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WITTGESTEIN, ludwing - anotações sobre as cores

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Ludwig Wittgenstein
ANOTAÇÕES
SOBRE AS CORES
edições 70
PREFÁCIO DO ORGANIZADOR
A terceira parte deste volume reproduz a quase totalidade de 
um manuscrito escrito em Oxford na Primavera de 1950. Deixei 
de lado anotações sobre "dentro-fora", sobre Shakespeare e 
algumas observações gerais acerca da vida; Wittgenstein 
dissera que essas coisas não estavam inseridas no texto e serão 
publicadas noutro lugar.
A primeira parte foi escrita em Cambridge em Março de 
1951: é uma seleção e revisão de material anterior, com 
algumas adições.
Não é claro se a segunda parte tem uma data anterior ou 
posterior à terceira. Foi escrita em folhas soltas, que, além disso, 
continham ainda observações acerca da certeza. Wittgenstein 
deixou essas folhas no seu quarto na minha casa em Oxford, 
quando foi para a residência do Dr. Beven, em Cambridge, no 
mês de Fevereiro de 1951, à espera da morte.
Os seus testamenteiros literários decidiram que a totalidade 
do material podia muito bem ser publicada, uma vez que fornece 
um exemplo claro da primeira redação e da subsequente 
seleção. Muito do que não se escolheu é de grande interesse e 
este método de publicação implica o mínimo possível de 
intervenção editorial.
No estabelecimento do texto fui muito ajudado por um 
esmerado original datilografado de G. H. von Wright e também 
por um outro feito por Linda McAlister e Margarete Schättle. 
Estamos muito gratos também pela sua tradução, a qual, com 
revisões combinadas com o organizador, é aqui publicada. 
Gostaria também de agradecer ao D. L. Labowsky pela revisão 
do texto alemão.
G. E. M. Anscombe
I
1. Um jogo de linguagem: Referir se determinado corpo é mais 
claro ou mais escuro que um outro. — Mas agora existe um 
jogo semelhante: enunciar a relação entre a claridade de 
certos tons de cor. (Comparar com o seguinte: determinar a 
relação entre os comprimentos de duas varas — e a relação 
entre dois números.) A forma das proposições em ambos os 
jogos de linguagem é a mesma: "X é mais claro que Y". Mas, 
no primeiro, a relação é externa e a proposição temporal; no 
segundo, a relação é interna e a proposição atemporal.
2. Numa imagem em que um pedaço de papel branco recebe a 
sua claridade do céu azul, este é mais claro que o papel 
branco. E, no entanto, noutro sentido, o azul é a cor mais 
escura e o branco a cor mais clara. (Goethe). Na paleta, o 
branco é a cor mais clara.
3. Lichtenberg diz que apenas poucos homens teriam alguma 
vez visto o branco puro. Neste caso a maior parte utilizará a 
palavra de uma forma errada? E como aprendeu ele o uso 
correto? — Construiu um uso ideal a partir do uso comum. E 
isto não quer dizer um melhor, mas um uso que tinha sido 
refinado segundo uma certa orientação e em tal decurso 
alguma coisa foi levada aos extremos.
4. E, certamente, uma tal construção pode, por sua vez, 
ensinar-nos algo acerca do uso efetivo da palavra.
5. Se disser que um papel é branco puro e se a seu lado se 
puser neve, e aquele parecer agora cinzento, continuaria a 
estar certo quando, no seu contexto habitual, lhe chamasse 
branco e não cinzento claro. Poderia acontecer que eu 
usasse um conceito mais depurado de branco, (digamos), 
num laboratório (onde, por exemplo, eu também usaria um 
conceito mais depurado da determinação exata do tempo).
6. Que permite dizer que o verde é uma cor primária, não uma 
mistura de azul e amarelo? Seria correto dizer: "Isso só se 
poderá saber diretamente observando as cores"? Mas como 
sei que pelas palavras "cores primárias" quero significar o 
mesmo que outra pessoa que se disponha também a 
designar o verde como uma cor primária? Não — aqui a 
decisão pertence aos jogos de linguagem.
7. Propõe-se a alguém a tarefa de misturar um certo verde-
amarelo (ou verde-azulado) com um menos amarelado (ou 
azulado) — ou de o escolher entre um conjunto de amostras 
de cor. Um verde menos amarelado não é, contudo, um 
verde azulado (e vice-versa), e a tarefa consiste também em 
escolher ou em misturar um verde que não é amarelado nem 
azulado. Digo "ou em misturar" porque um verde não se 
torna simultaneamente azulado (1) e amarelado, pois é 
produzido por um tipo de mistura de amarelo e azul.
8. Os homens podiam ter o conceito de cores intermediárias ou 
mistas mesmo que nunca tivessem produzido cores através 
de mistura (em qualquer dos sentidos). Os seus jogos de 
linguagem apenas deveriam ter a ver com a procura e com a 
seleção de cores intermédias, ou mistas, já existentes.
9. Mesmo se o verde não for uma cor intermédia entre o 
amarelo e o azul, não poderia haver pessoas para as quais 
existe o amarelo-azulado, o verde-avermelhado? Quer dizer, 
pessoas cujos conceitos de cor sejam diversos dos nossos — 
porque, apesar de tudo, os conceitos de cor dos daltônicos 
também divergem dos das pessoas normais; e nem todos os 
desvios à norma terão de ser uma cegueira, um defeito.
10. Quem aprendeu a encontrar ou a obter por mistura um tom 
de uma cor que é mais amarelo, mais branco ou mais 
vermelho, etc., do que um dado tom de cor, isto é, quem 
conhece o conceito de cores intermédias, é (agora) solicitado 
a mostrar-nos um verde-avermelhado. Poderia, 
simplesmente, não entender a ordem e reagir talvez como 
se de início lhe tivesse sido pedido que apontasse figuras 
planas regulares com quatro cinco e seis ângulos e, depois, 
que apontasse uma figura plana regular de um ângulo. E se, 
sem hesitações, ele indicasse uma amostra de cor (digamos, 
para uma a que nós chamaríamos um castanho enegrecido)?
11. Alguém para quem o verde-avermelhado é familiar estaria 
em posição de produzir uma série de cores que comece no 
vermelho e termine no verde e que, talvez mesmo para nós, 
construa a transição contínua entre as duas. Descobriríamos 
então que, no ponto onde vemos sempre o mesmo tom, por 
exemplo, de castanho, ele vê umas vezes castanho e, outras 
1 "esverdeado", no manuscrito.
verde-avermelhado. Pode ser que, por exemplo, ele consiga 
diferenciar entre as cores de dois compostos químicos, que 
nos parecem ter a mesma cor, e chame castanha a uma e 
verde-avermelhada à outra.
12. Imagina tu que todos os homens, salvo raras exceções, 
fossem daltônicos quanto ao vermelho e ao verde. Ou outro 
caso ainda: todos os homens eram daltônicos quanto ao 
vermelho-verde ou ao azul-amarelo.
13. Imaginemos um povo de daltônicos, o que pode bem 
acontecer. Não teriam os mesmos conceitos de cor que nós. 
Supondo que falariam, por exemplo, alemão e teriam assim 
as palavras alemãs para as cores, usá-las-iam 
diferentemente de nós e aprenderiam a usá-las também de 
forma diferente.
Ou se tivessem uma língua estrangeira, ser-nos-ia difícil 
traduzir as suas palavras de cor para as nossas.
14. Mas mesmo que houvesse também pessoas para quem fosse 
natural usar as expressões "verde-avermelhado" ou "azul-
amarelado" de uma forma consequente e que mostrassem 
também faculdades, de que nós carecemos, não seríamos 
ainda forçados a reconhecer que vêem cores que nós não 
vemos. Não existe, afinal, um critério comum reconhecido 
para o que é uma cor, a menos que seja uma das nossas 
cores.
15. Em cada questão filosófica séria a incerteza mergulha até às 
raízes do problema.
Temos de estar sempre preparados para aprender algo de 
totalmente novo.
16. A descrição dos fenômenos do daltonismo pertence à 
psicologia: incumbir-lhe-a também a descrição de 
fenômenos da visão normal? A psicologia apenas descreve o 
desvio do daltonismo relativamente à visão normal.
17. Runge (na carta que Goethe reproduziu na sua Teoria das 
Cores) diz quehá cores transparentes e opacas. O branco 
seria uma cor opaca.
Isto mostra bem a indeterminação do conceito de cor ou, 
também, do de identidade da cor.
18. Pode ou não um vidro transparente e verde ter a mesma cor 
que um papel opaco? Se um tal vidro fosse representado 
numa pintura, na paleta as cores não seriam transparentes. 
Se quiséssemos dizer que a cor do vidro era transparente 
também na pintura, teríamos de chamar, ao conjunto das 
manchas de cores que representa o vidro, a sua cor.
19. Como é que algo pode ser verde transparente, mas não 
branco transparente?
A transparência e os reflexos existem apenas na dimensão 
da profundidade de uma imagem visual.
A impressão causada por um meio transparente é a de que 
alguma coisa está por detrás desse meio. Se a imagem 
visual for totalmente monocromática, não pode ser 
transparente.
20. Qualquer coisa branca, atrás de um meio transparente e 
colorido, surge com a cor do meio; qualquer coisa preta, 
aparece preta. De acordo com esta regra, o preto sobre um 
fundo branco teria de ver-se através de um meio "branco 
transparente" tal como através de um incolor.
21. Runge: "Se tivéssemos de pensar num laranja-azulado, num 
verde-avermelhado ou num violeta-amarelado, teríamos a 
mesma sensação que no caso de uma nortada de sudoeste... 
Tanto o branco como o preto são opacos ou sólidos... Água 
branca que seja pura é tão inconcebível como leite claro".
22. Não queremos encontrar uma teoria das cores (nem 
fisiológica nem psicológica), mas antes a lógica dos 
conceitos de cor. E esta leva a cabo o que, com frequência, 
injustamente se espera de uma teoria.
23. "Água branca é inconcebível, etc". Isto significa que não 
podemos descrever (por exemplo, pintar) como seria uma 
coisa branca e clara, e isto significa: não sabemos que 
descrição, representação, estas palavras requerem.
24. Não é imediatamente claro qual o vidro transparente que 
diríamos possuir a mesma cor que uma amostra de cor 
opaca. Se eu dissesse: "Estou à procura de um vidro desta 
cor" (apontando para um pedaço de papel colorido), isso 
significaria, aproximadamente, que qualquer coisa branca, 
observada através do vidro, se pareceria com a minha 
amostra
Se a amostra for cor-de-rosa, azul-celeste ou lilás, 
imaginaremos o vidro fosco, mas talvez também claro ou 
apenas levemente vermelho, azulado ou violeta.
25. No cinema, podemos por vezes observar os acontecimentos 
do filme como se estivessem atrás do ecrã e este fosse 
transparente como uma placa de vidro. O vidro tiraria a cor 
às coisas e apenas deixaria passar o branco, o cinzento e o 
preto. (Não estamos aqui a refletir em termos físicos, 
consideramos o branco e o preto cores tal como o verde e o 
vermelho). — Assim, podíamos pensar que estamos a 
imaginar uma placa de vidro que se haveria de chamar 
branca ou transparente. E, no entanto, não somos tentados a 
chamar-lhe assim: será que a analogia com uma placa verde 
transparente, por exemplo, falha em algum aspecto?
26. Talvez disséssemos acerca de uma placa verde: daria uma 
tonalidade verde às coisas colocadas atrás dela; sobretudo 
às coisas brancas.
27. Ao tratar-se de lógica, "Isto não se pode representar", quer 
dizer: não se sabe o que aqui se deve representar.
28. Diríamos que a minha placa fictícia de vidro no cinema daria 
às coisas, atrás dela, uma coloração branca?
29. A partir da regra da aparência de coisas coloridas e 
transparentes que extraíste do verde, vermelho, etc. 
transparentes, elabora a aparência do branco transparente! 
Por que é que isto não resulta?
30. Todo o meio colorido escurece o que através dele se vê; 
absorve a luz: E então, o meu vidro branco deve também 
escurecer? E tanto mais quanto mais grosso for? Assim, ele 
seria realmente um vidro escuro!
31. Por que não podemos imaginar um vidro branco 
transparente, — mesmo que, de fato, não exista nenhum? 
Onde é que falha a analogia com o vidro transparente 
colorido?
32. As proposições são frequentemente usadas na fronteira 
entre o lógico e o empírico. Por isso, o seu sentido desloca-se 
de um para o outro lado e surgem ora como expressões de 
normas, ora como expressões de experiência. (Não é 
certamente um fenômeno psíquico concomitante — é assim 
que imaginamos os "pensamentos" — mas o uso, que 
distingue a proposição lógica da empírica).
33. Falamos da «cor do ouro» e não queremos dizer amarelo. 
"Cor de ouro" é a propriedade de uma superfície que brilha 
ou resplandece.
34. Existem o vermelho intenso e o branco intenso: mas como 
seria a intensidade do castanho ou do cinzento? Por que não 
podemos conceber estas cores como um grau inferior do 
branco intenso?
35. "A luz é incolor". Se assim é, então é no sentido em que os 
números são incolores.
36. O que parece luminoso não parece cinzento. Tudo o que é 
cinzento parece iluminado.
37. O que se vê como luminoso não se vê como cinzento. Mas, 
certamente, pode ver-se como branco.
38. Poderia, então, ver-se uma coisa ora como francamente 
luminosa, ora como cinzenta.
39. Não digo (como fazem os psicólogos da forma) que a 
impressão do branco tem lugar de tal ou tal modo. Mas a 
questão é precisamente esta: qual é o significado desta 
expressão, qual a lógica do conceito?
40. O fato de não se poder conceber coisa alguma "cinzenta e 
luminosa" não pertence à física nem à psicologia da cor.
41. Dizem-me que uma substância arde com chama cinzenta. 
Não conheço as cores das chamas de todas as substâncias; 
por que não deveria, então, ser isto possível?
42. Fala-se de uma "luz vermelho-escura", mas não de uma "luz 
vermelho-negra".
43. Uma superfície branca e polida pode refletir as coisas. E se 
então cometêssemos um erro e o que nela aparece refletido 
estivesse realmente atrás e fosse visto através dela? A 
superfície seria então branca e transparente?
44. Falamos de um espelho "preto". Mas o que ele reflete, 
também escurece, obviamente, mas não parece preto; e 
aquilo que nele se vê não aparece como "sujo", mas como 
"profundo"!
45. A opacidade não é uma propriedade da cor branca; tão 
pouco a transparência é uma propriedade das cores verdes.
46. Não basta dizer que a palavra "branco" se usa apenas para a 
aparência de superfícies. Poderia ser que tivéssemos duas 
palavras para o "verde": uma apenas para as superfícies 
verdes, outra para os objetos verdes e transparentes. 
Permaneceria, pois, a questão de por que não existe uma 
palavra correspondente à palavra "branco", para a cor de 
uma coisa transparente.
47. Não deveríamos chamar branco a um meio, se um padrão 
preto e branco (um tabuleiro de xadrez) aparecer inalterado 
quando visto através dele, mesmo se esse meio reduzisse a 
intensidade das outras cores.
48. Não deveríamos designar por "branco" um brilho branco, e 
usar assim essa expressão apenas para aquilo que vemos 
como a cor de uma superfície.
49. De dois lugares à minha volta que eu, num sentido, vejo com 
a mesma cor, noutro sentido um pode parecer-me branco e 
o outro cinzento (...)
Para mim, num contexto, esta cor é branca sob uma má 
iluminação, noutro é cinzento sob uma luz intensa.
Eis proposições sobre os conceitos "branco" e "cinzento".
50. O balde que vejo à minha frente tem um brilho branco 
polido; seria absurdo chamar-lhe "cinzento" ou dizer "vejo 
realmente um cinzento claro". Mas tem uma luz muito 
brilhante que é muito mais luminosa que o resto da 
superfície, parte da qual está voltada para a luz e parte 
afastada dela, sem parecerter cores diferentes. (Parecer e 
não apenas ser.)
51. Não é a mesma coisa dizer: a impressão do branco ou do 
cinzento ocorre sob tal e tal condição (causal), e: é uma 
impressão num determinado contexto de cores e formas.
52. O branco, como cor de uma substância (no sentido em que 
dizemos que a neve é branca) é mais claro do que qualquer 
outra cor de substância; o preto é mais escuro. Neste caso, a 
cor é um escurecimento, e se a retirarmos totalmente à 
substância, o branco permanece e, por esta razão, podemos 
chamar-lhe "incolor".
53. Não existe, de fato, a fenomenologia, mas existem, sim, 
problemas fenomenológicos.
54. E fácil ver que nem todos os conceitos de cor são 
logicamente do mesmo gênero, por exemplo, a diferença 
entre os conceitos "cor de ouro" ou "cor de prata" e 
"amarelo" ou "cinzento".
55. Uma cor "brilha" no seu contexto. (Tal como os olhos apenas 
sorriem numa cara.) Uma cor "enegrecida" — o cinzento, por 
exemplo, — não "brilha".
56. As dificuldades que encontramos ao refletirmos sobre a 
natureza das cores (as mesmas com que Goethe quis 
confrontar-se na sua Teoria das cores), incrustam-se na 
indeterminarão do nosso conceito da igualdade da cor.
57. "Eu sinto X"
"Observo X"
X não representa o mesmo conceito na primeira e na 
segunda proposição, ainda que represente a mesma 
expressão verbal, por exemplo, para "uma dor". Pois, se 
perguntarmos "que tipo de dor?" no primeiro caso, poderia 
responder: "Este tipo" e, por exemplo, picaria com uma 
agulha quem fez a pergunta. No segundo caso, tenho de 
responder de maneira diferente à mesma pergunta; por 
exemplo, "a dor no meu pé".
Na segunda proposição, X poderia representar também "a 
minha dor", mas não na primeira.
58. Imagine-se alguém que aponta para um sítio na íris de um 
olho de Rembrandt dizendo: "As paredes do meu quarto 
deviam ser pintadas com esta cor".
59. Pinto a vista da minha janela; pinto com ocre um ponto 
particular, determinado pela sua posição na arquitetura de 
uma casa. E desta cor que vejo esse ponto. Isto não significa 
que eu veja aqui a cor do ocre, pois, neste contexto, este 
pigmento pode aparecer mais claro, mais escuro, mais 
avermelhado, (etc). "Vejo este ponto da maneira como aqui 
o pintei com ocre, nomeadamente, como um amarelo forte 
avermelhado."
E se alguém me pedisse para reproduzir exatamente o 
mesmo tom de cor que ali vejo? — Como seria ele descrito e 
determinado? Poderiam pedir-me para fazer uma amostra de 
cor (um pedaço retangular de papel desta cor). Não digo que 
tal comparação seja completamente desinteressante, mas 
mostra-nos que não é claro, à partida, como se comparam 
tons de cor e o que significa "identidade de cor".
60. Imagine-se uma pintura cortada em pequenos fragmentos, 
quase monocromáticos, que se usam depois como peças de 
um quebra-cabeças. Mesmo quando uma destas peças não é 
monocromática não deve indicar qualquer figura espacial, 
mas aparecer como um simples fragmento colorido. Apenas 
em conexão com as outras peças seria um pouco de céu 
azul, uma sombra, um brilho, transparente ou opaco, etc. 
Mostrar-nos-ão estas peças individuais as cores reais das 
partes da pintura?
61. Tendemos para acreditar que a análise dos nossos conceitos 
de cor nos conduziria, por último, às cores dos lugares do 
nosso campo visual, que são independentes de qualquer 
interpretação espacial ou física; aqui não há nem luz nem 
sombra, nem brilho, etc, etc.
62. O fato de eu poder dizer que este lugar do meu campo visual 
é verde cinzento não significa que saiba como se deveria 
chamar uma reprodução exata do tom desta cor.
63. Observo, numa fotografia (não colorida), um homem com 
cabelos escuros e um rapaz com cabelo louro alisado para 
trás; estão em frente de uma espécie de torno que é feito, 
parcialmente, de peças de fundição pintadas de preto e em 
parte de eixos, engrenagens, etc., ao lado está uma grade 
de ferro claro galvanizado. Vejo cor de ferro as superfícies 
polidas do ferro, louro, o cabelo do rapaz, a grade com cor 
de zinco, apesar do fato de tudo me ser mostrado nos tons 
claros e escuros do papel fotográfico.
64. Mas será que vejo realmente os cabelos louros na fotografia? 
E o que é que se poderá dizer em favor disto? Que reação do 
observador deverá mostrar que ele vê louros os cabelos, e 
que não conclui que são louros apenas a partir dos tons da 
fotografia? — Se me tivessem exigido que descrevesse esta 
fotografia, tê-lo-ia feito da forma mais direta com estas 
palavras. Se esta forma de descrição não fosse aceite, então, 
teria de arranjar uma outra.
65. Se a própria palavra "louro" pudesse suscitar a impressão de 
louro, então seria mais fácil ao cabelo fotografado parecer 
louro.
66. "Não poderemos nós imaginar certos homens com uma 
geometria da cor diferente da nossa?" Claro que isto 
significa: Não poderemos nós imaginar homens que têm 
conceitos de cor diferentes dos nossos? E isto, por sua vez, 
quer dizer, não poderemos nós imaginar homens que não 
têm os nossos conceitos de cor, mas que têm conceitos, de 
tal forma próximos dos nossos, que também lhes 
chamaríamos conceitos de cor?"
67. Olhem para o vosso quarto, à noite, quando já dificilmente 
se distinguem as cores — e agora acendam a luz e pintem o 
que viram antes, na semi-obscuridade. — Como comparam 
as cores tal como estão na pintura com as do quarto semi-
obscurecido?
68. Quando nos perguntam, "Que significam as palavras 
'vermelho', 'azul', 'preto', 'branco'," podemos imediatamente 
apontar para coisas que têm essas cores, — mas a nossa 
capacidade para explicar o significado destas palavras não 
vai mais além! De resto, nem temos uma idéia do seu uso, 
ou então uma idéia muito rudimentar e, em parte, falsa.
69. Posso imaginar um lógico que nos diz ter chegado realmente 
a ser capaz de pensar "2x2 = 4".
70. A teoria de Goethe acerca da constituição das cores do 
espectro não é uma teoria que se revelou insatisfatória, mais 
exatamente, não é teoria alguma. Com ela nada se pode 
prever. E, antes, um vago esquema de pensamento, à 
semelhança do que encontramos na psicologia de James. 
Nem sequer existe um experimentum cruas que decida a 
favor ou contra a teoria.
71. Quem concorda com Goethe, acredita que Goethe 
reconheceu corretamente a natureza da cor. E aqui a 
natureza não é o que resulta da experimentação, mas reside 
no conceito de cor.
72. Uma coisa era, para Goethe, irrefutavelmente clara: nada de 
brilhante pode provir da escuridão — tal como mais e mais 
sombras não produzem luz. Isto poderia exprimir-se da 
maneira seguinte: podemos chamar lilás a um azul 
esbranquiçado e avermelhado, ou castanho a um amarelo 
enegrecido e avermelhado — mas a um branco, não 
podemos chamar azul amarelado e avermelhado e 
esverdeado, ou algo semelhante. O branco não é uma cor 
entre as outras cores. E isto é uma coisa que a 
experimentação com o espectro não confirma nem refuta. 
Contudo, também seria errado dizer: "olha para as cores na 
natureza e verás que assim é". O olhar nada ensina sobre os 
conceitos de cor.
73. Não consigo imaginar que as anotações de Goethe sobre as 
características e as combinações das cores pudessem ter 
alguma utilidade para um pintor, e quase nenhuma teriam 
para um decorador.
A cor de um olho injetado de sangue talvez tenha um 
esplêndido efeito como cor de uma colgadura. Quem fala da 
característica de uma cor, pensa sempre apenas numa 
forma correta da sua utilização.
74. Se houvesse uma teoria da harmonia dascores, talvez 
começasse pela divisão das cores em grupos, proibindo 
certas misturas ou combinações e permitindo outras. E, tal 
como no ensino da harmonia, as suas regras teriam 
fundamento.
75. Talvez haja deficientes mentais a quem não se pode ensinar 
o conceito "amanhã", ou o conceito "eu", nem a leitura das 
horas. Não aprenderiam a utilização da palavra "amanhã", 
etc.
Mas, então, a quem posso eu descrever o que eles não 
podem aprender? Somente àquele que o aprendeu? Poderei 
contar a "A" que "B" não pode aprender matemáticas 
superiores, se "A" as não dominar? A palavra "xadrez" não 
será entendida de uma forma diferente por aquele que 
aprendeu o jogo e por aquele que o não aprendeu? Há 
diferenças entre a utilização da palavra que o primeiro pode 
fazer e a utilização que o segundo aprendeu.
76. Descrever um jogo significará sempre: dar uma descrição 
pela qual alguém o pode aprender?
77. Terão a pessoa com a visão normal e o daltônico o mesmo 
conceito de daltonismo? O daltônico não só não pode 
aprender a utilizar as nossas palavras para cores, mas tão 
pouco pode aprender a utilizar a palavra "daltônico" como o 
faz uma pessoa normal. Não pode, por exemplo, determinar 
o daltonismo da mesma maneira que esta última.
78. Poderia haver homens que não compreendessem a nossa 
maneira de dizer que o cor-de-laranja é um amarelo 
avermelhado e que apenas se dispusessem a dizer algo de 
semelhante em casos onde a transição do amarelo para o 
vermelho, passando pelo cor-de-laranja, ocorresse diante 
dos seus olhos. Para eles, a expressão "verde avermelhado" 
não apresentaria dificuldades.
79. A psicologia descreve os fenômenos da visão — A quem os 
descreve ela? — Que ignorância pode esta descrição 
eliminar?
80. A psicologia descreve o que foi observado.
81. Poderá alguém descrever a um cego o que é ver? — 
Certamente. O cego aprenderia alguma coisa sobre a 
diferença entre a cegueira e a visão. Mas a questão estava 
mal posta; como se ver fosse uma atividade e houvesse uma 
descrição para ela.
82. E claro que posso observar o daltonismo; E porque não a 
visão? — Posso observar os juízos sobre as cores que um 
daltônico — ou também uma pessoa com a visão normal — 
emite sob certas circunstâncias.
83. Diz-se, por vezes (equivocamente): "Só eu posso saber o que 
vejo". Mas não: "Só eu posso saber se sou daltônico" (nem 
ainda: "Só eu posso saber se vejo ou se sou cego.")
84. A afirmação: "Vejo um círculo vermelho" e a afirmação "vejo 
(não sou cego)" não são logicamente do mesmo tipo. Como 
se prova a verdade da primeira e a verdade da segunda?
85. Mas, sendo cego, poderei acreditar que vejo, ou, vendo, 
poderei acreditar que sou cego?
86. Poderá um manual de psicologia conter a proposição, "há 
homens que vêem"? Será isto errado? Mas a quem é que 
aqui se comunica alguma coisa?
87. Como pode ser absurdo dizer "há homens que vêem", se não 
é absurdo dizer: "há homens que são cegos"?
Mas, suponhamos que nunca ouvi falar da existência de 
homens cegos e que, um dia, alguém me dizia, "há homens 
que não vêem", teria eu de compreender imediatamente 
esta proposição? Se eu próprio não sou cego, terei de 
possuir consciência da minha aptidão para ver, e de que, por 
conseguinte, pode haver pessoas que a não têm?
88. Se o psicólogo nos ensina, "há homens que vêem" podemos 
então perguntar-lhe: "E o que chama aos 'homens que 
vêem'?" A resposta teria de ser: homens que sob tais e tais 
circunstâncias se comportam desta e desta maneira.
II
1. Poderíamos falar da impressão de cor de uma superfície sem 
com isso querer significar a cor, mas antes a composição dos 
tons de cor, de que resulta a impressão, por exemplo, de 
uma superfície castanha.
2. A mistura do branco remove o colorido da cor: mas a mistura 
do amarelo não o faz. — E este o fundamento da proposição 
de que não existe um branco claro e transparente?
3. Mas que proposição é esta que afirma que a mistura do 
branco remove o colorido da cor?
Tal como a entendo, não pode ser uma proposição da física. 
Neste caso, a tentação para acreditar numa fenomenologia, 
qualquer coisa a meio caminho entre a ciência e a lógica, é 
muito grande.
4. Qual é, então, a natureza essencial da nebulosidade? As 
coisas transparentes vermelhas e amarelas não são 
nebulosas; o branco é nebuloso.
5. Será nebuloso o que vela as formas e as oculta porque 
ofusca a luz e a sombra?
6. Não é o branco o que suprime a escuridão?
7. Fala-se, de fato, de "vidro negro" — Mas quem vê como 
vermelha uma superfície branca através de um vidro 
vermelho, não a vê negra através de um vidro "negro".
8. As pessoas usam frequentemente lentes coloridas nos óculos 
para ver mais claramente; mas nunca usam lentes 
nebulosas.
9. "A mistura com o branco ofusca a diferença entre a luz e a 
escuridão, a luz e a sombra"; será que isto define mais 
ajustada mente os conceitos? Acredito que sim.
10. Se alguém não descobrisse isto, não seria por ter 
experimentado o contrário, mas antes porque nós não o 
teríamos compreendido.
11. Em filosofia, deve perguntar-se sempre: "Como é que 
devemos olhar para este problema de modo a tornar 
possível a sua solução?"
12. Porque aqui (quando observo as cores, por exemplo) há 
apenas uma incapacidade para dispor os conceitos segundo 
alguma ordem. Estamos aí como o boi diante da porta do 
estábulo pintada de fresco.
13. Pensem como é que um artista representaria a vista através 
de um vidro vermelho. O que resulta é uma pintura de 
superfície complicada. Isto é, a pintura conteria uma série de 
gradações de vermelho e de outras cores. E, analogamente, 
se se visse através de um vidro azul.
E se se pintar um quadro tal que se tornam brancos os sítios 
onde anteriormente alguma coisa era azulada ou 
avermelhada?
14. A diferença aqui será que as cores permanecem saturadas 
como antes quando se lhes faz incidir uma luz vermelha, — 
mas já não com uma luz esbranquiçada?
Mas não se fala sequer de uma "luz esbranquiçada".
15. Se tudo parecesse esbranquiçado sob uma luz particular, 
não concluiríamos, então, que a fonte de luz tinha de 
parecer branca.
16. A análise fenomenológica (tal como Goethe, por exemplo, a 
queria) é uma análise de conceitos e não pode concordar 
nem contradizer a física.
17. E se algures ocorrer ainda a situação: a luz de um corpo 
branco--quente faz as coisas surgir iluminadas mas 
esbranquiçadas e fracamente coloridas; a luz de um corpo 
vermelho-quente falas surgir avermelhadas, etc.? (Só uma 
fonte de luz invisível, não perceptível para os olhos, as deixa 
irradiar cores).
18. Sim, suponhamos mesmo que as coisas só irradiam a sua cor 
quando, no nosso sentido, nenhuma luz incide nelas, 
quando, por exemplo, o céu fosse negro. Não poderíamos 
então dizer: Só sob uma luz negra é que aparecem as cores 
integrais?
19. Mas não haveria aqui uma contradição?
20. Não vejo que as cores dos corpos reflitam luz para os meus 
olhos.
III
24.3.50
1. O branco tem de ser a cor mais clara numa imagem.
2. Na Tricolor, por exemplo, o branco não pode ser mais escuro 
que o azul e o vermelho.
3. Temos aqui uma espécie de matemática da cor.
26.3
4. Mas o amarelo puro é também mais claro que o vermelho ou 
azul puros e saturados. E será isto uma proposição da 
experiência? — Não sei, por exemplo, se o vermelho (isto é, 
o vermelho puro) é mais claro ou escuro que o azul; para o 
poder dizer, deveria tê-los visto. E ainda que os tivesse visto, 
saberia a resposta de uma vez por todas,como o resultado 
de um cálculo aritmético.
Onde é que se separam aqui a lógica e a experiência 
(empiria)?
5. A palavra, cujo sentido não é claro, é "pura" ou "saturada." 
Como aprendemos o seu significado? Como podemos saber 
se os homens querem dizer a mesma coisa com ela? Chamo 
"saturada" a uma cor (por exemplo vermelho), se não 
contém nem preto nem branco, se não é enegrecida nem 
esbranquiçada.
Mas esta explicação serve apenas para uma compreensão 
preliminar.
6. Que importância tem o conceito de cor saturada?
7. Um fato é aqui obviamente importante: nomeadamente, o 
de que os homens reservam um local especial para um 
ponto no círculo das cores; não têm de se esforçar por 
confirmar onde está o ponto, mas encontram-no sempre com 
facilidade.
8. Haverá uma "história natural das cores", e até que ponto 
será ela análoga a uma história natural das plantas? Não é 
esta última temporal e a outra atemporal?
9. Se dissermos que a proposição "o amarelo saturado é mais 
claro que o azul saturado" não pertence ao domínio da 
psicologia (porque só assim poderia ser história natural) — 
isto significa que não a utilizamos como proposição de uma 
história natural. A questão é, nesse caso: como é a outra, a 
utilização atemporal?
10. Só assim se podem distinguir as proposições da "matemática 
da cor" das proposições científicas naturais.
11. Ou ainda: a questão é esta: podemos nós (claramente) 
distinguir aqui duas aplicações?
12. Se imprimires dois tons de cor A e B na tua memória e A for 
mais claro que B e se, mais tarde, chamares a um tom "A" e 
a um outro "B", mas aquele a que chamaste "B" for mais 
claro que "A", chamaste os tons de uma forma errada, (isto é 
lógica).
13. Seja o conceito de cor "saturada" tal que X saturado não 
pode ser, uma vez, mais claro que Y saturado e, outra vez, 
mais escuro; isto é, não faz sentido dizer que é mais claro 
numa altura e mais escuro noutra. Isto determina o conceito 
e pertence novamente à lógica.
A utilidade de um conceito assim determinado não é 
decidida aqui.
14. Este conceito poderia ter apenas uma utilização muito 
limitada. E isto simplesmente porque aquilo a que 
chamamos habitualmente X saturado é uma impressão de 
cor num âmbito determinado. E comparável com "X 
transparente".
15. Dá exemplos de jogos de linguagem simples com o conceito 
de "cores saturadas".
16. Admito que certos compostos químicos, por exemplo, os sais 
de um determinado ácido teriam cores saturadas e poderiam 
ser reconhecidos por elas.
17. Ou que se poderia adivinhar a proveniência de certas flores 
de acordo com a saturação das suas cores; de tal forma que 
seria possível dizer, por exemplo, "esta tem de ser uma flor 
alpina, porque a sua cor é tão intensa."
18. Mas, nesse caso, poderia haver vermelho saturado mais 
claro e mais escuro, etc.
19. E não terei eu de admitir que as proposições se usam 
freqüentemente na fronteira entre a lógica e a empiria, e 
que então o seu sentido se desloca para trás e para a frente 
e que elas são ora expressões de normas, ora tratadas como 
expressões de experiência?
Não é o "pensamento" (um fenômeno psíquico 
concomitante), mas o seu uso (algo que o rodeia) que 
distingue as proposições lógicas das empíricas.
20. A imagem errada confunde, a imagem certa ajuda.
21. A questão será, por exemplo: poderá ensinar-se o significado 
de "verde saturado" ensinando o significado de "vermelho 
saturado", ou "amarelo", ou "azul"?
22. O brilho, a "luz brilhante", não pode ser preto. Se, numa 
imagem, eu substituísse a claridade da luz brilhante pela 
escuridão, não obteria luzes negras: E não é só porque esta 
é uma e a única forma de ocorrência da luz brilhante na 
natureza, mas também porque, neste caso, reagimos a uma 
luz de uma certa maneira. Uma bandeira pode ser amarela e 
preta, e outra amarela e branca.
23. A transparência, quando pintada numa imagem, produz um 
efeito diferente do da opacidade.
24. Porque será impossível o branco transparente? — Pinta um 
corpo vermelho transparente e, depois, substitui o vermelho 
por branco!
O preto e o branco têm algo a ver com este jogo na 
transferência de uma cor.
Substitui o vermelho pelo branco e jamais terás a impressão 
de transparência; tal como jamais terás a impressão de 
solidez se mudares deste desenho para este .
27.3
25. Por que não será uma cor saturada simplesmente: esta, ou 
esta, ou esta, ou esta? — Porque a reconhecemos ou 
determinamos de um modo diferente.
26. O que nos pode tornar desconfiados é o fato de alguns terem 
pensado que reconheceram três cores primárias, outros 
quatro. Alguns pensaram que o verde é uma cor intermédia 
entre o azul e o amarelo, o que a mim, por exemplo, me 
parece errado, mesmo independentemente de qualquer 
experiência. O azul e o amarelo, tal como o vermelho e o 
verde, parecem-me opostos — mas talvez simplesmente 
porque estou habituado a vê-los em pontos opostos no 
círculo das cores.
Sim, com efeito, que importância tem para mim (de uma 
forma, por assim dizer, psicológica) a questão acerca do 
número das Cores Puras?
27. Parece-me ver algo que tem uma importaria lógica: se 
dissermos que o verde é uma cor intermédia entre o azul e o 
amarelo, devemos então poder dizer também, por exemplo, 
o que é um amarelo azulado e fraco, ou um azul levemente 
amarelado. E, para mim, estas expressões não significam 
absolutamente nada. Mas não poderiam elas significar 
alguma coisa para outrem?
Se alguém me descrevesse a cor de uma parede dizendo: 
"era um amarelo levemente avermelhado", poderia percebê-
lo de forma a poder escolher aproximadamente a cor certa 
entre um número de amostras. Mas, se alguém descrevesse 
a cor desta maneira: "era um amarelo levemente azulado", 
não poderia mostrar-lhe uma tal amostra. — Aqui costuma 
dizer-se que, num caso, podemos imaginar a cor e, no outro, 
não. — Mas esta expressão conduz ao erro, pois não há 
qualquer necessidade de pensar uma imagem que surge 
perante a visão interior.
28. Tal como o ouvido absoluto e pessoas que não o possuem, 
da mesma maneira podemos supor que haverá um grande 
número de disposições diferentes no que respeita à 
observação das cores.
Compara, por exemplo, o conceito de "cor saturada" com o 
de "cor quente". Terá toda a gente que conhecer cores 
"quentes" e "frias"? A não ser que lhes tenha sido ensinado 
simplesmente a designar desta ou daquela forma uma 
determinada disjunção de cores.
Não poderia haver um pintor, por exemplo, que não tivesse 
qualquer conceito de "quatro cores puras" e achasse mesmo 
ridículo falar de uma tal coisa?
29. Ou, por outras palavras: que perderiam os homens para 
quem este conceito não fosse natural?
30. Faz esta pergunta: Sabes o que significa "avermelhado"? E 
como mostrarias que o sabes?
Jogos de linguagem: "Aponta para um amarelo avermelhado 
(branco, azul, castanho)!" "Aponta para um ainda mais 
avermelhado!" — "Para um menos avermelhado!", etc. 
Agora que dominas estes jogos, pedir-te-ão: "Aponta para 
um verde ligeiramente avermelhado". Admite que há dois 
casos: ou apontas para uma cor (e sempre a mesma), talvez 
para um verde azeitona — ou dizes: "Não sei o que isso quer 
dizer", ou "isso não existe."
Poderíamos ser levados a dizer que alguém tem um conceito 
de cor diferente de outrem, ou um outro conceito de "...ado".
31. Falamos de "daltonismo" e chamamos-lhe defeito. Mas 
facilmente poderia haver algumas capacidades diferentes, 
nenhuma delas manifestamente inferior às outras — e 
lembre-se também que um homem pode atravessara vida 
sem ter notado o seu daltonismo, até que uma ocasião 
especial o revele.
32. E então possível que homens diferentes tenham conceitos 
de cor diferentes? — Parcialmente diferentes. Diferentes a 
respeito de uma ou outra característica. E isto prejudicará o 
seu entendimento em maior ou menor grau, mas muitas 
vezes, mal o fará.
33. Gostaria de fazer agora uma observação geral sobre a 
natureza dos problemas filosóficos. A falta de clareza na 
filosofia é atormentadora. E sentida como vergonhosa. 
Sentimos: Não nos conhecemos da maneira como nos 
deveríamos conhecer. E, no entanto, não é assim. Podemos 
muito bem viver sem estas distinções, e também sem nos 
conhecermos.
34. Qual é a relação entre a mistura de cores e as "cores 
intermédias"? Claro que podemos falar de cores intermédias 
num jogo de linguagem, no qual não produzimos cores por 
mistura e apenas selecionamos tons existentes.
Não obstante, uma utilização do conceito de cor intermédia 
é reconhecer a mistura de cores que produz um determinado 
tom.
35. Lichtenberg diz que muito poucos homens teriam visto 
alguma vez o branco puro. Nesse caso, usará a maioria a 
palavra de uma forma errada? — E como aprendeu ele o uso 
correto? Pelo contrário: Ele construiu um uso ideal a partir do 
uso executivo. Tal como construímos uma geometria. E 
"ideal" não significa aqui uma coisa especialmente boa, mas 
apenas algo que foi levado aos extremos.
36. E, certamente, uma tal construção pode, por sua vez, 
ensinar--nos algo sobre a sua utilização efetiva.
E poderíamos também introduzir um novo conceito de 
"branco puro", para fins científicos, por exemplo (um novo 
conceito assim corresponderia, digamos, ao conceito 
químico de "sal").
37. Até que ponto podemos comparar o branco e o preto com o 
amarelo, o vermelho e o azul, e até que ponto não podemos?
Se tivéssemos um papel de parede quadriculado com 
quadrados vermelhos, azuis, verdes, amarelos, pretos e 
brancos, não teríamos tendência para dizer que ele é feito 
de duas partes distintas, uma colorida e outra, digamos, 
incolor.
38. Suponhamos que os homens não contrastam as figuras 
coloridas com as que são a preto e branco, mas antes com 
aquelas que são a azul e branco; isto é: Poderá o azul ser 
sentido (quer dizer usado) como se não fosse uma cor 
genuína
39. De acordo com a minha sensação, o azul suprime o amarelo, 
— mas por que não haveria eu de chamar a um amarelo 
esverdeado um "amarelo azulado", e verde a uma cor 
intermédia entre o azul e o amarelo, e verde fortemente 
azulado a um azul um tanto amarelado?
40. Num amarelo esverdeado, não noto nada de azul. — Para 
mim, o verde é uma paragem especial no percurso das cores 
do azul até ao amarelo; e o vermelho é outra.
41. Que vantagem teria sobre mim alguém que conhecesse uma 
via direta do azul até ao amarelo? E como se demonstra que 
não conheço um tal caminho? — Dependerá tudo dos meus 
jogos de linguagem com a forma "...ado"?
42. Teremos, por conseguinte, de perguntar a nós próprios: que 
seria se houvesse homens que conhecessem cores 
diferentes daquelas que os de visão normal conhecem? Em 
geral, esta pergunta não admitirá uma resposta exata. Não é 
imediatamente claro que tenhamos de dizer que esta 
espécie de gente anormal conhece outras cores. Não há, 
afinal, um critério comumente aceite para o que seja uma 
cor, a menos que seja uma das nossas cores.
E, no entanto, poderíamos imaginar circunstâncias sob as 
quais diríamos: "Esta gente vê outras cores, além das 
nossas".
28.3
43. Em filosofia, não basta aprender o que tem de se dizer em 
todos os casos sobre um objeto, mas também como dele 
devemos falar. Temos sempre de começar por aprender o 
método de o abordar.
44. Ou uma vez mais: em todo o problema sério, a incerteza 
estende-se até às raízes do problema.
45. Há que estar sempre preparado para aprender algo de 
totalmente novo.
46. Entre cores: afinidade e contraste. (E isto é lógica.)
47. Que quer dizer: "O castanho é aparentado ao amarelo?"
48. Quererá dizer que a tarefa de escolher um amarelo 
ligeiramente acastanhado seria prontamente entendida? (Ou 
um castanho mais amarelado).
49. A mediação matizada entre duas cores.
50. "O amarelo assemelha-se mais ao vermelho que ao azul."
51. A diferença entre ouro-vermelho escuro e amarelo-vermelho 
escuro. — O ouro vale aqui como uma cor.
52. É um fato que estamos em posição de nos entendermos 
sobre as cores das coisas a partir de seis nomes de cores. E 
também que não usamos as palavras "verde-avermelhado", 
"azul-amarelado", etc.
53. Descrição de um quebra-cabeças através da descrição das 
peças. Admito que estas peças nunca exibem uma forma 
tridimensional, mas aparecem apenas como pequenos 
pedaços lisos, multicores ou não. Só quando postos 
juntamente é que alguma coisa se torna numa "sombra", um 
"brilho", uma "superfície monocromática côncava ou 
convexa", etc.
54. Posso dizer: Este homem não distingue o vermelho do verde. 
Mas poderei dizer que nós, pessoas normais, distinguimos o 
vermelho do verde? Poderemos, contudo, dizer "vejo aqui 
duas cores, ele vê apenas uma".
55. A descrição dos fenômenos do daltonismo faz parte da 
psicologia. Nesse caso, também os fenômenos da visão 
normal das cores? Decerto — Mas quais os pressupostos de 
uma tal descrição e para quem é ela uma descrição? Ou 
melhor: Qual o meio de que ela se serve? Quando digo, "o 
que é que isto pressupõe" isso significa "como se deve reagir 
a esta descrição para a entendermos?" Quem descreve os 
fenômenos do daltonismo num livro, descreve-os com os 
conceitos dos que vêem.
56. Este papel é mais claro em alguns sítios do que noutros; mas 
posso dizer que é branco só em alguns sítios e cinzento 
noutros? — Sim, se o pintasse, misturaria um cinzento para 
as partes mais escuras.
Uma cor de superfície é uma qualidade de uma superfície. 
Poderíamos, por conseguinte, ser tentados a chamar-lhe um 
conceito de cor pura. Mas, então, o que seria um puro?
57. Não é correto dizer que numa figura o branco tem sempre de 
ser a cor mais clara. Mas terá de ser a mais clara numa 
superfície onde se combinam manchas de cor. Um quadro 
poderia mostrar, na sombra, um livro feito de papel branco 
e, mais luminoso do que este, um céu brilhante amarelado, 
ou azulado, ou avermelhado. Mas se eu descrever uma 
superfície plana, um tapete, por exemplo, dizendo que é 
constituído por quadrados amarelos, vermelhos, azuis, 
brancos e pretos puros, então, os amarelos não poderiam ser 
mais claros que os brancos e os vermelhos não poderiam ser 
mais claros que os amarelos.
Eis por que, para Goethe, as cores eram sombras.
58. Parece haver um conceito de cor mais fundamental do que o 
de uma cor de superfície. Parece que a poderíamos mostrar 
mediante pequenos elementos coloridos no campo visual, ou 
por meio de pontos luminosos, como estrelas. As áreas 
coloridas mais extensas são compostas por estes pontos 
coloridos ou por pequenas manchas de cor. Assim, 
poderíamos descrever a impressão de cor de uma superfície 
especificando a posição dessas numerosas e pequenas 
manchas de cor nela contidas.
Mas como comparávamos, por exemplo, uma destas 
amostras de cor tão pequenas com um pedaço da superfície 
maior? Em que contexto deverá ocorrer a amostra de cor?
29.3
59. Na vida quotidiana, estamos virtualmente rodeados por 
cores impuras. E mais notável é ainda que tenhamos 
formado um conceito de cores puras.
60. Por que não falamos de castanho "puro"?Será apenas pela 
posição do castanho face às outras cores "puras", pela sua 
afinidade com todas elas? — O castanho é, sobretudo, uma 
cor de superfície, isto é, não existe um castanho claro, mas 
apenas um castanho turvo. E também: O castanho contém 
preto. — (?) — Como é que um homem teria de se comportar 
para que dele se pudesse dizer, que conhece um castanho 
puro, primário?
61. Temos sempre de retomar a questão: Como é que as 
pessoas aprendem o significado dos nomes das cores?
62. Que significa, "o castanho contém preto?" Há castanhos 
mais e menos enegrecidos. Haverá algum não enegrecido de 
todo? Não há certamente nenhum que não seja amarelado.
63. Se continuarmos a pensar assim, descobrimos pouco a 
pouco as "propriedades internas" de uma cor, aquelas em 
que de início não pensamos. E isto pode mostrar-nos o 
percurso de uma investigação filosófica. Devemos estar 
sempre prontos para depararmos com uma nova, uma que 
anteriormente nunca tenha aparecido.
64. E também não devemos esquecer que os nossos nomes de 
cores caracterizam a impressão de uma superfície sobre a 
qual vagueia o nosso olhar. E para isto que elas existem.
65. "Luz castanha". Suponha-se que alguém sugeria que um 
semáforo devia ser castanho.
66. É de esperar apenas que encontremos adjetivos (tal como, 
por exemplo, "iridescente"), que são característicos das 
cores de uma extensa área ou de um pequeno espaço num 
contexto determinado ("cintilante", "resplandescente", 
"reluzente", "luminoso").
67. Sim, as cores puras não têm sequer nomes específicos 
normalmente utilizados, tão pouco importantes são elas para 
nós.
68. Imaginemos que alguém queria pintar um fragmento 
qualquer da natureza com as suas cores naturais. Todos os 
pontos da superfície de uma tal pintura teriam uma cor 
definida. Que cor? Como determinarei o seu nome? 
Usaremos, por exemplo, o nome sob o qual o pigmento 
aplicado é comprado? Mas não parecerá esse pigmento no 
seu contexto particular completamente diferente do que é 
na paleta?
69. Então, talvez começássemos a atribuir nomes especiais a 
pequenas manchas coloridas sobre fundo negro (por 
exemplo).
O que eu aqui quero mostrar realmente é que os conceitos 
simples de cor não são nada claros a priori.
30.3
70. Não é verdade que uma cor mais escura seja, ao mesmo 
tempo, uma cor mais enegrecida. Isso é claro, certamente. 
Um amarelo saturado é mais escuro, mas não mais 
enegrecido, que um amarelo esbranquiçado. Mas o âmbar 
não é também um "amarelo enegrecido". (?) E fala-se ainda 
de um vidro ou de um espelho "preto". — Talvez a 
dificuldade resida no fato de, por "preto", eu entender 
essencialmente uma cor de superfície?
Não diria que um rubi é vermelho enegrecido, porque isso 
sugeriria nebulosidade. (Por outro lado, lembra-te de que 
tanto a nebulosidade como a transparência podem ser 
pintadas.)
71. Trato os conceitos de cor como os conceitos de sensações.
72. Os conceitos de cor devem tratar-se de uma forma idêntica 
aos conceitos de sensações.
73. O conceito de cor pura não existe.
74. Donde provirá, então, a ilusão? Não será ela, como qualquer 
outra, uma simplificação prematura da lógica?
75. Isto é: Os vários conceitos de cor estão decerto estritamente 
relacionados uns com os outros; os vários "nomes de cores" 
têm um uso afim, mas há muitos tipos de diferenças.
76. Runge diz que há cores transparentes e opacas. Mas isto não 
significa que se utilizem verdes diferentes para reproduzir, 
numa pintura, um pedaço de vidro verde ou um tecido 
verde.
77. É um passo peculiar da pintura, pintar uma luz brilhante por 
meio de uma cor.
78. A indefinição no conceito de cor reside, sobretudo, na 
indefinição do conceito de identidade das cores, isto é, do 
método, de comparação de cores.
79. A cor de ouro existe, mas Rembrandt não a usou para pintar 
um elmo dourado.
80. Que é que faz do cinzento uma cor neutra? É algo de 
fisiológico
ou algo de lógico?
Que é que torna garridas as cores garridas? É uma questão 
conceptual ou uma questão de causa e efeito?
Porque é que não incluímos o preto e o branco no círculo das 
cores? Apenas porque temos a sensação de que isso seria 
errado?
81. Não existe um cinzento luminoso. Isso faz parte do conceito 
de cinzento, ou da psicologia, portanto, da história natural 
do cinzento? E não é estranho que eu o não saiba?
82. Que as cores têm as suas causas e efeitos característicos — 
é algo que sabemos.
83. O cinzento encontra-se entre dois extremos (preto e branco) 
e pode tomar uma tonalidade de qualquer outra cor.
84. Seria concebível que alguém visse pretas todas as coisas 
que vemos brancas, e vice-versa?
85. Num padrão muito colorido, o preto e o branco poderiam 
estar a seguir ao vermelho e ao verde, etc., sem 
sobressaírem pela diferença.
Não seria assim, contudo, no círculo das cores. Até porque o 
preto e o branco se misturam com as outras cores, 
sobretudo com o seu polo oposto.
86. Não poderemos imaginar homens com uma geometria das 
cores diferente da nossa, que é normal? É claro que isto 
significa: Poderemos descrevê-la, poderemos nós satisfazer 
imediatamente o pedido de a descrever, isto é, saberemos 
inequivocamente o que nos é exigido? A dificuldade é 
obviamente esta: Não é precisamente a geometria das cores 
que nos mostra aquilo de que estamos a falar, isto é, que 
estamos a falar sobre as cores?
87. A dificuldade em a imaginar (ou em a representar numa 
pintura) está em saber quando é que pintamos aquilo. Isto é, 
a indefinição do pedido para a imaginar.
88. A dificuldade é, pois, saber o que aqui se deve considerar 
como o análogo de alguma coisa que nos é familiar.
89. Uma cor que seria "suja" se fosse a cor de uma parede, não 
precisaria de o ser numa pintura.
90. Duvido que as anotações de Goethe sobre as características 
das cores tivessem qualquer utilidade para um pintor. 
Teriam certamente muito pouca para um decorador.
91. Se houvesse uma teoria da harmonia das cores, talvez 
começasse por dividir as cores em grupos diferentes, 
proibindo certas misturas e combinações e permitindo 
outras; e tal como na harmonia, as suas regras não se 
poderiam fundamentar.
92. Não poderá isto arrojar alguma luz para o gênero das 
diferenciações entre as cores?
93. [Não dizemos, A sabe uma coisa e B o seu oposto. Mas se 
substituirmos "sabe" por "acredita", então isso já é uma 
proposição.]
94. Runge a Goethe: "Se pensássemos num laranja-azulado, 
num verde-avermelhado ou num violeta-amarelado, 
teríamos a mesma sensação que se pensássemos numa 
nortada de sudoeste."
E ainda: "Tanto o branco como o preto são opacos ou 
sólidos... água branca que seja pura é tão inconcebível como 
o leite transparente. Se o preto apenas tornasse escuras as 
coisas, poderia, de fato, ser claro; mas ele suja as coisas e, 
por isso, não pode ser claro".
95. No meu quarto, estou rodeado de objetos com cores 
diferentes. E fácil dizer qual é a sua cor. Mas se me 
perguntassem que cor vejo daqui, digamos, neste ponto na 
minha mesa, não poderia responder; esse ponto está 
esbranquiçado (porque a mesa castanha é aqui iluminada 
pela parede clara); em qualquer caso, é muito mais clara do 
que o resto da mesa, mas, entre um número de amostras de 
cor, não seria capaz de escolher uma com a mesma 
coloração que esta área da mesa.
96. Porque a mim — ou a todos — parece, daí não se conclui que 
assim seja.
Por conseguinte: lá porque esta mesa a todos parece 
castanha, não se conclui que seja castanha.Mas que quer 
dizer, "ao fim e ao cabo, esta mesa não é castanha"? — 
concluir-se-á, então, que, por ela nos parecer castanha, é 
castanha?
97. Não chamamos justamente castanha à mesa que, sob certas 
circunstâncias, surge castanha aos que têm uma visão 
normal? Podemos sem dúvida, conceber alguém a quem as 
coisas pareçam por vezes de uma cor e, outras vezes, de 
outra cor, independentemente da cor que têm.
98. Que assim pareça aos homens é o seu critério para assim 
ser.
99. Parecer e ser podem, decerto, ser independentes um do 
outro em casos excepcionais, mas isso não os torna 
logicamente independentes; o jogo de linguagem não reside 
na exceção.
100. O dourado é uma cor de superfície.
101. Temos preconceitos no tocante à utilização das palavras.
102. À pergunta: "Que significa 'vermelho', 'azul', 'preto', 
'branco'?", podemos apontar imediatamente para coisas com 
essas cores, — mas é tudo o que podemos fazer: a nossa 
capacidade para explicar o seu significado não vai mais 
longe.
103. De resto, ou não temos idéia alguma, ou temos apenas 
uma muito grosseira e, em parte, falsa.
104. "Escuro" e "enegrecido" não são o mesmo conceito.
105. Runge diz que o preto "suja"; que significa isto? Será o 
efeito do preto sobre as nossas capacidades afetivas? Será 
um efeito da adição da cor preta que aqui é referido?
106. Por que é que um amarelo escuro não deve percepcionar-
se como "enegrecido", mesmo se lhe chamarmos escuro?
A lógica dos conceitos da cor é muito mais complicada do 
que quer parecer.
107. Os conceitos "baço" e "brilhante": quando pensamos na 
"cor" como propriedade de um ponto no espaço, os 
conceitos baço e brilhante não têm qualquer relação com 
estes conceitos de cor.
108. A primeira "solução" que nos ocorre para o problema das 
cores é que os conceitos de cores "puras" se referem a 
pontos ou a pequenas manchas indivisíveis no espaço. 
Questão: Como compararemos as cores de dois desses 
pontos? Dirigindo simplesmente o nosso olhar de um para 
outro? Ou através do movimento de um objeto colorido? No 
segundo caso, como saberemos que esse objeto não alterou, 
com isso, a sua cor; no primeiro caso, como poderemos 
comparar os pontos coloridos sem que a comparação seja 
influenciada pelo seu contexto?
109. Eu poderia imaginar um lógico que nos diz ter agora 
conseguido pensar realmente que 2x2 =4.
110. Se ainda não estiveres esclarecido sobre o papel da lógica 
nos conceitos da cor, começa com o caso simples, por 
exemplo, de um vermelho amarelado. Isto existe, ninguém 
duvida. Como é que aprendo a utilização da palavra 
"amarelado"? Através de jogos de linguagem, por exemplo, 
relacionados com uma ordenação.
Desta forma posso aprender, em concordância com os 
outros, a reconhecer o vermelho, o verde, o castanho e o 
branco amarelados e mais amarelados ainda.
Aprendo aí a avançar independentemente, tal como na 
aritmética. A tarefa de encontrar um azul amarelado poderá 
ser solucionada por alguém, mediante um azul esverdeado, 
que outro não compreende. E isto depende de quê?
111. Eu afirmo que o azul esverdeado não contém amarelo; se 
alguém afirmar que contém certamente amarelo, quem tem 
razão? Como se pode verificar? Haverá apenas uma 
diferença verbal entre nós? — Não terá o primeiro 
reconhecido um verde puro que não tende para o azul nem 
tampouco para o amarelo? E qual é a utilidade disto? Em que 
jogos de linguagem se pode utilizar isto? Ele poderá, pelo 
menos, resolver a tarefa de escolher as coisas verdes, que 
não contêm nada de amarelado, e as que não contêm nada 
de azul. E nisto consistirá a demarcação do "verde", que o 
outro não conhece.
112. Um pode aprender um jogo de linguagem, que o outro não 
pode. E é nisto que tem de consistir, de fato, o daltonismo de 
todos os gêneros. Pois, se o "daltônico" pudesse aprender 
todos os jogos de linguagem das pessoas normais, por que 
haveria ele de ser excluído de certas profissões?
113. Se alguém tivesse chamado a atenção de Runge para a 
diferença entre o verde e o laranja, talvez ele tivesse 
renunciado à idéia de que há apenas três cores primárias.
114. Em que medida pertence à lógica, e não à psicologia, o 
fato de alguém poder ou não aprender um jogo?
115. Eu afirmo: Quem não puder jogar este jogo não possui 
este conceito.
116. Quem possui o conceito "amanhã"? De quem é que o 
podemos afirmar?
117. Vi numa fotografia um rapaz com cabelo louro alisado 
para trás e com um casaco sujo de cores claras; e um 
homem com cabelo escuro, diante de uma máquina feita, 
parcialmente, de peças de fundição pintadas de preto, e 
parcialmente de eixos e engrenagens polidas e acabadas, 
etc; ao lado está um gradeamento de ferro brilhante 
galvanizado. As superfícies de ferro polidas tinham a cor de 
ferro, o cabelo do rapaz era louro, a peça de metal era preta, 
a grade cor-de-zinco, apesar de tudo isto estar impresso 
apenas em tons mais escuros e mais claros no papel 
fotográfico.
118. Pode haver um deficiente mental a quem não podemos 
ensinar o conceito "amanhã", ou o conceito "eu"; ou a leitura 
das horas. Não aprenderia o uso da palavra "amanhã", etc.
119. Mas, a quem posso eu comunicar o que este deficiente 
mental não pode aprender? Apenas àqueles que por si 
próprios o aprenderam? Não poderei contar a alguém que 
fulano e sicrano não podem aprender altas matemáticas, 
mesmo se essa pessoa as não dominar? E, contudo: não 
saberá mais precisamente a pessoa que aprendeu altas 
matemáticas, aquilo que eu quero dizer? Quem aprendeu o 
jogo não entenderá a palavra "xadrez" de uma forma diversa 
de alguém que o desconhece? A que chamamos nós 
"descrever uma técnica"?
120. Ou ainda: Terão as pessoas de visão normal e os 
daltônicos o mesmo conceito de daltonismo?
E, no entanto, os daltônicos compreendem a afirmação "sou 
daltônico" e também a sua negação.
Um daltônico não só é incapaz de aprender a utilizar os 
nossos nomes de cores, como também não pode aprender a 
palavra "daltônico" exatamente como o faz uma pessoa 
normal. Ele nem sempre pode, por exemplo, determinar o 
daltonismo nos casos em que o pode uma pessoa de visão 
normal.
121. E a quem posso eu descrever todas as coisas que nós, 
pessoas normais, podemos aprender?
A compreensão da própria descrição já pressupõe que 
aprendeu alguma coisa.
122. Como poderei descrever a alguém a maneira de utilizar a 
palavra "amanhã"? Posso ensiná-lo a uma criança; mas isso 
não significa que lhe descreva o seu uso.
Mas posso descrever a prática das pessoas que têm um 
conceito que nós não possuímos, "verde-esverdeado", por 
exemplo? — Em qualquer caso, não posso certamente 
ensinar a alguém esta prática.
123. Então, posso apenas dizer: "Estas pessoas chamam a isso 
(ao castanho, por exemplo) verde-avermelhado"? Não seria, 
então, somente uma outra palavra para algo para o qual já 
tenho uma palavra? Se têm realmente um conceito diferente 
do meu, isso deve mostrar-se no fato de eu não ser 
completamente capaz de imaginar o seu uso das palavras.
124. Mas eu sempre disse que se podia pensar que os nossos 
conceitos fossem diferentes daquilo que são. Era tudo isso 
absurdo?
11.4
125. A teoria de Goethe sobre a origem do espectro não é uma 
teoria da sua origem, teoria que esteja provada 
satisfatoriamente; nem sequer é uma teoria. Nada por ela se 
pode predizer. É antes um vago esquema de pensamento do 
tipo que encontramos na psicologia de James. Não existe um 
experimentum crucis para a teoria das cores de Goethe.
Quem concorda comGoethe descobre que ele reconheceu 
corretamente a natureza da cor. E, neste caso, "a natureza" 
não significa uma soma das experiências que dizem respeito 
à cor, mas aquilo que reside no conceito de cor.
126. Uma coisa era clara para Goethe: Nenhuma luz pode 
provir da escuridão — tal como sombras e mais sombras não 
produzem luz. Todavia, isto pode expressar-se da seguinte 
maneira: podemos, por exemplo, chamar lilás a um "azul 
avermelhado e esbranquiçado", ou chamar castanho a um 
"amarelo avermelhado e enegrecido", mas não podemos 
chamar branco a um "azul amarelado, avermelhado e 
esverdeado" (ou coisa semelhante). E isto é algo que tão 
pouco Newton provou. Neste sentido, o branco não é uma 
mistura de cores.
12.4
127. "As cores" não são coisas que têm propriedades definidas, 
de maneira que possamos procurar ou imaginar cores que 
ainda não conhecemos, ou imaginar alguém que conheça 
cores diferentes das nossas. E perfeitamente possível que, 
sob certas circunstâncias, disséssemos que alguém conhece 
cores que não conhecemos; mas não somos forçados a dizê-
lo, pois não há nenhuma indicação do que deveríamos 
considerar como analogias adequadas às nossas cores, para 
o podermos dizer. E equivalente a falarmos da "luz" infra-
vermelha; há uma boa razão para o fazer, mas também 
podemos considerar um abuso.
O mesmo se verifica com o meu conceito: "sentir a dor no 
corpo de outra pessoa".
128. Uma tribo de daltônicos poderia muito bem viver sem 
problemas; mas teriam eles desenvolvido todos os nossos 
nomes de cores? E como corresponderia a sua nomenclatura 
à nossa? Como seria a sua linguagem natural?? Será que 
sabemos? Teriam, por natureza, três cores primárias: azul, 
amarelo e uma terceira, que tomaria o lugar do verde e do 
vermelho? — E se encontrássemos essa tribo e quiséssemos 
aprender a sua linguagem? Sem dúvida que encontraríamos 
dificuldades.
129. Não poderia haver homens que não entenderiam a nossa 
maneira de falar, quando dizemos que o laranja é um 
amarelo-avermelhado (etc); que teriam tendência para o 
dizer apenas nos casos em que o laranja, por exemplo, 
aparecesse numa transição real do vermelho para o 
amarelo? Para estas pessoas, poderia haver muito 
facilmente um verde avermelhado.
Deste modo, não poderiam "analisar uma mistura de cores" 
nem poderiam aprender o nosso uso de Y-X-ADO. (Tal como 
as pessoas sem ouvido absoluto).
130. E as pessoas que só têm conceitos da forma da cor? Devo 
dizer que não veriam que uma folha verde e uma mesa 
verde — quando lhes mostro estas coisas — têm a mesma 
cor, ou têm qualquer coisa comum? E "se nunca lhes 
aconteceu" comparar entre si objetos com a mesma cor e 
formas diferentes? Em virtude do seu contexto peculiar, esta 
comparação não tinha para eles qualquer importância, ou 
seria importante apenas em casos excepcionais, de maneira 
que não chegou à formação de um instrumento linguístico.
131. Um jogo de linguagem: Referir a maior luminosidade ou 
obscuridade dos corpos. — E agora um semelhante: 
Enumerar a relação entre a claridade de certas cores. 
(Comparar a relação entre o comprimento de duas varas — a 
relação entre dois números determinados).
A forma das proposições é a mesma em ambos os casos ("X 
é mais claro que Y"). Mas, no primeiro jogo de linguagem, 
elas são temporais e, no segundo, atemporais.
132. Num certo sentido, o "branco" é entre todas a cor mais 
clara.
Numa imagem, onde um pedaço de papel branco recebe a 
sua claridade do céu, o céu é mais claro que o papel branco. 
Mas, noutro sentido, o azul é a cor mais escura e o branco é 
a cor mais clara. (Goethe). Com um branco e um azul na 
paleta, o primeiro seria mais claro que o outro. Na paleta, o 
branco é a cor mais clara.
133. Posso, de tal modo ter gravado na memória um 
determinado verde-cinzento que consigo sempre identificá-lo 
corretamente sem uma amostra. Mas consigo sempre, por 
assim dizer, reconstruir o vermelho puro (azul, etc). E 
apenas um vermelho que não tende nem para um lado nem 
para outro e que eu conheço sem uma amostra, como, por 
exemplo, traço um ângulo reto por contraste com um 
qualquer ângulo agudo e um obtuso.
134. Neste sentido, há então quatro (ou seis, com o preto e o 
branco) cores puras.
135. Uma história natural das cores deveria referir-se à sua 
ocorrência na natureza, não à sua essência. As suas 
proposições teriam de ser temporais.
136. Por analogia com as outras cores, um desenho preto sobre 
um fundo branco, visto através de um vidro branco 
transparente, deverá aparecer inalterado, como um desenho 
preto sobre um fundo branco. O preto deve permanecer 
preto e o branco, porque é também a cor do corpo 
transparente, deve ficar inalterado.
137. Poderia imaginar-se um vidro através do qual o preto 
aparecesse como preto, o branco como branco e todas as 
outras cores aparecessem como tons de cinzento; de forma 
que através dele tudo surgisse tal como uma fotografia.
Mas por que lhe chamaria eu "vidro branco"?
138. A questão é: A construção de um "corpo branco 
transparente" é como a construção de um "biângulo 
regular"?
139. Posso olhar para um corpo e ver talvez uma superfície 
branca e baça, isto é, ter a impressão de uma tal superfície, 
ou a impressão de transparência (exista ela de fato ou não). 
Esta impressão pode ser provocada pela distribuição das 
cores, e o branco e as outras cores não participam nele da 
mesma maneira.
(Tomei uma cúpula de chumbo pintada de verde por um 
vidro translúcido esverdeado, desconhecendo na altura a 
distribuição especial de cores que produziam esta 
aparência).
140. O branco deve surgir, de fato, na impressão visual de um 
corpo transparente, por exemplo, como se fosse um reflexo, 
como uma luz brilhante. Isto é, se a impressão é percebida 
como transparente, o branco que vemos não será 
interpretado como se fosse a brancura do corpo.
141. Olho através de um vidro transparente: seguir-se-á que 
não vejo o branco? Não; mas também não vejo o vidro 
branco. Como é que isto se passa? Pode passar-se de 
maneiras diferentes. Posso ver com ambos os olhos o branco 
situado atrás do vidro. Mas, simplesmente pela sua posição, 
posso ver também o branco como uma luz brilhante (mesmo 
que ela não exista). Ainda estamos a tratar da visão e não a 
tomar alguma coisa por isto ou por aquilo. Nem é 
completamente necessário o uso de ambos os olhos para ver 
qualquer coisa como estando atrás do vidro.
142. As várias "cores" não têm todas a mesma relação com a 
visão tridimensional.
143. E é indiferente se explicamos, ou não, isto em termos de 
uma experiência na infância acumulada por nós.
144. Essa conexão deve ser entre a tridimensionalidade, a luz e 
a sombra.
145. Também não pode dizer-se que o branco é essencialmente 
a propriedade de uma superfície-visual. Pois, seria 
concebível que o branco ocorresse como luz brilhante ou 
como cor de uma chama.
146. Um corpo que seja, de fato, transparente pode 
obviamente parecer-nos branco; mas não pode parecer 
branco e transparente.
147. Mas não se devia expressar assim: o branco não é uma 
cor transparente.
148. "Transparente" pode comparar-se com "refletor".
149. Um elemento do campo visual pode ser branco ou 
vermelho, mas não pode ser transparente ou opaco.
150. A transparência e a reflexão só existem na dimensão de 
profundidade e de uma imagem visual.
151. Por que não poderá uma superfície monocromática, no 
campo visual, ser cor de âmbar? Esta palavra de cor refere-
se a um meio transparente; se, pois,um pintor pintar um 
vidro com cor de vinho, poderíamos chamar à superfície da 
pintura, que a representa, "cor de âmbar", mas não o 
poderíamos dizer de nenhum dos elementos 
monocromáticos desta superfície.
152. Não poderiam o preto brilhante e o preto baço ter nomes 
de cor diferentes?
153. De algo que parece transparente não dizemos que parece 
branco.
154. "Não se podem imaginar homens com uma geometria das 
cores diferente da nossa?" — Claro que isto significa: Não se 
podem imaginar homens com conceitos de cor que sejam 
diversos dos nossos? E isto, por sua vez, significa: Não se 
podem imaginar homens que não têm os nossos conceitos 
de cor e que têm conceitos de tal forma próximos dos nossos 
que também se poderiam designar "conceitos de cor"?
155. Se os homens estivessem habituados a ver apenas 
quadrados verdes e círculos vermelhos, poderiam observar 
um círculo verde com a mesma desconfiança com que 
observariam um monstro e, por exemplo, poderiam mesmo 
dizer que era realmente um círculo vermelho, mas com 
qualquer coisa de..(2)
Se os homens só tivessem conceitos de formas de cor, 
teriam uma palavra especial para um quadrado vermelho e 
para um círculo vermelho, e uma para um círculo verde, etc. 
No entanto, se vissem uma nova figura verde, não lhes 
ocorreria alguma semelhança com o círculo verde, etc. ? E 
não lhes ocorreria que há uma semelhança entre os círculos 
verdes e os círculos vermelhos? Mas como quero eu que se 
patenteie a ocorrência para eles de tal semelhança?
Poderiam, por exemplo, ter um conceito do "ajustar-se"; e, 
no entanto, não pensam ainda em usar palavras de cor.
Na verdade, há tribos que só contam até 5 e que talvez não 
tenham achado necessário descrever algo que não possa ser 
descrito dessa forma.
2 Este parágrafo estava riscado (org.)
156. Runge: "O preto suja". Isto significa que ele tira o brilho à 
cor, mas que significa isso? O negro tira a luminosidade à 
cor. Mas é isto algo de lógico, ou de psicológico? Há um 
vermelho luminoso, um azul luminoso, etc., mas nenhum 
preto luminoso. O preto é a mais escura das cores. Diz-se 
"negro carregado", mas não "branco carregado".
Mas um "vermelho luminoso" não significa um vermelho 
brilhante. Também um vermelho escuro pode ser luminoso. 
Mas uma cor reluz em virtude do seu contexto, no seu 
contexto.
O cinzento, porém, não é luminoso.
Mas o preto parece escurecer uma cor, e a escuridão, não. 
Um rubi poderia assim tornar-se mais escuro, sem no 
entanto se tornar turvo; mas se se tornasse vermelho-
escuro, tornar-se-ia turvo. Ora o preto é uma cor de 
superfície. O escuro não é uma cor. Na pintura, o escuro 
pode também representar-se pelo preto.
A diferença entre o preto e, digamos, um violeta-escuro é 
semelhante à diferença entre o som do bombo grande e o 
som de um timbale. Do primeiro dizemos que é um ruído, e 
não um tom. E baço e totalmente negro.
157. Olha para o teu quarto à noitinha, quando dificilmente 
distingues as cores; acende então a luz e pinta o que viste 
no crepúsculo. Há pinturas de paisagens ou de quartos na 
semi-escuridão: Mas como se comparam as cores dessas 
pinturas com aquelas que se viram na semi-obscuridade? 
Que diferente é esta comparação da de duas amostras de 
cor que tenho diante de mim e se põem lado a lado!
158. Por que se dirá que o verde é uma cor primária e não uma 
mistura de azul e amarelo? Será correto responder: "Apenas 
se pode saber diretamente, observando as cores?" Mas 
como hei de saber se, com as palavras "cores primárias", 
quero dizer o mesmo que outra pessoa que também tem 
tendência para chamar ao verde uma cor primária? Não, 
aqui há jogos de linguagem que decidem esta questão.
Há um verde mais ou menos azulado (ou amarelado) e 
propõe-se a tarefa de misturar com um dado verde 
amarelado (ou verde azulado) um verde menos amarelado 
(ou azulado), ou de o escolher num número de amostras de 
cor. Um verde menos amarelado, todavia, não é um verde 
azulado (e vice-versa) e é preciso escolher agora — ou obter 
por mistura — um verde nem amarelado nem azulado. E 
digo "ou obter por mistura", porque um verde não é 
igualmente amarelado e azulado, porque se obtém pela 
mistura do amarelo e do azul.
159. Considero que as coisas se podem refletir numa superfície 
branca polida de modo que os seus reflexos parecem estar 
atrás da superfície e, num certo sentido, se vêem através 
dela.
160. Se eu disser que um papel é branco puro e o colocar ao 
lado da neve e então ele parecer cinzento, num contexto 
normal e para fins habituais, chamar-lhe-ia branco e não 
cinzento claro. Podia ser que utilizasse, digamos, num 
laboratório, um outro conceito de branco e, num certo 
sentido, mais refinado. (Como por vezes também utilizo um 
conceito mais refinado de determinação "precisa" do 
tempo).
161. As cores puras e saturadas são essencialmente 
caracterizadas por uma claridade relativa. O amarelo, por 
exemplo, é mais claro que o vermelho. Será o vermelho mais 
claro que o azul? Não sei.
162. Quem tenha aprendido o conceito de cores intermédias, 
que domine a sua técnica e tenha assim descoberto ou 
obtido por mistura tons de cor que são mais esbranquiçados, 
mais amarelados, mais azulados que esses tons, e assim por 
diante, é agora solicitado a escolher ou a obter por mistura 
um verde avermelhado.
163. Alguém familiarizado com um verde avermelhado estaria 
em posição de produzir uma série de cores que começasse 
com o vermelho e acabasse no verde e que constituísse 
também para nós uma transição contínua entre as duas 
cores. Talvez então descobríssemos que no ponto onde 
vemos sempre o mesmo tom de castanho, esta pessoa visse, 
umas vezes, castanho e, outras, verde avermelhado. Pode 
ser que, por exemplo, ela possa diferenciar entre as cores de 
dois compostos químicos, que para nós teriam a mesma cor, 
e chame a um "castanho" e ao outro "verde avermelhado".
164. Para descrever os fenômenos do daltonismo vermelho-
verde, preciso apenas de dizer o que o daltônico vermelho-
verde não pode aprender; mas, para descrever o "fenômeno 
da visão normal", teria de enumerar as coisas que podemos 
fazer.
165. Quem descreve os "fenômenos do daltonismo", descreve 
apenas os desvios do daltônico em relação ao normal, e não 
a sua visão em geral.
Mas não poderia descrever também os desvios da visão 
normal em relação à cegueira total? Poderia perguntar-se: 
Quem aprenderia com isso? Poderá alguém ensinar-me que 
eu vejo uma árvore?
E o que é uma "árvore"; e o que é "ver"?
166. Podemos dizer, por exemplo: Eis como uma pessoa age 
com uma venda nos olhos, e como age, sem a venda, 
alguém provido do sentido da vista. Com a venda, ela reage 
desta e desta maneira; sem a venda, caminha 
apressadamente pela rua, saudando os seus conhecidos, 
acenando a este ou aquele, evitando melhor os carros e as 
bicicletas quando atravessa as ruas, etc, etc. Mesmo quando 
se trata de recém-nascidos, sabemos que podem ver porque 
acompanham os movimentos com os olhos, etc, etc. — A 
questão é esta: Quem é que deverá entender essa 
descrição? Apenas os que vêem, ou também os cegos?
Faz sentido dizer, por exemplo, "os que vêem distinguem 
com os olhos uma maçã madura de uma verde". Mas não: 
"os visuais distinguem uma maçã verde de uma vermelha". 
Porque, afinal, o que será o "vermelho" e o "verde"?
Nota à margem: "O que vê distingue uma maçã, que lhe 
aparece verde, de uma que lhe aparece vermelha".
Mas não posso dizer: "Distingo este tipo de maçãs de um 
outro" (enquanto aponto para uma maçã vermelha

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