Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
8 ORIGENS DO URBANISMO MODERNO 8. ORIGENS DO URBANISMO Podemos considerar que a palavra “urbanismo” surgiu após as transformações tecnológicas, econômicas e sociais que moldaram a estrutura das cidades do século XIX, antecessoras mais próximas das cidades atuais. „„De fato, a palavra “urbanismo” é recente. G. Bardet remonta sua criação a 1910. O dicionário Larousse define-a como a “ciência e teoria da localização humana”. Esse neologismo corresponde ao surgimento de uma realidade nova: pelos fins do século XIX, a expansão da sociedade industrial dá origem a uma disciplina que se diferencia das artes urbanas anteriores, por seu caráter reflexivo e crítico, e por sua pretensão científica‟‟ (CHOAY, 2005, p.2) Os urbanistas têm, entre as suas principais preocupações, evitar, combater e corrigir os problemas que afetam a qualidade de vida nas cidades, assim como controlar o seu crescimento dentro dos princípios de sustentabilidade e de preservação do meio ambiente. 8.1 O pré - urbanismo A partir do século XIX, as principais propostas que integram o pré-urbanismo, segundo Françoise Choay1, podem ser divididas em dois grupos: O primeiro compreende um conjunto de estudos teóricos e propostas físicas que tinham como principal objetivo fazer uma crítica radical ao capitalismo que incluía a concepção de estruturas urbanas totalmente novas. Apesar da maioria dessas propostas não terem a pretensão de serem implantadas, algumas se tornaram realidade, como a cidade de New Harmony, criada por Robert Owen e os Falanstérios de Charles Fourier, que ao lado de Saint-Simon, Cabet, Proudhon, Godin, passaram a ser conhecidos como socialistas utópicos2. 1 CHOAY, Françoise, O Urbanismo, Perspectiva, São Paulo, 2010 2 A utilização de utopias como forma de criticar o sistema vigente tem uma longa tradição, que inclui a publicação de Utopia, por Thomas Morus, em 1516 e as cidades ideais propostas por Leon Batista Alerti e Filareti \em 1460. Fig 73: New Harmony Estes pensadores acreditavam que o homem seria mais feliz, mais produtivo e mais religioso se as instituições da sociedade e a própria concepção urbanística das cidades fossem objeto de mudanças radicais. O segundo grupo é composto por proposições de caráter normativo que pretendiam regular o processo de crescimento e ocupação das cidades através de normas de higiene e regulamentos edilícios que criavam novos limites para a especulação imobiliária e descontrole urbanístico, característicos da filosofia de “laissez faire”. Segundo a mesma autora, os estudos e propostas integrantes do período pré urbanístico podem ser divididos entre progressistas, culturalistas e críticos sem modelo, divisão que pelo menos no que se refere aos dois modelos permanecerá válida para o período que se segue - o urbanismo. 8.1.1 O modelo progressista Desse modelo fazem parte as contribuições de Owen, Fourier, Richardson, Cabet e Proudhon. „‟Todos esses autores têm em comum uma mesma concepção do homem e da razão, que subtende e determina suas propostas relativas à cidade. Quando fundam suas críticas da grande cidade industrial no escândalo do indivíduo “alienado”, e quando se propõem como objetivo um homem consumado, isso se dá em nome de uma concepção do individuo humano como tipo, independente de todas as contingências e diferenças de lugares e tempo, e suscetível de ser definido em necessidades-tipos cientificamente dedutíveis. Um certo racionalismo, a ciência, a técnica devem possibilitar resolver problemas colocados pela relação dos homens com o meio e entre si. Esse pensamento otimista é orientado para o futuro, dominado pela idéia de progresso. A revolução industrial é o acontecimento histórico-chave que acarretará o devir humano e promoverá o bem estar. Essas premissas ideológicas permitirão que chamemos de progressistas o modelo que inspiram‟‟ (CHOAY, 2010, p. 8). O uso da razão é que permitirá a identificação de uma “ordem tipo” a ser aplicada em qualquer agrupamento urbano, em qualquer tempo, em qualquer lugar.( CHOAY, 2010, p.8). O espaço urbano concebido pelos pré-urbanistas progressistas é um espaço determinado por um pensamento higienista, onde a malha urbana é entremeada de áreas verdes e vazios que garantem a entrada dos raios solares e da ventilação natural que afastam em definitivo os miasmas presentes nas estruturas medievais. Esse é o pensamento de Richardson ao conceber a Hygeia, uma cidade que teria o coeficiente mais baixo de mortalidade, de Proudon que queria transformar a França num imenso jardim entremeado de pequenos bosques e de Godin que entendia que o progresso verdadeiro seria atingido quando o ar, a luz e a água fossem distribuídos igualmente a todos. „‟Em certos casos, a ordem específica da cidade progressista é expressa com uma precisão de detalhes e uma tacão rigidez que eliminam a possibilidade de variantes ou de adaptações a partir de um mesmo modelo. Tal é, por exemplo, o caso dos desenhos nos quais Fourier representa a cidade ideal com seus quatro anéis concêntricos, “cada um distante do outro mil toesas, suas vias de circulação minuciosamente calibradas, suas casas, cujo alinhamento, gabarito e até tipo de muro estão de uma vez por toda calculados‟‟. (CHOAY, 2010, p.9). Fig 74: Hygeia A moradia individual, a habitação coletiva, a escola, hospital, exaustivamente estudados produziriam tipos universalmente válidos, como a habitação individual, o hospital e a lavanderia municipal concebidos por Richardson ou o Falanstério, habitação coletiva criada por Fourier. Fig 75: New Lanark 8.1.2 O modelo culturalista Desse modelo fazem parte John Ruskin e William Morris e no fim do século XIX Ebenezer Howard criador da “cidade jardim”. Se a preocupação dominante no modelo progressista era a higiene, no modelo culturalista a estética era a primeira questão a ser considerada. Fig 76: Catedral de São Marcos, Jonh Ruskin Fig 77: Sociedade, William Morris Os culturalistas denunciavam o fim do processo orgânico que gerara a cidade medieval com o advento da industrialização e a massificação dela decorrente. Para os defensores do culturalismo o individuo, com suas particularidades e originalidade não poderia ser enquadrado num homem tipo, sendo que cada membro da comunidade constituí, pelo contrário, um elemento um elemento insubstituível nela. (CHOAY, 2010, p.11). Os culturalistas propunham um retorno a uma concepção medieval de arte, valorizando o artesanato. O mesmo valia para as construções que deveriam ser diferentes umas das outras abolindo os protótipos e os padrões adotados pelo modelo progressista. 8.1.3 A crítica sem modelo A crítica sem modelo foi desenvolvida por pensadores políticos como Mattew Arnold, Fourier, Proudhon, Carlyle, Engels e Ruskin, de tendências diversas e até mesmo antagônicas. A crítica desses pensadores à cidade industrial destacava as péssimas condições de higiene, as moradias insalubres, as grandes distancias que os trabalhadores eram obrigados a percorrer de casa para o trabalho, a falta de espaços e jardins públicos nos bairros populares, os montes de lixo lançados nos logradouros. Dentre eles destaca-se a critica a cidade industrial feita por Engels que, assimcomo Marx, não recorre ao mito da desordem, nem propõem um modelo para a cidade futura, já que esta seria o resultado de uma sociedade sem classes. Engels pode ser considerado como um dos fundadores da sociologia urbana pelas pesquisas que desenvolveu nas favelas (sluns) de Londres, Edimburgo, Glasgow, para escrever A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. 8.2 O Urbanismo Dando segmento aos estudos, propostas e concepções que marcaram o período pré urbanístico, inicia-se no final do século XIX, com Ebenezer Howard, o urbanismo, propriamente dito que, ao longo do século XX, adquirirá, para muitos, o status de “ciência”. „‟A sociedade industrial é urbana. A cidade é seu horizonte. Ela produz as metrópoles, conurbações, cidades industriais, grandes conjuntos habitacionais. No entanto fracassa na ordenação desses locais. A sociedade industrial tem especialistas em planejamento urbano. No entanto, as criações do urbanismo são, em toda a parte, assim que aparecem contestadas, questionadas‟‟. (CHOAY, 2010, p.1) O enorme acervo de contribuições que integram esse período, em que a cidade é vista como um organismo em permanente evolução e passível de intervenções e controle, é formado por estudos dedicados à evolução e a história das cidades, por propostas metodológicas de planejamento e desenho urbano, estudos de mobilidade urbana, geografia, sociologia e economia urbana, como também pela realização de planos diretores e pela aplicação de outros instrumentos de intervenção e controle do processo de urbanização. Desse conjunto de estudos destacamos apenas uma pequena amostra, torcendo para que a curiosidade do leitor leve-o a continuar, por sua própria conta e risco, a viagem pelas cidades de todas as épocas e pelas tentativas de torná-las melhores para todos nós. 8.3 A Cidade Industrial de Tony Garnier (1869-1948) Tony Garnier, discípulo de Paul Blondel entrou para a história do urbanismo com um projeto revolucionário, para sua época, de um modelo de uma cidade de 35.000 habitantes, a Cidade Industrial. Fig 78: Cidade Industrial Fig 79: Habitações da Cidade Industrial Como a cidade idealizada por Garnier não foi concebida para nenhum sítio e especial, Garnier pode determinar a sua vontade as características topográficas e hidrográficas do sítio, embora ressalvando que as cidades de Rive-de-Gier, Saint Étiene, Saint- Chamond e algumas outras pequenas cidades francesas tinham as suas características geográficas análogas a de sua criação. O plano constando de um texto e de um conjunto de ilustração foi exposto em 1904 na Academia, nele as funções urbanas eram rigidamente separadas, antecedendo as diretrizes de zoneamento da Carta de Atenas (1933)3. 3 A Carta de Atenas ou Town Planning Chart foi elaborada durante o 4º congresso do CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna). A Carta tem como uma de suas principais diretrizes urbanísticas uma rígida separação das funções habitar, trabalhar, circular e cultivar o corpo e o espírito. 8.4 A cidade linear de Sorya y Mata Em 1882, Arturo Sorya y Mata, engenheiro espanhol, criador do primeiro sistema de bondes e telefones de Madrid, propôs a criação de uma cidade linear. A proposta de Sorya y Mata foi considerada como a primeira resposta a questão da integração dos diferentes modais de transporte modernos e, a partir destes, construir o desenho da estrutura urbana. Segundo a sua concepção, a cidade linear era constituída por uma faixa de 500m de largura e o comprimento que fosse necessário. No centro da cidade se localizaria uma rodovia principal e uma linha de trem ou de bonde, assim como toda a infra-estrutura de água, esgoto, gás, energia etc. Também na área central seriam dispostos os principais serviços urbanos, como os bombeiros, a polícia, os estabelecimentos de saúde etc. As áreas residenciais eram dispostas ao lado da via central, servidas por vias secundárias. Alem das áreas residenciais localizavam-se as atividades rurais. As idéias de Sorya y Mata tiveram uma grande repercussão, servindo de modelo para a cidade de Stalingrado e certamente eram do conhecimento de Lúcio Costa quando elaborou o plano diretor de Brasília. 8.5 Método de Investigação Regional (Regional Survey) Em 1910, na Escócia, o cientista de múltiplas especialidades Patric Geddes considerava que uma nova ordem mundial se anunciava: a ordem “neotécnica”, sucessora da ordem “paleotécnica” que até então prevalecia. Geddes lança sua tese “Método de Investigação Regional” na qual qualquer ação de desenvolvimento urbano deveria se basear em amplas e detalhadas pesquisas na cidade e na região onde se pretendia atuar, tornando-se o precursor das técnicas de “survey”, utilizadas por várias das escolas de planejamento urbano e regional que surgiram no século passado. As idéias de Geddes foram desenvolvidas mais tarde pelo urbanista grego Constantinos Doxiadis, criador da Equística e autor do Plano Doxiadis (1963), feito para a cidade do Rio de Janeiro que, juntamente com o PUB RIO (Plano Urbanístico Básico do Rio de Janeiro), elaborado em 1977 por técnicos da Prefeitura, são exemplos da aplicação de algumas das idéias de Geddes. 8.6 A Cidade Jardim de Ebenezer Howard A idéia de uma cidade jardim surgiu em reação às péssimas condições de vida da cidade industrial, com suas ruas estreitas cobertas de lixo, ausência de áreas verdes, quarteirões ocupados por cortiços e sem nenhuma condição de higiene. Fig 80: Letchworth Já no final do século XIX o geógrafo Piotr Kropotkin, em seu livro “Fields Factories &Work-Shops” analisava as inovações tecnológicas e demais recursos existentes, principalmente os meios de transporte, comunicação e transmissão de energia que poderiam colocar, no mínimo, em pé de igualdade, a qualidade de vida das pequenas comunidades e a da grande cidade, impactada pelos problemas anteriormente relacionados. Em 1898, Ebenezer Howard, influenciado pelas idéias de Kropotkin, de James Buckingham, criador da cidade ideal Victória, Edward C. Wakefield, estudioso da organização de migrações e pelas idéias de Herbert Spencer sobre a propriedade da terra, publicou o livro “Tomorrow , Apeaceful Path to Real Reform”, revisto em 1902 e republicado com o nome Garden Cities of Tomorow”. A cidade idealizada por Howard seria construída no centro de 2400 hectares, dos quais ocuparia 400 hectares. A cidade seria cortada por seis bulevares com 36 metros e uma avenida central com 125 metros de largura, formando um parque. No centro da cidade ficariam órgãos públicos e as instituições voltadas para a cultura e o lazer, como o teatro, museu, bibliotecas, etc. Também na área central seria construido o Palácio de Cristal onde seria instalado o mercado e um jardim de inverno. A população da Cidade Jardim seria de cerca de 30000 pessoas, sendo que 2000 ficariam no campo. As industrias ficariam na periferia ao longo da linha férrea, facilitando o escoamento da produção, a área agrícola seria constituídas por fazendas. Howard pensando como mostrar que sua idéia era viável, funda em 1899 a Associação das Garden-Cities, e chama os arquitetos Parker e Umwin para projetar a cidade de Letchworth . Em 1919 Howard funda sua segunda cidade: Welwin. Howard com as duas cidades-jardins conseguiu comprovar que era viável a construçãode cidades novas com indústrias e jardins, e não subúrbio jardins. -que cada família poderias possuir uma casa em meio ao verde, perto do trabalho e do centro da cidade. - poderia obter cidades com boa qualidade ambiental, mantendo os jardins. -era possível construir moradias a baixo custo e com conforto térmico. 8.7 Unidades de Vizinhança de Perry a Lucio Costa No início do século XX surge, nos E.U.A o “Community Center Movement” cujo objetivo primordial era o de desenvolver as atividades da comunidade a partir de centros onde a população local poderia se reunir para discutir seus problemas. Clarence A. Perry em “The Wider Use of School Plant” escrito em 1910 recomendava que a escola fosse utilizada como centro comunitário, tendo em vista não só dinamizar as atividades de grupo, como também aproveitar ao máximo o potencial agregador da escola. Em 1929, Perry desenvolveu suas ideas na monografia “The Neigbourhood Unit a Scheme of Arrangement for the Family Life Community. Segundo ele, a unidade de vizinhança abrigaria cerca de 5.000 habitantes, distribuídos num território cujos limites eram definidos em função de uma distância máxima da escola às áreas residenciais, de tal forma que o trajeto casa-escola pudesse ser percorrido a pé pelas crianças sem grande esforço. As ruas tomadas pelo trafego de passagem jamais penetrariam na unidade, tangenciando-a, de forma a garantir a segurança dos pedestres, estimulando os deslocamentos de bicicleta e a pé, recuperando a escala humana perdida nos grandes centros. Com esse objetivo a estrutura viária seria projetada de forma obedecer a uma hierarquia viária bem definida em que apenas vias locais, de pouco movimento de veículos, penetrariam na unidade de vizinhança. Enquanto Perry desenvolvia seus estudos, Henry Wright e Clarence Stein utilizaram conceitos semelhantes nos conjuntos habitacionais de Sunnyside Garden e Radburn em New Jersey, nos anos 1920. Radburn foi construída como uma “cidade jardim” para abrigar uma população de 25.000 hab. A cidade, constituída por um núcleo central e três unidades de vizinhança, dispostas em torno de três escolas/centros comunitários, com um raio de influência que não ultrapassava 800 m. As áreas residenciais eram delimitadas pelas vias principais, formando superquadras com 12 a 20 há. As casas voltavam suas áreas sociais para áreas verdes localizadas no interior das quadras e suas entradas de serviço para as vias de acesso. O projeto eliminava totalmente os cruzamentos de veículos e pedestres, utilizando passagens em nível para as ligações entre superquadras. As idéias de Perry relativas à hierarquização do sistema viário, afastando as vias de maior movimento de tráfego das quadras foram adotadas pelos modernistas, dentre eles Lucio Costa no projeto das Super quadras de Brasília. 8.6 As Cidades Novas da Inglaterra O século XX foi marcado não só pelo surgimento das áreas metropolitanas em que o tecido urbano de diferentes cidades se conurbavam para formar imensas megalópoles sem obedecer a qualquer tipo de planejamento, mas também pela implantação de núcleos urbanos planejados, mais conhecidos como cidades novas. A criação dessas cidades tornou-se o contraponto de outras em que a falta de planejamento e controle do crescimento urbano tornavam insuportável a vida de seus habitantes. Procurava-se atingir com as novas cidades ou com a reforma urbana de cidades já existentes os seguintes objetivos: - Aliviar o congestionamento dos grandes centros; - Orientar o crescimento de cidades; - Revitalizar áreas em processo de decadência; - Promover o desenvolvimento regional; - Cumprir objetivos políticos; - Ocupar áreas de fronteira ou áreas cujo baixo índice de ocupação pudessem afetar a segurança nacional; - Distribuir no território as atividades industriais e de serviços essenciais evitando sua excessiva concentração. O New Towns Act, promulgado na Inglaterra em 1946 previa a implantação de 22 cidades novas, com capacidade para abrigar uma população total de 1.500.000 pessoas. O programa baseou-se em um conjunto de estudos em que se destacaram o relatório produzido pela Comissão Marley em 1935, feito para avaliar os benifícios e problemas das cidades-jardins; o Relatório Barlow, de 1940, que propunha a descentralização industrial como vetor de equilíbrio regional e como fator de segurança em caso de guerra; o Plano para a Grande Londres, de 1944, elaborado por Sir. Patrick Abercrombie, que previa a criação de cidades novas para conter a expansão de Londres. As características principais das cidades novas inglesas era o rápido crescimento da população, atraída por melhores condições de vida e pela oferta de empregos; a estrutura urbana planejada por uma empresa pública, também responsável por sua implantação; o distanciamento de 20 a 40 km da cidade central; a ocupação de terrenos mais baratos do que os da periferia da metrópole; a manutenção da posse da terra pela empresa pública e a auto-suficiência na oferta de empregos e atividades sociais. As principais críticas feitas à forma como se deu a implantação do programa foram as seguintes: - Inicialmente grande parte da terra urbana era de propriedade da empresa pública, já que apenas uma em cinco unidades poderia ser vendida, situação que favorecia um maior controle sobre a ocupação da cidade. Com o passar do tempo o percentual de terras alienadas a particulares aumentou para 50%, diminuindo o poder do estado; - Algumas cidades planejadas para ser auto-suficientes em termos de oferta de empregos, passaram a ser utilizadas como cidades dormitórios da mão de obra empregada na metrópole; A implantação desses núcleos de forma muito rápida e sem relações mais fortes com a região do entorno produzia uma sensação de desenraizamento da população. As Cidades Novas inglesas, como a maior parte das cidades planejadas sofreram grandes modificações em relação ao projeto original, principalmente no que se refere ao tamanho da cidade e da população que atingiu valores entre 100.000 e 250.000 habitantes, conquanto tivessem sido projetadas para abrigar apenas 20.000 a 60.000 habitantes. 8.7 A Cidade Parque ou a Utopia Modernista Em 1932 Charles Edouard Jeaneret, conhecido como Le Corbusier, que se tornaria o mais importante arquiteto do século XX, expõe os planos de uma cidade capaz de abrigar três milhões de habitantes, chamada por ele de “Cidade Contemporânea”. Le Corbusier sentia a necessidade de se estudar a grande cidade, pois reconhecia seu papel de pólo magnético e a importâcia das altas concentrações demográficas que os grandes centros já apresentavam. Em seu livro “Urbanisme”, publicado em 1925 escrevia que: “A grande Cidade comanda tudo, a paz, a guerra, o trabalho. As grandes cidades são os ateliers espirituais onde se produz a obra do mundo” Reconhecia a importância da incorporação das novas tecnologias disponíveis na construção das grandes cidades, tais como a utilização do aço nas estruturas, o concreto armado, os elevadores, os sistemas de condicionamento de ar e os grandes painéis de vidro. Propõe a implantação de áreas residenciais com densidades de mil habitantes por hectare e áreas comerciais onde a densidade se levava ainda mais, alcançando três mil e duzentas pessoas por hectare. O zoneamento de usos extremamente rígido separava espacialmente as funções urbanas de habitar, trabalhar, estudar e recrear, ligando-as por um sistema viário composto por ligações hierarquizadas e dimensionadas segundosua utilização funcional. Nesse sistema de circulação o fluxo de veículos era totalmente separado do de pedestres. Alem de cidades com milhões de habitantes, Le Corbusier defendia a criação de unidades de produção agrícola na forma de pequenos núcleos urbanos de apoio às áreas agrícolas e cidades industriais lineares, implantadas ao longo das vias de acesso às grandes cidades. O pensamento de Le Corbusier, divulgado pelos inúmeros livros que escreveu e por sua notável obra arquitetônica e urbanística influenciou, enormemente, os arquitetos do século passado, que se reuniam nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, os “CIAMS”, com destaque para IV CIAM realizado na Grécia em 1933, que tem como principal resultado a publicação da famosa “Carta de Atenas”, onde foram estabelecidas diretrizes que deveriam orientar os planejadores responsáveis pela organização de novos núcleos urbanos.
Compartilhar