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Direito Civil - Parte Geral - Dos bens

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�Curso de Direito
 Parte Geral - Direito Privado – Profª Denise Moreira
LIVRO II
DOS BENS
I - DOS BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
(art. 79 a 91 do CC)
Como o próprio nome da classificação diz, são aqueles bens em que se faz a análise de forma independente de qualquer outra coisa que possa ser referente a eles. É exatamente como se colocasse um pano branco por trás do bem e inicia-se a sua classificação. A classificação dos bens considerados em si mesmos não se relaciona de forma alguma com os bens reciprocamente considerados. 
Imóvel
É o bem que não pode se deslocar sob pena de destruição, não pode ser destacado do solo sem prejuízo da sua estrutura e, ainda, aqueles que a lei define como tal. Sua alienação é mais difícil, pois exige, em regra, a escritura pública. 
Imóvel por natureza:
É o solo e tudo que lhe acresce de forma natural, espontânea, sem a participação do homem. Ex. Árvore que brota do solo espontaneamente. 
Imóvel por acessão física, industrial ou artificial:
É aquilo que acresce ao solo de forma artificial, com participação do ser humano, ou seja, por atividade humana. Ex. Árvore plantada pelo homem; prédios; casas.
Imóvel por determinação legal:
Prevalece a vontade do legislador e não o aspecto naturalístico. É o direito à sucessão aberta. Existirá a sucessão aberta desde que alguém morra e deixe bens. HERANÇA – é o conjunto e bens a que o herdeiro tem direito. Um herdeiro pode ceder a sua quota parte da herança, todavia esta venda ocorre como se vendesse um imóvel, por escritura pública. 
Também serão imóveis por determinação legal aqueles direitos reais que incidam sobre bens imóveis. Ex: HIPOTECA. 
Móvel
É o que pode ser deslocado sem destruição de sua essência. Anda por força de 3º. Este bem é mais fácil de vender, pois sua propriedade se transfere pela simples tradição, entrega da coisa. 
Móveis por natureza:
São coisas corpóreas que podem ser transportadas sem danos.
Por força própria
São aqueles que se movem por movimento próprio. Ex. cavalos, bois, cachorro, gato; animais em geral, os semoventes.
Por força alheia
São os móveis propriamente ditos. Ex. carro, mesa, cadeira, joias, livros. E, também, os materiais de construção enquanto não empregados. 
Móveis por antecipação:
É aquele que o homem acresce ao solo com a finalidade de retirar depois. A finalidade do bem móvel por antecipação somente é alcançada após a sua retirada do solo. Ex. Árvore plantada para produção de madeira. 
Móveis por determinação legal:
São bens imateriais que adquirem a qualidade de bens móveis por determinação do legislador.
São móveis por determinação legal a energia com valor econômico e os direitos pessoais de caráter patrimonial, como o direito autoral por exemplo. 
Será também móvel por determinação legal os direitos reais que incidam sobre os bens móveis. Ex: PENHOR. 
NOTA:
Móveis por determinação legal x Imóveis por determinação legal: 
O imóvel por determinação legal em sua essência não é um imóvel, pois se fosse não precisaria da determinação legal. A mesma característica se aplica ao móvel por determinação legal. A Lei faz a diferenciação para que os bens móveis por determinação legal tenham a sua alienação facilitada e os bens imóveis por determinação legal tenham a sua alienação dificultada. 
Ambas são ficções jurídicas que a Lei determina como móveis ou imóveis.
NOTAS:
Aviões e embarcações, apesar de serem bens móveis, são hipotecados. 
Não perdem a característica de imóveis os bens separados temporariamente para utilização na mesma coisa posteriormente. Assim, mesmo separados do imóvel são considerados imóveis. Ex. reforma na casa: retiro a porta para reutilizar em outro canto da mesma casa. 
No entanto, se eu retiro a porta e vou reutilizar em outra casa, daí o bem perderá a característica de imóvel retomando a qualidade de móvel enquanto não for colocado em outro imóvel. É o caso da casa que foi demolida. Se pretender aproveitar os azulejos em outra casa (mesmo que no mesmo local) perdem a característica de imóveis passando a móveis enquanto não colocados na nova casa. Somente se tornarão imóveis novamente quando colocados.
Os bens não podem ser titulares de direitos. 
Fungível
 
É o bem que pode ser trocado, substituído por outros do mesmo gênero, da mesma espécie, da mesma qualidade ou equivalente a mesma quantidade. 
O dinheiro é um bem essencialmente fungível.
Quando realizo um contrato de coisa fungível, realizo um mútuo. Aqui há a transferência da propriedade, bastando a devolução do mesmo valor em objeto equivalente. Ex. Empréstimo. 
MÚTUO
Infungível
São aqueles bens que não podem ser trocados por outro, pois têm natureza insubstituível, são personalizados, individualizados.
Se o contrato é de coisa infungível, tenho o comodato ou a locação. Aqui eu transfiro apenas a posse, sendo que o objeto deve ser devolvido nas mesmas condições. 
COMODATO = empréstimo gratuito
LOCAÇÃO = empréstimo oneroso
NOTAS:
A fungibilidade, em regra, decorre da natureza do bem, ou seja, se ele pode ser ou não substituído por outro, sendo característica própria de bens móveis.
A fungibilidade pode, ainda, decorrer da vontade das partes, quando decidem tornar um bem essencialmente fungível em infungível. Ex. Um arranjo de flores artificiais emprestado para determinado evento ou celebração e que deverá ser devolvido ao final (Comodato “ad pompam”).
Pode decorrer, também, do valor histórico ou patrimonial de um determinado bem. Ex Vaso da dinastia Ming; boi Airoso (reprodutor famoso); cavalo Faísca (do Beto Carreiro).
A obrigação de fazer pode ser infungível. Ex. contrato Oscar Niemeyer para fazer o projeto da minha casa; contrato um pintor famoso para pintar um quadro meu. A atuação é personalíssima.
O credor de coisa infungível não pode ser obrigado a receber coisa diversa, ainda que mais valiosa (artigo 313 CC)
Consumíveis
São aqueles que, ou SE DESTROEM PELO USO OU ESTÃO POSTOS À ALIENAÇÃO. 
Logo, podemos ter um imóvel classificado como bem consumível quando colocado à alienação. 
Inconsumíveis
São aqueles que proporcionam reiterados usos sem prejuízo do seu perecimento progressivo e natural.
Barros Monteiro (2011, p.154) ensina que:
[...] os termos consumível e inconsumível devem ser entendidos, não no sentido vulgar, mas no econômico. Com efeito, do ponto de vista físico, nada existe no mundo que não se altere, não se deteriore, ou não se consuma com o uso. A utilização mais ou menos prolongada acaba por consumir tudo quanto existe na terra. Entretanto, na linguagem jurídica, consumível é apenas a que se destrói com o primeiro uso; não é, porém, juridicamente consumível a roupa, que se desgasta com o uso ordinário.
NOTAS:
Um bem naturalmente consumível pode tornar-se inconsumível pela vontade das partes. Ex. uma garrafa rara de vinho; um quadro de um pintor famoso.
Quando alguém empresta um arranjo de flores artificiais para determinada cerimonia, o bem permanece inconsumível até a sua devolução, apesar de ser naturalmente consumível. Portanto, o caráter de consumível não decorre da natureza do bem, mas da destinação econômica.
Não se pode confundir: fungível/infungível com consumível/inconsumível! 
O CC/2002 não se refere aos bens duráveis e não duráveis. A característica de durabilidade é tratada pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) e determina os prazos para o ajuizamento de ações decorrentes de vícios.
Divisíveis
São aqueles que podem ser partidos, fracionados, sem que a sua substância, essência ou qualidade seja afetada. E, ainda, sem que ocorra diminuição considerável do seu valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.
Indivisíveis
Ao contrário dos divisíveis são aqueles que, se porventura forem fracionados, não mantêm um todo perfeito. Assim, não pode partir-se em porções reais e distintas sem que o fracionamento afete asua substância.
A indivisibilidade pode resultar, também, de determinação legal (módulo rural, hipoteca) ou por vontade das partes.
NOTAS:
No caso de bem com vários donos (condomínio):
COISA DIVISÍVEL = condômino pode vender sua parte para qualquer pessoa quando assim desejar e sem autorização dos demais.
COISA INDIVISÍVEL = nenhum deles poderá vender sua parte a estranho sem autorização do demais, dos outros comunheiros (= direito de preferência).
As obrigações podem ser divisíveis ou indivisíveis de acordo com a natureza das respectivas prestações. A característica de indivisibilidade ou divisibilidade pode ser aplicada pelas obrigações e pelos direitos.
Singulares
É o bem único, aquele considerado em sua individualidade independente dos demais.
Podem ser classificados em simples ou compostos.
Os simples formam um todo homogêneo, suas partes encontram-se ligadas naturalmente. Ex. cavalo, árvore. 
Já nos compostos as partes são ligadas artificialmente, ou seja, por atividade humana. Ex. avião, relógio, celular.
 Coletivos ou Universais
O bem é coletivo quando há uma universalidade. 
São aqueles compostos por vários bens singulares formando um todo.
Pode ser universitas factum ou universitas iuris, conforme o caso de ser uma universalidade de fato ou uma universalidade de direito.
A diferença é que na universalidade de fato, o proprietário as reúne se quiser. Logo, posso ter 500 livros ou também organizar uma biblioteca, nas duas hipóteses terei uma universalidade de bens de fato. Ex. pinacoteca, rebanho.
A universalidade de direitos, assim o é por determinação legal. Ex. Patrimônio, espólio, massa falida.
II – DOS BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS
(art. 92 a 97 do CC)
Neste caso, um bem é analisado em relação a outro bem.
PRINCIPAL x ACESSÓRIO
O bem principal possui existência autônoma. Exercem função e finalidade de forma independente de outro. O acessório existe de acordo com o principal, sua existência pressupõe a de um bem principal.
Deduz-se, por exclusão, pois o que não é principal será necessariamente acessório. 
Classificação dos bens acessórios
Frutos: são utilidades que o bem principal produz periodicamente, cuja percepção não lhe diminui a substância.
1.1 Quanto à origem:
Frutos naturais: são aqueles advindos da força orgânica do principal, sem a intervenção humana. Ex. Maçã em relação à macieira; os ovos em relação à galinha (Observe que nos reciprocamente considerados sempre existe uma consideração recíproca). 
Frutos civis: são acessórios que advém do principal por conta do seu uso por outra pessoa ou aplicações. Ex. Aluguel, juros. O rendimento é sinônimo do fruto civil. 
Frutos industriais: decorrem da atividade industrial, do engenho humano. Ex. bens manufaturados.
1.2 Quanto ao estado:
Percebidos ou colhidos - recebidos, já destacados do principal. 
Pendentes - ainda não recebidos, está a vencer; ainda se encontram ligados ao bem principal, não tendo sido destacados.
Estantes – já separados e armazenados, estocados para a venda.
Percipiendos - é o que está atrasado, vencido; que deveriam ter sido colhidos, mas não foram.
Consumidos - já colhido e gasto; não existem mais porque já foram utilizados.
Produtos: são aqueles que advêm da força orgânica do principal, mas esta força orgânica é esgotável. São utilidades que se retiram do bem principal diminuindo-lhe a quantidade porque não se reproduzem periodicamente. Ex. Minério e metais em relação à mina; pedras em relação à pedreira.
Pertenças: são acessórios que, apesar de não fazerem parte do todo, dão uma característica que, se retirado, o principal ficaria descaracterizado; são coisas acessórias destinadas a conservar ou facilitar o uso das principais sem que destas sejam parte integrante. Ex. Quadro feito sob medida para um hall de entrada em relação à casa; máquinas agrícolas em relação à fazenda.
NOTA:
O Código Civil de 2002 admite expressamente em seu art. 95 a permuta e o proveito econômico dos frutos e produtos, ou seja, que os mesmos sejam objeto de negócio jurídico, mesmo que ainda não destacados do principal.
Benfeitorias: são as obras ou despesas realizadas pelo homem na estrutura do bem principal para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. Podem ser: 
Necessárias: são aquelas que, sob o ponto de vista do OBJETO, tem necessariamente que ser feitas, sob pena de impossibilidade do uso do bem principal para o fim a que se destina. Ex. Reparos no telhado da casa; reforço na estrutura do prédio; piscina em uma clínica de hidroginástica. 
Úteis: são aquelas que, sob o ponto de vista do SUJEITO, aumentam a sua utilidade. Ex. Construção de mais um quarto em uma casa com dois quartos e 8 moradores. Se fosse a construção de mais um quarto na mesma casa com apenas 2 moradores, a utilidade já não se caracterizaria; garagem coberta.
Voluptuárias: são aquelas que, sob o ponto de vista do SUJEITO, aumentam a beleza, o recreio ou o deleite do principal. Ex. piscina; churrasqueira, quadra de tênis; campo de futebol. 
 
NOTAS:
O possuidor de boa-fé, tem 3 direitos em relação às benfeitorias:
Indenização em relação às benfeitorias necessárias e úteis; 
Retenção da coisa até que lhe seja ressarcido o valor gasto com elas; 
Levantamento das benfeitorias voluptuárias (sem detrimento do principal). 
O possuidor de má fé só tem direito à indenização pelas benfeitorias necessárias, não pode levantar as voluptuárias e nem possui direito de retenção.
Não são benfeitorias o trabalho artístico em relação à matéria. Ex. a pintura na tela; a escultura na pedra sabão; o trabalho gráfico no livro.
III – DOS BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO TITULAR DO DOMÍNIO
(Art. 98 a 103 CC)
PÚBLICOS x PARTICULARES
Trata-se dos sujeitos a que pertencem os bens.
Principal: são os que pertencem às pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. São definidos por exclusão, o que não for bem público será bem particular.
Públicos: são os que pertencem a uma entidade de Direito Público interno: União, estados, municípios, territórios, autarquias, fundações públicas.
Os bens públicos subdividem-se em: 
Bens de uso comum: praias, rodovias, parques. Mesmo aqueles que se exige taxa ou pedágio para o uso, são também de uso comum, são afetados. 
Bens de uso especial: repartições públicas, patrimônio administrativo. Utilizados pelo poder público para a execução de serviço público, são afetados. Ex. prédios dos Tribunais; escolas públicas; ministérios; museus.
Bens dominiais ou dominicais: são os bens disponíveis do Estado, que podem ser alienados, são desafetados. Podem ser utilizados pelo poder público para a obtenção de renda.
NOTAS:
Os bens públicos não se submetem ao usucapião. 
Não perdem a característica de bens públicos de uso comum se o Estado regulamentar o seu uso ou torna-lo oneroso. Ex. pedágio nas rodovias; cobrança de entrada nos parques ecológicos.
Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são bens do domínio público do Estado, já os dominicais pertencem ao domínio privado do Estado, mas, podem ser convertidos em bens públicos de uso comum ou de uso especial.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DINIZ, Maria Helena; Curso de direito civil brasileiro, v. 1: teoria geral do direito civil. São Paulo: Saraiva, 2012.
GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil – Parte geral. São Paulo: Saraiva, 2013.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2013.
_____________________. Direito Civil 1 Esquematizado (Coord. Pedro Lenza). São Paulo: Saraiva, 2013.

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