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www.direitofacil.com W|Üx|àÉá YâÇwtÅxÇàt|á „ `öÜv|t cxÄ|áátÜ| 1 Introdução A idéia dos Direitos Humanos é, como se sabe, relativamente nova na história mundial. Norberto Bobbio salienta que por mais fundamentais que sejam, os direitos do homem são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas. A fixação dos direitos individuais foi obra de séculos, que demandou a lenta maturação do pensamento filosófico, a superação da idéia medieval dos direitos corporativos, o declínio do Estado monárquico absolutista. A idéia se localiza no próprio alvorecer do pensamento humano. Mas concretamente a positivação das declarações de direitos ocorreu ao final do século XVIII, especificamente a Declaração de Virgínia de 1776 e a Declaração Francesa de 1789, que expõem ao mundo um sentido inovador e profundamente revolucionário sobre a condição humana. Nas lutas políticas e sociais desencadeadas na América e na França, os indivíduos não mais se sentiam seguros de sua destinação perante Deus, nem podiam conformar-se diante dos regramentos oriundos de castas e estamentos1 definitivamente abalados. A Revolução Francesa exprimiu em três princípios cardeais todo o conteúdo possível dos direitos fundamentais, profetizando até mesmo a seqüência histórica de sua gradativa institucionalização: liberdade, igualdade e fraternidade. Esses três ideais que inspiraram a vitoriosa Revolução Francesa tornaram-se objetivos comuns de todos os povos que passaram, daí em diante, a buscar meios de 11. Estado em que pode cada um subsistir ou permanecer. 2. Assembléia, congresso, parlamento. 3. Cada um dos grupos da sociedade com status jurídico próprio. Ex.: os burocratas, os militares. www.direitofacil.com W|Üx|àÉá YâÇwtÅxÇàt|á „ `öÜv|t cxÄ|áátÜ| 2 inseri-los nos respectivos ordenamentos jurídicos positivos, ou mesmo inserir outros direitos de conteúdos materiais decorrentes tais postulados. Assim, esses direitos, foram sendo positivados nas Constituições dos diversos países, obedecendo a um gradativo processo cumulativo e qualitativo. Exatamente em razão dessa evolução gradativa na positivação dos direitos humanos a nível universal, passaram os constitucionalistas a classificá-los, para efeitos didáticos, segundo o momento histórico em que foram institucionalizados nas Constituições de diversos países, em gerações. Assim é que os direitos são classificados em direitos fundamentais de primeira geração, de segunda geração e de terceira geração. Os Direitos Fundamentais de Primeira Geração A primeira geração de direitos dominou o século XIX e é composta dos direitos de liberdade, que correspondem aos direitos civis e políticos. Tendo como titular o indivíduo, traduzem a necessidade de garantir a liberdade do cidadão em relação ao Estado, tencionando limitar o Poder do Estado, ou seja, os direitos de primeira geração são oponíveis ao Estado, sendo traduzidos como faculdades ou atributos da pessoa humana, ostentando uma subjetividade que é seu traço marcante. Tiveram origem nas Declarações de Virgínia e Francesa e hoje consistem em direitos consubstanciados nas Constituições como direitos de defesa individuais, tais como o direito de liberdade pessoal de pensamento, de religião, de reunião e de liberdade econômica. O destinatário desses direitos é o indivíduo, com vistas a assegurar-lhe a liberdade. São os direitos de resistência face ao Estado, e entram na categoria do status negativus da classificação de Jellinek como direitos oponíveis perante o Estado. www.direitofacil.com W|Üx|àÉá YâÇwtÅxÇàt|á „ `öÜv|t cxÄ|áátÜ| 3 Os direitos fundamentais de segunda geração A segunda geração de direitos, da mesma forma que a primeira, foi inicialmente objeto de formulação especulativa em campos políticos e filosóficos que possuíam grande cunho ideológico. Dominaram o século XX assim como os de primeira geração dominaram o século XIX. Tiveram seu nascedouro nas reflexões ideológicas e no pensamento antiliberal desse século. Enquanto nos direitos de primeira geração buscava-se uma completa abstinência do Estado (um não fazer), nos direitos fundamentais de segunda geração ou direitos econômicos e sociais, buscava-se o contrário, ou seja, uma ação positiva do Estado. Surgiram a partir da concepção de que a atividade estatal é realizada no interesse dos cidadãos e disso decorre o dever deste ente em prestar aos seus súditos determinadas prestações indispensáveis. Sua institucionalização foi iniciada com as Constituições mexicana, de 1917, e alemã, de Weimar, de 1919. Nas Constituições dos diversos países, aparecem como direitos de proteção ao trabalhador, direitos sociais, direitos coletivos, direitos previdenciários, direito à saúde, direito de associação etc. O titular desses direitos é a sociedade, não o indivíduo. Dirigem-se à busca da igualdade, ou seja, são direitos da sociedade para assegurar no seu seio a igualdade. Quando da declaração desses direitos, exigiram do Estado determinadas prestações impossíveis de serem concretizadas naquele dado momento e, dessa forma, com a juridicidade questionada, os direitos de segunda geração foram lançados como diretrizes, ou programas a serem cumpridos, ou seja, esses direitos foram remetidos à esfera programática. Quanto a esses direitos de segunda geração, salienta Bonavides (1999, p. 518), in verbis: ... atravessaram, a seguir uma crise de observância e execução, cujo fim parece estar perto, desde que recentes constituições, inclusive a do Brasil, formularam o preceito da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais. De tal www.direitofacil.com W|Üx|àÉá YâÇwtÅxÇàt|á „ `öÜv|t cxÄ|áátÜ| 4 sorte, os direitos da segunda geração tendem a tornar-se tão justificáveis quanto os da primeira; pelo menos esta é a regra que já não poderá ser descumprida ou ter sua eficácia recusada com aquela facilidade de argumentação arrimada no caráter programático da norma. Os direitos fundamentais de terceira geração O mundo atual se encontra dividido em blocos muito distintos. Diríamos três blocos, especificamente. Enfatizando, um primeiro bloco representa os países desenvolvidos; num segundo bloco colocaríamos os países em busca de desenvolvimento e, por fim, representando o que seria um terceiro bloco, os países subdesenvolvidos. Dividindo desse modo, torna-se mais fácil à percepção da desigualdade existente entre as nações. Guerras acontecem nesse dado momento que nem sabemos existir. Milhares de pessoas morrem todos os dias, vitimadas por guerras, doenças, pobreza, fome etc., sem que levemos isso em consideração, ou o que é pior, sem que ao menos nos tomemos conhecimento do fato. Os países desenvolvidos, com suas tecnologias de ponta, ameaçam - aguçando o pessimismo, quiçá o realismo - até a existência da própria humanidade. É diante desse quadro que tem lugar, que surgem os direitos de terceira geração (fraternidade ou solidariedade), que englobam o direito ao meio ambiente equilibrado, a uma saudável qualidade de vida, ao progresso (ou, direito ao desenvolvimento, tanto dos Estados quanto dos indivíduos, traduzindo-se, quanto a estes, numa pretensão ao trabalho, à saúde e à alimentação adequada), à paz, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação, à autodeterminação dos povos e a outros direitos difusos. Norberto Bobbio, falados direitos de terceira geração como se tratando, sobretudo, de direitos cujos sujeitos não são os indivíduos, mas sim, os grupos de indivíduos, grupos humanos como a família, o povo, a nação e a própria humanidade. www.direitofacil.com W|Üx|àÉá YâÇwtÅxÇàt|á „ `öÜv|t cxÄ|áátÜ| 5 Reconhecidos esses direitos de terceira geração, tendo seu gênero como sendo a solidariedade (ou fraternidade), seu desenvolvimento se exprime de três maneiras: 1) O dever de todo Estado particular de levar em conta, nos seus atos, os interesses de outros Estados (ou de seus súditos); 2) Ajuda recíproca (bilateral ou multilateral), de caráter financeiro ou de outra natureza para a superação das dificuldades econômicas (inclusive co auxílio técnico aos países subdesenvolvidos e estabelecimento de preferências de comércio em favor desses países, a fim de liquidar déficits); 3) Uma coordenação sistemática de política econômica. Ante essas considerações, nos resta lutar e acreditar, para tornar possível e viável o desenvolvimento dos direitos de terceira geração que constituem, ainda, uma categoria excessivamente heterogênea. Em que pese afirmar que os direitos de terceira geração não são passíveis de uma compreensão apropriada, alguns autores mencionam uma quarta geração de direitos. Isso seria mais uma prova que os direitos não nascem todos de uma vez. Nascem quando devem ou podem nascer. Esse "nascimento" acompanha o progresso da capacidade do homem de dominar a natureza e os outros homens. Tendência atual: direitos de quarta geração É cada vez mais crescente a transformação por que passam os direitos fundamentais. Com o advento do constitucionalismo, universalizaram-se os direitos e garantias contra o Estado; e na primeira metade do século universalizaram-se os direitos às prestações devidas pelo Estado. Porém, estes últimos direitos não lograram concretização, permanecendo maior parte do tempo no campo da abstração, sempre sob a justificativa de que as normas constitucionais que os asseguram são de caráter meramente programático. Porém, deste fim de século em diante, a tendência universal é a de que normas assim não sejam mais tidas como programáticas, assegurando efetivos direitos subjetivos dos cidadãos. www.direitofacil.com W|Üx|àÉá YâÇwtÅxÇàt|á „ `öÜv|t cxÄ|áátÜ| 6 Para o professor Paulo Bonavides, a globalização difundida pelo neoliberalismo é somente a econômica, que pretende nitidamente destruir o Estado nacional, afrouxar e debilitar os laços de soberania e doutrinar uma falsa despolitização da sociedade, tudo com o único objetivo de beneficiar hegemonias supranacionais que já estão esboçadas no presente. Porém, na visão desse experiente filósofo político, há uma outra globalização que se dá bastante silenciosa e que as hegemonias não conseguem conter: é a globalização dos direitos fundamentais que correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado social. Segundo Bonavides, os direitos da quarta geração consistem no direito à democracia, direito à informação e o direito ao pluralismo e destes dependem a materialização da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo quedar-se no plano de todas as afinidades e relações de coexistência. Enquanto direito de quarta geração, a democracia positivada há de ser, necessariamente, uma democracia direta, que se torna a cada dia mais possível, graças aos avanços tecnológicos dos meios de comunicação, e sustentada legitimamente pela informação correta e aberturas pluralistas do sistema, também deve ser uma democracia isenta, livre das contaminações, vícios e perversões da mórbida mídia manipuladora. Os direitos da primeira geração, direitos individuais, os da segunda, direitos sociais, e os da terceira, direitos ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à paz e à fraternidade, permanecem eficazes, são infra-estruturais, formam a pirâmide cujo ápice é o direito à democracia; coroamento daquela globalização política para a qual, como no provérbio chinês da grande muralha, a humanidade parece caminhar a todo vapor, depois de haver dado o seu primeiro e largo passo. Os direitos da quarta geração não somente culminam as objetividades dos direitos das duas gerações antecedentes como as absorvem sem, todavia, remover a subjetividade dos direitos individuais, a saber, os direitos de primeira geração. www.direitofacil.com W|Üx|àÉá YâÇwtÅxÇàt|á „ `öÜv|t cxÄ|áátÜ| 7 Para Bonavides “os direitos da quarta geração compreendem o futuro da cidadania e o porvir da liberdade de todos os povos. Tão somente com eles será legítima e possível a globalização política”. Assim, pode-se partir para a assertiva de que os direitos da segunda, terceira e quarta geração não se interpretam, mas sim, concretizam-se. E é no seio dessa materialização, dessa solidificação, que se encontra o futuro da globalização política, o início de sua legitimidade e a força que funde os seus valores de libertação. Bibliografia Platão. A República. Trad. C. A. Nunes. Belém: EDUFPA - 2000. Moisés, José Álvaro. Os Brasileiros e a democracia: bases sócio-políticas da legitimidade democrática. São Paulo: Ática ,1995. Bobbio, Norberto. Igualdade e Liberdade. Ediouro. Bobbio, Norberto. O Futuro da Democracia. São Paulo: Editora Paz e terra, 2002. Pinto Ferreira. Comentários a Constituição Brasileira. Vol.l São Paulo: Saraiva, 1994. Cretella, Jose Junior. Comentários a Constituição de 1988. São Paulo: Forense, 2000. Sites consultados www.direitofacil.com www.juris.com.br www.usp.br www.recantodasletras.com.br www.bn.br
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