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Excludentes de ilicitude Adriana Geisler Recordando: Crime = fato típico, antijurídico e culpável Antijurídico (ilicitude) = Relação de contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico Encontrada por exclusão (excludentes de ilicitude do art. 23 do CP – “causas legais”). Quando o agente não atua em: - Estado de necessidade; - Legítima Defesa; - Estrito cumprimento do dever legal; Exercício regular do direito. Quando não houver o consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão da ilicitude. Importa: a) Capacidade de consentir do ofendido; b) Bem disponível; c) Que o consentimento tenha sido dado anteriormente, ou numa relação de simultaneidade à conduta do agente. Causas legais de exclusão de ilicitude CP, Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular do direito. Excesso punível Parágrafo único: O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. I - Estado de Necessidade CP, Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar; direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. §1. Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2. Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. Pratica de fato para “salvar de perigo atual”: Determinar o que seja perigo atual: na expressão “perigo atual” também se encontra abrangido o perigo considerado iminente? - doutrina majoritária: - inclui o perigo iminente, deixando de lado apenas o perigo passado, isto é, o perigo já ocorrido, bem como o remoto ou futuro. 2. – “ (...) que não provocou por sua vontade”: não ter provocado dolosamente a situação de perigo. (controvérsia doutrinária) Ex1.: Dentro do cinema, Denilson, desejoso de provocar um incêndio criminoso, coloca fogo em uma lixeira. Na tentativa de salvar-se, “A” acaba lesionando outras pessoas. Poderá ser alegado em favor de “A” estado de necessidade? Não, pois provocou o incêndio dolosamente. EX. 2: Dentro do cinema, Denilson aproveita para fumar. Após perceber a presença do lanterninha, “A” se assusta e arremessa o cigarro para longe, ainda aceso, vindo, agora, em virtude de sua conduta imprudente, causar o incêndio. Na tentativa de salvar-se, Denilson acaba lesionando outras pessoas. Considerando que deu início ao incêndio, poderá ser alegado em favor de Denilson estado de necessidade? Sim, pois mesmo tendo provocado a situação de perigo, não o fez dirigindo finalisticamente a sua conduta para isso; isto é, tendo atuado de forma culposa, poderá alegar estado de necessidade. 3. Estado de necessidade próprio ou alheio: “direito próprio ou alheio”: Nem sempre aquele que estiver fora da situação de perigo poderá auxiliar terceira pessoa, valendo-se do argumento do estado de necessidade, mesmo que seja esta a sua finalidade. Assim, Bem indisponível: permite intervenção de terceiros Bem disponível: requer autorização de seu titular. Só este tem direito de dispor do seu bem ou aquiescer que terceira pessoa atue para salvaguardá-lo. Ex.1: Situação de naufrágio. Apenas uma vaga em bote salva-vidas. Terceira pessoa poderá auxiliar qualquer deles sob a alegação do estado de necessidade? Sim. Vida = bem indisponível. Ex. 2.: Incêndio em condomínio de casas geminadas. Felipe, para salvar a casa de Júlia, destrói casa de Jefferson, evitando a propagação do fogo. Felipe pode alegar estado de necessidade? Não. Patrimônio é bem disponível e requer autorização de seu titular. Só este tem direito de dispor do seu bem ou aquiescer que terceira pessoa atue para salvaguardá-lo. 4. Razoabilidade do sacrifício do bem (“cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”): critério - preserva-se o bem de maior valor; p. ex., vida em prejuízo do patrimônio alheio estado de necessidade. Ex.: Para proteger o seu patrimônio, Felipe causa a morte de Pedro. Não se pode alegar estado de necessidade, porque não era razoável agir dessa forma, mas permite redução de pena (§2, “de um a dois terços”) - culpabilidade diminuída em virtude da situação de perigo. 5. Dever legal de enfrentar o perigo (§1): - Regra geral: CP, § 1, art. 24: “não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo: bombeiros, salva-vidas, policiais, etc... Exceção: princípio da razoabilidade perigo estremo, não normal da profissão Ex.: na tentativa de salvar patrimônio alheio X vida (do bombeiro) correndo perigo extremo, não normal da profissão, poderá optar em salvar-se a preservar o patrimônio dessa pessoa. Dever legal e dever contratual: O dever legal abrange o dever contratual? Ex.: João é contratado para prestar serviços como segurança de Richard. Ambos estão em um barco que vem a naufragar. Em disputa por colete salva-vidas, João mata Richard. Pode o segurança alegar estado de necessidade? Discussão doutrinária: Conforme Hungria: não prevalecerá a regra contida no CP, § 1, art. 24, podendo o segurança alegar o estado de necessidade. Estado de Necessidade defensivo e agressivo: defensivo: quando a conduta do agente dirige-se diretamente ao produtor da situação de perigo; agressivo: quando a conduta do necessitado sacrifica bens de um inocente, não provocador da situação de perigo. Ex.1: Cão raivoso parte em direção ao agente para mordê-lo. Para salvar sua vida, ou evitar alguma lesão, este atira e mata o animal. estado de necessidade defensivo; Ex.2: Agente joga seu carro no acostamento a fim de evitar caminhão desgovernado que vinha em sua direção, e acaba por atingir um veículo que ali se encontrava estacionado. estado de necessidade agressivo, pois o bem atingido é de terceiro inocente, ou seja, não provocador da situação de perigo. Aberratio Criminis (resultado diverso do pretendido) e estado de necessidade (EM): Ex.: Maria, vendo-se atacada por um cão raivoso, dispara arma de fogo contra o animal. O projétil ricocheteia e vem a atingir uma pessoa que passava pelo local. Assim: em relação ao cão = estado de necessidade defensivo; em relação à pessoa atingida = embora não se verifique qualquer das espécies de estado de necessidade - e sim a hipótese de Aberratio Criminis (art. 74 do CP) - a lesão sofrida pelo terceiro não poderá ser atribuída ao agente, que se encontra amparado pela causa de justificação do EN. Estado de Necessidade Putativo - “putativo” = que ocorra somente na imaginação do agente CP art. 20, § 1º. descriminantes putativas § 1º. É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Ex.: Durante uma sessão de cinema, o agente escuta alguém gritar “fogo” e, acreditando estar ocorrendo um incêndio, com a finalidade de salvar-se, corre em direção à porta de saída, causando lesões nas pessoas pelas quais passou. Na verdade, tudo fora uma brincadeira, não havendo incêndio algum. a) Se erro escusável, invencível agente isento de pena b) Se erro inescusável, vencível agente, embora não responda pelos resultados a título de dolo, será responsabilizado com as penas correspondentes a um crime culposo se previsto em lei. Estado de Necessidade e Dificuldades Econômicas - Não é qualquer dificuldade econômica que justifica a alegação do EM; mas apenas `aquelas situações que inviabilizem a própria sobrevivência do agente. Isto é, a miserabilidade do agente não constitue causa excludente de criminalidade. Ex.: “A”, desempregado, depois de procurar exaustivamente por um trabalho honesto, chega em casa e constata a não existência de alimentos que possam sustentar a sua família. Implora por doações, mas não as consegue. Ao ver seus filhos suplicando por um alimento qualquer, se desespera e vai até um supermercado e subtrai um saco de feijão. Poderá o agente erigir a causa de justificação do EN? Sim, pois no confronto entre a sobrevivência (vida) do agente e sua família e o patrimônio do supermercado, é razoável que o primeiro prevaleça sobre o segundo. II – Legítima defesa Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 1. Legítima defesa (L.D) ≠ vingança privada: na L.D é preciso que o agente se veja diante de uma situação de total impossibilidade de recorrer ao Estado. Ex.: delito de ameaça / Poderá a vítima, no momento em que as palavras ameaçadoras estão sendo proferidas, agredir o agente na defesa dessa sua liberdade pessoal? Não, pois a vítima tem plenas condições de socorrer-se do Estado para a sua proteção, já que o mal prenunciado à ela não está ocorrendo (atual), nem está na iminência de acontecer (iminente). 9 2. Bens amparados pela LD (passíveis de ser defendidos): Regra geral: qualquer bem juridicamente protegido em lei na situação em que não for possível socorrer-se do Estado para a sua proteção Exceção: os bens jurídicos comunitários não podem ser objeto de legítima defesa. • bens jurídicos comunitários: Supraindividuais, cujo portador é a sociedade (ex. fé pública, saúde pública, segurança do trafego) ou o Estado (ex. administração da justiça, ordem pública, ...). Somente quando o Estado atuar como pessoa jurídica serão seus bens suscetíveis de legítima defesa (ex. propriedade). Em síntese: todos os bens são passíveis de defesa pelo ofendido, à exceção daqueles considerados comunitários, desde que, para a sua defesa, o agente não tenha tempo suficiente ou não possa procurar o necessário amparo das autoridades para tanto. 3. Injusta agressão: • Agressão = ato humano. Não se pode cogitar de LD contra ataque de animais. • Injusta = não realizada de acordo com as prescrições legais. Assim, ex.: aquele que tem contra si mandado de prisão, não pode erigir uma situação de LD e agredir um policial que foi à sua captura, pois a agressão à sua liberdade não é injusta. Ex.: Convidado para prestar declarações perante a autoridade policial, A, ao chegar a delegacia, é preso de forma arbitrária. Preso, A agride aos policiais a fim de tentar alcançar a sua liberdade. Pode A arguir LD? Para Grecco, sim. Sendo arbitrária a prisão, o agente teria o direito de defender a sua liberdade, razão pela qual, caso agredisse aos policiais nesse intuito, estaria amparado pela LD. • agressão injusta ≠ provocação injusta: nem toda provocação constitui verdadeira agressão critério distintivo - necessidade dos meios e proporcionalidade da repulsa. Não se pode permitir a LD em função de uma provocação , quando o revide do provocado ultrapassar o mesmo nível e grau da primeira. Ex.: Uma provocação verbal não pode ser repelida com um tiro ou uma facada. Aqui é ao provocador que não poderá ser negada a possibilidade de defesa. II - Estrito cumprimento do dever legal • O CP não traz maiores elementos de definição e caracterização do conceito de estrito cumprimento do dever legal. • Conceituação doutrinária: “Compreende os deveres de intervenção do funcionário na esfera privada para assegurar o cumprimento da lei ou de ordens de superiores da administração pública, que podem determinar a realização justificada de tipos legais como a coação, privação de liberdade, violação de domicílio, lesão corporal etc.” (SANTOS apud GRECO) deve se dar nos exatos termos da lei, não podendo em nada ultrapassá-los. Ex.: Um oficial de justiça, cumprindo um mandado de busca e apreensão de um televisor, resolve também fazer, por sua conta, a apreensão de um aparelho de som, já antevendo um pedido futuro. Atuará ele amparado pela mencionada causa de justificação? Não! Pois não agiu nos limites estritos que lhe foram determinados. Ex2.: A, policial, visando a fuga de detentos em um presídio, atira em direção aos fugitivos com a finalidade de matá-los. Poderá alegar, em seu benefício, a excludente de ilicitude? Não, pois o cumprimento não se deu nos estritos limites do seu dever legal, já que os detentos / fugitivos não foram sentenciados à morte. Vale lembrar que o inciso XLVIII, do art. 5, da CF veda a pena de morte, permitindo-a apenas em caso de guerra declarada. • E quanto aos deveres impostos pela lei que não são dirigidos àqueles que fazem parte da Administração Pública, a exemplo do poder familiar (art. 1.634, do CP)? Neste exemplo, a conduta praticada pelos pais (castigos corporais ou outra forma de constrangimento) é possível? Sob a alegação de que causa de justificação? Estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito? É possível, se o castigo é moderado. Divergência segundo há um dever ou um direito de corrigir os filhos, aplicando-lhes esses castigos. III - Exercício Regular de Direito • Também não foi objeto de definição do legislador, compreende todos os tipos de direito subjetivo pertencentes ao ordenamento jurídico. • A expressão “direito” pode surgir de situações expressas nas regulamentações legais em sentido amplo ou até mesmo dos costumes. Ex.: (divergência doutrinária) Correção aplicada pelos pais a seus filhos; Ex. 2: Práticas esportivas violentas, desde que ao atletas permaneçam nas regras previstas para aquela modelidade. Ex.: Direito do proprietário de corta as raízes e ramos de árvores do vizinho que invadam o seu terreno (art. 1283 do CC). causa supralegal de exclusão da ilicitude - Consentimento do ofendido e causa de justificação – causa supralegal: situações em que o fato é típico, mas não antijurídico em função do consentimento do ofendido. Ex 1.: tatuagem X lesão corporal Ex. 2: crime de dano, quando alguém permite que a sua coisa seja destruída. Como causa supralegal, exige requisitos: a) Capacidade de consentir do ofendido penalmente imputável: 18 anos completos e em perfeito estado de higidez mental. b) Bem disponível; bens patrimoniais. Ex 1. Destruição de veículo em cena de cinema a destruição de bem disponível, se com consentimento, é fato típico, mas não antijurídico. Ex. 2. Eutanásia homicídio, pois a vida é um bem indisponível. c) Que o consentimento tenha sido dado anteriormente, ou numa relação de simultaneidade à conduta do agente. consentimento posterior não afastará a ilicitude da conduta praticada.
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