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Livro Texto Filosofia e Dimensoes Historicas da Educacao Fisica

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Autor: Prof. Mário André Sigoli 
Colaboradoras: Profa. Vanessa Santhiago
 Profa. Tânia Sandroni
Filosofia e Dimensões 
Históricas da Educação Física
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Professor conteudista: Mário André Sigoli
Mário André Sigoli é mestre em Pedagogia do Movimento Humano pela Escola de Educação Física e Esporte da 
Universidade de São Paulo (EEFE-USP), defendeu sua dissertação intitulada Características do Esporte Educacional nas 
Escolas da Cidade de São Paulo em 2005.
Graduado no curso de bacharelado em Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São 
Paulo (EEFE-USP), em 2000.
Teve atuação profissional na área esportiva da natação, sendo técnico de atletas federados no São Paulo Futebol 
Clube (1999 a 2002) e depois técnico das categorias de base da natação da Fundesport Araraquara, entre 2013 e 2015.
Atua como docente do ensino superior desde fevereiro de 2004 na Universidade Paulista – UNIP e como consultor 
da Comissão de Qualificação e Avaliação (CQA) da UNIP. Atualmente é coordenador do curso de Educação Física do 
Campus Araraquara da UNIP.
Desenvolve hoje trabalho e pesquisa entre a população idosa e com necessidades especiais, com ênfase em 
emagrecimento e doenças hipocinéticas, através da metodologia do treinamento cruzado (cross training).
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S578f Sigoli, Mário André.
Filosofia e Dimensões Históricas da Educação Física. / Mário 
André Sigoli. – São Paulo: Editora Sol, 2017.
152 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-025/17, ISSN 1517-9230.
1. Filosofia. 2. Dimensões históricas. 3. Educação Física. I. Título.
CDU 796.01
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Rose Castilho
 Lucas Ricardi
 Ricardo Duarte
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Sumário
Filosofia e Dimensões Históricas da Educação Física
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA .............................................................................................................9
1.1 O que é História? .....................................................................................................................................9
1.2 A Filosofia ................................................................................................................................................ 10
2 A IMPORTÂNCIA DAS HABILIDADES MOTORAS NOS POVOS ANTIGOS .................................... 11
2.1 A atividade física nas primeiras civilizações .............................................................................. 13
2.2 O sedentarismo na sociedade contemporânea ........................................................................ 16
3 OS EXERCÍCIOS NO MUNDO ANTIGO ...................................................................................................... 19
3.1 A civilização egípcia e os exercícios físicos ................................................................................ 19
3.1.1 Os exercícios físicos no Egito Antigo .............................................................................................. 19
3.2 Os exercícios físicos na Grécia Antiga ......................................................................................... 21
3.2.1 Contexto histórico geral ...................................................................................................................... 21
3.2.2 A pólis de Esparta ................................................................................................................................... 22
3.2.3 A pólis de Atenas .................................................................................................................................... 22
3.2.4 Período Clássico (séculos V a.C.-IV a.C.) ......................................................................................... 23
3.2.5 Período Helenístico (séculos IV a.C.-II a.C.) .................................................................................. 26
3.2.6 Filosofia, corpo e exercício na Grécia Antiga .............................................................................. 26
3.2.7 A cultura da Grécia Antiga e o exercício ....................................................................................... 30
3.2.8 Os jogos na Grécia Antiga ................................................................................................................... 32
3.2.9 Milo de Crotona: a história de um herói grego .......................................................................... 37
3.2.10 A mulher na Grécia Antiga ............................................................................................................... 38
3.2.11 A decadência dos jogos gregos ....................................................................................................... 40
3.3 Os exercícios físicos em Roma ........................................................................................................ 42
3.3.1 Monarquia (da fundação de Roma ao século VI a.C.) .............................................................. 42
3.3.2 República (séculos VI a.C.-I a.C.) ....................................................................................................... 43
3.3.3 O Alto Império (séculos I a.C.-III d.C.) ............................................................................................. 45
3.3.4 O Baixo Império (séculos III d.C.-V d.C.) ......................................................................................... 46
3.3.5 Os exercícios físicos em Roma ........................................................................................................... 47
3.4 As disputas atléticas na Idade Média ........................................................................................... 50
3.4.1 Contexto histórico geral ...................................................................................................................... 51
3.4.2 Baixa Idade Média .................................................................................................................................. 51
3.4.3 O movimento cruzadista...................................................................................................................... 52
3.4.4 Os exercícios físicos durante a Idade Média ................................................................................aç
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
bastava, a beleza era fundamental. Assim, a arquitetura era bastante rebuscada, as poesias, vestimentas 
e obras de arte aspiravam à beleza como valor moral. O corpo humano também se enquadrava nessa 
forma de pensar. A beleza do corpo era desejável. Alguém que não cuidasse de seu próprio corpo não 
era bem-visto na sociedade, não inspirava confiança, sobretudo se fosse adepto dos vícios da bebida, da 
comida e do ócio. O valor moral grego que determinava a virtude da beleza era denominado kalokagathia 
e representava a ideia de que “o belo é bom” (RUBIO, 2002).
A apreciação da beleza do corpo durante os exercícios e competições era evidenciada pelo hábito de 
exercitar-se nu. Os gregos apreciavam as formas corporais executando os gestos de luta, os lançamentos 
de disco e dardo, as corridas. Em função disso, encontramos inúmeras estátuas representando gestos 
atléticos, nas quais os modelos encontram-se nus. A estátua mais conhecida nesta categoria é o 
Discóbolo, de Míron, símbolo da Educação Física.
Figura 8 – Discóbolo de Míron
Como já foi visto, com os pensamentos de Sócrates, a valorização do exercício ocorria como forma 
de promoção da saúde do corpo e consequentemente da alma. Portanto, a formação de um corpo 
forte e saudável contribuía para a formação do homem como um todo, pronto para a vida de cidadão 
na pólis grega.
Dessa forma, a educação na sociedade grega antiga acabava por contribuir para a formação 
desses valores associados ao corpo. No entanto, o modelo educacional preconizado pelos 
educadores e filósofos buscava formar o Homem Integral, o ser político, apto a exercer todos 
os seus direitos e cumprir todas as suas funções para com a sociedade. Essa educação global foi 
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Unidade I
denominada Paideia e foi aplicada, sobretudo, nas cidades gregas aliadas de Atenas, adeptas do 
modelo democrático e possuidoras de grande desenvolvimento intelectual. As cidades aliadas de 
Esparta tinham uma sociedade militarizada, e a educação priorizava o desenvolvimento físico e o 
adestramento para as guerras.
A Paideia buscava o equilíbrio entre corpo, alma e mente. Uma escola adepta deste modelo foi a 
Academia de Platão, onde o corpo era adestrado através da ginástica (gimno – nu, a arte de exercitar-se 
nu) e da disputa de provas atléticas, a mente era desenvolvida através da Matemática (Geometria), 
Filosofia, Arquitetura, Astronomia e Política, e a alma era trabalhada pelas artes: poesia, teatro, escultura 
e pintura (RUBIO, 2002).
Contudo, percebe-se a estreita relação do grego antigo com o corpo, o que fez surgir uma grande 
herança cultural associada à prática do exercício físico, que acabou por inspirar o desenvolvimento da 
Educação Física moderna.
3.2.7 A cultura da Grécia Antiga e o exercício
A Grécia Antiga viveu momentos de grande importância para o desenvolvimento cultural da 
humanidade. A Grécia não constituía uma nação com unidade territorial na Antiguidade. Também 
chamada de Hélade, a Grécia era uma região habitada por povos com origem nos povos jônios, dórios, 
eólios, aqueus, micênicos e cretenses. Essa região se espalhava na forma de colônias independentes 
umas das outras, instaladas na Ática (região continental da atual Grécia), no Peloponeso (faixa de terra 
separada do continente por um istmo), em inúmeras ilhas no Mar Mediterrâneo e em terras ao sul da 
Península Itálica, ao norte na Macedônia e em toda a costa da Ásia Ocidental (RAMOS, 1982).
Os helenos, como eram chamados os gregos, tinham cultura similar, falavam a mesma língua com 
dialetos diferentes e adoravam as mesmas divindades antropomórficas para as quais erguiam suntuosos 
templos, estátuas, santuários e oráculos, sendo o mais famoso e temido de todos o Oráculo de Delfos, 
dedicado ao deus Apolo. Delfos era consultado por líderes de toda a Grécia antes de se tomar qualquer 
decisão determinante para o destino das cidades-estados. O oráculo orientava os ilustres devotos 
através de uma pitonisa (sacerdotisa de Apolo), que supostamente recebia as orientações do próprio 
deus (GODOY, 1996).
Outro importante santuário grego era a cidade sagrada de Olímpia, um conjunto de templos 
dedicados a Zeus, deus supremo do panteão grego, onde eram realizados, a cada quatro anos, os Jogos 
Olímpicos da Antiguidade (GODOY, 1996).
Os gregos eram um povo mercantilista e por isso tinham grande domínio da tecnologia naval. 
Algumas cidades, como Atenas, foram verdadeiras potências comerciais e militares com esquadras 
grandiosas e poderosas. Outras cidades, como Esparta, foram grandiosas como potências militares 
terrestres. Nota-se que os gregos eram muito belicosos, vivenciando muitas guerras. Em muitas 
ocasiões, as cidades gregas, mesmo as inimigas entre si, uniram-se para combater inimigos externos, 
como os persas; outras vezes, guerreavam entre si por anos, como o ocorrido na Guerra do Peloponeso 
(RAMOS, 1982).
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Devido a este convívio próximo com a guerra, o grego desenvolveu um espírito de combatividade 
bastante aguçado. O espírito de enfrentamento franco e direto, o desejo pelo confronto, era denominado 
aretê. Esse valor era praticado em jogos e no constante treinamento desenvolvido para forjar o corpo e 
o espírito agonista (RUBIO, 2002).
Essa realidade se deve ao fato de todos os cidadãos gregos serem treinados e convocados para o 
serviço militar. Diferente do que acontece na atualidade, em que os contingentes militares representam 
apenas pequena parcela da população, naquela época todos eram convocados para a luta e os confrontos 
eram bastante frequentes. Essa característica fazia com que os jogos e disputas atléticas gregas tivessem 
um nível maior de violência permitida (ELIAS; DUNNING, 1992).
O nível superior de violência física nos jogos antigos correspondia às características da sociedade grega 
antiga. Esses pressupostos determinavam uma postura de combate franca, incisiva e consequentemente 
mais violenta (ELIAS; DUNNING, 1992).
O espírito combativo grego expresso pelo aretê era desenvolvido em condições extremas em sociedades 
militarizadas, como a da cidade de Esparta, onde as esposas despediam-se de seus cônjuges desejando que 
voltassem da guerra com seus escudos vitoriosos ou sobre eles no caso de derrota, ou seja, ou a vitória, 
ou a morte. A boa morte chegava a ser desejada pelos guerreiros. O desejo pelo combate valoroso tornava 
as lutas muito violentas nos jogos gregos, mas, de acordo com as regras, não eram permitidos golpes 
baixos e covardes, fugas ou matar seu adversário em combate atlético. Fora isso, o nível de violência era 
bastante tolerado. A regulamentação e sistematização das atividades esportivas modernas, com o intuito 
de controlar a violência contida nas ações atléticas, estão vinculadas ao desenvolvimento da sociedade 
na forma de Estados Nacionais. A regulamentação das atividades atléticas coibindo o uso da violência é 
uma das características fundamentais do esporte moderno (ELIAS; DUNNING, 1992).
Esparta e Atenas foram as cidades-estados gregas que primeiro delinearam uma relação de corpo 
e movimento com critérios pedagógicos. Esparta era uma pólis guerreira por excelência e tinha por 
objetivo aumentar seu poder e defender-se dos perigos e ameaças dos povos vizinhos. Era dotada do 
melhor Exército da Grécia e educava seus jovens através do exercício físico dirigido à atividade guerreira, 
sob o ideal do cidadão-soldado, educado para o Ministério das Armas (RAMOS, 1982). 
A educação em Atenas tinha por objetivo primordial a formação geral do indivíduo e, apesar de ter 
uma postura mais aberta, em função da estruturação política democrática ocorrida por volta do ano de 
500 a.C., também utilizava os exercícios físicoscomo preparação militar (GODOY, 1996).
Os gregos desenvolveram um vasto legado filosófico, matemático, astronômico, físico, político e 
artístico. A sociedade grega adquiriu níveis de complexidade admiráveis, chegando a implantar um 
modelo verdadeiramente democrático em Atenas. A vivência e transmissão desta herança cultural fez 
surgir um rico sistema educacional denominado Paideia, que objetivava a formação do Homem Integral, 
apto a vivenciar com plenitude a vida na pólis (cidade). Esse modelo de educação bastante abrangente 
era formado por diversos tipos de escolas particulares, nas quais os garotos iniciavam seus estudos a 
partir dos 7 anos de idade, sempre acompanhados de um tutor contratado para guiar o jovem durante 
todo o processo de aprendizagem (GRIFI, 1989).
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Unidade I
Ainda jovem, o garoto frequentava o Gramático, onde era instruído nas letras e literatura pátria. 
Também frequentava o Citarista para aulas de música e recebia instrução na Palestra, onde fazia exercícios 
físicos e era iniciado em Filosofia e Ciências. Com cerca de 12 anos o garoto passava a frequentar o 
Ginásio, onde os exercícios físicos se intensificavam e os estudos de leis, Oratória, Política, Ciências e 
Matemática eram aprofundados em um verdadeiro modelo generalista de aprendizagem (GRIFI, 1989).
Vale lembrar que a Paideia é um modelo ateniense de educação. Cidades autocráticas e militarizadas, 
como Esparta, possuíam um modelo educacional muito mais simples e pragmático, visando a oferecer 
ao jovem um nível de instrução básico e um treinamento físico e militar exemplar desde os 7 anos, idade 
em que era retirado da guarda de seus pais e passava a ser propriedade da pátria. Aos 12 anos o garoto 
espartano era transferido para uma austera escola militar denominada Caserna, onde passava por duro 
treinamento físico, fazia longas caminhadas com fardos, era aprofundado em artes de guerra e marchas e 
ainda era submetido a privações, como fome e frio, visando a endurecer seu espírito (GRIFI, 1989).
Por volta dos 17 anos todos os garotos gregos, de Atenas ou de Esparta, eram admitidos na Efebia, 
uma escola militar preparatória, o último estágio de treinamento e inserção gradual do jovem no serviço 
militar (GRIFI, 1989).
Percebe-se que, em ambos os modelos educacionais, o treinamento do corpo é considerado com 
seriedade, sendo que em Atenas não é tão privilegiado quanto em Esparta, mas tampouco é colocado 
em segundo plano.
O fato é que, além de a formação militar exigir do grego um rigoroso preparo do corpo, outro 
senso de valor moral exigia cuidados corporais bastante sérios. Para o grego, o senso de harmonia e 
estética era algo muito importante, a beleza era uma virtude, o equilíbrio e a precisão das formas eram 
admiráveis. O mesmo pensamento recaía sobre o corpo, que deveria exemplarmente manter-se belo, 
forte e funcional – kalokagathia (RUBIO, 2001).
Em virtude do entendimento moral que considerava a beleza uma virtude – kalokagathia: o belo é 
bom –, os gregos exercitavam-se nus. A própria origem etimológica da palavra ginástica significa a arte 
de exercitar-se nu.
3.2.8 Os jogos na Grécia Antiga
A organização político-social da Grécia Antiga teve sua evolução a partir da monarquia patriarcal, 
passando por governos citadinos com base oligárquica e culminando no modelo democrático das pólis. 
A religião dos gregos tinha o caráter politeísta antropomórfico: eram adorados deuses que possuíam 
poderes divinos e formas humanas. Os gregos também adoravam semideuses ou heróis divinizados em 
função de suas gloriosas ações, como Héracles, Aquiles, Teseu, Perseu e Orfeu. Foi no âmbito do culto às 
divindades e aos heróis que surgiram os jogos (GRIFI, 1989).
Os heróis eram semideuses com poderes extraordinários, que viviam entre os homens realizando 
feitos incríveis. Os heróis gregos eram componentes da mitologia, considerados filhos da união entre 
deuses e mortais. A miscigenação que deu origem aos heróis semi-humanos gerou uma aproximação, 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
pois estes entes eram a representação simbólica que complementava o ego e a força que faltava aos 
homens perante os deuses. Era atribuído aos heróis um grande rol de façanhas, como a fundação de 
cidades, a instituição de leis, a metalurgia, a escrita, o canto, táticas de guerra, a instituição dos jogos 
antigos em homenagem aos deuses e o combate a bandidos, feras e monstros (RUBIO, 2001).
Inspirados nos heróis, os gregos organizavam grandes festas pan-helênicas, que reuniam gregos 
vindos de toda a Hélade nos grandes santuários. As festas religiosas contemplavam cerimônias, sacrifícios 
e grandes concursos atléticos, os jogos, realizados em honra aos deuses (GODOY, 1996).
Os jogos mais célebres da Grécia Antiga foram: os Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia, em honra 
de Zeus; os Jogos Píticos, realizados em Delfos, em honra de Apolo; os Jogos Nemaicos, em Nemeia, em 
honra de Zeus; e os Jogos Ístmicos, realizados próximo a Corinto, em honra de Poseidon (GODOY, 1996).
Zeus era o deus da justiça e da razão, da ordem e da autoridade, depositário das leis do mundo 
e pai universal. Para homenagear Zeus, a cada quatro anos eram promovidos os Jogos Olímpicos, 
em Olímpia, local onde esse deus era especialmente venerado. Esses jogos eram soberanos sobre 
todas as outras festas religiosas na Grécia Antiga e foram realizados sem interrupção durante 12 
séculos (GODOY, 1996).
A origem dos Jogos Olímpicos está mesclada à mitologia. Acredita-se que o herói Héracles foi o 
criador dos jogos realizados em Olímpia em honra de Zeus, seu pai. No entanto, registros históricos 
apontam o surgimento dos jogos a partir de um tratado de paz, o Ekeheiria, firmado em Olímpia no 
ano de 884 a.C., entre os reis de Pisa, Elis e Esparta. A realização dos jogos sagrados foi instituída para 
celebrar a paz (GODOY, 1996).
Figura 9 – Os pancracistas
São considerados os primeiros Jogos Olímpicos da Grécia Antiga aqueles realizados no ano de 
776 a.C., pois foi a partir de então que se encontraram registros dos nomes dos campeões dos jogos 
encravados na pedra de fundamentação do templo de Zeus (RAMOS, 1982).
A cada quatro anos, embaixadores sagrados eram enviados a todas as partes da Grécia Antiga para 
anunciar a realização dos Jogos Olímpicos, proclamando a trégua sagrada: durante os jogos, as guerras 
e conflitos entre as cidades–estados eram suspensos e todos que se dirigiam a Olímpia eram invioláveis. 
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Era proibido entrar armado na cidade. O Senado olímpico cumpria rigorosamente a carta de proclamação 
dos jogos: “Que o mundo esteja livre do crime e do ruído das armas” (GODOY, 1996).
Figura 10 – Os Jogos Olímpicos antigos
Os concorrentes chegavam com antecedência e se exercitavam durante dez meses no ginásio de 
Elis. Os jogos eram presididos pelos helanódices, que policiavam o concurso, aplicando sanções aos 
contraventores do regulamento.
De acordo com Godoy (1996), para que o atleta estivesse credenciado a participar dos jogos, precisava 
obedecer ao seguinte código:
• Ser cidadão livre: nem escravo, nem estrangeiro.
• Não ter sido punido pela justiça, nem ter moral duvidosa.
• Estar inscrito dentro do prazo, comparecer ao ginásio de Elis para cumprir o estágio de concentração, 
passar pelas provas classificatórias e prestar juramento.
• Todo retardatário estará fora da competição.
• As mulheres são proibidas de assistirem aos jogos.
• Durante as competições, os treinadores devem permanecer num recinto destinado a eles, próximo 
ao local da prova.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
• É proibidoprovocar a morte do adversário de forma voluntária ou involuntária.
• É proibido empurrar o adversário, persegui-lo fora dos limites determinados ou utilizar-se de 
comportamento desleal.
• É proibido amedrontar.
• A corrupção de árbitros e participantes é punida com chicote.
• Todo concorrente contra quem não se apresentar adversário será considerado vencedor.
• É proibido ao participante rebelar-se, publicamente, contra as decisões dos juízes.
• Todo concorrente descontente com uma decisão pode recorrer ao Senado olímpico contra 
os árbitros.
• Os membros do colegiado de juízes não podem participar do concurso.
Eram disputadas as seguintes modalidades nos jogos: no estádio realizavam-se a corrida a 
pé simples e dupla, a corrida com armas, a luta com mãos espalmadas, o pugilato, o pancrácio, 
que reunia a luta e o pugilato, e o pentatlo, que era composto por cinco provas – salto, corrida, 
luta, lançamento de disco e pugilato. No hipódromo, realizavam-se as corridas de carros, com 
quatro (quadrigas) ou dois cavalos (bigas), de carros atrelados com mulas e de cavalos montados 
(RAMOS, 1982). 
O vencedor era designado pelos helanódices e proclamado pelo arauto. Ele recebia como prêmio 
uma coroa feita com ramos de oliveira. Sua glória era imensa. O campeão era recebido triunfalmente 
em sua cidade natal.
A coroa de ramos de oliveira era apenas um prêmio simbólico, pois outras recompensas 
representavam as maiores homenagens recebidas pelos campeões olímpicos. Os nomes dos 
olimpiônicos eram gravados nos muros dos edifícios públicos. Seus feitos eram narrados em placas 
de mármore com letras de ouro. Os mais famosos poetas imortalizavam-nos em versos líricos. Em 
algumas cidades os campeões recebiam isenção de impostos, casas, terras, títulos de nobreza e até 
recompensas em dinheiro (GODOY, 1996).
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Figura 11 – Templo de Zeus em Olímpia
Existia uma evidente ascensão social e projeção dos indivíduos em função de seus feitos nos 
Jogos Olímpicos. O atleta vencedor voltava dos jogos sob a condição de herói e semideus. A cidade 
construía uma nova entrada para que o campeão fosse recebido em seu regresso triunfante dos jogos. 
Os habitantes tinham orgulho de seus campeões, e quanto mais olimpiônicos tivesse uma cidade, 
mais entradas eram abertas nas muralhas. Apesar do número excessivo de entradas comprometer a 
segurança das cidades, seus habitantes sentiam-se seguros com a presença de heróis olímpicos para 
protegê-los de ataques inimigos (GODOY, 1996).
A premiação dos atletas ocorria durante a cerimônia de encerramento dos jogos, que era realizada 
no bosque sagrado em frente ao templo de Zeus. Na cerimônia, os vencedores eram aclamados como 
olimpiônicos, tinham seu nome, de seu pai e de sua cidade divulgados e recebiam a coroa de ramos de 
oliveira. Ao final da premiação, os vencedores eram conduzidos para dentro do templo, onde agradeciam 
suas graças sob os pés da estátua de Zeus. Esse momento representava a maior ambição dos atletas, 
pois, sob a condição de olimpiônicos, eram aproximados dos deuses (GODOY, 1996).
 Lembrete
Os jogos gregos não podem ser denominados como esporte. O esporte 
é um fenômeno moderno, surgido na Inglaterra no século XIX. Os jogos 
gregos eram festividades religiosas com disputas atléticas.
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3.2.9 Milo de Crotona: a história de um herói grego
A história do treinamento físico não é completa sem a citação de Milo de Crotona, herói dos jogos 
gregos antigos. Milo detinha extraordinária força, o que o tornou um mito. Sua modalidade era a luta, o 
pancrácio (pan – pleno; cratus – poder), luta em que foi hegemônico, vencendo inúmeras competições 
e recebendo cinco títulos dos Jogos Olímpicos Antigos – em 532, 528, 524, 520 e 516 a.C., sem contar os 
jogos de 540 a.C., em que ganhou na categoria infantil. A derrota de Milo para Timotheos, que marcou o 
fim da sua legendária carreira, aconteceu em 512 a.C., na 67ª Olimpíada. A luta se desenvolveu por horas 
sem que os atletas conseguissem anular seu oponente, até que a jovialidade de Timotheos prevaleceu e 
Milo, com mais de 40 anos, foi derrubado três vezes ao solo (GODOY, 1996).
O treinamento de Milo abrangia exercícios como pesos, luta e o exercício de carregar diariamente 
um bezerro durante os quatros anos que separavam uma edição e outra dos Jogos Olímpicos. Este 
hábito estabeleceu as fundações de um dos principais princípios do treinamento de força, o da aplicação 
da sobrecarga progressiva. Milo desenvolveu sua força de forma descomunal devido ao seu treinamento, 
uma vez que, próximo à competição, o touro que era carregado por algumas centenas de metros pesava 
várias centenas de quilos (STOJILJKOVIC’ et al., 2013). 
Figura 12 – Milo de Crotona: treinamento com o touro sobre os ombros
Seu método de treinamento foi descrito em várias lendas gregas antigas, que também relatam a 
dieta de Milo, que seria capaz de ingerir nove quilos de carne, nove quilos de pão e oito litros de vinho 
diariamente. A lenda diz que Milo carregou sua estátua de bronze até o santuário de Olímpia, onde 
estava o templo sagrado de Zeus e onde eram realizados os Jogos Olímpicos (STOJILJKOVIC’ et al., 2013).
É provável que as histórias de Milo de Crotona tenham sido amplamente exageradas, mas 
não há dúvida de que sua personalidade era muito impetuosa e que sua extraordinária força e 
condição física excedeu a força de seus rivais por mais de vinte anos consecutivos. Devido a sua 
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Unidade I
personalidade forte e sua soberba, Milo teria provocado sua própria morte. Diz a lenda que, certo 
dia, ao andar por um bosque afastado, Milo teria avistado uma árvore rachada ao meio por ter 
sido atingida por um raio. Ciente de sua força, Milo teria tentado acabar de quebrar a árvore com 
as próprias mãos e acabou ficando preso na fissura e, sem ninguém para socorrê-lo, foi devorado 
por lobos (GODOY, 1996).
Figura 13 – Milo de Crotona sendo devorado
3.2.10 A mulher na Grécia Antiga
Durante o século V a.C., as dezenas de pólis gregas uniram-se militarmente pela primeira vez para 
enfrentar um inimigo comum, os persas, que ameaçavam suas fronteiras orientais. Em Esparta, as 
mulheres tinham uma vida mais ativa que em Atenas, onde permaneciam em casa, não tinham direitos 
políticos e deviam obediência ao pai e ao marido.
O tratamento dado às mulheres gregas é diferente em função da cidade-estado em que viviam: as 
mulheres atenienses viviam reclusas em suas casas, enquanto as mulheres espartanas tinham uma vida 
pública mais permissiva, podiam se exercitar, eram livres para circular na cidade e recebiam a educação 
estatal destinada a atender às necessidades do seu meio social. Estas mulheres desempenhavam papéis 
sociais importantes, tinham como objetivo gerar filhos robustos e corajosos. Já as mulheres atenienses 
se mantinham confinadas em sua casa, cuidando dos afazeres do lar, como tecer, fabricar utensílios de 
cerâmica e cuidar dos filhos (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
Na Grécia Antiga, as mulheres não podiam participar de competições atléticas juntamente com os 
homens. Os jogos, a disputa e a apreciação do corpo nu dos atletas fazia parte do universo masculino; 
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as mulheres estavam limitadas à função da maternidade. No entanto, nos jogos da deusa Hera, cujos 
primeiros registros datam de 200 a.C., havia a participação das mulheres, atletas jovens e solteiras em 
competições a cada quatro anos. As mulheres que competiam nos jogos de Hera não tinham o status 
de heroínas porque elas não preenchiam os requisitos dos heróisolímpicos e suas estruturas corporais e 
suas habilidades atléticas não remetiam às façanhas dos heróis. Suas competições eram mais simples e 
não exigiam o mesmo preparo físico masculino (MIRAGAYA, 2007). 
O primeiro registro dos Jogos Olímpicos da Antiguidade data de 776 a.C. Embora somente homens 
pudessem competir nas Olimpíadas, que eram em honra a Zeus, algumas mulheres tinham permissão 
para assistir. Essas mulheres eram jovens e solteiras à procura de um marido. Elas deveriam observar os 
corpos fortes e falar com seus irmãos ou pai sobre aquele atleta que queriam para marido. Entretanto, 
mulheres casadas eram proibidas de assistir às Olimpíadas sob pena de morte. A única mulher casada 
que tinha permissão de assistir aos Jogos era a sacerdotisa de Demeter (MIRAGAYA, 2007).
Mulheres casadas não poderiam nem mesmo assistir aos Jogos Olímpicos, pois se temia que houvesse 
profanação do local sagrado. Existe o registro de apenas uma violação, quando uma mulher se disfarçou 
de treinador para ver seu filho triunfar na competição do boxe – embora os árbitros a tenham poupado, 
não a atirando do penhasco porque ela era filha do famoso boxeador Diágoras (FRANCISCO, 2010). 
Disfarçada em trajes masculinos, Callipateira, filha e irmã de atletas coroados no estádio, conseguiu 
acompanhar o filho Pisidoro como seu instrutor. Vendo Pisidoro vitorioso em uma das lutas, a mãe, 
entusiasmada, largou o disfarce para se lançar na arena ao encontro do vencedor. Apenas por respeito 
a seu pai, irmãos e filho, ela ficou impune. A partir dessa ocorrência foi promulgada uma lei que exigia 
a todos os atletas tirarem a roupa antes de entrarem na arena (CHIÉS, 2006).
Existem indícios de duas mulheres que participaram dos Jogos Olímpicos antigos por possuírem pais e 
irmãos com bastante influência política. A primeira mulher do Olimpismo antigo que conseguiu triunfos 
foi Kyniska, filha do rei Archidamus II, meia-irmã do rei Agis II (427-400 a.C.) e irmã do rei Agesilaus 
(400-360 a.C.). Os cavalos da princesa espartana venceram a prova de quadrigas (carros puxados por 
quatro cavalos) das 96ª e 97ª Olimpíada (396 e 392 a.C.); à campeã foi dedicada uma quadriga em bronze 
de tamanho inferior ao natural, colocada no Templo de Zeus em Olímpia. Segundo Chiés (2006, p. 109), 
Kyniska alcançou um alto patamar de honra nos jogos e deixou registrado em um epigrama a seguinte 
frase: “Reis de Esparta foram meus pais e irmãos, e eu, Kyniska, vencendo a corrida de bigas, recebi esta 
estátua. Eu afirmo que sou a única mulher em toda a Grécia que ganhei esta coroa.” A participação de 
Kyniska nos jogos não representou uma evolução no quadro de consideração da mulher na sociedade 
grega. O que se entende foi que a sua participação foi impulsionada por seu irmão Agesilaus, por 
motivos estritamente políticos. A segunda mulher foi também atleta nas provas de corrida com cavalos 
(quadrigas): seu nome era Belistiche da Macedônia, vencedora na prova de quadrigas de potros da 128ª 
Olimpíada (268 a.C.) e na de biga de potros da 129ª Olimpíada (CHIÉS, 2006).
A proibição da presença de mulheres na audiência indica o quão limitada era a vida das mulheres 
casadas no cotidiano da Grécia Antiga, havendo permissão para as solteiras. Nos jogos em homenagem 
à deusa Hera, as mulheres participavam apenas das corridas, caracterizando um cenário de participação 
restrita, no qual as mulheres não participavam de modalidades mais violentas ou extenuantes, que 
pudessem colocar em risco a função da maternidade (FRANCISCO, 2010).
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Unidade I
Em Olímpia, foram promovidas competições oficiais somente para as mulheres. Esses eventos 
foram chamados de Jogos Heranos, nome derivado do culto à deusa Hera. Essa deusa foi venerada 
como protetora das esposas e mães, e a ela foi construído um templo em V a.C., localizado entre Argos 
e Micenas, que abrigava a célebre estátua de ouro e marfim de Hera. Esses jogos em louvor a Hera 
consistiam de corridas a pé, sendo diferenciadas as provas pela idade das jovens. As mais velhas eram 
as primeiras a correr e assim por diante. Elas corriam de cabelos soltos, com uma túnica colocada um 
pouco acima de suas cinturas e o ombro direito nu até a altura do peito. Nos Jogos Heranos, as mulheres 
disputavam apenas uma corrida de 162 metros na cidade de Elis. Para as vencedoras entregavam-se as 
coroas de oliveiras, e oferendas e estátuas eram esculpidas com seus nomes inscritos (CHIÉS, 2006).
 Observação
A túnica nos Jogos Heranos, recobrindo apenas um seio, era uma 
homenagem a guerreiras mitológicas, Amazonas, exímias arqueiras que 
amputavam um dos seios para não atrapalhar o retesamento do arco.
Observa-se que as primeiras mulheres atletas vieram de Esparta, particularmente porque os 
espartanos acreditavam que as mulheres que eram saudáveis, tinham condicionamento físico e 
se exercitavam regularmente teriam filhos saudáveis. Inicialmente, essa filosofia de inclusão pode 
parecer bastante diferente da filosofia ateniense, que preconizava a domesticidade e a reclusão 
feminina (MIRAGAYA, 2007). 
Figura 14 – Os Jogos Heranos
3.2.11 A decadência dos jogos gregos
Por volta do século V a.C., os povos gregos começam a entrar em declínio devido às sucessivas 
guerras travadas entre si. A Guerra do Peloponeso, travada longamente entre os anos de 431 a 404 a.C., 
foi um conflito armado entre Atenas e Esparta e seus respectivos aliados da Liga de Delos (chefiada por 
Atenas) e da Liga do Peloponeso (chefiada por Esparta). Esse e outros conflitos entre os povos gregos, 
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ocorridos entre o século VI e IV a.C., fizeram com que a população declinasse, as reservas econômicas se 
exaurissem e as defesas do mundo grego ficassem fragilizadas, expondo a Grécia à investida de inimigos 
externos, como os macedônios, os persas e os romanos (GRIFI, 1989).
Em 338 a.C., Filipe II da Macedônia conquista toda a Grécia ocidental e inicia uma campanha de 
união dos povos gregos sob seu comando com o intuito de avançar sobre o Império Persa. Em 336 a.C., 
Filipe é assassinado e assume em seu lugar o seu jovem e brilhante filho Alexandre Magno (O Grande), 
que leva adiante a unificação da Grécia ao Império Macedônio. O jovem Alexandre, que teve educação 
grega sob a tutoria de Aristóteles, foi brilhante na arte da guerra e conseguiu expandir as fronteiras 
do Império Macedônio por grande parte da Ásia, levando consigo a cultura grega e a fundindo com a 
cultura oriental, fundando cidades e bibliotecas por toda a vasta extensão de seu domínio (GRIFI, 1989). 
Por essa época, os povos gregos continuaram realizando seus ritos religiosos e seus jogos em 
homenagem a seus deuses. No entanto, o orgulho e a pungência da civilização grega estavam abalados, 
pois eram agora um povo dominado, e não mais um conjunto de cidades livres, independentes e até 
democráticas. A moral, os costumes e as normas dos jogos mantiveram-se intactos durante o período 
de domínio macedônico, pois os macedônicos tinham aproximação cultural com os gregos, sobretudo 
seu líder Alexandre, grande entusiasta da cultura helênica (GRIFI, 1989).
No entanto, esse grande império não duraria muito tempo. Com a morte precoce de Alexandre 
Magno, em 323 a.C., aos 33 anos de idade, os territórios conquistados foram divididos entre seus 
principais generais, ocasionando uma sucessão de conflitos e retaliações que mantiveram os 
gregos sob domínio.
O clima de incertezas sob o domínio macedônico durou até o ano de 146 a.C., quando os 
romanos conquistaram a Grécia, anexando-a ao território de Roma e mantendo o jugo dos gregos, 
que poderiam ser denominados cidadãos romanos caso se submetessem às leis de Roma, pagando 
impostos e fornecendo soldados para o Exército romano (GODOY, 1996).
Com o domínio de Roma sobre a Grécia, acultura dos helenos foi preservada, seus ritos, jogos e 
funerais foram mantidos e sua educação e desenvolvimento científico e filosófico foram absorvidos 
por Roma, assim como características da organização social e política, Medicina, Astronomia, 
Matemática e Artes.
No entanto, o povo grego não era mais livre e seu potencial criativo foi sendo reduzido juntamente 
com sua moral e orgulho nacionalista. Os jogos gregos ilustram a forma com que os costumes gregos 
foram tratados, ferindo o orgulho dos helenos.
Após o domínio romano, muitas cidades de fora da Grécia começaram a participar dos jogos, que 
antes eram exclusivos dos gregos. Os objetivos originais dos jogos eram homenagear os deuses do 
Olimpo e, honrosamente, competir em busca da vitória através do bom combate, em que mais valia uma 
luta valorosa do que uma vitória fácil. A ética grega permeada pelo espírito combativo fazia dos jogos, 
sobretudo os Olímpicos (disputados em Olímpia, em honra de Zeus), um momento solene de respeito e 
submissão aos deuses (RAMOS, 1982).
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Unidade I
Os povos estrangeiros que passaram a participar dos jogos estavam interessados apenas na vitória 
a qualquer custo, como forma de ganhar prestígio. Com isso, o rígido código de regras dos jogos caiu 
em desuso e as disputas passaram a contar com vergonhosos episódios de trapaças e corrupção, além 
da presença de mercenários, com índole duvidosa, que competiam apenas pela recompensa, deixando a 
honra muito fora de questão (GODOY, 1996).
No ano de 67 d.C., os Jogos Olímpicos contaram com a participação do imperador romano Nero, 
que era um admirador dos jogos. O imperador disputou a corrida de bigas e foi declarado vencedor, 
mesmo tendo sido derrubado por seu cavalo e não completando o percurso. Na ocasião, Nero competiu 
sozinho, pois os outros atletas se recusaram a competir com o imperador; temiam por suas vidas e de 
seus familiares caso vencessem o imperador ou, ainda pior, caso houvesse uma situação de acidente, 
bastante comum nas corridas de bigas, que viesse a ferir Nero. Ele conquistou os louros olímpicos 
graças a um generoso suborno pago aos juízes que arbitravam a competição e, de forma humilhante, se 
autoproclamou deus dos romanos e deus dos gregos (GRIFI, 1989).
Foi pautado nesse triste episódio da história dos Jogos Olímpicos que, quase 2 mil anos mais tarde, 
o barão Pierre de Coubertin, idealizador do Olimpismo moderno, defendeu duramente o amadorismo 
esportivo. Coubertin vislumbrava uma participação esportiva semelhante aos Jogos Olímpicos antigos, 
quando era possível paralisar guerras, gerar o bom entendimento entre os jovens e oportunizar uma 
disputa leal e honrosa. O amadorismo olímpico moderno perdurou até os Jogos de Barcelona, em 
1992, quando os atletas e equipes profissionais puderam finalmente participar e o Comitê Olímpico 
Internacional se rendeu às forças do capitalismo e do marketing esportivo (GODOY, 1996).
Em 390 d.C., na Tessalônica, território grego sob domínio romano, um conflito entre romanos e 
gregos culminou em uma grande rebelião entre os gregos. Teodósio I, imperador de Roma, ordenou 
o massacre de mais de 7 mil gregos rebeldes, além da destruição de suas casas e edifícios. Ambrósio, 
arcebispo de Milão, condenou o ato do imperador (RAMOS, 1982).
Após o massacre, Teodósio I foi acometido por uma grave enfermidade e recorreu a Ambrósio pedindo 
por saúde e paz. O arcebispo o convenceu a converter-se ao cristianismo. Teodósio assim o fez e foi curado. 
Convertido, confessou-se culpado pelo morticínio dos gregos e, atendendo ao pedido de Ambrósio, o 
imperador Teodósio aboliu todas as manifestações pagãs em 393 d.C., inclusive os Jogos Olímpicos na 
Grécia, colocando fim em uma história de mais de 12 séculos ininterruptos de jogos (RAMOS, 1982).
3.3 Os exercícios físicos em Roma
3.3.1 Monarquia (da fundação de Roma ao século VI a.C.)
Roma nasceu de um pequeno povoado nas terras férteis do Lácio, região central da Península Itálica. Seu 
povo tem origem em vários outros povos que habitavam a região, como palatinos, sabinos, etruscos e até 
os gregos, que já possuíam colônias na Península Itálica e mantinham constante relacionamento comercial 
com os etruscos, mas as organizações políticas, no início, ocorreram no centro da Península Itálica. A cidade 
de Roma teria sido fundada pelos netos de Eneias, Rômulo e Remo. Eneias era um imigrante de Troia. Essa 
hipótese estreita a relação da história de Roma com a da Grécia Antiga (ROSTOVTZEFF, 1983).
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A Monarquia Romana se refere à dinastia dos reis Tarquínios, na qual os etruscos tiveram domínio 
em Roma. Ao todo, foram três reis: Tarquínio, o Velho; Sérvio Túlio; e Tarquínio, o Soberbo. Durante 
esse período, a economia romana era essencialmente agrícola. A sociedade estava dividida em patrícios, 
aristocratas e grandes proprietários de terra que possuíam privilégios políticos e religiosos. Existia 
uma classe de homens livres, artesãos, pequenos comerciantes, que não tinham direitos políticos, os 
plebeus. Na sociedade romana, durante a Monarquia, existiam também os escravos, formados por 
povos conquistados ou escravizados por endividamento, que eram em menor número nesse período 
(VICENTINO; DORIGO, 2013).
O rei tinha funções administrativas, judiciais e religiosas e seu poder era controlado pelo Conselho 
dos Anciãos, dominado pelos patrícios. A cúria era formada pelos cidadãos em idade apta para o serviço 
militar. No fim do século VII a.C., a dinastia dos reis Tarquínios, de origem etrusca, foi derrubada por um 
levante liderado pela aristocracia patrícia. A Monarquia deu lugar a um regime oligárquico e republicano, 
no qual o Senado passou a ser figura central no jogo do poder liderado pelas famílias abastadas da elite 
romana (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.3.2 República (séculos VI a.C.-I a.C.)
O governo republicano foi caracterizado pelo domínio do poder administrativo, político e religioso 
nas mãos do Senado, que era formado de forma dominante pelos patrícios, classe aristocrata. Os 
governantes, magistrados, eram eleitos e tinham mandato de um ano; suas funções e decisões eram 
submetidas à aprovação e votação do Senado, sendo seus poderes bastante limitados. Os patrícios 
tinham cadeiras vitalícias no Senado, que tinha poder absoluto (VICENTINO; DORIGO, 2013).
A organização social, política e militar de Roma no período republicano foi motivada por pressões 
externas, como invasões de gauleses e celtas, acordos comerciais com a cidade de Cartago e um impulso 
expansionista em busca da conquista de novas terras na Península Itálica e seus arredores. Nesse 
contexto, os plebeus foram gradativamente ganhando espaço na representação política no Senado, com 
a criação de cargos de tribunos da plebe, e na representação em uma assembleia popular formada por 
representantes dos grupos sociais. Essa nova configuração política gerou a especialização mais refinada 
dos cargos públicos em Roma (ROSTOVTZEFF, 1983). 
Os magistrados tinham a função de administrar a República, eram eleitos para mandatos de um ano 
e eram divididos em função de suas atribuições em: cônsules, que propunham leis, presidiam o Senado 
e as assembleias e podiam ser nomeados como ditadores temporários em períodos de guerras; pretores, 
responsáveis pela justiça e pela guarda pretoriana, tropa de elite romana; censores, que funcionavam 
como classificadores das classes sociais em Roma, categorizando os cidadãos de acordo com a sua 
renda; edis, que cuidavam da conservação, do abastecimento e do policiamento da cidade; e questores, 
responsáveis pelas finanças do governo (VICENTINO; DORIGO, 2013).
As assembleias romanas populares (centurial, curial e tribal) reuniam-se para a nomeação dos 
magistrados e a ratificação das leis. O sistema políticorepublicano era controlado pelos patrícios. No 
entanto, os plebeus marginalizados formavam uma classe descontente e havia um constante clima de 
tensão. Em 494 a.C., os plebeus, revoltados, exigiam representação política na cidade. As atividades da 
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cidade ficaram paralisadas e a oligarquia aristocrática dos patrícios retrocedeu, sendo criados cargos de 
tribunos da plebe, que passavam a ser representações do povo no Senado – eleitos pelos plebeus, tinham 
poder de veto sobre as decisões do Senado (ROSTOVTZEFF, 1983). 
Em 450 a.C. foi elaborada a Lei das Doze Tábuas, uma Constituição romana necessária, pois, desde 
a derrubada dos Tarquínios, as leis antigas não haviam sido substituídas. As leis passam a ser expostas 
no prédio do Fórum Romano, dando condições mais igualitárias para patrícios e plebeus. As tensões 
de classes foram uma importante mola propulsora da organização política romana, motivada também 
pelas transformações econômicas provocadas pela política de expansão territorial da República Romana 
(VICENTINO; DORIGO, 2013). 
Nos séculos seguintes (V a.C. a III a.C.), Roma conquistou toda a Península Itálica e se envolveu em 
muitos conflitos, como as Guerras Púnicas contra Cartago, cidade fundada por fenícios e que dominava 
o comércio no Mediterrâneo desde o enfraquecimento grego em função da Guerra do Peloponeso. 
Cartago ficava no norte da África e dominava a ilha da Sicília. Os romanos viam a Sicília como parte da 
Península Itálica e tinham interesse em suas terras férteis. O choque entre Roma e Cartago acabou por 
desencadear a guerra. Após vários conflitos, Cartago foi destruída e Roma assumiu o controle de grande 
extensão territorial por todo o Mediterrâneo (ROSTOVTZEFF, 1983).
A expansão territorial provocou muitas mudanças na estrutura de Roma, que delegou ao Senado 
a atribuição de administrar um vasto território e toda a riqueza que vinha de impostos, pilhagens e 
apropriações. O enorme afluxo de bens das províncias conquistadas produziu impacto na economia, 
com a queda cada vez mais acentuada dos preços dos produtos agrícolas. A política expansionista 
passou a ser elemento-chave da economia romana (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Os patrícios ligados ao Senado eram grandes proprietários de terras. Os pequenos proprietários 
plebeus não conseguiram sobreviver com a concorrência dos abundantes e baratos produtos vindos das 
colônias e venderam suas terras, mudando-se para a cidade na condição de mão de obra de baixo custo. 
A cidade de Roma passou a crescer desmedidamente, de forma descontrolada, o que elevou a tensão 
social. Escravos chegavam aos milhares, vindos das províncias conquistadas. As riquezas acentuaram 
as desigualdades sociais e as tensões só aumentaram. Os patrícios ricos lucravam com as conquistas e 
tiveram sua produção beneficiada com o menor custo da mão de obra escrava. Os plebeus perderam 
suas pequenas propriedades e seus empregos foram substituídos pela mão de obra escrava (VICENTINO; 
DORIGO, 2013). 
A crise da República Romana se agravou, e as pressões sociais motivaram rebeliões e levantes 
populares. O Senado passou a oferecer jogos públicos como alternativa paliativa de contenção das 
tensões da plebe. Muitos anfiteatros foram construídos com capacidade para milhares de pessoas. 
Nos jogos, corridas e batalhas sangrentas ocupavam os humores da população cada vez mais pobre e 
oprimida (RAMOS, 1982). 
Uma nova tentativa de superação da crise foi a ideia de reforma agrária, proposta pelos irmãos Tibério 
e Caio Graco, que exerciam o cargo de tribunos da plebe; eles sugeriram a distribuição de terras como 
uma forma de superar a crise, satisfazendo as necessidades da plebe empobrecida. A proposta chegou a 
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ser aprovada pelo Senado, mas não foi implementada, pois desagradava, sobretudo, aos patrícios, donos 
das terras. O projeto de reforma política e agrária dos irmãos Graco fracassou, e a concentração de 
terras nas mãos dos patrícios continuou a existir. A questão agrária continuou desencadeando tensões 
sociais, e outras tentativas de redistribuição de terra foram defendidas, como a de 91 a.C., por iniciativa 
do tribuno Marco Lívio Druso, que acabou sendo assassinado (VICENTINO; DORIGO, 2013).
No decorrer da história, o crescimento do poder militar de Roma elevou o prestígio de seus 
generais, que eram bem-sucedidos em campanhas de expansão de território ou em guerras para 
contenção de invasores. Esses generais recebiam a anuência do Senado para governar Roma como 
ditadores e, em meio à crise interna, controlavam os ânimos com seu carisma e poder, aliando-se aos 
patrícios e, em outras ocasiões, aos plebeus. Dessa forma, mantinham o equilíbrio interno em Roma 
assim como faziam nas fronteiras. Com o crescimento em prestígio de mais de um general, alianças 
foram criadas para evitar conflitos internos. Assim surgem os triunviratos. O primeiro triunvirato 
foi formado pelos generais Caio Júlio César, Pompeu e Crasso. Com o passar do tempo, uma rede de 
intrigas e disputas por poder desestabilizaram a tríplice aliança, e Júlio César, a quem era atribuída 
descendência divina, proclamou-se ditador e implantou medidas econômicas e administrativas, 
remendando um pacto em que seu poder suplantaria o poder do Senado. Em 44 a.C. foi proclamado 
ditador vitalício, o primeiro passo para a implantação do Império. No entanto, foi assassinado a 
facadas em pleno Senado (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Após a morte de Júlio César, o vazio de poder foi preenchido pelo segundo triunvirato, formado por 
Marco Antônio, Otávio e Lépido, originando novos confrontos. Marco Antônio arquitetou um plano para 
assumir o poder, assim como fizera Júlio César, mas sabia que Otávio era seu sobrinho e sucessor legal. 
O conflito entre os generais levou a várias batalhas, que culminaram com a morte de Marco Antônio e a 
proclamação de Otávio como imperador em 31 a.C. A partir dessa data, assumiu o posto de ditador com 
poderes especiais, sendo reeleito anualmente até que, em 27 a.C., promulgou uma nova Constituição 
no Senado, a qual lhe concedia o título de imperador vitalício. Foi renomeado como Otávio Augusto 
(divino) (ROSTOVTZEFF, 1983).
3.3.3 O Alto Império (séculos I a.C.-III d.C.)
Otávio Augusto teceu uma série de reformas e fez promulgar uma nova Constituição em Roma, 
concentrando os poderes em suas mãos. A partir de 27 a.C. ficou instaurado o Império em Roma. Com a 
diminuição do poder do Senado, ocorreu uma profunda reforma política em Roma. O imperador passou 
a ser cultuado como divino. O império criou uma burocracia constituída por uma nova classe privilegiada 
de Roma, formada pela aristocracia patrícia e pelos comerciantes enriquecidos com a expansão territorial 
(homens-novos). Dessa forma, Otávio distribuiu cargos e diminuiu a tensão entre as classes mais ricas de 
Roma. Para agradar o povo (plebeus), Otávio passou a usar com frequência a oferta de jogos públicos, 
espetáculos sangrentos e corridas de quadrigas (carruagens puxadas por quatro cavalos e um auriga 
condutor) e a doação de alimentos (pães, cotas de trigo, entre outros). A celebração de jogos não 
respeitava apenas o calendário religioso, mas ocorria de acordo com a conveniência do imperador. Essa 
política de alienação apaziguadora das populações urbanas nas cidades romana foi denominada como 
política do pão e circo (VICENTINO; DORIGO, 2013).
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Figura 15 
3.3.4 O Baixo Império (séculos III d.C.-V d.C.)
A partir do século III d.C., Roma entrou em uma série de crises. A economia passou a definhar, uma vez 
que a expansão territorial e as conquistas de novas terras estagnaram. Os recursos oriundos de riquezas, 
pilhagens, tributose incorporações dos novos territórios conquistados reduziram drasticamente, ao 
mesmo tempo que as despesas com o grandioso Exército se manteve, assim como as despesas das 
cidades. A importância agora era manter as fronteiras e evitar a todo custo a invasão de inimigos e a 
retomada de territórios (ROSTOVTZEFF, 1983).
Sem novas conquistas, a captura de escravos reduziu drasticamente; o sistema de mão de obra 
escravagista passou a ser substituído por mão de obra assalariada, o que onerou muito as receitas 
do Império. Os elevados custos para manter as estruturas imperiais, militares e administrativas 
desestruturaram o poder central do imperador, reavivando os conflitos entre generais do Exército e 
acelerando a crise imperial (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Ao mesmo tempo que a crise econômica e militar aumentava cada vez mais, causando deserções 
e perda de territórios, o imperador, internamente, perdia poder e prestígio com o crescimento do 
cristianismo. A religião cristã crescia sobretudo entre a plebe e os escravos, que se amparavam na 
promessa de uma vida melhor e da salvação, mesmo que isso ocorresse apenas após a morte. A ética 
cristã privilegiava os pobres e afrontava o poder do imperador quando alegava existir apenas um Deus, 
senhor do céu e da terra. O politeísmo romano incluía a crença na origem divina do imperador, que 
era cultuado como o Deus Sol invicto. Por muitos séculos, os cristãos foram considerados traidores, 
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perseguidos e executados nas arenas e nos circos, crucificados, imolados ou devorados por feras, para 
o deleite dos espectadores. No entanto, com o crescimento do cristianismo como prática religiosa, as 
execuções de cristãos ficaram bastante impopulares. Na medida em que a derrocada econômica assolava 
o Império, cada vez mais homens livres se convertiam ao cristianismo (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Alguns imperadores tomaram medidas drásticas na tentativa de salvar o Império da crise. Diocleciano 
(284-305) criou o Édito Máximo, fixando os preços de mercadorias e salários. Não teve sucesso e os 
problemas de abastecimento aumentaram. Constantino (306-337) promulgou o Édito de Milão (313), 
que estabeleceu a liberdade de culto aos cristãos. Constituiu uma segunda capital para o Império, em 
Constantinopla (antiga Bizâncio, cidade grega), a leste e próxima ao Mar Negro, em uma parte do 
Império menos atingida pela crise do escravismo. Teodósio (378-395) transformou o cristianismo em 
religião oficial do Império (Édito de Tessalônica), nomeando a si mesmo como chefe da religião. Dividiu 
o Império Romano em duas partes: do Ocidente (com capital em Roma) e do Oriente (com capital em 
Constantinopla). No governo de Teodósio, a penetração de povos bárbaros ocorreu de forma lenta e 
gradual até a total queda do Império em 476 d.C. (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
3.3.5 Os exercícios físicos em Roma
No período monárquico, as atividades esportivas tiveram grande influência do povo etrusco, formador 
da civilização romana. Eram realizadas, predominantemente, atividades utilitárias de preparação militar: 
exercícios equestres, marchas, corridas, esgrima, lutas e natação. Nesse período, os jogos públicos já 
eram realizados em dias festivos, porém com um forte vínculo com cerimônias religiosas (RAMOS, 1982).
A segunda fase vai de 510 a.C. a 26 a.C. e foi caracterizada por um período republicano, marcando o 
início do processo de grande expansão dos domínios romanos. A República foi instituída após quase dois 
séculos de conflitos entre a classe dos patrícios (aristocracia) e os plebeus em busca de direitos iguais 
(aproximadamente 300 a.C.). Nessa fase tiveram início as grandes conquistas do domínio romano. O 
fortalecimento dos grandes generais (Pompeu, Júlio César, Marco Antônio e Otávio) provocou conflitos 
internos pelo poder. A construção dos grandes anfiteatros e arenas para combates e jogos ocorreu ainda 
nessa fase como iniciativa para apaziguar os conflitos entre o povo, representado pelos plebeus, e a 
aristocracia romana, representada pelos patrícios (GRIFI, 1989).
Na fase republicana, os jogos públicos tiveram grande desenvolvimento no sentido de entreter o 
povo em momentos de dificuldades internas geradas pelas longas campanhas de conquista territorial. 
As atividades físicas eram, ainda, praticadas sob forte preceito militar; no entanto, devido à expansão 
territorial e à miscigenação cultural, a prática atlética sofreu influência grega e algumas atividades 
higiênicas e esportivas foram agregadas (RAMOS, 1982).
Apesar da difusão cultural helenística, a filosofia grega para a prática de atividades gímnicas com 
objetivos pedagógicos gerais, buscando um desenvolvimento harmonioso e global do homem, não foi 
bem-aceita entre os romanos. A prática de atividades físicas entre os romanos tinha caráter estritamente 
prático, objetivando a formação militar ou a promoção de saúde, no caso das atividades higiênicas 
desenvolvidas nas inúmeras termas romanas (GRIFI, 1989).
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Em 27 a.C., o Senado atribuiu poderes absolutos ao general Otávio, sobrinho de Júlio César, e deu-lhe 
a denominação de Augusto, instaurando o período do Império Romano, que representou cerca de 500 
anos de paz interna dentro das fronteiras de Roma e um grande crescimento das fronteiras e povos 
conquistados. O Império durou até 476 d.C., quando ocorreu a invasão dos germanos e a derrocada de 
Roma. O Império Romano representou o apogeu de Roma, período em que seus territórios alcançaram 
a máxima extensão (RAMOS, 1982).
No período imperial, a realização dos jogos públicos atingiu sua fase áurea. Durante o ano chegava 
a ocorrer dois dias de jogos e diversões para cada dia de trabalho. A população, de forma geral, passou 
a ter uma função meramente espectadora. A prática de atividades físicas e rigorosos treinamentos era 
limitada aos soldados do poderoso Exército romano e aos escravos e profissionais que disputavam os 
jogos públicos (RAMOS, 1982).
Houve a degradação das atividades praticadas nas termas, as práticas higiênicas decaíram, os cidadãos 
passaram a ser cada vez mais sedentários e as termas se limitavam à realização de ritos religiosos, 
como os festivais feitos a Baco, o deus do vinho. Também se notou uma degeneração geral dos valores 
atléticos da população, que se contentava em assistir aos espetáculos cada vez mais sangrentos e cruéis 
(GRIFI, 1989).
A realização dos jogos públicos foi bastante importante como fator de política interna do Império. 
Nos numerosos dias de jogos eram distribuídas cotas de pão à população. Assim, a política do pão e 
circo foi responsável pela estabilidade interna do Império, alienando as massas, evitando levantes e 
insurreições populares (RAMOS, 1982).
A deturpação dos jogos ocorreu à medida que as atividades se tornaram cada vez mais espetaculares. Nos 
grandes circos, com capacidade para até 100 mil pessoas, eram realizadas corridas de bigas, quadrigas, batalhas 
navais e apresentações equestres de habilidades. A disputa acirrada dos competidores inflamava os torcedores 
e não era rara a ocorrência de mortes em função de acidentes e sabotagens provocadas pelos adversários nas 
corridas de carros. As atividades realizadas nos anfiteatros, grandes arenas que comportavam até 60 mil pessoas, 
tinham maior grau de violência. Ali eram desenvolvidos os Jogos Gladiadores, em que guerreiros fortemente 
armados combatiam até a morte. Também se realizavam nesses recintos as venações, combates entre feras 
selvagens ou entre gladiadores e feras, bem como batalhas navais simuladas. Outra atividade espetacular e 
cruel realizada nos anfiteatros era a execução de criminosos e cristãos, que eram lançados às feras ou aos 
gladiadores sem quaisquer armas ou possibilidades de defesa (RAMOS, 1982).
 ObservaçãoO cristianismo cresceu na periferia de Roma como uma mensagem de 
salvação para os mais oprimidos. O crescimento da doutrina cristã foi um 
fator determinante para a desestruturação de Roma.
Com a ascensão do cristianismo, marcada pelo Édito de Constantino (313 d.C.) e, mais tarde, com 
Teodósio instituindo-o como religião do Estado (393 d.C.), houve uma grande perseguição às atividades 
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pagãs, levando à extinção dos jogos públicos e das práticas esportivas de origem greco-romana, de 
forma geral (GRIFI, 1989).
Exemplo de Aplicação
Um governo altamente centralizador, assolado constantemente por crises internas de fome 
e doenças, e pressionado externamente por povos bárbaros que tentavam invadir os territórios 
romanos. Assim era a situação do povo em Roma. A aclamada Pax Romana somente era possível 
em função de grandes gastos com soldos e manutenção de legiões. A luta travada constantemente 
nas fronteiras garantiu a paz por séculos no interior dos domínios de Roma. No entanto, essa paz 
era relativa, pois a iminência de escassez de alimento, os problemas com doenças e a perseguição 
de cristãos geravam conflitos, levantes e descontentamento na capital e nas grandes cidades em 
todo o vasto Império. 
Buscando acalmar os ânimos do povo, os imperadores aumentaram de forma substanciosa a prática 
do oferecimento de jogos públicos em grandes estádios com capacidade entre 50 e 100 mil espectadores 
– eram os anfiteatros, arenas com capacidade para cerca de 80 mil pessoas, onde as disputas entre 
gladiadores, as lutas com feras e a execução de criminosos e opositores (cristãos) eram realizadas. 
Existiam ainda os grandes circos, com capacidade para mais de 100 mil pessoas, onde eram realizadas 
corridas de bigas e quadrigas e representadas batalhas disputadas nas fronteiras de Roma. Alguns circos 
tinham estrutura para simular batalhas navais com barcos e água de verdade. Em períodos de grande 
conflito, os imperadores chegaram a decretar mais de 150 dias de jogos públicos em um único ano. 
Nesse período, milhares de animais eram trazidos da África todos os anos para que fossem caçados em 
espetáculos sangrentos nas arenas.
Além do entretenimento, os imperadores decretavam dia de feriado e distribuíam cotas de pães 
aos milhares de espectadores presentes nas arenas. Ainda existia um clímax emocional nas batalhas: 
quando, ao final de uma luta, um dos oponentes encontrava-se agonizando no chão, o vencedor 
solicitava a anuência do imperador para executar ou a clemência para poupar o adversário. O 
imperador, nessas ocasiões, voltava-se para o público e, em um gesto de interatividade, convidava o 
povo a participar da decisão. Invariavelmente o povo aclamava pela execução, afinal estava ali para 
um espetáculo de sangue.
Essa política do entretenimento e alienação do povo da consciência crítica quanto aos problemas 
de Roma foi chamada de política do pão e circo (panis et circenses). Esses eventos, quando oferecidos 
de forma sequencial, melhoravam a aceitação da opinião pública quanto ao imperador e acalmavam 
os ânimos, pois o clímax sanguinário das disputas era mais importante do que a discussão dos 
problemas sociais.
Reflita sobre a alienação gerada por espetáculos esportivos no mundo contemporâneo. 
Podemos traçar um paralelo com esse tipo de política de manobra das massas. Os governantes se 
aproveitam do fato de a população ficar ocupada com o clímax emocional dos eventos esportivos, 
dos programas jornalísticos de relatos policiais, que usam o método da “falação” para discutir 
exaustivamente algum assunto, entoando um ritmo de voz agonizante e apavorador. Jovens, 
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idosos e adultos concentram sua discussão em assuntos de pouca relevância, deixando em 
segundo plano notícias de votação de aumento de impostos, de aumento do valor de salários dos 
deputados, aprovação de orçamentos, entre outros. 
A alienação exclui o povo da crítica, da discussão política. Outro grande fator de alienação é o 
endividamento por consumo frívolo. As pessoas são levadas a consumirem mais do que ganham através 
do uso de cartões de crédito. Depois percebem que estão sendo consumidas pelos juros e devem buscar 
novas fontes de renda para honrar os compromissos, adotam uma postura extremamente pragmática, 
aumentam a jornada de trabalho, mesmo que através de colocações na economia informal. Sem 
benefícios, as pessoas ficam cada vez mais dependentes do trabalho. Com a carga horária tomada pelo 
trabalho, as pessoas não encontram tempo para o lazer e, sobretudo, para a reflexão de problemas. 
Vivem alienadas, trabalhando para pagarem contas e mergulhadas no lazer anestésico do futebol.
3.4 As disputas atléticas na Idade Média
A queda do Império Romano aconteceu devido a uma conjuntura de diversos fatores que geraram 
uma crise interna. O primeiro e determinante fator foi uma crescente derrocada financeira gerada pela 
escassez de recursos para manter as vastas fronteiras do Império e o número do contingente militar. A 
crise econômica desencadeou uma grave crise militar. Com atrasos no soldo, os regimentos passaram a 
se dispersar, desguarnecendo as fronteiras e gerando a perda de territórios. Além desses dois fatores, o 
imperador havia perdido poder político e prestígio com a oficialização do cristianismo e o fim dos cultos 
pagãos. Com isso, a caracterização divina do imperador entrou em descrédito (RAMOS, 1982).
Roma não foi tomada simplesmente. O Império ruiu e implodiu sobre suas próprias estruturas 
desgastadas. O ano de 476 d.C. marca a invasão bárbara dos povos que se opuseram por séculos 
ao domínio nas fronteiras setentrionais e orientais: unos, godos, visigodos, ostrogodos, germanos, 
entre outros, tomaram um Império desestruturado e retalharam seus territórios em reinos feudais 
(RAMOS, 1982).
O processo de desestruturação do Império Romano marcou o início da Idade Média, com 
reestruturação social e de poder. No apagar das luzes de Roma, uma instituição se manteve forte e 
serviu de pilar para a organização do mundo medieval. A Igreja Católica Apostólica Romana estava 
bastante estruturada e recebeu os bárbaros invasores como salvadores, estabelecendo alianças 
(GRIFI, 1989).
A maioria dos povos bárbaros invasores possuía uma cultura pautada na oralidade, com costumes, 
leis e traços passados de geração para geração. A Igreja iniciou um processo de aculturação ao catequizar 
os bárbaros na fé cristã. Os líderes da Igreja medieval trataram de monopolizar todo o conhecimento 
clássico greco-romano, queimando e escondendo bibliotecas inteiras, assumindo o papel de educadores 
da nobreza aliada de acordo com os valores e interesses da Igreja cristã (GRIFI, 1989).
As invasões bárbaras provocaram uma retração no desenvolvimento das cidades, passando a 
prevalecer a organização de feudos. Os feudos eram propriedades rurais fortificadas, protegidas pelos 
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senhores feudais. O sistema feudal se organizava através da estrutura de trabalho de servidão. Os servos 
eram protegidos pelos senhores feudais, trabalhavam em suas terras, lhes deviam fidelidade e obediência. 
Por sua vez, os senhores feudais serviam ao rei, sustentando-o politicamente e militarmente. Além da 
hierarquia social da nobreza, a Igreja era um dos pilares de sustentação do sistema feudal, estabelecendo 
a ordem social por ser detentora da liderança intelectual e espiritual. Mantinha seu poder em função da 
ignorância do povo, monopolizando o conhecimento e o desenvolvimento cultural. Sua força vinha da 
disseminação do temor a Deus e do medo da danação eterna (GRIFI, 1989).
3.4.1 Contexto histórico geral
A Idade Média pode serconsiderada o período entre a Idade Antiga e a Idade Moderna. O período 
de aproximadamente mil anos, que vai, convencionalmente, da desagregação do Império Romano do 
Ocidente, após sua ocupação pelos bárbaros em 476, até a tomada de Constantinopla pelos turcos 
otomanos, em 1453, foi chamado de Idade Média (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
O período medieval pode ser caracterizado pela ideia de atraso cultural, em função de a Igreja 
dominar todas as esferas da vida das pessoas. Essa condição teria impedido o avanço do pensamento, da 
política e das artes. A construção desse pensamento foi fundamentada na comparação do longo período 
medieval com o considerado “renascimento” das ciências e das artes (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
A ruralização foi uma característica da Europa medieval. Desde o final do Império Romano, as cidades 
foram sendo abandonadas por causa das invasões bárbaras. A falta de mão de obra escrava atraía vastos 
contingentes de trabalhadores para o campo, que arrendavam terras na condição de servos. O movimento 
dessa população marcou a volta a uma economia rural de subsistência. Devido à instabilidade causada 
pelas guerras e à concentração da população em comunidades rurais, o comércio entrou em declínio, 
assim como a utilização de moedas. Para proteger-se da agressão externa, construíram-se castelos e 
residências fortificadas. Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento do cristianismo, que, pouco a pouco, 
se impunha à nova sociedade em formação. Vários reinos bárbaros converteram-se à doutrina cristã 
(VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.4.2 Baixa Idade Média
No período que vai do século XI ao século XV, chamado de Baixa Idade Média, começaram a ocorrer 
transformações no feudalismo. As origens dessas mudanças estão no esgotamento da autossuficiência 
produtiva, ocasionada pelo aumento populacional a partir dos séculos X e XI. Com a diminuição 
progressiva no ritmo das invasões, as condições de vida se tornaram mais estáveis, o que provocou 
gradativo aumento de população (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
A explosão populacional exigiu aumento das áreas cultivadas para ampliar a produção, além de 
um desenvolvimento comercial mais vigoroso, ativando as trocas locais, desbancando a tendência ao 
imobilismo feudal das unidades produtivas autossuficientes. O aumento populacional, aliado a pesadas 
taxas e tributos, deixou grande quantidade de aldeões endividados e, consequentemente, sem suas 
terras, muitos procuraram outras oportunidades de sobrevivência, e outros foram expulsos dos feudos 
(VICENTINO; DORIGO, 2013). 
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3.4.3 O movimento cruzadista
As Cruzadas foram expedições militares de cunho religioso, organizadas pela Igreja para reconquistar 
a região da Palestina, que estava dominada pelos muçulmanos desde o século VII. Tratava-se de Jerusalém, 
terra considerada santa para os cristãos, local onde viveu e foi sepultado Jesus. A luta de reconquista 
já era desejada pelos imperadores bizantinos, que esperavam o auxílio do Ocidente no combate aos 
povos muçulmanos, sobretudo os turcos. Dessa forma, os interesses religiosos justificavam os interesses 
políticos e econômicos (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
As Cruzadas elevaram o ânimo dos reis europeus, que se motivaram para a reconquista da Península 
Ibérica, dominada por árabes muçulmanos. Os conflitos com os mulçumanos e o bloqueio naval do 
Mediterrâneo impulsionaram a organização das Grandes Navegações, que pretendiam estabelecer novas 
rotas comerciais para o Oriente, mas acabaram levando às Américas. Dessa forma, a Europa foi capaz 
de impor sua concepção de mundo, sua cultura e seus valores a todos os povos que foram colonizados 
(VICENTINO; DORIGO, 2013).
No período medieval a educação entrou em crise. As escolas eram restritas ao clero e à nobreza, 
os conteúdos programáticos apresentados eram bastante doutrinários e dogmáticos. Os livros 
apresentados eram extremamente selecionados. Os materiais mais controversos à doutrina cristã 
foram queimados ou trancados nos mosteiros, e apenas membros do alto clero tinham acesso a 
eles. Na Idade Média, os filósofos floresceram dentro desses mosteiros. No entanto, os filósofos 
cristãos tinham total alinhamento com os dogmas da Igreja. Dentro dos mosteiros eram realizadas 
a leitura e a cópia de documentos escritos e de alguns livros das civilizações grega, romana e 
árabe (VICENTINO; DORIGO, 2013).
 Saiba mais
O filme indicado a seguir narra a investigação de uma série de 
assassinatos ocorridos em um mosteiro medieval de monges copistas:
O NOME da rosa. Dir. Jean-Jacques Annaud. Alemanha; França; Itália: 
Neue Constantin Film, 1986. 130 minutos. 
Santo Agostinho (354-430), um grande nome da filosofia medieval, foi responsável pela síntese 
entre a filosofia clássica e o cristianismo. Duas de suas mais importantes obras são Confissões e 
A cidade de Deus. A obra de Santo Agostinho tem grande alinhamento filosófico com a obra de 
Platão: seus pensamentos são dedicados ao conhecimento da essência humana, à salvação da 
alma. Afirmava que a busca racional da verdade deveria sempre seguir a fé, “a fé precede a razão” 
(CHAUÍ, 2000).
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 Observação
A Idade Média foi um período de mudança de paradigmas em relação à 
sociedade antiga. Os avanços culturais e artísticos foram mais lentos, mas 
é um equívoco acreditar que não existiram.
3.4.4 Os exercícios físicos durante a Idade Média
As atividades que envolviam o corpo tiveram um desenvolvimento restrito e regulado pelos 
interesses da Igreja da época. As práticas atléticas antigas da Grécia e de Roma foram proibidas e 
rotuladas como atividades pagãs.
O desenvolvimento de atividades atléticas somente foi alavancado, nessa época, em função da 
incidência da organização da cavalaria. A cavalaria se desenvolveu como uma tradição na Idade Média, 
principalmente na constituição das Cruzadas, realizadas para libertar a “Terra Santa” (Jerusalém) do 
domínio dos mouros. A tradição da cavalaria previa a formação de nobres cavaleiros para lutar em nome 
de Deus. As atividades atléticas da época desenvolveram-se das rotinas de treinamento dos cavaleiros. 
Dessas atividades surgiram competições envolvendo habilidades guerreiras, desempenho físico e valores 
morais e espirituais do cavaleiro (GRIFI, 1989).
Geralmente as atividades esportivas eram praticadas por apenas uma pequena parcela da população, 
representada pela nobreza e pela aristocracia, determinando o caráter elitista das atividades da época. 
Basicamente, as ações esportivas imitavam as exigências bélicas dos cavaleiros. Eram lutas com armas 
(espadas, lanças, bastões), equitação, arco e flecha, combates montados. No âmbito competitivo, 
destacaram-se o torneio e a justa (RAMOS, 1982).
O torneio teve duas fases bem definidas. Na primeira, a disputa consistia em uma batalha feroz 
entre dois grupos de cavaleiros. Os combatentes digladiavam-se até a morte e, ao final do dia, 
eram computados os feridos e mortos para a determinação da equipe vencedora. Os sobreviventes 
reuniam-se para um banquete. A segunda fase do torneio foi caracterizada pela diminuição da 
violência, pelo uso de armas de madeira ou com as lâminas encapadas. Essas mudanças ocorreram 
após determinações da Igreja com o intuito de reduzir a brutalidade da disputa. A justa era o 
combate entre dois cavaleiros montados, armados com lanças, armaduras e escudos. Consistia no 
enfrentamento de ambos com o objetivo de derrubar o adversário de sua montaria (GRIFI, 1989; 
RAMOS, 1982).
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As competições na Idade Média tinham caráter essencialmente amador e respeitavam uma série de 
regras e posicionamentos morais, sendo comparadas à fase áurea dos jogos gregos,antes da decadência 
promovida pelo profissionalismo e pela dominação romana. A elitização da prática fica evidenciada pelo 
fato de apenas nobres poderem participar das disputas realizadas em pátios e arenas montadas dentro 
ou nos arredores dos castelos e fortificações da nobreza (GRIFI, 1989). 
 Saiba mais
O filme indicado a seguir ilustra de forma bem-humorada e com 
uma linguagem moderna as competições medievais e o contexto 
cultural da época:
CORAÇÃO de cavaleiro. Dir. Brian Helgeland. EUA: Columbia Pictures 
Corporation, 2001. 132 minutos.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
4 O RENASCIMENTO CULTURAL E AS PERSPECTIVAS PARA O CORPO E O 
MOVIMENTO HUMANO
Entre os séculos XIV e XVI, generalizou-se na Europa uma série de movimentos artísticos e 
científicos que tinham em comum o rompimento com valores do período medieval e a recuperação 
de ideais e modelos da Grécia e da Roma Antigas. Esses movimentos receberam o nome de 
Renascimento. Os renascentistas foram vistos como os continuadores dos ideais científicos, 
artísticos e estéticos cultivados no mundo antigo, mais precisamente na civilização greco-romana 
clássica (VICENTINO; DORIGO, 2013).
O Renascimento é considerado um momento de transição, de ruptura entre as estruturas 
socioeconômicas, políticas e ideológicas da Idade Média e ligação com as novas ideias e organizações 
sociais da Era Moderna. Esse período de transformações ocorreu primeiro na Europa, entre os anos de 
1400 e 1600, de forma diferente em cada país.
A característica mais evidente é a ruptura com a ideologia doutrinária e hegemônica da Igreja 
Católica Apostólica Romana medieval, um afastamento das rígidas concepções teocêntricas e uma 
aproximação crescente com um pensamento racionalista, humanista e antropocêntrico. Após esse 
período, a Igreja passou a não mais ter autoridade para regulamentar a vida pública, deixando o 
homem livre para o crescimento intelectual e artístico, caracterizado pela retomada da cultura 
antiga greco-romana. O conhecimento clássico grego foi reintroduzido na Europa pelos árabes, 
que dominaram o Mediterrâneo e invadiram a Península Ibérica (Portugal e Espanha) entre os 
anos de 711 e 1492 (JAGUARIBE, 2001).
Dentro da própria Igreja Católica surge um movimento de sucessivos papas que desenvolveram o 
pensamento humanista, construíram bibliotecas, criaram universidades e financiaram artistas humanistas 
– entre eles podem-se citar Nicolau V, Pio II, Alexandre VI (Bórgia), Júlio II e Leo X (Giovanni de Médici). 
Além do surgimento de papas próximos ao humanismo, inúmeros pensadores e artistas impulsionaram 
o movimento renascentista na Europa, com destaque para as cidades italianas de Gênova, Veneza e 
Florença, centros urbanos e comerciais bastante desenvolvidos (JAGUARIBE, 2001).
O envolvimento da Igreja em conflitos contra o Sacro Império Romano e a crescente perda de apoio 
político de cidades e reinos importantes, como Florença, fizeram com que a Igreja se enfraquecesse. 
Outro fator de declínio da Igreja foi a Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero, que negou a 
autoridade da Igreja e publicou 95 teses de protesto na Igreja de Wittenberg, na Alemanha, em 31 de 
outubro de 1517. Lutero declarou que a Igreja não tinha mais autoridade, apenas as Escrituras Sagradas 
(Bíblia) têm autoridade (sola scriptura) plena e, para o cristão, o mais importante é a fé (sola fide). O 
movimento de reforma se espalhou rapidamente por outros países europeus e nas décadas seguintes 
dividiu o mundo cristão em dois campos opostos, criando uma divisão permanente no mundo cristão 
entre as perspectivas católica e protestante (JAGUARIBE, 2001).
Durante o Renascimento, a mudança mais evidente e perene foi a explosão do humanismo, do 
racionalismo e do antropocentrismo nas artes e na produção intelectual. A produção artística dessa 
época volta ao estilo clássico greco-romano e passa a ilustrar o ser humano como tema central. Pinturas, 
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Unidade I
desenhos e esculturas retratam o corpo desnudo em seus mais rebuscados detalhes e expressões, 
caracterizando um realismo compromissado com o humano em contraste com a arte medieval atrelada 
à temática sacra (JAGUARIBE, 2001).
A evidência histórica do Renascimento como momento de transição entre o medieval e o moderno 
e entre o sagrado e o humano é a vida e obra do artista Michelangelo Buonarroti (1475-1564), que se 
dedicou à pintura e à escultura com maestria, produziu inúmeras obras por encomenda da Igreja (Papa 
Júlio II) e mesmo assim mostrou desprendimento e coragem para expressar o ser humano e o estilo 
neoclássico.
A seguir, a obra David, de Michelangelo Buonarroti (1504).
Figura 17 – David, de Michelangelo
Outros artistas viveram e expressaram o Renascimento em sua arte. Entre eles cabe destaque a 
Leonardo da Vinci (1452-1519), Rafael Sanzio (1483-1520), Donatello (1386-1466) e Sandro Boticcelli 
(1445-1510). Esses artistas inovaram e ousaram produzir obras de vanguarda com um viés humanista, 
retratando o homem e o mundo sob a ótica do mundo moderno (JAGUARIBE, 2001).
No campo filosófico e científico inúmeros intelectuais buscaram a ruptura com a filosofia escolástica 
medieval, impregnada de dogmas doutrinários, e se alinharam com o humanismo racionalista. Existia, 
na época, um sentimento de libertação e ressentimento para com o domínio obscuro da Igreja Medieval.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Na área da Educação Física existe a retomada gradativa da produção de estudos e obras pedagógicas 
defendendo uma educação mais integral, equilibrando o desenvolvimento intelectual ao desenvolvimento 
corporal. As ações práticas se multiplicaram mais tarde na Europa, em meados do século XVIII, sob a 
influência dos autores e pedagogos que, a partir do Renascimento, retomaram contato com estudos e 
obras da Grécia a respeito da Paideia, educação integral, e da prática de ginástica (RAMOS, 1982).
4.1 Os precursores renascentistas 
A seguir, alguns relatos de professores e intelectuais que iniciaram a publicação de obras e a 
implantação de modelos educacionais voltadas para a prática de exercícios.
Vittorino da Feltre (1378-1446) foi professor de Filosofia e Retórica, inspirou-se na cultura greco-
romana e dedicou-se à educação, dirigindo sua escola, La Giocosa de Mantova (Casa Alegre). Ministrava 
a seus alunos ginástica, jogos com bola, esgrima, corrida, equitação, marcha e exercícios de resistência 
ao frio e ao calor. Vittorino estimulava as atividades em grupo, a alegria e o alarido próprio dos jovens 
e crianças e condenava a solidão como desencadeadora de maus hábitos. Buscava o ideal grego de 
formação integral com a harmonia entre corpo, mente e espírito (RAMOS, 1982).
Maffeo Veggio (1407-1458) foi professor dedicado à ginástica e à fisiologia. Publicou, em 1491, 
a obra Educação da criança, em que pregava que os exercícios físicos deveriam ser ministrados a partir 
dos 5 anos de idade e indicava a prática de exercícios de intensidade moderada, a fim de evitar a fadiga 
em nível elevado.
François Rabelais (1494-1553), filósofo, escritor e médico, defendeu a vida ao ar livre e o 
desenvolvimento pleno das capacidades físicas. Defensor da alegria, foi crítico da educação escolástica. 
Escreveu a obra Gangântua e Pantagruel, na qual ressaltou a necessidade da higiene e do exercício físico. 
Na obra, o autor conta as proezas realizadas por Gargântua. A personagem é um garoto extremamente 
ativo e hábil, que domina equitação, arco, luta, natação, saltos ginásticos, jogos com bola, remo, 
suspensões na barra, levantamento de pesos, entre outros exercícios que buscavam laurear o herói, 
dando metas para a educação dos jovens da época. Em oposição, o autor53
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4 O RENASCIMENTO CULTURAL E AS PERSPECTIVAS PARA O CORPO E O 
MOVIMENTO HUMANO..................................................................................................................................... 55
4.1 Os precursores renascentistas ........................................................................................................ 57
Unidade II
5 O EXERCÍCIO FÍSICO NAS SOCIEDADES MODERNAS ........................................................................ 65
5.1 As escolas ginásticas: educação, saúde e nacionalismo ....................................................... 65
5.1.1 O movimento ginástico sueco ........................................................................................................... 66
5.1.2 O movimento ginástico francês ........................................................................................................ 69
5.1.3 A história do Parkour ............................................................................................................................ 71
5.1.4 O movimento ginástico alemão ........................................................................................................ 72
5.2 A gênese do esporte moderno e o processo civilizatório britânico ................................. 74
5.2.1 O esporte moderno e o contexto social ........................................................................................ 78
5.2.2 Violência, esporte e civilização .......................................................................................................... 80
5.3 O Olimpismo moderno ....................................................................................................................... 82
5.3.1 O ideário olímpico .................................................................................................................................. 84
5.3.2 A força dos Jogos Olímpicos .............................................................................................................. 87
6 O ESPORTE CONTEMPORÂNEO, ASPECTOS POLÍTICOS E MERCANTILISTAS ............................. 88
6.1 A história do uso político do esporte ........................................................................................... 88
6.1.1 O Olimpismo: um nobre ideal corrompido ................................................................................... 89
6.1.2 Jogos Olímpicos de Berlim (1936) e a propaganda nazista ................................................... 90
6.1.3 O esporte: arma ideológica na Guerra Fria ................................................................................. 94
6.1.4 O esporte e o mundo contemporâneo ........................................................................................... 96
6.2 A organização esportiva versus a lógica capitalista .............................................................. 98
6.2.1 O esporte-espetáculo e os meios de comunicação de massa ............................................100
6.3 As perspectivas do esporte educacional ...................................................................................101
6.3.1 A crítica ao esporte no processo educacional ..........................................................................101
6.3.2 A defesa do esporte competitivo como instrumento de educação .................................104
Unidade III
7 O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL .............................112
7.1 A história do futebol no Brasil ......................................................................................................112
7.2 A história da Educação Física no Brasil .....................................................................................119
7.3 A Educação Física brasileira e os pareceres de Rui Barbosa .............................................120
7.4 Eugenia, higiene e nacionalismo, ideais brasileiros no início do século XX ...............121
7.5 A institucionalização do esporte brasileiro ..............................................................................122
7.6 A quebra do paradigma no esporte feminino brasileiro ....................................................123
7.6.1 A mulher no esporte: gênero e mídia ........................................................................................ 123
7.7 As estruturas esportivas brasileiras contemporâneas .........................................................125
8 EDUCAÇÃO FÍSICA E EPISTEMOLOGIA ..................................................................................................126
8.1 Abordagens filosóficas da Educação Física no Brasil ...........................................................127
8.2 Aspectos pedagógicos da Educação Física contemporânea ............................................129
8.3 Educação Física e aspectos da saúde ........................................................................................131
8.3.1 Educação Física e saúde mundial .................................................................................................. 132
8.3.2 Atividade física e nível socioeconômico..................................................................................... 134
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APRESENTAÇÃO
Este material está organizado de forma que cada capítulo desenvolva uma contextualização 
histórica, geográfica, política, social e cultural de cada povo ou período abordado. 
Posteriormente, apresenta uma análise focada nos exercícios físicos, jogos e disputas atléticas 
específicas de cada civilização.
Inicialmente serão discutidos temas introdutórios e conceituais a respeito da História, Filosofia e 
Ciências Sociais que apoiam a metodologia de análise deste livro-texto. Serão abordados, de forma crítica, 
a evolução da civilização antiga, os contextos históricos e sociais e a ênfase nas questões relacionadas 
ao exercício no mundo antigo e seu legado para o mundo contemporâneo, englobando a análise do 
Egito Antigo, Grécia e Roma. Abordaremos ainda o exercício no período medieval e as transformações 
socioculturais do Renascimento.
Depois, apresentaremos uma análise histórico-crítica das sociedades modernas e suas relações com 
o exercício físico pautado nos processos educativos, produtivos e de entretenimento. Serão relacionadas 
as escolas ginásticas europeias, os autores que mudaram o paradigma da educação ocidental moderna, 
resgatando o exercício e os bons hábitos através da ginástica e do esporte, este último desenvolvido 
sobretudo a partir da Revolução Industrial, no berço da aristocracia burguesa na Inglaterra. Trataremos 
também do surgimento do Olimpismo e da restauração dos Jogos Olímpicos na Era Moderna, bem como 
de suas implicações e desdobramentos.
As discussões irão se estender à manipulação política do esporte moderno feita pelos governos 
oportunistas a partir do início do século XX e às relações do esporte contemporâneo com a mídia, 
as finanças e o capital globalizado desde o final do século passado até os dias atuais. Faremos um 
contraponto dos níveis de participação esportiva relacionando o esporte educacional, o esporte de 
participação e o esporte de rendimento.
Também abordaremos as origens da Educação Física no Brasil sob a influência da ginástica 
europeia e as discussões a respeito da Educação Física brasileira no início do século XX. 
Relataremos a jornada para o desenvolvimento do futebol e dos clubes esportivos brasileiros. 
Desenvolveremos amplo debate a respeito da institucionalização do esporte durante a Era 
Vargas, os propósitos higienistas e eugenistas e a segregação da mulher na prática esportiva. 
Ainda serão apresentadas referências a respeito das abordagens metodológicas na Educação 
Física, aspectos filosóficos e epistemológicos.
Todas as discussões históricas e filosóficas levamdesenvolve a personagem 
Pantagruel, um garoto obeso, glutão e indolente, que evitava ao máximo a fadiga do corpo e do espírito, 
vivendo uma vida pacata e pouco motivadora, com hábitos de pouca higiene. A personagem era a 
antítese do herói e sua inação era narrada de forma jocosa e irônica; seus hábitos eram ressaltados 
como fraqueza de caráter.
A obra Gargântua e Pantagruel teve grande repercussão, atraindo a atenção da população a respeito 
das práticas naturais no âmbito educacional com o fortalecimento do corpo e o arejamento do espírito 
(RAMOS, 1982).
Na obra, destaca-se a forma engraçada de ver a educação calcada em velhos preceitos, como viciosa, 
suja, doente e decadente, e de higienizá-la se novos procedimentos fossem adotados. O corpo assume 
uma dimensão muito importante na obra ao ser utilizado como um ponto de referência na crítica ao 
comportamento desregrado, glutão e preguiçoso dos pais e do próprio Gargântua antes de começar a 
ser educado de acordo com as novas ideias (HEROLD JUNIOR, 2006).
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Unidade I
Gargântua é um exemplo da crença no poder da educação para a transformação do homem, sentimento 
marcante do pensamento renascentista, que buscava a ruptura com a educação escolástica medieval, 
extremamente teórica, castradora e doutrinária. A personagem principal de Rabelais, numa situação 
de excessos, preguiça e ociosidade, transforma-se em um homem vigoroso, inteligente, cultivador da 
saúde, do trabalho e das virtudes. A intervenção do educador é realçada como determinante para a 
transformação do garoto através da Educação Física (HEROLD JUNIOR, 2006).
Percebe-se, na obra de François Rabelais, o surgimento de novas relações sociais e a crítica aos 
velhos procedimentos, a valorização do corpo e do movimento na educação. O autor busca, na cultura 
das sociedades antigas de Grécia e Roma, subsídios para um desenvolvimento físico higiênico e moral, 
desprezando o abandono ao qual o corpo é deixado durante a Idade Medieval. O autor exprime as 
mudanças sociais e educacionais que surgiram no momento de transição denominado Renascimento, 
quando ocorre o processo de transição da sociedade feudal para a sociedade burguesa e o surgimento 
de novas necessidades educacionais (HEROLD JUNIOR, 2006).
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um filósofo social, teórico político e escritor suíço. Foi o 
mais popular dos filósofos que participaram do Iluminismo, movimento intelectual do século XVIII. Suas 
ideias influenciaram a Revolução Francesa. Em sua obra mais importante, O contrato social, desenvolveu 
sua concepção de que a soberania reside no povo. 
Figura 18 – Retrato de Jean-Jacques Rousseau
Rousseau publicou muitas obras, mas no seu conteúdo pedagógico destaca-se o romance Emílio, ou 
Da Educação (1762). Nele, o autor destaca a importância da prática de exercícios físicos pelos jovens, a 
necessidade do esforço, a vida ao ar livre, a alimentação saudável e hábitos higiênicos, como o uso de 
roupas leves, o arejamento das residências e o aleitamento materno. Rousseau foi um grande estudioso 
da filosofia grega e de seu método de educação integral, a Paideia. Em Emílio, o autor estabelece um 
programa educacional com quatro princípios básicos:
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
• O jovem deve ser educado de forma livre.
• A infância da criança deve ser vivida de forma plena e prolongada.
• A educação do emocional deve preceder a educação intelectual.
• O saber importa menos que o exercício de juízo, valores éticos.
Rousseau destaca em sua obra frases que até hoje se mostram bastante atuais como diretrizes para a 
educação: “Quem quiser ser forte espiritualmente deve cultivar suas forças físicas”; “Cultivai a inteligência 
de seu filho, mas, antes de tudo, cultivai o seu físico, porque é ele que orienta o desenvolvimento mental; 
é necessário primeiro tornar seu filho são e forte, para poder vê-lo mais tarde, inteligente e sábio” (apud 
RAMOS, 1982, p. 176).
O autor recomenda, em sua obra, a prática de corrida, saltos, subidas em árvores, arremesso de 
pedras, exercícios de equilíbrio, jogos com bola e levantamento de pesos. 
Devido a seu grande prestígio, Rousseau influenciou toda uma geração de pedagogos, filósofos e 
professores, entre eles Pestalozzi e Goethe. Suas orientações pedagógicas podem ser percebidas nos 
movimentos educacionais ginásticos do final do século XVIII e durante todo o século XIX (RAMOS, 1982).
Girolamo Mercuriale (1530-1606), professor, médico e humanista, autor de uma grande obra 
sobre a prática de exercícios físicos: De arte ginástica, inspirada na obra de Galeno e outros gregos 
antigos. Os seis tomos da obra apresentam conhecimentos precisos sobre a prática de exercícios físicos. 
O autor apresenta uma concepção sistemática e racional, com ilustrações bastante explicativas. Ele 
divide sua obra em exercícios gerais e exercícios adaptados à condição do praticante, faz notas a 
respeito dos efeitos dos exercícios físicos e dos problemas causados se aplicados de forma incorreta e 
divide o treinamento físico em três fases: preparatória, fundamental e respiratória. Além disso, prega a 
necessidade de se considerar a idade do praticante, a estação do ano e até a hora de prática durante o 
dia (RAMOS, 1982). 
Sua obra cita e referencia mais de 120 autores antigos gregos, romanos e árabes. Com isso, Mercuriale 
estimulou a releitura desses autores clássicos por muitos filósofos e pedagogos renascentistas. Seus 
esforços possibilitaram o reaparecimento da prática de atividades físicas sistematizadas, que entraram 
em declínio e abandono após o período da Antiguidade Clássica greco-romana. 
François de Salignac de La Mothe-Fénelon (1651-1715), arcebispo católico francês, publicou 
em 1687 um tratado sobre a educação das jovens, no qual defende a prática da ginástica feminina 
como forma de se opor à vida ociosa das meninas. De acordo com o autor: 
Nesta ociosidade, a jovem abandona-se à preguiça, que é uma languidez da 
alma e motivo de aborrecimentos. Geralmente, habitua-se a dormir mais 
do que o necessário, tornando-se mais delicada e exposta às comodidades 
do corpo. No entanto, um sono razoável, seguido do exercício regular, faz 
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Unidade I
qualquer pessoa alegre, disposta e robusta, dando-lhe verdadeira perfeição 
corporal, sem levar em conta as vantagens resultantes para seu espírito 
(apud RAMOS, 1982, p. 177-178). 
Considerava a prática do exercício como um dever diário do indivíduo para com a pátria.
Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), filósofo e educador suíço, é tido como continuador 
da obra pedagógica de Rousseau. Pestalozzi dedicou sua vida à educação e ao humanismo. Para ele, 
a educação representa o desenvolvimento natural do ser humano, de forma progressiva e sistemática, 
abrangendo todas as suas forças.
Figura 19 - Johann Heinrich Pestalozzi 
De acordo com Ramos (1982, p. 178), Pestalozzi afirmava que: “O hábito do exercício físico não só 
desembaraça o corpo da criança, como lhe desenvolve as qualidades intelectuais e morais”. 
Pestalozzi defendeu a educação geral a todas as classes sociais, reconheceu em seu tempo os males 
gerados ao corpo pela vida das sociedades industrializadas, sugerindo a prática do exercício como 
fator de correção ao sedentarismo da vida na sociedade moderna. O autor criou o primeiro método 
moderno de ginástica experimental, no qual se atentava para a postura corporal, para a correção dos 
movimentos e para as ações articulares, que foi denominado Ginástica Elementar. Publicou dois livros 
sobre educação: Leonardo e Gertrudes e Como Gertrudes educa seus filhos. Neles, discute a educação 
integral do ser humano (RAMOS, 1982). 
Os autores relacionados antecedem ao movimento ginásticoeuropeu. São precursores teóricos 
e experimentais que se dedicaram ao exercício de forma isolada e não representaram, assim, um 
movimento contínuo e coeso, mas sim esforços aleatórios de retomada de um meio de educação que 
reconhece o corpo e o exercício.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Apesar da ocorrência desordenada em países e épocas diferentes, as obras desses autores possuem 
denominadores comuns: todas rompem com a educação medieval, restritiva e doutrinária; marcam a 
transição para uma educação humanista; e reconhecem a importância do exercício físico.
 Resumo
Esta unidade abordou, de forma crítica, o estudo da História, que seria 
a remontagem dos fatos diante dos seus respectivos contextos sociais com 
embasamento em documentos e evidências encontrados. O texto usa de 
metodologia filosófica para promover a discussão e a reflexão dialética 
dos fatos ocorridos em determinados períodos históricos com as situações 
vividas no cotidiano do profissional de Educação Física.
Foi feita a análise da evolução dos hominídeos, em constante 
progresso intelectual e rebuscamento nas habilidades motoras. O homem 
constituiu-se a partir da grande capacidade de adaptação e da união entre 
desenvolvimento cognitivo e motor para a solução de tarefas do cotidiano, 
que permitiram sua sobrevivência e a propagação da espécie, como a busca 
por alimentos e a proteção contra predadores e inimigos.
Os povos antigos e sociedades tribais deixaram registros importantes 
da necessidade de aplicação dos exercícios físicos em diversos setores 
da vida, como a educação, responsável pela aprendizagem dos 
hábitos e habilidades necessárias ao homem adulto, e a sobrevivência, 
representada pela busca pelo alimento (caça, pesca, escalada, mergulho, 
salto) e pela luta contra invasores e animais. Também foi constatada a 
presença constante de exercícios na forma de disputas, danças e ritos 
em cerimônias religiosas e rituais de passagem para a vida adulta, assim 
como em brincadeiras descompromissadas envolvendo tanto crianças 
como adultos.
As civilizações antigas, que dominaram a produção agrária e fundaram 
as primeiras cidades, passaram pelo processo de especialização dos papéis 
sociais e tiveram que aperfeiçoar as destrezas atléticas relacionadas a 
lutas e defesa para proteger suas reservas de alimento e seu contingente 
populacional. As lutas, o arco, o dardo, a equitação e as corridas passaram 
a ser treinados com precisão e afinco no processo de educação dos jovens e 
disputados com eventos religiosos para pôr à prova seus guerreiros.
É assim que no Egito muitas apresentações de destreza física foram 
encontradas em inscrições antigas em tumbas e documentos. Elas 
ilustravam, geralmente, as habilidades sobre-humanas do faraó, em uma 
tentativa de valorizar e reafirmar seu poder divino.
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Unidade I
Na Grécia Antiga, os exercícios faziam parte do cotidiano dos jovens, 
pois existiam valores morais relacionados à sua prática e aos cuidados com 
o corpo. O aretê era um valor que dizia respeito à combatividade, à coragem 
e ao enfrentamento. Para tanto, o jovem deveria treinar e forjar seu corpo e 
seu espírito para o combate até a morte. Para o grego, uma morte honrosa 
era mais valorosa do que uma vitória sobre um oponente mais fraco.
Os gregos possuíam ainda o kalokagathia, referência moral que 
colocava a beleza e a harmonia como virtude. Por isso, a pessoa que não 
cuidasse do próprio corpo e se entregasse aos excessos alimentares era 
tida como alguém de pouco caráter. Esse valor moral conduziu as artes, a 
arquitetura e todo o senso estético grego. Os gregos produziam estátuas 
em homenagem aos seus deuses e buscavam a perfeição estética em seus 
corpos. Treinavam e competiam nus para admirar o gestual do corpo em 
movimento e produziram magníficas obras de arte ilustrando essas ações.
Os gregos adotavam os treinamentos ginásticos em suas escolas para 
jovens a partir dos 7 anos de idade, visando à formação integral do jovem 
e ainda à preparação guerreira.
A religião grega era antropomórfica e politeísta. Para homenagear seus 
deuses, organizavam jogos que envolviam diferentes disputas atléticas. 
Os mais famosos eram os Jogos Olímpicos, que eram realizados a cada 
quatro anos dentro do calendário religioso e homenageavam a Zeus, deus 
supremo do Olimpo. O evento, realizado na cidade sagrada de Olímpia, 
reunia milhares de espectadores e atletas no mês de agosto. O evento, que 
paralisava guerras devido à sua importância religiosa, também servia como 
referência para acordos comerciais e tratados de paz.
Com o domínio dos gregos pelos macedônios, em 338 a.C., e depois 
por romanos, os Jogos Olímpicos continuaram a existir, mas, devido à 
participação de mercenários estrangeiros, entraram em decadência moral.
Os exercícios físicos em Roma atendiam à necessidade de 
treinamento militar de seu grandioso Exército; a população tinha por 
hábito a prática de exercícios higiênicos em termas. No entanto, o 
fato que mais marcou o período romano foi a deterioração dos valores 
higiênicos da população após a intensificação da política do pão e 
circo, estratégia dos imperadores para distrair o povo empobrecido e 
faminto. Eram oferecidos jogos sangrentos, espetáculos de sangue, 
execuções, combate entre gladiadores, lutas com feras e corridas 
de bigas. Esses eventos deixavam o povo tranquilo e alienado dos 
problemas, aumentando a governabilidade dos imperadores.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Roma entrou em decadência devido à escassez de recursos para 
sustentar suas grandiosas fronteiras e seu imenso Exército. Internamente, 
o poder do Imperador foi questionado com a ascensão do cristianismo, 
doutrina monoteísta, que destituía o poder divino do imperador. Em 
476 d.C., Roma implodiu e foi invadida por bárbaros, que retalharam seu 
território em pequenos reinos e feudos.
Diante da invasão bárbara, a Igreja cristã se manteve estruturada, fez 
alianças e passou a doutrinar os invasores no período que foi denominado 
como Idade Média.
No período medieval, a cultura do mundo antigo foi substituída 
pela doutrina católica e todas as atividades pagãs foram 
desestimuladas. Houve um grande retrocesso nas práticas corporais 
e nos cuidados com o corpo. No período medieval, os jogos estavam 
atrelados à cultura da cavalaria, oriunda da nobreza e inacessível a 
toda a população.
O período entre os anos de 1400 e 1600 é denominado na 
história como Renascimento. Foi um momento em que diversos 
fatores históricos, políticos e sociais contribuíram para a mudança 
de paradigma da sociedade medieval doutrinária para a sociedade 
moderna pautada no humanismo e em ideais burgueses. O 
Renascimento marca, na Educação Física, a retomada da leitura e 
aplicação dos clássicos greco-romanos e o surgimento de pedagogos 
e autores precursores da Educação Física moderna.
 Exercícios
Questão 1. (NUCEP 2016) Na Grécia Antiga, várias cidades-estados se revezaram no poder, mas 
apenas duas obtiveram grandes conquistas e importância política, social e econômica durante muito 
tempo. Por conta disso, a educação em ambas era bastante diferenciada, inclusive a maneira pela qual 
os exercícios físicos eram encarados e desenvolvidos. Uma pensava o desenvolvimento holístico do 
indivíduo, valorizando os exercícios como complemento, mas sem muito apelo bélico, a outra percebia 
os exercícios como a única maneira de se conseguir preparar o indivíduo para o conflito e para a vida, 
fala-se, respectivamente, de:
A) Atenas e Esparta.
B) Esparta e Atenas.
C) Esparta e Jônios.
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Unidade I
D) Esparta e Minus.E) Jônios e Esparta.
Resposta correta: alternativa A.
Justificativa geral
As duas cidades-estados mais importantes foram Atenas e Esparta. Em Atenas, viveram os principais 
filósofos e havia a preocupação com o desenvolvimento completo do homem. Em Esparta, a educação 
era voltada para a guerra.
Questão 2. Leia o texto a seguir: 
“O jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos 
rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana; mas os animais não esperaram que os homens 
os iniciassem na atividade lúdica. É possível afirmar com segurança que a civilização humana 
não acrescentou característica essencial alguma à ideia geral de jogo. Os animais brincam tal 
como os homens.”
Fonte: HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 1999. p. 3 (com adaptações).
Com base no texto, analise as afirmativas e a relação proposta entre elas:
I – De acordo com o autor, o jogo, como atividade lúdica, não é exclusividade dos seres humanos.
PORQUE
II – Nos jogos e competições, em todas as sociedades e épocas, prevalecem os instintos, pois a 
racionalidade é dominada pela vontade de vencer.
Com base na leitura, assinale a alternativa correta:
A) As duas afirmativas são corretas e a II justifica a I.
B) As duas afirmativas são corretas e a II não justifica a I.
C) A primeira afirmativa é verdadeira e a segunda é falsa.
D) A primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira.
E) As duas afirmativas são falsas.
Resolução desta questão na plataforma.
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Unidade II
5 O EXERCÍCIO FÍSICO NAS SOCIEDADES MODERNAS
5.1 As escolas ginásticas: educação, saúde e nacionalismo
A Educação Física moderna sofreu influências dos pensadores iluministas dos séculos XVII e 
XVIII. Entre eles, destacou-se Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), cuja obra colaborou com a 
criação de um novo método educacional e uma nova visão de homem. Rousseau afirmava que a 
criança deveria ser educada livre das influências negativas dos pais e das instituições da sociedade, 
sobretudo da Igreja, grande condutora ideológica da época. Para Rousseau, a educação deveria 
estar na autonomia da vontade e na razão. Rousseau valorizava, em seus preceitos educativos, a 
formação moral e física do jovem. Essa condição abriu espaço para o desenvolvimento da Educação 
Física e influenciou um grande número de estudiosos e pedagogos em diversos países da Europa, 
culminando com o surgimento das escolas ginásticas (MARINHO, 1980).
As escolas ginásticas surgiram na Europa no início do século XIX e tiveram desenvolvimento 
simultâneo em diversos países, o que favoreceu o intercâmbio de informações e tendências. Os objetivos 
gerais do movimento ginástico europeu estavam voltados ao desenvolvimento pedagógico, higiênico e 
militar do homem, buscando preparar os jovens para a vida e para a prestação de serviços à sociedade 
(GRIFI, 1989). 
Na Dinamarca, o pedagogo Franz Nachtegall (1777-1847) é considerado o idealizador de 
uma doutrina ginástica altamente pedagógica, sendo o precursor de diversas escolas e institutos 
voltados à prática. Introduziu a ginástica obrigatória em seu país e desenvolveu o gosto pela ginástica 
na população. Fundou um instituto particular de ginástica em Copenhague, o primeiro da Europa. 
Publicou um Tratado de ginástica, que foi distribuído e aplicado em todas as escolas do país. Em 
1804, fundou um instituto militar de ginástica. Nachtegall foi precursor de Ling e Jahn e grande 
incentivador da ginástica patriótica e militar.
Johann Basedow (1723-1790) era um professor alemão que desenvolveu seu próprio 
sistema de ensino baseado nas ideias de Rousseau. A educação deveria ser livre de influência 
religiosa e as crianças deveriam ser tratadas como crianças, e não como adultos pequenos. A 
carga excessiva de atividades físicas era parte do sistema. Ele incluía um dia de dez horas, com 
cinco horas de aulas, três horas de esgrima, equitação, dança e música e depois duas horas 
de trabalho manual ligado a um ofício. A escola empregava Basedow na década de 1770 como 
seu primeiro professor em Educação Física, e ele pode, assim, ser considerado como o primeiro 
professor moderno de ginástica.
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Unidade II
Figura 20 - Johann Basedow
5.1.1 O movimento ginástico sueco
A ginástica sueca foi implantada por Per Henrik Ling (1776-1839) e teve influência dinamarquesa. 
Ling desenvolveu uma ginástica essencialmente educativa e social, exaltando os benefícios à saúde e o 
serviço à pátria via ginástica de preparação militar. Ling procurou estabelecer rumos científicos para a 
prática dos exercícios físicos, a fim de regenerar o povo sueco (RAMOS, 1982; MARINHO, 1980). 
Figura 21 - Per Henrik Ling 
Ling criou um sistema de ginástica constituído por quatro divisões principais: pedagógica, médica, 
militar e estética. O autor destacou em sua obra as duas primeiras divisões. A ginástica pedagógica era 
destinada a pessoas saudáveis e tinha como objetivos o domínio pleno do corpo e o desenvolvimento 
da saúde. A ginástica médica objetivava o tratamento de certas enfermidades, mal funcionamento de 
órgãos e problemas posturais.
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A ginástica de Ling destaca-se pela sistematização precisa dos exercícios e pela organização de 
princípios (RAMOS, 1982):
• Os movimentos ginásticos devem se basear nas necessidades e leis do organismo humano, 
respeitando exigências estéticas.
• A ginástica deve desenvolver o corpo de forma harmoniosa, atuando em todas as suas partes de 
acordo com a capacidade de cada pessoa.
• Todo movimento precisa de uma forma determinada, deve ter posição inicial, desenvolvimento e 
posição final.
• Os exercícios da ginástica pedagógica devem ser selecionados de forma que estimulem a atitude 
do atleta, devendo ser simples e atraentes.
• A ginástica deve desenvolver gradualmente o corpo por meio de exercícios de intensidade e 
dificuldade crescentes, de acordo com a capacidade de cada praticante.
• A ginástica visa tanto ao corpo como ao espírito, de modo que sua prática deve ser sempre prazerosa.
• A ginástica deve sempre observar a teoria e a prática.
• A saúde é necessária a ambos os sexos e possivelmente mais à mulher, que deve se preparar para 
gerar outra vida.
Após o estabelecimento dos princípios, Ling criou os diferentes exercícios do sistema, obedecendo-se 
a ações articulares anatômicas e princípios fisiológicos. O programa incluía em sua base movimentos 
envolvendo apenas o corpo; depois iam-se incluindo implementos, como saltos sobre o cavalo, 
rolamentos, paradas de mãos, caminhada sobre a parada de mãos, subidas em cordas, escadas, esgrima 
e natação (RAMOS, 1982).
Figura 22 
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Em 1813, Ling fundou o Instituto de Estocolmo, o Real Instituto Central de Ginástica, hoje Escola 
Superior de Ginástica e Desportos, órgão que formou e ainda hoje forma milhares de jovens professores, 
instrutores e continuadores de sua obra.
Ling ainda desenvolveu um elaborado método de ginástica escolar, dividido em faixas etárias e 
guiado de acordo com os seguintes objetivos:
• Assegurar a saúde de forma agradável e estimulante.
• Dar ao praticante a capacidade de obedecer rapidamente às ordens dadas e de ter consideração 
pelos companheiros e para com os menos hábeis.
• Compensar desvantagens da vida sedentária na escola.
• Melhorar a aptidão física e a composição corporal de alunos com tendências sedentárias.
• Conscientizar sobre a prática esportiva e estimular a continuidade da vida ativa após a idade escolar.
• Criar uma multiplicidade de exercícios e movimentos que possibilitema adaptação às 
capacidades individuais.
Para a criança de 7 a 9 anos (fase escolar elementar), a ginástica pedagógica de Ling prescreve 
exercícios fáceis e motivantes. Os jogos são destaque nessa fase, movimentos analíticos e funcionais 
são desenvolvidos na forma de brincadeiras. Nessa fase é contraindicada a sobrecarga excessivamente 
intensa; é usada a “sessão estoriada”, na qual, através de elementos simbólicos, desenvolve-se um “conto 
do movimento”.
As crianças de 10 a 12 anos (fase intermediária) recebem um trabalho mais ativo e exigente, mas 
sem mudanças bruscas de exercícios e níveis de exigência. Os exercícios são mais intensos, porém de 
curta duração.
Dos 13 aos 15 anos (fase superior), a intensidade dos exercícios aumenta bastante; as adaptações 
devem ser adequadas a cada aluno.
Dos 16 aos 18 anos, os níveis de destreza, a intensidade e a complexidade dos movimentos aumentam 
bastante e o trabalho se iguala ao treino do ginasta adulto (RAMOS, 1982).
A Lingiada, possivelmente um dos primeiros festivais ginásticos relatados na literatura, foi 
realizada na cidade de Estocolmo (Suécia) em homenagem ao criador da Educação Física sueca, Per 
Henrik Ling (1776-1839), também fundador da ginástica Ling ou, mais comumente denominada, 
ginástica sueca.
O festival aconteceu em 1939, com 7.399 participantes vindos de 20 países. Além do festival, 
aconteceu um congresso mundial sobre atividade física, que teve participação de 1.500 instrutores. A 
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segunda Lingiada foi realizada em 1949, com a participação de 14.000 ginastas, dobrando o número de 
participantes em relação à primeira (PATRÍCIO; BORTOLETO, 2015). 
Durante a assembleia geral da Federação Internacional de Ginástica (FIG), que aconteceu paralelamente 
à segunda Lingiada, o holandês Johannes Heinrich François Sommer fez uma proposta para a realização 
de um festival mundial sob a responsabilidade da FIG. Já na assembleia de 1951, o festival foi inserido 
no programa oficial de eventos, com o nome de Gymnaestrada (PATRÍCIO; BORTOLETO, 2015).
A primeira Gymnaestrada foi realizada em 1953, em Roterdã (Holanda), inspirada nas Lingiadas 
comentadas anteriormente. Essa primeira edição do evento contou com a participação de quase 5.000 
ginastas de 14 países. A Gymnaestrada, atualmente denominada World Gymnaestrada (Ginastrada 
Mundial), é o mais importante evento internacional de Ginástica Para Todos (GPT), amplamente 
denominada Ginástica Geral (GG), organizado pela FIG, com uma participação de 55 países, somando um 
número de participantes duas vezes maior do que os Jogos Olímpicos, com cerca de 19.000 ginastas. É 
realizada de quatro em quatro anos e teve sua XV edição em 2015, em Helsinque, na Finlândia (PATRÍCIO; 
BORTOLETO, 2015).
Os festivais representam um espaço livre para apresentações de ginástica. São um lugar de 
intercâmbio de experiências, ideias e conhecimentos técnicos, estéticos e organizativos. Os festivais 
em análise não possuem um caráter competitivo; os participantes sentem-se à vontade para explorar 
e apresentar algumas inovações, recriando-as conforme a particularidade do seu grupo, contribuindo 
para a criação de um acervo de ideias coletivo. Ao contrário dos eventos competitivos, vê-se uma maior 
liberdade de trabalho, maior inclusão e interação entre os ginastas (PATRÍCIO; BORTOLETO, 2015).
5.1.2 O movimento ginástico francês
Na França, a ginástica foi introduzida primeiro pelo general espanhol Francisco Amorós 
(1769-1848), que lutou nas tropas de Napoleão e depois se naturalizou francês. Amorós reconheceu 
a existência de quatro tipos de ginástica na França, cada qual com a sua função: a ginástica civil ou 
industrial, que tinha por objetivo fortalecer os cidadãos para o cumprimento de suas tarefas e trabalhos; 
a ginástica militar, utilizada na preparação dos contingentes do Exército; a ginástica médica, de cunho 
higienista, atendendo às necessidades da saúde da população; e a ginástica funambulesca, praticada 
por malabares em apresentações cênicas e circenses, sendo esta condenada pelo autor por considerá-la 
desnecessária (GRIFI, 1989; MARINHO, 1980). 
A ginástica amorosiana é considerada o ponto de partida da sistematização da Educação Física na 
França. Tinha por objetivo formar homens completos, não apenas fortes e endurecidos, mas corajosos, 
com capacidade de juízo do bem, do dever e do devotamento. Amorós buscava o desenvolvimento das 
qualidades físicas, o aumento da energia e a exaltação de sentimentos elevados.
O autor utilizava uma gama enorme de exercícios: marchar, trepar em cordas, escadas e trapézios, 
equilibrar, saltar, levantar, transportar, correr, lançar, nadar, mergulhar, escorregar, patinar, esgrimir, 
dançar, tiro, cavalo, jogo com bola, boxe. Amorós elaborou sucessões e alternância de exercícios; a 
elaboração das sessões de treinamento se assemelham ao circuit training.
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Outro importante autor da ginástica francesa foi Georges Demeny (1850-1917). Pedagogo e 
cientista, estudou profundamente a cinesiologia dos movimentos humanos, dirigiu o laboratório de 
pesquisas da Escola de Joinville e auxiliou a elaboração do Regulamento dos Exercícios Físicos do Exército. 
Foi autor de diversas obras, entre elas Bases científicas da Educação Física, Mecanismo e educação 
dos movimentos, Danças ginásticas e Educação e esforço. Suas obras acentuaram sua característica 
extremamente militar. Seu método previa a execução de exercícios ginásticos completos, contínuos 
e cíclicos. Tinha profundo embasamento mecânico e fisiológico. Foi grande defensor da prática da 
ginástica pelas mulheres combinada com a dança.
Figura 23 
Georges Hébert (1875-1957) foi oficial da Marinha francesa e criador do Método Natural de 
Ginástica. Iniciou seus estudos na Escola de Fuzileiros Navais de Lorient (1906), dirigiu o Colégio de 
Atletas de Reims (1913), fundou um centro de Educação Física feminina, estimulou a prática de exercícios 
por crianças e jovens e foi autor de várias obras, entre elas: Treinamento completo pelo método natural; 
A lição padrão de treinamento completo utilitário; Guia prático de Educação Física; O código de força; A 
Educação Física feminina e a Educação Física viril; e Moral pelo método natural (RAMOS, 1982).
Na Marinha, Hébert viajou pela Oceania e observou muitos povos nativos bastante robustos que 
viviam em grande contato com a natureza, usando a plenitude de seus esforços físicos para interagir e 
sobreviver ao meio ambiente hostil. 
Hébert criou então um método baseado em suas observações e objetivos na busca pelo retorno ao 
contato com a natureza. Seu método, extremamente utilitário, dividia os exercícios naturais em dez 
famílias: marchar, correr, saltar, quadrupedar, trepar, equilibrar, levantar, lançar, defender-se e nadar. Foi 
contrário ao esporte, à ginástica sueca e aos aparelhos artificiais. Seu método tinha por lema: “Ser forte 
para ser útil” (apud RAMOS, 1982, p. 220).
O método natural grupa os exercícios naturais em uma lição em que as sequências são repetidas 
no decorrer de um percurso preparado ou natural. Os esforços são progressivos, conjugados, e nunca se 
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realizam movimentos isolados. O método natural busca formar o atleta completo, com o desenvolvimento 
pleno da força, potência, agilidade, resistência e velocidade.
O método natural de Hébert foi base para a criação de uma manifestação contemporânea de 
movimento bastante original, que possui milhares de praticantes no mundo todo: o Parkour.
5.1.3 A história do Parkour
O Parkour é uma modalidade de prática de ginástica livre que tem por objetivo cumprir percursos 
urbanos com obstáculosda forma mais eficiente possível. Para isso são utilizadas técnicas de corrida, 
saltos, escaladas, aterrissagem e rolamentos. O Parkour foi criado na França, na década de 1990, por 
David Belle, que aperfeiçoou os movimentos praticados por seu pai, Raymond Belle, que foi da brigada 
de bombeiros de Paris. Raymond Belle nasceu em 1939, na Indochina. Era de uma família de nove 
irmãos, com um pai francês e mãe vietnamita. Aos 7 anos foi enviado para viver em uma escola militar 
francesa, em Dalat, sendo treinado e educado como um garoto soldado. David relembra seu pai lhe 
contando os tipos diferentes de treino que fazia sozinho à noite, em adição aos exercícios obrigatórios. 
Eram várias rotas ou “percursos”, alguns focados em resistência, agilidade, elasticidade e silêncio ou 
furtividade, buscando o fortalecimento físico e mental. 
Raymond, reconhecido por sua condição física, tornou-se oficial dos bombeiros de Paris, aprendendo 
a tarefa de salvar e sendo reconhecido em sua profissão. Em razão de sua aptidão física, destacou-se 
entre os demais, agregando a equipe de bombeiros de elite, que era solicitada para as missões mais 
difíceis e perigosas de salvamento. Integrado ao regime parisiense de bombeiros militares, Raymond 
foi treinado no méthode naturelle, de Georges Hébert. O treinamento de Raymond se estendeu aos 
treinamentos militares de salvamento, conhecidos como parcours du combattant, ou percurso militar 
de obstáculos (STRAMANDINOLI; REMONTE; MARCHETTI, 2012). 
David Belle nasceu em 29 de abril de 1973, filho de Raymond e Monique Belle, cercado por uma 
família que se destacava nos esportes. Por essa influência, David Belle desenvolveu o gosto por práticas 
como atletismo, ginástica olímpica, escalada e artes marciais, e sua dedicação foi intensificada aos 15 
anos. Para ele, o esporte deveria ser útil, acima de tudo. Portanto, o desenvolvimento da resistência e da 
agilidade por meio da prática deveria ser utilizado na vida. David Belle mudou-se para Lisses, uma área 
suburbana de Paris, e foi nessa época que conheceu outros jovens que, futuramente (em 1997), seriam 
chamados de Yamakasi (STRAMANDINOLI; REMONTE; MARCHETTI, 2012). 
O Parkour surgiu não apenas por influência do pai, Raymond, mas também pelas experiências 
esportivas que o jovem David Belle vivenciou. Ele continuou o legado de seu pai, passando a dedicar-se à 
progressão por meio do movimento, sendo o conceito mais importante sua ideia de que todo treinamento 
deveria ser aplicável à vida real e ajudar a resolver problemas ou situações extremas. Seu treino era 
uma simulação do que poderia acontecer a qualquer momento, criando situações de salvamento e 
treinando-as de forma específica. Eficiência, velocidade, eficácia, longevidade e controle se tornaram 
focos do seu treino e, eventualmente, mais situações se tornaram fáceis de resolver (STRAMANDINOLI; 
REMONTE; MARCHETTI, 2012).
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David Belle decidiu desenvolver a arte que praticava formando, em 31 de maio de 1997, a primeira 
associação Yamakasi (termo de origem africana, significando corpo forte, espírito forte), composta por 
David Belle, Sébastien Foucan, Yann Hnautra, Frederic Hnautra, Charles Perrière, Malik Diouf, Guylain 
N’Guba-Boyeke, Châu Belle-Dinh e Williams Belle, tendo como objetivo disseminar a arte e atribuir 
nomes aos principais movimentos que hoje constituem a base do Parkour. Procurou dar um nome e 
rumo à prática que vinha a realizar, já há alguns anos, juntamente com colegas de infância. 
Entre todos, o consenso foi que chamariam Parkour aos percursos que faziam na procura do 
caminho mais útil entre dois pontos (STRAMANDINOLI; REMONTE; MARCHETTI, 2012).
O Parkour se desenvolveu de forma extraordinária através da divulgação dos vídeos de seus praticantes 
na internet. Também passaram a produzir filmes e documentários para canais de TV. Os praticantes 
passaram a participar de filmes cinematográficos, sendo que o próprio David Belle se dedicou a alguns 
filmes. Esses filmes ajudaram a arregimentar uma legião de praticantes em todo o mundo. No entanto, 
o Parkour possui uma condição tradicional de prática livre e se nega a ser transformado em mercadoria 
ou a se transformar apenas em modalidade de exibição. É, antes de mais nada, uma filosofia de vida em 
busca do movimento eficiente e do contato com o meio (MARQUES, 2010).
Durante a grande expansão do Parkour, no início dos anos 2000, David Belle e Sébastien Foucan 
tomaram rumos diferentes. Belle permaneceu mais fiel ao utilitarismo do Parkour, à filosofia de 
movimento eficiente para vencer percursos. Já Foucan passou a desenvolver uma prática mais artística, 
envolvendo elementos acrobáticos como saltos mortais durante a transposição dos obstáculos. Para 
Belle, esses movimentos são inúteis e desnecessários, mas reconhece que, sendo uma arte livre, o 
desenvolvimento do freestyle é uma consequência natural dos jovens, assim como ocorreu com o skate 
e patins (MARQUES, 2010).
 Observação
No início de sua prática, o Parkour era visto como uma atividade de 
marginais e desocupados. Muitos acreditavam que as habilidades dos 
tracers eram desenvolvidas para facilitar roubos e fugas.
5.1.4 O movimento ginástico alemão
Nascido na Alemanha, Johann Christoph Friedrich Guts Muths (1759-1839), pedagogo, é 
considerado o pai da ginástica pedagógica moderna. Podem ser destacados, na sua obra, os seguintes 
livros: A ginástica para a juventude, de 1793, e Livro de ginástica para os filhos da pátria, de 1817 – o 
último, destacando o nacionalismo e a nobreza do povo alemão. Seu método distinguia os exercícios 
propriamente ginásticos, como o salto, a corrida, o arremesso, a equitação, o balanceio, o trepar e 
a natação, os trabalhos manuais e os jogos para a juventude. Escreveu um Manual técnico-prático 
de ginástica para a juventude, primeiro livro especializado da Era Moderna. As ideias de Guts Muths 
influenciaram toda uma geração de pedagogos.
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Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852) desenvolveu profundamente a ginástica militar prussiana 
de cunho nacionalista e político, incitando a juventude patriótica a se preparar para as guerras de 
unificação da Alemanha. Jahn foi combatente das tropas prussianas durantes as invasões napoleônicas 
e detinha com ele um forte sentimento de revolta e sede por justiça. Via a necessidade de organização, 
fortalecimento e união do povo alemão contra os inimigos externos (MARINHO, 1980; RAMOS, 1982; 
GRIFI, 1989). 
Figura 24 - Friedrich Ludwig Jahn
Chamado de Turnvater, pai da ginástica, é a figura mais representativa da escola alemã. Foi um 
homem bastante vigoroso e praticava diversas modalidades, como esgrima, luta e ginástica. Esta última 
era sua atividade predileta, com destaque para a barra fixa. Jahn era um homem forte, justo e correto. 
Esteve sempre preocupado em promover uma vida limpa e pura para o povo alemão. Seu discurso 
pregava resistência à invasão estrangeira, ainda ressentido pelas invasões napoleônicas (RAMOS, 1982).
O sistema ginástico de Jahn era cheio de exercícios que exigiam muita aplicação de força e 
dispêndio de energia. Criou um instituto de ginástica em Hasenheide, próximo a Berlim. Em outras 
cidades do país foram erguidas escolas similares com o intuito de estimular o sentimento patriótico 
nos jovens. A ginástica vigorosa de Jahn preparava os jovens para os esforços necessários na guerra. 
Esse método, que misturava uma vigorosa ginástica e um doutrinamento nacionalista, foi chamado 
por Jahn de Turnkunst.
Em sua obra-prima, A arte ginástica alemã, Jahn descreveu toda a estrutura de seu método em 
cinco capítulos: exercícios gímnicos; jogos gímnicos; construção e instalação de um campo de ginástica; 
modo de praticar os exercícios; e bibliografia da arte ginástica. Os exercíciosginásticos foram ordenados 
em 17 famílias: marchar, correr, saltar, tomar impulso no cavalo, equilibrar, exercícios de barra, exercícios 
de paralela, trepar, arremessar, puxar, empurrar, levantar, transportar, esticar, lutar, saltar arco e pular 
corda (RAMOS, 1982).
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Unidade II
O autor teve uma vida conturbada. Devido à atitude revolucionária dos praticantes do Turnkunst, 
foi tido como perigoso, foi preso e depois absolvido. Mais tarde foi reconhecido e condecorado. 
Sua ginástica evoluiu com movimentos mais elaborados e foi responsável pela gênese da ginástica 
artística moderna.
Apesar dos grandes avanços pedagógicos, científicos e higienistas provocados pela evolução das 
escolas ginásticas europeias, foi sensível a importância dada ao uso dos exercícios com objetivos 
militares. As instituições educacionais e militares passaram a utilizar métodos ginásticos na preparação 
de Exércitos e na propagação ideológica e nacionalista. Essas prerrogativas políticas e militares das 
escolas ginásticas permaneceram no século XX, acompanhando o desenvolvimento da Educação Física 
pelo mundo.
 Lembrete
Por se tratar de uma ginástica bastante vigorosa e composta por 
diversos aparelhos, a ginástica alemã de Jahn é considerada a precursora 
da ginástica artística.
5.2 A gênese do esporte moderno e o processo civilizatório britânico
O esporte moderno foi regulamentado na Inglaterra no início do século XIX e teve sua origem 
em jogos populares e em atividades recreativas praticadas pela nobreza britânica. Naquele período, 
a Inglaterra passou por uma fase de grande organização social e evolução econômica em função das 
transformações geradas pela Revolução Industrial, que teve início por volta de 1770.
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou 
a transição entre o feudalismo e o capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de 
preponderância do capital mercantil sobre a produção. Foi caracterizada pelo processo de substituição 
das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz. Teve um enorme impacto 
sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução 
tecnológica (ARRUDA; PILETTI, 1995).
Nas primeiras décadas do século XIX, a Inglaterra consolidou-se como principal potência imperial 
colonizadora em todo o planeta, situação que permaneceu até meados do século XX. A rainha Vitória 
ocupou o trono inglês durante o século XIX (1837-1901). Adotou uma política predominantemente 
burguesa, impulsionando o liberalismo. Essa fase ficou conhecida como Era Vitoriana (VICENTINO; 
DORIGO, 2013). 
O rápido crescimento industrial, a poderosa Marinha mercante e o Estado solidamente estruturado 
garantiam o poderio britânico, que desde a derrota de Napoleão Bonaparte, em 1815, não encontrou 
nenhum rival suficientemente forte para ameaçar de forma decisiva sua estabilidade, liderança e 
hegemonia internacional. Foi a era da libra esterlina como moeda do comércio internacional. O período 
vitoriano foi também uma época de grandes conquistas trabalhistas. Organizações de trabalhadores, 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
como as trade unions, venceram a resistência do empresariado e obtiveram sucessivas melhorias nas 
condições de trabalho (legislação trabalhista, redução da jornada de trabalho, melhores salários), bem 
como maior espaço na vida política inglesa (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Segundo Pilatti (1999), a Revolução Industrial alterou a forma de entender o tempo, dando mais 
urgência e exatidão às ações. O ritmo de vida passou a seguir o compasso da produção fabril, foi instalado 
o estado de busca permanente pelo acúmulo de capital com o objetivo de vida, o que posteriormente 
resultou na ideia de como usufruir desse capital, aproveitar algum momento de não trabalho, que foi 
chamado de tempo livre.
Os jogos populares ingleses eram amplamente praticados nessa época, configurando uma atividade 
cultural que destoava do processo civilizatório que ocorria na sociedade. Eram atividades extremamente 
violentas, sem regras, sem número definido de participantes, sem tempo ou campo de jogo bem definidos. 
Praticamente tudo era permitido para se alcançar a meta adversária. Com isso, os jogos causavam 
sérias lesões, tumultos, brigas, depredações e atos de vandalismo, sendo tachados como imorais, por 
fomentar o vício e a bebida, e como improdutivos, pois incitavam o ócio, provocando faltas no trabalho 
(GONZÁLEZ, 1993).
Nas escolas aristocráticas, public schools, os jogos eram praticados nos períodos de tempo livre dos 
estudantes, criando um grande problema, pois sua violência e vulgaridade comprometiam a imagem 
do tradicional sistema de ensino britânico. Os jovens praticantes machucavam-se seriamente, geravam 
tumultos, brigas e invasões de propriedades privadas; os garotos mais jovens sofriam abusos dos alunos 
veteranos (GONZÁLEZ, 1993). 
Figura 25 
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Unidade II
A direção das tradicionais escolas britânicas, entre elas Eton, Harrow, Rugby, Westminster, Shrewsbury, 
Charterhouse, St. Paul e Merchant Taylor, iniciou movimentos de reforma nas atividades praticadas no 
tempo ocioso dos alunos, mantendo-os dentro dos pátios e campos de propriedade da escola e não mais 
em bares, propriedades privadas e locais públicos, onde geravam tumulto.
Os alunos tinham garantido, tradicionalmente, o direito de desfrutar de seu tempo livre como 
desejassem, pois se acreditava que esta liberdade era muito importante para a formação dos futuros 
líderes sociais. Entretanto, em função dos constantes incidentes envolvendo os alunos e a prática de 
jogos populares, as escolas tentaram impor regras para a utilização do tempo livre, aumentando a 
vigilância sobre as atividades. Como resposta à imposição das regras e à proibição dos jogos, os alunos 
realizaram inúmeras rebeliões em várias escolas britânicas. Em alguns casos, essas rebeliões chegaram 
a ser repreendidas pelo Exército.
A regulamentação das atividades do tempo livre e dos jogos praticados pelos alunos das public 
schools só ocorreu efetivamente após a realização de assembleias, encontros e cursos envolvendo 
diretores, professores e alunos. Nessas assembleias foram definidas as técnicas corporais e esportivas 
que deveriam ser permitidas ou proibidas. O pedagogo Thomas Arnold, que assumiu a direção do 
Colégio de Rugby, em 1828, é considerado um grande colaborador no processo de regulamentação e 
pedagogização das práticas esportivas (GONZÁLEZ, 1993).
Foi no ambiente das escolas inglesas que foram determinadas as regras e as características básicas 
de diversas modalidades esportivas, entre elas o futebol, o rúgbi e o críquete. O esporte regulamentado 
nas escolas não se limitou apenas a uma prática regrada nos períodos de tempo livre dos alunos: foi 
investido como valor educativo e se transformou em parte central do currículo escolar. Os campos 
de jogos se converteram em verdadeiros meios educativos, onde se exaltava a virilidade, adquiria-se 
honradez e coragem e se fomentava o espírito de equipe e de liderança (GONZÁLEZ, 1993). 
Desde sua origem, o esporte foi direcionado à função educativa. Isso ocorreu porque o esporte 
concentra, em sua essência, características da sociedade em que está inserido, reproduzindo-as em suas 
dinâmicas. Assim, pode ser utilizado como instrumento educativo, transmitindo valores importantes à 
formação do cidadão apto ao convívio em sociedade (BRACHT, 1997).
A regulamentação e os valores pedagógicos do esporte moderno também foram transmitidos para 
a sociedade inglesa no século XIX. Os ex-alunos das public schools levaram o modelo esportivo para 
clubes, associações, empresas e igrejas. 
Asatividades populares vulgares foram amplamente combatidas, chegando à proibição e à 
repreensão com multas e até com prisão. A repressão teve o apoio dos protestantes puritanos e dos 
industriais burgueses, pois os jogos eram considerados práticas vulgares, que afastavam os fiéis de 
seus compromissos religiosos e também geravam ociosidade, tumultos e faltas constantes ao trabalho, 
afetando a produção industrial burguesa.
O esporte moderno foi introduzido em toda a sociedade britânica, disciplinando os trabalhadores 
e moralizando os fiéis. Muitas fábricas criaram suas próprias equipes esportivas, nas quais os operários 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
podiam se entreter de forma controlada e civilizada. Da mesma forma, as igrejas construíram campos e 
incentivaram a prática esportiva regulamentada como forma de aproximar os homens de Deus.
A partir da década de 1870, os ex-alunos do sistema educacional das public schools começaram 
a colocar em prática aquilo que haviam aprendido. Reuniram-se e discutiram formas distintas de 
jogo, criaram clubes, associações, federações, comitês, órgãos do governo e uma ampla normatização 
legal autônoma, desenvolveram um conjunto de redes de instituições e hierarquias esportivas, que 
organizaram competições locais, regionais, nacionais e internacionais.
Esse grande movimento de institucionalização do esporte fez com que o fenômeno ganhasse força e 
autonomia, solidificando-se na sociedade britânica do século XIX e expandindo-se para todo o mundo.
O modelo esportivo do associacionismo estendeu-se a outros países, acompanhando as poderosas 
influências econômicas, culturais e sociais da Inglaterra (CAGIGAL, 1996). Junto com a indústria têxtil, 
ferrovias e companhias de energia, a Inglaterra exportou para o mundo o modelo esportivo, sua 
organização e regras (RUBIO, 2001).
A regulamentação das atividades esportivas, assim como sua organização institucional, ocorreu em 
paralelo ao processo civilizatório da sociedade inglesa, controlando os níveis de violência através das 
regras e adaptando as características do esporte às características da sociedade capitalista industrializada 
(ELIAS; DUNNING, 1992).
Os elementos característicos da sociedade moderna capitalista e industrial que foram incorporados 
pelo esporte são: a orientação ao rendimento e à competição, a cientifização do treinamento, a 
organização burocrática, a especialização dos papéis e a pedagogização dos processos (BRACHT, 1997).
Assim, nota-se a força do movimento esportivo ao transformar não apenas o ambiente escolar 
aristocrático como também toda a sociedade inglesa no século XIX, depois se expandindo para todo 
o mundo no decorrer do século XX. O esporte moderno, nascido como componente curricular da 
escola aristocrática britânica, irradiou-se para todas as partes do globo, ganhando diversas aplicações, 
significações e características, porém sempre é citado em todas as sociedades em que se desenvolve 
como um elemento fundamental no processo educativo de crianças e jovens, auxiliando na socialização 
e na transmissão de valores importantes ao convívio social.
No último quarto do século XIX, com o desenvolvimento das atividades esportivas e o surgimento de ligas 
e campeonatos, nasceu a figura do espectador esportivo. Foram construídos estádios que abrigavam grande 
número de torcedores. O crescimento do número de espectadores fez com que o esporte fosse utilizado como 
forma de alienação dos trabalhadores, que, aos sábados, após o expediente, dirigiam-se em massa aos estádios 
para assistir aos jogos das equipes formadas em suas respectivas fábricas. As fábricas fundaram diversas 
equipes compostas por seus operários. A disputa esportiva entre as empresas gerou a ideia de fidelidade 
entre o trabalhador e a fábrica através dos laços de afetividade proporcionados pela tensão emocional 
provocada nos embates esportivos. A discussão esportiva desviava a mente dos trabalhadores de problemas 
empregatícios e de organizações sindicais. Os operários que se destacavam nas equipes esportivas recebiam 
benefícios, horários para treinar, dias de folga e bonificações (BRACHT, 1997; GONZÁLEZ, 1993). 
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Em fins do século XIX, o esporte arrastava multidões aos estádios. Surgiu então o interesse jornalístico 
sobre os jogos e competições esportivas. A princípio, os jornais se limitaram a noticiar os resultados, 
mas, com o aumento do interesse dos leitores pelas seções esportivas, foram criados novos espaços, 
crônicas, colunas e entrevistas que formataram uma nova linguagem jornalística, dando lugar para o 
crescimento da discussão popular do esporte no cotidiano. Os órgãos governamentais perceberam o 
poder de abrangência do esporte e passaram a fazer uso de suas estruturas. Ocorreu a estatização de 
entidades esportivas, o que trouxe ao esporte o sentimento de patriotismo e representação nacional, 
sobretudo com a convocação de seleções para a disputa de campeonatos internacionais. O Estado 
usurpou do esporte valores como prestígio político e econômico internacional (GONZÁLEZ, 1993).
A Inglaterra se firmou no século XIX como a grande potência imperial do mundo. Amparada por um 
imenso poder econômico proveniente da grande produção industrial e também pela soberania militar de 
sua Marinha, a Inglaterra expandiu seu domínio por todas as partes do globo. Essa posição possibilitou 
a exportação de tecnologia e empresas para suas áreas coloniais, sobretudo nas áreas têxteis, de energia 
elétrica e ferroviária. Junto com essas empresas, foi exportado para o mundo todo o modelo esportivo 
inglês. Esse fato favoreceu a difusão cultural nos países dependentes da Inglaterra (RUBIO, 2001).
 Saiba mais
Indicamos que você assista ao filme: 
SNATCH: porcos e diamantes. Dir. Guy Ritchie. Inglaterra; EUA: Columbia 
Pictures, 2001. 103 minutos.
O longa-metragem ilustra a cultura do submundo inglês, apostas, 
golpes e jogos clandestinos.
5.2.1 O esporte moderno e o contexto social
Para Brohm (1982), o esporte moderno, institucionalizado na Inglaterra em meados do século 
XIX, caracteriza-se como uma instituição de dimensões mundiais que acompanha o contexto 
social capitalista, industrial e burguês que aflorou naquela época. Para o autor, o esporte moderno 
nasce junto com a sociedade industrial e é indissociável de suas estruturas produtivas e formas de 
funcionamento. Assim, o esporte evolui se organizando de acordo com a evolução do capitalismo, e sua 
forma e conteúdo refletem a maneira de pensar, agir e consumir de uma classe social essencialmente 
moderna, que é a burguesia.
O esporte moderno surge em associações que passaram a organizar competições com regulamentação 
precisa, com fundamentação hierárquica institucional (clubes e federações) e, sobretudo, com a ideia de 
quantificação dos resultados, mensuração dos recordes, cronometragem exata e produção de conhecimento 
(ciência) para o aperfeiçoamento do desempenho. Esses elementos estavam todos sendo desenvolvidos da 
mesma forma nas indústrias, visando ao aumento da produtividade e do lucro (BROHM, 1982).
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O primeiro feito esportivo em busca da quantificação do desempenho foi a criação do Jockey 
Club, em 1750, onde a aposta era o fator motivacional para a superação das marcas nas corridas de 
cavalos. De forma gradativa, essas características foram sendo inseridas nas competições esportivas 
com a fundação das federações e associações e diante da disputa dos campeonatos: futebol (Football 
Association, 1863), atletismo (Amateur Athletic Club, 1866), natação (Amateur Metropolitan of 
Swimming Association, 1869), ciclismo (Bicyclist’s Union, 1878), remo (MetropolitanRowing 
Association, 1879), boxe (Amateur Boxing Association, 1884), hóquei (Hockey Association, 1886), 
tênis de campo (Lawn Tennis Association, 1895) e esgrima (Amateur Fencing Association, 1898). Esse 
sistema de associações e federações foi rapidamente difundido para todo o planeta, tanto nos países 
que rapidamente sofreram o processo de industrialização na Europa e América do Norte quanto nos 
países que eram colônias ou dependentes da Inglaterra imperial, como os da América do Sul, Oceania, 
África do Sul, Índia, entre outros (PRONI, 2002).
Brohm (1982) destaca quatro fatores responsáveis pelo desenvolvimento do esporte moderno:
• O aumento do tempo livre e o surgimento do uso voluntário do ócio e do lazer.
• O desenvolvimento em nível mundial dos intercâmbios culturais, econômicos e políticos em 
função da evolução dos meios de transporte e dos meios de comunicação de massa (jornal, rádio 
e, mais tarde, a televisão), o que transformou o esporte em uma “mercadoria cultural”.
• A revolução técnico-científica, que permitiu o surgimento de novos equipamentos, materiais e 
até de novas modalidades. Essa evolução é evidente até os dias atuais no desenvolvimento de 
trajes, sensores e equipamentos cada vez mais leves e resistentes.
• O crescimento e o domínio da classe burguesa industrial, detentora de novas ideias de crescimento, 
evolução, prosperidade e democracia.
Dentro de um esforço para uma definição sociológica para o fenômeno do esporte moderno, Brohm 
(1982) afirma que o esporte deve ser entendido como um “fato social” e que suas relações sociais 
englobam quatro dimensões:
• Sistema institucionalizado (clubes e federações) com regras, códigos e delimitações regulamentados 
formalmente, cujo objetivo é determinar o melhor desempenho ou o melhor concorrente.
• Sistema de competições baseadas no esforço físico humano, abertas democraticamente a todos 
em direitos e condições iguais de disputa, visando a comparar o melhor rendimento.
• Sistema cultural, cujo objetivo é registrar a evolução dos resultados das realizações corporais 
humanas, buscando contínua superação.
• Espaço para relações humanas sociais, procurando a colaboração e o esforço para a melhoria do 
rendimento e para a busca da vitória.
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Essa classificação do esporte moderno segue, implicitamente, princípios dentro de uma nova concepção 
ética: o princípio do rendimento; o sistema de hierarquia institucional; o princípio de organização legal 
e burocrática; e o princípio da publicidade, transparência e igualdade. Tais características são típicas da 
sociedade industrial (BROHM, 1982).
5.2.2 Violência, esporte e civilização
As modalidades esportivas, praticadas atualmente de forma parecida no mundo todo, foram 
originadas na Inglaterra e se expandiram para outros países a partir da segunda metade do século XIX. O 
futebol é a modalidade de origem inglesa que mais se desenvolveu no mundo todo. No entanto, diversas 
outras modalidades tiveram origem na Inglaterra. Entre elas, destacam-se as corridas de cavalo, a luta 
livre, o boxe, o tênis, a caça à raposa, o remo, o críquete e o atletismo (GONZÁLEZ, 1993).
A palavra esporte é originária de desport, que vem do francês antigo e significava prazer, diversão. 
Na Inglaterra, a palavra passou a ser associada às atividades lúdicas praticadas no tempo ocioso da 
nobreza e das classes aristocráticas. Por volta de 1830, essas atividades da nobreza e também alguns 
jogos populares tidos como vulgares e violentos foram regulamentados nas escolas aristocráticas 
inglesas e, em torno de 1860, passaram a constituir um sistema institucionalizado de práticas esportivas 
desenvolvidas em clubes e associações (GONZÁLEZ, 1993).
Registros apontam para a realização de jogos e competições desde 800 a.C. na Grécia, 
também realizadas no período de expansão romana e durante a Idade Média. Essas atividades 
foram relatadas como violentas e brutais, se comparadas ao esporte que é praticado atualmente. 
A questão do uso da violência pode ser associada ao nível de desenvolvimento civilizatório de 
cada sociedade em que a prática competitiva esteve inserida. A violência exercida nas atividades 
e disputas era proporcional ao grau de tolerância do uso da violência das sociedades (ELIAS; 
DUNNING, 1992).
A ética dos jogadores, as normas, as regras da competição e a realização propriamente dita dos 
jogos antigos diferiam em muitos aspectos das características do esporte moderno. Atualmente, as 
regras das competições esportivas, das lutas e dos jogos são amplamente codificadas, racionalizadas e 
oficializadas. O processo de regulamentação esportiva acompanhou as características da organização 
formal da sociedade (ELIAS; DUNNING, 1992).
O mundo contemporâneo está organizado em Estados nacionais, regulamentados por leis e 
normas de convívio social, e o uso da violência passa a ser monopólio desse Estado. Para que as leis 
sejam cumpridas e a vida na sociedade seja harmoniosa, o Estado cria os órgãos policiais, que são 
os únicos que podem fazer uso da violência para manter a ordem internamente no país. Os Estados 
também fazem uso da força através dos Exércitos para defender a soberania, os territórios e os 
interesses do Estado externamente. Nas sociedades antigas, a organização dos reinos não seguia 
uma ordem estatal regulamentada; assim, todo cidadão fazia uso da violência para defender sua 
segurança. O resultado era uma sociedade extremamente armada e muito mais violenta (ELIAS; 
DUNNING, 1992).
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O uso da violência no esporte segue esta lógica. No período em que as atividades competitivas não 
eram muito regulamentadas, o uso da violência era mais permitido. Havia, na Grécia Antiga, uma luta 
chamada pancrácio, que fazia parte dos Jogos Olímpicos antigos. Nessa luta, a única regra existente 
não permitia que se matasse o oponente – o perdedor era aquele que desistia ou não apresentava mais 
condições físicas para lutar. O pancrácio ocasionava, com frequência, fraturas, lesões e até a morte dos 
competidores. A punição para o atleta que matasse seu adversário era apenas a desclassificação da 
competição (ELIAS; DUNNING, 1992).
Nesta modalidade os combatentes usavam todo o corpo. Eles podiam arrancar os olhos uns dos 
outros, podiam puxar pelos pés, pelas orelhas, pelo nariz, podiam-se quebrar os dedos e ossos do braço, 
estrangular. Era permitido sentar-se sobre o adversário e golpear seu rosto, pisotear o adversário. Os 
ferimentos eram tão severos que não era raro que acontecesse alguma morte.
Figura 26 
Em função da diferença de tolerância à violência entre a sociedade antiga e a sociedade contemporânea, 
costuma-se julgar os povos antigos como bárbaros, brutos, cruéis e selvagens. Esse tipo de julgamento 
apresenta características etnocêntricas, ou seja, rotula a sociedade antiga tendo como referência as regras, 
leis e costumes de nossa sociedade, como se apenas esses parâmetros fossem os corretos. Ao olhar para 
a sociedade antiga de acordo com as normas vigentes naquele contexto civilizatório, nota-se que muitas 
atitudes tidas como violentas eram permitidas e aceitas pelos padrões da época (ELIAS; DUNNING,1992).
A ética do povo grego era pautada no enfrentamento agonista. Nele, não eram moralmente aceitas 
a fuga, a defesa e a esquiva. A educação do jovem era voltada tanto para a guerra quanto para a 
competição, e tão honroso quanto vencer um adversário era ser derrotado por um oponente valoroso 
em uma luta franca (ELIAS; DUNNING, 1992).
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A ética inglesa do jogo limpo (fair play) não tem origem militar, sendo oriunda do comportamento 
límpido e honesto dos cavalheiros britânicos (gentleman = sportsman). Atensão emocional, que na 
Idade Antiga ocorria em função da violência e da brutalidade da disputa competitiva, na Inglaterra foi 
substituída pela expectativa gerada pelas apostas feitas sobre o combate, que agora havia se tornado 
menos violento em função das regras institucionalizadas (ELIAS; DUNNING, 1992).
Assim, no mundo contemporâneo, nota-se a violência no esporte como um reflexo da violência 
contida na sociedade, desde as brigas de torcidas e as agressões em campo até as atitudes violentas das 
crianças durante jogos e aulas de Educação Física. Todas essas situações refletem uma sociedade em que 
a educação não atinge a todos e, assim, não há a compreensão das regras de convívio na sociedade. O 
quadro de desigualdade social agrava as injustiças e as condições mínimas de manutenção da dignidade 
muitas vezes não são atendidas, e esse fator também agrava a questão da violência tanto no cotidiano 
quanto no esporte (ELIAS; DUNNING, 1992).
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Uma sociedade com regras institucionalizadas, consolidadas e praticadas 
pela população apresenta um nível civilizatório mais avançado e menores 
índices de violência.
5.3 O Olimpismo moderno
Assim como o modelo esportivo britânico desenvolvido nas escolas aristocráticas, o desenvolvimento 
da filosofia educacional chamada Olimpismo é uma evidência histórica da função formativa do esporte. 
Sua discussão se justifica para que se possa compreender que, desde os seus primórdios, o esporte teve 
objetivos voltados para a educação de crianças e jovens e ainda hoje merece esse crédito.
No final do século XIX, o pedagogo humanista Pierre de Coubertin foi incumbido de buscar 
novos modelos para a educação na França. Após uma série de viagens pela Europa e pelos Estados 
Unidos, Coubertin retornou a seu país determinado a implantar uma teoria pedagógica inspirada 
principalmente pelo sistema educacional inglês e também sob forte influência da obra do arqueólogo 
alemão Ernst Curtius, que havia encontrado ruínas da Grécia clássica em escavações realizadas em 
1852 (CARDOSO, 2000).
Os valores educativos do esporte foram amplamente divulgados por um movimento pedagógico 
humanista que se desenvolveu no final do século XIX. O Olimpismo ou ideário olímpico foi o conjunto 
de ideias desenvolvidas pelo pedagogo francês Pierre de Coubertin. O movimento teve por objetivos 
produzir uma reforma educacional com base na prática do esporte e também restaurar os Jogos 
Olímpicos como um elemento de promoção da paz entre os povos do mundo.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 27 
Coubertin inspirou-se em estudos, viagens e visitas a escolas de diversos países para desenvolver 
suas ideias de educação humanista via prática esportiva. Sobretudo, baseou-se no modelo educacional 
britânico após uma minuciosa visita ao Colégio de Rugby. O estudioso francês também ficou bastante 
impressionado com a prática esportiva desenvolvida nas universidades norte-americanas, em viagem 
realizada em 1890 (HENRY, 1955).
Do modelo educacional inglês, Coubertin absorveu os valores pedagógicos do esporte para a formação 
de cidadãos honrados e líderes enérgicos. O esporte tinha por preceitos a competição, a regulamentação 
das atividades e o jogo limpo (fair play) (HENRY, 1955). As escavações na Grécia revelaram a educação 
helenística denominada Paideia. Essa educação visava, sobretudo em Atenas, à formação global do 
homem, aliando conhecimentos de Filosofia, de Gramática e de Música à prática de exercícios ginásticos 
e atividades atléticas (SOUZA, 1975).
A ideia de instauração dos Jogos Olímpicos modernos surgiu após o conhecimento e o estudo 
detalhado das descobertas arqueológicas da cidade de Olímpia, na Grécia, revelando toda a 
história dos mais importantes jogos da Antiguidade Clássica, seus valores culturais, religiosos e 
a sublime capacidade de promover a paz entre os povos gregos durante o período em que eram 
realizados (HENRY, 1955).
Coubertin reteve da obra de Ernst Curtius os princípios que levaram os antigos gregos a realizarem 
os Jogos Olímpicos: a celebração da paz e o ideal puro da luta pela vitória em busca de ser o melhor e 
aproximar-se dos deuses. Coubertin incluiu o esporte nas escolas francesas através de um amplo projeto 
pedagógico, que contemplou a restauração dos Jogos Olímpicos (GODOY, 1996).
O educador francês de origem nobre barão Pierre de Coubertin não mediu esforços para colocar 
suas ideias em prática e organizou, em 1894, um grande congresso em Paris, na Universidade de 
Sorbonne. No congresso foram discutidos temas envolvendo o amadorismo esportivo e a educação via 
prática esportiva; foi fundado o Comitê Olímpico Internacional (COI) e planejada para dali a dois anos 
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Unidade II
a restauração dos Jogos Olímpicos, que seriam realizados em Atenas, na Grécia, berço dos jogos da 
Antiguidade (HENRY, 1955).
A retomada dos Jogos Olímpicos já havia sido discutida anteriormente e alguns eventos chegaram a 
ser promovidos sem sucesso após as descobertas arqueológicas alemãs por volta de 1850. No entanto, 
a revitalização dos jogos somente ocorreu após os esforços de Coubertin. Para ele, os Jogos Olímpicos, 
realizados a cada quatro anos, seriam apenas mais um elemento educativo, que geraria a compreensão 
e a paz entre os jovens de todo o mundo. O barão estava mais interessado no poder educacional 
do esporte, conforme havia estudado no modelo inglês. No entanto, os Jogos Olímpicos ganharam 
reconhecimento internacional como um grande encontro em que atletas de todo o mundo podiam 
confrontar suas performances máximas. Assim, os outros intentos educacionais do Olimpismo ficaram 
em segundo plano (BINDER, 2001).
Coubertin acreditava que a educação liberal pautada em um currículo contendo um programa 
esportivo havia sido a causa da prosperidade inglesa no século XIX. Pretendia realizar uma reforma na 
educação francesa, a qual julgava conservadora, atrasada e pouco efetiva na preparação dos jovens para 
a vida em sociedade – ao contrário da educação inglesa, que, segundo o pedagogo francês, convertia 
a vida escolar em um primeiro capítulo da existência social, pois o jovem alcançava, através dela, a 
independência e a virilidade, observando leis que mantinham sua responsabilidade individual à altura 
de sua própria consciência, em consonância com a sociedade em que vivia (HENRY, 1955).
Segundo Coubertin, o pedagogo inglês Thomas Arnold, diretor do Colégio de Rugby na década de 
1830, havia colocado as coisas de tal forma que o jovem inglês, ao penetrar na vida adulta, encontrava-se 
em um mundo que lhe havia sido familiar na escola e assim não era empurrado para a complexa vida 
moderna a partir de um mundo escolar irreal, associado com sombrias figuras da história, conforme 
ocorria com a maioria dos garotos franceses (HENRY, 1955).
Em função dessas crenças e desses estudos, Coubertin iniciou a formatação de um movimento 
filosófico que ficou conhecido como Olimpismo.
5.3.1 O ideário olímpico
Em 1894 ocorreu, na Universidade de Sorbonne, um grande congresso esportivo reunindo dois mil 
delegados de 12 países. Sob a organização do barão de Coubertin, o congresso abordou diversos temas do 
esporte, dos quais tiveram destaque o anúncio oficial da restauração dos Jogos Olímpicos, a discussão sobre 
amadorismo e profissionalismo e a nomeação de um Comitê Internacional encarregado da restauração dos 
Jogos (Comitê Olímpico Internacional). Por ocasião do congresso, foi definida, para 1896, em Atenas, a 
realização da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna (COUBERTIN, 1965).
De acordo com a definição contida na Carta Olímpica, o Olimpismo é a filosofia de vida que exalta e 
combina, de forma balanceada, as qualidades do corpo, da mente e da alma. A Carta ainda declara que, 
ao misturar esporte, cultura e educação,o Olimpismo visa a criar uma forma de viver baseada no prazer 
encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos 
fundamentais (OSWALD, 1999). 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
O ideário olímpico lançou, em 1896, a Carta Olímpica, que tinha por principais objetivos 
(BINDER, 2001):
• Promover o desenvolvimento das qualidades físicas e morais, que são a base do esporte.
• Educar a juventude através do espírito esportivo para um melhor entendimento e amizade entre 
os povos, ajudando a construir um mundo melhor e mais pacífico.
• Espalhar os princípios olímpicos pelo mundo, criando a amizade internacional.
• Unir os atletas do mundo a cada quatro anos em um grande festival esportivo, os Jogos Olímpicos.
Em 23 de junho de 1894, o Comitê Olímpico Internacional (COI) foi criado no congresso realizado 
por Coubertin, em Paris. O COI teve como uma de suas metas, desde a sua fundação, promover o 
Olimpismo. A Carta Olímpica, divulgada no mesmo congresso, afirma que o objetivo do Olimpismo é 
engajar todos os esportes a serviço de um desenvolvimento harmonioso do homem, com a missão de 
estabelecer uma sociedade pacífica, concebida com a preservação da dignidade humana. A meta do 
movimento olímpico seria contribuir para a construção de um mundo melhor e mais pacífico, através 
da educação dos jovens pela prática do esporte, sem qualquer tipo de discriminação, com um espírito 
olímpico, o que subentende a compreensão mútua entre os povos, o espírito de amizade, a solidariedade 
e o fair play, jogo limpo (OSWALD, 1999).
Nota-se que, em sua gênese, o movimento olímpico tinha uma grande preocupação educativa e de 
transmissão de valores benéficos à construção de uma vida harmoniosa. As questões filosóficas eram 
supervalorizadas e a realização da competição olímpica era apenas um detalhe do amplo contexto 
pedagógico do Olimpismo.
Figura 28 
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Unidade II
Nem todos os estudiosos do Olimpismo dão a Pierre de Coubertin os créditos exclusivos pelo 
renascimento dos Jogos Olímpicos, pois outros esforços já haviam sido realizados nesse sentido e outros 
idealistas também defendiam a causa dos jogos. Coubertin provavelmente emprestou a ideia de outras 
iniciativas. Entretanto, a maioria dos estudiosos afirma que foi Coubertin quem articulou a combinação 
de ideias conhecida como Olimpismo (BINDER, 2001).
A discussão sobre a necessidade de uma revolução pedagógica teve muito pouco interesse na 
época e pouco representou para os dirigentes esportivos. Com isso, Coubertin buscou temas afins 
para organizar um grande congresso no qual as questões educativas do esporte pudessem ser 
discutidas, mesmo que entre outros assuntos. A importância de fazer um acordo sobre a definição 
do amadorismo, para que atletas de todas as nações pudessem competir sob as mesmas regras 
e condições, chamou a atenção dos técnicos esportivos, permitindo a Coubertin convocar um 
grande encontro para discutir o assunto.
Porém, Coubertin precisava de algo mais para cativar a imaginação das pessoas com cultura 
suficiente para entender suas ideias e dinheiro bastante para assegurar o êxito inicial. Assim, pautado 
na história dos jogos antigos da Grécia Clássica, Coubertin fundiu os ideais educativos reformistas à 
ideia de realização de um grande festival esportivo quadrienal, que teria por finalidade reunir todos 
os povos do mundo em uma festa harmônica embebida de valores construtivos, como a promoção da 
paz. Dessa forma, para dar força aos seus ideais educacionais, Coubertin restabelece os Jogos Olímpicos 
como propaganda para o Olimpismo (HENRY, 1955).
O projeto de Coubertin buscou instituir um conjunto de ideias nobres, denominado ideário 
olímpico ou Olimpismo, ao qual estariam sujeitos os participantes dos Jogos Olímpicos. O preceito 
básico do Olimpismo era o amadorismo, que pregava uma prática desinteressada das atividades 
esportivas, não sendo permitida a remuneração dos participantes em função de sua atuação 
esportiva (CARDOSO, 2000).
No Congresso de Sorbonne, em 1894, a constituição do Comitê Olímpico Internacional elegeu o 
empresário grego Dimitrios Bikelas como presidente, deixando a cadeira de secretário-geral para 
Coubertin. Os membros do recém-criado COI aceleraram a data de reinauguração dos Jogos Olímpicos 
para o ano de 1896. Coubertin preferia a data de 1900, na virada do século, para pegar carona na 
Feira Mundial, que ocorreria em Paris. No entanto, os membros do COI indicaram a realização para o 
ano de 1896 em Atenas, na Grécia, como forma de homenagear a pátria onde os jogos aconteciam na 
Antiguidade Clássica (CARDOSO, 2000).
Após o estabelecimento da data, ficou claro que o COI teria um grande desafio: levantar 
recursos para a realização da competição e para a construção da infraestrutura necessária. A 
tarefa foi vencida com o estabelecimento de alianças. A nomeação do príncipe herdeiro da Grécia 
Constatino como presidente do Comitê foi providencial, e a doação de 920 mil dracmas, feita pelo 
milionário grego radicado no Egito Jorge Averoff, possibilitou a construção do suntuoso Estádio 
Panatenaico (CARDOSO, 2000). 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
5.3.2 A força dos Jogos Olímpicos
Para Pierre de Coubertin, os Jogos Olímpicos deveriam servir para (COI, 1963):
• Atrair a atenção do mundo para o fato de que um programa nacional de treinamento físico e 
esportivo não serviria apenas para fazer crescerem jovens mais robustos e saudáveis, mas, com 
maior importância, serviria para fazer dos jovens melhores cidadãos pela formação do caráter, 
que é a consequência da participação esportiva amadora bem conduzida.
• Demonstrar que os princípios do jogo limpo (fair play) e do espírito esportivo podem ser adotados 
em outras esferas da vida em sociedade.
• Estimular o interesse pelas artes através de demonstrações, contribuindo para ampliar e completar 
o conceito da vida.
• Ensinar que o esporte deve ser praticado pela satisfação que proporciona, e não para ganhar 
dinheiro. Com devoção para a tarefa que se desempenha, a recompensa virá por si só. 
Novamente, percebe-se uma grande preocupação com a disseminação de valores através da 
prática esportiva, ressaltando o ideal amador para o esporte. Apesar de todos os preceitos filosóficos 
e de todas as aspirações educacionais de Coubertin, a característica do esporte que mais se destacou 
nos Jogos Olímpicos foi a evolução constante da técnica, da busca incessante pelo aperfeiçoamento 
físico, pela conquista de novas marcas e recordes. Com isso, os Jogos Olímpicos tiveram um grande 
desenvolvimento no início do século XX, aumentando consideravelmente o número de atletas e 
países participantes, melhorando cada vez mais a organização das competições e a evolução dos 
resultados esportivos. No entanto, os objetivos educacionais de Coubertin se viram sufocados pela 
força crescente dos Jogos Olímpicos.
Desde o primeiro congresso, em 1894, quando o COI foi formado, até sua saída em 1925, Coubertin não 
mediu esforços para convencer o COI a regulamentar seriamente a favor da educação física e esportiva. 
Nos congressos realizados pelo pedagogo antes de 1926, ele sempre abordou temas relacionados à 
promoção de seus objetivos educacionais esportivos. Porém, Coubertin, próximo de sua saída do COI, 
começou a relatar que a instituição nunca seria capaz de desenvolver suas ideias. O pedagogo francês 
comentou, em um de seus discursos, que o COI estava preocupado com seu constante crescimento 
técnico e era incapaz de continuar a tarefa educacional derivada do período de sua fundação. Em 1925, 
Coubertin deixou o COI e participou da organização de outras instituições para promover ao leitor a não mais entender o estudo da história 
como a coleção de fatos e datas, mas sim como um processo de aprendizagem crítica, que, através da 
análise filosófica, permite gerar associações, analogias e contestações pertinentes ao desenvolvimento 
de um saber dialético e abrangente.
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INTRODUÇÃO
Caro aluno,
Este livro-texto visa a apresentá-lo às origens e aos propósitos das manifestações atléticas humanas. 
Antes de ser um manual de curiosidades históricas, é uma referência para a reflexão a respeito da 
construção do exercício humano ontem e hoje.
O texto pretende levá-lo a fazer analogias com os fatos do passado e as manifestações 
contemporâneas do movimento corporal humano, de modo que sua formação e atuação acadêmica 
seja crítica e emancipada, não ficando presa a postulados rigidamente travados pela teoria ou tradição. 
Visa à construção de uma vida profissional pautada pelo conhecimento, pela racionalidade e pela ética.
Munido desses conhecimentos, espera-se que sua formação seja repleta de sentido e referências 
e que a resolução de seus questionamentos tenha, ao menos, ponto de partida através deste amplo e 
generalista compêndio sobre os aspectos socioculturais da Educação Física e do esporte.
A ampla discussão das manifestações atléticas humanas nos mais diversos períodos da história e 
nos mais variados contextos sociais é necessária para o entendimento da importância e da finalidade 
do exercício na sociedade atual. 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Unidade I
1 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Esta disciplina investiga o surgimento das manifestações da cultura do movimento do corpo humano 
e o crescimento e desenvolvimento destas manifestações em diferentes períodos da história. Interpreta 
as influências da atividade física nas diferentes culturas e sociedades.
Ao estudar os diferentes períodos históricos e as diferentes sociedades, a história da Educação Física 
analisa as condições do desenvolvimento socioeconômico e cultural de cada povo ou era, pois essas 
características estão diretamente relacionadas com a cultura de prática de atividade física.
O estudo da história tem importante função no cotidiano profissional do professor de Educação 
Física. É um referencial dos acontecimentos da área no passado, que ensina com as glórias e vivências 
dos povos antigos, mas também alerta para os erros cometidos pelos nossos antecessores.
1.1 O que é História?
Há milhares de anos os seres humanos se organizavam em pequenos grupos, com pouco contato 
entre si. Viviam da caça, da pesca e da coleta, deslocavam-se atrás desses recursos naturais e tinham 
poucos objetos. Todos os grupos eram pouco numerosos, porque seu modo de vida não permitia, pois, se 
sua população crescesse muito, faltariam recursos e os deslocamentos seriam dificultados (VICENTINO; 
DORIGO, 2013).
Essas primeiras formas de organização social deram espaço para o sedentarismo do homem, ou seja, 
o processo de fixação em determinada região a partir da criação de rebanhos e da produção agrária. 
A abundância de alimentos e o fato de os grupos não terem mais que migrar de tempos em tempos 
resultaram na ampliação do contingente populacional, bem como motivaram a especialização de 
tarefas e a fabricação de instrumentos mais complexos, de cerâmicas e cerimoniais. Nesse momento, a 
sensibilidade artística do homem antigo se desenvolveu bastante e ele teve necessidade de confeccionar 
gravuras e pinturas em paredes de cavernas e rochas. É importante ressaltar que essas práticas não 
correspondem a todos os povos e não ocorreram simultaneamente em todas as regiões (VICENTINO; 
DORIGO, 2013).
A ideia de que, antes da invenção da escrita, o que existiu foi a Pré-História e não a História está 
ligada à noção de que a História não pode ser feita sem documentos escritos. Recentemente, os 
especialistas reconheceram a importância dos registros não escritos como fontes históricas – são eles 
pinturas, esculturas, relatos orais e objetos. Sabe-se que a escrita não surgiu ao mesmo tempo em 
todos os lugares e, ainda hoje, povos vivem sem o desenvolvimento da escrita, baseando sua história na 
oralidade e em seus costumes. 
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Unidade I
No entanto, convencionou-se que o termo Pré-História se refere ao período da humanidade, 
envolvendo milhares de anos, desde o seu surgimento até a consolidação da escrita. Já a denominada 
História, embasada por documentos escritos, tem cerca de 6 mil anos (VICENTINO; DORIGO, 2013).
A história não deve ser apenas um amontoado de fatos, datas e nomes em uma sequência cronológica, 
mas sim um instrumento para a discussão crítica do passado, comparando e analisando acontecimentos 
relevantes, que proporcionem soluções para problemas do presente.
Os primeiros registros históricos aparecem há cerca de 6 mil anos, quando a civilização humana dá 
um grande salto em sua organização cultural e social, passando a viver em centros urbanos e organizar 
as funções complexas da vida na cidade na forma de profissões, papéis sociais bem definidos. Nessas 
cidades, os proprietários ricos da terra desenvolvem modelos centralizados de governo, nos quais 
assumem a liderança, concentrando grande riqueza. Os registros contábeis do patrimônio, achados nas 
tumbas desses líderes das primeiras cidades localizadas na Mesopotâmia, são os primeiros documentos 
organizados na forma de escrita com símbolos decodificados na forma de linguagem (VICENTINO; 
DORIGO, 2013).
É importante lembrar que a construção da história se dá a partir de documentos encontrados e 
selecionados, através de relatos, observações e histórias de vida. Cabe ao historiador que organiza os 
documentos apresentar uma versão dos fatos reais ocorridos. O método histórico precisa de tratamento 
crítico, pois, de forma geral, a história é escrita sob a ótica de um ponto de vista. Sendo assim, várias 
fontes, teorias e versões devem ser analisadas antes de se confirmar um fato histórico. Caso contrário, 
a história pode ser tendenciosa e parcial, como aquela que é escrita pelos vencedores das guerras 
(THOMAS; NELSON, 2002).
1.2 A Filosofia
A Filosofia é um método de aquisição do conhecimento que busca, de forma racional, encontrar 
a verdade ou se aproximar o mais perto possível dela. A metodologia filosófica usa a discussão, o 
pensamento e a crítica como elementos para a construção do saber.
A aplicação do método filosófico compreende o estabelecimento de um questionamento, de uma 
dúvida, não aceitando conceitos preestabelecidos sem antes analisá-los e contrapô-los mediante 
rigorosa argumentação.
O pensamento filosófico não busca estabelecer uma verdade absoluta, mas discutir as verdades 
possíveis a respeito de determinado assunto. A dialética ampara essa dualidade, na qual pensamentos 
opostos ou complementares podem coexistir em busca de um entendimento amplo de um fato.
Dessa forma, o método filosófico será aplicado no contexto deste livro-texto com o intuito de 
discutir criticamente os fatos históricos, fazendo analogias com fatos contemporâneos e construindo 
uma análise abrangente da problemática apresentada.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
2 A IMPORTÂNCIA DAS HABILIDADES MOTORAS NOS POVOS ANTIGOS
No decorrer de um extenso período de adaptação e evolução que durou milhões de anos, 
os hominídeos foram desenvolvendo mais habilidades motoras e maior nível de complexidade 
do sistema nervoso, aumentando consideravelmente sua capacidade cognitiva. O cérebro, mais 
complexo, incrementou a capacidade de raciocínio, o que permitiu uma capacidade maior de 
manipular armas e ferramentas, dando ao homem grande vantagemEducação 
Física e o esporte como forma de educação (BINDER, 2001). 
Atualmente, diversas instituições se preocupam em elaborar programas e currículos educacionais 
envolvendo o esporte e os ideais olímpicos. A Academia Olímpica Internacional (IOA) realiza reuniões 
periódicas abordando o assunto. Em 1997 foi criada a Fundação para a Educação Olímpica e Esportiva 
(FOSE), que, desde então, vem organizando um grande programa educacional no Comitê Olímpico Grego, 
que organizou os Jogos Olímpicos de Atenas em 2004 (BINDER, 2001).
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Unidade II
A discussão dos valores educativos do esporte mostra-se atual em função dos recentes esforços 
para a realização de programas que retomam os ideais olímpicos de Coubertin desenvolvidos no final 
do século XIX. Essas ações demonstram que o intento do pedagogo humanista francês ainda pode ser 
utilizado nas escolas do mundo contemporâneo para educar crianças e jovens, visando a prepará-los 
para uma melhor adaptação à vida cotidiana em sociedade.
6 O ESPORTE CONTEMPORÂNEO, ASPECTOS POLÍTICOS E MERCANTILISTAS
6.1 A história do uso político do esporte
No mundo contemporâneo, o esporte foi inserido nas estruturas neoliberais da economia de mercado, 
transformando-se em uma grande instituição financeira que representa os interesses das corporações 
transnacionais, as quais ditam as regras no mercado mundial (BRACHT, 1997). 
Bracht (1997) afirma que o Estado utiliza o esporte porque este é facilmente instrumentalizado 
politicamente pelo poder institucionalizado. O esporte reúne as seguintes características que o tornam 
suscetível à utilização política:
• É uma atividade com regras de fácil compreensão, sendo usado como elemento de comunicação 
de massa portador de uma linguagem simples. O Estado, por meio dessa linguagem, utiliza o 
elemento de tensão emocional do esporte para veicular os seus objetivos e ideologias.
• Oferece à população a possibilidade de identificação com o coletivo e com as aspirações patrióticas, 
dando sentido de união nacional.
• É um elemento alienador que permite ao espectador a compensação para as tensões e aflições da 
vida cotidiana.
• A apropriação do atleta como representante do sistema faz com que os sucessos esportivos 
forneçam prestígio político.
• O esporte é reflexo da concepção de valores resistentes na sociedade em que está inserido. Isso lhe 
confere uma neutralidade interna, permitindo que o direcionamento político seja determinado de 
fora do seu contexto.
Por representar interesses de diferentes grupos sociais, o esporte foi submetido a uma organização 
central dentro dos países. A configuração da instituição esportiva ocorreu paralelamente a um grande 
movimento mundial de estatização (GONZÁLEZ, 1993). As organizações esportivas foram coordenadas 
geralmente pelo Estado através de estruturas de controle centralizador (estruturas corporativas) ou em 
parceria com as sociedades civis privadas (estruturas neocorporativas) (BRACHT, 1997).
Dentro desse contexto, o esporte evoluiu durante a primeira metade do século XX como instrumento 
político dos governantes, atuando como ferramenta de propaganda do prestígio internacional das 
nações, da superioridade de sistemas políticos e do orgulho nacional (GONZÁLEZ, 1993).
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Brohm (1982) afirma que o esporte é um novo tipo de aparato ideológico do Estado, uma ferramenta 
para a manutenção da estrutura social estabelecida. Passa a ser utilizado pelas forças hegemônicas do 
Estado civil, que não deve ser entendido apenas como as forças governamentais, mas também os grupos 
privados dominantes, como a Igreja, os sindicatos, os partidos, as escolas e os grupos financeiros. A 
instituição esportiva é uma personificação ideológica que participa na manutenção da ordem burguesa, 
destilando massivamente a ideologia dominante. 
Assim, o estudo do uso político e ideológico do esporte ganha importância, pois não se trata apenas 
de entender como o Estado se apropria desse fenômeno, mas de verificar como toda a sociedade se 
favorece das qualidades do esporte em benefício de seus próprios interesses.
6.1.1 O Olimpismo: um nobre ideal corrompido
O barão Pierre de Coubertin afirmava que o movimento olímpico e o Comitê Olímpico Internacional 
eram instituições apolíticas e independentes que visavam a promover o esporte pelo mundo. No 
entanto, a restauração dos Jogos Olímpicos criou a ideia de representação esportiva nacional e, com 
o passar das edições, essa condição gerou um sentimento patriótico nos atletas e na população dos 
países participantes. A mídia daquela época, representada maciçamente pelos jornais, passou a noticiar 
cada vez mais os feitos esportivos, aumentando consideravelmente o alcance dos acontecimentos 
esportivos. O esporte exaltou elementos simbólicos da pátria, como bandeiras e hinos, que foram exibidos 
ostensivamente em cerimônias de abertura e de premiação nos jogos. Percebendo o grande poder 
convocatório e nacionalista do esporte, os governos passaram a investir na preparação das seleções 
nacionais em busca do prestígio obtido com as vitórias esportivas (GONZÁLEZ, 1993).
Os países participantes interpretaram os jogos como uma oportunidade para expressar os sentimentos 
nacionalistas e o sentido de identificação nacional. Assim, os Jogos Olímpicos, além de promoverem 
o jogo limpo, a paz e a compreensão entre os povos, foram usados para manifestar o orgulho e os 
interesses nacionais (GONZÁLEZ, 1993).
Contudo, as nobres ideias de Coubertin foram utilizadas para objetivos outros que não aqueles previstos 
pela Carta Olímpica. Os Estados passaram a usufruir os valores do esporte em benefício próprio na disputa de 
prestígio internacional para seus respectivos regimes políticos. Desde então, os Jogos Olímpicos não representam 
apenas a confraternização entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento humano, mas também a 
disputa de interesses políticos e econômicos de Estados e corporações. 
O Olimpismo ainda apresentou em seus primórdios uma questão ideológica bastante contundente. 
A questão do amadorismo esportivo tinha como justificativa a ideia de se evitar a mercantilização dos 
atletas, que, ao se profissionalizarem, passariam a buscar a vitória a todo custo, incentivando as trapaças, 
as deslealdades e a violência. No entanto, o amadorismo também foi uma estratégia excludente e 
segregacionista bastante eficiente, mediante a qual os trabalhadores e pessoas menos favorecidas do 
ponto de vista socioeconômico tinham menos tempo para se dedicar de forma abnegada ao esporte, 
pois precisavam dividir os treinos com a jornada de trabalho. Em seus primórdios, o COI tentou fazer dos 
Jogos Olímpicos uma festa com os ideais burgueses elitistas de seus fundadores: nobres, empresários, 
milionários, entre outros (RUBIO, 2001).
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Unidade II
No amadorismo imposto pelo COI, o atleta amador não poderia receber nenhum benefício capital, 
recompensa ou remuneração por suas práticas esportivas ou em função de seu desempenho. Na 
história olímpica brasileira, o bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva, depois de conquistar 
a medalha de ouro no salto triplo em Helsinque, recusou a oferta de doação de uma casa feita por 
um jornal de São Paulo como prêmio por seus feitos, porque ainda pretendia competir e temia que 
aquele gesto pudesse ser interpretado como atividade remunerada, pondo em risco sua condição 
de amador (RUBIO, 2001). O amadorismo olímpico teve sua queda registrada de forma icônica 
nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992), quando, por ocasião do relaxamento dessa regra, a 
competição contou com a participação dos atletas da Liga Profissional de Basquetebol Norte-
Americana (NBA), que, na ocasião, contavacom um verdadeiro “time dos sonhos” (dream team), 
como passou a ser chamada e relembrada aquela seleção invencível que, além de conquistar a 
medalha de ouro, apresentou um verdadeiro espetáculo. Eram membros dessa equipe lendas do 
esporte, como Magic Johnson, Michael Jordan, Karl Malone, Larry Bird, Charles Barkley, Scottie 
Pippen, John Stockton e Patrick Ewing (CARDOSO, 2000). 
A partir de então, a demagogia envolvendo o ideal amador do esporte olímpico perdeu força. 
As únicas modalidades que permanecem com restrições são o boxe olímpico, em que apenas atletas 
amadores podem participar, e o futebol, em que não existe restrição quanto ao profissionalismo, mas 
sim quanto à idade dos jogadores, sendo que apenas três atletas por equipe podem ter mais que 23 anos 
de idade. Essa limitação foi imposta pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) para que o torneio 
olímpico não ofuscasse a Copa do Mundo de Futebol (CARDOSO, 2000).
A realização dos Jogos Olímpicos foi, por muitas vezes, marcada por manifestações políticas, boicotes, 
atentados e até demonstrações de revanchismo belicoso ou, em outros extremos, de cordialidade 
entre países inimigos. Essas ocorrências aconteceram apesar de o COI explicitar em seu regulamento 
que a participação nos Jogos Olímpicos é supranacional, ou seja, não deve ser representativa de uma 
nação; a participação é individual e não são permitidas manifestações políticas, de gênero, religiosas 
ou partidárias. A classificação do quadro de medalhas é um artifício criado pela mídia para medir o 
desempenho dos países, algo que não é apoiado pelo COI (CARDOSO, 2000).
Apesar dessas limitações, outras ritualísticas olímpicas dão espaço para manifestações nacionais, 
como o desfile de delegações, a execução do hino nacional e o hasteamento das bandeiras pátrias dos 
vencedores de cada prova. Esses pontos parecem paradoxais com as limitações contra as manifestações 
políticas, mas, de acordo com o COI, são momentos de expressão do multiculturalismo e do exercício da 
convivência, da amizade e da tolerância entre nações (BINDER, 2001).
6.1.2 Jogos Olímpicos de Berlim (1936) e a propaganda nazista
Um momento histórico bastante característico no que diz respeito ao uso político do esporte foram 
os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Naquele período a Alemanha era governada pelo nazismo, 
tendo como líder supremo e totalitário Adolf Hitler. 
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Figura 29 
As origens do nazismo remontam aos movimentos nacionalistas de extrema-direita que surgiram 
após a Primeira Guerra Mundial, como resposta à ascensão socialista provocada pelos ideais da Revolução 
Bolchevique na Rússia em 1917. Os movimentos extremistas de ultradireita eram intensamente 
nacionalistas e xenófobos, incitavam a violência militar e policial e eram antiliberais, antidemocráticos, 
antiproletários e antissocialistas. As condições para o triunfo da ultradireita eram: uma Europa abalada 
pela guerra, uma massa de cidadãos desencantados e desorientados, fortes movimentos socialistas 
avançando na sociedade e um forte ressentimento nacionalista contra os tratados de paz do pós-guerra 
(HOBSBAWM, 1995).
A ascensão do nazismo na Alemanha foi favorecida pelas humilhações sofridas pelo povo em 
função das imposições do Tratado de Versalhes após a Primeira Guerra Mundial, que responsabilizou a 
Alemanha pelo conflito, obrigando-a a pagar pesadas reparações. Essas penalidades e sanções geraram 
uma grave crise econômica em 1923. Outro fator que colaborou com o nazismo foi o temor de que a 
revolução comunista ocorrida na Rússia contaminasse a Alemanha. Por fim, Hitler se aproveitou da 
grande depressão econômica mundial de 1929 para acionar os projetos políticos que estabeleceram o 
nazismo na Alemanha em 1933, criando um quadro de supressão dos direitos civis e de autonomia do 
Estado totalitário governado pelo partido único nazista.
Uma vez no poder, Hitler iniciou uma campanha de perseguição aos opositores do governo, comunistas 
e judeus. Combateu o desemprego com frentes especiais de trabalho e incentivos à indústria, em busca 
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de autonomia econômica, o que sustentou os ideais de expansão do III Reich, culminando na eclosão da 
Segunda Guerra Mundial quando Hitler invadiu a Polônia em 1939 (JAGUARIBE, 2001).
Em 25 de abril de 1931, o Dr. Theodor Lewald, secretário-geral do Comitê Olímpico Alemão, apresentou 
as intenções da Alemanha em sediar os jogos de 1936 na cidade de Berlim. Como argumento, o Dr. 
Lewald apresentou os projetos em andamento para a construção de estádios e instalações esportivas, e 
também lembrou que a Alemanha havia sido escolhida para sediar os jogos de 1916, que acabaram não 
se realizando em função da Primeira Guerra Mundial. Assim, Berlim foi eleita (HOLMES, 1974).
Em 1931 a Alemanha era governada pela República de Weimar. A realização dos Jogos Olímpicos 
seria utilizada para exaltar a honra do povo alemão, abalada pelas imposições humilhantes do 
Tratado de Versalhes. No entanto, em 1936, os jogos acabaram representando os interesses de 
propaganda do governo totalitário nazista e se tornaram um marco de referência da utilização do 
esporte para fins políticos. 
Hitler assumiu o cargo de chanceler alemão em 30 de janeiro de 1933 e convocou novas eleições 
para março, no intuito de obter maioria do Partido Nazista no parlamento (Reichstag). No dia 27 
de fevereiro, um lunático comunista patrocinado pela polícia nazista SS incendiou o parlamento. 
Hitler usou o pretexto para dissolver o Partido Comunista e prender parlamentares do Partido 
Social-Democrata. Com isso, o Partido Nazista conseguiu maioria nas eleições de março e aprovou o 
“voto de confiança” a Hitler, concedendo ao chanceler poderes ditatoriais. Com a morte do presidente 
Hindenburg, em agosto de 1934, Hitler assumiu também o cargo de presidente. Investido de plenos 
poderes, Hitler dissolveu os outros partidos e impôs uma caçada aos opositores do governo e aos não 
arianos judeus (JAGUARIBE, 2001).
Os judeus foram expulsos dos clubes esportivos e das equipes olímpicas alemãs. O COI repreendeu o 
Comitê Alemão, que aparentemente voltou atrás da decisão, repatriando alguns atletas judeus exilados. 
A ascensão de Hitler ao poder colaborou diretamente com o comitê de organização dos Jogos Olímpicos, 
que foi amplamente amparado financeiramente pelo Estado. A Olimpíada de Berlim representou, para 
Hitler, uma grande oportunidade de divulgar internacionalmente a imagem poderosa da Alemanha 
nazista. O ministério de propaganda nazista, chefiado por Goebbels, foi acionado para veicular a 
publicidade dos jogos nazistas. Hitler convocou o Exército alemão para auxiliar nas obras dos conjuntos 
esportivos e da vila olímpica. Também promoveu frentes de trabalho, utilizando o grande contingente 
de desempregados da Alemanha daquela época (HOLMES, 1974).
A intensa participação do Estado nazista e do Exército alemão na organização dos jogos fez surgir, 
na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos e em outros países europeus, suspeitas quanto à intenção 
de utilização política dos jogos por parte dos nazistas. Foram iniciadas diversas campanhas contra a 
participação nas Olimpíadas de Berlim. Essas campanhas foram lideradas por grandes jornais, associações 
judaicas e universidades e tiveram representação nos governos desses países. Os Comitês Olímpicos dos 
EUA, da França e da Inglaterra chegaram a proibir a participação de suas delegações, alegando não 
estarem dispostos a colaborar com a política nazista. Outro receio era a perseguição racial sofrida pelos 
judeus na Alemanha. Alguns países não se sentiam seguros em levar seus atletas de origem judaica e 
negra para os Jogos de Berlim. O boicote só foi revertido após uma série de medidas e compromissos 
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firmados pelo governo alemão com o COI. Tais medidas camuflaram a perseguição aos judeus. No 
entanto, muitos países só confirmaram presença em Berlim após a realização dos Jogos Olímpicos 
de Inverno, em Garmisch-Partenkirchen, na Alemanha, onde não foram presenciadas manifestações 
antissemitas de qualquer espécie, prevalecendo uma calorosa receptividade forjada por determinação 
do Estado (HOLMES, 1974). 
 Observação
Em 1939, apena três anos após a realização dos Jogos Olímpicos de 
Berlim, a Alemanha invade a Polônia e inicia uma política antissemita. Esse 
episódio deflagrou a Segunda Guerra Mundial. 
Figura 30 
A máquina do Estado nazista organizou a melhor edição dos Jogos Olímpicos até então. A população 
foi orientada a acolher bem os participantes. Os hotéis e restaurantes receberam a determinação de 
atender bem a todos, relevando os preceitos racistas. Os jornais e boletins oficiais de perseguição aos 
judeus foram recolhidos. Os cartazes antissemitas foram retirados dos locais públicos. O Exército e a 
polícia nazista SS ocuparam Berlim durante os jogos. A cidade foi decorada com bandeiras e pinturas 
ostentando os aros olímpicos e a suástica nazista. Hinos nazistas e olímpicos eram entoados a todo 
tempo nos alto-falantes instalados pela cidade. Imagens dos jogos foram reproduzidas em telões 
espalhados pelas praças de Berlim. Durante os jogos, todas as ações exaltavam a ordem e a glória do 
governo nazista do III Reich. As cerimônias, desfiles e uniformes deixavam a impressão militar e belicosa 
aparentes (HOLMES, 1974).
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Hitler também tinha a intenção de comprovar a supremacia da raça ariana nas provas atléticas 
dos jogos. No entanto, a hegemonia alemã foi ameaçada pela equipe de atletismo dos Estados Unidos, 
composta, entre outros, de dez atletas negros que conquistaram oito medalhas olímpicas de ouro, com 
destaque para o atleta negro Jesse Owens, ganhador de quatro dessas medalhas de ouro, nos 100 e 200 
metros rasos, no revezamento 4x100 e no salto em distância, prova em que derrotou o campeão europeu 
e alemão Luz Long. Após a vitória de Owens, Hitler deixou o estádio irritado, sem cumprimentá-lo, como 
havia feito até então com os demais campeões. Hitler conseguiu mostrar ao mundo o poder totalitário 
do nazismo alemão e impressionou a todos com a organização social promovida por ele, mas não teve 
sucesso em demonstrar a suposta supremacia racial dos alemães arianos, que foram derrotados por 
atletas negros, asiáticos e judeus. No entanto, a anfitriã, com a maior delegação dos jogos, conquistou o 
maior número de medalhas olímpicas, 90, contra 56 dos Estados Unidos (CARDOSO, 2000).
6.1.3 O esporte: arma ideológica na Guerra Fria 
O conflito entre as duas potências mundiais denominado Guerra Fria teve início após o término 
da Segunda Guerra Mundial. Esse embate se estendeu pela segunda metade do século XX e foi 
protagonizado pelos Estados Unidos e pela União Soviética em uma grande disputa ideológica e 
armamentista. Após a Segunda Guerra Mundial, uma série de acordos e conferências entre Roosevelt, 
Churchill e Stalin dividiu o mundo em dois polos de influência, que definiram o equilíbrio do poder 
em uma estrutura bipolar. De um lado, os países socialistas alinhados à URSS; de outro, os países 
capitalistas liderados pelos EUA. A Guerra Fria foi caracterizada por uma grande corrida armamentista, 
em que os dois blocos mediam o poderio de destruição nuclear. O equilíbrio nuclear não representava 
uma real intenção em usar esse tipo de armamento, o que levaria à destruição mútua. Por isso a 
Guerra Fria foi um combate de tensões e ameaças apocalípticas que deixaram o mundo à sombra da 
guerra até o final da década de 1980, com a queda do Muro de Berlim e o declínio e esfacelamento 
da União Soviética (HOBSBAWM, 1995).
O conflito soviético-americano confrontou duas potências imperiais. De um lado, o império de 
Moscou, territorialmente contíguo, com força militar terrestre e estratégia política de expansão 
das áreas subjugadas. Do outro lado, colocou-se o império norte-americano, constituído de áreas 
de influência espalhadas por todo o globo, interligadas por uma força militar predominantemente 
marítima. O objetivo estratégico dos EUA era cercar o império soviético em uma política de 
contenção do avanço territorial socialista. O expansionismo soviético e o contencionismo 
americano ocorreram na disputa pela Eurásia, o grande continente basilar formado pela Europa 
e pela Ásia, que contém a maior parte dos recursos naturais e riquezas do planeta e a maioria da 
população mundial (BRZEZINSKI, 1989).
Nesse contexto, o esporte foi usado como instrumento ideológico e de propaganda por ocasião 
de competições internacionais e Jogos Olímpicos. Foi uma arma simbólica dos blocos opostos, 
transformando piscinas, ginásios e estádios em campos de batalha. As vitórias esportivas foram 
usadas para reafirmar o prestígio político e a soberania de cada regime. As pressões resultantes 
da Guerra Fria foram sentidas nas disputas esportivas, causando grande rivalidade entre os 
atletas. A mídia difundiu esse confronto, inflamando os sentimentos nacionalistas das populações 
(RIORDAN, 1977; LANCELOTTI, 1996).
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 Saiba mais
Veja o filme indicado a seguir:
ROCKY IV. Dir. Sylvester Stallone. EUA: United Artists, 1985. 91 minutos. 
O longa-metragem, que mostra a rivalidade esportiva transplantada 
para o meio político e social, é uma caricatura das tensões da Guerra Fria.
Também durante a Guerra Fria o esporte foi utilizado como uma ferramenta diplomática. Em 
determinados momentos, foi uma válvula de escape das tensões políticas da época. Representou a 
colaboração conjugada entre o imperialismo americano e a burocracia dos países socialistas durante os 
esforços de coexistência pacífica. Esse fato pode ser exemplificado com a visita do presidente Richard 
Nixon à China durante a Guerra Fria. A viagem foi precedida por competições amistosas entre equipes 
esportivas dos dois países. Esse episódio ficou conhecido como Política do Pingue-Pongue, em referência 
à modalidade tênis de mesa, muito desenvolvida no pais asiático. O slogan dessa política era: “A amizade 
primeiro, a competição depois” (BROHM, 1982).
O esporte se converteu na imagem da cooperação internacional, assim como em um desafio para 
a confrontação pacífica entre os Estados com regimes sociais diferentes. Por outro lado, o esporte 
também representou o embate entre as potências mundiais na busca de prestígio. Os atletas foram 
transformados em “soldados do esporte” em defesa das cores de sua nação, em uma ampla demonstração 
de chauvinismo (BROHM, 1982).
A União Soviética iniciou sua participação nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952, disposta a 
mostrar ao mundo as excelências do comunismo. Na edição anterior dos jogos, em Londres (1948), a 
nova potência mundial preferiu não comparecer e medir forças com a hegemonia esportiva dos EUA. Em 
vez de participar, enviou técnicos e pesquisadores para analisar os atletas e os métodos de treinamento 
do mundo capitalista. Nos quatro anos seguintes, o governo soviético destinou grandes recursos a 
projetos esportivos, visando a formar atletas de alto nível que representassem a ideologia comunista 
nos jogos. Em Helsinque teve início uma disputa paralela aos jogos, o confronto ideológico entre os dois 
blocos antagonistas dentro dos recintos esportivos. Essa disputa ideológico-esportiva se estendeu pelas 
outras edições dos jogos, culminando com os boicotes dos Jogos de Moscou, em 1980, e Los Angeles, 
em 1984 (CARDOSO, 2000). 
Em dezembro de 1979, a União Soviética impôsuma intervenção militar ao Afeganistão após 
uma sequência de golpes de Estado e conflitos civis. O interesse soviético no Afeganistão vinha de 
seu posicionamento geográfico, que dava acesso ao Oceano Índico. O governo dos EUA, presidido 
por Jimmy Carter, exigiu a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, ameaçando comandar um 
boicote internacional aos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980. A exigência não foi atendida e a ação 
política dos Estados Unidos promoveu um boicote envolvendo 61 países, prejudicando sensivelmente 
essa edição dos jogos. Em retaliação ao boicote americano, a União Soviética se negou a participar 
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das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984. O boicote soviético teve menor abrangência devido a uma 
grande campanha do COI, que conseguiu convencer muitos países a participar dos jogos (CARDOSO, 
2000; LANCELOTTI, 1996). 
 Lembrete
A Guerra Fria foi um período de ameaças entre países dos blocos 
socialista e capitalista. A corrida armamentista nuclear provocada por esta 
disputa colocou em risco a segurança mundial.
Figura 31 
6.1.4 O esporte e o mundo contemporâneo
O uso político do esporte esteve submetido às relações interestatais do sistema internacional. 
As ações visavam a manter o equilíbrio de poder, evitando a possibilidade constante de guerra. 
O esporte foi usado em ações estratégicas e em propagandas políticas dos países e seus regimes 
de governo. Na década de 1980 o esporte foi inserido, definitivamente, no sistema econômico 
mundial e passou a ser um mecanismo financeiro sob influência das corporações transnacionais 
(ARON, 1987).
A década de 1970 serviu como laboratório para a inclusão do esporte no mercado mundial. Naquela 
época, as grandes confederações esportivas internacionais, como a Federação Internacional de Futebol 
(Fifa) e o Comitê Olímpico Internacional (COI), perceberam o crescente valor do esporte para a mídia e 
passaram a negociar cifras cada vez maiores sobre os direitos de transmissão televisiva dos campeonatos 
internacionais e dos Jogos Olímpicos (SIMSON; JENNINGS,1992).
Os Jogos Olímpicos de Los Angeles marcaram a entrada do esporte na economia mundial. O COI 
vendeu, pela primeira vez, o evento à iniciativa privada através de contratos de patrocínio. No entanto, o 
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grande fluxo de capital recebido pelo esporte só foi possível graças à crescente valorização esportiva na 
mídia. Devido ao grande poder de audiência do esporte, os patrocinadores surgiram em grande número, 
e a mercantilização do esporte gerou um lucro inédito aos organizadores dos Jogos Olímpicos. Desde 
então os eventos esportivos passaram a ter a parceria de grandes empresas. Essa relação com o mercado 
mundial evoluiu para as instituições esportivas, e as confederações, as federações, as ligas e os clubes 
passaram a negociar o esporte como um produto de consumo. 
Esse alinhamento do esporte às questões econômicas seguiu a ótica das políticas neoliberais 
consolidadas na década de 1980. Os Estados nacionais passaram a ter menos influência política e as 
corporações transnacionais mais influência econômica. A desestatização do esporte e sua inclusão 
no mercado mundial caracterizaram as mudanças impostas pela globalização (MOTA; BRAICK, 1997; 
LANCELOTTI, 1996; BRACHT, 1997; CAGIGAL, 1996). 
O processo de mercantilização do esporte transformou as federações internacionais e o COI em 
grandes corporações financeiras transnacionais, que teceram uma rede de filiais por todo o mundo 
através dos Comitês Olímpicos nacionais e das confederações nacionais. Essas corporações esportivas 
mantêm relacionamentos comerciais com grandes empresas patrocinadoras, como Coca-Cola, Nike e 
Adidas (SIMSON; JENNINGS, 1992). 
As grandes confederações mundiais esportivas, como o COI, a Fifa, a Federação Internacional de 
Atletismo (IAAF), a Federação Internacional de Natação Amadora (Fina), a Federação Internacional de 
Automobilismo (FIA), entre outras, tornaram-se grandes empresas monopolizadoras do esporte mundial. 
As eleições dos países-sede para os Jogos Olímpicos (COI) e para as Copas do Mundo de Futebol (Fifa), 
feitas por votações das confederações-membros, tornaram-se um enorme jogo de favorecimentos e 
lobbies, envolvendo suborno, propinas e vantagens para seus líderes. Recentemente, inúmeros dirigentes 
dessas instituições foram afastados, e até presos, por envolvimento em esquemas de corrupção no 
processo de escolha das cidades ou países-sede desses eventos, que mobilizam bilhões em investimentos 
(SIMSON; JENNINGS, 1992).
O volume de capital envolvido nas transações de patrocínio de eventos, de equipes e de 
venda de direitos de transmissão gera interesses que ultrapassam as necessidades da prática 
esportiva. São interesses voltados ao mercado-alvo, horários de transmissão, locais-sede dos 
eventos, oportunidades comerciais. Esses interesses econômicos provenientes das relações entre 
as instituições esportivas, empresas patrocinadoras e corporações de mídia acabam por influenciar 
diretamente a realização esportiva, proporcionando mudanças nas regras dos jogos, horários 
de partida desfavoráveis à prática esportiva, mas ideais para a audiência televisiva, valorização 
excessiva do espetáculo e do show em prejuízo das características da modalidade esportiva 
(SIMSON; JENNINGS, 1992).
Exemplo de aplicação
Reflita sobre algum momento esportivo em que os interesses financeiros foram sobrepostos aos 
interesses da disputa esportiva. Pode ser alguma final de campeonato em que o atleta, patrocinado 
pela marca oficial da competição, jogou, mesmo sem ter condições físicas, só para cumprir com as 
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exigências de contrato. Reflita a respeito de campeonatos, provas de corrida ou finais de campeonatos 
nacionais de voleibol que são agendados para horários pouco usuais somente para não interferir na 
grade da rede de TV que os transmite.
Pense como o esporte hoje é refém do capital.
6.2 A organização esportiva versus a lógica capitalista
O esporte moderno, nascido de acordo com princípios e fundamentos da sociedade capitalista 
industrial, desenvolve-se segundo as características desse modelo social, realçando algum aspecto 
social (econômico, político-ideológico, pedagógico-cultural). Pode-se afirmar que o esporte profissional 
de alto rendimento se alinha às características econômicas da sociedade capitalista, enquanto o esporte 
escolar deveria priorizar uma aproximação pedagógica. Percebe-se que o desenvolvimento do esporte 
olímpico reforça aspectos políticos e ideológicos do Estado (BROHM, 1982).
De acordo com Brohm (1982), o sistema esportivo constitui-se em uma totalidade articulada de 
instâncias dominantes, organizadas em esquema piramidal de poder, determinada em uma escala 
de valores. 
O esporte de rendimento possui características correspondentes à organização econômica capitalista 
(BROHM, 1982): 
• A especialização esportiva é resultado da divisão social do trabalho e da cientifização dos 
processos em busca do maior rendimento. Assim, o esporte produz corredores velocistas que se 
especializam e se capacitam para correrem cada vez mais rápido, distâncias curtas, enquanto são 
criados corredores de longas distâncias cada vez mais resistentes, que mantêm níveis vigorosos 
de esforço por tempos prolongados. Os processos de treinamento para a obtenção desses 
desempenhos são, atualmente, altamente sofisticados e estudados de forma científica.
• O esporte busca o máximo rendimento, a delimitação e expansão de novas marcas de desempenho 
(recordes), em similaridade à capacidade produtiva almejada na sociedade capitalista industrial. 
De acordo com Brohm (1982), o recorde é uma obsessão do esporte.• Assim como no mercado liberal capitalista, a concorrência deve ser livre e as condições 
devem ser equivalentes. Dessa forma, são mais valorizados os atletas que conseguem melhor 
rendimento/produtividade em condições iguais de competição. Neste ponto, as semelhanças 
entre o esporte e o sistema capitalista são percebidas de forma negativa, pois, em sociedades 
que apresentam grandes desigualdades sociais, os indivíduos com menor poder aquisitivo 
possuem condições desiguais de produção; da mesma forma, no esporte, os menos favorecidos 
são muitas vezes excluídos ou não possuem condições iguais, como alimentação, materiais, 
tempo de treinamento, local apropriado. Nesses casos, a superação socioeconômica deve 
somar-se à superação do desempenho físico.
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O esporte educacional, desenvolvido nas escolas e em projetos sociais, deve reforçar aspectos 
pedagógicos da sociedade capitalista, como:
• A valorização do esforço, em que a vitória ou recompensa são méritos dos indivíduos que se 
esforçam e participam do processo produtivo. O esforço natural de cada indivíduo para melhorar 
sua própria condição, quando se permite que ele atue com liberdade e segurança, constitui um 
princípio tão poderoso que, por si só, e sem qualquer outra ajuda, é capaz de levar a sociedade à 
riqueza e à prosperidade (SMITH, 1996). Existe uma ideia equivocada que reforça o fato de que, 
quanto maior o volume de treinamento, preparação ou esforço, melhores serão os resultados 
ou desempenho. Esse ponto de vista tem levado muitos atletas ao excesso de treinamento, à 
ocorrência de lesões e à perda de produtividade. Atualmente, a ciência do treinamento esportivo 
tem indicado que a qualidade e intensidade de treinamento são mais eficientes do que o grande 
volume. Dentro da lógica administrativa capitalista, isso se aplica ao princípio da eficiência e 
economia de energia.
• Trabalho em equipe: o esporte ensina que o esforço conjunto e organizado em equipes é mais 
eficiente devido à especialização dos papéis e à divisão das responsabilidades. Essa concepção está 
alinhada à ideia do fordismo, princípio de organização da produtividade amplamente desenvolvido 
na Segunda Revolução Industrial. No início do século XX, com o objetivo de obter maiores lucros, 
levou-se ao extremo a especialização do trabalho, a produção foi ampliada, passando-se a fabricar 
artigos em série, o que barateava o custo por unidade. Surgiram as linhas de montagem, esteiras 
rolantes pelas quais circulavam as partes do produto a ser montado, de forma a agilizar a produção 
e aumentar sua eficiência. Implantadas primeiro na indústria automobilística Ford, nos Estados 
Unidos, as esteiras conduziam o chassi do carro por toda a fábrica. Os operários distribuíam-se 
ao longo da linha de produção e montavam o carro com peças que chegavam a suas mãos em 
outras esteiras rolantes. Esse método de racionalização da produção em massa, que foi chamado de 
fordismo, estava ligado ao princípio de que a empresa deveria dedicar-se apenas a um produto e 
dominar as fontes de matéria-prima. O fordismo, desse modo, integrou-se às teorias do engenheiro 
norte-americano Frederick Winslow Taylor, conhecidas como taylorismo, que propunham o aumento 
da produtividade por meio do fracionamento das etapas do trabalho, controlando os movimentos 
das máquinas e dos homens no processo de produção (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
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6.2.1 O esporte-espetáculo e os meios de comunicação de massa
O esporte na sociedade contemporânea possui um nível de manifestação que fica no topo da cadeia 
de produção capitalista: é o esporte-espetáculo, ou esporte midiático. O esporte-espetáculo não é 
apenas uma disputa em busca do máximo desempenho humano: é um show de proporções imensas, 
em que os atletas, técnicos e árbitros são atores, astros de um espetáculo de proporções grandiosas, 
que atinge milhões de pessoas e mobiliza uma quantia enorme de capital relacionado ao marketing 
(CAGIGAL, 1996).
No final da década de 1960, com a popularização da televisão nos lares, o esporte expande seu 
potencial de marketing. A primeira modalidade de merchandising no esporte foram os anúncios de 
publicidade estática vendidos nos estádios e os anúncios de patrocinadores dos programas esportivos 
de rádio. Com o crescimento do acesso à TV na década de 1960, o surgimento da TV em cores na década 
de 1970 e a popularização das transmissões ao vivo via satélite, os anúncios de propaganda cresceram 
em número e os contratos foram negociados por valores cada vez mais altos, de forma proporcional ao 
alcance do número de espectadores (CAGIGAL, 1996).
A partir de então, o esporte se torna um produto de mídia, sobretudo as modalidades de massa, 
como o futebol, o futebol americano (liga profissional americana NFL), o basquete (liga profissional 
americana NBA), o baseball (Major League Baseball – MBL) e o boxe. O esporte de altíssimo rendimento, 
ou esporte-espetáculo, passou a gerar muitas outras fontes de lucro e a movimentar uma indústria 
mundial do entretenimento com números bilionários – são direitos de transmissão, direitos de imagem 
dos atletas, patrocínio de equipes e atletas, patrocínio de uniformes, venda de produtos licenciados, 
venda de ingressos, negociação de atletas (CAGIGAL, 1996).
O esporte-espetáculo acentua a hipercompetitividade, a ênfase no resultado e desempenho 
esportivo máximo e a criação de heróis, mitos, atletas semideuses, que fazem a diferença no 
desempenho das equipes e nos valores das negociações. Os ídolos esportivos são modelos de 
excelência na produtividade do desempenho humano, pessoas capazes de feitos espetaculares e com 
grande apelo de mídia, ícones dentro e fora das arenas esportivas, referências para praticantes e 
consumidores do esporte (BROHM, 1982).
Os campeões são valiosas mercadorias que garantem a promoção do espetáculo esportivo, 
assegurando o valor social dos eventos. São veículos de integração nacional. O ídolo esportivo é porta-voz 
do país com prestígio internacional. É modelo de superação, pois consegue de forma legítima ascender 
socialmente. Suas proezas são autênticas e geram identidade social (BROHM, 1982).
As características do esporte de alto rendimento não devem ser reproduzidas em outros níveis de 
participação esportiva. O esporte educacional deve introduzir a criança e o jovem à prática esportiva, 
deve preconizar a socialização, o respeito às regras e à hierarquia, bem como o desenvolvimento do 
hábito esportivo saudável. Nesse âmbito, todos devem ter acesso à prática em condições iguais de 
aprendizado, independentemente do nível de desempenho esportivo. O esporte educacional deve educar 
através da prática, e não apenas focar o desenvolvimento atlético.
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Outro nível de prática esportiva é o esporte de participação, desenvolvido pela população 
de forma geral como forma de lazer voluntário e ativo. Deve ser uma opção ocupacional que 
gere satisfação e bons hábitos. Pode ser uma prática despretensiosa ou pode haver algum 
envolvimento competitivo. No entanto, a ênfase não é o resultado, mas sim a experiência 
esportiva, a vivência das emoções da disputa. Enquadram-se nessa categoria os torneios 
de trabalhadores, as disputas em clubes recreativos, os corredores amadores, os atletas de 
categorias máster (veteranos), entre outros.
A prática do esporte educacional ou de participação de acordo com a concepção do esporte de 
rendimento pode gerar deturpações, como a hipercompetitividade, a exclusão dos menos habilidosos, a 
violência e a deslealdade.
6.3 As perspectivas do esporte educacional
6.3.1 A crítica ao esporte noprocesso educacional
O esporte contemporâneo goza de enorme prestígio para a formação de crianças e jovens. O 
discurso oficioso diz que o esporte é um elemento fundamental para o processo de educação, atribuindo 
às práticas esportivas papéis admiráveis, como o afastamento de pessoas do consumo de drogas e 
da criminalidade. Essas afirmações a respeito do valor educativo do esporte parecem ser unânimes 
entre pais e educadores, porém diversos estudiosos declaram-se bem mais cautelosos em seus ensaios 
(BASSANI; TORRI; VAZ, 2003).
Leonard II (1998) afirma que as características formativas do esporte nem sempre são coerentes com 
o discurso de educadores, ex-atletas e dirigentes. Para o autor, a ideia de formação do caráter via prática 
esportiva é produzida, sustentada e reforçada pela fala de indivíduos com destaque na sociedade. São 
atletas amadores que tiveram sucesso fora do âmbito esportivo e atribuem suas conquistas às influências 
das suas experiências esportivas. Os líderes nacionais geralmente utilizam metáforas envolvendo os 
valores esportivos como exemplos em seus discursos; da mesma forma o fazem os grandes consultores 
da área de administração de empresas, que trabalham com analogias esportivas para motivar ações 
gerenciais do mundo dos negócios. Esses casos de defesa do esporte como valor esportivo incondicional 
estariam baseados em informações extraídas de casos isolados, que não possuem representatividade 
científica para serem afirmadas com veemência. 
Kunz (1994) faz algumas críticas ao sistema esportivo de rendimento e de espetáculo. Primeiro, 
que o esporte-espetáculo, de rendimento, não apresenta elementos de formação geral para constituir 
uma realidade educacional. Segundo, que o esporte ensinado nas escolas é uma cópia do esporte 
de rendimento e apenas oferece vivências de sucesso para uma minoria e fracasso para a grande 
maioria. Terceiro, que a vivência do insucesso para crianças e jovens no contexto escolar seria uma 
irresponsabilidade pedagógica. Por último, que o esporte de rendimento não deve ser utilizado como 
modelo nas escolas, pois segue princípios de comparações objetivas e absolutas, que valorizam mais 
o resultado que a própria participação; contribui para a perda de liberdade e da criatividade do ser 
humano em função do racionalismo técnico instrumental das sociedades modernas.
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Unidade II
Bracht (1997) afirma que o esporte enquanto elemento de educação e de participação reproduz 
características do esporte de rendimento espetacularizado, muito divulgado pelos meios de comunicação 
de massa. Esse esporte-espetáculo estaria disseminando valores à população, produzindo consumidores 
de um modelo hegemônico de atividade física similar ao esporte de rendimento. Esses consumidores 
estariam sendo aliciados à aquisição do esporte como uma mercadoria, e a prática, que deveria ser um 
direito cultural de todos, passa a ser comprada em escolas e centros particulares.
Para De Rose Jr. (2002), a crítica que se faz à competição esportiva infanto-juvenil se deve ao fato 
de muitas dessas competições se adaptarem a modelos e normas específicas da competição adulta, 
não levando em consideração o estágio de desenvolvimento e o nível de habilidade dos praticantes. 
O autor afirma que a prática esportiva competitiva mal orientada pode gerar condições excessivas de 
estresse nas crianças e jovens, principalmente quando as exigências impostas superam as demandas 
de capacidade de performance, de prontidão emocional e cognitiva, gerando um ambiente muito 
desafiador. Nesse caso, as situações ficariam excessivamente complexas, indo além da capacidade de 
superação da criança, podendo ocasionar frustração e abandono.
Kunz (1994), Bracht (1997) e De Rose Jr. (2002) reforçam a influência negativa do modelo esportivo 
de rendimento no processo educacional, pois os objetivos de transferência de valores via prática ficariam 
marginalizados em função da importância dada ao resultado esportivo.
Em um estudo realizado com uma grande escola da rede pública de ensino da cidade de Florianópolis, 
Bassani, Torri e Vaz (2003) revelam que o esporte praticado na escola apresenta uma situação de conflito 
entre o rendimento esportivo esperado dos atletas e o aprendizado de “bons valores” por meio da prática 
esportiva. Essa divergência procura ser conciliada pelo técnico com discursos moralizantes e edificantes, 
mas a dinâmica do esporte, treinos e jogos acaba fazendo com que prevaleça a valorização da vitória.
Os valores sobre ganhar e perder podem criar a ideia de que somente a vitória é válida no esporte 
e tudo o que for feito para alcançá-la é aceitável. Partindo desse ponto de vista, os valores educativos 
do esporte podem ser seriamente prejudicados. Essa forma de pensar pode, em crianças e jovens cujo 
caráter ainda não está consolidado, gerar atos desleais e violentos (SAGE, 1998).
Para Coakley (2001), as estruturas rígidas de regras e competições organizadas no modelo adulto 
não permitem ao aluno questionamentos e a exploração de sua criatividade. Para o aluno, trata-se 
apenas de cumprir o seu papel e responder às expectativas estipuladas pelas autoridades competentes, 
pais, professores e técnicos.
Leonard II (1998) alerta para o fato de o processo de disciplinação excessiva, característico do modelo 
esportivo de rendimento, quando aplicado nas escolas, gerar uma socialização opressiva, representada 
pela autoridade e pela obediência aos técnicos e professores.
Bracht (1997) afirma que o esporte possui uma neutralidade interna que faz com que se adapte às 
características das sociedades em que está inserido. Assim, o esporte contemporâneo, de rendimento, 
de participação e educacional, está em conformidade com as características da sociedade capitalista 
neoliberal, que é dominante na atualidade.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Fica a dúvida se a dinâmica esportiva que valoriza as características neoliberais deve ser adotada 
nos processos educacionais, apoiando a hipercompetitividade, a seletividade, a orientação ao resultado, 
assim como ocorre na vida cotidiana. A adoção dessa conduta seria uma forma de preparar os jovens para 
uma melhor adaptação ao convívio social? Ou seria uma maneira de aceitar um modelo socioeconômico 
que gera injustiças sociais?
Gariglio (1995) acredita que, apesar de a escola cumprir uma função de reprodução dos 
contextos de nossa sociedade capitalista, existem movimentos antagônicos e de resistência em 
seu interior. A possibilidade de vivência lúdica seria um desses movimentos, pois o lúdico na escola 
pode tornar real a construção de um projeto revolucionário. As atividades esportivas lúdicas 
dariam aos praticantes a oportunidade de reapropriação de suas vidas, de sua história e de sua 
cultura, possibilitando a crítica e a recriação da lógica capitalista neoliberal imposta à escola e à 
sociedade como um todo.
Taffarel (2000) defende um esporte educativo, que fuja da ditadura dos gestos, modelos e regras, 
que tenha suas normas questionadas e adaptadas à realidade social e cultural dos alunos. O esporte 
educacional deve ser desmistificado, conhecido e praticado de forma prazerosa, com vivências de sucesso 
para todos. O esporte deve ser adquirido como um bem cultural, sua prática deve ser compreendida 
como um direito.
Nesse sentido, Korsakas (2002) defende uma prática esportiva educativa em que a criança não 
seja apenas um objeto dos interesses de seus pais e técnicos. Esses interesses voltados ao resultado, 
à performance, muitas vezes expõem a criança a uma homogeneização da prática, apoiando-a 
exclusivamente no treinamento de equipes esportivas. Esse tipo de prática acaba por exigir a 
perfeição do gesto técnico e o rigor tático, reprimindo a capacidade criativa da criança e ignorando 
suas potencialidadese limitações individuais. A autora sugere um modelo esportivo educativo 
no qual a criança participe do processo de construção do conhecimento através da resolução 
de problemas sugeridos, cabendo ao adulto a função de facilitador do processo educacional. 
Essa proposta estimularia uma prática esportiva emancipatória, participativa, cooperativa, que 
incentiva a criatividade e o desenvolvimento cognitivo, afetivo, físico e motor das crianças, em 
uma educação pensada de forma integral.
As propostas sugeridas anteriormente valorizam o esporte como prática educativa que, em 
vez de reproduzir as características da sociedade em que está incluído, as questione por acreditar 
serem responsáveis pela disseminação de injustiças. Esses modelos educacionais propõem a 
implantação de um esporte reflexivo, que se adapte às necessidades dos praticantes, possibilite 
o acesso a todos, indo contra as características da sociedade capitalista neoliberal, geradora de 
desigualdades sociais e exclusão. Dessa forma, o esporte educacional não seria uma ferramenta 
para moldar os praticantes de acordo com as solicitações injustas da sociedade atual, e sim um 
instrumento criativo de exercício da cidadania e da democracia, permitindo o planejamento de 
uma mudança social.
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6.3.2 A defesa do esporte competitivo como instrumento de educação
Apesar das críticas discutidas anteriormente, alguns autores propõem condições para que o esporte 
possa trabalhar a favor da educação, excluindo as influências negativas do modelo esportivo de alto 
nível, que valoriza prioritariamente o resultado.
De acordo com Bracht (2000), o esporte de rendimento traz na sua estrutura interna os 
mesmos elementos das relações sociais da sociedade contemporânea: forte orientação ao 
rendimento e à competição, seletividade via concorrência, igualdade formal perante leis e 
regras. Em função dessas características, a prática esportiva deve ser adaptada ao ser incluída 
em um processo educacional. A implantação de uma prática que segue o modelo adulto de 
rendimento pode disseminar valores pouco construtivos à educação, além da exclusão dos 
menos habilidosos e de frustrações causadas por comparações objetivas com o rendimento de 
atletas que podem estar em diferentes fases de formação e de prontidão maturacional. Para 
ser incluído em um ambiente educacional, o esporte deve ser tratado pedagogicamente. Para 
o autor, a competição não deve ser negada, pois está implícita à prática do esporte, mesmo 
no contexto educacional. O que se deve evitar em um ambiente escolar e pedagógico é um 
enfoque competitivo exclusivamente preocupado com o resultado. A dinâmica da competição 
é um fator motivacional muito importante para a adesão à prática. A exaltação gerada pela 
participação, pela interação e pela possibilidade de a criança demonstrar suas competências 
deve suplantar o valor dado à vitória.
Para De Rose Jr. (2002), a discussão sobre competição na infância e na adolescência sempre 
abrange o questionamento sobre a adequação e os benefícios do esporte competitivo para 
essas faixas etárias. Para muitos autores, o termo competição, por si só, levaria a uma situação 
prejudicial, destacando os privilégios, enfatizando a inferioridade técnica, física, psicológica e 
social da grande maioria de perdedores. Segundo o autor, a competição não deve ser encarada 
de forma tão radical, pois ela é natural da prática esportiva e deve ser entendida como um 
meio para o processo de desenvolvimento do ser humano, e não como finalidade exclusiva 
da prática. A competição influenciaria comportamentos que estão na base dos estatutos 
individuais e sociais, ou seja, colaboraria com processos de evolução pessoal e socialização de 
crianças e jovens.
Marques (2004) defende a competição como elemento fundamental para o processo de formação 
da criança e do jovem, desde que sofra uma intervenção pedagógica nas escolas, passando a atender 
às necessidades, aos interesses e aos estágios de prontidão dos praticantes. A competição seria uma 
excelente oportunidade de construção da imagem social do indivíduo, através da interação promovida 
pela dinâmica esportiva, em que a criança pode mostrar suas capacidades e sentir-se aceita pelo 
grupo social. Para o autor, o esporte e a competição são apenas instrumentos. São os princípios e 
valores associados à competição e às experiências vividas durante a atividade que conferem às práticas 
esportivas o seu valor educativo. 
Gaya (2000) questiona a teoria crítica sobre o esporte educacional, a qual maximiza os excessos e 
deixa de reconhecer aspectos positivos que a prática esportiva competitiva pode oferecer à educação. 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
De acordo com o autor, o esporte de rendimento seria uma escola de vida, uma maneira de aprender a 
conviver com a vitória e com a derrota.
Os estudiosos orientados pela sociologia crítica entendem que não se deve favorecer um modelo de 
prática esportiva educacional que reproduz a estrutura social capitalista neoliberal, geradora de uma 
competição desleal e de um grave quadro de exclusão e desigualdade. 
Gaya (2000), porém, afirma que os críticos do esporte imputaram, erroneamente, sobre a 
prática esportiva, em todos os níveis, os valores referentes às ideologias dominantes. O autor 
admite que a grande preocupação referente ao esporte na escola é a exclusão da maioria em prol 
dos mais talentosos e a utilização da Educação Física e do esporte como disciplina do currículo 
complementar exclusivamente para o treinamento das equipes esportivas da escola. Também não 
nega que isso ainda ocorra com certa frequência e afirma que o esporte na escola tem objetivos 
distintos do esporte de rendimento. Na escola, o esporte deveria ser orientado pelo princípio do 
autorrendimento, mediante o qual todos tivessem oportunidade para aprendê-lo e atingir os 
melhores níveis possíveis, se assim desejassem.
Para Marques (2004), o modelo esportivo educacional deve dar ênfase ao divertimento, à 
participação e ao desenvolvimento da autoestima da criança. Deve ser estimulado o espírito de 
equipe, e a avaliação deve ser centrada na aquisição e no desenvolvimento técnico, e não apenas 
no resultado.
O esporte escolar é uma disciplina do currículo complementar e não deve ser confundido com a 
formação de equipes escolares. Deve ter como objetivo multiplicar a aprendizagem das modalidades 
esportivas, não possuindo qualquer caráter de exclusão por critério de performance, possibilitando o 
acesso de todas as crianças às práticas esportivas formais (GAYA, 2000). 
De Rose Jr. (2002) afirma que o esporte bem orientado pode tornar-se um fator importante no 
processo de educação e socialização de crianças e jovens, uma vez que formaria um esportista e um 
competidor ciente de suas capacidades e um cidadão apto a competir em todas as nuanças de sua vida 
futura. Para tanto, o autor sugere os seguintes objetivos, apontados como facilitadores do processo 
competitivo infantojuvenil:
• Sensibilizar os adultos sobre o processo competitivo e a participação da criança e do jovem nesse 
processo, suas necessidades, capacidades e expectativas.
• Entender que a criança não é um adulto em miniatura. Portanto, a competição deve ser organizada 
para ela e não para agradar aos adultos.
• Proporcionar aos jovens experiências positivas de competição.
• Encorajá-los a desenvolver autoconfiança, valores e conceitos positivos de si mesmos.
• Ajudá-los a desenvolver habilidades interpessoais.
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• Competir por diversão e apreciar a competição.
• Proporcionar um ambiente agradável, que permita à criança obter senso de competência.
Dessa forma, preconiza-se uma atividade esportivaeducacional que não perca sua identidade 
quanto à competição, ao rendimento e à técnica, mas que permita o acesso indistinto à prática, 
independentemente do grau de performance do atleta, garantindo assim que todos se beneficiem 
dos valores educacionais do esporte, sem desfigurá-lo, sem arrancar sua essência, aquilo que o 
faz esporte.
Exemplo de aplicação
Reflita a respeito das seguintes considerações:
O esporte exclui, é violento, desleal, reforça desigualdades de rendimento e oportunidades?
O esporte educa, tira crianças e jovens das drogas, forma o caráter, melhora as notas na escola, 
ensina a ter respeito pelos mais velhos?
O esporte deve ser visto como um fenômeno de muitas faces e aplicações. Ele está 
fundamentado na competição, na disputa envolvendo o esforço físico humano e na aplicação de 
regras universais institucionalizadas. No entanto, os níveis de participação e os propósitos devem 
ser claramente diversos. 
Pode o esporte ser responsável por feitos tão distintos e importantes? São eles frutos do acaso ou 
do trabalho atento de um professor?
 Resumo
Diante da perspectiva de formação dos Estados nacionais, a partir de 
meados do século XVIII, os filósofos inflamados pelas ideias do Iluminismo 
passaram a pensar a construção de uma nova educação formadora de um 
novo homem comprometido com a nação, seja de forma produtiva, seja na 
ação militar. 
Os pedagogos desse período constituíram uma educação integral 
do homem pautada nos ideais gregos clássicos da Paideia, em que a 
formação do intelecto é tão importante quanto a formação do corpo e a 
formação moral. 
A ideia era construir métodos de exercícios que tornassem as 
pessoas fortes, saudáveis e comprometidas com a pátria, criar uma 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
nova geração de homens e mulheres com mais vigor, com uma nova 
perspectiva educacional.
Os países pioneiros no desenvolvimento do chamado Movimento 
Ginástico Europeu foram a Dinamarca, a Suécia, a França e a Alemanha. 
Dessas nações, surgiram dezenas de pedagogos e obras que nortearam 
métodos de ginástica.
A ginástica surgiu naquele momento com as seguintes finalidades: 
ginástica educacional, aplicada nas escolas; ginástica militar, desenvolvida 
nos contingentes militares; ginástica médica, indicada em ações higiênicas 
para a saúde da população; e ginástica civil, adotada nas fábricas para o 
desenvolvimento do vigor dos trabalhadores.
Na Inglaterra, a sistematização dos exercícios físicos se estruturou 
de forma diferente. Os jogos populares violentos e vulgares, disputados 
clandestinamente, geravam apostas, alcoolismo, lesões e desordem 
pública. Entre eles, podemos citar o mass football, o boxe, as rinhas de 
galos e cães, a caça à raposa. Essas atividades foram regulamentadas 
ou substituídas por modalidades esportivas com regras, delimitações de 
espaço e número de participantes, visando a coibir a violência e deixar o 
jogo mais produtivo.
A regulamentação do esporte na Inglaterra seguiu os moldes da 
sociedade capitalista burguesa e industrial e incorporou seus valores, 
como a regulamentação, a especialização dos papéis, a cientifização dos 
processos e os registros das marcas de desempenho.
Dessa forma, o esporte se espalhou para o mundo através de clubes e 
associações das colônias inglesas.
No final do século XIX, mais precisamente na década de 1890, o pedagogo 
francês barão Pierre de Coubertin foi incumbido de gerar propostas para 
reformular a educação na França. Coubertin iniciou uma série de estudos 
e viagens ao redor do mundo para conhecer os principais modelos de 
educação. Foi influenciado sobretudo pelos achados arqueológicos do 
alemão Ernst Curtius, que revelou a história dos Jogos Olímpicos antigos, e 
também ficou bastante empolgado com o modelo de educação esportiva 
das public schools na Inglaterra e das competições esportivas universitárias 
nos Estados Unidos.
Em 1894, organizou um grande congresso na Universidade de 
Sorbonne, onde foram estabelecidas as bases do Olimpismo e foi 
decidida a restauração dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, com a 
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primeira edição marcada para 1896, em Atenas, na Grécia. O ideário 
olímpico de Coubertin tratava-se de filosofia educacional embasada 
no bom entendimento entre os povos de diferentes culturas, da 
educação através dos valores do esporte, da promoção de festivais 
quadrienais para reunir a juventude do mundo em um grandioso 
evento esportivo de confraternização.
Na virada do século XX, os eventos esportivos em nível mundial 
começaram a ser alavancados pela iniciativa dos Jogos Olímpicos. Os países 
perceberam o potencial convocatório do esporte e passaram a financiá-lo e 
manipulá-lo, visando a obter prestígio e benefícios políticos.
Os Jogos Olímpicos de Berlim foram a primeira grande amostra do 
potencial político do esporte. Hitler investiu pesadamente na promoção 
dos jogos, buscando mostrar a força e organização do Estado alemão, que 
fora subjugado e humilhado após a Primeira Guerra Mundial. O chanceler 
pretendia, também, confirmar a supremacia da raça ariana nas provas, fato 
que não se consumou devido às muitas vitórias da equipe norte-americana, 
formada em sua maioria por atletas negros.
Outro episódio em que a política e o esporte se aproximaram foi o 
período de tensões e ameaças entre o bloco soviético e o bloco capitalista 
conhecido como Guerra Fria. Nesse período, os países alinhados aos 
Estados Unidos e os países parceiros da União Soviética se enfrentaram 
em quadras, piscinas e ginásios em uma batalha simbólica, em que os 
resultados esportivos representavam prestígio para os países e para o 
regime vitorioso.
Após a década de 1970, as estruturas da mídia intensificam 
suas relações de marketing com o esporte, transformando-o em um 
negócio de cifras bilionárias. A partir do surgimento do patrocínio 
e do merchandising associados aos eventos esportivos na mídia, o 
esporte moderno inaugura uma nova categoria, o esporte de altíssimo 
rendimento, ou esporte midiático, mais um show de mídia do que uma 
disputa esportiva convencional.
Nesse contexto, tornou-se importante distinguir os níveis de 
envolvimento esportivo em esporte educacional, esporte de participação 
e esporte de rendimento. O esporte educacional passa a sofrer críticas de 
acentuar a exclusão, a seletividade e a hipercompetitividade. Os valores 
educativos, formação do caráter, socialização e desenvolvimento de valores 
passaram a ser percebidos de acordo com a intervenção pedagógica do 
professor de Educação Física.
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 Exercícios
Questão 1. Considere a música a seguir, que embalou a torcida brasileira na Copa do Mundo de 
1970, em que o Brasil se consagrou tricampeão, e a charge, que também faz referência ao período:
“Noventa milhões em ação
Pra frente Brasil, no meu coração
Todos juntos, vamos pra frente Brasil
Salve a seleção!!!
De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão!
Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Gol!”
GUSTAVO, M. Pra frente brasil. 1970. Disponível em . Acesso em: 31 mar. 2017.
Fonte: . Acesso em: 31 mar. 2017.
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Unidade II
Sobre esse tema, analise as afirmativas a seguir:
I – A Copa do Mundo de 1970 foi usada para desviar a atenção da população dos problemasda 
realidade brasileira, como se vê na charge.
II – A letra da música exalta e incentiva a torcida apaixonada pelo time brasileiro, revelando 
clima ufanista.
III – A Copa do Mundo de 1970, como qualquer evento esportivo, visou à união dos povos e ao 
estímulo à competitividade, ficando alheia ao contexto político nacional ou internacional.
Está correto somente o que se afirma em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
Resposta correta: alternativa D.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta. 
Justificativa: o evento serviu para desviar a atenção das pessoas do contexto político, marcado pela 
perda de direitos civis e repressão e pelos problemas sociais.
II – Afirmativa correta. 
Justificativa: a música estimula o ufanismo, a valorização da pátria.
III – Afirmativa incorreta. 
Justificativa: os eventos esportivos não são alheios aos contextos políticos e sociais e, em muitos 
casos, como o da Copa de 1970, são usados politicamente pelos governos.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Questão 2. Observe a charge a seguir:
Fonte: . Acesso em: 30 mar. 2017.
O objetivo central da charge é:
A) Mostrar que o esporte exige dedicação e superação.
B) Criticar o comportamento do torcedor sedentário, que não pratica esporte.
C) Criticar o mau resultado da equipe brasileira nas Olimpíadas.
D) Justificar a falta de apoio aos atletas devido ao seu desempenho insatisfatório.
E) Mostrar que os atletas brasileiros não recebem o apoio financeiro necessário e ainda são criticados 
pelo seu desempenho.
Resolução desta questão na plataforma.
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Unidade III
Unidade III
7 O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE NO BRASIL
7.1 A história do futebol no Brasil
Em outubro de 1894 desembarca no Porto de Santos, proveniente da Inglaterra, o jovem estudante 
paulista Charles Miller, filho de pais ingleses funcionários da São Paulo Railway, empresa responsável 
pela grande expansão da malha ferroviária brasileira. Assim como todo filho de família rica, Charles 
Miller foi estudar na Europa, na Inglaterra, em Southamptom, mais precisamente na Banister Court 
School, onde aprendeu a jogar football, destacando-se como um excelente jogador. Em seu retorno, ao 
final dos estudos, trouxe em sua bagagem duas bolas, uma bomba para enchê-las, além de uniformes, 
apito e um livro de regras do esporte (MÁXIMO, 1999).
 
Figura 33 – Charles Miller
Foi somente um ano mais tarde que Charles Miller conseguiu organizar a primeira partida formal 
e documentada de futebol, com uma daquelas bolas, em um terreno baldio da várzea do Carmo, entre 
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as ruas Santa Rosa e do Gasômetro, numa manhã de domingo, 14 de abril de 1895. Esse é considerado 
o primeiro jogo de futebol no país, uma partida entre ingleses e anglo-brasileiros, formados pelos 
funcionários da São Paulo Gás Company e da Estrada de Ferro São Paulo Railway. O amistoso terminou 
em 4 a 2, com vitória do São Paulo Railway (MÁXIMO, 1999).
Logo após a sua introdução, o esporte começou a se difundir por outros estados. Em 1897, o 
estudante Oscar Cox, regressando da Suíça, introduziu o futebol no Rio de Janeiro. A primeira equipe do 
estado foi o Rio Team, formada por Cox, em 1901, logo seguido de Fluminense Foot-ball Club (1902), o 
Rio Foot-ball Club (1902), o Botafogo Foot-ball Club, o America Foot-ball Club e o Bangu Athletic Club 
(os três últimos em 1904). Flamengo e Vasco da Gama se dedicavam ao remo e só aderiram ao futebol 
mais tarde, em 1911 e 1923, respectivamente (MÁXIMO, 1999).
Existem diversos registros de partidas e locais onde se praticava o futebol, como praias, colégios e 
empresas. No entanto, os esforços de Miller e Cox são considerados a gênese do futebol esportivo brasileiro.
Em um primeiro momento, a prática atraiu principalmente os jovens da elite que se organizavam 
em clubes e escolas ligados às colônias de imigrantes, como também o meio industrial dominado pela 
aristocracia de origem europeia. Foi entre jovens de “boas famílias”, até então praticantes de críquete, 
golfe, tênis, entre outros, que Charles plantou a semente. Ensinou-lhes os fundamentos do futebol e 
dividiu-os em dois times, organizando o primeiro jogo de futebol da história do País na várzea do Carmo. 
Depois, realizaram novos jogos em outros campos, como no gramado da chácara da rica família britânica 
dos Dulley, no bairro do Bom Retiro. Nesse meio da elite de imigrantes europeus foram surgindo os 
primeiros times de associações esportivas (MÁXIMO, 1999). 
Figura 34 – São Paulo Athletic Club (SPAC), com Charles Miller ao centro
Em 1896, o São Paulo Athletic Club (SPAC), fundado oito anos antes, seria o primeiro a aderir ao 
novo esporte, logo seguido de Sport Club Germania (1889), Mackenzie Athletic Association (1898), Sport 
Club Internacional (1898) e Clube Atlético Paulistano (1900) (MÁXIMO, 1999).
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Unidade III
O primeiro campeonato documentado ocorreu em 1899 pelas equipes do São Paulo Athletic 
Club, da Associação Atlética Mackenzie College, do Hans Nobilings Team, time do alemão Hans 
Nobiling, fundador do Sport Club Internacional (SP), e do Sport Club Germânia, atual Esporte 
Clube Pinheiros, em São Paulo. Com o surgimento de outras equipes voltadas ao futebol, é criada, 
em 19 de dezembro de 1901, a Liga Paulista de Football, formada pelas equipes dos seguintes 
clubes: São Paulo Athletic Club, Associação Atlética Mackenzie College, Sport Club Internacional 
(SP), Sport Club Germânia e Clube Athletico Paulistano. Seu primeiro presidente foi Antônio 
Casemiro da Costa (MÁXIMO, 1999).
O futebol não demorou a contagiar as camadas menos favorecidas da população brasileira. O 
esporte que nasceu branco, dentro de clubes aristocráticos das grandes cidades industrializadas, 
passou a ter também uma identidade popular, quando negros se organizaram de maneira precária 
em times pelos subúrbios e cidades pequenas, além das cidades portuárias, que formavam times 
de locais para enfrentar times formados por tripulações de embarcações estrangeiras (RODRIGUES 
FILHO, 2003).
Foi nas favelas e periferias dos grandes centros urbanos que o futebol conquistou as parcelas menos 
favorecidas da população brasileira. Em campos irregulares de terra batida, com materiais improvisados 
e geralmente descalços, jovens, crianças e adultos praticavam o futebol. Devido às imperfeições do 
terreno e às dimensões reduzidas das bolas de meia, os praticantes dos bairros pobres tiveram que 
desenvolver maior agilidade e controle de bola. Passes longos não eram eficientes devido às condições 
do terreno e às irregularidades da bola. Por isso a condução e o drible eram muito mais frequentes nesse 
futebol pobre e negro (RODRIGUES FILHO, 2003).
A agilidade dos menos favorecidos despertava o interesse das equipes populares recém-formadas, 
que buscavam alternativas criativas para remunerar esses jogadores, uma vez que tal prática era malvista 
pela elite, que pregoava o amadorismo.
O sociólogo Gilberto Freyre defendeu o surgimento de um futebol brasileiro com identidade nacional 
a partir da miscigenação cultural com a população negra. Nesse contexto, o futebol herdou a malícia, 
a ginga, o drible, a cadência irregular dos quadris inerentes aos ritmos da cultura afrodescendente. 
O futebol negro estaria impregnado do samba, da capoeira, traços totalmente ausentes no futebol 
rígido, de velocidade, de longos passes e jogadas aéreas, como era o futebol europeu (RODRIGUES 
FILHO, 2003). 
O conflito raciale de classes que se estabeleceu pelos campos do Brasil contribuiu para disseminar o 
estilo brasileiro de se jogar futebol, o que passou a ser conhecido mundialmente como futebol-arte. 
Em 1923, o clube Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, montou uma equipe com diversos atletas 
negros, causando muita polêmica na sociedade carioca, pois os atletas negros eram contratados 
pelo clube, enquanto os demais clubes contavam apenas com atletas brancos e amadores, que, 
sendo filhos da elite, podiam se dedicar ao esporte sem preocupações financeiras. Naquele ano, 
o Vasco da Gama sagrou-se campeão, mas foi expulso da liga carioca de futebol. O clube passou 
a jogar em uma liga extraoficial formada por times de clubes populares. Esse fato fez crescer o 
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interesse no futebol negro, miscigenado, e em pouco tempo o Vasco da Gama foi reintegrado 
à liga principal carioca e outros clubes passaram a contratar atletas negros para compor suas 
equipes (RODRIGUES FILHO, 2003). 
O primeiro craque a se destacar no Brasil foi Arthur Friedenreich. Filho de pai alemão com mãe negra 
brasileira, dividiu sua infância entre o clube elitista do pai (Club Athletico Paulistano) e as “peladas” 
do bairro da mãe. Negro de olhos verdes, foi, até fins dos anos 1920, uma exceção, um negro vestindo 
a mesma camisa dos jovens da elite, fazendo-se campeão e artilheiro, chegando à seleção paulista e 
depois à brasileira (MÁXIMO, 1999).
Figura 35 – Arthur Friedenreich, ídolo do Club Athletico Paulistano
Nomes como Friedenreich, Leônidas da Silva, Garrincha e Pelé foram fundamentais para abrir as 
portas do futebol para os atletas negros. No entanto, ao contrário do que fora defendido por Gilberto 
Freyre, esses atletas não foram capazes de estabelecer a democracia racial no futebol brasileiro. Os atletas 
negros eram aceitos nos clubes, mas não eram bem recebidos nas ocasiões sociais dos clubes elitistas, 
seus salários eram geralmente menores do que os salários dos atletas brancos e até a arbitragem exercia 
juízo diferenciado sobre os atletas negros (MÁXIMO, 1999).
Mesmos nos dias atuais existe a presença de um racismo velado, camuflado, que se finge de 
tratamento igualitário, mas discrimina e diferencia os atletas negros. Ações ofensivas por parte 
de adversários e torcedores são frequentemente registradas por câmeras – por exemplo, bananas 
atiradas no gramado, xingamentos racistas, entre outras atitudes discriminatórias, próprias da 
modalidade de racismo hipócrita praticado no Brasil.
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Unidade III
 Saiba mais
O livro a seguir narra com detalhes os primórdios do futebol brasileiro e 
as dificuldades de inclusão da população negra:
RODRIGUES FILHO, M. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: 
Mauad, 2003.
O governo brasileiro percebeu o potencial convocatório do futebol, a associação patriótica do 
esporte, quando representado por seleções nacionais em torneios internacionais. As primeiras disputas 
foram amistosas contra nossos vizinhos Uruguai e Argentina, mas foi na Copa do Mundo de 1938, com 
a conquista do 3º lugar, que o brasileiro viu no futebol a possibilidade de se afirmar como povo e país 
vencedor, que superava a condição subdesenvolvida e dependente (MÁXIMO, 1999).
Grandes investimentos e negociações foram feitas para trazer a Copa do Mundo de 1950 para 
o Brasil. O Maracanã, o maior estádio do mundo até então, fora construído para abrilhantar a 
festa patriótica, mas a derrota calou o país e reforçou o sentimento de união em uma verdadeira 
comoção nacional.
Os êxitos competitivos vieram nas Copas de 1958, 1962 e 1970. Essas três vitórias mundiais 
corroboraram para o desenvolvimento de campanhas nacionalistas e jargões, como “com brasileiro 
não há quem possa”, “ninguém segura este país”, “a seleção é a pátria de chuteiras”. Nesse mesmo 
período, o País enfrentou uma grave crise política ocasionada pelo regime militar, que restringia a 
liberdade de expressão e oprimia os opositores com tortura e morte. O futebol foi uma arma ideológica 
instrumentalizada pelo governo brasileiro. No auge na repressão, a seleção brasileira de futebol 
conquistou o tricampeonato da Copa do Mundo (RAMOS, 1982). 
 
Figura 36 
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O País todo caiu em um estado de euforia. Foram muitos dias de festa. A propaganda do Estado 
deixou a entender que não havia dissolução entre a pátria e a seleção, como dizia o hino da seleção nas 
décadas de 1970 e 1980, de autoria de Miguel Gustavo (RAMOS, 1982, p. 299-300):
Noventa milhões em ação
Pra frente, Brasil
Do meu coração.
Todos juntos, vamos
Pra frente, Brasil
Salve a seleção
De repente é aquela 
Corrente pra frente
Parece que todo Brasil deu a mão
Todos ligados na mesma emoção
Tudo é um só coração
Todos juntos, vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a seleção
Todos juntos, vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a seleção
Nesta corrente pra frente.
Ironicamente, nesse mesmo momento, a repressão do governo militar brasileiro era bastante severa, 
e muitos artistas, jornalistas, professores, filósofos e escritores foram perseguidos pelo governo, presos, 
torturados, mortos ou exilados, simplesmente por se oporem à ideologia do Estado, por expressarem 
criticamente suas opiniões contra a ditadura militar.
Nesse mesmo período, atos institucionais foram decretados restringindo a liberdade da população 
e considerando crime de subversão as manifestações contrárias ao regime. O governo lançou nesse 
momento uma campanha de marketing com o seguinte slogan: “Brasil: ame-o ou deixe-o”. 
 Saiba mais
Indicamos o filme a seguir:
PRA FRENTE Brasil. Dir. Roberto Farias. Brasil: Embrafilme, 1982. 
105 minutos.
A obra ilustra a repressão e a tortura da ditadura militar no Brasil nos 
dias da comemoração da Copa de 1970.
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Unidade III
Atualmente, o futebol continua sendo uma preferência nacional. O País forma muitos jogadores 
protagonistas dos melhores times do mundo. A seleção brasileira conquistou mais dois mundiais, em 
1994 e 2002. Mesmo após um período grande sem títulos expressivos, a população se mobiliza para 
acompanhar a seleção brasileira de futebol. A escalação, a escolha de um novo técnico, a disputa de 
outro campeonato ou mesmo um jogo amistoso é um evento de nível nacional.
Tomando ciência desse imenso poder convocatório, o marketing esportivo fez do futebol um 
negócio bilionário, em que espaços publicitários, direitos de transmissão, patrocínios esportivos, venda 
de ingressos e produtos licenciados e a venda de direitos confederativos de jogadores atraem grandes 
investimentos todos os anos.
Em meados dos anos 2000, o governo brasileiro não poupou esforços, nem investimentos, para 
alavancar a candidatura do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 e da cidade do Rio de Janeiro 
como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Essa empreitada, que passou a ser conhecida como a realização 
de megaeventos esportivos, teve efeito de distração de situações na esfera política e econômica que o 
País atravessou nas duas ocasiões.
Em 2014, a Copa do Mundo de Futebol aconteceu meses antes de um disputado processo eleitoral 
no qual a então presidente obteve êxito e conseguiu a reeleição. A Copa do Mundo mostrou um País 
organizado e forte economicamente; após alguns meses, o País caiu em uma severa crise econômica.
No ano de 2016, os Jogos Olímpicos da cidade do Rio de Janeiro ocorreram em meio a um cenário 
tumultuado na política nacional. O Governo Federal tentou aproveitar as atenções voltadas para os Jogos 
Olímpicos para amenizar a crise, que acabou culminando no processo de impeachment daperante seus predadores. 
As habilidades de manipulação, associadas à maior cognição, levaram ao desenvolvimento de 
tecnologias que, de forma crescente, permitiram criar soluções cada vez mais elaboradas para a 
alimentação e a sobrevivência (VICENTINO; DORIGO, 2013).
A divisão dos períodos históricos da humanidade foi feita com base nos elementos que eram 
manipulados pelo homem em determinado período. Por exemplo: o primeiro período, denominado 
Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, iniciou-se há aproximadamente 2,7 milhões de anos e se estendeu 
até 10000 a.C. (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Os primeiros grupamentos humanos do Paleolítico viviam em pequenos bandos com cerca de 
trinta indivíduos e gastavam grande parte do seu tempo nas atividades de subsistência (pesca, 
caça, preparo do alimento, locomoção). Eram nômades e permaneciam em determinado território 
por cerca de três meses, em função das condições climáticas e em razão das reservas de recursos 
(caça, pesca e vegetais). As tarefas passaram a ser divididas conforme a idade, o sexo e as condições 
físicas dos membros do bando. Os homens fabricavam ferramentas, construíam moradias (tendas), 
caçavam, pescavam e protegiam o território. As mulheres faziam a coleta de grãos, folhas, frutos, 
raízes, ovos, mel e insetos e também confeccionavam cestos e potes para armazenar e servir 
alimentos (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
As pinturas encontradas nas cavernas relatam muito sobre os hábitos, costumes e história 
dos grupamentos humanos do período Paleolítico. Elas são denominadas pinturas rupestres. 
Atualmente, esses achados são considerados importantes evidências históricas para determinar 
os hábitos e a cultura de populações antigas. Cenas de caça, pesca, rituais, danças e brincadeiras 
são exemplo de relatos visuais de como esses povos viviam milhares de anos atrás. Através desses 
relatos, podemos perceber a importância da motricidade humana em seus primórdios (VICENTINO; 
DORIGO, 2013).
Evidências mostram como o Homo sapiens sapiens se expressava através de símbolos há cerca 
de 40 mil anos. Foram descobertos vestígios de vasos de argila com inscrições simbólicas datadas 
de cerca de 70 mil anos. Dessa forma, pode-se afirmar que a capacidade de abstração e construção 
de cultura simbólica através de artefatos e desenhos é bastante anterior ao Homo sapiens; cerca 
de 30 mil anos antes de sua chegada à Europa, já havia símbolos de inteligência e abstração 
semelhantes aos parâmetros do homem moderno (VICENTINO; DORIGO, 2013).
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Figura 1 
Atualmente, todos os homens pertencem à subespécie Homo sapiens sapiens. As variações físicas 
constatadas ocorreram devido a adaptações às exigências do meio, nas diferentes regiões do planeta 
onde o homem se instalou há milhares de anos. Dessa forma constata-se uma pigmentação da pele 
mais intensa nos habitantes de regiões com maior irradiação solar, assim como habitantes das frias 
regiões polares possuem mais gordura corporal, que serve como reserva energética e proteção térmica 
contra as baixas temperaturas. Durante toda sua jornada evolutiva, o homem teve como atividades de 
subsistência a caça e a coleta de raízes, ramos e frutos. Em função dessas atividades, o homem teve que 
desenvolver habilidades físicas específicas, como corrida, saltos, natação, escalada, mergulho e o uso e 
lançamento de implementos como machado, lança e arco e flecha (SANTOS, 1994). 
Cerca de 10 mil anos atrás o homem passou por um período de grande mudança em seu 
comportamento. A Revolução Agrícola foi a descoberta do plantio como recurso para a obtenção de 
alimentos. Este recurso fixou mais o homem em um mesmo local, pois antes a vida era nômade e, 
quando a caça ficava escassa, o grupo migrava para outra região. O plantio gerou um excedente de 
produção, que alavancou um grande aumento da população humana (SANTOS, 1994).
No entanto, a fixação em um só lugar e o acúmulo de recursos trouxe problemas para o homem. 
A condição de fartura atraía a cobiça de outros grupos, que passaram a saquear as comunidades 
agrícolas. A necessidade de proteger seu grupo, sua lavoura e seus animais levou o homem a intensificar 
sua preparação guerreira. A destreza humana para manipular armas, que a princípio eram usadas na 
caça, passou a ser aperfeiçoada com o objetivo de defender os territórios de inimigos. Surge então o 
treinamento do físico para a guerra, lançamentos, arco e flecha, marchas e lutas (SANTOS, 1994).
 Saiba mais
O filme a seguir, que foi vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, 
ilustra algumas questões apresentadas:
A GUERRA do fogo. Dir. Jean Jacques Annaud. Canadá; França: 
International Cinema Corporation, 1981. 100 minutos.
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2.1 A atividade física nas primeiras civilizações
A civilização é o resultado do trabalho humano para transformar a natureza. Refere-se às 
organizações feitas pelo homem para estruturar a sociedade, a distribuição de papéis, as relações 
políticas e a simbologia de um povo. Nesse sentido, o termo civilização não se refere a uma escala 
evolutiva tecnológica, pois toda sociedade humana possui seu tipo de civilização. É bastante equivocada 
a concepção de que existam povos primitivos e povos civilizados (VICENTINO; DORIGO, 2013).
O conceito de civilização nasce junto com a fundação das primeiras cidades na Mesopotâmia 
e no Egito, cerca de 5 mil anos a.C. Os homens se agruparam em grandes comunidades devido à 
necessidade de realizar grandes empreendimentos (diques, barragens, muralhas) para controlar 
a produção agrícola. A civilização seria então um tipo de sociedade resultante de um processo 
marcado por certo grau de desenvolvimento tecnológico, econômico e intelectual. No Ocidente, 
esse processo ocorreu com diferenciação social, divisão do trabalho, urbanização e concentração 
do poder político e econômico.
Atualmente, a civilização corresponde a um elevado desenvolvimento tecnológico, que faz com que 
as forças produtivas sejam predominantemente automatizadas, não exigindo do homem grande esforço 
físico para sua sobrevivência.
Nas primeiras civilizações dos povos antigos, a prática de atividade física humana representava 
quase toda a energia gasta para sobrevivência, produção de alimentos e atividade sociais. De forma 
geral, o homem usava o físico com as seguintes funções e objetivos:
Subsistência 
Atividades voltadas para a caça, a pesca, a fuga, a defesa e o trabalho braçal agrícola ou urbano.
Cerimônias sagradas
Nos primórdios da civilização, o homem ainda não dominava o pensamento racional e abstrato. 
Assim, delegava a feitos divinos todos aqueles fenômenos que não podia explicar, principalmente 
aqueles relacionados com as forças da natureza. As danças e os jogos eram componentes essenciais 
dos rituais sagrados, eram pontes que ligavam os homens aos deuses da natureza. De forma geral, essas 
atividades eram seguidas de sacrifícios, muitas vezes humanos, para homenagear ou aclamar os deuses. 
Esse é o caso do Tlachtli, também chamado Teotlachtli, o Jogo de Bola Mesoamericano. Era 
disputado como cerimônia religiosa em grandes estádios com capacidade para até 15 mil espectadores, 
possuía regras semelhantes entre diversos povos mesoamericanos, olmecas, maias e astecas (povos 
pré-colombianos do México), e foi disputado até o século XVI (FIGUEIREDO, 2002).
Nesse jogo, sete jogadores de cada time tentavam fazer com que uma pesada bola de resina 
passasse por um aro de pedra fixado na parede usando cotovelos, joelhos e quadris. O jogo exigia grande 
habilidade devido ao peso da bola (entre 3 e 5 kg) e à altura do arco de pedra. Por esse motivo as partidas 
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duravam até seis horas. De acordo compresidenta 
Dilma Rousseff.
Essas situações ilustram a importância cultural que o esporte possui no Brasil e alertam para 
a necessidade de um envolvimento mais crítico com o consumo desse espetáculo de mídia com 
tamanho carisma.
Exemplo de aplicação
O futebol é tido como a grande paixão nacional. Além de ser uma modalidade esportiva, além dos 
parâmetros de um grande espetáculo de mídia, além dos números de um gigantesco negócio, o futebol 
é parte integrante da cultura do povo brasileiro.
Desde muito cedo, os pais tratam de doutrinar seus filhos com elementos culturais do futebol. O 
primeiro contato é com a bola, objeto lúdico por essência, e incita uma experiência de troca e cumplicidade 
entre pais e filhos desde os primeiros meses de idade. O termo gol é uma das primeiras palavras do bebê, 
depois de mamãe e papai apenas. De fácil pronúncia e carregada de emoção, essa palavra, que sempre 
vem acompanhada de comemoração, é a mais repetida por muitos pequeninos na infância.
A criança cresce e, além de brincar de bola, é bombardeada com informações, cores e nomes de 
equipes, bandeiras e escudos e é, mais uma vez, conduzida a aderir a uma facção, geralmente a mesma 
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de seu pai, um time de futebol. Presentes, bolas, jogos e momentos inesquecíveis vão alimentado a 
necessidade de o povo brasileiro consumir, respirar e viver o futebol. Tal imensa paixão nos faz, muitas 
vezes, vivenciar o futebol de forma pouco racional e muito emocional. Nesse momento, percebemos 
recatados e discretos pais de família transtornados e proferindo palavrões do mais baixo nível quando 
o árbitro marca alguma infração contra sua equipe. Nesse contexto, muitos jovens aderem a torcidas 
organizadas, que se formam para torcer e para brigar dentro e fora dos estádios de futebol.
Movidos por tamanha emoção, os amantes do futebol não enxergam o que está por trás dos bastidores. 
Agentes da gestão desse negócio chamado futebol estão mais preocupados com a lucratividade de seus 
atletas e pouco se importam com a paixão dos torcedores. Nesse contexto, vemos cada vez mais equipes 
sendo totalmente desfeitas após um grande êxito esportivo.
Fanáticos pelo esporte e pelos seus times não se dão conta de que, por trás de algumas ações, 
estão envolvidos interesses maiores. Como é o caso da vinda da Copa do Mundo para o Brasil em 
2014. A realização do evento exigiu um esforço intenso e acelerado para a construção de gigantescos 
estádios, que foram financiados em grande parte pelo Governo Federal. Na ocasião, os orçamentos eram 
sempre esticados, gerando ônus maiores aos cofres públicos. Passados alguns anos do evento, inúmeras 
acusações de corrupção envolvendo governo e empreiteiras apareceram na mídia como símbolo de uma 
gestão esportiva pouco comprometida com o bem-estar geral e mais interessada em sustentar suas 
regalias e estilo de vida, ou ainda criar fundos para financiar a perpetuação de sua legenda no poder.
Faça uma reflexão comparando as estratégias de investimento no esporte brasileiro, através da 
construção de arenas e da organização de grandiosos espetáculos, com as estratégias dos imperadores 
romanos no que foi chamado pela história de política do pão e circo.
7.2 A história da Educação Física no Brasil
A Educação Física brasileira teve influência dominante das escolas de ginástica europeias, sobretudo 
das ginásticas francesa, alemã e sueca. 
Algumas obras literárias foram publicadas no Brasil, seguindo as tendências europeias de ginástica civil, 
militar, nacionalista e higienista: em 1823, Joaquim Jerônimo Serpa publicou o Tratado de Educação Física e 
Moral dos meninos, obra higienista e inclinada à puericultura, pioneira no País, publicada em Pernambuco; o Dr. 
Eduardo Augusto de Abreu publicou os Estudos higiênicos sobre a Educação Física; e, em 1888, foi publicado o 
Manual teórico-prático de ginástica escolar, de Pedro Manuel Borges (TUBINO, 1996).
O Imperial Collegio de Pedro Segundo foi fundado no Rio de Janeiro em 1837. O principal objetivo 
do governo brasileiro ao organizar o CPII foi oferecer boa educação aos filhos da sociedade imperial. Foi 
no Colégio Pedro II que a Educação Física brasileira teve seus primeiros passos.
O Colégio Pedro II contratou seu primeiro mestre de gymnastica, o ex-capitão do Exército Imperial 
Guilherme Luiz de Taube, no ano de 1841. O professor dedicou-se à ginástica como elemento de 
formação de jovens, conforme acontecia nos mais renomados liceus da Europa.
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De acordo com registros do colégio, as lições de exercicios gymnasticos eram ministradas em seis 
dias da semana, à exceção do domingo. O espaço destinado às lições era o pátio do colégio. Cada uma 
das aulas durava cerca de uma hora, menos na quinta-feira, quando a duração da aula seria aumentada 
para duas horas de exercícios. A prática regular e diária dos exercicios gymnasticos era defendida pelos 
médicos como um dos fatores necessários para garantir seus benefícios. Esse fato demonstra o caráter 
higienista da ginástica em seus primórdios (CUNHA JUNIOR, 2008).
Em 1846, três anos após a saída de Taube do Colégio Pedro II, Frederico Hoppe, ex-militar espanhol, 
solicitou o cargo de mestre de gymnastica da instituição. Hoppe se dedicou a ensinar esgrima aos jovens 
do colégio. De acordo com ele, a esgrima era componente fundamental da educação da elite europeia 
e superaria os resultados da “simples gymnastica” até então ministrada no colégio. Os argumentos 
de Hoppe provêm, especialmente, dos discursos médico e militar, tão importantes no processo de 
escolarização da gymnastica no Brasil (CUNHA JUNIOR, 2008). 
Em 1859, Pedro Guilherme Meyer, alferes do Exército Imperial Brasileiro, assumiu as lições de 
ginástica do Colégio Pedro II em seu novo ginásio, que deveria servir de referência para os demais 
estabelecimentos colegiais em prol da difusão da Educação Física da mocidade brasileira.
Meyer teria ministrado lições de exercicios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon 
Laisné, discípulo do coronel Francisco Amorós y Ondeano, a principal figura da ginástica francesa. Laisné 
tornou-se um dos principais continuadores da obra de Amorós, desenvolvendo seu trabalho na Escola 
de Joinville-le-Point, local para o qual foi transferido em 1852.
Destacavam-se no método organizado por Amorós os exercícios da marcha, as corridas, os saltos, 
os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, bem como a 
natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, como as barras fixas 
e móveis, as paralelas, as escadas, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio. No Colégio Pedro II, 
atividades desse tipo foram implementadas por Pedro Meyer, mestre que introduziu na instituição os 
exercicios gymnasticos em aparelhos (CUNHA JUNIOR, 2008).
7.3 A Educação Física brasileira e os pareceres de Rui Barbosa
Em 1882, na Câmara dos Deputados, Rui Barbosa divulga o parecer sobre a reforma do ensino 
primário, no qual afirma que o desenvolvimento físico e o intelectual devem andar em paralelo. O 
deputado propõe as seguintes ações:
• A instituição de uma seção especial de ginástica em cada escola normal.
• A extensão obrigatória da ginástica para ambos os sexos, na formação do professorado e nas 
escolas primárias de todos os graus, tendo em vista, com relação à mulher, a harmonia das formas 
e as exigências da maternidade futura.
• A inserção da ginástica nos programas escolares como matéria de estudo, em horas distintas das 
do recreio, e depois das aulas.
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• Equiparação, em categoria e autoridade, dos professoresde ginástica aos de todas as outras disciplinas.
Essas proposições vieram a influenciar a organização do ensino da Educação Física em todas as 
escolas brasileiras nas gerações que se seguiram (RAMOS, 1982).
É importante lembrar que a Escola Militar Brasileira havia adotado, desde meados do século XIX, 
o método de ginástica alemão e, portanto, apesar de o pioneirismo do Colégio Pedro II ter adotado a 
ginástica francesa, muitas escolas eram ministradas por professores militares formados com a vigorosa 
ginástica alemã de Friedrich Jahn (TUBINO, 1996). 
Somente em 1907, com a chegada de uma missão militar francesa que se instalou em São Paulo para 
ministrar instrução na Força Pública do Estado, foi que a ginástica alemã passou a perder terreno para 
a ginástica francesa. Em 1909, foi criada uma escola para formar professores de esgrima e ginástica na 
Escola Militar do Estado de São Paulo. Essa escola serviu de base para a criação da primeira escola de 
Educação Física do Brasil em 1929, na Vila Militar: o Curso Provisório de Educação Física. Esses fatores 
influenciaram bastante a consolidação da Educação Física no Brasil (RAMOS, 1982).
7.4 Eugenia, higiene e nacionalismo, ideais brasileiros no início do século XX
Na década de 1920 surge, no Brasil e no mundo, uma preocupação com a depuração da raça e 
o fortalecimento do povo. Embasada nas teorias evolucionistas de Darwin, a ideia era privilegiar as 
características que permitissem a constituição de um povo robusto, resistente e inteligente. Nesse 
sentido, a miscigenação racial era vista como um agente de degeneração da raça, levando à perda de 
características desejáveis.
A elite branca brasileira gradativamente se aparelhou para a implementação de um plano de 
fortalecimento racial. Em 1918, foi criada, no Brasil, a Sociedade Eugênica de São Paulo, que produziu 
diversos documentos e utilizou como parceira de publicações a Revista Educação Physica, editada a 
partir de 1932 (GOELLNER, 2008).
A revista se alinhou aos ideais político-ideológicos do governo da época, simpatizante do 
nacional-socialismo alemão. O governo de Getúlio Vargas estreitou relações com a Alemanha e se 
deixou influenciar por questões raciais, legais e políticas, firmando acordos comerciais e intercâmbios 
culturais (GOELLNER, 2008).
O “embranquecimento” da raça brasileira se tornou oficialmente parte do plano de desenvolvimento 
nacional, empregando diferentes categorias profissionais, como médicos, intelectuais, professores e 
instrutores de Educação Física, que se esforçaram amplamente para difundir os conceitos eugênicos em 
meios sociais e educacionais (GOELLNER, 2008).
O principal veículo de implementação do plano de eugenização da raça brasileira era o fortalecimento 
do corpo da mulher através do exercício físico. De acordo com a concepção da época, as mulheres mais 
fortes seriam capazes de gerar filhos mais hígidos, mais aptas à maternidade e à criação de cidadãos 
fortes para a construção de uma nova nação, livre da degeneração racial (GOELLNER, 2008).
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Unidade III
As mulheres deveriam dedicar-se a exercícios que as preparassem para a maternidade, 
reforçando suas formas curvilíneas propícias à atração de seus parceiros. Deveriam ser evitados 
os esforços violentos e impactantes, capazes de promover a “masculinização” da mulher, como 
o surgimento de músculos e o embrutecimento dos gestos. Os exercícios femininos deveriam 
fortalecer a mulher e, ao mesmo tempo, ressaltar suas características suaves e femininas. O 
principal objetivo era a preparação para a gestação de filhos fortes. A mulher era vista como uma 
matriz depuradora da raça (GOELLNER, 2008).
Natação, tênis, esgrima, ginástica e remo são algumas das principais atividades em número de 
mulheres inscritas nas primeiras décadas do século XX. A ginástica ganhou grande força no currículo 
das escolas primárias como modalidade a ser aplicada prioritariamente às meninas, enquanto os 
meninos teriam currículo envolvendo atividades mais robustas, como futebol, corridas, saltos, lutas, 
handebol e basquetebol.
 Observação
Eugenia: substantivo feminino. Bioteoria que busca produzir uma 
seleção nas coletividades humanas, baseada em leis genéticas; eugenismo.
7.5 A institucionalização do esporte brasileiro
Para entender o que houve com o processo de institucionalização imposto pelo governo de 
Getúlio Vargas, é necessário entender como o Estado Novo administrava o País. Havia uma forte 
centralização, a questão da identidade nacional e o destaque à coletividade. Alterou-se o modelo 
liberal de administração por um modelo centralizador, interferindo diretamente na vida cotidiana 
dos indivíduos, inclusive nas práticas esportivas. O governo objetivava, através de projetos nas 
áreas da saúde, trabalho, educação e também no esporte, gerar a identidade nacional coletiva 
(PIMENTEL; MEZZADRI, 2007).
Em 1941, o Estado brasileiro legislou, através do Decreto-lei nº 3.199, o estabelecimento de bases 
para a organização do esporte no Brasil. Em seu primeiro capítulo, a lei institui o Conselho Nacional de 
Desportos (CND), órgão alocado no Ministério da Educação e Saúde, responsável por orientar, fiscalizar 
e incentivar a prática de esporte no País (TUBINO, 1996).
Essa estrutura vai ao encontro da política nacionalista do Estado Novo, que buscava centralizar 
as instituições sob o controle estatal. Dessa forma, clubes e federações esportivas passaram a ser 
atrelados de forma linear e submissa às deliberações do CND. O objetivo era orientar o esporte de 
acordo com o espírito coletivo do Estado, buscando a formação física e espiritual do cidadão. Assim, 
o esporte desceria do governo para o povo, uniformizando estatutos, regulamentos e denominações 
das instituições esportivas, caracterizando claramente o dirigismo estatal. Ao CND ficaria subjugada a 
Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e a ela estariam linearmente subjugadas todas as federações 
e confederações das modalidades esportivas (PIMENTEL; MEZZADRI, 2007).
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Com a lei, o desporto amador ficou definitivamente separado do desporto profissional, sendo o primeiro 
patrocinado pelo Estado, enquanto o segundo ficaria regulamentado como divertimento espetacular, 
organizado de acordo com as leis trabalhistas, sem qualquer incentivo público (TUBINO, 1996). 
O Art. 54 (Lei nº 3.199/41), do Capítulo IX, “Disposições gerais e transitórias”, afirma que “às mulheres 
não será permitida a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para 
este efeito, o CND baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do País”. Em 1965, através 
da Deliberação nº 7/65, o CND criou a regra que dizia que às mulheres não seria permitida a prática 
“de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo, rugby, halterofilismo e 
beisebol”, decisão esta revogada somente em dezembro de 1979 (PIMENTEL; MEZZADRI, 2007).
Fica clara a condução do esporte feminino, com a proibição legal de modalidades supostamente 
agressivas ao sistema reprodutor feminino. O Estado tinha interesse em mulheres saudáveis, ativas e 
graciosas, sobretudo com a manutenção da feminilidade e das funções entendidas como necessárias à 
maternidade (PIMENTEL; MEZZADRI, 2007).
7.6 A quebra do paradigma no esporte feminino brasileiro
Em 1979, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), por insistência do professor Joaquim Mamede 
de Carvalho e Silva, iniciou um trabalho para convencer o CND a revogar a proibição para a prática de 
lutas por parte das mulheres. Em outubro de 1979, Mamede conseguiu levar uma equipe feminina para 
participar do Campeonato Sul-Americano de Judô, realizado em Montevidéu, no Uruguai (MOURÃO; 
SOUZA, 2007).
Para conseguir subsídios (passagens, estadia, inscriçõese alimentação), as atletas foram relacionadas 
com nomes masculinos no CND. As quatro atletas pioneiras na participação do judô feminino em eventos 
internacionais foram: Kasue Ueda, Ana Maria de Carvalho e Silva, Cristina Maria de Carvalho e Silva e 
Patrícia Maria de Carvalho e Silva, as três últimas, filhas do professor Joaquim Mamede de Carvalho 
e Silva. As atletas conquistaram várias medalhas no torneio, auxiliando o Brasil a alcançar a primeira 
colocação na contagem geral de pontos, somando-se a pontuação das categorias masculina e feminina 
(MOURÃO; SOUZA, 2007).
Ao chegar ao Brasil, Mamede usou os resultados esportivos e o âmbito esportivo mundial para demover 
o CND a legalizar a participação esportiva feminina no judô. A Deliberação nº 7 foi revogada e substituída 
pelo Artigo 10º, permitindo, assim, a prática de esportes estigmatizados como viris. Com isso, as mulheres 
puderam participar de torneios e treinamentos por todo o mundo, bem como abrir caminho para que outras 
modalidades esportivas proibidas também se desenvolvessem (MOURÃO; SOUZA, 2007). 
7.6.1 A mulher no esporte: gênero e mídia 
O esporte contemporâneo pode ser caracterizado como um grande espetáculo veiculado pelos meios 
de comunicação de massa. Para tanto, as exigências do público espectador são levadas em consideração 
ao montar-se a programação a ser exibida. As empresas investidoras, como anunciantes, patrocinadores 
e apoiadores, estudam os índices de visibilidade das modalidades esportivas veiculadas para decidir 
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seus planejamentos estratégicos de investimento. Cria-se um ciclo vinculado aos índices televisivos. 
Determinada modalidade tem mais ou menos investidores de acordo com a exibição que possui em 
mídia (jornais, internet, transmissão televisiva e rádio), o que acaba direcionando a montagem da 
programação e a cobertura esportiva jornalística. As modalidades detentoras do gosto popular são mais 
vistas e, portanto, têm mais investidores.
A preferência popular por determinada modalidade ou categoria é construída por valores culturais 
da sociedade na qual está inserida. Esses valores, por sua vez, são construídos pelas vivências históricas 
e por influências culturais, como é o caso do futebol, modalidade que detém a maior audiência televisiva 
do País. O esporte bretão tem origem histórica na colônia inglesa, que montou fábricas no Brasil a partir 
de meados do século XIX. Apesar de no início só ser praticado por estrangeiros e membros de famílias 
abastadas, o futebol ganhou o gosto popular em função da simplicidade das regras e da dinâmica 
esportiva. Atualmente, é a modalidade esportiva mais popular no Brasil. É também a modalidade com 
maior espaço na mídia e maior volume de investimentos financeiros, além de ser a modalidade esportiva 
mais praticada (GOELLNER, 2005). 
Existe uma grande diferença relacionada à questão de gênero no esporte brasileiro. De forma 
geral, as modalidades femininas possuem menor espaço na mídia e menos investimentos. Seguindo a 
lógica ilustrada anteriormente, percebe-se que essa situação é estabelecida pela cultura esportiva para 
meninas. Historicamente, o esporte sempre foi visto como uma atividade que as mulheres deveriam 
praticar com limites em função de sua condição física supostamente inferior. A mulher sempre foi tida 
como o “sexo frágil” e, até a década de 1970, era proibida por lei de praticar modalidades esportivas 
que levassem à fadiga exagerada. O futebol, futebol de salão (futsal), lutas, levantamento de peso, 
entre outras, eram modalidades esportivas proibidas para as mulheres. A justificativa médico-higienista 
reforçava a ideia de que o exercício físico extenuante afetaria as funções reprodutivas da mulher. A 
condição da maternidade era vista como prioritária, pois o papel de mãe era a principal e mais sagrada 
função da mulher na sociedade (GOELLNER, 2005).
Atualmente, estudos fisiológicos apresentam dados que amparam a participação esportiva das mulheres 
– elas são capazes de suportar plenamente as cargas competitivas e de treinamento. A diferença fica 
por conta da capacidade absoluta de produzir força menor em função das características biológicas 
distintas das dos homens. Por exemplo, a mulher produz menos testosterona, o que ocasiona uma 
menor quantidade de massa muscular e, consequentemente, uma menor condição de aplicação de força.
De forma geral, as mulheres sempre foram direcionadas a atividades ocupacionais que exigissem 
menos do físico. A sociedade brasileira criou uma estrutura cultural que não privilegiou a prática esportiva 
feminina vigorosa. A mulher foi sempre direcionada à dança, às habilidades manuais, à culinária e ao 
cuidado com as crianças. Essa condição criou uma disparidade na configuração da massa espectadora 
de esporte. Na sociedade brasileira machista, convencionou-se que “esporte é coisa de homem e novela 
é coisa de mulher”. Além disso, os valores associados ao esporte enfatizam a capacidade física máxima, 
o recorde e a proeza física desafiando os limites do corpo. De forma absoluta, as marcas esportivas 
masculinas determinadas pelas capacidades físicas são sempre melhores do que as dos resultados 
femininos. Às mulheres são atribuídas qualidades como harmonia, equilíbrio, graciosidade e elasticidade 
(KNIJNIK; SIMÕES, 2000).
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Em função da caracterização predominantemente masculina da audiência esportiva, percebe-se uma 
desvalorização financeira dos eventos esportivos femininos, com menor exposição na mídia. Motivadas 
por essa condição machista, as modalidades esportivas acabam desenvolvendo uniformes esportivos 
diminutos para as mulheres a fim de delinear seus corpos e chamar a atenção do público masculino, 
elevando, assim, os índices televisivos, como é o caso do voleibol, do tênis e do handebol (KNIJNIK; 
SIMÕES, 2000).
 Observação
Visando a atingir os espectadores masculinos, as próprias confederações 
e patrocinadores produzem uniformes mais curtos, que valorizam as curvas 
das atletas.
7.7 As estruturas esportivas brasileiras contemporâneas
O esporte brasileiro não apresenta hoje uma política clara quanto ao seu desenvolvimento. As ações 
de incentivo se destinam a categorias de atletas com destaque no cenário nacional e internacional, ou 
seja, estimula-se o topo da cadeia de desenvolvimento esportivo e não se organizam os investimentos 
na base, na formação de novos atletas. Existe uma forte coordenação entre todas as instituições de 
esporte de elite, com clara definição e sem sobreposição das diferentes tarefas. O País possui ações 
voltadas para o desenvolvimento do esporte de alto nível oriundas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) 
e do Ministério do Esporte, as quais são isoladas, algumas delas semelhantes, mas sem que haja uma 
diretriz central norteadora para elas (MEIRA; BASTOS; BÖHME, 2012).
Os esforços para a elaboração de uma política nacional de desenvolvimento esportivo não 
conseguem atingir efetivamente os incentivos ao esporte em nível municipal, na criação de 
escolinhas e categorias de base. Os investimentos nesse setor são desorganizados e, na maioria 
dos municípios, muito escassos. 
Os recursos têm foco em um número relativamente pequeno de esportes que possuem chances reais 
de sucesso internacional: 29 confederações recebem o repasse da verba proveniente da Lei Agnelo/Piva, 
desde que atendam a determinados critérios preestabelecidos. No entanto, não existem estratégias 
para focar na aplicação de recursos em modalidades com chances reais de medalhas e que tenham 
tradição em Jogos Mundiais e Olímpicos, a fim de potencializar resultados internacionais expressivos. 
Fica claro que a ação de incentivo se preocupa mais com a obtenção de resultados e menos com a função 
social e educativa do esporte. Algunsprojetos bem organizados recebem repasse de verba da Lei Agnelo/Piva, 
que prevê isenção fiscal para empresas apoiadoras do esporte. No entanto, a abrangência dessas 
iniciativas é amostral e grande parte da população é alienada da prática esportiva de base (MEIRA; 
BASTOS; BÖHME, 2012).
Países socialistas, como Cuba, China e União Soviética (que existiu até a década de 1990), pautavam 
sua organização esportiva no oferecimento de esporte para toda a população de forma gratuita e 
obrigatória. A formação esportiva era ampla e integral, envolvendo diversas modalidades. Apesar de 
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saber-se que a formação esportiva nos países socialistas atendia a interesses estatais relacionados com 
a representação esportiva nacional e com a disciplina e capacitação energética da população, cabe 
admitir que a estrutura piramidal dá oportunidade de prática a grande parte da população e gera uma 
cultura de prática esportiva efetiva. O grande desafio seria suplantar a tendência meramente tecnicista 
do modelo esportivo piramidal e torná-lo uma referência plural.
Nesse âmbito, surgiu, na década de 1970, o movimento mundial Esporte para Todos, que preconizava 
a participação esportiva massiva da população. O desporto para todos era o lema dessa época e 
formulava-se a pirâmide com a elite desportiva no cume, a organização desportiva, o equipamento 
básico urbano, a Educação Física/desporto escolar no meio, e o desporto de massa na base, conforme 
ilustrado por Tubino (1996):
Atletas de 
performance
Educação física e 
desporto escolar
Desporto de massa 
(popular)
Figura 37 
A organização esportiva nacional busca uma condição de comunicação eficaz, a existência de 
uma linha ininterrupta entre os diferentes níveis das instituições esportivas. Atualmente existem 
ações do COB em relação ao oferecimento de cursos para as confederações e técnicos. No entanto, a 
participação de atletas nas instituições nacionais de esporte ainda é bastante restrita e recente. Com 
relação aos resultados de pesquisas internacionais comparativas sobre o tema estudado, o esporte 
brasileiro necessita de estruturação esportiva nacionalmente, para que programas e projetos esportivos 
funcionem de maneira regional, mas de modo integrado com diretrizes propostas e coordenadas por 
órgãos governamentais e entidades nacionais do esporte (MEIRA; BASTOS; BÖHME, 2012).
8 EDUCAÇÃO FÍSICA E EPISTEMOLOGIA
O debate epistemológico a respeito da Educação Física se desenvolve no Brasil com grande 
intensidade desde a década de 1980. Vários autores, cientistas e pedagogos de produção expressiva se 
manifestaram a respeito de qual seria o corpo de conhecimento compreendido na Educação Física. O 
debate se aprofundou em função das convicções políticas, pedagógicas e científicas de cada autor. Por 
muitas vezes, o debate, propriamente dito, tomou maior vulto que a atividade desenvolvida ou mesmo 
que a organização estrutural e política da Educação Física.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Alguns pontos consensuais entendem a Educação Física como uma prática social que comporta 
muitas manifestações diferentes, as quais tornam difícil a tarefa de gerar uma identidade 
bem delimitada de seu corpo de conhecimento. A Educação Física transita fortemente na área 
pedagógica, abordando a função do exercício físico na formação plena do indivíduo. Ela também se 
aventura pelas manifestações esportivas – formativas, participativas ou de rendimento. São áreas 
de atuação da Educação Física os aspectos do exercício físico relacionados à saúde e ao bem-estar 
físico, mental e social. Também existe a aproximação com o lazer, seja ele usado como complemento 
pedagógico, seja abordado como fim em si mesmo, isto é, como estratégia de participação lúdica 
visando exclusivamente à satisfação por meio de vivências prazerosas. A Educação Física ainda 
é tida como agente de grande importância nos processos de inclusão de pessoas portadoras de 
deficiência, tanto pelos benefícios físicos quanto pelas vantagens afetivas e sociais proporcionadas 
pela participação em programas de exercícios físicos (BRACHT, 1995).
A Educação Física como área de conhecimento e intervenção 
profissional-pedagógica, que lida com a cultura corporal de movimento, 
objetivando a melhoria qualitativa das práticas constitutivas daquela 
cultura, mediante referenciais científicos, filosóficos e estéticos (BETTI, 
2003 apud BETTI, 2005, p. 187).
Devido à grande quantidade de áreas afins, chegou-se a afirmar que a Educação Física não 
poderia ser tida como ciência, com objeto próprio de estudo, e sim como prática científica que 
se apropria de ferramentas de outras ciências para discutir as manifestações da cultura corporal 
e de movimento humano. A Educação Física, vista como prática social provida de história e 
contextualização social, contempla a possibilidade de engajamento pedagógico, de participação 
em práticas científicas (BRACHT, 1995). 
De acordo com Betti (2005, p. 195): 
A Educação Física não é uma disciplina científica, mas uma área de 
conhecimento e intervenção pedagógica que expressa projetos social e 
historicamente condicionados, os quais, por sua vez, levam à construção dos 
objetos da pesquisa científica, exercitando e transformando constantemente 
no seio da comunidade acadêmica. Dessa forma, não se pode reduzir a 
definição de Educação Física a uma de suas áreas de ação; saúde, escola, 
lazer, esporte, estética, inclusão, apesar de todas elas estarem contidas nela 
como práticas sociais que efetivamente se manifestam por meio da cultura 
do movimento corporal humano.
8.1 Abordagens filosóficas da Educação Física no Brasil
A Educação Física desenvolveu-se no Brasil a partir das influências militares das escolas ginásticas 
europeias. Os métodos ginásticos europeus, desenvolvidos em meados do século XIX, visavam a formar 
cidadãos vigorosos para atender à qualificação do povo e à formação da nação. Tinham ainda forte 
influência médico-higienista, procurando desenvolver a aptidão física do indivíduo como alicerce para a 
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formação moral e intelectual. As primeiras escolas brasileiras eram de formação militar, tendo, no período 
imperial, a influência da ginástica sueca. No início do período republicano, o Brasil foi governado por 
militares. Entre os anos de 1900 e 1910, o Exército Brasileiro recebeu o intercâmbio de um destacamento 
militar francês, o que viria a determinar a linha de aplicação da Educação Física brasileira por várias 
décadas (SOARES, 1994).
A partir da década de 1940, o governo de Getúlio Vargas passou a instrumentalizar a Educação Física 
e o esporte, lato sensu, como ferramentas de melhoria racial. Por meio do desenvolvimento físico, a ideia 
era melhorar a raça do povo brasileiro. Essa ação passou a ser referida como eugenia. No decorrer de 
várias décadas, a Educação Física manteve-se oficialmente com uma inclinação militarista, biológica e 
voltada ao desenvolvimento dos aspectos físicos (SOARES, 1994).
Na década de 1970, o caráter biológico foi acrescido da tendência esportivista. A ideia do governo 
vigente era usar a Educação Física escolar como um instrumento de formação e detecção de atletas 
que pudessem representar a nação em competições nacionais e internacionais, mostrando o valor do 
povo brasileiro e angariando prestígio político. A partir desse período, a Educação Física ganhou forte 
conotação biológica, esportivista e tecnicista (SOARES, 1994).
No final da década de 1970 e início de 1980, com o retorno de professores pós-graduados do exterior, 
novas abordagens filosóficas e pedagógicas passaram a ser defendidas como alternativas ao modelo 
hegemônico biológico esportivista. O modelo biológico passoua ser entendido como excludente, injusto 
e eugênico (DARIDO, 2001).
As principais abordagens discutidas resultam da articulação de diferentes teorias psicológicas e 
sociológicas e de concepções filosóficas. Todas essas correntes têm ampliado os campos de ação e 
reflexão para a área, aproximando-a das ciências humanas. 
Algumas abordagens que tiveram maior impacto, a partir da década de 1970, são as seguintes 
(DARIDO, 2001):
• Psicomotricidade: comprometida com o desenvolvimento integral da criança, extrapola os 
limites biológicos do rendimento corporal e valoriza os conhecimentos de ordem psicológica. A 
ação educativa deve ocorrer a partir de movimentos espontâneos da criança e de suas atitudes 
corporais. Deve haver equilíbrio entre o desenvolvimento funcional e afetivo. 
• Desenvolvimentista: abordagem dirigida a crianças de 4 a 14 anos. Tem por objetivo caracterizar 
a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e 
afetivo-social na aprendizagem motora. Defende que o movimento é o principal meio e fim da 
Educação Física. Essa proposta não visa a resolver problemas sociais. A Educação Física deve dar 
condições para que o comportamento motor do aluno seja desenvolvido por meio da interação 
entre o aumento da diversificação e da complexidade dos movimentos.
• Construtivista-interacionista: objetiva a construção do conhecimento a partir da interação do 
sujeito com o mundo. Critica as propostas tecnicistas hegemônicas, caracterizadas pela busca do 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
desempenho máximo sem considerar as diferenças individuais. Para a abordagem construtivista, 
deve-se respeitar o universo cultural do aluno, explorando variadas possibilidades educativas e 
lúdicas. A proposição de tarefas desafiadoras é uma forma de construir o conhecimento. 
• Crítico-superadora: embasada no discurso da justiça social no contexto da sua prática. Busca 
levantar questões de poder, interesse e contestação e faz uma leitura dos dados da realidade à luz 
da crítica social dos conteúdos. Ela pode ser tida como uma reflexão pedagógica e desempenha 
um papel político-pedagógico, pois encaminha propostas de intervenção e possibilita reflexões 
sobre a realidade dos homens. Por meio do jogo, da ginástica, da dança e do esporte, busca criar 
condições educativas que contestem a realidade de injustiças sociais e que não reproduzam a 
ótica capitalista hegemônica e injusta (AZEVEDO; SHIGUNOV, 2000).
• Crítico-emancipatória: centrada no ensino dos esportes, foi concebida para a Educação Física 
escolar. Busca uma ampla reflexão sobre a possibilidade de ensinar os esportes pela sua 
transformação didático-pedagógica e de tornar o ensino escolar um espaço de aquisição de uma 
competência crítica e emancipada, voltada para a formação da cidadania do jovem, indo além de 
mera instrumentalização técnica para o trabalho. A condição de emancipação pode ser entendida 
como um processo contínuo de libertação do aluno das condições limitantes de suas capacidades 
racionais críticas e até mesmo do seu agir no contexto sociocultural e esportivo (AZEVEDO; 
SHIGUNOV, 2000).
8.2 Aspectos pedagógicos da Educação Física contemporânea 
A atual conjuntura pedagógica da Educação Física procura adotar um discurso conciliatório voltado 
ao desenvolvimento de ações que conjuguem as abordagens discutidas desde a década de 1970. O 
intuito de síntese dos temas convergentes busca desenvolver experiências pedagógicas plurais, evitando 
o restabelecimento de aspectos que foram severamente criticados no passado.
Historicamente, a discussão epistemológica sobre a Educação Física vem se desenvolvendo desde 
meados da década de 1970, quando professores trouxeram ao meio acadêmico da Educação Física 
debates já iniciados em outras esferas da educação. O aspecto mais criticado foi a visão tecnicista e 
biológica adotada pela Educação Física até então. Por essa visão, a Educação Física era responsável apenas 
pelo desenvolvimento das capacidades físicas e motoras dos jovens, visando à melhoria da aptidão física 
para objetivos esportivos e à melhoria da saúde da população. O discurso da saúde populacional estava, 
na década de 1970, impregnado de um viés político e nacionalista, que visava a fortalecer a nação pelo 
fortalecimento físico do povo (SOARES, 1996; DARIDO, 2001).
A necessidade do estabelecimento da crítica e da mudança motivou inúmeros pesquisadores, 
que apresentaram variadas vertentes de aplicação alternativa ao quadro biológico e esportivista 
hegemônico. O debate fervoroso entre os defensores de novas abordagens pedagógicas se estendeu 
de 1980 até meados da década de 1990. Diante da grande quantidade de doutrinas sendo discutidas, 
o estabelecimento de um consenso foi dificultado e a prática pedagógica da Educação Física, outrora 
controlada pelo dirigismo estatal, passou a ser negligenciada devido à falta de definição para os planos 
de ação oficiais (DARIDO, 2001).
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Unidade III
A partir da segunda metade da década de 1990, esforços para a ação pedagógica conjugada 
se estabeleceram. Em 1998, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação 
Física (PCN), documento produzido por uma força-tarefa de professores da Educação Física, que 
buscou o estabelecimento de temas transversais e do diálogo entre as ideias discutidas até então. 
Um consenso foi estabelecido: a necessidade de direcionar o ensino da Educação Física a uma 
prática autônoma e consciente, que desenvolva o indivíduo em seus aspectos físicos, cognitivos e 
socioafetivos (BRASIL, 1998). 
Os principais objetivos estabelecidos pelos PCN da Educação Física foram (BRASIL, 1998):
• A compreensão da Educação Física como um veículo de formação e exercício da cidadania, do 
conhecimento crítico da cultura do movimento corporal humano aplicada ao contexto socioeconômico 
de cada um.
• O conhecimento das características culturais fundamentais norteando a prática da Educação 
Física com identidade nacional, bem como possibilitando o conhecimento e a valorização da pluralidade 
das possibilidades e objetivos das práticas corporais, evitando o dirigismo homogêneo e a discriminação 
de aspectos diversos pautados em culturas diferentes.
Os PCN ainda objetivaram a percepção do praticante como um agente transformador da própria 
realidade, contribuindo para a melhoria do meio ambiente em que vive. Buscaram desenvolver o 
autoconhecimento e a autoestima, melhorando as capacidades integrativas, afetivas e físicas dos 
praticantes, estimulando o conhecimento do próprio corpo e valorizando e adotando hábitos saudáveis 
como um dos aspectos básicos da qualidade de vida (BRASIL, 1998).
Os parâmetros procuraram adotar linguagens diversas e não apenas a esportiva, abordando 
veículos artísticos e outros próprios das demais disciplinas da educação formal, como a matemática, a 
interpretação textual e a computação, para desenvolver os aspectos culturais do movimento humano 
(BRASIL, 1998).
Adotando um discurso oficial, porém conciliador, plural e crítico, os PCN se estabeleceram como 
documento referencial para políticas educacionais na área de Educação Física.
O discurso plural adotado pela prática pedagógica atual busca uma aprendizagem com foco no 
indivíduo, objetivando benefícios ao seu desenvolvimento harmonioso e integral. O processo pedagógico 
atual permite ao aluno participar ativamente da construção do conhecimento, saindo da postura 
exclusiva de receptor e passando a interagir com a aquisição do conhecimento por meio de pesquisas 
e apresentações de atividades corporais, tais como danças e manifestações folclóricas (SOARES, 1996).
Os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física se diversificaram, incluindo a prática 
de lutas, danças e jogos de diversas naturezas (recreativos,cooperativos e educativos). A ginástica foi 
resgatada como forma de expressão e de conhecimento corporal amplo. Apesar da crítica ao tecnicismo 
esportivista hegemônico do passado, as modalidades esportivas continuam sendo importantes conteúdos 
das aulas de Educação Física, uma vez que o esporte é uma manifestação cultural contemporânea de 
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grande abrangência, porém não é mais a única opção e não é mais voltado ao desenvolvimento da 
aptidão física, da seleção e da detecção de talentos esportivos (SOARES, 1996).
 Lembrete
Os PCN foram uma iniciativa conciliadora e plural na Educação Física 
escolar. Sua efetividade está na aplicação de temas e abordagens diversas, 
buscando um enriquecimento da vivência motora na Educação Física.
8.3 Educação Física e aspectos da saúde 
Historicamente, a Educação Física esteve relacionada à área da saúde. O movimento ginástico europeu 
é visto como um marco importante do surgimento da Educação Física moderna, ocorrido no início do 
século XIX. Naquele momento, dezenas de pedagogos, pensadores, militares e médicos desenvolveram 
métodos sistematizados de ginástica voltados à formação do cidadão forte, saudável e produtivo. O 
intuito dessa formação era a constituição dos Estados Nacionais, partindo da ideia de formação de um 
povo apto a trabalhar arduamente e a defender a pátria nas frequentes guerras do período. O exercício 
físico foi utilizado como ferramenta formadora de corpos ditos saudáveis, aptos a suportar grandes 
sobrecargas de trabalho, não considerando as pessoas como reais beneficiárias da atividade. Na Europa, 
por volta de 1830, inúmeros países desenvolviam a ginástica em diversas modalidades: cívica, militar e 
médica higiênica, esta última amplamente difundida como instrumento gerador da saúde da população, 
tida até então como o estado físico de bem-estar, vigor e ausência de doença (SIGOLI; DE ROSE JR., 
2004; SOARES, 2007).
A Educação Física no Brasil foi muito influenciada pelas correntes de ginástica da Europa, sobretudo pelas 
ginásticas militares sueca e francesa, introduzidas pelas escolas militares e depois difundidas em todo o ensino 
civil. A medicina brasileira também se espelhou no modelo europeu e disseminou forte campanha para a prática 
de atividades físicas. No início do século XX, o objetivo era formar o indivíduo “saudável”, com uma boa postura 
e aparência física. Posteriormente, com a implantação do Estado Novo, na década de 1930, surge a tendência 
militar nos programas de atividade física escolar, privilegiando a eugenia da raça. O exercício físico, segundo 
as concepções da época, tornaria o povo mais saudável e forte, ajudando a acabar com os degenerados, uma 
concepção declaradamente racista (PITANGA, 2002; SOARES, 2007). 
Na década de 1970, diversos laboratórios de avaliação física e fisiologia do exercício foram 
instalados por universidades e centros de pesquisa, visando a obter conhecimentos biológicos para 
a área da Educação Física. Essa abordagem foi questionada pela corrente mais crítica de estudiosos, 
pois reforçava o ponto de vista higiênico e até eugênico. A linha de pensamento biológico coexiste, 
atualmente, em paralelo a correntes críticas, humanistas, construtivistas e desenvolvimentistas, sendo 
vista como uma abordagem renovada da atividade física como instrumento de promoção de saúde e 
qualidade de vida (DARIDO, 2001).
Atualmente, a saúde é definida não apenas como a ausência de doenças. O conceito contemporâneo 
de saúde se identifica por meio de diversos aspectos do comportamento humano voltados a um estado 
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de completo bem-estar físico, mental e social. A Educação Física contemporânea se relaciona com essa 
concepção abrangente e múltipla de saúde. Age como ferramenta de promoção de saúde, atuando na 
esfera física, melhorando o condicionamento corporal e combatendo o sedentarismo. Atua também nos 
aspectos psicológicos da saúde ao promover melhora significativa da autoestima e a formação de uma 
autoimagem positiva, e ainda age em benefício da saúde no âmbito social, promovendo a inclusão em 
grupos de convívio em academias, clubes e centros esportivos (PITANGA, 2002). 
Além da atividade física, outros fatores comportamentais e ambientais são importantes geradores 
de saúde, tais como hábitos alimentares, segurança, infraestrutura sanitária, relacionamento afetivo-
social estável com amigos, familiares e parceiros. Dessa forma, pode-se entender como saúde as 
formas e condições de vida promovidas pelas pessoas que geram um estado de bem-estar geral e não 
apenas físico.
8.3.1 Educação Física e saúde mundial
A tendência mundial de aproximação da Educação Física com a área da saúde pode ser evidenciada 
com as resoluções da 57ª Assembleia Mundial, organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 
2004, evento que propôs aos países-membros a Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade 
Física e Saúde, aprovada pela resolução WHA 57.17. A seguir, algumas determinações da resolução, que 
delega responsabilidades aos países-membros.
A formulação e a promoção de políticas e as estratégias e os planos nacionais de ação devem 
incentivar a alimentação saudável e a atividade física. As prioridades na elaboração de instrumentos 
dependem da situação de cada país. Em virtude das grandes diferenças que existem nos países e entre 
eles, os organismos regionais devem colaborar na formulação de estratégias específicas, proporcionando 
apoio aos países na aplicação de seus planos nacionais (OMS, 2004).
A função dos governos é decisiva para alcançar mudanças duradouras em saúde pública, aprovando 
estruturas e processos existentes que abordam diversos aspectos da alimentação, da nutrição e da 
atividade física. Os governos devem esforçar-se em estabelecer um mecanismo de coordenação nacional 
que se ocupe da alimentação e da atividade física no contexto de um plano de prevenção integral das 
doenças não transmissíveis e da promoção da saúde, sendo que as autoridades locais devem participar 
ativamente dessas atividades (OMS, 2004). 
As estratégias nacionais devem compreender ações, metas e objetivos específicos semelhantes aos 
delineados na estratégia mundial, dando ênfase a elementos necessários para aplicar nos planos de 
ação, com inclusão da determinação de recursos indispensáveis e de centros de coordenação nacionais 
(institutos nacionais importantes), bem como à colaboração entre setores da saúde e outros setores 
fundamentais, como agricultura, educação, planejamento urbano, transportes e comunicação; e o 
acompanhamento e a vigilância (OMS, 2004).
As políticas públicas e outros incentivos devem garantir o acesso e a segurança de atividades 
físicas, como caminhar e andar de bicicleta. As políticas de transporte devem incluir o uso de meios 
não motorizados e as relativas ao trabalho devem favorecer a prática de atividades físicas e a criação 
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de instalações desportivas e recreativas que concretizem o conceito de esporte para todos. As políticas 
públicas e a legislação influem na possibilidade de executar atividades físicas (OMS, 2004).
Os Estados devem promover a participação das organizações não governamentais, da sociedade 
civil, das comunidades, do setor privado e dos meios de difusão em atividades relacionadas com a 
alimentação saudável, a atividade física e a saúde. Os ministérios da saúde, em colaboração com 
outros ministérios e organismos conexos, devem estabelecer mecanismos que fortaleçam a cooperação 
intersetorial. Deve-se encorajar a participação comunitária (OMS, 2004).
Diante das orientações da Estratégia Global em Alimentação Saudável, AtividadeFísica e Saúde, cabe 
ao profissional de Educação Física se posicionar de forma ativa nos órgãos governamentais, associações, 
ONGs e lideranças comunitárias para o desenvolvimento e a aplicação de projetos que promovam a 
saúde associada à prática da atividade física e a orientação para uma alimentação saudável. Juntamente 
com os profissionais da área de nutrição, os profissionais de Educação Física devem pleitear fomentos 
para ações que sigam os princípios estipulados pela 57ª Assembleia Mundial da Saúde.
De forma convergente a essas resoluções, as ações específicas priorizadas pela Política Nacional de 
Promoção da Saúde (PNPS), criada em 2006, incluem a prática corporal e a atividade física (PCAF) nas 
ações na rede básica de saúde e na comunidade, fundamentando a inserção do profissional da Educação 
Física no Serviço de Atenção Básica ao compor as equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) 
(SCABAR; PELICIONI; PELICIONI, 2012).
 Lembrete
A justificativa para a intervenção do profissional de Educação Física no 
NASF é um entendimento mais abrangente do conceito de saúde como 
bem-estar físico, mental e social (OMS, 2004).
As equipes do NASF são multidisciplinares e visam a melhorar a qualidade de vida da população em 
ações ativas domiciliares e também em Unidades Básicas de Saúde (UBSs). São médicos, enfermeiros, 
psicólogos, fisioterapeutas e professores de Educação Física, que agem em programas voltados para o 
atendimento às necessidades de saúde e para a propagação de informações e bons hábitos geradores de 
qualidade de vida de forma preventiva (SCABAR; PELICIONI; PELICIONI, 2012).
A ação dos profissionais de Educação Física nas equipes do NASF se apoia no conceito de educação 
para a saúde. O papel da educação na promoção da saúde é fortalecer a ação individual e coletiva, 
estimulando a autonomia da comunidade, além do desenvolvimento de habilidades individuais de modo 
a contribuir para que sua participação seja efetiva. A promoção da saúde deverá ser viabilizada por meio 
da educação em saúde, enquanto processo político de formação para cidadania ativa, contribuindo para 
a construção de posturas autônomas em relação à própria saúde, sendo de fundamental importância 
a sedimentação de novos significados e valores para melhoria da sua qualidade de vida (SCABAR; 
PELICIONI; PELICIONI, 2012).
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No NASF, o profissional de Educação Física tem uma perspectiva de atuação voltada à capacitação da 
comunidade para melhorar a sua qualidade de vida, considerando não apenas as necessidades percebidas, 
mas o seu contexto cultural. Favorece a mudança de atitude para a adoção de um estilo de vida saudável a 
partir da problematização e compreensão de seus reais interesses e vontades e, diante de uma perspectiva 
educativa, visando à formação de sujeitos autônomos. A importância do profissional de Educação Física 
é evidenciada ao favorecer abordagens da diversidade das manifestações da cultura corporal presentes 
localmente, bem como das difundidas nacionalmente, procurando expandir as possibilidades de exercícios 
em programas que não se restrinjam a ações tecnicistas dos clássicos da Educação Física, pois os resultados 
da adesão da comunidade dependem do nível de adequação das propostas aos costumes e contexto locais. 
Dessa forma, o profissional da Educação Física inserido no serviço de Atenção Básica do SUS deve participar 
do processo de implementação e concretização da Política Nacional de Promoção da Saúde, com base em 
um enfoque social e inclusivo (SCABAR; PELICIONI; PELICIONI, 2012).
8.3.2 Atividade física e nível socioeconômico
O sedentarismo é o fator de risco das doenças crônicas não transmissíveis mais importantes na 
sociedade contemporânea. Os índices de sedentarismo alcançam níveis maiores que outros indicativos 
para doenças degenerativas, tais como o fumo, a hipertensão arterial e o excesso de peso corporal, sendo 
que esses fatores estão muitas vezes associados. Entretanto, percebe-se que pessoas ativas fisicamente 
possuem índices de morbidade e mortalidade menores, mesmo apresentando outros fatores de risco, 
como diabetes, obesidade e hipertensão arterial (MATSUDO et al., 2002).
De acordo com a recomendação do Centro de Controle de Doenças do American College of Sports 
Medicine (CDC/ACSM), importante órgão de pesquisa norte-americano relacionado ao exercício físico e à 
saúde, todo indivíduo deve acumular ao menos 30 minutos de atividade física, na maioria dos dias da semana, 
em intensidade moderada, de forma contínua ou acumulada. Entretanto, a porcentagem de indivíduos que 
atinge a recomendação atual de atividade física para promoção da saúde é de aproximadamente 46% no 
estado de São Paulo, sendo que os dados variam conforme o gênero, a idade, o nível socioeconômico e 
a região do estado. Em função do nível socioeconômico, é observado maior índice de indivíduos muito 
ativos na classe A. No entanto, os maiores indicativos de indivíduos que não atingiram a recomendação de 
atividade física foram encontrados nas classes A e E (MATSUDO et al., 2002).
Devido à atividade física regular ser considerada componente importante para a saúde, é de 
extrema importância torná-la um hábito entre os indivíduos. Aspectos socioeconômicos parecem 
estar relacionados ao grau de envolvimento com atividades físicas na vida diária. As condições 
socioeconômicas têm uma forte associação com a morbidade e com a mortalidade, incidindo sobre a 
prevalência de fatores de risco para algumas doenças, tais como obesidade e doenças associadas com o 
hábito de fumar e com o sedentarismo (PALMA, 2000).
O nível de escolaridade indica que indivíduos com menor grau de instrução possuem menores 
índices semanais de atividade física. A escolaridade está diretamente relacionada com a ocupação 
profissional e a remuneração. Indivíduos com maior escolaridade tendem a ter melhor nível 
socioeconômico. As pessoas com menor escolaridade tendem a ter ocupações profissionais com 
maior carga horária semanal, o que diminui o tempo livre para a prática de exercícios físicos. As 
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pessoas com menor remuneração tendem a usar o transporte público e possuem residência em 
locais periféricos, distantes de seus locais de trabalho. Em consequência disso, tendem a gastar 
um tempo maior no trajeto da residência ao trabalho, o que diminui o tempo destinado para o 
lazer e para o exercício físico (PALMA, 2000). 
O fator do cansaço gerado pela extensa carga horária de trabalho semanal, associado à grande carga 
horária de locomoção em meios de transporte coletivos, diminui a motivação para a prática de exercícios 
físicos em pessoas com menor escolaridade e menor nível socioeconômico. Durante o reduzido tempo 
livre semanal, destinado ao lazer, a população de renda menor se dedica à reposição das horas de sono, 
ao descanso e ao hábito de assistir à televisão (PALMA, 2000). 
A prática de exercícios físicos regulares na vida adulta tem relação com a prática de exercícios na 
Educação Física escolar e com a prática esportiva extracurricular durante a infância e a adolescência. 
Percebe-se que as crianças e os jovens de nível socioeconômico mais elevado possuem mais acesso à 
prática de exercícios físicos sistematizados. O desenvolvimento de hábitos saudáveis durante a infância 
é de grande importância para que esses hábitos sejam mantidos na vida adulta (PALMA, 2000).
Os aspectos sociais e econômicos podem ter alguma influência sobre o estado de saúde da sociedade, 
bem como sobre a prevenção primária das doenças. O enredo de globalização da economia, que provoca 
alta competitividade, desemprego, insegurança no trabalho, desigualdades sociais, baixa coesão social 
etc., poderia estar provocando uma elevada pressão sobre os trabalhadores e,por isso, favoreceria o 
aumento do estresse, da pressão arterial e das doenças cardiovasculares. Por outro lado, o trabalhador 
estaria com seu tempo diminuído para cuidar de si próprio, além de haver um maciço programa de 
marketing desenvolvido para vender cigarros, alimentos do tipo fast-food e/ou refrigerantes, os quais, 
notadamente, favorecem uma pior condição de saúde (PALMA, 2000).
A sociedade deve mudar sua interpretação sobre a saúde e deixar de entendê-la apenas como estado 
de ausência de doenças, passando a visualizá-la como um estado de bem-estar físico, social e mental. Dessa 
forma, os esforços e os gastos públicos com a saúde deveriam ser deslocados para ações preventivas que 
melhorassem a qualidade de vida da população e evitassem o surgimento de doenças degenerativas. Essas 
ações passam pela estabilidade econômica, que permitiria uma melhor condição socioeconômica para as 
pessoas e maior tempo livre para o lazer e para a prática de exercícios físicos sistematizados (PALMA, 2000).
 Resumo
Esta unidade abordou temas relacionados à Educação Física e ao 
esporte no Brasil. Inicialmente, falamos sobre a introdução do futebol no 
País, feita por clubes formados por colônias estrangeiras. O futebol foi, em 
seus primórdios, uma modalidade elitizada na qual apenas ricos e brancos 
se confrontavam dentro da ética do sportsman inglês. O vocabulário, 
as posições jogadas e a arbitragem eram todos em inglês, conferindo à 
football association um tom mais inacessível à população pobre brasileira, 
que muitas vezes se reunia para assistir às partidas. 
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Unidade III
Com o passar do tempo, o futebol passou a ser praticado nas periferias, em 
campos menores e irregulares, auxiliando no desenvolvimento das destrezas 
individuais dos jogadores, e o drible, o domínio e a condução foram mais bem 
trabalhados em função dos terrenos acidentados da periferia.
Os campeonatos cresceram e as ligas relutaram em aceitar os atletas pobres 
e negros, fato que aconteceu gradativamente e com muitos atos de racismo e 
segregação. O sucesso de atletas negros, como Friedenreich, Leônidas da Silva, 
Garrincha e Pelé, democratizou o acesso do negro ao futebol, mas não acabou 
com o racismo arraigado na cultura brasileira até os dias de hoje.
Esta unidade apresentou também os primórdios da Educação Física 
brasileira no Colégio Pedro II, onde a ginástica europeia foi a metodologia 
norteadora da instrução física. No final do século XIX, os pareceres de Rui 
Barbosa tornaram pública a importância da Educação Física na educação 
de meninos e meninas em igualdade de condições.
Em suas origens, a Educação Física brasileira tinha como objetivo 
a higienização da população, buscando, através do exercício e do 
desenvolvimento de bons hábitos de saúde, a revigoração do povo brasileiro.
A Educação Física brasileira seguiu as orientações nacionalistas e 
higienistas da ginástica europeia, sobretudo a ginástica francesa, principal 
influência das escolas de Educação Física do Brasil, criadas a partir de um 
intercâmbio militar com a França que teve início em 1907. 
Nas décadas seguintes, a Educação Física no País passou a ser aparelhada 
para a eugenização e o fortalecimento da raça. A ideia era selecionar e treinar 
mulheres saudáveis e brancas para a geração de filhos fortes. A miscigenação 
era inaceitável, a ideia de pureza da raça era uma influência das estreitas 
relações políticas que o Brasil manteve com a Alemanha nazista nas décadas 
de 1930 e 1940 por ocasião do governo de Getúlio Vargas.
Nas décadas seguintes, o esporte serviu de fator de disciplinação da 
população e de promoção do Estado em eventos internacionais. As ações 
de gestão e fomento ficavam todas centralizadas no Conselho Nacional de 
Desportos (CND).
Na década de 1980, muitos professores que haviam ido fazer 
pós-graduação no exterior voltaram ao País, cada um com uma ideia 
de abordagem filosófica e pedagógica para a Educação Física nacional. 
As principais abordagens eram a desenvolvimentista, a construtivista, a 
crítico-superadora e a crítico-emancipatória. Essas abordagens motivaram 
muitas pesquisas e alinhamentos teórico-filosóficos, muitas discussões e 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
desentendimentos, e deixaram um hiato quanto à orientação metodológica 
da Educação Física escolar.
No final da década de 1990, uma força-tarefa de pedagogos especialistas 
de cada área foi convocada pelo MEC, e foram produzidos os Parâmetros 
Curriculares Nacionais (PCN), que nortearam de forma conciliadora a 
Educação Física através de abordagens plurais de temas transversais.
A Educação Física evolui para uma aproximação cada vez maior com 
a saúde. Pareceres da Organização Mundial da Saúde e a criação de 
programas do Sistema Único de Saúde envolvem a Educação Física em 
ações multidisciplinares preventivas através da educação para a saúde. É o 
caso do Núcleo de Apoio e Estratégia à Saúde da Família (NASF).
De forma geral, a prática de exercícios visando a prevenir e combater 
doenças relacionadas ao estilo de vida sedentário e aos maus hábitos de 
alimentação parece se desenvolver em todas as esferas da sociedade. A 
adesão a esses programas parece estar relacionada ao grau de escolaridade 
e informação a respeito da saúde.
 Exercícios
Questão 1. Observe a notícia e a charge, divulgadas na época das Olimpíadas 2016, em que a 
seleção feminina de futebol se destacou em várias partidas e a masculina apresentou mau futebol nas 
primeiras partidas:
“O planejamento que falta na seleção brasileira masculina sobra na feminina e a impulsiona na 
preferência do torcedor. Por isso, Marta e companhia entram em campo nesta terça-feira, em Manaus, 
apenas para carimbar o primeiro lugar da chave contra a África do Sul. O jogo começa às 22h.
Maior artilheira do futebol olímpico, Cristiane ficará de fora da partida. O exame de ressonância 
magnética feito na coxa direita da atacante constatou “uma pequena lesão” no bíceps femural, segundo 
nota da CBF, e a jogadora passará por novos exames que irão definir se ela pode se recuperar para 
prosseguir na competição.
As goleadas sobre a China e Suécia impulsionaram a popularidade da seleção feminina na Olimpíada. 
O jogo de estreia levou 27 mil pessoas ao Engenhão – público de causar inveja ao Botafogo, dono do 
endereço. Na segunda, quase público de Flamengo em boa fase – mais de 42 mil pessoas assistiram às 
meninas em campo. Por isso, a seleção já tem vaga garantida nas quartas de final.”
Fonte: JÁ CLASSIFICADA, seleção feminina de futebol entra em campo nesta terça. GaúchaZH, Porto Alegre, 8 ago. 2016. 
Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2018.
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Fonte: . Acesso em 28 mar. 2017.
Analise as afirmativas a seguir:
I – A charge retrata uma situação específica durante a Olimpíada, na fase em que a equipe feminina 
mostrou melhor desempenho e maior esforço do que a masculina e a jogadora Marta viveu um período 
de alta popularidade.
II – A charge e a notícia mostram a efetiva mudança de mentalidade que ocorreu após a Olimpíada 
de 2016, quando a seleção feminina de futebol passou a ser mais valorizada e a ter mais apoio financeiro 
do que a masculina.
III – De acordo com a notícia, os jogos da seleção feminina na Olimpíada tiveram público maior do 
que os disputados pelo time masculino.
Está correto somente o que se afirma em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e III.
E) II e III.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das afirmativas
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I – Afirmativa correta. 
Justificativa: a charge mostra a época em que a seleção feminina esteve em alta, devido aos bons 
resultados, e Marta conquistou muitos fãs.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: não houve mudança de mentalidade e, após a competição, a seleção feminina voltou a 
sofrer com os problemas de falta de investimento e de patrocínio.
III – Afirmativa incorreta. 
Justificativa: a notícia não compara os públicos das seleções feminina e masculina.
Questão 2. Considere a notícia a seguir, publicada em janeiro de 2017, e a charge:
“A obesidade e o sobrepeso vêm aumentando no Brasil, assim como em toda a América Latina 
e Caribe, com um impacto maior nas mulheres e uma tendência de crescimento entre as crianças, 
aponta relatório conjunto da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a 
Organização Pan-americana de Saúde (Opas) divulgado recentemente. De acordo com o levantamento, 
intitulado ‘Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe’, mais da metade 
da população brasileira está com sobrepeso e a obesidade já atinge a 20% das pessoas adultas no país, 
enquanto 58% da população latino-americana e caribenha estão com sobrepeso, num total de 360 
milhões de pessoas, e a obesidade afeta 140 milhões, ou 23% da população regional.
Segundo o documento, elaborado com base em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 
o sobrepeso em adultos no Brasil passou de 51,1% em 2010, para 54,1% em 2014. A tendência de 
aumento também foi registrada na avaliação nacional da obesidade. Em 2010, 17,8% da população era 
obesa; em 2014, o índice chegou aos 20%, sendo a maior prevalência entre as mulheres, 22,7%. Outro 
dado do relatório é o aumento do sobrepeso infantil. Estima-se que 7,3% das crianças menores de cinco 
anos estão acima do peso, sendo as meninas as mais afetadas, com 7,7%.
[...] Combater essa realidade implica adotar sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis que 
unam agricultura, alimentação, nutrição e saúde. É necessário fomentar a produção sustentável de 
alimentos frescos, seguros e nutritivos, garantir a oferta, a diversidade e o acesso, principalmente da 
população mais vulnerável. Isso deve ser complementado com educação nutricional e advertências para 
os consumidores sobre a composição nutricional dos alimentos ricos em açúcar, gordura e sal.
Fonte: SOBREPESO e obesidade em alta no Brasil, diz ONU. O Globo, Rio de Janeiro, 24 jan. 2017. 
Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2017.
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Fonte: . Acesso em: 27 mar. 2017.
Analise as afirmativas a seguir:
I – A charge satiriza a evolução humana, indicando que o homem contemporâneo está acima do 
peso devido à sua alimentação, fato também destacado no texto.
II – As mulheres e as meninas, no período de 2010 a 2014, no Brasil, mostraram-se mais afetadas 
pelo aumento de peso: o índice de mulheres obesas chegou a 22,7%.
III – O estilo de vida das pessoas, como o sedentarismo ou a prática de atividades físicas, não 
influencia na massa corporal, que depende somente de alimentação saudável.
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, está correto o que se afirma apenas em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) I e III.
Resolução desta questão na plataforma.
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FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
09-PREHISTORY-A.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 2
TLACH3.GIF. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 3
A_E2AD5C64398D72C920C4EA6CC7339C9BTORA.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 4
EBERS, G. Egypt: descriptive, historical, and picturesque. New York: Cassell & Company, 1878. v. 1. p. 166.
Figura 5
ORIG_22083.JPEG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 6
PELOPWARMAP.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 
jan. 2017.
Figura 7
PICÓN, C. A. et al. Art of the Classical World in the Metropolitan Museum of Art: Greece, Cyprus, 
Etruria, Rome. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2007. p. 386.
Figura 8
MÍRON. Discóbolo. 455 a.C. Mármore. 1,7 m. The British Museum.
Figura 9
3476_B.PNG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
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Figura 11
ZEUS-STATUE.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 
jan. 2017.
Figura 13
DELLA VALLE, P. Milo of Croton. 1824. Óleo sobre tela. Accademia Nazionale di San Luca.
Figura 14
PIATTI, P. The Heraean Games. 1901. Óleo sobre tela.
Figura 15
ROMANEMPIRE_117.SVG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 16
GROSSE. Heidelberger Liederhandschrift. c. 1300. Miniatura.
Figura 17
BUONARROTI, M. David. 1501-4. Mármore. 5,17 m.
Figura 18 
LA TOUR, M. Q. Retrato de Jean-Jacques Rousseau. Século XVIII. Pastel em papel. Musée de France.
Figura 19
200PX-JOHANN_HEINRICH_PESTALOZZI.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 20
JOHANN-BASEDOW-273X300.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 21
PEHR_HENRIK_LING.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
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Figura 22
ROPERS-GYMNASIUM.-274-MARKET-STREET-PHILADELPHIA-.-274-MARKET-STREET-PHILADELPHIA-
775X527.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 23
JOINVILLE-LE-PONT-ECOLE-DE-GYMNASTIQUE-ET-DESCRIME-14-C1910-775X507.JPG. Disponível 
em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 24
280PX-FRIEDRICH_LUDWIG_JAHN-230X300.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 25
THAMES_V_TOWNSEND_FOOTBALL_GAME_1846.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 30
150722-HITLER-OLYMPICS-1936-JPO-624A_9015479C78DBDD8F4112AAA874616024.NBCNEWS-
UX-2880-1000.JPG. Disponível em: . 
Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 31
800X600.WCF2K4KNMV9ZH3JNRX3A916FC8.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 32
FORD_MOTOR_COMPANY_ASSEMBLY_LINE.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 33 
ARTICLE-0-1E8537C100000578-987_306X423.JPG. Disponível em:. Acesso em: 5 jan. 2017.
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Figura 34 
SPAC-CA1905-WCWMILLER.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 35 
FRIEDENREICH-1921.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
Figura 36
BRAZIL_1970.JPG. Disponível em: . Acesso em: 5 jan. 2017.
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Audiovisuais
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100 minutos.
O NOME da rosa. Dir. Jean-Jacques Annaud. Alemanha; França; Itália: Neue Constantin Film, 1986. 130 minutos.
PRA FRENTE Brasil. Dir. Roberto Farias. Brasil: Embrafilme, 1982. 105 minutos.
ROCKY IV. Dir. Sylvester Stallone. EUA: United Artists, 1985. 91 minutos. 
SNATCH: porcos e diamantes. Dir. Guy Ritchie. Inglaterra; EUA: Columbia Pictures, 2001. 103 minutos.
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(FIGUEIREDO, 2002). 
Em Monte Albán (cidade principal da cultura zapoteca, próximo à atual cidade de Oaxaca), somente 
os principais nobres e sacerdotes estavam aptos a presenciar as disputas (esse povo não tinha o hábito 
de sacrifícios humanos). No entanto, em Tenochtitlán (a capital asteca), no final das partidas, o time 
perdedor inteiro era sacrificado, enquanto que o autor do “gol” ficava sozinho dentro do campo e era 
homenageado pelos espectadores, que lhe arremessavam suas joias, ouro e plumas, consideradas tão 
valiosas quanto joias (FIGUEIREDO, 2002).
Em Chichén Itzá (cidade do final do período maia, na península do Yucatán), um dos times jogava 
utilizando roupas feitas de pele de jaguar e o outro com roupas feitas com penas de águia. Nesta 
cidade os times tinham um capitão. Este era o único habilitado a fazer o ponto, o que tornava as 
partidas mais demoradas ainda. No final da disputa os times se posicionavam em fila atrás de seus 
capitães e estes se posicionavam um de frente para o outro; então, o capitão do time perdedor 
decapitava o capitão do time vencedor. Para o povo de Chichén Itzá essa era uma morte honrosa e 
desejável, pois era um sacrifício honroso e quem morria se tornava imortal segundo a crença daquele 
povo (FIGUEIREDO, 2002).
Figura 2 
Preparação guerreira
Os povos antigos passaram a ter maior envolvimento em conflitos bélicos após a sua fixação 
no solo com o advento da Revolução Agrícola. Os povos vizinhos ou nômades passaram a cobiçar 
suas terras e riquezas, atacando vilarejos e comunidades. O treinamento fez-se necessário para 
aperfeiçoar as destrezas dos guerreiros, que a princípio usavam suas habilidades motoras e 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
capacidade física apenas para caçar (corrida, lançamentos e saltos). Na guerra, aquele que fosse 
mais eficiente sobrevivia. A oportunidade de errar não era mais oferecida; qualquer erro na pontaria 
poderia significar sua própria morte. 
Jogos, brincadeiras e educação
A componente lúdica sempre esteve associada à vida do homem. Por meio de jogos e brincadeiras, 
crianças e jovens imitavam e aprendiam as atividades da vida cotidiana adulta. Os adultos também 
brincaram sempre. Os jogos adultos serviam como dramatizações de episódios importantes para a 
vida do seu povo: eram guerras, representações do trabalho etc. Dessa forma, os jogos e brincadeiras 
adquiriam um grande potencial pedagógico para os povos antigos, estando envolvidos também com 
ritos de passagem para a vida adulta.
Muitos povos indígenas do Brasil disputam lutas e corridas de toras como rituais ou mesmo como 
diversão, como preparação para a vida adulta.
Os xavante, índios radicados no Mato Grosso do Sul, apreciam as lutas corporais wa’i e as corridas 
de revezamento com toras de buriti, chamadas uiwede. Elas incitam rivalidades amistosas entre os 
jovens, cultivando qualidades muito importantes para o tradicional estilo de vida xavante: a força e a 
resistência físicas. 
As lutas wa’i ocorrem antes da condução dos garotos à casa dos solteiros, momento em que se 
tornam oficialmente membros de uma das oito classes de idade xavante. Nas lutas, meninos da mesma 
idade, assim como meninas, reagem às provocações de um homem adulto. Em pé, ambas as partes se 
engalfinham vigorosamente, e os combates terminam quando uma delas, em geral o adulto, consegue 
derrubar a criança (GRAHAM, 2008). 
Figura 3 
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Unidade I
Quando ocorre de meninas serem convocadas ao ringue para lutar o wa´i, é muito frequente 
que se juntem para arremeter coletivamente contra um único homem adulto, a quem perseguem 
numa divertida batalha, em que os espectadores se divertem incentivando o combate com gritos 
e risos (GRAHAM, 2008).
Nas corridas de revezamento, cada participante esforça-se ao máximo ao longo de trechos curtos, 
portando sobre os ombros uma enorme e pesada tora de buriti (aproximadamente 80 quilos para os 
homens e 60 para as mulheres). Em seguida, trata de transferir a tora aos ombros de algum outro membro 
de sua equipe, da mesma classe de idade. Essas toras extremamente pesadas são transportadas pelos 
corredores ao longo de trajetos de extensão aproximada entre seis e oito quilômetros, que terminam no 
centro da aldeia (GRAHAM, 2008). 
Embora apenas adultos possam transportar as toras, essas corridas são acompanhadas por todos 
os membros fisicamente aptos da comunidade, o que faz delas eventos muito animados. O correr com 
toras é, sem dúvida, uma das atividades esportivas favoritas dos xavante (GRAHAM, 2008).
 Lembrete
Povos antigos foram dominados pelos europeus não por serem menos 
evoluídos, mas por terem menos recursos militares. Alguns povos tinham 
sistemas sociais mais organizados do que os europeus. 
2.2 O sedentarismo na sociedade contemporânea
Nas civilizações contemporâneas, a atividade física humana não é mais uma ferramenta essencial 
à sobrevivência, pois os meios produtivos apresentam-se automatizados, eletrônicos, com fontes de 
energia fóssil (petróleo) elétrica, quando não atômica. O homem não precisa mais de seu corpo para se 
locomover – automóveis, motocicletas e elevadores cumprem melhor o papel. A comida não tem mais 
que ser caçada – está pronta para o consumo, enlatada, ensacada, industrializada.
Devido ao grande desenvolvimento tecnológico, científico e filosófico, o homem conseguiu resolver 
grande parte das questões que conturbavam sua vida. Atualmente, existe uma explicação racional para 
quase tudo, o homem perde cada vez mais o contato com o sagrado. As religiões contemporâneas não 
usam mais o movimento do corpo como meio de comunicação com Deus. A prática de atividade física 
foi racionalizada, passa por grande análise científica e filosófica.
A preparação guerreira ainda usa o treinamento do corpo como instrumento de combate, apesar de a 
tecnologia bélica reduzir cada vez mais a presença do homem no local de combate (mísseis inteligentes, 
veículos blindados, aviões etc.). Outra questão importante é o fato de apenas uma pequena parcela 
da população participar do contingente militar atualmente. A guerra não é mais uma constante para 
todos os países como nos tempos antigos. Atualmente, acordos diplomáticos e alianças estratégicas 
(econômicas e políticas) reduziram as guerras.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Os jogos e brincadeiras continuam assumindo o papel educacional na vida contemporânea. 
Atividades físicas resistem ao tempo passando de geração para geração como importante ferramenta 
de socialização entre os homens, muitas vezes tornando-se as principais manifestações corporais 
do mundo atual. No entanto, mesmo as brincadeiras e jogos lúdicos envolvendo o movimento do 
corpo humano encontram-se ameaçados pelos avanços tecnológicos do mundo contemporâneo. 
Brinquedos eletrônicos reduzem drasticamente a execução de atividade física – são videogames, 
computadores, simuladores de modalidades esportivas, nos quais os dedos são as únicas partes do 
corpo que se movimentam.
No entanto, as necessidades fisiológicas e metabólicas do ser humano continuam bastante 
parecidas com as de nossos antepassados caçadores e lavradores, que usavam, de forma árdua, o 
esforço físico para garantir a sobrevivência. O organismo humano possui metabolismo bastante 
econômico e delicado. O consumo de calorias em quantidade superior ao gasto energético diário, 
associado à perda de massa magra gerada pelo sedentarismo, tem levado a humanidade a uma 
condição generalizada de sobrepeso e obesidade.
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corporal – IMC acima de 25 kg/m!) e 17,9% estão em nível de obesidade (IMC maior que 30). A pesquisa 
ainda revela que 49% dos entrevistados fazem atividades físicas de forma insuficiente (menos que 150 
minutos por semana, segundo recomendação da Organização Mundial da Saúde – OMS), sendo que 
15% são inativos (BRASIL, 2015)
A obesidade associada ao consumo alimentar inadequado é responsável pelo desenvolvimento 
das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que são hoje as maiores responsáveis pelas causas 
de morte no mundo. A partir da obesidade e do quadro de sedentarismo, aumenta a incidência de 
doenças como diabetes mellitus II, hipertensão arterial, dislipidemias (colesterol e triglicérides), 
aterosclerose, câncer de mama, câncer de colo do útero e os casos de morte por mal súbito, 
infarto agudo do miocárdio.
A prática de exercícios físicos em locais voltados para a saúde, como academias, clínicas e estúdios, 
tem aumentado bastante. O homem contemporâneo, assolado por doenças degenerativas causadas pelo 
sedentarismo, pelo estresse e pela alimentação industrializada, passou a procurar locais para praticar 
atividades físicas, bem como a buscar opções mais saudáveis de alimentação.
A cultura mundial do fitness é alavancada por dois fatores principais: as questões da saúde, de 
forma preventiva ou remediada, e a estética ditada por padrões inatingíveis de corpos construídos e 
amplamente divulgados pela mídia.
Contudo, em sua busca desenfreada por conforto, tecnologia e eficiência, o homem baniu a 
atividade física de sua vida e agora tem de resgatá-la atendendo ao chamado do seu corpo e de sua 
herança genética.
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Unidade I
Exemplo de aplicação
Reflita: o que podemos aprender com os homens antigos que habitavam o mundo antes do processo 
de civilização, antes do alto desenvolvimento tecnológico? Podemos olhar para seus hábitos, suas 
necessidades e questionar as capacidades de movimento do corpo humano. O homem antigo precisava 
correr, saltar, escalar, levantar e carregar pesos, nadar, arremessar, entre outras habilidades vigorosas. 
Todas essas ações eram necessárias para a sobrevivência diária. Havia a necessidade de muito esforço 
físico e muito gasto de energia para sobrevivência em um mundo hostil onde havia escassez de alimento. 
Essas condições geraram adaptações físicas e metabólicas no corpo humano, deixando um registro 
genético. Os hábitos motores e alimentares do mundo cotidiano são incompatíveis com a programação 
genética metabólica que herdamos. 
O alimento nos dá prazer e saciedade; estes registros sensoriais são importantes para a sobrevivência. 
No entanto, essas percepções foram desenvolvidas em um período de escassez e hoje vivemos em 
uma época de abundância de alimento e de sedução para o consumo e para o prazer. Induzidos pela 
propaganda da mídia, buscamos alimentos prazerosos antes de pensarmos em alimentos nutritivos, 
pois queremos ter prazer. Ingerimos mais alimentos do que precisamos, pois queremos estender nossa 
sensação de prazer pelo maior tempo possível.
Substituímos a alegria de correr, nadar, dançar e brincar, usando plenamente nossos corpos, por 
lazeres virtuais que geram sensações simulando experiências reais, no videogame, celulares, internet, 
televisão e filmes. Como resultado, estamos cada vez mais parados e cada vez mais alimentados, 
confinados como animais na engorda; somos mantidos conectados em aparelhos do mundo virtual e 
induzidos a consumir guloseimas cada vez mais deliciosas.
Estamos ficando doentes; somos uma geração de obesos, diabéticos e hipertensos precoces. 
Deterioramos nossos corpos com toxinas, resíduos e conservantes, antibióticos e hormônios.
Pesquisas não faltam para apontar para o risco do consumo de açúcar, gorduras saturadas, agrotóxicos 
e conservantes. Opções crescem a cada dia para consumirmos alimentos naturais, orgânicos e com baixo 
índice glicêmico.
Fazer exercícios também é uma opção. Não faltam academias, clubes, parques, programas, 
aplicativos, para todos os gostos e faixas de poder aquisitivo. A grande desculpa é a falta de tempo, pois 
trabalhamos muito, perdemos muito tempo indo de um trabalho para o outro para podermos aumentar 
desesperadamente nossa renda e honrarmos nossas contas motivadas pela sedução fugaz da mídia em 
nossa sociedade de consumo.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
3 OS EXERCÍCIOS NO MUNDO ANTIGO
3.1 A civilização egípcia e os exercícios físicos
A civilização egípcia cresceu às margens do Rio Nilo, no nordeste africano, beneficiando-se do 
regime de cheias deste que é um dos maiores rios do mundo em extensão e volume de águas. Durante a 
cheia, as margens do Rio Nilo são submersas e fertilizadas, permitindo a agricultura no período de seca 
(VICENTINO; DORIGO, 2013).
Há cerca de cinco mil anos, um grande aumento populacional impulsionou o Egito em seu 
desenvolvimento civilizatório, e a construção de barragens e canais se fez necessária para expandir 
a produção agrária. A evolução política acompanhou o rápido aumento populacional. O Egito 
passou de um conjunto de comunidades a uma dinastia. A concentração de poder nas mãos de um 
faraó, considerado um deus vivo, fez com que essa forma de poder perdurasse por milhares de anos 
(VICENTINO; DORIGO, 2013).
A sociedade egípcia era formada em sua base por uma grande população de camponeses e artesãos, 
que pagavam tributos e prestavam serviços compulsórios ao faraó nas plantações, obras e construções 
públicas. Os escravos também faziam parte dessa base de trabalho e eram constituídos por povos 
capturados em guerras. A história do Egito pode ser dividida em três grandes períodos: o Antigo Império 
(c. 3200 a.C.-2300 a.C.), o Médio Império (c. 2000 a.C.-1580 a.C.) e o Novo Império (c. 1580 a.C.-525 a.C.). 
Nesses períodos, o Egito foi governado por faraós de 26 dinastias. O declínio dessa imponente civilização 
se deu com a invasão dos persas, em 525 a.C. Em sua história mais recente, o Egito foi dominado por 
vários povos, tornando-se província do Império Persa, território ocupado por macedônios, romanos, 
árabes, turcos e ingleses (VICENTINO; DORIGO, 2013).
 Saiba mais
Obra do aclamado escritor premiado com o Prêmio Pulitzer Norman 
Mailer, o romance indicado a seguir ilustra o cotidiano da corte dos faraós 
do Egito:
MAILER, N. Noites antigas. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
3.1.1 Os exercícios físicos no Egito Antigo
As práticas de exercícios, jogos e disputas atléticas no Egito se mostram bastante diversas, e existe 
uma grande quantidade de pinturas e registros destas práticas em ruínas e sítios arqueológicos estudados 
na era contemporânea. São encontrados afrescos com a representação de exercícios de ginástica, lutas 
e exercícios individuais. No Egito Antigo não se tem registro de jogos coletivos ou disputas de torneios 
grandiosos; as práticas visavam à preparação guerreira, apresentações individuais e entretenimento 
(RAMOS, 1982).
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Unidade I
Em muitas pinturas antigas egípcias são observados jogos recreativos infantis, lutas, jogos com bola, 
jogos com arcos, disputas diversas que apresentam características lúdicas das crianças e jovens egípcios.
Os egípcios também se dedicavam bastante à ginástica. Inúmeras ilustrações antigas sugerem uma 
metodologia bastante elaborada para a prática de suspensões, pontes, posturas acrobáticas em duplas, 
trios ou mais participantes (RAMOS, 1982).
Figura 4 – Exercícios ginásticos no Antigo Egito
Em exercícios individuais, são registradas imagens de arremesso, corridas, levantamento de 
pesos e natação. Muitos faraós eram adeptos da corrida e registraram isso em suas tumbas, entreeles Seti I e Ramsés II.
Os egípcios também apreciavam apresentações de lutas – entre elas, existem registros de luta livre, 
boxe e esgrima. No túmulo de Ptah-Hotep há uma cena com várias ilustrações de jovens lutando com 
vitalidade (RAMOS, 1982).
Figura 5 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Com apoio nos desenhos, pinturas, estátuas, baixos-relevos e inscrições achados em monumentos 
e sarcófagos, estima-se que os egípcios praticavam variadas formas de exercício há mais de 40 séculos 
a.C. Os exercícios físicos buscavam a aquisição de saúde e vigor, para o trabalho, para a preparação 
guerreira ou simplesmente como prática lúdica. Os jovens egípcios buscavam seguir o exemplo de seus 
reis e faraós e, em particular, procuravam imitar suas façanhas desportivas (RAMOS, 1982).
O faraó, por ocasião de festividades populares e celebrações, costumava mostrar suas habilidades e 
destrezas físicas. Essas demonstrações de vigor e maestria aumentavam seu prestígio e exaltavam seu 
poder real.
Amenófis II foi um atleta de grande porte físico, sendo admirável na prática do remo, equitação, 
corrida e arco e flecha. Registros afirmam que era impressionante sua pontaria com o arco quando 
estava em seu carro em movimento.
Exemplo de aplicação
A sociedade egípcia era duramente estratificada, usava mão de obra escrava, apoiava-se em um 
regime de governo centralizado na figura do faraó, que tinha seu poder justificado por sua linhagem 
divina. Esse governo, apoiado na mística figura do governante, tinha em seu alto escalão sacerdotes e 
conselheiros próximos ao faraó. A população tinha pouca possibilidade de ascensão social diante da 
aristocracia instalada. A participação política era nula. Diante dessa condição, o cidadão egípcio não 
era estimulado a participar de forma criativa dos processos produtivos do reino. A falta de autonomia e 
participação também é expressa na prática do exercício, na qual se estimulavam jogos, lutas, equitação, 
arco, entre outros, como forma de preparação utilitária militar. No entanto, não havia uma participação 
atlética voluntária e livre para todos. As apresentações de destrezas físicas visavam, no Egito Antigo, 
a entreter o povo e os membros da corte e reforçar a distinção social entre o faraó e seus súditos, 
exaltando em seus gestos atléticos sua condição divina distinta. 
A história egípcia nos mostra que quanto maior a discrepância social e maior a centralização do 
poder, menos participativo e criativo é o povo. Faça uma analogia com as formas de poder presentes no 
mundo contemporâneo e reflita sobre como os exercícios físicos e o esporte são dirigidos em função da 
concentração de poder. 
3.2 Os exercícios físicos na Grécia Antiga
3.2.1 Contexto histórico geral
A população grega foi formada pela miscigenação entre cretenses, aqueus, dórios, jônios e eólios, 
povos que se envolveram em conflitos, migrações e invasões e se difundiram pelas ilhas e pelo continente 
que hoje conhecemos como Grécia. Muitas colônias foram formadas na costa ocidental da Ásia, tal 
como Mileto, e outras se fixaram na Península Itálica, tal como Siracusa. Esses povos eram dedicados 
à navegação, às relações comerciais e ao combate. Vieram a desenvolver um povo responsável pela 
estruturação da cultura ocidental. 
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Unidade I
Devido ao grande aumento populacional e à escassez de terras férteis na Grécia, a população 
iniciou um processo de expansão no Mediterrâneo, fundando inúmeras cidades na Itália, na Sicília. Na 
Península Balcânica e na orla do Mediterrâneo surgiram mais de cem cidades gregas, sendo as duas mais 
expressivas Atenas e Esparta (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.2.2 A pólis de Esparta
Esparta ficava na região da Lacônia, na Península do Peloponeso, e foi fundada pelos dórios. Esparta 
constituiu-se como cidade guerreira, com política monárquica autocrática, tendo sido líder de cidades 
vizinhas no Peloponeso, com quem fez alianças comerciais e militares. A sociedade espartana era formada 
pela elite militar espartana de origem dórica, que concentrava o poder político e religioso. Havia ainda 
os periecos, pequenos proprietários, artesãos e comerciantes; e os hilotas, servos de propriedade do 
Estado que eram explorados pelos senhores espartanos. Em Esparta, o monopólio político e religioso 
estava nas mãos da elite espartana, formada por cidadãos guerreiros. A organização monárquica de 
Esparta evoluiu para uma condição oligárquica. A cidade tinha dois reis, um com funções militares e 
outro com direcionamento político e administrativo. Ambos se submetiam a dois conselhos, a Apela, 
assembleia de guerreiros, e a Gerúsia, conselho de anciãos (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Esparta manteve-se estável em suas tradições e regime oligárquico. Não sofreu grande expansão 
populacional, o que lhe conferiu controle econômico, mas também ocasionou ruína em períodos de 
grandes guerras, quando a baixa de homens adultos era grande em combate. A sociedade espartana, 
menos dinâmica que as demais, permaneceria, assim, oligárquica e aristocrática, não sofrendo influência 
política democrática, sendo mais estável do ponto de vista político e menos dinâmica do ponto de vista 
social, característica proporcionada pela falta de mobilidade social, pois os hilotas (servos) e periecos 
artesãos eram visto como castas inferiores e não se misturavam aos espartanos (VICENTINO; DORIGO, 
2013).
Os espartanos, altamente militarizados, mantiveram o poder pela força. Apesar de serem 
numericamente inferiores, eles possuíam as melhores terras e mais riquezas. Os filhos dos espartanos 
eram educados pela pátria a partir dos 7 anos de idade, quando passavam a pertencer à cidade e não 
mais à sua família. A rigorosa educação militar se desenvolvia arduamente até os 18 anos de idade, 
quando se iniciava o período de serviço militar. Ao completar 30 anos, o espartano era levado à cidade 
para se casar e ter filhos, mas continuava a servir a pátria com suas habilidades militares até completar 
60 anos, quando era admitido na Gerúsia, conselho de anciãos, e dispensado do serviço militar. Poucos 
chegavam a ter esta honra (VICENTINO; DORIGO, 2013).
3.2.3 A pólis de Atenas
Atenas foi formada a partir da junção de aqueus, eólios e jônios. A cidade era bastante atrativa por 
seu porto de Pireu e se tornou grande centro comercial, político e militar. A cidade-estado de Atenas 
cresceu em influência e poder, tornando-se, assim como Esparta, líder em relações comerciais e militares, 
conquistando vasta área de influência perante as cidades aliadas. Situada na região continental da Grécia 
(Ática), possuía posição estratégica em função de seu porto e de uma extensa muralha construída para 
proteger e ligar a cidade ao porto (VICENTINO; DORIGO, 2013).
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Após a destituição do último basileu, Atenas abandonou o regime monárquico tirânico e 
desenvolveu um regime político oligárquico, no qual um arconte era designado para administrar a 
cidade por um ano sob a fiscalização de um conselho aristocrático formado pelos eupátridas. Por 
volta do século VIII a.C., os atenienses colonizaram comunidades e povoamentos espalhados pelo 
Mediterrâneo a fim de suprir a cidade, cada vez mais populosa. As cidades colonizadas na Península 
Itálica e no Mar Negro forneciam trigo, metais e madeira. Em troca, Atenas vendia-lhes vinho, azeite 
e artesanatos (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
A expansão para o Mediterrâneo gerou grande enriquecimento dos comerciantes e acentuou 
diferenças e conflitos. Os produtores de trigo locais não podiam concorrer com o produto mais barato e 
abundante das colônias e acabaram perdendo suas terras e sendo escravizados. Os ricos proprietários de 
terrae comerciantes atenienses ricos começaram a questionar o conselho de eupátridas, aumentando 
ainda mais as tensões sociais originárias do crescente poder gerado pela ascensão econômica (VICENTINO; 
DORIGO, 2013).
O crescente quadro de instabilidade levou vários legisladores atenienses a fazerem propostas para 
superar os conflitos e atenuar as tensões sociais. Os mais importantes foram Drácon, que organizou e 
tornou público um registro escrito das leis, e Sólon, que eliminou a escravidão por dívidas, retroagindo 
a anistia aos devedores, dividiu a sociedade de acordo com a renda de cada indivíduo, possibilitando 
a ascensão social, e criou a Bulé, conselho formado por quatrocentos membros do povo com funções 
administrativas e legislativas. As leis criadas pela Bulé eram levadas ao veredito da Eclésia, assembleia 
popular. Sólon foi responsável pela estruturação do regime democrático (demo: povo; cratos: poder). 
No entanto, as reformas propostas por Sólon desagradaram a elite eupátrida e intensificaram as lutas 
sociais, que levaram a um período de líderes autocráticos tiranos (MANFREDI, 2008).
Em meados de 500 a.C., Atenas sofre novo processo de reordenação democrática pelas mãos do 
estadista Clístenes (c. 570 a.C.-508 a.C.), que destituiu a tirania e fez reformas políticas democráticas e 
pacificadoras. O governante dividiu os atenienses em dez tribos, formadas de acordo com o território 
em que residiam. A Bulé passou a ter cinquenta representantes por tribo, sendo a presidência assumida 
de forma alternada por membros de todas as tribos, por períodos iguais. A Eclésia passou a ter maiores 
poderes legisladores. Clístenes criou ainda o ostracismo, um mecanismo que condenava ao exílio de 
dez anos todo cidadão rico e poderoso o suficiente para colocar em risco a democracia. A regência de 
Clístenes marca o Período Clássico da Grécia (MANFREDI, 2008). 
3.2.4 Período Clássico (séculos V a.C.-IV a.C.)
O Período Clássico foi marcado por grandes guerras contra os persas e entre as cidades gregas. 
Também foi um período de grande florescência cultural, com grande desenvolvimento da filosofia, das 
ciências e das artes. Grandes pensadores, como Sócrates, Platão e Aristóteles, viveram nesse período, que 
é considerado o apogeu da civilização grega antiga, deixando um imenso legado para a constituição da 
cultura ocidental contemporânea.
A primeira investida dos persas sobre a Grécia ocorreu no episódio que ficou conhecido como 
Guerras Médicas (em referências aos medos, povo persa). Entre 490 a.C. e 479 a.C., liderados por 
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Unidade I
Dario I, os persas desembarcaram na Grécia, mas foram derrotados pelo Exército ateniense na Planície 
de Maratona. Após essa guerra, os atenienses reforçaram sua frota naval. A segunda ofensiva persa 
iniciou-se em 480 a.C., quando o imperador Xerxes comandou aproximadamente 100 mil contra a 
Grécia. Os gregos, em menor número, uniram-se contra os invasores, mas só conseguiram retardar 
o avanço persa no Desfiladeiro de Termópilas. Os persas conseguiram invadir e saquear Atenas 
(MANFREDI, 2008). 
Um fato interessante aconteceu durante os desdobramentos da batalha de Maratona. O confronto 
com os persas ocorreu em Maratona, cerca de 40 quilômetros distante de Atenas. A esquadra persa, 
acampada na praia, foi surpreendida pelas tropas atenienses, repletas de hóplitas (soldados com 
armamento pesado). O Exército persa, em maior número (cerca de 100 mil soldados), contava com 
milhares de arqueiros que impossibilitavam o avanço a média distância. Os soldados atenienses e de 
Plateia somavam apenas 12 mil homens, muito bem treinados e fortemente armados com escudos 
pesados de bronze, lanças e elmos. No entanto, ainda de madrugada, o Exército grego levantou-se 
silenciosamente e avançou sem ser percebido até uma distância de 200 metros das tropas persas. Nessa 
distância, os bem condicionados hóplitas gregos avançaram em velocidade e furor contra as tropas 
persas de Dátis. Os persas foram pegos de surpresa e não conseguiram acionar seus arqueiros. O violento 
embate corpo a corpo com os gregos, liderados por Milcíades, gerou pesadas perdas aos persas, que 
bateram em retirada (MANFREDI, 2008).
Pelo mar, Dátis ordenou que a frota persa rumasse para Atenas, que estava pouco protegida, pois a 
maior parte das tropas gregas estava em Maratona. A ideia era fazer o regimento ateniense pensar que 
seu Exército havia sido esmagado pelos persas, obrigando a abertura dos portões e a rendição da cidade.
No entanto, Milcíades chamou o mensageiro Filípides, que havia lutado a manhã toda ao lado de 
seus companheiros, e ordenou que levasse a mensagem da vitória grega até Atenas, evitando que se 
rendessem aos persas (MANFREDI, 2008).
Filípides livrou-se de seu armamento pesado e de suas vestes e correu imediatamente para avisar os 
atenienses. Ele percorreu, em poucas horas, a distância de cerca de 40 quilômetros que separa Maratona 
de Atenas, chegando antes da frota persa. Ao chegar, esgotado, gritou: “Nike! Nike! (Vitória! Vitória!)” 
e caiu morto. Os atenienses entenderam o recado e fecharam os portões da cidade, reforçando as 
muralhas e acabando com a farsa persa. Os persas recuaram (MANFREDI, 2008).
O feito heroico de Filípides foi imortalizado pelo renomado historiador grego Herótodo. Em 1896, 
o barão Pierre de Coubertin restaurou a realização dos Jogos Olímpicos. Na ocasião, a sede foi Atenas. 
Para homenagear o feito de Filípides, Coubertin idealizou uma prova de corrida com 42 quilômetros 
e a nomeou de Maratona. Para abrilhantar ainda mais o momento, o campeão da primeira Maratona 
foi Spiridon Louis, um pastor de ovelhas grego. Atualmente, a Maratona é disputada a cada quatro 
anos por ocasião dos Jogos Olímpicos e em outras inúmeras realizações esportivas por todo o planeta 
(MANFREDI, 2008).
As frequentes incursões dos persas contra a Grécia fizeram com que as cidades-estados gregas 
firmassem alianças. Após a batalha naval da Salamina, os gregos vitoriosos selaram a aliança conhecida 
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como Liga de Delos. A união era organizada com a cobrança de tributos, que eram usados para sustentar 
as frotas e Exércitos conjuntos, sob a liderança de Atenas, que passou a usar os recursos da Liga de Delos 
para subjugar as demais cidades gregas que eram membros da aliança, interferindo em sua autonomia 
política. Nesse período (de 461 a.C. a 429 a.C), Atenas exerce uma ação imperialista sob o governo de 
Péricles (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
Durante o governo de Péricles, Atenas viveu seu período áureo democrático, no qual aprimorou-se 
a democracia. Péricles criou cargos públicos remunerados, possibilitando a participação popular na 
administração da cidade. Atenas foi restaurada e ornamentada, foi erguido o Partenon (templo em 
homenagem à deusa Palas Atena) e foi construída a grande muralha em torno da cidade, ligando Atenas 
ao porto de Pireu, viabilizando proteção e acesso rápido ao mar em caso de sítio (MANFREDI, 2008).
Lideradas por Esparta, as pólis aristocráticas formaram uma aliança contra Atenas, a Liga do 
Peloponeso. Os conflitos por interesses e a disposição belicosa de Atenas levaram as duas ligas a entrar 
em guerra em 431 a.C., a Guerra do Peloponeso, que durou ao todo 17 anos. Nela, confrontos sangrentos 
dizimaram gerações de ambos os lados da batalha, enfraquecendo a Grécia e a deixando susceptível ao 
ataque de invasores externos. O conflito só terminou em 404 a.C., com a vitória de Esparta (VICENTINO; 
DORIGO, 2013). 
As constantes guerras tiveram como resultado o enfraquecimento das cidades-estados gregas, o que 
abriu caminho para a invasão dos macedônios, povo do norte da Península Balcânica. Em 338 a.C., o rei 
Felipe II conquistou a Grécia e a incorporou ao grande Império Macedônio (VICENTINO; DORIGO,2013).
Figura 6 
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Unidade I
 Lembrete
O mundo grego antigo não era constituído de um único reino ou país; 
era a reunião de cidades-estados independentes entre si, porém com traços 
culturais e origens semelhantes.
3.2.5 Período Helenístico (séculos IV a.C.-II a.C.)
O período iniciado com a conquista da Grécia pela Macedônia, em 338 a.C., foi conhecido como 
Período Helenístico e se estendeu até o século II a.C. Inicialmente governados por Felipe II, os macedônios 
não se limitaram à conquista da Grécia e expandiram suas conquistas para o Oriente. Sob o comando 
de Alexandre, o Grande, filho de Felipe II, o Império Macedônio alcançou vasto território (VICENTINO; 
DORIGO, 2013).
Educado por Aristóteles, Alexandre assimilou valores da cultura grega e, após dominar a Grécia, partiu 
para a expansão territorial, tomando a Ásia Menor e a Pérsia e expandindo seu território à Índia. Morreu 
aos 33 anos (323 a.C.), e o grande Império se desestruturou após sua morte. No entanto, Alexandre foi 
responsável por disseminar a cultura da Grécia por todo o Oriente, chegando até o Egito e ao norte da 
África. As regiões dominadas por Alexandre tinham a sua cultura fundida à cultura grega. Alexandre 
fundou e renomeou inúmeras cidades, várias delas batizadas de Alexandria. Inaugurou inúmeras 
bibliotecas e foi responsável pela dispersão da cultura grega, que, fundida às culturas orientais, ficou 
conhecida como cultura helenística (VICENTINO; DORIGO, 2013). 
 Saiba mais
Obra histórica com leitura acessível, ilustra a ascensão e queda de 
Atenas como pólis imperial no mundo grego antigo.
MANFREDI, V. M. Akropolis: a grande epopeia de Atenas. Rio de Janeiro: 
Rocco, 2008. 
3.2.6 Filosofia, corpo e exercício na Grécia Antiga
Ao estudar os assuntos relacionados à área da Filosofia aplicada à Educação Física, remete-se ao 
Período Clássico grego como forma de buscar uma orientação original. A Grécia, berço da cultura 
ocidental, viveu, em meados do século V a.C., uma grande explosão intelectual que abrangeu as 
esferas mais variadas do saber humano. Filosofia, Astronomia, Medicina, Arquitetura, Poesia, Teatro, 
Direito e Educação são algumas das áreas que alcançaram níveis de crescimento jamais vistos – 
crescimento que, em parte, deve-se ao florescimento do modelo de vida urbano pautado no modelo 
da pólis (CHAUÍ, 2000).
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Nesse período, os grandes pensadores se debruçaram na temática que colocava o homem como 
centro do discurso (antropocentrismo). É nesse meio que as questões do corpo e do exercício passam a 
ser discutidas a fundo por filósofos e seus discípulos.
O corpo era um elemento da existência humana bastante valorizado e cultuado na Grécia Antiga. 
Por diversos fatores e motivos, os gregos exercitavam o corpo, chegando a venerá-lo. Os pensadores 
gregos buscavam dissociar o corpo da alma. Eles acreditavam ser entidades distintas, que viveriam em 
equilíbrio durante a existência humana. O corpo representava o mundo material, suas imperfeições, 
instabilidades e degradações, ao passo que eram sensíveis aos mais diversos problemas enfrentados pelo 
corpo no decorrer da vida, sendo o mais evidente o fato de o corpo perecer, definhar com o passar dos 
anos (CHAUÍ, 2000). A alma, por sua vez, representava o mundo das ideias; aliada à mente, seria uma 
entidade perfeita, eterna, que se aperfeiçoava cada vez mais com o passar dos anos. Era a alma a chama 
da vida humana, que animava o corpo. Já a mente seria a morada dos pensamentos e das ideias, onde 
tudo poderia ser perfeito.
Sócrates (470-399 a.C.) pensava na perspectiva do autoconhecimento. A consciência do corpo e da 
alma levava à evolução do ser humano (“conhece-te a ti mesmo”). Sócrates acreditava no equilíbrio 
entre corpo, alma e mente, sendo que nenhuma dessas partes poderia ser atingida sem que as demais 
também sofressem. Seu pensamento estimulou a assimilação e prescrição da ginástica médica, que 
buscava a saúde do corpo e o equilíbrio do homem como um todo. O pensamento de Sócrates a respeito 
do corpo pode ser perfeitamente adequado à máxima utilizada pela medicina romana, que, por sua vez, 
foi inspirada na Grécia: “mens sana in corpore sano” (CHAUÍ, 2000).
Platão (427-347 a.C.) foi discípulo de Sócrates e seu verdadeiro nome era Aristócles, em uma 
homenagem ao seu avô. Platos significa largura e é quase certo que seu apelido veio de sua 
constituição robusta, ombros e frontes largos, um porte físico forte e vigoroso, que o fez receber 
homenagens por seus feitos atléticos na juventude. Platão defendia a alma como entidade perfeita 
e eterna, ao contrário do corpo, o qual considerava apenas a morada mundana e imperfeita da alma 
(CHAUÍ, 2000).
Apesar de Platão considerar o corpo subordinado à alma, não negava a importância dos cuidados 
para com o corpo, sobretudo a prática da ginástica e das disputas atléticas. No entanto, o adestramento 
do corpo não deveria sobrepor o preparo da mente e da alma. Platão criou, em Atenas, a Academia, 
escola que preconizava a educação do homem como um todo (Paideia). Na Academia, os pupilos de 
Platão aprendiam Filosofia, Poesia e Astronomia e treinavam seu corpo com a prática da ginástica, mas, 
sobretudo, dedicavam-se à Matemática (Geometria). 
Correntes contemporâneas do pensamento humano defendem a perspectiva da unidade 
corpo-mente-alma, em que não se tem um corpo e sim se é um corpo, o corpo sujeito.
A preocupação com o corpo na Grécia Antiga não ficava apenas na esfera filosófica. Os gregos se 
preocupavam bastante com os próprios corpos, sendo o exercício físico uma prática muito disseminada 
na cultura dos helenos.
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Unidade I
A veneração pelo corpo era refletida na construção mitológica da Grécia Antiga. Os gregos cultuavam 
uma centena de deuses antropomórficos, aos quais atribuíam histórias e responsabilidades que 
explicavam os acontecimentos terrenos. O sucesso nas guerras era atribuído ao deus Ares, a proteção 
às embarcações era solicitada a Poseidon (deus dos mares), as paixões eram atribuídas aos encantos da 
deusa Afrodite (RUBIO, 2002). 
Os deuses gregos eram retratados em estátuas, nas quais se pode perceber a preocupação em 
apresentar os mínimos detalhes e toda a plasticidade das formas humanas. Os heróis mitológicos como 
Héracles (Hércules) e Aquiles também eram retratados em estátuas e cerâmicas, assim como os grandes 
atletas campeões dos diversos jogos realizados em honra aos deuses (RUBIO, 2002).
Para homenagear os deuses, os gregos realizavam disputas atléticas, denominadas jogos, onde os 
mortais tentavam copiar os feitos dos deuses. Nesses jogos, os campeões recebiam o título de semideuses 
e recebiam o status de heróis sobre-humanos. A preparação do físico para a participação nos jogos era 
uma tradição e envolvia os jovens desde a infância (RUBIO, 2002).
Figura 7 – Hércules
Além da perspectiva religiosa, a preparação do corpo viril, robusto e enérgico era justificada pela 
postura agonística (de enfrentamento) do grego. Em função das constantes guerras enfrentadas pelos 
povos gregos, a cultura helênica cunhou um importante valor moral denominado aretê. O aretê tinha 
por característica valorizar a coragem e a prontidão do grego para o combate. Fugir, esconder-se, 
acovardar-se ou mesmo vacilar em uma situação de confronto não era tolerado dentro da ética grega 
antiga. Para isso, tanto o corpo quanto o espírito do garoto eram forjados desde cedo (RUBIO, 2002).
Outra característica da cultura grega antiga que valorizava os cuidados com o corpo era a visão 
da beleza como valor moral desejável. Nas diversas áreas da cultura, a funcionalidade das coisas não 
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