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ARTIGO 1 - Justiça e Estado em Aristóteles (AULA 20.08.2013 - LEITURA COMPLEMENTAR DO CAP. 3).docx

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Justiça e Estado em Aristóteles 
 
 
Para Aristóteles, um exímio classificador, a revolução antropocêntrica é incorporada pela 
Filosofia de forma a concluir com êxito a "integração" entre cidadania e poder econômico. Este 
procedimento, mais do que outras diferenças mais ou menos explícitas do autor em relação a 
seus antecessores - Sócrates e Platão -, é a longínqua semente da revolução burguesa, sem a 
qual nem mesmo o escravo poderia pleitear em Cristo sua dignidade individual, perpretada 
alguns séculos depois por Paulo. 
 
Vejamos como em seus conceitos de Justo e tipos de Justiça se encontra o germe dessa 
revolução. 
 
Aristóteles nos fala primeiramente do Justo em sua obra Ética a Nicômaco, criando os conceitos 
de Justo Total, Justo Particular e Justo Meio. O Justo Total corresponde à Justiça Coletiva, isto 
é, aquela justiça que envolve o bem coletivo, a administração da cidade e a proteção de Atenas. 
O Justo Particular corresponde à Justiça que envolve indivíduos em particular, cidadãos que se 
contratam mutuamente. Contudo esses contratos e esses acordos unilaterias são tutelados pelo 
Governo, visto que não podem os particulares se acordarem de forma a ferir o princípio maior 
que são os interesses coletivos. 
 
Neste sentido, o Justo Particular abriga alguns tipos de Justiça, onde a tutela e fiscalização da 
Cidade-estado se faz presente. Temos: Justiça Distributiva, Justiça Comutativa, Justiça Social e 
Justiça Participativa. 
 
Justiça Distributiva: o Estado deve garantir o princípio da "Proporcionalidade", isto é, que os 
particulares tenham deveres e obrigações de acordo com sua capacidade de contribuição para 
a preservação do bem estar da coletividade. Por exemplo, a contribuição de tributos de acordo 
com a capacidade econômica de cada um (como no caso da tabela progressiva de imposto de 
renda no Brasil). Justificado posteriormente por Rousseau. 
 
Justiça Comutativa: o Estado deve garantir o princípio da "Equidistância", isto é, que os 
particulares sejam solidários entre si quanto à paridade de direitos e obrigações, evitando-se que 
a desigualdade econômica prevaleça de um sobre o outro. Por exemplo, evitar que em 
determinadas situações seja imposto um contrato que de forma irrecusável penalize uma parte 
de forma arbitrária (como no caso de prestação de serviços hospitalares onde o paciente se vê 
obrigado a assumir riscos de tratamento sem que os conheça ou possa evitá-los). Justificado 
posteriormente por Locke. 
 
Justiça Social: O Estado deve garantir a "Paz e Harmonia" internas e buscar permanentemente 
a confraternização duradoura com os Estados estrangeiros, evitando-se o caos social, a guerra 
civil e a guerra com outras Nações. Por exemplo, que se procure fortalecer as alianças políticas 
partidárias em âmbito interno, e o fortelecimento de acordos bilaterias e multilaterais no âmbito 
econômico e científico com outros Países (como no caso do fortalecimento do Mercosul expresso 
na Constituição brasileira). Justificado posteriormente por Stuart Mill. 
 
Justiça Participativa: o Estado deve garantir que os indivíduos sob sua tutela, cidadãos ou 
estrangeiros, possam participar de forma efetiva da política e sentirem representados, direta ou 
indiretamente, nas decisões governamentais de cunho interno e nas relações internacionais. Por 
exemplo, a transposição da arena (Ágora) ateniense para o "Auditório Universal", onde os 
cidadãos e as instituições representativas da sociedade civil possam interferir nas decisões 
legislativas, executivas e jurídicas (como a iniciativa popular, o referendo popular, o plebiscito e 
a ação popular, ou a penetração e influência dos modernos meios de comunicação de massa 
que à distância podem interferir nas políticas públicas). Justificado posteriormente por Perelman. 
 
O Justo Meio talvez seja de todas as classificações de Aristóteles a mais difícil e mais discutível 
filosoficamente, visto que envolve diretamente a Ética. Ética está relacionada com a "Vontade", 
conceito em Aristóteles dúbio. Na última postagem falei sobre "Verdade". Posteriormente falarei 
de "Vontade" e "Consciência". 
 
Por ora, podemos dizer que o Justo Meio está ligado à ideia de Ética nos seguintes termos: entre 
o Justo Total (bem coletivo - Direito Público) e Justo Particular (direito individual - Direito Civil), 
existe a "Escolha" e a "Circunstância". Aristóteles parece indicar que nem sempre será fácil 
compatibilizar e harmonizar os interesses particulares com os interesses coletivos. Então, entre 
uns e outros, o indivíduo, na hora de agir, precisa escolher algo que não fira a ambos, ou que os 
fira em menor grau. Conquanto a "Circunstância" possa ocasionar desmembramentos inusitados 
na Execução e Consumação, não deve interferir à priori na Cognição e Preparação da ação (Iter 
Criminis), o que quer dizer, em outros termos, que a "Circunstância" não interfere na "Escolha", 
porque esta é ato puro da razão que escolhe ser ético. Uma decisão e uma predisposição de 
agir, nesta visão, não determinista e libertária, deve ser sempre ética; a escolha é ética, a 
consumação, no entanto, pode derivar de acordo com elementos contextuais. Mas isto não 
significa afirmar que o contexto pode, por si só, ser responsabilizado por escolhas não éticas. Ao 
mesmo tempo, sendo a escolha ética, o resultado não estará significativamente distante do 
"ideal" ético. Ao contrário, em uma escolha não ética, nunca haverá contexto capaz de evitar um 
resultado da ação que não seja sofrível ou danoso para o indivíduo e seus semelhantes. 
 
Aqui reside o conceito de Ética da Responsabilidade. Posteriormente os pensadores trabalharão 
este conceito e o transformarão em algo mais precioso do ponto de vista da escolha existencial, 
como no caso do filósofo dinamarquês Kierkegaard e sua Ética da Personalidade. Mais tarde 
ainda encontramos estes mesmos princípios no Existencialismo de Sartre. 
 
Mas o que Aristóteles de fato tentava harmonizar era o contraditório político sempre presente 
entre "interesse coletivo" e "interesse particular", então já tão presente na sociedade ateniense 
do século V a. C., como nos dias atuais. Não podendo condenar a democracia, o pensador grego 
procurou garantir os benefícios das elites econômicas atenienses sem condenar de vez o 
cidadão comum, fortalecendo o interesse e a proteção do Estado. Ressalve-se, no entanto, que 
o cidadão ao tempo da obra aristotélica é aquele que ainda descende dos fundadores da cidade, 
cujo poder originário está sendo questionado pelo poder mercantil das novas elites. Será a "Ética 
a Nicômaco" a tentativa de apaziguar o confronto entre "Latifundiários" e "Burgueses" em 
Atenas?

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