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3 Sistema de Ensino Presencial Conectado ADMINISTRAÇÃO ELIANE ROSA ANÁLISE DE CASO: HIDRELÉTRICA RIACHO DOCE RESPONSABILIDADE SOCIAL, AMBIENTAL, GESTÃO DE PESSOAS E DIREITO EMPRESARIAL E DO TRABALHO Hidrolândia, Goiás 2017 ELIANE ROSA ANÁLISE DE CASO: HIDRELÉTRICA RIACHO DOCE RESPONSABILIDADE SOCIAL, AMBIENTAL, GESTÃO DE PESSOAS E DIREITO EMPRESARIAL E DO TRABALHO Trabalho de Administração apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como atividade interdisciplinar das disciplinas de Responsabilidae Social e Ambiental; Gestão de Pessoas; Direito Empresarial e do Trabalho; Seminário Interdisciplinar IV. Orientadora: Sílvia Faria Turquno Prof. Elias Barreiros, Indiara Beltrame Brancher, Janaína Carla Vargas, Emília Yoko Okayama, Natália Branco Lopes, Aleksander Roncon, Nicole Cerci Mostagi, Ewerton Taveira Cangussu, Elizete Alice Zampronio, Eduardo Faria Nogueira. Hidrolândia, Goiás 2017 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 3 2 DESENVOLVIMENTO 4 2.1 EMPRESA “FOZ DO RIACHO DOCE” 4 2.2 HISTÓRIA 4 2.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL 4 2.4 TECNOLOGIA VERDE E SUA RELAÇÃO COM A RIACHO DOCE 6 2.5 GESTÃO DE PESSOAS: PESQUISA DE CLIMA ORGANIZACIONAL 8 2.6 DIREITO EMPRESARIAL E DO TRABALHO: DIGNIDADE E PROGRESSO 9 2.7 ORDEM ECONÔMICA E DEFESA DO MEIO-AMBIENTE: 10 3 CONCLUSÃO ................................................................................................ 13 REFERÊNCIAS 15 INTRODUÇÃO A agenda ambiental tornou-se um dos grandes assuntos da década. As críticas ao modelo de desenvolvimento e o impacto causado no meio-ambiente, dessa vez pautadas em dados científicos e melhor estudo das condições e motivos pelos quais a humanidade tem deteriorado tanto seu espaço, são cada vez mais fortes e tem tido maior absorção, entendimento e aceitação na população – muito em parte pelo desenvolvimento de mídias mais baratas e acessíveis, como a internet. Já não é tão incomum assim ouvir termos como “sustentabilidade”, “coleta seletiva”, “veganismo”, “efeito estufa”, “Usina de Belo Monte”, entre outros jargões modernos. A própria engenharia possui um campo específico para o estudo ambiental. Ou seja, mesmo que lentamente, existe um consenso de que determinadas construções sociais e culturais acerca do meio-ambiente e recursos naturais estão mudando – gerando um efeito cascata em todas as áreas do conhecimento, como direito, contabilidade, medicina e recursos humanos. Evidente que é um processo lento e gradual, em que pesam muitos componentes, como tecnologia, acesso aos recursos e à educação. Entretanto, é inegável que, graças ao crescimento industrial de países emergentes como os do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de outros como México, Argentina, Indonésia, houvesse uma nova carga e uma nova discussão acerca da ocupação do espaço e utilização de recursos. O mundo desenvolvido já enfrenta escassez em muitas áreas, especialmente na agricultura e mineração, recorrendo à esses emergentes e aos subdesenvolvidos, na lógica econômica de demanda e produção. Por consequência, a necessidade energética é alta e fontes renováveis de baixo impacto socioambiental tem tido investimento cada vez maior. Porém, o que determina esse baixo impacto? É necessário reavaliar a geração de energia. E é exatamente aí em que a discussão sobre o meio-ambiente encontra seu fronte de batalha: nas novas frentes de desenvolvimento. Cabe agora à sociedade elevar essa discussão, de forma simplificada porém concisa, aos influenciados diretamente por essa mudança de realidade. O foco da presente análise de caso é exatamente esse: diante da ótica da responsabilidade social-ambiental, da gestão de pessoas, direito empresarial e do trabalho, vinculada à realidade, trazer à tona conceitos e práticas multidisciplinares, que possam ser estruturados em torno do estudo de caso da “Usina Hidrelétrica do Riacho Doce”. DESENVOLVIMENTO EMPRESA “FOZ DO RIACHO DOCE” Detentora da concessão da Usina Hidrelétrica Foz do Riacho Doce, administra, opera e foi a empresa construtora da barragem situada entre os municípios de Águas de Purificação e Lótus, passando por todas as etapas requeridas em lei. HISTÓRIA Última unidade geradora de energia entra em operação em 2011, cerca de 5 anos após a instalação do canteiro de obras. A empresa vencedora do leilão (realizado em 2001), a atual concessionária, obteve regularmente todas as licenças e relatórios necessários para a obra, entre 2002 e 2006. Considerada uma barragem de grande porte, com cerca de 600m de extensão e 50m de altura, Riacho Doce possui potência instalada de 855 megawatts (MW) - a título de comparação, Itaipu possui 14000 MW. Cerca de 13 municípios e 3 mil famílias foram afetadas pelo aumento do nível das águas, porém, o número é contestado por uma entidade social. RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL Recursos naturais são cada vez mais escassos e caros. Como consequência, as novas gerações deverão saber administrar melhor e economizar tais recursos, bem como desenvolver de forma permanente hábitos condizentes com a recuperação do meio-ambiente. Daí a necessidade de legislação rígida e fiscalização em obras da natureza de uma hidrelétrica: o impacto costuma ser imenso. Apesar de todos os estudos feitos previamente à construção de Riacho Doce, o número de pessoas afetadas e possivelmente o impacto na flora e fauna foi subestimado. Essa é a premissa do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). O MAB argumenta que mais famílias foram afetadas economicamente em seus regimes de economia familiar baseada na pesca, já que houve redução na área navegável e na quantidade de peixes (piracema) – o que pode representar a verdade e pode ser comprovado após rápido estudo qualitativo com a população local – auferindo sua renda e deslocamentos migratórios. Tais movimentos sociais, muito comuns em situações de grande impacto, apesar de possuírem credibilidade pertinente em suas reinvindicações, tendem a radicalizar e dificultar (ou mesmo impedir) o diálogo quando confrontadas, utilizando o poder midiático a seu favor, o que tende a colocar a empresa em uma posição de “vilã” e “destruidora do meio ambiente”. É uma situação que foge do controle rapidamente. É necessário que a empresa mantenha uma postura aberta, transparente e dinâmica com o MAB (e vice-versa), de forma que as atividades da mesma encontrem um contra-ponto às atividades e necessidades dos ribeirinhos. No caso em voga, o fato gerador da reinvindicação (construção da barragem) não pode ser desfeito, restando às partes encontrar formas de incrementar a renda dos ribeirinhos e minimizar os impactos ambientais sem afetar (ou inviabilizar) a atividade da empresa. De forma imediata é necessário findar as pendências judiciais que existam com as 600 famílias ribeirinhas, encontrando forma pacífica, mesmo que financeiramente prejudicial. Além disso, criar um conselho que contenha membros da empresa, da comunidade geral, do MAB e de órgãos públicos como IBAMA e Ministério Público, que seja reunido esporadicamente com pautas eficazes e proativas. Sugere-se também que a empresa invista em infraestrutura, tecnologia e ecoturismo na região do lago formado, auxiliando e treinando a comunidade local, participando de empreendimentos básicos e menores como estradas, transporte, restaurantes, redes de internet e telefonia, hotéis, pousadas, postos, píeres e afins, deslocando o eixo econômico de subsistência familiar existente (e decadente) para o do turismo, criando milhares de empregos não-sazonais. Ao mesmo tempo, pode criar programas de preservação de identidade cultural, patrocinando fotógrafos, cinegrafistas, escritores e pesquisadores. Por fim, aumentar a parceria com o Ministério de Pesca e Agricultura, FUNDESTE e Instituto Goio-Em, bem como aumentar o investimento nos demais projetos educacionais e sócio-ambientais na área da usina, de forma a minimizar os efeitos sobre a fauna e flora, e trabalhando conjuntamente comcada vez mais entidades das áreas de ecologia para efetuar projetos de recuperação. A empresa deve também investir em educação, especialmente ambiental, e com foco maior para os jovens, criando noções de sustentabilidade e ecologia, formando pessoas mais críticas, engajadas e preocupadas com o meio-ambiente em escalas locais e globais.Todas essas medidas, em conjunto, pautadas na transparência (através de controles períodicos rígidos efetuados pelo IBAMA e ONGs), com comprometimento real, tornariam a imagem da empresa melhor, com o devido tratamento de marketing e publicidade, e teria efeitos substanciais sobre as principais reinvindicações do MAB – tornando-o um aliado. Deve-se atentar para que o desenvolvimento e benefícios gerados pela barragem devem atingir o maior número de pessoas, sem impactar negativamente uma parcela menor. A inclusão de todas essas ações e estratégias, nesse caso, irá criar um efeito cascata e potencialmente uma mudança de paradigmas em nível muito maior a médio e longo prazo, em que exista uma evolução tangível na vida das pessoas e ambientes afetados, só que para melhor. TECNOLOGIA VERDE e sua relação com a riacho doce O conceito TI verde é uma expressão que tem sido utilizada pelo setor de tecnologia para incorporar a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade. Apesar das discussões recentes sobre o assunto abordarem de forma predominante o consumo eficiente de energia, a análise sobre o tema pode ser ampliada. É importante avaliar ainda outros aspectos como o impacto da cadeia produtiva, o uso e reuso de recursos naturais, a reciclagem de equipamentos, a destinação final de resíduos, bem como a utilização de arquiteturas e processos que permitam uma maior vida útil para as infra-estruturas de tecnologia. Ao desdobrar o tema TI verde, usuários e empresas se tornam conscientes de que suas escolhas, e a forma como encaram a adoção de equipamentos e tecnologias, trazem impactos ao meio ambiente. E ainda percebem que esta consciência permite a eles assumir um caráter ativo, responsável, que possibilite um melhor uso dos recursos naturais e um menor impacto para o meio ambiente, ao mesmo tempo em que garanta o atendimento de suas demandas técnicas e operacionais. Engloba, portanto, muito mais que a simples economia de energia - muito embora esta economia também seja de grande importância - somando-se a ela a gestão de recursos e o impacto nas cadeias produtivas, bem como o ciclo que vai da extração de matéria-prima para a produção de um equipamento até a destinação ambientalmente adequada destes materiais, ao final de sua vida útil, considerando também a responsabilidade do usuário no momento da escolha, aquisição e descarte adequado de produtos. Analisando a Hidrelétrica Riacho Doce, a tecnologia verde, baseada nos conceitos de sustentabilidade, irão impactar em economia de energia: tem grande importância no balanço de ações sustentáveis. Menor consumo de eletricidade significa um menor impacto ambiental. Em computadores e servidores, os ganhos energéticos derivam, em sua maioria, da criação de componentes mais eficientes, como processadores, telas e fontes conversoras que consomem menos energia em sua operação. Mas é importante ressaltar que estas vantagens são homogêneas entre muitos fornecedores de tecnologia, por estes utilizarem componentes que são padrão de mercado. Além disso, o projeto arquitetônico e estrutural, bem como o de engenharia, levou em consideração a aplicação de conceitos como o maior aproveitamento de luz natural (grandes janelas de vidro espalhadas ao longo da empresa), ventilação natural (dutos de canalização de correntes de ar natural), energia solar (placas solares ao longo da construção), reuso da água de chuva, coleta seletiva de resíduos, materiais de construção reciclados. Os veículos disponibilizados aos funcionários e colaboradores para trabalho na região da represa são todos elétricos, assim como são incentivadas ações de transporte coletivo baseadas em energia limpa. A empresa também se comprometeu, ao longo da próxima década, em reflorestar com mudas de espécies nativas advindas de projetos ambientais criadas em parceria com ONGs e financiadas pela Hidrelétrica, uma área equivalente a 3 vezes o lago criado pela barragem. Por fim, aplicando tecnologia de ponta e inovadora, aliando o concreto de alto nível e durabilidade utilizado na construção da barragem, foi utilizada uma manta protetora biológica nas áreas de contato desse concreto com a represa, o que segundo estudos e estimativas, reduzirá a ocorrência de assoreamento e de microfraturas no corpo do concreto em até 80%, bem como tornará o ambiente ecológico próximo a barragem mais propício à fauna e flora, especialmente aquática. Muitas tecnologias não existiam à época da construção da barragem, porém, como compromisso sócio-ambiental da empresa, a constante evolução e melhoria é uma obrigação. GESTÃO DE PESSOAS: PESQUISA DE CLIMA ORGANIZACIONAL A seguinte pesquisa de clima organizacional é sugerida para aplicação entre os funcionários, diretores e colaboradores da Hidrelétrica Riacho Doce: Em que medida você avalia: NULA(O) OU PÉSSIMA(O) BAIXA(O) OU INSATISFATÓRIA(O) MÉDIA(O) OU TALVEZ ACIMA DA MÉDIA OU SATISFATÓRIA(O) ALTA(O) OU EXCEPCIONAL 1 – Sua liberdade de expressão no trabalho? 2 – A igualdade de tratamento entre os funcionários? 3 – Seu orgulho da empresa em que trabalha? 4 – Que seu(s) superior(es) lhe apoia(m) quando você precisa aprender novos serviços, adaptar a novas situações do trabalho ou conquistar apoio de outros setores? 5 – Que os colegas de trabalho lhe apoiam quando você precisa aprender novos serviços adaptar a novas situações do trabalho ou conquistar apoio de outros setores? 6 – A remuneração paga pela empresa? 7 – O nível de respeito que você recebe pelos colegas e superiores? 8 – Sua satisfação com seu trabalho? 9 – As normas e regras da empresa? 10 – Sua motivação de trabalho? 11 – Que o sucesso da empresa também é seu sucesso? 12 – Que a empresa possui imagem positiva junto à sua família e comunidade? 13 – Que a empresa possui responsabilidade social e ambiental? 14 – As condições de segurança do trabalho e as instalações da empresa? 15 – Você recomendaria a empresa à um colaborador? 16 – Que gostaria que a empresa o demitisse? Figura 1. Formulário de pesquisa de clima organizacional DIREITO EMPRESARIAL E DO TRABALHO: DIGNIDADE E PROGRESSO Primeiramente, a existência digna, ou também conhecido como um princípio da dignidade da pessoa humana é um princípio constitucional que precisa ser protegido e incentivado, sendo que o principal objetivo da ordem econômica do país é a promoção da inclusão social e da democracia econômica e social. Respeitar a dignidade da pessoa humana deve ser uma tônica das relações de trabalho, o Direito deve atuar de forma dinâmica, inovando e transformando, porque o trabalho torna o homem mais digno ao possibilitar-lhe o pleno desenvolvimento de sua personalidade, de onde resulta sua valorização como pessoa humana. Enfim, o princípio da dignidade da pessoa humana, ao qual se reporta a idéia democrática, como um dos fundamentos do Estado de Direito Democrático, torna-se o elemento referencial para a interpretação e aplicação das normas jurídicas. O ser humano não pode ser tratado como simples objeto, principalmente na condição de trabalhador, muitas vezes visto apenas como uma peça da engrenagem para fazer girar a economia. O reconhecimento e a proteção da dignidade da pessoa humana pelo Direito é resultado da evolução do pensamento humano. Tanto é que a Constituição Federal de 1988 traz como fundamentos da República Federativa do Brasil e consequentemente, do Estado Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana. É o que dispõe o art. 1º, III da Constituição Federal: “A República Federativa do Brasil, formadapela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana.” O avanço que o Direito Constitucional apresenta atualmente é resultado, em parte, da afirmação dos direitos fundamentais como núcleo da proteção da dignidade da pessoa e da visão de que a Constituição é o local adequado para positivar normas asseguradoras dessas pretensões. Foi a partir da Constituição Federal de 1988 que os direitos fundamentais tiveram um avanço significativo, estes passaram a ser tratados como núcleo da proteção da dignidade da pessoa humana, e posteriormente, complementados com as leis do trabalho (Consolidação das Leis do Trabalho). Seguem juntos no tempo o reconhecimento da Constituição como norma suprema do ordenamento jurídico e a percepção de que os valores mais caros da existência humana merecem estar resguardados em documento jurídico com força vinculativa máxima, ilesa às maiorias ocasionais formadas no calor de momentos adversos ao respeito devido ao homem. Por isso a análise de situações com grande impacto sócio-ambiental, como o caso em vista, se torna problemática, cheia de nuances e questões de custo-benefício: qual o limiar do que será benéfico à população ribeirinha, em comparação ao que será benéfico ao restante do país? O que é progresso? A busca por essas respostas é o que define o conflito do MAB e toda sua relação com a hidrelétrica, e por consequência, deve ser também o foco da relação da empresa com o MAB – pois aqui reside a chave para a convivência pacífica entre as partes. ORDEM ECONÔMICA E A DEFESA DO MEIO-AMBIENTE O sistema econômico brasileiro está sustentado pelos arts. 170 a 192 da CF/88, que trazem os fundamentos informadores de toda sua atividade econômica, sendo que os princípios gerais desta atividade estão elencados no art. 170, e consubstanciam uma ordem capitalista. Luís Roberto Barroso constata que não há homogeneidade funcional entre os princípios constantes no mencionado artigo, e agrupa-os em dois grupos: os princípios de funcionamento e os princípios-fins da ordem econômica. Abaixo, são relacionados cada um dos incisos constantes do art. 170 CF/88, enquadrando-os neste duplo agrupamento: 1 - Princípios de funcionamento: Dirigem-se primordialmente à atividade do setor privado, pois referem-se à dinâmica das relações produtivas, estabelecendo as diretrizes básicas que os agentes da ordem econômica devem observar. São eles: Soberania nacional; Propriedade privada; Função social da propriedade; Livre concorrência; Defesa do consumidor; Defesa do meio ambiente. Analisando detalhadamente o inciso de que se trata a defesa do meio ambiente, concluiu-se que este é indispensável para a sobrevivência de todos os seres, e direito da coletividade. Contudo, os meio utilizados para o crescimento econômico vêm degradando o ambiente. O crescimento das nações é importante, mas deve ser realizado aliando-se o desenvolvimento sócio econômico à preservação dos recursos naturais, de maneira sustentável, e é por isso que o ambiente saudável é um dos limites para o livre exercício da atividade econômica. Desta forma, as políticas públicas voltadas para o meio ambiente não devem ser vistas como inibidoras do desenvolvimento, mas tão somente como ferramentas utilizadas para a gestão de um ambiente ecologicamente equilibrado. Daí pode-se afirmar que: O agente econômico, seja ele público ou privado, está proibido de destruir o meio ambiente utilizando como escusa para tal o seu direito à livre iniciativa. O crescimento econômico, consequência de esforços pelo desenvolvimento das nações é um aspecto atual, contudo, os meios utilizados para o alcance das metas de crescimento vêm degradando o meio ambiente, indispensável para a sobrevivência dos seres humanos e um direito da coletividade. Com isso, torna-se necessário analisar a eficácia da proteção do Direito Brasileiro ao meio ambiente, no que concernem as ações lesivas, do dano e do nexo com a fonte poluidora do meio ambiente, tendo como base o que assegura o art. 225 da Carta Magna brasileira, no qual todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 2 Princípios-fins: determinam a política econômica estatal, pois referem-se aos objetivos e realidades materiais que devem ser alcançados pela ordem econômica. São os princípios que constam nos últimos incisos: Redução das desigualdades regionais e sociais; Busca do pleno emprego; Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte. É importante ressaltar que nenhum dos princípios enumerados nos incisos do art. 170 pode eliminar os elementos essenciais da livre iniciativa (caput, art. 170, CF/88), que é o princípio que mais recebe destaque na ordem econômica brasileira. Podem, porém, orientar normas que interfiram nela, desde que tal interferência não seja capaz de suprimi-la, caso contrário, a própria ordem econômica estaria pervertida, uma vez que o Estado não pode simplesmente jogar para o setor privado a obrigação de concretizar seus fins sociais. CONCLUSÃO A conflituosa relação entre desenvolvimento e natureza deu origem a inúmeras discussões doutrinárias, todas no sentido de buscar um consenso objetivando a melhora do futuro do planeta. O desafio, contudo, é fazê-lo sem desperdiçar ou desvalorizar o avanço que a ciência e a tecnologia podem propiciar. Tendo como pano de fundo o paradigma do desenvolvimento econômico de um lado e da sustentabilidade do planeta de outro, objetiva-se compreender a proteção do meio ambiente como um dos princípios da ordem econômica, suas implicações e limitações na sociedade atual e futura. A defesa da força normativa da Constituição, pela efetividade dos dispositivos relacionados ao meio ambiente, aliada a categorias dos Direitos Ambiental, Consumerista e Administrativo, da Sociologia e da Economia do Desenvolvimento, sustenta teoricamente o levantamento doutrinário e a análise que se fará. Os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da vida plena, da função social, da precaução e da não indiferença serão dos mais importantes aportes teórico-hermenêuticos. Nem sempre o homem se preocupou com questões que estivessem ligadas à natureza. Na Idade Média o rompimento com o mito o libertou da submissão à divindade. No Iluminismo foi resgatada a sua essência de “deus” na visão antropocêntrica, usando e abusando dos recursos naturais. Ao tornar-se “deus” de todas as coisas, o homem perde a capacidade de sonhar, de sentir, de observar. Aos poucos este poder o transforma num ser insensível e destruidor, incapaz de se inserir no contexto ambiental, vendo-o apenas como meio passível de exploração e transformação. A natureza, que no início era vista como “fonte de vida”, se transformou em “fonte de lucro”, com o único objetivo de acumular riquezas. Do ponto de vista jurídico, o tema relativo à Ordem Econômica envolvendo o meio ambiente recebeu impulso Constitucional a partir da Constituição do Império de 1924, pois tanto esta, quanto a primeira Constituição Republicana, de 1891, foram omissas quanto à regulamentação do assunto (Nascimento, 1997: 18). Neste sentido, a Constituição de 1934 foi a primeira a consignar princípios e normas sobre a Ordem Econômica. Nos textos dos artigos 115 a 143, em título que denominou “Da Ordem econômica e social”, sua finalidade era a de possibilitar a todos uma existência digna. O texto Constitucional demonstrou preocupação com uma ordem econômica e social à medida que abordou temas como: liberdade econômica, nacionalização progressiva de bancos, depósitos e empresa de seguros em todas as suas modalidades, vedação à usura, entre outros. Seu objetivo era o de uma ordem econômica mais branda e principalmente com motivações sociais. A mesma regulamentação foi impressa nas Constituições de 1937 (artigos 135 a 155),de 1946 (artigos 145 a 162), de 1967 (artigos 157 a 1660) e de 1969 (artigos 160 a 174), que resultou na emenda constitucional nº 1/69 (Nascimento, 1997: 19). A Constituição de 1988 possui um título exclusivamente dedicado à Ordem Econômica e Financeira, descrito dos artigos 170 a 192. O artigo 170 prevê uma ordem econômica fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tendo como principal finalidade assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social, desde que observados os seguintes princípios: I. Soberania Nacional; II. Propriedade Privada; III. Função Social da Propriedade; IV. Livre concorrência; V. Defesa do Consumidor; VI. Defesa do Meio ambiente; VII. Redução das Desigualdades Regionais e Sociais; VIII. Busca do Pleno Emprego; IX. Tratamento Favorecido para Empresa de Pequeno Porte constituídas sob as leis Brasileiras e que tenham sua sede e administração no país. A carta de 1998 foi a primeira a enfrentar o tema com profundidade. Neste sentido, o Estado e a sociedade devem agir em garantia do meio ambiente, dentro da previsão constitucional e infraconstitucional. Além disso, pelo que expressamente prevê o artigo 129, III, da Constituição, não só pode como deve o Ministério Público promover inquérito civil e ação civil pública para proteger o meio ambiente. O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assinados pelo Estado Brasileiro e representa fator de obtenção de justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia. Do ponto de vista da hermenêutica jurídica, conclui-se que a expressão “desenvolvimento sustentável” deve ser entendida como a utilização sustentável dos recursos naturais. Nesse sentido, a garantia da sobrevivência do planeta e, por conseqüência da espécie humana, requer um repensar do sistema econômico. É preciso optar por uma economia destrutiva ou construtiva e consciente. Trata-se de uma opção moral, racional e, principalmente, justa, concernente à perpetuação da espécie. 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