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Algumas formas primitivas de classificação – Durkheim e

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Algumas formas primitivas de classificação – Durkheim e Mauss
Prof. Arinaldo
Departamento de Ciências Sociais - UEMA
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Prólogo
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1. Apresentação da problemática
1.1 Métodos de pensamento científico como verdadeiras instituições sociais
Operações mentais são muito complexas (faculdades de definir, deduzir, induzir)
Formam-se por uma penosa reunião de elementos hauridos das mais diferentes fontes dentre as mais estranhas à lógica e laboriosamente organizados
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1. Apresentação da problemática
1.2 Sobre a “função classificadora”
Procedimento que consiste em classificar os seres, os acontecimentos, os fatos do mundo em gêneros e em espécies, em subordiná-los uns aos outros, em determinar suas relações de inclusão e de exclusão
Debate entre lógicos e psicólogos
Hierarquia dos conceitos como dada nas coisas e imediatamente exprimível pela cadeia infinita dos silogismos VERSUS o simples jogo da associação das idéias, das leis de contiguidade e de semelhança entre os estados mentais bastam para explicar a aglutinação das imagens, sua organização em conceitos, classificados uns em relação aos outros 
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1. Apresentação da problemática
1.3 Classificação moderna e estado de indistinção presente em outros tipos de classificação 
Para nós, com efeito, classificar coisas é ordená-las em grupos distintos entre si, separados por linhas de demarcação nitidamente determinadas
Mas, há inúmeras sociedades em que é no conto etiológico que reside toda a história natural, nas metamorfoses, toda especulação das espécies vegetais e animais, nos ciclos divinatórios, os círculos e quadrados mágicos, toda previsão científica 
Elas supõem é a crença na transformação possível das coisas mais heterogêneas umas nas outras e, por conseguinte, a ausência mais ou menos completa de conceitos definidos
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1. Apresentação da problemática
“Se descermos até às sociedades menos evoluídas que conhecemos, aquelas que os alemães chamam pelo nome de Naturvölker, deparar-nos-emos com uma confusão mental ainda mais absoluta. Aqui, o próprio indivíduo perde sua personalidade. Entre ele e sua alma exterior, entre ele e seu totem, a indistinção é completa. Sua personalidade e a de seu fellow-animal constituem uma coisa só. A identificação é tal que o homem assume os caracteres da coisa ou do animal de que é assim aproximado” (p. 401).
“Os animais, os homens, os objetos inanimados foram quase sempre concebidos na origem como mantendo entre si relações da mais perfeita identidade. (...); e os exemplos poderiam ser multiplicados ao infinito” (p. 402).
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2. Origem da capacidade de classificar
“Bem longe, pois, de o homem classificar espontaneamente e por uma espécie de necessidade natural, no início faltam à humanidade as condições mais indispensáveis da função classificadora. Aliás, basta analisar em si mesma a classificação para compreender que o homem não podia encontrar em si mesmo seus elementos essenciais. Uma classe, é um grupo de coisas; ora, as coisas não se apresentam por si mesmas tão agrupadas à observação. Podemos perceber de maneira mais ou menos vaga suas semelhanças. Mas o simples fato destas semelhanças não basta para explicar como somos levados a reunir os seres que assim se assemelham, e reuni-los numa espécie de meio ideal, encerrado nos limites determinados, e que chamamos um gênero, uma espécie, etc. Nada nos autoriza a supor que nosso espírito, desde o nascimento, traga já elaborado em si o protótipo deste quadro elementar de toda classificação. Sem dúvida, a palavra pode ajudar-nos a dar mais unidade e consistência ao conjunto assim formado; mas se a palavra é um meio para melhor realizar este agrupamento, uma vez que se concebeu sua possibilidade, não poderia por si mesmo sugerir-nos sua idéia. De outro lado, classificar, não é apenas constituir grupos: é dispor estes grupos segundo relações muito especiais. Nós os representamos como coordenados ou subordinados uns aos outros, dizemos que estes (as espécies) estão incluídos naqueles (os gêneros), que os segundos agrupam os primeiros. Há os que dominam, outros que são dominados, outros que são independentes entre si. Toda classificação implica uma ordem hierárquica da qual nem o mundo sensível nem nossa consciência nos oferecem o modelo. (...). As próprias expressões de que nos servimos para caracterizá-lo nos autorizam a presumir que todas estas noções lógicas são de origem extralógica. Dizemos que as espécies de um mesmo gênero mantêm relações de parentesco; designamos certas classes com o nome de famílias; o próprio termo gênero não designava primitivamente um grupo familial (...)? Estes fatos levam à conjectura de que o esquema de classificação não é um produto espontâneo do entendimento abstrato, mas resulta de uma elaboração na qual entraram todos os tipos de elementos estranhos” (p. 402-3).
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2. Origem da capacidade de classificar
“...desejaríamos reunir um certo número de informações que são, cremos, capazes de esclarecê-la. Com efeito, a única maneira de responder a isto é procurar as classificações mais rudimentares feitas pelos homens, a fim de ver com que elementos foram construídas. Ora, iremos arrolar no que se segue um certo número de classificações que certamente são muito primitivas e cuja significação geral não parece oferecer dúvidas” (p. 403-4). 
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I
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1. As classificações australianas
Cada tribo é dividida em duas grandes seções fundamentais designadas pelo termo fratrias
Fratrias
 Classes matrimoniais
 Clãs
“Todos os membros da tribo são assim classificados em classes definidas e que se encaixam umas nas outras. Ora, esta classificação das coisas reproduz esta classificação dos homens” 
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1. As classificações australianas
Tribo de Port-Mackay na Queenslândia
Yungaroo
Wootaroo
Walkebura de Queenslândia-Norte-Central
Tribo de Mont-Gambier
Wotjoballuk, tribo da Nova Gales do Sul
Jacarés; sol; vento;
Canguru; lua; chuva
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1. As classificações australianas
Walkebura de Queenslândia-Norte-Central
“Ora, estas duas fratrias e estas duas classes matrimoniais ‘dividem todo o universo em grupos. As duas fratrias, (...), são Malera ou Wuteru (...); por conseguinte todos os objetos são ou um ou outro. Da mesma forma, (...): o alimento comido pelos Banbei e os Cargila denomina-se Mulera e o dos Wongoo ou Oboo (Obu), Wotera (Wutaru) 
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1. As classificações australianas
Tribo de Mont-Gambier
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1. As classificações australianas
Wotjoballuk, tribo da Nova Gales do Sul
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1. As classificações australianas
1.1 Classificação envolvendo organização social e atitudes rituais dos indivíduos
“...um feiticeiro que é da fratria malera na execução de sua arte só pode servir-se de coisas que são igualmente malera. Por ocasião do enterro, o estrado sobre o qual o corpo é exposto (...) ‘deve ser feito da madeira de alguma árvore pertencente à fratria malera’. O mesmo se passa com os ramos que cobrem o cadáver. Se se tratar de um Banbe, dever-se-á empregar a árvore da folha grande; porque esta árvore é banbe; e serão homens da mesma fratria que realizarão o rito. A mesma organização de idéias serve de base às previsões; é tomada como premissa para interpretar os sonhos, para determinar as causas, para definir as responsabilidades. Sabe-se que, em todos estes tipos de sociedades, a morte jamais é considerada como um acontecimento natural, devida à ação de causas puramente físicas; é quase sempre atribuída à influência mágica de algum feiticeiro, e a determinação do culpável faz parte integrante dos ritos funerários” (p. 408)
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1. As classificações australianas
1.1 Classificação envolvendo organização social e atitudes rituais dos indivíduos (pensamento simbólico)
“(...), entre os Walkebura, é a classificação
das coisas por fratrias e por classes matrimoniais que fornece o meio de descobrir a classe à qual pertence o sujeito responsável, e talvez o próprio sujeito. Sob o madeirame em que repousa o corpo e em torno dele, os guerreiros aplainam cuidadosamente a terra de forma que a mais ligeira marca seja aí visível. No dia seguinte, examina-se atentamente o terreno sob o cadáver. Se um animal passou por ali, facimente se lhe descobrem as pegadas; os negros deduzem daí a classe de pessoa que causou a morte de seu parente. Por exemplo, se se descobrem pegadas de um cão selvagem, saber-se-á que o assassino é um Malera ou um Banbei; pois é a esta a fratria e a classe a que pertence o referido animal” (p. 408).
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1. As classificações australianas
1.1 Classificação envolvendo organização social e atitudes rituais dos indivíduos (pensamento simbólico)
“Esta ordem lógica é tão rígida, o poder coercitivo destas categorias sobre o espírito do australiano é tão poderoso que, em certos casos, vê-se todo um conjunto de atos, de sinais, de coisas ser disposto segundo tais princípios”
Cerimônia de iniciação (pertencimento ao clã, bastões de mensagens
Encontros de classes
“O remetente, o destinatário, o mensageiro, a madeira da mensagem, a caça designada, a cor de que é pintada, tudo se harmoniza rigorosamente de acordo com o princípio estabelecido pela classificação.
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1. As classificações australianas
1.2 O universo contido nas classificações
“(...), se o totemismo é, de um lado, o agrupamento dos homens em clãs de acordo com os objetos naturais (espécies totêmicas associadas), é, também, inversamente, um agrupamento dos objetos naturais segundo os agrupamentos sociais” (p. 409).
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1. As classificações australianas
1.3 Classificação como princípio de identificação entre seres humanos e coisas animadas e inanimadas (exemplo de Mont-Gambier)
“As coisas atribuídas a uma fratria são claramente separadas das que são atribuídas a outra; as atribuídas aos diferentes clãs de uma mesma fratria não são menos distintas. Mas todas aquelas compreendidas num só e mesmo clã são em grande parte indiferenciadas. São da mesma natureza; não há entre elas linhas de demarcação nítidas como existe entre as variedades últimas de nossas classificações. Os indivíduos do clã, os seres da espécie totêmica, os das espécies que lhes são vinculadas, todos eles nada mais são exceto aspectos diferentes de uma só e mesma realidade” (p. 411).
“Com maior razão não devemos admirar-nos de que muitas destas associações nos desorientem. Não são fruto de uma lógica idêntica à nossa. Aí presidem leis de que nós não chegamos sequer a suspeitar” (p. 412). 
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1. As classificações australianas
1.4 Princípio de oposição binária governando a classificação
“(...), nesta tribo de Mont-Gambier, ao cacatua branco está ligado o sol, o verão, o vento; ao cacatua negro, a lua, as estrelas, os astros da noite. Parece que a cor forneceu como que a linha segundo a qual foram dispostas, de uma forma antitética, estas diversas representações. Da mesma forma, o corvo compreende naturalmente, em virtude de sua cor, a chuva e, por conseguinte, o inverno, as nuvens, e, em consequência, o relâmpago e o trovão” (p. 411).
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1. As classificações australianas
1.4 Noções que os australianos têm das relações que medeiam entre os grupos das coisas classificadas: 
Parentesco (fratrias)
“Quando a classificação se faz simplesmente em fratrias, sem outra subdivisão, cada um se sente patente e igualmente parente dos seres atribuídos à fratria de que é membro; são todos, ao mesmo título, sua carne, seus amigos, ao passo que há sentimentos completamente diferentes para com os seres de outra fratria” (p. 413-4).
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1. As classificações australianas
1.3 Noções que os australianos têm das relações que medeiam entre os grupos das coisas classificadas: 
Parentesco (clãs)
“Mas, quando à esta divisão fundamental (em fratrias) se sobrepôs a divisão em classes ou em clãs totêmicos, tais relações de parentesco se diferenciam. Assim, um Kumite de Mont-Gambier sente que todas as coisas kumites são suas; mas dizem-lhe respeito mais de perto aquelas que são de seu totem” (p. 414). 
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1. As classificações australianas
1.3 Noções que os australianos têm das relações que medeiam entre os grupos das coisas classificadas: 
Posse (proximidade)
“(...), não é o indivíduo que possui por si mesmo o subtotem: é ao totem principal que pertencem aqueles que lhe são subordinados. O indivíduo não passa aí de um intermediário. É porque tem em si o totem (que se acha igualmente em todos os membros do clã) que ele possui uma espécie de direito de propriedade sobre as coisas atribuídas a este totem” (p. 414).
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1. As classificações australianas
1.3 Noções que os australianos têm das relações que medeiam entre os grupos das coisas classificadas: 
Posse (afastamento)
“(...), as coisas mais essenciais ao indivíduo não são as mais próximas dele, aquelas que se referem mais estreitamente à sua personalidade individual. A essência do homem é a humanidade. A essência do australiano está antes em seu totem do que em seu subtotem, e mesmo, melhor ainda, no conjunto das coisas que caracterizam sua fratria” (p. 415).
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III

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