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A Distinção entre Ciência e Filosofia

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FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE CAJAZEIRAS – FESC
FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE CAJAZEIRAS – FAFIC 
CURSO: LICENCIATURA EM FILOSOFIA
DICIPLINA: METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTIFICA/FILOSÓFICA
PROFESSOR: ME. WESCLEY RODRIGUES DUTRA
ALUNO: JONAS SILVA BATISTA
SÍNTESE
PRADO JR, Caio. O que é filosofia. 17. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981, 104 p. (Primeiros Passos, 37).
Nesta pequena obra, Caio Prado Jr. tentou, de forma concisa, explicar aos seus leitores o que vem a ser filosofia. Para tanto, o autor não se presta necessariamente a buscar nas mais variadas definições e conceitos do termo, conforme lhe fora atribuídos pelos diversos pensadores movidos por suas preferencias e humores. Em sua opinião, a filosofia seria mesmo uma “especulação em torno de qualquer assunto ou questão”. Prado Jr discorda das assertivas correntes de que não seria incumbência da filosofia a resolução de problemas, mas apenas a ensejadora de tais; ou, em outras palavras, seria aquilo por meio da qual emergem as problemáticas resultante do mero exercício ou “ginástica do pensamento”. 
No entanto, seu enfoque recai especificamente sobre a distinção entre ciência e filosofia. Distinção essa que passa despercebido aos desatentos, não precisamente por culpa dos leitores em si, mas por causa das definições que deram à filosofia nos anais da história. Geralmente, a filosofia é vista ou como uma sintetização de tudo objetivada a apreensão do todo, ou como um complemento da ciência. O autor discorda de ambas as conjecturas. Em sua visão sobre o assunto, a distinção entre ciência e filosofia consiste no fato de que a primeira se ocupa de um conhecimento sistematizado sobre objetos suscetíveis a experimentação empírica, porquanto a segunda se ocupa no “conhecimento do conhecimento”. Logo embora o autor reconheça que a filosofia pode ser tratada tal como a Ciência e como o conhecimento em geral, salientando, contudo, que isso somente quanto à forma, não quanto ao fundo.
A filosofia não seria um complemento, tampouco um prolongamento da ciência. E isso por uma razão obvia como argumenta o nosso autor: “qualquer legitimo prolongamento da Ciência é e sempre será, tudo indica, Ciência e não outra coisa.” Em outras palavras, se a filosofia busca acentuar sua investigação sobre o mesmo objeto que a ciência, tão logo a filosofia nada mais seria do que ciência. Nesse sentido, a filosofia não poderia ser uma disciplina como tal que não fosse fundida a ciência. Com efeito, para que a filosofia seja uma legitima disciplina à parte, seu objeto precisará necessariamente diferir do da ciência. Ou a filosofia se ocupará de outra coisa, ou então não haverá razão de existir. Neste momento o autor suscita uma instigante indagação. Pois se o objeto da ciência é o universo e seu conjunto de ocorrências, e realidades que compreendem também o homem, então qual o objeto da filosofia?
O objeto da filosofia é o “conhecimento do conhecimento”, seja este a qualquer nível ou plano hierárquico. Pois embora o conhecimento em si possa ser concebido em diferentes graus, não o pode, contudo, ser concebido em partes, uma vez que constitui uma só realidade. Por “ciência”, o autor tinha a intensão de implicar “conhecimento”, posto que a ciência nada mais é que um conhecimento sistematizado. O conhecimento científico é essencialmente o mesmo conhecimento comum, diferindo apenas quanto aos modos, métodos e técnicas. Assim como declarara o próprio autor: “o conhecimento cientifico de hoje, será o vulgar de amanhã”. O conhecimento em si, seria o objeto da filosofia, e por não ser uma realidade experiencial, está fora do alcance das ciências empíricas. Eis o que demarca os campos da ciência e da filosofia como disciplinas independentes.
Respondida a questão do objeto da filosofia, Prado Jr passa a elucidar sobre a natureza desse objeto, ou, no que consiste esse “conhecimento do conhecimento”. O “conhecimento do conhecimento” engloba toda uma universalidade apreendida pelo conhecimento sobre a qual a filosofia se empenhará por conhecer. O autor segue com uma refutação a proposição dos logicalistas que pretendem reduzir a filosofia a uma simples analise logico-crítica empreendida pela epistemologia. Contudo, reconhece que os logicalistas tem toda razão quando ressalvam os limites da filosofia quando esta pretendia invadir o campo próprio das ciências. Pois quando a filosofia resolveu analisar os objetos que cabem somente à ciência estudar, o resultado se mostrou desastroso. Haja vista as grosseiras noções de física de Aristóteles e as concepções de mecânica newtoniana que foram postas como “verdade absoluta”. 
A forma como o sujeito cognocente interpreta o mundo exterior é explicado como uma relação de projeção e introjeção. Ou seja, o individuo recria as realidades objetivas em seu pensamento e as modelam conforme os mesmos padrões conceituais desse pensamento. Tal relação se acha melhor explicada nas palavras de Engels, que assim observou: “Primeiro fabrica-se, tirando-o do objeto, o conceito desse objeto; depois inverte-se tudo, e mede-se o objeto pela sua cópia, o conceito”. Esses padrões conceituais são depois expressos pela linguagem discursiva, utilizando-se de seus elementos essenciais: substantivo, adjetivo e verbos. Os substantivos designarão as coisas e entidades em que o universo é discriminado e dividido; os adjetivos designaram as qualidades dessas coisas e entidades; e os verbos, as ações e comportamentos de tais no universo. 
As origens da filosofia foi o momento em que o pensamento crítico do homem se voltou a uma reflexão sobre si próprio e sobre os limites do seu próprio conhecimento. Prado Jr passa então a comprovar essa constatação a partir de sua interpretação da história da filosofia. A começar pelos primeiro pensadores da antiga Grécia dos quais temos conhecimento, e suas respectivas tentativas de explicar a origem da substancia universal. A esse respeito, Tales de Mileto afirmou ter sido a água o elemento originador de tudo; Anaxímenes, afirmara ter sido o ar; e Anaximandro, a “apeiron” (substancia indefinida). Embora esses filósofos de Mileto tenham achado em elementos como a água, o ar, o fogo (Heráclito), etc. a sua busca não se assemelhava a dos físicos modernos. Antes, a busca dos antigos pensadores gregos era sobre uma explicação racional do universo, uma explicação fundamentalmente gnosiológica, mesmo embora suas investigações ainda se achassem presas aos rudimentares dados da empiria. 
Surgem, por conseguinte, os pensadores que consideraram a forma como o mundo sensível se apresenta ao sujeito cognocente uma ilusão enganadora, e direcionaram suas investigações para além das aparências, buscando o verdadeiro conhecimento das coisas. Um conhecimento legítimo, que resolvesse o problema da uniformidade na multiplicidade. Nesse contexto, as opiniões se dividiam sobre o que seria o principio unificador da natureza. Para Pitágoras, seria os numero; Parmênides, o Ser; Heráclito, o Logos; etc. Mas o problema da uniformidade na multiplicidade persistia. Prado Jr então observa como a reflexão saia do plano físico (que constitui o objeto das ciências do qual não cabe à filosofia), e rumava para o plano do pensamento do homem (que constitui o objeto da filosofia propriamente), e que chega ao seu clímax na filosofia de Platão, “na vida da razão”, como observou Raphael Demos, citado por Prado Jr. Aristóteles, discípulo de Platão, desenvolveu a sua metafisica, a sua concepção geral da realidade que se faria padrão do pensamento filosófico das épocas a posteriori.
Nas várias concepções filosóficas que abrangem os filósofos de Mileto, de Platão, Aristóteles e os pensadores escolásticos, Hegel e Marx, assim como de tantos outros, com suas teses, antíteses e sínteses, fornecem os elementos que constituem a dialética do homem. “É essa dialética que cabe essencialmente a filosofia considerar e compreender, pois é dessa compreensão que resultará o coroamento da tarefa do verdadeiro conhecimento integral do ser humano em suas possibilidades
e limitações”, afirma Prado Jr. O conhecimento ordinário do conhecimento das coisas e entidades no universo constitui o objeto sobre o qual a filosofia se debruça incansavelmente. Tal objeto, ou seja, “o conhecimento do conhecimento” legitima a filosofia como uma disciplina a parte da ciência, embora correlacionadas.

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