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Texto_futebol

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O futebol é, por si, uma fábrica de 
expressões (ou poderíamos dizer, uma 
fonte de bordões) riquíssima. O esporte fez 
com a linguagem o que o tempo fez com o 
esporte. De um jogo elitizado entre 
cavalheiros, passou a um esporte de rua, 
admirado e praticado por todos os garotos, 
garotas, senhores, senhoras, cavalheiros 
(alguns nem tanto) em praticamente todo o 
mundo. A linguagem, antes “engessada” e 
“rebuscada”, tornou-se informal, divertida, 
rica, expressiva; talvez seja esse o segredo 
de seu sucesso. 
 
 Na desleixada e rica fonte do 
futebol, talvez ninguém supere uma figura: 
o locutor esportivo Silvio Luiz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Este ícone do esporte brasileiro 
daria, se já não aconteceu, um incrível 
dicionário de expressões que acabam 
sendo mais divertidas que o jogo de 
futebol em si. 
 Imagine se você fosse um 
português desavisado, e viesse ao Brasil 
para assistir uma partida narrada por Silvio 
Luiz: “O juiz apita e rrrrrrrroooooooola o 
melão!” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Não seria de estranhar se você 
procurasse no “relvado” uma fruta 
amarelinha sendo chutada (por mais 
estranho que isso possa parecer aos 
ouvidos desavisados). Bem, depois de 
perceber que os jogadores estão utilizando 
uma bola mesmo (sabe-se lá por que tem o 
nome de melão), o “avançado” vai em 
direção ao guarda-redes e o locutor grita: 
“No paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaau”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Caramba, já saiu briga? Não, é mais 
uma pérola futebolística: quer dizer que a 
bola bateu no travessão (aquela trave 
grande apoiada em duas traves menores – 
não custa explicar). 
 
 Agora é a outra “equipa” que ataca. 
O craque chuta e “na gaveta!” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Foi foi foi foi foi foi ele! Confira 
comigo no replay!” Neste ponto você deve 
pensar: pobre locutor, é gago. E que 
maneira estranha de fazer um “golo”, onde 
está a gaveta? 
 
 Bem, novamente você precisaria de 
um auxílio para descobrir que gol é assim 
mesmo, sem “o” no final, e que gaveta é 
aquele cantinho alto, onde nenhum goleiro 
(isso mesmo, goleiro) consegue chegar 
antes da bola. 
 
 O juiz apita, recomeça a partida, 
ataque rápido e “pelo amor dos meus 
filhinhos!” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Que que eu vou falar lá em casa? 
Esse até minha avó fazia! Vai chutar coco 
na ilha!” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Agora o locutor passou dos limites. 
Ao invés de narrar o jogo, está brigando 
com alguém, e esqueceu-se de desligar o 
microfone. Não caro amigo, não é uma 
briga, é a narração dele mesmo. 
 
 
 Seu time (não era equipa?) 
preferido consegue atacar, domina o 
adversário próximo à grande área e “é 
peeeeeeenalty!” O craque do time vai 
cobrar; “olho no lance!” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Foi foi foi foi foi foi ele!” Agora 
você tem certeza: o pobre locutor é gago. 
 
 “Onde dorme a coruja!” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Isso já está passando dos limites: no 
outro gol tinha uma gaveta, e neste 
dormem corujas? 
 É melhor pedir auxílio novamente; 
vai descobrir que ali não dorme coruja 
alguma (é apenas o outro cantinho alto, 
igual aquele que o “guarda-redes” não 
consegue chegar). 
 
 O jogo está no final. De repente, 
acontece algo que você não conseguiu ver 
bem o que foi e “pelas barbas do profeta!”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Não fique esperando algum 
velhinho barbudo, enrolado em um lençol, 
dizendo que chegou o fim do mundo 
aparecer. É outra expressão daquele gago 
que está narrando o jogo. 
 
 O juiz pede a bola e... fim de jogo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Futebol no Brasil é assim: além dos 
jogadores e da própria bola, utiliza-se 
melões, paus, gavetas, filhinhos, cocos, 
ilhas, olhos, corujas, profetas, gagos. Por 
isso nossa linguagem é tão rica e nosso 
futebol tão famoso; mas é preciso cuidar 
dos ouvidos, principalmente dos 
desavisados. Aliás, o futebol não utiliza 
juiz, e sim árbitros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anderson M. dos Santos R.A. 2459 
Cristian M. Rodrigues R.A. 1806 
Emilyn M. dos Santos R.A. 2457 
Magno C. Cunha R.A. 1796 
 
2ºADM A-N (2011)

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