Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CONSTITUCIONAL Aulas 3, 5 e 4(as constituições brasileiras deixei por ultimo) Origem do Direito Constitucional. “A origem e a própria história do Direito Constitucional está intimamente associada ao surgimento e à própria evolução do Estado, na exata medida em que é através do denominado Poder Constituinte que nasce a concepção básica do Estado e da própria Constituição como organização jurídico política fundamental que transforma a Nação em efetivo Estado. O Estado, em particular, evoluiu da Antiguidade (onde era detectada a presença do governo único – antiguidade oriental, Império Persa; o surgimento das cidades-Estados – Antigüidade clássica, Império Grego; e o início do desenvolvimento da administração estatal – antigüidade ocidental, Império Romano), passando pela Idade Média (marcado pelo regime feudal, pelo surgimento das comunas e cidades, pela concentração de riquezas e pelo predomínio do direito romano), chegando à Idade Moderna (onde se deu a evolução do Estado Absolutista, caracterizado pelo poder ilimitado do rei, para o Estado Liberal, caracterizado pela sujeição do Estado ao império da lei, e para o Estado Intervencionista, onde o desenvolvimento do Direito Constitucional se acelerou, em face das múltiplas atividades que o Estado passou a exercer). O Direito Constitucional, portanto, surgiu, neste diapasão, junto com a própria noção de Estado e particularmente quando este se organizou política e juridicamente através de uma Constituição, passando a sujeitar-se às próprias leis por ele editadas, transformando o poder arbitrário original em poder discricionário (que se caracteriza pela existência efetiva de ampla margem de escolha e opções para o governante) e vinculado (onde praticamente inexistem opções para o governante, em face da solução imposta pela lei). Com o advento do Estado Contemporâneo, o binômio poder-dever passou a integrar a própria essência do Estado, ao lado do cidadão, titular de direitos, cabendo exatamente ao Direito Constitucional (e também ao Direito Administrativo) a busca do equilíbrio harmônico entre os deveres do Estado de um lado e os direitos do cidadão, de outro.” Conceito de Direito Constitucional. “Existem várias definições e conceitos do que vem a ser exatamente o Direito Constitucional, com pequenas variantes. Em todos os casos, entretanto, é certo que o conceito de Direito Constitucional se encontra intimamente vinculado ao entendimento do que vem a ser (ou o que representa) o vocábulo Constituição, na exata medida em que o Direito Constitucional possui, como objeto último de seu estudo, a Constituição, não obstante os inúmeros significados desta última expressão.” Parece-nos mais acertada a definição de José Afonso da Silva, verbis: “A Constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização dos seus elementos essenciais: um sis- tema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regulam a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e exercício do poder, o estabelecimento dos seus órgãos e os limites de sua ação. Em síntese, a Constituição é o conjunto de normas que organizam os elementos constitutivos do Estado.” Direito Constitucional Comparado, Geral, Material e Formal. “O Direito Constitucional, a par de suas inerentes complexidades, também pode ser analisado sob variados prismas, ensejando designações próprias. Assim, o Direito Constitucional Comparado preocupa-se em comparar os diversos Direitos Constitucionais positivos no tempo e no espaço, ao passo que o denominado Direito Constitucional Geral, por sua vez, descreve a própria teoria geral da ciência constitucional.” Manoel Gonçalves Ferreira Filho, explica bem este fenômeno, verbis: “A comparação entre os Direitos Positivos extrai-se o que há de comum a todos eles, reunindo- se assim os princípios universalmente respeitados em matéria constitucional. A sistematização desses princípios constitui o Direito Constitucional Geral ou Teoria Geral do Direito Constitucional, que serve ao mesmo tempo de roteiro para o constituinte e para o intérprete. A Teoria Geral do Direito Constitucional estuda os princípios fundamentais da organização política, que se identificam por meio do estudo comparativo das constituições em vigor. Hoje, em virtude do desaparecimento do Estado Soviético, bem como das Democracias Populares, essa teoria está unificada. Com efeito, descabe falar, atualmente, num Direito Constitucional marxista.” “Por outro prisma, existe ainda o chamado Direito Constitucional Material, associado ao conceito de Constituição em sentido material, e o denominado Direito Constitucional Formal, derivado da tradução específica da Constituição em sentido formal.” Princípios Gerais norteadores do Direito Constitucional. “Os princípios gerais norteadores do Direito Constitucional moderno podem ser resumidos em três acepções básicas: o princípio da supremacia da Constituição; o princípio democrático; e o princípio da limitação do poder.” Objeto do Direito Constitucional. “O Direito Constitucional está voltado, fundamentalmente, para o estudo da Constituição, sob o critério orgânico e funcional propriamente dito, assim como, sob a ótica material e formal. Portanto, o ordenamento constitucional propriamente considerado é o objeto precípuo do estudo do Direito Constitucional.” RELAÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL COM OS DEMAIS RAMOS DO DIREITO. “O Direito Constitucional se relaciona basicamente com todos os ramos do Direito Público Interno, mas também se relaciona com outros ramos, como Direito Privado. De forma específica, o Direito Constitucional é classificado como ramo do Direito Público Interno, ao lado do Direito Administrativo, Financeiro (incluindo Tributário), Penal e Processual (civil e penal).” Relação do Direito Constitucional com o Direito Administrativo. “Reconhecidamente, os dois ramos jurídicos (Direito Administrativo e Direito Constitucional) se interpenetram, considerando suas últimas relações com o objeto Estado. Entretanto, enquanto o Direito Constitucional preocupa-se com a estrutura estatal e com as instituições políticas, o Direito Administrativo cuida apenas da organização interna dos órgãos da administração, de seu pessoal e do funcionamento de seus serviços, podendo satisfazer às finalidades que lhe são constitucionalmente atribuídas. É possível compreender a relação entre estes dois ramos comparando-os a um corpo humano, onde o cérebro e o esqueleto representariam o Direito Constitucional e os músculos e o sangue o Direito Administrativo. O Direito Constitucional oferece as decisões fundamentais, a estrutura do Estado e a forma de adoção das decisões de conteúdo político (poder de império) e o Direito Administrativo a estrutura da Administração e a forma de adoção das decisões administrativas (executórias da vontade política manifestada).” Relação do Direito Constitucional com o Direito Financeiro (incluindo o Direito Tributário). “A relação do Direito Constitucional com o Direito Financeiro (incluindo o Direito Tributário) se verifica, sobretudo, na efetiva presença de regras constitucionais que disciplinam os tributos, incluindo suas definições básicas, discriminações gerais, competência tributária além das limitações ao poder de tributar.” Relação do Direito Constitucional com o Direito Penal. “A relação do Direito Constitucional com o Direito Penal é ba-sicamente de subordinação, na exata medida em que as regras funda-mentais do Direito Penal se encontram condicionadas por inúmeros preceitos registrados nas declarações de direitos e garantias constitucionais.” Relação do Direito Constitucionalcom o Direito Pro-cessual (Civil e Penal). “A relação do Direito Constitucional com o Direito Processual (Civil e Penal) se perfaz, particularmente, por intermédio de vá-rios dispositivos constitucionais disciplinadores do processo, co-mo a garantia do devido processo legal, duplo grau de jurisdição (este implícito), entre outros. Há também de se considerar, neste particular, as competências jurisdicionais fixadas na Constitui-ção, além dos direitos e deveres dos magistrados.” Relação do Direito Constitucional com o Direito do Trabalho (e Previdenciário) e com os Demais Ramos do Direito Pri-vado (Civil e Comercial). “A relação do Direito Constitucional com os denominados ramos jurídicos sociais (Direito do Trabalho e Previdenciário) e priva-dos ((Direito Civil e Comercial) se orienta, particularmente, pe-los preceitos básicos que se encontram presentes na Constituição e instruem estas várias espécies, disciplinando suas respectivas fundamentações básicas.” A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO INFRACONSTITUCIONAL A locução constitucionalização do Direito é de uso relativamente recente na terminologia jurídica e, além disso, comporta múltiplos sentidos. Por ela se poderia pretender caracterizar, por exemplo, qualquer ordenamento jurídico no qual vigorasse uma Constituição dotada de supremacia. Como este é um traço comum de grande número de sistemas jurídicos contemporâneos, faltaria especificidade à expressão. Não é, portanto, nesse sentido que está aqui empregada. Poderia ela servir para identificar, ademais, o fato de a Constituição formal incorporar em seu texto inúmeros temas afetos aos ramos infraconstitucionais do Direito. Trata- se de fenômeno iniciado, de certa forma, com a Constituição portuguesa de 1976, continuado pela Constituição espanhola de 1978 e levado ao extremo pela Constituição brasileira de 1988. Embora esta seja uma situação dotada de características próprias, não é dela, tampouco, que se estará cuidando. A idéia de constitucionalização do Direito aqui explorada está associada a um efeito expansivo das normas constitucionais, cujo conteúdo material e axiológico se irradia, com força normativa, por todo o sistema jurídico. Os valores, os fins públicos e os comportamentos contemplados nos princípios e regras da Constituição passam a condicionar a validade e o sentido de todas as normas do direito infraconstitucional. Como intuitivo, a constitucionalização repercute sobre a atuação dos três Poderes, inclusive e notadamente nas suas relações com os particulares. Porém, mais original ainda: repercute, também, nas relações entre particulares. Veja-se como este processo, combinado com outras noções tradicionais, interfere com as esferas acima referidas. Relativamente ao Legislativo, a constitucionalização (i) limita sua discricionariedade ou liberdade de conformação na elaboração das leis em geral e (ii) impõe-lhe determinados deveres de atuação para realização de direitos e programas constitucionais. No tocante à Administração Pública, além de igualmente (i) limitar-lhe a discricionariedade e (ii) impor a ela deveres de atuação, ainda (iii) fornece fundamento de validade para a prática de atos de aplicação direta e imediata da Constituição, independentemente da interposição do legislador ordinário. Quanto ao Poder Judiciário, (i) serve de parâmetro para o controle de constitucionalidade por ele desempenhado (incidental e por ação direta), bem como (ii) condiciona a interpretação de todas as normas do sistema. Por fim, para os particulares, estabelece limitações à sua autonomia da vontade, em domínios como a liberdade de contratar ou o uso da propriedade privada, subordinando-a a valores constitucionais e ao respeito a direitos fundamentais. A Carta de 1988, como já consignado, tem a virtude suprema de simbolizar a travessia democrática brasileira e de ter contribuído decisivamente para a consolidação do mais longo período de estabilidade política da história do país. Não é pouco. Mas não se trata, por suposto, da Constituição da nossa maturidade institucional. É a Constituição das nossas circunstâncias. Por vício e por virtude, seu texto final expressa uma heterogênea mistura de interesses legítimos de trabalhadores, classes econômicas e categorias funcionais, cumulados com paternalismos, reservas de mercado e privilégios corporativos. A euforia constituinte - saudável e inevitável após tantos anos de exclusão da sociedade civil - levaram a uma Carta que, mais do que analítica, é prolixa e corporativa Quanto ao ponto aqui relevante, é bem de ver que todos os principais ramos do direito infraconstitucional tiveram aspectos seus, de maior ou menor relevância, tratados na Constituição. A catalogação dessas previsões vai dos princípios gerais às regras miúdas, levando o leitor do espanto ao fastio. Assim se passa com o direito administrativo, civil, penal, do trabalho, processual civil e penal, financeiro e orçamentário, tributário, internacional e mais além. Há, igualmente, um título dedicado à ordem econômica, no qual se incluem normas sobre política urbana, agrícola e sistema financeiro. E outro dedicado à ordem social, dividido em numerosos capítulos e seções, que vão da saúde até os índios. Embora o fenômeno da constitucionalização do Direito, como aqui analisado, não se confunda com a presença de normas de direito infraconstitucional na Constituição, há um natural espaço de superposição entre os dois temas. Com efeito, na medida em que princípios e regras específicos de uma disciplina ascendem à Constituição, sua interação com as demais normas daquele subsistema muda de qualidade e passa a ter um caráter subordinante. Trata-se da constitucionalização das fontes do Direito naquela matéria. Tal circunstância, nem sempre desejável, interfere com os limites de atuação do legislador ordinário e com a leitura constitucional a ser empreendida pelo Judiciário em relação ao tema que foi constitucionalizado. Nos Estados de democratização mais tardia, como Portugal, Espanha e, sobretudo, o Brasil, a constitucionalização do Direito é um processo mais recente, embora muito intenso. Verificou- se, entre nós, o mesmo movimento translativo ocorrido inicialmente na Alemanha e em seguida na Itália: a passagem da Constituição para o centro do sistema jurídico. A partir de 1988, e mais notadamente nos últimos cinco ou dez anos, a Constituição passou a desfrutar já não apenas da supremacia formal que sempre teve, mas também de uma supremacia material, axiológica, potencializada pela abertura do sistema jurídico e pela normatividade de seus princípios. Com grande ímpeto, exibindo força normativa sem precedente, a Constituição ingressou na paisagem jurídica do país e no discurso dos operadores jurídicos. Do centro do sistema jurídico foi deslocado o velho Código Civil. Veja-se que o direito civil desempenhou no Brasil – como alhures – o papel de um direito geral, que precedeu muitas áreas de especialização, e que conferia certa unidade dogmática ao ordenamento. A própria teoria geral do direito era estudada dentro do direito civil, e só mais recentemente adquiriu autonomia didática. No caso brasileiro, deve-se registrar, o Código Civil já vinha perdendo influência no âmbito do próprio direito privado. É que, ao longo do tempo, na medida em que o Código envelhecia, inúmeras leis específicas foram editadas, passando a formar microssistemas autônomos em relação a ele, em temas como alimentos, filiação, divórcio, locação, consumidor, criança e adolescente, sociedades empresariais. A exemplo do que se passou na Itália, também entre nós deu-se a "descodificação" do direito civil, fenômeno que não foi afetado substancialmente pela promulgaçãode um novo Código Civil em 2002, com vigência a partir de 2003. Nesse ambiente, a Constituição passa a ser não apenas um sistema em si – com a sua ordem, unidade e harmonia – mas também um modo de olhar e interpretar todos os demais ramos do Direito. Este fenômeno, identificado por alguns autores como filtragem constitucional, consiste em que toda a ordem jurídica deve ser lida e apreendida sob a lente da Constituição, de modo a realizar os valores nela consagrados. Como antes já assinalado, a constitucionalização do direito infraconstitucional não tem como sua principal marca a inclusão na Lei Maior de normas próprias de outros domínios, mas, sobretudo, a reinterpretação de seus institutos sob uma ótica constitucional . À luz de tais premissas, toda interpretação jurídica é também interpretação constitucional. Qualquer operação de realização do direito envolve a aplicação direta ou indireta da Lei Maior. Aplica-se a Constituição: a) Diretamente, quando uma pretensão se fundar em uma norma do próprio texto constitucional. Por exemplo: o pedido de reconhecimento de uma imunidade tributária (CF, art. 150, VI) ou o pedido de nulidade de uma prova obtida por meio ilícito (CF, art. 5º, LVI); b) Indiretamente, quando uma pretensão se fundar em uma norma infraconstitucional, por duas razões: (i) antes de aplicar a norma, o intérprete deverá verificar se ela é compatível com a Constituição, porque se não for, não deverá fazê-la incidir. Esta operação está sempre presente no raciocínio do operador do Direito, ainda que não seja por ele explicitada; (ii) ao aplicar a norma, o intérprete deverá orientar seu sentido e alcance à realização dos fins constitucionais. Em suma: a Constituição figura hoje no centro do sistema jurídico, de onde irradia sua força normativa, dotada de supremacia formal e material. Funciona, assim, não apenas como parâmetro de validade para a ordem infraconstitucional, mas também como vetor de interpretação de todas as normas do sistema. nesse contexto, que se insere a constitucionalização do direito, a qual se expressa de duas formas: a) o acolhimento pelas Constituições de institutos e regras antes relegadas ao campo infraconstitucional; b) a releitura dos institutos previstos na legislação por meio dos princípios fundamentais. Nessa primeira dimensão, o constituinte alberga normas destinadas a proteger institutos, dotados de grande relevância para o interesse público. Particularmente, as normas de direitos fundamentais garantidoras dos direitos autorais (art. 5º, XXVII) ou do direito de herança (art. 5º, XXX) exemplificam essa face da Constitucionalização. Além da proteção de institutos jurídicos, esse fenômeno manifesta-se também pelo acolhimento de regras tipicamente legais, tal como se dá, entre nós, por meio da previsão da impenhorabilidade da pequena propriedade rural (art. 5°, XXVI, CF) e da dissolução do casamento por meio do divórcio (art. 226, § 6º, CF). Entretanto, o mais relevante aspecto da constitucionalização consiste na releitura de toda a ordem infraconstitucional à luz da Constituição. O Direito Civil, o Direito Penal ou Administrativo sofrem intensas mutações em seus mais elementares institutos e categorias jurídicas, os quais são remodelados pela doutrina, pela jurisprudência e pelo legislador ordinário com vistas a adequá-los à Constituição, em especial, ao princípio da dignidade humana. CONSTITUCIONALIZAÇÃO-INCLUSÃO E CONSTITUCIONALIZAÇÃO-RELEITURA Para além da tradicional inclusão de conteúdos no texto constitucional (constitucionalização- inclusão), sustenta-se,hoje em dia, a necessidade de se reinterpretar a ordem infraconstitucional de acordo com a Constituição (constitucionalização-releitura). A Carta atual consagra, como nenhuma antes, a dignidade humana. Não é de se estranhar que se queira vê- a incidir sobre o todo da Ordem Jurídica. Esse movimento se verifica, ainda, no interior da própria Constituição: além da inserção de conteúdos no sistema de direitos fundamentais (fundamentalização-inclusão), exige-se a interpretação da totalidade do sistema constitucional a luz desses direitos (fundamentalização-releitura).Fundamentalização-inclusão e fundamentalização-releitura. O termo “constitucionalização do Direito” tem sido utilizado em oissentidos. A primeira acepção – constitucionalização-inclusão – é imediata. Determinado assunto, antes tratado pela legislação ordinária, ou simplesmente ignorado, passa a fazer parte o texto constitucional. É a “constitucionalização-elevação” de Favorecer transferência, para a onstituição, da sede normativa da regulação da matéria.4 A Constituição de 1988 está repleta e exemplos. Originariamente, dentre outros institutos e instituições,constitucionalizou a autonomia universitária (art. 207) e a Defensoria Pública (art. 134), inéditos em nossa história constitucional.5 Depois, suas Emendas constitucionalizaram os princípios da eficiência administrativa (art. 37, caput) e da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII), cujo tratamento se restringia ao plano ordinário, além de terem instituído o Conselho Nacional de justiça, com a atribuição de promover o controle administrativo e financeiro do Poder Judiciário (art. 103-B).6A segunda acepção – constitucionalização-releitura – só veio a receber maior atenção nos dias de hoje. Desde que a Constituição passou a ser compreendida como norma jurídica dotada de superioridade formal e material em relação às demais, era questão de tempo até que se passasse a denominar como “constitucionalização do Direito” a percepção, mais ou menos difusa, de que todas as normas infraconstitucionais deviam pagar algum tributo de sentido à norma máxima.7 O fenômeno, no Brasil, vem sendo descrito e justificado em diversos estudos, com ênfase nas pesquisas recentes sobre a “filtragem constitucional”8, a eficácia privada dos direitos fundamentais9 e a formação de um Direito civil-onstitucional.10 A jurisprudência já assumiu a idéia, fazendo uso corrente da técnica da interpretação conforme a Constituição, com a qual procura, dentro das possibilidades hermenêuticas do texto legal, extrair “uma significação normativa harmônica com Constituição”.11Fenômenos próximos se desenvolvem, no interior da Constituição, com relação ao sistema de direitos fundamentais. Também há uma fundamentalização-inclusão,inserção de conteúdos no sistema de direitos fundamentais, e uma fundamentalização-releitura, interpretação de toda a Constituição de acordo com esses preceitos.12 Explica-se. O primeiro fenômeno, o da fundamentalização- inclusão, é velho conhecido dos publicistas. Se a história do constitucionalismo é, em grande medida, a história a ampliação progressiva do conteúdo constitucional, assim também o é a história particular dos direitos fundamentais, em que são identificadas sucessivas gerações de reconhecimento e ositivação. Seu termo inaugural é a positivação dos direitos de liberdade no séc. XVIII, com as declarações de direitos e as primeiras Constituições. No início do séc. XX, verifica-se a positivação os direitos sociais. Hoje, há a atribuição de status constitucional a direitos difusos, sobretudo os relativos ao meio ambiente e à proteção do consumidor. Embora a história dos direitos fundamentais, nos diversos países, não possa ser rigorosamente descrita por esse relato em gerações”13 é tendência generalizada a progressiva “fundamentalização formal” de novos e variados conteúdos.14 A fundamentalização-inclusão pode ocorrer, também, em termos materiais. Para além dos direitos formalmente fundamentais (Título II da Constituição da e pública),o sistema comporta direitos fundamentaisem razão da importância de seu conteúdo. Constituição de 1988 prevê essa possibilidade. De acordo com o § 2º de seu artigo 5º, os direitos e garantias expressos na Constituição “não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa o Brasil seja parte”. Em decisão polêmica, o Supremo Tribunal Federal deu consequência prática o preceito, ao atribuir o status jusfundamental ao princípio da anterioridade tributária, positivado no art. 150, III, b, da Constituição da República, isto é,fora do catálogo expresso.15 Essa fundamentalização-inclusão através da afirmação da fundamentalidade material demanda recurso a argumentos situados no plano da justificação dos preceitos constitucionais. No exemplo, a fundamentalização do artigo 150, III, b, decorreu de se afirmar que o preceito constituía garantia da segurança jurídica. O processo de fundamentalização-inclusão é decisivo porque, apesar de os direitos fundamentais não possuírem superioridade formal em elação ao restante do texto da Constituição16, são superiores sob o prisma material17, daí resultando importante conseqüências quanto à sua eficácia e estabilidade: (a) os direitos fundamentais, uma vez que possuem maior “peso abstrato”, gozam de prioridade prima facie a ponderação com outras normas não inseridas na esfera da fundamentalidade18; (b) além disso, estão especialmente protegidos (i) como cláusulas pétreas, não podendo ser revogados pelo constituinte reformador (CRFB, art. 60, §4º, IV); (ii) como princípios constitucionais sensíveis, justificando a decretação de intervenção federal em caso de sua inobservância pelos Estados e elo Distrito Federal (CRFB, art. 34, VII); (iii) como preceitos fundamentais, cuja proteção conta om o instrumento da Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF (CRFB, rt. 02, § 1º); (iv) como normas passíveis de aplicação imediata, não podendo, em regra, serem interpretados através de conceitos restritivos de sua eficácia, como o de “norma não-auto-plicável” (CRFB, art. 5º, § 1º). O segundo fenômeno – o da fundamentalização-releitura –, da mesma forma que a constitucionalização-releitura, recebe maior espaço apenas no debate decente. Ele atua através da “eficácia irradiante” dos princípios constitucionais, norteando a interpretação de todo o restante da Constituição (e, como vimos, da totalidade da ordem jurídica).19 Hoje, entende- se que os direitos fundamentais, além de sua dimensão subjetiva tradicional, possuem também uma “dimensão objetiva”.20 Integram não apenas o patrimônio jurídico de seus titulares imediatos, mas, ainda, o sistema de valores políticos que compõe a estrutura básica da democracia constitucional.21 Por essa razão, devem se irradiar por todo o ordenamento. As disposições constitucionais concernentes a matérias como a administrativa, a tributária, a penal ou a civil devem ser interpretadas de acordo com as normas jusfundamentais. Assim como há a “interpretação conforme a constituição”,há também a interpretação conforme os direitos fundamentais”, aplicável ao interior do sistema constitucional.22Os dois processos de fundamentalização mantêm uma relação de implicação recíproca. Se determinado conteúdo foi incluído no sistema de direitos fundamentais, passa a er invocado para se interpretar os demais preceitos que compõem a Constituição. Mas o conteúdo que estes últimos veiculam é eventualmente pressionado por uma força tendente à sua inclusão, pela via da afirmação de sua fundamentalidade material, no rol daqueles direitos. CONSTITUCIONALIZAÇÃO SIMBÓLICA O termo “Constitucionalização Simbólica” trata-se da discrepância entre a função hipertroficamente simbólica (excesso de disposições carentes de aplicabilidade) e a insuficiente concretização jurídica de diplomas constitucionais. O conceito se deve ao Professor Marcelo Neves em estudo feito em 1992 para obtenção do cargo de professor titular da Universidade Federal de Pernambuco. O referido autor sofreu forte influência de constitucionalistas e teóricos alemães consagrados, como Horald Kindermann, Niklas Luhmann dentre outros autores, o que contribuiu para o desenvolvimento de sua tese sobre o tema. Marcelo Neves diz que a constituição simbólica é caracterizada pela falta de eficácia das normas/valores constitucionais. Isso é perceptível, segundo o autor, através da legislação e constitucionalização simbólicas. Alguns elementos se destacam dentro do universo da constitucionalização simbólica: a legislação simbólica, ou legislação-álibi, sendo necessário para sua compreensão o próprio entendimento de símbolo que para Neves é aquilo que representa tudo e ao mesmo tempo nada, devido a tamanha ambiguidade e acepção da palavra. Tal compreensão o autor buscou na linguística estrutura (Saussare). De outra parte, baseando-se em KINDERMANN, Neves propôs um modelo tricotômico para esquematizar a legislação Simbólica, ramificando sua concepção em: Confirmação de valores sociais, demonstração da capacidade de ação do Estado e adiamento da solução de conflitos sociais através de compromissos dilatórios. Com base em LUHMANN, o termo “constitucionalização simbólica” descreve a constituição como uma estrutura híbrida do direito e da política. E nesse panorama surge uma via de prestações recíprocas entre esses dois sistemas sociais autônomos (Política e Direito), pois ele possibilita uma solução jurídica do problema de auto referência do sistema politico e inerentemente uma solução política do problema de auto referência do sistema jurídico. Neves ainda define a constitucionalização simbólica em dois sentidos, o sentido Positivo e o Negativo. Se pode ver que a constituição simbólica é um conceito “novo” e objetivamente, é algo que podemos ver com frequência nosso ordenamento jurídico, e, em toda história do Direito Constitucional Brasileiro. Legislação simbólica – seria dividida em três funções (tricotômica): Confirmação de valores sociais – onde o legislador assume uma determinada posição, consagrando um valor social, sendo secundária a eficácia normativa da lei; Legislação álibi – demonstração da capacidade de ação do Estado no tocante à solução dos problemas sociais, buscando, aparentemente, solução para os problemas da sociedade, mesmo que mascarando a realidade. Adiamento da solução de conflitos sociais através de compromissos dilatórios. Negativamente o texto constitucional não é suficientemente concretizado normativo- juridicamente de forma generalizada. Positivamente a atividade constituinte e a linguagem constitucional desempenham um importante papel politico-ideológico, servindo para escamotear problemas sociais e adiando as transformações efetivas da sociedade. Constitucionalização simbólica como alopoiese do sistema jurídico – a reprodução do sistema por critérios, programas e códigos de seu ambiente e, então a possibilidade de descrever o direito da sociedade moderna como “autopoiético”, o que quer dizer capaz de autoproduzir-se a partir de critérios, programas e códigos de seu próprio ambiente. A constitucionalização simbólica, equiparada à Constituição nominalista, ou álibi, é o processo de criação de uma Constituição moderna, como abertura do sistema jurídico ao político, porém, sem concretização. Havendo o texto legal garantidor de direitos e garantias criado um álibi para os detentores do poder, que põem a culpa pela não concretização constitucional em elementos outros. Esse nominalismo constitucional ocorre pelo hipertrofiamento de outros sistemas perante os sistemas jurídico e político. Assim, percebe-se queo sistema econômico se mostra como o capaz de condicionar o processo constituinte e legiferante, adaptando-os aos interesses dos detentores do “poder” para “ter”. Portanto, o sistema jurídico é “dirigido” por outro sistema, não tem, pois, força. Quando a Constituição possui um texto que não se concretiza, afetando, assim, todo o ordenamento jurídico (caso típico de constitucionalização simbólica), as normas que regularão o “mundo real” não estarão presentes no sistema jurídico, porém, há, ainda, uma ordem, mesmo que não seja jurídica. O hipertrofiamento de outros sistemas em detrimento do jurídico e do político, tomando-o, assim, sua força originária e se apropria do seu código diferenciador “lícito/ilícito”, tira dos contrapesos entre jurídico e político, e coloca nas mãos dos detentores do poder. Como o sistema econômico se sobressai, está nele repousada, atualmente, a força de lei. Porém, como não a lei em sentido jurídico, o que está verdadeiramente em suas mãos é apenas a força, por não haver outros sistemas que o medeie, e que o impeça de se “fechar” em si mesmo. Dessa maneira, não há “abertura” para que os anseios e a realidade o penetrem. O que já se percebeu, até agora, é uma diminuição, ou exclusão, das prestações do Estado de bem-estar social. Nas palavras de Agamben (2004, p. 61), “o estado de exceção é um espaço anômico onde o que está em jogo é uma força de lei sem lei”. Como foi demonstrado que a constitucionalização simbólica está presente até mesmo nos países centrais da modernidade (centro e periferia), e havendo uma nítida aproximação entre o estado de exceção e a constitucionalização simbólica, pode-se afirmar que a sociedade global vive um estado de exceção permanente, estado de exceção como paradigma de governo. Não são os sistemas jurídico e político que regulam as relações sociais, culturais, educacionais, etc., mas sim, outro sistema que, não o bem-estar social, mas sim, o bem-estar de poucos que fazem parte do poder é o objetivo. Desse modo, o Estado (ou os Estados) e o seu sistema jurídico apropriado, estão sujeitos ao serviço do econômico. AS FAMÍLIAS CONSTITUCIONAIS A evolução e a formação do Direito constitucional britânico realizou-se em três grandes fases: inicia-se em 1215, com a concessão da Carta Magna, continua no século XVII, com o Bill of Rights resultando da luta entre o rei e o parlamento, e a fase desencadeada a partir de 1832, quando foi alargado o direito de sufrágio. A Constituição inglesa não é escrita, em função de ser formada por um conjunto de costumes, precedentes e leis esparsas. Isso faz com que seja uma Constituição flexível, não necessitando de um processo legislativo especial para sua modificação. Esse modelo foi espalhado para diversas regiões do mundo devido à colonização da América do Norte, às guerras napoleônicas na Europa continental e ao imperialismo britânico. Os países que utilizam tal matriz constitucional primam pela adesão ao Common Law, pela importância do costume e da jurisprudência, peloo sentido liberal das normas constitucionais e pela menor rigidez de algumas Constituições. No outro lado do oceano, o Direito constitucional dos Estados Unidos tem sua gênese com a Declaração de Independência, a Declaração de Virgínia e as Declarações de Direitos dos primeiros estados, culminando com a Constituição federal de 1787. Tal documento é tido como simultaneamente rígido e elástico, visto que sua modificação requer um processo complexo que envolve até mesmo a participação das assembléias estaduais, mas ao mesmo tempo tem sido adaptada pela ação dos tribunais. Nesse país, a Constituição exerce a função de lei fundamental e de pacto constitutivo da União. Ela também garante o federalismo, caracterizado pelo Poder Constituinte de cada estado, pela igualdade jurídica entre estes e pela especialidade das atribuições federais (o que não for de competência própria do Estado federal passa a pertencer aos estados federados). Além disso, o texto original não trouxe os direitos fundamentais, sendo estes garantidos pelas emendas posteriores. Esse sistema de matriz americana foi difundido pelo mundo de maneira total (apenas na aparência) ou parcial. Os principais institutos exportados foram o federalismo, a fiscalização judicial da constitucionalidade e o presidencialismo. De volta à Europa, os sistemas constitucionais de matriz francesa originam-se a partir de 1789, em função da revolução que destronou a dinastia vigente. A ordem constitucional criada não foi homogênea, tendo a França experimentado catorze Constituições ao longo de sua história. Essas mudanças foram marcadas ora pela predominância das idéias de Montesquieu (liberdade), ora pelo pensamento de Rousseau (máxima democracia). Embora algumas diferenças tenham marcado os diferentes ordenamentos jurídicos desse país, ele costuma primar pela garantia dos direitos individuais, pela soberania nacional e pela separação dos poderes. Tal sistema foi transmitido a outras nações européias principalmente logo após a Revolução de 1789 e depois da revolução de 1848. Também houve uma importação do modelo francês por uma série de países que conseguiram sua independência dos impérios em seguida ao fim da Primeira Guerra Mundial e pelos países que sofreram o processo de descolonização que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial. Completamente diferente dos sistemas constitucionais supracitados, o sistema constitucional soviético teve seu início com a revolução russa de 1917. A primeira Constituição surgiu no ano seguinte, afirmando os princípios coletivistas. Foi a primeira Carta Magna que adquiriu um conteúdo não liberal. Depois dela, surgiram as Constituições de 1924, 1936 e 1977. Como principais características, o constitucionalismo soviético assegurava o dominío de todo o poder pelo partido comunista, que age como a vanguarda consciente da classe operária. Assim, o poder não se encontra nos órgãos de Estado, mas na figura do partido. O modelo em questão foi utilizado pelos países que sofreram dominação direta da União Soviética, como as repúblicas que a compunham, bem como pelos países por ela influenciados, como China, Cuba e as nações do leste europeu. Além da divisão tradicional, ainda existem os sistemas constitucionais não integrados em famílias. Entre eles, destacam-se os modelos suíço, alemão, dos regimes fascistas e dos Estados asiáticos e africanos. O sistema constitucional suíço é caracterizado pelo federalismo cantonal – o que faz com que os estados aparentem-se às cidades-Estados da Grécia antiga –, pela prática de democracia direta em cinco dos menores cantões, pela consagração da prática da iniciativa popular e do referendo e pela flexibilidade da Constituição. Por sua vez, o sistema constitucional alemão prima pelo Estado federal, mesmo com a representação inigualitária dos estados no parlamento federal e por um Executivo bicéfalo, com Chefe de Estado e Chefe de Governo. É importante salientar que a segunda das três constituições alemães – a famosa Constituição de Weimar – foi a primeira das grandes constituições européias a interessar-se pela questão social, em contraste com as constituições liberais que a precederam. Já os sistemas constitucionais dos regimes fascistas tinham por características em comum a exaltação da força, o culto ao Chefe de Estado, a ideologização da política e o partido de massas elevado à categoria de partido único, assegurando um regime de governo totalitarista. No que tange aos sistemas constitucionais dos Estados asiáticos e africanos, destacam-se a precariedade da unidade política e a dependência externa como fatoresda problemática jurídica que atinge tais países. Neles, as instituições ou são moldadas naquelas das respectivas potências ex-coloniais ou mesmo passam a formar regimes nacionalistas revolucionários. Devido a isso, são comuns as intervenções das Forças Armadas, o autoritarismo, o sistema de partido único e até mesmo o surgimento do fundamentalismo islâmico. No que diz respeito à Portugal e suas colônias, a atual Constituição portuguesa tem por fundamentos a democracia representativa e a liberdade política, valores esquecidos pelo regime autoritário derrubado em 1974. Ela garante os direitos fundamentais, embora traga alguns elementos utópicos em função do repúdio ao antigo ordenamento. Quanto ao sistema constitucional brasileiro, sua principal contribuição contemporânea é a prioridade com que trata dos direitos fundamentais em relação as demais matérias. No que condiz ao sistema vigente nos países africanos de língua portuguesa, as primeiras constituições – surgidas após a independência de tais nações – trouxeram como caracteres distintivos um Estado dirigente, a ditadura de partido único, organização econômica de tipo coletivizante e a má-formação da separação de Poderes. Alguns desses elementos foram extirpados graças aos ordenamentos jurídicos posteriores, mas outros ainda permanecem. FONTES (MODOS DE FORMAÇÃO E REVELAÇÃO DAS REGRAS JURÍDICAS) Seguindo a obra do Professor Sérgio Pinto Martins, Instituições de Direito Público e Privado, 8ª Edição – São Paulo: Atlas, 2008, fls.11 a 19, constatamos vários conceitos de Fontes do Direito, respectivo entendimento e classificação a seguir transcritos: “Fonte vem do latim fons, com o significado de nascente, manancial. No significado vulgar, fonte tem o sentido de nascente de água, o lugar donde brota água. Figuradamente, refere-se à origem de alguma coisa, de onde provém algo. Fonte de Direito tem significado metafórico, em razão de que já é uma fonte de várias normas. Claude du Pasquier (Introduction à la theorie générale et à la philosophie du droit. Paris: Delachaux et Niestlé, 1978. p. 47) afirma que fonte de regra jurídica ‘é o ponto pelo qual ela se sai das profundezas da vida social para aparecer à superfície do Direito’. José de Oliveira Ascensão (O direito: introdução e teoria geral. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1978, p. 39) menciona que fonte tem diferentes significados: (a) histórico: considera as fontes históricas do sistema, como o Direito Romano; (b) instrumental: são os documentos que contêm as regras jurídicas, como códigos, leis etc.; (c) sociológico ou material: são os condicionamentos sociais que produzem determinada norma; (d) orgânico: são os órgãos de produção das normas jurídicas; (e) técnico-jurídico ou dogmático: são os modos de formação e revelação das regras jurídicas.’ O estudo das fontes do Direito pode ter várias acepções, como sua origem, fundamento de validade das normas jurídicas e a própria exteriorização do Direito. Fontes Formais são as formas de exteriorização do Direito. Exemplos seriam as leis, o costume etc. Eduardo Garcia Máynes (Introdución al estúdio Del derecho. México: Porrua, 1968. p. 51) afirma que as fontes formais são como o leito do rio, ou canal, por onde correm e manifestam- se as fontes materiais. Fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de normas, envolvendo fatos e valores. São analisados fatores sociais, psicológicos, econômicos, históricos etc. são os fatores reais que irão influenciar na criação da norma jurídica. Alguns autores afirmam que o Estado é a única fonte do Direito, pois ele goza do poder de sanção. Uma segunda corrente prega que existem vários centros de poder, onde emanam normas jurídicas. Para certos autores, relevante é apenas o estudo das fontes formais. As fontes materiais dependem de investigação de causas sociais que influenciaram na edição da norma jurídica, matéria que é objeto da Sociologia do Direito. Miguel Reale (O direito como experiência.2. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.p.162) prefere trocar a expressão fonte formal por teoria do modelo jurídico. Esta é ‘a estrutura normativa que ordena os fatos segundo valores, numa qualificação tipológica de comportamentos futuros, a que se ligam determinadas conseqüências.’ As fontes do Direito têm por objetivo estabelecer como o Direito se expressa. Pode significar o ente que produz a norma. As fontes podem ser classificadas em heterônomas e autônomas. Heterônomas são as impostas por agente externo. Exemplos: Constituição, leis, decretos, sentença normativa, regulamento de empresa, quando unilateral. Autônomas são as elaboradas pelos próprios interessados. Exemplos: costume, convenção e acordo coletivo, regulamento de empresa (quando bilateral), contrato. Podem as fontes ser estatais, em que o Estado estabelece a norma. Exemplos: Constituição, leis, sentença normativa. Extra estatais são as fontes oriundas das próprias partes, como o regulamento de empresa, o costume, a convenção e o acordo coletivo, o contrato. São profissionais as fontes estabelecidas pelos trabalhadores e empregadores interessados, como a convenção e o acordo coletivo de trabalho. Quanto à vontade das pessoas, as fontes podem ser voluntárias e interpretativas. Voluntárias são as dependentes da vontade dos interessados como o contrato, a convenção e o acordo coletivo, o regulamento da empresa (quando bilateral). Imperativas são as impostas coercitivamente às pessoas pelo Estado, como a Constituição, as leis, a sentença normativa. Pode-se dizer, para justificar as fontes de Direito, que as normas de maior hierarquia seriam o fundamento de validade das regras de hierarquia inferior. São fontes do Direito: a Constituição, as leis, os decretos, os atos do Poder Executivo, os contratos, as convenções e os acordos coletivos. As normas jurídicas têm hierarquias diversas, porém compõem um todo, que se inicia com a Constituição. A Constituição é como se fosse um esqueleto ou um tronco de árvore O esqueleto dá sustentação ao corpo. O tronco da árvore dá sustentação a toda árvore. A Lei Maior dá sustentação a todo ordenamento jurídico de determinada nação. Traz regras sobre produção das leis, direitos trabalhistas, de família, filhos, tributos, previdência social e até financeiras. Lei – CONCEITO Na declaração dos Direitos Universais do Homem, de 1791, ‘lei é a expressão da vontade geral Portalis, na introdução ao Código Civil de Napoleão, afirmava que ‘lei é o Direito reduzido a regras positivas e preceitos particulares. A lei é estabelecida genericamente para regular condutas. Não pretende atender a certa e específica questão, mas regular genericamente condutas. Obriga igualmente a todos. É geral a lei, disciplinando o comportamento de várias pessoas que estão em certa situação. É abstrata, pois determina uma categoria de ações e não uma ação singular. A lei realiza a certeza jurídica. Lei em sentido formal é a norma emanada do Estado, e tem caráter imperativo. Lei em sentido material é a disposição imperativa, que tem caráter geral, contendo regra de direito objetivo. Abaixo da Constituição, existem as leis ordinárias, como: o Código Civil, que trata de direitos e obrigações, de contratos, de regras sobre família e sucessões, sobre coisas; leis sobre organização de sociedades, como da Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404/76); sobre benefícios da Previdência Social (Lei nº 8,213/91) etc. Classificação Quanto à natureza, as leis podem ser classificadas em materiais e instrumentais ou processuais. As leis materiais regulam os direitos das pessoas, como o direito ao casamento, àfiliação, ao contrato de trabalho e aos direitos trabalhistas etc. As leis instrumentais ou processuais são o meio que a pessoa tem para fazer valer seu direito material, que são os Códigos de Processo Civil (CPC), Código de Processo Penal (CPP) e outras normas. Quanto aos órgãos em relação aos quais são provenientes as leis, eles podem ser federais, estaduais e municipais. As regras federais são oriundas do Congresso Nacional (Senado e Câmara Federal). As estaduais, das Assembléias Legislativas e as municipais, das Câmaras Municipais. (...) Atos do poder executivo Não são apenas as leis oriundas do Poder Legislativo que são fontes do Direito, mas também as normas provenientes do Poder Executivo. No período em que o Poder Executivo podia expedir decretos-leis, foram baixadas várias normas; entre as vigentes, está a CLT (Decreto-lei nº 5.452/43), que trata dos direitos trabalhistas dos empregados urbanos. Edita o Poder Executivo medidas provisórias, que têm força de lei no período de 60 dias (§ 3º do art. 62 da Constituição). Os decretos complementares às leis, regulamentando-as. Também são chamados de regulamentos de execução, porém não podem contrariar ou inovar seu conteúdo. Determina o inciso IV do art. 84 da Constituição que compete privativamente ao presidente da República expedir decretos e regulamento para a fiel execução da lei. Os Ministérios do Poder Executivo muitas vezes expedem portarias, ordens de serviço, instruções normativas, circulares etc., que visam ao esclarecimento da lei e a sua interpretação. Disposições contratuais Os contratos são leis entre as partes, fixando regras de conduta e até multas pelo inadimplemento de certa cláusula. São, portanto, fontes do Direito, como ocorre com o contrato de trabalho ou com qualquer contrato. Usos e costumes Na reiterada aplicação de certo costume pela sociedade é que se pode originar a norma legal. Antecedeu o costume à lei, pois os povos não conheciam a escrita. O direito costumeiro era ligado à religião e as modificações eram feitas muito lentamente. A Lei das XII Tábuas é uma espécie de consolidação de usos e costumes do povo do Lácio. Era esculpida na tábua, para conhecimento de todos, o que o poder do costume tinha revelado. A Lei da Boa Razão, de 18 de agosto de 1769, só admitia o costume se não fosse contra a lei, se fosse racional, não contrariasse os princípios da justiça, além de ter 100 anos de existência. Com o Código Civil de 1916, o costume passou a ter apenas função supletiva e interpretativa. Nos países que adotam o sistema da common law, não existe lei escrita. As normas são decorrentes dos costumes e da tradição. Há os precedentes judiciais que influenciam outras decisões. É um direito originário das decisões judiciais: judge made law. As sociedades modernas passaram a se utilizar das leis, sendo que o costume passou a ocupar posição secundária entre as fontes do Direito. Os romanos usavam a palavra consuetudo para significar costume. Empregavam também a palavra mores, que indica os costumes em geral e mores maiorum para designar os costumes dos antepassados. Em muitas legislações usam-se indistintamente as palavras uso e costume. Em outras legislações, utiliza-se a expressão usos e costumes, como na brasileira e na espanhola. O costume é a vontade social decorrente de uma prática reiterada, de certo hábito, de seu exercício. O uso transforma-se em costume quando a prática é obrigatória entre as pessoas. O uso envolve o elemento objetivo do costume, que é a reiteração em sua utilização. A observância do uso não é, porém, sempre garantida. No uso nem sempre há o elemento subjetivo da opinio iuris, da convicção de sua obrigatoriedade pelas pessoas. O costume tem valor normativo e existe sanção por seu descumprimento, que pode até mesmo ser moral. O uso não é fonte do direito objetivo, enquanto o costume tem essa característica, não podendo deixar de ser observado. Na Espanha, o uso de empresa é considerado como condição do contrato de trabalho ou serve de interpretação da declaração de vontade, mas não tem natureza de fonte (art.1º, n 3, do Código Civil). Distingue-se a lei do costume, pois a primeira é escrita. Surge o costume da prática de certa situação. Não tem forma prevista ou é escrito, nem é controlado. Perde sua vigência pelo desuso, pois esta é decorrência de sua eficácia (Miguel Reale, Lições preliminares de direito.23.ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 156-157). Não tem prazo de vigência. O costume é espontâneo. É elaborado e cumprido pelo grupo. A lei é decorrente do Poder Legislativo, tem um processo técnico para sua elaboração, sendo escrita. O costume não se promulga, é criado, formado no curso do tempo. Adapta-se o costume à realidade, correspondendo a ela, pois, do contrário, desaparece. A lei, de modo geral, é rígida diante da realidade social evolutiva, e perde, muitas vezes, correspondência com a realidade. Havendo um conflito entre a lei e o costume, prevalece a primeira. Se o ato deve ser observado por sua consciência, sujeita-se a uma regra moral. Se deve ser observado por todos, é uma regra jurídica ou costume com eficácia jurídica. Só haverá o costume jurídico quando: (a) seja habitual um comportamento durante certo período; (b) esse comportamento obrigue a consciência social. No costume há dois fatores: (a) objetivo: que é seu uso prolongado: (b) subjetivo: a convicção jurídica e a certeza de sua imprescindibilidade (opinio iuris est necessitatis). Torna-se o costume Direito quando as pessoas que o praticam reconhecem-lhe a obrigatoriedade, com se fosse uma lei. Não basta, porém, que haja um uso prolongado do costume, mas que seja observado pelas pessoas obrigatoriamente. Muitas vezes, é do costume que acaba surgindo a norma legal, servindo de base para a criação desta última regra. Classifica-se o costume em: (a) extra legem (fora da lei) ou praeter (além de) legem, que atua na hipótese de lacuna da lei (art. 4º da LICC); secundum legem, segundo o que dispõe a lei e que a interpreta; (c) contra legem, que contraria o disposto na norma legal. O costume ab- rogatório cria uma nova regra. O costume contra legem indica a não aplicação da lei. Quando a lei não é aplicada, chama-se desuso. Pode o costume ser proveniente de determinado lugar, onde é observado, ou de certo ofício ou profissão, tendo característica profissional. As funções do costume são: (a) supletiva ou integrativa, em que serve para suprir as lacunas da lei; (b) interpretativa, aclarando o conteúdo da norma legal. Dispõe o art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil que, sendo a lei omissão o juiz decidirá o caso de acordo com os costumes. O art. 8º da CLT permite que as autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais e contratuais, decidirão, conforme o caso, de acordo com os usos e costumes, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. Indica o art. 8º da CLT que os usos e costumes são fontes supletivas, na falta de disposições legais e contratuais sobre questões trabalhistas. Nos países da common law, o Direito costumeiro obriga quando os precedentes judiciais o consagram, como ocorre na Inglaterra. Os precedentes judiciais são usados para casos semelhantes que irão ser julgados. Doutrina e jurisprudência A doutrina e a jurisprudência também exercem importante papel no Direito, mas a verdadeira fonte é a legislação. Jurisprudência vem de iurisprudentia, que era o direito dos escritos dos iuris prudentes ou conhecedores do direito, não época clássica romana. As respostas dadas por estas pessoaseram consideradas como se fossem leis. Jurisprudência é o conjunto de reiteradas decisões dos tribunais sobre certa matéria. Súmula é o resumo dos tópicos principais das decisões predominantes do tribunais em determinada matéria. Não pode ser considerada como fonte do Direito a jurisprudência. Ela não se configura como regra obrigatória, mas apenas o caminho predominante em que os tribunais entendem de aplicar a lei, suprindo, inclusive, eventuais lacunas desta última. A exceção diz respeito à previsão do § 2° do art. 102 da Constituição quando menciona que ‘as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, não ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal’. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços de seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder a sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei (art. 103-A da Constituição) A sumula terá por objeto validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. O parágrafo único do art. 28 da Lei nº 9.868, de 10-11-1999, estabelece que a declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, tem eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal. A jurisprudência não cria o direito. Interpreta-o A doutrina também se constitui em valioso subsídio para a análise do Direito, mas também não se pode dizer que venha a ser uma de suas fontes, justamente porque os juízes não estão obrigados a observar a doutrina em suas decisões, tanto que a doutrina muitas vezes não é pacífica, tendo posicionamentos opostos. A analogia, a equidade, os princípios gerais de Direito e o Direito Comparado não constituem fontes formais e, sim, critérios de integração da norma jurídica. Materiais (Elementos da realidade social e valores que inspiram o ordenamento) MATERIAIS: Conjunto de fatores sociais e axiológicos (morais, éticos) que determinam a ação jus-política do legislador, do magistrado, etc. Há um pluralismo de fontes materiais do Direito pois, se este coexiste com a sociedade, tudo que pode influencia-la, pode influenciar as fontes materiais. As convicções, ideologias e as necessidades de cada povo (em certa época) atuam como fontes de produção do direito positivo pois condicionam o aparecimento e as transformações das normas jurídicas. As fontes materiais NÃO são o direito positivo, mas o conjunto de valores e de circunstâncias sociais que, constituindo o antecedente natural do direito, contribuem para a formação do conteúdo das normas jurídicas (direitopositivo) – VALORES. São elementos emergentes da própria realidade social e dos valores que inspiram um ordenamento jurídico. As fontes materiais ou reais não são unicamente fatores sociais – que abrangem os históricos, religiosos, naturais (clima, solo, raça, natureza geográfica do território, constituição anatômica e psicológica do homem), os demográficos, os higiênicos, os políticos, os econômicos e os morais (honestidade, decoro, decência, fidelidade, respeito ao próximo) – mas também os valores de cada época (ordem, segurança, paz social, justiça) dos quais fluem as normas jurídico-positivas. Consistem no conjunto de fatos (sociais) determinantes do conteúdo do direito. Nos valores que o direito procura realizar, sintetizados no conceito amplo de justiça Metodologia TEORIA DA NORMA CONSTITUCIONAL A teoria da norma constitucional cuida do estudo da aplicabilidade das normas constitucionais. José Afonso da Silva é o autor mais aclamado e acatado em se tratando da classificação das normas em relação a sua aplicabilidade. Par a o Mestre paulistano as normas constitucionais dividem-se em normas constitucionais de eficácia plena, contida e limitada. Normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações, que o legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular São, portanto, normas que não necessitam de regulamentação, sendo auto-aplicáveis ou auto-executáveis, como por exemplo, os remédios constitucionais: mandado de segurança, habeas corpus, mandado de injunção, habeas data Já as normas constitucionais de eficácia contida são aquelas que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nela enunciados Vale dizer, a matéria constitucional foi devidamente regulada, mas a sua aplicação está condicionada a prévia existência de outra lei específica que a discipline, assim previsto expressamente. Exemplo: “Art. 5 o, XIII: é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” Normas constitucionais de eficácia limitada são aquelas que apresentam “aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, porque somente incidem totalmente sobre esses interesses após uma normatividade ulterior que lhe desenvolva a aplicabilidade”. Isto quer dizer que esse tipo de norma constitucional, para entrar em vigor, vale dizer, para ter aplicabilidade prática, depende de uma lei posterior que a regulamente. Ao lado da classificação de Jos é Afonso da Silva, adotada pela maioria dos nossos doutrinadores, temos as chamadas “normas programáticas”, que não têm aplicação ou execução imediata, mas se constituem em comandos-regras, pois explicitam comandos-valor. Teoria do Poder Constituinte Podemos dizer que a elaboração geral da teoria do poder constituinte nasceu, na cultura europeia, com SIÉYÈS, pensador e revolucionário francês do século XVIII. A concepção de soberania nacional na época, assim como a distinção entre poder constituinte e poderes constituídos com poderes derivados do primeiro é contribuição deste pensador. Siéyès afirmava que objetivo ou o fim da assembleia representativa de uma nação (leia-se do povo, ou seja, dos que se sentem parte do Estado nacional) não pode ser outro senão aquele que ocorreria se a própria população pudesse se reunir e deliberar no mesmo lugar. Ele acreditava que não poderia haver tanta insensatez a ponto de alguém, ou um grupo, na assembleia geral, afirmar que os que ali estão reunidos devem tratar dos assuntos particulares de uma pessoa ou de determinado grupo. À conclusão da escola clássica francesa compreendendo a Constituição como um certificadoda vontade política do povo nacional, – sendo que para que isso ocorra deve ser produto de uma assembleia constituinte representativa da vontade deste povo – se opõe Hans Kelsen, que afirma que a Constituição provém de uma norma fundamental.2 Importante ressaltar, neste ponto, que os conceitos dos diversos autores serão influenciados pela compreensão da natureza do poder constituinte: seja um poder de fato ou um poder de direito. Outro aspecto que devemos compreender sobre o poder constituinte é relativo à sua amplitude. Alguns autores entendem que o poder constituinte se limita à criação originária do Direito enquanto outros compreendem que esse poder constituinte é bem mais amplo, incluindo uma criação derivada do Direito por meio da reforma do texto constitucional, adaptando-o aos processos de mudança sociocultural,3 e ainda o poder constituinte decorrente, característica essencial de uma federação, quando os entes federados recebem (ou permanecem com) parcelas de soberania, expressas nas competências constitucionais dos estados membros elaborarem suas constituições e os municípios suas leis orgânicas. Finalmente, um terceiro aspecto a ser compreendido, e sobre o qual também existem divergências, diz respeito à titularidade do poder constituinte. Teoria da Decisão Chama-se Teoria da Decisão o conjunto de teorias matemáticas, lógicas e filosóficas que se ocupam das decisões que tomam os indivíduos racionais, quer sejam indivíduos que atuam isoladamente, em competência entre eles ou em grupos. Ela foi desenvolvida na segunda metade do século XX sob a forma de estudo dos aspectos diferenciados da descrição e da resolução dos chamados problemas de decisão. A Teoria da Decisão encontra seu objeto nos problemas de decisão sobre os quais são dedicadas análises aprofundadas dos critérios selecionados para as escolhas e as suas soluções. Esta teoria pretende fornecer os instrumentos para apoiar a resolução de problemas de decisão e justificar sua escolha como racional. Embora os problemas de decisão sejam descritos em linguagem universal própria à Matemática, este tratamento formalizado não reduz o estudo dos problemas de decisão aos limites quantitativos de análise, embora a maior parte das decisões possa ser quantificada, tais como as decisões econômicas, porém ainda estas importam em variáveis imponderáveis como fatores comportamentais ou geopolíticos. De modo simples pode-se definir a Teoria da Decisão como aquela que organiza um número de métodos de estudo e resolução de problemas de decisão. Este conjunto metódico é propositadamente heterogêneo, tendo em vista as diferentes características e ambientações dos problemas enfrentados e a grande diversidade temática a que se dedica. SENTIDOS DE CONSTITUIÇÃO O conceito de constituição é um conceito em crise, pois inexiste consenso a seu respeito, pluralizando-se sob múltiplos enfoques. Nesse Ínterim, indagam os estudiosos: Seria uma constituição a soma do poder dos fatores reais que regem um país (sentido socio-lógico)? É viável compreender uma constituição tomando o vocábulo, apenas, nos sentidos lógico- jurídico e jurídico-positivo (sentido jurídico) ? Convém vislumbrarmos a constituição como o produto de uma decisão política fundamental (sentido político) ? Dessas perguntas defluem os sentidos ou acepções tradicionais, mediante as quais a doutrina procurou compreender o que é uma constituição. Constituição sociológica Defensor dessa concepção: Ferdinand Lassalle. Ferdinand Lassalle, em famosa conferência pronunciada no ano de 1863 para intelectuais e operários da antiga Prússia, salientou o caráter sociológico de uma constituição, a qual se apoiava nos fatores reais do poder (Qué es una constitución?, passim) . E o que seriam esses fatores reais do poder? Para Lassalle, eles designariam a força ativa de todas as leis da sociedade. Logo, uma constituição que não correspondesse a tais fatores reais não passaria de simples folha de papel. Uma constituição duradoura e boa - dizia Lassalle - seria aquela que equivalesse à constituição real, cujas raízes estariam fincadas nos fatores de poder predominantes no país. Constituição jurídica Defensor dessa concepção: Hans Kelsen. Hans Kelsen, de outro ângulo, examinou a constituição nos sentidos lógico- jurídico, jurídico- positivo, formal e material. Kelsen, judeu, filho de austríacos, nascido em Praga (1 1-10-1881) e falecido nos Estados Unidos da América (1 9-4- 1973), aos 92 anos de idade, aduziu que toda função do Estado é uma função de criação de normas jurídicas. O mestre de Viena vislumbrou o fenômeno jurídico em automovimento, ou seja, na sua perspectiva dinâmica. Demonstrou que as funções do Estado correspondem a um processo evolutivo e graduado de criação de normas jurídicas (Hans Kelsen, Teoria pura do direito, 1979) . Aquilo que a teoria tradicional assinala como sendo três Poderes ou funções distintas do Estado, para Kelsen nada mais é que a forma jurídica positiva de certos aspectos relativos ao processo de criação jurídica, particularmente importantes do ponto de vista político (Teoría ge-neral dei Estado, 1934) . Segundo Kelsen, inexiste uma justaposição de funções mais ou menos desconexas, como quer a teoria clássica, impulsionada por certas tendências políticas. O que há é uma hierarquia dos diferentes graus do processo criador do Direito. É nesse ponto que aparece a constituição em sentido jurídico- positivo. Ela surge como grau imediatamente inferior ao momento em que o legislador estabelece normas reguladoras da legislação mesma. Do ângulo lógico- jurídico, a "constituição" consigna a norma fundamental hipotética não positiva, pois sobre ela embasa-se o primeiro ato legislativo não determinado por nenhuma norma superior de Direito Positivo. Mas Kelsen, ao analisar a estrutura hierárquica da ordem ju rídica, também distinguiu os sentidos formal e material de uma constituição. Sentenciou que a constituição em sentido formal é certo documento solene, traduzido num conjunto de normas jurídicas que só podem ser modificadas mediante a observância de prescriões especiais, que têm por objetivo dificultar o processo reformador. Já a constituição em sentido material é constituída por preceitos que regulam a criação de normas jurídicas gerais (Hans Kelsen, Teoría gener al dei derecho y dei Estado, p. 147) . Alguns juristas, porém, chamam de constituição material o que Kelsen denominou formal,sendo a recíproca verdadeira (Renato Treves, Il fondamento filosofico della dottrina pura del diritto di Hans Kelsen, p. 13; Giuseppe Maggiore, Quel che resta del kelsenismo, p. 55-64) . Constituição política Defensor dessa concepção: Carl Schmitt. Noutro prisma, temos o sentido político de constituição. Carl Schmitt, seguindo a linha decisionista, defendia esse arquétipo de compreensão constitucional (Teoría de !a constit ución, p. 23 e s.). Conforme Schmitt a constituição é fruto de uma decisão política fundamental, é dizer, uma decisão de conjunto sobre o modo e a forma da unidade política. Ele admitia que só seria possível uma noção de constituição quando se distinguisse constituição de lei constitucional. Para os adeptos desse pensamento, constituição é o conjunto de normas que dizem respeito a uma decisão política fundamental, ou seja, aos direitos individuais, à vida democrática,aos órgãos do Estado e à organização do poder. Lei constitucional, por outro lado, é o que sobra, isto é, que não contém matéria correlata àquela decisão política fundamental . Em suma, tudo aquilo que, embora esteja previsto na constituição, não diga respeito a uma decisão política qualifica-se, apenas, como lei constitucional (Antonio José Brandão, Sobre o conceito de constituição polí tica, 19 90. Aula 4 será depois da aula 5 Conceito de Constituição e classificação Conceito e objeto Constituição, genericamente, é o ato de constituir, de estabelecer algo, ou ainda significa o modo pelo qual se constitui uma coisa. No mundo jurídico, a Constituição é a Lei Fundamental de um Estado e, desse modo, determinaria a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula as formas do Estado e de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a Constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado. O objeto maior da Constituição é limitar o poder do Estado sobre as pessoas e as instituições que o compõem Classificações Quanto ao conteúdo: material e formal Constituição material é o conjunto de regras constitucionais esparsas, codificadas ou não em um único documento. Já a Constituição, no seu conceito formal, consubstancia-se em um conteúdo normativo expresso, estabelecido pelo poder constituinte originário em um documento solene que contém um conjunto de regras jurídicas estruturais e organizadoras dos órgãos supremos do Estado. A diferença entre sentido material e sentido formal da Constituição é que nesta temos a existência estatal reduzida à sua expressão jurídica formalizada através da codificação solene das normas constitucionais. Quanto à forma: escrita e não escrita Constituição escrita é o conjunto de regras codificado e sistematizado em um único documento para fixar-se a organização fundamental. Caracteriza-se por ser a lei fundamental de um povo, colocada no ápice da pirâmide das normas legais, dotada de coercibilidade. Todas as Constituições brasileiras foram escritas, desde a Carta Imperial até a Constituição de 1988. Constituição não escrita é o conjunto de normas constitucionais esparsas, baseado nos costumes, na jurisprudência e em convenções. Exemplo: Constituição inglesa. Quanto à forma de elaboração: dogmáticas e históricas Constituição dogmática é aquela que se nos é apresentada de forma escrita e sistematizada, por um órgão constituinte, a partir de princípios e idéias fundamentais da teoria política e do direito dominante em uma determinada sociedade. Constituição histórica é aquela que resulta da história, dos costumes e da tradição de um povo. Quanto à origem: promulgadas (democráticas e populares) e outorgadas A Constituição promulgada, também chamada de democrática ou popular, é aquela fruto do trabalho de uma Assembléia Nacional Constituinte, eleita pelo povo com a finalidade da sua elaboração. Exemplos: Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988. Constituição outorgada é aquela estabelecida através da imposição do poder, do governante, sem a participação popular. Exemplos: Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e a Emenda Constitucional de 1969. Quanto à estabilidade: imutáveis, rígidas, flexíveis e semi-rígidas Constituição imutável é aquela onde é vedada qualquer modificação. Essa imutabilidade pode ser, em alguns casos, relativa, quando prevê a assim chamada limitação temporal, consistente em um prazo em que não se admitirá qualquer alteração do legislador constituinte reformador. Constituição rígida é aquela escrita, mas que pode ser alterada através de um processo legislativo mais solene e com maior grau de dificuldade do que aquele normalmente utilizado em outras espécies normativas. Exemplo: Constituição brasileira de 1988 (Ver artigo 60 – Emendas à Constituição). Constituição flexível é aquela em regra não escrita e que pode ser alterada pelo processo legislativo ordinário, sem qualquer outra exigência ou solenidade. Constituição semi-rígida ou semiflexível é aquela que pode ter algumas de suas regras alteradas pelo processo legislativo ordinário, enquanto outras somente podem sê-las por um processo legislativo mais solene e com maior grau de dificuldade. Alexandre de Moraes entende que a Constituição brasileira de 1988 é superrígida, porque “em regra poderá ser alterada por um processo legislativo diferenciado, mas, excepcionalmente, em alguns pontos é imutável (CF, art. 60, §4º – cláusulas pétreas)”. Quanto à sua extensão e finalidade: analíticas (dirigentes) e sintéticas (negativas, garantias) Constituição analítica é aquela que examina e regulamenta todos os assuntos relevantes à formação, destinação e funcionamento do Estado. É também chamada de Constituição dirigente porque define fins e programa de ação futura. Exemplo: Constituição brasileira de 1988. Constituição sintética é aquela que prevê somente os princípios e as normas gerais de organização do Estado e a limitação do seu poderatravés da fixação de direitos e garantias fundamentais para o cidadão. Exemplo: a Constituição dos EUA. Quanto ao sistema pode ser classificada em principiológica ou preceitua Na principiológica, conforme anotou Guilherme Pefia de Moraes, " ... predominam os princípios, identificados como normas constitucionais providas de alto grau de abstração, consagradores de valores, pelo que é necessária a mediação concretizadora, tal como a Constituição brasileira". Por seu turno, na preceitual " ... prevalecem as regras, individualizadas como normas constitucionais revestidas de pouco grau de abstração, concretizadoras de princípios, pelo que é possível a aplicação coercitiva, tal como a Constituição mexicana'' Quanto à função, as Constituições podem ser classificadas como provisórias ou definitivas. De acordo com Jorge Miranda, "chama-se de pré-Constituição, Constituição provisória ou, sob outra ótica, Constituição revolucionária ao conjunto de normas com a dupla finalidade de definição do regime de elaboração e aprovação da Constituição formal e de estruturação do poder político no interregno constitucional, a que se acrescenta a função de eliminação ou erradicação de resquícios do antigo regime. Contrapõe-se à Constituição definitiva ou de duração indefinida para o futuro como pretende ser a Constituição produto final do processo constituinte" Quanto ao objeto ou ideologia temos a Constituição liberal ou negativa e Constituição social ou positiva Constituição liberal ou negativa É exteriorização do triunfo da ideologia burguesa do século XVIII, onde tinha por objetivo a não intervenção do Estado não há previsão sobre ordem econômica. Constituição social ou positiva Correspondem a momento posterior da evoluçãodo constitucionalismo, em que passou a se exigir a intervenção do Estado atuando de forma positiva, como implementação dos direitos sociais e da ordem econômica Quanto ao modelo ou finalidade temos a Constituição garantia, a Constituição dirigente, a Constituição dirigente, plano, diretiva, programática, ideológico-programática, positiva, doutrinal Ou prospectiva e a Constituição-balanço Constituição garantia É a Constituição que tem por fim
Compartilhar