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O Negro em Sergipe O QUE ERA A ÁFRICA SUBSAÁRICA OCIDENTAL? A África, berço provável da humanidade, abrigava no século XV, quando iniciou-se o processo de desenraizamento dos africanos, soluções culturais as mais diversificadas possíveis. "Agricultura, pecuária, artesanato com madeira e metais eram atividades econômicas que desenvolviam ao nível do que havia de mais adiantado na época. E se praticavam escravidão, o que é inegável, faziam-no de maneira bem diferente daquela que se desenvolveria a partir do tráfico mercantil. O tráfico era muito reduzido. Escravos eram geralmente prisioneiros de guerra e após algumas gerações as relações escravistas eram eliminadas. Escravidão por dívidas e venda de membros da família devido à fome, também ocorriam, mas sem maior significado numérico..." Por força de produtos que os europeus ofereciam em troca, alguns grupos de negros passaram a ter no apresamento de escravos, sua principal atividade econômica. Em diferentes períodos, o escambo era feito com tecidos, trigo, sal e cavalos, mas, desde logo, armas e munições passaram a ter o papel fundamental. De fato, o grupo que dispunha de armas de fogo, adquiriam enorme superioridade em relação a outros, permitindo-lhe escravizar - e não ser escravizado - graças às suas vantagens bélicas. A partir do aumento de contato com a América, outros produtos passaram a ser trocados por escravos, como o tabaco, aguardente e o açúcar. Assim, o sistema mercantil nos revela um elemento muito importante de sua perversidade intrínseca: escravos eram adquiridos pelos traficantes em troca de mercadorias produzidas pela força do trabalho escravo". Fonte: "A Escravidão no Brasil", de Jaime Pinsky. POR QUE ÁFRICA A Conjuntura econômica européia nos inícios do século XV, girava em torno da política econômica mercantilista. O projeto colonizador dentro dessa visão, sobordinava todas as ações para o atendimento dos interesses comerciais de lucros e ganhos, os maiores possíveis. A Europa chegou a África antes do empreendimento colonial americano. Por que não implantou logo sua empresa ai? Os estudos mostram que a organização social existente em certas regiões africanas, dificultaram uma ação semelhante àquela aplicada na América. Na África subsaárica ocidental já existia uma estrutura básica de comércio. A partir do século XV, foi incluída a mercadoria humana. O sucesso desse sistema mercantil explica-se pela colaboração entre africanos e europeus: "Estes, organizaram e financiaram o comércio, enquanto os africanos se encarregaram da captura, entrega, controle e manutenção dos cativos na espera do transporte marítimo". Os dados estatísticos apontam para um número aproximado dos dez milhões de africanos que foram retirados do seu continente de origem, sendo transportados para Europa, Ilhas Atlânticas e Américas. Informações retiradas in: "África e América" : "O Tráfico Negreiro e a Gestação do Racismo", de José Flávio Sombra Saraiva e Klaas de Jonge. ALGUMAS CONTRUIÇÕES DO NEGRO PARA O BRASIL Os africanos trouxeram para o Brasil suas diferentes soluções culturais, que encontrando-se com às produzidas pelos europeus e nativos americanos, sincretizaram-se, contribuindo para o rico patrimônio cultural brasileiro. Dentre os vários elementos introduzidos no nosso país, destacamos: Lingüísticos: várias palavras e vocábulos da língua quimbundo, como: dengo, cafuné, molambo, caçula, quitutes, moleque, batuque, mocambo, mucama, quindim, mugunzá, bunda, cachimbo, etc. Religiosos: Candomblé (Bahia), Macumba (RJ), Xangô (Nordeste), Quimbanda e Umbanda. Instrumentos musicais: tambores, atabaques, agogô, campânulas, zambê, cuíca, berimbau, etc. Culinária Afro-brasileira: complexo do inhame, uso do azeite-de-dendê e pratos como vatapá, o bobó, o acarajé, o abará, o efó, o axoxó, etc. Indumentária: panos vistosos, saias rodadas, xales da costa, braceletes, argolões, trajes da baiana. Objetos de bronze, ferro e madeira, feitos para os cultos ou de uso doméstico. Cantos e ritmos variados Danças: quilombo, maracatus, aspectos do bumba-meu-boi, taieiras, congadas, batuques, o coco, caxambu, sorango, jongo, sarambu. Técnicas de trabalho nas atividades agrícolas, pecuária, mineração e indústrias rudimentares. Introdução de plantas: inhame, coco, dendê, etc. Fonte: "Etnias e Culturas no Brasil", de Manoel Diegues Júnior O NEGRO NA ATUALIDADE A exclusão social faz com que os negros continuem lutando para integrar-se na sociedade. Várias organizações são criadas visando estudar e lutar contra o preconceito e a discriminação racial. A realidade e pesquisas têm mostrado que estes continuam a existir , apesar dos avanços individuais de negros que nesta década conseguiram firmar-se como profissionais liberais. A maioria da população negra continua pobre e o trabalhador negro ainda continua recebendo menos que o branco quando executa um trabalho igual, conforme quadro ao lado. Já em Sergipe, dentro da comemoração dos 300 anos da morte de Zumbi, foi reestruturado o Fórum de Entidades Negras, que é um espaço de articulação, reflexão e multiplicação das ações dos movimentos sociais negros em Sergipe, congregando cerca de dez diferentes entidades... Ainda temos a Casa de Cultura Afro-Sergipana voltada para defesa, divulgação da questão do negro e combate a discriminação, e o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro, com sede na UFS, constituído por pessoas da comunidade universitária e a sociedade em geral, comprometidas com a questão do negro na sociedade brasileira. Torna-se necessário o aprimoramento das políticas relacionadas a melhoria e valorização das condições de trabalho e especialmente dos negros, que continuam sendo as vítimas preferidas dos diversificados preconceitos. E a luta continua.... INDICADORES DA ASCENSÃO SOCIAL DO NEGRO NO BRASIL: há dez anos, os negros eram apenas 10% dos patrões. Hoje são 22%. Os negros correspondem a um terço da classe média do país Movimentam 50 bilhões de reais por ano ... e o que ainda precisa ser feito O salário médio pago aos negros é a metade do pago aos brancos. Os negros detêm apenas 1% dos postos estratégicos do mercado de trabalho Brancos têm o dobro de chance de manter a qualidade de vida da família do que os negros A chance de conseguir um emprego é 30% maior para brancos do que para negros. Fontes: Ipea, Grottera Propaganda, Fundação Ceade, "Um país que tem na sua estrutura social, vestígios do sistema escravista, com uma concentração fundiária e de rendas das maiores do mundo, governado por oligarquias regionais retrógradas e brancas; um país no qual a concentração de rendas exclui total ou parcialmente 80% da sua população, da possibilidade de usufruir de um padrão de vida decente, que tem trinta milhões de menores abandonados, carentes ou criminalizados não pode ser uma democracia racial". Clovis Moura A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA EM SERGIPE As leis abolicionistas refletiram na organização do trabalho em nossa província. A lei do Ventre Livre, segundo depoimentos do Presidente da Província, de então, trouxe um surto de inquietação entre os escravos e criou um Fundo de Emancipação para a libertação dos mesmos. Houve, no entanto, lentidão e até 1880, somente 131 escravos tinham sido libertos, num universo de 26.381. Segundo dados estatísticos, em 1874, a população escrava era de 19,13% e em 1888, somente 5,6%. Houve o abandono gradativo das propriedades, como resultado da assimilação da liberdade de locomoção. Dados estatísticos mostram dificuldades para o assalariamento posterior da força de trabalho, somando-se a isso o fato dos proprietários estarem acostumados ao trabalho escravo, continuando a querer tratá-los dentro de um relacionamento desumano. Só em 1905, foi promulgado o Código Rural, estabelecendo as bases dos contratos de trabalho. (Fonte: "Textos para História de Sergipe", Prof. Lenalda Andrade Santos) A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA A nova ordem mundial decorrente da revolução industrial levou à necessidade de mudanças. Era preciso a criação de mercado consumidor livre. O Brasil tinha na exportação dos produtos agrícolas, os fundamentos da sua economia, principalmente no nordeste, que resistiu às novas transformações e modernização decorrentes da introdução de máquinas. No entanto, os escravos negros no Brasil tiveram ajuda de importantes segmentos da sociedade civil, que pressionaram, fazendo com que as leis abolicionistas fossem saindo gradativamente. E finalmente, no dia 13 de maio de 1888, foi assinada a Lei Áurea, que representa a grande vitória da libertação das mercadorias humanas negras no Brasil. ZUMBI Muitos Negros não aceitaram o processo de dominação e exploração imposto pelo branco colonizador. Na atualidade o nome mais famoso ligado aos inúmeros quilombos surgidos no Brasil é o de "Zumbi de Palmares". O quilombo de Palmares era localizado numa faixa de 350 quilômetros, que ia do Rio São Francisco até o sertão. Surgiu nos fins o século XVII, com a fuga de 40 escravos rebeldes. Chegou a abrigar cerca de 20 mil negros nas suas mais de quatorze povoações. Zumbi nasceu livre, filho de uma princesa africana e sobrinho de Ganga Zumba, a quem substituiu na liderança por não aceitar uma proposta de paz com os brancos. Lutou bravamente por um ideal de liberdade, tornando-se símbolo da resistência negra contra a escravidão. O governador de Pernambuco na época, deixou o seguinte depoimento: "Zumbi pelejou valorosa e desesperadamente, matando um, ferindo alguns, e não querendo render-se, foi preciso matá-lo e só assim foi apanhado vivo." Sua morte não significou no entanto, o fim da luta contra a supremacia colonizadora dos brancos dominadores. A TRADICÃO RELIGIOSA NEGRO-AFRICANA NO BRASIL Os grupos africanos vindos para o Brasil, trouxeram os elementos básicos de suas organizações simbólicas de origem. Os sudaneses, principalmente os iorubanos (nagôs) deixaram suas influências no nosso território, embora encontremos amplas variações caso analisemos as várias regiões brasileiras, onde aparecem traços culturais daomeanos, fanti-ashanti e bantos. Ainda a religiosidade negra sincretizou-se com o cristianismo, o Kardecismo e cultos ameríndios. Na atualidade destacam-se o culto nagô, trazido pelos iorubás e os cultos bantos, ou seja, candomblé angola, candomblé de caboclo ou toré, quibanda, umbanda, etc.. Na mitologia iorubana, o grande Deus do Céu é OLORUM. Ainda cultuam diversos ORIXÁS (divindades intermediárias), que usavam os corpos dos "filhos de santo" durante as cerimônias religiosas. Já os bantos acreditam numa entidade suprema: ZAMBI ou ZAMBIAPONGO. Também adoram algumas entidades do panteão nagô e invocam espíritos dos ancestrais, que podem atuar no mundo dos vivos. SINCRETISMO AFRO-BRASILEIRO "No Brasil, houve uma espécie de resistência passiva, principalmente no campo religioso quando os negros enganavam seus senhores colocando nos seus pejis (altares) e imagens dos santos católicos, cultuando-os porém com o significado dos orixás africanos (sincretismo)." Hélia de Paula Barreto O TRABALHO ESCRAVO NOS ENGENHOS Os escravos sergipanos estavam concentrados principalmente na zona açucareira, ou seja, na região da continguiba, embora também estivessem ligados aos locais produtores da pecuária. Dedicavam-se as mais diversificadas atividades. Os que trabalhavam no eito plantavam, colhiam, carregavam os produtos e produziam os torrões de açúcar. Muitos ainda desenvolviam lavouras de subsistência. Aqueles que trabalhavam na residência tinham vida mais suave. Eram cozinheiras, mucamas, amas, cocheiros, etc.. Haviam ainda atividades citadinas diversificadas: serralheiros, vendedores, ferreiros, podendo inclusive serem alugados convertendo suas rendas para os seus senhores. AS IRMANDADES RELIGIOSAS Os portugueses trouxeram para o Brasil o costume de organizarem-se em confrarias devocionais. Durante o século XIX, foi registrada a existência de sete irmandades do Rosário dos Pretos, espalhadas pelas vilas e povoações de Sergipe Del Rey. Outro santo protetor dos negros, muito cultuado nestas terras, foi São Benedito, em cujo louvor foram levantados vários templos. Admitiam entre seus componentes: livres, libertos e escravos. Os cultos a esses padroeiros protetores, em relação aos pretos, aconteciam geralmente nos finais e inícios dos anos, nos períodos de repouso em relação aos trabalhos agrícolas. Durante as comemorações são coroados os chamados reis do Congo, numa reminiscência aos seus costumes de origem. Ainda acontecem danças, músicas, cortejos e comilanças. Essas manifestações eram utilizadas como mais um meio de controle por parte do branco colonizador. A ESCRAVIDÃO NO BRASIL O Brasil foi provavelmente o país que mais importou escravos africanos. Foram introduzidos aqui, mais de 3 milhões. Os negros foram utilizados nas mais diversas atividades, havendo distinções entre os negros nascidos no Brasil e aqueles nascidos na África. Estes eram geralmente, sujeitos a uma maior carga de preconceitos. Os gastos não eram muitos, já que as despesas com alimentação e vestimenta eram pequenas. Os negros eram trazidos nos navios negreiros, onde cerca de 20% não sobreviviam. No Brasil eram colocados nos mercados para serem vendidos. Nas propriedades para onde eram levados, tinham que abandonar seus costumes de origem. "Trazido como escravo, tiraram-lhe de forma definitiva a territorialidade, frustraram completamente a sua personalidade, fizeram-no falar outra língua, esquecer as suas linhagens, sua família foi fragmentada e/ou dissolvida, os seus rituais religiosos e indicativos tribais se desarticularam e seu sistema de parentesco completamente impedido de ser exercido e, com isto fizeram-no perder total ou parcialmente mas de qualquer forma significativamente, sua ancestralidade." (Clovis Moura) As condições de sobrevivência eram tais que a média de vida útil era geralmente de dez anos. Sustentaram com seus braços e pés, todos os ciclos econômicos brasileiros. Os africanos tiveram que se conformar ao projeto colonizador. Eram trazidos para as atividades coloniais ligadas principalmente à agricultura e mineração, onde eram necessárias a existência de um grande contigente de mão-de-obra. A África tornou-se durante cerca de 400 anos, o continente fornecedor de seres humanos. Isso sem grandes gasto e riscos. Os grupos negros que entraram no Brasil foram os seguintes: Culturas Sudanesas (povos Iorubanos, Daomeanos e Fanti-Ashanti). Culturas Guineano - Sudanesas Islamizadas (grupos Peuhl, Mandinga, Haussá, Tapa, Borem e Gurunsi). Culturas Bantas (Grupos Angola - Congolês, e Contra-Costa). A ESCRAVIDÃO EM SERGIPE Estando politicamente subordinada à Bahia até 1820, Sergipe tinha sua economia dependente em relação àquela província. Nos inícios houve o desenvolvimento da pecuária, passando a desenvolver-se a cultura canavieira a partir do século XVIII. A entrada dos primeiros escravos negros acontece já no século XVII, tornando-se mão-de-obra dominante no século seguinte. D. Marcos Antônio de Souza, vigário de Siriri, deixou o seguinte depoimento sobre as condições de trabalho em Sergipe. "...Ali (em Sergipe), são mais bem tratados estes homens desgraçados, sujeitos à lei do cativeiro; são nutridos com saudáveis alimentos vegetais, com feijão e com milho que por toda parte colhem com abundância. Os escravos do Recôncavo da Bahia se nutrem com o escasso e nocivo alimento de carne salgada do Rio Grande. Suas pequenas casas são cobertas de palha e mal os agasalham no rigor da estação, quando as senzalas em Sergipe são cobertas de telhas. Os escravos são vestidos com algodão manufaturados por eles, quando os do Recôncavo, pela maior parte, parecem mudos orangotangos. Em Sergipe se lhes permite a mais doce sociedade: podem casar-se com as escravas da mesma família e ainda de outra, quando os proprietários da vizinha Bahia embaraçam a liberdade do matrimônio..." (Souza, 1943:19). Já a professora Lenalda Andrade Santos da UFS, depõe posicionando-se dentro da ótica dos dominados: "...Será que, se lhes fossem possível avaliar a falta de liberdade aliada ao tratamento a que estavam submetidos, baseado nas condições de alimentação, moradia vestimenta, se expressaria da mesma forma? Os escravos não escreveram sobre suas condições de vida e de trabalho, mas o fato de várias fontes documentais se referirem às práticas cotidianas de contestação e rebeldia pelos cativos, faz supor que sua visão a respeito do tratamento e que estavam submetidos, certamente devia ser muito diferente daquela do Vigário". O Prof. Luiz Mott, da UFBA, analisando os anúncios de jornais de Sergipe que tratam sobre os negros fugidos, coloca: "Suspeitamos, contudo, que as dificuldades de importação de africanos e o número reduzido de escravos por propriedade, tenham forçado os senhores sergipanos a tratarem seus cativos com mais cuidado do que nos lugares onde eram mais facilmente substituídos e abundantes". A ORIGEM DOS NEGROS SERGIPANOS Não se sabe exatamente de onde vinham, já que o porto de embarque não significava, necessariamente, relação com sua origem étnica. Sua captura dava-se com freqüência no interior do continente africano, sendo levados posteriormente para o litoral. Em Sergipe, entraram principalmente através da Bahia, embora também viessem de Pernambuco e pudessem Ter sido desembarcados no próprio litoral sergipano. Convém ressaltar também os grandes deslocamentos internos, no próprio território braileiro. PROVÍNCIA DE SERGIPE - ORIGEM DO ESCRAVO AFRICANO 1785 CONGO COSTA DO OURO GOLFO DO BENIM ANGOLA - 197 MINA - 67 GÊGE - 04 C ONGO - 02 BENGUELA - 06 FONTE: "Sergipe Del Rey. População, Economia e Sociedade". De Luiz Mott (1986: 133/134) Este quadro mostra a predominância dos bantos, que vinham do Congo e Angola, mas haviam também sudaneses da Costa da Guiné. Também em 1785, dos 814 escravos arrolados, 276 eram africanos (34%) e 538 (66%), nacionais. Já desde os meados do século XVIII, diminuto era o número de cativos originários da África, predominando por conseguinte os crioulos e mestiços nascidos na América. ENGENHOS DE AÇÚCAR DO ESTADO DE SERGIPE ANO MUNICÍPIO QUANTIDADE 1869 LARANJEIRAS 54 1855 S CRISTOVÃO E ITAPORANGA 43 1859 MAROIM 19 1859 SIRIRI 14 1859 CAPELA 106 1860 ROSÁRIO DO CATETE 27 1860 SANTO AMARO DAS BROTAS 09 1860 JAPARATUBA 27 FONTE: "Vida Patriarcal em Sergipe". de Orlando Dantas "A população de cor nos fins do primeiro meado do século XIX, era de aproximadamente 75%, sendo que 41% eram de cor e livres, e 34 % escravo.(Luiz Mott). CULTURA POPULAR EM LOUVAÇÃO Os negros, chegando no Brasil eram submetidos a um processo de cristianização. Tendo seu SER já formado dentro dos padrões culturais africanos, os escravos enriqueceram a religiosidade popular brasileira em vários elementos das suas tradições de origem (sincretismo). ALGUMAS DANÇAS E FOLGUEDOS TAIEIRA Tem caráter religioso (louvação) e profano (músicas e danças). Os adereços, instrumentos musicais e vestes dos participantes estão ligadas ao processo de aculturação, resultante do encontro afro-europeu. CACUMBI Variação de Autos e Bailados, como: Congada, Guerreiro, Reizado e Ticumbi. Não apresentam dramatização e seu objetivo temático é a louvação dos padroeiros dos negros afro-brasileiros, em cantos e danças. ZABUMBA É um quarteto musical, composto de flautas, zabumba e caixa. Acompanham bailados, festejos, novenas e procissões. SÃO GONÇALO A dança é destinada ao pagamento de promessas. A influência africana está presente na melodia, no ritmo, na coreografia, nas estrofes e nas vestimentas. PARAFUSO Dançado no município sergipano de Lagarto, nas festas de São Benedito. Lembram as fugas dos negros, que para enganar e assombrar os brancos, roubavam e vestiam anáguas das sinhazinhas, saindo rodopiando, PROVÍNCIA DE SERGIPE POPULAÇÃO TOTAL, LIVRE E ESCRAVA - EM 1854 COMARCAS SUBDELEGACIAS TOTAL POPULAÇÃO LIVRE / ESCRAVA São Cristóvão Capital Itaporanga Socorro Itabaiana Santa Rosa 5.969 6.017 4.880 7.879 3.419 4.664 / 1.305 4.437 / 1.580 3.205 / 1.675 6.319 / 1.560 3.422 / 1.177 Laranjeiras Laranjeiras Divina Pastora Pé do Banco Santo Amaro 9.105 3.256 3.493 4.812 5.784 / 3.321 1.766 / 1.490 2.348 / 1.145 3.372 / 1.440 Maroim Maroim Rosário Capela Japaratuba 4.149 2.928 6.761 1.557 2.884 / 1.265 1.774 / 1.154 4.701 / 2.060 667 / 890 Vila Nova Propriá 8.518 5.910 3.676 1.835 7.502 / 1.016 5.141 / 769 3.325 / 351 1.279 / 556 Estância Estância Santa Luzia Espírito Santo Chapada 8.243 4.755 1.875 3.520 6.103 / 2.140 3.355 / 1.400 1.586 / 289 3.275 / 254 Lagarto Lagarto Lagoa Vermelha Riachão Simão Dias Itabaianinha Geru Campos 6.520 1.898 5.148 6.174 5.638 797 3.889 5.145 / 1.375 1.455 / 443 3.911 / 1.237 5.242 / 932 4.662 / 976 695 / 102 3.353 / 546 TOTAL 132.640 100.192 / 32.448 Fonte: Estatística da população livre e escrava de Sergipe por comarcas, distritos de subdelegacias e quarteirões. APES. Pac.287 QUILOMBOS E REVOLTAS DE ESCRAVOS EM SERGIPE O escravo sergipano reagiu de diversas maneiras à escravidão. A fuga foi a mais constante, mas também ocorreram suicídios, assassinatos, abortos e incêndios de propriedades. Nem todas as fugas culminaram em quilombos, mas obviamente estes originaram-se delas. E o termo quilombo não era comum na fala dos escravos sergipanos. As expressões eram "Rancho", "Coito" e Mocambo". Compunha-se de 10 a 15 indivíduos e não se desenvolvia uma economia própria em seus redutos. Já no século XVII, existiram notícias sobre os primeiros quilombos em terras sergipanas, embora tenham acontecido principalmente após a promulgação da Lei do Ventre Livre. Na primeira metade do século XIX, ocorreram vários conflitos coletivos. Inclusive foi criada legislação proibindo o uso de armas e instrumentos perfurantes ou contudentes, pela população não branca. COMARCAS ONDE OCORRERAM REVOLTAS ANO SÃO CRISTÓVÃO 1808 e 1815 SANTO AMARO DAS BROTAS 1827, 1828 e 1833 ROSÁRIO DO CATETE 1824 BREJO GRANDE 1827 VILA NOVA (NEÓPOLIS) 1827 MAROIM 1927 e 1835 LARANJEIRAS 1835 e 1837 ESTÂNCIA 1828 SANTA LUZIA 1835 NOSSA SENHORA DO SOCORRO 1837 REGIÃO DO COTINGUIBA 1809 REGIÃO DO VAZA BARRIS 1831 Líderes negros que se destacaram nas revoltas: O pardo, Antônio Pereira Rebouças, em Laranjeiras; o preto liberto Sebastião Soares e o crioulo Fuão, em Rosário do Catete; e o alferes dos Henriques, Sebastião Paiva Noronha, em Santo Amaro das Brotas. Ainda no século XIX, foi detectada a existência de quilombos nas seguintes províncias: Japaratuba, Rosário do Catete, Siriri, Divina Pastora, Aracaju, Itaporanga, Maroim, Laranjeiras e Capela. Dentre os quilombolas, destacaram-se dentre outros, pela audácia, esperteza e trabalho que deram para serem capturados; José da Silva, José Maroim, Joaquim, Ilário, João Mulungu, Manoel Hora, Izidoro, Frutuoso, Malaquias, Laureano e Saturnino. Francisco José Alves Joaquim Anastácio de Menezes Francisco de Carvalho Lima Junior Manuel Curvello Fausto Cardoso Felisbelo Freire Sebastião Soledade Balthazar Góis Antônio Pereira Rebouças Crioulo Fuão Frutuoso Ilário Isidoro José da Silva José Maroim Joaquim João Mulungu Manoel Hora Malaquias Laureano Saturnino Sebastião Paiva Noronha Sebastião Soares O Desembarque (Leva de Escravos) * Foi longa a travessia?... Mas a terra Aparece por fim... a terra pura, Que a seiva do porvir no seio encerra, Que transborda de risos na verdura! Então um paraíso só decerra Na grandeza que ajusta-se à ternura; A vida via suave e descuidosa A natureza, altiva e portentosa. Dos navios que tristes ancoraram, Como ladrões... esquálidos bandidos... Saltam homens que a pátria atrás deixaram; Que aos sorrisos dos ventos em seus ouvidos, Estatelados, pávidos ficaram, Como se ouvissem só, entre gemidos, O choro de seus pais lá nos seus lares Que bem longe... atrás... nos mares... É a turba famélica de escravos Que acabam de chegar...ai! não saudemos, Su'alma dolorida, os seus agravos Todos feitos por nós... Para lavar os crimes ignavos Que na face dos homens inscrevemos. A cada som que dão estas cadeias, Alma da história, quanto te mareias!... Cambaleando, mortos de fadiga, Repelidos do mar que os não tragara, Onde hão de um dia achar uma voz amiga, Que a dor acerba em risos lhes trocara!... Rejeitados do céu que não abriga O cativo que o olhar no céu fitara, Rechaçao dos homens que os devoram A fome, a peste, a morte... eis o que implorava... Ah! Não, não foi por certo a luz dos fortes Testemunha do crime indiferente... Foram da noite as trêmulas cortes De sombras, que se escoam friamente, Que guardaram a presa... Nos transportes Que no mandas transidos pela mente, Oh, tristeza do sol, inda ressumas Refletidas do mar sobre as espumas!... Sílvio Romero (1851 - 1914) * in Parnaso Sergipano, vol. II, 1904, pp. 279-280
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