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A prescrição do direito de exigir ressarcimento e dividendos de ações ordinárias em SAs

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A PRESCRIÇÃO DO DIREITO DE EXIGIR RESSARCIMENTO E DIVIDENDOS DE AÇÕES ORDINÁRIAS EM S.A.’S
Luane Silva Nascimento[1: Advogada Associada ao Escritório Naves & Advogados Associados S/S.Professora na Faculdade Evangélica de Goianésia. Mestre em Direito Público com menção em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela UNIEVANGÉLICA Anápolis. ]
O tema proposto tem como intuito orientar pequenos investidores e acionistas minoritários em Sociedades Anônimas quanto ao prazo para pleitear ressarcimento quando ocorrer incorporação, fusão ou cisão de empresas e o respectivo prazo prescricional, garantindo a exigibilidade do crédito e resguardando seu patrimônio.
De antemão, cumpre esclarecer breves conceitos relacionados aos eventos da incorporação, fusão e cisão de empresas. No primeiro caso, conforme dispõe o artigo 227, da Lei 6.404/76 (Lei que rege as Sociedades Anônimas), “a incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações”, isso quer dizer que uma empresa atrai para si todos os encargos e receitas que acompanham a empresa incorporada fazendo-a desaparecer totalmente, porém, remanescerá sua personalidade jurídica por meio da empresa incorporadora.
Por outro lado, a fusão consiste na “operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações” (artigo 228, da Lei 6.404/76). Nesse caso, ambas as empresas se extinguem formando uma nova sociedade com personalidade jurídica distinta daquelas.
Por sua vez, a cisão, de acordo com o artigo 229, da Lei 6.404/76, é entendida como a 
“operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão”. 
Nesse sentido, é possível dizer que a cisão, ainda que possua traços comuns à incorporação e à fusão, se distingue substancialmente delas, uma vez que é conceituada como o “processo por meio do qual o patrimônio de uma sociedade é dividido em duas ou mais partes, para a constituição de nova ou novas companhias ou para integrar o patrimônio da sociedade já existente”.[2: ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. Direito de Empresa. 18ª edição, Editora Saraiva, 2010, p. 95.]
Em conformidade com as disposições do § 2º, do artigo 223, da Lei n.º 6.404/76 – Lei das S.A.’s – que regula a incorporação, cisão e fusão de empresas, “os sócios ou acionistas das sociedades incorporadas, fundidas ou cindidas receberão, diretamente da companhia emissora, as ações que lhes couberem”.
Da referida norma é possível extrair o direito dos acionistas que integram a Companhia a receberem o valor corresponde às ações por ele adquiridas, seja porque não há mais interesse do próprio acionista em permanecer na Incorporadora (inclusive por meio do exercício do direito de regresso, quando este discorda dos termos finais da Assembleia e exerce seu direito de retirada da Companhia mediante ressarcimento), seja porque a própria Companhia, de acordo com as disposições do protocolo de incorporação, extinguiu ou substituiu as ações antigas por novas ações.
Dessa forma, o que nos interessa no caso em comento é a regra de transição aplicada quando ocorrer o acontecimento de um desses eventos societários de forma a assegurar ao sócio o seu direito de ser ressarcido e de proteger seu patrimônio.
Segundo as disposições dos artigos 206, § 3º, III, do Código Civil de 2002 e artigo 287, II, ‘a’, da Lei 6.404/76, prescreve em três anos “a ação para haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido postos à disposição do acionista”. Os dividendos compõem a parcela de lucros percebidos pela empresa e repartidos segundo a participação do acionista, ao fim de cada exercício social.
Com relação à exigência de ressarcimento derivado de incorporação, cisão ou fusão de empresas, o prazo para resgate das ações, inicialmente, é aquele publicado pela Assembleia Geral Extraordinária que formalizou o ato empresarial, tudo em conformidade com as disposições do Protocolo e demais ritos procedimentais legalmente exigidos. 
Todavia, caso o acionista não resgate os valores que lhe pertencem no prazo inicialmente estipulado, ele poderá ingressar com ação de cobrança com trâmite pelo rito ordinário, desde que observado o prazo prescricional previsto no artigo 206, 3º, incisos III e VI, do Código Civil, que prevê prazo de três anos para:
“[...] III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição”.
Desse modo, o prazo prescricional deve ser fielmente observado para que haja exigibilidade do crédito e sua decorrente satisfação. 
Por outro lado, questão bastante específica que merece comentário diz respeito à normatização aplicável aos casos de acionistas que deixaram de perceber o ressarcimento correspondente no caso de incorporação, fusão ou cisão de empresa depois de decorrido o prazo fixado na Ata da Assembleia Geral Extraordinária ocorrida e publicada antes da entrada em vigor do Código Civil de 2002. 
Nesse caso, em que pese ter prescrito a exigibilidade do crédito diretamente reclamável perante a Incorporadora, ainda remanesceria o direito de pleitear o direito de ressarcimento perante a Companhia mediante o ajuizamento de ação de cobrança no juízo cível, pelo prazo de 20 anos, segundo o artigo 177, com redação dada pela Lei 2.437/55, do Código Civil de 1.916. 
Entretanto, ao analisarmos as regras de transição entre a vigência do Código Civil de 1916 e o Novel Código Civil de 2002, deparamo-nos com o seguinte regramento, disposto no artigo 2.028, do Novo Código: “Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada”.
Da referida norma extrai-se o entendimento de que aos prazos dos fatos e atos cometidos antes da vigência do Código de 2002 seriam aplicados os prazos do Código Civil de 1.916, desde que já transcorrida, pelo menos, metade do prazo integral, antes da entrada em vigor do Código Civil de 2002, uma vez que o fato gerador ocorrera sob aquela vigência e já decorrido mais da metade do prazo.
Nesse diapasão, aos atos ilícitos cometidos e fatos originadores de reparação em virtude de ofensa a direitos pessoais ocorridos e contados antes de 11 de janeiro de 2003, quando entrou em vigor o Código Civil de 2002, obedeceriam às normas do antigo artigo 177.
Todavia, aos fatos e atos ilícitos relevantes que poderiam ensejar a reparação de danos civis ocorridos antes da entrada em vigor do Código Civil de 2002, mas que não obedeceram à regra do transcurso de pelo menos metade do prazo durante a vigência do Código Antigo, obedeceriam à nova regra prescricional, qual seja, aquela insculpida nos artigos 205 e 206, do Código Civil de 2002. 
Assim sendo, a regra anteriormente prevista que garantia o prazo geral prescricional para ações de direito pessoal em 20 anos passou a fixar 10 anos, no caso de a lei não especificar prazo menor.
Desse modo, constatamos que uma vez que o prazo prescricional mais benéfico ao acionista, qual seja, o de 20 anos para demandar acerca de direito privado, pessoal, disponível, suscetível aos efeitos da prescrição e decadência, se não tiver transcorrido pelo menos metade do prazo durante a vigência do Código de 1916, pereceu, não sendo possível sua observância e aplicação, por expressa disposição legal.
De igual modo, àqueles prazos previstos no próprio Código Civil de 2002, acima elencados, que transcorreram in albis semqualquer manifestação de interesse da parte ou, ainda, sem a ocorrência de circunstâncias autorizadoras da suspensão ou interrupção da contagem do prazo prescricional, motivo pelo qual, não podem ser aplicados, igualmente.

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