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Coerência - Bobbio

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COERÊNCIA
	Todo o discurso travado por Bobbio na presente explanação pressupõe que a incompatibilidade entre duas normas é um mal a ser eliminado e, portanto, pressupõe uma regra da coerência, que “Em um ordenamento jurídico não devem existir antinomias”. O autor ressalta que uma regra que diz respeito às normas de um ordenamento jurídico – como é o caso acima citado – só pode ser destinada àqueles que se dedicam à produção e à aplicação das normas, sobretudo ao legislador, que é o produtor por excelência, e ao juiz, que é seu aplicador por excelência. Quando destinadas aos produtores de normas, a proibição soa da seguinte maneira: “Não criem normas que sejam incompatíveis com outras normas do sistema”. Quando destinadas aos aplicadores, a proibição assume outra forma: “Caso se deparem com antinomias, devem eliminá-las”.
	Norberto Bobbio, declara as situações em que existe uma ou outra dessas duas normas, ou ambas.
	1)Normas de diferente nível, ou seja, dispostas hierarquicamente.
	Existe a regra de coerência em ambas as formas:
	a) a pessoa ou órgão autorizado a emanar normas inferiores é obrigado a emanar normas que não estejam em contraste com normas superiores
	b) o juiz, quando estiver diante de um conflito entre uma norma superior e uma norma inferior, é obrigado a aplicar a norma superior;
	2)Normas de mesmo nível, sucessivas no tempo.
	Não exista nenhum dever de coerência por parte do legislador, enquanto existe por parte do juiz, o dever de resolver a antinomia, eliminando a norma anterior e aplicando a norma sucessiva.
	3)Normas de mesmo nível, contemporâneas
	Não há nenhuma obrigação juridicamente qualificada, por parte do legislador, de não se contradizer, podemos falar no máximo de um dever moral de não se contradizer, em consideração ao fato de que uma lei contraditória torna mais difícil o julgamento do juiz.
	Quanto ao juiz que estiver diante de uma antinomia entre normas, por exemplo, de um código não tem nenhum dever juridicamente qualificado de eliminar a antinomia. Simplesmente, a partir do momento em que duas normas antinômicas não podem ser ambas aplicadas ao mesmo caso, o juiz se verá na necessidade de aplicar uma delas e deixar de aplicar a outra.
	A compatibilidade não é uma condição necessária da validade de uma norma jurídica. Duas normas incompatíveis, de mesmo nível e contemporâneas, são ambas válidas. Não podem ser, contemporaneamente, ambas eficazes; mas são ambas válidas, no sentido de que, não obstante o conflite entre elas, continuam ambas a existir no sistema, e não há remédio para a sua eliminação.
	A coerência não é condição de validade, mas continua a ser condição para a justiça do ordenamento. Quando duas normas são válidas e podem ser aplicadas indistintamente segundo o livre juízo daqueles que são chamados a aplicá-las, são violadas duas exigências fundamentais, em que se inspiram os ordenamentos jurídicos: a exigência da certeza e a exigência da justiça. Quando existem duas normas antinômicas, ambas válidas, e, portanto, ambas aplicáveis, o ordenamento jurídico não consegue garantir nem a certeza, entendida como possibilidade, por parte do cidadão, de prever com exatidão as consequências jurídicas da própria conduta, nem a justiça, entendida como igual tratamento das pessoas que pertencem à mesma categoria.

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