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FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS PIAUIENSE - FACAPI Curso: Direito Disciplina: Direito Penal IV Professora: Esp. Josianne Maria da S. A. Pontes DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA 1. DEFINIÇÃO DE PAZ PÚBLICA Paz pública, significa a necessária sensação de tranquilidade, de segurança, de paz, de confiança que a nossa sociedade deve ter em relação à continuidade normal da ordem jurídico-social. (GRECO, 2022); Sentimento coletivo de paz assegurado pela ordem jurídica. (MASSON,2022) Incitação ao crime Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade. (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) 1. Objeto jurídico = paz pública 2. Ação Nuclear = incitar, no sentido de estimular, incentivar publicamente a prática de crime. 3. Sujeito ativo = Qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo do delito de incitação ao crime. 4.Sujeito passivo = é a sociedade, coletividade (crime vago) 5.Consumação = crime formal, consuma-se quando o agente, incitando publicamente a prática de crime, coloca, efetivamente, em risco a paz pública, criando uma sensação de instabilidade social, de medo, de insegurança no corpo social, pouco importando se o crime incitado venha ou não a ser praticado por alguma pessoa. 6.Tentativa = Dependendo do meio utilizado pelo agente para incitar publicamente a prática de crime, será possível ou não o reconhecimento da tentativa. Ex. agente é preso em flagrante no momento que afixava cartazes (tentativa é possível); Se for oralmente, impossível o conatus http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14197.htm#art3 7.Elemento subjetivo = O dolo, não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa. 8. Ação penal = APPI 9. Figura Equiparada Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade. (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) A incitação deve ser pública e direcionada a um número indeterminado de pessoas, visando animosidade (rancor ou aversão) em alguma das seguintes situações: Entre as Forças Armadas (142, CF – Exército, Marinha e Aeronáutica). Não abrange a PM, PC e PF) Entre as Forças Armadas e Poderes Constitucionais (art. 2º, CF – Legislativo, Judiciário e Executivo); Ex. agente incita animosidade do Exército contra ministro do STF. Entre as Forças Armadas e Instituições Civis (instituições não militares, de natureza pública, como MP, Defensoria Pública ou criadas pelo poder público, como universidades públicas. Entre as Forças Armadas e a Sociedade (povo) 10. Distinções 10.1 Incitamento e Código Penal Militar O delito de incitamento veio previsto no Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/69), conforme se verifica pela leitura do seu art. 155, Incitamento Art. 155. Incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática de crime militar: Pena - reclusão, de dois a quatro anos. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem introduz, afixa ou distribui, em lugar sujeito à administração militar, impressos, manuscritos ou material mimeografado, fotocopiado ou gravado, em que se contenha incitamento à prática dos atos previstos no artigo. 10.2 Incitação ao genocídio Se a finalidade do agente for a destruição, no todo ou em parte, de grupo nacional, étnico, racial ou religioso, o fato se amoldará ao art. 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956, que define e pune o crime de genocídio, verbis: Art. 3º Incitar, direta e publicamente, alguém a cometer qualquer dos crimes de que trata o art. 1º: Pena – metade das penas ali cominadas. § 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma do crime incitado, se este se consumar. § 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida pela imprensa. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14197.htm#art3 10.3 Incitação à discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional Se a incitação disser respeito à discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, será aplicado o art. 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que diz: Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. ( Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. 11. Confronto entre incitação ao crime e imunidade parlamentar Em 2014, um Deputado Federal afirmou na Câmara e em entrevista a jornal que sua colega de parlamento, Maria do Rosário, “não merecia ser estuprada” porque era “feia e não fazia o seu tipo”. O STF decidiu que as palavras não estavam protegidas pela Imunidade Parlamentar. Vejamos: PRIMEIRA TURMA STF Incitação ao crime de estupro, injúria e imunidade parlamentar - 1 A Primeira Turma, em julgamento conjunto e por maioria, recebeu denúncia pela suposta prática de incitação ao crime (CP, art. 286) e queixa-crime apenas quanto à alegada prática de injúria (CP, art 140), ambos os delitos imputados a deputado federal. Os crimes dizem respeito a declarações proferidas na Câmara dos Deputados e, no dia seguinte, divulgadas em entrevista concedida à imprensa. No caso, o parlamentar afirmara que deputada federal “não merece ser estuprada, por ser muito ruim, muito feia, não fazer seu gênero” e acrescentara que, se fosse estuprador, “não iria estuprá-la porque ela não merece”. A Turma assinalou que a garantia constitucional da imunidade material protege o parlamentar, qualquer que seja o âmbito espacial em que exerça a liberdade de opinião, sempre que suas manifestações guardem conexão com o desempenho da função legislativa ou tenham sido proferidas em razão dela. Para que as afirmações feitas pelo parlamentar possam ser relacionadas ao exercício do mandato, devem revelar teor minimamente político, referido a fatos que estejam sob debate público, sob investigação em CPI ou em órgãos de persecução penal ou, ainda, sobre qualquer tema que seja de interesse de setores da sociedade, do eleitorado, de organizações ou quaisquer grupos representados no parlamento ou com pretensão à representação democrática. Consequentemente, não há como relacionar ao desempenho da função legislativa, ou de atos praticados em razão do exercício de mandato parlamentar, as palavras e opiniões meramente pessoais, sem relação com o debate democrático de fatos ou ideias e, portanto, sem vínculo com o exercício das funções cometidas a um parlamentar. Na hipótese, trata-se de declarações que não guardam relação com o exercício do mandato. Não obstante a jurisprudência do STF tenha entendimento no sentido da impossibilidade de responsabilização do parlamentar quando as palavras tenham sido proferidas no recinto da Câmara dos Deputados, as declarações foram proferidas em entrevista a veículo de imprensa, não incidindo, assim, a imunidade. O fato de o parlamentar estar em seu gabinete no momento em que a concedera é meramente acidental, já que não foi ali que se tornaram públicas as ofensas, mas sim por meio da imprensa e da internet. Portanto, cuidando-se de declarações firmadas em entrevista concedida a veículo de grande circulação, cujo conteúdo não se relaciona com a garantia do exercício da função parlamentar, não incide o art. 53 da CF. Inq 3932/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. (Inq-3932) Pet 5243/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. (Pet-5243) Incitação ao crime de estupro, injúria e imunidade parlamentar - 2 O Colegiadoexplicou que a defesa sustentava atipicidade da conduta de incitação ao crime, pois as afirmações seriam genéricas. A respeito, registrou que o tipo penal em análise dá ênfase ao aspecto subjetivo da ordem pública, ao sentimento de paz e à tranquilidade social. O bem jurídico tutelado é diverso daquele que é ofendido pelo crime objeto da instigação. Não se trata da proteção direta de bens jurídicos primários, mas de formas de proteção mediata daqueles, pois se enfrenta uma das condições favoráveis à prática de graves danos para a ordem e a perturbação sociais. Assim, a incitação ao crime não envolve ataque concreto ao bem jurídico tutelado, mas sim destina-se a salvaguardar o valor desse bem jurídico do crime objeto de incitação. No caso, a integridade física e psíquica da mulher encontra ampla guarida na ordem jurídica, por meio de normas exsurgidas de um pano de fundo aterrador, de cotidianas mortes, lesões e imposição de sofrimento ao gênero feminino no País. Assim, em tese, a manifestação do acusado tem o potencial de incitar outros homens a expor as mulheres à fragilidade e à violência física, sexual, psicológica e moral, porquanto proferida por parlamentar, que não pode desconhecer os tipos penais. Especialmente, o crime de estupro tem consequências graves, e sua ameaça perene mantém todas as mulheres em situação de subordinação. Portanto, discursos que relativizam essa gravidade e a abjeção do delito contribuem para agravar a vitimização secundária produzida pelo estupro. A Turma enfatizou, ainda, que a utilização do vocábulo “merece” tivera por fim conferir ao delito o atributo de prêmio, favor, benesse à mulher. Além disso, confere às vítimas o merecimento dos sofrimentos a elas infligidos. Essa fala reflete os valores de uma sociedade desigual, que ainda tolera e até incentiva a prática de atitudes machistas e defende a naturalidade de uma posição superior do homem, nas mais diversas atividades. Não se podem subestimar os efeitos de discursos que reproduzem o rebaixamento da dignidade sexual da mulher, que podem gerar perigosas consequências sobre a forma como muitos irão considerar o crime de estupro, podendo, efetivamente, encorajar sua prática. O desprezo demonstrado pela dignidade sexual reforça e incentiva a perpetuação dos traços de uma cultura que ainda subjuga a mulher, com o potencial de instigar variados grupos a lançarem sobre a própria vítima a culpa por ser alvo de criminosos sexuais. Portanto, não é necessário que se apregoe, verbal e literalmente, a prática de determinado crime. O tipo do art. 286 do CP abrange qualquer conduta apta a provocar ou a reforçar a intenção da prática criminosa de terceiros. Inq 3932/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. (Inq-3932). Pet 5243/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. (Pet-5243) Incitação ao crime de estupro, injúria e imunidade parlamentar - 3 A Turma sublinhou outra alegação da defesa, segundo a qual, se as palavras do parlamentar fossem consideradas incitação ao estupro, então as mulheres que aderiram ao movimento iniciado na internet (“eu não mereço ser estuprada”) também o teriam praticado. Ressaltou que se tratara de campanha de crítica e repúdio às declarações do parlamentar. O sentido conferido, na referida campanha, ao verbo “merecer” revela-se oposto ao empregado pelo acusado nas manifestações que externara publicamente. Essas mensagens buscaram restabelecer o sentimento social de que o estupro é uma crueldade intolerável. Ademais, o tipo penal da incitação ao crime é formal, de perigo abstrato, e independe da produção de resultado. Além disso, não exige o fim especial de agir, mas apenas o dolo genérico, consistente na consciência de que o comportamento do agente instigará outros a praticar crimes. No caso, a frase do parlamentar tem potencial para estimular a perspectiva da superioridade masculina e a intimidação da mulher pela ameaça de uso da violência. Assim, a afirmação pública do imputado tem, em tese, o potencial de reforçar eventual propósito existente em parte daqueles que depreenderam as declarações, no sentido da prática de violência contra a mulher, inclusive novos crimes contra a honra da vítima e de mulheres em geral. Por fim, o Colegiado, no que diz respeito às imputações constantes da queixa- crime (calúnia e injúria), reputou que as mesmas declarações emanadas na denúncia atingiram, em tese, a honra subjetiva da querelante, pois revelam potencial de rebaixar sua dignidade moral, expondo sua imagem à humilhação pública, além de associar as características da mulher à possibilidade de ser vítima de estupro. Não cabe, nessa fase processual, concluir no sentido da configuração de retorsão imediata ou reação a injusta provocação. A queixa-crime atribui, ainda, a prática do delito de calúnia, pelo fato de o querelado ter falsamente afirmado que a querelante o chamara de estuprador. No ponto, entretanto, a inicial não narra de que maneira a afirmação do parlamentar tivera por fim específico ofender a honra da querelante, razão pela qual a queixa não pode ser recebida quanto a esse delito. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que não recebia a denúncia ou a queixa-crime. Inq 3932/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. (Inq-3932) Pet 5243/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. (Pet-5243) Apologia de crime ou criminoso Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso (não abrange contravenções penais) ou de autor de crime (abrange coautoria e participação e é irrelevante que o autor tenha sido condenado ou responda ação penal) Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. Na apologia o agente estimula indiretamente o cometimento de crimes, e na incitação o estímulo é direto. Exemplo, quem, em entrevista, elogia um empresário por ter, comprovadamente, sonegado milhões em tributos, ou um assassino porque matou determinada pessoa. 1. Objeto jurídico = paz pública 2. Ação Nuclear = O núcleo fazer apologia, no sentido de elogiar, louvar, enaltecer, exaltar fato criminoso ou autor de crime. 3.Sujeito ativo = Qualquer pessoa 4.Sujeito passivo é a sociedade 5. Consumação = crime formal, se consuma no instante em que o agente faz, publicamente, apologia de crime ou criminoso, colocando em risco a paz pública, criando uma sensação de instabilidade social, de medo, de insegurança no corpo social. 6. Tentativa = Dependendo do meio utilizado pelo agente para fazer a apologia de crime ou criminoso, será possível ou não o reconhecimento da tentativa. 7. Elemento subjetivo = O dolo. Não havendo previsão para a modalidade culposa. 8. Ação penal é de iniciativa pública incondicionada 9. Diferença entre Apologia e Incitação Incitação (286,CP) Apologia (287,CP) Estímulo é direto à pratica de crimes Ex. Paulo sobe em carro de som e incita as pessoas a agredir moradores de rua até a morte Estímulo é indireto Ex. Pedro elogia publicamente a execução de assaltantes por grupos de extermínio. EX. João diz em TV que determinado PM, responsável pela morte de menores abandonados fez uma faxina em prol da coletividade e que seus colegas de farda deveriam imitá-lo. Associação Criminosa Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes (não abrange contravenções penais e todos os crimes devem ser dolosos) Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada (abrange arma própria e imprópria) ou se houver a participação de criança ou adolescente. Antigo crime de quadrilha ou bando e com a Lei 12.850/2013 – Lei do Crime Organizado, alterou-se o nomen iuris para associação criminosa. Associação: deve ser estável, permanente, independendo da hierarquia entre os membros e repartição de funções. Exige-se pelo menos 3 pessoas e dentre eles, ao menos 1 imputável e a extinçãoda punibilidade de um dos agentes não descaracteriza o crime. 1. Objeto jurídico = Os objetos material e jurídico são a paz pública 2. Ação Nuclear = associarem-se, aliarem-se, reunirem-se 3 ou mais pessoas para o fim específico de cometer crime de natureza homogênea ou heterogênea. ASSOCIAÇÃO CONCURSO DE PESSOAS União estável e permanente de 3 ou mais pessoas; Intenção de praticar número indeterminado de crimes; Consuma-se com a simples associação, ainda que nenhum delito seja efetivamente praticado. União eventual ou momentânea de pessoas Intenção de cometer um ou alguns crimes determinados. Consuma-se com a prática de atos de execução da empreitada criminosa. 3.Sujeito ativo = Qualquer pessoa (crime plurissubjetivo ou de concurso necessário, de condutas paralelas) 4.Sujeito passivo é a sociedade 5. Consumação = crime formal, se consuma no instante em que se concretiza a convergência de vontades, no instante em que se associam 3 ou mais pessoas com a intenção de cometer crimes. E para quem ingressa posteriormente, consuma-se no momento da adesão à associação já existente. 6. Tentativa = não admite. 7. Elemento subjetivo = O dolo para o fim de cometer crimes. Não havendo previsão para a modalidade culposa. 8. Ação penal é de iniciativa pública incondicionada 9. MP pode oferecer denúncia pela associação criminosa quando apenas um de seus integrantes foi identificado? Sim, porém deva existir provas, como interceptação telefônica, seguras da união permanente e estável dessa pessoa com pelo menos outros 2 indivíduos para o fim específico. 10. Causas de aumento de Pena Parágrafo único. A pena aumenta-se até (significa dizer que pode ser inferior como 1/3, 1/4) metade se a associação é armada (abrange arma própria e imprópria) ou se houver a participação de criança ou adolescente. arma própria = instrumento criado para ataque ou defesa (revolver, pistola, espingarda, punhal) arma imprópria = instrumento criado com finalidade diversa mas que pode ser usado para ataque ou defesa, como barra de ferro, chave de fenda, taco de beisebol 11. Lei n. 8.072/90 (Lei do Crimes Hediondos) e figura qualificada Art. 8º - Lei 8072/90 -Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo (exceto tráfico de drogas) Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. (Delação premiada) 12. Associação para o tráfico Art. 35. LEI 11.343/2006 Lei de Drogas- Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º , e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. 13. Associação Criminosa e Organização Criminosa (Lei nº 12.850/2013) § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. Cuida-se de delito mais grave do que o de associação criminosa (art. 288), porque apenado com reclusão, de três a oito anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. 14. Colaboração premiada na Lei nº 12.850/2013 O agente que promove, constitui, financia ou integra, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa, poderá ser beneficiado com o instituto da colaboração premiada, nos termos constantes da seção I do capítulo I da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013.Diz o art. 4º, caput, incisos I a V, do referido diploma legal: Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. Constituição de milícia privada Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. Conforme Cezar Roberto Bitencourt Bittencourt (2022) e Rogério Sanches: a) Organização paramilitar é uma associação civil armada constituída, basicamente, por civis, embora possa contar também com militares, mas em atividade civil, com estrutura similar à militar. Trata-se de uma espécie de organização civil, com finalidade civil ilegal e violenta, à margem da ordem jurídica, com características similares à força militar, mas que age na clandestinidade. Para Rogério Sanches, “Paramilitares são associações civis, armadas e com estrutura semelhante à militar. Possui as características de uma força militar, tem a estrutura e organização de uma tropa ou exército, sem sê-lo”. b) Milícia particular = grupo de pessoas (que podem ser civis e/ou militares), que, alegadamente, pretenderia garantir a segurança de famílias, residências e estabelecimentos comerciais ou industriais. Haveria, aparentemente, a intenção de praticar o bem comum, isto é, trabalhar em prol do bem-estar da comunidade, assegurando-lhe sossego, paz e tranquilidade, que foram perdidos em razão da violência urbana. No entanto, essa atividade não decorre da adesão espontânea da comunidade, mas é imposta mediante coação, violência e grave ameaça, podendo resultar, inclusive, em eliminação de eventuais renitentes. Na realidade, há uma verdadeira ocupação de território, uma espécie de Estado paralelo, com a finalidade de explorar as pessoas carentes. Em sentido semelhante, destaca Rogério Sanches: “por milícia armada entende- se grupo de pessoas (...) armado, tendo como finalidade (anunciada) devolver a segurança retirada das comunidades mais carentes, restaurando a paz. Para tanto, mediante coação, os agentes ocupam determinado espaço territorial. A proteção oferecida nesse espaço ignora o monopólio estatal de controle social, valendo-se de violência e grave ameaça”. c) grupo ou esquadrão, está se referindo aos famosos grupos de extermínio que ganharam espaço, basicamente, no Rio de Janeiro e em São Paulo, tanto que o texto utiliza a locução “grupo ou esquadrão”. “Esquadrão” ficou conhecido no final do regime militar como “esquadrão da morte”. Grupo de extermínio é a denominação atribuída no Brasil a grupos de matadores que atuam nas classes mais desprivilegiadas de algumas das grandes cidades desse País, normalmente nos subúrbios ou nas periferias. Em sentido semelhante é o entendimento de RogérioSanches, verbis: “Por grupo de extermínio entende-se a reunião de pessoas, matadores, ‘justiceiros’ (civis ou não) que atuam na ausência ou leniência do poder público, tendo como finalidade a matança generalizada, chacina de pessoas supostamente etiquetadas como marginais ou perigosas”. 1. Objeto jurídico = paz pública 2. Objeto material = a organização paramilitar, milícia particular, grupo e esquadrão. 3. Ação Nuclear = Os núcleos constituir, organizar, integrar, manter ou custear pressupõem um comportamento comissivo por parte do agente. a) constituir: significa criar, fundar; b) organizar: estruturar, estabelecer bases para o funcionamento, colocar em ordem para as atividades; c) integrar: unir-se às atividades do grupo, fazer parte da milícia; d) manter: após a constituição da milícia, colaborar para que prossiga em suas atividades; e) custear: colaborar financeiramente para a existência da organização. É evidente que os moradores e comerciantes da região extorquidos pelos milicianos não respondem pelo crime, na medida em que são vítimas da infração penal. 4. Sujeito ativo = Qualquer pessoa (crime plurissubjetivo ou de concurso necessário, de condutas paralelas). Muitas vezes, a milícia é composta por militares da ativa ou da reserva, mas isso não é requisito do delito. 5.Sujeito passivo é a sociedade 6. Consumação = Tratando-se de um crime formal, de consumação antecipada, o delito de constituição de milícia privada restará consumado a partir do instante em que os agentes levarem a efeito qualquer dos comportamentos previstos pelo tipo penal, independentemente de praticarem os crimes para os quais convergiam suas condutas. 7. Tentativa = Tal como no crime de associação criminosa, o conatus não é possível 8. Elemento subjetivo = O dolo, com o fim específico de praticar qualquer crime do CP. Não havendo previsão para a modalidade culposa. 9. Ação penal é de iniciativa pública incondicionada. 10. Qual a diferença entre os delitos de associação criminosa, tipificado no art. 288 do Código Penal, e a constituição de milícia privada, prevista no art. 288-A do mesmo diploma repressivo? O aspecto que diferencia o delito de milícia privada do crime comum de associação criminosa é sua forma de atuação. Nas milícias, um grupo de pessoas previamente organizado toma, mediante violência e ameaça, determinado território (bairro, favela, morro) e passa a atuar de forma ostensiva (armados), fazendo as vezes da polícia preventiva — ao largo da atuação oficial, ignorando, portanto, o monopólio estatal da segurança pública. Seus integrantes passam a fazer patrulhas armadas pela região ocupada sob o pretexto de evitar outras práticas ilícitas (tráfico de drogas, roubos, furtos etc.). Para isso, cobram dos moradores e dos comerciantes valores semanais ou mensais — os que se recusam a pagar sofrem represálias: assaltos, depredações, disparos de arma de fogo em seus imóveis e, algumas vezes, até tortura e morte. Além disso, os integrantes da milícia costumam monopolizar a prestação de certos serviços ou a comercialização de determinados produtos na região dominada. Os moradores, por exemplo, são obrigados a comprar gás de cozinha ou combustível dos milicianos ou a adquirir planos clandestinos de TV a cabo com eles. Caso se recusem e procurem outros fornecedores, sofrem represálias. REFERÊNCIAS BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte especial: crimes contra a Administração Pública, crimes praticados por prefeitos e crimes contra o Estado Democrático de Direito (arts. 312 a 359-T) – 16. ed. – São Paulo : Saraiva Jur, 2022. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Especial – arts. 213 a 359- T – v. 3 – 20. ed. – São Paulo : Saraiva Jur, 2022. GRECO, Rogério. Curso de direito penal: volume 3: parte especial: artigos 213 a 361 do código penal – 19. ed. – Barueri [SP]: Atlas, 2022. MASSON, Cleber. Direito Penal: parte especial (arts. 213 a 359-T) – 12 edição, Rio de Janeiro, Método, 2022.