Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MINERAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO MINERAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Presidente LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA Ministro de Estado EDISON LOBÃO Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral Secretário CLAUDIO SCLIAR Secretário Adjunto CARLOS NOGUEIRA DA COSTA JR. Departamento Nacional de Produção Mineral Diretor-Geral MIGUEL ANTONIO CEDRAZ NERY Diretor-Geral Adjunto JOÃO CÉSAR DE FREITAS PINHEIRO Chefe de Gabinete PAULO GUILHERME TANUS GALVÃO Unidade Executora Diretoria de Desenvolvimento e Economia Mineral Diretor ANTONIO FERNANDO DA SILVA RODRIGUES Diretor Substituto KIOMAR OGUINO Diretoria de Fiscalização Diretor WALTER LINS ARCOVERDE Diretoria de Outorga e Cadastro Mineiro Diretor ROBERTO DA SILVA Diretoria de Planejamento e Arrecadação Diretor MARCO ANTONIO VALADARES MOREIRA Diretoria de Administração Diretor HAROLDO ALBERTO DE MATOS PEREIRA Procuradoria Jurídica Procuradora-Geral ANA SALETT MARQUES GULLI Brasília - DF, 2009 APRESENTAÇÃO O desenvolvimento do estudo Mineração no Semiárido Brasileiro adveio, inicialmente, de uma demanda efetuada pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH-MMA) à Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SGM-MME), visando atender ao compromisso internacional firmado na Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. A SGM, por sua vez, encomendou ao DNPM a elaboração de um estudo diagnóstico da situação da mineração no domínio político-geográfico do semi-árido, a partir de um levantamento sobre as relações e impactos sócio-econômico (positivos e negativos) entre determinadas atividades minerárias e o meio ambiente, como condição basilar para a avaliação da situação regional, na perspectiva da sustentabilidade sócio, econômica e ambiental. Com efeito sob Coordenação Geral da Diretoria de Desenvolvimento e Economia Mineral, no âmbito da Ação: Avaliação de Distritos Mineiros, inserida na concepção do Programa: Mineração e Desenvolvimento Sustentável (PPA 2004-2007 e PPA 2008-2011), e Coordenação Técnica do Geólogo Ricardo Eudes Parahyba (10º Ds. DNPM-CE), em parceria com os demais Distritos-DNPM do semiárido buscou-se desenvolver um estudo com ênfase ao domínio Político-geográfico, à Geodiversidade e à Economia Mineral (disponibilidade primária de recursos, produção mineral etc.), enquanto fontes alternativas de geração de riqueza, trabalho e renda, na perspectiva do desenvolvimento sustentável da mineração e do combate à desertificação na região semiárida do País. Enfim, o estudo propõe-se contextualizar a mineração no domínio geográfico do semi-árido brasileiro, jurisdição de oito estados nordestinos Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, extensivo ao nordeste de Minas Gerais de modo a contribuir com o planejamento setorial e com a consecução das metas estabelecidas no Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação PAN. Antonio Fernando da Silva Rodrigues Diretor de Desenvolvimento e Economia Mineral 3 MINERAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO ELABORAÇÃO RICARDO EUDES RIBEIRO PARAHYBA - COORDENADOR VANESSA MARIA MAMEDE CAVALCANTI FÁBIO PERLATTI COLABORAÇÃO ALENCAR MOREIRA BARRETO CARLOS MENDES BATISTA CRISTIANO ALVES DA SILVA EDSON GIMENES JOSÉ MARIA DE FREITAS MANOEL CAMPELO BEZERRA MICHELE LUIGI PROCACCIO SAULO DE ALMEIDA GOMES 4 I. CONTEXTUALIZAÇÃO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO 6 I.1 – ESPACIALIZAÇÃO POLÍTICO-GEOGRÁFICA 6 I.1.1 - MÉTODO UTILIZADO PARA DEFINIÇÃO DO SEMIÁRIDO 6 I.1.2 – ÁREA DO SEMIÁRIDO 6 I.1.3 – CONTEXTOS ESTADUAIS 6 I.2 - ESPACIALIZAÇÃO GEOAMBIENTAL 10 I.2.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS AMBIENTAIS DO SEMIÁRIDO 10 I.1.2 - CLIMA 10 I.2.3 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL/TEMPORAL DO REGIME PLUVIAL 11 I.2.4 - PRESERVAÇÃO 12 I.3 - SÓCIO-ECONOMIA REGIONAL 12 I.3.1 - DENSIDADE DEMOGRÁFICA 12 I.3.2 - ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER E MORTALIDADE ATÉ 01 ANO 12 I.3.3 - PORCENTAGEM DA RENDA PROVENIENTE DO TRABALHO 13 I.3.4 - PORCENTAGEM DA RENDA PROVENIENTE DE TRANSFERÂNCIAS 13 I.3.5 - RENDA PER CAPITA 13 I.3.6 - INDICE DE GINI 13 I.3.7 - POPULAÇÃO RURAL 13 I.3.8 - POPULAÇÃO URBANA 13 I.3.9 - POPULAÇÃO TOTAL 14 I.3.10 - TAXA DE ALFABETIZAÇÃO 14 I.3.11 -ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL – IDH-m 14 I.4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14 II. A GEODIVERSIDADE DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO 16 II.1 – ASPECTOS GEOLÓGICOS E RECURSOS MINERAIS 16 II.1.1 – FERRO E METAIS DA INDÚSTRIA DO AÇO 18 II.1.2 – RECURSOS MINERAIS ENERGÉTICOS 24 II.1.3 –METAIS NÃO FERROSOS 25 II.1.4 – GEMAS E METAIS PRECIOSOS 27 II.1.5 – ROCHAS ORNAMENTAIS 33 II.1.6 – MINERAIS INDUSTRIAIS 35 II.2 – ÁGUA SUBTERRÂNEA 46 II.2.1 - PROVÍNCIA HIDROGEOLÓGICA DO ESCUDO ORIENTAL NORDESTE 47 II.2.2 - PROVÍNCIA HIDROGEOLÓGICA DO SÃO FRANCISCO 47 II.2.3 - PROVÍNCIA HIDROGEOLÓGICA DO PARNAÍBA 48 5 II.3 – SÍTIOS PALEONTOLÓGICOS 48 II.3.1 – PROTEROZÓICO 50 II.3.2 – PALEOZÓICO 56 II.3.3 – MESOZÓICO 60 II.3.4 – CENOZÓICO 74 II.4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 83 III – ECONOMIA MINERAL DO SEMIÁRIDO 95 III.1 - ALAGOAS 97 II.1.1 – PRODUÇÃO MINERAL 99 III.2 - BAHIA 100 III.2.1 – PRODUÇÃO MINERAL 104 III.3 – CEARÁ 108 III.3.1 – PRODUÇÃO MINERAL 110 III.4 – MINAS GERAIS 114 III.5.1 – PRODUÇÃO MINERAL 116 III.6 - PARAÍBA 118 III.6.1 – PRODUÇÃO MINERAL 122 III.7 – PERNAMBUCO 124 III.7.1 – PRODUÇÃO MINERAL 126 III.8 – PIAUÍ 129 III.8.1 – PRODUÇÃO MINERAL 131 III.9 – RIO GRANDE DO NORTE 134 III.9.1 – PRODUÇÃO MINERAL 138 III.10 – SERGIPE 140 III.10.1 – PRODUÇÃO MINERAL 140 III.11 – CONCLUSÃO 144 ANEXO I – ÍNDICES SÓCIO-ECONÔMICOS DOS MUNICÍPIOS 148 ANEXO II – PRODUÇÃO MINERAL DOS MUNICÍPIOS 160 ANEXO III – RESERVAS MINERAIS POR MUNCÍPIOS 179 6 I. CONTEXTUALIZAÇÃO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO (elaborado por Fábio Perlatti) I.1 – ESPACIALIZAÇÃO POLÍTICO-GEOGRÁFICA I.1.1 - MÉTODO UTILIZADO PARA DEFINIÇÃO DO SEMIÁRIDO O semiárido Brasileiro possui sua caracterização baseada no clima que ocorre nessa região, tendo como principais características o baixo índice pluviométrico somado a má distribuição das chuvas, além de apresentar em geral temperaturas elevadas durante todo o ano, além do alto grau de insolação constante. Até o ano de 2005, o único critério utilizado para delimitar a região semiárida, era a Lei 7.827, de 27 de Dezembro de 1989, onde era levada em conta apenas a precipitação média anual dos municípios, que teria de ser igual ou inferior a 800 mm/ano. Porém em 09 de Março de 2005, foi assinada a Portaria Interministerial n.º 01 dos Ministros da Integração Nacional, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia redefinindo o semiárido Brasileiro, onde além do critério utilizado na Lei 7.827, foram incluídos os seguintes critérios: – Isoieta de 800 mm. – Índice de aridez. – Déficit hídrico. I.1.2 – ÁREA DO SEMIÁRIDO Encontram-se oficialmente inseridos no semiárido Brasileiro 1.133 municípios, que juntos totalizam uma área de 982.563.30 km², situados quase que em sua totalidade nos estados do nordeste do país, com exceção de municípios do nordeste do estado de Minas Gerais (região sudeste do Brasil). Estima-se que vivam hoje nas regiões semiáridas brasileiras mais de vinte milhões de pessoas, o que significa que aproximadamente 47% das pessoas que vivem no nordeste, estão inseridas nessa região. I.1.3 – CONTEXTOS ESTADUAIS I.1.3.1 – Alagoas O estado de Alagoas possui 101 municípios,sendo que 38 estão na região semiárida, o que representa 3,4 % do total da região semiárida do país, e 37,60% do estado. Em termos de área dos 27.818,5 km² do estado, 12.686,9 km² são semiáridos, representando 1,3 % da área nacional e 45,6% do estado. A população do estado de Alagoas é estimada em 2.822.621 habitantes, onde 838.740 vivem em regiões semiáridas, representando 4,0% da população nacional vivendo em regiões semiáridas e 29,7% da população do estado. 7 I.1.3.2 – Bahia O estado da Bahia possui 415 municípios, sendo que 265 estão na região semiárida, o que representa 23,4% do total da região semiárida no país e 63,9% do estado. Em relação à área de 564.273,00 km² do estado, 393.056,10 km² estão no semiárido, representando 40,0% da área nacional e 69,7% do estado. Da população do estado, estimada no ano 2000 em 13.070.250 habitantes, 6.453.283 vivem na região semiárida, representando 30,9% da população nacional vivendo em regiões semiáridas e 49,4% da população do estado. I.1.3.3 – Ceará O estado do Ceará possui atualmente 184 municípios, sendo que 150 estão na região semiárida, o que representa 13,20% do total da região semiárida no país, e 81,50% do estado. Em relação à área de 145.711,80 km² do estado, 126.514,90 km² estão no semiárido, representando 12,9% da área nacional e 86,8% do estado. Da população do estado estimada no ano 2000 em 7.430.661 habitantes, 4.211.292 vivem na região semiárida, representando 20,2% da população nacional vivendo em regiões semiáridas e 56,7% da população do estado. I.1.3.4 - Minas Gerais O estado de Minas Gerais possui 85 municípios inseridos na região semiárida, o que representa 7,5 % do total da região semiárida do país. Em termos de área 103.590,0 km² estão no semiárido, representando 10,5 % da área nacional. Da população total do estado, 2.773.232 habitantes vivem na região semiárida, representando 5,7% da população nacional vivendo em regiões semiáridas. I.1.3.5 – Paraíba O estado da Paraíba possui 223 municípios, sendo que 170 estão na região semiárida, o que representa 15,00 % do total da região semiárida no país e 76,20% do estado. Em termos de área dos 56.340,9 km² do estado, 48.785,3km² estão no semiárido, representando 5,0 % da área nacional e 86,60% do estado. A população do estado é estimada em 3.443.825 habitantes, onde 1.966.713 vivem na região semiárida, representando 9,4% da população nacional vivendo em regiões semiáridas e 57,1% da população do estado. I.1.3.6 – Pernambuco O estado de Pernambuco possui atualmente 185 municípios, sendo que 122 estão na região semiárida, o que representa 10,8% do total da região semiárida no país e 65,9% do estado. Em relação à área de 98.526,6 km² do estado, 86.710,40 km² estão no semiárido, representando 8,8% da área nacional e 88,0% do estado. 8 Da população do estado estimada no ano 2000 em 7.918.344 habitantes, 3.236.741 vivem na região semiárida, representando 15,5% da população nacional vivendo em regiões semiáridas e 40,9% da população do estado. I.1.3.7 - Piauí O estado do Piauí possui atualmente 221 municípios, sendo que 127 estão na região semiárida, o que representa 11,20% do total da região semiárida no país e 57,50% do estado. Em termos de área dos 251.311,5 km² do estado, 150.454,3 km² estão no semiárido, representando 15,3% da área nacional e 59,9% do estado. A população do estado é estimada em 2.843.278 habitantes, onde 969.399 vivem na região semiárida, representando 4,6% da população nacional vivendo em regiões semiáridas e 34,1% da população do estado. I.1.3.8 - Rio Grande do Norte O estado do Rio Grande do Norte possui 166 municípios, sendo que 147 estão na região semiárida, o que representa 13,00 % do total da região semiárida no país e 88,60% do estado. Em termos de área dos 53.077,10 km² do estado, 49.589,9km² estão no semiárido, representando 5,0 % da área nacional e 93,40% do estado. A população do estado é estimada em 2.776.782 habitantes, onde 1.601.170 vivem na região semiárida, representando 7,7% da população nacional vivendo em regiões semiáridas e 57,7% da população do estado. I.1.3.9 – Sergipe O estado de Sergipe possui 75 municípios, sendo que 29 estão na região semiárida, o que representa 2,6 % do total da região semiárida no país e 38,70% do estado. Em termos de área dos 21.962,1 km² do estado, 11.175,6km² estão no semiárido, representando 1,1 % da área nacional e 50,9% do estado. A população do estado é estimada em 1.784.475 habitantes, onde 396.399 vivem na região semiárida, representando 1,9% da população nacional vivendo em regiões semiáridas e 22,2% da população do estado. A figura I.1 a seguir ilustra a divisão político-geográfica do semiárido Brasileiro: 9 Figura I.1 - Nova delimitação do semiárido de acordo com a Portaria Interministerial. (Fonte: Ministério da Integração Nacional) 10 I.2 - ESPACIALIZAÇÃO GEOAMBIENTAL I.2.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS AMBIENTAIS DO SEMIÁRIDO Do ponto de vista ambiental, o semiárido apresenta um conjunto de fatores que o torna um ambiente extremamente frágil, uma vez que suas inter-relações biológicas apresentam elos extremamente vulneráveis. Sua principal formação ecológica é a caatinga, que coincide aproximadamente com a área do semiárido. O ecossistema cuja principal característica fito fisionômica é em geral composta por espécies lenhosas espinhosas entremeadas de plantas suculentas, sobretudo cactáceas, que crescem sobre um solo em geral raso e quase sempre pedregoso. As árvores são baixas raquíticas, com troncos finos e engalhamento profuso. Muitas espécies são microfoliadas e outras são providas de acúleos ou espinhos, sendo que devido aos longos períodos de estiagem, muitas espécies da flora são endêmicas da região, e se adaptaram ao constante clima seco e quente, através de processos fito-fisiológicos, como é o caso da decidualidade de diversas espécies de porte arbóreo. I.2.2 – CLIMA Com relação exclusivamente ao clima, o semiárido pode ser caracterizado em geral como uma região com precipitação média anual, igual ou inferior a 800 mm/ano, concentrado geralmente em apenas três meses, temperaturas médias anuais de 23º a 28ºC, insolação média de 2800h/ano, evaporação de 2.000 mm/ano e umidade relativa do ar média girando em torno de 50%. O semiárido nordestino, tem ainda como traço principal as freqüentes secas que tanto podem ser caracterizadas pela ausência, escassez, pouca freqüência e limitada quantidade, quanto pela simples má distribuição das chuvas durante o período do inverno. Não é rara a sucessão de anos seguidos de seca. A natureza semiárida resulta principalmente da predominância de massas de ar estáveis empurradas para sudeste por ventos Alísios. Todo leste costeiro do Semiárido consiste em uma faixa de montanhas estendendo-se do Rio Grande do Norte a Bahia que é a serra do mar. Quando as massas de ar Atlântico-Equatoriais carregadas de vapor de água são transportadas pelos ventos Alísios contra a costa nordeste do Brasil, são adiabadicamente umedecidas e precipitam anualmente cerca de 2000 mm de chuva. Esta é a área de mata atlântica, onde o sistema Atlântico-Equatorial perde a maior parte de sua umidade, enquanto que a caatinga está submetida ao efeito de massas de ar secas e estáveis. (Andrade & Lins 1965) Essas adversidades climáticas constantes fazem da região, um lugar de convívio delicado, tendo em vista as principais atividades econômicas da região, estar ligadas diretamente aos recursos naturais. Inseridos na região semiárida, encontram-se isoladamente determinadas variações climáticas, principalmente emregiões mais próximas ao litoral, onde a umidade oceânica influi no clima, fazendo com que a aridez não seja tão acentuada e a escassez de chuva seja menor do que em áreas interiores. Outro tipo de variação encontrada nos domínios do semiárido são áreas de altitude, encontradas em algumas serras e chapadas, onde o clima é mais ameno e as chuvas ocorrem com mais 11 freqüência, favorecendo o estabelecimento de ilhas de vegetação, caracterizadas por uma vegetação pujante e perene. Porém no geral, as características do semiárido, são inerentes as da caatinga, inclusive fazendo com que determinadas regiões já estejam sofrendo com o fantasma da desertificação, outro problema que a região terá de enfrentar em um futuro próximo, caso não sejam tomadas medidas de controle a erosão e ao desmatamento. I.2.3 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL/TEMPORAL DO REGIME PLUVIAL Pode-se considerar que uns dos principais fatores que tornam o semiárido nordestino, um local de grandes contrastes seja devida a distribuição das chuvas, tanto durante o ano como em sua localização. Esse evento é caracterizado pela movimentação de massas de ar tanto secas quanto úmidas, que dependo da atuação de cada úmida, decreta um período de chuvas ou até de secas catastróficas, como já pode ser observado em alguns anos. Geralmente o período chuvoso no semiárido ocorre entre Novembro e Janeiro na região oeste e sudoeste, sendo que na região norte e nordeste do semiárido, as precipitações se estendem até Abril. I.2.4 - PRESERVAÇÃO A região semiárida, composta quase que em sua totalidade pelo Bioma Caatinga, vem sofrendo muitas alterações provocadas pelo homem. Essas alterações provocam a diminuição no numero de espécies vegetais endêmicas nativas, pelo fato de serem substituídas por pastagens e culturas agrícolas. Além da diminuição na flora nativa, conseqüentemente há uma fuga e morte da fauna local, pela alteração de seu habitat. Isso gera um “ciclo de decadência”, uma vez que a fauna nativa é responsável por grande parte da distribuição de sementes que seriam naturalmente transportadas e regenerariam o ambiente. Existe ainda o fantasma da desertificação, que poderá vir a ser um grande desastre para região. Isso vem ocorrendo devido ao desmatamento e as queimadas, para substituição das espécies nativas por espécies agrícolas. Mesmo diante deste quadro que pode ser considerado alarmante, até o momento não há estimativa adequada sobre o quanto da região da Caatinga foi alterada pelo homem. Uma das razões para a ausência de informações é a dificuldade técnica para classificar os diferentes tipos de vegetação da Caatinga, assim como as caatingas naturais das caatingas muito alteradas pela ação antrópica. A situação pode ser considerada mais crítica ainda, devido ao fato que apenas 2% da caatinga é protegida por unidades de conservação de proteção integral. (Tabarelli et al, 2000). 12 I.3 - SÓCIO-ECONOMIA REGIONAL Dentro do contexto de se realizar um levantamento da sócio-economia regional do Semiárido, buscou-se neste trabalho fazer um levantamento, através do Atlas do desenvolvimento Humano no Brasil, elaborado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de números e índices, que pudessem nos dar uma visão geral do desenvolvimento sócio-econômico da região, anexo I. A princípio foram selecionados todos os 1.133 municípios que integram a região semiárida do Brasil, de acordo com a nova Portaria Interministerial de 09/03/05. E, consultando o Atlas elaborado pelo IBGE, foram selecionados dentre vários, alguns índices e dados, para que fosse possível, em cima desses números, elaborar tabelas que mostrem, o grau de desenvolvimento da região. Dentre os dados disponíveis, foram selecionados os seguintes índices : • Densidade Demográfica; • Esperança de Vida ao Nascer; • Mortalidade até um ano / 1000; • Porcentagem da renda proveniente do trabalho; • Porcentagem da renda proveniente de transferências Governamentais; • Renda per Capita; • Índice de Gini; • População Rural; • População Urbana; • População Total; • Taxa de Alfabetização e • Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-m. I.3.1 - DENSIDADE DEMOGRÁFICA A densidade demográfica reflete em numeros a quantidade de habitantes em uma área, seja cidade, meio rural, município, estado, pais I.3.2 - ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER E MORTALIDADE ATÉ 01 ANO Esses dados refletem a qualidade da saúde pública e do saneamento básico nos municípios. É sabido que em municípios que não possuem saneamento básico, como água encanada e tratamento de esgotos, a incidência de doenças é maior, fazendo com que tanto crianças recém-nascidas, que apresentam baixa resistência a doenças contagiosas, transmitidas pela falta de saneamento, como até pessoas adultas e principalmente idosas, ficam mais vulneráveis a acabam inchando esses índices. Nas tabelas em anexo, pode-se observar que os índices de Esperança de Vida e Mortalidade até 01 ano, estão no geral, bem abaixo das condições ideais. Se compararmos os dados do semiárido com os da região sul/sudeste, que possui uma infra-estrutura mais desenvolvida, poderemos observar que os valores no semiárido ainda têm muito que melhorar. 13 I.3.3 - PORCENTAGEM DA RENDA PROVENIENTE DO TRABALHO Esse dado nos mostra o quanto à economia municipal é forte, principalmente as atividades de indústria, comércio e serviços. Porém deve-se ter cuidado ao analisar esse item uma vez que em alguns casos, mesmo municípios que não possuem uma economia desenvolvida, podem apresentar valores altos. Nesse caso, geralmente são grandes indústrias que se instalam no município, e fazem esses valores subirem desproporcionalmente, uma vez que o município fica muito dependente de poucas indústrias para fazer “girar” a sua economia. I.3.4 - PORCENTAGEM DA RENDA PROVENIENTE DE TRANSFERÂNCIAS GOVERNAMENTAIS Aqui podemos ver o quanto o município é dependente de repasses governamentais, para fazer funcionar a sua economia. Nele estão incluídos os projetos sociais de governo nas três esferas, e também as pensões e aposentadorias. Este valor geralmente é alto nos municípios do semiárido, uma vez que grande parte da população é pobre e depende de programas sociais para sobreviver. I.3.5 - RENDA PER CAPITA A renda per capita dos municípios do semiárido, está muito abaixo da média encontrada em outras regiões do país. Isso se deve ao fato já abordado anteriormente que é a o atraso no desenvolvimento econômico, devido a fatores climáticos e históricos, aliado a falta de programas de desenvolvimento para a economia local. I.3.6 - INDICE DE GINI Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). I.3.7 - POPULAÇÃO RURAL As pessoas que habitam nas áreas rurais, têm uma relação próxima com o meio ambiente e na maioria das vezes retiram os seus rendimentos da agricultura. Não usam transporte público e nem fazem compras em supermercados. A densidade populacional é baixa e boa parte dos municípios do semiárido possui uma população rural grande, uma vez que muitos praticam agricultura de subsistência. I.3.8 - POPULAÇÃO URBANA Inversamente ao item anterior, se pode observar que existem algumas cidades do semiárido, com altas taxas de urbanização, uma vez que a classificação de um município com integrante do semiárido, baseia-se exclusivamente em critérios14 climatológicos. Com isso alguns municípios populosos e urbanizados estão incluídos no semiárido. I.3.9 - POPULAÇÃO TOTAL É a soma dos dois itens anteriores. As 05 cidades mais populosas do semiárido são: Feira de Santana (BA), Campina Grande (PB), Vitória da Conquista (BA), Caruaru (PE) e Caucaia (CE). I.3.10 - TAXA DE ALFABETIZAÇÃO É o dado que indica o nível de estudo da população de um município. Geralmente municípios com baixa taxa de alfabetização são mais pobres e terão mais dificuldade em se desenvolver futuramente, uma vez que os habitantes não estarão preparados para atividades mais complexas que exijam pelo menos a leitura. No semiárido, o município de Feira de Santana (BA), se destaca, com 86,20% de sua população alfabetizada. Já o pior índice está em Guaribas no Piauí, onde apenas 41% da população são alfabetizados. I.3.11 -ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL – IDH-m O Índice de Desenvolvimento Humano foi criado para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). O índice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 têm desenvolvimento humano considerado baixo; os países com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de médio desenvolvimento humano; países com IDH maior que 0,800 têm desenvolvimento humano considerado alto. Nos semiárido, destacam-se : Caicó (RN) IDH-m = 0,756 , Petrolina (PE) IDH-m = 0,747 e Carnaúba dos Dantas (RN) IDH-m = 0,742. Destaca-se também o fato que dos 10 municípios com melhor IDH-m do semiárido, 08 estão no estado do Rio Grande do Norte. Na parte inferior da tabela estão Manari (PE) IDH-m = 0,467 e Guaribas (PI) IDH-m = 0,479, Sendo que dos 10 piores índices IDH-m do semiárido, 04 estão no Piauí e 04 em Alagoas. I.4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRAFIA SEMIÁRIDO www.pnud.org.br - Acessado em 11/10/07 www.asabrasil.org.br - Acessado em 11/10/07 www.integração.gov.br - Acessado em 11/10/07 http://www.adene.gov.br/semiarido/index.html - Acessado em 23/10/07 15 http://www.peasa.ufcg.edu.br/conteudo/a_pressupostos.htm - Acessado em 23/10/07 Andrade, G.O. & Lins, R.C. . Introdução a morfoclimatologia do nordeste do Brasil. Arq. Inst. Ciência Terra 4: p.17-28., 1965. Fossa M.G.R ; França M.C.. Uma Avaliação dos Critérios de classificação da População Urbana e Rural. pg.01, IDEMA, 2002. Inara R. Leal, Marcelo Tabarelli & José Maria Cardoso da Silva . Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, : Ed. Universitária da UFPE, 822p. 2003. Tabarelli, M., J.M.C.Silva, A.M.M Santos & A.Vicente. Análise de representativedade das unidades de conservação de uso direto e indireto na Caatinga: análise preliminar. P.13 in: J.M.C.Silva & M.Tabarelli. Workshop Avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade do bioma Caatinga. Petrolina, Pernambuco. www.biodiversitas.org.br/caatinga. 2000. 16 II. A GEODIVERSIDADE DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO (elaborado por Vanessa M. M. Cavalcanti) O patrimônio natural do semiárido brasileiro é entendido, cada vez mais, não apenas como sendo constituído pela sua flora e fauna, mas também pelo suporte geológico que as sustenta e condiciona. Logo, além da importância já amplamente reconhecida da biodiversidade, também é importante catalogar, conhecer e proteger a geodiversidade da região semiárida, vista como uma componente essencial do patrimônio natural. O termo “geodiversidade” foi utilizado pela primeira vez em 1993, durante a Conferência de Malvern, Reino Unido, sobre “Conservação Geológica e Paisagística”. O primeiro livro dedicado exclusivamente a esta temática foi editado, apenas, em 2004, tratando-se da obra Geodiversity: valuying and conserving abiotic nature, de autoria de Murray Gray, da London University. Desta maneira, o termo geodiversidade, tem menos de 15 anos de sua criação, não possuindo, ainda, uma conceituação sólida e uma divulgação generalizada comparável à da noção de biodiversidade, que surgiu, ainda, na década de 70 do século passado e que corresponde ao conceito análogo relativo à diversidade do mundo vivo, da biosfera. Geodiversidade é definida por Gray (2004) como a diversidade geológica (rochas, minerais e fósseis), geomorfológica (morfologia e processos) e dos solos, incluindo suas assembléias mineralógicas, relacionamentos, propriedades, interpretações e sistemas. A geodiversidade inclui, assim, a variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos que originam as paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra. Resumindo, a geodiversidade compreende todos os aspectos não vivos do planeta Terra, ou seja, a natureza abiótica. O patrimônio geológico, importante componente do patrimônio natural, pode ser definido como recurso não renovável, que, pelo seu valor cultural, estético, econômico, científico e educativo, deve ser explorado de forma sustentável e preservado para uso da população e das gerações futuras. A geodiversidade inclui tanto os bens minerais passíveis de exploração econômica quanto os geomonumentos ou geossítios, distribuídos, aqui, em geológicos, paleontológicos, hidrogeológicos e espeleológicos. Neste trabalho, afora a descrição dos geossítios paleontológicos e das províncias hidrogeológicas, a geodiversidade do semiárido brasileiro será abordada sob um enfoque econômico, em que serão descritas as principais jazidas e minas existentes, bem como os locais com produção de bens minerais com grande impacto social, em que a atividade de mineração é predominantemente informal. II.1 – ASPECTOS GEOLÓGICOS E RECURSOS MINERAIS Por não constar entre os objetivos desse trabalho uma análise aprofundada da geologia da região semiárida brasileira, sendo este tópico apenas um pano de fundo para a descrição dos recursos minerais, optou-se pelo conceito de províncias estruturais, conforme proposto por Almeida et al (1977). 17 Almeida et al (op.cit), baseado na natureza do embasamento cristalino e das coberturas sedimentares, definiu dez províncias estruturais no Brasil, estando a região semiárida contida em quatro destas províncias estruturais, ou seja, São Francisco, Borborema, Mantiqueira e Parnaíba (Figura II.1). PARNAÍBA BORBOREMA SÃO FRANCISCO MANTIQUEIRA COSTEIRA CEARÁ MARANHÃO PIAUÍ RIO GRANDE DO NORTE PARAÍBA PERNAMBUCO ALAGOAS SERGIPE BAHIA MINAS GERAIS PROVÍNCIAS ESTRUTURAIS 0 250 km Figura II.1 – Províncias estruturais brasileiras. Modificado de Almeida et al (1977) e Bizzi et al (2003). A Província do São Francisco, estruturalmente, é muito diferente das outras que lhe são confinantes, pois atuou como um antepaís em relação às faixas de dobramentos que nelas se desenvolveram no final do Pré-Cambriano. Confina com as províncias Tocantins, Parnaíba, Borborema e Mantiqueira e as bacias costeiras e margem continental. É parte do Escudo Atlântico, caracterizando-se como a parte central de um craton arqueano, consolidado no Proterozóico Inferior, no final do Ciclo Transamazônico (2,5 a 1,75 Giga-anos), em que estão depositados grandes conjuntos supracrustais do Proterozóico Médio e Superior, tanto aqueles intra-cratônicos como 18 àqueles formadores das faixas de dobramentos que o limitam, terminando pelos depósitos de coberturas do Fanerozóico. O cráton foi pouco ou não afetado pelo Ciclo Brasiliano (1,0 a 0,6 Giga-anos) que foi responsável, durante o Proterozóico Superior, pelo desenvolvimentonas suas bordas de cinturões de dobramentos. A Província Borborema coincide com a Região de Dobramentos Nordeste (Brito Neves, 1975), tendo sua configuração atual definida durante o Ciclo Brasiliano (1,0 a 0,6 Giga-anos), desencadeado no final do Proterozóico Superior. Confina com as províncias do São Francisco, Parnaíba e as bacias costeiras e margem continental. Esta província é constituída por faixas de dobramentos separadas por maciços medianos ou anticlinais de grandes dimensões, os quais expõem o embasamento pré-Brasiliano. Um complexo de falhas de grande porte secciona a província, separando as faixas de dobramentos ou cortando-as, as quais foram reativadas no Fanerozóico, quando também se acumularam as coberturas sedimentares. A Província Mantiqueira está localizada ao longo da costa Atlântica, confinando de um lado com as bacias costeiras e margem continental e de outro, com as províncias São Francisco, Tocantins e Paraná. Apenas a porção norte desta província está incluída na região semiárida, estando representada pela faixa de dobramentos Araçuaí, que se desenvolveu durante o Ciclo Brasiliano (1,0 a 0,6 Giga-anos) na margem do Craton São Francisco. A Província do Parnaíba coincide com a bacia do mesmo nome, confinando com as províncias Tocantins, São Francisco, Borborema e as bacias costeiras e margem continental. Trata-se de uma bacia intracratônica, predominantemente paleozóica, embora depósitos mesozóicos pouco espessos cubram grandes áreas. De acordo com Mesner & Wooldridge (1964), a sedimentação da bacia se processou durante três megaciclos relacionados com transgressões e regressões marinhas, assim distribuídos: Siluriano Superior / Devoniano –Carbonífero Inferior; Carbonífero Superior – Permiano / Triássico; e Cretáceo. A figura II.2 mostra a distribuição dos recursos minerais na região semiárida, delimita as principais províncias minerais, indicando os depósitos minerais relacionados neste trabalho. II.1.1 – FERRO E METAIS DA INDÚSTRIA DO AÇO No Brasil, as principais minas de ferro estão situadas no Quadrilátero Ferrífero (MG), na Serra dos Carajás (PA) e em Urucum (MS). No semiárido brasileiro não há nenhuma mina importante produzindo esta commodity mineral, somente merecendo algum destaque o depósito de Porteirinha (MG) e a Mina do Bonito, em Jucurutu (RN), que começou a operar em 2005. Os maiores produtores e as principais reservas brasileiras de manganês concentram-se nos estados do Mato Grosso do Sul, Pará, Minas Gerais e Amapá. Na região semiárida somente merece destaque a jazida de manganês localizada na região de Caetité - Licínio de Almeida, Bahia. A região semiárida do Estado da Bahia destaca-se como o principal produtor de cromo do país, sendo responsável por mais de 90 % da produção brasileira 19 de minério de cromo de graus metalúrgico e químico, sendo ainda detentor das maiores reservas nacionais. As principais minas e jazidas de cromita estão localizadas nos municípios de Campo Formoso, Santa Luz e Senhor do Bonfim. 0 500 km FERROSOS NÃO-FERROSOS PRECIOSOS GEMAS INDUSTRIAIS Fanerozóico Proterozóico Proterozóico Inferior - Arqueano Arqueano PROVÍNCIAS E DEPÓSITOS MINERAIS DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Brasil Oriental Chapada Diamantina Rio Itapicuru Campo Formoso e Vale do Jacurici Rio Curaçá Borborema-Seridó Figura II.2 – Províncias e depósitos minerais do semiárido. Províncias minerais: Brasil Oriental; Chapada Diamantina; Rio Itapicuru; Campo Formoso e Vale do Jacurici; Rio Curaça; e Borborema Seridó. Modificado de Dardenne & Schobbenhaus (2003). 20 Anexo da Fig. II.2 Depósitos minerais: 1- Porteirinha (Fe) 2 – Araçuaí (Li, feldspato, gemas) 3 – Pedra Azul (grafita) 4 – Vitória da Conquista (feldspato, mica, quartzo) 5 – Serra das Éguas (magnesita, talco) 6 - Lagoa Real (U) 7 - Caetité /Licínio de Almeida (Mn) 8 – Boquira (Pb, Zn, Ag) 9 – Irecê (fosfato) 10 – Chapada Diamantina (diamante) 11 – Jacobina/Itapura (Au, Ba) 12 – Campo Formoso (Cr, esmeralda) 13 – Angico dos Dias (fosfato) 14 – Fazenda Brasileiro (Au) 15 – Fazenda Maria Preta (Au) 16 – Medrado e Ipueira (Cr) 17 – Caraíba (Cu) 18 – Serrote da Lage (Cu) 19 – Paulistana (vermiculita) 20 – São João do Piauí (Ni) 21 – Chapada do Araripe (gipsita) 22 – Boa Vista (bentonita) 23 – Seridó-Borborema (Nb, Ta, Be) 24 – Brejuí (W) 25 – São Francisco (Au) 26 – Tenente Ananias (água marinha) 27 – Solonópole-Quixeramobim(Li,Be) 28 – Itataia (U, fosfato) 29 – Orós/José de Alencar (magnesita) 30 – Pedro II (opala) Os principais depósitos minerais de níquel estão localizados em Goiás, seguido de Minas Gerais, Pará e Piauí, sendo o último localizado na região semiárida, no município de São João do Piauí. A maior parcela do tungstênio produzido no Brasil é proveniente das minas e das áreas permissionadas, através do regime de lavra garimpeira, de scheelita da região do Seridó, semiárido do Rio Grande do Norte. Com relação ao vanádio, não há no Brasil nem produção e nem projetos de mineração com perspectivas imediatas de implantação, havendo, no entanto, reservas minerais cubadas no município de Maracás, no semiárido baiano. II.1.1.1 – Distrito ferrífero de Porteirinha, Minas Gerais Este distrito abrange os depósitos de ferro que ocorrem nos municípios de Porteirinha, Rio Pardo de Minas, Riacho dos Machados e Grão Mogol, no extremo norte do Estado de Minas Gerais. Na região estão representadas litologias pertencentes ao Grupo Macaúbas do Proterozóico Superior, dividido em duas formações, Rio Peixe Bravo, basal, e Nova Aurora, superior, tendo na última sido definido um membro denominado Riacho dos Poções, em que estão associadas às formações ferríferas (Vilela, 1986). O Membro Riacho dos Poções é caracterizado pela predominância de diamictitos de cor cinza e diamictitos hematíticos com um teor em Fe que pode atingir 60%, aos quais estão associados horizontes de quartzitos hematíticos bandados e níveis de xistos hematíticos ricos em sericita e quartzo. A hematita é fina e geralmente lamelar, sendo o minério relativamente rico em fosfato (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). Foram bloqueadas reservas medidas da ordem de 650.000.000 toneladas de minério com teores variando de 40 a 60 % Fe (Vilela, 1986). 21 II.1.1.2 – Distrito manganesífero de Caetité - Licínio de Almeida – Urandi – Jacaraci , Bahia Está situado no centro-sul do Estado da Bahia, limitado ao sul pela cidade de Jacaraci e ao norte por Caetité. As ocorrências de manganês estão associadas ao Complexo de Licínio de Almeida, unidade formada por rochas metamórficas vulcano-sedimentares de idade proterozóica inferior, representadas, predominantemente, por mica-xistos associados à cherts, seguidos de quartzitos ferruginosos, itabiritos e formações ferro-manganesíferas. O Complexo Licínio de Almeida está alojado na borda leste da Serra do Espinhaço, seguindo uma faixa larga e descontínua, em que afloram as inúmeras ocorrências de manganês dispostas segundo um trend norte – sul. Foram caracterizados dois tipos de depósitos, o primeiro constituído de minério de manganês com alto teor em sílica e baixo teor em ferro, associado a xistos, quartzitos e gonditos; e o segundo constituído de minério de manganês com alto teor em ferro e baixo teor em sílica, associado a formações ferríferas intemperizadas e friáveis. O minério tanto pode ocorrer na forma de camadas e/ou lentes, constituídas de minério poroso quanto como minério eluvial maciço. Os principais minerais minério sãoa bixbiyíta, jacobsita, todorokita, manganita, criptomelana, haussmannita e pirolusita (Basílio & Brondi, 1986). A maioria dos depósitos de manganês da Bahia é de porte pequeno a médio e de origem singenética. As reservas medidas, até 2005, totalizavam mais de 350.000 toneladas de minério de manganês, com cerca de 150.000 toneladas de metal contido (DNPM, 2006). II.1.1.3 – Distrito cromitífero de Campo Formoso, Bahia O Distrito cromitífero de Campo Formoso está situado na região centro- norte do Estado da Bahia, município de Campo Formoso. As mineralizações de cromo estão associadas às rochas do Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso, que está situado ao longo de uma faixa estreita e descontínua, com aproximadamente 40 km de extensão e largura média de 1 km, na borda ocidental da Serra de Jacobina. As rochas máficas e ultramáficas, hospedeiras da cromita, são cortadas pelo granito Campo Formoso, datado em 2,0 Ga (Sabaté et al, 1990 apud Dardenne & Schobbenhaus, 2003) e recobertas, discordantemente, pelos quartzitos do Grupo Jacobina. Localmente, o Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso consiste de peridotito altamente serpentinizado com sete níveis de cromitito dividido em maciços, disseminados e fitados, dos quais quatro apresentam real importância econômica. (Barbosa de Deus et al,1982 apud Dardenne & Schobbenhaus, 2003; Duarte e Fontes, 1986). 22 Ocorrem quatro tipos de minério: compacto ou lump, com teor de Cr2O3 variando de 30 a mais de 50 % e razão Cr/Fe entre 2 e 2,5; estratificado ou fitado, resultado da alternância rítmica de leitos estreitos de cromitito com serpentinito, em que os teores de Cr2O3 variam de 20 a 30 %; disseminado, com teor de Cr2O3 variando de 15 a 20 %; e friável, proveniente da alteração dos outros tipos de minério, com teor de Cr2O3 muito oscilante, variando de 15 a 40 %, sendo os mais ricos fruto da alteração dos tipos lump e fitado. Além decromita, estão presentes como minerais acessórios magnetita, ilmenita e sulfetos (millerita, pentlandita e polydimita) (Queiroz, 1986; Duarte & Fontes, 1986). As reservas medidas no município de Campo Formoso, até 2005, totalizavam mais de 8.660.000 toneladas de minério de cromo, com cerca de 2.320.000 toneladas de metal contido (DNPM, 2006). II.1.1.4 – Distrito cromitífero do vale do Jacurici, Bahia O Distrito cromitífero do vale do Jacurici está situado no centro-norte do Estado da Bahia, distribuído nos municípios de Uauá, Andorinha, Monte Santo, Cansanção e Santa Luz. As mineralizações de cromo estão associadas a um complexo de rochas máficas e ultramáficas distribuído do lado oriental da Serra de Jacobina, seguindo uma orientação aproximada norte-sul, alcançando sua maior expressividade no vale do Jacurici, local onde foram inicialmente descritas. Os corpos máficos e ultramáficos mineralizados em cromo são descontínuos e encaixados concordantemente na foliação gnáissica regional e se estendem até o município de Santa Luz (Queiroz, 1986; Dardenne & Schobbenhaus, 2003). Os depósitos de cromita das fazendas Medrado e Ipueiras, município de Andorinha, estão associados a um complexo máfico-ultramáfico, com cerca de 7 km de extensão e 300 m de largura, intrusivo no cinturão Salvador-Curaçá, formando uma grande sinforme com orientação N-S. Com relação ao minério predomina a cromita maciça do tipo lump, com 30 a 40% de Cr2O3, representando cerca de 80% do minério, subordinadamente pode ocorrer o tipo disseminado (Mello et al, 1986). A jazida de Pedras Pretas, município de Santa Luz, está associada ao Complexo Máfico-Ultramáfico de Pedras Pretas, de idade arqueana, incluindo piroxenitos, serpentinitos, peridotitos e dunitos, que alojam os horizontes mineralizados. O minério ocorre sob a forma de cromitito compacto (41% Cr2O3), cromitito friável (39% Cr2O3) e cromita disseminada (17% Cr2O3) (Carvalho Filho et al, 1986). As reservas medidas dos municípios de Andorinha e Santa Luz, até 2005, totalizavam mais de 4.700.000 toneladas de minério de cromo, com cerca de 1.800.000 toneladas de metal contido (DNPM, 1986). II.1.1.5 – Jazida de níquel de São João do Piauí, Piauí A jazida de níquel está localizada no extremo leste do Estado do Piauí, na localidade de Brejo Seco, município de São João do Piauí. 23 Os primeiros trabalhos de pesquisa na região datam de 1972. Entre 1973 e 1974 a Rio Doce Geologia e Mineração realizou trabalhos de pesquisa e avaliação do depósito. Em 2004 foi outorgada a concessão de lavra da jazida. A mineralização de níquel está associada ao Complexo Básico- Ultrabásico de Brejo Seco intrusivo em gnaisses, quartzitos e filitos do Grupo Salgueiro, do Proterozóico Médio. O Complexo Básico-Ultrabásico de Brejo Seco é formado por um núcleo de serpentinitos circundado por rochas básicas, ou seja, gabros e dioritos. O depósito de níquel laterítico está situado nos serpentinitos, sendo resultado da concentração de níquel na forma de minério silicatado tipo garnierita, a partir de processos de intemperismo que atuaram nos serpentinitos (Santos, 1986). As reservas medidas são da ordem de 20.000.000 de toneladas de minério com teor médio de 1,57 % Ni (DNPM, 2001). II.1.1.6 – Distrito scheelitífero do Seridó, Rio Grande do Norte e Paraíba O distrito scheelitífero do Seridó ou província schelitífera do Seridó está situado nos estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, incluindo os principais depósitos de schellita do Brasil, distribuídos em uma área de aproximadamente 20.000 km2, estando o principal depósito, denominado Brejuí/Barra Verde/Boca de Lage/Zangarelhas, situado nas proximidades da cidade de Currais Novos, no Rio Grande do Norte. A scheelita do Seridó foi descoberta no início de 1942, tendo sido intensamente explorada até 1982, com uma produção total de 55.000 toneladas de concentrado contendo em média 70% WO3, obtido a partir de um minério com teor médio de 0,70 a 1% WO3. As minas mais importantes, Brejuí, Barra Verde, Boca de Lage e Zagarelhas, situam-se ao redor do maciço granítico de Acari e correspondiam a 91% das reservas da província do Seridó, tendo as três primeiras sido responsáveis por cerca de 70% da produção de concentrado no período de 1942 a 1982 (Maranhão et al, 1986). Na Faixa Dobrada do Seridó, as principais mineralizações de scheelita, conhecidas sob as denominações Brejuí, Barra Verde, Boca de Lage e Bodó, estão associadas aos escarnitos da Formação Jucurutu, do Proterozóico Médio. Os escarnitos e a scheelita ocorrem, principalmente, no contato mármore/metassedimentos e mármore/rochas intrusivas, no interior dos paragnaisses. Os sulfetos associados são, essencialmente, molibdenita, pirita, calcopirita e bornita e os minerais acessórios são a magnetita, o bismuto nativo e a bismutinita (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). As reservas medidas dos municípios de Currais Novos e Bodó, até 2005, totalizavam mais de 21.770 toneladas de minério de tungstênio, com 202 toneladas de metal contido (DNPM, 2006). A exploração de scheelita praticamente cessou no início da década de 80, do século passado, devido aos baixos preços internacionais do concentrado. A partir de 2004, houve uma retomada da produção na região, sendo a mina de Bodó, no município 24 de Bodó (RN), atualmente, a mais importante, com teor da ordem de 2,42% WO3 (Nesi, 2006). Recentemente, foi implantado um complexo turístico na mina Brejuí, a mais tradicional da região de Currais Novos, que dispõe de visitação turística guiada às dependências da mina e as galerias. II.1.2 – RECURSOS MINERAIS ENERGÉTICOS Os recursos minerais energéticos do semiárido brasileiro estão representados por depósitos de urânio, sendo o Brasildetentor da sexta maior reserva geológica de urânio do mundo, com aproximadamente 309.000 toneladas de U3O8 distribuídos nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais e outros. Os dois principais depósitos minerais de urânio do Brasil estão localizados na região semiárida, representados pelo Distrito Uranífero de Lagoa Real (Bahia), já em fase de produção, e o de Itataia (Ceará). Também pode ser citado o depósito de Espinharas na Paraíba, mas com reservas cubadas bastante inferiores aos dois primeiros. II.1.2.1 – Distrito uranífero de Lagoa Real, Bahia O distrito uranífero de Lagoa Real está localizado na região centro-sul do Estado da Bahia, nos municípios de Caetité e Lagoa Real, a cerca de 20 km a nordeste da cidade de Caetité. O depósito foi descoberto, entre 1976 e 1977, durante a execução de uma série de levantamentos aerogeofísicos na região. A área do depósito está situada na porção sul do Cráton do São Francisco, a leste da Serra do Espinhaço estando as mineralizações de urânio associadas a corpos de albititos lenticulares que se localizam ao longo de zonas de cisalhamento que ocorrem nos gnaisses do Complexo Lagoa Real, do Arqueano. Neste complexo estão intrudidos corpos graníticos porfiríticos, denominados de granito São Timóteo, também afetados por zonas de cisalhamento hospedeiras dos albititos mineralizados (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). Os albititos mineralizados constituem corpos lenticulares, métricos a quilométricos, com espessura variando de alguns centímetros até uma centena de metros, que mergulham segundo uma lineação de origem cataclástica, formando corpos alongados semelhantes a “charutos”, que podem atingir até 850 metros de profundidade, como na jazida da Rabicha (Oliveira et al, 1985). As reservas estimadas em 100.000 toneladas de U3O8 são suficientes para o suprimento das usinas Angra I, II e III por 100 anos e a continuidade das atividades de pesquisa e prospecção pode aumentar substancialmente estes valores. II.1.2.2 – Distrito uranífero de Itataia, Ceará O distrito uranífero de Itataia está localizado na região central do Estado do Ceará, no município de Santa Quitéria, a cerca de 45 km a sudeste da sede do município. 25 As mineralizações de urânio estão associadas a uma seqüência metamórfica constituída por migmatitos na base, sotopostos a quartzitos e gnaisses capeados por mármores, denominada Grupo Itataia, de idade proterozóica inferior, cortada por corpos graníticos e pegmatíticos (Mendonça et al, 1985). São reconhecidos dois tipos de minério: colofanito maciço e vênulas e stockwork de minério de colofano em mámores, gnaisses e epissienitos. O colofanito é composto por apatita microcristalina, límpida, e por esferulitos com estrutura fibroradial, intimamente associados a massas de colofana criptocristalina. O urânio ocorre em hidroxi-apatita criptocristalina, que também apresenta interesse econômico como minério de fosfato (Mendonça et al, 1985). O distrito uranífero de Itataia possui reservas geológicas de 142.500 toneladas de urânio associado ao fosfato. A reserva lavrável tem 79.500.000 toneladas de minério com teores de 11% de P2O5 e 1000 ppm de U3O8. Também pode ser aproveitado cerca de 300.000.000 m3 de mármore, totalmente isento de urânio. Embora se constitua na maior reserva de urânio do país, sua viabilidade econômica depende da exploração do fosfato, o que significa que a extração de urânio em Itataia está condicionada à produção de ácido fosfórico, insumo utilizado na produção de fertilizantes. II.1.3 –METAIS NÃO FERROSOS No Brasil, os principais estados produtores de cobre são o Pará e a Bahia, sendo o primeiro responsável por mais de 80 % das reservas nacionais. Toda a produção baiana está na região semiárida, mais precisamente, no vale do Curaçá. Outros depósitos com reservas calculadas na região semiárida são: Pedra Verde, no município de Viçosa do Ceará e Serrote da Laje, em Arapiraca, Alagoas. O semiárido da Bahia já foi o maior produtor de chumbo do Brasil, durante os anos de produção da mina de Boquira, que foi fechada em 1992, devido à exaustão das reservas. Minas Gerais é o único estado produtor de zinco no Brasil e também o detentor de cerca de 83 % das reservas brasileiras, as quais estão localizadas nos municípios de Vazante e Paracatu, ambos na região noroeste do estado. A região semiárida detêm cerca de 2,3 % das reservas brasileiras, com depósitos localizados nos municípios de Boquira e Irecê, na Bahia. II.1.3.1 – Distrito cuprífero do vale do Rio Curaçá, Bahia O distrito cuprífero do vale do Rio Curaçá está localizado na região norte do Estado do Bahia, no município de Jaguarari. O principal depósito é o de Caraíba, em que se encontra em lavra a mina do mesmo nome. O depósito de cobre de Caraíba está associado a um complexo máfico- ultramáfico intrusivo no cinturão de alto grau Curaçá–Salvador, constituído de gabros, gabronoritos, leucogabros, peridotitos, olivina-piroxenitos, hiperstenitos, melanoritos e noritos. A mineralização principal é associada aos hiperstenitos, sendo constituída 26 essencialmente de magnetita, calcopirita e bornita disseminadas, além de calcosita e ilmenita subordinadas (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). A mineralização cuprífera está associada à sills estratificados, sendo, em todo o distrito, pelo menos três centenas desses corpos máfico-ultramáficos, os quais são originadas de um magma de composição toleítica e possuem potencialidade metalogenética para cobre (Lima e Silva et al, 1988). As reservas medidas do município de Jaguarari, até 2005, totalizavam mais de 39.208.000 toneladas de minério de cobre, com 679.969 toneladas de metal contido (DNPM, 2006). A mina de Caraíba é explotada desde 1978 por mineração a céu aberto e subterrânea, já estava, praticamente, exaurida, possuindo, de acordo com Ribeiro (2005), reservas lavráveis de cobre suficientes para assegurar uma vida útil da mina somente até 2008. Recentemente, de acordo com Santos Ribeiro (2007), foi apresentado um projeto integrado de escala de lavra e beneficiamento, com ampliação e reavaliação de depósitos de cobre da mina e dos seus arredores no Vale do Curaçá, e de implantação de usina de lixiviação e refino, assegurando uma vida útil da jazida até 2012. II.1.3.2 – Depósito de chumbo-zinco de Boquira, Bahia O depósito de Pb-Zn de Boquira está localizado na porção centro-sul do Estado da Bahia e foi de 1956 a 1985, o principal produtor de chumbo do Brasil. O fechamento da mina em 1992 deveu-se a exaustão das reservas. A mineralização está associada à Formação Boquira, de idade arqueana, que ocorre ao longo da margem oriental da Serra do Espinhaço em uma faixa de 64 km de comprimento e largura de 3 km, atravessando as cidades de Macaúbas e Boquira. Esta formação consiste de xistos, quartzitos, mármores, itabiritos e anfibolitos, sendo a mineralização de Pb-Zn essencialmente estratiforme e estando inteiramente contida na magnetita-anfibólio bandado (Sila & Cunha, 2000; Espourteille & Fleischer, 1988). Trata-se de uma mineralização de Pb-Zn singenética do tipo stratabound e/ou estratiforme, hospedada em uma seqüência metassedimentar calcissilicatada, sem contribuição vulcânicia aparente, constituída de sulfetos maciços, em que predominam galena e calcopirita, tendo calcopirita, pirita e pirrotita como minerais acessórios. (Espourteille & Fleischer, 1988; Dardenne, 1988). O município de Boquira registra em 2005 uma reserva de Pb-Zn da ordem de 796.400 toneladas de minério, devendo este número aos pilares da mina dada como exaurida em 1992. A mina de Boquira que foi a maior mina de Pb-Zn do Brasil, se comparada aquelas de outros paísesprodutores, seria classificada como de pequeno porte, tanto devido a sua produção, da ordem de 250.000 toneladas de minério por ano quanto pelo seu conteúdo metálico (produção + reservas) em torno de 650.000 toneladas de Pb + Zn. 27 II.1.4 – GEMAS E METAIS PRECIOSOS No segmento de gemas e metais preciosos a região semiárida não está, atualmente, entre os principais produtores nacionais, mas possui reservas significativas e já esteve entre os principais produtores brasileiros tanto de ouro quanto de gemas (diamante e esmeralda). A produção de ouro no Brasil já foi caracterizada pela bipolarização entre a produção industrial, por empresas de mineração, e a produção garimpeira, em geral, realizada de forma irregular. Atualmente, a produção industrial responde por mais de 80 % da produção brasileira de ouro, tendo a produção de garimpo sua importância reduzida a cada ano. A produção nacional de diamante ainda é pulverizada e prevalentemente artesanal originária de áreas objeto de garimpagem, sobressaindo-se, atualmente, como principais estados produtores Mato Grosso e Minas Gerais. A região da Chapada Diamantina, semiárido baiano, já foi a maior produtora de diamante do país nos tempos do império. O Estado de Minas Gerais é hoje o principal produtor de esmeraldas do Brasil, seguido pelo Estado de Goiás, mas até o ano de 1980, quase toda a esmeralda produzida no Brasil era proveniente dos garimpos de Carnaíba no semiárido do Estado da Bahia. A produção de gemas de cor na região semiárida está, principalmente, relacionada a rochas pegmatíticas, em que a mineralização ocorre de forma errática, ocasionando que, na maioria das vezes, a extração seja realizada através de garimpeiros que operam de forma irregular, sem nenhum controle por parte dos órgãos governamentais. Entre os locais incluídos nesta situação, podem ser citados os seguintes distritos pegmatíticos: Itambé (água-marinha), no sul da Bahia; Solonópole- Quixeramobim (água-marinha, turmalina bicolor e verdelita), na região central do Ceará; Tenente Ananias (água-marinha), no extremo oeste do Rio Grande do Norte; e Borborema-Seridó (água-marinha e turmalina azul, conhecida como Turmalina Paraíba), no sertão do Seridó, englobando os estados do Rio Grande do Norte e Paraíba. II.1.4.1 – Distrito aurífero de Fazenda Brasileiro, Bahia O distrito aurífero de Fazenda Brasileiro está localizado na região nordeste do Estado da Bahia, municípios de Araci, Teofilândia e Barrocas, na porção sul do Greenstone Belt do Rio Itapicuru, em uma seqüência vulcano-sedimentar metamorfisada denominada Faixa Weber (Marques, 1979; apud Santos et al, 1988). Os depósitos da Faixa Weber estão distribuídos nas unidades Incó, Fazenda Brasileiro, Canto e Abóbora. A Unidade Fazenda Brasileiro, que contém as mais importantes concentrações de ouro, é formada por três seqüências: xistos grafitosos, que capeia a principal zona mineralizada; xistos com quartzo, clorita e magnetita, que forma dois horizontes hospedeiros das mineralizações; intermediária, composta de sericita-cloritacarbonato xistos e plagioclásio-actinolita xistos (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). 28 Na mina Fazenda Brasileiro, a mineralização pode ser dividada em dois tipos: a primeira, mais importante, é formada por veios sulfetados encaixados nos horizontes de quartzo-clorita-magnetita xisto mais ou menos grafitosos, apresentando zona de alteração hidrotermal em suas bordas da Unidade Fazenda Brasileiro; e a segunda, formada por veios de quartzo encaixados nos demais tipos litológicos. A mineralogia básica dos veios mineralizados é quartzo, plagioclásio e arsenopirita, como o sulfeto mais importante por sempre ocorrer associado ao ouro (Santos et al, 1988; Dardenne & Schobbenhaus, 2003). Em outras minas da Faixa Weber, como na mina da Fazenda Riacho do Incó, a mineralização ocorre na Unidade Fazenda Brasileiro, mas o ouro está associado preferencialmente à pirrotita. Com relação às minas Canto I e Canto II, estas estão situadas na Unidade Canto e a mineralização é associada a feldspato-sericita-quartzo xistos (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). As reservas medidas no município de Araci, até 2005, são da ordem de 436.000 toneladas de minério com teor de 2,19 g/ton Au (DNPM, 2006). Para a mina Fazenda Brasileiro foram estimadas reservas de 150 toneladas de ouro contido em um minério com teor de 7-8 g/ton Au (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). II.1.4.2 – Distrito aurífero de Fazenda Maria Preta, Bahia O distrito aurífero de Fazenda Maria Preta está localizado na região nordeste do Estado da Bahia, município de Santa Luz. O distrito consiste de um grupo de pequenos depósitos situados na porção norte do Greenstone Belt do Rio Itapicuru, em três zonas de cisalhamento de segunda ordem, paralelas à zona de cisalhamento principal localizada a leste. A mineralização de ouro está hospedada em veios de quartzo acompanhados de alteração hidrotermal das rochas encaixantes, representadas por metassedimentos, meta-andesitos, meta-dioritos, meta-dacitos e brechas, com intercalaçães de meta-tufos grafitosos nos metassedimentos e meta-andesitos (Coelho e Freitas-Silva, 1998 apud Dardenne & Schobbenhaus, 2003; GITEW/SUMEN-CVRD, 1988). O ouro é encontrado em estado livre no quartzo e nos sulfetos, sendo o principal controle das mineralizações auríferas a geometria tabular dos veios de quartzo que hospedam os corpos mineralizados, os quais preenchem os espaços abertos ao longo das zonas de cisalhamento de segunda ordem (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). O distrito possui reservas estimadas, até 100m de profundidade, em 12,5 toneladas de ouro, que foram lavradas a céu aberto de 1990 até o início de 1998. II.1.4.3 – Distrito aurífero de Jacobina, Bahia O distrito aurífero de Jacobina está situado na região noroeste do Estado da Bahia, no município do mesmo nome. O povoamento da região de Jacobina, que deu origem a cidade, teve início ainda no século XVII, estando ligado a descoberta de ouro. 29 As mineralizações estão associadas à Formação Serra do Córrego do Grupo Jacobina. A denominação Grupo Jacobina refere-se a uma seqüência de metassedimentos clásticos, conglomerados, quartzitos e pelitos, que ocorrem na Serra da Jacobina, sobreposta a um embasamento granito-gnáissico, tido como Arqueano, e é intrudida por sills e diques de rochas máficas. Esta seqüência foi dividida em três formações, da base para o topo: Formação Serra do Córrego; Formação Rio do Ouro e Formação Cruz das Almas (Dardenne & Schobbenhaus, 2003; Molinari & Scarpelli, 1988). Os níveis conglomeráticos da Formação Serra do Córrego hospedam mineralizações de ouro, urânio e pirita, sendo considerado como um depósito de placer análogo ao Witwatersrand, na África do Sul. Os horizontes conglomeráticos são constituídos, principalmente, por seixos arredondados de quartzo, em matriz arenosa contendo pirita, ouro, sericita e fucsita, entre outros minerais; sendo os horizontes mais favoráveis para a concentração do ouro aqueles que apresentam seixos médios e pequenos, bom empacotamento, assim como elevado grau de esfericidade e arredondamento (Dardenne & Schobbenhaus, 2003; Molinari & Scarpelli, 1988). As reservas medidas do município de Jacobina, até 2005, totalizavam mais de 3.200.000 toneladas de minério, com teor de 4,02 g/ton Au (DNPM, 2006). A mina de Jacobina foi explotada por lavra subterrânea entre 1976 e 1996 e em 1998, definitivamente, todas as operações de lavra na região foram paralisadas pela empresa que lá operava, tendo em vista os preços baixos do ouro naquele momento. Somente em 2004 as atividades de lavra foram retomadas, tendo em 2005, de acordo com DNPM (2006) sido produzidos 1.823,95kg de ouro. Não existem dados estatísticos sobre a produção total de ouro em Jacobina, pois a maioria das atividades de extração, que remontam ao século XVII, foi realizada por garimpeiros. II.1.4.4 – Distrito aurífero do Seridó, Rio Grande do Norte O distrito aurífero do Seridó está localizado na região centro-leste do Estado do Rio Grande do Norte, estando o principal depósito, denominado mina de São Francisco, situado a cerca de 30 km da cidade de Currais Novos. As ocorrências mais importantes são conhecidas como São Francisco, São Tomé, Amarante, Serra dos Patos, Ponta da Serra, Faxeiro Chorão, Bonfim e Itajubatiba, estando todas associadas às zonas de cisalhamento NNE de segunda ordem e/ou ao sistema de fraturas relacionado a esses cisalhamentos subsidiários do Lineamento Patos (Legrand et al, 1993, 1996 apud Dardenne & Schobbenhaus, 2003). A mineralização ocorre associada a veios de quartzo de pequeno porte, com espessura variando de centimétrica a métrica, concordantes com a foliação milonítica ou preenchendo fraturas, encaixados em mica-xistos, gnaisses, granitos, ortognaisses e rochas calcissilicatadas. Ocorrem associados sulfetos e turmalina (Ferran, 1988; Dardenne & Schobbenhaus, 2003). 30 A mineralização de ouro foi descoberta em 1944 em aluviões de riachos que drenam o local onde hoje se encontra a mina de São Francisco. Com a exaustão das aluviões, os garimpeiros exploraram sucessivamente os gossans auríferos e, finalmente, os veios de quartzo mineralizados. O período mais importante da garimpagem na região foi de 1945 a 1952, quando trabalharam no local mais de 5000 garimpeiros. Depois disso, a atividade continuou, mas sem nunca ter atingido a importância daquele período. A partir de 1977 a área passou a ser explorada por pequenas empresas de mineração, tendo a mina de São Francisco produzido até 1990, quando foi paralisada. As reservas medidas de ouro primário no município de Currais Novos, até 2005, são da ordem de 828.935 toneladas de minério com teor de 0,77 g/ton Au (DNPM, 2006). Na mina de São Francisco foi cubada uma reserva lavrável a céu aberto de cerca de 1,3 toneladas de ouro contido (Ferran, 1988). II.1.4.5 – Distrito diamantífero da Chapada Diamantina, Bahia O distrito diamantífero da Chapada Diamantina está localizado na região central do Estado da Bahia, nos municípios de Lençóis, Andaraí, Mucugê e Morro do Chapéu. Esta região foi muito conhecida no século XIX devido à produção de diamantes. No ano de 1844, foram descobertos os primeiros diamantes na serra do Sincorá, na região de Mucugê. A partir dessa região toda a serra foi explorada. No auge do ciclo do diamante na região, Lençóis chegou a ser a maior produtora mundial de diamantes e a riqueza gerada com a mineração, possibilitou um rápido desenvolvimento regional. A importância da cidade era tanta, que o governo francês instalou um consulado na cidade para facilitar a importação das pedras. Após uma fase áurea de aproximadamente 25 anos, a partir de 1871 a garimpagem de diamantes entrou em declínio. No século XX, ainda houve algumas tentativas de mecanizar os garimpos, mas sem muito êxito. Em 1985, foi criado, pelo Governo Federal, o Parque Nacional da Chapada Diamantina. Os garimpos mecanizados situados dentro do parque foram fechados, definitivamente, em março de 1996 e após 150 anos de exploração das aluviões, ainda existe garimpagem manual, em ritmo mais lento, devido à exaustão e decadência das áreas. A mineralização de diamante ocorre nos conglomerados das formações Tombador e Morro do Chapéu do Grupo Chapada Diamantina e nas aluviões e coluviões originadas pelo intemperismo e erosão das camadas conglomeráticas. O Grupo Chapada Diamantina, de idade mesoproterozóica, corresponde à unidade superior do Supergrupo Espinhaço e é formado, da base para o topo, pelas formações Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu, sendo a primeira a mais importante unidade portadora de diamante da região. Os conglomerados da Formação Tombador foram depositados principalmente por rios entrelaçados na forma de barras de seixos intercaladas com bancos de areia com estratificações cruzadas e indicam um transporte preferencial de leste para oeste (Montes, 1977; apud Dardenne & Schobbenhaus, 2003). O distrito diamantífero ocupa uma faixa de cerca de 300 km de comprimento e pode ser subdividido em cinco áreas diferentes: Lençóis–Andaraí– 31 Mucugê, Santo Inácio, Piatã–Serra do Bastião, Chapada Velha e Morro do Chapéu. Excetuando o campo de Morro do Chapéu, de extensão restrita e associado à Formação Morro do Chapéu, todos os outros são relacionados à Formação Tombador (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). Um traço característico da Chapada Diamantina é a abundância de carbonado associado às gemas de diamante, que são pequenas e pesam, em geral, menos de um quilate. As maiores concentrações de diamante são encontradas em pláceres aluviais ao longo dos rios Paraguaçu, Santo Antônio e São José, com reservas estimadas em mais de 1.200.000 quilates de diamantes, sendo as aluviões do alto Santo Antonio responsáveis por 37% das reservas. No seu conjunto, as reservas da Chapada Diamantina são consideradas como possuidoras de mais de 3.800.000 quilates de diamantes (Costa, 1991; Dardenne & Schobbenhaus, 2003). II.1.4.6 – Depósitos de esmeralda de Carnaíba e Socotó, Bahia Os garimpos de esmeralda de Carnaíba e Socotó estão localizados no centro-norte do Estado da Bahia, nos municípios de Pindoaçu e Campo Formoso, respectivamente, sendo de 40 km a distância entre as duas áreas. Os garimpeiros estão organizados em cooperativas e as áreas estão legalizadas por permissão de lavra garimpeira. Os jazimentos de esmeralda estão encaixados no Complexo de Campo Formoso, de idade paleoproterozóica, formado por rochas ultramáficas serpentinizadas com importantes níveis de cromita e intrudido pelos granitos peraluminosos de Carnaíba e Campo Formoso, sendo todo o conjunto sobreposto, discordantemente, pelos metassedimentos do Grupo Jacobina (Couto et al, 1991; Dardenne & Schobbenhaus, 2003). A ocorrência de esmeralda é conhecida desde 1963, quando tiveram início os trabalhos de escavações no local conhecido como Bráulia, em Carnaíba de Baixo. As esmeraldas ocorrem mais comumente nos flogopititos (teor médio de 12 g/ton), seguido dos plagioclasitos (albita e clevelandita), e secundariamente nos veios com turmalina e plagioclásio e nos quartzitos. Alexandrita, scheelita e molibdenita são os principais minerais associados. Os flogopititos podem ter extensão da ordem de 200 a 300 m e espessura de alguns metros, e a sua geometria é controlada pelas estruturas que têm guiado a percolação dos fluidos, notadamente os veios de aplopegmatitos. Nos serpentinitos, os pegmatitos são feldspatizados e transformados em plagioclasitos (pegmatóides) (Dardenne & Schobbenhaus, 2003). O garimpo de Carnaíba se desenvolveu em torno e no âmbito do Granito de Carnaíba, podendo ser dividido em dois principais setores, ou seja, Camaíba de Cima, localizado acima de 1.000 metros de altitude, e Carnaíba de Baixo. Já o garimpo de Socotó está localizado na parte nordeste do granito de Campo Formoso em rochas serpentiníticas. A esmeralda é extraída em escavações subterrâneas, em que os veios mineralizados são seguidos através de galerias estreitas, horizontais ou inclinadas, com 32 complexas derivações. O acesso as galerias se dá através de poços verticais ou mesmo diretamente se a topografia permitir. Os poços chegam a atingir até 100 metros de profundidade e as galerias podem ultrapassar os 300 metros de comprimento (Couto et al, 1991). Na década de 80, o garimpo de Carnaíba chegou a representar quase toda a esmeraldaproduzida no Brasil e cerca de 25% do total da exportação brasileira de gemas, não computando os diamantes. Nos anos 80, foram descobertas esmeraldas em Socotó, cuja produção do garimpo superou a de Carnaíba. Atualmente o maior produtor de esmeralda do Brasil é o Estado de Minas Gerais. II.1.4.7 – Distrito pegmatítico de Tenente Ananias, Rio Grande do Norte O distrito pegmatítico de Tenente Ananias está localizado no extremo oeste do Estado do Rio Grande do Norte, estando o principal depósito de água marinha localizado a 4 km a norte da cidade de Tenente Ananias. A água marinha de Tenente Ananias é uma gema de alto valor econômico, reconhecida pela alta pureza e limpidez, o azul profundo e o talhe grande. O primeiro registro de água marinha nesta região foi em 1943 na localidade conhecida por Fazenda Mata. No entanto, somente dez anos depois é que tiveram início as primeiras atividades garimpeiras. No início da década de 80, do século passado, Tenente Ananias atingiu seus índices mais altos, continuando assim até 1988, quando a produção começou a decrescer, vindo, na década de 90, a paralisar completamente as atividades. A região é constituída por litologias pré-cambrianas, destacando-se gnaisses bandados, pertencentes ao complexo basal arqueano, intrudidos por ortognaisses, granitos e pegmatitos. Os pegmatitos são intrusivos, concordantemente, com a direção do bandamento principal dos gnaisses encaixantes, sendo discordantes em relação ao mergulho. Trata-se de corpos lenticulares de dimensões variadas (50 – 100m), em que ocorrem cristais de água marinha de forma hexagonal ou em massas irregulares distribuídas em bolsões diferenciados, os quais ocorrem de forma errática, ao longo dos corpos pegmatíticos. Os minerais associados são o quartzo, a amazonita, a mica moscovita e, em menor quantidade, a granada (Rêgo, 1991). As mineralizações de água marinha ocorrem numa área de aproximadamente 460 km2, estando os pegmatitos encaixados dentro de uma pequena zona de falha local com 2 km de largura e 12 km de comprimento, segundo a direção NE-SW. Os principais pegmatitos são Nova Descoberta, Mina Velha, Rabo Gordo, Mina do Meio, Jorge, Jerimum e Talhado. Atualmente, ainda existe garimpagem na região, mas a produção é pouco expressiva, quando comparada aquela da década de 80, do século passado. II.1.4.8 – Depósito de opala de Pedro II, Piauí O depósito de opala está situado na região nordeste do Estado do Piauí, no município de Pedro II, a 3 km ao norte da cidade do mesmo nome e 166 km a nordeste de Teresina. Trata-se da única reserva de opala nobre do país que, juntamente 33 com os depósitos australianos constituem as únicas fontes importantes desse mineral no mundo. O depósito está inserido na bacia sedimentar do Parnaíba, associado a uma intrusão concordante de diabásio, de idade jurássica, que corta a porção média e inferior da Formação Cabeças, do Devoniano Médio, constituída por arenitos, siltitos e argilitos (Oliveira et al, 1979). A opala tanto pode ocorrer sob a forma de depósito primário quanto secundário. Nos primários, ocorre preenchendo fraturas e fissuras em arenitos silicificados, em argilas e no topo do diabásio, sendo os principais jazimentos os de Boi Morto, Roça e Mamoeiro. Nos secundários, ocorre associada aos depósitos aluviais do rio Corrente, sendo os principais jazimentos os de Pirapora, Barra e Roça/Pajeu. A distribuição da opala nos depósitos primários é bastante errática, ao longo de um horizonte com espessura variando de 1 a 4m (Roberto & Souza, 1991). São encontrados vários tipos de opala, quase todas da variedade White Precious Opal, tais como arlequim, band opal, pin fire, broad flash e butterfly wing. (Roberto & Souza, 1991). A opala de Pedro II foi classificada, ainda, com base na cor, tamanho e intensidade de opalescência das pedras em: nobre, extra, forte, fraca, média e refugo (cascalho). O primeiro registro da ocorrência de opala data do final da década de 30, do século passado, no local hoje denominado Boi Morto, uma das principais jazidas em exploração. Até o início do século XXI a explotação era realizada por empresas regularizadas e por garimpeiros em áreas irregulares e sem nenhuma preocupação ambiental, situação esta que persistiu por mais de 40 anos. Atualmente, a extração de opala ocorre tanto através de empresas regularizadas com concessões de lavra quanto por garimpeiros organizados em cooperativas e regularizados através de permissão de lavra garimpeira. As reservas medidas do município de Pedro II, até 2005, totalizavam mais de 5.570.500 g de opala (DNPM, 2006). II.1.5 – ROCHAS ORNAMENTAIS O segmento de rochas ornamentais engloba a comercialização de mármores, granitos e similares. No Brasil, além dos materiais tradicionalmente produzidos há uma demanda tanto do mercado interno quanto externo por novos tipos de rochas, com destaque para as rochas exóticas quartzíticas e calciossilicáticas, de vários matizes de cores e movimentação intensa. Noventa por cento da produção nacional está representada em ordem decrescente pelos estados ES, MG, BA, CE, PR, RJ e GO, sendo que, os estados do Espírito Santo e Minas Gerais, sozinhos, detêm mais de 70% dessa produção (Matta, 2006). 34 A região semiárida brasileira, embora não seja a maior produtora nacional é a que possui a maior geodiversidade, com grande variedade de litologias, padrões e cores, tendo o Estado da Bahia como maior produtor regional, seguido do Ceará e Paraíba. II.1.5.1 – Bahia O Estado da Bahia é o terceiro maior produtor brasileiro de rochas ornamentais e o único estado que produz o raríssimo granito azul, de nome comercial Azul Bahia, bem como o mármore travertino conhecido como Bege Bahia, sendo este último uma das rochas mais consumidas no mercado nacional. Além disso, possui reservas e são produzidos outros tipos de granitos, migmatitos, mármores, quartzitos e conglomerados dos mais variados tipos e matizes (Silva, 1991). As rochas silicáticas, ou seja, os granitos, migmatitos, quartzitos, conglomerados, sienitos e similares possuem jazidas espalhadas em todo o território do estado. A região sudoeste, incluindo o extremo sul, responde, atualmente, pela maior produção das rochas silicáticas do estado, devendo ser destacado o granito Azul Bahia (sodalita sienito), com distribuição nos municípios de Potiraguá, Itajú da Colônia, Santa Cruz da Vitória, Itapetinga e Itarantim. Esta região concentra uma grande diversidade de rochas silicáticas, podendo ser citados outros tipos de rochas graníticas com valor comercial como: o marrom de Itarantin; o amarelo de Itamaraju; o verde de Jequié, conhecido como Verde Glória; e o preto de Floresta Azul. A região do Paraguaçu vem em seguida com a produção de granitos movimentados, rosas, cinzas, vermelhos, pretos e vinhos. Os movimentados e rosados representam o maior volume de exportação em blocos do estado, sendo produzidos nos municípios de Itaberaba, Macajuba e Rui Barbosa. Na Chapada Diamantina são extraídos os quartzitos azuis e rosas, os conglomerados de matriz verde, preta e vermelha e os silexitos verdes, devendo ser destacado o dumortierita quartzito, comercialmente conhecido como Azul de Macaúbas. Na região norte há produção de rochas graníticas verdes e rosas e no vale do São Francisco, mais precisamente em Bom Jesus da Lapa há extração de granito amarronzado, conhecido como Café Bahia. Na região norte está localizado o maior pólo produtor de mármore do estado, onde se destaca a produção do mármore travertino, denominado comercialmente de Bege Bahia, que ocupa posição de destaque no mercado nacional. Nesta região
Compartilhar