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Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Si lva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 35 3 – TIRISTORES Os tiristores são representados por uma família de dispositivos semicondutores controlados, usados como chaves eletrônicas, cuja estrutura possui quatro camadas (estrutura pnpn). Dentre os tiristores com características estruturais similares pode-se citar: SCR (retificador controlado de silício), GTO (tiristor comutável pela porta), MCT (tiristor controlado por MOS), TRIAC (tiristor triodo bidirecional), DIAC (tiristor diodo bidirecional), LASCR (tiristor ativado por luz), e outros. O tiristor mais difundido é o SCR. Este dispositivo pode ser empregado em diversas aplicações em eletrônica de potência, como por exemplo: Inversores, cicloconversores, retificadores, chaves estáticas, choppers, etc. Quanto à velocidade de chaveamento, os SCR's de potência podem ser classificados como lentos e rápidos. Os lentos são usados em circuitos com frequência de chaveamento menores, como por exemplo, para o controle de fase. Já os rápidos são usados em circuitos com alta frequência de chaveamento, onde os tempos de comutação são significativos. Sua faixa de trabalho situa- se por volta de 5000V/ 5000 A. 3.1 – Representação do SCR O SCR possui quatro camadas (estrutura pnpn), com três junções pn, como mostrado na Fig. 3.1 (a). Simbolicamente o SCR pode ser representado pelo desenho mostrado na Fig. 3.1 (b). Dois terminais de potência podem ser observados, o terminal positivo (A) e o negativo (K), além de do terminal de controle (G). O controle do SCR caracteriza-se pelo fato da sua entrada em condução ser controlada através do gatilho, a qual é utilizada para fazer o disparo do dispositivo. Considerando o SCR bloqueado, quando a tensão no terminal positivo (A) for maior que a do terminal negativo (K) e uma corrente de gatilho GI for injetada na porta (G), o SCR é levado do seu estado de bloqueio para o seu estado de condução. A porta (G) apenas é utilizada para colocar o dispositivo em condução e não serve para bloqueá-lo. O bloqueio é conseguido quando a corrente direta que circula pelo SCR é anulada ou cai abaixo da corrente mínima determinada pelo fabricante, chamada corrente de manutenção HI (holding current). Quando o SCR estiver polarizado diretamente, ou seja, 0AKV , as junções 1J e 3J estarão polarizadas diretamente enquanto a junção 2J estará polarizada reversamente, impedindo a circulação de correntes diretas de níveis elevados. Apenas uma corrente de fuga circulará do ânodo para o cátodo. Diferente do diodo, o SCR também bloqueia tensões diretas o que o coloca no estado de bloqueio direto. Se a tensão de bloqueio direto for maior que a estipulada pelo fabricante BOV , a junção 2J se romperá (ruptura por avalanche) e uma grande corrente no sentido direto poderá circular pelo dispositivo. Apesar de ser possível colocar o SCR em condução pelo aumento da tensão direta AKV , na prática é recomendável que a tensão AKV seja mantida abaixo da tensão BOV para não correr o risco de destruir o componente. Sendo assim, a porta de gatilho é usada somente para colocar o SCR em condução. Quando o diodo estiver polarizado reversamente, ou seja, 0AKV , as junções 1J e 3J estarão polarizadas reversamente enquanto a junção 2J estará polarizada diretamente. Nesta situação o SCR estará no estado de bloqueio reverso e apenas uma corrente de fuga circulará pelo dispositivo. É recomendável que a tensão de ruptura reversa estipulada pelo fabricante não seja atingida. Fig. 3.1 – Representação do SCR.: (a) estrutura pnpn; (b) Símbolo do SCR. Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Si lva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 36 3.1.1 – Curva característica ideal do SCR A curva característica ideal do SCR está mostrada na Fig. 3.2, onde é traçada a curva de corrente versus tensão ( tt vxi ). Como pode ser visto pelas curvas “A” e “B” o SCR bloqueia tensões positivas e negativas. A pós o disparo, o dispositivo pode ser representado pelas curvas “A” e “C”, assumindo, desta forma, as características de um diodo. Fig. 3.2 – Curva característica ideal do SCR. 3.1.2 – Curva característica real do SCR A curva característica ideal do SCR está mostrada na Fig. 3.3, onde é traçada a curva de corrente versus tensão ( tt vxi ). Observa-se que na região “A” as características de bloqueio do SCR são similares às do diodo. Enquanto a tensão reversa não atinge a tensão de ruptura reversa, existe a presença da corrente de fuga reversa. Depois de atingida a tensão de ruptura, poderá ocorrer um aumento excessivo da corrente reversa e o SCR pode se danificar por excesso de calor. A ordem de grandeza da tensão de ruptura varia de dezenas a milhares de Volts, dependendo das características construtivas do dispositivo. Na região “B”, no entanto, o SCR poderá passar para a região “C” de duas formas: a primeira é quando a tensão AKV atingir a tensão BOV ; a segunda é através do disparo pelo gatilho. Neste caso, mesmo que o sinal de gatilho seja removido e supondo que sua corrente direta seja maior que a corrente de manutenção, o dispositivo permanecerá conduzindo em função do seu processo regenerativo de realimentação, discutido na seção posterior. Após a entrada em condução o SCR também se comporta de maneira similar ao diodo, apresentando uma queda de tensão direta na ordem de 1 Volt. Fig. 3.3 – Curva característica real do SCR. Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Si lva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 37 3.2 – Modelo de um SCR com dois transistores Para efeito de análise, um SCR pode ser considerado como dois transistores complementares, um NPN ( 1Q ) e outro PNP ( 2Q ), apresentado na Fig. 3.4 (b). A estrutura básica do SCR mostrada na Fig. 3.1 (a) pode ser desmembrada para a estrutura mostrada na Fig. 3.4 (a). 3.2.1 – Princípio de funcionamento Baseado na Fig. 3.4 (b), considera-se uma tensão positiva polarizando diretamente a junção base- emissor de 1Q (aplicação de uma corrente de gatilho GI ). Isto faz com que o transistor NPN 1Q seja ligado, possibilitando a passagem de corrente coletor-emissor que também é a corrente de base do transistor PNP 2Q . Caso a junção emissor-base de 2Q esteja diretamente polarizada, ou seja, com a tensão do anodo mais positiva que o catodo, o transistor PNP 2Q irá conduzir e, consequentemente, irá suprir a corrente de base para 1Q . Este processo prossegue até que 1Q e 2Q estejam na região de saturação e, portanto, ligados. Desta forma, como 2Q supre a corrente de base para 1Q e vice versa, a corrente de gatilho GI pode ser removida sem que haja alteração no funcionamento do SCR. Percebe-se que o SCR irá permanecer no estado de condução até que a corrente direta se anule ou fique abaixo da corrente de manutenção, de maneira que o processo regenerativo da realimentação não possa mais ser mantido. Fig. 3.4 – Modelo de um SCR com dois transistores. 3.3 – Perdas no SCR As perdas do SCR podem ser relacionadas da seguinte forma: perdas na condução direta; perdas na condução reversa (poderá ser desprezada em função do baixo valor da corrente de saturação reversa, tipicamente na faixa de 10 15 a 10 -6 ); perdas na comutação (entrada em condução e bloqueio). A potência dissipada no SCR é transformada em calor. O aumento da temperatura originária das perdas no SCR não deve ultrapassar os limitesimpostos pelo fabricante, pois o dispositivo pode vir a se danificar. Desta forma, torna-se necessário calcular estas perdas para mensurar os níveis de temperatura no dispositivo e se necessário dimensionar um dissipador de calor adequado. Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Si lva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 38 3.3.1 – Perdas em condução Em condução, similarmente ao funcionamento do diodo, o SCR pode ser representado por uma força-eletromotriz ( TV ) associada em série com uma resistência intrínseca Tr . A tensão TV situa-se na faixa de 1 Volt. Desse modo, a expressão que define as perdas em condução no SCR é dada por 2 efmedON TTTTT IrIVP (1.8) Onde: TV = Força-eletromotriz do SCR; medT I = Corrente média no SCR; efT I = Corrente eficaz no SCR; Tr = Resistência do SCR. 3.3.2 – Perdas na comutação Considerando onT t e offT t os respectivos tempos de entrada em condução e de bloqueio do SCR, as perdas de comutação de entrada em condução e bloqueio são dadas, respectivamente, pelas equações (3.1) e (3.2). )ftIV(P swTmaxTRRMTsw onon 6 1 (3.1) )ftIV(P swTmaxTRRMTsw offoff 6 1 (3.2) Onde: RRMV = Tensão reversa máxima do SCR; maxT I = Corrente máxima do SCR; swf = Frequência de chaveamento. O tempo de entrada em condução onT t está relacionado com a amplitude e a velocidade da corrente de gatilho. 3.4 – Especificações para os valores nominais de um SCR É importante, no momento de fazer um projeto, avaliar as formas de onda do circuito que se está projetando de modo a especificar o SCR com segurança. Todas as características do dispositivo são informadas no catálogo do fabricante como forma de orientar o projetista na escolha correta do componente. Alguns dos inúmeros dados especificados em catálogos são citados a seguir: Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Si lva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 39 Corrente direta média máxima )avg(T I (average current): Corrente média que o SCR pode suportar quando estiver polarizado diretamente; Corrente direta eficaz máxima )RMS(T I (RMS current): Corrente eficaz que o SCR pode suportar quando estiver polarizado diretamente; Corrente máxima de surto TSMI : corrente máxima que o SCR pode suportar durante um transitório. Dependendo do fabricante esta corrente pode chegar a 20 vezes o valor nominal da corrente do SCR; Corrente de disparo LI : Corrente direta mínima que o SCR deve alcançar logo após a corrente de gatilho ter sido removida. A duração do sinal de disparo deve ser suficiente para garantir que a corrente direta atinja o valor de LI ; Corrente de manutenção HI : Corrente direta mínima que deve fluir pelo SCR para mantê-lo em condução. Abaixo desta corrente ocorre o desligamento do dispositivo; Tempo de disparo ( onT ): Tempo necessário para o tiristor sair do seu estado de bloqueio para o estado de condução; Tempo de desligamento ( offT ): Tempo necessário para o tiristor sair do seu estado de condução para o estado de bloqueio; Tensão repetitiva direta DRMV : É a tensão máxima instantânea que o SCR pode bloquear na região direta. Um disparo não desejável do tiristor pode acorrer se a tensão direta ânodo-cátodo for maior que a tensão de ruptura direta DRMV ; Tensão repetitiva reversa RRMV : É a tensão máxima instantânea que o SCR pode bloquear na região reversa; Tensão reversa máxima não repetitiva RSMV : É a tensão máxima instantânea que o SCR pode bloquear na região reversa não repetitivamente; Máxima temperatura da junção ( maxj T ): Tensão máxima admitida nas junções do dispositivo sem que haja destruição do cristal; Máxima taxa de crescimento da tensão direta AKV ( dtdv / ): Máxima variação de tensão entre o anodo e o catodo sem que o semicondutor seja levado ao seu estado de condução; Máxima taxa de crescimento da corrente direta ( dtdi / ): Máxima variação da corrente de anodo sem que o semicondutor seja danificado. Se a corrente de anodo crescer muito rapidamente sem ter havido uma expansão adequada da superfície condutora do dispositivo, haverá um excesso de dissipação de potência na área de condução. Este problema pode ser resolvido construindo um circuito de disparo adequado, que possua uma elevada derivada de corrente de gatilho (gate) possibilitando uma rápida expansão da área condutora. 3.5 – Proteção do SCR Os fabricantes de SCR especificam a máxima taxa de crescimento da tensão anodo-catodo permitida sobre o componente de forma que este não se danifique. Se o dtdv for muito alto, a corrente de carga das capacitâncias associadas às junções pode ser suficiente para disparar o dispositivo. Neste caso, fluirá uma corrente de fuga suficiente para iniciar um processo de disparo regenerativo. Para contornar estes inconvenientes são usados circuitos amortecedores compostos por resistores, capacitores, indutores e diodos, conforme mostrado na Fig. 3.5 (a), (b) e (c). Sua função consiste basicamente em reduzir a taxa de variação de tensão sobre o componente. No circuito (a), no bloqueio, a tensão AKV segue a dinâmica imposta pelo circuito RC, além de desviar a corrente de anodo, facilitando a comutação. Quando o dispositivo conduz o capacitor C se descarrega através do resistor R desviando a corrente de anodo. Um inconveniente surge na descarga do capacitor, pela ocorrência de picos de corrente no tiristor. Isto é contornado pelo circuito (b), onde a Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Si lva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 40 descarga pode ser limitada colocando-se um resistor R2 adequado. No circuito (c), esta limitação é feita pelo indutor L. Fig. 3.5 – Circuito amortecedores de proteção contra dtdv . 3.6 – Circuitos de disparo do SCR A máxima corrente cc permitida para levar o dispositivo para o estado ligado é fornecida pelo fabricante e denominada GTMI . As principais características de um circuito de disparo do SCR são: Amplificar os sinais de comando oriundos dos estágios de sinais; Fornecer o isolamento adequado entre o comando e o SCR. Em algumas aplicações necessita-se de isolamento elétrico entre o circuito de comando e o de potência. Tal isolamento pode ser conseguido tanto via transformadores de pulso como através de optoacopladores. A Fig. 3.6 apresenta dois circuitos utilizando optoacopladores. Na Fig. 3.6 (a) é utilizado um foto-SCR na qual um pulso de curta duração na entrada de um diodo emissor de luz infravermelha 1D dispara o foto-SCR 1T , que por sua vez dispara o tiristor de potência 2T . Na Fig. 3.6 (b) o princípio de funcionamento é o mesmo e o tiristor de potência 2T é disparado através do foto-transistor 1rT . Fig. 3.6 – Circuito de disparo de SCR's utilizando optoacopladores. A Fig. 3.7 mostra um circuito de disparo utilizando um transformador de pulsos. A seguir são descritas as funções dos componentes semicondutores que compõem este circuito. pT - É o transformador de pulsos. Geralmente é construído com núcleos de ferrite e deve possuir baixas indutâncias de dispersão; 1rT - é o transistor que atua como chave e tem como função amplificar o sinal de comando 1V ; Eletrônica de Potência. Cap. 3 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Si lva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus CornélioProcópio 41 zD - é o diodo zener que tem a função de desmagnetizar o núcleo do transformador pT no intervalo em que o transistor 1rT encontra-se bloqueado; 1D - é o diodo de circulação que conduz no intervalo de tempo em que o transformador de pulsos está sendo desmagnetizado; 2D - é o diodo que impede qualquer desvio da corrente principal de gatilho do SCR; 3D - é o diodo que impede a aplicação de qualquer tensão negativa na junção gatilho-cátodo do SCR, durante o intervalo de tempo em que o transformador de pulsos está sendo desmagnetizado. Os resistores gR , cR e bR são resistores limitadores de corrente. Fig. 3.7 – Circuito de disparo de um circuito de comando SCR's. Na Fig. 3.8 encontra-se representado outro circuito de disparo cujas características são similares ao circuito apresentado na Fig. 3.7. Observa-se neste circuito que um trem de pulsos é utilizado para disparar o SCR. Em muitos conversores de potência com cargas indutivas, o período de comutação do SCR depende do fator de potência da carga. Nestes casos, são necessários pulsos contínuos de disparo pelo fato do início de condução dos SCR's não serem bem definidos. Desse modo, um trem de pulsos é utilizado pelo fato do pulso contínuo de disparo aumentar as perdas do SCR. Fig. 3.8 –Circuito de disparo de um circuito de comando SCR's. EXERCÍCIO: Descrever a função dos componentes que compõem o circuito de disparo do SCR mostrado na Fig. 3.8. Bibliografia: RASHID, Muhammad H. Eletrônica de Potência. São Paulo: Makron Books, 1999. ASHFAQ Ahmed. Eletrônica de Potência. São Paulo: Prentice Hall, 2000. BARBI, Ivo. Eletrônica de Potência. Florianópolis: Editora UFSC.
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