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Formação e Desenvolvimento de Coleções Lourival Pereira Pinto Curso Técnico em Biblioteca Educação a Distância 2016 EXPEDIENTE Professor Autor Lourival Pereira Pinto Design Instrucional Deyvid Souza Nascimento Maria de Fátima Duarte Angeiras Renata Marques de Otero Terezinha Mônica Sinício Beltrão Revisão de Língua Portuguesa Letícia Garcia Diagramação Izabela Cavalcanti Coordenação Hugo Carlos Cavalcanti Coordenação Executiva George Bento Catunda Coordenação Geral Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra Conteúdo produzido para os Cursos Técnicos da Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco, em convênio com o Ministério da Educação (Rede e-Tec Brasil). Janeiro, 2016 P659f Pinto, Lourival Pereira. Formação e Desenvolvimento de Coleções: Curso Técnico em Biblioteca: Educação a distância / Lourival Pereira Pinto. – Recife: Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco, 2016. 43 p.: il. Inclui referências bibliográficas. Inclui bibliografia. 1. Educação a distância. 2. Coleções – Desenvolvimento (bibliotecas). 3. Bibliotecas - Planejamento. I. Pinto, Lourival Pereira. II. Título. III. Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco. IV. Ministério da Educação. V. Rede e-Tec Brasil. CDD – 025.2 CDU – 025.2 Sumário Introdução ........................................................................................................................................ 4 1.Competência 01 | Formar e desenvolver coleções: o que, para quem e por quê? .......................... 7 2. Competência 02 | Saber formar e avaliar uma coleção ................................................................ 22 3.Competência 03 | Empreender a formação de uma coleção para uma determinada comunidade de leitores ....................................................................................................................................... 28 Conclusão ........................................................................................................................................ 40 Referências ..................................................................................................................................... 41 Bibliografia sugerida para estudo .................................................................................................... 42 Minicurrículo do Professor ............................................................................................................ 433 4 Introdução Este texto é uma conversa entre professor e aluno, porque entendemos que o conhecimento se constrói nas relações entre as pessoas. Mesmo que este texto esteja escrito aqui, lembre-se de que é uma pessoa escrevendo para outra pessoa, e assim, estamos construindo conhecimentos juntos, a partir dessa nossa relação. Desejo que você aproveite a leitura e que, de alguma maneira, seja um período de transformação para todos nós. Vamos começar nossa conversa falando sobre a relação entre as bibliotecas e as comunidades, porque entendemos que, nessa relação, as coleções têm papel essencial. Entendemos que as bibliotecas devem ter uma relação estreita com a comunidade na qual está inserida, e essa relação define os objetivos e propósitos da biblioteca. Uma biblioteca está estruturada, basicamente, em quatro eixos, que são: gestão, coleções, espaço e mediação. Se esses quatro eixos são planejados e/ou reestruturados a partir da relação com a comunidade, a biblioteca se transforma, assim, num dispositivo essencial para a emancipação e apropriação de conhecimentos. Defendemos que leitura e biblioteca devem ser percebidas e compreendidas como direitos humanos básicos para as pessoas. Gestão, coleções, espaço e mediação. Dentre esses quatro eixos, vamos falar, nesta disciplina, especificamente sobre coleções. Se as coleções são construídas junto com a comunidade, entendemos que uma não pode prescindir da outra. Sendo assim, em cada etapa no processo de formação e desenvolvimento de uma coleção, se biblioteca e comunidade estiverem em sintonia, há uma grande possibilidade de que as metas e os objetivos sejam alcançados. A partir da constituição de uma coleção, a biblioteca tem a missão de emancipar a comunidade por meio da expressão. Assim, ao dar acesso a diferentes conteúdos, mídias e expressões, a biblioteca permite que seus leitores se espelhem nesses conteúdos, ampliando suas possibilidades de expressão cultural. Você e eu, todos nós recebemos uma herança cultural, e essa herança pode estar representada em diferentes formas de expressão. Por sua vez, essas expressões podem estar acessíveis nos livros, nas artes visuais, nas canções, nos cordéis, nos saberes populares, na oralidade, nos periódicos, nos filmes, nas bases de dados, nos blogs, nas redes sociais, etc. Consideramos essencial o acesso à herança cultural, e essa deve ser a preocupação central da biblioteca. Então, as coleções devem ser representativas dessa herança, assim como podem gerar 5 novos significados para a comunidade. Afinal, sabemos que uma ação cultural é aquela que gera transformações a partir da herança cultural. Nesta disciplina vamos conversar um pouco sobre formação e desenvolvimento de coleções. No decorrer das aulas, vamos refletir sobre os seguintes assuntos: O processo de políticas de desenvolvimento de coleções. Fatores que afetam a formação e o desenvolvimento de coleções em bibliotecas. Seleção, aquisição e descarte. Avaliação de coleções. A disciplina é dividida em três competências, que serão estudadas semanalmente. As competências estão interligadas e unificadas, com o propósito de alcançar o objetivo de trazer à luz algumas contribuições sobre o tema. Apresentamos, a seguir, as três competências: Competência 1: Formar e desenvolver coleções: o que, para quem e por quê? Nesta competência, primeiramente responderemos a perguntas essenciais: O que é uma coleção? Qual biblioteca e coleção nós queremos? Quem somos nós? Somos um organismo biblioteca/ comunidade? Aqui também discutiremos o conceito de coleção, e os processos básicos para a sua formação: políticas de seleção e aquisição, processo técnico e descarte. Competência 2: Saber formar e avaliar uma coleção Continuando nossa conversa anterior, aqui responderemos a uma pergunta primordial: Como avaliar uma coleção? A partir das respostas da primeira competência, refletiremos sobre os elementos necessários à prática da formação: diversidade, atualização, conservação, integração entre os temas e suportes, integração com a comunidade, inovação e orçamento. Competência 3: Empreender a formação de uma coleção para uma determinada comunidade de leitores Nesta competência, os alunos colocarão em prática os conhecimentos adquiridos ao longo das competências anteriores. Assim, cada aluno deverá escolher uma comunidade e direcionar a ela uma pequena coleção. Essa comunidade poderá ser uma escola, uma associação, uma casa de moradia, um bairro, um escritório, etc. A coleção não terá, quantitativamente, limites máximos ou mínimos de volumes. Nesta competência, os alunos serão orientados a selecionar,adquirir, processar e disponibilizar a coleção. Feita a apresentação, iniciemos a primeira competência. Mas antes, aprecie a figura 1. Trata-se da área dedicada aos leitores juvenis. Perceba o cuidado com que o ambiente está conectado com a coleção de livros juvenis, tornando o ambiente aconchegante e prazeroso. Seja muito bem-vindo! 6 Figura 1 - um cantinho da ARSTA BIBLIOTEK, biblioteca pública de Estocolmo. Fonte: www.cazadores/debibliotecas.com/2014/12/arsta-bibliotek-bibliotecas-publicas-em.html. 7 1.Competência 01 | Formar e Desenvolver Coleções: o que, para quem e por quê? Quando uma biblioteca está construída, e já estruturada para receber seus acervos, é chegada a hora de planejar a formação e o desenvolvimento de coleções. Mas o que será que significa, em princípio, formar uma coleção? Aqui estamos caminhando para responder à primeira pergunta do enunciado da competência, a saber: O que é formar e desenvolver coleções? O que é formar uma coleção? Coleções (ou acervos) de bibliotecas são os itens que constituirão as fontes de informação destinadas à comunidade. Concordamos com Neves, Moro e Estabel (2012), quando afirmam que as bibliotecas vivem, mais do que nunca, a era da bibliodiversidade. Essa diversidade é caracterizada por suportes (ou mídias), e conteúdos que podem ajudar seus leitores pela sua travessia educacional e cultural. Uma coleção pode ser formada por livros, periódicos (jornais, revistas), quadrinhos (tirinhas, gibis, graphic novels, charges), CDs, DVDs, Blue-Rays, leitores de ebooks (e ebooks), tablets, games, instrumentos musicais, papelaria, etc. Esses itens, por sua vez, devem contemplar os diferentes gêneros literários e as diversas áreas do conhecimento. Veja, na figura 2, uma pequena coleção de gibis. Figura 2 - caixa de coleção de gibis Fonte: http://eusoudonademim.blogspot.com.br/2013/04/sala-de-aula-gibiteca.html Mas, antes de formar uma coleção, a biblioteca deve fazer uma pergunta, que consideramos essencial: para quem e por que formar uma coleção? Para responder a essa indagação, a biblioteca deve empreender um longo processo de (re) conhecimento da comunidade onde a biblioteca está inserida. Esse processo, na realidade, não é apenas longo, ele é infinito, porque a cada momento novas demandas podem surgir por conta das transformações que, naturalmente, passam as pessoas e as comunidades. Um desejo (ou necessidade) que é evidenciado hoje por uma pessoa ou Competência 01 8 comunidade pode não fazer sentido amanhã. Lembre-se de que, por conta do dinamismo da sociedade, as necessidades e os desejos mudam, dando lugar a novas demandas. Para quem e por que formar uma coleção? Entendemos que a contemporaneidade traz consigo alguns sintomas que influenciam diretamente a constituição cultural e de informação, como é o caso das bibliotecas, museus e centros culturais. Podemos enumerar alguns desses sintomas, como a velocidade, o desapego, a superficialidade, a materialidade, a insegurança, a convergência tecnológica, etc. SAIBA MAIS Para aprofundar esse tema, sugerimos ler MODERNIDADE LÍQUIDA, de Zygmunt Bauman. Sendo assim, uma biblioteca tem que compreender que as demandas, desejos e necessidades de sua comunidade caminham ao sabor desses sintomas, e consideramos que acompanhar as demandas nessa contemporaneidade seja o maior desafio na formação e no desenvolvimento de coleções. Além disso, a formação de coleções se confunde com a própria natureza dos serviços de referência (conteúdo que será tratado mais adiante, em disciplina específica), afinal a convergência coleções/contato com o leitor, é condição básica para o funcionamento de qualquer serviço de bibliotecas. Bem, mas como começar a fazer isso? Em princípio, a biblioteca deve investigar a sua comunidade. Quando falamos em comunidade, significa dizer biblioteca/leitores. Nós não apenas atendemos a comunidade. Nós também somos a comunidade. Então, a pergunta a se fazer é: qual biblioteca nós queremos? Assim, quando a comunidade é ouvida, ela se sente como parte integrante da biblioteca. O sentimento de pertencimento talvez seja o fator que mais benefício pode trazer para o enlace biblioteca/comunidade. Qual biblioteca nós queremos? O pertencimento traz um sentimento de compromisso com as pessoas e as coisas da comunidade. Nesse sentido, a biblioteca é um lugar propício para que os desejos de apropriação e emancipação das pessoas sejam realizados. Competência 01 9 Experimente fazer essa pergunta a alguém próximo a você. A resposta pode te surpreender, porque você poderá descobrir, além dos desejos e necessidades, qual é o conceito de biblioteca no imaginário dessa pessoa. Essa pergunta deve ser feita para a formação de todos os tipos de bibliotecas, sejam elas públicas, comunitárias, universitárias, escolares, etc. É certo que, em casos específicos como as bibliotecas universitárias, muitas vezes as coleções começam com as bibliografias básicas e recomendadas dos cursos da instituição que atende. No entanto, o universo educativo e cultural vai muito além das bibliografias obrigatórias, e é nesse além, nesse gigantesco além, que a biblioteca tem que tentar satisfazer os desejos e as necessidades dos seus leitores. Os projetos de coleções devem ter a preocupação central de levar informação à comunidade, além de serem formulados a partir das necessidades específicas de cada comunidade. Um exemplo é o projeto ARCA DAS LETRAS, que leva leitura e informação para moradores de comunidades agrárias e assentamentos rurais. Veja, na figura 3, uma coleção de livros destinada aos moradores de comunidades rurais. Figura 3 - Projeto ARCA DAS LETRAS leva coleções de livros e leitura para comunida- des de agricultores rurais Fonte: http://blog.crb6.org.br/boletim/projeto-de-bibliotecas-moveis-leva-cultura- a-agricultores-rurais/ SAIBA MAIS Para conhecer mais sobre o programa Arca das Letras, acesse www.mda.gov.br/sitemda/tags/arca- das-letras Lembre-se sempre de que as pessoas são complexas e, por isso mesmo, não são apenas vinculadas a seus cursos. Elas têm vivências em outros mundos e seus desejos são diferentes, e muitas vezes, surpreendentes. Quando fazemos essa pergunta podemos nos deparar com respostas variadas. A seguir, vamos dar Competência 01 10 alguns exemplos de respostas que podem surgir nesse processo de descoberta: Quero uma biblioteca que tenha assinatura de revistas de esportes. Quero uma biblioteca com muitos gibis e mangás. Quero uma biblioteca com recortes de jornais que informem sobre vagas de empregos e estágios. Quero uma biblioteca que tenha recursos para comprar livros novos que eu quero ler. Quero uma biblioteca com assinatura do jornal local para eu saber mais do meu lugar. Quero uma biblioteca que não tenha livros velhos, desatualizados e empoeirados. Quero uma biblioteca com livros novos e limpos. Quero uma biblioteca onde eu possa ler os livros novos e assistir aos filmes que se basearam nesses livros. Quero uma biblioteca que tenha jogos eletrônicos e de tabuleiros. Quero uma biblioteca com quadros, para que eu possa apreciar e entender de arte. Quero uma biblioteca com música e filmes. Os exemplos acima são apenas para ilustrar algumas respostas que possam ser descobertas no trabalho de investigação. Reiteramos que coleções e referência são indissociáveis.Então, essas respostas também trarão contribuições para o serviço de referência e, muitas vezes, até para o serviço de processos técnicos (catalogação, classificação, indexação, sinalização das notações, etc.). A figura 4 mostra o logotipo da campanha EU QUERO MINHA BIBLIOTECA, que consideramos pertinente ao momento de mobilização das pessoas por mais e melhor acesso à informação e manifestações culturais. Figura 4 - campanha pela efetividade da Lei 12.244 de 2010. Fonte: www.redecim.com.br/profiles/blogs/eu-quero-minha-biblioteca-campanha-pela- efetividade-da-lei-12-244 SAIBA MAIS Conheça a Lei 12.244 aqui: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12244.htm > Não há uma regra clara sobre a amostra necessária para fechar o ciclo da pesquisa, porém Competência 01 11 recomendamos, vagamente, que a biblioteca apenas encerre a pesquisa quando sentir que as respostas começaram a se repetir com bastante frequência, denunciando que, naquele momento, boa parte dos dados colhidos possa começar a atender à demanda. Lembramos de que esse trabalho de prospecção nunca pode terminar. A partir das respostas colhidas, devemos fazer uma análise dos dados. Essa análise deve ser feita por classificação (diferenças e semelhanças), e organizados num documento acessível a todos, e que é, primordialmente, a constituição básica do processo de formação e desenvolvimento de coleções da biblioteca. A seguir, falaremos um pouco sobre a política de seleção e aquisição. Política de seleção e aquisição As respostas devem ser agrupadas, classificadas e registradas num documento que seja acessível a todos, que chamaremos de documento institucional. Uma vez elaborado, esse documento pode ser considerado a base para a construção da política de seleção e aquisição da biblioteca. Essa política deve contemplar quais tipos de suportes e conteúdos a biblioteca deve priorizar, levando-se sempre em consideração o documento constitucional básico da coleção. Aqui, vamos ler dois exemplos: no primeiro exemplo, uma determinada biblioteca descobre que boa parte dos seus leitores potenciais não são alfabetizados no tempo considerado certo para o Ministério da Educação (MEC). A demanda, então, é por textos básicos de alfabetização. A partir daí a política de seleção e aquisição deve priorizar a aquisição desses textos. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental. No segundo exemplo, imaginemos uma comunidade que tenha leitores alfabetizados na idade considerada certa para o MEC, mas que não tem a prática leitora, ou por falta de acesso, ou de incentivo, ou outro motivo. Somam-se a esses fatores, as crianças que, pelo estágio escolar, ainda não são alfabetizadas (menores de seis anos). Na pesquisa de campo, descobriu-se que essas crianças e suas famílias querem que a biblioteca dê acesso a livros de ficção (principalmente juvenis e infantis). Por sua vez, a biblioteca deve ter consciência de que o acesso a essa literatura tem potencial para formar leitores competentes e letrados. Então, nesse caso, a prioridade da política é pela aquisição desse material bibliográfico. A leitura literária é a que pode incentivar a leitura e formar leitores. Competência 01 12 Percebemos, nos dois casos, que não basta apenas que o material esteja lá, disponível ao leitor, mas que o acesso seja complementado pelas ações subsequentes, a saber: no primeiro caso, o trabalho de alfabetização, e no segundo caso, as ações de mediação de leitura. Entendemos que, a priori, não é papel do bibliotecário ou do técnico de alfabetizar pessoas, mas argumentamos que, diante disso, há dois pontos que exigem reflexão: no primeiro, a biblioteca pode estabelecer parcerias com educadores e pedagogos. No segundo, o próprio bibliotecário pode ter competências para fazer esse trabalho, porque pode ser considerado um educador. Nas comunidades mais pobres, as crianças não estão alfabetizadas na idade “certa”. Dados do IBGE mostram que a alfabetização varia de acordo com a renda. Em famílias mais ricas (mais de cinco salários mínimos per capita), aos cinco anos de idade, quase metade (47%) das crianças já se alfabetizaram. Entre as mais pobres (menos de 1/4 de salário mínimo per capita) o percentual é de 10%. Então, de alguma maneira, ações educativas podem contribuir para reduzir essa desigualdade. A política de seleção e aquisição nunca é definitiva, porque, obviamente, os atores sempre mudam. Se pensarmos numa biblioteca universitária, vamos perceber que periodicamente novos cursos são incorporados à instituição que mantém a biblioteca. Além de novos cursos, os planos pedagógicos também podem ser reformulados, assim como as bibliografias das disciplinas. Além disso, a biblioteca deve “olhar” seu leitor como um ser complexo, o que significa dizer que as pessoas não são padronizadas. Num processo de descoberta, a biblioteca pode ser surpreendida com as possibilidades que os dados venham a apresentar. Veja alguns exemplos imaginários de como as coisas podem não ser o que aparentam ser: Um estudante de Design não quer só livros e periódicos de Design. Ele quer que a biblioteca ofereça livros sobre gastronomia. Um estudante de Engenharia quer livros que ensinem a tocar violão. Uma estudante de Enfermagem quer guias impressos de viagens. Um estudante de Música quer livros de bricolagem. Alguns alunos querem aprofundar seus conhecimentos sobre um assunto de interesse, mas as bibliografias básicas e complementares dos cursos podem não ser suficientes. As cinco leis da Biblioteconomia, criadas pelo bibliotecário Ranganathan na década de 1930: 1. Os livros são para serem usados. 2. A cada leitor o seu livro. 3. A cada livro o seu leitor. 4. Poupe o tempo do leitor. 5. A biblioteca é um organismo em crescimento Competência 01 13 Consideramos que nas bibliotecas escolares o desafio talvez seja um pouco maior, porque estamos falando aqui de um espaço onde vemos claramente uma biblioteca como lugar de aprendizagem. Nas bibliotecas escolares, os leitores estão em formação e pedem mais por novidades, afinal nessa idade eles estão descobrindo o mundo e suas manifestações culturais, e é o momento de iniciar sua travessia cultural. A biblioteca tem o desafio de acompanhar as novidades editoriais, que acontecem rapidamente, ao mesmo tempo em que não pode perder de vista os clássicos, que são fundamentais para entender as influências e heranças culturais de várias gerações. Outro desafio para a biblioteca escolar é ampliar a diversidade de materiais bibliográficos que constituem o ciclo básico dos currículos escolares, a saber: matemática, língua portuguesa, ciências, história, geografia, sociologia, filosofia, etc. A maioria das escolas de Ensino Fundamental e Médio adota apostilas que vão nortear as aulas durante todo o período letivo. Consideramos que as apostilas podem desestimular os alunos a pesquisar em outras fontes de informação. Pensando nisso, a biblioteca pode propor opções bibliográficas que venham enriquecer o trabalho de pesquisa dos alunos. Procure se lembrar da escola em que você estudou no ensino fundamental. Havia biblioteca lá? Se sim, era um espaço aconchegante, com livros novos e interessantes? Estava sempre aberta ao público? Você gostava de frequentá-la? Reflita sobre isso. Assim, a política de seleção e aquisição pode estimular adiscussão, o diálogo e o conflito entre diferentes fontes de informação, propondo, assim, a construção de conhecimentos. Há três tipos de aquisição de coleções numa biblioteca: Doação Compra Permuta A política de seleção e aquisição deve contemplar, igualmente, esses três tipos. A política norteadora de seleção deve valer para materiais, comprados, trocados ou recebidos como doação. É muito comum alguém, por um motivo qualquer, querer se desfazer de um acervo, e achar que a biblioteca tem como obrigação recolher qualquer tipo de doação. Por isso, a biblioteca deve ter como prática a avaliação criteriosa do material e, se a incorporação de um material for contrária à sua política de seleção e aquisição, deve deixar claro para o doador que o material será deixado à disposição de outrem, ou simplesmente descartado. Por isso, a política de seleção e aquisição deve estar clara quanto às suas diretrizes, tanto para a biblioteca quanto para a comunidade. Competência 01 14 Os seguintes tópicos devem fazer parte dessa política: Para compra: prioridade de conteúdos e suportes, disponibilidade orçamentária, comparação de preços de fornecedores, qualidade e atualização do material, periodicidade de aquisição. Para doação: prioridade de conteúdos e suportes, qualidade e atualização do material, orientações ao doador que indiquem claramente que a biblioteca, a partir daquele momento, terá autonomia para decidir o destino dos materiais doados. Para permuta: prioridade de conteúdos e suportes, qualidade e atualização do material, e benefícios da parceria. Permutas não são muito comuns, mas devem sempre levar em consideração o acordo básico de uma parceria, a saber: parcerias são trocas, e devem beneficiar os dois lados envolvidos. Caso a biblioteca receba a doação de coleção completa de uma pessoa, sugerimos que a organização dessa coleção leve em consideração a genética do acervo. Isso significa que deve ser preservado o sistema de organização do doador e não o sistema de organização da biblioteca. A ordem dos manuscritos, objetos, documentos impressos, deve ser compreendida, mantida e explicada ao público potencial da coleção. Figura 5 - uma coleção pode ser formada por compra, doação ou permuta. Fonte: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-707135833-100-livros-diversos-sebo- biblioteca-coleco-frete-gratis-_JM Uma vez formado o embrião da coleção, é necessário que se inicie o tratamento técnico do material. Esse tratamento é também chamado de processamento técnico, e é parte constituinte da formação e desenvolvimento de coleções. A seguir, falaremos dessa etapa. Os processos técnicos O processamento técnico de uma biblioteca não deve ser considerado meramente uma tarefa tecnicista. As etapas desse processo exigem do profissional um alto grau de conhecimento Competência 01 15 humano, porque, além da técnica inerente à tarefa, os atos de classificar, catalogar e indexar têm como base as áreas de conhecimento, de pessoas e da diversidade bibliográfica. Defendemos que o conhecimento humanista do profissional poderá influenciar diretamente no processamento, que é constituído, basicamente, das seguintes etapas: Classificação Catalogação Indexação Preparo do material para o acesso Vamos falar rapidamente sobre cada um deles porque vocês já tiveram esses conteúdos mais aprofundados durante o curso. A classificação Figura 6 - ordem dos livros nas estantes Fonte: www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Classifica%C3%A7%C3%A3o%20 De%20Livro&lang=3 Classificar é conhecer, por isso o profissional deve conhecer a coleção que está formando. Classificar também é separar a coleção por meio de semelhanças e diferenças de gêneros e espécies. Assim, uma vez adquirida a coleção, chega o momento de fazer a separação por áreas do conhecimento. Recomendamos separar, primeiramente, pelas áreas maiores, para, em seguida, especificar as áreas menores. A separação, então, é feita nas áreas específicas pré-definidas. A seguir, veja um exemplo: Livros de Artes são primeiramente separados do restante da coleção. Em seguida, eles são separados por artes específicas: música, pintura, artesanato, cinema, etc. E, se for necessário, podemos, por exemplo, separar a música por especificidades regionais: música brasileira, francesa, italiana, japonesa, etc. E dentro da música brasileira, podemos fazer a separação da classe MUSICA por ritmos regionais (ou não): samba, maracatu, sertaneja, rock, etc. Competência 01 16 Classificar é conhecer O processo de classificação exige do bibliotecário um conhecimento, mesmo que básico, do assunto que está sendo classificado. Alguns sistemas de classificação podem ajudá-lo nesse trabalho. Os mais usados no Brasil são a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal (CDU). Há outras opções, mas o que o bibliotecário deve sempre levar em consideração é que a classificação, assim como todo o processo técnico, não é um fim em si mesmo, é apenas o meio. O fim são as pessoas que utilizarão as coleções. Pense nos leitores. A catalogação Figura 7 - antigos fichários para armazenar fichas de catalogação. Fonte: http://biblioideiaseestudos.com.br/ Catalogar é representar um documento por meio de uma descrição dos itens essenciais e recuperáveis desse documento. O objetivo é facilitar a recuperação da informação por meio dos campos que serão descritos, e que dizem respeito ao documento catalogado. Assim, por exemplo, um livro deve ter como descritos e recuperáveis os seguintes elementos: autor, título, descritor (ou palavra-chave ou assunto), notação, resumo, local e ano de publicação, editora, língua, etc. Para catalogar o bibliotecário deve utilizar um código norteador. O código mais utilizado no Brasil é o Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR). Notação (ou número de chamada) é o conjunto de códigos que, normalmente, é mostrado na lombada do livro. Esses códigos representam assunto, autoria (ou responsabilidade) e definem o endereço dos livros nas estantes. A indexação Conforme você viu em disciplina anterior, indexação é um processo de extração de palavras-chave do texto e que servirão para, futuramente, facilitar a recuperação do documento por meio dos seus Competência 01 17 assuntos. A indexação pode trabalhar com palavras do discurso livre, ou por meio de um vocabulário controlado. Nesse caso, a operação de indexação e busca é feita com base num tesauro específico de uma área do conhecimento. A indexação pelo tesauro diminui a dispersão de termos que podem surgir a partir de um conceito, e assim, propor uma sintonia entre o termo indexado pelo bibliotecário e o termo a ser pesquisado pelo usuário do sistema. Normalmente os sistemas de vocabulário controlado utilizam dicionários terminológicos de áreas específicas. Para ser controlado o vocabulário podem ser utilizados tesauros, ontologias, taxonomias, folksonomias, etc. Palavras-chave, descritores e termos são expressões que representam os conteúdos dos documentos. Preparo do material para o acesso No momento em que o material está pronto, deve ser colocado imediatamente à disposição dos leitores (figura 8). Os materiais impressos devem ser etiquetados para facilitar a sua localização nas estantes. Quanto aos materiais digitais, devem ser organizados num site ou portal preocupado com a usabilidade das pessoas. Dependendo da proposta da biblioteca,os materiais digitais podem requerer recursos tecnológicos de comunicação, como servidores, tablets e e-readers. Porém, mesmo neste ambiente os materiais necessitam ser catalogados, classificados e indexados, que são técnicas que buscam tornar os itens armazenados e recuperáveis. Você poderá se aprofundar mais nesse tema na disciplina AUTOMAÇÃO DE BIBLIOTECAS que será ofertada logo após esta disciplina! Figura 8 - livros classificados, catalogados, etiquetados, e preparados para o uso. Fonte: http://br.photaki.com/picture-prateleiras-de-livros-na-biblioteca-infantil_450147.htm Competência 01 18 O Descarte Figura 9 - Montanha de livros danificados. Fonte: http://booksellerswithoutborders.com/photoblog/the-ghosts-of-borders- past/before/ Vimos na, figura 9 que, muitas vezes, o descarte é necessário. Chamado de desbastamento por alguns, o descarte deve ser planejado por meio de uma política centrada na pertinência e no uso das coleções. Aqui também o ponto de partida deve ser a comunidade de leitores, e é, direta ou indiretamente, ela que deve ter a decisão final sobre o descarte. Quando a biblioteca conhece o sentimento da comunidade, a política de descarte pode ser construída com segurança. Como vimos anteriormente nos exemplos de possíveis respostas da comunidade, uma delas pode ser a seguinte: Quero uma biblioteca que não tenha livros velhos, desatualizados e empoeirados. Assim, a biblioteca pode tomar algumas decisões que compatibilizem as coleções com a comunidade. Leia alguns exemplos: Dependendo dos recursos, a biblioteca deve substituir livros muito desgastados por novas edições e exemplares. Livros desatualizados devem ser descartados, a menos que algum leitor peça para separá-los num espaço para pesquisas retroativas. Livros com fungos, brocas, ou estragados, e que não têm recuperação por restauro, devem ser descartados. Com exceção dos livros estragados, o material não deverá ser simplesmente jogado fora. A primeira opção é deixar na cesta de pegue-leve à disposição dos leitores, e a segunda opção é encaminhar o material descartado para reciclagem. Competência 01 19 SAIBA MAIS Algumas bibliotecas utilizam cestas que chamam de pegue-leve (figura 10). Os leitores são livres para pegar e levar o material que quiser. Outras bibliotecas promovem eventos periódicos, para integrar melhor a comunidade. Podem ser feiras de troca, ou eventos como recite um poema e ganhe um livro. Figura 10 - Pegue-leve numa biblioteca Fonte: http://cre-sercravinhos.blogspot.com.br/p/pegue-e-leve.html Algumas bibliotecas têm “medo” de descartar itens da coleção, e outras praticam o apego de uma forma desnecessária. Defendemos que, se houver uma política consistente de descarte, esses dois problemas tendem a ser minimizados. Outro ponto importante e que deve ser sempre lembrado é que a biblioteca também é lugar de memória e alguns itens da coleção são essenciais para se compreender a comunidade e a biblioteca. Sendo assim, a política da biblioteca deve deixar claro o valor simbólico desses itens, para que sejam preservados. A biblioteca deve equilibrar tradição e inovação. Espero que tenha ficado claro até aqui. Nunca se esqueça de que todas essas diretrizes devem ser sempre planejadas, conduzidas e avaliadas com a comunidade. Um trabalho feito em equipe pode ser mais conflituoso, mas, por isso mesmo, pode render muitos frutos bons. SUGESTÃO Veja o filme UM SONHO DE LIBERDADE. Neste filme, alguns presos criam uma biblioteca no presídio. O espaço torna-se, então, ponto de encontro para quem busca informação e entretenimento. Competência 01 20 Figura 11 - Um Sonho de Liberdade, com Morgan Freeman e Tim Robbins. Direção de Frank Darabont. Fonte: http://universal.globo.com/programas/the-librarians/materias/top-10-as-melhores- bibliotecas-do-cinema.html Aqui finalizamos a primeira semana de conversas. Antes de nos despedirmos brevemente, convido você para refletir o poema que segue para o nosso primeiro encontro presencial Refletindo a competência 1 com Arte Competência 01 21 É hora da revisão! Caro cursista, ao término da nossa primeira competência vimos que as coleções (ou acervos) são todos os itens de informação que podem ajudar os leitores da biblioteca na sua travessia educacional e cultural. Alguns itens importantes devem ser lembrados por você. Vamos revê-los? A formação de coleções é um processo que se desenvolve em etapas interdependentes, sendo necessário haver uma harmonia entre os seus elementos constituintes para que o todo (a coleção) possa existir, alcançando o objetivo maior que é a socialização do conhecimento para formação de leitores. Constituem essa estratégia: 1 - O Estudo da comunidade à qual essa coleção vai servir, entendendo os aspectos econômicos, sociais, culturais, educacionais, políticos e outros elementos inter-relacionados que influenciam diretamente na escolha do acervo e de sua administração. Devemos aprender a ouvir! A empatia (que é a capacidade de colocar-se no lugar do outro) é fundamental para compreender o que a comunidade espera de uma biblioteca, lembre-se disto! 2 - A elaboração de uma Política de Seleção e Aquisição, que atua como instrumento normativo para garantir a consistência e permanência de todo o processo de desenvolvimento das coleções ao longo dos anos de existência da biblioteca, oferecendo um suporte a todas as decisões para as próximas seleções, avaliações e aquisições de materiais que podem ser feitas através de compra, doação ou permuta. Uma política de seleção não é eterna, ela muda em decorrência dos tempos, das tecnologias, interesses e necessidades de informação das pessoas. 3 - Ações de Descarte ou Desbastamento. Após a avaliação de uma coleção, o bibliotecário poderá optar pelo descarte (exclusão definitiva do item no acervo com baixa nos registros) ou desbastamento (retirada dos itens poucos utilizados da coleção para outro local). Essas medidas visam renovar o espaço físico na biblioteca, contribuindo para melhorar o acesso ao acervo. Até a próxima! Competência 01 22 2. Competência 02 | Saber Formar e Avaliar uma Coleção Olá, seja bem-vindo de volta! Vamos continuar nossa conversa. Agora, com a compreensão dos conceitos básicos de formação e desenvolvimento de coleções, apresentaremos alguns conceitos que são essenciais à avaliação e continuidade do processo. Esses conceitos devem ser entendidos e colocados em práticas para que a biblioteca alcance seus objetivos de se integrar à comunidade, tornando-se, assim, espaço de referência para os leitores. A seguir, introduziremos brevemente esses temas. Diversidade Se a coleção é formada a partir das demandas da comunidade, é certo que ela será diversificada, porque numa comunidade de leitores há variedade de pensamentos, ideologias e heranças culturais. Sendo assim, a coleção deve se preparar para uma formação diversificada em conteúdos e formatos. Quando falamos em conteúdos nos referimos às diferentes áreas do conhecimento. Dessa maneira, uma coleção poderá agregar materiais com as mais diversas temáticas, a saber: filosofia, religião, ciências naturais e aplicadas, história, artes, literatura de ficção, etc.E também em diferentes mídias e formatos: livros impressos e eletrônicos, periódicos, audiovisuais, quadrinhos, quadros, etc. A ideologia dos bibliotecários e técnicos jamais deve se impor às demandas da comunidade. Não é possível falar aqui em imparcialidade ou neutralidade, mas entendemos que a formação de coleções é um trabalho compartilhado e, por isso mesmo, as diferenças devem ser respeitadas e contempladas no processo de formação. Um conceito fundamental para a formação e desenvolvimento de coleções é o de bibliodiversidade. Termo bastante usado pelas editoras independentes, ele significa a diversidade cultural no mundo dos livros. A bibliodiversidade defende um equilíbrio das publicações, e para que isso aconteça não pode haver monopólios financeiros e nem predominância cultural de alguns. As bibliotecas devem assegurar que suas coleções contemplem a diversidade cultural o máximo possível. Sugerimos, como exemplo, que as coleções incluam, em suas políticas de aquisição, textos de autores “marginais” e indígenas. Competência 02 23 Figura 12 - A bibliodiversidade. Fonte: http://navegacoesnasfronteirasdopensamento.blogspot.com.br/2014/11/declaracao- internacional-de-editores-e.html Atualização Este é um requisito básico e deve ser sempre monitorado, porque na contemporaneidade as coisas mudam muito rápido, e por isso a biblioteca deve estar atenta para que a coleção acompanhe, na medida do possível, essas mudanças. Essa atualização refere-se tanto ao conteúdo quanto aos formatos de publicação. Lembre-se de que o leitor de dez anos atrás não é o mesmo leitor de hoje, e em dez anos o leitor de hoje poderá não existir mais. Portanto, as coleções devem acompanhar e até se antecipar às demandas de leituras das comunidades. Integração Já sabemos que a coleção deve estar integrada à comunidade, e naturalmente, a integração também deve existir entre os temas e suportes. Essa complexa integração pode ser construída e verificada em alguns pontos que servem de referência para formalizar a integração entre demanda, conteúdos temáticos e mídias. Leia, a seguir, alguns desses pontos: Os materiais da coleção devem, na sua maioria, ser escritos na língua em que fala a comunidade. Assim, no Brasil, devem ser priorizadas coleções em língua portuguesa. Porém, se a biblioteca estiver localizada numa comunidade indígena, a prioridade deve ser a língua dos falantes daquela comunidade. Um fator essencial para a integração é a linguagem dos materiais (textos, sons, imagens). A linguagem dever ser compatível com os diferentes níveis de alfabetização e letramento dos leitores. Se a coleção está sendo formada de acordo com as demandas, então está claro que a coleção vai ao encontro dos interesses dos leitores, mas a biblioteca sempre pode contribuir com algo mais. A biblioteca, muitas vezes, pode perceber algo antes que a comunidade e sugerir materiais que, mesmo que ainda não conhecidos pelos leitores, guardam em si uma contribuição potencial a esses leitores. Essas contribuições, muitas vezes, são fruto de pesquisas da biblioteca, que propondo uma antecipação, colabora com a inovação da coleção. Competência 02 24 Orçamento Nenhuma biblioteca sobrevive sem sustentabilidade financeira, por isso é importante que a comissão busque alternativas de incrementar o orçamento para que as políticas de formação e desenvolvimento de coleções não fiquem prejudicadas. Dependendo do tipo da biblioteca, é possível que haja um plano orçamentário que dê sustentação à biblioteca. Isso acontece, normalmente, em algumas bibliotecas universitárias, escolares, públicas e especializadas. No caso das bibliotecas comunitárias, o orçamento já é mais difícil de ser construído, porque vai depender da ajuda da comunidade, de empresas patrocinadoras e de concorrência em editais públicos e privados. Isso requer, da equipe, uma constante busca por captação de recursos financeiros. E mesmo em bibliotecas que já tenham um planejamento orçamentário, aconselhamos que sempre se busque outras formas de captação para incrementar o orçamento. Afinal, quanto mais recursos, mais melhorias a equipe pode promover nas bibliotecas, e isso inclui a formação e o desenvolvimento das coleções. Nenhuma biblioteca sobrevive sem sustentabilidade financeira No caso das bibliotecas escolares, algumas escolas mantêm as bibliotecas nos seus planos orçamentários. Mas isso acontece principalmente em escolas da rede privada de ensino. No caso das bibliotecas de escolas públicas, existem alguns planos governamentais que favorecem a ampliação das coleções nas bibliotecas escolares. Entre eles está o PNBE (figura 13). Figura 13 - alguns livros do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) Fonte: www.google.com.br/search?q=pnbe+biblioteca+da+escola&biw=1366&bih= 667&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAcQ_AUoAmoVChMIrZT1xY6YyQIVhEGQCh13r wlL#imgrc=LHoTCificXBo4M%3A O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), desenvolvido desde 1997, tem o objetivo de promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência. O atendimento é feito em anos alternados: em um ano são contempladas as escolas de educação infantil, de ensino fundamental (anos iniciais) e de educação de jovens e adultos. Já no ano seguinte são atendidas as escolas de ensino fundamental (anos finais) e de ensino médio. Hoje, o programa atende de forma universal e gratuita todas as escolas públicas de educação básica. Competência 02 25 Talvez você esteja se perguntando se apenas o bibliotecário deve tomar as decisões em relação às políticas de formação e desenvolvimento de coleções. A resposta é não. As decisões devem ser avaliadas e feitas por uma comissão, porque acreditamos que uma decisão coletiva pode trazer mais benefícios para a resolução dos problemas. A formação e avaliação de coleções devem ser coordenadas por uma comissão formada por membros da biblioteca e da comunidade. Assim, algumas questões podem ser planejadas e pensadas por essa comissão, tais como: Periodicidade do inventário da coleção para verificar possíveis perdas. Análise dos materiais que devem ser descartados ou recuperados. Verificação e acompanhamento da demanda reprimida, que é aquela que indica os títulos procurados pelos leitores, mas que não existem na biblioteca. Proposição dos critérios utilizados e das políticas específicas que envolvem todo o processo de formação e desenvolvimento de coleções. Avaliação constante do processo de formação e desenvolvimento de coleções. Essa avaliação deve compreender os processos técnicos, a integração, a atualização, a diversidade, as demandas e o impacto da coleção na comunidade. O impacto da coleção na comunidade deve ser verificado periodicamente. Essa avaliação pode ser feita por meio de consultas às pessoas da comunidade. Assim, entendemos que as equipes das bibliotecas devem, constantemente, buscar alternativas para que as coleções fiquem sempre atualizadas e integradas com a comunidade. Os temas aqui apresentados devem, naturalmente, fazer parte da política de formação e desenvolvimento de coleções. Além de ajudarem na formação da coleção, são essenciais para subsidiar a avaliação da coleção. Assim, quando a comissão resolver fazer a avaliação, o planejamento pode ser feito a partir das seguintes perguntas: As coleções estão integradas com a comunidade? As coleções compreendema diversidade cultural da comunidade? O desenvolvimento das coleções está assegurado por um plano de captação de recursos? Há um plano de conservação e preservação das coleções? (você estudará esse conteúdo em disciplina específica). As coleções estão respondendo às demandas da comunidade? Aqui, o documento que contém os resultados da pesquisa com a comunidade pode servir como base (falamos sobre esse documento na primeira competência). Competência 02 26 As manifestações culturais podem ser conceituadas a partir de cinco referências: diversidade, dinamismo, conflito, identidade e espontaneidade. Entender a diversidade cultural é entender e aceitar o outro. Espero que, até aqui, as coisas estejam claras para você. Agora, passaremos à terceira competência, que vai te orientar a empreender, na prática, a formação de uma coleção. SUGESTÃO DE LEITURA O ano da leitura mágica, de Nina Sankovitch. Neste livro, a protagonista impõe a si mesma um desafio: ler um livro por dia durante um ano. Ao final de um ano, ela formou uma coleção com os livros lidos e registrou os títulos da coleção no final da obra. Figura 14 - o ano da leitura mágica Fonte: www.universoliterario.com.br/2014/03/resenha-o-ano-de- leitura-magica-nina.html É hora da revisão! Caro cursista, ao término da nossa segunda competência vimos que a avaliação é uma etapa do processo de desenvolvimento de coleções que verifica se a biblioteca cumpre o seu papel como equipamento educacional e cultural, servindo de interface do usuário com a informação. Devemos sempre nos perguntar: Será que a biblioteca cumpre os objetivos institucionais e oferece bons serviços à comunidade? Qual o valor da eficácia e do uso das coleções? A avaliação também deve subsidiar decisões sobre o uso do espaço físico e otimização da coleção. Alguns pontos importantes devem ser lembrados por você: Competência 02 27 A avaliação de coleções identifica pontos fortes ou fracos da coleção, com vistas às possibilidades de substituições, acréscimos, melhorias e atualizações para melhorar a disponibilidade e acesso às coleções. A avaliação de coleções requer análise crítica quando à diversidade do acervo, sua atualização e a integração dos recursos de informação com a comunidade leitora. Ao avaliarmos uma coleção estamos avaliando também os métodos de seleção adotados pela instituição mantenedora da biblioteca, sendo esta parte integrante do planejamento e das políticas de seleção. Os métodos, técnicas e critérios de seleção não são eternos e devem sempre estar em avaliação, pois o mundo muda e os usuários também! As avaliações de coleções precisam ter critérios claros e bem definidos, todos eles acordados em conjunto com a equipe de trabalho da biblioteca. Podemos estudar sobre os usuários da biblioteca e suas necessidades de informação através da aplicação de questionários, buscando também informações sobre o número de exemplares e a atualização da coleção. Outra dica é usar dados estatísticos para verificar a frequência de empréstimos, reservas e circulação dos itens do acervo, sinalizando as demandas de uso desses materiais, e por fim, desenvolver estudos sobre a comunidade geral à qual a biblioteca serve para que se possa definir o perfil ideal das coleções. Refletindo a competência 2 com Arte Competência 02 28 3.Competência 03 | Empreender a Formação de uma Coleção para uma Determinada Comunidade de Leitores Agora chegou a hora de você colocar a mão na massa! Vamos empreender a construção de uma pequena coleção. Conforme falamos no texto de abertura da competência, cada aluno deverá escolher uma comunidade. Então, você pode optar por uma escola, alguma casa de moradia (sua própria casa), uma igreja, uma associação, um escritório corporativo ou particular, um website, etc. A coleção pode ser composta por livros (impressos ou digitais), periódicos, DVDs, Blu-Rays, gravuras, quadros, partituras musicais, selos, provas de concursos, instrumentos musicais, CDs, discos de vinil, filmes e músicas para download, etc. O primeiro passo, conforme já vimos, é investigar a comunidade para conhecer suas reais necessidades de informação. Assim, você pode perguntar que tipo de biblioteca as pessoas querem. Se essa etapa for possível de fazer, será ótimo, mas se não for possível, mediante o pouco tempo disponível para a atividade, sugerimos que você comece a partir de uma coleção já existente, mesmo que pequena, e, que, em caso de ampliação, recorra a doações, para evitar gastos financeiros. Sendo assim, em primeiro lugar, você deve definir o lugar e prepará-lo para receber a coleção. Preparar significa ter espaço para armazenar a coleção, e espaço para receber leitores. No caso de bibliotecas digitais, deverá ter espaço para armazenar os conteúdos e meios de atender aos leitores. Isso significa ter uma infraestrutura básica de informação e comunicação. A partir da escolha dos lugares e do tipo de coleção, você deve focar agora a comunidade que será atendida. Assim, converse com as pessoas que serão potenciais leitoras da sua coleção. A pergunta básica é: Qual biblioteca você quer? A partir das respostas, direcione a sua coleção para aproximá-la da sua comunidade, promovendo assim a integração. Lembre-se de que essa comunidade pode ser bem pequena, por exemplo, a sua família, ou seu círculo de vizinhos. Em seguida, a coleção deve ser minimamente organizada para atender a essa comunidade. Lembre- se das disciplinas de classificação e catalogação. Assim, você deve separar e classificar fisicamente os materiais da coleção para que possam ser mais facilmente localizados pelas pessoas. Competência 03 29 Caso sua coleção já exista, e/ou não houver recursos para formar uma coleção a partir das demandas, você pode ir direto para a etapa de organização (catalogação, classificação, indexação). A catalogação pode ser feita manualmente, em fichas, ou numa pequena base de dados construídas em programas baixados gratuitamente na internet. Alguns exemplos de programas gerenciadores de bibliotecas são: PHL, BibLivre (gratuitos), e Pergamum e Sophia (pagos). Você poderá se aprofundar mais sobre esse conteúdo durante a disciplina de AUTOMAÇÃO DE BIBLIOTECAS. Lembre-se de que a coleção deverá, posteriormente, ficar à disposição de uma comunidade de leitores, por isso, é necessário que a organização seja feita pensando nessa comunidade. Algumas coisas não podem ser esquecidas nessa etapa, e aqui listarei algumas, porque considero que são essenciais ao processo de formação de coleções: As pessoas são diferentes, por isso um mesmo livro (ou outro item bibliográfico), pode ter impactos diferentes em leitores diferentes. As pessoas mudam. O mundo vive em constante mudança social, cultural e tecnológica, e essas mudanças influenciam diretamente as pessoas. Os leitores de hoje serão diferentes dos leitores de amanhã. Por isso, as bibliotecas e suas coleções devem estar em constante reinvenção. A produção de informação não para, e a velocidade de produção bibliográfica é gigantesca. Por ser configurada como um espaço de memória e formação, a biblioteca é um espaço de conflito entre tradição/inovação. Novos títulos devem ser agregados à coleção, porém os clássicos devem sempre ser preservados. Uma sugestão é agregar à coleção alguns clássicos que são reeditados com nova encadernação, com ilustrações e outros conteúdos que tornam a leitura ainda maisinteressante. A seguir, vamos listar algumas dicas de como proceder nas atividades de organização da coleção: O tombamento: O tombo é o registro de entrada do item na coleção. Assim que ele chega, deve ser incorporado por meio do processo de tombamento, que pode ser uma numeração sequencial. Esse número é o registro que vai identificar que o item é pertencente à coleção. Algumas bibliotecas criam um carimbo de identificação com o nome da biblioteca e o número de tombo do livro. Os sistemas gerenciadores de bibliotecas fornecem, no momento, da catalogação, o número de tombo. Se você fizer o tombamento manualmente veja um exemplo de como deve ser feito na figura 15. Competência 03 30 Figura 15 - modelo de livro de tombo Fonte: http://pt.slideshare.net/sebanna/curso-de-auxiliar-de-biblioteca Entenda alguns campos do registro de tombo, conforme exemplo acima: N° Número de tombo Data Data de aquisição Autor Autoria da obra Título Título da obra V Volume (se a obra for dividida em volumes) Local Local de publicação da obra Ed Casa que publicou a obra Data Ano de publicação da obra Aqui Tipo de aquisição (compra, doação ou permuta) Ex. Exemplar da obra (a biblioteca pode ter mais de um exemplar da obra) Lin Língua em que está escrita a obra. Obs Observações gerais (descarte, baixa, etc.) A classificação: primeiramente separe os itens por assuntos genéricos (maiores), e depois vá subdividindo esses itens por assuntos mais específicos (menores). Procure juntar itens similares, itens que têm mais de um exemplar e itens que guardem alguma relação entre si. Armazene-os de maneira lógica, o que significa armazená-los por semelhança. Lembre-se de que a classificação guarda uma lógica de semelhanças e diferenças, assim, por exemplo, numa coleção de filmes, você pode organizá-los por gêneros (terror, ação, drama, comédia, fantasia, etc.), ou por autoria, classificando os filmes por sobrenome de diretor. Ao separá-los, o próximo passo é identificar os Competência 03 31 conjuntos e subconjuntos por algum código. Assim, por exemplo, numa videoteca, os filmes de terror podem ser identificados com a cor preta e os filmes de comédia podem ficar com a cor azul. Então os filmes de cor preta estarão agrupados e representarão o gênero TERROR. Para isso, sugerimos que, na parte visível de cada item cole um adesivo (ou uma fita de tecido colorido) da cor de cada gênero. Esta é uma sugestão que foi escolhida apenas para que você entenda a sistemática de separação por semelhanças e diferenças. Você pode utilizar muitos outros recursos, como códigos da CDD, ícones, figuras, etc. A classificação pode ser bem simples e de fácil entendimento. Os assuntos podem ser identificados por cores ou ícones. A catalogação: Depois de organizado por classificação, os itens da coleção devem ser catalogados. Esse processo é importante porque facilita a localização de qualquer item da coleção. Assim, como você já viu em disciplina específica, catalogar é registrar os dados essenciais do item numa ficha manual ou num programa específico para bibliotecas. Se a sua coleção, para esta disciplina, for muito pequena, é recomendável usar fichas, onde você descreverá o item e fará a associação desse item com a classificação que lhe foi previamente atribuída. Uma vez classificado, o item terá um lugar na coleção, e a catalogação remeterá os dados do item para aquele lugar. Ainda no exemplo da coleção de filmes, o filme de terror O ILUMINADO, do diretor Stanley Kubrick, recebeu a cor PRETA, e seu lugar na prateleira, portanto, será com os itens de cor preta, que representa o gênero TERROR. No momento da catalogação, o item será descrito por título (o Iluminado), autor (Stanley Kubrick), gênero (terror), e cor preta. Para individualizar ainda mais, acrescente ao adesivo de cor preta, as três primeiras letras do sobrenome do diretor. Dessa maneira, o item ficará agrupado com os demais na cor preta, porém as letras KUB darão ao filme um status de quase único, porque pode ser que aquele seja o único filme de terror com essas letras. Esse método apenas sofre alguma alteração quando um diretor tem a responsabilidade de vários filmes de terror. Nesse exemplo, podemos citar o diretor WES CRAVEN, que numa suposta coleção de filmes, poderia ter vários títulos agrupados e, portanto, vários filmes com as letras CRA no agrupamento de cor preta. Nesse caso, você pode acrescentar a primeira letra do título do filme, para individualizar o item na coleção. Wes Craven dirigiu alguns filmes como Quadrilha de Sádicos, Pânico1, Pânico 2, etc. que poderiam ficar identificados como CRA Q (para quadrilha de sádicos), CRA P1 (para Pânico 1), CRA P2 (para Pánico 2). No campo LOCAL (ou classificação) da planilha de catalogação, seriam colocados esses códigos. Assim, quando o leitor acessasse a ficha, poderia imediatamente saber a localização do item na coleção. Competência 03 32 Veja um modelo de ficha manual para o item QUADRILHA DE SÁDICOS: Tombo 001 Autor Craven, Wes Título Quadrilha de Sádicos Título original The Hills Have Eyes Dados de lançamento EUA, 1978 Formato Blu-Ray Palavras- chave Terror. Filmes de Terror. Notação CRA Q Exemplar 1 Notas Um remake do filme foi lançado em 2006, dirigido por Alexandre Aja, com o título VIAGEM MALDITA. Não consta na coleção. Você pode fazer a catalogação num sistema de base de dados. Na figura 16 mostramos o modelo de um registro bibliográfico feito no BibLivre, que é um programa gratuito de gerenciador de bibliotecas. Figura 16 - modelo de um registro no sistema BIBLIVRE. Fonte: https://bibblogger.wordpress.com/2015/06/08/acesso-ao-catalogo-do-biblivre/ As palavras-chave: Na planilha de catalogação deve haver um espaço para registrar as palavras- chave que melhor representem o item na coleção. Na biblioteconomia chamamos essas palavras de DESCRITORES, porque, além de serem palavras que descrevem o conteúdo do item, também são Competência 03 33 palavras controladas por um vocabulário. Vocabulários controlados podem ser taxonomias, folksonomias, ontologias. Os mais utilizados em bibliotecas são os tesauros. Na terminologia essas palavras são denominadas de TERMOS, porque são retiradas de dicionários de terminologia. Os dicionários de terminologia são sempre especializados numa determinada área do conhecimento. Existem dicionários terminológicos de Direito, Física, Eletrônica, Nutrição, etc. No nosso caso, como se trata de palavras de uso livro do discurso, a princípio sem controle, vamos chamar de PALAVRAS-CHAVE. Da mesma forma que acontece com os códigos, as palavras-chave agrupam um conjunto de itens semelhantes e auxiliam na recuperação da informação. Figura 17 - Nuvem de palavras-chave. Fonte: http://blog.boo-box.com/publishers-2/pimp-your-blog/aproveite-todo-o-poder-das-palavras-chave-para- o-seu-conteudo/ Caso você tenha decidido implantar uma biblioteca digital, o processo de palavras-chave é ainda mais importante. Nesse caso, como não é possível identificar os itens por etiquetas, é necessário descrevê-los com palavras-chave (e metadados) e criar diretórios que agrupem os itens por semelhanças. Metadados são recursos que incluem dados sobre o item da coleção, e facilitam sua localização nas bibliotecas digitais. Diretórios são recursos que organizam e classificam os conteúdospor categorias e subcategorias. Sugerimos que, caso seja de interesse, você pesquise mais sobre o assunto. Competência 03 34 A acessibilidade: consideramos importante que a biblioteca sempre pense na acessibilidade a todas as pessoas. Para seguir o conceito de acessibilidade e inclusão, os espaços devem estar preparados para receber todas as pessoas. Sabemos que, por uma série de razões, muitas vezes isso não é possível, mas pequenas ações, e, às vezes, sem custo algum, podem trazer muitos benefícios. As bibliotecas são construídas para todas as pessoas, e por isso mesmo, os seguintes detalhes devem ser observados: Rampas de acesso (se necessário) Elevadores (se necessário) Pisos táteis Orientações em BRAILE Correta condução de pessoas cegas pelos espaços Ações culturais com tradução simultânea em LIBRAS Espaços dimensionados e preparados para cadeirantes LIBRAS é a língua brasileira de sinais. É usada pela maioria dos surdos (veja figura 18) BRAILE é um sistema de leitura para cegos. Foi criado pelo francês Louis Braille no século XIX (veja figura 19). Figura 18 - Língua Brasileira de Sinais Fonte: www.contagem.mg.gov.br/?hs=303766&hp=811069 No caso específico de coleções, as bibliotecas devem incluir nas suas políticas de seleção e aquisição itens acessíveis como: Livros em Braile Audiolivros Livros em letras grandes para pessoas com baixa visão Etiquetas de notação (classificação) em braile Programas de voz, em caso de bibliotecas digitais Audiodescrição da informação Competência 03 35 Figura 19 - Alfabeto Braille Fonte: http://camaradeparaguacu.mg.gov.br/escola/cursos/braille-basico/ Portanto, se o seu projeto para esta disciplina é criar uma pequena coleção para pessoas com deficiência, atente para esses detalhes. Por fim, a coleção pode ser etiquetada e armazenada. Figura 20 - uma coleção pronta para receber seus leitores. Fonte: www.totalmentein.com/tag/biblioteca-pequena-em-casa/ SAIBA MAIS Para que você se inspire, sugerimos ver o vídeo do projeto IDEAS BOX, criado pelos BIBLIOTECÁRIOS SEM FRONTEIRAS. Acesse o vídeo aqui: www.youtube.com/watch?v=3qPbky8XiQc Trata-se de caixas itinerantes que contém itens de bibliotecas (figura 21). Após ser aberta, a coleção de caixas permite montar uma biblioteca em até 20 minutos. Competência 03 36 A coleção contém os seguintes itens: Conexão: acesso à internet 3G ou 4G. Tecnologia da Informação: 15 a 20 tablets, 5 laptops e um servidor de internet. Aprendizagem: 250 livros impressos, 50 e-readers, milhares de e-books, aplicativos educacionais, wikipedia, Khan Academy. Cinema: 1 TV HD, projetor, 100 documentários e filmes. Jogos: de tabuleiro e vídeo games. Artes: palco para apresentações musicais e teatrais. Criação: 5 câmeras, softwares de vídeo e de design gráfico, scanner para criação, materiais de desenho. Figura 21 - IDEAS BOX Fonte: http://ewbusa-smu.org/ideas-box/ SAIBA MAIS Para conhecer mais sobre os bibliotecários sem fronteiras, acesse: www.librarieswithoutborders.org/ No momento em que a coleção está classificada, catalogada, armazenada, consideramos que já está pronta para o uso. Aqui, então, começa a etapa que chamamos de serviço de referência ao usuário/leitor. Essa etapa será apresentada em disciplina específica, ainda neste curso. Findamos aqui nossa conversa. Espero que as informações apresentadas ao longo destas semanas tenham contribuído para a expansão dos seus conhecimentos. Desejo a você um bom trabalho, e Competência 03 37 que suas coleções tragam ótimos resultados na vida das pessoas. SUGESTÃO DE FILME Escritores da Liberdade, com Hilary Swank, e direção de Richard LaGravenese. Alemanha/EUA, 2007. Quando vai parar numa escola corrompida pela violência e tensão racial, a professora Erin Gruwell combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula e os livros façam a diferença na vida dos estudantes. Figura 22 - Escritores da Liberdade Fonte: http://socializandofilmes.blogspot.com.br/search/label/Livros É hora da revisão! Caro cursista, terminando a terceira competência, trazemos a você um panorama geral sobre os processos de formação e desenvolvimento de coleções para uma comunidade de leitores. Certamente, estas informações serão úteis para a atividade que você vem desenvolvendo desde o início da nossa disciplina e que tem sua culminância nesta última semana. Atente às seguintes perguntas que deverão ser atendidas para um bom desenvolvimento de coleções: QUEM? (Estudo da comunidade). Trace o perfil da comunidade que será atendida, identificando quem são as pessoas que frequentam a biblioteca e quais as necessidades e interesses deste público. Ter estas informações vai lhe ajudar a planejar os serviços de informação com mais consistência (veremos mais sobre estes serviços em disciplina do próximo módulo). COMO? (Políticas de Desenvolvimento de Coleções - PDC). Elabore um plano para registrar Competência 03 38 todas as etapas do processo de desenvolvimento de coleções. Registre os critérios adotados pela biblioteca para seleção e aquisição de materiais. O PDC é um documento que deve ser planejado por uma comissão composta por pessoas tanto da biblioteca quanto da comunidade ou instituição mantenedora. Pense na missão e nos objetivos da biblioteca que deverão estar em harmonia com a instituição mantenedora. No caso de uma biblioteca comunitária, por exemplo, a biblioteca deve auxiliar as ações e objetivos delineados pela associação dos moradores local (educação, lazer e identidade cultural primordialmente). Pense também nas etapas de processamento técnico dos livros e registro de patrimônio (livro de tombo, sistema computadorizado, etc.). Por exemplo, será preciso uma catalogação formal? Neste caso, qual código de classificação utilizar? AACR2? Qual o nível de descrição é suficiente na catalogação? Que código de classificação usar? Classificar os assuntos de forma geral ou mais específica? É necessário desdobrar a classificação em graus mais complexos (detalhados)? Qual o tipo de indexação usar? Qual o tipo de linguagem? É necessário usar vocabulário controlado para controle dos termos de indexação? Pense na realidade do seu usuário! O QUE? (Seleção e Aquisição). É o momento de determinar os itens que vão compor o acervo através dos critérios estabelecidos pelo PDC, considerando as exigências dos usuários e, não menos importante, o orçamento disponível (em tempos de crise, é fundamental atenção ao planejamento dos gastos com o menor impacto negativo possível para a biblioteca e seus usuários). Os materiais selecionados deverão estar coerentes com a comunidade e a instituição mantenedora. Por exemplo, para uma biblioteca de Artes, não haveria muita serventia ter um livro sobre biologia molecular no acervo, tampouco listas telefônicas, agendas antigas ou documentos do tipo. Biblioteca não é antiquário nem depósito de inutilidades. Geralmente as aquisições se dão por compra, doação ou permuta. A seleção de materiais exige pesquisa e estudo sobre as obras que serão selecionadas. Um erro muito comum é se deixar influenciar por gostos pessoais ou apelos do mercado editorial. Registre uma lista dos livros e materiais de informação que abiblioteca almeja adquirir (chamada de lista desiderata) e encaminhe para a comissão responsável pela avaliação da coleção. A comissão de seleção e aquisição também poderá se guiar por sugestões dos usuários e instrumentos de coleta de dados (questionários, entrevistas) para obtenção de parâmetros de dados quantitativos e qualitativos sobre o acervo. No caso de aquisição por doação, o recebimento dos novos livros e demais materiais deverá ter respaldo legal por documentos assinados pelo doador, no qual compromete-se a aceitar as diretrizes normativas que constam na PDC da biblioteca. POR QUÊ? (Avaliação). Aqui é a prova de fogo. Todos os esforços para a formação do acervo serão testados nesta última etapa. A avaliação para Lancaster (1996, p. 20) “[...] pode ser feita com o objetivo de melhorar as políticas de desenvolvimento de coleções, melhorar as políticas relacionadas com períodos de empréstimos e taxas de duplicação, ou embasar decisões relacionadas com o uso do espaço”. Proceda a avaliação das coleções em períodos pré- determinados até mesmo para detectar se há algum erro nos critérios de seleção de materiais. Chame os usuários para esta etapa! De tempos em tempos, certamente o acervo tenderá a crescer, pois as necessidades de informação dos leitores mudam e os livros estocados não acompanham essas dinâmicas. Outras obras, contudo, permanecem, pois são clássicos atemporais da humanidade (leia o texto “O que Rejeitar ou Conservar em uma Biblioteca?” de Philippe Willemart Competência 03 39 disponível como texto de apoio da competência 3). Para os livros combatentes de guerra não mais consultados, cumpridores de sua nobre função informativa, é hora de pensar no desbastamento (procedimento de identificação dos livros poucos utilizados ou desgastados do acervo, recolocando- os para outros locais) ou no descarte (exclusão definitiva do acervo). Atenção: sensibilidade e bom senso são fundamentais para essas ações pois nem tudo é repasse técnico e operacional. Decidir o que rejeitar ou conservar em uma biblioteca requer uma dimensão sensível à formação humana de seus leitores, permitindo-lhes conhecer a cada livro, um mundo novo. Estas são as etapas para formar e desenvolver uma coleção na biblioteca. Você pode adaptá-las segundo as necessidades dos seus leitores e da comunidade do entorno. Boas bibliotecas funcionam com boas ideias. Refletindo a competência 3 com Arte Acesse esta música com letra animada através do link: https://www.youtube.com/watch?v=NWM2C4Luq2c Competência 03 40 Conclusão Terminamos aqui este caderno. Acredito que você, após as leituras dos textos e a produção das atividades descritas ao longo da disciplina, tem os conhecimentos e as competências básicas para dialogar e refletir sobre a formação e o desenvolvimento de coleções em qualquer espaço de informação, memória e cultura. As questões aqui discutidas podem te ajudar a planejar um serviço de coleções de acordo com a sua comunidade de leitores e usuários. Há inúmeras possibilidades de coleções e leitores, por isso é necessário que você, caro cursista, a partir das informações aqui apresentadas, desenvolva sempre novos saberes. O que foi apresentado aqui é apenas um fundamento básico nesse campo de conhecimento. Meu conselho é que você se mantenha sempre atualizado, porque as coisas mudam constantemente, e, por isso, você deve sempre procurar novos caminhos de aprendizagem ao longo da sua vida profissional. A informação está nas pessoas, e está no mundo, mas o conhecimento tem que ser construído a partir dessa avalanche de informações. Desejo que você busque suas informações nesse vasto mundo e que, a partir delas, construa seu mundo de conhecimentos. Um profissional da informação que se apropria de informações e produz seu conhecimento tem mais facilidade de entender e informar o seu leitor/usuário. Por isso, desejo que você nunca interrompa sua busca por informações. O conhecimento, uma vez apropriado, pode ser uma referência para a procura de informações do seu usuário/leitor. Acredito que o papel principal de um profissional da informação é compreender o mundo, as pessoas, e o conhecimento produzido pelas pessoas desse mundo. E entenda que você, as suas referências, e o seu usuário/leitor são pessoas e conhecimentos que constituem o seu mundo. Finalizo este caderno com um trecho do Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade: “Mundo, mundo vasto mundo Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo, mundo, vasto mundo, Mais vasto é meu coração. ” Desejamos muito sucesso em sua vida profissional. Um abraço cordial! 41 Referências BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001. GULLAR, Ferreira. Melhores poemas. 7. ed. São Paulo: Global, 2004. IBGE: Brasil em síntese. Disponível em: <http://brasilemsintese.ibge.gov.br/educacao.html> Acesso em 01 nov. 2015. LANCASTER, F. W. Avaliação de serviços de bibliotecas. Brasília: Briquet de Lemos/ Livros, 1996. MIRÓ. aDeus. 3. ed. Recife: Mariposa Cartonera, 2015. NEVES, I. C. B.; MORO, E. L. da S.; ESTABEL, L. B. (orgs.). Mediadores de Leitura na Bibliodiversidade. Porto Alegre: Evangraf; SEAD; UFRGS, 2012. PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA. Disponível em: <http://pacto.mec.gov. br/o-pacto> Acesso em 01. Nov. 2015. RANGANATHAN, S. R. As cinco leis da biblioteconomia. Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 2009. RODRÍGUEZ SANTA MARIA, Gloria Maria. As bibliotecas públicas que queremos. São Paulo: Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo. Unidade de Bibliotecas e Leitura; SP Leituras, 2013. SANKOVITCH, Nina. O ano da leitura mágica. São Paulo: Leya, 2011. VERGUEIRO, Waldomiro. Desenvolvimento de coleções São Paulo: APB: Polis, 1989. 42 Bibliografia sugerida para estudo LANCASTER, F. W. Avaliação de serviços de bibliotecas. Brasília: Briquet de Lemos/ Livros, 1996. VERGUEIRO, Waldomiro. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: APB: Polis, 1989. ______ . O futuro das bibliotecas e o desenvolvimento de coleções: perspectivas de atuação para uma realidade em efervescência, Perspect. cienc. inf., Belo Horizonte, v. 2, n. 1, p. 93 - 107, jan./jun.1997. Disponível em:< http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/629/413 >. Acesso em 01 jan. 2016. ______ . 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