Buscar

Direito Civil I - Teoria Geral - Delmiro

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
PROF ME DELMIRO PORTO
TEORIA GERAL DO DIR CIVIL
(DIREITO CIVIL I)
MANUAL ESQUEMÁTICO
DELMIRO PORTO, ESPECIALISTA EM DIREITO 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. MESTRE EM 
DESENVOLVIMENTO LOCAL, COM PESQUISA 
EM “FAMÍLIA COMO BASE E MATRIZ SOCIAL”.
Revisado em julho de 2012
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
(Esquemas de aula)
IDÉIAS INICIAIS
Direito Civil
Conceito: ramo do direito privado no qual preponderam as normas reguladoras das 
atividades dos particulares entre si, com base na igualdade jurídica e na 
autodeterminação da pessoa (autonomia privada). 
Equilíbrio jurídico + autonomia da vontade = relação jurídica horizontalizada.
(Comentários ao conceito que tem base em Venosa e Karl Larenz, este citado por 
Venosa).
Fontes do direito civil
- lei: CF/88 + CC/02 + leis extravagantes
É a principal fonte. O Código Civil é considerado uma lei geral, pois atinge 
abstratamente um número indeterminado de pessoas e de situações.
Quanto à força obrigatória, Venosa explica que a lei é cogente ou dispositiva.
(Comentar e diferenciar com base no CC/2002).
-doutrina: é a produção de conhecimento jurídico pelos operadores do direito, ou 
seja, trata-se do parecer técnico dos mestres.
2
-jurisprudência: no direito antigo era a sabedoria dos prudentes, os sábios do 
direito. Para nós, modernamente, são as decisões reiteradas dos tribunais, num 
mesmo sentido, em relação a uma determinada matéria.
-costume: surge da prática reiterada de uma conduta pela sociedade, ao ponto de 
se tornar em instituto com força obrigatória. Bastante mitigado é o seu valor hoje, 
para o direito civil, mas não deixa de ser uma fonte. O direito consuetudinário 
ainda corrobora, por exemplo, na execução dos contratos. Diante da lacuna 
contratual, às vezes o costume é fundamental. Exemplificar...
Nem todo uso é costume. O costume é um uso que se torna juridicamente exigível. 
Aproveitando, podemos dizer que nem todo uso é costume, como nem toda 
decisão é jurisprudência. É a reiteração que gera a força normativa.
Os costumes podem ser:
. secundum legem – na verdade deixa de ser aplicado como direito costumeiro, 
pois já se fez em lei.
.praeter legem – é aquele costume utilizado para suprir a lacuna da lei. O operador 
do direito supre a omissão da lei se utilizando do costume de determinada região 
(dificilmente o costume é amplo quanto a lei).
.contra legem- é o costume que se sobrepõe à lei, substituindo-a, de forma que a 
lei entra em desuso.
-analogia: “trata-se de um processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende 
um preceito legal a casos não diretamente compreendidos na descrição legal. O 
3
juiz pesquisa a vontade da lei, para transportá-la aos casos que a letra do texto 
não havia compreendido” – Venosa.
Vemos que só é aplicável se há lacuna na lei, e se trata de um processo de 
comparação, de verificação de semelhança.
-eqüidade: consiste em abrandar o rigor com que se apresenta uma norma ao 
incidir em caso concreto. Não é exatamente uma fonte do direito. Ver exemplo 
dos Arts. 928 e 944.
-princípios gerais de direito: expressos ou implícitos, são pontos maduros, 
pacíficos, dos quais deve o juiz se servir ante a omissão da lei (Art. 4º da LICC). 
Alguns desses princípios: as exceções devem ser interpretadas restritivamente; é 
vedado o enriquecimento sem causa.
Histórico do Código Civil
(traçar breve histórico)
- ius civile – abarcava o direito privado e o direito público.
- direito romano em Portugal.
− Ordenações Filipinas.
- era das grandes codificações: Código francês (1804) inspira o direito ocidental. 
Código Alemão (BGB – 1896); Suíço: 1907; Italiano: 1865; Português: 1867.
-Código Civil brasileiro de 1916.
4
-Código Civil brasileiro de 2002.
-Código de 1916 X Código de 2002 (algumas comparações essenciais)
Código Civil: 
- estrutura formal: parte geral + 5 livros
-princípios:
.da autonomia da vontade
.da constitucionalização do direito civil
.da eticidade
.da socialidade
.da operabilidade
(Recomendar artigo sobre os novos princípios – jusnavigandi – de André Soares 
Hentz)
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (Decreto-
Lei nº 4.657/42)
Definição: não é uma norma preliminar ao Código Civil, mas norma preliminar à 
totalidade do ordenamento jurídico.
5
Comentários:
- trata-se de um conjunto de normas sobre normas (Wilson de Campos Batalha);
- são normas de sobredireito: ultrapassa o âmbito do direito civil, preparando o 
intérprete para o direito privado e para o direito público;
− porque ao longo dos anos esteve situada junto ao Código Civil, e era chamada 
de LICC?
Conteúdo:
- regula a eficácia e a vigência das normas (Arts. 1º e 2º);
 as normas, feitas para os homens, também, como eles, nascem, produzem e 
morrem. Em regra a norma nasce para durar, e subsiste enquanto tiver 
utilidade social.
 nascem com a promulgação, mas só entram em vigor com a publicidade 
(ver Art. 3º da LICC – exigibilidade erga omnes). Como leciona Maria 
Helena: a promulgação indica o início da existência, mas a obrigatoriedade 
surge com a publicidade.
 todavia, a publicidade sem a obrigatoriedade imediata é a regra – Art. 1º e § 
1º da LICC. Se o prazo de espera entre a publicidade e a obrigatoriedade for 
outro, que a lei indique expressamente. Se não houver nenhum prazo, que 
também indique.
 o prazo de espera (que é a regra) entre a publicação e a obrigatoriedade, 
resulta no fenômeno denominado vacatio legis.
6
 a vacatio é estabelecida em um ordenamento com base em dois critérios: o 
progressivo e o único. No primeiro a lei se torna obrigatória (em vigor) em 
prazos diferentes, conforme a região do país. No segundo, simultaneamente, 
mesmo prazo para toda a sociedade.
 contagem do prazo de vacância: inclui-se o primeiro e o último dia no 
período, vigorando a lei no dia seguinte ao término do prazo (Art. 8º, § 1º, 
da Lei Complementar nº 95/98).
 se no curso da vacatio ocorrer modificação ao texto legal, enseja nova 
publicação e recomeço, portanto, da vacatio (Art. 1º, § 3º, LICC).
 Art. 1º, § 4º: correção a texto de lei em vigor = lei nova.
 qual a duração da lei? 
Regra: pelo princípio da continuidade, a norma tem vigência por tempo 
indefinido, até que outra a modifique ou revogue (Art. 2º). A vigência temporal 
é exceção, portanto, e ocorre em casos de: leis orçamentárias – 1 ano; lei que 
concede favor fiscal; lei que disciplina situação passageira, de crise econômica, 
calamidade, revolução, guerra.
 se uma norma perde sua obrigatoriedade, diz-se que foi revogada. A 
revogação pode ser expressa ou tácita (Art. 2º, § 1º).
 a revogação poder ser, ainda, total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). 
Qual o método ideal? Exemplificar...
 O que é o fenômeno jurídico da repristinação? Admitimos em nossa 
sistemática?
7
- só admite o erro de fato (Art. 3º): o que é? Ilustrar...
- o que é erro de direito? Ilustrar...
- trata do conflito de normas no tempo (Art. 6º) e no espaço (Arts. 7º a 19). No 
último caso estamos diante de normas de direito internacional privado (que é um 
ramo do direito público interno);
 a norma nova regula apenas os fatos que surgirem a partir de sua vigência 
ou tem efeito retroativo? Art. 6º da LICC traz a regra. Havendo interesse 
público, o legislador pode utilizar-se de normas transitórias (disposições 
transitórias – ex.: Arts. 2.028 e s., CC). 
 quanto à aplicação da norma no espaço, seguimos o princípio da 
territorialidade temperada ou territorialidade moderada (Art. 7º e seus 
parágrafos). Citar exemplo do Art. 5º, XXXI, CF.
- traz critérios de interpretação (Art. 5º);
 Miguel Reale: interpretação é momento de intersubjetividade, entre o 
aplicador da norma e o autor desta (o legislador).8
 funções da interpretação: aplicar as normas às relações jurídicas que lhe 
deram origem + estender a norma às relações sociais posteriores à sua 
criação (à criação da norma) + ponderar a aplicação da norma, para que 
atinja a função social para a qual foi criada (valores que pretende garantir) – 
Art. 5º.
 métodos de interpretação (hermenêutica): gramatical (sentido literal) + 
lógico (sentido e alcance da norma – raciocínios lógicos) + sistemático (a 
norma no contexto do sistema em que está inserida) + histórico (processo 
legislativo, discussão do projeto) + sociológico ou teleológico (adapta a 
norma às situações posteriores à sua criação).
 os métodos não são aplicados isoladamente, mas combinados, com exclusão 
de um ou de outro, conforme a viabilidade, recomendam Maria Helena e 
Venosa.
- cuida da integração de normas, prevendo a eventualidade de lacunas (Art. 4º);
 o juiz não pode deixar de dizer o direito sob o pretexto de lacuna na lei 
(principal fonte do direito): analogia + costumes + princípios gerais de 
direito (alguns exemplos: Art. 3º da LICC, Art. 112 do CC, Art. 884 do CC 
-vedado o enriquecimento ilícito-, a todo direito corresponde uma ação que 
o assegura (Art. 75 do CC/1916), quem pode o mais pode o menos, a boa-fé 
se presume, função social do contrato (Art. 421 do CC), função social da 
propriedade (Art. 1.228, § 1º, do CC), da vedação do abuso de direito (Art. 
187 do CC), ninguém pode transmitir mais direitos do que possui, é vedada 
a alegação da própria torpeza, da dignidade da pessoa humana (Art. 1º, III, 
CF), o contrato deve ser interpretado em favor do devedor etc.
9
DAS PESSOAS
(A partir daqui, se o artigo é citado sem indicação da lei a que pertence, entenda-
se que se trata do Código Civil).
As pessoas são sujeitos de direitos e obrigações, e figuram nos pólos da relação 
jurídica. A pessoa, em sentido técnico, pode ser natural ou jurídica, daí a doutrina 
tradicional: é o ente físico ou coletivo suscetível de direitos e obrigações (Maria 
Helena).
PESSOA NATURAL
Conceito: pessoa natural é o ser humano. 
Questão: tecnicamente é correto dizer pessoa física?
Personalidade jurídica e capacidade: aptidão genérica para adquirir direitos e 
contrair obrigações. Toda pessoa natural a possui, desde que exista (Art. 2º, CC), e 
ela coincide com a capacidade jurídica ou de direito (Art. 1º).
Costuma-se assinalar que a capacidade é a medida da personalidade (Gonçalves), 
caso em que está a referir-se à capacidade jurídica ou de direito, que é a 
capacidade de aquisição.
Ilustrando:
A aptidão da capacidade surge da personalidade. Só se pode falar daquela se 
houver a presença desta. Se a pessoa nasce com vida adquire a personalidade, se 
adquire a personalidade, tem capacidade jurídica ou de direito.
10
A lei possui um sistema de proteção ao nascituro, embora este não tenha 
personalidade... (ilustrar)
Questão: a capacidade jurídica possui limitação?
Para a pessoa natural ela é sempre ilimitada. Veremos que em relação à pessoa 
jurídica é diferente...
A capacidade de exercício ou de fato, o que é?
É a aptidão de exercer, por si mesmo, os atos da vida civil. Nem toda pessoa 
natural a possui. Pessoa jurídica nunca a possui! (Isso veremos mais à frente)
Nem toda pessoa natural possui capacidade de fato ou de exercício, posto que essa 
capacidade exige, para segurança jurídica do indivíduo e da sociedade, 
discernimento, clareza, prudência e certeza, enfim, exige vontade, juridicamente 
falando (manifestação volitiva juridicamente relevante).
Alguns possuem apenas em parte essa capacidade (são os relativamente 
incapazes); outros nada possuem (são os absolutamente incapazes).
A capacidade é a regra, a incapacidade a exceção. Logo, a capacidade, presume-
se, enquanto a incapacidade, prova-se.
Incapacidade absoluta
O Art. 3º lista os absolutamente incapazes, também denominados, na doutrina, de 
impúberes. Possuem proibição total de agirem por si, e caso o façam seus atos são 
nulos absolutamente (Art. 166, I).
11
Como os tais possuem capacidade de direito, a lei cria mecanismo para que sejam 
exercidos seus direitos e obrigações: é o instituto da representação (Art. 1.634, V e 
Arts. 115 a 120). 
Comentários às hipóteses legais- Art. 3º ...
Incapacidade relativa
O Art. 4º traz as hipóteses de incapacidade relativa. Os relativamente incapazes 
(chamados púberes), agem por si (em parte), acompanhados por seus 
representantes, que neste caso não dizemos que os representam, mas que os 
assistem. É o instituto da assistência (Art. 1.634, V).
A falta da assistência gera ato relativamente nulo (anulável) – Art. 171, I.
Excepcionalmente os relativamente incapazes têm capacidade de fato ou de 
exercício: aceitar mandato (Art. 666), fazer testamento (Art. 1.860, parágrafo 
único), casar-se (Art. 1.517), ser testemunha (Art. 228, I), celebrar contrato de 
trabalho e outros atos excepcionados pela lei.
Comentários às hipóteses legais - Art. 4º ...
12
Na falta dos pais, outros exercem a proteção sobre os incapazes, são os tutores 
(para os menores) e os curadores (para os maiores). 
Capacidade X Legitimidade
A capacidade é genérica, a legitimação específica. A capacidade diz respeito aos 
negócios jurídicos em geral, mas a legitimidade diz respeito a determinado 
negócio. Ex.: Maria e João querem se casar, mas não podem, pois são irmãos por 
adoção (Art. 1.521). Eles não têm legitimação, portanto, podendo se casar com 
outras pessoas, pois capacidade eles têm. Se João e Maria fossem incapazes para o 
casamento, não poderiam se casar nem entre si nem com outras pessoas.
Questão: intervalo lúcido, o que é? É admitido em nosso sistema?
Observações importantes e questionamentos:
- o rol contido nos artigos 3º e 4º são de natureza taxativa;
- que se entende pela expressão legal maiores de 16 ? (Art. 4º, I);
- o surdo-mudo não se encaixa expressamente nos Arts. 3º e 4º, mas Maria Helena 
entende que se enquadraria no inc. III do Art. 3º, entre os que não podem exprimir 
a vontade, ou no inc. III do Art. 4º (excepcionais), conforme o grau de 
discernimento constatado em laudo pericial, pois as técnicas modernas de 
educação podem levar o surdo-mudo a ser apenas relativamente incapaz, e não 
absolutamente;
13
- os ausentes constavam do CC/1916 como absolutamente incapazes. A melhor 
técnica entende que os tais têm proteção legal, mas não seria o caso de chamá-los 
incapazes, pois não o são;
- analfabetismo, idade avançada e cegueira seriam causas de incapacidade?
- pródigo: é um relativamente incapaz, vimos no inc. IV do Art. 4º, mas essa 
incapacidade é apenas para a gerência extraordinária (contratar, fazer pacto 
antenupcial (que prevê a regulação de bens no casamento), contrato de 
convivência (que prevê a regulação de bens na união estável). Para os atos civis 
cotidianos, com administração de monta insignificante, como comprar a comida, a 
bebida e o vestuário, o pródigo é capaz;
- silvícola: constava do CC/1916 como relativamente incapaz. Hoje a capacidade 
dos índios da selva (integrados ou semi-integrados à civilização da maioria) deve 
ser tratada exclusivamente pelo Estatuto do Índio, Lei nº 6.001/73 (ver parágrafo 
único do Art. 4º). Logo, não se deve, com base no Código Civil, determinar a 
capacidade, que poderá ser plena, relativa ou nenhuma;
- condenação criminal, enseja incapacidade? Não enseja, embora o condenado 
perca, eventualmente, certos direitos, como o poder familiar, a habilitação para 
dirigir, a credencial de médico, engenheiro, advogado etc;
− capacidade plena = capacidade de direito ou jurídica + capacidade de fato ou 
de exercício. Ter capacidade de direito implica em ter capacidade de exercício? 
Ter capacidade de exercícioimplica em ter capacidade de direito?
14
- para aquisição da personalidade jurídica (personalidade aqui é um conceito 
jurídico, não da psicologia!):
a) basta o nascimento com vida?
b) exige-se forma humana (como na Espanha)?
c) exige-se que a vida seja viável (como na França e na Holanda)?
d) basta a concepção (como na Argentina)?
e) é necessário o registro?
f) o que é a Declaração de Nascido Vivo – DNV?
- a lei põe a salvo os direitos do nascituro (Art. 2º, segunda parte). São exemplos 
dessa proteção ao nascituro: presunção legal de paternidade (Art. 1.597), 
alimentos (Art. 1.694 e s.) e curatela (Art. 1.779) e direito sucessório (Art. 1.798).
Questão: o concepto in vitro tem a mesma proteção do nascituro (concepto in vivo, 
natural)?
Cessassão da incapacidade
A incapacidade cessa quando cessa sua causa, seja a causa a menoridade, a 
enfermidade, a toxicomania, a prodigalidade etc. Pode ocorrer da causa ser 
permanente, por se tratar de um mal incurável.
A Lei nº 6.015/73, Art. 104, manda que se averbem as sentenças que puserem fim 
à interdição. Nesta afirmação está contida a hipótese de incapacidade por 
menoridade?
15
Comentar...
No caso da menoridade, cessa a incapacidade com a maioridade, que se dá aos 18 
anos (Art. 5º). No Código de 1916 esse limite etário era de 21 anos.
Quando a causa da incapacidade é a menoridade, é possível, excepcionalmente, 
que cesse antes dos 18 anos. Essa aquisição antecipada da capacidade de 
exercício, antes da maioridade, denomina-se emancipação.
É possível, portanto, que pessoa menor seja capaz. Observe que o fenômeno 
jurídico da emancipação não torna a pessoa maior de idade, mas a faz capaz. 
Dizemos assim, embora Gonçalves afirme que a emancipação é a antecipação da 
maioridade. Entendemos que não, que não há antecipação da maioridade, mas da 
capacidade.
São 3 as espécies de emancipação:
a) voluntária (Art. 5º, parágrafo único, I, primeira parte): emancipação dos filhos 
pelo pais;
b) judicial (Art. 5º, parágrafo único, I, segunda parte): emancipação dos tutelados;
c) legal (Art. 5º, parágrafo único, II a V): emancipação de pessoas que se 
encontram em situações jurídicas ali determinadas.
Observe-se, todavia, que em qualquer caso exige-se o requisito de 16 anos como 
idade mínima! Aliás, esta é a regra. Qual a exceção?
A exceção: ocorre emancipação legal do nubente que se casa com menos de 16 
anos, sob alvará judicial, em exceção legalmente prevista (Art. 1.520).
16
Questões:
No caso de pessoas que se emancipam com o casamento, se tais pessoas se 
descasam antes de completar 18 anos, voltariam a ser incapazes?
E no caso do emancipado por força de assunção de cargo público efetivo, se vier a 
deixar o cargo, enquanto menor?
Para Venosa, neste segundo caso haveria retorno à situação de incapaz.
Gonçalves e Silvio Rodrigues: a emancipação é irrevogável em qualquer hipótese. 
Também entendemos assim.
Individualização da pessoa natural
Se os objetos são identificados dentro de suas coletividades, quanto mais o 
homem, figura essencial das relações jurídicas (o direito está para o homem). A 
correta individualização da pessoa é uma questão de interesse do Estado e da 
sociedade, e está associada ao princípio da segurança jurídica.
A pessoa natural se individualiza, se identifica, dentro do grupo social, com base 
em três critérios principais:
a) nome;
b) estado (que pode ser individual, familiar ou político);
c) domicílio.
Nome
Josserand, citado por Gonçalves: o nome é uma etiqueta colocada sobre cada um 
de nós. 
Entendemos por nome o nome completo da pessoa, que se forma pelo prenome + 
sobrenome. Não costumamos, porém, nas relações cotidianas, perguntar o 
prenome, mas o nome, quando desejamos apenas o prenome. A diferenciação, na 
17
prática, assim se faz: quando se pergunta o nome, se é numa conversa informal, 
responde-se apenas o prenome. Se a conversa é formal, perante autoridade, no 
cartório ou preenchendo um simples cadastro comercial, respondemos o nome 
completo.
Aspectos do nome
O nome apresenta dois aspectos distintos: o público e o privado. 
Público: o Estado tem interesse na perfeita individualização das pessoas, por 
questões de segurança, no sentido mais amplo possível, que vai desde a 
identificação criminal até a cobrança correta do tributo. 
Privado: é direito da personalidade (eis sua natureza jurídica), imprescritível e 
inalienável, como será visto mais à frente (direitos da personalidade).
Partes do nome
Nome = prenome + sobrenome (Art. 16).
O sobrenome também é conhecido como apelido de família, nome de família ou 
patronímico.
O prenome pode ser simples (João, Maria) ou composto (José Maria, José Marco 
Antonio).
O prenome é escolhido pelos pais, ou pelos representantes legais, no caso da 
criança nascer com os pais pré-mortos (é possível: pai morto e mãe morta no 
parto. Há também defuntas que dão à luz). A escolha está limitada a não poder 
escolher nome que exponha seu portador ao ridículo.
O sobrenome indica a genealogia da pessoa, sua origem familiar. Este não é 
escolhido pelos pais, mas transmitido, necessariamente, pelos pais.
18
Agnome é partícula distintiva, que poderá aparecer para distinguir pessoas 
familiares com o mesmo nome: José da Silva Junior; João José da Silva Neto; 
José da Silva Sobrinho; Manoel da Silva Filho; Arthur Souza Primo.
Princípio da imutabilidade do nome
Esta a regra que vigora, da imutabilidade do nome, seja pelo interesse que o 
Estado tem nessa estabilidade, ou mesmo pelo aspecto personalíssimo desse 
direito. Não se muda o nome, eis a regra. As exceções? 
Excepcionalmente, será admitido alterar o prenome, nos casos de:
a) exposição do portador ao ridículo (Art. 55, parágrafo único, LRP, na redação 
original);
b) evidente erro gráfico (Art. 58, parágrafo único, LRP, na redação original);
As hipóteses “a” e “b” são aplicáveis? Sim, inclusive por haver permanecido o 
procedimento para instrumentalização desses dispositivos (Arts. 109 e 110 da 
mesma Lei).
E o princípio da dignidade da pessoa (Art. 1º, III, CF), seria fundamento?
c) substituição por apelidos públicos notórios (Art. 58, LRP, modificado pela Lei 
nº 9.708/98). A jurisprudência já admitia o acréscimo, como no nome de Lula, 
mas agora é possível a substituição: ao invés de Edson Arantes, por exemplo, 
Pelé Arantes.
19
d) substituição para proteção em caso de haver colaborado com a Justiça Criminal 
(Art. 58, parágrafo único, LRP, modificado pela Lei nº 9.807/99);
e) adoção de pessoa menor de idade (Art. 1.627);
f) a jurisprudência admite a tradução de nomes estrangeiros, com vistas a facilitar 
o aculturamento, a adaptação da pessoa;
g) quando o nome estrangeiro expuser o seu portador ao ridículo – há um atleta 
suíço, cujo nome se pronuncia Sergay... (Lei nº 6.815/80 – situação do 
estrangeiro no Brasil).
Mudanças excepcionais no sobrenome são possíveis, como nos casos de:
a) adoção de pessoa menor (Art. 1.627);
b) STJ já decidiu: “o nome pode ser modificado desde que motivadamente 
justificado”. 
Lembro, novamente, do princípio maior, o da dignidade da pessoa. STJ deferiu 
caso em que o sujeito fora abandonado, desde tenra idade, pelo pai, e era 
conhecido pelo sobrenome de sua mãe. Com justiça ele se livrou do sobrenome do 
pai, realizando seu desejo;
c) casamento (Art. 1.565, § 1º);
d) separação e divórcio (Arts. 1.571 e s.);
e) reconhecimento de filho (Art. 1.609);
f) união estável (Art. 57, § 2º, LRP, por analogia);
(Comentar o dispositivo que é muito anterior à união estável, e se refere, em 
verdade, ao concubinato).
g) transexualismo, com mudança cirúrgica de sexo (doutrina e jurisprudência – e 
o Art. 1º, III, CF? );
h) filiaçãosocioafetiva (doutrina).
20
Havendo estudado o nome, vejamos o estado, que é o outro critério de 
individualização da pessoa. 
Estado civil
O estado civil pode ser: individual, familiar ou político.
Estado civil individual
É o modo de ser da pessoa, diz Gonçalves, quanto à idade, sexo, cor, altura, peso, 
cor dos cabelos, saúde, escolaridade, enfim, fala de caracteres físicos e intelectuais 
(é o indivíduo frente ao espelho).
Estado civil familiar
Fala do indivíduo em relação à família em sentido amplo (conceito predileto de 
Josserand): grau de parentesco (pai, filho, irmão), em face do casamento (solteiro, 
casado, separado judicialmente, em união estável, divorciado, viúvo).
Estado civil político
Diz do indivíduo em relação aos aspectos políticos, à cidadania: nacional (nato ou 
naturalizado) ou estrangeiro.
Observação: é de tal importância o estado familiar, que costumeiramente quando 
se quer fazer referência a ele dizemos apenas estado civil, quando tecnicamente 
seria o correto estado civil familiar, pois o estado civil pode ser, como visto, 
individual, familiar ou político.
Domicílio
Para completar o tema individualização da pessoa natural, veremos o estudo do 
domicílio. Em tópico próprio falaremos do domicílio da pessoa jurídica.
21
Conceito: é a sede jurídica da pessoa natural, o lugar em que a pessoa centraliza 
suas relações jurídicas.
No Art. 70 temos que o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece 
a sua residência com ânimo definitivo.
Considerando o disposto nos Arts. 70 + 74, temos que:
domicílio = residência (lugar físico, elemento objetivo) + animus (desejo de 
fixação, de permanência, que é o elemento subjetivo).
(Comentar o conceito...)
Domicílio X residência X habitação ou morada
(Fora da técnica jurídica são tomados como sinônimos, no entanto domicílio é a 
sede jurídica da pessoa; residência é elemento de domicílio, um estado de fato; 
habitação é relação de fato inferior a residência: estada em hotel, casa de veraneio 
etc).
É possível, portanto, ter várias residências, habitações, mas domicílio único. 
Como é possível, também, ter vários domicílios (próxima idéia).
Princípio da pluralidade de domicílios
Além de domicílio com sentido geral (Art. 70), o novo Código apresenta:
a) domicílio profissional ou funcional (Art. 72), que pode ser único ou múltiplo 
(parágrafo único do Art. 72). Trata-se de domicílio específico para as relações 
jurídicas voltadas para o exercício da profissão (interpretação literal da norma 
é suficiente);
b) domicílio ocasional – Gonçalves (Art. 73), para o caso de pessoas que não têm 
paradeiro, convencionando a lei que será o lugar em que forem encontradas;
22
c) domicílio especial (Art. 78), que se divide em: do contrato, que é aquele 
escolhido pelas partes para o cumprimento do contrato; e de eleição, escolhido 
para eventual propositura de ação para solver litígios entre as partes 
contratantes.
Orlando Gomes fala, ainda, de domicílio aparente, que seria aquele que, embora 
não fosse domicílio propriamente, por falta do elemento subjetivo, transparecesse, 
a terceiros, a qualidade de domicílio. 
Entendo que o parágrafo único do Art. 74 a ele se refere.
Classificação
Seguindo excelente classificação de Gonçalves, temos, portanto:
O domicílio pode ser:
a) voluntário;
b) necessário ou legal.
O voluntário, por sua vez, subdivide-se em:
a) geral;
b) especial.
Em regra o domicílio decorre da vontade, mas o necessário ou legal é aquele 
imposto, por conveniência, pelo Estado. Têm domicílio necessário:
- o militar da ativa;
- o incapaz;
- o marítimo;
- o preso;
- o servidor público.
Perde-se o domicílio?
23
Perde-se pela sua mudança voluntária, ou por assumir a pessoa uma condição 
jurídica para a qual o Estado declina domicílio necessário. Exemplos da segunda 
hipótese: João se torna incapaz; Maria foi condenada a pena restritiva de liberdade 
etc.
DIREITOS DA PERSONALIDADE
O que são?
São direitos subjetivos indisponíveis, entranhavelmente ligados à personalidade, 
que guarnecem a dignidade da pessoa humana.
Dizem respeito ao homem, ao ser humano, mas excepcionalmente poderão 
pertencer à pessoa jurídica (Art. 52 - ver posteriormente).
Origem e importância
Referidos direitos ganham importância na proporção direta da civilização humana. 
O Cristianismo, que ensina, sobretudo, o amor ao próximo como a si mesmo, teve 
e tem importância fundamental no desenvolvimento desses valores que 
engrandecem a alma, promovendo o ser humano.
A escola de direito natural também tem papel relevante no crescimento dos 
direitos personalíssimos (intuitu personae).
Dentre os documentos mais importantes, Gonçalves lembra da Declaração dos 
Direitos do Homem, de 1789 (a francesa) e a Declaração pós-guerra, de 1948, das 
Nações Unidas.
No Brasil, sua primeira fonte foi a jurisprudência.
A CF/88 foi a grande norma ensejadora da necessidade de se positivar a matéria: 
Art. 5º, inc. X – anunciou a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da 
honra e da imagem, com a correlata garantia de indenização por dano material ou 
moral.
24
Com essa provocação, o Novo Código, pela primeira vez, traz a matéria, em 
capítulo próprio, Arts. 11 a 21.
A matéria ainda é tratada timidamente, sem o desembaraço ideal, mas, na opinião 
de Miguel Reale, foi proposital apresentar poucas normas dotadas de rigor e 
clareza, cujos objetivos permitirão os naturais desenvolvimentos da doutrina e da 
jurisprudência.
Espécies: 
a) inatos: que surgem com o surgimento da personalidade – direito à vida, à 
integridade física, à honra, à imagem, a alimentos. Aliás, podem preceder o 
início da personalidade, em homenagem à proteção do concepto;
b) adquiridos: conquistados no exercício da personalidade – direito ao nome, ao 
apelido, à obra literária.
Fundamento
Vemos como direitos fundamentados no princípio constitucional da dignidade da 
pessoa (CF, Art. 1º, inc. III). Certamente nenhum outro princípio pode servir de 
base, com tanta propriedade, quanto este, o princípio dos princípios 
constitucionais.
Para o Cristianismo, o fundamento desses direitos repousa no fato de a criatura 
humana ser imagem e semelhança de Deus.
Rol exemplificativo
Não existe a pretensão, por parte da lei ou da doutrina, de listar exaustivamente 
esses direitos, mas, à guisa de exemplos, temos os direitos à (ao): 
a) vida (ou melhor, ao respeito à vida);
25
b) liberdade;
c) alimentos;
d) honra;
e) nome;
f) apelido notório;
g) boa fama;
h) imagem;
i) próprio corpo (vivo e morto);
j) intimidade;
k) privacidade;
l) planejamento familiar;
m) poder familiar;
n) liberdade de pensamento;
o) liberdade de culto;
p) criação científica, literária e artística.
Para Rubens Limongi França, esses direitos podem ser classificados em 3 
categorias:
a) integridade física (vida, liberdade, alimentos, próprio corpo);
b) integridade intelectual (liberdade de expressão, de culto, de criação artística);
c) integridade moral (honra, nome, imagem, apelido).
Quais seus caracteres?
a) indisponibilidade – acreditamos ser o principal atributo, do qual decorrem os 
demais. Indisponíveis por serem direitos fora do comércio (Silvio Rodrigues), 
que, por sua própria natureza, são indestacáveis da persona. Como posso 
dispor de minha honra, de meu nome, de minha liberdade, de minha vida?
Essa indisponibilidade, modernamente, tem-se entendido ser relativa, ou seja, 
excepcionalmente, admite-se a disposição do direito à imagem, à criação 
26
intelectual, como a doação de órgãos (sempre gratuita) para fins altruísticos e 
terapêuticos (Maria Helena + Gonçalves + Venosa).
Questão: que significa não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária 
(Art. 11, parte final)?
Outraquestão: que significa sem prejuízo de outras sanções previstas em lei 
(Art. 12, parte final)?
STJ: Os direitos personalíssimos, em caso de ofensa, podem ser reclamados 
pelos sucessores do ofendido, pois o direito de ação, neste caso, ganha natureza 
patrimonial.
Qual a inteligência desse texto jurisprudencial (o que significa)?
b) intransmissibilidade e irrenunciabilidade (Art. 11) – decorrem da 
indisponibilidade, como dito acima. Nem posso transmitir (alienar) nem 
renunciar (abrir mão da titularidade desses direitos), posto que são 
indestacáveis da pessoa.
Falar dos alimentos...
Questão: comente o Art. 1.707, 1ª parte.
c) absolutos. O que significa, são direitos absolutos, que se sobrepõem a 
quaisquer outros?
Fala, na verdade, da oponibilidade erga omnes (são direitos que correspondem 
ao dever de abstenção - obrigação de não fazer, a todos imposto);
27
d) ilimitados – a lei (Arts. 11 a 21) e a doutrina apresentam rol aberto, meramente 
exemplificativo. Existem na amplitude necessária para proteção integral da 
pessoa, frente a todas as circunstâncias da vida.
Além dos já listados, Gonçalves lembra: direito ao meio ambiente ecológico, 
velhice digna, segredo profissional.
De minha parte, acrescento: 
- direito a conhecer a origem biológica;
- direito à paternidade e à filiação socioafetivas;
- direito ao estado civil familiar;
− direito a amar e a ser feliz.
Questão: como posso exercer esse direito: em família matrimonializada? Em 
união estável? Em união homoafetiva? Em família monoparental? Solitariamente?
Outra: pode-se exigir a prestação de afeto (a exemplo do pai que não exerceu a 
função paterna, poderia dele se exigir reparação)?
e) imprescritibilidade – não perecem pelo não uso (grosso modo, prescrição é 
fenômeno jurídico que consiste no perecimento do direito em razão de dois 
fatores: não utilização + decurso do tempo).
A pretensão indenizatória, porém, prescreve (Art. 206, § 3º, inc. V);
f) impenhorabilidade – por serem indisponíveis, indestacáveis da pessoa. 
Excepcionalmente poderá ser objeto de penhora os reflexos patrimoniais, 
28
naquelas hipóteses em que a pessoa dispõe de uma obra literária ou de sua 
imagem (fins comerciais);
g) vitaliciedade – seguindo a lição de Gonçalves, este seria o último atributo 
ressaltável: referidos direitos duram por toda a vida, ou seja, enquanto dura a 
personalidade jurídica da pessoa natural.
Questão: esses direitos podem ultrapassar os limites da existência da 
personalidade jurídica da pessoa natural? 
Hipóteses legais
CC/02 - direitos da personalidade – rol aberto:
a) disposição do próprio corpo (Arts. 13 e 14);
Questão: é possível a redução de mama para fins estéticos?
Outra: enxertos e próteses fazem parte do corpo?
Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997: transplante (parágrafo único do Art. 13).
Princípio do consenso afirmativo – não pode ser implícita a vontade de doar 
órgãos.
b) não constrangimento a tratamento médico de risco (Art. 15) – o médico deve 
informar ao paciente acerca dos riscos e tratá-lo com sua anuência. 
Questão: se o enfermo for incapaz?
Aqui também está o direito ao próprio corpo.
Questão: esse direito autoriza o suicídio e a autolesão?
Questão: autoriza a eutanásia?
29
Questão: autoriza o aborto?
Questão: É possível a cirurgia estética, de mama (aumentar/diminuir), de nariz 
etc?
Questão: esse direito autoriza alguém a resistir (se negar) a um transplante de 
órgão ou transfusão de sangue, em iminente risco de morte? (TJ/SP, STJ, 
Doutrina);
c) ao nome e ao pseudônimo (Arts. 16 a 19);
Um dos efeitos da sentença que reconhece o vínculo de filiação (na ação 
investigatória de paternidade) é o direito ao nome do pai.
d) proteção à imagem e à palavra (Art. 20);
Imagem: representação da figura humana, pela pintura, escultura, fotografia, 
película (filme).
Palavra: escrita ou falada.
e) à privacidade (Art. 21);
Questões: aqui está ínsito o direito à intimidade? São sinônimos?
QUESTÕES DE REVISÃO E FIXAÇÃO:
1. Norma promulgada é norma em vigor?
30
2. Nem todo uso é costume nem toda decisão é jurisprudência. Comente.
3. Cite 3 princípios gerais de direito.
4. Que se entende pela expressão legal maiores de 16 (Art. 4º, I)?
5. Analfabetismo, idade avançada e cegueira seriam causas de incapacidade?
6. Condenação criminal, enseja incapacidade?
7. Liste 5 atributos de seu estado civil individual.
8. Se você lesse uma matéria em revista não especializada, onde dissesse que os 
direitos da personalidade são tradicionais no direito brasileiro, que comentário 
técnico-jurídico você faria?
9. Que significa a expressão legal: não podendo o seu exercício sofrer limitação 
voluntária (Art. 11, parte final)?
31
10. No programa radiofônico matutos em festa, o apresentador do programa 
noticiou que seriam transplantados os órgãos do falecido João, uma vez que este 
morrera solitário (sem família) e nunca fora contra a doação de órgãos.
11.Que é o instituto da comoriência? Qual sua importância para o direito?
12.O que é repristinação? É admitida em nosso sistema?
13. O que é a Declaração de Nascido Vivo – DNV?
14. O que é intervalo lúcido? Admitimos?
AUSÊNCIA
O que é?
É o instituto que protege o ausente. Considera-se ausente a pessoa que abandonou 
seu domicílio, não deixou procurador disposto e com poderes suficientes para 
representá-la e não se tem notícia de seu paradeiro.
Previsão legal
No Código de 1916, o ausente era listado como absolutamente incapaz (era essa a 
visão porque há pessoas que desaparecem por perturbação mental) e a ausência 
constava do Livro de Família.
32
No Novo Código, o ausente não é considerado incapaz (melhor posição) e a 
ausência é tratada na Parte Geral (Arts. 22 e s.).
Faces da ausência (por Silvio Rodrigues)
O instituto é de natureza protetiva, sendo que numa primeira fase, inicial, a 
proteção é voltada para o ausente, numa expectativa de que este reapareça. Na 
segunda fase, todavia, a proteção muda de foco, voltando-se para os herdeiros.
Legitimação para requerer (Art. 22)
Qualquer interessado ou o MP requer a declaração de ausência, judicialmente. O 
juiz a declara e nomeia curador ao ausente.
Classificação da ausência
Vemos duas espécies de ausências, embora não tenhamos encontrado essa 
diferenciação na doutrina. 
São elas: ausência própria (pessoa desaparece sem deixar procurador - Art. 22) e 
ausência imprópria (pessoa desaparece, deixando procurador, mas este não tem 
disposição ou não tem poderes suficientes para representá-lo – Art. 23).
Podem ser curadores (Art. 25)
a)cônjuge; b)pais; c)descendentes (os mais próximos preferem aos mais distantes).
Importante observação de Gonçalves: também o companheiro, com a mesma 
prioridade conferida ao cônjuge.
Não havendo nenhum desses, o juiz dará curador ad hoc (Art. 25, § 3º).
33
Fases da curadoria do ausente (por Gonçalves)
1ª fase – curadoria do ausente: visa à proteção do ausente, preservando-lhe o 
patrimônio, na expectativa de sua reaparição (Arts. 22 a 25).
2ª fase – sucessão provisória: à medida que diminui a possibilidade do 
reaparecimento, cresce a presunção da morte; daí o legislador passar a visar à 
proteção dos sucessores (Arts. 26 a 36).
3ª fase – sucessão definitiva: presunção da morte real, produzindo, portanto, todos 
os efeitos pertinentes à extinção da pessoa natural (com o fim de sua 
personalidade jurídica).
Procedimento para arrecadação dos bens do ausente
Há procedimento especial de jurisdição voluntária: CPC, Arts. 1.159 e s.
Questão: os bens sob curatela podem ser desapropriados?
Legitimação para requerer a sucessão provisória (Art. 27)
a)cônjuge (ou companheiro, lembra Gonçalves); b)os herdeiros presumidos; 
c)pessoas que tenhamaquisição de direito condicionada à morte do ausente; 
d)credor. 
Sucessão provisória e caução
Decorrido 1 ano (ausência própria) ou 3 anos (ausência imprópria), a contar da 
arrecadação, será aberta a sucessão provisória. 
Como nessa fase a proteção ainda é voltada para o ausente, observe o Art. 28: a 
sentença que abre essa sucessão precária só transita em julgado em 6 meses, 
quando, então, concluído o inventário, dar-se-á a partilha. 
34
Os sucessores prestarão caução (garantia) – Art. 30, salvo os descendentes, 
ascendentes e o cônjuge (Art. 30, § 2º).
Questão: se o sucessor não puder caucionar, ainda assim entrará na posse?
Questão: os herdeiros provisórios podem alienar os bens? (Ver Art. 31)
Os sucessores provisórios representam o ausente, ativa e passivamente (Art. 32).
Eventuais demandas contra o ausente refletirão contra os tais sucessores, assim 
como os sucessores provisórios poderão demandar em nome do ausente, enfim, 
eventuais contratos em andamento (fase de execução, cumprimento do contrato) 
serão discutidos pelos sucessores provisórios.
Efeitos da posse provisória (Art. 33)
a)descendentes, ascendentes e cônjuge fazem seus todos os frutos e rendimentos, 
ainda que o ausente reapareça e demonstre ter sido vítima de força maior;
b)demais sucessores devem poupar metade desses frutos e rendimentos, que serão 
devolvidos caso o ausente reapareça e demonstre ter sido vítima de força maior.
Notícia de morte real (Art. 35)
Se durante a posse provisória houver notícia da morte, cessará a sucessão 
provisória, e a sucessão será considerada aberta a contar da data da morte.
Cessa a sucessão provisória (Art. 1.167, CPC)
35
a)reaparição do ausente;
b)com a notícia da certeza da morte;
c)com a abertura da sucessão definitiva (10 anos de sucessão provisória ou 5 anos 
desde o desaparecimento, se o ausente conta já 80 anos).
Levantamento da caução
Com a sucessão definitiva (Art. 37), os sucessores que prestaram caução poderão 
levantá-la.
Reaparição do ausente
Se, após a abertura da sucessão definitiva, reaparecer o ausente, nos 10 anos 
seguintes, receberá os bens na situação em que se encontrar, com direito aos bens 
que tenham ocupado o lugar dos originários (sub-rogados) – Art. 39. 
Diz o mesmo dispositivo, que se eventual herdeiro comparecer no mesmo período, 
também sucederá com base no estado do acervo.
Presunção de morte real
A morte presumida só se dá com a sentença que declara aberta a sucessão 
definitiva (Art. 37), como se vê da parte final do Art. 6º.
Logo, no caso do cônjuge, só será considerado viúvo a partir dessa sucessão 
definitiva.
Ocorre, lembra Gonçalves, que é possível promover o divórcio, após 2 anos de 
separação de fato (Art. 1.580, § 2º), sendo o ausente citado por edital (matéria a 
ser detalhada no direito de família).
Ou seja, o cônjuge pode aguardar a sucessão definitiva, quando a morte presumida 
produzirá o fim da pessoa natural (e as conseqüências jurídicas daí decorrentes), 
ou (para não esperar tanto tempo), poderá promover o divórcio.
36
Uma vantagem visível na promoção do divórcio, além do ganho de tempo, é que 
se o ausente reaparecer, não haverá necessidade em discutir sobre a validade do 
casamento mais recente, que não é tratada por nossa lei.
Questões:
a) a declaração de ausência ocorre em que momento: no início do procedimento 
(quando o juízo tem notícia da ausência), com a abertura da sucessão 
provisória ou com a abertura da sucessão definitiva?
b) a sucessão provisória se abre após 1 ano, a contar de que termo: do 
desaparecimento da pessoa, da conclusão da arrecadação ou do primeiro edital 
publicado?
c) em que momento temos a morte presumida?
d) em que momento o cônjuge será considerado viúvo?
e) em que momento a sucessão definitiva se torna realmente definitiva (para 
Silvio Rodrigues a sucessão definitiva - Art. 37 - é quase definitiva)?
f) para entrar na sucessão provisória é necessário caucionar (dar garantia)?
g) no caso do credor, que habilita seu crédito, precisa caucionar para receber?
37
h) com a notícia da morte real, durante a sucessão provisória, que faz o juiz: 
declara aberta a sucessão definitiva, seguindo o rito da morte presumida com 
declaração de ausência, ou encerra o procedimento especial?
i) à luz do Art. 30, § 2º, o companheiro precisa prestar garantia para entrar na 
sucessão provisória?
EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL
Vimos que a existência jurídica da pessoa natural tem início com a vida. Todo ser 
humano é pessoa natural, e esta personalidade inaugura-se no instante mesmo do 
nascimento. Se respirar uma única vez, a pessoa natural surge e se extingue, mas, 
como se vê, ainda assim houve pessoa natural, cuja personalidade raiou com a 
vida e se apagou com a morte.
Formas de extinção da personalidade
O Art. 6º anuncia que a personalidade finda com a morte (paralisação da atividade 
cerebral, circulatória e respiratória). A morte a tudo põe fim, exceto ao amor e à 
alma, que são eternos. A morte aqui referida é a morte real, que se prova pelo 
atestado de óbito ou pela sentença declaratória de morte presumida, com ou sem 
declaração de ausência.
Em verdade existem duas espécies doutrinárias de morte: a real e a civil. A real 
pode ser: real propriamente (atestado de óbito) ou presumida (sentença). A 
presumida pode ser com ou sem declaração de ausência. Veja os quadrinhos:
- a morte se classifica em:
38
a) real;
b) civil.
-a morte real pode ser:
a) real propriamente (corpo – atestado de óbito);
b) presumida (sem o corpo – ficção jurídica).
-a morte presumida pode ser:
a) com declaração de ausência (Art. 6º, 2ª parte);
b) sem declaração de ausência (novidade do CC/02 – Art. 7º).
Quanto à morte civil, em oposição à morte real, era uma ficção jurídica, criada 
para se referir à pessoa que era aniquilada em todos os seus direitos civis e às 
pessoas que abraçavam a carreira religiosa. Havia na Idade Média, mas não hoje, 
posto que é instituto absolutamente incompatível com o Estado democrático de 
direito.
Comentar hipóteses de morte presumida, sem declaração de ausência (Art. 7º, I e 
II).
No caso de morte presumida com ausência judicialmente declarada, temos que só 
há presunção da morte após 10 anos da abertura da sucessão provisória (Art. 26), 
quando a lei autoriza a sucessão definitiva (Art. 37).
39
Por fim, registre-se que as sentenças que declaram a morte presumida, com ou 
sem declaração de ausência, devem ser inscritas no registro público (Art. 9º, IV).
Morte comoriente (Art. 8º)
A comoriência consiste na ficção legal de que houve o passamento simultâneo de 
pessoas, por não ser possível precisar o momento em que cada uma finou.
Fala-se em comoriência ainda que as mortes não tenham ocorrido no mesmo lugar 
(João em Brasília e Maria em Porto Velho).
Sem base científica, alguns sistemas adotaram outros critérios para resolver a 
questão: a mulher morre primeiro; o mais velho antes dos mais novos; as crianças 
antes dos adultos etc.
Qual a aplicação do instituto da comoriência?
Lembra Gonçalves que o instituto só tem serventia se a dúvida quanto ao 
momento da morte diz respeito a pessoas que têm, entre si, relações jurídicas que 
impliquem em eventual transferência de bens entre os tais. Claro, pois no exato 
instante em que se está lendo este texto, milhares de pessoas estão morrendo, e 
não há a menor necessidade de examinar quem pré-morreu ou pós-morreu a quem.
O instituto ganha importância, portanto, nessas tragédias em que padecem pessoas 
de mesma família e até famílias inteiras: queda de aeronave, desabamento do 
Shopping Osasco, veículo na ribanceira etc
Comentar: exemplificar com a hipótese de marido e mulher comorientes, sem 
descendentes nem ascendentes...
40
Questões para revisão e fixação - debate:
1. Nosso sistema,ao positivar os direitos da personalidade, o fez de forma 
exaustiva (numerus clausus)?
2. A morte, que põe fim à personalidade civil da pessoa natural, extingue os 
direitos da personalidade?
3. Qual o princípio constitucional que opera como principal fundamento jurídico 
dos direitos da personalidade?
4. Se você lesse na coluna social de um jornal a expressão Maria Bonita 
renunciou aos alimentos ao separar-se de José Lampião, que comentário técnico-
jurídico você faria?
5. Defina a expressão estado civil.
6. Quais os elementos de domicílio?
7. José da Paz, militar da ativa do Exército Brasileiro, encontra-se servindo em 
Campo Grande-MS. Maria Beira-Sol, sua esposa, cumpre pena restritiva de 
liberdade no Presídio de Segurança Máxima de Catanduvas-PR. O casal tem 3 
filhos, Aldo, Alba e Elbo: Aldo tem 17, Alba 18 e Elbo 19, embora este último 
41
seja incapaz (está interditado e o Sr José, seu pai, é seu curador). Classifique 
doutrinariamente o domicílio dessas pessoas: José, Maria e seus filhos.
8. Que significa a expressão legal contida no Art. 4º, “maiores de dezesseis”?
9. Quem tem capacidade de direito, tem também capacidade de fato (ou de 
exercício)?
10.Diferencie estado civil individual, familiar e político.
11. Quais os elementos de domicílio? Eles estão presentes no domicílio necessário 
ou legal?
12. Quais as espécies doutrinárias de morte, presentes em nossa sistemática, 
hábeis, portanto, a extinguir a personalidade da pessoa natural?
13. Distinga normas cogentes e normas dispositivas.
42
14. O nome pode ser mudado?
15. O que é analogia?
16. O que é costume? O costume contra legem é favorável (benéfico) ao sistema 
jurídico?
17.Diferencie emancipação legal, voluntária e judicial.
18.Que requisito é comum às diversas modalidades (questão anterior) de 
emancipação?
19. Maria casou-se aos 16 anos, vindo a descasar-se aos 17. Supondo que seu 
casamento tenha produzido efeitos (casamento válido), no período entre o seu 
descasamento e sua maioridade, Maria seria capaz, relativamente incapaz ou 
absolutamente incapaz?
20. A capacidade a que se está referindo a questão anterior é a capacidade de fato 
ou de direito?
43
PESSOAS JURÍDICAS
Idéias introdutórias
As pessoas jurídicas são uma criação humana, artificiais, portanto, por 
conveniência da sociedade (facilitar a consecução de certos fins).
Imitam a pessoa natural, seja no tocante à capacidade, ou ao fato de nascerem (ao 
se constituírem), produzirem (participando do tráfico jurídico) e morrerem (ao se 
extinguirem).
As disposições legais, de ordem geral, estão nos Arts. 40 e s.
Por fim, uma mensagem: o direito existe para as pessoas naturais, e para as 
pessoas jurídicas, por causa das pessoas naturais (observe que a pessoa jurídica, 
portanto, é instrumento).
Conceito (por Gonçalves)
Às vezes chamada de pessoa moral (Suíça e França), pessoas coletivas (Portugal), 
ente de existência ideal (Argentina), mas, aqui, na Alemanha, na Espanha e na 
Itália chamamos pessoa jurídica, que é entidade a que a lei confere personalidade, 
capacitando-a a ser sujeito de direitos e obrigações.
Maria Helena traz este conceito: é a unidade de pessoas naturais ou de 
patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica 
como sujeito de direitos e obrigações.
44
Questão: a personalidade da pessoa jurídica se confunde com a das pessoas 
naturais empreendedoras? (Interpretar o Art. 50, a contrario sensu).
Natureza jurídica
Várias escolas apareceram para explicar o que significa a pessoa jurídica para o 
direito.
Segundo Gonçalves essas escolas podem ser divididas em dois grupos: os que 
trazem a teoria da ficção e os da teoria da realidade.
Teóricos da ficção
A pessoa jurídica é uma ficção jurídica, pois só a pessoa natural pode se arvorar 
em sujeito de uma relação jurídica. Ou seja, a pessoa jurídica não tem existência 
real, mas é mero conceito intelectual.
Essas teorias não têm aceitação hoje e a maior crítica que receberam é que o 
Estado seria uma ficção, e, logo, todo o ordenamento jurídico colocado por ele 
também seria fictício, o direito dito por ele (jurisdição) seria uma ficção.
Teóricos da realidade
São várias as teorias que pertencem a essa escola:
a) da realidade objetiva ou orgânica: é uma realidade sociológica (independe, 
portanto, do poder de criação do Estado);
45
b) da realidade jurídica ou institucionalista: também dá ênfase à origem 
sociológica, acrescentando que têm destinação certa a um serviço ou ofício, e 
por isso adquiriram personalidade;
c) da realidade técnica: aqui estão Colin e Capitant. A personificação é atribuída a 
agremiações às quais a lei reconhece vontade e finalidades. É acusada de ser 
positivista, mas é a que melhor explica o fenômeno em que uma agremiação 
adquire personalidade jurídica distinta da de seus membros. Aqui está ancorada 
a sistemática brasileira (Arts. 45, 51, 54, 61, 69).
Requisitos
Gostamos da organização que Gonçalves dá ao identificar os requisitos. São 
quatro:
a) vontade humana;
b) elaboração do ato constitutivo;
c) registro do ato constitutivo;
d) liceidade do objeto.
Comentando um a um:
a) vontade humana: vontade humana criadora, diz Gonçalves. Esta se materializa 
no ato constitutivo, que deve ser escrito, e reflete a affectio societatis (intenção 
comum);
Há a convergência de duas ou mais vontades, e é exemplo de negócio jurídico 
plurilateral (as vontades não se convergem uma em direção à outra, mas 
convergem para o objeto).
b) elaboração do ato constitutivo: sempre escrito, é exigência legal. Nas 
associações, é o estatuto (Art. 54), nas sociedades, o contrato social (Art. 981), 
e nas fundações, a escritura pública ou testamento (Art. 62). Comprova a 
affectio societatis, a vontade de empreender conjuntamente;
46
c) registro do ato constitutivo: perante o órgão competente (veremos caso a caso);
d) liceidade do objeto: seja no modelo criado para a especulação econômica, seja 
no modelo criado para a promoção social, importa que seja lícito o objetivo; 
A pessoa jurídica não pode funcionar como uma máscara para a atividade 
fraudulenta de pessoas naturais. É um organismo criado para o bem.
Objetivos ilícitos levam à dissolução compulsória da pessoa jurídica (Arts. 51 e 
69).
Na verdade a ação estatal, criadora desses entes, age de duas formas: ora 
preventiva ora repressivamente. 
Preventivamente: impede que se forme com objeto ilícito (Art. 46, I, Art. 54, I e 
Art. 62, caput e parágrafo único – os fins).
Repressivamente: dissolução compulsória (Arts. 51 e 69).
Início da personalidade
Tem início a personalidade com a existência legal (antes é mera sociedade de fato, 
marginal), que se dá com o registro no órgão competente (Art. 45).
A pessoa natural adquire personalidade com o nascimento (não com o registro), 
mas a pessoa jurídica, esse ente abstrato, fruto do engenho humano, adquire 
personalidade com o registro (este é o seu nascimento). Se é pública surge com 
uma norma.
Capacidade jurídica X capacidade de exercício X pessoa jurídica
47
Embora haja alguma confusão na doutrina1, a pessoa jurídica possui uma única 
capacidade, a jurídica (ou de direito, ou de aquisição). Jamais possuirá capacidade 
plena, pois não é hábil a conjugar a capacidade jurídica à capacidade de exercício 
(ou de fato). Age sempre representada pelo órgão indicado no ato constitutivo 
(diretoria, assembléia geral, conselho deliberativo).
Maria Helena explica que ao se referir à representação, não dizer que seja pela 
pessoa natural, mas pelo órgão da pessoa jurídica (naturalmente esse órgão é 
formado por pessoas naturais).
Questão: a capacidade jurídica (ou de aquisição) é ilimitadana pessoa natural. E 
para a pessoa jurídica? (Venosa abona nossa resposta).
Questão: essa capacidade está voltada unicamente para a questão patrimonial?
Classificação da pessoa jurídica
1) quanto à nacionalidade:
a) nacional;
b) estrangeira (mais limitada que a nacional – princípio da soberania, Art. 170, I, 
CF – autorização do poder executivo).
1 Gonçalves, com base em Pontes de Miranda (“o pai de todos”), e Venosa. Entendem que a representação dos 
incapazes difere ontologicamente (estruturalmente) da representação das pessoas jurídicas, onde não seria exatamente 
uma representação, mas “presentação” apenas. Venosa ilustra: o diretor manifesta a vontade da assembléia geral, que 
pode não coincidir com a sua vontade própria. Pergunto, porém: quando eu represento o incapaz, não estou, também, 
sendo “a voz dele em minha boca”? Em tese, eu não estou exprimindo a vontade do incapaz? Logo, entendo que a 
pessoa jurídica seria representada, sim, por não possuir capacidade de exercício (ou de fato).
48
2) quanto à estrutura interna:
a) corporação;
b) fundação.
A corporação reúne pessoas. Há o patrimônio inerente à consecução de seus 
objetivos, mas o conteúdo está na união das pessoas, na união de suas forças e 
potencialidades.
As corporações, por sua vez, subdividem-se em: a1) sociedades e a2) associações.
As sociedades, por sua vez, subdividem-se em: a2.1) simples e a2.2) empresárias.
Essas sociedades eram classificadas, no sistema anterior, em civis (hoje simples) e 
comerciais (hoje empresárias).
A fundação reúne patrimônio, este é o seu conteúdo. Idealizado por uma pessoa, 
inter vivos (por escritura pública) ou causa mortis (por testamento), onde esse 
patrimônio é destinado a uma finalidade social, sem lucro.
3) quanto à função:
a) de direito público;
b) de direito privado.
As de direito público podem ser de: a1) direito público interno – Art. 41 ou a2) de 
direito público externo – países estrangeiros, organismos internacionais (ONU, 
OEA, MERCOSUL, UNESCO) Santa Sé etc (Art. 42).
Como explica Gonçalves, as pessoas jurídicas de direito privado são as 
corporações (associações ou sociedades) e as fundações.
Questão: de que natureza são as agências reguladoras? 
Outra: e as fundações públicas?
49
Outra: partidos políticos, sindicatos e organizações religiosas?
Pessoas jurídicas de direito privado – as diversas estruturas
a) associações;
b) sociedades;
c) fundações.
Não aprofundaremos as organizações religiosas, nem os partidos políticos. 
Os partidos políticos possuem legislação específica, na seara do direito eleitoral 
(público). São entidades de direito privado, que recebem apenas subsidiariamente 
a aplicação da lei civil (Art. 44, § 3º).
Quanto às organizações religiosas, são formadas livremente (Art. 44, § 1º), em 
atenção ao direito constitucional de liberdade de culto (Art. 5º, inc. VI). Assim 
como os partidos políticos, são associações especiais.
Comentários às espécies
a) associações;
Pessoas que se reúnem, para fins não lucrativos (fins não econômicos, diz a lei – 
Art. 53). 
O parágrafo único do Art. 53 diz: não há, entre os associados, direitos e 
obrigações recíprocos.
Essas agremiações têm finalidade altruística, científica, cultural, beneficente 
(promoção social), religiosa, educativa, política, esportiva e culturais.
Não visam lucro, traço distintivo das sociedades (finalidade econômica).
Sob pena de nulidade, o estatuto deverá conter os requisitos mínimos do Art. 54.
A exclusão de associado só é admissível em havendo justa causa, assegurado o 
direito à ampla defesa (Art. 57).
50
Por outro lado, querendo demitir-se, é livre o associado, por garantia 
constitucional (ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer 
associado - Art. 5º, inc. XX).
Têm existência legal a partir do registro no Cartório de Registro Civil das Pessoas 
Jurídicas (Arts. 114 e s, LRP).
Comentar o Art. 114, II, LRP: sociedades civis, religiosas...
O registro serve de prova e é elemento constitutivo, proporcionando personalidade 
jurídica à pessoa jurídica.
Questão: essa personalidade limita-se ao campo patrimonial?
A associação pode sofrer dissolução (fim de sua personalidade, como a morte para 
a pessoa natural):
- voluntariamente, por deliberação de seus membros;
- compulsoriamente, por haver se tornado inconveniente ou nociva para a 
sociedade (por ato do poder público), como se verá mais avante.
RT, 786/163: traz caso de dissolução compulsória de agremiação formada por 
torcedores. Finalidade da agremiação: incentivar o time. Prática: incentivava a 
violência, difundindo o pânico e o terror.
Questão: com a dissolução, qual o destino do patrimônio? (ver Art. 61).
b) sociedades;
É matéria típica da disciplina Direito Empresarial. Portanto, apenas lampejos por 
agora...
Havendo sido revogada a Parte Geral do Código Comercial, toda sociedade passa 
a ser classificada como civil. A sociedade que chamávamos comercial é agora a 
empresária, e a que chamávamos civil é agora a simples.
51
Traço essencial de distinção das associações é que a busca do lucro está nas 
sociedades.
Por meio do contrato social (Art. 981), os sócios se obrigam reciprocamente, 
contribuindo com bens e serviços e rateando, entre si, os resultados.
As sociedades simples são formadas por pessoas que atuam numa mesma área 
técnica: medicina, advocacia, odontologia, engenharia, professores.
As sociedades empresárias desempenham atividade própria de empresa, e 
assumem as categorias de sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita 
simples, sociedade em comandita por ações, sociedade limitada, sociedade 
anônima ou por ações.
Exemplo de sociedade empresária: as grandes construtoras.
c) fundações;
Não reúnem pessoas, mas bens (patrimônio), que são aplicados, sem finalidade 
lucrativa, a uma finalidade essencialmente social, por vontade de seu instituidor.
Essa finalidade social seria dentre as indicadas no parágrafo único do Art. 62: 
religiosa, moral, cultural ou de assistência.
Decorre de ato inter vivos ou causa mortis, ou seja, por escritura pública ou por 
testamento, respectivamente (Art. 62).
Adiante-se que a fundação pode ser pública ou privada. Esta última é regida pelo 
Código Civil. A pública, pelo direito administrativo (direito público), onde estão 
as normas específicas. Logo, não são estudadas aqui (pessoas de direito privado).
Formação da fundação
Segundo lição de Gonçalves, a fundação (sem adjetivo, entenda-se de direito 
privado) forma-se em 4 fases:
1ª fase: ato de dotação ou de instituição (Art. 62);
Questão: se bens deixados em testamento, para certa finalidade, não forem 
suficientes para dotarem o patrimônio da fundação desejada pelo falecido?
52
2ª fase: elaboração do estatuto (Art. 65);
Questão: se o estatuto não for elaborado pelo próprio instituidor nem por pessoa 
por ele designada, o MP poderá fazê-lo?
3ª fase: aprovação do estatuto: pelo MP estadual da localidade (autoridade 
competente – Art. 65, parte final).
Papel do MP: verificar se a ordem pública está sendo respeitada (liceidade do 
objeto – Art. 115 da LRP), assim como a vontade do instituidor e a quantidade de 
bens (se é suficiente). 
O MP poderá indicar modificações ou denegar aprovação. Se interessados 
eventualmente discordarem, poderão acionar o juiz (Art. 65, parte final).
Se é o MP quem elabora o estatuto, a aprovação ficará por conta do juiz (CPC, 
Art. 1.202).
No CPC, Arts. 1.199 e s. temos: da organização e da fiscalização das fundações.
4ª fase: registro (LRP, Art. 114, I). Faz-se no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
Questões:
-quem fiscaliza as fundações?
-se estiverem em território federal?
-se a atividade da fundação se estender a mais de um estado-membro da 
federação?Corporação X fundação
- A grande diferença, portanto, está em que uma reúne pessoas, a outra, 
patrimônio.
- As corporações surgiram em Roma, as fundações na Idade Média.
53
- As corporações podem visar ao lucro (sociedades) ou não (associações). A 
fundação não visa ao lucro.
- As corporações são voltadas para o seu interior, ou seja, os esforços conjugados 
buscam atender, em plano imediato, os interesses de seus agremiados. As 
fundações têm objetivos externos. Voltadas para fora, em atenção à vontade de 
quem as instituiu.
- As corporações nascem de contrato social (sociedades simples e sociedades 
empresárias) ou do estatuto (associações), enquanto as fundações surgem de 
escritura pública ou testamento.
- As corporações são negócios jurídicos plurilaterais, enquanto as fundações são 
unilaterais.
− As corporações surgem inter vivos, mas as fundações nascem inter vivos ou 
causa mortis.
−
Sociedade de fato
Sociedade de fato ou sociedade irregular é aquela que, tendo existência fática, 
inexiste para o direito (é fato extrajurídico), por não haver se constituído por meio 
do registro competente.
A personalidade jurídica da pessoa jurídica surge com o registro, logo...
Com o registro, surge a personalidade, o que resulta em distinção patrimonial 
pessoa natural/pessoa jurídica, e assim, autonomamente, a pessoa jurídica se torna 
sujeito de direitos e obrigações na órbita civil.
A sociedade irregular, ao revés, não tem esse perfil, por faltar-lhe a personalidade.
54
Questão (com base em Caio Mário): se uma sociedade de fato se regulariza 
perante a lei, a personalidade que adquire é fenômeno retroativo ao momento do 
início de suas atividades?
Art. 990: os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.
O que se observa dos Arts. 998 e 990 é que a lei atribui pesos diversos à 
responsabilidade dos sócios na sociedade irregular:
- responsabilidade subsidiária aos sócios em geral;
- responsabilidade direta ao que contratar, representando a sociedade de fato.
Questões:
-que significa responsabilidade subsidiária?
-que significa responsabilidade direta?
Confundem-se, na verdade, os patrimônios, de forma que eventuais credores 
alcançam ambos os patrimônios como se fora um só.
Como ao Estado não interessa a sociedade irregular (insegurança jurídica, prejuízo 
fiscal), apresenta normas que sancionam o seu funcionamento. Ex.: os sócios, 
entre si e com terceiros, só podem provar a existência da sociedade por escrito, 
mas terceiros (credores, por exemplo) podem provar por qualquer meio lícito (Art. 
987).
Questões:
− pode ser demandada em juízo?
-pode demandar em juízo?
55
-se possível, quem a representaria, já que não há ato constitutivo indicando quem a 
representa?
-na hipótese de demandar em juízo, o demandado poderia alegar a irregularidade 
dessa sociedade para se furtar ao cumprimento da obrigação (lembrar do princípio 
que veda o enriquecimento ilícito)?
-pode contratar a compra e venda de um imóvel, registrando a escritura exigida 
por lei?
Ademais, em disciplina autônoma essas sociedades serão estudadas com mais 
vagar (direito de empresa). Aqui, apenas a teoria introdutória (ufa!).
Domicílio da pessoa jurídica
Qual o domicílio da pessoa jurídica em geral?
Qual o domicílio da pessoa jurídica de direito público interno, como, por exemplo, 
o Município de Campo Grande ou o Estado de Mato Grosso do Sul?
Entes despersonalizados
Há situações em que se tem reunião de pessoas e/ou de bens, sem haver affectio 
societatis, mas esta reunião, que não resultou da vontade, se deu em razão de um 
ato ou de um fenômeno jurídico.
Nesse caso, não temos pessoa jurídica (personalidade), nem mesmo de fato 
(despersonalizada), mas entes aos quais chamamos despersonalizados (sem serem 
sociedades de fato).
56
Os tais entes despersonalizados, ou entes com personificação anômala (como 
prefere Venosa), têm, por força de lei, capacidade para demandar e sofrer 
demandas.
São eles:
a) massa falida;
b) herança jacente;
c) herança vacante;
d) condomínio;
e) espólio.
Embora Gonçalves cite a família, entendemos que não seria o caso, pois neste 
grupo social, base da sociedade, cada membro, em per si, age enquanto sujeito de 
direitos e obrigações, não sendo o caso de agirem conjuntamente (Venosa, 
Orlando Gomes).
Na lição de Gonçalves, a sociedade de fato está listada entre os entes 
despersonalizados. 
Embora seja um ente despersonalizado, por não existir para o direito, entendemos 
que não deve ser contada nessa classificação, pois aqui estão aqueles entes que 
existem, sim, para o direito, mas para os quais não existiu a affectio societatis. 
Origem 
A agremiação surge de um ato ou fenômeno jurídico:
a) de uma sentença, no caso da herança vacante, da massa falida; no caso do 
condomínio, o contrato de aquisição conjunta de um bem, gera o ente coletivo 
despersonalizado;
b) de um fenômeno jurídico (abertura da sucessão), no caso da herança jacente e 
do espólio.
Em todos esses casos há um ponto em comum: os entes despersonalizados não 
resultaram da vontade das pessoas que o formam, mas essas pessoas estão ligadas 
por um objetivo em comum. Vejamos:
57
Os herdeiros, no espólio, formam um condomínio que não desejaram formar – 
Art. 1.791 (não há affectio societatis), mas há um interesse comum a todos eles: a 
herança.
Outro exemplo: também os credores da massa falida (olhando do ângulo dos 
credores); e a reunião de bens (do ângulo da massa falida).
Desconsideração da pessoa jurídica
Palavras introdutórias
Como visto, exceto na sociedade irregular ou de fato, a pessoa jurídica tem 
personalidade distinta da de seus membros, o que distingue, portanto, os 
patrimônios daquela e destes.
Esse fenômeno jurídico, que foi idealizado para a segurança jurídica dos 
membros, que estariam imunes aos imprevistos que acometessem a pessoa 
jurídica, é, todavia, por vezes, um instrumento para fraudar credores, cometer 
ilícitos.
Nas palavras de Gonçalves, a pessoa jurídica é utilizada como uma “capa” ou 
“véu” para proteger negócios escusos.
Conceito
Consiste no afastamento temporário da personalidade da pessoa jurídica, 
eliminando a distinção patrimonial entre a pessoa jurídica e seus membros, com 
vistas a alcançar o patrimônio destes (bens particulares dos sócios).
Origem
Direito anglo-americano, onde recebeu o nome de disregard doctrine. Também 
França, Itália e Alemanha. No Brasil, o precursor dessa teoria é Rubens Requião, 
ainda nos anos 60.
A jurisprudência deu lastro prático à teoria, pois não havia legislação. A primeira 
norma a disciplinar o instituto foi o CDC (Lei nº 8.078/90), Art. 28.
58
Também a Lei nº 9.605/98 (meio ambiente) traz positivado o instituto, prevendo a 
desconsideração da pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo 
ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente (Art. 4º).
No CC é o Art. 50, pela primeira vez, a rechaçar o uso indevido da pessoa 
jurídica.
Aplicação
Será aplicável sempre que houver fraude e má-fé, provocando prejuízo de 
terceiros. 
A lei (Art. 50) diz: abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de 
finalidade, ou pela confusão patrimonial.
Para a doutrina de Marlon Tomazette, citada por Gonçalves, a confusão 
patrimonial seria o indício suficiente do abuso da pessoa jurídica.
Hipóteses de confusão patrimonial (indícios de expedientes fraudulentos, 
abusivos)
Pela contabilidade ou pelo movimento bancário constata-se que a sociedade paga 
dívidas dos sócios, ou os sócios recebem créditos que pertencem à pessoa jurídica, 
ou, ainda, a pessoa jurídica recebe créditodos sócios.
Outra hipótese: bens da sociedade em nome dos sócios e vice-versa.
Assim, num processo de execução em que o credor não encontra bens, estando 
presente a promiscuidade patrimonial (indício de abuso), nos próprios autos a 
parte requer ao juiz que desconsidere a pessoa jurídica, requerendo a penhora 
direta dos bens do sócio ou dos bens da sociedade.
Legitimação para requerer
Pessoa interessada (interesse jurídico) ou o MP (apenas quando lhe couber 
intervir) – Art. 50.
Desconsideração X despersonalização
59
Questões:
A desconsideração acarreta a dissolução da pessoa jurídica?
A lei tem preferência pela desconsideração ou pela despersonalização, 
considerando os princípios da função social da lei e da conservação dos negócios 
jurídicos?
Questão: desconsideração inversa, o que é? É admitida em nossa sistemática?
Caracteriza a desconsideração inversa quando ocorre o afastamento da 
personalidade da pessoa jurídica para alcançar esta (a pessoa jurídica), que será 
responsabilizada pela obrigação do sócio (pessoa natural).
É hipótese excepcional (normalmente ocorre o contrário: afastar a personalidade 
para alcançar a pessoa natural), mas admitida em nossa sistemática (afastar a 
personalidade para alcançar a pessoa jurídica). 
Exemplo trazido por Gonçalves: cônjuge, pressentindo o fim da sociedade 
conjugal, registra bens em nome da pessoa jurídica sob seu controle, com vistas a 
desviar esse bem da futura partilha.
Só com o afastamento da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, portanto, será 
possível alcançá-la, para responsabilizá-la.
Questionário de revisão e fixação
1. Gonçalves lista 4 requisitos para a existência da pessoa jurídica. Quais são?
60
2. A Associação Bebê Feliz, formada por médicos, foi instituída com a finalidade 
de amparar mulheres grávidas, pobres, com vistas, especialmente, à proteção do 
nascituro. Em investigação recente, ficou provado que a referida Associação não 
faz outra coisa senão praticar o aborto em mulheres pobres. Você, como operador 
do direito, sugere a desconsideração ou a despersonalização da Associação Bebê 
Feliz?
3. Se inicialmente essa Associação tivesse existência apenas de fato, vindo a 
regularizar-se em janeiro de 2003, a aquisição de personalidade jurídica seria 
retroativa ao momento do início de sua existência fática?
4. Qual o domicílio da Associação Bebê Feliz?
5. A Associação Bebê Feliz tem direito da personalidade?
6. Nosso sistema admite o instituto denominado desconsideração inversa?
Responsabilidade civil das pessoas jurídicas
Palavras introdutórias
61
É matéria que tem sede própria dentro do nosso curso (direito das obrigações), e, 
naturalmente, essa sede não se encontra no Direito Civil I. Todavia, eis aqui 
algumas linhas, à guisa de iniciação teórica.
O que é responsabilidade civil?
O termo responsabilidade vem do verbo latino respondere, no sentido de alguém 
ser garantidor, diz Maria Helena.
A mesma autora conceitua:
É a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou 
patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por 
pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples 
imposição legal.
Tentando simplificar:
É o fenômeno jurídico que obriga o causador do dano a repará-lo.
Chama-se responsabilidade civil, por existirem outras modalidades de 
responsabilidade: penal e administrativa.
(Breves comentários distintivos)
Pressupostos
Ainda com base em Maria Helena, são pressupostos da responsabilidade civil:
a) ação ou omissão;
b) culpa (dolo + culpa strictu sensu);
c) dano (moral ou patrimonial);
62
d) nexo causal (entre ação e dano).
(Breves comentários aos pressupostos)
Espécies
A responsabilidade civil pode ser:
a) contratual;
b) extracontratual.
A primeira resulta de descumprimento de obrigação (Art. 389), de natureza 
patrimonial, caso em que a responsabilidade da pessoa jurídica se equipara à da 
pessoa natural, seja a pessoa jurídica de direito público ou privado.
Ex: obriga-se a construir um imóvel.
A responsabilidade extracontratual é a que resulta da prática de um ato ilícito ou 
por abuso de direito (Arts. 186 e 187, combinados com Art. 927). No caso de 
pessoa jurídica, vale lembrar, ainda, os Arts. 932, III e 933.
Essas normas dos Arts. 186 e 187 trazem o dever genérico de não lesar outrem; 
obrigação de não lesar. Se há lesão (ilícito, fonte de obrigação), surge a obrigação 
(de reparar o dano), conforme Arts. 927, 932, III e 933 (referindo-se 
especialmente à pessoa jurídica).
Essa responsabilidade civil extracontratual (aquiliana), em regra exige o elemento 
culpa. Se é necessária a prova da culpabilidade, estamos diante da 
responsabilidade chamada subjetiva (teoria clássica).
63
Há, porém, hipóteses legalmente previstas, em que se dispensa a demonstração da 
culpa, bastando a ação ou omissão, o dano e o nexo causal (entre ação e lesão). 
Daí estamos diante da chamada responsabilidade civil objetiva.
Em se tratando de pessoa jurídica, a responsabilidade extracontratual será sempre 
objetiva (Gonçalves).
Lecionam o oposto: Silvio Rodrigues e Maria Helena, para os quais é necessário 
diferenciar. A responsabilidade seria objetiva apenas para as sociedades 
(finalidade econômica).
Responsabilidade da pessoa jurídica de direito público
Como já dito, é objetiva a responsabilidade civil extracontratual da pessoa 
jurídica.
Ressalte-se, todavia, que o fundamento legal, no caso da pessoa jurídica de direito 
público, é o Art. 43, que, por sua vez, tem por base o § 6º do Art. 37 da CF.
Questão:
A Administração Pública responde ainda que seu agente aja com dolo ou culpa? 
Ilustrando a questão: João, motorista da ambulância municipal, costuma, em 
situações desautorizadas, atravessar semáforos fechados e a fazer outras manobras 
arriscadas. Caso venha a atropelar um pedestre, será a Prefeitura responsabilizada?
Ressalte-se, também, que em se tratando de pessoa jurídica de direito público, a 
regra é a responsabilização objetiva, apenas nas lesões causadas por ação. Em se 
tratando de omissão, há divergências, cujo debate não cabe aqui.
64
Para Gonçalves, a responsabilidade seria sempre objetiva, mesmo ante lesão por 
omissão. Nesse sentido há decisões do STF.
Bandeira de Mello acena para a responsabilidade estatal na modalidade subjetiva, 
se a lesão decorre de omissão.
Exemplos de omissão: criança ferida no intervalo das aulas, em escola pública; 
veículo furtado nas redondezas de uma feira livre. 
 
No caso de erro judiciário (prisão ilegal, por exemplo), o Estado responde 
objetivamente.
Extinção da pessoa jurídica
A pessoa jurídica, tal qual a natural, nasce (com o ato constitutivo), se desenvolve 
(participa do mundo jurídico) e morre (com a sua dissolução).
Assim, com o registro do ato constitutivo, tem início a personalidade da pessoa 
jurídica (Art. 45).
E o fim, como se dá?
A pessoa jurídica pode sofrer dissolução:
- voluntariamente, por deliberação de seus membros;
- compulsoriamente, por haver se tornado inconveniente ou nociva para a 
sociedade (por ato do poder público).
A extinção voluntária da personalidade da pessoa jurídica é chamada de 
convencional. Ou seja, a vontade humana, criadora da pessoa jurídica, também é 
hábil a extingüi-la.
No caso da sociedade, o Art. 1.033 prevê várias hipóteses. 
No caso da associação, por deliberação, na forma de seu estatuto.
65
Se a pessoa jurídica é uma fundação, e esta foi instituída por prazo determinado, 
com o termo final se extinguirá a fundação.
A extinção compulsória, por sua vez, apresenta as seguintes modalidades 
doutrinárias:
a) legal;
b) administrativa;
c) judicial.
A extinção diz-se legal quando decorre

Continue navegando