Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 60 5 – PRINCÍPIO DE ACIONAMENTO DE MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA 5.1 – Características Básicas das Máquinas de Corrente Contínua (Máquinas CC) As máquinas CC são amplamente usadas onde se deseja controlar torque e velocidade em uma larga faixa. Especificamente o motor de corrente contínua, é formado por uma armadura alimentada através de escovas sobre um comutador, e um campo magnético de excitação que estabelece um fluxo magnético enlaçando a mesma. Em função da presença dos comutadores, as máquinas CC são limitadas a aplicações com velocidade não muito elevadas, além de gerarem mais manutenção quando comparadas com as máquinas CA. Independente dos inconvenientes apresentados, a utilização destas máquinas ainda é grande na indústria. Neste capítulo são apresentadas algumas equações básicas que descrevem o comportamento dinâmico e de regime permanente de uma máquina CC. Baseado nestas equações, é possível estabelecer as estratégias de controle que se pretende implementar para controlar a velocidade da máquina. Existem diversas maneiras de se excitar o enrolamento de campo de uma máquina CC. Este pode ser conectado em série com o enrolamento de armadura, onde as correntes de campo e de armadura são as mesmas; em paralelo com o enrolamento de armadura, onde a tensão de alimentação do enrolamento de campo e de armadura é a mesma; e independente, onde a fonte de excitação do enrolamento de campo é separada da fonte de alimentação da armadura, o que implica dizer que qualquer variação na corrente de campo não resulta em variação na corrente de campo. Mantendo a corrente de campo constante, usualmente a variação de velocidade da máquina pode ser conseguida pela variação da tensão de alimentação de armadura, pelo fato da resposta dinâmica ser mais rápida. A velocidade pode também ser controlada através da variação da corrente de campo, mas com o inconveniente da resposta dinâmica ser mais lenta em função da alta indutância presente no enrolamento de campo. Para o controle de velocidade das máquinas CC, são amplamente empregados os retificadores controlados, ou ainda os conversores CC-CC, também chamados de choppers. Em ambos os casos a tensão CC de saída pode ser variada com a intenção de controlar a velocidade da máquina. A Fig. 5.1 mostra o circuito equivalente da máquina CC com excitação de campo separada. Fig.5.1 – Máquina CC com excitação separada – circuito equivalente. 5.1.1 – Equações transitórias As equações transitórias que descrevem as características de uma máquina CC são dadas pelas seguintes expressões: a a aaaa e dt di LiRv (5.1) Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 61 dt di LiRv f ffff (5.2) Onde: fv = Tensão de campo; av = Tensão de armadura; fi = Corrente de campo; ai = Corrente de armadura; fR = Resistência de campo; aR = Resistência de armadura; fL = Indutância de campo; aL = Indutância de armadura; ae = Força contra-eletromotriz de armadura. A tensão ae é dada pela expressão 5.3. mfva ike (5.3) Onde: m = Velocidade mecânica da máquina, em rad/s; vk = Constante de tensão ou constante de velocidade, em V/A-rad/s (esta constante é determinada pelas características construtivas da máquina); O torque elétrico pela máquina é dado por: afta iikT (5.4) Onde: tk = Constante de torque, ( vt kk ); O torque elétrico pela máquina também pode ser escrito por: Lm m a TB dt d JT (5.5) Onde: LT = Torque de carga, em Nm ; B = Coeficiente de atrito viscoso, em sradNm // ; J = Momento de inércia da máquina incluindo a carga, em 2// sradNm . Considerando o motor operando em regime permanente e na região linear, as equações (5.1), (5.3), e (5.4) podem ser reescritas por: aaaa EIRV (5.6) Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 62 mfva IkE (5.7) afta IIkT (5.8) Desse modo, através de (5.6) e (5.7), obtém-se a equação da velocidade da máquina em regime permanente, ou seja: fv aaa m Ik IRV (5.9) Observa-se pela equação (5.9) que a velocidade da máquina pode ser controlada através da variação da tensão de armadura aV , da corrente de campo fI e da resistência de armadura aR . Considera-se agora que a corrente de campo é constante o que implica também em um fluxo constante. Fazendo fv Ikk1 e pelas equações (5.6) a (5.9) encontra-se a equação do torque como sendo: a m a a a R k R kV T 2 11 (5.10) Sendo assim, considerando a resistência de armadura 0aR , a velocidade da máquina pode ser escrita por: 1k Va m (5.11) Na Fig. 5.2 é apresentada a característica ma xT para aV variável. Fig.5.2 – Característica Torque x Velocidade, para aV variável e fI constante. Para o caso onde a tensão de armadura é mantida constante e a corrente de campo é variada a equação do torque da máquina é dada por: a mfv a vfa a R Ik R kIV T 22 (5.12) Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 63 Para efeito de análise, admitindo que 0aR , então: fv a m Ik V (5.13) Neste caso tanto a tensão de armadura quanto a corrente de campo agem sobre a velocidade. Um enfraquecimento de campo resulta em um aumento da velocidade. Já um aumento da tensão de armadura produz o mesmo efeito. A característica ma xT para fI variável, é mostrado na Fig. 5.3.: Fig.5.3 – Característica Torque x Velocidade, para aV constante e fI variável. A Figura 5.4 mostra a curva de torque e potência da máquina em função da velocidade, de uma máquina CC de excitação separada. Até a velocidade nominal da máquina o controle de velocidade é feito através da tensão de armadura. O torque é mantido constante porque nesta condição tanto a corrente de armadura quanto a corrente de campo são mantidas constantes. Quando se deseja velocidades acima da nominal, opera-se enfraquecendo o campo o que implica em uma diminuição do torque. Nesta condição a tensão de armadura é mantida constante. A potência desenvolvida pela máquina é definida pela seguinte expressão: maTP (5.14) Fig.5.4 – Curva característica Torque x Velocidade e Potência x Velocidade de uma máquina CC com excitação separada. Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 64 5.2 – Estudo do comportamento dinâmico e transitório do motor CC. Será considerado, para a obtenção do modelo do comportamento dinâmico e transitório, o motor com excitação separada e a corrente de campo fI constante (fluxo constante). Como visto anteriormente na seção 5.1.1, as equações que descrevem o comportamento da máquina são as seguintes: a a aaaa e dt di LiRv (5.15) Lm m a TB dt d JT (5.16) mmfva kike 1)( (5.17) aafta ikiikT 2)( (5.18) Substituindo (5.17) em (5.15) e aplicando a transformada de Laplace obtém-se: )()()()( 1 skssILsIRsV maaaaa (5.19)Isolando a corrente de armadura )(sI a em (5.19), encontra-se: )( )()()()( )( 11 aaa ma aa ma a LRsL sksV RsL sksV sI (5.20) Onde: a a a R L (5.21) Assim, substituindo (5.21) em (5.20) encontra-se: )1( )()( )1( )()( )( 11 sR sksV sL sksV sI aa ma aa ma a (5.22) Substituindo (5.18) em (5.16) e aplicando a transformada de Laplace obtém-se: )()()()(2 sTsBsJssIk Lmma (5.23) Isolando )(sm na equação (5.23) tem-se: )( )()()()( )( 2 JBsJ sTsT BJs sTsIk s LaLam (5.24) Onde: B J m (5.25) Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 65 Assim, substituindo (5.25) em (5.24) encontra-se: )1( )()( )1( )()( )( sB sTsT sJ sTsT s m La m La m (5.26) Desse modo, baseado nas equações (5.22) e (5.26), pode-se representar o diagrama de blocos do motor CC em malha aberta, como mostrado na Fig. 5.5. Fig.5.5 – Diagrama de blocos do modelo do motor CC com excitação separada em malha aberta. Baseado no modelo apresentado na Fig. 5.5, as variáveis do sistema são as seguintes: Variáveis de entrada: Tensão de armadura )(sVa para )(sI f constante; Variáveis de saída: Velocidade da máquina )(sm ; Variáveis a serem observadas: Velocidade da máquina )(sm e corrente de armadura )(sI a ; Variáveis de perturbação: Torque de carga )(sTL para )(sVa fixo. Considerando )(sTL igual a zero, e através do diagrama de blocos da Fig. 5.5, pode-se encontrar a função de transferência )()( sVs am , ou seja 21 2 21 2 )1()1())(()( )( kksJsL k kkBJsRsL k sV s maaaaa m (5.27) Ou ainda 21 2 21 2 )1()1())(()( )( kkssJL k kkBJsRsL k sV s maaaaa m (5.28) Considerando agora )(sVa igual a zero, a relação dinâmica entre o torque de carga e a velocidade é dada por: ama a aa aa L m LkkssJ s kkBJsRsL RsL sT s 2121 )1()1( )1( ))(( )( )( )( (5.29) Já a relação dinâmica entre a corrente de armadura e a tensão de armadura )()( sVsI aa é dada por: 21)1()1( )1( )( )( kkssJL sJ sV sI maa m a a (5.30) Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 66 Onde: fv Ikk1 e ft Ikk2 (5.31) Considerando o coeficiente viscoso da máquina desprezível, a expressão (5.28) pode ser escrita por: aa a a m JLkkss JLk sV s 21 2 2 )1()( )( (5.32) Reescrevendo a equação (5.28) tem-se: 1 2 2 1)1()( )( maa a a m ss JLk sV s (5.33) Onde a é definido como constante de tempo elétrica e 1m como constante de tempo mecânica, e são dados por: RaLaa e 211 kkJRam (5.34) Sendo assim, devido à característica de segunda ordem do sistema, a frequência natural não amortecida n e o fator de amortecimento são dados respectivamente por: 1 1 ma n e na2 1 (5.35) 5.2.1 – Controle do motor CC em malha fechada Na maioria das aplicações industriais, são empregados reguladores (controladores) de velocidade e de corrente, quando os motores CC são alimentados por retificadores controlados, retificadores semi- controlados ou choppers. Para que possa haver a regulação é necessário que sejam implementados laços fechados de controle de velocidade e corrente. Através dos controladores consegue-se os seguintes benefícios: Maior precisão no controle de velocidade; Melhor resposta dinâmica; Menor sensibilidade oriunda de distúrbios causados pela variação do torque de carga; Limitação da corrente máxima dos elementos semicondutores e do motor; Limitação do torque máximo produzido pelo motor e a aceleração máxima imposta à carga. Na Fig. 5.6 é apresentado o diagrama de blocos para o controle de malha fechada do motor CC, considerando o controlador de velocidade. Fig.5.6 – Diagrama de blocos do controle de velocidade em malha fechada do motor CC com excitação separada (Malha externa de velocidade). Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 67 Em malhas de controle onde existem apenas controladores de velocidade, como o da Fig. 5.6, um erro muito grande causado por este regulador levaria a corrente de armadura do motor a aumentar em demasia podendo ultrapassar a corrente nominal do motor ou mesmo a suportável pela máquina. Este inconveniente é solucionado utilizando-se um controlador de corrente interno conforme mostrado na Fig. 5.7. A malha externa de velocidade gera uma referência de corrente refa I limitada para a malha interna de corrente. O regulador de corrente também limita a corrente máxima nos elementos semicondutores de potência utilizados nos conversores que acionam a máquina. Fig.5.7 – Diagrama de blocos do controle de velocidade em malha fechada do motor CC com excitação separada (Malha externa de velocidade e interna de corrente). As funções de transferência dos controladores de velocidade e de correntes são dados, respectivamente, por: s ksk sR ivpv )( e pii ksR )( (5.36) Onde: pik = ganho proporcional da malha de corrente; pvk = ganho proporcional da malha de velocidade; ivk = ganho integral da malha de velocidade. Desse modo, pelo diagrama da Fig. 5.7 encontra-se, respectivamente, a função de transferência de malha aberta e fechada do sistema. skkRkkBsBLRkkJsJL kkkkkskkkkk sG acpiaacpia ncivpincpvpi ma ])([])([ )( 21 23 11 (5.37) ncivpiacpincpvpiaacpia civpicpvpi refm m kkkkkskkRkkBkkkkksBLRkkJsJL kkkkskkkk s s 1211 23 11 ])([])([)( )( (5.38) Onde ck = ganho do conversor e nk = ganho do sensor de velocidade, em volt/rpm. A relação dinâmica que mostra o efeito da variação do torque de carga em relação à velocidade é dada por: ncivpiacpincpvpiaacpia cpiaa L m kkkkkskkRkkBkkkkksBLRkkJsJL skkRsL sT s 1211 23 2 ])([])([ )( )( )( (5.37) Eletrônica de Potência. Cap. 5 Prof. Sérgio Augusto Oliveira da Silva Engenharia Elétrica UTFPR/Campus Cornélio Procópio 68 Bibliografia: BOSE, Bimal K. Power Electronics and Variable Frequency Drives. New York, IEEE Press, 1997. MOHAN Ned; UNDELAND Tore M.; ROBBINS William P. Power Electronics – Converters, Applications and Design. 2 ed. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1995. RASHID, Muhammad H. Eletrônica de Potência. São Paulo: Makron Books, 1999; OGATA, Katsuhiko. Engenharia de Controle Moderno. 3 ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil Ltda, 1999; DORF. R. C; BISHOP R. H. Sistemas de Controle Modernos. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1998.
Compartilhar