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Vozes do Carandiru Resumo 1

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Vozes do Carandiru – Hélvio Borelli e Karina Florido Rodrigues
A vida é frágil e precária em qualquer cadeia. Na Casa de Detenção de São Paulo, ela podia acabar a qualquer momento, sem aviso prévio. Suas regras privilegiavam a violência em prejuízo da razão. Aos transgressores não havia perdão. O irrelevante no cotidiano aqui fora poderia se tornar o principal motivo de uma briga. As versões sobre seus próprios crimes e os fatos da vida interna sempre levavam em conta a relação entre os detentos e seus códigos de convivência. Uma questão  de sobrevivência. Aquele 2 de outubro era o dia de mais um acerto de contas entre rivais, mas terminou na maior tragédia dos presídios brasileiros. (p.37)
Hoje estou aqui para abrir meu coração… Para desgosto da minha mãe e desespero do meu pai eu ADORO histórias de cadeia! Sério, podem ser livros, filmes, documentários, reportagens, ficção ou realidade eu sempre acompanho as narrativas que se passam ou que tenham como pano de fundo presídios. E é óbvio que, com esse meu gosto, eu sempre leio e vejo tudo que sai sobre o Carandiru… Lembro que li o livro do Drauzio Varella, Estação Carandiru, quando tinha uns 14 ou 15 anos e adorei; o filme eu vi no cinema e assisto toda vez que passa na TV, acho que já vi, chutando baixo, umas cinco vezes… Quando desativaram o presídio, eu estava louca para ir lá visitar. Lembro de passar em frente com o metrô, pedir pra irmos lá, mas meu pai cortou meu barato… e qual não foi minha surpresa quando achei esse livro, Vozes do Carandiru, na barraca da Feira do Livro que vendia 3 livros por 10 reais! Só não dei pulinhos de alegria porque tinha muita gente olhando…
Feita esta confissão vamos ao que interessa: o livro é composto por depoimentos dos envolvidos no episódio do Carandiru, por declarações de alguns detentos e por trechos dos relatórios da CPI. Os depoimentos são de José Ismael Pedrosa (diretor da casa de detenção na época), Luiz Antonio Fleury Filho (governador do Estado de SP de 1991 a 1995), Ubiratan Guimarães (coronel da PM do Estado de SP), entre outros. Através desses relatos podemos conhecer o outro lado da história, cada um dá seu ponto de vista sobre o ocorrido, rebate acusações e desmente (ou confirma) notícias que saíram na época. 
Além dessas declarações, ainda podemos conferir o laudo da perícia e a cronologia dos fatos. É interessante ver como cada um tem seu modo de interpretar o que aconteceu, as vezes fazendo uma mea culpa, as vezes declarando-se injustiçado. Um trecho que me chamou a atenção, e que concordei até certo ponto, foi o momento em que o Coronel Ubiratan fala sobre as mortes ocorridas entre os presos e o porquê de os policiais terem saídos ilesos:
“Ninguém entra com ânimo de matar. Já respondi muitas vezes à pergunta: por que não morreu nenhum policial? Ora, não era um jogo de basquete. Quer dizer, se tivesse morrido dez policiais, estava bom?” (p.56)
Realmente, questionar o motivo de não ter havido nenhuma morte de policiais soa até um pouco sem sentido, como se fosse melhor que algumas baixas tivessem acontecido para “dar uma igualada na balança”. Acho que não. 
O livro ainda expõe mais declarações dos envolvidos. É interessante para quem, como eu, gosta desse tipo de relato. É preciso encarar esse livro sem pré-julgamentos, precisamos ponderar os dois lados e criar nossa própria opinião. 
A parte gráfica deixa um pouco a desejar: páginas brancas e uma letra muito esquisita para se colocar num livro, ela chega a dar uma embaralhada na vista de vez em quando . No mais, são 133 páginas fáceis de se ler, sem enrolação e direto ao ponto, mas senti que faltou algo… não sei, talvez os autores poderiam ter se aprofundado mais no tema.
Como já dito, o livro é interessante para conhecer novos pontos de vista. Com o livro do Drauzio Varella podemos conhecer a versão dos detentos, com esse a versão das autoridades. Eu, particularmente, tenho uma opinião neutra sobre o assunto, não julgo nem condeno ninguém, apenas quero saber o que aconteceu – porque eu tenho esse gosto esquisito mesmo. Como o próprio Drauzio disse em seu livro, os únicos que sabem o que realmente aconteceu naquele dia são os presos, a polícia e deus. Nós já conhecíamos a versão dos presos, agora temos a dos policiais.
“Cada lado tem uma versão sobre o que aconteceu dentro do presídio. A verdade talvez esteja nos arquivos ou pode ter sido enterrada para sempre com os 111 mortos.” (Valmir Salaro, p.104)
“O maior julgamento é o da consciência. Esse é o que bate. É o que vale. Nesse eu estou absolvido” (Coronel Ubiratan, p.57)
BORELLI, Hélvio; RODRIGUES, Karina Florido. Vozes do Carandiru. São Paulo: Jaboticaba, 2007.

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