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Difusão em sólidos 1 Introdução Durante o processamento ou o uso, a composição química dos materiais é alterada como resultado do movimento de átomos através de interfaces de composições diferentes ou da troca de átomos entre o material e o ambiente. Este processo é conhecido como difusão em estado sólido. Compreender o processo de difusão é essencial tanto no controle de processo de produção de materiais quanto em sua aplicação em projetos de engenharia. Um exemplo típico é o processo de carbonetação do aço em que uma peça é exposta a uma atmosfera rica em C e, através da difusão de átomos de C na estrutura do aço, aumenta-se sua dureza superficial. 2 Defeitos pontuais e difusão no estado sólido A difusão no estado sólido é um processo lento e depende fortemente da temperatura. Para que a difusão no estado sólido ocorra, é necessária a presença de vacâncias. As vacâncias são espaços vazios no retículo cristalino e são formadas pela agitação térmica dos átomos do material. Sua concentração em função da temperatura pode ser descrita pela fórmula: nV nsítios =C exp(−EvkT ) (1) onde nV nsítios é a concentração de vacâncias, C uma constante pré-exponencial, EV a energia de formação de uma vacância, k a constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta. A difusão em estado sólido se dá pelo mecanismo de migração de vacâncias. É importante salientar que o fluxo de átomos ocorre na direção oposta ao fluxo de vacâncias. Figura 2.1: Fluxo de vacâncias e de átomos durante o processo de difusão. t2>t1. A migração atômica se dá por caminhos aleatórios, semelhante a partículas em movimento browniano se decantando em uma suspensão, em que o fluxo médio de massa sempre ocorre da região de menor concentração para a de maior concentração. O tratamento matemático formal desse fluxo difusional começa pela expressão da primeira lei de Fick J x=−D δC δ x (2) em que Jx é o fluxo em direção ao eixo x devido ao gradiente de concentração δC δ x . O sinal negativo indica que o fluxo ocorre da região de maior concentração para a de menor concentração. D é o coeficiente de difusão. Para condições transientes, em que a concentração em um ponto específico muda com o tempo, utilizamos para o tratamento formal uma equação diferencial de segunda ordem, conhecida como segunda lei de Fick. δC δt =D δ2C x δ x2 (3) Estabelecendo condições de contorno para um sólido semi-infinito (uma barra sólida pode ser considerada semi-infinita se nenhum átomo atinge a outra extremidade da barra durante o processo de difusão), é possível obter soluções para esta expressão. As condições de contorno são: • Concentração constante do elemento que será transportado na superfície da barra. • Antes da difusão, todos os átomos do soluto em difusão que estiverem no sólido estão distribuídos de maneira uniforme com uma concentração C0. • O valor de x na superfície é zero e aumenta com a distância para o interior do sólido. • O tempo zero é tomado como instante imediatamente anterior ao início do processo de difusão. A aplicação destas condições de contorno à segunda lei de Fick nos dá a seguinte expressão: C x−C0 C s−C 0 =1−erf ( x2√Dt ) (3) em que Cx é a concentração em uma profundidade x após o tempo t. A expressão erf ( x2√Dt ) é a função erro de Gauss, cujos valores são tabelados para diferentes valores de x 2√Dt , tabela 2.1. Cs e C0 são as respectivamente as concentrações na superfície e a inicial. Tabela 2.1: Tabulação de valores da função erro de Gauss. z erf (z) z erf(z) z erf(z) 0 0 0,55 0,5633 1,3 0,9340 0,025 0,028 0,60 0,6039 1,4 0,9523 0,05 0,0564 0,65 0,6420 1,5 0,9661 0,10 0,1125 0,70 0,6778 1,6 0,9763 0,15 0,1680 0,75 0,7112 1,7 0,9838 0,20 0,2227 0,80 0,7421 1,8 0,9891 0,25 0,2763 0,85 0,7707 1,9 0,9928 0,30 0,3286 0,90 0,7970 2,0 0,9953 0,35 0,3794 0,95 0,8209 2,2 0,9981 0,40 0,4284 1,0 0,8427 2,4 0,9993 0,45 0,4755 1,1 0,8802 2,6 0,9998 0,50 0,5205 1,2 0,9103 2,8 0,9999 Toda esta análise foi realizada considerando temperatura constante. Como já mencionado, a difusão é um processo termicamente ativado, e sua dependência com a temperatura obedece a seguinte relação: D=D0 exp(− qkT ) (4) em que D0 é uma constante pré-exponencial, q é a energia de formação e movimento de um defeito pontual, k a constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta. É mais comum tabular dados de difusividade em termos de quantidades molares, desta maneira, a dependência do coeficiente de difusão é representada por: D=D0 exp(− QRT ) (5) em que Q é a energia de formação e movimento de um mol de defeitos pontuais e R a constante universal dos gases. 3 Difusão em estado estacionário Em alguns casos, mantendo-se o gradiente de concentração constante, atinge-se perfil de concentração linear, como ilustra a figura 3.1. Figura 3.1: Mudança de perfil de concentração até o estado estacionário. t0<t1<t2. O perfil de concentração linear é inalterado com o tempo desde que C1 e C2 sejam mantidos constantes. Este caso é chamado de difusão em estado estacionário e o gradiente de concentração da primeira lei de Fick pode ser simplificado para: δC δ x = C2−C1 0−x0 = −(C2−C1) x0 (6) Assim, o fluxo é definido como: J x=D C2−C1 x0 (7) Uma aplicação comum para difusão em estado estacionário é o uso de materiais como membranas de purificação de gases. Uma chapa fina de paládio é permeável ao gás hidrogênio, mas não a outros gases atmosféricos. Introduzindo uma mistura de gás “impuro” em alta pressão, obtêm-se um fluxo constante de hidrogênio puro através da placa metálica ao se manter uma pressão de hidrogênio constante no lado de baixa pressão. 4 Caminhos alternativos de difusão É importante salientar que o fenômeno de difusão varia com a concentração de defeitos. Desta maneira, regiões que apresentam maior concentração de defeitos cristalinos, como contornos de grãos e superfícies, também apresentam maior coeficiente de difusão e menor energia de ativação para a difusão. Assim: Qvolume > Qcontorno de grão > Qsuperfície Dvolume< Dcontorno de grão <Dsuperfície Esse resultado não significa que a difusão superficial é sempre o processo dominante. Tudo vai depender da região de difusão disponível. Na maior parte dos casos, a difusão volumétrica domina. Para materiais nanoestruturados, que apresentam grande área de contornos de grão, a difusão pelo contorno é o processo dominante. Finalmente, no caso de pós finos de grande área superficial, a difusão pela superfície é o processo dominante. 1 Introdução 2 Defeitos pontuais e difusão no estado sólido 3 Difusão em estado estacionário 4 Caminhos alternativos de difusão
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