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GeoGrafia física Prof. arildo João de souza Profa. rosimar Bizello Müller UNIASSELVI 2011 Caderno de Estudo NEAD Educação a Distância GRUPO Copyright UNIASSELVI 2011 Elaboração: Prof. Arildo João de Souza Profa. Rosimar Bizello Müller Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 910.02 S719g Souza, Arildo João de Geografia física / Arildo João de Souza e Rosimar Bizello Müller. Indaial : UNIASSELVI, 2011. 272 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-424-9 1. Geografia física I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Ensino a Distância. II. Título. aPreseNTaÇÃo A Geografia é uma ciência fascinante e dinâmica. Ao estudar os fenômenos terrestres, desde o núcleo ao topo da atmosfera, você poderá viajar e conhecer o mundo em que vive sem sair do seu local de estudos. A disciplina que iniciamos, Geografia Física, dedica-se ao estudo da origem de algumas características físicas do planeta Terra. Com uma pequena introdução, iniciaremos nossos estudos abordando a Astronomia com o propósito de prepará-lo(a), futuro(a) professor(a) de Geografia, a trabalhar temas que surgem em sala de aula, como, por exemplo: – Qual a origem do Universo e do Sistema Solar? O que são estes astros que vemos no céu todas as noites? É muito importante esclarecermos, neste momento, que nossa abordagem acerca da Astronomia, na primeira unidade, não será aprofundada no âmbito da Física Atômica e da Mecânica Celeste. Trataremos apenas das noções gerais sobre o universo em que vivemos para despertar a busca por novas fontes de informação e conhecimento. Daremos uma noção de como surgiam e se formaram o Universo, as Galáxias, o Sistema Solar e o Planeta Terra, nosso lar no cosmos. Para que você compreenda a história geológica da Terra (as diferentes camadas, os tipos de rochas que formam a base que sustenta as florestas, os campos, o solo sobre o qual construímos cidades, cultivamos etc.), também estudaremos os fundamentos da Geologia. O Planeta Terra, assim como tudo que nele existe, não é estático, mas, sim, dinâmico. Isso significa constantes mudanças na superfície terrestre. Mesmo os continentes, formados por gigantescos blocos de rochas, se afastam ou se aproximam uns dos outros, o que leva, por exemplo, a América do Sul a se afastar um centímetro por ano da África. É importante salientar que as informações apresentadas neste caderno são abordadas de uma maneira sucinta, o que deve servir de estímulo para que você se aprofunde através do estudo de outros autores. Bom estudo!!! Prof. arildo João de souza Profa. rosimar Bizello Müller iiiGeOGrAFIA FíSICA iv UNI Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas. Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações. Desejo a você excelentes estudos! UNI DIC AS! Caro(a) acadêmico(a). Explore o Ambiente Virtual de Aprendizagem a fim de visualizar as imagens dos cadernos de estudo coloridas, ampliando seu repertório visual e a compreensão das obras. GeOGrAFIA FíSICA GeOGrAFIA FíSICA v sUMÁrio UNiDaDe 1: iNTroDUÇÃo À asTroNoMia ................................................................ 1 TÓPico 1: eVoLUÇÃo Do coNHeciMeNTo HUMaNo Na coMPreeNsÃo Do UNiVerso .............................................................................................. 3 1 iNTroDUÇÃo ............................................................................................................... 3 2 a coMPreesÃo Dos asTros Para os PoVos PrÉ-HisTÓricos ................... 4 3 o NasciMeNTo Da asTroNoMia ............................................................................ 7 4 a asTroNoMia Na iDaDe MÉDia ........................................................................... 12 5 a asTroNoMia No reNasciMeNTo .................................................................... 13 6 as Bases Da MoDerNa asTroNoMia ................................................................ 16 7 as DescoBerTas QUe LeVaraM À Teoria Do BIG BANG .............................. 19 8 as MoDerNas TecNoLoGias De oBserVaÇÃo Do UNiVerso ..................... 21 9 raDioTeLescÓPio BrasiLeiro ............................................................................ 24 10 Teorias soBre a oriGeM Do UNiVerso ......................................................... 25 resUMo Do TÓPico 1 ................................................................................................. 27 aUToaTiViDaDe ........................................................................................................... 30 TÓPico 2: a oriGeM Do UNiVerso e a forMaÇÃo De esTreLas, BUracos NeGros e GaLÁXias ............................................................ 33 1 iNTroDUÇÃo ............................................................................................................. 33 2 oriGeM Do UNiVerso seGUNDo a ciÊNcia ....................................................... 34 2.1 O BIG BANG ............................................................................................................. 34 2.2 A MATÉrIA eSCUrA ................................................................................................ 39 3 NasciMeNTo, eVoLUÇÃo e MorTe Das esTreLas ......................................... 41 4 oriGeM e eVoLUÇÃo Das GaLÁXias .................................................................. 49 4.1 TIPOS De GALÁXIAS ............................................................................................... 49 4.2 DIMeNSÕeS DAS GALÁXIAS .................................................................................. 54 LeiTUra coMPLeMeNTar .......................................................................................... 55 resUMo Do TÓPico 2 ................................................................................................. 57 aUToaTiViDaDe ........................................................................................................... 58 TÓPico 3: o sisTeMa soLar .................................................................................... 59 1 iNTroDUÇÃo ............................................................................................................. 59 2 oriGeM e eVoLUÇÃo Do sisTeMa soLar ......................................................... 59 3 caracTerísTicas aTUais Do sisTeMa soLar ................................................ 63 3.1 SOL ........................................................................................................................... 63 3.2 PLANeTAS ................................................................................................................ 65 3.2.1 Mercúrio .................................................................................................................. 67 3.2.2 Vênus ..................................................................................................................... 67 3.2.3 Marte ...................................................................................................................... 68 3.2.4 Júpiter ..................................................................................................................... 70 GeOGrAFIA FíSICA vi 3.2.5 Saturno ................................................................................................................... 71 3.2.6 Urano ......................................................................................................................72 3.2.7 Netuno .................................................................................................................... 73 3.3 COMeTAS ................................................................................................................. 75 3.3.1 Origem e composição dos cometas ....................................................................... 76 resUMo Do TÓPico 3 ................................................................................................. 79 aUToaTiViDaDe ........................................................................................................... 80 TÓPico 4: PLaNeTa Terra: oriGeM, forMaÇÃo e MoViMeNTos ................... 81 1 iNTroDUÇÃo ............................................................................................................. 81 2 oriGeM Da Terra: Da NeBULosa ao PLaNeTa ............................................... 81 3 os MoViMeNTos Da Terra e sUas coNseQUÊNcias .................................... 84 3.1 rOTAÇÃO ................................................................................................................. 85 3.2 TrANSLAÇÃO .......................................................................................................... 85 3.2.1 Órbita da Terra ao redor do Sol .............................................................................. 87 3.2.2 Precessão dos equinócios ...................................................................................... 87 3.2.3 Nutação .................................................................................................................. 90 3.2.4 revolução ou translação galáctica ......................................................................... 91 4 o caMPo MaGNÉTico Da Terra: oriGeM e fUNÇÃo ..................................... 91 5 LUa: o saTÉLiTe NaTUraL Da Terra .................................................................. 94 5.1 FASeS DA LUA ......................................................................................................... 95 5.2 eCLIPSeS DO SOL e DA LUA ................................................................................. 96 5.3 INFLUÊNCIAS DA LUA SOBre A TerrA ................................................................ 97 LeiTUra coMPLeMeNTar .......................................................................................... 99 resUMo Do TÓPico 4 ............................................................................................... 101 aUToaTiViDaDe ......................................................................................................... 103 aVaLiaÇÃo .................................................................................................................. 104 UNiDaDe 2: fUNDaMeNTos Da GeoLoGia ........................................................... 105 TÓPico 1: HisTÓrico e sUBDiVisÃo Da GeoLoGia .......................................... 107 1 iNTroDUÇÃo ........................................................................................................... 107 2 raMos Da GeoLoGia ............................................................................................ 107 3 HisTÓrico Da GeoLoGia ..................................................................................... 109 3.1 A GeOLOGIA NA ANTIGUIDADe ............................................................................. 110 3.2 A eVOLUÇÃO DA GeOLOGIA ................................................................................. 111 3.3 A GeOLOGIA MODerNA ......................................................................................... 112 3.4 A GeOLOGIA NO BrASIL ........................................................................................ 114 4 a iMPorTÂNcia Do coNHeciMeNTo GeoLÓGico ............................................ 116 resUMo Do TÓPico 1 ................................................................................................ 117 aUToaTiViDaDe .......................................................................................................... 118 TÓPico 2: o TeMPo GeoLÓGico ............................................................................ 121 1 iNTroDUÇÃo ........................................................................................................... 121 GeOGrAFIA FíSICA vii 2 aLGUMas coNcePÇÕes soBre a iDaDe Da Terra ...................................... 122 3 o Processo De fossiLiZaÇÃo e DaTaÇÃo De fÓsseis ............................. 124 3.1 ALGUNS eXeMPLOS De FÓSSeIS ....................................................................... 127 3.2 FÓSSIL “VIVO” ........................................................................................................ 128 4 escaLa GeoLÓGica Do TeMPo .......................................................................... 129 4.1 HADeANO (de hades = inferno) OU HADAICO ...................................................... 132 4.2 ArQUeANO e PrOTerOZOICO ........................................................................... 132 4.2.1 Primeiras evidências de vida ................................................................................ 134 4.3 erA PALeOZOICA .................................................................................................. 135 4.3.1 A vida no Paleozoico ............................................................................................ 138 4.4 erA MeSOZOICA ................................................................................................... 140 4.4.1 A vida no Mesozoico ............................................................................................. 140 4.5 erA CeNOZOICA ................................................................................................... 142 4.5.1 Período Terciário (Neogênico/Paleogênico) ......................................................... 143 4.5.1.1 A vida no Terciário ............................................................................................. 143 4.5.2 Período Quaternário ............................................................................................. 145 4.5.2.1 A vida no Quaternário ........................................................................................ 145 LeiTUra coMPLeMeNTar ........................................................................................ 147 resUMo Do TÓPico 2 ............................................................................................... 150 aUToaTiViDaDe ......................................................................................................... 151 TÓPico 3: forMa, esTrUTUra e coMPosiÇÃo iNTerNa Da Terra ............. 153 1 iNTroDUÇÃo ........................................................................................................... 153 2 a forMa Da Terra ................................................................................................ 154 3 as caMaDas iNTerNas Da Terra ..................................................................... 156 3.1 AS DeSCONTINUIDADeS MAIS NOTÁVeIS DO INTerIOr DA TerrA ............. 156 3.2 A CrOSTA TerreSTre ........................................................................................ 158 3.3 MANTO .................................................................................................................... 159 3.4 NÚCLeO .................................................................................................................. 161 4 o MaGNeTisMo Da Terra .................................................................................... 161 5 as TeMPesTaDes MaGNÉTicas .......................................................................... 163 LeiTUra coMPLeMeNTar ........................................................................................164 6 rocHas e MiNerais .............................................................................................. 165 6.1 OS MINerAIS ......................................................................................................... 166 6.1.1 As propriedades físicas ........................................................................................ 166 6.1.2 Propriedades químicas ......................................................................................... 170 6.2 AS rOCHAS ............................................................................................................ 170 6.2.1 Classificação genética das rochas ....................................................................... 171 6.2.1.1 rochas ígneas ou magmáticas ......................................................................... 171 6.2.1.2 rochas sedimentares ........................................................................................ 173 6.2.1.3 rochas metamórficas ........................................................................................ 175 6.2.1.4 Alguns tipos de rochas ...................................................................................... 178 6.2.2 O ciclo das rochas ................................................................................................ 179 6.2.3 A distribuição das rochas na crosta continental ................................................... 180 GeOGrAFIA FíSICA viii 6.3 reCUrSOS MINerAIS .......................................................................................... 180 6.3.1 A extração e utilização dos recursos minerais ...................................................... 181 LeiTUra coMPLeMeNTar ........................................................................................ 183 resUMo Do TÓPico 3 ............................................................................................... 187 aUToaTiViDaDe ......................................................................................................... 189 aVaLiaÇÃo .................................................................................................................. 190 UNiDaDe 3: feNÔMeNos Na crosTa TerresTre e forMaÇÃo Do soLo ................................................................................................ 191 TÓPico 1: GÊNese e eVoLUÇÃo Da TecTÔNica GLoBaL ................................ 193 1 iNTroDUÇÃo ........................................................................................................... 193 2 Teoria Da DeriVa coNTiNeNTaL ....................................................................... 193 2.1 reSSUrGIMeNTO DA TeOrIA DA DerIVA CONTINeNTAL ............................... 196 3 Teoria Da TecTÔNica De PLacas .................................................................... 197 4 as PLacas TecTÔNicas ...................................................................................... 199 4.1 TIPOS De LIMITeS DAS PLACAS TeCTÔNICAS ................................................. 201 4.2 VeLOCIDADe DO DeSLOCAMeNTO DAS PLACAS TeCTÔNICAS .................... 203 5 os MoViMeNTos TecTÔNicos ............................................................................ 206 5.1 MOVIMeNTOS ePIrOGeNÉTICOS (ePIrOGÊNeSe) ......................................... 206 5.2 MOVIMeNTOS OrOGeNÉTICOS (OrOGÊNeSe) ............................................... 207 6 DoBraMeNTos ....................................................................................................... 208 6.1 TIPOS De DOBrAS ................................................................................................ 208 6.2 COMPONeNTeS DAS DOBrAS ............................................................................ 209 6.3 CLASSIFICAÇÃO DAS DOBrAS ........................................................................... 210 7 faLHaMeNTos ......................................................................................................... 211 7.1 CLASSIFICAÇÃO e TIPOS De FALHAS ................................................................. 211 7.2 SISTeMAS De FALHAS .......................................................................................... 212 8 PriNcíPio De isosTasia ....................................................................................... 213 resUMo Do TÓPico 1 ............................................................................................... 217 aUToaTiViDaDe ......................................................................................................... 218 TÓPico 2: VULcaNisMo ........................................................................................... 219 1 iNTroDUÇÃo ........................................................................................................... 219 2 os ProDUTos VULcÂNicos ................................................................................ 219 2.1 LAVA ........................................................................................................................ 220 2.2 FrAGMeNTOS VULCâNICOS ............................................................................... 221 2.3 DePÓSITOS PIrOCLÁSTICOS ............................................................................. 222 2.4 GASeS e VAPOreS VULCâNICOS ...................................................................... 223 2.4.1 As fumarolas ......................................................................................................... 224 2.4.2 Gêiseres ............................................................................................................... 224 2.4.3 Plumas hidrotermais submarinas ......................................................................... 225 2.4.4 Lahars e avalanches ............................................................................................ 226 3 a esTrUTUra e/oU MorfoLoGia De UM VULcÃo .......................................... 227 GeOGrAFIA FíSICAGeOGrAFIA FíSICA ix 4 aTiViDaDes VULcÂNicas ...................................................................................... 229 4.1 erUPÇÕeS FISSUrAIS ........................................................................................ 230 4.2 erUPÇÕeS CeNTrAIS ......................................................................................... 231 5 VULcaNisMo No BrasiL ....................................................................................... 234 LeiTUra coMPLeMeNTar ........................................................................................ 235 resUMo Do TÓPico 2 ............................................................................................... 237 aUToaTiViDaDe ......................................................................................................... 238 TÓPico 3: TerreMoTos .......................................................................................... 239 1 iNTroDUÇÃo ........................................................................................................... 239 2 oNDas sísMicas .................................................................................................... 240 3 iNTeNsiDaDe Dos TerreMoTos ........................................................................ 243 4 a MaGNiTUDe Dos TerreMoTos ....................................................................... 244 5 sisMiciDaDe MUNDiaL .......................................................................................... 245 6 sisMiciDaDe No BrasiL ....................................................................................... 247 7 os TSUNAMIS ........................................................................................................... 249 resUMo Do TÓPico 3 ...............................................................................................251 aUToaTiViDaDe ......................................................................................................... 252 TÓPico 4: a iNTerface crosTa/Biosfera/aTMosfera ................................. 253 1 iNTroDUÇÃo ........................................................................................................... 253 2 a iNTeraÇÃo eNTre crosTa, HiDrosfera, Biosfera e aTMosfera ..... 254 3 o fUTUro De Nosso PLaNeTa ........................................................................... 263 resUMo Do TÓPico 4 ............................................................................................... 265 aUToaTiViDaDe ......................................................................................................... 266 aVaLiaÇÃo .................................................................................................................. 267 referÊNcias ............................................................................................................. 269 GeOGrAFIA FíSICA x G e o G r a f i a f í s i c a UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À ASTRONOMIA ObjETIvOS DE ApRENDIzAgEM a partir do estudo desta unidade você estará apto(a) a: compreender como evoluiu o pensamento humano em relação ao conhecimento da origem da Terra e do Universo; conhecer as teorias científicas mais aceitas para explicar como surgiu o Universo; entender como se formaram as estrelas e de que maneira geram luz e calor; descobrir a origem dos buracos negros e sua função nas galáxias; entender o que são galáxias e de que são formadas; compreender quais são os principais astros do Sistema Solar e suas características; conhecer como se formou a Terra e os movimentos que determinam a vida nela existente. TÓPico 1 – eVoLUÇÃo Do coNHeciMeNTo HUMaNo Na coMPreeNsÃo Do UNiVerso TÓPico 2 – a oriGeM Do UNiVerso e a forMaÇÃo De esTreLas, BUracos NeGros e GaLÁXias TÓPico 3 – o sisTeMa soLar TÓPico 4 – PLaNeTa Terra: oriGeM, forMaÇÃo e MoViMeNTos pLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em 4 (quatro) tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão na apropriação dos estudos realizados. G e o G r a f i a f í s i c a G e o G r a f i a f í s i c a eVoLUÇÃo Do coNHeciMeNTo HUMaNo Na coMPreeNsÃo Do UNiVerso 1 iNTroDUÇÃo TÓPico 1 UNiDaDe 1 Desde a mais remota antiguidade, o céu sempre fascinou o homem. este fascínio se intensificava na mesma proporção em que aumentava a consciência do homem acerca de sua presença na Terra. Os agrupamentos humanos que deram início às primeiras civilizações conhecidas (egípcios, babilônios, chineses e assírios) passaram a observar os ciclos da natureza, uma vez que dela passaram a depender para o plantio e colheita de alimentos. A atenção destes primeiros observadores da natureza voltou-se para o céu, especificamente para os movimentos que faziam os astros visíveis a olho nu como Lua, Sol, planetas e estrelas. Desde Stonehenge, um templo primitivo de culto ao Sol e observatório solar localizado ao sul da Inglaterra, passando pelo vale da Mesopotâmia, egito e China, a humanidade tenta compreender os astros, seja com fins religiosos – já que eram vistos como deuses, seja como mapa de orientação, na elaboração de calendário, ou para prever as épocas favoráveis ao plantio e colheita. Como todas as ciências, a Astronomia ficou adormecida durante a Idade Média para ressurgir na renascença com Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler e mais tarde Isaac Newton. No final do século XIX e início do século XX, edwin Huble e Albert einstein proporcionaram grande avanço na compreensão do universo. As viagens espaciais e a chegada do homem à Lua na década de 1960 abrem à UNIDADE 1TÓPICO 14 G e o G r a f i a f í s i c a humanidade um mundo de possibilidades. Com isso, prever em que lugar o homem poderia chegar, utilizando sua inteligência para explorar o desconhecido cosmos, ficaria praticamente impossível. Ao longo deste Tópico estudaremos a jornada da humanidade, desde os povos pré- históricos até as viagens espaciais, bem como abordaremos as teorias mais recentes que procuram explicar a origem e a formação do Universo. Bom estudo!!! 2 a coMPreesÃo Dos asTros Para os PoVos PrÉ-HisTÓricos A Arqueoastronomia, ciência que pesquisa a Astronomia entre os povos primitivos, ao estudar os sítios megalíticos de Callanish, na escócia (2000 a.C.), rochas alinhadas de Carnac (2000 a.C.), na Bretanha, França, e os círculos concêntricos de Stonehenge, na Inglaterra, que datam de 3100 a 2075 a.C. (Figuras 1, 2 e 3 respectivamente), admitem que tais monumentos estavam relacionados à tentativa de compreender os astros pelos povos que os construíram. Se há dúvidas desta relação quanto aos sítios arqueológicos de Callanish e Carnac, sobram evidências no que se refere a Stonehenge. FIGUrA 1 – SíTIO MeGALíTICO De CALLANISH – eSCÓCIA FONTe: Disponível em: <www.ufrgs.br/museudetopografia/fotos/Fotos_PDF/Historia_da_ Astronomia.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2011. UNIDADE 1 TÓPICO 1 5 G e o G r a f i a f í s i c a FIGUrA 2 – MeGALíTICOS ALINHADOS De CArNAC – BreTANHA, FrANÇA FONTe: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/rochas_de_Carnac#Alinhamentos_ megal.C3.ADticos>. Acesso em: 2 abr. 2011. Os círculos concêntricos de Stonehenge foram construídos em três etapas diferentes, entre 3100 e 2075 a.C. Impressionam não apenas pelo tamanho dos blocos de aproximadamente 5 metros de altura, com peso em torno de 25 toneladas, mas, principalmente, por terem sido construídos por povos primitivos que nem sequer haviam desenvolvido a escrita. FIGUrA 3 – CírCULOS MeGALíTICOS De STONeHeNGe – INGLATerrA FONTe: Disponível em: <http://www.freemasons-freemasonry.com/stonehenge_ maconaria.html>. Acesso em: 2 abr. 2011. UNIDADE 1TÓPICO 16 G e o G r a f i a f í s i c a A princípio, as pesquisas concluíram que se tratava de um calendário para marcar o início do plantio e colheita. entretanto, nesta região, a estação de crescimento das plantas ocorre bem antes do solstício de verão e a colheita é feita muito antes do solstício de inverno, o que sugere que este monumento tinha também outras finalidades. Novas pesquisas sugerem que, além de calendário agrícola, este monumento tinha objetivos simultâneos de culto ao sol e observatório astronômico. Até os dias atuais, no dia 21 de junho, data do solstício de verão no Hemisfério Norte e dia 21 de dezembro, solstício de inverno, o Sol, ao nascer, ilumina a pedra principal do círculo interno, fato que comprova a tese de observatório solar. Porém, como o Sol era adorado como deus por povos antigos, este local era também utilizado para cerimônias de adoração ao astro rei. Segundo o arqueólogo britânico Mike Parker Pearson e sua equipe, Stonehenge foi construída pelo povoado Durrington, formado por algumas dezenas de casas construídas entre 2600 a.C. e 2500 a.C., situado em Durrington Walls, perto de Salisbury, considerada a maior aldeia neolítica do reino Unido. Tais evidências ocorrem devido ao fato de pesquisadores terem encontrado nas escavações, neste povoado, uma réplica de Stonehenge feita em madeira. O povo polinésio, vivendo nas ilhas do Pacífico, distantes umas das outras, tiveram que desenvolver técnicas de navegação orientando-se pelas estrelas. Os maias, na América Central, desenvolveram um complexo calendário no século IV a.C. (Figura 4) formado por círculos concêntricos que, interligados, sincronizam o calendário mais importante de 260 dias, com outro calendário chamado haab, de 365dias, com períodos mais longos. Pesquisas indicam que os maias tinham conhecimento dos movimentos não apenas do Sol, da Lua e de alguns planetas, mas acompanhavam também o movimento que a Via Láctea fazia no céu noturno ao longo dos anos e décadas. Como se trata de um calendário que marca períodos longos, interpretações de alguns pesquisadores levaram a afirmar que este calendário termina em 21 de dezembro de 2012, dia do solstício de inverno no Hemisfério Norte. Tal afirmação levou muitos místicos a afirmar que o mundo terminará nesta data, tema que acabou virando filme de Hollywood. Na hipótese de o calendário maia ter sido interpretado corretamente, seu fim em 2012 não significa que os maias estavam prevendo o fim do mundo para esta época, mas provavelmente, como sugerem interpretações mais científicas, trata-se apenas do fim de uma era e início de uma nova. entretanto, ainda de acordo com informações do sítio <http://www.nasa.gov/topics/ UNIDADE 1 TÓPICO 1 7 G e o G r a f i a f í s i c a earth/features/2012.html>, um artigo escrito por Gerardo Aldana, professor da Universidade da Califórnia (Santa Bárbara), publicado no livro Calendars and Years II: Astronomy and Time in the Ancient and Medieval World, sugere que as conversões aceitas atualmente, do calendário maia, podem estar erradas por um período entre 50 e 100 anos. Para o pesquisador, a falha estaria na veracidade dos documentos utilizados nos cálculos. FIGUrA 4 – CALeNDÁrIO MAIA FONTe: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_maia>. Acesso em: 2 abr. 2011. 3 o NasciMeNTo Da asTroNoMia Vimos que os grupos humanos pré-históricos estabaleceram uma forte relação com os astros; entretanto, o desenvolvimento da Astronomia como ciência da observação dos astros é atribuída aos sumérios, povo que inventou a escrita conhecida como cuneiforme. A razão desse interesse pelo céu foi além da necessidade de elaboração de um calendário para prever a época das chuvas, chegada do frio e do calor – como forma de orientação. Os sumérios viam os astros como deuses que tinham o poder de determinar os destinos da vida humana. Os primeiros astrônomos eram, na realidade, sacerdotes de uma religião tentando compreender que desígnios os astros (deuses) previam para a vida humana na Terra. Na realidade, a astronomia surgiu como astrologia – hoje considerada uma pseudociência. UNIDADE 1TÓPICO 18 G e o G r a f i a f í s i c a Na Antiguidade não havia distinção entre a obervação dos astros e o estudo de sua influência sobre a Terra e tudo que nela vive, especialmente sobre os destinos da vida humana. Os sumérios foram o primeiro povo a dividir o céu em constelações, ligando com linhas imaginárias uma estrela a outra, desenhando figuras que tinham relação com suas crenças e seu cotidiano, com o propósito de memorizar com mais facilidade o pano de fundo por onde transitavam a Lua, o Sol e os planetas. É atribuída aos sumérios a divisão do círculo em 360º, e cada grau em 60 minutos, conhecimento que depois foi repassado aos babilônios, gregos e egípcios, chegando até nossos dias. Os sumérios criaram também o conceito de círculo zodiacal, ao perceber que o Sol, a Lua e os planetas faziam o mesmo percurso no céu, tendo como pano de fundo as mesmas constelações ao longo do ano, mudando de uma constelação para a outra, em média, a cada 28 a 30 dias. ATEN ÇÃO! A origem do termo “zodíaco ou círculo zodiacal” está no nome das constelações que servem de pano de fundo para a trajetória “aparente” do Sol. Praticamente todas possuem nomes de animais. Ex.: áries, touro, capricórnio, sagitário, peixes etc. Apesar da substancial contribuição deste povo para o nascimento da Astronomia, seus conhecimentos chegaram aos babilônios, que deram os primeiros passos para transformar a Astronomia em ciência exata, através da introdução da matemática. Isso lhes possibilitou elaborar calendários mais precisos, determinar a duração das fases da Lua, os eclipses, a aparição de planetas etc. e muitos outros fenômenos. entretanto, os babilônios avançaram também no estudo da influência dos astros e constelações nos destinos da vida humana, tornando ainda mais inseparáveis a Astronomia e a Astrologia, ou astros e religiosidade. Durante o reinado de Nabonassar (747-733 a.C.) foram feitos registros sistemáticos das fases da Lua, bem como a periodicidade dos eclipses lunares e solares, além de fenômenos considerados estranhos para a época, como a aparição de cometas, estrelas supernovas etc. Tais registros foram encontrados em tábuas de argila preservadas, que faziam parte de uma antiga biblioteca da Babilônia, localizada a 70 km da atual cidade de Bagdá, no Iraque. Os conhecimentos dos sumérios e babilônios sobre astrologia e astronomia chegaram aos egípcios que, sem acrescentar muito além dos conhecimentos que receberam, expandiram- UNIDADE 1 TÓPICO 1 9 G e o G r a f i a f í s i c a ATEN ÇÃO! Pitágoras foi o primeiro a chamar o céu visível numa noite estrelada de cosmos. nos para o Ocidente. As observações astronômicas dos egípcios se concentraram no Sol, a quem consideravam um deus. Os egípcios, povo que viveu às margens do rio Nilo desde 3500 a.C., possuíam registros precisos dos movimentos do Sol ao longo do ano, com as datas de solstícios e equinócios. Observaram por exemplo, que à medida que se aproximava o inverno, o Sol nascia a cada dia um grau mais ao sul, até atingir sua declinação e distanciamento máximo no dia 21 de dezembro, dia do solstício de inverno no Hemisfério Norte e de verão no Hemisfério Sul. entretanto, o Sol não começava a voltar para o norte no dia 22 de dezembro. Seu retorno começa no dia 25 de dezembro, quando nasce um grau ao norte, começando seu retorno no longo caminho de volta, até o dia 21 de junho, dia do solstício de verão no Hemisfério Norte. No antigo egito o dia 25 de dezembro era festejado como o dia que o deus Sol renascia e começava seu retorno, trazendo de volta o renascimento da vida na primavera e o calor do verão. este povo dependia basicamente das cheias do rio Nilo, que eram precisas e nunca falhavam; é esta, possivelmente, a principal razão que levou os egípcios a concentrar sua atenção apenas no Sol e na Lua, sem estender sua visão além das estrelas para compreender o que ali existia. Os chineses possuem registros de aproximadamente 700 a.C. da aparição de cometas e estrelas superbrilhantes, atualmente chamadas de supernovas. entretanto, foram os gregos os responsáveis pelos maiores avanços na compreensão do mundo dos astros, superados somente pelos cientistas do renascimento (século XVI). Pitágoras (571-497 a.C.), grande sábio e gênio da antiguidade, criou a matemática e a ideia de que o cosmos era regido por leis matemáticas. Cunhou também a palavra Astronomia, que literalmente significa astro (estrela) e nomia (lei), ou seja, lei das estrelas. UNIDADE 1TÓPICO 110 G e o G r a f i a f í s i c a Aristóteles (384-322 a.C.) introduziu o conceito de mecânica celeste ao defender a ideia do geocentrismo, colocando a Terra no centro do universo. O Sol, a Lua, os planetas e as estrelas giravam em torno da Terra, presos a gigantescas esferas de cristal. Ao observar que todas as estrelas giravam em torno da estrela polar, Aristóteles afirmou que a Terra possuía um eixo em torno do qual tudo girava. Apesar desta ideia, hoje considerada estapafúrdia, Aristóteles explicou a origem dos eclipses, a esfericidade da Terra ao observar sua sombra sendo projetada na Lua durante os eclipses lunares. explicou também que as fases da Lua dependiam do quanto suaface iluminada estava voltada para a Terra. Aristarco de Samos (310-230 a.C.) foi o único pensador da Antiguidade a colocar a Terra no seu devido lugar, ou seja, girando em torno do Sol (teoria heliocêntrica). entretanto, na época esta ideia foi abandonada por ser considerada absurda, tendo em vista que todos observavam o movimento do Sol, da Lua, das estrelas e dos planetas pelo céu ao longo do dia e dos anos. Aristarco tentou calcular a distância da Terra ao Sol e à Lua e desenvolveu um método para estabelecer a distância proporcional. Mas o maior feito da Antiguidade em termos de observação astronômica foi, sem dúvida nenhuma, atribuído a eratóstenes (275-194 a.C.), não apenas por ter afirmado que a Terra era redonda, mas por conseguir calcular sua circunferência, chegando muito próximo do valor real. IMP OR TAN TE! � Caro/a acadêmico/a!!! Você pode se perguntar: – Como é possível um grego, que viveu há 2.200 anos, não só saber que a Terra era redonda como conseguir calcular sua circunferência, se há pouco mais de 500 anos os europeus ainda tinham dúvidas quanto à esfericidade de nosso planeta? Esta pergunta queremos que você mesmo(a), ao estudar o conteúdo deste caderno, responda. é muito importante você se aprofundar um pouco em pesquisas paralelas para compreender o que aconteceu durante a Idade Média, período em que este conhecimento acabou se perdendo. Como eratóstenes conseguiu calcular a circunferência da Terra? Simples observação. eratóstenes, diretor da biblioteca de Alexandria entre 240 e 194 a.C., observou que ao meio-dia do dia 21 de junho (solstício de verão no Hemisfério Norte) o Sol não estava no zênite na cidade de Alexandria. Notou que um bastão colocado sob o Sol, perpendicularmente, UNIDADE 1 TÓPICO 1 11 G e o G r a f i a f í s i c a projetava uma sombra de 7º. Percebeu também que na cidade de Siena, atualmente Assuã, distante 5.000 estádios (medida usada pelos gregos) de Alexandria, o Sol atingia o zênite ao meio-dia, no primeiro dia do verão (21 de junho), ao mesmo tempo em que a luz atingia o fundo de um poço, sem formar sombra em suas bordas, o que confirmava que o Sol incidia perpendicularmente em Siena, mas provocava uma sombra de 7 graus em Alexandria. esta diferença, segundo os cálculos de eratóstenes, não apenas confirmava a esfericidade da Terra, mas fornecia os dados para calcular o tamanho de sua circunferência. Sendo 7 graus 1/51 de 360º de uma circunferência, Siena deveria estar 1/51 da circunferência da Terra ao sul de Alexandria. A partir daí o cálculo ficou fácil, constituindo-se apenas de uma multiplicação, ou seja, 51 x 5.000 estádios (distância entre Siena e Alexandria). Perdeu-se na história a correspondência precisa entre a medida dos antigos gregos, estádio, com nossa medida atual, quilômetro. A razão disso é que cada região da Grécia usava um padrão diferente para “estádio”, portanto não é possível saber com exatidão a que padrão de “estádio” eratóstenes se referia. entretanto, acredita-se, que um estádio corresponde entre 1/5 a 1/6 de quilômetro, então os cálculos de eratóstenes chegaram muito próximos dos atuais 40.075 km de circunferência medidos na linha do equador. NO TA! � Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS, 2009, p. 1974), ZÊNITE é: substantivo masculino 1 Rubrica: astronomia. ponto da esfera celeste diretamente oposto ao nadir, que se situa na vertical do observador, sobre a sua cabeça. Não poderia ficar de fora, por ser considerado o pai da Astronomia, como ciência da observação das estrelas, o nome de Hiparco de Niceia (190-126 a.C.), sendo o responsável por separar a Astronomia de Astrologia. esta última foi refutada por Hiparco por considerar que não havia bases científicas, físicas e matemáticas, sobre a influência dos astros no comportamento humano ou em suas características psicológicas. A seguir transcrevemos a biografia desse importante astrônomo: Hiparco de Niceia foi astrônomo e matemático grego da escola de Alexandria. Nascido em Niceia, na Bitínia, hoje Iznik, na Turquia, viveu em Alexandria, mas trabalhou sobretudo UNIDADE 1TÓPICO 112 G e o G r a f i a f í s i c a em rodes (161-126 a.C.). Hoje é considerado o fundador da astronomia científica e também é chamado de pai da trigonometria por ter sido o pioneiro na elaboração de uma tabela trigonométrica, com valores de arcos e cordas para uma série de ângulos, utilizando a ideia pioneira de Hipsicles (180 a.C.), herdada dos babilônios, da divisão do círculo em 360 partes iguais (140 a.C.) e a divisão do grau em sessenta minutos de sessenta segundos. Viveu numa época posterior à Idade de Ouro da produção matemática daquela Universidade, atingida com euclides, Apolônio, eratóstenes e Arquimedes e que, a partir daí, entrou em declínio, mas foi um grande astrônomo, sem dúvida, e morreu em rodes. Além de produzir algo inovador como a tabela de cordas, considerada precursora das atuais tabelas trigonométricas, inventou um método para a resolução de triângulos esféricos. Na astronomia é considerado uma figura de transição entre a astronomia babilônica e a obra de Ptolomeu. Destacou-se pelo rigor de suas observações e segurança das conclusões a que chegou, descobertas fundamentais para a astronomia, rejeitou a teria heliocêntrica de Aristarco de Sámos e desprezou os ensinamentos da astrologia. Criticou a obra geográfica de eratóstenes e empregou rigorosos princípios matemáticos para a localização de pontos na superfície da Terra. entre suas contribuições na astronomia, citam-se a organização de dados empíricos derivados dos babilônicos, melhoramentos em constantes astronômicas importantes, tais como duração do dia e do ano, com uma aproximação de 6min 30s, elaboração do primeiro catálogo estelar da história com cerca de 850 estrelas, e a impressionante descoberta da precessão dos equinócios, o movimento cíclico ao longo da eclíptica, na direção oeste, causado pela ação do Sol e da Lua sobre a dilatação equatorial da Terra; e que tem um período de cerca de 26.000 anos. Inventou um dióptro especial que usou para medir com precisão as variações no diâmetro aparente do Sol e da Lua, e determinou as coordenadas celestes de cada uma delas, dividindo-as em seis magnitudes, de acordo com a luminosidade. Criou o primeiro astrolábio destinado a medir a distância de qualquer astro em relação ao horizonte (150 a.C.). Criou o sistema de localização pelo cálculo de longitude e latitude e dividiu em zonas climáticas o mundo habitado então conhecido. Para a cartografia, criou um método de projeção estereográfica. FONTe: Adaptado de: <http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_2256.html>. Acesso em: 25 mar. 2011. 4 a asTroNoMia Na iDaDe MÉDia Cláudio Ptolomeu foi o primeiro grande astrônomo da era cristã (85 d.C. a 165 d.C.), confirmando definitivamente o modelo geocêntrico defendido por Aristóteles e por Hiparco de UNIDADE 1 TÓPICO 1 13 G e o G r a f i a f í s i c a 5 a asTroNoMia No reNasciMeNTo Na Idade Média, por imposição do catolicismo, as ciências ficaram adormecidas. As poucas contribuições científicas, artísticas, filosóficas, literárias etc. vinham da própria Igreja ou de pessoas ligadas a ela. entretanto, a partir de 1300 começou um movimento na europa, historicamente chamado de renascimento, em que pensadores, escritores, artistas, começaram a ressuscitar os conhecimentos da cultura greco-romana, que siginficava um retorno à valorização do homem e da natureza, oposto ao pensamento reinante imposto pela Igreja, que valorizava apenas o divino e o sobrenatural. Niceia. Sua principal obra literária, o Almagesto,consiste em 13 volumes sobre Astronomia, reúne boa parte dos conhecimentos sobre os astros desde os sumérios, babilônios, egípcios, e, principalmente, o legado deixado pelos gregos, cujos dados e equações desenvolvidas permitiram, a Ptolomeu e a todos os astrônomos que o sucederam até o surgimento dos astrônomos e físicos do renascimento, calcular com precisão os movimentos dos planetas, utilizando uma representação geomética do Sistema Solar em círculos e epicírculos. Não à toa, a Idade Média foi chamada de Idade das Trevas, da escuridão, devido ao domínio da Igreja Católica impondo o fanatismo, instaurando a inquisição e proibindo qualquer pesquisa científica. Os poucos que se atreviam a fazer qualquer tipo de pesquisa o faziam escondidos, com medo de serem tachados de bruxos ou bruxas e terem como destino certo as fogueiras da inquisição: muitas mentes brilhantes do passado foram queimadas vivas, ou mortas, antes de acenderem a fogueira, quando se “arrependiam” de seus supostos pecados. IMP OR TAN TE! � Caro/a acadêmico/a, pesquise na biblioteca do seu Polo, na internet etc., o que foi o Renascimento e a inquisição, para compreender melhor este importante período histórico da Europa, cujos acontecimentos tiveram consequências em toda a civilização ocidental refletindo-se até nossos dias. UNIDADE 1TÓPICO 114 G e o G r a f i a f í s i c a Nicolau Copérnico (1473-1543) defendia a teoria heliocêntrica, sendo o responsável por resgatar esta ideia e o primeiro a elaborar um modelo de mecânica celeste tendo o Sol no centro do sistema. entretanto, seus cálculos que explicavam a mecânica celeste do Sistema Solar foram corrigidos por astrônomos como Tycho Brahe (1446-1601), Johannes Keppler (1571-1630), que não apenas endoçaram a teoria heliocêntrica como apresentaram cálculos precisos sobre as órbitas planetárias. Copérnico forneceu uma explicação clara do porquê da ocorrência de solstícios e equinócios. esclareceu igualmente a causa das estações do ano, que tinham relação com a inclinação do eixo terrestre e o movimento de translação que a Terra faz ao redor do Sol. Apesar de considerar o Sol o centro do Sistema Solar, não acreditava que fosse o centro do Universo que, para Copérnico, era infinito; entretanto estaria muito próximo do centro. Ainda durante o renascimento, Giordano Bruno (1548-1600), teólogo, filósofo, frade dominicano, afirmava que o universo era infinito e que a Terra e os demais planetas giravam em torno do Sol. Giordano era um contestador, questionando inclusive a Santíssima Trindade e a virgindade de Maria, afirmações estas que o levaram a julgamento pelos tribunais da inquisição e condenação à fogueira, sendo queimado vivo sem nenhuma misericórdia. em oposição à teoria heliocêntrica, os partidários de Aristóteles e Cláudio Ptolomeu defendiam a teoria geocêntrica, que contava com o apoio da cúpula da Igreja, que não admitia que a Terra, criada por Deus, não estivesse localizada no centro do Universo. entretanto, todas estas ideias eram baseadas em cálculos matemáticos e conjecturas filosóficas. Ninguém jamais havia comprovado com os próprios olhos que a Terra se movimentava no espaço em torno do Sol, que a Lua possuía crateras, que Vênus tinha fases, que Saturno possuía anéis e que alguém já havia visto as quatro luas de Júpiter, uma vez que nada disso é visível a olho nu. este legado devemos a Galileu Galilei (1564-1642), que, em 1610, ao descobrir que era possível ampliar a visão humana utilizando um tubo e duas lentes, inventou a primeira luneta da História. Com esse invento juntou provas que comprovaram o heliocentrismo. Galileu, além de astrônomo, era físico. Desenvolveu estudos sobre os movimentos do pêndulo; o movimento uniformemente acelerado, descobriu ainda a Lei dos Corpos, que serviram de base para o desenvolvimento das três leis da mecânica celeste, desenvolvidas por Isaac Newton (1643-1727), que descobriu também a Lei da Gravitação Universal, consagrando definitivamente o modelo heliocêntrico. UNIDADE 1 TÓPICO 1 15 G e o G r a f i a f í s i c a A Leis de Newton, como ficaram conhecidas são as seguintes: i. Lei da inércia: todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele. ii. Lei do Princípio fundamental da Dinâmica: a mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida, e é produzida na direção de linha reta na qual aquela força é impressa. iii. Lei da ação e reação: a toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: ou as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em direções opostas. Desde o modelo da Mecânica Celeste desenvolvido por Nicolau Copérnico (1473- 1543) e aperfeiçoado por Tycho Brahe (1446-1601) e Johannes Keppler (1571-1630), era sabido que os planetas e a Lua cumpriam órbitas em torno de astros maiores; entretanto não conseguiram explicar que forças mantinham os corpos celestes presos em suas órbitas, sem que se tornassem astros errantes flutuando no espaço infinito. Coube a Isaac Newton (1643-1727) desvendar este mistério da natureza dos astros, ao descobrir a Lei da Gravitação Universal, afirmando que: dois objetos se atraem em função da sua massa e da distância existente entre eles. É a gravidade que mantém o Universo unido e que impede que a Terra perca sua atmosfera, que a Lua se afaste da Terra e estas do Sol. Na realidade devemos a formação do Universo, estrelas, galáxias e, por consequência, da Terra, à Lei da Gravidade. Sem gravidade as primeiras partículas de hidrogênio não teriam se atraído para formar as primeiras nebulosas e dar origem às estrelas. Da mesma forma que planetas ou satélites não teriam se formado. (SILVA, 2002). EST UDO S F UTU RO S! � Prezado/a acadêmico/a!!! Ainda nesta unidade estudaremos sobre a origem e formação do Universo e das estrelas. UNIDADE 1TÓPICO 116 G e o G r a f i a f í s i c a 6 as Bases Da MoDerNa asTroNoMia A partir de Galileu todo esforço dos astrônomos se concentrou em aperfeiçoar as lunetas de observação direta (Figura 5), feitas com lentes de aumento. entretanto, as lunetas mostraram-se limitadas para ampliação das imagens, levando à invenção do telescópio, em que a imagem é captada por um espelho, refletor, posicionado no fundo de um tubo (Figura 6) e refletida para um segundo espelho. Atualmente as imagens captadas pelo telescópio Hubble (Figura 7), posicionado em órbita da Terra, são transferidas para a tela de computadores. FIGUrA 5 – LUNeTA De GALILeU GALILeI FONTe: Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/national- geographic/edicao-112/fotos/telescopios-gigantes-480047. shtml?foto=3pe>. Acesso em: 27 mar. 2011 UNIDADE 1 TÓPICO 1 17 G e o G r a f i a f í s i c a FIGUrA 6 – TeLeSCÓPIO De USO PArTICULAr, UTILIZADO POr ASTrÔNOMOS AMADOreS FONTe: Disponível em: <http:/otelescopio.blogspot.com/2006_04_01_ archive.html>. Acesso em: 27 mar. 2011. FIGUrA 7 – TeLeSCÓPIO HUBBLe FONTe: Disponível em: <http://www.nasa.gov/>. Acesso em: 27 mar. 2011. Mesmo após a construção dos primeiros telescópios e da sua aplicação na Astronomia por Galileu, o Sistema Solar continuou a ser o único objeto de estudo dos astrônomos, como pode ser verificado pelas pesquisas e publicações de Copérnico, Kepler, Galileu e, mais tarde, Isaac Newton. entretanto, a partir do século XVIII, muitos astrônomos começaram a perceber e fazer UNIDADE 1TÓPICO 118 G e o G r a f i a f í s i c a registros da localização de astros difusos e de grande extensão,que chamaram de nebulosas, pois não era possível identificar estrelas em seu meio. No campo da Astronomia, o século XVIII foi marcado pelo trabalho de Charles Messier (1730-1818), um astrônomo caçador de cometas que passou a dedicar-se a localizar entre as constelações a presença de nebulosas, desenvolvendo um catálogo que ficou conhecido como Catálogo Messier, publicado em 1871. A potência dos telescópios não permitia identificar detalhes destas nebulosas, apenas formatos. Muitos aglomerados de estrelas distantes, que não podiam ser individualizados, foram genericamente classificados como nebulosas. entretanto, apesar do trabalho minucioso de Messier em catalogar as nebulosas e aglomerados estelares, nenhum astrônomo admitia que tais nebulosas estivessem fora da nossa galáxia. É atribuída a emmanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão influenciado por astrônomos de sua época, a ideia de que algumas nebulosas poderiam estar localizadas fora da Via Láctea, chegando a sugerir que seriam sistemas estelares ilhas, semelhantes à Via Láctea. A dificuldade para definir corretamente a localização das nebulosas estava na inexistência de um método para calcular as distâncias no Universo; portanto não era possível afirmar se as nebulosas faziam parte da Via Láctea ou situavam-se fora dela. A partir de 1900, com o desenvolvimento da fotografia e de seu uso para registrar as imagens captadas pelas lentes dos potentes telescópios, como o de Monte Wilson, com diâmetro de 2,5 m, estas dificuldades começaram a ser sanadas. em 1908 astrônomos já haviam catalogado mais de 14.000 nebulosas, porém não sabiam explicar sua verdadeira natureza. Na época, estas questões levaram a embates científicos, levando dois importantes astrônomos a travarem uma discussão sobre a natureza das nebulosas e sua localização. De um lado Herber Doust Curtis (1872-1942), do observatório Lick (eUA), defendendo a ideia de que as nebulosas em formato de espirais constituíam corpos fora da nossa galáxia, formando universos ilhas e, de outro, Harlow Shapley (1885-1972), do observatório Monte Wilson (eUA), afirmava que estas nebulosas eram objetos localizados dentro da Via Láctea. em 1920 estes dois astrônomos se enfrentaram num debate na Academia Nacional de Ciências dos eUA. entretanto, o embate não foi resolvido. esta polêmica científica foi esclarecida apenas pelo astrônomo que deu nome ao telescópio espacial Hubble, ou seja, edwin Powell Hubble (1889-1953). (NIGeL; HeATHer, 2009). UNIDADE 1 TÓPICO 1 19 G e o G r a f i a f í s i c a ATEN ÇÃO! Caro/a acadêmico/a! Você pode se perguntar: – Com tantos astrônomos importantes que existiram desde o Renascimento até a construção do Telescópio espacial, por que a Nasa teria escolhido Edwin Hubble para homenagear, no momento de dar um passo importante na descoberta do cosmos? A resposta para esta pergunta você descobrirá em seguida. 7 as DescoBerTas QUe LeVaraM À Teoria Do BIG BANG edwin Hubble revolucionou a Astronomia e a visão do Universo, surpreendendo inclusive o gênio da física, Albert einstein. Suas descobertas ocorreram a partir do estudo de um tipo especial de estrelas chamadas variáveis cefeídas. As cefeídas são estrelas que possuem alteração do brilho, ou seja, diminuindo e aumentando de forma alternada e constante. Hubble cronometrou o tempo entre os picos de brilho destas estrelas que, calculados com a velocidade da luz, fornecia a distância de que tais corpos celestes se encontram da Terra. entretanto, as estrelas cefeídas até então estudadas estavam localizadas dentro da Via Láctea. Porém, quando Hubble passou a estudar as cefeídas da conhecida nebulosa de Andrômeda, registrada pelo catálogo Messier como M31, teve uma grande surpresa. Ao calcular as distâncias que as cefeídas de Andrômeda estavam da Terra, ele chegou a um cálculo de 2,5 milhões de anos-luz, sendo que a Via Láctea possui em sua extensão maior um diâmetro de 100 mil anos-luz. esse dado provou que Andrômeda não era uma nebulosa localizada dentro da nossa Galáxia, mas tratava-se de uma galáxia semelhante à Via Láctea, distante 2,5 milhões de anos-luz. ATEN ÇÃO! O ano-luz é uma medida, utilizada pelos astrônomos para calcular as distâncias astronômicas, que corresponde ao tempo que a luz, que possui velocidade conhecida de 300 mil km/s, percorre durante um ano. Esse cálculo chega a mais de 9 trilhões de km. UNIDADE 1TÓPICO 120 G e o G r a f i a f í s i c a A constatação de que todas aquelas “nebulosas” tratavam-se, na realidade, de outras galáxias ampliou o tamanho do universo para muito além da imaginação humana e da capacidade dos telescópios disponíveis para ver ainda mais longe. entretanto, uma nova descoberta de edwin Hubble deixou a todos ainda mais perplexos, principalmente Albert einstein. Desde a descoberta de que o Universo é formado por milhões ou bilhões de galáxias, cada uma delas contendo em torno de 100 a 200 bilhões de estrelas ou sóis, passou a dominar a ideia de que o universo era infinito e eterno, não teve começo e muito provavelmente não teria fim. A convicção nesta ideia era tão forte que einstein, ao desenvolver a fórmula da relatividade: e = mc², percebeu que esta não se adequava a um universo estático e infinito, mas, sim, a um universo em expansão. Por esta razão o gênio da física desenvolveu uma fórmula complementar que acrescentou em sua fórmula principal. O estudo das estrelas variáveis cefeídas em diferentes galáxias, levou edwin Hubble a descobrir não apenas uma maneira de calcular as distâncias entre galáxias, mas de que elas estavam se distanciando umas das outras a uma grande velocidade, ou seja, o universo estava se expandindo. entretanto, esta descoberta levou os astrônomos a formular outras perguntas do tipo: estando o universo em expansão tudo teria partido de um ponto? O universo teve um começo, um nascimento? Como ocorreu o nascimento do universo? UNI Você pode se perguntar: – Como Hubble conseguiu provar que as galáxias se afastavam umas das outras? esta grande descoberta foi possível devido a um fato já conhecido na época. Quando um carro em movimento está se aproximando de nós, emite radiação de luz azulada; já quando se afasta, sua luminosidade tende para o vermelho. A cor do brilho de todas as galáxias observadas por Hubble possuía um desvio muito acentuado para o vermelho, o que significava que as galáxias estavam se afastando simultaneamente, o que dava a ideia de um Universo em crescimento. Astrônomos do mundo inteiro que acreditavam na ideia de um universo estático, infinito e eterno levaram um choque, pois todos os estudos até então consideravam a premissa da imutabilidade do Universo; entretanto, aquelas galáxias se afastando umas das outras lhes UNIDADE 1 TÓPICO 1 21 G e o G r a f i a f í s i c a tirou as bases em que apoiavam suas convicções científicas. Após esta descoberta, Albert einstein retirou a variável que havia acrescentado à sua fórmula para adaptá-la a um Universo estático, voltando a ser como foi concebida inicialmente, ou seja: e = mc². A ideia de que o Universo estava se expandindo foi proposta pela primeira vez em 1927 pelo padre católico, astrônomo e físico belga, George Lamaitre (1894-1966), afirmando que o Universo havia nascido de um átomo primordial, que, após uma grande explosão, começou a se expandir criando o espaço e o tempo. entretanto, uma teoria científica necessita ser comprovada com elementos físicos, químicos, matemáticos etc., aceitos pela comunidade científica internacional. em 1948 o astrofísico russo, naturalizado nos estados Unidos, chamado George Gamow (1904-1968),sugeriu que os níveis atuais de hidrogênio e hélio existentes no universo poderiam ser explicados por reações que ocorreram no início do universo, durante o Big Bang. Gamow, forte defensor dessa teoria, afirmava que havia uma radiação de fundo em forma de micro-ondas cósmicas, resultado do eco do Big Bang, chegando a fazer uma estimativa da intensidade desta radiação. A existência da radiação de fundo na forma de micro-ondas foi comprovada em 1955 por Arno Allan Penzias (nascido em Munique/Alemanha, em 26/04/1933) e robert Woodrow Wilson (nascido em Houston/eUA, em 10/01/1936), confirmando assim a teoria do Universo inflacionário, ou da forma como foi proposto e ficou popularmente. O uso do termo Big Bang foi utilizado pela primeira vez em 1949 pelo astrônomo britânico Fred Hoyle (1915-2001), durante um programa de rádio. (SILK, 1985). 8 as MoDerNas TecNoLoGias De oBserVaÇÃo Do UNiVerso Na atualidade há diferentes formas de se observar o Universo, sendo a mais comum e conhecida a observação direta através de telescópios que captam as ondas visíveis de luz. No entanto, a visão humana é limitada, não conseguindo enxergar outros comprimentos de ondas eletromagnéticas emitidas por corpos celestes como as ondas de rádio, micro-ondas, infravermelho, ultravioleta, raios x etc. (Figura 8). UNIDADE 1TÓPICO 122 G e o G r a f i a f í s i c a FIGUrA 8 – COMPrIMeNTO De ONDAS eLeTrOMAGNÉTICAS FONTe: Disponível em: <http://www.ocaduceu.com.br/web/?p=220>. Acesso em: 2 abr. 2011. O telescópio espacial Hubble (Figura 7) é o instrumento mais moderno e versátil da atualidade para observar o universo através da luz visível e infravermelha, uma vez que, colocado em órbita da Terra, transformou-se em satélite artificial. este enorme empreendimento permitiu à humanidade dar um grande salto na compreensão do Universo. ele foi lançado pela Agência espacial dos eUA – NASA, em 24 de abril de 1990, a bordo de um foguete que o colocou na órbita previamente planejada. O Prof. renato Las Casas escreve no site do observatório da UFMG os dados referentes a esta maravilha da Astronomia: A "potência" de um telescópio está na quantidade de luz que ele pode receber instantaneamente de um objeto. Quanto maior o diâmetro de um telescópio, maior a sua "potência". O Hubble é um telescópio refletor (seu elemento óptico principal é um espelho) com 2,4 metros de diâmetro. Se fosse um telescópio de solo ele seria considerado de porte médio. (Os 2 maiores telescópios do mundo estão no observatório de Mauna Kea no Havaí e têm 10 metros de diâmetro cada. existem 28 telescópios maiores que o Hubble, espalhados pelo mundo, em funcionamento.) Mais que um telescópio, o Hubble é um verdadeiro observatório espacial, contendo instrumentação necessária a vários tipos de observação. (Contém 3 câmeras, 1 detector astrométrico e 2 espectrógrafos). Além de fotografar os objetos e medir com grande precisão suas posições, o Hubble é capaz de "dissecar" em detalhes a luz que vem deles. O Hubble está em uma órbita baixa, a 600 km da superfície da Terra e gasta apenas 95 minutos para dar uma volta completa em torno de nosso planeta. A energia necessária para o seu funcionamento é coletada por 2 painéis solares de 2,4 x 12,1 metros cada. A sua massa é de 11.600 kg. (LAS CASAS, 1998). Qual a necessidade de colocar um telescópio orbitando a Terra se os telescópios construídos no alto de montanhas são mais potentes? O telescópio do monte Palomar, maior UNIDADE 1 TÓPICO 1 23 G e o G r a f i a f í s i c a do mundo, possui um espelho refletor de 9 (nove metros). A limitação da visibilidade dos telescópios terrestres está na atmosfera, que desvirtua as imagens do cosmos, perdendo a nitidez. Segundo informações da NASA, o espelho refletor do Hubble de apenas 2,4 metros de diâmetro é compensado pela ausência de atmosfera, permitindo a astrônomos e astrofísicos fotografar imagens de 10 bilhões de anos-luz distantes da Terra, o que significa fotografar as primeiras galáxias se formando. ATEN ÇÃO! Caro/a acadêmico/a!!! Muito provavelmente você deve se perguntar: – Como é possível ver o Universo e as primeiras galáxias se formando, olhando através do telescópio Hubble? Muito simples. O Hubble possui tecnologia para medir a distância que cada astro observado está da Terra, em anos-luz. Por exemplo, se uma galáxia está a 5 bilhões de anos-luz, significa que a luz emitida por ela levou 5 bilhões de anos-luz para chegar até nós, desta forma os astrônomos não estarão fotografando uma imagem recente da galáxia e sim de 5 bilhões de anos atrás. Portanto, observar uma galáxia distante 10 bilhões de anos é o mesmo que ver o Universo se formando. O Hubble possui tecnologia também para captar as ondas infravermelhas, ou ondas de calor de galáxias, estrelas e planetas, ou seja, esta tecnologia permite identificar corpos que não emitem luz, como planetas distantes e buracos negros. Outra forma de observar o universo é através dos radiotelescópios, cuja função é captar as ondas de rádio emitidas por estrelas e galáxias distantes, ecos do Big Bang e até uma possível comunicação com civilizações extraterrestres. É possível ao radiotelescópio detectar também fonte de radiação térmica de corpos que não emitem luz, bem como medir de forma indireta a temperatura de fontes distantes como as estrelas, utilizando as ondas de rádio do espectro eletromagnético. Há também um tipo de radiação detectável por radiotelescópios que é a chamada radiação síncrotron produzida por cargas elétricas, geralmente elétrons, acelerados por campos magnéticos presentes na Galáxia, manchas solares e magnetosferas planetárias. Dois dos maiores e mais modernos radiotelescópios são, na realidade, um conjunto de antenas que atuam conjuntamente, como se fossem uma só. Um está localizado no Novo UNIDADE 1TÓPICO 124 G e o G r a f i a f í s i c a México, conhecido como Very Large Array – VLA (Conjunto muito grande de Antenas) com 27 radiotelescópios, tem uma separação máxima de 36 km. O outro é o Very Longe Baseline Array, com 10 radiotelescópios espalhados entre o Havaí e Porto rico – atingindo máxima separação de 8.600 km, aproximadamente, o que corresponde a 3/4 do diâmetro da Terra. FIGUrA 9 – CONJUNTO De rADIOTeLeSCÓPIOS (VLA), NOVO MÉXICO/eUA FONTe: Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br>. Acesso em: 2 abr. 2011. A índia, um dos países emergentes chamados BrICs (Brasil; rússia; índia; China) tem desenvolvido com muita eficiência a tecnologia de radiotelescópios, construindo antenas mais leves e mais baratas com a mesma eficiência que as antenas norte-americanas. 9 raDioTeLescÓPio BrasiLeiro Segundo Fábio de Castro – Agência Fapesp: O radiotelescópio brasileiro é operado pelo Centro de radioastronomia e Astrofísica Mackenzie (Craam), da escola de engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em cooperação com o Instituto Nacional de Pes- quisas espaciais (Inpe), por meio de um convênio entre a Agência espacial Brasileira (AeB) e a NASA. Localizado no município de eusébio (Ce), o instrumento é o único do gênero no país e integra o rádio Observatório espacial do Nordeste (roen). A antena faz parte de uma rede internacional com mais 30 grandes radiotelescópios concentrados principalmente na europa, estados Unidos, Japão, rússia, Austrália e África do Sul. A rede, que conta com antenas semelhantes em diversos continentes, é res- UNIDADE 1 TÓPICO 1 25 G e o G r a f i a f í s i c a 10 Teorias soBre a oriGeM Do UNiVerso As modernas tecnologias são novas janelas que se abrem, permitindo à humanidade ver mais longe e compreender como se formou e qual o destino deste Universo do qual faz parte. Muitosse perguntam: por que países desenvolvidos e em desenvolvimento destinam vultosas quantias de dinheiro para colocar um telescópio em órbita da Terra, instalar enormes antenas parabólicas em um deserto, quando milhares ou milhões sofrem da falta dos recursos mais básicos de sobrevivência? A resposta está na necessidade do homem de procurar a sua origem, seja esta qual for para descobrir a verdadeira razão de ser de sua existência na Terra. esta pergunta persegue a humanidade desde que as primeiras tribos humanas evoluíram para um estado superior de consciência, quando passaram a sentir-se diferentes dos animais à sua volta e se perguntaram quem eram e o que estavam fazendo ali. Tudo que a inteligência dos primeiros humanos não compreendia, pela razão e pela lógica, era atribuído ao sobrenatural, aos deuses; assim surgiram as crenças e mitos, como foram os deuses do Olimpo a quem sempre se referiam os gregos para justificar raios, trovões, tempestades etc. Semelhantes aos gregos, muitas tribos do passado criaram seus sistemas de crenças para explicar a origem do mundo. Assim surgiram os diferentes e variados cultos religiosos espalhados pelo mundo, desde os africanos, passando pela índia, egito antigo, China, antigas civilizações das Américas, povos árabes, europeus – enfim, sem exceção, cada povo se apropriava de uma divindade a quem atribuía a criação do mundo. Na atualidade não é diferente. O mundo está dividido em religiões que se formaram nas crenças das primeiras tribos que surgiram sobre a Terra, cada uma defendendo a sua “verdade” sobre a origem de tudo quanto existe. Poderíamos apresentar estas diferentes teorias religiosas, como a budista, muçulmana, judaico-cristã, as hindus etc., entretanto, apesar de deixarmos claro nosso respeito a todas as manifestações religiosas, vamos tratar neste Caderno de estudos sobre a teoria científica e as descobertas da ciência para explicar a origem e formação do Universo. ponsável por serviços estratégicos como a calibração dos satélites GPS. FONTe: Disponível em: <http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia. php?artigo=radiotelescopio-brasileiro&id=010175110221>. Acesso em: 21 fev. 2011. UNIDADE 1TÓPICO 126 G e o G r a f i a f í s i c a No próximo tópico estudaremos sobre o Big Bang, a formação das primeiras estrelas e galáxias. Compreenderemos o que são e como se formaram os buracos negros e a mais recente descoberta da ciência: a matéria escura. Vamos juntos fazer esta viagem pelo Universo? UNIDADE 1 TÓPICO 1 27 G e o G r a f i a f í s i c a resUMo Do TÓPico 1 Nesta unidade você estudou que: Sítios como os de Callanish, na escócia (2000 a.C.), rochas alinhadas de Carnac (2000 a.C.), na Bretanha, França, e os círculos concêntricos de Stonehenge, na Inglaterra, que datam de 3100 a 2075 a.C., consistem em evidências de que povos pré-históricos diariamente já tentavam compreender a dinâmica dos astros pelo céu. Na realidade a astronomia surgiu como astrologia, hoje considerada uma pseudociência. Mas na antiguidade não havia distinção entre a obervação dos astros e o estudo de sua influência sobre a Terra e tudo que nela vive. Os sumérios foram o primeiro povo a dividir o céu em constelações, ligando com linhas imaginárias uma estrela a outra, desenhando figuras que tinham relação com suas crenças e cotidiano, com o propósito de memorizar com mais facilidade o pano de fundo por onde transitavam a Lua, o Sol e os planetas. Apesar de a Astronomia ter surgido entre os sumérios na forma de Astrologia, foram os babilônios que fizeram registros considerados científicos, baseados na matemática. Os conhecimentos acumulados por sumérios e babilônios foi repassado aos egípcios que, sem acrescentar muito, dedicaram-se mais ao estudo dos movimentos do Sol e da Lua, e os repassaram aos gregos. A Grécia antiga deu um enorme avanço à Astronomia através das contribuições de Pitágoras, Aristarco de Samos, Aristóteles, eratóstenes, Hiparco de Niceia entre outros, mas foi de eratóstenes a maior façanha da Antiguidade: não apenas afirmava que a Terra era redonda, como conseguiu calcular sua circunferência, chegando muito próximo da realidade, medida atualmente com satélites artificiais de alta precisão. Hiparco de Niceia (190-126 a.C.) foi o homem responsável por separar a Astronomia da Astrologia. A partir de Hiparco a Astronomia passou a ser considerada na História como ciência pura. Cláudio Ptolomeu foi o primeiro grande astrônomo da era cristã (85 d.C. a 165 d.C.), confirmando definitivamente o modelo geocêntrico defendido por Aristóteles e por Hiparco de Niceia. Sua principal obra literária, o Almagesto, consiste de 13 volumes sobre Astronomia, e UNIDADE 1TÓPICO 128 G e o G r a f i a f í s i c a reúne boa parte dos conhecimentos sobre os astros desde os sumérios, babilônios, egípcios, mas, principalmente, o legado deixado pelos gregos, cujos dados e equações desenvolvidas permitiram a Ptolomeu e a todos os astrônomos que o sucederam, até o surgimento dos astrônomos e físicos do renascimento, calcular com precisão os movimentos dos planetas, utilizando uma representação geomética do Sistema Solar em círculos e epicírculos. Nicolau Copérnico (1473-1543) defendia a teoria heliocêntrica. entretanto, seus cálculos que explicavam a mecânica celeste do Sistema Solar foram corrigidos por astrônomos como Tycho Brahe (1446-1601) e Johannes Keppler (1571-1630), que não apenas endossaram a teoria heliocêntrica como apresentaram cálculos precisos sobre as órbitas planetárias. Apesar de Copérnico considerar o Sol o centro do Sistema Solar, não acreditava que fosse o centro do Universo, pois, para ele, era infinito. entretanto, estaria muito próximo do centro. em 1610 Galileu Galilei, ao inventar a luneta, coloca o Sol no seu devido lugar, o centro do sistema, descobrindo as fases de Vênus, as luas de Júpiter etc., abrindo uma nova era de descobertas da humanidade sobre o cosmos. Desde o modelo da Mecânica Celeste desenvolvido por Nicolau Copérnico (1473-1543) e aperfeiçoado por Tycho Brahe (1446-1601) e Johannes Keppler (1571-1630), sabia-se que os planetas e a Lua cumpriam órbitas em torno de astros maiores; entretanto, não conseguiram explicar que forças mantinham os corpos celestes presos em suas órbitas, sem que se tornassem astros errantes flutuando no espaço infinito. Coube a Isaac Newton (1643-1727) desvendar este mistério da natureza dos astros, ao descobrir a Lei da Gravitação Universal, afirmando que: dois objetos se atraem em função de sua massa e da distância existente entre eles. É a gravidade que mantém o Universo unido, que impede que a Terra perca sua atmosfera, que a Lua se afaste da Terra e estas do Sol. No campo da Astronomia o século XVIII foi marcado pelo trabalho de Charles Messier (1730- 1818), um astrônomo caçador de cometas que passou a se dedicar em localizar, entre as constelações, a presença de nebulosas, desenvolvendo um catálogo que ficou conhecido como Catálogo Messier, publicado em 1871. Desde as descobertas das nebulosas por Charles Messier, passou a existir um debate entre astrônomos, sobre sua localização e constituição. De um lado, pesquisadores que consideravam as nebulosas apenas nuvens de gases, localizadas dentro da Via Láctea, e do outro lado, aqueles que defendiam a ideia de que estas nebulosas eram universos estelares ilhas, semelhantes à Via Láctea. UNIDADE 1 TÓPICO 1 29 G e o G r a f i a f í s i c a edwin Hubble desvendou este mistério descobrindo um meio de calcular as distâncias astronômicas, utilizando como referência
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