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2013913_174526_Direito-alternativo

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Direito Alternativo como um movimento transformador da realidade social 
brasileira 
 
 Igor Veloso Ribeiro 
 
“O homem não é a soma do que ele tem, mas a totalidade do 
que ainda não tem, do que pode ter.” 
Jean-Paul Sartre. 
 
RESUMO: Este artigo apresenta o Direito Alternativo como mais uma forma 
concreta de luta existente e posta à disposição daqueles que desejam combater a 
realidade social brasileira embebida de violência, exploração e miséria. Sob uma 
postura que comparte seus objetivos, o artigo estuda esse movimento apresentando a 
sua história, seu conteúdo teórico, sua ideologia, e efetuando algumas análises 
críticas. 
PALAVRAS CHAVES: Direito Alternativo; Justiça; Democracia; Movimentos 
sociais; Marxismo. 
ABSTRACT: This article introduces the Alternative Right as a factual way of 
strugle that exist and is set at disposal of those who desire combat the brasilian 
social reality absorbed by violence, exploration and misery. Under a posture that 
takes part of its purposes, the article studies this movement introducing its history, 
theory embasement, ideology, and at last, making some doctrine analysis through 
critics. 
KEYWORDS: Alternative Right; Justice; Democracy; Social movememts; 
Marxism. 
 2 
1. Introdução. 2. Direito Alternativo como movimento. 3. Principais teorias que 
fundamentam o movimento alternativo brasileiro. 3.1. Os princípios gerais do 
Direito como limite do julgador – Amílton Bueno de Carvalho. 3.2. O novo 
paradigma jurídico como base nos movimentos sociais – Antônio Carlos 
Wolkmer. 3.3. O marxismo como fonte primária, não única, do Direito 
Alternativo – Edmundo Lima de Arruda Jr. 4. Outras considerações. 4.1. Qual 
o limite ao julgador? 4.1. O juiz deve se ater à lei? 4.2. Ainda críticas... 5. 
Conclusão. 6. Referências Bibliográficas. 
1 – Introdução 
Direito alternativo é um movimento desviante em face à legalidade estatal, que bebe 
nas fontes do direito as quais não estejam ligadas ao Estado, às normas legislativas. Não 
coincide (ou não coincide de todo) o direito alternativo com a legalidade do Estado, pois, 
de outro modo, não lhe seria alternativa (não seria outro conteúdo: a palavra “alternativo” 
vem do latim alter, isto é, “outro”). Ou seja, direito alternativo só é tal pelo desvio, pela 
não-identificação, pela dessemelhança, em relação ao conteúdo da legislação estatal 
(conteúdo que também lhe é desviante e, portanto, lhe é também alternativo). 
Essa idéia de desvio é, de fato essencial à alternatividade jurídica. Com efeito, tal 
desvio não é de oposição ou luta entre um “direito informal (inoficial)” e um “direito 
formal (oficial)”, mas de um “sincretismo”, de maneira que entre eles existe uma 
“convivência contraditória”, existindo, assim, uma tensão dialética. 
Não se trata, simplesmente, pois, do uso alternativo (outro uso) das próprias leis do 
Estado, isto é, a interpretação delas que se procure fazer necessariamente no sentido do 
benefício geral, utilizando para isso de pequenas aberturas, existentes na prória legislação, e 
ampliando-se hermeneuticamente essas aberturas. Não é apenas o preater legem para 
benefício dos desprotegidos socialmente e economicamente, mas é o desvio aberto do 
sistema normativo estatal, é o contra legem – que se pode atuar explícita ou implicitamente, 
em nome da justiça social
1
. 
 
1
 “Justiça Social caracteriza-se por pretender corrigir as grandes distorções ocorridas em uma sociedade, 
diminuindo as distâncias e diferenças entre as diversas classes que a constituem. Objetivando a construção de 
 3 
Para os alternativos se a coisa justa se opõe à lei positiva, não haveria a menor 
dificuldade em optar categoricamente pela primeira, porque, “de fato, toda a lei que 
contraria o justo natural carece de essência de juridicidade e não gera o dever de justiça, 
não vincula os indivíduos para os efeitos de respeito e obediência”2. Ademais, não se pode 
aceitar um conceito prévio de Justiça ( a Justiça por ser um valor e assim mutável de acordo 
com o contexto, não é um elemento científico, portanto não está no âmbito da juridicidade, 
outrossim, não devendo servir para informar, ler os fenômenos sociais), a ser utilizado, 
genericamente, por todos os juízes e para todos os casos a serem decididos. O princípio da 
justiça só pode ser entendido frente ao caso concreto, sendo um valor relativo a ser 
concretizado com fundamento na realidade vigente e não pode estar apartada das 
circunstâncias sociais e econômicas vividas pela população de um específico lugar e 
momento. Portanto, é na concretude que deve se verificar se ocorre ou não a Justiça. 
2 – Direito Alternativo como movimento. 
Enfim, o que objetivamos agora não é traçar os limites epistemológicos do 
alternativismo juridico, mas apresentar um movimento que pretende ser mais uma forma de 
luta existente e posta à disposição daqueles desejos de permanecer degladiando-se contra a 
violência, a exploração, a miséria e todas as demais formas desabonadoras da pessoa 
humana, contra o status quo, a situação posta. 
A miséria existente no Brasil não é uma falha setorial do sistema capitalista 
responsável por sua forma de organização de vida. Bem ao contrário, é consequência dele. 
Neste país existem fatos reais envolvendo homens, mulheres e crianças, marcados pela 
mais absoluta desconsideração e crueldade, capazes de colocar em dúvida a própria 
existência, tanto de alguma racionalidade, quanto de qualquer solidariedade nos seres 
humanos. A culpa disso tudo não é exclusiva da classe política. Outras pessoas concretas, 
como empresários, latifundiários, representantes de multinacionais, também se beneficiam 
 
uma Sociedade Justa fundamentada sobre pressupostos naturais, isto é, baseada no Direito Natural, o que 
facilitaria a sua aceitação e assimilação por todos os povos cultos e incultos, civilizados ou não, uma vez que 
consideram o homem como o centro de seu estudo e desenvolvimento, nele reconhecendo direitos milenares 
de que é repositório (sic!), a dignidade a que faz jus e o respeito que deve merecer” 
MARINHO, Inezil Penna. O Direito natural como fundamento de uma teoria do direito justo e os 
pressupostos de uma sociedade justa. Brasília: Instituto de Direito Natural, 1979. p.48. 
 4 
das relações geradoras de toda essa pobreza. São pessoas ricas, inteligentes, bem 
informadas e sabem muito bem o que fazem e o corolário de seu fazer. Possuem plena 
consciência de serem as condições de obtenção de suas riquezas a origem maior de toda 
pobreza e miséria existentes ao seu redor. 
Além da peversidade existente na sociedade civil, as instituições do Estado mais 
servem para aguçar que pacificar os conflitos sociais, estatuindo, assim, novas valas. O 
dinheiro público arrecadado por um sistema tributário injusto, incidente sobre a classe 
média e contra os trabalhadores, é distribuído, via corrupção, desmandos, benefícios, 
nepotismos, superfaturamentos, subfaturamentos, subsídios, mal uso dos bens públicos, e 
muitos outros meios, para um grupo de apadrinhados pelo poder, gente com capacidade de 
escandalosos desperdícios, tendo, muito perto das portas de suas casas milhares de pessoas 
que têm a miséria como pátria. A legislação não reprime semelhante prática e, em muitos 
casos, permite e mesmo a favorece. O Poder Judiciário, quando não age para beneficiar a 
essas gentes, garantindo seus privilégios excludentes que se vestem na forma normativa, 
mantêm-se inerte, administrando uma justiça seletiva, descompromissada com o mundo 
social. Cumprir a lei é a justificativa, mesmo atuando-se contra o próprio Estado de 
Direito
3
. 
A situação é calamitosa e está a exigir, há muitotempo, atitudes concretas em todos 
os meios sociais e organismos estatais, aí incluíndo o jurídico. 
O Direito Alternativo Brasileiro é uma atitude concreta assumida por um grupo de 
“Operários do Direito” contra uma realidade social considerada excludente. Algo havia de 
ser feito, urgia a necessidade de uma ação-reação. No campo da teoria do Direito, muitos 
equívocos foram cometidos, mas no campo da realidade social os acertos ultrapassam, em 
grande quantidade os erros. As propostas alternativas não buscam os privilégios, não se 
vinculam às elites. Seus membros, no tocante à auferição de vantagens pessoais e/ou 
profissionais, mais perdem do que ganham. Não são paladinos da justiça e não agem 
 
2
 OLIVEIRA, Gilberto Callado de. A verdadeira face do direito alternativo (introdução). Juruá: Curitiba, 
2000. p.11. 
3
 “ ... Estado de Direito – sujeição do poder a princípios e regras jurídicas - , garantindo às pessoas e 
cidadãos liberdade, igualdade perante a lei e segurança.” 
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. p. 231 
 5 
imbuídos de atitudes quixotescas. São homens e mulheres, comprometidos com a história 
de seu país e movidos por um objetivo comum. Talvez sejam todos sonhadores, mas ainda 
acreditam na possibilidade da transformação social e construção de novas formas de viver. 
Em termos teóricos, ou de elaboração de uma teoria jurídica alternativa, sempre 
existiram e ainda existem incertezas. Nesse aspecto, o tema pode ser visto sob o seguinte 
enfoque: de início, houve uma espécie de ira por parte dos juristas tradicionais, inclusive de 
alguns tidos como de esquerda, que passaram a atacar os juristas alternativos, qualificando-
os de irresponsáveis, de despreparados sob o argumento de serem tais alternativistas 
geradores de insegurança jurídica. 
Com o desenvolvimento do movimento, muitos juristas, críticos em um primeiro 
momento, foram vendo a seriedade de seus objetivos e mudando de atitude, se não para 
adeptos, pelo menos, para a de respeito, mesmo sob fortes discordâncias ideológicas. 
As críticas continuaram. É o caso por exemplo, de juristas de extrema direita, 
pertecentes à Tradição, Família e Propriedade (TFP)
4
, para os quais o movimento 
alternativo está em colisão com a Doutrina Social Católica, por defender a luta de classes, o 
que é antinatural, um novo diabo.
5
 De fato, os alternativos não estão de acordo com a 
divisão de classes. É certo partirem os alternativos de uma análise social 
que leva em conta a luta de classes, pois não aceitam o caráter natural dessas diferenças. 
Quanto à luta de classes e à concepção marxista do direito alternativo Clèmerson 
Merlin Cléve afirma que a doutrina jurídico alternativa é, na verdade, de inspiração 
marxista, pois obedece a um processo revolucionário cujo elemento dialético, o direito 
alternativo, apresenta-se como a antítese – e, depois, como superação - do direito 
tradicional. Seus teóricos introduzem as leis da dialética marxista na essência do próprio 
direito através da práxis, que é uma ação transformadora baseada na teoria dialética onde as 
decisões são uma práxis, decidir para transformar e não conservar, procurando explicá-lo 
 
4
 A TFP é o único grupo organizado que faz presente, rotineiramente, inclusive em revistas especializadas, 
sustentando argumentos contra o Direito Alternativo. 
 
5
 Inobstante não ser membro inscrito na T.F.P., o promotor de Justiça catarinense Gilberto de Callado de 
Oliveira defende seus postulados e com esta base ideológica escreveu o livro A verdadeira face do direito 
alternativo, supra citada, o único publicado especificamente para combater o movimento alternativo. 
 6 
segundo o rítmo do materialismo histórico. O direito aparece assim como produto histórico, 
quando a sociedade humana se divide em classes antagônicas. E subsiste enquanto perdurar 
tal situação, enquanto ele for instrumento a serviço da classe dominante. Para eliminá-lo 
como sistema opressor abre-lhe um espaço de luta “orientado no sentido de reforçar o 
caráter libertador e democrático da juridicidade”6. 
A realidade jurídica brasileira embebida por uma teoria jurídica tradicional 
(conceituada como produção do cientificismo positivista)
7
 insuficiente e limitada, porque se 
preocupa demasiadamente com a ordem estabelecida através dos valores segurança e 
certeza, típico de uma ordem burguesa do século XIX, com o ideal cartesiano (científico), 
tornou-se alvo de uma Teoria Crítica do Direito
8
 insurgente e questionadora objetivando 
repensar e superar tal modelo, provocando uma autoconsciência dos agentes e dos grupos 
oprimidos que estão em desvantagem e/ou em desigualdade, que sofrem as injustiça por 
parte dos setores dominantes das classes ou elites privilegiadas, que buscam a superação de 
todo esse antagonismo social, em favor de uma sociedade de autonomia, autogestionária
9
. 
Tal pensamento jurídico crítico não pode desconhecer e deixar de embasar teoricamente o 
movimento alternativo - “a crítica jurídica de perspectiva dialética tem propiciado e 
favorecido empiricamente, no cotidiano do espaço societário e das instâncias institucionais, 
 
 
6
 CLÈVE, Clèmerson Merlin. Uso alternativo do direito e saber jurídico alternativo,em Lições de Direito 
Alternativo. 2ª ed. Acadêmica. São Paulo: 1992, vol. 1, p.118. 
 
7
 Cf. WOLKMER, Antônio Carlos. Introdução ao pensamento jurídico crítico. p.16. 
8
 “Enquanto o teórico “crítico” sabe dessa sua condição, o teórico “tradicional”, concebendo-se fora da 
dinâmica social e histórica, tem uma concepção distorcida de sua atividade científica e de sua função. Isso 
explica a posição política de um e outro. Enquanto esse último se resigna ao imobilismo e ao quietismo, 
justificando-o coma ideologia da neutralidade valorativa, o teórico não tradicional assume sua condição de 
analista e crítico da situação, procurando colaborar na intervenção e no redirecionamento do processo 
histórico em favor da emancipação dos homens em uma ordem social justa e igualitária.” 
FREITAG, Bárbara. A Teoria crítica : ontem e hoje. p.42. 
9
 “Pretendo ocupar-me do Direito como sociabilidade determinada, no marco mais amplo dos movimentos de 
constituição de uma sociedade de autonomia, que constitui uma nova cidadania como potência de liberação, 
fundadora da política como potência de liberação no interior de limites auto-estabelecidos. A cidadania como 
força jurídica e política que constitui o Direito e Política, sem passar pelas mediações idealizadas de um 
pensamento jurídico obcecado em transformar o Direito em um “idioma” de obrigação e 
obediência”.WARAT, Luís Alberto. O Direito e sua Linguagem. p.108 
 7 
tendências ou variantes que se desdobram e ao mesmo tempo integram-se como o ‘Direito 
Alternativo’”.10 
Tal tensão cognoscitiva sobre o que é, a função, e os valores que desempenha o 
direito, nestas correntes que se contrarestam, mostram quão palpitante é a discussão e a 
riqueza que se desenvolve a partir desta preocupação acerca do lugar do direito nos dias de 
hoje. 
Com efeito, as censuras mais incisivas estão sendo efetuadas por tais juristas 
tradicionais. Para eles, o Direito Alternativo é impraticável, porque não apresenta um 
método, uma teoria e coloca em xeque o Estado de Direito e a própria Democracia, 
alegando a instabilidade resultante da práxis alternativa. 
Buscou-se amenizar oimpacto dos ataques que o movimento alternativo tem 
sofrido. Muitos teóricos, então, lançaram-se em estudos para desenvolver um método ou 
uma teoria alternativa, capaz de responder às acusações e de fundamentar teoricamente, o 
movimento. Todos os ânimos principiam da concepção da crise do paradigma liberal legal e 
do próprio Direito, tendo em vista, como ele se apresenta inserido numa sociedade 
capitalista. 
3 – Principais teorias que fundamentam o movimento alternativo brasileiro 
As teorias que mais se destacaram até o momento são: os princípios gerais do 
Direito como limite do julgador, apresentada por Amílton Bueno de Carvalho; o novo 
paradigma jurídico com base nos movimentos sociais, elaborada por Antônio Carlos 
Wolkmer; e a proposta apresentada por Edmundo Lima de Arruda Júnior, no intento de ser 
o marxismo o referencial teórico, a fonte primária do movimento, sem se confudirem. Estas 
sobressaem-se e merecem uma análise particularizada. 
3.1– Os princípios gerais do Direito como limite do julgador – Amílton 
Bueno de Carvalho 
 
 
10
 FREITAG, Bárbara. A Teoria Crítica: ontem e hoje. p.101. 
 8 
É notória a ineficiência do atual ordenamento jurídico nacional para dirimir a atual 
demanda por justiça social e, muito menos, de sua incompetência para resolver os 
problemas da população, através do uso da norma-regra que não possui um espectro 
albergador capaz de apresentar as respostas aptas aos problemas sociais que cada dia 
surgem mais complexos, atípicos e multidiciplinares quanto à sua compreensão. De modo 
que o exercício silogístico de hermenêutica tradicional não responde a contento, porque não 
possui identidade entre o preceito da norma-regra com a situação fática. Não podemos, 
entretanto, encarar essa desserventia como uma crise geral do Direito e/ou do paradigma 
liberal legal. Ocorre, possuir toda a burocracia judiciária graves problemas de legitimação 
(A maioria do brasileiros não confia na Justiça; não acredita na igualdade jurídica, acha que 
na prática de um mesmo crime serão tratados, pelo Poder Judiciário, de forma mais 
rigorosa, os negros em relação aos brancos e os pobres em relação aos ricos
11
). Mesmo aos 
juristas defensores da ordem legal estabelecida e hegemônica fica difícil negar que o 
Direito Positivo não protege os interesses dos grupos minoritários, e como tal, excluídos. 
Em que pese o fato de a ordem vigente não praticar a justiça social (porque não gera 
inclusões, na medida em que não muda as estruturas), como deveria e deseja os juristas 
alternativos, não significa “uma profunda crise” e, muito menos, que esteja agonizando. Ao 
contrário, ele está sólido e cumprindo sua função. 
Na verdade, o fato de o sistema jurídico estar contextualizado na realidade 
capitalista e de sua ideologia liberal, nos faz desacreditar num possível fim próximo como 
resultado de sua profunda crise. Haja visto que, historicamente, os fatos e evidências 
demonstram o contrário, em analogia com o capitalismo, o Poder Judiciário se reinventa (O 
Poder Judiciário está se reciclando, contruindo novos fóruns, tribunais, modernizando-se, 
para enfrentar, a seu modo, as novas demandas). O capitalismo consegue se recompor e se 
reforça nessas crises. Portanto, há de se ver com muita cautela a tão propalada e muito 
esperada crise do paradigma liberal legal. 
 Amílton Bueno de Carvalho desenvolve seu raciocínio sobre os Princípios Gerais 
do Direito, incluídos os Direitos Humanos, como limite ao julgador. Argumenta que o juiz 
 
 
11
 Cf. ANDRADE, Lédio Rosa de. Introdução ao Direito Alternativo Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 1996. p.304. 
 9 
alternativo deve usar alternativamente as normas, de forma constante, sempre que possível, 
favorecendo a maioria da população, ou seja, os pobres. Em não sendo possível, para 
consumar uma injustiça no caso concreto, deve romper com a legalidade para materializar a 
Justiça, pois a brutal realidade socioeconômica do Brasil assim autoriza. Assevera existirem 
muitos julgamentos contra a lei, sempre para favorecer os fortes. Então, o contrário deve 
ser feito. O juiz, segundo ele deve ter liberdade de julgar sem parâmetros, a seu juízo 
pessoal (Princípio do livre convencimento motivado). Os parâmetros são critérios 
concretos, contextualizados historicamente e orientados pelos princípios universais e gerais 
do jurídico, respeitando-se os Princípios Gerais do Direito. 
“O limite de atuação passou a ser outro, ultrapassando a legalidade 
estreita, para alcançar os princípios gerais do direito do mundo civilizado 
(aqui se incluindo os direitos humanos). E estes princípios são tidos como 
históricos, construídos pela sociedade civil na caminhada em busca da utopia 
vida em abundância para todos. Estes princípios servem de norte 
interpretativo de todo o fenômeno jurídico e dão conteúdo racional ao 
ato decisório.”12 (Grifo nosso) 
Apesar de ser, Amílton Bueno de Carvalho, teórico precursor do alternativismo no 
Brasil, sua teoria se mostra com alguns problemas epistemológicos, vejamos: o primeiro 
deles já na própria conceituação de Princípios Gerais do Direito. Afinal o que isso 
significa? A própria teoria jurídica acusada de dominante e opressora possui seus princípios 
gerais e, certamente Carvalho não fala deles. Afirmar serem os princípios históricos 
construídos pela sociedade civil também não diz muita coisa. A história da humanidade, e 
nela incluídos os Princípios Gerais do Direito, não é traçada pela sociedade civil, mas por 
grupos que dão curso forçado aos seus valores e idéias. Os Princípios Gerais não são 
oriundos de uma voluntè generàle de Rosseau, mas de quem detém e se apropria da riqueza 
material. 
Mesmo aceitando a autonomia e autodeterminação da sociedade civil, resta um 
outro problema: quem vai decidir quais os princípios criados por ela? Isso sempre foi tarefa 
 
12
 Ibid., p.124. 
 10 
do dominantes
13
. Até mesmo os Direitos Humanos, realidade tão importante e pela qual se 
deve lutar para ver sua aplicação efetiva, é uma declaração patrocinada pela Organização 
das Nações Unidas, um órgão multinacional bem distante do povo, instituido para orientar a 
nova fase que o capitalismo teria que enfrentar no pós-guerra, a chamada guerra fria. 
Emblematizando o capitalismo, a Democracia e a luta pelos Direitos Humanos como 
elementos idênticos. 
“O Direito como um todo, os Princípios Gerais do Direito e o Sistema 
Normativo, não pode ser estudado, interpretado e/ou aplicado senão como 
produção do poder, mesmo sendo para fundamentar uma atividade jurídica, 
qualquer atividade jurídica que é, em primeira e em última instância, uma 
atividade política. Aí está a razão pela qual o sistema normativo ora protege, 
ora reprime um mesmo bem jurídico, como, por exemplo a liberdade.”14 
Assim, eleger como referência os Princípios Gerais do Direito, acaba sendo 
repetição de velhas práticas, com fórmulas vazias. Trata-se de um equívoco que o Direito 
Alternativo não pode cometer ou, pelo menos, deve estar atento para todas estas 
implicações. 
3.2 – O novo paradigma jurídico como base nos movimentos sociais – 
Antônio Carlos Wolkmer 
Wolkmer, crê que o modelo jurídico tradicional está submetido a uma crise de 
hegemonia. Não aceita o monismo jurídico e sugere uma mudança paradigmática no 
Direito, para construir um novo fundamento de validade e um espaço societário de auto-
regulamentação autêntica. Propõe um “Direito Comunitário”, com fundamento em várias 
fontes de produção normativas. Busca pensar o fenômeno jurídico de forma diversa à 
 
13
 “ Quando vai se disciplinar uma determinada ordem de interesse social, a autoridade competente não 
caminha sem umroteiro predelineado, sem planejamento, sem definição prévia de propósitos. O ponto de 
partida para a composição de um ato legislativo deve ser o da seleção dos valores e princípios que se quer 
consagrar, que se quer infundir no ordenamento jurídico. Ciência que é, o Direito possui princípios 
estratificados pelo tempo e outros que vão se formando – in fieri. São os princípios que dão consistência ao 
edifício do Direito, enquanto os valores dão-lhe sentido. A qualidade da lei depende, entre outros fatores, dos 
princípios escolhidos pelo legislador.” (Grifo nosso)., NADER, Paulo. Introdoção ao Estudo do Direito. 19ª 
ed. Forense: Rio de Janeiro, 2000. p.194. 
 
 11 
tradicional positivista, vendo nas lutas de classes e conquistas da sociedade, dos 
movimentos populares, uma nova “práxis” de formação do Direito. 
O Alternativo aparece como “novo Direito” e tal projeto passa, nos dias atuais, 
obrigatoriamente, “pela definição de uma racionalidade emancipatória, pelo 
questionamento dos valores e pela fundamentação de uma ética política da ‘práxis 
comunitária’, pela redescoberta de um ‘novo sujeito histórico’ e, finalmente, pelo 
reconhecimento dos movimentos e práticas sociais como geradoras do pluralismo 
jurídico”15. 
Assevera que a Justiça assume significado diverso, todavia, o sentido específico de 
Justiça Social é o que deve ser abraçado por esse “novo Direito”. Decerto que, para a 
formação desse “novo Direito” a participação de movimentos sociais é de vital importância, 
na medida em que, constituem uma fonte privilegiada de produção jurídica dentro do 
pluralismo jurídico. Entretanto, deixa claro que nem toda manifestação ou movimento 
social organizado é justo e legitímo, verbi gratia, o PCC (Primeiro Comando da Capital), 
Comando Vermelho, Ku-Klux-Klan. Sobre tal problema, afirma: “ A ausência de respeito à 
vida humana, de eticidade e do valor ‘justo’ esvazia a validade desses ‘direitos’ ou dessas 
práticas irracionais de ‘Justiça’. Portanto a legitimidade dos direitos produzidos pelos 
agentes coletivos emergentes dependem intimamente do ‘justo’, do ‘ético’ e do respeito à 
vida humana”16. 
Com efeito, após discutir as bases teóricas de seu processo de formação crítica, 
Wolkmer localiza o prosseguimento deste processo enquanto objetivo de “fundamentar a 
proposta de um direito novo, que, em contexto alternativo, possa se prestar ao projeto de 
ampliação popular de auto-exercitar a sua participação como agente determinante, ativo e 
soberano no encaminhamento de seus interesses e na direção de seu próprio destino”, assim 
desenvolvendo o pluralismo jurídico. O Movimento Sem-Terra é exemplo vivo de tal 
pluralismo, como novo sujeito constitutivo de direitos. 
 
14
 ANDRADE, Lédio Rosa de. Introdução ao Direito Alternativo Brasileiro. p.309. 
15
 WOLKMER, Antônio Carlos. Contribuição para o projeto da juridicidade alternativa. In Lições de Direito 
Alternativo 2. Op. cit., p. 31. 
 
 12 
3.3 – O marxismo como fonte primária, não única, do Direito Alternativo – 
Edmundo Lima de Arruda Jr. 
Por último passemos à análise da tese do professor da Universidade Federal de 
Santa Catarina, Edmundo Lima de Arruda Jr., em que assevera ser o marxismo fonte 
primária do Direito Alternativo, no entanto, não única. Com efeito que, ao se buscar 
construir epistemologicamente as diretrizes do Direito Alternativo não há motivos para 
aderir à doutrina marxista sob pena de dogmatizar o alternativismo jurídico, amarrar o 
movimento a uma determinada doutrina é limitá-lo aos seus adeptos, de modo que, pode-se 
extrair do marxismo seu método de análise da sociedade e suas críticas ao capitalismo, pois 
permite ilustrar que existe um sistema que somente sobrevive através de uma lógica de 
exploração, entretanto, “ servir de suporte teórico para fundamentar uma denúncia, não 
implica servir de delimitação teórica para o agir do jurista, mormente do juiz, o que nega 
qualquer necessidade de eleger o marxismo como fonte primária do Direito alternativo.”17 
Edmundo Lima de Arruda Jr. afirma que não há uma ideologia que ofereça trânsito 
para todos, de maneira que, para os alternativistas, não existe mais que um objetivo comum, 
ao qual aderem os descontentes com a ordem estabelecida, sendo que tal adesão é 
justificada pelas mais diversas formas de ler o mundo, e não por seguirem determinada 
ideologia. 
O Direito, no entender do autor, é um fenômeno de poder, e por isso não possui um 
método perfeito, uma teoria neutra e não é uma ciência autônoma, no sentido de uma 
desvinculação das relações sociais. O Direito deve ser desmistificado e visto como 
realmente o é: regras de conduta oriundas do jogo de poder na sociedade, ou um fenômeno 
de exercício de poder de maneira normativa. É constituído por normas, por textos 
prescritivos, mas também, por um discurso
18
, praticado pelo juiz, pelo promotor, enfim, 
pelos operadores do direito, com o objetivo de ser certa e justa a distribuição de poder na 
 
16
 WOLMER, Antônio Carlos. Direito Comunitário Alternativo: elementos para um ordenamento teórico –
prático. In Lições do direito alternativo 2. ob. cit., p. 133. 
17
 ANDRADE, Lédio Rosa de. ob. cit., p. 316. 
 
18
Para Foucault o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas e os sistemas de dominação, mas 
sim, aquilo pelo qual se luta, é o poder pelo qual nos queremos apoderar. Cf. FOUCAULT, Michel. ob. cit. p. 
7. 
 13 
sociedade. No entanto, certifica que seu funcionamento pode ser regido por uma teoria 
aberta, sem prescrições morais prévias, sem intenções de perenidade e universalidade, 
relacionada com os fenômenos históricos, sociológicos, filosóficos, políticos, econômicos e 
ideológicos, inserida na dialética social. Assevera ainda que o Direito Alternativo não pode 
prescindir de uma teoria, mas deve afastar-se da fetichização jurídica. 
4 – Outras considerações. 
4.1 - Qual o limite ao julgador? 
Existem ainda outros pontos controversos que merecem consideração. Um deles, é 
justamente saber, quais os reais limites impostos ao julgador? Se se considerarmos que 
nossas pretensões quando em juízo estão vulneráveis a todo tipo de susceptibilidades, tais 
como, o humor do juiz no dia do julgamento, a troca de magistrado, o nervosismo das 
testemunhas, a classe social da parte, enfim, as contigências que passeiam pelo cotidiano de 
um fórum ou tribunal, percebemos que tais vicissitudes acabam com qualquer esperança de 
certeza e segurança jurídica, de modo que, todas as teorias desenvolvidas até o momento 
com o desejo de reponder tal questão são conhecidas por suas falhas, ambigüidades e 
falácias. 
Portanto, não é dificíl concluir que não há limites teóricos perfeitos, pois a lei 
(Direito Positivo) é sempre vista e aplicada politicamente. Veja o que comenta Andrade: 
“Não se trata da constatação genérica de estar o Direito vinculado à Política, mas sim, aos 
objetivos políticos perseguidos pela sentença, ao se decidir um caso concreto. A fonte 
alternativa do Direito está localizada nessa esfera política e nela deve-se trabalhar, mas 
compromissado com a miséria e a opressão. São, ainda, palavras subjetivas, mas podem 
servir de começo para uma prática de transformação (que já existe) e para uma teoria 
jurídica aberta e democrática.”19 
É bastante conhecido o discurso jurídico hegemônico sobre a prática política da 
Ciência Jurídica. De fato, as leis são elaboradas obedecendo os mais variados jogos de 
conveniências. Conforme afirmou Ferdinand Lassale em 1862, uma Constituição é o19
 Ob. cit. p. 321. 
 14 
resultado das forças de interesses e poder. O mesmo pode ser dito sobre todo arcabouço 
jurídico estatal. Tal jurista teve a perspicácia de transmitir, em linguagem simples, o 
verdadeiro significado, não só de Constituição, mas de toda norma estatalmente produzida. 
“Esta é, em síntese, em essência, a Constituição de um país: a soma 
dos fatores reais do poder que regem uma nação. 
Mas que relação existe com o que vulgarmente chamamos 
Constituição? Com a Constituição jurídica? Não é difícil compreender a 
relação que ambos os conceitos guardam entre si. Juntam-se esses fatores 
reais do poder, os escrevemos em uma folhha de papel e eles adquirem 
expressão escrita. A partir desse momento, incorporados a um papel, não 
são simples fatores reais do poder, mas sim verdadeiro direito – instituições 
jurídicas. Quem atentar contra eles atenta contra a lei e por conseguinte é 
punido. 
Ninguém desconhece o processo que se segue para transformar esses 
escritos em fatores reais do poder, transformando-os dessa maneira em 
fatores jurídicos. 
Está claro que não apareça neles a declaração de que os senhores 
capitalistas, o industrial, a nobreza e o povo são um fragmento da 
Constituição, ou de banqueiro X é outro pedaço da mesma. Não isto se 
define de outra maneira, mais limpa, mais diplomática.”20 
Portanto, por ilustração, no processo constituinte que elaborou a Constituição 
brasileira, muitos grupos organizados pressionaram os constituintes, de forma que, não se 
pode dizer que o texto constitucional, fruto de todas essas pressões, é científico, neutro, 
apolítico. Ao contrário, resulta do jogo de poder. Os interesses melhor organizados, com 
maior força de pressão, foram os mais beneficiados. 
No âmbito do Direito as coisas não se processam diferentemente, os operadores do 
Direito usam desses jogos de interesse (poder) para fazer valer os seus desideratos. Observe 
 15 
que no Brasil, os julgadores mais reacionários se apegam, de forma extremamente legalista, 
às leis antigas, elaboradas, em sua maioria, sob ditaduras militares ( Código Comercial, 
Código Penal, parte especial e etc) e buscam restringir as normas modernas de conteúdo 
social e recheadas de normas gerais, abertas (CR/88, Código do Consumidor, ECA, Novo 
Código Civil e etc), enquanto os progressistas procuram ampliar ao máximo estes últimos 
textos legais, restringindo os antigos. Essa é a luta ideológica, de classes, dentro do Poder 
Judiciário e um caminho para a elaboração de uma teoria jurídica efetivamente alternativa. 
4.2 - O juiz deve se ater à lei? 
Por certo que, outro ponto controverso trata da obediência à lei. O Direito 
Alternativo reconhece a sua importância, mesmo que sua aplicação continue condicionada 
ao caráter político. Entretanto, vimos que, o parlamento, em sua maioria, identificado com 
as classes ricas, pende em favor destas na elaboração normativa, o que permite a 
perpetuação de privilégios e injustiças. De maneira que, tal classe se torna como que imune 
aos textos normativos, como se houvesse um Estado anômico para alguns brasileiros. Tal 
impunidade se estende desde consumo de drogas, falcatruas financeiras, até mesmo 
assassinatos. Inbostante tal impunidade, observa-se que a dialética social já conquistou 
importantes prerrogativas para os que lutaram por seus direitos, todavia, há a necessidade 
da batalha pela sua efetividade e eficácia, em que pese, será decisiva a atuação não só dos 
juristas alternativos, mas de todos que sejam comprometidos com a democracia. Outro 
argumento versa que as normas legais servem como uma espécie de limite ao julgador, pelo 
menos teoricamente, mesmo não o sendo, de todo, na prática forense. 
Considerando que o juiz é a personificação da Justiça, e que diante da inobservância 
do direito, a ele incumbe dirimir os conflitos adequando as normas abstratas e todos os 
valores que as circundam tornando-as concretas, concluí-se que o julgador alternativo não 
necessita preterir os requisitos formais do Direito Positivo, em especial o processual. De 
modo que, o princípio da motivação das decisões torna-se um aliado na medida em que a 
preocupação é julgar de forma comprometida com uma proposta de vida social, mas, 
 
20
 LASSALE, Ferdinad. A essência da Constituição. p. 17 – 18. 
 16 
também, de fundamentar tal decisão, para persuadir e para permitir seu cumprimento nos 
termos desejados, a fim de dar eficácia à política latente. 
 4.3 – Ainda críticas... 
Há de ser abordada forte crítica contra o Direito Alternativo, inclusive efetuada por 
muitos juristas progressistas e simpatizantes do movimento. Alegam ser a prática 
alternativa perigosa, pois voluntarista, permite aos juristas reacionários, de direita, também 
usarem o Direito para seus fins, colocando em risco o Estado de Direito e a própria 
Democracia. Ora, o Direito é dialético, e as normas e o discurso jurídico sempre tenderão 
para o lado hegemônico, realidade não criada pelos juristas alternativos. Estes combatem os 
atuais detentores do monopólio do discurso jurídico, da produção legislativa e da 
interpretação do Direito, porque são pessoas não identificadas com as massas populares. 
Portanto, se perigo existe, sua origem é anterior ao movimento, faz parte da própria Ciência 
Jurídica e não foi criado pelos alternativos. 
5 - Conclusão 
Diante de todo o exposto, percebemos que o Direito Alternativo cada vez mais se 
destaca como um novo ramo do Direito, e como tal passa do plano meramente utópico para 
uma realidade viva e pujante, realidade esta que busca através do Direito e seus institutos 
tornar a “Justiça” mais engajada com a problemática social, mais célere, mais justa. 
Um exemplo concreto da busca por uma justiça alternativa é a disseminação dos 
Juizados Especiais, criadas com competência para o processo e julgamento de causas de 
reduzido valor econômico. Primeiro, com a promulgação da Lei Federal n. 7.244, de 7 de 
novembro de 1984, que regulamentava a criação e funcionamento dos Juizados Especiais 
de Pequenas Causas, depois tal lei foi revogada com a promulgação da Lei 9.099, de 26 de 
setembro de 1995, que instituiu os Juizados Especiais, tanto no âmbito da jurisdição civil 
quanto no da jurisdição criminal, com competência para conciliação e julgamento, no 
campo da jurisdição civil, das causas cujo valor não exceda sessenta vezes o salário mínimo 
vigente, as enumeradas no art. 275, II, do nosso Codex procedimental, bem como nas ações 
de despejo para uso próprio e as possessórias sobre bens imóveis cujo valor não exceda a 
 17 
quarenta salários mínimos. Sobre a matéria ora em tela veja o que assevera Ovídio Batista: 
“Estas justiças especiais, para as causas de reduzida expressão econômica, foram inspiradas 
nas experiências de outros povos, particularmente nas Small Claims Courts, existentes nos 
Estados Unidos da América, foram sugeridas pela Lei Federal, cabendo aos Estados 
cria-las ou não, segundo seus próprios critérios de conveniência, numa tentativa de 
introduzir no Brasil uma forma de justiça alternativa, despida do formalismo próprio 
das cortes de justiça ordinária, e de índole mais participativa e menos 
profissionalizada e burocrática, através da convocação de juízes não integrantes dos 
quadros do Poder Judiciário, e com o nítido sentido de justiça conciliadora, menos 
técnica e mais democrática.”21(Grifo nosso) 
O Direito Alternativo surge, então, como um bálsamo rejuvenescedor, injetável, nas 
veias senis, secas, sujas e obstruídas do Judiciário nacional, residindo, assim, em tal nota 
transformadora, sublime, e não obstante grandiosa, o desiderato de que a Justiça aconteça. 
Cabendo a nós, estudantes, professores, profissionais, enfim, operários do direito,tal busca 
incessante, através do nosso mais importante intrumento de trabalho e de luta, o argumento. 
Sem mais delongas, faço minhas as palavras de Carlos Augusto Pires Brandão, Juiz 
Federal no Piauí: “Não há mais espaço e tempo para centralismos políticos. O direito está 
sempre em construção, devendo as normas de convivência merecerem uma interpretação 
aberta. Os fluxos de informações, ao encurtar distâncias nas redes integradas de 
comunicação e interligar o mundo, quase em tempo real, atingem estruturas de segurança 
que dão sustentação à sociedade. Em meio a antagonismos de valores que integram em 
processos não-hierarquizados, a composição de conflito na Democracia só se legitima 
mediante atuação jurídica argumentativa, persuasiva, criativa e transformadora.”22 
6 – Referências Bibliográficas 
 
21
 SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de Processo Civil. vol. 1. Processo de Conhecimento. 6 ed. rev. e 
atual. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2002. Págs. 55, 56. 
22
 BRANDÃO, Carlos Augusto Pires. O intérprete na sociedade atual. Revista da Justiça Federal do Piauí, 
Teresina, 1 (1): 153, 154. 
 
 18 
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FOUCALT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural do Collège de France, 
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FREITAG, Bárbara. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986. 184 p. 
LASSALE, Ferdinand. A essência da constituição. 5 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. 
40 p. 
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justo e os pressupostos de uma sociedade justa. Brasília: Instituto de Direito 
Natural, 1979. 52 p. 
 19 
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WARAT, Luis Alberto. O Direito e a sua linguagem. 2 ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio 
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Artigo intitulado “O DIREITO ALTERNATIVO COMO MOVIMENTO 
TRANSFORMADOR DA REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA” publicado pela 
revista do Instituto Camillo Filho Scientia et Spes n. 6, ano 
III. 
 
 
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