classe de Exatidão. ..................................................................................................................................... 42
5.2.3 Fator de Sobretensão. ................................................................................................................................. 43
5.2.4 Potência Térmica Nominal. ......................................................................................................................... 44
5.3 IDENTIFICAÇÃO DOS TERMINAIS ........................................................................................................... 44
5.4 TABELA COMPARATIVA DE CARGA (“BURDEN”) SEGUNDO ALGUMAS NORMAS ..................... 45
6. DIVISORES CAPACITIVOS DE POTENCIAL ................................................................................................ 46
6.1 DIVISOR CAPACITIVO EM VAZIO ............................................................................................................ 46
6.2 DIVISOR CAPACITIVO COM CARGA ....................................................................................................... 47
6.3 DIVISOR CAPACITIVO COMPENSADO .................................................................................................... 49
6.4 PRINCÍNPIO ................................................................................................................................................... 50
6.4.1 Divisor Capacitivo de Potencial em Vazio. ................................................................................................. 51
6.4.2 Divisor Capacitivo de Potencial em Carga ................................................................................................. 52
6.5 EXEMPLOS DE DCP .......................................................................................................................................... 55
7. FERRORESSONÂNCIA ....................................................................................................................................... 57
8. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................... 58
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Introdução 5 de 58
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a norma ABNT NBR 6546, Transformador para Instrumentos é o
“transformador que alimenta instrumentos de medição, dispositivos de controle ou dispositivos
de proteção”.
Os Transformadores para Instrumentos devem, portanto, reduzir o valor da tensão
(Transformadores de Potencial) ou da corrente (Transformadores de Corrente) primárias para
valores secundários normalizados e suficientemente baixos sem, entretanto, introduzirem
erros acentuados de relação e ângulo de fase. Os Transformadores para Instrumentos, além
de adequar os valores de corrente e tensão, também permitem uma isolação galvânica entre
os instrumentos de medição, controle e proteção e as altas tensões do sistema de elétrico de
potência que se deseja medir, controlar ou proteger.
1.1 SINAIS PARA REPRESENTAÇÃO DE CORRENTES / TENSÕES NOMINAIS E RELAÇÕES
NOMINAIS
Sinal Função
: Representar relações nominais
- Separar correntes ou tensões nominais e relações nominais de enrolamentos
diferentes
x Separar correntes ou tensões nominais e relações nominais obtidas por
religação série ou paralelas
/ Separar correntes/tensões e relações nominais obtidas por derivações
1.1.1 Exemplos para TC´s
a) TC com um enrolamento primário e um enrolamento secundário:
20 : 1
100 - 5 A
b) TC de dois núcleos, com um enrolamento primário e dois enrolamentos secundários:
20 : 1 - 1
100 - 5 - 5 A
c) TC de um núcleo, com enrolamento primário para ligação série e paralelo e um
enrolamento secundário:
20 x 40 : 1
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Introdução 6 de 58
100 x 200 - 5 A
d) TC de um núcleo,com uma derivação no enrolamento primário ou no enrolamento
secundário:
20 / 40 : 1
100 / 200 - 5 A
e) TC de dois núcleos, com um enrolamento primário e dois enrolamentos secundários
como no exemplo (b), porém com relações nominais diferentes entre o enrolamento
primário e cada enrolamento secundário:
20 : 1 e 60 : 1
100 - 5 A e 300 - 5 A
f) TC de três núcleos, com um único enrolamento primário para conexão em série, série-
paralela e paralela, com dois enrolamentos secundários, contendo uma derivação cada
e um secundário sem derivação:
5 / 20 x 10 / 40 x 20 / 80 : 1-1 e 10 x 20 x 40 : 1
25 / 100 x 50 / 200 x 100 / 40 - 5 - 5 A e 50 x 100 x 200 - 5 A
g) TC de três núcleos, com duas derivações no enrolamento primário, dois enrolamentos
secundários, contendo uma derivação cada e um secundário sem derivação:
5 / 20 / 10 / 40 / 20 / 80 : 1-1 e 10 / 20 / 40 : 1
25 / 100 / 50 / 200 / 100 / 400 - 5 - 5 A e 50 / 100 / 200 - 5 A
1.1.2 Exemplos para TP´s:
a) TPI com um enrolamento primário e um enrolamento secundário:
120 : 1
13800 - 115 V
b) TPI com enrolamento primário e dois enrolamentos secundários com derivações:
70 / 120 : 1 - 1 ou 70 / 120 - 70 / 120 : 1
3
13800
- 115 /
3
115
- 115 /
3
115
V
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Introdução 7 de 58
c) TPI com um enrolamento primário e um enrolamento secundário, com derivação em um
deles:
60 / 70 : 1
3
11500
/
3
13800
- 115 V
d) TPI com um enrolamento primário para religação série ou paralelo e um enrolamento
secundário:
60 x 120 : 1
6900 x 13800 - 115 V
e) TPI com um enrolamento primário com derivação e dois enrolamentos secundários,
sendo um com derivação:
60 / 70 - 60 / 70 / 100 / 120 : 1
3
11500
/
3
13800
- 115 - 115 /
3
115
V
f) TPI com enrolamento primário para religação série ou paralelo e dois enrolamentos
secundários, sendo um com derivação:
35 x 70 - 35 / 60 x 70 / 120 : 1
3
6900
x
3
13800
- 115 - 115 /
3
115
V
g) TPI com um enrolamento primário e dois enrolamentos secundários sendo um de
tensão residual:
120 - 210 : 1
3
13800
-
3
115
-
3
115
V
1.2 ESCOLHA DOS TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS
Para que um Transformador para Instrumentos opere corretamente e sem se danificar, tanto
em condições normais quanto no caso de faltas, é necessário que:
- Seja dimensionado para suportar todo tipo de solicitação (térmica,que não introduza
erros significativos na conversão A/D.
Exemplo de ADC de Aproximações Sucessivas para Relé de Proteção
O tempo que se leva para se efetuar uma conversão (por aproximações sucessivas) deve
ser compatível com a taxa de amostragem e quantidade de canais, como mostram as
figuras a seguir para um relé da Toshiba (ADC de 12 bits, geração 1995-1997):
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Configuração Básica e Princípio de Funcionamento 37 de 130
1
0
1
1
1
1
1
1
0
0
0
BMaisS
BMenosS
Reset Partida Conversão
Completa
Tempo (t)
FS
(Escala
Máxima)
FS/2
Entrada
Analógica
V
0
Saída do Conversor Digital - Analógico
SAÍDA
DIGITAL
Comando de
Início da
Conversão
Figura 4.26– Ação de um ADC de 12 bits por Aproximações Sucessivas
16,666 ms (1 ciclo) com 12 amostragens
offoff Va Vb Vc V0 Ia Ib Ic I0 Va
FechadoAbertoFechado Aberto
Conversão Saída
Reset Partida Conversão
Completada
Saída
Chaveamento do
Circuito S/H
Saída do Multiplex
Ação do ADC
Amostragem
Figura 4.27– Timing para Amostragem, S/H, Multiplexação e A/D
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Configuração Básica e Princípio de Funcionamento 38 de 130
4.3 BLOCO DE PROCESSAMENTO ARITMÉTICO
O bloco de processamento aritmético tem a responsabilidade de executar dos programas
das funções de proteção, manutenção das várias funções envolvendo gerenciamentos
diversos, temporizações, comunicação com subsistemas periféricos, etc. A figura a seguir
mostra um esquema básico do bloco de processamento:
a
Canais 1 a n
12
bits
t0
RAM
DMA
CPU
ROM / PROM
EPROM
MEMÓRIA DE
MASSA
SAÍDAS
DIGITAIS
ENTRADAS
DIGITAIS
IHM
COMUNI-
CAÇÕES
Dados Canal 1
Dados Canal 2
Dados Canal 3
…
…
.
Dados Canal n
Dados Canal 1
Dados Canal 2
Dados Canal 3
…
…
.
Dados Canal n
t0
t1
B
U
S
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
…
….
Figura 4.28– Bloco de Processamento Aritmético. Esquema Básico
A função DMA (Direct Memory Access) que permite transferência de dados diretamente
para a memória RAM sem passar pelo processador (CPU) aliviando esse último.
Geralmente esta função é utilizada quando há transferência de grande quantidade de
dados entre a unidade processamento de dados e dispositivos externos.
As transferências de dados regulares entre dispositivos de entrada e saída e a memória é
efetuadas através da CPU. Geralmente em relés digitais a função DMA é utilizada para
escrever na RAM os valores digitalizados de tensão e corrente adquiridos pela conversão
Analógica – Digital.
A memória RAM (Random Access Memory) segura os dados de entrada enquanto
processados. Ela também pode ser usada para acumular dados (“buffer”) para posterior
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Configuração Básica e Princípio de Funcionamento 39 de 130
transferência a meios de armazenamento maiores (memória de massa). Adicionalmente a
RAM é utilizada como área “rascunho” para cálculos envolvendo algoritmos diversos.
A memória apenas de leitura ROM (“Read Only Memory) ou a memória programada
apenas de leitura PROM ( Programmable Read Only Memory) é usada para
armazenamento permanente dos programas. Em alguns casos os programas podem ser
executados diretamente da ROM [9] se o tempo de leitura é pequeno o suficiente. Se esse
não for o caso, os programas são copiados da ROM para a RAM durante a fase de
inicialização da proteção e, em tempo real, são executados através da RAM.
A memória “apagável” EPROM (“Erasable PROM”) é necessária para armazenar
parâmetros e ajustes da proteção que podem ser alterados a qualquer hora, pelo usuário.
Essa memória precisa manter os seus dados mesmo que o relé seja desligado da sua
fonte de alimentação. Diversas tecnologias e esquemas são utilizadas para garantir essa
característica.
A entrada digital é utilizada para adquirir informações externas como estados de contatos
para o Bloco de Processamento Aritmético. A saída digital é utilizada para exteriorizar
sinais de “trip”, alarmes e condições lógicas, além dos resultados do auto monitoramento e
auto verificação, etc.
NOTA:
Um processador de 16 bits é adequado para conversor A/D de 12 bits. Porém, quando o
conversor A/D é de 16 bits, exige-se processador de 32 bits.
As vezes deseja-se que o registrador oscilográfico de perturbações embutido no relé de
proteção tenha uma resolução maior (maior taxa de amostragem). Neste caso, faz-se
conversão A/D numa taxa superior (por exemplo, 32 amostragens por ciclo). Um
processador é utilizado para gerenciar base de dados e registros oscilográficos. Um outro
processador é destinado a fazer uma aquisição de dados de 16 amostragens por ciclo,
aproveitando os sinais amostrados inicialmente, alternadamente. Nesse segundo
processo deve-se emular digitalmente um segundo filtro “anti-aliasing”, agora para 16
amostragens por ciclo.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 40 de 130
5. NOÇÕES BÁSICAS DE FILTRAGEM DIGITAL E ALGORITMOS
5.1 IDÉIA DA FILTRAGEM DIGITAL
Requisitos
Uma proteção eletromecânica convencional ou uma proteção eletrônica, analógica,
responde a um valor de pico ou a um valor eficaz de uma grandeza elétrica, grandeza essa
que considera todos os sinais presentes, harmônicos ou não. Uma proteção digital pode ser
feito para atuar apenas para a grandeza fundamental do sinal.
O filtro digital tem a finalidade de remover sinais não desejados que o filtro “anti-aliasing”
não removeu, como componente DC, e harmônicos das mais diversas ordens.
Os requisitos para filtragem dependem dos princípios da proteção e da sua aplicação. Por
exemplo, para os relés de “ondas trafegantes”, os componentes à freqüência industrial
(60Hz) seriam “interferências” e os transitórios seriam as “informações”. Por outro lado, os
relés de sobrecorrente, distância, etc. tratam de grandezas exclusivamente a 60 Hz.
Entre as exceções existem os relés que usam circuitos de restrição para harmônicas (por
exemplo as proteções diferenciais de transformadores de potência) que precisam detectar
freqüências diferentes da fundamental.
Noção Básica
O presente capítulo tem a finalidade de mostrar, de uma maneira a mais simples possível, a
noção de filtragem de sinais diferentes da fundamental numa proteção digital. Apenas nos
capítulos seguintes é que se faz um tratamento mais academico para esse assunto.
Há dois tipos de filtros, os chamados “recursivos” e os “não recursivos”. Os filtros recursivos
efetuam realimentação dos sinais de saída para a entrada para refinamento dos cálculos.
Apenas em aplicações mais específicas, com problemas complexos, se aplicam filtros
recursivos. O uso de filtros não recursivos é mais generalizado.
A tabela a seguir mostra exemplos de princípios para filtros não recursivos:
Equação de Princípio para 12
amostragens por ciclo
Harmônicas e Componente DC
removidos
1 ym = (xm + xm-2) 3, 9, ...
2 ym = (xm – xm-2) DC, 6, 12, ...
3 ym = (xm – xm-3) DC, 4, 8, ...
4 ym = (xm – xm-4) DC, 3, 6, ...
5 ym = (xm – xm-6) DC, 2, 4, ...
6 ym = xm + √3. xm-1 + xm-2 5, 7, .....
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 41 de 130
Vamos supor que uma onda periódica é amostrada 12 vezes por ciclo. Chamando de “m”
uma determinada amostragem:
m-1 = uma amostragem anterior (30 graus antes).
m-2 = segunda amostragens amostragem anterior (60 graus antes)
.....
m-6 = sexta amostragem anterior (180 graus antes)
Vamos analisar então a seguinte equação de princípio de filtragem:
ym = (xm + xm-2)
O valor ym resulta de uma composição de leituras. A figura a seguir mostra o princípio:
mm-1m-2
Figura 5.1 – Princípio de Filtragem de Terceira, Nona, Décima Quinta..
Observa-se que para a terceira e nona harmônicasda figura acima, o valor Vm é zero, isto é,
há ganho zero para essas freqüências. A característica de freqüência desse filtro é mostrada
na figura a seguir:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 42 de 130
1 2 3 6 9
Múltiplo da Frequência Fundamental
12 15
2
1
Ganho
Figura 5.2 – Resposta em Freqüência do Filtro
Considerando agora a seguinte equação de princípio de filtragem:
ym = (xm – xm-6) / 2
O valor de ym resulta de uma composição de leituras e a figura a seguir mostra o princípio:
SINAL COMPOSTO DE FUNDAMENTAL,
SEGUNDA HARMONICA E COMPONENTE DC
mm-6
ym = (xm - xm-6) /2 = xm
ym = (xm - xm-6) /2 = 0
ym = (xm - xm-6) /2 = 0
ym
ym = 0
ym = 0
Figura 5.3 – Princípio de Filtragem de Componente DC, Segunda, Quarta, etc.
Observa-se que, ao se aplicar a fórmula de composição de leituras, filtra-se as harmônicas
de ordem 2, 4... e a componente DC.
Na prática, considerando que há uma variação exponencial da componente DC, sobra ainda
alguma parcela não filtrada.
A figura a seguir mostra a resposta em freqüência deste filtro:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 43 de 130
1 2 3 4 5
Múltiplo da Frequência Fundamental
1
Ganho
6
Figura 5.4 – Resposta em Freqüência do Filtro
5.2 IDÉIA DE ALGORITMOS COM BASE EM SENÓIDES
Este capítulo procura mostrar princípios de algoritmos para relés digitais, sem entrar em
maiores detalhes de tratamento matemático, já considerando que os sinais amostrados
estejam livres de harmônicos e de componente DC,
5.2.1 Cálculo de Defasamento
Em relés analógicos, a combinação e defasamento de vetores de entrada eram realizados
através do uso de capacitores, resistores, indutores e amplificadores operacionais. Em
relés digitais o defasamento angular de um vetor (fasor) pode ser facilmente feito
armazenando temporariamente os valores amostrados.
A figura a seguir mostra como os fasores de entrada são amostrados a um intervalo de
tempo de 30 graus (12 amostragens por ciclo). Quando se deseja um atraso de 60 graus, o
vetor de duas amostragens anteriores é utilizado. Quando se desejar um avanço de 120
graus, o vetor - Vm-4 é utilizado:
vm
vm-3
vm-2
vm-1
vm-4
vm-5
v m
vm-3
vm-2
vm-1
vm-4
vm-5
vm-1
vm
a.vm
a.vm + vm-1
vm-1
vm
a.vm
a.vm + vm-1
vm-6vm-6
Figura 5.5– Princípio para Defasamento de um Vetor
Qualquer ângulo intermediário que não seja múltiplo de 30 graus no exemplo acima, pode
ser determinado. O vetor composto a.Vm + Vm-1 da figura está graus adiantado com
relação a Vm-1. Esse ângulo é:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 44 de 130
30cos.1
30.
a
sena
ArcTan
Isto é, escolhendo o valor apropriado de a, qualquer ângulo pode ser obtido.
5.2.2 Cálculo da Amplitude
O algoritmo básico para o cálculo da amplitude de um sinal AC de entrada pode ser
classificado em dois tipos: Tipo Adição e Tipo Multiplicação. Esses dois tipos podem ser
subdivididos em:
Tipo adição
a) Método da Área
b) Método de Adição de Dois Valores
c) Método do Quadrado da Amplitude
Tipo Multiplicação
d) Método de Cálculo de 2 amostras consecutivas
e) Método de Cálculo de 3 amostras consecutivas
As explicações a seguir referem-se ao Tipo Adição.
Método da Área
Baseia-se no princípio de que a área calculada de uma senóide em um intervalo de tempo
é proporcional à sua amplitude.
Vm
Vm-1
Vm-2
Vm-3
Vm-4
Vm-5
Figura 5.6 – Princípio para Cálculo de Amplitude. Método da Área
5
0t
tmVVk
O cálculo é simples. Como a operação consiste apenas de soma, o resultado obtido é de
primeiro grau. No processamento digital, o tempo requerido para adição é menor do que
aquele para multiplicação ou divisão.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 45 de 130
O erro de cálculo é relativamente grande, estimado em ± 1,6% para 12 amostragens por
ciclo. Esse erro depende do ângulo em que é feita a amostragem.
O número de dados requeridos para cálculo é relativamente grande e isso afeta o tempo
de operação da proteção.
Efeito Filtragem
Por outro lado, um efeito de filtragem está incorporado. As figuras a seguir mostram formas
de onda com harmônicas de ordem 3 e 5. Nessas figuras as flechas indicam as diferenças
decorrentes das harmônicas. Como se vê, quase todos os efeitos das harmônicas são
canceladas entre si quando se somam dados para meio ciclo.
Fudamental Sobreposta
com Terceira Harmônica
Fudamental Sobreposta
com Quinta Harmônica
Figura 5.7 – Valores Amostrados Com Harmônicas.
Isto é, o método da área não elimina totalmente os efeitos das harmônicas mas alivia. O
efeito da filtragem é grande para harmônicas de ordem ímpar, como mostra a figura a
seguir.
10 dB
5 dB
0 dB
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Múltiplo da Frequência Fundamental
Atenuação
5.3 dB
5.3 dB
7 dB 7 dB
Figura 5.8 – Método da Área. Efeito Filtragem.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 46 de 130
Método de Adição de Dois Valores
Como mencionado, o método da área tem a desvantagem de apresentar erro
relativamente grande. Um método efetivo para minimizar esse erro é o método da adição
de dois valores:
33 . mmmmm vvKvvV
A equação acima mostra que o erro é corrigido efetuando a soma absoluta de dois valores
vm e vm-3, 90 graus defasados entre si, e corrigindo tal soma pelo valor absoluto da
diferença entre dois valores.
A figura a seguir ilustra o princípio:
90o 270o180o0o 360o
90o 270o180o0o 360o
90o 270o180o0o 360o
90o 270o180o0o
360o
)(. tsenVvm
)cos(.3 tVvm
3 mm vv
3 mm vv
33 . mmmmm vvKvvV
V
V.2
V
V.2
V
V.2
(1+K).V
)(. tsenV )cos(. tV
Figura 5.9 – Princípio do método da adição de dois valores.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 47 de 130
Em suma este método tem as seguintes características:
Como o resultado decorre de somas, ele é de primeiro grau, o que traz vantagens no
tempo de cálculo.
O erro devido à variação da fase de amostragem é muito pequeno (± 0,6%).
Um grande efeito de filtragem é obtido. Para a terceira harmônica, por exemplo, o nível
de atenuação é maior que o do método da área por um montante que chega a 8 dB.
10 dB
5 dB
0 dB
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Múltiplo da Frequência Fundamental
Atenuação
13.6 dB
12.8 dB
15 dB 13.6 dB
12.8 dB
4 dB
6 dB
4 dB
Figura 5.10 – Resposta em Freqüência do Método da adição de dois valores.
Método do Quadrado da Amplitude
O método do Quadrado da Amplitude consiste, principalmente, de operações de
multiplicação para calcular o quadrado de uma amplitude.
O método utiliza dois dados defasados em 90 graus como mostrado na figura a seguir.
Vm
Vm-1
Vm-2
Vm-3
90 graus
cos.Vvm
senVvm .3
3. mvj
mv
2
1
2
mm vvV
Amostragens Fasor
Figura 5.11 – Princípio do Método do Quadrado da Amplitude.
CURSO DE PROTEÇÃO
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Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 48 de 130
O método tem as seguintes características:
a) Em princípio, não há erro introduzido no cálculo.
b) A resultante é obtida de dois dados, que é a quantidade mínima de dados requerida
para cálculo da amplitude. Isso contribui para a velocidade do cálculo.
c) As operações aritméticas envolvidas são multiplicações na sua maior parte, o que
contribui no sentido de diminuir a velocidade de cálculo. Como o resultado é dado naforma de quadrado, pode haver restrição para algum tipo de aplicação.
d) Nenhum efeito de filtragem é esperado para este método.
5.2.3 Cálculo da Diferença de Ângulo de Fase
Para relés digitais o cálculo para se obter a diferença de ângulo de fase entre duas
quantidades AC é essencial para determinar as características das funções de proteção
que dependem desse ângulo.
É mais simples obter diferença de ângulo de fase através de relações trigonométricas
usando seno e coseno. Esses cálculos envolvem algoritmos do tipo multiplicação, que
podem ser classificados como:
a) Método de duas amostras consecutivas.
b) Método de três amostras consecutivas.
c) Método de duas amostras ortogonais (perpendiculares).
Os dois primeiros métodos, como mostram as figuras a seguir, exigem muitas operações
de multiplicação e divisão.
O terceiro método é mais usado.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 49 de 130
Vm Vm-1
.T
im
im-1
Tensão
Corrente
Defasada
TsenTiivivivIV mmmmmmm 2
1111 /cos)..(..cos..
TsenivivsenIV mmmm /)..(.. 11
vm
vm-1
im
im-1
Tensão
Corrente
Defasada
1211 ....cos... mmmmmm ivivKivIVk
im-2
vm-2
Para 12 amostragens por ciclo em 60 Hz
(intervalo de 30 graus entre amostras):
k = ½ e K = 1
vm
im
Tensão
Corrente
Defasada
33 ..cos... mmmm ivivIV
im-3
vm-3
90o
mmmm ivivsenIV ..... 33
Método das Duas Amostras Consecutivas
Método das Três Amostras Consecutivas
Método das Duas Amostras Ortogonais
Figura 5.12 – Princípios para Cálculo da Diferença de Ângulo de Fase
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 50 de 130
5.2.4 Alguns Algoritmos para Características de Impedâncias
Com base num relé com 12 amostragens por ciclo, são apresentados a seguir alguns
algoritmos para características de proteção de distância.
Característica Mho
Z
75o75o
R
X
Z
Z’.{(im+im-1)vm+ (im-3+im-4)vm-3}
Vm
2 - Vm-3
2 ) >= K0’
Z.I.V.cos ( V2 >= K0
Figura 5.13 – Princípios para Cálculo de Característica Mho
Característica de Reatância
Z
R
X
Z. I2 - V.I.sen(>= K0
Z’.(im
2+im-3
2) - (im .Vm-3 -im-3.vm)
>= K0’
Figura 5.14– Princípios para Cálculo de Característica de Reatância
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Noções Básicas de Filtragem Digital e Algoritmos 51 de 130
Elemento Direcional de Terra
V0
I0
I0. V0 .cos (>= K0
i0m(a. v0m+1+ v0m) + i0m-3(a.
v0m-2+ v0m-3) >= K0’
Figura 5.15– Princípios para Cálculo de Característica Direcional
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 52 de 130
6. PROCESSOS DE FILTRAGEM E ALGORITMOS
6.1 CONCEITOS BÁSICOS
Este capítulo tem a finalidade de apresentar itens básicos e comuns a muitos algoritmos que
serão apresentados.
Terminologia
y(t)= O valor instantâneo de uma forma de onda AC, seja uma tensão ou uma corrente.
yk = A amostra késima da forma de onda y(t).
0= A freqüência fundamental do sistema elétrico em radianos por segundo.
t= O intervalo de tempo fixo entre duas amostragens consecutivas.
yk = y(k.t)
Ângulo à freqüência fundamental entre duas amostragens: t 0
O valor de y(t) pode assumir a forma: tsenYtYty sc 00 .cos.)(
Onde Yc e Ys são números reais. Mais genericamente, considerando fontes de erros no
Sistema Elétrico (transitórios, saturações, etc. ) e erros no próprio sistema de amostragem, a
expressão poderia ser escrita como:
)(cos)( 00 ttsenYtYty sc
6.2 MÉTODO DOS MÍNIMOS QUADRADOS
A expressão anterior pode ser escrita de um modo mais amplo como:
N
n
nn ttSYty
1
)()()(
Onde Yn são os coeficientes, Sn(t) são os sinais amostrados (S de “sample”) e (t)
representando matriz de erros, com:
S1(t) = cos(0t)
S2(t) = sen(0t)
S3(t) = cos(20t)
S4(t) = sen(20t)
……
SN-1(t) = cos(N/2.0t)
SN-1(t) = sen(N/2.0t)
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 53 de 130
Na forma matricial:
KNN
N
N
K Y
Y
Y
tKStKStKS
tStStS
tStStS
y
y
y
.....
.
)(...)()(1
............
)2(...)2()2(
)(..)()(
...
2
1
2
1
2
21
21
2
1
K = número de Amostragens
t = intervalo entre 2 amostragens subseqüentes
K ≥N
Ou: [y] = [S].[Y] + []
NOTA: O Anexo a este documento fornece uma Base Matemática para o Método dos
Mínimos Quadrados.
Da teoria da Probabilidade e Processos Randômicos [9], assumindo que a matriz de erros
tem média zero e a matriz de covariância:
E{.T} = W
A solução para a expressão matricial [y] = [S].[Y] + [] pela técnica dos MÍNIMOS
QUADRADOS (PONDERADA) será:
Y = (ST.W-1.S)-1STW-1y
Quando se conhece W (dados estatísticos de erros estimados numericamente), se
aplica esta expressão.
A técnica dos MÍNIMOS QUADRADOS (Não Ponderada) assume que os erros não são
correlacionados e são independentes entre si (na matriz de erros) e têm uma covariância do
tipo DIAGONAL. Assim, W será múltiplo de uma matriz unitária. Conseqüentemente a
solução MINIMA QUADRADA será:
Y = (STS)-1.ST.y
Substituindo as expressões ortogonais de seno e coseno nesta expressão, o valor
ijésimo da matriz ST.S será:
K
k
jiij
T tkStkSSS
1
)().()(
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 54 de 130
jipara
jiparaK
________0
_____2/
Ajuste com o Método de Mínimos Quadrados (Ponderação)
Pode-se ajustar um filtro de Fourier, Coseno, etc. considerando qualquer tipo de sinal que se
possa imaginar que o dado de entrada tenha, através de função de ajuste de W na
expressão:
Y = (ST.W-1.S)-1STW-1y
O problema é saber o tipo e o tamanho do sinal que se quer eliminar [13].
6.3 ALGORITMOS DE FOURIER E DERIVADOS
Muitos métodos de cálculos para relés de proteção são baseados nos componentes à
freqüência fundamental das correntes e tensões medidas pelo relé. E vários algoritmos
usam informações dos FASORES contidas nos sinais de entrada.
Um filtro digital que ao mesmo tempo remova as freqüências diferentes da fundamental e
também forneça informações fasoriais seria desejável para a implementação da proteção
digital. Três desses filtros são vistos neste capítulo:
Filtro de Fourier
Filtro Fourier com Mínimo Quadrado
Filtro Coseno
Um sinal de tensão em regime no domínio do tempo pode ser expresso por:
)(.)( tsenVtv Pico
Num relé digital este sinal é amostrado N vezes por ciclo. Assim, a entrada é representada
por uma série de amostras Sk, com k variando de 1 a N.
O relé digital processa os dados amostrados Sk multiplicando cada amostra por um
Coeficiente determinado pelo tipo do filtro digital empregado.
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NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 55 de 130
ANÁLISE DE FOURIER
O capítulo 9 deste documento apresenta como Anexo a base matemática da Análise de
Fourier, onde se pode ver com mais detalhes a matemática apresentada neste capítulo.
Antes de se partir para detalhes da Transformada, as definições de fasores devem ser
estabelecidas. A equação seguinte é para uma tensão senoidal:
)(.)( tsenVtv Pico
Expandindo essa equação teremos: )cos().(.)().cos(.)( tsenVtsenVtv PicoPico
Quando v(t) é amostrado, o valor resultante da amostragem é denominado como Sk. Como
Sk representa valor amostrado com uma taxa de amostragem de N amostras por ciclo da
tensão senoidal, o cálculo da Transformada Discreta de Fourier para os COMPONENTES
FUNDAMENTAIS pode ser definido pelas equaçõesseguintes:
N
k
kal N
k
senS
N
V
1
Re )]..2(.[.
2
N
k
kag N
k
S
N
V
1
Im )]..2cos(.[.
2
Aplicando essas equações à equação original da tensão, temos:
)cos(.Re Picoal VV
)(.Im senVV Picoag
A magnitude (módulo) do fasor de tensão pode ser calculada por:
2
Im
2
Re agalmag VVV
PicoPicomag VsenVV ))().(cos( 222
)(
Re
Im
al
ag
V
V
ArcTanAngulodeV
Com essas definições, convertem-se os valores amostrados em FASOR usando cálculos da
Transformada Discreta de Fourier.
O fasor é representado de duas formas:
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Forma retangular com as partes Real e Imaginária.
Forma polar, com módulo e ângulo de fase.
O cálculo determina que as partes Real e Imaginária de cada corrente e tensão de entrada
usada pelo relé. Isto significa que cada amostra de tensão e corrente é multiplicada por um
fator “seno” para se obter as componentes reais, e por um fator “coseno” para se obter as
componentes imaginárias. Essas quantidades são somadas sobre N consecutivas amostras
para se obter os resultados (fasores).
v (t)
Amostragem
sen
cos
Multiplicadores Médias / somadores
Vreal
Vimag
Figura 6.01 – Representação esquemática do algoritmo de Fourier de onda completa
Por exemplo, num relé de 12 amostragens por ciclo, ter-se-ia:
)..2cos(
N
k
k
)..2(
N
k
sen
k
1 0, 12 0 0, 6, 12
2/3 1, 11 1/2 1, 5
1/2 2, 10 2/3 2, 4
0 3, 9 1 3
2/3 4, 8 -1/2 7, 11
-1/2 5, 7 2/3 8, 10
-1 6 -1 9
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 57 de 130
Resposta em Freqüência
1 2 3 4 5 6 7 8
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
Múltiplo da Frequência Fundamental
FILTRO DE FOURIER DE UM CICLO
(TRANSFORMADA)
Figura 6.2 – Resposta em Freqüência do Filtro de Fourier de onda completa
A figura acima mostra a resposta em freqüência, para condição em regime:
Observa-se que para o FILTRO DE FOURIER DE UM CICLO (Transformada Discreta de
Fourier), há filtragem de componente DC (desde que constante) e de todas as harmônicas a
partir da segunda.
Resposta a componente DC
A componente DC não é constante, decaindo exponencialmente com o tempo. Assim sendo
o filtro de Fourier não elimina essa componente. A bibliografia [16] mostra que:
A componente exponencial DC tem um impacto significativo no algoritmo de
Fourier. No pior caso, pode ocorrer erro da ordem de 20% da magnitude da grandeza.
Essa influência pode ser minimizada através de algoritmos, dependendo da aplicação
desejada.
Dependendo do fabricante e da aplicação, até componentes de hardware são utilizados
para minimizar o impacto da componente DC.
FILTROS RECURSIVOS E NÃO RECURSIVOS
Há dois modos de calcular a Transformada Discreta de Fourier (DFT): Recursivo e Não-
Recursivo.
O método Não-Recursivo requer que cada ponto de dado amostrado seja salvo na
memória (a quantidade de dados salvos depende da “janela de dados”) e que todo o
processo de somatória seja efetuada para cada conjunto de dados amostrados. O dado
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Processos de Filtragem e Algoritmos 58 de 130
mais velho torna-se o valor inicial e o dado mais novo torna-se a amostra N-sima. Os termos
reais e imaginários precisam ser calculados do início.
O método Recursivo requer que o produto dos coeficientes do seno e do coseno com
valores de dados amostrados usados para gerar as somas sejam salvas (a quantidade de
dados salvos depende da “janela de dados”) e um processo abreviado de somatória é
efetuado. Neste método o produto mais antigo é removido da soma e o produto mais novo é
acrescentado à soma. Assim, somente o valor da última amostra é necessário para o cálculo
ao invés de se ter de calcular para todas as amostras da “janela”. Isto reduz a quantidade de
cálculos efetuados, o que pode permitir que o relé efetue operações adicionais ou que
aumente sua taxa de amostragem. Este método, entretanto, requer mais velocidade de
computação.
Processo Recursivo para o FILTRO DE FOURIER
No processo recursivo, ao invés de recalcular os fatores seno e coseno e re-efetuar a
somatória para cada amostra, somente os fatores seno e coseno da nova amostra são
calculados. Então os fatores seno e coseno da amostra mais antiga são removidos da soma
e os novos termos adicionados à soma.
cos().cos())1()( ReRe Nkkalal SSkVkV
().().)1()( ImIm senSsenSkVkV Nkkagag
Isso significa que cada produto seno e coseno sejam salvos até que eles sejam removidos
da soma. Adicionalmente, a soma também precisa ser salva a,té que ambos, soma “k-1”
para a amostra anterior e a soma “k” para a amostra presente, sejam usadas no cálculo
recursivo. Após o cálculo recursivo efetuado para cada amostra, os valores são atualizados.
Isso diminui o tempo necessário para calcular a Transformada Discreta de Fourier.
Geralmente os algoritmos de 01 ciclo para relés digitais, são do tipo recursivo, segundo [9].
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Processos de Filtragem e Algoritmos 59 de 130
FILTRO DE FOURIER COM MÍNIMOS QUADRADOS
É possível o uso de transposição e inversão de matrizes para considerar a minimização /
diluição de erros ou mesmo considerar uma matriz de erros (supostos previamente
esperados e conhecidos) no Algoritmo de Fourier. Nesse caso, o algoritmo chama-se
Fourier com Mínimos Quadrados.
Resposta em Freqüência
1 2 3 4 5 6 7 8
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
Múltiplo da Frequência Fundamental
FILTRO DE FOURIER DE UM CICLO
(MÍNIMOS QUADRADOS)
Figura 6.3 – Resposta em Freqüência do Filtro de Fourier de onda completa de Mínimos Quadrados
Verifica-se que, com o ajuste utilizando a técnica dos Mínimos Quadrados, a componente
DC, mesmo que teoricamente constante, não é totalmente removida. Por outro lado, o
método dilui erros concentrados devido a ruídos que anda possam influenciar.
FOURIER DE MEIO CICLO
O Filtro de Fourier tem a capacidade de trabalhar em diferentes tamanhos de “janela de
dados”. Mostra-se a seguir, o uso de janela de “Meio Ciclo”.
O Filtro original usa todos os dados amostrados do último ciclo para efetuar a somatória. O
chamado “Filtro Fourier de Meio Ciclo” gera a somatória usando as amostras coletadas do
último meio ciclo (“janela de dados” de meio ciclo).
Usando Filtro de meio ciclo, a proteção poderá detectar alterações na forma de onda de um
modo mais rápido que o caso Filtro de Ciclo Total. Bem como, menos dados precisam ser
salvos. Entretanto há diferenças nas ações de filtragem entre os dois métodos.
Numa proteção de 16 amostragens por ciclo, o método de de Ciclo Total utiliza as 16 últimas
amostras para efetuar a somatória, enquanto que o método de Meio Ciclo utiliza as 8 últimas
amostras. Desde que a quantidade de dados somados é menor, há um efeito sobre a
constante que é usada multiplicar as somas, sendo (2/N) substituído por (4/N). Os temos
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 60 de 130
seno e coseno continuam a ser determinados pelo fator (2..k/N). Assim, esses últimos
termos continuam a ser determinados pela taxa de amostragem (N=16) ao invés do
tamanho da “janela de dados”.
2/
1
Re )]..2(.[.
4 N
k
kal N
k
senS
N
V
2/
1
Im )]..2cos(.[.
4 N
k
kag N
k
S
N
V
O Filtro Fourier de Meio Ciclo pode ser implementado tanto pelo método recursivo como
pelo não-recursivo. Mas, geralmente os algoritmos de meio ciclo para relés digitais, são do
tipo recursivo, segundo [9].
Resposta em Freqüência
1 2 3 4 5 6 7 8
1,0
0,8
0,6
0,4
Múltiplo da Frequência Fundamental
FILTRO DE FOURIER DE MEIO CICLO
0,2
Figura 6.4 – Resposta em Freqüência do Filtro de Fourier deMeio Ciclo
O filtro de Fourier de Meio Ciclo efetua a filtragem de harmônicas de ordem ímpar. Não há
filtragem de componente DC teoricamente constante, mas apenas uma atenuação.
FOURIER DE CICLO FRACIONADO
Como mencionado, o Filtro de Fourier tem a capacidade de trabalhar em diferentes
tamanhos de “janela de dados”. Se for menor que meio ciclo, tem-se o chamado Ciclo
Fracionado.
Esse tipo de algoritmo é sempre não recursivo, segundo [9].
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Processos de Filtragem e Algoritmos 61 de 130
FILTRO COSENO
O Filtro de Fourier descrita anteriormente usa coeficientes “seno” e “coseno” para obter
partes reais e imaginárias dos sinais filtrados. No sentido de se obter partes reais e
imaginárias, dois sinais defasados de 90 graus são requeridos, o que é atendido pelo Filtro
de Fourier.
Uma aproximação pode ser feita usando apenas os coeficientes “coseno”, sendo que o
segundo sinal (que seria coeficiente “seno”) utilizado é o coeficiente “coseno” obtido 90
graus antes. Desse modo, se requer apenas o cálculo de um conjunto de dados ao invés de
dois conjuntos de dados, como é feito Filtro de Fourier.
Entretanto essa aproximação (Filtro Coseno) pode ser feita apenas pelo método “não-
recursivo”.
O Filtro Coseno pode utilizar uma “janela de dados” de um ciclo, de meio ciclo ou um quarto
de ciclo. Quanto menor a “janela de dados”, há a tendência de ser mais rápido para detectar
alterações na forma de onda. Uma janela de 4 amostras para 16 amostragens por ciclo é
interessante pois o defasamento básico é de 90 graus, o que vai de encontro com o
princípio do filtro.
Resposta em Freqüência
1 2 3 4 5 6 7 8
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
Múltiplo da Frequência Fundamental
FILTRO COSENO DE UM CICLO
1 2 3 4 5 6 7 8
1,0
0,8
0,6
0,4
Múltiplo da Frequência Fundamental
FILTRO COSENO DE MEIO CICLO
0,2
Figura 6.5 – Resposta em Freqüência do Filtro Coseno
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Processos de Filtragem e Algoritmos 62 de 130
O filtro Coseno de um ciclo tem valor de ganho Zero para componente DC e para
harmônicas de 60 Hz. Perde-se a rejeição para harmônicas de ordem PAR quando se usa
filtro Coseno de meio ciclo.
É importante observar que a resposta em freqüência não é o único parâmetro para se
escolher o filtro para uma dada proteção. Tudo depende da função de proteção desejada,
dos princípios de medição, características do hardware e dos tempos envolvidos / gastos em
cada etapa.
O filtro coseno de 1 ciclo é um dos melhores considerando que:
Rejeita muito bem o componente DC com queda exponencial pelo fato de ser do tipo
“duplo diferencial” [13].
Rejeita todas as harmônicas (par e ímpar).
Tem boa resposta para transitórios.
6.4 FILTRO DE WALSH
O Anexo mostra um sumário de base teórica do que seja uma função de Walsh. O Filtro de
Walsh, baseado nessa função, trabalha apenas com dois números inteiros, enquanto que o
filtro de Fourier trabalha com números complexos.
Enquanto que num Filtro de Fourier, as componentes à Freqüência Fundamental são dados
por:
K
k
kc K
ky
K
Y
1
)
2
.cos(
2
e
K
k
ks K
kseny
K
Y
1
)
2
.(.
2
com
22
sc YYY
Para o Filtro de Walsh há:
)
1
.(
1
1
1 K
kcaly
K
Y
K
k
kcal
e
K
k
kSal K
ksaly
K
Y
1
1 )
1
.(
1
com
22
SalCal YYY
As funções salm(t) e calm(t) de um Filtro de Walsh correspondem aos sen(m.0t) e cos(m.0t)
de um Filtro de Fourier e têm valores ± 1. Nota-se uma grande similaridade.
A quantidade de programação computacional é muito menor para a função de Walsh, mas
para qualquer forma de onda de entrada, o filtro de Walsh requer o cálculo de muito mais
termos de coeficientes que o filtro de Fourier.
Assim, a simplicidade da programação é contrabalançada pela necessidade de um grande
número de termos. Sua resposta em freqüência é a mesma do Filtro de Fourier de Um Ciclo,
desde que uma quantidade suficiente de coeficientes seja utilizada.
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Processos de Filtragem e Algoritmos 63 de 130
FILTRO CAL
Da mesma maneira que para o Fourier há o filtro Coseno, por analogia pode-se ter filtro CAL
para o Walsh.
A figura a seguir mostra a resposta em freqüência de um Filtro CAL.
1 2 3 4 5
Múltiplo da Frequência Fundamental
1
Ganho
6
0,5
7 8
Figura 6.6 – Resposta em Freqüência do Filtro CAL
Também este filtro CAL rejeita muito bem o componente DC com queda exponencial pelo
fato de ser do tipo “duplo diferencial” [13]
6.5 FILTRO KALMAN
O Filtro de Kalman provê solução quando se deseja estimar condições dinâmicas do
sistema. Para sistemas de Proteção este filtro é utilizado quando se deseja uma ferramenta
que possa manipular medições (evolução de parâmetros com o tempo). Por exemplo, um
ruído não constante ou ruído em condição específica para ser filtrado.
Conceitos sobre esse filtro podem ser encontrados na referência [9]. Não é objetivo deste
curso.
6.6 TEMPO DE RESPOSTA NUM FILTRO DIGITAL
Outro aspecto a salientar é que a resposta em freqüência mostrada ocorre em condição de
regime. Para condição transitória de mudança de estado, há um certo período de tempo
até que o filtro comece a responder de acordo com a resposta mostrada. Mas esta resposta
depende muito da característica do sinal.
Por exemplo, um filtro coseno de meio ciclo ganha em rapidez de, mas tem uma resposta
transitória mais pobre que o de um ciclo.
A figura a seguir mostra a resposta para a Corrente, em uma condição específica de
presença de Erro Randômico no Filtro de Fourier, portanto com componente DC não
totalmente filtrado. Observa-se uma demora superior a 3 ciclos até a acomodação em
regime.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 64 de 130
0
5
10
15
20
25
A
10 20 30 40 50
I
(M
ag
ni
tu
d
e)
AMOSTRAS
(16 AMOSTRAS POR CICLO)
-100
-50
0
50
100
10 20 30 40 50
AMOSTRAS
(16 AMOSTRAS POR CICLO)
I (
G
ra
u
s)
Figura 6.7 – Transitório de Acomodação para saída do Filtro Digital FOURIER DE 01 CICLO.
6.7 FILTRAGEM DE COMPONENTE DC
Dependendo do algoritmo utilizado, essa componente pode ser quase totalmente filtrada.
Entretanto, erros randômicos e também características específicas dos filtros podem evitar
que se remova, total ou parcialmente a componente DC.
Algoritmos Específicos
Métodos dos Mínimos Quadrados especiais com funções de correção para componentes
DC têm sido desenvolvidos e aplicados para filtros de meio ciclo [14], através de algoritmos
com características adaptivas. Para filtros Fourier de 1 ciclo há o algoritmo da referencia
[16].
Uso de Impedância Réplica (“Mimic”)
O principio de eliminação do efeito da componente DC é mostrada na figura a seguir.
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Zm
R jX
IS
Se Ângulo de Zm = ArcTan(X/R)
Então a tensão através de Zm não
conterá Offset DC
Figura 6.8 –Princípio de Compensação do Offset da Componente DC
Ajustando-se Zm com a mesma relação X/R do sistema elétrico protegido, no ponto de
aplicação da proteção e utilizando a tensão através de Zm ao invés da corrente IS, cancela-
se o efeito offset da corrente.
Esse princípio pode ser aplicado digitalmente, isto é, calcula-se uma tensão através do
“mímico digital”, para cancelar a componente DC. Uma dificuldade é que o ângulo adotado
da relação X/R é aproximado, não sendo 100% preciso.
A figura a seguir mostra o efeito da Impedância Réplica para eliminar o efeito da
componente DC no mesmo filtro da figura anterior. Note-se que se utiliza a tensão I.Z (Z de
réplica digital) ao invés da corrente I. Há acomodação em cerca de 01 ciclo, aumentando a
velocidade de definição da proteção.
05
10
15
20
25
A
10 20 30 40 50
V
=
IZ
(M
a
g
ni
tu
d
e
)
AMOSTRAS
(16 AMOSTRAS POR CICLO)
-100
-50
0
50
100
10 20 30 40 50
AMOSTRAS
(16 AMOSTRAS POR CICLO)
I.
Z
(
G
ra
us
)
Figura 6.9 –Filtro Digital FOURIER DE 01 CICLO com Impedância Réplica
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6.8 TEMPO DE OPERAÇÃO DA PROTEÇÃO E A TAXA DE AMOSTRAGEM
Uma taxa de amostragem maior pode significar tempo de operação menor para o relé, mas
essa melhoria é temperada pelo atraso introduzido pelo filtro.
A figura a seguir mostra o tempo de operação de uma proteção de distância em primeira
zona, para um determinado tipo de falta, em função da taxa de amostragem da proteção:
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
ciclos
5 10 15 20 25 30 35
Amostragens / ciclo
Filtro Digital Fourier de 1 ciclo.
Figura 6.10 –Influência da Taxa de Amostragem na velocidade da proteção
Partindo de uma taxa de amostragem de 4 por ciclo e indo até 8 por ciclo, observa-se um
ganho de cerca de 1/8 de ciclo (0,125 ciclos) ao custo de se dobrar o esforço de
computação.
Dobrando-se a taxa de amostragem de novo, para 16 por ciclo, ganha-se cerca de 1/16 de
ciclo no tempo. Dobrando de 16 para 32, ganha-se apenas 1/32 de ciclo.
Porque esse tipo de saturação, isto é, o ganho vai se estreitando mesmo que se aumente
muito a taxa de amostragem da proteção? É que os filtros digitais são baseados em janela
de 1 ciclo e o aumento da velocidade vem da redução do tempo do filtro analógico de
entrada e redução do tempo de latência do processamento.
CURSO DE PROTEÇÃO
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6.9 ALGORITMOS NÃO FASORIAIS
6.9.1 Equações Diferenciais no Domínio do Tempo
Algoritmos com equações diferenciais são baseados em modelos de sistemas ao invés de
modelos de sinais (formas de ondas). Tomando o diagrama unifilar simplificado a seguir:
R L
C
v(t)
i(t) i(t) - C(dv/dt)
R L
v(t)
i(t)
Figura 6.11 – Modelo para Algoritmo de Equação Diferencial
Considerando a capacitância:
td
tvd
LC
dt
tdv
RC
dt
tdi
LtiRtv
2
2 )()()(
)(.)(
Sem considerar a capacitância:
dt
tdi
LtiRtv
)(
)(.)(
Considerando a medição da impedância, tendo a medição de v(t) e i(t) pode-se estimar os
parâmetros R e L. Como derivadas de quantidades medidas são difíceis de serem
produzidas, faz-se o artifício de cálculo de integrais sobre dois intervalos consecutivos
(para duas incógnitas, duas equações).
Para simplicidade, vamos analisar o caso sem Capacitância.
1
0
1
0
)()().()( 01
t
t
t
t
titiLdttiRdttv
2
1
2
1
)()().()( 12
t
t
t
t
titiLdttiRdttv
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 68 de 130
Os intervalos citados precisam ser acomodados para os valores amostrados pelo relé. Se
as amostragens são uniformemente espaçados no intervalo t e a regra trapezoidal é
empregada para as integrais, temos:
0101 2
)()(
2
)(
1
0
vv
t
tvtv
t
dttv
t
t
01
1
0
2
)( ii
t
dtti
t
t
E as duas equações em dois intervalos consecutivos podem ser escritas na forma
matricial:
12
1
1212
11
2
2.
2
2
kk
kk
kkkk
kkkk
vv
t
vv
t
L
R
iiii
t
iiii
t
Então, três amostragens de tensão e corrente (k, k+1 e k+2) são suficientes para
determinar R e L como:
)).(()).((
)).(()).((
112121
112121
kkkkkkkk
kkkkkkkk
iiiiiiii
iivviivv
R
)).(()).((
)).(()).((
2 112121
112121
kkkkkkkk
kkkkkkkk
iiiiiiii
vviivviit
L
Este algoritmo de equações diferenciais teria a vantagem de ser bem rápido (três
amostragens), mas é melhor não depender de somente três amostragens. Muitas
implementações dependem de uma série de cálculos com 3 amostragens cada.
Tem a vantagem de não ser afetada pela componente DC.
Há problema, entretanto, com essas equações diferenciais.
O denominador )).(()).(( 112121 kkkkkKkk iiiiiiii pode-se tornar um valor
muito pequeno, fazendo que o erro da divisão para cálculo de R e L seja amplificado. Para
superar essa dificuldade, cálculos sucessivos (de 3 amostragens) são feitos (há contador)
de modo que o valor seja confirmado.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Processos de Filtragem e Algoritmos 69 de 130
6.9.2 Ondas Trafegantes
A idéia não é nova. Já existiram relés de proteção de tecnologia estática que eram
baseados no princípio de medição de ondas trafegantes. Com a nova tecnologia digital
também é possível, com mais precisão e confiabilidade, utilizar o princípio.
Não é objetivo do presente documento apresentar o esquema utilizado por relés digitais.
Apenas se menciona que a proteção mede a onda criada pelo curto-circuito na LT e que
atinge o ponto de aplicação da proteção. Vide teoria de ondas trafegantes.
No caso não se medem grandezas elétricas senoidais, mas sim os sinais de alta
freqüência associados à onda. O que seria “sinal” para uma proteção convencional, não se
aplica à proteção de ondas trafegantes.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Exemplo de relé 70 de 130
7. EXEMPLO DE UM RELÉ DIGITAL COMERCIAL E SEUS RECURSOS
7.1 CONVERSÃO A/D
Mostra-se aqui o processo de conversão AD de um relé comercial, no caso a proteção
SEL421 da Schweitzer.
Voltages
Currents
Control
Inputs
16 samples/
cycle
8 samples/
cycle
V&I
Source
Select
Hardware Software
Metering
P
ro
te
ct
io
n
a
nd
A
ut
o
m
at
io
n
Digital Elements
Analog Quantities
Low Pass
Filter
8 kHz
A /D
DebounceA/D
Hi- �Res Data
COMTRADE
Anti- Alias
Digital LPF
8000 samples/ second
( 8 kHz)
Digital RMS
Filter
1-Cycle
Cosine
Digital Filter
Breaker
Monitor
Filtered
Event
Report
SER
Half-Cycle
Digital Filter
Exemplo de Proteção Schweitzer SEL421 e SEL451
Figura 7.01 – Conversão A/D de um relé comercial moderno
Observa-se que a conversão A/D por hardware é feita com uma taxa de amostragem fixa de
8 kHz por segundo (8000 amostragens / s ou 133,33 amostragens por ciclo em um sistema
de 60 Hz, considerando a freqüência constante.
Há um filtro passa baixa que faz as funções de “anti-aliasing” com característica de -3 dB a 3
kHz. Isso significa:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Exemplo de relé 71 de 130
3 kHz
Se filtro Butterworth de
segunda ordem:
-12 db / oitava ou
redução de 16 x no sinal
de 3 kHz para 6 kHz
“Frequência de corte” (-3 dB)
0 dB
Definição de frequencia de corte:
Ganho (-3 dB) = 10.log (p2/p1)
-0,3 = 10.log (p2/p1)
p2/p1 = 0,5 (meia potência)
- 12 dB / oitava
Passabanda Atenua banda
Figura 7.02 – Filtro passa baixa analógico do relé SEL421 (taxa de amostragem de 8 kHz)
Mantendo-se a freqüência de amostragem constante no tempo, por um relógio próprio (não
amarrado à freqüência do sistema) obtém-se com mais facilidade o comportamento da
variação de freqüência do sistema supervisionado e a análise de harmônicas – o que é
ótimo para a oscilografia. Então tem-se uma oscilografia (formato COMTRADE) com alta
taxa de amostragem, já dentro da ordem de grandeza das taxas adotadas de registradores
oscilográficos “stand-alone”.
7.2 FILTROS DIGITAIS
Os sinais já digitalizados em 8 kHz passam agora por um filtro digital “anti-aliasing” pois
haverá reamostragem. Considerando uma reamostragem de cerca de 16 amostragens por
ciclo, a freqüência de corte deverá estar em torno de 8 amostragens por ciclo. A proteção do
exemplo aplica um filtro digital com -3 dB a 640 Hz (ou freqüência de corte em torno de 10
amostragenspor ciclo, se freqüência constante. Note que ainda a amostragem é fixa por
intervalo de tempo e não de ciclo.
Uma vez filtrado, pode-se aplicar algoritmos de filtragem para várias finalidades, já sem erro
de “alias”. Note que há três tipos de filtros:
Filtro coseno de 1 ciclo que é utilizado para a função de distância, com algoritmo final
que considera 8 amostragens por ciclo (este fabricante considera que não tem
necessidade de mais amostragens para função de distância).
Filtro coseno de 0,5 ciclo é utilizado para a função de falha de disjuntor, onde se exige
rápida definição de grandeza de corrente.
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NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Exemplo de relé 72 de 130
Filtro de valor eficaz para medição e para monitoramento de disjuntor (cálculo da
capacidade de interrupção disponível para fins de manutenção).
7.3 FILTRAGEM ADAPTATIVA
Deve-se observar agora, que ao se fazer “amostragens por ciclo” e algoritmo de Fourier ou
coseno para cálculo da grandeza à freqüência fundamental, a quantidade de amostras deve
ser constante, por ciclo, independente da freqüência do sistema elétrico. Caso contrário,
haverá erro na recomposição do vetor a partir dos valores amostrados.
Assim sendo, a proteção tem uma “Filtragem Adaptativa” a 16/8 amostras por ciclo, que é
um recurso onde se faz a necessária adaptação à freqüência do sistema, evitando erros de
medição (chamado “Tracking de Freqüência” na faixa de 40 a 65 Hz). A figura a seguir é
esquemática e ilustra o processo que é utilizado para função de distância:
Canal
analógico de V
ou I
Filtro
Analógico
passa baixo
Estimador de
Frequência do
Sistema
A / D
Intervalo de
amostragem
Relógio
Local
Filtro Digital
Adaptativo
passa Banda
Oscilografia e
Análise de
Harmonicas
Reamostragem Proteção
Figura 7.03 – Processo adaptativo de amostragem para “Tracking de Freqüência”
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NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Impactos da tecnologia digital 73 de 130
8. IMPACTOS DA TECNOLOGIA DIGITAL EM PROJETOS, INSTALAÇÕES E NA
OPERAÇÃO.
Métodos, processos e técnicas de projeto, instalação, operação e manutenção da proteção,
controle e supervisão são significativamente alterados com o advento da TECNOLOGIA
DIGITAL, se comparados com os adotados com a tecnologia convencional (eletromecânica e
eletrônica analógica).
Este capítulo apresenta alguns comentários sobre os itens de projetos, instalações e
operação. O capítul seguinte trata da manutenção.
8.1 INSTALAÇÕES E PROJETOS
8.1.1 Substituição de Equipamentos “Stand Alone” por Funções Digitais
No passado era necessária a aquisição de equipamentos específicos para várias funções
como por exemplo:
Medição de Controle
Religamento Automático
Verificação de Sincronismo
Falha de Disjuntor
Monitoração de Disjuntor
Monitoração de Serviço Auxiliar DC
Localização de Defeitos
Registrador de Eventos
Registrador de Perturbações
Hoje, um relé digital multifuncional incorpora uma ou mais dessas funções, dependendo do
modelo, finalidade e fabricante.
Isso implica que:
Não há necessidade de aquisição de equipamento a parte para essas funções, porém
continua havendo necessidade de especificar o que se deseja, agora como função ou
facilidade embutida.
Se antes havia cablagem das instalações externas (TP, TC, disjuntor, serviço auxiliar,
telecomunicações) aos equipamentos a parte e destes com os relés de proteção, agora
continua havendo necessidade de cablagem dessas mesmas instalações externas ao
relé digital, mas sem necessidade de eventuais duplicações. Em geral há redução de
cablagem.
Por exemplo, há necessidade de apenas um conjunto de informações dos TP’s ao
novo relé digital, e não mais a vários equipamentos com por exemplo, medidores,
check de sincronismo e relés que utilizam informação de tensão.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Impactos da tecnologia digital 74 de 130
Deve-se sempre tomar o cuidado de perceber que essas funções exigem sinais
externos e há, por exemplo, tendência de esquecimento no novo projeto digital, pelo
projetista.
8.1.2 Sistemas de Comando e Controle por Lógicas Embutidas em Relés ou Outros
Dispositivos Eletrônicos Inteligentes
No passado as lógicas de comando e controle em uma instalação elétrica eram realizados
por relés eletromecânicos de diversas características (capacidade de contato, tempo de
atuação), dependendo da aplicação. Os relés e contatores eram conectados através de
cabos de controle (cobre), com borneiras e chaves diversas.
Isso implicava em painéis com muita cablagem e relés ou contatores, temporizadores,
chaves diversas e outros auxiliares para sinalização e alarme.
Hoje, muitos circuitos de comando e controle podem ser implementados através de:
- Programadores Lógicos Controláveis (PLC)
- Lógicas embutidas em relés de proteção.
PLC’s são utilizados em sistemas mais completos de automação ou esquemas especiais
de proteção. Lógicas de relés são utilizados em controles tradicionais para terminais.
Assim, os sinais das seccionadoras, disjuntores e sinais analógicos são levados aos PLC’s
ou relés digitais de proteção, sendo que esses possuem contatores internos de saída para
os comandos finais, após a lógica desejada.
Por exemplo, muitos intertravamentos simples e bloqueios podem ser implementados
através de lógicas internas de relés, não necessitando de cabos de cobre interligando os
equipamentos supervisionados. Bastam informações desses equipamentos ao relé.
O impacto desses recursos é significativo na filosofia de projeto de comando e controle. Há
economia sensível em cabos e relés e contatores auxiliares necessários, dependendo da
aplicação.
8.1.3 Disponibilidade de Novas Funções de Proteção
No passado, algumas funções de proteção eram consideradas especiais, pela dificuldade
de implementação, pois exigiam relés mais caros ou conexões mais complexas.
Hoje, essas funções podem ser executadas por simples operações matemáticas num relé
digital (na realidade, um computador). E operações matemáticas em computador, através
de fórmulas ou algoritmos são executadas rotineiramente em velocidade, mesmo as mais
complexas.
Como exemplos dessas novas funções, podem ser citadas:
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NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Impactos da tecnologia digital 75 de 130
Seqüência Negativa
Pelo fato de serem de difícil implementação, eram utilizados (relés de desbalanço de
corrente) para máquinas rotativas. Hoje, estão disponíveis em quase todos os relés
que tem como entrada as três correntes de fase de um circuito, através de apenas um
cálculo (teoria de componentes simétricos).
Tensão residual (3.V0)
Antes, havia necessidade de secundário de TP adicional ou TP’s auxiliares,
conectados em Delta Aberto, para medição da tensão residual para proteção de terra
em sistema isolado ou aterrado com impedância. Hoje, apenas um cálculo (soma das
três tensões de fase) já fornece o valor desejado.
Sobrecarga Térmica
No passado, relés térmicos tentavam representar, através de circuitos secundários de
dissipação de calor (placas dissipadoras) a constante de tempo de aquecimento do
equipamento supervisionado. Assim um relé 49 era aplicado principalmente a
máquinas rotativas. Mesmo assim, dificilmente se conseguia uma característica de
proteção adequada à característica do equipamento protegido.
Hoje, através de réplicas térmicas digitais, pode-se modelar a característica de
aquecimento (em função da corrente e da temperatura ambiente) com precisão. Mas
ainda hoje permanece a dificuldade de se conseguir a característica térmica do
equipamento protegido. Dependendo do equipamento, o próprio fabricante tem
dificuldade de informar (por exemplo, grandes transformadores).
Outras, como fechamento sobre falta, zona morta entre TC e disjuntor, especial
para esquema disjuntor emeio, etc.
.
8.1.4 Constatações
a) Hoje, há maior necessidade de conhecimento da filosofia de proteção para uso
adequado de todas as disponibilidades de um relé digital.
– Usar ou não usar uma função é uma dúvida bastante comum. Os reles em geral
apresentam mais recursos que o simplesmente necessário, pois os fabricantes, em
decorrência de aspectos econômicos e de mercado, oferecem relés praticamente
“universais” (para várias aplicações). Prós e contras e aspectos técnicos diversos
devem ser considerados.
– Há também o problema da redundância. Diversas opções de hardware e de software
(funções de proteção) estão disponíveis. Muitas vezes, se tem todas as funções em
um único equipamento (relé). O problema da redundância deve ser considerado,
para se avaliar a confiabilidade.
Assim, sempre se deve avaliar se deve ser aplicado um relé com todas as funções
ou mais relés com funções distribuídas.
b) Muitos projetistas estão ainda despreparados.
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– Há funcionalidades que a projetista simplesmente não utilizam, enquanto que sua
utilização poderia trazer benefícios – assim alguma cablagem que deveria existir não
existe. Um quando utilizam, o fazem parcialmente
Exemplos: uso da função térmica 49, uso da falha de disjuntor, uso da supervisão de
serviço auxiliar DC, uso do monitoramento do disjuntor.
– As vezes as conexões AC não são as mais adequadas para melhor aproveitamento
das funções digitais.
Exemplo proteção diferencial de TR. Uma conexão delta no TC principal é utilizada,
como num projeto convencional, enquanto que uma conexão estrela-aterrada
poderia proporcionar mais sensibilidade, com a proteção digital fazendo o bloqueio
da seqüência zero.
c) Muitos prestadores de serviços estão ainda despreparados.
– Principalmente para serviços de comissionamento da parte de proteção, supervisão
e controle, há necessidade uma atenção maior quanto aos prestadores de serviços.
A falta de conhecimento de uma proteção digital pode levar a comissionamento
superficial, sem verificação de itens essenciais.
A falta de equipamentos adequados (notebooks, softwares, caixas digitais de
ensaios) também podem levar ao comissionamento incompleto ou até a danos em
equipamentos mais sensíveis.
– Como melhorar a capacitação desse pessoal? Eis uma boa questão. .
d) Quanto à Contratante.
– Necessidade de estabelecimento de requisitos e especificações adequados à
tecnologia moderna, para os projetos contratados de supervisão, controle e proteção.
– Idem para serviços de comissionamento respectivos.
– Necessidade de fiscalização técnica adequada aos projetos e serviços.
– Há necessidade de melhor conhecer os impactos da moderna tecnologia nos
projetos para a devida contratação
.
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Impactos da tecnologia digital 77 de 130
8.2 OPERAÇÃO
Quanto à Operação, há significativas mudanças nas instalações e nos recursos de modo
que os procedimentos devem se adequados às essas mudanças, para melhor
aproveitamento.
8.2.1 Integração com a Supervisão
As proteções digitais, juntamente com outros equipamentos e dispositivos digitais do
sistema de supervisão e controle de uma instalação elétrica fazem parte de uma família
denominada genericamente de IED – “Intelligente Electronic Devices”.
Esses equipamentos possuem facilidades embutidas de operação em rede, com
equipamentos e sistemas trocando informações e provendo um sistema de supervisão
global onde as informações da proteção fazem parte de um todo e não mais são
consideradas isoladas.
Isto é, o conceito do relé de proteção isolado dentro de uma instalação, ou considerado
isoladamente, não existe mais. Geralmente as proteções são parte de um todo, sendo
colocadas em rede local juntamente com unidades de aquisição de dados (controle e
supervisão) e outros IED’s. O sistema é conectado a uma unidade de supervisão geral da
instalação em rede, cujas arquiteturas e meios de comunicação podem ser as mais
diversas possíveis.
O grande problema é ainda a integração de IED’s de fabricantes distintos. Os protocolos
que no passado eram, na maior parte, proprietários, apresentam tendência de abertura
cada vez maior, permitindo através de codificações comuns e compatíveis, a integração de
equipamentos das mais diferentes origens.
Também o conceito de rede ampla, que no passado era utilizado apenas para os Centros
de Operação do Sistema (transmissão e geração de energia elétrica) para fins de
operação, são agora compreendidos como algo mais amplo e diversificado, incluindo
proteção e mas mais diversas informações englobando instalações múltiplas em uma
região.
8.2.2 Acesso Remoto
A supervisão e controle remotamente efetuados é, portanto, bastante comum. As mesmas
facilidades e recursos de uma supervisão local já são disponíveis remotamente.
Isso trouxe um impacto muito grande para a Operação. Por exemplo, já em fins dos anos
80 e começo dos anos o desassistimento de instalações em função da operação remota
(apesar de menos recursos na época) já era realidade – hoje, as informações de proteção
e oscilografia também são adquiridos a distância.
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Impactos da tecnologia digital 78 de 130
O acesso remoto a dados de proteção (parâmetros, dados de eventos, oscilogramas de
ocorrências, diagnóstico) são as conquistas que trazem um retorno econômico
significativo, com agilização dos procedimentos operacionais e redução de despesas de
locomoção.
8.2.3 Constatação
Constata-se que a adaptação cultural à nova tecnologia digital, com os seus recursos, é
lenta.
Tem-se observado que:
A alteração nos métodos e processos, para melhor aproveitamento dos novos
recursos, é feita lentamente em algumas empresas. A agilização não tem sido obtida
na velocidade desejada.
O fato de não se enxergar “bits” e “bytes” é uma dificuldade. O SOFTWARE DEVE
SER TRATADO COMO UM EQUIPAMENTO (Custa caro. Exige manutenção /
atualização. Há parametrização e comissionamento. Pode apresentar falhas e
defeitos).
Muitas vezes a operação, as vezes, não exige de “projetos e instalações”. E “projetos e
instalações” é lenta na oferta de novos recursos – ou a oferta é feita sem critério.
Uma recomendação adequada seria:
“Procurar utilizar todos os recursos disponíveis de telecomunicações para aquisição de
dados e informações e para diagnóstico e parametrização.
Exigir esses recursos onde não disponíveis para recursos digitais locais, já existentes”.
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9. CONFIABILIDADE E MANUTENÇÃO DA PROTEÇÃO DIGITAL
9.1 SISTEMAS DE AUTO VERIFICAÇÃO, MONITORAMENTO CONTÍNUO E AUTO-TESTE
Uma das mais importantes vantagens da proteção numérica de tecnologia digital
microprocessada é a possibilidade ampla de implementar sistemas de verificações e
diagnósticos automáticos.
a) O relé digital pode reconhecer instantaneamente os dados de entrada em quantidades
mínimas, permitindo executar monitoramento contínuo e verificações com muito mais
precisão que os relés de tecnologia eletrônica convencional.
b) Desde que o monitoramento é feito principalmente por softwares, é possível executar, de
imediato, funções complexas de verificação e testes que não seriam possíveis com relés
convencionais.
O resultado imediato é a melhoria sensível na confiabilidade operacional da proteção, como
será mostrado posteriormente, e a redução dos custos de manutenção da proteção.
Os seguintes processos são considerados:
TPs
e
TCs
Trip Indica
ções
Cond.
Externas
Alimenta
ção
Monitoramento e Teste
de Circuitos de Entrada
Auto
Verificação
Auto
Verificação Auto
Verificação
Auto
Verificação
Monitoramentodos Ajustes
Auto
Verificação
Monitoramento e Teste
de Circuitos de Entrada
Teste do Circuito
de Saída
Monitora-
mento
Monitoramento
da Alimentação
Monitora-
mento
Bus
Entrada
Analógia
Processamento
da Medição
Processamento
Esquema Lógico
Ajustes Indicação
Detecção
de Falta
Relés
Auxiliares
Output Input
Conversor
AC/DC
T
ra
ns
d
ut
o
re
s
Monitora-
mento
Figura 9.1 – Sistema Automático de Monitoramento e Verificação
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Monitoramento Contínuo
É feito monitoramento para:
Sinais de entrada, fazendo uso de critérios de redundância e erros esperados na
medição, por exemplo, cálculos de seqüência zero de tensão e corrente.
Circuitos de TC’s e TP’s quanto a curto-circuito ou circuito aberto, fazendo uso de
expressão que indica valores máximos e mínimos esperados no conjunto relacionado
das três fases e neutro.
Circuitos de entrada, envolvendo transdutores e acopladores, fazendo de critérios de
discrepâncias.
Circuitos de saída, fazendo uso da comparação da saída com os níveis de
processamento e lógicas em execução.
Conversor DC-DC quanto a falhas, através da comparação dos níveis de saída de cada
subsistema.
“Set” de Ajustes (armazenados em EPROM’s), comparando diferenças entre dois
conjuntos (há sempre dois conjuntos iguais para cada “set” de ajustes).
Ajustes, através da verificação em função da faixa de ajustes permitida.
Itens do sistema de processamento, como paridades, temporizações inerentes de ROM,
RAM, Watch Dog, etc. (auto diagnose).
Adicionalmente pode-se fazer uso do chamado “stole alarm”, isto é, um sinal “OK” é
encaminhado a um hardware externo, pelo software de monitoramento, de tempo em tempo,
para indicação de que o programa está sendo processado normalmente. A amplitude desse
monitoramento é determinada pela quantidade e variedade dos “check points”.
Auto Verificação
Exemplos de auto verificação:
Verificação da memória RAM – através de escrita e leitura de dados pré-determinados.
Verificação de programas – através de dados de “entrada” para processamento,
conhecendo-se as “saídas” esperadas.
Verificação da Característica da conversão A/D – pela aplicação de teste DC de alta
precisão a partir do circuito S/H (Sample & Hold) e fazendo verificação de dado de
entrada pela CPU.
Auto-Teste
Podem ser feitos testes para:
Verificação das Entradas Analógicas – através da aplicação de corrente de teste e
verificando o resultado pela CPU. Durante esse teste, o circuito de trip da proteção é
desativada (cerca de 100 ms).
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Verificação de circuitos de saída (trip ou circuitos de grande importância) – através da
demanda de sinal interno de trip, para verificar se o circuito de saída está operando
corretamente. Também neste caso, o circuito externo de trip da proteção teria que ser
isolado (automaticamente, com projeto prevendo este esquema).
TP’s
TC’s
Disj
Relé
Unidade de Teste
Automático
Circuito de Controle
de correntes
Monitoramento
sinais e
comandos
de testes
Alarme e
Sinalização
Relé
Unidade de Teste
Automático
Figura 9.2 – Exemplo de Sistema Automático de Testes
Timing para Monitoramento, Auto Verificação e Auto Teste
operação normal Auto Teste (100 ms)
tempo
cálculo Proteção
Monitoramento e Auto
Verificação
(100 s)
Figura 9.3 – Tempos Envolvidos no Processo
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Classificação dos Métodos de Detecção de Falhas
Tipo de
Detecção
Intervalo de
Testes
Período sem
Proteção
Modos de
Operação
Detectáveis
Modos de
Falha
Detectáveis
Maiores
Vantagens
Maiores
Desvantagens
Manual
Periódico
1 a 4 anos Algumas
horas
Recusa de
Operação
Operação
Acidental
Operação
Incorreta
Falhas de
Degradação
Falhas
Catastróficas
Testes mais
completos.
Detecção de
falhas
menores.
Proteção
indisponível
por horas.
Longo tempo
para detectar
falhas ocultas
Possibilidade
de erro
humano.
Alto custo
operacionhal.
Auto Teste De algumas
horas a alguns
dias
(ajustável)
100 ms Recusa de
Operação
Operação
Incorreta
Falhas de
Degradação
Falhas
Catastróficas
Tempo
relativa-
mente curto
para detectar
falhas
ocultas
Necessidade
de projeto
especifico e
instalação
extra.
Custo inicial
maior.
Aumento da
taxa de
falhas pelo
acréscimo de
itens
adicionais.
Monitora-
mento
contínuo
Zero Zero Operação
acidental
Falhas
Catastróficas
Adequado
para
esquemas
redundantes.
Detecção
imediata de
defeitos
Trip
instantâneo
incorreto
pode ser
prevenido
Adidional de
hardware é
pequeno.
Funções
operacionais
não podem
ser
verificadas.
Auto
Verificação
Alguns ms Zero Recusa de
Operação
Operação
Incorreta
Falhas
Catastróficas
Erros de
software
Falhas de
Degradação
Detecção
imediata de
defeitos
Quase sem
hardware
adicional.
Defeitos
intermitentes
também
detectados.
Necessidade
de
programas
adicionais.
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9.2 CONFIABILIDADE OPERACIONAL DE RELÉS DIGITAIS
O presente item tem a finalidade de mostrar como os sistemas de monitoramento contínuo,
auto verificação e auto-teste implementam a confiabilidade operacional de uma proteção
digital.
A confiabilidade operacional de uma proteção é dada por dois parâmetros:
Dependabilidade
A proteção deve atuar corretamente quando solicitado. Uma proteção pode:
Atuar incorretamente, quando solicitada a operar e não desempenha sua função
adequadamente.
Não atuar (recusa), quando solicitada a operar.
Segurança
A proteção não deve atuar, quando não solicitado. Uma proteção pode:
Atuar acidentalmente, quando não é solicitada a atuar mas opera desligando o
terminal.
Transição de Estado de Um Relé de Proteção
Vamos considerar os seguintes Estados, nos quais pode se encontrar um relé de proteção:
(A) – Estado São.
Quando o relé se encontra em uma situação que garanta tanto a Dependabilidade como a
Segurança.
(B) – Em Falha.
Quando o relé se encontra em uma situação tal que pode operar incorretamente quando
solicitado ou pode acidentalmente sem solicitação.
(C) – Em Reparo
Quando o relé se encontra fora de operação para reparo.
Esses três estados estão mostrados na figura seguinte.
A
São
B
Em Falha
C
Em Reparo
Em Serviço
Fora de Serviço
Figura 9.4 – Estados Possíveis de Um Relé de Proteção
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Deve-se observar que o relé pode permanecer em operação no estado B, sob falha não
detectada. Se o relé se encontrar neste estado, ele poderá operar incorretamente ou não
operar quando solicitado. Nessas condições, sofrerá intervenção e entrará no Estado C. O
retorno para a Operação será no Estado A.
Taxas de Transição de Estado
Terminologia e definições:
MTBF - Tempo Médio Entre Falhas. É o tempo médio em que um relé permanece no estado
A. No instante que ele tiver uma falha interna, passará para o estado B.
MTBF
1
- Taxa de Falha por Unidade de Tempo
CT - Intervalo de Tempo entre Intervenções no Relé.
2
CT
- Tempo em que o Relé permaneceu em Falha, antes da Solicitação / Detecção.
2
1
CT
- Taxa de Detecção de Falha por Unidade de Tempo.
MTTR – Tempo Médio para Reparo do Relé.
MTTR
1
- Taxa de Reparo de Falha por Unidade de Tempo.
Nessas condições, as transições de Estado podem ser definidas matematicamenteatravés
das taxas:
A
São
B
Em Falha
C
Em Reparo
Figura 9.5 – Transição de Estados
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Requisitos para a Proteção
a) Manter o Estado A o maior tempo possível
Através do uso de componentes confiáveis (diminuindo ).
Detectando e reparando as falhas o mais rápido possível (aumentando )
b) Reduzir a probabilidade de atuação incorreta, recusa ou atuação acidental ao mínimo,
durante o estado de Falha B.
Por exemplo, duplicando a proteção.
Utilizando funções menos afetadas por falhas.
Diminuindo o tempo na qual a proteção permanece em Falha, sem detecção.
Os sistemas de monitoramento contínuo, auto verificação e atuo teste contribuem para
aumentar e. À medida que se diminui o Tempo (TC/2) na qual a proteção permanece
em estado de falha sem detecção, há aumento de (item a acima) e também se reduz a
probabilidade de atuação não correta da proteção (item b acima).
A figura a seguir mostra matematicamente as contribuições de diversos aspectos na
melhoria da confiabilidade da proteção:
0
T
ax
a
de
A
tu
aç
õe
s
A
ci
de
nt
ai
s
Taxa de Atuações
Incorretas + Recusas
Figura 9.6 – Medidas para Melhorar a Confiabilidade
= Utilizando componentes confiáveis na fabricação da proteção, projeto adequado, etc.
= Redundância série (elementos de partida ou de detecção da falta, antes da medição da
proteção propriamente dita). Monitoramento contínuo.
= Redundância paralela (duplicação da proteção), esquema de auto teste, auto verificação.
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Probabilidade da Operação Não Correta
Pode-se mostrar que esquemas de monitoramento contínuo, auto check e auto teste
diminuem sensivelmente a probabilidade de operação não correta da proteção, diminuindo o
tempo em que a proteção sob falha permaneça em operação.
A
São
B
Em Falha
C
Em Reparo
Referindo-se à figura de transição de falhas, pode-se efetuar uma análise relacionando as
taxas com os estados, conforme terminologia já mencionada.
Considera-se que os estados A, B e C sejam “estáveis”, quando:
0
dt
dC
dt
dB
dt
dA
Mas: CA
dt
dA AB
dt
dB BC
dt
dC
Nessas condições:
MTTRTMTBF
T
B
C
C
2
2
111
1
Conforme mostrado na figura a seguir, a probabilidade de operação não correta está
associada a B.
B C A B C A
MTBF TC/2 MTTR
Em
Serviço
Fora de
Serviço
Figura 9.7 – B Associado à Probabilidade de Operação Não Correta
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Exemplo:
MTBF = 20 anos
MTTR = 1 dia
Intervalo entre Intervenções TC = 2 anos
05,0
20
1
2
2
MTTRTMTBF
T
B
C
C
Isto é, a probabilidade de 5% significa que uma atuação em 20 solicitações seria Não
Correta. Ou que num universo de 20 relés, teríamos 1 relé em estado de falha por unidade
de tempo.
Efeito de um Auto Teste realizado a cada 7 dias, complementado por monitoramento
contínuo e auto check.
Neste caso, Tc/2 = 3,5 dias ao invés de 1 ano.
00043,0
5365*205,4
5,3
B
Isto é, há uma melhora considerável na probabilidade de Operação Não Correta.
NOTA
Evidentemente, para que se tenha essa altíssima confiabilidade operacional, deve haver
esquema de Auto Teste que verifica automaticamente as funções operacionais da proteção
em complementação ao monitoramento contínuo e auto check.
Entretanto, desde que haja instalação confiável (cablagem, circuitos externos, etc.), mesmo
sem o auto teste, haverá uma grande confiabilidade operacional.
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Intervalo de Teste Ótimo para Esquema de Auto Teste
Para determinar esse intervalo de tempo ótimo, refere-se ao modelo mostrado na figura a
seguir, onde o Estado em que se está realizando o Teste Periódico (automático) estará
relacionado com o Estado A:
A
São
B
Em Falha
C
Em Reparo
D
Teste
Periódico
‘
‘
Figura 9.8 – Modelo de Taxas Incluindo Auto Teste Periódico
Uma proteção no Estado A, tem esquema automático de teste a cada TC e a duração do
ensaio é t. Nessas condições, segundo a referência [2]:
tT
T
x
MTTR
T
MTBR
T
A
C
C
C
C
2
2
Segundo a mesma referência, o intervalo de tempo ótimo para autoteste é dado quando:
0
CdT
dA
tMTTRMTBFTtimoIntervaloO C ).(2_
Exemplo:
MTBF = 20 anos
MTTR = 1 dia
t = 1 minuto
Intervalo Ótimo calculado segundo fórmula acima = 76 horas (mais ou menos 3 dias).
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9.3 MANUTENÇÃO DE RELÉS DIGITAIS
Para avaliar o efeito dos sistemas de monitoramento contínuo, auto check e auto teste na
manutenção da proteção, vamos imaginar uma situação onde as falhas na proteção que
poderiam causar ou causaram operação não correta foram detectadas da seguinte maneira:
Modo de Detecção Intervalo de
Intervenção
% dos casos
detectados
Manutenção Periódica 2 anos 10%
Auto Teste Periódico 7 dias 10%
Auto Check e Monitoramento Contínuo 0 80%
Vamos calcular a probabilidade de operação não correta, observada nessas condições.
MTTRTMTBF
T
B
C
C
2
2
111
1
CC
C
TT
MTBFMTBF
T
B .
2
1
.
1
.
2
12
O intervalo entre intervenções pode ser ponderado e calculado da seguinte maneira:
mKC TmTTkT ...
onde:
KT Intervalo de intervenção para monitoramento contínuo e auto check.
T Intervalo de intervenção para auto teste.
mT Intervalo de intervenção manual.
k = Taxa de detecção para monitoramento e auto check.
Taxa de detecção para auto teste
m = Taxa de detecção para intervenção da manutenção periódica.
Assim:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Confiabilidade e Manutenção da Proteção Digital 90 de 130
mK TmTTk
MTBF
B ....(
1
.
2
1
Substituindo os valores para uma mesma base (ano ou dias), teremos:
005,0B , isto é, cerca de 0,5% o que é um excelente valor.
Conclusões
Com relés digitais dotados de sistemas de auto check e monitoramento contínuo, o
intervalo para intervenções manuais preventivas pode ser aumentado com relação
àqueles períodos que eram adotados para relés de tecnologia eletromecânica ou
estática.
Eventualmente, dependendo dos recursos e da filosofia do usuário, a manutenção
preventiva periódica para a proteção em si poderá até ser eliminada. Entretanto, isso irá
requerer o uso de relés digitais com recursos completos e modernos de monitoramento
contínuo e auto verificação.
O auto teste (intervenção automática periódica em intervalos de tempo da ordem de
dias) que é feito sobre os circuitos operacionais (entradas analógicas e saídas de trip)
pode não existir, uma vez que:
Os sistemas de monitoramento contínuo e auto check estão cada vez mais
avançados, aumentando a taxa de detecção de falhas.
Podem ser previstas intervenções manuais periódicas simplificadas, apenas para
circuitos funcionais (entradas e saídas).
9.4 EXEMPLO DE PERIODICIDADE DE INTERVENÇÃO NA PROTEÇÃO
A seguir é apresentado um exemplo de periodicidades e procedimentos adotados por um
“pool” de concessionárias dos EUA (PJM INTECONECTION, L.L.C.) para a proteção em
geral, para fins de ilustração (caso típico).
PERIODICIDADE DE INTERVENÇÕES
Sistemas de
Proteção
(Nota 5)
Tecnologia Testes de Aferição
Freqüência (Nota 4)
Testes Funcionais
Freqüência (Nota 4)
Transmissão Eletromecânica e Estáticadinâmica ou dielétrica)
que o sistema possa lhe impor;
- Tenha características nominais adequadas para o uso desejado;
- Seja projetado, construído e testado de tal modo a assegurar por muitos anos, as
características especificadas.
Alta confiabilidade só é possível com transformadores de boa qualidade e desde que
utilizados corretamente. Para tal, deve-se analisar cuidadosamente todos os parâmetros
necessários para se especificar um Transformador para Instrumentos. A observância de
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Introdução 8 de 58
Normas Técnicas, nacionais ou internacionais, é um dos melhores meios para se atingir esse
objetivo.
1.3 NORMAS TÉCNICAS
Para os transformadores para instrumentos, temos tanto normas brasileiras (ABNT) como
internacionais (ANSI, IEC, VDE, etc.).
1.3.1 ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)
NBR 6546: Transformadores para Instrumentos. Esta Norma define termos
relacionados com transformadores, (de corrente e de potencial), utilizados com
instrumentos de medição, dispositivos de proteção ou dispositivos de controle.
NBR 6820: Transformador de Potencial Indutivo. Esta Norma prescreve os métodos
para execução dos ensaios em transformadores de potencial indutivos especificados na
NBR 6855.
NBR 6821: Transformador de Corrente. Esta Norma prescreve os métodos para
execução dos ensaios em transformadores de corrente (TC´s) especificados na NBR 6856.
NBR 6855: Transformador de Potencial Indutivo. Esta Norma fixa as características de
desempenho de transformadores de potencial indutivos (TPI) destinados a serviços de
medição, controle e proteção.
NBR 6856: Transformador de Corrente. Esta Norma fixa as características de
desempenho de transformadores de corrente (TC´s) destinados a serviço de medição e
proteção.
1.3.2 IEC (International Electro technical Commission)
IEC 60044-1 Instrument Transformers - Part 1: Current Transformers.
IEC 60044-2 Instrument Transformers - Part 2: Inductive Voltage Transformers.
1.3.3 ANSI (American National Standards Institute)
ANSI C57.13 - Instrument Transformers
1.3.4 VDE (Verband Deutscher Elektrotechniker)
VDE 0414 - Instrument Transformers
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 9 de 58
2. TRANSFORMADORES DE CORRENTE
2.1 INTRODUÇÃO
De acordo com a norma ABNT NBR 6546, Transformador de Corrente (TC) é o
“transformador para instrumentos cujo enrolamento primário é ligado em série em um circuito
elétrico e reproduz, no seu circuito secundário, uma corrente proporcional à do seu circuito
primário, com sua posição fasorial substancialmente mantida”.
O Transformador de Corrente (TC) tem, portanto, a finalidade de:
- Fornecer no seu secundário, uma corrente proporcional à do primário e de dimensões
adequadas para serem usadas pelos sistemas de controle, medição e proteção.
- Isolar os equipamentos de controle, medição e proteção do circuito de Alta Tensão (AT);
No Brasil, a corrente secundária do TC está normalizada em 5 A, podendo, no entanto, ser
encontrada aplicação com TC´s cuja corrente secundária é de 1 A.
Instrumento Secundário (Relé, Medidor)
CONDUTOR
NÚCLEO DO TC
Enrolamento
Cabos
Secundários
I primária
I secundária
Figura 2-1– Princípio do Transformador de Corrente
2.2 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA E POLARIDADE DE UM TC
A figura a seguir e a maneira como as bobinas primária e secundária são enroladas no
núcleo magnético. Isto é feito simbolicamente pelas marcas de polaridade (pontos):
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 10 de 58
I1
I2
P1 P2
S1 S2
I1
I2
Norma ANSI Norma IEC
k l
K L
Norma VDE
Figura 2-2 - Representação de TC e Polaridades
Como regra, temos que a corrente primária I1 entra pela polaridade e a corrente secundária I2
sai pela polaridade e assim, temos I1 e I2 em fase.
2.3 RELAÇÃO DE TRANSFORMAÇÃO DO TC
Considerando-se um TC como um transformador operando dentro das características ideais,
temos que:
F1 - F2 = R . Ф
onde:
F1 = força magnetomotriz produzida pela bobina primária do TC
F2 = força magnetomotriz produzida pela bobina secundária do TC
R = relutância do circuito magnético do núcleo do TC
Ф = fluxo magnético no núcleo do TC
ou:
n1 . I1 - n2 . I2 = R . Ф
Considerando o transformador ideal (R = 0) temos:
n1 . I1 - n2 . I2 = 0
n1 . I1 = n2 . I2
I2 =
n2
n1 . I1
I2 =
n1
n2
1 . I1
Definindo-se a relação de transformação do TC como:
RTC =
n1
n2 tem-se que I2 = I1 .
RTC
1
Na prática, indica-se a relação através dos valores nominais dos enrolamentos primário e
secundário. Por exemplo:
600 - 5 A (RTC = 120:1)
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 11 de 58
1000 - 1 A (RTC = 1000:1)
2.4 CIRCUITO EQUIVALENTE DO TC
Do ponto de vista eletromagnético, o TC é um transformador. Assim sendo, o seu circuito
equivalente pode ser representado conforme mostrado na figura a seguir.
R1 j X1 R2 j X2
Rp
j Xmag
N1:N2
(Ideal)
Ip Is
Iexc
Imag Iperda
Ip’
Zcabos + Zrele
(Burden
Conectado)
Figura 2-3 - Circuito Equivalente do TC
onde:
Ip = corrente no primário
Is = corrente no secundário do TC
Z1 = R1 + jX1 impedância do primário
Z2 = R2 + jX2 impedância do secundário
Zc = carga ligada no secundário do TC (“burden”)
Iexc = corrente de excitação do TC
Ie = Imag + Iperda
Imag = corrente de magnetização do núcleo do TC
Iperda= corrente de perdas (perdas por corrente de Foucault, histerese e pequeno efeito Joule)
Rp = resistência equivalente às perdas no ferro do núcleo do TC (corrente Iperda)
Xmag = reatância equivalente à magnetização do núcleo do TC (corrente Imag)
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 12 de 58
2.5 CARACTERIZAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR DE CORRENTE
De acordo com a ABNT, os valores nominais principais que caracterizam os transformadores
de corrente são os seguintes:
Corrente nominal e relação nominal;
Nível de isolamento;
Frequência nominal;
Carga nominal;
Classe de exatidão;
Fator de sobrecorrente nominal (somente para TC de proteção);
Fator térmico nominal;
Corrente térmica nominal;
Corrente dinâmica nominal.
2.5.1 Carga Nominal.
O conhecimento da carga nominal dos TC´s é de suma importância pois todas as
considerações sobre classe de exatidão dos mesmos estarão condicionadas a essa carga.
Segundo a ABNT, as cargas nominais são designadas pela letra “C”, seguida pelo número
de volt-amperes em 60 Hz, com corrente nominal de 5 A e fator de potência normalizado
conforme mostrado na tabela a seguir.
Cargas Nominais Características a 60 Hz e 5A
Desig-
nação
Potência
Aparente
(VA)
Fator de
Potência
Resistência
Efetiva (Ω)
Reatância
Indutiva (Ω)
Impedância
(Ω)
Tensão a
20 x 5A
(V)
C 2,5 2,5 0,90 0,09 0,044 0,1 10
C5,0 5,0 0,90 0,18 0,087 0,2 20
C12,5 12,5 0,90 0,45 0,218 0,5 50
C22,5 22,5 0,90 0,81 0,392 0,9 90
C45 45 0,90 1,62 0,785 1,8 180
C90 90 0,90 3,24 1,569 3,6 360
C25 25 0,50 0,50 0,866 1,0 100
C50 50 0,50 1,0 1,732 2,0 200
C100 100 0,50 2,0 3,464 4,0 400
C200 200 0,50 4,0 6,926 8,0 800
Figura 2-4 -Cargas Nominais para TC, segundo ABNT
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 13 de 58
Para a seleção da carga nominal de um TC, somam-se as potências dos dispositivos que
serão conectados no seu secundário. Se relevante, considera-se também as potências
consumidas pelas conexões e cablagens. Feito isso, adota-se a carga padronizada de
valor imediatamente superior ao valor calculado.
De acordo com uma antiga ANSI, as cargas nominais são designadas pela letra “B”
(Burden), seguida pelo valor da impedância em 60 Hz, com corrente nominal de 5 A e fator
de potência normalizado conforme mostrado na tabela a seguir.
Designação
Características Características para 604 anos 4 anos
Digital (Nota 1) 4 anos
Geração Eletromecânica e Estática 4 anos 4 anos
Digital (Nota 1) 4 anos
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Confiabilidade e Manutenção da Proteção Digital 91 de 130
Especiais Eletromecânica e Estática 4 anos 4 anos
Digital (Nota 1) 4 anos
Frequência e
Tensão (Rejeição
de Carga)
Eletromecânica e Estática 4 anos 4 anos
Digital (Nota 1) 4 anos
Registrador de
Perturbações
Eletromecânica e Estática 4 anos
Digital (Nota 2)
Canais de
Teleproteção
(Nota 3)
Carrier 4 anos
Linha Dedicada (alugada) 4 anos
Microondas 4 anos
Fibra óptica 4 anos
Nota 1: Relés Digitais
Testes de Aferição periódica não se aplicam. Esses relés possuem monitoramento contínuo.
A análise regular dos eventos e oscilogramas de perturbações permitem acompanhar o
desempenho do mesmo. A medição analógica, entradas digitais e saídas digitais são
verificadas quando dos ensaios funcionais.
Nota 2: Registradores Digitais (“stand alone”)
Testes de Aferição periódica não se aplicam. Esses equipamentos possuem
monitoramento. A análise regular dos eventos e oscilogramas de perturbações permitem
acompanhar o desempenho do mesmo.
Nota 3: Canais de Teleproteção
Os canais de teleproteção devem ser testados com a mesma freqüência dos relés de
proteção dos quais fazem parte. É recomendada também uma verificação anual (“on-line”)
dos sinais de telecomunicação envolvidos.
Nota 4: Freqüência de Intervenção
Intervalo de tempo desde a última intervenção. Esforço deve ser feito para que o
planejamento seja executado dentro de uma margem de atraso máximo de 10%.
Nota 5
Toda atuação da proteção deve ser analisada. Intervenção corretiva é sempre necessária
quando de atuação não correta.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Confiabilidade e Manutenção da Proteção Digital 92 de 130
PROCEDIMENTOS
A documentação técnica do fabricante da proteção e manuais de ensaios desenvolvidos
pelo proprietário da instalação devem ser utilizados nos ensaios da proteção.
Eventualmente são necessários procedimentos ou cuidados especiais para situações
quando há informações adicionais (experiências de terceiros ou advertências dos
fabricantes). É importante que os procedimentos especiais estejam especificados e
detalhados nos manuais de intervenção.
PEÇAS E COMPONENTES DE REPOSIÇÃO
Peças e componentes completos de reposição devem estar disponíveis ou estocados,
conforme política da empresa. A experiência de utilização dessas peças e componentes
fornece parâmetros para o seu dimensionamento.
GERENCIAMENTO DA MANUTENÇÃO
É obrigatória a documentação de todas as intervenções efetuadas nos sistemas de
proteção, independentemente da amplitude de tal intervenção. Toda contingência que
eventualmente impeça o cumprimento de um planejamento preventivo ou uma programação
específica deve também ser documentada.
São Paulo, novembro de 2004
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
Bibliografia 93 de 130
10. BIBLIOGRAFIA
[1] IEEE Tutorial Course – “Computer Relaying”, 79 EH0148-7-PWR, 1979
[2] Toshiba Corporation, Seminar for Digital Protection Relay System, 1995 – “Digital Relays”
– Slides.
[3] Toshiba Corporation, “Instructions for Digital Relay” – 6F2L0152, 1997
[4] Toshiba Corporation, “Noise and Surge” – KP-946-006, 1995
[5] Toshiba Corporation, “Waveform Distortion” , 1995
[6] Toshiba Corporation, “Automatic Testing and Continuous Monitoring”, 1995
[7] Ziegler, G. – “Numerical Distance Protection – Principles and Applications” – Siemens AG,
Berlin and Munich, 1999
[8] Zocholl, S. E., Benmouyal G.,- “Como os Relés Microprocessados Respondem a
Harmônicos, Saturação e a Outras Distorções de Onda” - Schweitzer Engineering
Laboratories, USA.
[9] Phadke, A. G., Thorp, J. S. – “Computer Relaying for Power Systems”, Research Studies
Press, Ltd. England – 1994
[10] Elmore, W. A. – “Microprocessor Relaying Fundamentals”- Chapter 6 of “Protective
Relaying Theory and Applications”, ABB – Marcel Dekker, Inc., 1994
[11] Das, J. C. – “Power System Analysis – Short-Circuit, Load Flow and Harmonics”- Marcel
Dekker, Inc., 2002
[12] Kennedy, J. M.; Alexander, G. E. (General Electric Company, Malvern, PA); Thorp, J. S.
(Cornell University, Ithaca, NY) - “Variable Digital Filter Response Time in a Digital Distance
Relay”- Twentieth Annual Western Protective Relaying Conference, October 1993.
[13] Schweitzer III, E. O.; Hou, D. – Schweitzer Engineering Laboratories, Inc. - “Filtering for
Protective Relaying”- 47th Annual Georgia Tech Protective Relaying Conference, April 1993.
[14] Rosolowski, E.; Izykowski, J (Wroclaw University of Technology, Poland), Kasztenny, B
(GE Power Management, Canada) –- “A New Half-Cycle Adaptive Phasor Estimator Immune
to the Decaying DC Component for Digital Protective Relaying.” – Paper IEEE
[15] Mode, E. B. – “Elements of Probability and Statistics”, Prentice-Hall, Inc. Englewwod
Cliffs, N.J. 1966.
[16] Yong Guo, Mladen Kezunovic, Seshu Chen – “Simplified Algorithms for Removal of the
Effect of Exponentially Decaying DC-Offset on the Fourier Algorithm”.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 94 de 130
11. ANEXO – BASE MATEMÁTICA
11.1 FUNÇÕES PERIÓDICAS
Uma função é dita ser PERIÓDICA se ela é definida para todos os valores reais de t e se há
um número positivo T de tal modo que:
).()2()()( TntfTtfTtftf
Onde T é chamado de Período da função.
Se k é qualquer inteiro e f(1+k.T) = f(t) para todo valor de t e se duas funções f1(t) e f2(t) têm
o mesmo período T, então a função f3(t) = a.f1(t) + b.f2(t), onde a e b são constantes,
também tem o mesmo período T. A figura a seguir mostra uma função periódica:
T 2T-2T -T
f(t)
Figura 11.1 – Exemplo de função periódica
11.2 FUNÇÕES ORTOGONAIS
Duas funções f1(t) e f2(t) são ortogonais no intervalo (T1, T2) se:
2
1
0)().( 21
T
T
tftf
A figura a seguir mostra duas funções ortogonais no período T.
T 2T
f1(t)
T/2 3T/2
T 2T
f2(t)
T/2 3T/2
Figura 11.2 – Exemplo de funções ortogonais
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 95 de 130
11.3 ANÁLISE DE FOURIER
11.3.1 Série de Fourier e Coeficientes
Uma função periódica pode ser expandida numa Série de Fourier, que tem a seguinte
expressão:
1
0
22
cos)(
n
nn T
nt
senb
T
nt
aatf
1
0 )(cos)(
n
nn tnsenbtnaatf
Onde a0 é o valor médio da função f(t). Ele também é chamado de componente DC.n
T é o período (1/f) e n o múltiplo da freqüência fundamental f.
Os valores an e bn são os chamados COEFICIENTES da série de Fourier. Uma série como
a da equação acima é chamada de Série de Fourier Trigonométrica.
A Série de Fourier de uma função periódica é a somatória de componentes senoidais de
diferentes freqüências. O termo 2/T pode ser escrito como .
O enésimo termo n. é chamada de harmônica de ordem n. Para n=1 se tem a
fundamental.
Os valores a0, an e bn são calculados através de:
2/
2/
0 )().(
1 T
T
tdtf
T
a
dt
T
nt
T
a
T
T
n .
2
cos
2 2/
2/
para n = 1, 2, 3, ...... ∞
dt
T
nt
sen
T
b
T
T
n .
22 2/
2/
para n = 1, 2, 3, ...... ∞
As equações acima podem ser escritas em função da freqüência angular :
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 96 de 130
tdtxfa .)(
2
1
0
tdtntxfan ).cos(.)(
1
tdtnsentxfbn ).(.)(
1
Isto dá:
1
0 )()cos()(
n
nn tnsenbtnaatx
E pode-se escrever:
)()(cos)cos(.)()cos(
2/1222/122
nnnnnnnnntsenbatnsentnsenbatnsenbtna
Onde
n
n
n b
a
ArcTan
Os COEFICENTES podem ainda ser escrito em termos de duas integrais separadas:
dt
T
nt
tx
T
dt
T
nt
tx
T
a
T
T
n
0
2/
2/
0
2
cos)(
22
cos)(
2
dt
T
nt
sentx
T
dt
T
nt
sentx
T
b
T
T
n
0
2/
2/
0
2
)(
22
)(
2
EXEMPLO
Determinar a Série de Fourier para uma função definida por:
x + para 0 ≤ x ≤
-x - para - ≤ x ≤ 0
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 97 de 130
f(x)
x
2/
2/
0 )().(
1 T
T
tdtf
T
a
0
0
0 )(
1
)(
1
dxxdxxa
dt
T
nt
tx
T
dt
T
nt
tx
T
a
T
T
n
0
2/
2/
0
2
cos)(
22
cos)(
2
0
0
)2cos()(
2
)2cos()(
2
dxnxnxdxnxxan
0
2
0 4
)cos()(
1
)cos()(
1
n
dxnxnxdxnxxan se n é ímpar.
0na se n é par.
0
0
4
)()(
1
)()(
1
n
dxnxsenxdxnxsenxbn se n é ímpar.
0nb se n é par.
Assim, a Série de Fourier será:
.......
5
5
3
3
1
4......
5
5cos
3
3cos
1
cos4
2
)(
222
xsenxsensenxxxx
xf
11.3.2 Simetria Ímpar
Uma função f(x) é dita ter uma simetria ímpar quando :
f(-x) = -f(x)
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 98 de 130
Neste caso:
a0 = an = 0
dt
T
nt
sentf
T
b
T
n )
)2
()(
4 2/
0
A Série de Fourier, neste caso, tem apenas termos em seno. A figura a seguir mostra uma
função triangular tendo simetria ímpar:
f(x)
T/2-T/2
Figura 11.3 – Exemplo de função com Simetria Ímpar
11.3.3 Simetria Par
Uma função f(x) é dita ter uma simetria par quando :
f(-x) = f(x)
Neste caso:
a0 = bn = 0
2/
0
)
2
cos()(
4 T
n dt
T
nt
tf
T
a
A Série de Fourier, neste caso, tem apenas termos em coseno. A figura a seguir mostra
uma função triangular tendo simetria ímpar:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 99 de 130
f(x)
T/2-T/2
Figura 11.4 – Exemplo de função com Simetria Par
11.3.4 Simetria de Meia Onda
Uma função é dita ter uma simetria de meia onda quando:
f(x) = -f(x+T/2)
A figura a seguir mostra uma função de onda quadrada que tem simetria de meia onda:
T
f(x)
T/2-T/2-T
Figura 11.5 – Exemplo de função com Simetria de Meia Onda
A meia onda negativa é espelho da meia onda positiva porém deslocado de T/2 ou
radianos. Devido a essa simetria, o valor médio é zero. A função contém apenas
harmônicas de ordem ímpar.
Se n é ímpar:
dt
T
nt
tx
T
a
T
n
2/
0
2
cos)(
4
Se n é par, então: an = 0
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 100 de 130
dt
T
nt
sentx
T
b
T
n
2/
0
2
)(
4
Se n é par, então: bn = 0
11.3.5 Espectro de Harmônicas
A Série de Fourier de uma função de onda quadrada é:
.....
5
5
3
3
1
4
)(
wtsenwtsensenwtk
tf
Onde k é a amplitude da função. O módulo da enésima harmônica é 1/n, quando a
fundamental é expressa em 1 p.u. A construção de uma onda quadrada a partir das suas
componentes harmônicas é mostrada na figura a seguir, com o respectivo espectro de
harmônicas. O espectro indica os valores relativos das magnitudes (módulos) das
harmônicas com relação à fundamental.
0
f1 + f3
f1 + f3 + f5
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
1 3 5 7 9 etc.
Ordem da Harmônica
p
.u
. d
a
fu
nd
am
en
ta
l
0,333 pu
0,2 pu
Figura 11.6 – Harmônicas que compõem uma Onda Quadrada. Espectro de freqüências.
11.3.6 Construindo Série de Fourier de Gráficos e Tabelas
Quando os valores de uma função f(x) são dados em forma tabular ou gráfico, para valores
de x dentro de um período, a série de Fourier pode ser construída utilizando:
a0 = 2 x valor médio de f(x) no intervalo 0 a 2.
an = 2 x valor médio de f(x).cos(nx) no intervalo 0 a 2.
bn = 2 x valor médio de f(x).sen(nx) no intervalo 0 a 2.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 101 de 130
11.3.7 Forma Complexa (Exponencial) da Série de Fourier
Um vetor de amplitude A e ângulo de fase T com relação a uma referência pode ser
decomposto em dois vetores com metade da magnitude (módulo) girando em sentidos
opostos de modo que:
jj e
A
e
A
A
22
cos
Então, considerando as partes da série de Fourier: )()cos( nwtsenbnwta nn
2
)cos(
jnwtjnwt ee
nwt
e
2
)(
jnwtjnwt ee
nwtsen
Assim, pode-se determinar a Série de Fourier na forma complexa através de:
jnwt
n
jnwt
nn ecejba
a
tr )(
2
1
2
)( 0
Considerando 0 a freqüência fundamental (rad/s) e T0 = 1/f0 o período correspondente
à fundamental, O coeficiente cn é complexo e é dado por:
dtetr
T
c
T
tjn
n .).(
1 0
0
00
Esta equação pode ser avaliada sobre qualquer período que seja conveniente. Para efeito
de análise esta forma complexa é a preferida.
FASORES
Considerando um sinal de tensão (fundamental) )cos(2)( 0tVtv que corresponde
a um fasor V com ângulo 0, o sinal de tensão )cos(..2)( 0 tVtv corresponderá
a um fasor
jeV . .
Então o fasor da componente FUNDAMENTAL é diretamente relacionado ao primeiro
coeficiente da série exponencial de FOURIER:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 102 de 130
0
0
00
).(
1
T
tjn
n dtetv
T
c
0
0
00
1 ).(
1
T
tjw dtetv
T
c
0
0
00
).(
2
.
T
tjj dtetv
T
eV
O 2 na equação aparece porque se convenciona que o valor do fasor é valor eficaz da
senóide.
11.3.8 Transformada de Fourier
Observou-se que a análise de Fourier utiliza técnica de representar um sinal periódico
como uma soma de exponenciais.
Essa técnica pode ser estendida par FUNÇÕES NÃO PERIÓDICAS através do uso da
TRANSFORMADA DE FOURIER.
Considere-se um sinal limitado no tempo (Não periódico) como mostrado na figura a
seguir, com:
x (t) = 0 para | t | > T1.
t
x(t)
T1-T1
Figura 11.7 – Sinal Não Periódico (limitado no tempo)
Selecionando um período T0 >> T1, e repetindo o sinal x(t) no período T0, tem-se uma
função “periódica” r(t) constituída de réplicas de x(t):
t
r(t)
T1-T1-T0 -T1
T0-T0
-T0 +T1 +T0 -T1
+T0 +T1
Figura 11.8 – Sinal Periódico
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 103 de 130
Então podem ser calculados os coeficientes da Série de Fourier para essa função
periódica:
2/
2/0
0
0
0).(
1
T
T
tjkw
k dtetr
T
c e
2/
2/0
0
0
0).(
1
T
T
tjk
k dtetx
T
c
Com T0 tendendo a ∞ , r(t) limita a x(t) e r(t) pode ser escrito:
tjk
T
T
tjk edtetx
T
tr 0
0
0
0 .).(
1
)(
2/
2/0
Com T0 tendendo a ∞ de tal modo que: 0 d e k0 , lim r(t) = x(t)
T0 ∞
Então:
dedtetxtx tjtj .).(
2
1
)(
deXtx tj).(
2
1
)(
F
dtetxX tj ).()(
F--1
deXtx tj).(
2
1
)(
F
O par x(t) X() é o Par de Transformadas de Fourier.
Essa transformada X() é uma quantidade complexa:
X() = ReX() + j. ImX()
ReX() = parte real da transformada de Fourier
ImX() = parte imaginária da transformada de Fourier
A amplitude ou “espectro de Fourier” de x(t) é dada por:
)(Im)(Re)(22 XXX
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 104 de 130
)(Re
)(Im
)( 1
X
X
Tan é o ângulo de fase da Transformada de Fourier.
Exemplo
Considerando uma função retangular definida por:
x(t) = 1 para |t| ≤ a
x(t) = 0 para |t| > a
Calcular a transformada de Fourier.
a
a
jwta
a
tj
jw
e
dteX
|)(
)(.2
)(
asen
X
A figura a seguir mostra a função retangular e sua transformada de Fourier.
x(t)
t-t
a-a
Função Retangular
w-t
/a 2/a
w
awsen
wX
).(2
)(
/a-2/a
2a
Figura 11.9 – Função retangular com simetria par e amplitude K. Sua transformada de Fourier
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 105 de 130
11.3.9 Propriedades da Transformada de Fourier
Linearidade
F F
Se x1(t) X1() e x2(t) X2()
F
Então c1.x1(t) + c2.x2(t) c1.X1() + c2.X2()
Regra do Atraso
F
Se x(t) X()
F
Então x(t-t1) X().e-j2t
1
Regra da Modulação ou Deslocamento de Frequência
F
Se x(t) X()
F
Então x(t). e-j2
t X()
Diferenciação no Tempo
F
Se x(t) X() e existe dx(t) / dt
F
Então dx(t) / dt (j).X()
Diferenciação na Frequência
F
Se x(t) X() e existe dX() / d
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 106 de 130
F
Então (-jt).x(t) dX() / d
Propriedades Par e Ímpar
Se x(t) é real,
Então
dtetxX tj ).()(
dtwtsentxjdtwttx ).().(.).cos().(
dtwttxX ).cos().()(Re uma função Ímpar de .
dtwtsentxX ).().()(Im uma função Par de .
Se x(t) é real e tem simetria Par [ x(t) = x(-t) ], então X() é real e tem simetria Par.
Se x(t) é real e tem simetria Ímpar [ x(t) = -x(-t) ], então X(w) é puramente imaginária e
tem simetria Ímpar.
Escala no Tempo
F
Se x(t) X()
F
Então x(at) [X(a)] / a
Funções Periódicas
Usando as transformadas de um impulso, é possível discutir as transformadas de Fourier
de funções periódicas para as quais se escreveram Séries de Fourier. Assim:
F
(t) 1
F
1 2)
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 107 de 130
F
ej
0
t 2)
F
cos(0t): ½ (ej
0
t + e-j
0
t)
F
sen(0t): (1/2j) (ej
0
t - e-j
0
t) (j
Série de Fourier:
k
tjk
k ectr 0.)(
k
kcR )(.2)( 0
Desenhando um impulso ck, com valor ck, a transformada R() anterior pode ser
desenhada como na figura a seguir:
C0
C1
C2
C3
R()
Figura 11.10 – Um Espectro de Linhas
Degrau Unitário
A Transformada de Fourier de um Degrau Unitário mostrado na figura a seguir é feita
considerando que:
1.0
u(t)
t
Figura 11.11 – Um Degrau Unitário
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 108 de 130
F
sgn(t) 2 / ju(t) = ½ + (½)sgn(t)
F
u(t) (1/j
Convolução no Tempo
Dados dois sinais com as respectivas Transformadas de Fourier:
F F
Se x1(t) X1() e x2(t) X2()
F
Então uma convolução: x1(t)*x2(t) X1()X2()
Corresponde a uma multiplicação no domínio do tempo.
Convolução na Freqüência
F F
Se x1(t) X1() e x2(t) X2()
F
Então: x1(t) x2(t) (1/2).X1()*X2()
Isto é, uma convolução no domínio da freqüência corresponde a uma multiplicação no
domínio do tempo.
Exemplo de convolução
Considerando uma função Coseno x(t) e sua transformada de Fourier contínua X(f), tem-se
o mostrado no item (a) da figura a seguir, com a transformada caracterizada por duas
funções de impulso que são simétricas com relação à freqüência zero:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 109 de 130
t-t
w(t)
t-t
T/2-T/2
W(f)
X(f)x(t)
T
Figura (b)
x(t) * w(t)
Figura (c
X(f) * W(f)
Figura (a)
Figura 11.12 – Coeficientes Fourier da Transformada Discreta
Já havia sido visto que para um sinal finito x(t) de onda retangular, sua transformada é a
mostrada no item (b) da figura anterior.
O Item (c) da figura acima mostra que a correspondente convolução de dois sinais de
freqüência resulta num espalhamento ou obscurecimento da função X(f) em dois pulsos
tipo senóide. Assim, o resultado é corrompido.
11.3.10 Forma de Onda Amostrada – Transformada Discreta de Fourier
A teoria da amostragem preconiza que:
“Se a Transformada de Fourier de uma função x(t) é zero para todas as freqüências
superiores a uma certa freqüência fc, então a função contínua no tempo x(t) pode ser
unicamente determinada através dos valores amostrados dessa função”.
A condição é que x(t) seja zero para freqüências superiores a fc, isto é, a função é
limitada (banda) em fc.
A segunda condição é que o espaçamento entre duas amostragens seja tal que:
T = 1 / (2fc), isto é, a freqüência de amostragem tem que ser 1/T = 2.fc.
Essa freqüência é conhecida como “Taxa de Amostragem de Nyquist”.
“Aliasing” significa que componente de alta freqüência de uma função do tempo pode
introduzir um equivalente de baixa freqüência, se a taxa de amostragem for baixa.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 110 de 130
Assim, a taxa de amostragem precisa ser alta o suficiente de modo que a mais alta
freqüência a ser amostrada seja pelo menos 1/T = 2.fc.
Freqüentemente as funções são registradas como dados amostrados no domínio do
tempo, com a amostragem sendo feita numa determinada freqüência (por exemplo para
relés de proteção).
A transformada de Fourier é, nesse caso, representada pela somatória dos sinais discretos
de cada amostragem multiplicada por:
12 fntje
Isto é:
n
ntfjentxX 1.2
1).()(
Onde t1 é o intervalo de tempo entre as amostragens e n a enésima amostragem.
A figura a seguir mostra uma função com valores amostrados no domínio do tempo e o
espectro de freqüências obtido da Transformada de Fourier:
t-t
t0 t1 2.t1
x(t)
X(f)
fa/2- fa/2
Figura 11.13 – (a) Função Amostrada no Domínio do Tempo. (b) Espectro de Freqüências para o
Domínio de Tempo Discreto.
Quando tanto o espectro do domínio de freqüências como a função no domínio do tempo
são funções amostradas por um período T, o “Par de Transformada Fourier” é constituída
de componentes discretos, com quantidade finita de termos. Segundo notação da
referência [9], temos:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 111 de 130
Transformada Discreta de Fourier (DFT):
1
0
0
0)()(
N
n
TjknenTfkF
Inverso da Transformada (IDFT):
1
0
0
0)(
1
)(
N
k
TjnkekF
N
nTf
k = k-ésima amostragem.n = n-ésima amostragem.
T = intervalo de tempo entre amostragens
0 = intervalo de freqüência entre amostragens.
N = número de amostragens (em cada domínio)
A transformada discreta aproxima-se da transformada de Fourier. Entretanto erros podem
ocorrer nas aproximações envolvidas na transformada discreta. A figura a seguir mostra
funções discretas de tempo e freqüência:
t
f[n]
F(k0)
-T T
nT
2 / T
0
Figura 11.14 – Funções Discretas no Domínio do Tempo e da Freqüência.
NT = Período no domínio do tempo.
2/T = Período no domínio da freqüência.
Chamando F(k0) = Fk , f(nT) = fn e N
n
jTj eew
2
0
teremos as
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 112 de 130
mesmas equações numa forma mais compacta:
1
0
N
n
nk
nk wfF e
1
0
1 N
k
nk
kn wF
N
f
Essas equações podem ser expressas em forma matricial:
1
1
0
630
420
210
000
1
1
0
...
..
..
..
..
..
...
NN f
f
f
www
www
www
www
F
F
F
Dada o sinal )cos(..2)( 0 tVtv , com N amostragens por ciclo (T=), pela
expressão:
1
0
0
0)()(
N
n
TjknenTfkF , tem-se
jVe
N
F
2
2
1
O FASOR à freqüência fundamental associado com o sinal x(t) (amostragem) é portanto
dado por:
1
0
/2
1 ).
2
(
2 N
n
Nnje
n
n
x
N
X
Considerando: )
2
(
n
n
xxn Tem-se:
Nnj
N
n
n ex
N
X /2
1
0
1 .
2
Esta equação é básica para muitos algoritmos de relés digitais de proteção.
11.3.11 Transformada Rápida de Fourier
A Transformada Rápida de Fourier (FFT – Fast Fourier Transform) não é, de fato, uma
nova transformada. É simplesmente uma técnica numérica que torna o cálculo da
Transformada Discreta de Fourier mais rápida.
Para um relé de proteção, N pode variar, em geral, entre 4 e 20. E somente alguns valores
de Fk são desejados. Por exemplo, F1 = fundamental, F2 = segunda harmônica, F5 = quinta
harmônica.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 113 de 130
Considerando por exemplo N=4 amostragens por ciclo:
)3(
)2(
)1(
)0(
1
1
1
1111
)3(
)2(
)1(
)0(
963
642
321
x
x
x
x
WWW
WWW
WWW
X
X
X
X
Considerando, entretanto, que há 90 graus elétricos entre duas amostragens
subseqüentes (4 amostragens por ciclo), pode-se simplificar a matriz acima. Que depois de
fatorizado, torna-se:
)3(
)2(
)1(
)0(
.
010
001
010
001
.
100
100
001
001
)4(
)3(
)1(
)0(
2
2
0
0
3
1
2
0
x
x
x
x
W
W
W
W
W
W
W
W
X
X
X
X
A computação desta matriz requer 4 multiplicações complexas e oito somas complexas. A
computação da expressão anterior requer 16 multiplicações complexas e 12 somas
complexas. A computação é então reduzida.
11.4 FUNÇÃO DE WALSH
A função de Walsh é um conjunto de sinais ortogonais num intervalo [0,1] que considera
apenas valores ±1. Comparado com funções de Fourier, que tratam com números
complexos, a função de Walsh trata somente com dois números inteiros.
A função de Walsh é definida da seguinte maneira:
1
0
..2.)1sgn(cos()(
p
r
r
rk tktW para (0 ≤ t ≤ 1)
Onde:
k = Número da Função de Walsh, que é inteiro e positivo.
No sistema binário:
p
r
r
rkk
0
2 2.)(
p = total de dígitos de (k-1) numa expressão binária
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 114 de 130
sgn = função “sinal” (somente o sinal do resultado é considerado)
Exemplo
W6 (t) pode ser deduzido como se segue:
6 -1 = 5 = 1 x 22 + 0 x 21 + 1 x 20
Donde (k-1)2 = 1, (k-1)1 = 0, (k-1)0 = 1
Portanto há 3 dígitos na expressão binária ( p = 3 ).
Assim,
)sgn(cos).4sgn(cos)(
]..2.)1sgn[cos(]...2.)1sgn[cos(]...2.)1sgn[cos()(
6
0
0
1
1
2
26
tttW
tktktktW
A figura a seguir mostra as “formas de onda” das primeiras 8 funções de Walsh:
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 115 de 130
W1(t) ( SAL1(t) )
W2(t) ( CAL1(t) )
W3(t) ( SAL2(t) )
W4(t) ( CAL2(t) )
W5(t) ( SAL3(t) )
W6(t) ( CAL3(t) )
W7(t) ( SAL4(t) )
W8(t) ( CAL4(t) )
1/2
3/81/8
1
5/8 7/8
3/41/4
Figura 11.15 – 8 primeiras Funções de Walsh
Para fins de conveniência, na comparação com funções Trigonométricas, a função de Walsh
pode ser classificada como:
)()( tsaltW mk quando k=2m-1, com m=1,2,3,....
)()( tcaltW mk quando k=2m, com m=1,2,3,....
De modo similar à série de Fourier, qualquer função periódica pode ser expandida como
uma série de Walsh, adicionada de um termo para ruído:
N
n
nn ttWYty
1
)()()(
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 116 de 130
11.5 INTRODUÇÃO À PROBABILIDADE E PROCESSOS RANDÔMICOS
11.5.1 Introdução à Estatística [15]
Média Aritmética
A média aritmética de um conjunto de variáveis x1, x2, ...., xN é dada por:
N
i
ix
N
x
1
1
A menos de especificado o contrário, a palavra “média” significa “média aritmética”.
Desvio
O desvio di de uma variável xi é definida como: xxd ii
“A soma dos desvios de um conjunto de variáveis relativo à sua média aritmética é zero.”
Média Aritmética com Pesos
O “peso” de uma variável é um multiplicador numérico determinado para ela no sentido de
indicar sua relativa importância.
A média aritmética com pesos é dada por:
n
i
i
n
i
ii
w
xw
x
1
1
wi = peso da variável xi.
Desvio Médio
O desvio médio de um conjunto de N variáveis x1, x2, ...., xN é definido como a média
aritmética dos desvios absolutos da sua média aritmética:
N
i
i xx
N
MD
1
1
..
Variância de uma Amostra (Coleção Variáveis Discretas)
No cálculo do desvio médio, todos os valores negativos foram convertidos para positivos
antes da soma. Um outro método para se eliminar os sinais negativos é fazer o quadrado
dos desvios e depois fazer a média desses quadrados.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 117 de 130
A variância s2 de uma amostra de N variáveis é:
N
i
i xx
N
s
1
22 )(
1
Prova-se que essa mesma variância pode ser calculada por:
N
i
i xx
N
s
1
22 1
Desvio Padrão de uma Amostra
O “Desvio Padrão” de uma amostra de N variáveis é definida como:
2
1
1
2)(
1
N
i
i xx
N
s
O desvio padrão é, talvez, o mais importante e a mais amplamente utilizada medida de
variabilidade.
Um valor relativamente pequeno de s mostra uma aproximação fechada sobre a média.
Um valor relativamente grande significa uma ampla dispersão relativa à média.
Essa importância decorre do fato de que a soma dos quadrados decorre de simples
cálculo algébrico e permite interpretação útil e relacionamentos interessantes. Uma soma
de valores absolutos como ocorre no desvio médio não permite um tratamento matemático
adequado.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 118 de 130
11.5.2 Funções de Probabilidade e Distribuições de Freqüência [15]
Introdução
Este exemplo dá uma idéia do que seja freqüência ou distribuição. Supondo que duas
moedas iguais são lançadas por 20 vezes e observando os resultados quanto à “cara ou
coroa” ter-se-ia:
Tabela de Frequência
Quantidade de “Caras” (xi) Frequência (fi)
0 3
1 9
2 8
Juntando a probabilidade de ocorrência ¼ , poderemos construir a seguinte tabela de
probabilidades:
Uma Função de Probabilidade
Quantidade de “Caras” (xi) Probabilidade f(x) Freqüência Teórica oNúmero
Esperado em 20 lançamentos
0 ¼ 5
1 ¼ 10
2 ¼ 5
TOTAIS 1 20
Observa-se que o resultado mostrado na primeira tabela não confere com as freqüências
teóricas na segunda tabela.
Fica a questão: “estão os valores reais suficientemente diferentes dos valores teóricos
para garantir a conclusão que as moedas estão viciadas de modo que apareçam mais
“caras” do que “coroas”? “. A teoria da probabilidade fornece recursos para avaliar esta
questão.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 119 de 130
Funções de Probabilidade
A Função de Probabilidade de uma variável randômica discreta X é definida como um
conjunto de pares ordenados {xi, f(xi)}, onde xi é um número real com i variando de 1 a n
e f(xi) é a probabilidade de que X = xi, sendo
n
i
ixf
1
1)( .
Pode-se definir tal tipo de função através de uma tabela:
A Função de Probabilidade
x x1 x2 x3 ....... xn
f(x) f(x1) f(x2) f(x3) ...... f(xn)
Por exemplo, as duas primeiras colunas da tabela 9.5.2-2 definem a Função de
probabilidade para lançamento de duas moedas não viciadas.
Note a importante condição de que
n
i
ixf
1
1)(
Outro exemplo:
Exemplo Numérico de Função de Probabilidade
x 0 2 3 5
f(x) 0,1 0,3 0,4 0,2
Isso pode ser representado de forma gráfica (hsitograma):
1 2 3 4 5 X
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
f(x)
Figura 11.16 – Representação gráfica de uma Função de Probabilidade (histograma)
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 120 de 130
Probabilidades Acumuladas.
A Função de Distribuição Cumulativa.
Na tabela 9.5.2-3 está indicado que f(xi) = P(X=xi). Se substituirmos f(xi) por
F(xi)=P(X≤xi), assumindo que x1 ≤ x2 ≤ x3 ≤....... ≤ xn e construindo a respectiva
tabela, tem-se:
A Função de Distribuição Cumulativa
x x1 x2 x3 ....... xn
F(x) F(x1) F(x2) F(x3) ...... F(xn)
F(x1)=P(X≤x1) = f(x1)
F(x2)=P(X≤x2) = f(x1) + f(x2)
F(x3)=P(X≤x3) = f(x1) + f(x2) + f(x3)
……
n
i
inn xfxXPxF
1
1)()()(
Podendo-se montar, assim, uma tabela de Probabilidade Acumulada que define uma
Função de Distribuição Cumulativa da variável randômica X (muitos autores chamam
simplesmente de “Função de Distribuição”). Por exemplo, da tabela 9.5.2-4 pode-se obter:
A Função de Distribuição Cumulativa
x 0 2 3 5
F(x) 0,1 0,4 0,8 1,0
O que também pode ser representado numa figura:
1 2 3 4 5 x
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
F(x)
Figura 11.17 – Diagrama de Probabilidade Cumulativa (histograma cumulativo)
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 121 de 130
Distribuição de Freqüência para Dados Discretos
Dados discretos de freqüência podem também ser trabalhados de modo cumulativo e
calculados seus valores de média, desvio padrão, etc.
A tabela a seguir mostra um exemplo ilustrativo:
(1) (2) (3) (4) (5)
Notas (xi) Frequência das
notas (fi)
Cum fi fi.xi (fixi)2
3 1 1 3 9
4 2 3 8 32
5 5 8 25 125
6 12 20 72 432
7 19 39 133 931
8 25 64 200 1600
9 18 82 162 1458
10 8 90 80 800
90 683 5387
A freqüência cumulativa é definida como:
m
i
im ffcum
1
_
Média Aritmética de uma Distribuição Discreta de Freqüências
Pode ser definida por:
n
i
ii xf
N
x
1
1
No exemplo da tabela anterior, a média aritmética é: 683/90 = 7,59
Valor Esperado de Uma Variável Randômica Discreta
A fórmula anterior da média aritmética pode ser escrita como:
n
i
i
i x
N
f
x
1
).(
O valor (fi/N) pode ser interpretado como uma “Freqüência Relativa” ou “Probabilidade”.
A rigor, esta Probabilidade é um valor limite quando N tende a ∞.
Da tabela exemplo 9.5.2-7 temos que a probabilidade de que um aluno escolhido
aleatoriamente (randomicamente) de uma classe de 90 tenha tido nota 8 é (25/90) = 0,28.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 122 de 130
Desta idéia vem a definição do “Valor Esperado” de uma variável randômica X com uma
Função de Probabilidade f(x).
Se {xi, f(xi)} define a função de probabilidade, com i variando de 1 a n, a “média teórica” ou
“Valor Esperado” de X é:
n
i
ii xxfXE
1
).()(
Do exemplo da tabela 9.5.2-4:
E(X) = (0,1).0 + (0,3).2 + (0,4).3 + (0,2).5 = 2,8
Variância e Desvio Padrão de uma Distribuição Discreta de Freqüências
Para uma distribuição discreta, tem-se a seguinte fórmula de Variância:
n
i
n
i
iiii xxf
N
xxf
N
s
1 1
2222 )(
1
)(
1
Do exemplo da tabela 9.5.2-7 tem-se: s2 = ( 5387 / 90 ) -7,592 = 2,25
O desvio padrão s = 1,50.
Variância e Desvio Padrão de uma Variável Randômica Discreta
Podemos escrever:
n
i
n
i
i
i
ii xx
N
f
xxf
N
s
1 1
222 )).(()(
1
para uma distribuição
discreta de freqüências, onde
N
fi é interpretado como probabilidade.
Com base nesse entendimento, pode-se definir a variância de uma variável randômica
discreta X como sendo o valor esperado do quadrado do desvio relativo à média :
n
i
ii xxfXE
1
222 )).(()( onde )(XE
Exemplo da tabela 9.5.2-4:
= E(X) = 2,8
960,1)8,25).(2,0()8,23).(4,0()8,22).(3,0()8,20).(1,0()8,2( 222222 XE
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 123 de 130
Segue que o desvio padrão é: 40,1
Teoremas Envolvendo o Valor Esperado
Já tínhamos visto que
n
i
iiX xxfXE
1
).()( . Esta fórmula pode ser generalizada,
incluindo funções de X.
Assim, o valor esperado para uma função h(X) será:
n
i
iiXh xhxfXhE
1
)( )().()(
Teorema 1
)()( XkEkXE isto é, XkX k . k = constante
Teorema 2
kXEkXE )()( isto é, kXkX
Teorema 3
kkE )(
Teorema 4
0)( XE
Teorema 5
222 . XkX k
Teorema 6
22
XaX a = constante
Teorema 7
222 . XakX k
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 124 de 130
Teorema 8
22222 )().( XXiiX XExxf
11.5.3 Densidade da Probabilidade
Vamos considerar um histograma f(x) em função de x para a tabela:
(1) (2) (3) (4) (5)
Notas (xi) Frequência das
notas (fi)
Cum fi fi.xi (fixi)2
3 1 1 3 9
4 2 3 8 32
5 5 8 25 125
6 12 20 72 432
7 19 39 133 931
8 25 64 200 1600
9 18 82 162 1458
10 8 90 80 800
90 683 5387
1 2 3 4 5 X
5
10
15
20
25
f(x)
6 7 8 9 100
Figura 11.18 - Histograma
Considerando o intervalo entre valores de x como 1, a área do histograma é a somatória
de fi, que é igual a 90, para o exemplo.
Considerando agora a frequência relativa (fi / N), com o espaçamento 1, tem-se uma figura
com área 11.if :
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 125 de 130
2 3 4 5 X
0,30
6 7 8 9 10
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
N
f i
Figura 11.19 – Histograma com Freqüência Relativa
A partir deste exemplo e dos itens anteriores, pode-se conceituar mais amplamente a
Densidade de Probabilidade.
11.5.4 Processos Randômicos e Método dos Mínimos Quadrados [9]
Conceituação de Distribuição de Probabilidade e Densidade
Considerando X uma variável randômica, então a função FX(x) definida como:
xXxFX Pr)(
é a chamada Função de Distribuição de probabilidade (conceito de probabilidade
cumulativa). A figura a seguir mostra a característica dessa Função:
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
x
F(x)
Figura 11.20 – Função de Distribuição de Probabilidade
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 126 de 130
Se umafunção f(x) existe de tal modo que:
x
X dfxF ).()( ou
dx
xdF
xf
)(
)(
Então a função f(x) é referida como a Função de Densidade de Probabilidade para a
função F(x) (conceito de histograma com freqüência relativa).
As duas mais comuns funções de Densidade são:
Função de Densidade de Gauss
Função de Densidade Uniforme
A função de densidade Gaussiana ou densidade Normal é dada por:
2
2
.2
)(
.
.2
1
)(
mx
exf
e mostrada na figura a seguir para m=3 e 1 :
x
f(x)
0,4
0,2
0,3
0,1
1 2 3 4 5 6
Figura 11.21 – Função de Densidade Gaussiana
A Função de densidade Uniforme é mostrada a seguir.
x
f(x)
1/2
-1 +1
Figura 11.22– Função de Densidade Uniforme
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 127 de 130
Valor Esperado
Dada uma função g(x), de uma variável randômica X, o valor esperado de g(x) é definido
como:
dxxfxgxgE ).().()(
O Valor Esperado de x é chamado de média teórica (“mean” ou ) e é dado por:
dxxfxxEx ).(.
Variância e Desvio Padrão
A variância de uma variável randômica é definida como:
dxxfxxxxE ).(.)()( 222
A raiz quadrada da variância é o Desvio Padrão.
A variância da função de Densidade Uniforme é dada por:
1
1
1
1
3
22
3
1
3
.
2
1
..
2
1 x
dxx
Seu desvio padrão 57735,0
Variáveis Randômicas Distribuídas Conjuntamente
É comum ter mais de uma fonte de erro randômico numa dada aplicação. Portanto há
necessidade de se considerar variáveis randômicas distribuídas conjuntamente.
Consideremos que X seja um vetor (matriz) de variáveis randômicas:
nX
X
X
X
...
2
1
Com uma distribuição de probabilidade conjunta.
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 128 de 130
xXxFX Pr)( onde x também é um Vetor (matriz).
Há também uma Função Densidade:
n
n
xxx
xF
xf
....
)(.
)(
21
O Valor Esperado é calculado numa seqüência de integrais:
ndxdxdxxfxgxgE .....).().(......)( 21
Em particular a média x é um Vetor e a MATRIZ DE COVARIÂNCIA é definida como:
TxxxxEP )).((
onde T significa transposição da matriz, isto é, P é uma matriz simétrica n x n com:
)).(( jjiiij xxxxEP
Os valores diagonais de P são as VARIÂNCIAS das variáreis randômicas INDIVIDUAIS e
os valores não diagonais são, de uma certa maneira, uma medida da conexão entre as
variáveis randômicas consideradas conjuntamente.
A forma da Densidade Gaussiana é:
2
1
1
det.)2(
).(.).(
2
1
exp
)(
P
mxPmx
xf
n
T
Independência
Duas variáveis randômicas são ditas independentes se:
)().().( 2211121 xfxfxxf XXsXX
As variáveis Gaussianas randômicas são independentes se a matriz de Covariância é
DIAGONAL (valores não diagonais = 0).
Método dos Mínimos Quadrados (Estimativa Linear)
Muitos algoritmos aplicados em relés de proteção processam um número total de medidas
que excedem a quantidade de parâmetros a serem determinados. Numa forma
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 129 de 130
simplificada, o problema pode ser entendido como a solução de uma equação (vetores) do
tipo:
bxA .
Onde A e b são conhecidos e x é para ser determinado. A equação é dita “sobredefinida”
se há mais b’s do que x’s. Exemplo:
4
3
4
1
4
5
''.
10
11
01
2
1
x
x
o valor entre aspas indica que a equação não apresenta solução.
Uma aproximação razoável para a equação é reconhecer que há um erro, e escrever:
exAb . onde e = b – A.x
Uma solução para o problema acima seria uma na qual e(1)=e(3)=0 e e(2)= -3/4.
Numa tentativa de diluir o erro pode-se tomar como uma medida da qualidade da
solução, a soma dos quadrados dos erros:
bbAxbbAxAxAxAxbAxbAxbAxbee TTTTTTTTTTT )).(().()(
O valor de x que minimiza eTe pode ser obtido fazendo-se a derivada parcial da equação
em função dos componentes de x e igualando a zero. O resultado será:
bAAAx TT ..).( 1
O cálculo dessa equação é as vezes chamado de “pseudo inversão”
Para o exemplo numérico anterior:
21
12
10
11
01
.
110
011
AAT
21
12
3
1
)( 1AAT
1
1
4
3
4
1
4
5
.
110
011
bAT
CURSO DE PROTEÇÃO
NOÇÕES DE PROTEÇÃO DIGITAL
ANEXO – Base Matemática 130 de 130
A solução:
1
1
x e os erros:
4
1
4
1
4
1
Axbe
Verifica-se que pelo os erros são diluídos (mais ou menos do mesmo tamanho), uma vez
que se minimizou os mesmos a soma dos quadrados.
Mínimos Quadrados com Ponderação
Considerando que existam dados no sentido de se conhecer mais detalhadamente os
erros da equação exAb .
Considerando que o erro tem média Zero e que sua matriz de Covariância seja
conhecido:
TeeEV .
Se o erro tem distribuição Gaussiana e a Matriz de Covariância V é do tipo diagonal (erros
independentes entre si), faz mais sentido ponderar os erros na minimização pela soma dos
quadrados, isto é, calcular um x que minimize:
eVeT 1 ao invés de eeT
Se V é DIAGONAL:
ii
T
V
ie
eVe
)(2
1 . A solução para minimização é dada por:
bVAAVAx TT ...)( 111
Essa solução é parte de muitos algoritmos para relés de proteção.
PROJETO
CURSO DE PROTEÇÃO
DETALHE
Proteção de Linhas de Transmissão
Direitos Reservados:
Virtus Consultoria e Serviços Ltda.
Autor:
Paulo Koiti Maezono
Instrutores:
Paulo Koiti Maezono
Pedro Nasi Neto
Total de Páginas
145
PROTEÇÃO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO
Julho de 2013
Edição 5
Subestação B
Subestação C
Subestação B
Outro nível kV
T
ra
ns
fo
rm
ad
or
S
E
B
LT
1
LT
2
Subestação A
Ponto de
Aplicação da
Proteção
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
Subestação D
(ATRÁS)
LT
3
FRENTE
SE A
230 kV
SE B SE CSE D
SE B
138 kV
FrenteAtrás
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Introdução e Índice 2 de 145
SOBRE O AUTOR
Eng. Paulo Koiti Maezono
Formação
Graduado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1969. Mestre
em Engenharia em 1978, pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá, com os créditos obtidos em 1974
através do Power Technology Course do P.T.I – em Schenectady, USA. Estágio em Sistemas Digitais de
Supervisão, Controle e Proteção em 1997, na Toshiba Co. e EPDC – Electric Power Development Co. de
Tokyo – Japão.
Engenharia Elétrica
Foi empregado da CESP – Companhia Energética de São Paulo no período de 1970 a 1997, com
atividades de operação e manutenção nas áreas de Proteção de Sistemas Elétricos, Supervisão e
Automação de Subestações, Supervisão e Controle de Centros de Operação e Medição de Controle e
Faturamento. Participou de atividades de grupos de trabalho do ex GCOI, na área de proteção, com ênfase
em análise de perturbações e metodologias estatísticas de avaliação de desempenho.
Atualmente é consultor e sócio administrador da Virtus Consultoria e Serviços Ltda. em São Paulo – SP. A
Virtus tem como clientes empresas concessionárias, empresas projetistas na área de Transmissão de
Energia, fabricantes e fornecedores de sistemas de proteção, controle e supervisão. Já prestou serviços ao
Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo e Instituto Presbiteriano Mackenzie.
Área Acadêmica
Foiprofessor na Escola de Engenharia e na Faculdade de Tecnologia da Universidade Presbiteriana
Mackenzie no período de 1972 a 1987. É colaborador na área de educação continuada da mesma
universidade, de 1972 até a presente data.
Foi colaborador do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da EPUSP – Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, desde 1999 até 2002, com participação no atendimento a
projetos especiais da Aneel, Eletrobrás e Concessionárias de Serviços de Eletricidade.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Introdução e Índice 3 de 145
INDICE
1. REQUISITOS E CONCEITOS DE PROTEÇÃO ................................................................................................ 5
1.1 FINALIDADE DE UMA PROTEÇÃO ............................................................................................................. 5
1.2 TERMINOLOGIA............................................................................................................................................. 5
1.3 REQUISITOS BÁSICOS DE UM SISTEMA DE PROTEÇÃO ....................................................................... 6
1.4 COORDENAÇÃO ............................................................................................................................................ 7
1.5 ZONAS DE PROTEÇÃO .................................................................................................................................. 7
1.6 PROTEÇÃO UNITÁRIA (OU RESTRITA) E PROTEÇÃO GRADATIVA (OU IRRESTRITA) ................... 9
1.7 PROTEÇÃO PRINCIPAL E PROTEÇÃO DE RETAGUARDA.................................................................... 10
1.7.1 Proteção Principal ...................................................................................................................................... 10
1.7.2 Proteção de Retaguarda .............................................................................................................................. 10
1.8 PROTEÇÃO PRIMÁRIA E PROTEÇÃO ALTERNADA .............................................................................. 11
2. FUNÇÕES DE PROTEÇÃO ................................................................................................................................. 13
2.1 FUNÇÃO DE SEQUÊNCIA NEGATIVA ...................................................................................................... 13
2.1.1 Conceito ...................................................................................................................................................... 13
2.1.2 Utilização para Linhas de Transmissão ...................................................................................................... 14
2.1.3 Diretrizes de Ajustes ................................................................................................................................... 14
2.2 FUNÇÃO DIRECIONAL DE SOBRECORRENTE ....................................................................................... 15
2.2.1 Conceito ...................................................................................................................................................... 15
2.2.2 Conexão Clássica ........................................................................................................................................ 15
2.2.3 Filosofia de Atuação e Aplicação ............................................................................................................... 16
2.2.4 Polarização. Elementos Direcionais. .......................................................................................................... 17
2.2.5 Filosofia de uso para o Sobrecorrente Direcional ...................................................................................... 25
2.2.6 Diretrizes de Ajustes para o Sobrecorrente Direcional .............................................................................. 25
2.3 FUNÇÃO DE TENSÃO .................................................................................................................................. 26
2.3.1 Finalidade e Conceitos................................................................................................................................ 26
2.3.2 Diretrizes de Ajustes ................................................................................................................................... 27
2.4 FUNÇÃO DE DISTÂNCIA ............................................................................................................................ 28
2.4.1 Princípio ...................................................................................................................................................... 28
2.4.2 Representação de Linha de Transmissão e de Ponto de Curto-Circuito em Diagrama de Impedâncias .... 29
2.4.3 Requisitos Desejados para uma Função de Distância ................................................................................ 31
2.4.4 Características de impedância de uma proteção de distância .................................................................... 34
2.4.5 Característica Mho e Conceitos de Polarização ......................................................................................... 38
2.4.6 Zonas de Alcance ........................................................................................................................................ 46
2.4.7 Loops de Medição de Falta em Relés de Distância..................................................................................... 49
2.4.8 Circuitos de Detecção de Falta (Partida) ................................................................................................... 54
2.4.9 Considerações sobre a Resistência de Falta ............................................................................................... 58
2.4.10 Resistências de Falta Devido a Objetos ou Vegetação ........................................................................... 63
2.4.11 Impedância Aparente Medida pela Função de Distância ....................................................................... 63
2.4.12 Consideração sobre Circuitos Paralelos ................................................................................................ 64
2.4.13 Diretrizes de Ajustes para a Função de Distância ................................................................................. 72
2.5 FUNÇÕES EXTRAS PARA PROTEÇÃO DE LINHA .................................................................................. 87
2.5.1 Oscilação de Potência ................................................................................................................................. 87
2.5.2 Fechamento sobre Falta (“Switch on to fault protection”) – Função 50/27. ............................................. 88
2.5.3 Proteção STUB Bus ..................................................................................................................................... 88
2.6 FUNÇÃO COMPARAÇÃO DE FASE ........................................................................................................... 90
2.6.1 Conceito e Princípios .................................................................................................................................. 90
2.6.2 Diretrizes de Ajuste ..................................................................................................................................... 94
2.7 FUNÇÃO DIFERENCIAL .............................................................................................................................. 94
2.7.1 Conceito ...................................................................................................................................................... 94
2.7.2 Proteção de Linhas Aéreas ou Linha de Cabos (87L) .................................................................................95
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Introdução e Índice 4 de 145
2.7.3 Segregação por Fase ................................................................................................................................... 96
2.7.4 Princípios de Funcionamento ..................................................................................................................... 97
2.7.5 Vantagens e Desvantagens da função 87L ................................................................................................ 100
2.7.6 Modernas Proteções Digitais .................................................................................................................... 100
2.8 FUNÇÃO DE SOBRECARGA TÉRMICA .................................................................................................. 101
2.8.1 Conceito .................................................................................................................................................... 101
2.8.2 Modernas Proteções Digitais .................................................................................................................... 102
2.8.3 Aplicação para Linhas .............................................................................................................................. 103
3. RELIGAMENTO AUTOMÁTICO .................................................................................................................... 104
3.1 FUNÇÃO RELIGAMENTO AUTOMÁTICO (79) ...................................................................................... 104
3.2 FUNÇÃO “CHECK DE SINCRONISMO” (25) ........................................................................................... 106
3.3 RELIGAMENTO AUTOMÁTICO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO ...................................................... 107
3.3.1 Aspectos Gerais ......................................................................................................................................... 107
3.3.2 Aspectos Relacionados ao Religamento Automático ................................................................................. 107
3.3.3 Tipos de Religamento Automático ............................................................................................................. 109
3.3.4 Requisitos e Implementação do Religamento Automático......................................................................... 110
3.3.5 Implicações no sistema de proteção .......................................................................................................... 112
3.3.6 Tempo para Extinção e Desionização do Arco - Diretrizes de Ajuste ...................................................... 112
4. TELEPROTEÇÃO ............................................................................................................................................... 114
4.1 FINALIDADE DA TELEPROTEÇÃO ......................................................................................................... 114
4.1.1 Seletividade e Rapidez na Proteção .......................................................................................................... 114
4.1.2 Confiabilidade ........................................................................................................................................... 115
4.1.3 Religamento Automático ........................................................................................................................... 116
4.2 MEIOS DE COMUNICAÇÃO ...................................................................................................................... 117
4.2.1 Fio Piloto .................................................................................................................................................. 117
4.2.2 Carrier (OPLAT) ....................................................................................................................................... 117
4.2.3 Radio Micro-Ondas (e UHF) .................................................................................................................... 123
4.2.4 Fibra Óptica .............................................................................................................................................. 124
4.3 ESQUEMAS DE TELEPROTEÇÃO ............................................................................................................ 125
4.3.1 Esquemas de Comparação de Fase ........................................................................................................... 125
4.3.2 Esquemas Diferenciais .............................................................................................................................. 126
4.3.3 Esquemas de Transferência de Sinal de Trip ("TRANSFERRED TRIPPING") ........................................ 127
4.3.4 Esquemas de Comparação Direcional ("DIRECTIONAL COMPARISON") ............................................ 132
4.3.5 Esquemas de ACELERAÇÃO ou PROLONGAMENTO DE ZONA de proteção de distância .................. 135
4.4 WEAK INFEED E ECHO ............................................................................................................................. 136
4.4.1 Caracterizaçâo .......................................................................................................................................... 136
4.4.2 Esquema de Weak Infeed e Eco ................................................................................................................. 136
4.4.3 Faltas na Direção Reversa e o Esquema de Weak Infeed ......................................................................... 137
5. FILOSOFIA DE PROTEÇÃO ............................................................................................................................ 139
5.1 BASEADOS NOS PROCEDIMENTOS DE REDE DO ONS ....................................................................... 139
5.1.1 Linhas de Extra Alta Tensão (nível de tensão igual ou superior a 345 kV) .............................................. 140
5.1.2 Linhas de 230 kV e 138 kV da Rede Básica ............................................................................................. 142
5.2 LINHAS QUE NÃO INTEGRAM A REDE BÁSICA .................................................................................. 144
6. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................. 145
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Requisitos e Conceitos 5 de 145
1. REQUISITOS E CONCEITOS DE PROTEÇÃO
1.1 FINALIDADE DE UMA PROTEÇÃO
Uma proteção é aplicada para detectar as anomalias que ocorrem na instalação protegida,
desligando-a e protegendo-a contra os efeitos da deterioração que poderiam decorrer da
permanência da falha ou defeito por tempo elevado.
Além dos efeitos da deterioração, podem ocorrer também instabilidades no Sistema de
Potência no caso de falhas sustentadas por tempos acima de determinados limites.
Assim, o Sistema de Proteção deve detectar a anomalia e remover o componente do Sistema
Elétrico sob falha, o mais rápido possível e de preferência, somente o componente sob falha.
1.2 TERMINOLOGIA
RELÉS OU DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO
São equipamentos ou instrumentos especialmente projetados e devidamente aplicados para
detectar condições anormais, indesejáveis e intoleráveis no sistema elétrico e prover,
simultânea ou parcialmente, os seguintes eventos:
Pronta remoção de serviço (desligamento) dos componentes sob falta, ou dos
componentes sujeitos a danos, ou ainda dos componentes que de alguma forma possam
interferir na efetiva operação do restante do sistema.
Adequadas sinalizações, alarmes e registros para orientação dos procedimentos humanos
posteriores.
Acionamentos e comandoscomplementares para se garantir confiabilidade, rapidez e
seletividade na sua função de proteção.
SISTEMAS DE PROTEÇÃO
Conjuntos de relés e dispositivos de proteção, outros dispositivos afins, equipamentos de
teleproteção, circuitos de corrente alternada e corrente contínua, circuitos de comando e
sinalização, disjuntores, etc. que associados, têm por finalidade proteger componentes ou
partes do sistema elétrico de potência quando de condições anormais, indesejáveis ou
intoleráveis.
Quando se fala em Sistema de Proteção, usualmente se entende tal sistema como “Relé de
Proteção”. Na realidade um Sistema de Proteção consiste, além dos relés de proteção,
também de outros subsistemas que participam do processo de remoção da falha. Tais
subsistemas são mostrados na figura a seguir:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Requisitos e Conceitos 6 de 145
CIRCUITO PROTEGIDO
TP's - Transformadores
de Potencial
TC's - Transformadores
de Corrente
Disjuntor
Alimentação Auxiliar
Corrente Contínua da
Bateria da Subestação
(em geral 125 Vcc)
Circuito de
Comando
de abertura
do disjuntor
Relé(s) de
Proteção
PROTEÇÃO
Figura 1.1 – Sistema de Proteção
FUNÇÕES DE PROTEÇÃO
Entende-se como função de proteção um conjunto de atributos desempenhados por um
sistema de proteção, para fins previamente estabelecidos e definidos, dentro de uma
determinada categoria ou modalidade de atuação.
Um relé ou dispositivo de proteção pode ter uma ou mais funções de proteção incorporadas
(a chamada proteção “multifuncional”).
1.3 REQUISITOS BÁSICOS DE UM SISTEMA DE PROTEÇÃO
Seletividade
É a capacidade do Sistema de Proteção prover a máxima continuidade de serviço do Sistema
Protegido com um mínimo de desconexões para isolar uma falta no sistema.
Confiabilidade
É a habilidade do relé ou do Sistema de Proteção atuar corretamente quando necessário
(dependabilidade) e evitar operação desnecessária (segurança).
Velocidade
Característica que garante o mínimo tempo de falha, para um mínimo de danos ou
instabilidade no componente ou sistema protegido.
Economia
No sentido de se ter máxima proteção ao menor custo, considerando sempre o aspecto custo
x benefício, que é a essência da ENGENHARIA.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Requisitos e Conceitos 7 de 145
Simplicidade
Característica que considera a utilização mínima de equipamentos e circuitos na execução da
Proteção.
Mantenabilidade
É a capacidade da proteção permitir manutenção rápida e precisa, reduzindo-se ao mínimo o
tempo fora de serviço e os custos de manutenção.
PRECEITOS
Os seguintes preceitos são generalizados para qualquer Sistema de Proteção:
A Proteção deve desligar o mínimo necessário de componentes para isolar a falha ou
anormalidade, no mínimo de tempo possível (seletividade e velocidade).
A Proteção deve ter sensibilidade suficiente para cobrir a maior parte possível do universo
de possibilidade de falhas e anormalidades no componente ou sistema protegido
(dependabilidade).
A Proteção não deve atuar desnecessariamente (segurança).
Deve haver, sempre, uma segunda Proteção, local ou remota, para a detecção de uma
mesma anormalidade (dependabilidade).
Um esquema mais simples de proteção, desde que cobertos os requisitos básicos,
apresenta uma menor probabilidade de atuação desnecessária (simplicidade
incrementando a segurança, com economia).
Quanto mais caro o Sistema Protegido, mais se justifica o investimento na confiabilidade
(dependabilidade) do Sistema de Proteção (economia = custo x benefício).
1.4 COORDENAÇÃO
O estudo e a prática de aplicação de Proteção por Relés não constituem uma ciência exata.
Muito de arte e bom senso estarão sempre associados à técnica empregada. Assim, a
experiência assume um aspecto significativo para qualquer profissional que trate do assunto.
Entende-se como coordenação de relés e sistemas de proteção, o estudo e a aplicação de
ajustes e esquemas no sentido de se garantir os requisitos básicos de seletividade e
velocidade, e garantir também que haja sempre uma segunda ou terceira proteção que
detecte a mesma anormalidade como retaguarda (dependabilidade do sistema de proteção)
sem, no entanto, comprometer a seletividade.
1.5 ZONAS DE PROTEÇÃO
A filosofia geral de proteção de um sistema elétrico é dividi-lo em “zonas de proteção” de
modo que, quando da ocorrência de uma anormalidade, haja o mínimo de desligamentos
possível, preservando o máximo de continuidade dos serviços.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Requisitos e Conceitos 8 de 145
O sistema é dividido em zonas de proteção para:
Geradores
Transformadores
Barras
Linhas de Transmissão e Subtransmissão
Dispositivos e Sistemas de Compensação Reativa
Circuitos de Distribuição
Transformadores de Distribuição
Motores
Outras cargas
Transformador
Barra
Barra Barra
Reator
Shunt
Linha
LinhaLinha
Grupo Gerador -
Transformador
Transformador
Elevador
Barra
Transformador
Barra
Figura 1.2 – Zonas de Proteção
A separação das zonas se dá através da localização de Disjuntores e Transformadores de
Corrente que alimentam os relés de proteção. As figuras a seguir mostram detalhes dessa
fronteira de zonas:
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Zona 1
TC's
(zona 2)
Zona 2
TC's
(zona 1)
Disjuntor
Figura 1.3 – Limites de Zona – Exemplo 1
Zona 1
TC's
(zona 1)
Zona 2
TC's
(zona 2)
Disjuntor
Figura 1.4 – Limites de Zona – Exemplo 2
No exemplo 1 tem-se a utilização de TC’s de ambos os lados do disjuntor. No exemplo 2 os
TC’s de um lado apenas do disjuntor.
Nesse segundo caso, verifica-se que há uma “zona morta” entre o disjuntor e o equipamento
TC sem aparente cobertura. Há esquemas especiais para cobrir essa zona morta, para
instalações importantes (geralmente em Extra Alta Tensão ≥ 345 kV.
1.6 PROTEÇÃO UNITÁRIA (OU RESTRITA) E PROTEÇÃO GRADATIVA (OU IRRESTRITA)
UNITÁRIA OU RESTRITA
Denomia-se proteção UNITÁRIA ou RESTRITA toda função de proteção com atuação sem
temporização intencional (“instantânea”) que tem a finalidade de servir como proteção
primordial para faltas internas ao elemento protegido, sendo sua característica principal o
aspecto de seletividade, isto é, a função atua apenas para faltas internas ao elemento
protegido. Pode ser de tipos diferentes como função de Distância (na sua 1ª Zona ou com
teleproteção num esquema permissivo ou desbloqueio\), função diferencial ou função de
comparação de fase.
GRADATIVA OU IRRESTRITA
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Requisitos e Conceitos 10 de 145
Denomia-se proteção GRADATIVA OU IRRESTRITA toda função de proteção com atuação
temporizada, como uma segunda ou terceira função que detecta uma falta num componente,
falta essa já detectada pela Proteção Unitária desse componente.
Essa característica de RETAGUARDA (local ou remota) é a principal de uma proteção
GRADATIVA.
Pode ser de tipos diferentes como função de sobrecorrente (fase ou terra), função de
sobrecorrente direcional (fase ou terra), função de distância nas suas zonas temporizadas,
etc.
1.7 PROTEÇÃO PRINCIPAL E PROTEÇÃO DE RETAGUARDA
Para se garantir o requisito básico de confiabilidade (dependabilidade) para o Sistema de
Proteção, há necessidade para a maioria dos casos, da existência de uma segunda
proteção, pelo menos, para a detecção da mesma falha no componente protegido.
Resultam deste aspecto os conceitos de Proteção Principal e Proteção de Retaguarda:
1.7.1 Proteção Principal
É aquela constituída de um relé (hardware) que tem, obrigatoriamente, uma ou mais
funções Unitárias e, eventualmente, várias Gradativas. Tem condição de detectar todas as
anormalidade para a qual foi concebida, no componente protegido, contemplando os
requisitos de seletividade,confiabilidade e de velocidade.
Dependendo da importância do componente protegido, pode existir projeto com duas
proteções principais, que no caso de serem iguais são denominadas “duplicadas” ou
“primária + alternada”. O que caracteriza o fato de serem “principais” é o atendimento aos
requisitos básicos de velocidade, seletividade e confiabilidade.
NOTA
No passado, com proteções eletromecânicas era muito comum o uso da definição de
“Proteção Principal” pois na época não havia multifuncionalidade. Existia etão relé com
Proteção Unitária como Relé de Distância, Relé Diferencial.
1.7.2 Proteção de Retaguarda
É aquela construída de outro relé (hardware) com várias funções, porem com funções
Gradativas (com temporização intencional). Também por especificação e escolha de
projeto, tem a finalidade de ser a segunda ou terceira proteção a detectar uma mesma
anormalidade, local ou remota, em um dado componente do sistema de potência, atuando o
respectivo disjuntor quando da falha da proteção principal.
NOTA
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Requisitos e Conceitos 11 de 145
No passado, com proteções eletromecânicas era muito comum o uso da definição de
“Proteção de Retaguarda” pois na época não havia multifuncionalidade. Existia então relé
com Proteção Gradativa como Relé de Sobrecorrente, Relé Direcional de Sobrecorrente.
Retaguarda Local
Uma proteção de retaguarda pode estar instalada no mesmo local da proteção principal.
Neste caso é denominada de “retaguarda local”.
Retaguarda Remota
Ou pode estar instalada em um outro componente adjacente àquele original. Neste caso é
denominada de “retaguarda remota”:
Componente
Protegido
Componente
Protegido
SE A SE B SE C
Proteção
Principal de A-B.
Proteção de
Retaguarda
Local de A-B.
Proteção de
Retaguarda
Remota de B-C.
Proteção
Principal de B-A.
Proteção de
Retaguarda
Local de B-A.
Proteção de
Retaguarda
Remota de A-X.
Proteção
Principal de B-C.
Proteção de
Retaguarda
Local de B-C.
Proteção de
Retaguarda
Remota de C-Y.
Proteção
Principal de C-B.
Proteção de
Retaguarda
Local de C-B.
Proteção de
Retaguarda
Remota de B-A.
Figura 1.5 – Conceito de Proteção Principal e Proteção de Retaguarda
1.8 PROTEÇÃO PRIMÁRIA E PROTEÇÃO ALTERNADA
Mais recentemente no Brasil optou-se por duplicar relés ou funções principais para proteção
de linhas de transmissão de Extra Alta Tensão (níveis de tensão iguais ou superiores a 345
kV) como exigência da Aneel para novas instalações. Neste caso, pode-se ter as seguintes
opções:
a) Utilização de relés de mesma fabricação, tecnologia e modelo (duplicação plena);
b) Utilização de relés de mesma fabricação, tecnologia e modelos diferentes (duplicação
parcial, eventualmente em algumas funções diferentes);
c) Utilização de relés de diferentes origens (fabricação), mesma tecnologia e com duplicação
de funções;
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Requisitos e Conceitos 12 de 145
d) Utilização de relés de tecnologias diferentes e mesmas funções.
A tendência atual é o item a, com plena duplicação quanto ao modelo e funções de proteção.
Este aspecto ajuda na manutenção da proteção e a retirada de operação de uma delas sem
maiores preocupações.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 13 de 145
2. FUNÇÕES DE PROTEÇÃO
2.1 FUNÇÃO DE SEQUÊNCIA NEGATIVA
2.1.1 Conceito
Qualquer desbalanço num sistema trifásico, com ou sem terra, faz com que apareça
componentes simétricas de seqüência negativa. A componente de seqüência negativa
pode ser calculada através da expressão:
c
b
a
a
a
a
I
I
I
aa
aa
I
I
I
.
1
1
111
3
1
2
2
2
1
0
Donde, cbaa IaIaII ..
3
1 2
2 onde
oa 1201
Para tensão, vale a mesma expressão. Assim, uma proteção pode calcular a corrente de
seqüência negativa I2 através das correntes de fase. Em condições normais de operação,
com o sistema trifásico equilibrado, essa corrente é Zero.
Isto é, o surgimento da componente de seqüência negativa I2 significa que há desbalanço
de corrente através do circuito onde está aplicada a proteção e pode ser causada por:
Uma fase aberta
Duas fases abertas
Carga desequilibrada (comum para circuitos primários de Distribuição)
Curto-circuito fase-terra.
Curto-circuito bifásico.
Curto-circuito bifásico-terra.
Um critério de desbalanço poderia ser o valor percentual da corrente I2 (seqüência
negativa) com relação à corrente I1 (seqüência positiva).
O desbalanço de corrente é um fator grave para máquinas rotativas, uma vez que induz
correntes de frequência dupla no rotor (ferro), causando aquecimento.
Portanto a função de seqüência negativa é utilizada principalmente para proteção de
motores e geradores. Seu código ANSI é 46.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 14 de 145
50/
51N
46
50/
51
Função 46:
Desbalanço
de Corrente
(Sequência
Negativa)
Circuito
Protegido
Figura 2.1 – Função de Desbalanço de Corrente
2.1.2 Utilização para Linhas de Transmissão
Para Linhas de Transmissão, esta função é utilizada em casos especiais onde há
dificuldades de detecção de curtos-circuitos, como por exemplo uma linha longa em alta ou
média tensão, onde as faltas se confundem com as cargas e as funções de sobrecorrente
e de distância têm dificuldades. Lembrando que a seqüência negativa de corrente aparece
sempre que há desbalanço, com ou sem terra, ela pode ser uilizada para detectar curto-
circuito. A exigência é que a carga, em condições normais, deve ser equilibrada o
suficiente para não altingir limite de atuação da proteção.
2.1.3 Diretrizes de Ajustes
Uma boa diretriz é ajustar o valor da seqüência negativa entre 10 e 40% da corrente
nominal prevista na LT, se o objetivo é detectar fase aberta. Deve-se, entretanto,
estabelecer uma temporização entre 5,0 e 15,0 segundos, dependendo da filosofia da
empresa.
Principalmente para Linhas de Transmissão com religamento automático monopolar,
deve-se tormar cuidado com a função 46, se utilizada, pois durante o tempo de extinção de
arco, quando uma fase está aberta, há corrente de seqüência negativa. A ordem de
grandeza é de cerca de 40% da corrente de carga que havia na LT. Assim, o tempo de
atuação dessa função, para o desbalanço de uma fase aberta deve ser superior ao tempo
morto de religamento automático monopolar dessa linha, com margem de segurança. O
critério acima deve satisfazer esta condição.
Para o caso de linhas especiais com dificuldade de detecção de curto-circuito pelas
funções convencionais, deve-se fazer estudo específico, caso a caso.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 15 de 145
2.2 FUNÇÃO DIRECIONAL DE SOBRECORRENTE
2.2.1 Conceito
A diferença entre uma função de sobrecorrente e uma função direcional de sobrecorrente é
que esta última tem uma característica extra associada à direção da corrente medida, e
não apenas ao módulo da corrente medida.
Para que isto seja possível, deverá haver, para cada relé, uma referência de Tensão. Isto
é, os mesmos devem ser Polarizados.
Há duas funções direcionais de terra: aquela para corrente de fase e aquela para
corrente de terra. O código ANSI para a função direcional de sobrecorrente é (67). Pode
ter, também, elemento instantâneo, porém não há código específico para esse elemento
instantâneo.
2.2.2 Conexão Clássica
A figura a seguir mostra uma conexão trifásica para 02 relés direcionais de sobrecorrente
de fase e um relé direcional de sobrecorrente de terra.
67A 67C
67N
Fase A
Fase B
Fase C
I Residual = IA + IB + IC
TC
TC
TC
Disjuntor(es) IA
IB
IC
iA iB iC
TP's
TP's
AUXILIARES
Figura 2.2 – Conexão para relés direcionais de sobrecorrente convencionais
No casoHz e 5A
Resistência
(Ω)
Indutância
(mH)
Impedância
(Ω)
Volt-
Amperes
Fator de
Potência
B-0,1 0,09 0,116 0,1 2,5 0,9
B-0,2 0,18 0,232 0,2 5,0 0,9
B-0,5 0,45 0,580 0,5 12,5 0,9
B-1 0,5 2,3 1,0 25 0,5
B-2 1,0 4,6 2,0 50 0,5
B-4 2,0 9,2 4,0 100 0,5
B-8 4,0 18,4 8,0 200 0,5
Figura 2-5 - Cargas Nominais para TC, segundo ANSI
2.5.2 Classe de Exatidão Nominal.
Esse item é de fundamental importância para a correta especificação do TC.
Os transformadores de corrente estão classificados em dois tipos distintos, de acordo com
a sua aplicação:
TC´s para serviço de medição
TC´s para serviço de proteção
O assunto classe de exatidão nominal será tratado separadamente para cada tipo de TC,
conforme classificação acima.
2.5.3 Fator de Sobrecorrente do TC.
É o fator empregado em TC´s para serviço de proteção. É expresso pela relação entre a
máxima corrente com a qual o transformador mantém a sua classe de precisão e a sua
corrente nominal.
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 14 de 58
Os valores máximos de corrente (corrente de curto circuito) que podem passar pelo
primário do TC para que o seu erro seja mantido é padronizado de acordo com as normas
utilizadas.
A norma ABNT apresentava fator de sobrecorrente de 5, 10, 15 e 20 e a ANSI, fator de
sobrecorrente de 20.
Assim, um TC de fator de sobrecorrente 20, erro de 10% e com relação de transformação
1000 - 5 só poderá ser utilizado num sistema elétrico se a máxima corrente de curto
circuito no local da sua instalação não ultrapassar o valor de:
Imáxcurtocircuito = 20 x 1000 = 20.000 A = 20 kA (eficazes)
Isso significa que para uma corrente de curto circuito inferior a 20 kA, o erro que o TC na
sua corrente secundária é menor ou igual a 10%.
O fator de sobrecorrente também impõe uma limitação construtiva do TC devido ao erro
produzido pela não linearidade da curva de magnetização do núcleo.
Assim, ao se limitar:
Icurtocircuito ≤ Fator de Sobrecorrente x InominaldoTC
o TC não ultrapassa o seu erro de sua classe de precisão.
2.5.4 Fator Térmico Nominal.
É o fator pelo qual a corrente nominal primária do TC deve ser multiplicada para se obter a
corrente primária máxima que o transformador deve suportar, em regime permanente,
operando em condições normais, sem exceder os limites de temperatura especificados
para sua classe de isolamento.
Segundo a ABNT, são normalizados os seguintes valores:
1,0 - 1,2 - 1,3 - 1,5 - 2,0
2.5.5 Corrente Térmica Nominal.
É definido como sendo o valor eficaz da corrente primária simétrica que o transformador
pode suportar por um determinado tempo (normalmente 1,0 segundo) com o enrolamento
secundário em curto-circuito ou com determinada carga normalizada, sem exceder os
limites de elevação de temperatura especificados para sua classe de isolamento.
Isto quer dizer que um TC deve ser construído de maneira a suportar termicamente uma
determinada sobrecorrente durante 1 segundo, sem se danificar.
Para instalação protegida por disjuntor, o TC é selecionado de forma que o seu:
Limite Térmico ≥ máxima corrente de interrupção do disjuntor.
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 15 de 58
2.5.6 Corrente Dinâmica Nominal.
É definida como sendo o maior valor eficaz da corrente primária que o transformador deve
suportar durante determinado tempo (normalmente 0,1 segundo), com o enrolamento
secundário curto circuitado, sem se danificar mecanicamente devido às forças
eletromagnéticas existentes.
Normalmente essa corrente dinâmica (ou corrente de curta duração para efeito dinâmico) é
definida como devendo ser de 2,5 vezes o valor da corrente térmica nominal (ou corrente
de curta duração para efeito térmico).
2.6 TRANSFORMADORES DE CORRENTE PARA SERVIÇO DE MEDIÇÃO.
Os TC´s para serviço de medição devem retratar fielmente a corrente a ser medida. É
imprescindível que apresentem erros de fase e de relação mínimos dentro de suas
respectivas classes de exatidão. Segundo as normas ABNT e ANSI, os transformadores de
corrente devem manter sua exatidão na faixa de 10 a 100% da corrente nominal, ou seja:
0,1 Inominal ≤ Icarga ≤ InominaldoTC
Os TC´s de medição devem manter sua precisão para correntes de carga normal, enquanto
os TC´s de proteção devem ser precisos até o seu erro aceitável para corrente de curto
circuito de 20 x In.
Para medição, em caso de curto circuito, não há necessidade que a corrente seja
transformada com exatidão. É até melhor que em condições de curto circuito, o TC sature,
proporcionando assim, uma auto proteção aos equipamentos de medição conectados no seu
secundário.
Os núcleos magnéticos dos TC´s de medição são de seção menor que os de proteção para
propositadamente saturarem durante o curto circuito quando a corrente atinge valores altos.
Essa saturação limita o valor da sobretensão aplicada nos equipamentos de medição.
Classes de Exatidão:
Os TC´s para serviço de medição devem ser enquadrados em uma das seguintes classes de
exatidão:
0,3 - 0,6 - 1,2
É também prevista uma classe de exatidão 3, porém por não ter limitação de ângulo de fase,
esta classe não deve ser utilizada para serviço de medição de potência ou energia.
Indicação da Classe de Exatidão:
Para serviço de medição, indica-se a classe de exatidão seguida do símbolo da maior carga
nominal com a qual se verifica essa classe de exatidão. Cada enrolamento secundário deverá
ser indicado com todas as suas classes de exatidão, com as cargas nominais
correspondentes.
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 16 de 58
Por exemplo:
Enrolamento x: 0,3-C12,5 (segundo ABNT) ou
0,3 B-0,5 (segundo ANSI antiga)
Se o TC tiver diferentes classes de exatidão para diferentes cargas, estas classes deverão
ser indicadas conforme mostrado a seguir:
Enrolamento x: 0,6-C2,5 : 1,2-C12,5
Aplicações Típicas:
Classe 0,3 - medidas em laboratórios, medidas de potência ou energia para fins de
faturamento (nível de isolamento 0,6 kV ou mais).
Classe 0,6 - medida de potência ou energia para fins de faturamento (nível de isolamento 0,6
e 1,2 kV)
Classe 1,2 - alimentação de instrumentos indicadores e registradores (amperímetros,
voltímetros, wattímetros, etc.)
Classe 3,0 - instrumentos indicadores
2.7 TRANSFORMADOR DE CORRENTE PARA SERVIÇO DE PROTEÇÃO.
Os TC´s para serviço de proteção devem retratar as correntes de curto circuito e é importante
que os mesmos não sofram os efeitos da saturação.
Segundo uma antiga ABNT, os TC´s para serviço de proteção, quanto à impedância, se
subdividem nas classes:
Classe A
Classe B
2.7.1 Classe A
TC que possui alta impedância interna, isto é, aquele cuja reatância de dispersão do
enrolamento secundário possui valor apreciável em relação à impedância total do circuito
secundário, quando este alimenta sua carga nominal.
Para melhorar a sensibilidade e qualidade do TC através do aumento da sua força
magneto motriz, a bobina primária é enrolada.
O TC de alta reatância de dispersão é conhecido como:
Tipo A, pela antiga ABNT (A de Alta reatância de dispersão)
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 17 de 58
Tipo H, pela antiga ANSI (H de High)
São transformadores de corrente que tem a bobina primária enrolada sobre o seu núcleo
magnético, conforme mostrado na figura a seguir:
I1
I2
Carga
Bobinas de Corrente
Reles de Proteção
Primário enrolado no
núcleo
Figura 2-6 - TC de Alta Reatância de Dispersão
2.7.2 Classe B
TC que possui baixa impedância interna, isto é, aquele cuja reatância de dispersão do
enrolamento secundário possui valor desprezível em relação à impedância total do circuito
secundário, quando este alimenta sua carga nominal. Constituem exemplo, os TC´s de
núcleo toroidal, com enrolamento secundáriode proteção digital, esse mesmo conceito é executado, isto é, há necessidade de
informações de tensão através de TP’s de linha ou de barra. As correntes e tensões
residuais podem ser calculadas, ao invés de medidas, como mostra a figura a seguir.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 16 de 145
Fase A
Fase B
Fase C
TC
TC
TC
Disjuntor(es) IA
IB
IC
iA iB iC
TP's
I Residual = IA + IB + IC
Proteção Digital
Funções 67 Fases e 67
Terra
V Residual = VA + VB + VC
Figura 2.3 – Conexão para proteção digital - direcional de sobrecorrente
2.2.3 Filosofia de Atuação e Aplicação
A função direcional de sobrecorrente deve atuar apenas se duas condições forem
satisfeitas:
a) Intensidade de corrente acima do limite mínimo de ajuste.
b) Corrente em um determinado sentido.
Sobrecorrente + Elemento
Direcional = Direcional de
Sobrecorrente
Figura 2.4 – Conceito da Função 67
Os relés são conectados para atuar, por exemplo, para correntes saindo da barra para a
linha. Caso haja corrente no sentido inverso, mesmo que de grande intensidade (condição
de curto circuito), essa função direcional de sobrecorrente não atua:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 17 de 145
67F
Componente Protegido
SE A
67
N
Curto na Frente
Direção Correta para
a Proteção Atuar
Figura 2.5– Atuação direcional da Função 67
67F
Componente Protegido
SE A
67
N
Curto na
Direção
Reversa -
Proteção
Não Atua
Figura 2.6– Falta na Direção Reversa da Função 67
Esta característica é muito importante para um esquema adotado de Proteção, uma vez
que, delimitando as condições com a imposição do fator direção, há maiores facilidades
para obter seletividade (isto é, desligar o mínimo de componentes do Sistema, para isolar
a falha) no menor tempo possível.
As funções direcionais de sobrecorrente de fase e de terra são utilizadas principalmente
para proteção de Linhas de Transmissão e Subtransmissão, geralmente como
proteção de retaguarda. Em alguns raros casos, também se utiliza para proteção de
Transformadores, quando o fator “direção” torna-se necessário para uma boa coordenação
da proteção em um sistema elétrico.
Em circuitos radiais não há necessidade de uso de função 67, a menos em casos
específicos com fontes de terra no circuito (nesse caso pode haver necessidade de 67N –
terra, mas depende das condições de curto-circuito do sistema).
Modernas proteções digitais de sobrecorrente de aplicação geral, já incluem (geralmente)
funções 67 para uso opcional. Deve-se sempre lembrar que há necessidade de TP’s para
informação de tensão de polarização.
2.2.4 Polarização. Elementos Direcionais.
PARA FALTAS ENTRE FASES
A polarização de elementos de fase pode ser feita de duas maneiras:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 18 de 145
Usando a tensão Fase-Fase oposta para a corrente de fase (Polarização Cruzada)
Usando tensão de sequência positiva, comparando-a com a corrente de sequência
positiva (V1 x I1). O ângulo entre esses fasores mostra a direção da falta.
PARA FALTAS À TERRA
A polarização do elemento de terra pode ser feita de duas maneiras:
Usando tensão de sequência zero, comparando-a com a corrente de sequência zero
(3V0 x 3I0). O ângulo entre esses fasores mostra a direção da falta.
Usando uma corrente de sequência zero (geralmente a que sobe pelo neutro de um
Trafo ou Autotrafo, comparando-a com a corrente de sequência zero (3I0´ x 3I0). O
ângulo entre esses fasores mostra a direção da falta.
Usando tensão de sequência negativa, comparando-a com a corrente de sequência
negativa (V2 x I2 ou 3V2 x 3I2). O ângulo entre esses fasores mostra a direção da falta.
POLARIZAÇÃO PARA FASE
A tensão de polarização deve ser tal que forneça uma firme referência de direção de
corrente (determinado pelo ângulo entre fasores medidos ou calculados). A figura a seguir
mostra os fasores de tensão de um sistema trifásico, com corrente de falta na fase A.
ICC
UBC
UAB
UCA
UA
UBUC
ZF
RCC
j XCCICC
UCC
UA
Relé
Figura 2.7 – Fasores num sistema trifásico.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 19 de 145
A corrente de curto-circuito ICC deve ter uma tensão de referência para que a proteção
determine sua direção.
Uso da Tensão da Fase Correspondente (no caso, UA)
Neste caso, haveria uma boa referência de direção, pois ângulos indutivos significam falta
na frente do relé. Porém há as seguintes desvantagens:
Quando de curto-circuito imediatamente à frente da proteção, essa tensão pode ir a
Zero e a proteção poderá perder a referência.
Quando de linha com compensação série (capacitância em série na LT), a tensão de
referência pode inverter.
Quando de curto-circuito imediatamente à frente da proteção, com resistência de arco,
o ângulo pode chegar a Zero graus entre a tensão de referência e a corrente de curto.
ÂNGULO DE MÃXIMO TORQUE (MTA)
O conceito de máximo torque vem do relé eletromecânico, onde estão comparados os
ângulos entre a Corrente e o Fluxo da Tensão de Polarização – o máximo torque ocorre
quando esse êngulo é 90 graus.
Num relé eletromecânico utiliza-se a tensão de polarização Vpol com defasamento no
sentido que seu fluxo V ocorra num ângulo desejado por projeto.
O máximo torque no circuito eletromagnético ocorre quando a quantidade operacional I
está a +90 graus do V.
Assim, quando ocorre uma corrente I e correspondente Fluxo, o torque será:
Torque = K1.|Vpol|.|I|.cos (Θ-)
O máximo torque positivo ocorre com cos (0) = 1. Isto é, com Θ=.
Para I em fase com V o torque será nulo e para ângulos do outro lado, o torque negativo.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 20 de 145
POLARIZAÇÃO CRUZADA [1]
Uma boa solução para dirimir as dificuldades citadas é o uso de referência cruzada. A
tabela a seguir mostra as tensões de referência para uma proteção (no caso digital) para
que as correntes de falta tenham sempre uma referência firme, com base nos fasores
mostrados na Figura 2.8 a seguir.
Falta Tensão de Referência Corrente
Fase A UB – UC = UBC IA
Fase B UC – UA = UCA IB
Fase C UA – UB = UAB IC
Loop AB UBC – UCA IA - IB
Loop BC UCA – UAB IB – IC
Loop CA UAB – UBC IC – IA
Na figura a seguir mostra-se a tensão de referência UBC para a corrente na fase A. Deve-
se notar que a tensão da fase em curto (denominada UCC) não é a tensão que havia antes
(UA), pois há a influência da impedância da fonte ZF (sistema) no ponto de instalação da
proteção.
cc
UCC
ICC
UBC
UAB
UCA
UA
UBUC
ICC.ZF
ZF
RCC
j XCCICC
UCC
UA
Relé
Figura 2.8 – Fasores para Polarização Cruzada.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 21 de 145
Por exemplo, se para uma falta na fase A, a tensão UCC for para zero, haverá referência
UBC.
Na concepção da função direcional faz-se com que haja direcionalidade para todo ICC
que esteja à direita da referência hachurada de direção, que tem um ângulo com relação
à tensão UBC. O máximo torque ocorre com a corrente Icc com ângulo α com relação ao
eixo vertical (ângulo de Máximo Torque).
Essa solução é adotada também para as funções de distância, que têm necessidade de
discriminação direcional.
Os “loops” AB, BC e CA indicados na tabela anterior servem para curtos-circuitos entre
fases (bifásicos ou trifásico). Para curto-circuito bifásico sempre haverá referência firme
relacionada com a fase não afetada.
Para curto trifásico rígido, bem à frente da proteção, todas as tensões podem ir a zero.
Neste caso não haveria referência. Entretanto, as proteções mais elaboradas (para linhas
de AT ouEAT) possuem memória de tensão (informações sobre a tensão antes do curto-
circuito).
Para proteções eletromecânicas essa memória era feita através de circuitos ressonantes.
Para proteções digitais, são utilizados dados de um “buffer” com as informações do
passado. Memórias com duração entre 0,4 e 0,5 s são comuns para proteções mais
elaboradas.
POLARIZAÇÃO POR SEQUÊNCIA ZERO
POLARIZAÇÃO POR TENSÃO 3V0
Dependendo do fabricante da proteção, pode haver concepção com base nas
componentes simétricas (seqüências positiva, negativa e zero). A referência [3] dá uma
boa idéia sobre este aspecto. Por exemplo, pode-se usar a tensão de seqüência zero (UA +
UB + UC) / 3 para servir de referência para corrente de seqüência zero (IA + IB + IC) / 3 na
execução da função direcional de sobrecorrente de terra.
A figura a seguir mostra a componente de seqüência zero no local de aplicação da
proteção:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 22 de 145
Falta na Frente do Relé
ZF0
ZK0
I0
U0 = - ZF0.I0
UA
Relé
0
0
0
FZ
I
U
If0
Falta na Direção Reversa
ZF0
I0
U0 = + ( ZK0+ ZM0 ).I0
Relé )( 00
0
0
MK ZZ
I
U
If0
ZM0
ZK0
ZM0
Figura 2.9 – Fasores de Seqüência Zero na Proteção
Com base nesse conceito, pode-se ter uma referência para a corrente de terra, como
mostrado a seguir:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 23 de 145
Figura 2.10 – Polarização por tensão de seqüência zero
POLARIZAÇÃO POR CORRENTE 3I0
Para função direcional de sobrecorrente de terra, há também (para algumas proteções
digitais) opção de uso de corrente de terra que sobe pelo neutro do transformador da
subestação (fonte de terra para corrente de curto na linha protegida) como grandeza de
polarização.
Como essa corrente tem mais ou menos a mesma direção da corrente de terra do circuito
protegido, serve como referência de direção:
Iterra = 3.I0
Ipolariz. = IV
Falta na
Direção
Reversa
Falta na FrenteIm
Re
(corrente de neutro de
transformador)
Figura 2.11 – Polarização por corrente de neutro de transformador (3 x seqüência zero)
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 24 de 145
POLARIZAÇÃO POR SEQUÊNCIA NEGATIVA
POLARIZAÇÃO POR TENSÃO V2
Pode-se usar a tensão de seqüência negativa:
cbaa UaUaUU ..
3
1 2
2
para servir de referência para corrente de seqüência negativa:
cbaa IaIaII ..
3
1 2
2
na execução da função direcional de sobrecorrente de terra.
A figura a seguir mostra as componentes de seqüência negativa no local de aplicação da
proteção:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 25 de 145
2.2.5 Filosofia de uso para o Sobrecorrente Direcional
Para linhas de tensão igual ou superior a 345 kV, pelo fato de existirem proteções
principais duplicadas (primária + alternada), não se usa 67 Fase como retaguarda. Utiliza-
se 67N tanto como retaguarda como também como unitária (com teleproteção) devido a
curtos circuitos de ALTA IMPEDÂNCIA.
Para linhas de tensão inferior a 345 kV, pelo fato de não ser obrigatória a duplicação plena
da proteção principal (uso de principal + retaguarda), se utiliza 67Fase e 67N como
retaguardxa. A função 67N instantânea com teleproteção é utilizada como proteção
unitária para curtos-circuitos de ALTA IMPEDÂNCIA.
2.2.6 Diretrizes de Ajustes para o Sobrecorrente Direcional
Têm a finalidade de promover desligamento do disjuntor quando da falha das demais
funções principais. Espera-se a atuação dessas funções quanto tudo falhou. As mesmas
têm, portanto, compromisso apenas com a segurança, sem maiores preocupações com a
rapidez.
a) Se possível, deve ter sensibilidade para detectar curtos a terra em pelo menos duas
barras a frente. Adotar a maior sensibilidade possível.
b) Deve ter temporização que satisfaça as condições seguintes:
* haja operação com tempo igual ou superior a 0,7 s para curto na barra da
subestação remota (sentido direcional).
* haja operação com tempo superior a 0,3 s para curto imediatamente à frente da
proteção, com caso de exceção mostrado no item (c) seguinte.
* haja operação com tempo superior ao do religamento automático monopolar (nas
linhas com religamento monopolar) para corrente de sequência zero (com corrente
de terra da ordem de 50% da corrente de carga que havia) esperada para máxima
carga na LT em situação de religamento. Em algumas proteções multifuncionais, há
também a possibildiade de bloqueio da função 67N durante o processo de
religamento monopolar (relé digital).
c) Bloquear os instantâneos como critério padrão. Esses elementos instantâneos só
podem ser ajustados, eventualmente, quando:
* não houver esquema de religamento automático na LT e para proteção de linhas
longas.
* houver uma diferença muito grande entre os curtos na saída da LT e na barra da
subestação remota.
Observa-se que não se deve tentar coordenar essa função de extrema retaguarda com as
funções principais. Usa-se temporização alta para que não haja influência nas funções
principais, porém com alta sensibilidade para garantir a segurança.
Nota: O caso de uso da função 67N com Teleproteção é mostrado em capítulo à parte.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 26 de 145
2.3 FUNÇÃO DE TENSÃO
2.3.1 Finalidade e Conceitos
Como o próprio nome menciona, é uma função para detectar condições de tensão
superiores ou inferiores aos valores normalmente aceitos para a Operação do Sistema ou
do Equipamento.
São realizados através de relés específicos conectados nos lados secundários dos
Transformadores de Potencial.
Proteção de Sobretensão – Código 59
Para detectar condição de tensão superior a um valor aceitável. Pode ser de dois tipos:
Função de Sobretensão Instantânea ou Função de Sobretensão Temporiza.
A função instantânea não possui temporização intencional, isto é, seu tempo de atuação
depende apenas de suas características construtivas e inerentes ou do seu algoritmo (no
caso de ser digital). Por outro lado, a função temporizada é construída para introduzir uma
temporização intencional e ajustável. Os relés de sobretensão temporizados são,
geralmente, de característica definida de tempo (não inversa):
Tensão (V)
Tempo (s)
Valor de
Atuação
(pick-up)
Valor de
Desatuação
(drop-out)
Temporização
(Ajustável)
59 59
59
Figura 2.12 – Função 59, de tempo definido, para tensões de linha.
Dependendo do nível de sobretensão esperado, utiliza-se função instantânea ou
temporizada.
Uma característica muito importante numa função ou num relé de sobretensão é a
chamada “relação pick-up / drop-out”. Num relé de sobretensão, dependendo da sua
construção e da tecnologia utilizada, há sua atuação quando se atinge o nível de tensão
ajustado e há desatuação quando a tensão retorna às condições normais. A tensão em
que o relé deixa de atuar (“drop-out”) é sempre menor que a tensão de atuação. E a
relação “pick-up / drop-out” pode ser definida como:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 27 de 145
Relação “pick-up / drop-out” = (tensão de atuação / tensão de desatuação) * 100 %
Se esta relação é muito grande, significa que há necessidade de redução acentuada de
tensão para que a função retorne à condição de não atuação. Haverá sempre o perigo de
se ter uma proteção de sobretensão atuada após a tensão do sistema protegido ter
retornado ao normal.
Este valor é sempre superior a 100 %. Quanto menor esta relação, mais segura a
aplicação da função de sobretensão. Um modelo ideal de função de sobretensão seria
uma relação de 100 %, isto é, qualquer abaixamento de tensão aquém do valor ajustado
provocaria a desatuação da função. Relés modernos, com tecnologia digital, permitem
relação próxima a 100 %.
Utiliza-se a função de sobretensãona proteção de Transformadores, Reatores e Máquinas
Rotativas, isto é, na proteção de equipamentos que podem ter sua isolação deteriorada no
caso de exposição a condições de sobretensão.
Em EAT é aplicada em Linhas de Transmissão para que tenha uma função sistêmica,
isto é, para desligar trechos do sistema afetados por sobretensão (excesso de reativos na
região).
Proteção de Subtensão ou Relé de Subtensão – Código 27
A função atua quando a tensão cair abaixo de um valor ajustado. Esta função pode ser
utilizada como proteção para equipamentos que não podem operar com tensão abaixo de
um certo limite (geralmente máquinas rotativas), ou pode ser utilizada apenas como relé de
subtensão para desligamento automático de circuito quando de falta de tensão (relé de
manobra).
Para utilização da função 27 para manobra de circuitos (desligamento por falta de tensão),
a relação “drop-out / “pick-up”) não é muito significativa pois há uma grande diferença entre
“existir tensão” e “não existir”. Entretanto, para proteção, a relação é importante, como já
mencionado para a função 59.
2.3.2 Diretrizes de Ajustes
Para linhas de transmissão de EAT, costuma-se ajustar:
a) Função de sobretensão trifásica, temporizada, entre 1,16 a 1,25 pu da tensão nominal
de operação, com tempo (definido) de operação entre 1,50 e 4,0 s.
b) Função de sobretensão trifásica, instantânea, entre 1,20 e 1,35 pu da tensão nominal
de operação.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 28 de 145
2.4 FUNÇÃO DE DISTÂNCIA
2.4.1 Princípio
A função Distância mede, através da leitura das correntes e tensões do circuito protegido,
a impedância entre o ponto de aplicação da proteção e o ponto onde ocorreu o curto-
circuito.
A dimensão da grandeza calculada é Ohms: Impedância = Tensão / Corrente
Como a impedância da linha de transmissão protegida é proporcional ao seu comprimento,
(ohms / km), pode-se associar a impedância medida com a distância até o ponto de curto
circuito. Daí a denominação “distância” quando a função de impedância é utilizada para
proteção de linha de transmissão. O código ANSI para a função de impedância é 21.
Nota: Quando a função de impedância é aplicada para proteção de linha de
transmissão, ela é chamada de “distância”. Quando a função de impedância é
aplicada para proteção de máquina ou transformador, a mesma é chamada
“impedância”.
Considerando o princípio, torna-se evidente que uma função de distância deve ser
alimentada por TC’s (correntes) e TP’s (tensões):
67F
Linha Protegida
SE A
67
N
21
67F
Linha Protegida
SE A
21F
21N
67N
Distância
Fase e Terra
Distância
Fase e
Distância
Terra
Figura 2.13 – A Proteção de Distância Necessita Dados dos TC’s e dos TP’s
Ajustes são realizados e aplicados de modo que os critérios de coordenação adotados
garantam os itens de seletividade e velocidade da proteção.
Como a impedância da linha protegida é conhecida, pode-se ajustar a proteção de modo
que para cada ponto de curto-circuito esperado se tenha um critério previamente inserido
na proteção, como parâmetro de desempenho esperado.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 29 de 145
2.4.2 Representação de Linha de Transmissão e de Ponto de Curto-Circuito em Diagrama
de Impedâncias
Uma impedância de linha de transmissão pode ser representada graficamente num
diagrama R-X, Na figura a seguir observa-se que o ângulo do vetor impedância da linha
está relacionado com a relação R-X dos parâmetros da linha:
Subestação B
Subestação C
Subestação B
Outro nível kV
T
ra
ns
fo
rm
a
do
r
S
E
B
LT
1
LT
2
Subestação A
Ponto de
Aplicação da
Proteção
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
Subestação D
(ATRÁS)
LT
3
FRENTE
SE A
230 kV
SE B SE CSE D
SE B
138 kV
FrenteAtrás
Figura 2.14 – Linha de Transmissão representada em diagrama R-X
O ângulo, que pode variar de 65 a 89 graus dependendo do tipo e nível de tensão da LT,
mostra que uma linha de transmissão aérea tem característica predominantemente
indutiva. Quanto maior o nível de tensão da linha, maior seu ângulo com relação ao eixo
dos R. Um transformador de potência é considerado puramente indutivo em Alta Tensão.
Mas para transformadores de distribuição deve-se considerar também a resistência.
Deve-se observar, também, que uma linha de cabos pode ter ângulos menores que os das
linhas aéreas.
Quando ocorre um curto-circuito na linha, a queda de tensão provocada pela corrente de
através da mesma é limitada por essa impedância. As tensões e correntes no ponto de
aplicação da proteção dependem, portanto, do “loop” de impedâncias formado através do
curto-circuito, podendo incluir o retorno por terra quanto de faltas à terra.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 30 de 145
Falta na Frente do Relé
ZFONTE
ZCC
ICC
UCCU Relé
CC
cc
CC Z
I
U
ZA
ICC TOTAL
SE A SE BZLT 1
Figura 2.15 – Curto circuito trifásico na linha e o “loop” de impedâncias
Assim, nos quadrantes do diagrama R-X pode-se ter:
Corrente Indutiva,
saindo da Barra
Corrente Indutiva,
chegando na Barra
Corrente Capacitiva,
saindo da Barra
Corrente Capacitiva,
chegando na Barra
R
jX
Figura 2.16 – Diagrama R-X e os quadrantes.
Quando de curtos-circuitos na linha, as correntes são sempre atrasadas com relação à
tensão. Assim, podem-se considerar os seguintes casos:
21F
Linha Protegida
SE A
21
N
Curto na Frente
Corrente Indutiva
Saindo da Barra.
IMPEDÂNCIA NO
PRIMEIRO
QUADRANTE
21F
Lina Protegida
SE A
21
N
Curto na Direção Reversa
Corrente Indutiva
Chegando na Barra.
IMPEDÂNCIA NO
QUARTO QUADRANTE
Figura 2.17– Direção da Corrente de Curto e os Quadrantes no Diagrama R-X
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 31 de 145
Verifica-se que a impedância medida é ZCC = UCC / ICC que é a impedância do ponto de
aplicação da proteção até o ponto de curto circuito, e que essa impedância pode ser
representada no diagrama R-X como mostra a figura a seguir:
Subestação B
Subestação C
LT
1
LT
2
Subestação A
Ponto de
Aplicação da
Proteção
jX
(
o
h
m
s)
R (ohms)
FRENTE
PONTO DE
CURTO-
CIRCUITO
Figura 2.18 – Indicação do ponto de curto-circuito no diagrama R-X
2.4.3 Requisitos Desejados para uma Função de Distância
Condição de curto-circuito na LT
A impedância série de uma linha de transmissão Z Linha = R + jX tem um ângulo
característico entre 65 e quase 88 graus, isto é, bastante indutivo. Daí o fato de se ter os
relés de distância concebidos com característica mais sensível nesta faixa de ângulo
(primeiro quadrante).
Se o relé de impedância estiver ajustado com um valor Zajustado maior do que o Zcc, o valor
medido cairia dentro de sua característica e o relé atuaria. Essa idéia está ilustrada na
figura a seguir:
Subestação B
Subestação C
LT
2
Subestação A
Ponto de
Aplicação da
Proteção
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
FRENTE
PONTO DE
CURTO-
CIRCUITO
Ajuste
(alcance) da
proteção de
distância da
Subestação A
Figura 2.19 – Indicação do Ajuste do Relé no diagrama R-X
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 32 de 145
Condição de carga na LT
A carga através da linha, saindo da barra da subestação A é indicada na figura a seguir.
Essa carga pode ser calculada através de:
MVA
kV
ZCARGA
2
ohms / fase.
Onde kV é a tensão de linha (entre fases) e o MVA é a potência aparente no ponto de
aplicação da proteção.
Subestação B
Subestação C
LT
2
Subestação A
Ponto de
Aplicação da
Proteção
jX
(
o
h
m
s)
R (ohms)
FRENTE
Ajuste
(alcance) da
proteção de
distância da
Subestação A
ZCARGA
PONTO DE
CARGA
Figura 2.20– Indicação do Ajuste do Relé no diagrama R-X
A figura anterior representa o ponto de carga (impedância da carga) com o seu ângulo ,
correspondente aofator de potência. Não se deseja que a proteção de distância atue
para condição de carga e também que permita as sobrecargas esperadas em
condições de emergência.
Verifica-se então que a proteção deve ser sensível para ângulos indutivos acentuados
(condição de curto-circuito na direção para frente) e não seja sensível para ângulos
indutivos pequenos (carga indutiva saindo da barra).
Condição de Curto-Circuito com Resistência de Falta (RF)
Por outro lado, os curtos-circuitos em linhas de transmissão estão, quase sempre,
associados a Resistências de Falta, que podem decorrer de:
Resistência de Arco (arco através da cadeia de isoladores ou entre fases).
Resistência de Pé de Torre (do sistema de aterramento das torres e seus cabos
guarda).
Resistência de Contato e Outras (árvore, água, rocha, etc.)
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 33 de 145
Uma resistência de falta RF é representada no diagrama R-X através de uma grandeza na
direção do eixo dos R, como mostra a figura a seguir:
Subestação B
Subestação C
LT
2
Subestação A
Ponto de
Aplicação da
Proteção
jX
(
o
hm
s)
R (ohms)
FRENTE
PONTO DE CURTO-CIRCUITO
RF
IMPEDÂNCIA VISTA PELO
PONTO DE APLICAÇÃO DA
PROTEÇÃO
Figura 2.21 – Indicação do Ajuste do Relé no diagrama R-X
A proteção de distância deve detectar essa impedância de curto-circuito considerando a
resistência de falta RF.
Conclui-se que a proteção deve ser sensível não apenas através do ângulo da linha, mas
também para ângulos menores que consideram a resistência, tomando-se o cuidado de
não alcançar a impedância de carga.
Subestação B
Subestação C
LT
2
Subestação A
Ponto de
Aplicação da
Proteção
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
FRENTE
ZCARGA
Figura 2.22 – Requisitos de Sensibilidade de uma Proteção de Distância
A figura mostra a região da carga, onde não deve haver alcance da proteção de distância.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 34 de 145
2.4.4 Características de impedância de uma proteção de distância
Baseado nos requisitos mostrados apresenta-se neste item as características mais comuns
utilizados para relés ou funções de distância:
Tais características são as pré-estabelecidas de impedância da função de distancia,
como resultado da concepção da proteção e seus ajustes e parâmetros.
Análise de característica circular para a função de distância
Se um dispositivo de impedância (21) é construído apenas para medir o módulo, sem
considerar o ângulo entre a tensão e a corrente, sua característica seria a mostrada na
figura a seguir:
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
FRENTE
ZCARGA
Figura 2.23 – Característica Circular para uma Proteção de Distância
Observa-se que esta característica apresenta a mesma sensibilidade (alcance em ohms)
para qualquer ângulo, seja de curto-circuito, seja de carga, o que não é conveniente para
uma proteção de distância.
E também detecta curtos-circuitos na direção reversa, isto é, não apresenta característica
direcional a menos que seja complementado por um elemento direcional semelhante ao
mostrado para a proteção 67.
Característica Mho
A figura a seguir mostra a chamada característica Mho para função de distância. Observa-
se que ela é inerentemente direcional, isto é, tem alcance apenas no sentido direcional. Ao
mesmo tempo, tem pouca sensibilidade para ângulos de carga (na direção do eixo dos X).
Essa característica Mho é muito utilizada, principalmente nos relés de distância
eletromecânicos e estáticos.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 35 de 145
Muitas proteções com tecnologia digital também apresentam opção de escolha de
característica deste tipo.
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
FRENTE
ZCARGA
Figura 2.24 – Característica MHO para uma Proteção de Distância
Característica Offset - Mho
A figura a seguir mostra a chamada característica Offset - Mho para função de distância.
Observa-se que ela é um Mho deslocado. Como tem parte de seu alcance na direção
reversa, exige um elemento direcional adicional.
Também é uma característica que era muito usada em algumas proteções de distância
eletromecânicas.
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
FRENTE
ZCARGA
Figura 2.25 – Característica OFFSET - MHO para uma Proteção de Distância
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 36 de 145
Esta característica permite que para R=0 e X=0 haja maior facilidade de discriminação de
direção do curto-circuito, o que poderia ser um problema para a característica Mho,
dependendo da concepção do elemento de medição da proteção (eletromecânica).
Outras Características
A figura a seguir mostra outros tipos de características, sempre com a preocupação de se
ter menos sensibilidade na região de carga, mas com sensibilidade suficiente para detectar
curtos com altas resistências de falta.
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
FRENTE
ZCARGA
jX
(
oh
m
s)
R (ohms)
FRENTE
ZCARGA
Lenticular Paralelograma
Figura 2.26 – Outros tipos de características
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 37 de 145
Características Típicas das Modernas Proteções Digitais
A seguir é mostrada a característica de trip do relé da série P437 da Areva:
Figura 2.27 – Características de trip do relé P437 da Areva
Observa-se que todos os requisitos desejados numa característica de alcance estão
satisfeitos.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 38 de 145
2.4.5 Característica Mho e Conceitos de Polarização
Historicamente e, principalmente para fabricantes americanos, a característica Mho para a
função de distância foi a mais utilizada para qualquer tecnologia, seja ela eletromecânica,
estática ou digital.
O presente capítulo detalha os conceitos associados à essa característica, principalmente
a característica dinâmica da mesma em função do tipo de polarização utilizado.
2.4.5.1 Concepção
A matemática e a característica de operação de um elemento mho são mostradas na
figura a seguir. Trata-se de um círculo passando pela origem num diagrama R-X. A
região de operação está dentro do círculo enquanto que região de “não operação” está
fora do círculo.
Como mostrado anteriormente, essa característica é feita no primeiro quadrante,
significando que a função está detectando faltas no sentido da barra para a linha, isto é,
sentido direcional. Um mho construído no terceiro quadrante seria de um elemento
olhando na direção reversa.
Observa-se que o elemento é inerentemente direcional, isto é, qualquer falta dentro do
círculo está no sentido direcional, uma vez que o círculo passa pela origem.
90o
Zaj
Zaj - Zmed
Zmed
jX
R
aj
med
Figura 2.28 – Característica Mho
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 39 de 145
Zmed = impedância medida com ângulo med
Zaj = impedância ajustada.com ângulo aj
A matemática da função Mho é tal que em qualquer ponto ao longo da circunferência
(limite de atuação), o ângulo entre (Zaj – Zmed) e Zmed é igual a 90º.
A função opera para qualquer Zmed onde o ângulo entre (Zaj – Zmed) e Zmed seja
INFERIOR a 90º.
Isto é:
Ângulo de [(Zaj – Zmed) / Zmed] = 90º
Para execução dessa matemática, deve-se recapitular o conceito de medião de
defasamentos angulares em relés de proteção, conforme se segue:
o901
2
2
1
1 )(
S
S
ang
V do TP
I do TC
-V + IZaj
V
Compa-
rador de
Fases
Decisão
S1
S2
Decisão:
o902 Se: Comparador Coseno
o1801 o1802 Se: Comparador Seno
OO
S
S
ang 90)(90
2
1 MHO;
Figura 2.29 – Comparador de Fases
A grandeza S1 é a de OPERAÇÃO..
A grandeza S2 é a chamada POLARIZAÇÃO.
Note que o comparador acima é característica Mho, pois, dividindo tudo por I:
MEDAJAJMEDAJ ZZZZ
I
ZI
I
S
.V
1
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 40 de 145
MEDZ
I
S
V
2
Ou
O
NED
MEDAJO
Z
ZZ
ang 90)(90
Isto é, basta um comparador de fases do tipo coseno e comparando as grandezas como
mostrado, tem-se a característica Mho. Isso pode ser feito em qualquer tecnologia, seja
eletromecânica, estática ou digital (software).
Para relés do tipo eletromecânico, quanto mais o ângulo med se aproximar do ângulo
então se terá maior torque positivo (dentro da característica), pois a decisão de operação
pode ser reescrita como:
)cos(.. AJmedAJZIV
)cos(. AJmedAJMED ZZ
Mas, conceitualmente, vale para qualquer tecnologia.
Portanto o ângulo aj é ajustado igual ou próximo ao valor do ângulo da LT protegida.
Isso faz com que a característica Mho tenha mais sensibilidade para ângulos de curto-
circuito e menos para ângulos de carga.
2.4.5.2 O Problema das Faltas Sólidas na Origem
Curtos-circuitos muito próximos resultam em uma tensão muito pequena no relé que
pode resultar na perda do sinal de polarização da tensão, dependendo do V utilizado.
Caso se perca a polarização, a função não terá como determinar se a falta está dentro ou
fora do Mho.
Isso precisa ser levado em consideração ao escolher a grandeza de polarização para a
função Mho.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 41 de 145
jX
R
CC1
CC2
CC1CC2
R
I
V
V = 0 S2 = 0 (Polarização pode desaparecer)
Figura 2.30 – Faltas Próximas e a Polarização
Por exemplo, se para um curto circuito na Fase A se utilizar VA e IA, então a tensão VA
pode desaparecer para curto circuito Fase A para Terra bem próxima ao terminal do relé.
O uso da própria tensão para a fase medida chama-se “auto-polarização”.
Evidentemente a autopolarização não é indicada para função de distância.
2.4.5.3 Polarização e Memória de Tensão
Assim sendo, deve-se construir função de distância (ou de qualquer elemento direcional)
com polarização adequada.
Mesmo com polarização adequada, a polarização pode desaparecer quando de um
curto-circuito trifásico rígido próximo ao terminal do relé. Neste caso, haverá necessidade
de se utilizar uma Memória de Tensão, isto é, uma tensão que persistirá para a função de
distância mesmo após o desaparecimento das tensões provenientes dos TPs.
Para linhas de tranmissão ajdacentes a linhas com compensação SÉRIE, ou para linhas
com compensação série, poderá haver Inversão de Tensão nos TP’s que alimentam a
proteção durante um curto circuito. Também neste caso haverá a necessidade da
Memória de Tensão para se garantir a direcionalidade.
Têm-se então as alternativas:
Polarização Dual: uso da prória tensão somada à tensão das fases boas. Por
exemplo para a Fase A: Va + Vbc
Polarização Cruzada ou 90 graus: uso da tensão das fases boas. Por exemplo para a
Fase A: Vbc
Polarização por Sequência Positiva. Para qualquer falta, com exceção de falta
trifásica rígida próxima, sempre haverá tensão de sequência postiva.
Memória de Tensão.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 42 de 145
A memória de tensão deve existir sempre para o caso de ocorrência de faltas trifásicas
próximas. Então, além da memória, utiliza-se uma das alternativas de polarização.
O que deve ser alterado então é a grandeza de polarização S2:
Auto-Polarização
VS 2
Polarização Dual:
BoasVkVS .2 Onde VBoas é a tensão das fases boas.
Polarização Cruzada:
BoasVkS .2 Onde VBoas é a tensão das fases boas
Polarização por Sequência Positiva
VS .2 Onde V+ é a tensão de sequência positiva da respectiva fase. Isto é:
Fase A: Va1
Fase B: Vb1
Fase C: Vc1
2.4.5.4 Característica Mho com Polarização Dual
MEDAJAJMED
AJ ZZZZ
I
ZI
I
S
.V
1
BOASkZZ
I
S
BOAS
2
k.VV
O
BOAS
MEDAJO
kZZ
ZZ
ang 90)(90
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 43 de 145
90o
Zaj Zaj - Zmed
Zmed
jX
R
aj
med
ZBoas
A
A’
Figura 2.31 – Expansão da Característica devido à Polarização Dual
Neste caso, uma falta na origem dos eixos permanece dentro da característica Mho
expandida, garantino a direcionalidade.
2.4.5.5 Característica Mho com Polarização por Sequência Positiva
MEDAJAJMED
AJ ZZZZ
I
ZI
I
S
.V
1
1
1
2
V
Z
I
S (depende de I, isto é local da falta)
Quanto mais próxima a falta, maior a I e menor o Z1.
OMEDAJO
Z
ZZ
ang 90)(90
1
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 44 de 145
90o
Zaj
Zaj - Zmed
Zmed
jX
R
aj
medA
A’
Z1
Figura 2.32 – Expansão da Característica devido à Polarização Por Seq. Positiva
O deslocamento é no sentido oposto para faltas a frente
Uma falta na origem dos eixos permanece dentro da característica Mho expandida,
garantino a direcionalidade.
Curto rígido próximo no sentido reverso
Caso a falta seja no sentido reverso e não no sentido direcional, a polarização atua no
sentido de deslocar o ponto A para o outro lado, devido à inversão da corrente. Assim, a
característica Mho tracejada no gráfico seguinte é o que vale, garantindo a não atuação
da função pois o ponto fica distante dá área de operação.
Zaj
jX
RA
A’
-Z1
Local da falta
Carac. Dinâmica
para Curto no
Sentido Reverso
Figura 2.33 – Característica para falta na direção reversa. Devido à Polarização Por Seq. Positiva
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 45 de 145
2.4.5.6 Característica Mho com Polarização por Memória
MEDAJAJMED
AJ ZZZZ
I
ZI
I
S
.V
1
MemZ
I
S Mem
2
V
(depende de I, isto é local da falta)
Mas essa ZMem é aproximadamente igual à impedância da fonte Zs no ponto de aplicação
do relé:
ZLT ZRZS
ES
ER
R
VMem
I
Figura 2.34 – Zs Impedância da Fonte no Sentido Reverso
O
S
MEDAJO
Z
ZZ
ang 90)(90
A característica dinâmica do Mho para faltas no sentido direcional será:
90o
Zaj
Zaj - Zmed
Zmed
jX
R
aj
med
ZS
A
A’
Figura 2.35 – Característica Dinâmica para Faltas à Frente – Polarização por Memória
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 46 de 145
Caso a falta seja reversa, o ponbto A’ será determinado por ZLT + ZR:
Zaj
jX
R
aj
ZLT + ZR
A
A’
Ponto de CC
Característica
Dinâmica
para Faltas
Reversas
Figura 2.35 – Característica Dinâmica para Faltas Reversas – Polarização por Memória
Isto é, para curtos rígidos próximos ao relé, desde que reversos, a característica Mho fica
bem afastada da origem, enquanto durar a memória.
2.4.6 Zonas de Alcance
Uma proteção de distância não possui apenas uma zona de alcance, como mostrado no
item anterior. Ela possui várias zonas, sendo que cada zona pode ser ajustada com seus
respectivos valores de alcance e tempo.
As figuras a seguir ilustram o caso de uma proteção com três zonas de alcance no sentido
direcional e uma zona de alcance não direcional.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 47 de 145
jX
(
o
hm
s)
R (ohms)
FRENTE
Zona 1
t = 0 s
Zona 2
t = 0,5 s
Zona 3
t = 1,5 s Zona 4
t = 3 s
ATRÁS
Figura 2.36 – Zonas de Alcance
Isto é, temporizando adequadamente cada zona de proteção, pode-se obter seletividade e
garantir uma proteção de retaguarda para faltas em outros componentes ou linhas
adjacentes.
Uma maneira simplificada de representar as zonas de alcance de uma proteção de
distância está mostrada na figura a seguir:
Zona 1
t = 0 s
Zona 2
t = 0,5 s
Zona 3
t = 1,5 s
Zona 4
t = 3 s
ATRÁS
SE A SE B SE CSE D
Figura 2.37 – Representação Simplificada das Zonas de Alcance
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃOFunções de Proteção 48 de 145
Ajustes de zonas e tempos
Ajustar um relé de impedância para cobrir uma determinada distância de uma linha de
transmissão não apresenta dificuldade pelo fato de se ter impedância da linha pré-
calculada, com muita precisão.
Assim, é comum ter-se elementos de distância ajustados em 80 %, 85 %, 120 %, 150 % ,
etc. da impedância total da Linha protegida, sendo estas porcentagens dependentes da
finalidade de cada um desses elementos.
Esta facilidade para um relé de distância se torna mais evidente quando se tenta ajustar,
por exemplo, e por sua vez, um relé de sobrecorrente. No caso de elemento de
sobrecorrente, o valor a ser ajustado dependerá do valor de corrente de curto-circuito pré-
calculado. Na prática, a corrente de curto-circuito poderá, no máximo ser aproximadamente
igual ao calculado. Entretanto, é comum ter-se correntes menores ou muito menores que o
previsto, em vista das impedâncias envolvidas caso a caso. Assim, para o caso de função
de sobrecorrente, nunca se terá garantia de precisão.
Devido a este aspecto (precisão), a função impedância (relé de distância) é a mais
utilizada para Proteção de Linhas.
J12,9
Primeira
zona
7 ohm
terra
3,5 ohm
fases
5 ohm
terra
4,0 ohm
fase
Segunda
Zona
j6
j8
Terceira
Zona
Partidaj14
6 ohm
terra
3 ohm
fase
Quarta
Zona
-j4,4
-j5,6
R
Gama
Delta
Beta
Alfa
Segunda
Zona
Figura 2.38 – Exemplo de Zonas de Alcance – Relé P437 da Areva
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 49 de 145
2.4.7 Loops de Medição de Falta em Relés de Distância
Um “loop” de medição falta é o circuito elétrico de onde a proteção de distância adquire
valores de corrente e tensão para medida de distância até a falta, comparando valores
medidos com os ajustes estabelecidos para a proteção. Uma proteção de distância mais
completa para linhas de EAT tem, geralmente, 6 “loops” de medição, conforme mostrado a
seguir.
2.4.7.1 Loops de Medição para Faltas entre Fases
São três loops de medição para faltas entre fases. Para que se meça corretamente a
distância para curtos trifásicos e bifásicos, sabendo-se que um curto bifásico no mesmo
ponto de um curto trifásico apresenta corrente
2
3 da corrente trifásica (86,67%), uma
proteção de distância (por exemplo, relé da série 7SA da Siemenws) utiliza medição de
tensão de linha ao invés de tensão de fase, para o loop de medição entre fases,
adotando as correntes:
(IA – IB) ao invés de IA e tensão (VA – VB)
ou (IB – IC) ao invés de IB e tensão (VB – VC)
ou (IC – IA) ao invés de IC e tensão (VC – VA)
Curto-circuito Trifásico
PROTEÇÃO
ZFONTE ZCC
EA
EB
VFASE = VLINHA / 1,732
ICC3F
CURTO
CIRCUITO
TRIFÁSICO
Modelo Matemático
(Sequência Positiva)
Figura 2.39 – Curto Trifásico e o Loop de Medição da Proteção
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 50 de 145
Do loop de falta para o diagrama anterior, tem-se em cada uma das fases:
VFASE = EA – ZFONTE.ICC3F
VFASE / ICC3F = ZCC ohms / fase
Mas como o relé utiliza corrente IA – IB ao invés de IA (uma fase), tem-se da mesma
expressão anterior:
VLINHA_AB / (1,732. ICC3F) = ZCC ohms / fase
VLINHA_AB =1,732. ICC3F. ZCC ohms / fase
VLINHA_AB = ICC3F_A – ICC3F_B . ZCC ohms / fase
CC
BFCCAFCC
ABLINHA Z
II
V
_3_3
_
ohms / fase
A impedância vista pelo relé é aquele da fase, no loop da falta.
Curto-circuito Bifásico
PROTEÇÃO
ZCC
ICC2F_A
CURTO
CIRCUITO
BIFÁSICO
I Fase
I Fase
ICC2F_B
VLINHA_AB
ZCC
Figura 2.40 – Curto Bifásico e o Loop de Medição da Proteção
A referência de corrente (+) é sempre saindo da barra.
VLINHA_AB = ICC2F_A. ZCC – ICC2F_B.ZCC
VLINHA_AB = ZCC ( ICC2F_A – ICC2F_B)
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 51 de 145
CC
BFCCAFCC
ABLINHA Z
II
V
_2_2
_
Observa-se que tomando a tensão de linha e a corrente (A-B) tem-se a impedância do
curto-circuito, como ocorre também no caso do curto trifásico. Percebe-se que:
ICC3F_A
ICC3F_C ICC3F_B
ICC3F_A - ICC3F_B = 1,732. ICC3F
Para Curto Trifásico se teria: Para Curto Trifásico se teria:
ICC2F_A
ICC2F_b
ICC2F_A - ICC2F_B = 2. ICC2F
Figura 2.41 – Lopp Fase-Fase para Curtos Bifásicos e Trifásicos
Para o relé, tem-se para as duas situações:
a) Para curto Trifásico: VLINHA e FCCI 3.3
b) Para curto Bifásico: VLINHA (o mesmo que no caso Trifásico) e
FCCFCCFCC III 332 .3
2
3
.2.2
Confirma-se que há o mesmo valor medido de impedância, tanto para curto bifásico
como para curto trifásico.
2.4.7.2 Loop de Medição para Curto-circuito Fase Terra
São três loops de medição de faltas à terra, um para cada fase.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 52 de 145
PROTEÇÃO
ZL
VFASE
ICCFT
CURTO
CIRCUITO
FASE-TERRA
I Fase
I Terra
ZTERRA
ITERRA
Figura 2.42 – Curto-circuito Fase-terra e o Loop de Medição da Proteção
A referência para a corrente (+) é sempre saindo da barra.
Para curto-circuito fase-terra rígido, como mostrado na figura, o loop envolve a fase
onde se localiza a falta.
VFASE = ICCFT . ZL - ITERRA . ZTERRA
Se a linha é radial e não há nenhuma contribuição para o curto circuito da outra
extremidade, ITERRA = ICCFT. Mas quando há contribuição do outro lado, na linha de
transmissão o ITERRA é diferente do ICCFT.
VFASE = ICCFT . ZL - ITERRA . ZL. (ZTERRA / ZL)
TERRA
L
TERRA
CCFT
FASE
L
I
Z
Z
I
V
Z
É a impedância do loop fase terra vista pelo relé.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 53 de 145
O relé de proteção não faz diretamente a medida VFASE/ICCFT. Ele faz o cálculo:
ZFASE-NEUTRO = VFASE / (ICCFT – k0.ITERRA) , comparando essa impedância com o ZL ajustado
no relé.
O fator k0 é chamado de compensação residual ou compensação de terra e é ajustável
no relé.
O relé medirá então:
TERRACCFT
TERRA
L
TERRA
CCFTL
NEUTROFASE IkI
I
Z
Z
IZ
Z
.
).(
0
Haverá uma correta medição de distância quando o k0 ajustado no relé for igual a
ZTERRA / ZL, e portanto ZFASE-NEUTRO = ZL.
Lembrar que, para um curto-circuito fase terra, em termos de componentes simétricos se
tem:
ICCFT = I1 + I2 + I0 e ITERRA = 3.I0
ZTERRA = (Z0-Z1) / 3
Considerações sobre o Fator de Compensação Residual
Alguns fabricantes chamam esse fator de kG e outros de kN. Deve-se observar que, na
realidade, k0 é um numero complexo (módulo e ângulo):
).(
1
10
0 .
.3
LTERRAj
L
TERRA
L
TERRA e
Z
Z
Z
ZZ
Z
Z
k
)/( TERRATERRATERRA RXArctg - Ângulo da impedância de terra
)/( LLL RXArctg - Ângulo da impedância da linha
VALORES TÍPICOS
Seq. (+) Seq. (0) Terra Ângulo
do k0
R + jX Ângulo R + jX Ângulo R + jX Ângulo
Ohms / km Graus Ohms / km Graus Ohms / km Graus Graus
440 kV (Aérea) 0,024 + j0,31 86 0,33 + j1,31 76 0,102 + j 0,334 73 -13
345 kV (Aérea) 0,016 + j0,29 87 0,23 + j0,92 76 0,070 + j0,209 72 -14
345 kV (Cabos) 0,014 + j0,25 87 0,07 + j0,07 45 0,019 – j 0,061 - 73 -160
230 kV (Aérea) 0,065 + j0,37 80 0,41 + j1,36 73 0,116 + j0,329 70 -10
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 54 de 145
Para relés eletromecânicos, somente o módulo do k0 é ajustado. Conseqüentemente há
desvios de medição. Somente com os relés estáticos tornou-se possível ajustar também
o ângulo do k0 . Entretanto, há relés estáticos que não apresentam esse recurso.
Os relés numéricos de tecnologia digital apresentam o recurso de se poder ajustar tanto
o módulo como o ângulo do k0. Dependendo do modelo / fabricante da proteção, pode
haver entrada de parâmetros separados para as partes resistivas e indutivas de Z1 = R1 +
jX1 e Z0 = R0 + jX0 com a proteção calculando o que for necessário, como RTERRA e
XTERRA .
2.4.8 Circuitos de Detecção de Falta (Partida)A finalidade de um circuito de detecção de falta (que alguns fabricantes chamam de
“partida”) é detectar e classificar os curtos-circuitos que ocorrem no sistema.
Ele precisa ser seletivo para a fase afetada, isto é, deve detectar as fases afetadas, não
partindo nas fases não afetadas. Isso é importante onde se utiliza religamento automático
monopolar.
A seleção correta das fases afetadas é importante também para algumas proteções
eletromecânicas ou estáticas do tipo “chaveado” (origem européia), isto é que possuem 1
ou 3 elementos de medida para 6 loops possíveis de medição e elementos de partida que
selecionam as grandezas para esses elementos. `
Um exemplo típico de proteção eletromecânica comutada de origem européia, com 1
elemento de medição são os relés LZ32 e L3WyaS da BBC que possuem 3 elementos de
partida por subimpedância e um elemento de partida por corrente residual, cada relé com 3
zonas de alcance direcionais, sendo a partida caracterizada como 4ª Zona não direcional.
Tradicionalmente os relés (eletromecânicos) de origem americana (GE e Westinghouse)
apresentam:
- ou um relé por zona de atuação, sendo cada relé com elementos para cada loop de
medição;
- ou um relé por fase, cada relé com 3 zonas de atuação.
Cada relé atua independente do outro. Tradicionalmente para curtos à terra utilizam relés
direcionais de sobrecorrente de terra com esquema de teleproteção. Relés de distância
para faltas à terra são menos utilizados. Assim, para relés tradicionais de origem
americana, o conceito de circuito de detecção de falta pode ser resumir à “corrente mínima
para atuação da proteção de distância”.
Para correta seleção de fases afetadas, deve-se evitar que o relé da fase afetada não
detecte incorretamente a falta na outra fase.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 55 de 145
2.4.8.1 Partida por Sobrecorrente (pura)
É o modo mais simples e rápido de detecção de falta. Utilizado para sistemas onde a
corrente de curto-circuito é muito maior que a corrente de carga (menor corrente de curto
maior que o dobro da carga).
Um exemplo de ajuste, para esse caso seria Ipartida = 1,3 x Imáx_carga para fase e Ipartida_terra =
0,5 x In_TC . Mas trata-se de um ajuste relativamente complexo, uma vez que todas as
contingências de carga devem ser levadas em consideração, ao mesmo tempo em que
se deve procura manter a sensibilidade para curto-circuito. A flexibilidade de ajuste é
limitada.
A sensibilidade pode ser obtida para faltas à terra pelo ajuste sensível de relé de terra,
mas fica ainda pendente a necessidade de se selecionar a fase em falta, o que pode não
ser possível com elemento de sobrecorrente de fase (menos sensível).
E para fases, curtos bifásicos devem ser considerados (menor corrente de fase) ao invés
de curtos trifásicos.
2.4.8.2 Partida por ( U )
Deve-se salientar que, para alguns fabricantes, o termo “partida por subimpedância” é
utilizado com significado diferente da “partida por subimpedância” de alguns outros
fabricantes. Aquele fabricante entende-se como partida por subimpedância um sistema
onde se tem “partida por subtensão supervisionado pela intensidade da corrente”,
conforme mostrado na figura a seguir:
Figura 2.43 – Característica de Partida U do relé P437 da Areva
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 56 de 145
UN
0,2
0,4
0,6
0,8UI>
I> I>>
1,0xIN 2,0xIN 3,0xIN
UI>>
Característica de Partida
U
Ajuste Típico:
I > = 0,25 IN
UI> = 70% de UN
I >> = 2,5 IN
UI>> = 90% de UN
U/UN
1,0
Figura 2.44 – Característica de Partida U de relé 7SA da Siemens
Para corrente inferior a I>, não há partida. Entre I> e I>>, quanto menor a corrente, menor
deve ser a tensão (subtensão) de partida.
Assim, não há partida para correntes pequenas em condições de carga (tensão entre
90% e 100%). A partir de I>>, há partida com tensão normal (partida por sobrecorrente).
A AREVA por exemplo, chama esse tipo de partida de “partida por subtensão e
sobrecorrente”, utilizando o termo “subimpedância” para a partida por característica de
impedância mostrado no parágrafo a seguir.
2.4.8.3 Partida por Impedância (ou Subimpedância)
Neste caso utiliza-se uma característica de impedância típica de proteção de distância
para distinguir entre condição de carga e condição de curto-circuito. Evidentemente deve-
se ter maior sensibilidade para ângulo de curto-circuito que para os ângulos de carga.
As figuras a seguir ilustram diversos tipos de característica de impedância de partida,
mostradas nos desenhos através de linhas cheias:
X
R
Característica
Off-set Mho
X
R
Característica
“Amendoim”
Carga Carga
X
R
Característica
Lenticular
Carga
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 57 de 145
X
R
Característica
Off-set Mho com
Blindagem
Carga
X
R
Característica
Quadrilateral
Carga
Figura 2.45 – Algumas Características de Partida por Subimpedância
O objetivo é ter alcance maior no sentido do eixo dos X para se ter sensibilidade para
detectar curtos remotos e ao mesmo tempo apresentar uma “banda” lateral para
acomodar resistências de falta como por exemplo à resistência de arco.
Por outro lado, quanto maior a área de Partida, maior a possibilidade de ocorrer partida
também nas fases não afetadas, para curto-circuito fase-terra. Essa partida em “fase boa”
afeta a seleção de fases para desligamento e religamento monopolar. Também neste
caso, a maior dificuldade se observa para característica off-set mho.
Para proteções numéricas, deve-se observar que para um relé de 6 loops (3 fase-fase e 3
fase-terra) e num curto-circuito fase-terra, os 5 loops restantes continuam medindo as
impedâncias:
TERRAA
NeutroA
TerraA IkI
V
Z
.0
_
_
(Fase em Falta)
TERRAB
NeutroB
TerraB IkI
V
Z
.0
_
_
(Fase Sã)
TERRAC
NeutroC
TerraC IkI
V
Z
.0
_
_
(Fase Sã)
BA
BA
BA II
VV
Z
_ (Loop A-B)
CB
CB
CB II
VV
Z
_ (Loop B-C)
AC
AC
AC II
VV
Z
_ (Loop C-A)
O mesmo ocorre para relés de terra (um por fase) do tipo americano tradicional.
Assim, alguns modelos de proteção (numérica ou estática) de distância apresentam
características otimizadas para ângulos de carga e para a região onde poderiam cair as
impedâncias medidas nas fases boas (loops), como mostrado na figura a seguir:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 58 de 145
Figura 2.46 – Exemplo de Característica de Partida Otimizada do relé P437 da AREVA
O objetivo, além de não detectar a carga, é permitir uma boa seleção de fases.
2.4.9 Considerações sobre a Resistência de Falta
2.4.9.1 Arco entre condutores ou através de isoladores
Num arco, a corrente e a tensão estão em fase [1], como mostra a figura a seguir. Assim,
o arco pode ser considerado como uma resistência no loop de medição da falta:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 59 de 145
Iarco
Uarco
Figura 2.47 – Corrente de Arco em fase com a Tensão de Arco
A tensão através do arco é trapezoidal e essa tensão é adicionada à queda de tensão
senoidal através da linha. A deformação da tensão é mais acentuada durante faltas com
arco próximas à proteção. Para relés digitais essa influência não apresenta preocupação
devido aos filtros digitais.
Resistência do Arco
Segundo Warrington [4], a resistência do arco pode ser estimada pela seguinte fórmula
empírica:
4,1__
.28700
ARCO
VentoSemARCO
I
R
ohms
Nota: a fórmula original está apresentada no sistema de medida Inglês. A fórmula acima é
resultado da conversão para o sistema métrico.
Por outro lado, segundo Ziegler [1], a resistência do arco pode ser estimada pela seguinte
fórmulaempírica:
ARCO
VentoSemARCO I
R
.2500
__ ohms
Onde:
= espaçamento (m) do isolador ou entre condutores
IARCO = corrente do arco em A
Influência do Vento
Com o vento, o arco se alonga. O comprimento do arco então, dependerá da velocidade
do vento e o tempo antes da interrupção.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 60 de 145
Vento
Arco Espaçamento
Condutor
Condutor
Espaçamento
Condutor
Condutor
Vento
Arco
Figura 2.48 – Arco e a influência do vento
Segundo Ziegler [1], a influência da velocidade do vento, no tempo, pode ser estimada
por:
)
..5
1.(__
ARCO
VentoSemARCOARCO
tv
RR
Onde:
v = velocidade do vento em m/s
t = tempo de duração do arco em s
IARCO = comprimento do arco em m
Trata-se do aproveitamento de uma fórmula de Warrington, adaptada por Ziegler. Note
que para uma primeira zona de atuação de uma proteção de distância, o tempo t na
fórmula acima pode ser considerado 0.
Exemplo de Cálculo
Vamos supor um arco de 6 m de extensão (com vento de 3 m/s, o que equivale a 10,8
km/h) no sistema 440 kV, com corrente de 4.000 A.
Segundo Ziegler Segundo Warrington
Ohms primários Ohms primários
Para primeira zona (t = 0 s) 3,75 1,56
Para segunda zona (t = 0,5 s) 3,75 x 2,25 = 8,4 1,56 x 2,25 = 3,51
Para terceira zona (t = 1,0 s) 3,75 x 3,5 = 13,1 1,56 x 3,5 = 5,46
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 61 de 145
Avaliação da Resistência de Arco
A tensão através do arco, numa primeira aproximação, é sempre constante [1] ou decai
em função da corrente elevada a um fator [4]. A resistência do arco, portanto, não é
constante.
Na representação de um curto-circuito com arco, obtém-se melhor aproximação quando
se despreza a dependência da corrente num primeiro enfoque, considerando a tensão
de arco constante, ao invés de considerar uma resistência de arco fixa:
UARCOURELÉ
IRELÉ IB
ZFA
ZFBZL Z’L
EA EB
Figura 2.49 – Avaliação da resistência de arco.
URELÉ = IRELÉ x ZL + UARCO
ZRELÉ = URELÉ / IRELÉ = ZL + UARCO / IRELÉ
Verifica-se que a resistência de arco aparente (UARCO / IRELÉ) independe da corrente da
outra extremidade da LT (o que não seria verdadeiro se fosse considerada uma
resistência fixa).
Assim, uma melhor aproximação se obtém quando se considera tensão do arco
constante por unidade de comprimento [1]. E resultado é mais conservador em
termos de ajustes da proteção.
Para verificação de ajuste de relé, recomenda-se adotar então a fórmula de Ziegler tanto
para a primeira zona como também para considerar a influência do vento no tempo
(segunda e terceira zonas) com valor ôhmico considerado como (UARCO / IRELÉ) com
tensão fixa e não uma resistência fixa
2.4.9.2 Resistência de Pé de Torre
Muitas das faltas em linhas aéreas de transmissão resultam de “flash-over” nos
isoladores. A corrente de curto-circuito, neste caso, flui do condutor para a estrutura da
torre e daí para a terra. Nessas condições a resistência de pé de torre está em série com
a resistência do arco.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 62 de 145
Em linhas com cabo guarda aterrado em todas as torres, a corrente flui através de vários
aterramentos em paralelo (resistências de pé de torre em paralelo). Isso significa na
prática que, para essas linhas, o valor efetivo da resistência de falta é pequeno.
A [bibliografia (1)] mostra uma fórmula de cálculo (aproximada) dessa resistência de pé de
torre que leva em consideração vários aterramentos em paralelo:
2
.
....
2
1 CGj
TCGPTEFETIVO eZRZ
22
CGCGCG XRZ )/( CGCGCG RXArctg
Onde:
RPT = Resistência de Pé de Torre médio da LT (ohms)
RCG = Resistência do Cabo Guarda (ohms/km)
XCG = Reatância do Cabo Guarda (ohms/km)
T = distância média do vão da LT (km)
Exemplo de Cálculo
Para RPT = 20 ohms, RCG = 0,234 ohms/km, XCG = 0,748 ohms/km e lT = 230 m (0,23 km),
tem-se:
56,0.76,0.95,0230,0784,020
2
1 3,36.6,72. jexexxZ
oo jj
EFETIVO ohms
É aparente então que a resistência efetiva do pé de torre é muito pequena (desprezível)
para cabo guarda em boas condições e aterrado em todas as torres.
Observa-se também que não é pura resistência, tendo parcela indutiva devido aos cabos
guarda que conduzem corrente de terra.
Isso introduz uma reatância adicional. Para se ter uma ordem de grandeza, deve-se
mencionar que j.0,56 ohms correspondem à cerca de 2,0 km em linha de transmissão de
345 kV. Isso significa 20% em 10 km, 3,33% em 60 km ou 2% em 100 km de linha.
Considerações Quanto à Resistência de Pé de Torre
A resistência de pé de torre, geralmente estimada no seu valor médio em 20 ohms em
cada pé de torre (valor conservador) só deve ser considerada diretamente como
resistência de falta para linhas sem cabo guarda aterrado em todas as torres.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 63 de 145
Para linhas com cabo guarda aterrado em todas as torres (o que é o caso das linhas
500, 440, 345 e 230 kV da rede básica), o valor resistivo torna-se pequeno porém
aparece uma reatância indutiva devido às características R + jX do cabo guarda. Essa
reatância indutiva adicional pode ter influência no desempenho do relé (alcance) para
linhas curtas e para contribuições proporcionalmente elevada de corrente da outra
extremidade da linha, para o curto circuito medido pelo relé. Deve-se observar,
entretanto, que essa dificuldade é superada com o adequado uso de esquema de
teleproteção.
2.4.10 Resistências de Falta Devido a Objetos ou Vegetação
Essas são as maiores resistências de faltas (a terra) que podem ocorrem em uma LT.
Valores de centenas de ohms primários não são raros. Observações recentes mostram
resistênicas de falta (árvore) da ordem de 600 a 800 ohms, com a corrente terra
inicialmente muito pequena, se elevando de dezenas de A até cerca de 200 a 300 A que é
o limite mínimo de ajuste, por exemplo de uma proteção direcional de terra para linhas de
EAT.
2.4.11 Impedância Aparente Medida pela Função de Distância
Pode-se utilizar a seguinte expressão para a avaliação aproximada da impedância medida
pela função de distância de uma extremidade de LT não radial, em função de uma
resistência de falta Rf, para um curto-circuito fase-terra na Fase A:
Rf
I
If
ZmRf
InkIa
InIn
Zm
InkIa
Va
Zapp LL ).(.).
.0
'
(.
.0
Zapp = impedância aparente medida pelo relé
m.ZL = impedância da linha desde o terminal até o ponto de curto-circuito.
In = corrente de terra medida no terminal.
In’= corrente de terra medida no terminal oposto da LT.
If = In + In’ = corrente total de falta
Ia = corrente da fase, medida no terminal.
Rf = resistência de falta.
Note que (If/I).Rf é um número complexo, portanto tem ângulo que pode ser negativo ou
positivo.
Essa expressão é baseada no cálculo das malhas fechadas fase-terra, considerando as
correntes das duas extremidades da LT. É claro que essas correntes dependem dos
ângulos das impedâncias fontes equivalentes nas duas extremidades da LT. No caso de
LT radial, não haverá In’ e Ia = In. Então para terminal de LT radial:
01
.
.0 k
Rf
Zm
InkIa
Va
Zapp L
Essas impedâncias devido à resistência de falta podem ser mostradas na figura a seguir:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 64 de 145
jX
R
Zapp
Zapp
M • ZL
M • ZL
(IF/I) • RF
(IF/I) • RF
Note que é introduzido um erro no alcance reativo (jX) para mais ou para menos
dependendo do ângulo de (IF/I).
2.4.12 Consideração sobre Circuitos Paralelos
Quando circuitos de linhas de transmissão percorrem trechos paralelos, existirá um
acoplamento indutivo mútuo entre os circuitos.
Para linhas transpostas ou geometricamente equilibradas, os efeitos nas sequências
positiva e negativapodem ser desprezados (reatâncias mútuas inferiores a 5%).
O efeito torna-se significativo apenas quando de correntes para terra, quando há
acoplamento mútuo para correntes de sequência zero (que não apresentam defasamento
entre as fases).
Para efeitos práticos, todos os acoplamentos mútuos de sequência zero para circuitos de
linhas que estejam na mesma estrutura, para linhas médias e longas, devem ser
considerados. Lembrar que ITERRA = 3. I0.
A impedância mútua de sequencia zero depende das características geométricas da linha
de transmissão e da existência ou não de cabos guarda. Programas de cálculo de
parâmetros de linha de transmissão calculam essas impedâncias.
A corrente de sequência zero de um circuito induz tensão no outro circuito e vice-versa. A
figura a seguir ilustra o conceito:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 65 de 145
Z0_L1
Z0_L2
Z0M
I0_L1
I0_L2
A B
C D
Figura 2.50 – Acoplamento Mútuo de Seqüência Zero em circuitos paralelos de LT’s
U0_AB = I0_L1.Z0_L1 + I0_L2.Z0M
U0_CD = I0_L2.Z0_L2 + I0_L1.Z0M
2.4.12.1 Influência do Acoplamento Mútuo de Sequência Zero Na
Medida de Distância
A influência depende da configuração do sistema elétrico. Os seguintes aspectos gerais
podem ser colocados:
erro de medição é positivo (a impedância medida é maior do que a impedância
de fato, sem considerar a mútua) caracterizando um caso de subalcance,
quando a corrente de terra nos dois circuitos têm a mesma direção.
erro de medição é negativo (a impedância medida é menor do que a impedância
de fato, sem considerar a mútua) caracterizando um caso de sobrealcance,
quando a corrente de terra nos dois circuitos são opostos.
A tensão fase-neutro na proteção, para um curto-circuito fase-terra e considerando a
existência do acoplamento mútuo pode ser expressa [1] por:
).
.3
..( __
1
0
1
1 ParaleloCircTERRA
L
M
TERRA
L
TERRA
FASELA I
Z
Z
I
Z
Z
IZU
E a impedância medida pelo relé será:
TERRAFASE
ParaleloCircTERRA
L
M
TERRA
L
TERRA
FASEL
TERRAFASE
A
A IkI
I
Z
Z
I
Z
Z
IZ
IkI
U
Z
.
).
.3
..(
. 0
__
1
0
1
1
0
Ajustando-se o k0 no relé de tal modo que k0 = ZTERRA/ZL, tem-se:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 66 de 145
)
.
.
.3
1.(
1
__
1
0
1
TERRA
L
TERRA
FASE
ParaleloCircTERRA
L
M
LA
I
Z
Z
I
I
Z
Z
ZZ
A segunda parcela dentro do parêntesis é o erro de medição devido à mútua de
sequência zero.
Para linha radial
Para um curto no fim da linha e radial, ITERRA_Circ_Paralelo = ITERRA e IFASE = ITERRA. Nessas
condições:
)
1
1.(
0
0
1 k
k
ZZ M
LA
onde
L
M
M Z
Z
k
1
0
0 .3
e
L
TERRA
Z
Z
k 0
E o erro de impedância Z pode ser expresso por: )
1
.(
0
0
k
k
ZZ M
L
Caso de circuito duplo alimentado por uma extremidade (radial)
A figura a seguir mostra um circuito duplo alimentado por uma extremidade, com curto
fase-terra ocorrendo a uma distância x da barra A:
IFASE2+ITERRA2
A B
IFASE1+ITERRA1
IFASE2+ITERRA2
IFASE2+ITERRA2
Z2
Z1
L - xx
L
Figura 2.51 – Curto-circuito fase-terra em linha radial de circuito duplo
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 67 de 145
Como a linha é radial, IFASE1 = ITERRA1 , IFASE2 = ITERRA2 e
x
x
II TERRATERRA
.2
.12
Nessas condições, os relés Z1 e Z2 medirão:
L
E
L
M
LLRELE
Z
Z
x
x
Z
Z
Z
x
Z
x
Z
1
2
.
.3
..
0
1
L
E
L
M
LRELE
Z
Z
Z
Z
x
ZxZ
1
.3
.
)..2(
0
2
onde as segundas parcelas são os erros de medição devido à mútua. O maior erro de
medição ocorre para os dois relés, com a falta se localizando na Barra B, quando x = .
Para efeito de ilustração, a [bibliografia (3)] mostra um exemplo de linha de 400 kV, com
valores típicos de impedâncias de sequência positiva, negativa e zero, com:
86,0
L
E
Z
Z e 65,00
L
M
Z
Z
O erro, no exemplo, chega a um máximo de 35% da impedância da LT para curto na
barra B (a impedância medida é maior que a impedância da LT). A figura a seguir ilustra
o caso mencionado.
100%
150%
200%
50%
1,00,80,60,40,20
85% Z1
Z2
Z/ZL
x, l
Relé Z1
Relé Z2
Figura 2.52 – Influência do acoplamento mútuo de seqüência zero para curto-circuito fase-terra em
linha radial de circuito duplo
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 68 de 145
Para um curto circuito a 70% do primeiro circuito, a impedância vista equivale a 85%.
Para um curto a 100%, a impedância vista equivaleria a 135% (para o exemplo numérico
mostrado na bibliografia), o que impediria a atuação em segunda zona, se ajustado para
120%.
Caso de circuito duplo alimentado por duas extremidades
A figura a seguir mostra um circuito duplo alimentado pelas duas extremidades, com curto
fase-terra ocorrendo próximo à barra B (ponto �). Para fins de ilustração, é considerado o
mesmo sistema exemplo anterior de sistema 400 kV mostrada na [bibliografia (3)]:
A B
IA IB
20
10
30
40
20
10
30
40
%
Erro de Medição
X
(subalcance)
X
(sobrealcance)
localização real da falta
localização aparente da falta
Fase-Terra
1,0
0,5
1
2
3
Caso 1 = Circuito Duplo Radial
Caso 2 = Circuito Duplo Não Radial com IA = IB
Caso 3 = Circuito Duplo Não Radial com IB = 5.IA
Figura 2.53 – Influência do acoplamento mútuo de seqüência zero para curto-circuito fase-terra em
circuito duplo alimentado por duas exptremidades
O caso 1 é o anterior (linha radial). Para o relé em A, há erro de cerca de 35% (para o
exemplo dado, não significando que ocorra sempre) na impedância devido ao acoplamento
mútuo, para curto em B (a impedância medida é maior que realmente é, configurando sub-
alcance da proteção).
Os casos 2 e 3 mostram a influência da corrente do sistema elétrico do lado da Barra B.
Verifica-se que o relé em A pode medir uma impedância maior do que realmente é (sub-
alcance), ou menor do que realmente é (sobre-alcance), também nesse caso chegando a
35% pelo exemplo dado, para curto na barra B.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 69 de 145
Analisando, como exemplo, o caso específico de uma LT real de EAT, de circuito duplo,
com 384 km de extensão, tem-se:
4,15
0 022,1 eZ
Zk
L
E , 77,7
0 003,21 ek e
7,180 88,0
.3
e
Z
Z
L
M .
9,10
77,7
7,18
439,0.)
003,2
88,0
.(
eZ
e
e
ZZ LL
Neste caso o erro pode chegar a 44%. Isto é, para que o relé da extremidade A dessa LT
detecte um curto na barra da extremidade B, seu ajuste deverá cobrir pelo menos 143,9%
da LT.
2.4.12.2 Influência da Configuração do Circuito Duplo na Influência da
Mútua de Sequência Zero
Também devem ser verificados os casos em que o segundo circuito encontra-se fora ou
aberto:
A B3.I0_Circ2
ICCFT
Proteção
Subalcance (erro pode
chegar a mais de 20%)
A B3.I0_Circ2
ICCFT
Proteção
Sobrealcance (erro
pode chegar a mais de
20%)
A B3.I0_Circ2
ICCFT
Proteção
Sobrealcance (erro em
torno de 10%)
Figura 2.54 – Influência da configuração do circuito duplo no acoplamento mútuo de seq. Zero
O segundo caso acima (sobrealcance) não prejudica a proteção. Aumenta a sensibilidade
quando desejável.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 70 de 145
O terceiro caso acima (sobrealcance) pode influir no alcance da primeira zona, mas a
margem de 15% (ajuste de 85%) pode resolver parte dos casos.
2.4.12.3 Compensação para Circuitos Paralelos nos Relés de Proteção
Dada a equação (mostrada anteriormente):
TERRAFASE
ParaleloCircTERRA
L
M
TERRA
L
TERRA
FASEL
TERRAFASE
A
A IkI
I
Z
Z
I
Z
Z
IZ
IkI
U
Z
.
).
.3
..(
. 0
__
1
0
1
1
0
Do ponto de vista construtivodo relé de proteção, verifica-se que se o termo:
ParaleloCircTERRAM Ik __0 .
for adicionado ao denominador, ter-se-ia:
ParaleloCircTERRAMTERRAFASE
ParaleloCircTERRA
L
M
TERRA
L
TERRA
FASEL
A IkIkI
I
Z
Z
I
Z
Z
IZ
Z
__00
__
1
0
1
1
..
).
.3
..(
E ajustando-se no relé:
L
TERRA
Z
Z
k 0 e ParaleloCircTERRA
L
M
M I
Z
Z
k __
1
0
0 .
.3
Ter-se-ia: LA ZZ 1 e a proteção mediria corretamente a distância, com a mútua.
O fator k0M chama-se Fator de Compensação de Mútua de Sequencia Zero. O relé do
circuito teria que medir a corrente de terra (3.I0) do outro circuito e vice versa. O
procedimento mostrado chama-se “Compensação de linha paralela”.
Para esse relé, a equação seria:
ParaleloCircTERRAMTERRAFASE
A
A IkIkI
U
Z
__00 ..
Para relés eletromecânicos, a influência da corrente de terra do circuito paralelo era
implementada utilizando-se transformadores auxiliares nos circuitos de corrente residual.
As modernas proteções numéricas de tecnologia digital microprocessada possuem
entradas específicas para a corrente residual do circuito paralelo.
Balanço de Corrente de Terra
Com a compensação de linha paralela, ocorre que:
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 71 de 145
A proteção do circuito (1) em falta mede corretamente a distância devido à compensação.
Entretanto, a proteção do outro circuito (2) que não está em falta enxergará uma
impedância muito pequena, como se o curto-circuito tivesse ocorrido no próprio
circuito.
Isso porque, a elevada corrente no circuito (1) entra pelo circuito de compensação de
mútua na proteção do circuito (2) que apresenta erro acentuado de medição.
A figura a seguir ilustra o caso, para linha de circuito duplo radial (exemplo anterior):
100%
150%
200%
50%
1,00,80,60,40,20
85%
Z
x, l
100%
150%
200%
50%
1,00,80,60,40,20
85% Z1
Z2
Z
x, l
Relé Z1
Relé Z2
Relé Z2
Relé Z1
x
x
I
I
TERRA
TERRA
.2
2
1
Com compensação de
linha paralela
Sem compensação de
linha paralela
Figura 2.55 – Influência da configuração do circuito duplo no acoplamento mútuo de seq. zero
Isto é, no exemplo (apenas ilustrativo), para um curto circuito a 55% do circuito (1), o relé
Z2 do circuito (2) enxergará o mesmo como se fosse a 85% do seu circuito. Qualquer
outro curto circuito entre 0 e 55% do circuito (2), o relé do circuito (2) enxergaria como se
fosse na sua primeira zona. E isso é um problema de fato para a proteção.
Apenas a partir de um determinado valor ITERRA1 / ITERRA2, quando a corrente de curto no
circuito 1 tornar-se proporcionalmente menor, é que o relé Z2 do circuito (2) deixaria de
ver o curto no outro circuito na sua zona 1.
Assim, os circuitos de compensação de linha paralela nos relés numéricos têm um
ajuste que permite bloquear a compensação quando a corrente no circuito em falta
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 72 de 145
excede, em determinada relação, a corrente do circuito paralelo (circuito não
afetado). Isso se chama “balanço de corrente de terra” (ajustável no relé).
No exemplo acima, o ajuste (típico) seria bloquear a compensação para x/l 1,35.
Circuitos de Compensação para a Proteção
Segundo o autor [1], os seguintes aspectos podem ser destacados quanto à aplicação da
compensação de mútua:
A compensação pode ser usada apenas quando o circuito duplo está entre duas
subestações.
A compensação, de qualquer modo, é recomendada para localizadores de defeitos
em circuitos paralelos.
Para proteções de distância, a compensação é usualmente implementada apenas em
casos difíceis, onde os ajustes em si e a teleproteção não puderem resolver o problema
do erro devido à mútua. Seriam casos de proteção de retaguarda remota por essas
proteções de distância (por exemplo, proteção remota de linha curta que se segue a um
circuito duplo).
2.4.13 Diretrizes de Ajustes para a Função de Distância
Este item tem a finalidade de apresentar diretrizes básicas, comum às proteções de
distância de linhas de transmissão de AT e EAT. Vários tipos de proteção de distância são
utilizados nos sistemas de transmissão:
Proteções Eletromecânicas
Proteções Estáticas
Proteções Digitais
A proteções eletromecânicas e estáticas podem ser classificadas quanto à configuração
utilizada:
Proteções de distância com um relé por fase e por zona de atuação e temporizadores
respectivos. Proteções de distância específicas para faltas entre fases (21F) e para
faltas à terra (21N). Trata-se, geralmente, de filosofia americana de proteção de linhas.
Proteções de distância com um relé por várias zonas de atuação para todos os tipos de
falta (21F+21N), ou eventualmente proteções específicas para faltas entre fases (21F)
e faltas à terra (21N). Esses relés podem ter medição específica para cada zona de
atuação ou ter uma medição apenas (comutada) para todas as zonas. Trata-se,
geralmente, de filosofia européia de proteção de linhas.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 73 de 145
As recentes proteções numéricas de tecnologia digital microprocessada já apresentam
característica multifuncional, isto é, apresentam várias funções de proteção,
monitoramento e supervisão em um único conjunto de hardware. E para funções de
proteção, apresentam muitas outras, além da função de distância propriamente dita.
As diretrizes aqui apresentadas procuram ser, na medida do possível, independentes da
tecnologia e configuração. Casos específicos são citados em cada item.
2.4.13.1 Avaliação da Carga Através da Linha Protegida
A proteção não pode detectar condição de carga, sem falta na linha de transmissão, com
o sistema mantendo a estabilidade, mesmo em caso de sobrecarga ou contingência
admissível.
Diretriz
De um modo geral, inicia-se adotando o enfoque mais conservador que é o limite de
transporte da linha de transmissão, para a impedância de carga ou corrente máxima de
fase vista pelo relé.
Com este valor, verifica-se se a proteção mantém a sensibilidade desejada para as zonas
de alcance, com bastatne margem, segundo critérios mostrados nos parágrafos
subsequentes. No caso da sensibilidade ser menor que a desejada, adotar o critério da
carga máxima prevista por estudos operacionais.
2.4.13.2 Elementos ou Lógicas de Detecção de Faltas (Partida)
Todas as funções ou proteções de distância possuem elementos ou lógicas que
detectam faltas e permitem tanto o início da medição da falta como a seleção da(s)
fase(s) defeituosa(s).
Alguns fabricantes chamam esse elemento ou lógica de “partida”. Vários tipos de
elementos ou lógicas podem ser utilizadas, dependendo do tipo do relé empregado.
a) Detecção por sobrecorrente
A proteção deve detectar todo tipo de curto-circuito entre fases que sejam superiores
à corrente de carga, não apenas na linha protegida, como também em todas as suas
zonas de proteção, na medida do possível.
Diretrizes
Corrente Mínima para Proteções de Distância de Fase (21F)
Ajustar em torno do dobro do valor de carga máxima prevista pelos estudos
operacionais, ou alternativamente, cerca de 10% superior à capacidade de transporte
da linha.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 74 de 145
Verificar se o ajuste permite detectar curtos-circuitos em todas as zonas previstas de
atuação da proteção. Caso isso não ocorra, adotar critério menos conservador ou se
ainda não satisfatório, buscar solução de compromisso com riscos calculados e
assumidos.
Lembrar que, dependendo do tipo de proteção empregada, esse elemento ou lógica
serve também para seleção das fases em falta, importante para correta medição, se
houver.
No caso de haver escolha do valor dentro de uma solução de compromisso com os
riscos calculadosuniformemente distribuído.
Esse TC é também conhecido como do tipo Bucha.
A bitola do cabo primário é grande para suportar alta corrente primária e construtivamente,
é impraticável se fazer espiras no núcleo magnético do TC. Assim, o primário é
praticamente uma barra que transpassa o núcleo do TC, conforme mostrado na figura a
seguir:
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 18 de 58
I1
I2
Bobinas de Corrente
Reles de Proteção
Figura 2-7 - TC de Baixa Reatância de Dispersão
O secundário é enrolado com muitas espiras para produzir o máximo acoplamento
possível, diminuindo consideravelmente a reatância de dispersão.
O TC da baixa reatância é conhecido como:
Tipo B, pela antiga ABNT (B de baixa reatância)
Tipo L, pela antiga ANSI (L de Low)
2.7.3 Classe de Exatidão segundo ANSI
Pela ANSI, define-se o erro do TC pela limitação da máxima tensão que pode aparecer no
seu secundário devido à máxima corrente de curto circuito, considerando-se o seu fator de
sobrecorrente.
É a máxima tensão que pode aparecer no secundário do TC para uma corrente no primário
de 20 vezes a sua corrente nominal primária (fator de sobrecorrente é sempre considerado
igual a 20) sem que o erro ultrapasse 2,5% ou 10%.
Na figura a seguir são mostradas as combinações possíveis das classes de exatidão dos
TC´s, segundo a antiga ANSI:
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 19 de 58
2,5 ou 10
L ou H
10, 20, 50, 100, 200, 400 ou 800
Figura 2-8 - Classe de Exatidão segundo antiga ANSI
Um TC 10H800 significava:
10 - erro admissível da sua classe de precisão de 10%
H - TC de alta reatância (H=high)
800 - tensão máxima no secundário do TC para que o erro devido à saturação do
núcleo do TC não ultrapasse 10% para uma corrente de curto circuito máxima
limitado pelo fator de sobrecorrente.
Carga no Secundário do TC
É a máxima carga que se pode ligar no secundário do TC de forma a não ultrapassar a
tensão máxima dada pela sua classe de exatidão.
Vmax
I1
5
Zcarga
I2
I1maxcurtocircuito = 20 I1
Figura 2-9 - Carga no Secundário do TC
Temos que Vmax = Zcarga . I2
Para a condição de máxima corrente de curto circuito com fator de sobrecorrente 20, I2 =
20 x 5 = 100 A
Portanto, Zcarga = Vmax / 100
Considerando o TC do exemplo anterior (10H800), temos:
Vmax = 800 V
I2 = 100 A
Zcarga = 800 / 100 = 8 Ω
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 20 de 58
Portanto, para um TC classe 10H800, a máxima carga que poder-se-ia conectar em seu
secundário para garantir a sua classe de exatidão é de 8 Ω (para corrente simétrica).
Nesse valor de 8 Ω estão incluídas as impedâncias dos reles de proteção, da cablagem,
enfim, toda a impedância que será conectada em série com o secundário do TC.
Denominação ANSI Atual
Atualmente, a ANSI não normaliza mais a classe 2,5 (apenas a classe 10) e substituiu as
letras L (Low) por C (Calculated) e a letra H (High) por T (Tested).
Assim, na moderna denominação ANSI, teríamos a seguinte situação:
2,5 L 400 --> não há mais esta denominação. Passa a ser --> 10 C 400.
10 H 200 --> passa a ser --> 10T200.
2.7.4 Classe de Exatidão segundo ABNT
ABNT - EB - 251 (Antiga)
A ABNT (EB - 251) define a classe de exatidão de um TC como sendo a máxima potência
aparente (VA) consumida pela carga conectada no seu secundário, para uma corrente
nominal secundária de 5 A.
É a máxima potência aparente (VA) que se pode conectar em regime permanente no
secundário do TC para que com a máxima corrente de curto circuito, limitado pelo seu fator
de sobrecorrente, o seu erro não ultrapasse o definido na sua classe de precisão.
Na figura a seguir são apresentadas as combinações possíveis das classes de exatidão
segundo a ABNT:
2,5 ou 10
5 - 10 - 15 ou 20
12,5 - 25 - 50 - 100 - 200 - 400 ou 800
F C
A ou B
Figura 2-10 - Classe de Exatidão segundo ABNT
Um TC A10F20C100 significava:
A - TC de alta reatância
10 - erro admissível da sua classe de precisão de 10%
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 21 de 58
F - fator de sobrecorrente
20 - 20 vezes a corrente nominal (no secundário, 20 x 5 A = 100 A)
C - carga no secundário do TC em VA para corrente nominal de 5 A do TC
100 - 100 VA, carga no TC para uma corrente nominal secundária do TC de 5 A
Carga no Secundário do TC
Consideremos a figura abaixo:
Vcarga
I1
5
Scarga
I2 = 5 A
Figura 2-11 - Classe de Exatidão (VA) segundo ABNT
Temos que:
Scarga = Vcarga . I2 = Zcarga . I2 . I2
Scarga = Zcarga . 5 .5 = 25 . Zcarga
Zcarga = Scarga / 25
ABNT - NBR 6856 (nova)
A NBR 6856 alterou a indicação das classes de exatidão para serviço de proteção, onde a
carga é indicada pela tensão que aparece nos terminais do TC com 20 vezes a corrente
secundária e carga nominal, ou seja, o mesmo critério adotado pela ANSI C57.13.
Desse modo, em um TC, o núcleo de serviço para proteção, classe de exatidão 10 de alta
impedância, com corrente secundária 5 A e com carga nominal C25, é designado por
10A100. Na norma brasileira anterior, a EB-251, essa mesma classe de exatidão era
designada por A10F20C25, sendo que na nova norma, o fator de sobrecorrente é
considerado sempre igual a 20.
Na versão mais recente da ABNT, os TC´s para serviço de proteção devem ser
enquadrados em uma das seguintes classes de exatidão:
5 (erro percentual até 5%) ou
10 (erro percentual até 10%)
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 22 de 58
Os TC´s para serviço de proteção das classes A e B devem estar dentro de sua classe de
exatidão para as tensões secundárias nominais e as cargas respectivas especificadas. O
erro de corrente deve ser limitado ao valor especificado, para qualquer valor de corrente
secundária desde uma a 20 vezes a corrente nominal e com qualquer carga igual ou
inferior à nominal.
Por exemplo, a designação 10B200 significa que o TC é de baixa reatância e que o erro de
corrente não excede 10%, para qualquer corrente variando de uma a 20 vezes a corrente
nominal, desde que a carga não exceda 2 Ω . (2 Ω x 5A x 20 vezes = 200 V)
2.7.5 Classe de Exatidão Equivalente em ANSI e ABNT
Dos itens anteriores, temos:
Zcarga = Vmax / 100 (Pela ANSI)
Zcarga = Scarga / 25 (Pela ABNT)
Portanto:
Vmax / 100 = Scarga / 25
Vmax = 4. Scarga
Exemplo:
Considerando o TC especificado sob ABNT - A10F20C100, encontrar o seu equivalente
ANSI.
Scarga = 100 VA
Vmax = 4 . Scarga = 4 . 100 = 400 V ---> 10H400
Portanto, A10F20C100 (EB-251) 10H400
ou
10A400 (NBR 6856) 10T400
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 23 de 58
2.8 EXEMPLOS DE BURDEN
Relés Eletromecânicos
Modelo do Relé
Faixa de Tap´s
(A)
Impedância no menor Tap
(Ω )
IAC51A101A 4 - 16 0,35
IAC51A2A 1,5 - 6 2,40
IAC51A3A 0,5 - 2 22,00
ICM2 0,5 - 2 16,4
ICM2 4 - 16 0,25
Figura 2-12 - Burden de Relés Eletromecânicos
A tabela apresenta alguns exemplos de burden de relés de sobrecorrente eletromecânicos.
O menor tap é o que apresenta maior burden, isto é, o relé representa para o TC, a maior
impedância. A impedância diminui para os outros tap´s, tendo o seu menor valor para o tap
máximo.
A potência aparente do relé relativa ao seu tap é sempre a mesma. Assim, conhecendo-se a
sua impedância para o tap mínimo, é possivel se obter a impedância para um outro tap,
conforme equação abaixo:
ZTap . (ITap)
2 = ZTapMin . (ITapMin)
2
ZTap = ZTapMin . (ITapMin / ITap )
2
onde, ZTapMin = impedância no menor Tap
ITapMin = corrente do menor Tap
ZTap = impedância no Tap desejado
ITap = corrente do Tap desejado
Relés Digitais
Modelo do Relé Burden (VA) Impedância (Ω )
7SJ61/62/63 0,3 0,012
7SA6 0,3 0,012
P141, 142, 143 0,5 0,02
P433, P435, P437 0,1 0,004
Figura 2-13 - Burden de Relése assumidos, considerar também a existência de outros elementos
ou lógicas de detecção de falta para a mesma proteção ou ainda, a existência de
outras proteções para o mesmo terminal de LT.
Corrente Mínima para Proteções de Distância de Terra (21N)
A proteção deve detectar todo tipo de curto-circuito à terra, não apenas na linha
protegida como também em todas as suas zonas de proteção, inclusive parte das
faltas esperadas de alta impedância, na medida do possível.
A sensibilidade é limitada pela relação de transformação do TC do terminal de LT e
do tap mínimo de ajuste da Proteção.
Diretriz
Ajustar para o valor (corrente de terra) mais sensível possível, dentro das
características do terminal de linha e da proteção empregada e desbalanço esperado
em condição normal de operação.
Em sistemas de AT ou EAT da rede básica, os desbalanços esperados de sequência
zero são mínimos ou até inexistentes, em condições normais de operação, o que
permite a máxima sensibilidade. É conveniente, entretanto, observar as
recomendações que existem na documentação técnica de cada fabricante de
proteção, que podem apresentar outros enfoques da proteção empregada.
Considerar também a existência de outros elementos ou lógicas de detecção de falta
para a mesma proteção, bem como a existência de outros tipos de proteção para
faltas à terra no mesmo terminal de LT.
b) Detecção por subtensão com supervisão por corrente (U) ou (U/I/)
Trata-se de lógica de detecção por subtensão utilizada para casos onde a corrente de
não é muito superior à corrente de carga. Nem todas as proteções possuem esse tipo
de detecção de falta mas é cada vez mais utilizado nas proteções numéricas.
Diretriz
Seguir as orientações constantes na documentação técnica da proteção. Trata-se de
uma função de detecção de falta muito interessante para sistema onde o
carregamento da LT passa influir na sensibilidade de detecção do curto, devido à
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 75 de 145
característica de impedância não muito favorável para seletividade quanto às fases
afetadas.
c) Detecção por subimpedância
A partida por subimpedância deve ocorrer para toda falta, não apenas na linha
protegida, como também em todas as suas zonas de proteção, seja no sentido
direcional como na direção reversa, na medida do possível. Inclusive parte das faltas
com alta impedância.
Trata-se de elemento ou lógica utilizados principalmente em proteções de
procedência européia. Apresenta característica de impedância que abrange todas as
zonas de proteção desejadas para a proteção. Em alguns tipos de relés essa
característica de proteção pode ser como “ultima zona de proteção” com a
temporização respectiva.
DIRETRIZES PARA PROTEÇÕES ELETROMECÂNCIAS E ESTÁTICAS
Geralmente, para proteções eletromecânicas, a característica de medição é do tipo
off-set mho, sem blindagem lateral. Para proteções estáticas, a característica é em
geral quadrangular (apesar de que muitos oferecem também a característica off-set
mho). De qualquer modo, essa característica deve englobar todas as zonas de
proteção.
Proteções de Distância de Fase
É importante que essa função que não detecte condição de carga ou até sobrecarga
normal esperada para a linha, na faixa de ângulo de carga.
Para se avaliar a sensibilidade desse elemento, deve-se considerar também os
efeitos de “infeed” na barra da subestação remota.
No caso de a impedância limitada pela carga não ser suficiente para atingir todas as
zonas de proteção (pelo fato de não existir, nas proteções eletromecânicas, as
chamadas características otimizadas), buscar solução de compromisso com riscos
calculados e assumidos.
Proteções de Distância de Terra
Para se determinar o alcance resistivo deve-se observar que ele deve abranger os
alcances resistivos de todas as zonas de proteção de distância.
No caso de relés de distância de fase e terra, com elemento de detecção comum para
todos os tipos de faltas, prevalece o mencionado no item anterior para distância de
fase.
Para se avaliar a sensibilidade desse elemento, deve-se considerar também os
efeitos de “infeed” na barra da subestação remota.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 76 de 145
No caso de a impedância limitada pela carga não ser suficiente para atingir todas as
zonas de proteção (pelo fato de não existir, nas proteções eletromecânicas, as
chamadas características otimizadas), buscar solução de compromisso com riscos
calculados e assumidos.
Ainda para avaliar a sensibilidade desse elemento para faltas à terra, para proteção
instalada em terminal de linha de circuito duplo, deve-se considerar os erros
introduzidos (impedância adicional vista pelo relé) para faltas à terra na subestação
remota ou além, devido ao acoplamento mútuo de sequência zero do circuito
paralelo. Ver item correspondente, posteriormente neste documento.
Em algumas proteções, esse elemento de subimpedância serve para selecionar a
fase defeituosa para efeitos de medição e religamento automático. Assim, em linhas
com religamento automático monopolar, verificações devem ser feitas para casos de
curtos-circuitos fase-terra com possibilidade de partida numa “fase boa”, devido à
soma das condições de pré falta. Há situações onde será necessário diminuir o
alcance da característica de partida por subimpedância, sendo que nesse caso uma
solução de compromisso deve ser buscada.
DIRETRIZES PARA PROTEÇÕES NUMÉRICAS DIGITAIS
A grande diferença dos relés de distância numéricos aplicados a linhas de
transmissão de Alta e Extra Alta Tensão é que as mesmas possuem 6 loops de
medição (3 para loops entre fases e 3 para loops fase-terra) que trabalham quase
independentemente, com base em lógicas introduzidas na concepção da proteção.
Se por um lado há maior flexibilidade e recursos para acomodar a característica de
partida, visando o objetivo desejado, por outro lado há maior dificuldade para casos
onde a influência da corrente de carga (pré falta) apresenta ordem de grandeza
significativa em relação à corrente de falta.
Deve haver maior cuidado na verificação da possibilidade de partida da proteção na
fase não afetada (fase boa) para um curto circuito fase-terra, podendo introduzir
problema de seleção de fase defeituosa para esquemas de religamento automático
monopolar.
A proteção efetua partida e medição de impedância em qualquer um dos 6 loops, em
qualquer uma de suas zonas, bastando que o valor da impedância caia dentro dos
valores ajustados.
Isso traz maiores dificuldades para os ajustes das bandas laterais dos loops de
terra, bem como para os ajustes dos alcances da zona reversa em alguns casos.
Loop de Fase
É importante que esse loop de medição não detecte condição de carga ou até
sobrecarga normal esperada para a linha, na faixa de ângulo de carga, com margem
de segurança. Os relés digitais, em geral, permitem maior sensibilidade para a faixa
fora dos ângulos de carga através dos ajustes de “blindagem da carga”.
PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS – LINHAS DE TRANSMISSÃO Funções de Proteção 77 de 145
Loop de Terra
Para loop de terra o alcance lateral pode ser maior e depende da resistência
estimada de curto-circuito à terra na linha de transmissão, incluindo os efeitos de
infeed
Deve-se observar que, na prática, tem-se observadas resistências medidas de até 60
ohms primários, na primeira zona, em linha de EAT. Evidentemente a característica
de partida deve ter valor superior a esse. A experiência mostra, entretanto, que, como
regra geral, não se ultrapasse o valor de 100 ohms primários de banda lateral de
partida para linha de EAT.
Lembrar que em relés digitais pode haver função específica para seleção de fase
para religamento, com alcance menor que o alcance de partida da proteção.
Entretanto essa funcionalidade seria anulada caso o desligamento seja tripolarDigitais
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 24 de 58
A tabela anterior mostra alguns exemplos de burden de relés digitais.
Eles apresentam uma carga muito menor se comparados com os relés eletromecânicos e
representam uma carga fixa, constante, pois a ajuste não é feito através de derivações da
sua bobina magnetizante.
Cablagem:
Considerando-se a utilização de fiação de 10 mm2 e uma distância de 100 m entre o
TC e a sala de controle, por exemplo, temos para o caminho de ida:
ZcargadoTCdevido_fiação =
Scobre
.cobre
x ℓ
ρcobre = 1 / 58,82 Ω.mm2/m
ZcargadoTCdevido_fiação =
10
82,58
1
x (2 x 100) = 0,34 Ω
Figura 2-14 - Burden da Cablagem
Como se pode observar no exemplo anterior, a impedância da cablagem continua a merecer
as devidas considerações para a especificação de TC´s de proteção.
Normalmente os TC´s estão instalados na subestação e podem estar a uma distância
considerável da sala de controle onde estão instalados os relés de proteção. Neste caso, a
carga representada pela impedância dos cabos deve ser considerada no carregamento do
TC.
Carga a considerar devido à carga:
Tipo de Falta Z cabo Considerar
Z relé
Eletromecânico
Z relé Digital
Trifásica Ida Relé de Fase O relé digital
Bifásica Ida e Volta
Depende da
Quantidade de relés
O relé digital
Fase-Terra Ida e Volta
Relé de fase e de
terra
O relé digital
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 25 de 58
2.9 TABELA COMPARATIVA DE CARGA (“BURDEN”) SEGUNDO NORMAS
ABNT ANSI IEC
Características a 5 A, 60 Hz
Potência (VA) Impedância (Ω ) Fat. Potência
C2,5 B-0.1 2,5 VA 2,5 0,1 0,90
C5,0 B-0.2 5 VA 5,0 0,2 0,90
C12,5 B-0.5 12,5 VA 12,5 0,5 0,90
C22,5 B-0.9 22,5 VA 22,5 0,9 0,90
C45 - - 45 1,8 0,90
C90 - - 90 3,6 0,90
C25 B-1 25 VA 25 1,0 0,50
C50 B-2 50VA 50 2,0 0,50
C100 B-4 100 VA 100 4,0 0,50
C200 B-8 200 VA 200 8,0 0,50
2.10 TABELA COMPARATIVA DE CLASSE EXATIDÃO SEGUNDO ANSI E IEC PARA
PROTEÇÃO
ANSI IEC
C100 25 VA 10P20
C200 50 VA 10P20
C400 100 VA 10P20
C800 200 VA 10P20
Exemplo: C200 significa: núcleo de baixa reatância, 200 V em seus terminais para uma
corrente de 100 A (20 x 5A), o que corresponde a uma carga de 2 Ω. Para uma corrente de
5A, equivale a uma potência de 50 VA e erro menor que 10% para uma corrente secundária
de até 100 A.
Apesar de não existir uma equivalência direta entre as especificações das normas ANSI e
IEC, pode se considerar que C200 é similar a 50 VA 10P20 para uma corrente secundária de
5 A.
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 26 de 58
2.11 DEFINIÇÃO DE JOELHO (KNEE POINT) DA CURVA DE MAGNETIZAÇÃO DO NÚCLEO
DO TC
Há diferença entre o “knee point” da Norma ANSI e o “knee point” da Norma IEC. As figuras a
seguir mostram essa diferença.
V knee
point
N.Imag
V knee
point
N.Imag
45o
IEC
V joelho �V saturação
ANSI
V joelho � 0,5 x V saturação
Deve-se lembrar que as escalas desta curva de saturação são do tipo “log x log”.
Por exemplo dado um TC C400 (Norma ANSI, 400 V), a tensão do joelho segundo ANSI
estará em torno de 200 V .
Para um TC 100VA10P20 (equivalente IEC), a tensão de joelho IEC é cerca de 200 V (100
VA 4 ohms 4 ohms x 100 A = 400 V).
2.12 BURDEN NOMINAL
Dado, por exemplo, um TC C400 na norma ANSI, de relações 2000 / 1000 / 500 – 5 – 5 A,
entende-se que o Burden Nominal é 400/ (20 x 5) = 4 ohms.
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 27 de 58
É importante lembrar que esse burden é válido para o tap máximo num TC multi-tap. Nos taps
inferiores, o burden nominal cai proporcionalmente.
Assim sendo, o TC acima, no TAP 1000 – 5 A terá burden nominal:
Burden = 4 ohms x (1000 / 2000) = 2 ohms.
Caso o burden seja o mesmo para todos os taps, a placa do TC indicará esse aspecto
específico. Caso contrário, a proporção mostrada deve, sempre, ser considerada.
Figura 2-15 – A tensão de saturação depende do tap
3. REQUISITOS DE TC’s PARA PROTEÇÃO CONSIDERADOS POR NORMA OU ALGUNS
FABRICANTES DE RELÉS
3.1 Requisito Genérico considerando Saturação de TC com Corrente Assimétrica
Na realidade o requisito de tensão de saturação mostrado até aqui leva em consideração
apenas a corrente simétrica de curto-circuito, isto é, a corrente sem o deslocamento de eixo
(componente DC).
Entretanto, sabe-se que qualquer curto-circuito no sistema está sujeito a deslocamento de
eixo, isto é, aparecimento da componente DC (exponencial) sobreposta à corrente simétrica
de curto-circuito em uma ou mais fases, dependendo do tipo de falta. Essa componente DC
depende, na sua duração, da constante de tempo
R
L
do sistema no ponto de curto-
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 28 de 58
circuito, ou seja da relação X/R pois
1
.
.
R
X
R
L
. Isto é, quanto maior o X/R maior a
constante de tempo.
O TC ao transformar a componente DC exponencial do valor primário para o valor
secundário, tem que desenvolver um Fluxo Magnético Exponencial (Fluxo DC), que é tanto
maior quanto maior a constante de tempo
R
L
. E esse fluxo DC adicionado ao fluxo AC da
corrente de falta simétrica, pode elevar de muitas vezes o valor de fluxo no núcleo do TC,
podendo se chegar à saturação.
Assim sendo, pode-se considerar que a componente DC da corrente de curto-circuito é o
maior causador de saturação de TC, principalmente em locais de alto valor X/R (por exemplo
sistema de extra alta tensão próximo a usinas).
Assim sendo, a norma ANSI e alguns fabricantes de proteção indicam a seguinte expressão
para especificação de TC para proteção, para evitar a saturação por componente
exponencial:
Zburden
Zconec
In
If
R
X
..120
X/R = tangente do ângulo de curto-circuito
If = corrente de curto-circuito (valor simétrico) – valor primário em A
In = corrente nominal do tap conectado do TC – valor primário em A
Zconec = Carga conectada (cabo ida e volta + relé) em ohms
Zburden = Burden Nominal do TC em ohms
Exemplo:
TC de 1200 / 800 / 400 – 5 A de um Reator Shunt Monofásico de 75 MVAr a 500 / 3 kV
Precisão C400
Carga conectada: 0,5 ohm de cabo + 0,02 ohms de relé digital
Corrente de curto circuito simétrico máximo no local = 12000 A
Ângulo de curto-circuito 80 graus.
I nominal Reator = 75000000 / 288683 = 260 A
Pode-se usar tap 400 – 5 A (maior que 260 A) ?
Análise:
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 29 de 58
X/R = tg 80 = 5,67
Carga conectada = 0,5 + 0,5 + 0,02 = 1,02 ohm (o relé é desprezível)
Burden = 400 / (20 x 5) = 4 ohms no tap 1200
Burden = 4 x (400/1200) = 1,33 ohms no tap 400 – 5 A
33,1
02,1
.
400
12000
).67,51(..1
Zburden
Zconec
In
If
R
X
153,4 >>>> 20
Não se pode usar 400-5 A
Para tap 800-5, burden nominal será Burden = 4 x (800/1200) = 2,67 ohms
67,2
02,1
.
800
12000
).67,51(..1
Zburden
Zconec
In
If
R
X
38,22 >> 20
Não se pode usar 800-5 A
Para tap 1200-5, burden nominal será 4 ohms
4
02,1
.
1200
12000
).67,51(..1
Zburden
Zconec
In
If
R
X
17
Deve-se utilizar 1200-5 A
3.2 Aplicação em Proteção Diferencial de Alta Impedância
Todos os transformadores de corrente precisam ter a mesma relação de transformação e
aproximadamente a mesma tensão de saturação. Isso normalmente acontece quando têm o
mesmo projeto de fabricação e dados nominais idênticos. Se a tensão de saturação não for
fornecida, ela pode ser calculada de maneira aproximada utilizando-se os dados nominais do
TC conforme segue:
UKPV =
I
PR
N
N
j 2
. ALF . IN
onde:
UKPV = tensão de saturação do TC
Rj = burden interno do TC
PN = potência nominal do TC
IN = corrente secundária nominal do TC
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadoresde Corrente 30 de 58
ALF = fator de limite de precisão nominal do TC (fator de sobrecorrente)
A corrente nominal, potência nominal e o fator de sobrecorrente são normalmente dados de
placa do TC.
Exemplo: TC 800/5; 30 VA 5P10
Significa:
IN = 5 A (de 800/5)
ALF = 10 (de 5P10)
PN = 30 VA
O burden interno é muitas vezes fornecido em relatórios de ensaios do TC. Caso contrário,
poderá ser obtido através da medição DC do enrolamento secundário.
Exemplos de cálculo:
TC 800/5; 5P10; 30 VA com Rj = 0,3 Ω
UKPV =
I
PR
N
N
j 2
. ALF . IN =
A
VA
5
30
3,0
2
. 10 . 5A = 75 V
ou
TC 800/1; 5P10; 30VA com Rj = 5 Ω
UKPV =
I
PR
N
N
j 2
. ALF . IN =
A
VA
1
30
5
2
. 10 . 1A = 350 V
Além dos dados do TC, deve ser conhecida a resistência da cablagem mais longa entre os
TC´s e o relé.
3.3 Aplicação para uso com relés com Detecção de Saturação de TC
Alguns relés possuem um detector de saturação que elimina em grande parte, os erros de
medição resultantes da saturação dos TC´s. Um valor de corrente I-sat.TC acima do qual
pode ocorrer a saturação deve ser ajustado para que o detector de saturação opere.
Assim, para o caso de uma eventual saturação do TC, a seguinte equação pode ser usada
como regra geral para o cálculo desse ajuste:
I-sat.TC =
N
n
1
´
. Inom
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 31 de 58
Onde
n´ = n .
PP
PP
j
iN
´
= fator de sobrecorrente atual = (fator limite de exatidão)
PN = burden nominal do TC [VA]
Pi = burden interno do TC [VA]
P´ = burden atual conectado (proteção + cablagem)
= 2 f = freqüência do sistema
N
= constante de tempo do sistema
Na escolha do TC para o terminal em análise precisa-se avaliar, então, os seguintes
aspectos:
a) Constante de tempo do Sistema no local de aplicação do TC. Esse valor pode ser
calculado através dos valores de R e X em pu da impedância total (Thevenin) de curto-
circuito trifásico no local.
N
= L/R = X / .R
b) Seria desejável, para o TC aplicado, que a corrente calculada I-sat.TC seja maior do que
a corrente máxima de curto-circuito (seja trifásico ou fase-terra, valendo a corrente da
fase). Entretanto, mesmo que menor, as modernas proteções digitais permitem ajustar o
valor de I-sat.TC para que, a partir dessa corrente a proteção utilize recursos para evitar
problemas com a saturação.
Nota-se que esta expressão leva em consideração a componente exponencial DC da
corrente de curto-circuito através de X/R.
No caso, ele determina quantas vezes a corrente nominal do TC será o curto-circuito que irá
saturar o TC.
3.4 Requisitos de Acordo com a Característica de Remanência do TC
O desempenho de um terminal de proteção dependerá das condições e qualidade dos sinais
de corrente injetada nele. O sinal de saída do TC pode ser distorcido pela saturação.
Para garantir a estabilidade de uma proteção diferencial de barras de baixa impedância, por
exemplo, o TC precisa ser capaz de reproduzir corretamente a corrente por um tempo
mínimo antes que o TC inicie a saturação. Para atender ao requisito de saturar em um
especificado tempo, o TC precisa atender aos requisitos da força eletromotriz secundária
mínima conforme comentários a seguir.
Remanência em TC
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 32 de 58
TC´s de núcleo magnético convencional são usualmente especificados e construídos de
acordo com alguma norma nacional ou internacional, que especifica diferentes classes de
proteção. Geralmente há três grupos diferentes de TC´s:
TC com alta remanência
TC com baixa remanência
TC sem nenhuma remanência
O TC do tipo alta remanência. Esse TC tem um núcleo magnético sem qualquer entreferro e
assim, um fluxo magnético pode permanecer por um tempo elevado. Nesses tipos de TC´s, o
fluxo remanente pode ser de 70 – 80% do fluxo de saturação.
O TC do tipo baixa remanência tem um limite especificado para o fluxo remanente. Esse TC
é feito com um pequeno entreferro para reduzir o fluxo remanente de forma que não exceda
10% do fluxo de saturação. Esse pequeno entreferro tem somente uma influência muito
limitada sobre outras propriedades do TC.
O TC do tipo sem remanência tem, praticamente, um nível de fluxo remanente desprezível.
Esse tipo de TC tem relativamente um grande entreferro de forma a reduzir a praticamente a
zero o nível de fluxo remanente. Ao mesmo tempo, esses entreferros minimizam a influência
da componente DC das correntes primárias de falta. Os entreferros reduzirão, entretanto, a
precisão da medição na região não saturada de operação.
Força Eletromotriz Secundária Mínima
Para se ter um tempo mínimo antes do início da saturação do TC, a força eletro-motriz
secundária Ea1 precisa ser maior ou igual a força eletro-motriz secundária Ealreq requerida.
Isso é usado para especificar os requisitos de TC para Proteção, segundo a norma IEC
60044-6.
O TC pode ser do tipo alta remanência ou baixa remanência e eles podem ser usados juntos
dentro de uma zona de proteção. Cada um deles deve ter um Ea1, conforme tabela abaixo.
Tipo de TC Requisito
Alta remanência Ea1 > Ealreq = 0,5 . Ifmax . (Isn / Ipn) . (Rct + 2 . Rl + Zb)
Baixa remanência Ea1 > Ealreq = 0,2 . Ifmax . (Isn / Ipn) . (Rct + 2 . Rl + Zb)
Nenhuma remanência
(maior erro de precisão)
Ea1 > Ealreq = 0,2 . Ifmax . (Isn / Ipn) . (Rct + 2 . Rl + Zb)
Ifmax = valor RMS simétrico da máxima corrente primária de falta na barra
Ipn = Corrente nominal primária do TC
Isn = Corrente nominal secundária do TC
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 33 de 58
Rct = Resistência do secundário do TC
Rl = Resistência da fiação entre o relé e o TC
Zb = Burden de todos os relés ligados ao TC
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 34 de 58
Roteiro para TC´s especificados de acordo com outra norma
Todos os tipos de TC´s com núcleo magnético convencional podem ser usados, se eles
atenderem aos requisitos correspondentes aos acima especificados de acordo com a norma
IEC. Das diferentes normas e dados disponíveis para aplicação em relés é possível calcular
aproximadamente, a força eletro-motriz secundária do TC. É então possível, compara-la com
a força eletro-motriz secundária nominal equivalente Ea1 e verificar se o TC atende aos
requisitos.
Para um TC fabricado de acordo com a ANSI/IEEE é possível se fazer uma comparação
aproximada.
Por exemplo, um TC de classe C tem uma especificada tensão do terminal secundário UANSI.
Há valores padronizados de UANSI (por exemplo, para C400, UANSI = 400 V). O limite do
equivalente nominal da força eletro-motriz secundária Ea1ANSI para um TC especificado de
acordo com ANSI/IEEE pode ser estimado aproximadamente como:
UANSI = | 20 . Isn . Rct + UANSI | = | 20 . Isn . Rct + 20 . Isn . ZbANSI |
onde
ZbANSI = a impedância (na forma complexa) do burden normalizado pela ANSI, para a
classe C específica.
UANSI = a tensão do terminal secundário para a classe C específica
Portanto, os requisitos do TC são atendidos se:
Ea1ANSI > Ealreq = 0,5 . Ifmax . (Isn / Ipn) . (Rct + 2 . Rl + Zb)
Caso se use a tensão de joelho UkneeANSI , pode-se usar a fórmula:
Ea1ANSI ≈ 1,3 . UkneeANSI > Ealreq = 0,5 . Ifmax . (Isn / Ipn) . (Rct + 2 . Rl + Zb)
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4. SATURAÇÃO DE TC E A REMANÊNCIA
4.1 SATURAÇÃO
Diz-se que um TC está saturado quando a Densidade de Fluxo (B) no seu núcleo encontra-se
no máximo, não se conseguindo desenvolver a Densidade desejada para as condições do
momento.
A densidade máxima de fluxo se atinge em condição de:
CorrenteAlternada, de modo que
O fluxo AC desenvolvido depende de: I x Z = Vsec > Vs max.
Vs máx. é a tensão de saturação do núcleo (por ex. 400 V num TC ANSI 10C400 de 5 A).
Vsec é a tensão desenvolvida pela corrente sobre o Burden Z conectado no TC.
Componente DC da corrente
Que produz um fluxo DC no núcleo que se sobrepõe ao fluxo AC.
O valor máximo desse fluxo DC pode chegar a X/R superior ao fluxo AC.
X/R = tg (Ângulo da corrente de CC que passa pelo TC). Por exemplo X/R = 28,6 para
88º.
Esta parcela pode então ter influência significativa.
A figura a seguir mostra o fluxo resultante:
Figura 4-1 – Densidade de Fluxo num TC, devido componente DC da corrente
TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS Transformadores de Corrente 36 de 58
4.2 REMANÊNCIA NO NÚCLEO DO TC
Remanência ou Magnetização Residual no núcleo do TC é causada por faltas (correntes com
componentes DC) e podem chegar a 80% do nível de saturação da Densidade do Fluxo
desse TC, dependendo do tipo do núcleo e das condições de fluxo no momento da
interrupção da corrente pelo TC.
Pode ser causa também por qualquer ensaio que exija circulação de corrente contínua pelo
enrolamento do TC (por exemplo, medida da resistência secundária por ponte resistiva ou
multímetro, ou ensaio de continuidade).
Uma vez estabelecida, essa remanência permanece até a próxima ocorrência de falta de
intensidade através do TC.
A figura a seguir mostra TC tipo toroidal de janela, barra ou bucha, com alto grau de
remanência, caso construído com núcleo sem entreferro:
Figura 4-2 – TC toroidal de janela, barra ou de bucha
A figura a seguir mostra o gráfico B-H de histerese de um TC. Os pontos que cruzam o eixo
vertical mostram a máxima remanência possível:
Figura 4-3 – Curva de Histerese de um TC
O nível de remanência é medido como % entre o Brmax e o Bmax:
Kr = 100 x (Br/Bmax)
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Bmax é o máximo fluxo desenvolvido no TC.
Br é o máximo de fluxo residual possível.
O Kr pode ser reduzido utilizando núcleo com entreferro.
NORMA IEC
Estabelece TC’s do tipo TPZ ou TPY como aqueles com ENTREFERRO, com Kr0,6 Classe 0,3
Figura 5-2 - Limites das Classes de Exatidão 0,3 - 0,6 - 1,2 em TP
5.2.3 Fator de Sobretensão.
A ABNT, pela sua NBR 6855, prevê os seguintes fatores de sobretensão, conforme o grupo
de ligação:
Grupo de Ligação
Fator de Sobretensão
Contínuo 30 segundos
1 - TP´s projetados para a ligação entre fases. 1,15 1,15
2 - TP´s projetados para a ligação entre fase e terra
de sistemas eficazmente aterrados. 1,15 1,5
3 - TP´s projetados para ligação entre fase e terra de
sistemas onde não se garante a eficácia do
aterramento (*)
1,9 1,9
(*) Este fator de sobretensão torna-se necessário, em virtude de que este nível de tensão
pode ocorrer em um sistema trifásico não aterrado, durante faltas de fase para terra. Por
não ser possível definir a duração de tais faltas, esta condição deve ser considerada como
regime contínuo. Embora a especificação exija que os TP´s pertencentes ao grupo de
ligação 3 sejam capazes de suportar em regime contínuo tal condição, isto não significa
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 44 de 58
que eles possam ser instalados em circuitos cuja tensão nominal exceda 115% da tensão
primária nominal do TP.
5.2.4 Potência Térmica Nominal.
É a máxima potência aparente que o TP pode fornecer em regime permanente sem
exceder os limites de elevação de temperatura especificados pela sua isolação.
A NBR 6855 define no seu item 5.1.8 que “a potência térmica nominal mínima, em VA,
deve ser igual ao produto do quadrado do fator de sobretensão contínuo pela maior carga
nominal especificada, ou carga simultânea, para TP com dois ou mais secundários, nos
quais a potência térmica é distribuída pelos secundários proporcionalmente à maior carga
nominal de cada um deles”.
5.3 IDENTIFICAÇÃO DOS TERMINAIS
Os terminais devem ser identificados usando marcas de polaridade e uma letra (H - para o
terminal do enrolamento primário e X - para terminal do enrolamento secundário) e
algarismos em cada terminal.
Os algarismos, dispostos conforme a série natural dos números inteiros, são usados como
especificados a seguir:
- quando antes da letra, o algarismo indica o número do enrolamento primário ou
secundário, ou as diferentes fases nos conjuntos de medição;
- quando depois da letra, o mais baixo e o mais alto algarismo da série indicam o
enrolamento completo, e os intermediários indicam as derivações em sua
ordem relativa.
Exemplos de identificação de terminais estão mostrados na figura seguinte:
Transformador de Potencial Indutivo
Denominação Esquema
De relação única
H1 H2
X1 X2
De relação dupla, com primário em duas
seções, destinadas à ligação série-paralelo
H1 H3
X1 X2
H2 H4
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De duas relações, com derivações no
primário
H1 H3
X1 X2
H2
De duas relações, com derivações no
secundário
X1 X3
H1 H2
X2
De dois enrolamentos secundários
1X1 1X2
H1 H2
2X1 2X2
5.4 TABELA COMPARATIVA DE CARGA (“BURDEN”) SEGUNDO ALGUMAS NORMAS
ABNT ANSI IEC CARGA NOMINAL (VA)
P12,5 W 12,5 12,5
P25 X 25,0 25
- M 35,0 35
P50 - - 50
- Y 75,0 75
P100 - - 100
P200 Z 200 200
P400 ZZ 400 400
- ZZZ - 800
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6. DIVISORES CAPACITIVOS DE POTENCIAL
No sistema elétrico com tensões elevadas, a utilização do TP indutivo fica construtivamente
proibitivo devido à classe de isolação, que o torna muito grande e pesado e
conseqüentemente, caro.
Em sistemas com tensões acima de 138 kV, o divisor capacitivo de potencial está sendo cada
vez mais usado, principalmente por ser confiável em serviço e ter baixo custo em relação aos
TP´s convencionais além de possibilitar seu uso como um elemento de conexão em sistemas
de frequência de carrier.
Um divisor capacitivo de potencial (DCP) pode ser definido como um projeto de um
transformador de potencial onde um divisor de tensão capacitivo tem seus terminais extremos
conectados à tensão a ser reproduzida e um transformador de potencial intermediário
magnético, cuja finalidade é ter enrolamento primário conectado a “taps” do divisor capacitivo
de tensão. O divisor capacitivo de potencial e o enrolamento primário do transformador
intermediário têm um ponto comum conectado a terra.
V
Tensão Primária
Transformador
Intermediário
V2 Tensão Secundária
Divisor
de Tensão
Capacitivo
Figura 6-1 - Divisor Capacitivo de Potencial
6.1 DIVISOR CAPACITIVO EM VAZIO
Como mostrado na figura a seguir, o divisor de tensão capacitivo é constituído por dois
capacitores de capacitância Ca e Cb conectados em série com suas perdas representadas
pelas resistências série Ra e Rb, respectivamente. O divisor de potencial é alimentado por
uma fonte de tensão alternada V.
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V
Cb
Rb
Ca
Ra
V1 =
Za
Za + Zb
Ia
Zb
Za
V
Figura 6-2 - Divisor de Tensão Capacitivo em Vazio
A relação entre a tensão V1 no último capacitor e a tensão primária V pode ser dada pela
equação:
V1 =
ZZ
Z
ba
a
x V
6.2 DIVISOR CAPACITIVO COM CARGA
A figura a seguir mostra o divisor de tensão com uma carga de impedância Z pela qual circula
a corrente I. A relação entre a tensão de saída V2 e a tensão primária V pode ser determinada
pela equação:
V2 =
ZZ
Z
ba
a
V -
ZZ
Z.Z
ba
ba
I
V
Cb
Rb
Ca
Ra
I + Ia
Zb
Za
Ia
I
V2 Z
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 48 de 58
Figura 6-3 - Divisor de Tensão Capacitivo com Carga
Mas
ZZ
Z
ba
a
V = V1 (Divisor de tensão em vazio)
Logo,
V2 = V1 -
ZZ
Z.Z
ba
ba
I
A equação acima pode ser representada pelo diagrama equivalente da figura seguinte:
V1
Cb
Rb
Ca
Ra
Zb
Za
I
V2 Z
Figura 6-4 - Circuito Equivalente
Admitindo-se que Za e Zb têm ângulos iguais, a capacitância equivalente Ce na figura
seguinte é a soma das capacitâncias componentes Ca e Cb
V1
Ce
Re
Ze
I
V2
Z
Figura 6-5 - Circuito Equivalente Simplificado
A tensão V1 é a tensão sem carga, determinada somente pelas capacitâncias Ca e Cb.
V1 =
CC
C
ba
b
. V
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 49 de 58
Assim, a equação V2 =
ZZ
Z
ba
a
V -
ZZ
Z.Z
ba
ba
I
pode ser escrita na forma:
V2 = V1 - Ze . I
A figura seguinte mostra o diagrama fasorial do circuito. Na prática, as perdas nos
capacitores são muito pequenas e podem ser desprezadas (o ângulo de fase para a
impedância Za e Zb é muito próximo de 90o, desviando desse valor por cerca de 10
minutos). Portanto, a queda de tensão Ze.I será puramente capacitiva. Se a carga tem um
ângulo de fase indutivo, o que ocorre normalmente, verificamos que a tensão V2 aumenta
com a corrente de carga I e está adiantada da tensão primária V de um ângulo .
I
V
V1
V2
Ze I
Figura 6-6 - Diagrama Fasorial
6.3 DIVISOR CAPACITIVO COMPENSADO
O efeito que a queda de tensão Ze.I capacitiva tem sobre a tensão V2 pode ser compensada
inserindo-se em série com a carga, uma bobina de indutância L e resistência RL, tal que a
queda de tensão LI seja numericamente igual a Ze.I, como mostrado na figura a seguir:
V
V2 Z
Cb
Ca
RLL
Figura 6-7 - Divisor de Tensão Capacitivo Compensado
LI =
C
1
e
TRANSFORMADORES PARA INSTRUMENTOS Transformadores de Potencial 50 de 58
As variações de V2 podem agora ser limitados a queda de tensão em RL que é função
direta da corrente de carga. Ver figuras seguintes:
V1 V2 Z
Ce
Ze
RLL
Figura 6-8 - Circuito Equivalente
I
VR I
V1
V2
LI
Ce
I
Figura 6-9 - Diagrama Fasorial
6.4 PRINCÍNPIO
Com a ajuda de um transformador de potencial conectado, como mostrado na figura a seguir,
a carga secundária é tirada do divisor de tensão capacitivo