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TEORIA GERAL DO DIREITO KAREM

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TEORIA GERAL DO DIREITO
Profª Ms Karen Myrna Castro Mendes Teixeira
Belo Horizonte/2015
HERMENÊUTICA JURÍDICA
“Ciência que tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito.”
(Carlos Maximiliano)
INTERPRETAÇÃO
Três elementos integram o conceito de interpretação:
 fixação do sentido: finalidade
 e alcance: extensão
 da norma jurídica: gênero, além das leis.
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO
Tem-se que nem sempre utiliza-se a interpretação para designar o significado e o alcance de uma norma, mas, também, na investigação de um princípio a ser aplicado diante de uma ausência de regra.
LACUNAS NO DIREITO	
Significam ausência de regra que regule determinada situação.
 Podem haver lacunas na lei, mas não no ordenamento jurídico. 
 Na interpretação verifica-se uma norma pré-existente; na integração busca-se uma norma especial para o caso concreto.
Integração X lacunas:
 Analogia: aplica-se a norma que rege outro caso semelhante
 Costumes: prática reiterada 
Princípios Gerais do Direito: universais, absolutos e eternos, correspondentes aos princípios de Direito Natural
Integração X antinomias
Critérios de solução de antinomias:
 Hieráquico: “lex superiori derrogat lex inferior”
Cronológico: “lex posteriori derrogat lex anterior”
Da especialidade: “lex especiali derrogat lex generali”
MÉTODOS DE INTEGRAÇÃO
Legalista: utilização de processos indutivos e dedutivos sempre com apoio em textos legais.
 Sociológico: o jurista deve criar a norma aplicável decorrente da natureza das coisas.
ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO
1. Quanto à origem:
 Judiciária ou usual: jurisprudência
Legal ou autêntica: legislador
Administrativa: órgãos Adm. Pública
Doutrinária ou científica: juristas
2. Quanto ao método:
 Gramatical ou filológica: significado das palavras e sua função gramatical
 Lógico-sistemática: leva em conta o sistema em que se insere o texto
 Histórica: investiga os antecedentes da norma
 Sociológica: baseia-se na adaptação do sentido da lei à realidade social
3. Quanto a seus efeitos
Declarativa: se limita a declarar o pensamento expresso na lei
Extensiva: amplia o alcance da norma, vai além de seus termos
Restritiva: nesse caso o legislador escreveu além do que realmente pretendia, cabendo ao intérprete restringir o alcance da norma
SISTEMAS OU ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO
1. Sistemas ou Escolas Tradicionais:
Escola dos Glosadores medievais e comentaristas: método gramatical
Escola da Exegese: examina os trabalhos preparatórios da lei
Escola racionalista ou legalista: todo o direito está contido na lei
Escola dos Glosadores Medievais
É identificada no final do Século XI, na Itália, a partir do descobrimento do Digesto.
► Um monge e professor de gramática da Universidade de Bolonha conhecido Irnério, com o auxílio de seus discípulos, foi o responsável pelos estudos do Digesto. E em decorrência desse fato surgiu um movimento que deu origem a chamada Escola dos Glosadores.
► Quanto ao nome de glosadores, o mesmo vem do método de ensino utilizado, vez que o professor, após uma leitura dos textos em questão, interpretava-os por meio de uma frase que era chamada glosa. Muitas vezes, o professor fazia também um resumo, chamado summa.
► A escola dos glosadores foi fundada em 1088, em Bolonha, perdurando até, aproximadamente, 1250.
► Os glosadores examinavam o texto legal sob o ponto de vista gramatical, analisando as palavras e as frases de forma isolada do seu contexto e indiferente as modificações históricas.
Escola dos Comentaristas
A Escola dos Comentaristas teve início na Itália, com Cino da Pistoia, acompanhado por seu discípulo Bartolo de Sassoferato, que seria mais tarde seu maior representante, e por Baldo Ubaldi discípulo deste último. Seus seguidores manifestavam profundo respeito pelo direito romano, entretanto, em seus estudos não partiram da análise das leis de Justiniano, mas do exame dos casos práticos.
► Sem abandonar o tradicional método casuístico da jurisprudência, os comentadores procederam a uma nova ordenação da matéria jurídica, criando, na prática, uma nova Ciência Jurídica, que foi formada pela communis opinion, constituída pelas opiniões comuns dos doutores da época.
► As communis opinion foram adotadas como argumento de autoridade e fonte de criação ou de interpretação do Direito, graças ao trabalho realizado por Baldo, um dos discípulos de Bartolo, tornando-se desde então, a praxe dos tribunais.
► No tocante a administração da justiça e ao estabelecimento dos direitos sobre as coisas, foi incluída a sentença.
► Sentença ou iudicium, como era denominada. Ademais, já se podia vislumbrar os traços de seus principais contornos atuais, como a ideia de que a sentença esgotava a atividade do juiz e que ela não poderia ser dada contra a natureza das coisas, nem contra as leis escritas e os bons costumes, pois a ausência de um desses requisitos implicaria em inexistência, não produzindo nenhum efeito. Também se encontrava alicerçada a ideia de certeza, precisão e delimitação do pedido, bem como, os critérios para recurso e a distinção entre sentenças definitivas e interlocutórias.
Escola da Exegese
Teve sua formação na França, no século XIX – transição do Estado Absolutista para o Estado Liberal.
Predomínio Codicista – direito fundado em princípios gerais, válido para qualquer tempo e qualquer espaço, devendo tais princípios serem deduzidos da ração humana e não teologia.
O intérprete, segundo os ensinamentos da escola, devia aplicar, precisa e mecanicamente, a regra desejada pelo legislador. Afinal, o Direito para a Escola da Exegese era o Código.
Entendia que o Direito não tinha sua organização ligada ao social, nem ao econômico ou político.
Os seguidores da escola ensinavam que o intérprete tinha como função, simplesmente, o estudo das disposições legais segundo os institutos do Direito Romano, o qual tinha um apego excessivo ao estilo (cheio de regras e brocardos).
O Código não tinha lacunas
Exemplo: Código de Napoleão
Estado como único produtor do Direito
JUSNATURALISMO: uma norma só é válida quando é justa.
POSITIVISMO: uma norma só é justa quando válida (emanada pelo Estado)
TEORIA CONTRATUALISTA: não existe o justo por natureza, somente por convenção.
ESTADO DE NATUREZA: o principal direito do homem é decidir o que é justo ou injusto, segundo seus interesses e desejos.
ESTADO CIVIL: não existe nenhum outro critério para decidir sobre a justiça, que não a vontade do soberano (direito positivo).
► Declínio da Escola da Exegese: Começou no final do Século XIX quando a interpretação dos Tribunais passou a ter um grande relevo.
► Importância da Escola da Exegese: influência da Codificação
Escola do Direito Natural
Jusnaturalismo
Nos séculos XVII e XVIII teve início a Escola do Direito Natural, a qual teve sua grande inspiração no holandês Huig Van Der Groot (1583-1645), cujo nome foi alatinado para Hugo Grotius.
Opondo-se às doutrinas teológicas do feudalismo, Grotius afirmava que o fundamento do Direito reside na própria natureza humana.
Para além da legislação positiva há um Direito ideal, formado por princípios imutáveis e verdadeiros em qualquer lugar, e que o homem descobre graças à sua razão. O objetivo do legislador deve ser adaptar sua lei à lei eterna, como faz o operário que reproduz no mármore o original do artista.
A Escola do Direito Natural, também chamada Escola Clássica do Direito Natural, exerceu notável influência nas grandes codificações do início do séc. XIX, bastando lembrar que o Código Civil Francês de 1804, também chamado Código de Napoleão, por ter sido encomendado pelo próprio Napoleão Bonaparte, afirma, em sua introdução: "Existe um direito universal, imutável, fonte de todas as leis positivas, e que não é mais do que a razão natural enquanto diretora de todos os povos da terra".
Princípios de direito natural
Segundo a Escola do Jusnaturalismo, fundada pelo jurista Hugo Grócio, a norma (Direito)
deve ser interpretada segundo os seguintes princípios:
 
Princípio do Direito à Vida
Princípio do Direito à Liberdade
Princípio do Direito à Participação na Vida Social
Princípio do Direito da União entre os Seres (para criação da prole)
Princípio do Direito da Igualdade
Princípio do Direito de Oportunidade
Jusnaturalismo e Interpretação do Direito
Para os seguidores da Escola do Jusnaturalismo, a interpretação do direito deve levar em consideração as características tradicionais do Direito Natural:
1) que o Direito Natural é eterno (válido para todas as épocas)
2) que o Direito Natural é imutável (não se modifica - natureza humana)
3) que o Direito Natural é universal (porque é comum a todos)
► Declínio da Escola do Direito Natural: a partir da ascensão da Escola Histórica do Direito, para a qual este não é um produto da razão pura, nem uma criação arbitrária do legislador (a lei deve ser ditada pela natureza das coisas, hidrografia, inclinações dos indivíduos, comércio etc.). Na medida em que as condições da vida social vão se alterando, o Direito deve se adaptar às novas situações.
Outras características do jusnaturalismo
A Escola do Jusnaturalismo defende o Estado de Natureza como mecanismo de explicar a sociedade.
► Foi a partir das idéias defendidas pela Escola do Jusnaturalismo que um dos seus seguidores, Rousseau, idealizou o contrato social.
► Idealização dos Direitos Naturais Inatos
► A Escola do Jusnaturalismo utiliza o método racionalista.
► A Escola do Jusnaturalismo é anti-histórica nas exigências.
► A Escola do Jusnaturalismo é de um elevado conteúdo humanitário.
Lembrete:
a idéia do Direito Natural diverge dentro do pensamento jurídico de acordo com os estudos sobre a sua origem e fundamentação. Por essa razão, existem duas correntes:
 
Corrente do Estoicismo Helênico: escola filosófica fundada por Zenon de Cítio, que defende a tese da origem e fundamentação do Direito Natural a partir da natureza cósmica.
Corrente do Pensamento Teológico Medieval: defende a idéia da origem e fundamento do Direito Natural a partir da vontade divina.
► No estudo da origem e fundamentação do Direito Natural, se constata a existência de doutrinas que buscam explicação para a aludida questão, tanto na razão quanto na natureza humana, sendo que a defesa desta última é a predominante.
► A idéia da existência de um Direito Universal, revelado ao homem pela razão, imbuído de um sentimento natural do justo e do injusto, eticamente superior ao direito positivo, já vem de Sócrates (470-399 a.C.) e de Aristóteles (384-322 a.C.).
► Do ponto de vista da natureza humana, a origem e o fundamento do Direito Natural estaria no princípio de que todo ser é constituído de uma natureza e de um fim, sendo que o primeiro elemento (natureza – propriedades que compõem o ser) é quem define o segundo elemento (fim), a ser realizado.
► Nas Institutas de Justiniano se verifica três espécies de Direito:
 
O direito natural, que a natureza ensinou a todos os animais (quo natura omnia animalia docuit), como a procriação, o casamento e a educação dos infantes.
 
O direito das gentes (ius gentius), que é o Direito estabelecido pela razão natural entre todos os homens, vale dizer, todos os povos.
 
O direito civil (ius civile), direito peculiar a cada povo.
2. Sistemas ou Escolas Modernas:
 Evolução Histórica de Salleiles
 Livre Investigação de Geny
 Direito Livre de Kantorowicz
 Novas correntes da lógica do concreto e da investigação semiológica ou linguística
Escola da Evolução Histórica de Saleilles
Também chamado sistema histórico-evolutivo ou escola atualizadora do direito.
 
- A lei deve ser considerada como dotada de vida própria, de modo que corresponda não apenas às necessidades que lhe deram origem, mas também as suas transformações surgidas através da evolução histórica.
 
- Diante da lei o intérprete deve observar não só o que o legislador “quis”, mas também o que ele “quereria”, se vivesse no mundo atual.
 
- Deve adaptar a velha lei aos tempos novos e não abandoná-la. Dar “vida” aos Códigos.
 
A jurisprudência francesa usou largamente esse método – Código de Napoleão – interpretando seus textos à luz de novas teorias, decorrentes das grandes transformações sociais (teoria da responsabilidade civil, a revisão judicial dos contratos, a teoria do abuso dos direitos).
Escola da Livre Investigação de Geny
Não se contentava com interpretar amplamente os textos, ia muito além, criava novo direito. Na França tinha-se o Direito Livre, na Suiça, Áustria e Alemanha o Direito Justo ou Livre Pesquisa do Direito.
 
Para Geny a lei é a fonte mais importante do direito, mas não é a única. Diante de uma lacuna na legislação, o intérprete deve recorrer a outras fontes, e não violentar a lei para forçá-la a dizer o que ela não pôde prever como pretende a doutrina da evolução histórica.
 
Fontes: costume, doutrina e jurisprudência. Se insuficiente cabe ao intérprete criar a norma aplicável usando o método da livre investigação científica (critérios objetivos) procurando uma norma que corresponda à natureza das coisas.
 
Autoriza, assim, o juiz agir praeter legem e não apenas secundum legem.
Crítica: ditadura do judiciário - Montesquieu
Escola do Direito Livre de Kantorowicz
O sistema da Livre Investigação de Geny autoriza o juiz a agir além dos termos da lei, já o sistema do Direito Livre autoriza o juiz a decidir até mesmo contra disposição de lei – contra legem, na procura do direito justo.
 
- Procura o direito justo.
- Inspira-se na realidade social e guia-se no sentimento e consciência jurídica.
 
Crítica: substituir a lei (vontade geral) pelo critério do Juiz (individual) – retrocesso no desenvolvimento do direito – a lei, apesar de suas limitações, é garantia da segurança de todos.
 
Benefícios: a teoria trouxe a denúncia dos erros de uma interpretação rígida e dogmática e chama a atenção para a necessidade de uma consideração atenta da justiça e da realidade social na aplicação do direito.
Novas correntes
Essas correntes se opõem às doutrinas do pensamento sistemático que representam o dogmatismo jurídico.
 
Na mesma linha do pensamento de Geny e seus seguidores, essas correntes ao interpretar as normas de decisões jurídicas, procuram investigar as circunstâncias e problemáticas de cada caso, dando especial ênfase à linguagem e à situação comunicativa.
 
Suas denominações:
 
- lógica do concreto, da controvérsia, do provável – PERELMAN
- lógica do razoável – RECASÉNS SICHES
- Tópica – grego topos, lugar, situação – VIEHWEG
- Zetética – do zetein, que significa investigar e se opõe ao dogma absoluto das correntes dogmáticas, nova retórica, análise semiológica, lingüística, pragmática – OLIVERCRONA, ROSS, CARRIÓ e, no Brasil TÉRCIO SAMPAIO, WARAT, FERNANDO COELHO, dentre outros.
 
Teorias 
A corrente tradicional tem sua matriz teoria alocada no positivismo jurídico, em sua subcorrente dogmática formal-legalista, em que se tem o parâmetro de Direito exatamente igual à regra. Nesse sentido a hermenêutica é a mera adaptação do fato à norma.
 
A Teoria Crítica é pertencente à corrente doutrinária do pós-positivismo jurídico, como também do neo-constitucionalismo. Tem-se que o pós-positivismo jurídico não rompe com inteiramente com o positivismo vez que resgata o elemento do Direito Estatal deste, ensejando a positivação dos valores.
 
Corrente Tradicional: mens legislatoria – persegue a vontade, a intenção do legislador. É tido como um sistema lógico-dedutível, auto-suficiente e auto-referente, sendo a hermenêutica uma atividade técnico-operacional. O justo é colhido da ordem político-jurídica posta. A atividade interpretativa é reduzida à reprodução da ordem posta. Kelsen: Teoria Científica do Direito Positivo (Direito como regra). 
 
Corrente Crítica: mens legis - persegue a vontade da lei. Tem-se que no momento em que a lei é promulgada, ou seja, quando passa a se revestir de validade,
vigência e eficácia, passa a ter também vida própria. Desta forma a lei é considerada autônoma, desprendida do legislador. (Neo-constitucionalismo: institui a ordem democrática e alicerça, no texto constitucional, os princípios fundantes do Direito.
 
APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS NO TEMPO E NO ESPAÇO
Limites de aplicação:
 tempo: vigência até a revogação
 espaço: nacional, internacional, local
 matéria: os diversos ramos do Direito
 pessoas: gerais, especiais e individuais
 Hans-Georg Gadamer
Filósofo alemão considerado um dos maiores expoentes da hermenêutica filosófica.
OBRA: VERDADE E MÉTODO (1960)
 A hermenêutica gadameriana
 a hermenêutica não é um simples método, mas um modo de compreender as ciências por meio da interpretação dentro da tradição.
 a interpretação é a forma explícita da compreensão e ambas partem de uma estrutura prévia caracterizada adstrita à circunvisão do intérprete.
 a compreensão opera no interior de um conjunto relacional que se manifesta na forma de transmissão da tradição por meio da linguagem.
 a interpretação começa sempre com conceitos prévios, pois os pré-juízos do intérprete são constituidores de sua realidade histórica e intransponíveis.
 Friedrich Müller
Jurista alemão que leciona Direito Constitucional.
Desenvolve pesquisas em teoria e linguagem do Direito.
Pós- positivismo: a superação dialética da antítese entre jusnaturalismo e positivismo
 Normas são gênero do qual são espécies princípios e regras.
 Princípios e regras se diferenciam na natureza lógica, na dimensão axiológica e em seu grau de generalidade.
Princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida do possível, dentro das possibilidades jurídicas reais e existentes (Robert Alexy).
 Teoria Estruturante de Müller: assentada nos pilares da dogmática jurídica, metódica jurídica, teoria da norma jurídica e teoria da Constituição. Estrutura da norma e do texto normativo.
Concentra-se na resolução de problemas práticos, para isso, a compreensão da estrutura normativa é fundamental.
 NORBERTO BOBBIO
Intelectual italiano, no mundo, conhecido por seus trabalhos em Filosofia do Direito e Filosofia Política. (Turim, 18/10/1909-09/01/2004).
 Foi um filósofo político, historiador do pensamento político e senador vitalício italiano.
Adquiriu notoriedade por sua ampla capacidade de produzir escritos concisos, lógicos e, ainda assim, densos.
 
BOBBIO, Norberto. Teoria da Norma Jurídica. Trad. Fernando Baptista Pavan e Ariane Bueno Sudatti. Apresentação Alaôr Caffé Alves. Bauru: Edipro, 2001.
Capítulo 1
 
No primeiro capítulo tem-se “Direito como regra de conduta”, em que o autor faz um panorama e uma crítica das diversas teorias que pretendem entender o conceito de Direito, concluindo que, embora as teorias se integrem, a teoria normativista prevalece no sentido de constituir pressuposto de validade para as outras.
Capítulo 2
 
Neste capítulo o autor aborda as três formas de valoração da norma jurídica, indicando três critérios distintos para investigação do objeto que, conforme a perspectiva que se adote, apontam caminhos de análise diferentes, quais sejam:
 
Se a norma é vista pelo aspecto do justo, identificando o valor e o fim, o estudo é próprio da Teoria da Justiça.
Se o aspecto que prevalece é o da validade, a análise fica a cargo da Teoria Geral do Direito.
Se a eficácia da norma é a principal preocupação da investigação, o campo de atuação é o da Sociologia Jurídica.
Capítulos 3 e 4
 
Os capítulos 3 e 4 versam sobre a estrutura da norma jurídica, buscando o autor, nos fundamentos da linguística, os instrumentos para entender a norma como proposição prescritiva, que em sua função normativa deve ser entendida como fazer-fazer.
Capítulo 5
 
A preocupação do autor permeia na distinção das normas jurídicas das normas sociais e morais. Para tanto, elege como critério de distinção entre as normas “a resposta à violação” destas, ou seja, a diferença entre as normas está na sanção que receberá o indivíduo que violou a prescrição.
 
 
“É de natureza de toda prescrição ser violada, enquanto exprime não o que é, mas o que deve ser”. (p. 152).
 
Assim, se a possibilidade de transgressão da prescrição é esperada, faz-se necessária a criação de um mecanismo que elimine ou minimize as consequências danosas da violação. Esse mecanismo é a sanção, e a diferença entre as normas está na natureza dela.
Sanção moral: caracterizada pelo remorso, arrependimento, possui pouca eficácia, porque apenas os sujeitos que respeitam a norma moral podem sentir qualquer insatisfação ao desrespeitá-la.
Sanção social: caracterizada como externa, vez que quem a aplica é o grupo social e pode ser, de acordo com a gravidade, reprovação, eliminação, isolamento, expulsão ou até linchamento – carece de falta de proporção entre violação e resposta (a cargo da circunstância ou humor social) bem como não sendo institucionalizada sofre de incerteza e inconstância (pode ser aplicada só para determinados indivíduos – hipocrisia).
Sanção jurídica: caracterizada como externa e institucionalizada, distinguindo-se das demais. Regulamentada, tanto na sua medida quanto em sua forma de aplicação, e está a cargo de órgãos institucionalizados da sociedade.
Para a distinção de normas jurídicas das normas morais e sociais Bobbio esclarece uma questão importante para o Direito: é o ordenamento (conjunto de normas) que impõe a qualidade da norma; assim, a norma será jurídica se pertencer ao ordenamento jurídico tendo em vista que é este que determina a sanção.
 
VERIFICADA A VIOLAÇÃO = ORDENAMENTO INDICARÁ A SANÇÃO APLICÁVEL => TANTO MAIS FORÇA TERÁ QUANTO MAIOR FOR A SUA EFICÁCIA.
Capítulo 6 
O autor classifica as normas jurídicas (e surpreende pela simplicidade de sua classificação), elegendo como critério a estrutura lógica das proposições prescritivas, ou seja, a indicação do destinatário da prescrição e a ação prescritiva.
 
Quanto ao destinatário: geral ou individual
geral: se dirigidas a uma classe de pessoas, a vários destinatários
individual: se restringirem seu destinatário (sentenças)
Quanto à ação prescrita: abstrata ou concreta
abstrata: se universais a respeito de seu comportamento
concretas: se regularem uma ação particular
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10. ed. (tradução de Maria Celeste C. J. Santos). Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997.
 
Objeto do estudo: Bobbio estuda o conjunto de normas que constituem o ordenamento jurídico. 
Ordenamento: Para este autor as normas jurídicas nunca existem isoladamente, mas sempre em um contexto de normas com relações particulares entre si e a este contexto de normas é o que costumamos chamar de ordenamento.
Entende que por mais numerosas que sejam as fontes do direito num ordenamento complexo, tal ordenamento constitui uma unidade pelo fato de que, direta ou indiretamente, com voltas mais ou menos tortuosas, todas as fontes do direito podem ser remontadas a uma única norma.
Definição do Direito: 
Não coincide com a de justiça. A norma fundamental está na base do Direito como ele é (o Direito Positivo), não do Direito como deveria ser (o Direito Justo). Já o conceito de negócio jurídico é manifestamente o resultado de um esforço construtivo e sistemático no sentido do sistema empírico que ordena generalizando e classificando.
Antinomias: Considera que a situação de normas incompatíveis entre si é uma dificuldade tradicional frente à qual se encontram os juristas de todos os tempos. 
Lacunas: Posteriormente, trata também das questões relativas às lacunas, dizendo que esta existe quando há a falta de uma norma. Par ele, um ordenamento é completo quando o juiz pode encontrar nele uma norma para regular qualquer caso que se lhe apresente. 
Completude do Ordenamento Jurídico: Afirma que um ordenamento é completo quando jamais se verifica o caso de que a ele não
se podem demonstrar pertencentes nem certa norma nem a norma contraditória. Acrescenta que nos tempos modernos o dogma da completude tornou-se parte integrante da concepção estatal do Direito, isto é, daquela concepção que faz da produção jurídica um monopólio do Estado.
“Reflexo” da norma: 
Uma norma que regula um comportamento não só limita a regulamentação e, portanto, as consequências jurídicas que desta regulamentação derivam para aquele comportamento, mas ao mesmo tempo excluem daquela regulamentação todos os outros comportamentos. 
Assim, diz que as normas nunca nascem sozinhas, mas aos pares: cada norma particular, que poderemos chamar de inclusiva, está acompanhada, como se fosse por sua própria sombra, pela norma geral exclusiva.
Entre a norma particular inclusiva e a geral exclusiva introduz-se normalmente a norma geral inclusiva, que estabelece uma zona intermediária entre o regulamentado e o não-regulamentado, em direção à qual tende a penetrar o ordenamento jurídico, de forma quase sempre indeterminada e indeterminável. 
Entende que cada ordenamento prevê os meios e os remédios aptos a penetrar nesta zona intermediária, a estender a esfera do regulamentado em confronto com a do não-regulamentado. 
Analogia: Já por “analogia“ entende o procedimento pelo qual se atribui a um caso não-regulamentado a mesma disciplina que a um caso regulamentado semelhante.
 Miguel Reale
Filósofo e jurista brasileiro.
Desenvolveu a teoria tridimensional do Direito.
Obras: Lições Preliminares do Direito e Teoria Tridimensional do Direito.
O CULTURALISMO REALEANO
Convergente ao estudo realeano, o culturalismo de Gustav Radbruch que incutiu no debate neokantiano a proeminência dos valores nas questões pertinentes ao Direito. Traçou as bases da tricotomia hoje conhecida (fato, valor e norma) ao conceber o Direito como fato cultural “relativo a valor”. Daí a tridimensionalidade genérica e abstrata do Direito. 
A definição do Direito só pode ser obra da Filosofia do Direito. 
A nenhuma Ciência Jurídica particular é dado definir o Direito, pois é evidente que a espécie não pode abranger o gênero. Não se equivoquem pelo fato de encontrarem uma definição de Direito no início de um tratado, ou compêndio de Direito Civil. Antes de entrar propriamente no estudo de sua disciplina, o civilista é obrigado a dar algumas noções que são os pressupostos de sua pesquisa, como é o caso do conceito do Direito, que é um problema de ordem filosófica, representando mesmo uma das tarefas primordiais de caráter lógico que cabe ao filósofo do Direito resolver (REALE, 2014, p.15).
A partir da máxima “ubi societas, ibi jus” (onde está a sociedade, está o direito) conclui-se que o Direito é um fato ou fenômeno social, asserção esta exposta por Miguel Reale (2014, p. 02): “O Direito é, por conseguinte, um fato ou fenômeno social, não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora dela. Desta forma, uma das características da realidade jurídica é, como se vê, a sua socialidade, a sua qualidade de ser social”.
Gustav Radbruch (1974, p.32) aduz que Direito se resume em regras gerais e positivas sobre a vida social e, entende que o Direito é um fenômeno cultural, o qual é relativo a valor. Extrai-se, portanto, uma relação genérica entre os conceitos cultura e valor. 
Nas palavras de Gustav Radbruch (1974, P. 32): 
“O Direito é fenômeno cultural e o conceito de Direito é um conceito cultural. Ora, conceitos culturais não são axiológicos nem puramente ontológicos. São “relativos a valor”. 
Em uma sociedade percebe-se a existência de homens e coisas, cuja coexistência resulta em relações que, segundo a ótica realeana, podem ocorrer em razão de pessoas ou em função de coisas.
a realidade natural: leis que explicam o mundo físico, ou seja o mundo do “dado”.
a realidade cultural, humana ou histórica: leis morais e jurídicas, que são as mais importantes dentre as que compreendem o mundo da cultura e da conduta humana, do “construído.
 
“As relações que unem, entre si, os elementos de um fenômeno natural desenvolvem-se segundo o princípio da causalidade ou exprimem meras referências funcionais, cegas para os valores. As relações que se estabelecem entre os homens, ao contrário, envolvem juízos de valor, implicando uma adequação de meios a fins. 
Recapitulando, podemos dizer que, ao contrário das leis físico-matemáticas, as leis culturais caracterizam-se por sua referibilidade a valores, ou, mais especificamente, por adequarem meios a fins. Daí sua natureza axiológica ou teleológica, não sendo demais lembrar que a Axiologia significa “teoria dos valores”; e Teleologia, “teoria dos fins”. (REALE, 2014, 28-29)
Cultura, em sua acepção específica, compreende tudo aquilo que o homem constrói sendo a natureza sua base. Conforme idealismo realeano “O termo cultura designa, portanto, um gênero, do qual a civilização é uma espécie”
Sobre a norma, “é a forma que o jurista usa para expressar o que deve ou não deve ser feito para a realização de um valor ou impedir a ocorrência de um desvalor”. 
Pode-se dizer que, a norma traduz o que “deve ser” e, segundo o culturalismo realeano, este “deve ser” é extraído de um comportamento reconhecido como valor pela sociedade.
A tridimensionalidade do Direito
 Fato: perspectiva social
 Valor: perspectiva filosófica
Norma: perspectiva normativa
RELAÇÃO JURÍDICA
 SUJEITO: ativo e passivo
 OBJETO: mediato (bens jurídicos) e imediato (prestação)
 FATO PROPULSOR: fato, ato e negócio jurídicos
 PROTEÇÃO JURÍDICA: hipótese normativa 
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10ª. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. 
DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo de Direito. 5ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. 
FERRAZ JR. Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: Técnica, decisão e dominação. 7ª. ed. São Paulo: Atlas, 2013. 
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 46ª. ed. São Paulo: Atlas, 2013. 
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 8ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 31ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013 	
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 	
MUITO OBRIGADA!

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