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Flavia Carvalho F Purificate TCC Versão Final

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO 
INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR 
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E TURISMO 
CURSO DE TURISMO 
 
 
 
 
FLÁVIA CARVALHO FIGUEIRA PURIFICATE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Entre barreiras e possibilidades da implantação do Curso de Ecoturismo de 
Base Comunitária do Projeto Negócios Comunitários Sustentáveis em 
Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nova Iguaçu 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FLÁVIA CARVALHO FIGUEIRA PURIFICATE 
 
 
 
 
Entre barreiras e possibilidades da implantação do Curso de Ecoturismo de 
Base Comunitária do Projeto Negócios Comunitários Sustentáveis em 
Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios. 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
a Universidade Federal Rural do Rio de 
Janeiro, objetivando a obtenção do grau de 
Licenciatura em Turismo. 
 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Teresa Cristina de Miranda Mendonça 
 
 
 
 
 
 
Nova Iguaçu 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
FLÁVIA CARVALHO FIGUEIRA PURIFICATE 
 
 
 
Entre barreiras e possibilidades da implantação do Curso de Ecoturismo de 
Base Comunitária do Projeto Negócios Comunitários Sustentáveis em 
Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios. 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
a Universidade Federal Rural do Rio de 
Janeiro, objetivando a obtenção do grau de 
Licenciatura em Turismo. 
 
Aprovado em 01 de dezembro de 2014. 
 
 
Banca Examinadora 
 
_______________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Teresa Cristina de Miranda Mendonça – Orientadora 
 
_______________________________________ 
Prof.ª Teresa Catramby – Professor Arguidor 
 
_______________________________________ 
Gabriele Martins – Professor Arguidor 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 Primeiramente a Deus, que através da força do teu espírito, me fez superar as dificuldades 
encontradas no caminho. E consegui mais uma conquista ao concluir este trabalho, 
acrescentando, assim, ainda mais a minha paixão por viver. 
A minha mãe Creusimar, pelo amor, incentivo е apoio incondicional. 
Ao meu marido Ediones Purificate e ao meu filho Arthur, amo vocês acima de tudo. 
Aos meus amigos Ane Caroline Sbano e Wangles da Silva pelo incentivo e apoio por toda 
essa jornada. 
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e ao Consorcio CEDERJ, pela oportunidade 
de fazer о curso. 
A Prof.ª Dr.ª Teresa Cristina de Miranda Mendonça minha orientadora, pelo suporte no pouco 
tempo que lhe coube e pelas suas correções. 
Aos meus colegas de curso e disciplinas que compartilharam comigo seus conhecimentos. 
Aos participantes entrevistados, em especial Nicole e Rose, que foram fundamentais para a 
realização desta pesquisa. 
A todos aqueles que de alguma forma contribuíram ou torceram pela concretização desta 
pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A Região da Costa do Sol no Rio de Janeiro é um destino turístico de Sol e Mar 
consolidado. E em uma região já tão explorada turisticamente surgiu a proposta de incentivo à 
implantação de iniciativas totalmente opostas ao modelo de turismo de massa, o Turismo de 
Base Comunitária, a execução do “Projeto Negócios Comunitários Sustentáveis” em Arraial 
do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios (setembro e novembro de 2011). Esse curso teve 
por objetivo capacitar o aluno com conhecimentos teóricos e práticos em Ecoturismo de Base 
Comunitária. A partir de análises conceituais sobre turismo de base comunitária, na 
perspectiva de que deve partir da necessidade da comunidade local em diferenciar a sua 
experiência com o turismo convencional, o presente trabalho teve por objetivo analisar os 
resultados oriundos do curso para a implantação do TBC nas cidades de Arraial do Cabo, 
Cabo Frio e Armação dos Búzios. 
Palavras-chave: Turismo de Base Comunitária. Turismo de Massa. Curso Ecoturismo 
de Base Comunitária 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The region of the Costa do Sol in RJ is a tourist destination for sun and sea 
consolidated. And in a region already so explored turistically the proposal to encourage 
implementation of initiatives totally opposed to the mass tourism model emerged, the 
Community Based Ecotourism the implementation of Projeto Negócios Comunitários 
Sustentáveis em Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios (September and 
November 2011). This course aimed to empower the student with theoretical and practical 
knowledges in Community Based Ecotourism. From conceptual analysis of community-based 
tourism, the perspective that must start from the need of the local community to differentiate 
your experience with conventional tourism, this study aimed to examine those from the course 
results for the implementation of the TBC in cities Arraial do Cabo, Cabo Frio and Armação 
dos Búzios. 
Keywords: Community Based Tourism. Mass tourism. Course Community Based 
Ecotourism. 
 
 
 
 
 
 
Lista de Tabelas e Quadros 
Tabela 1: Chegada de Turistas no Brasil (1970-2013) ....................................... 24 
Quadro 1: Eixos temáticos que representam o TBC segundo Viana (2013) ...... 31 
Quadro 2: Eixos temáticos que representativos sobre o TBC: teses e dissertações 
segundo Lima (2014) ...................................................................................................... 32 
Quadro 3: Projetos de TBC no Estado do Rio de Janeiro ................................... 37 
Quadro 4: Condições para construção dos roteiros ............................................ 43 
Quadro 5: Roteiros de Turismo de Base Comunitária – Arraial do Cabo, Armação dos 
Búzios e Cabo Frio. ........................................................................................................ 45 
Quadro 6: Perfil dos entrevistados ...................................................................... 48 
Quadro 7: Barreiras e Possibilidades na implantação do Turismo de Base Comunitária 
nas cidades de Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios. .............................. 50 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
Introdução ............................................................................................................. 9 
Objetivo Geral: ................................................................................................... 10 
Objetivos Específicos: ........................................................................................ 10 
1. HISTÓRIA ECONÔMICA E POLÍTICA DO TURISMO NO ESTADO DO RIO 
DE JANEIRO COM FOCO REGIÃO DOS LAGOS .................................................... 12 
1.1 BREVE HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOS ARMAÇÃO DOS BÚZIOS, ARRAIAL 
DO CABO E CABO FRIO. ............................................................................................ 14 
1.1.1 TURISMO EM ARMAÇÃO DOS BÚZIOS ............................................ 15 
1.1.2 TURISMO EM ARRAIAL DO CABO ..................................................... 17 
1.1.3 TURISMO EM CABO FRIO .................................................................... 17 
2. O TURISMO DE MASSA ............................................................................. 19 
2.1. Turismo de massa no Brasil e no estado do RJ ........................................... 21 
3. NOVAS PERSPECTIVAS PARA O TURISMO: Turismo de Base Comunitária – 
TBC ................................................................................................................................ 25 
3.1. PERSPECTIVA HISTÓRICA E POLÍTICA DO TBC NO MUNDO E NOBRASIL .......................................................................................................................... 26 
3.2. TBC – PERSPECTIVAS CONCEITUAIS ................................................. 30 
3.3. TBC NO ESTADO DO RJ .......................................................................... 34 
4. ANÁLISE DO CURSO DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA DO 
PROJETO NEGÓCIOS COMUNITÁRIOS SUSTENTÁVEIS EM ARRAIAL DO CABO, 
CABO FRIO E ARMAÇÃO DOS BÚZIOS. ................................................................. 39 
4.1 - ENFOQUE AVALIATIVO SOBRE O CURSO DE ECOTURISMO DE BASE 
COMUNITÁRIA DO PROJETO NEGÓCIOS COMUNITÁRIOS SUSTENTÁVEIS EM 
ARRAIAL DO CABO, CABO FRIO E ARMAÇÃO DOS BÚZIOS. .......................... 46 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 51 
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 54 
Apêndice ............................................................................................................. 57 
 
 
9 
 
 
 
Introdução 
A Região da Costa do Sol no Estado do Rio de Janeiro, representada pelos municípios 
Armação dos Búzios, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Maricá, Rio das Ostras, Macaé, Saquarema, 
Araruama, Iguaba Grande, Casimiro de Abreu, São Pedro da Aldeia, Quissamã e Carapebus é 
um destino turístico consolidado. No inicio da década de 1950, a região era frequentada para 
veraneio por uma elite carioca. Em 1964, atriz francesa Brigitte Bardot projetou Armação dos 
Búzios para o mundo, levando ao processo de turistificação da localidade. A inauguração da 
ponte Presidente Costa e Silva (Rio – Niterói) em 1973 facilitou o acesso à região, levou ao 
aumento das segundas residências e deu início ao turismo de massa, que nos dias de hoje 
apresenta seus efeitos diversos sobre a região como: o grande impacto econômico, por ser 
uma das principais atividades produtivas locais; a degradação ambiental e descaracterização 
ambiental e cultural, dentre outros. 
Em uma região já tão explorada turisticamente surgiu a proposta da implantação de 
algo que é totalmente oposto ao turismo de massa através do curso Ecoturismo de Base 
Comunitária “Projeto Negócios Comunitários Sustentáveis em Arraial do Cabo, Cabo Frio e 
Armação dos Búzios” entre os meses de setembro e novembro de 2011. 
Realizado pelo Instituto Bioatlântica e pelo Instituto EcoBrasil com patrocínio da 
Statoil1 e apoio das prefeituras de Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios esse 
curso teve por objetivo capacitar o aluno (pescadores, filhos de pescadores, maricultores, 
pessoas ligadas a atividades tradicionais e ou artesanais, empreendedores comunitários locais, 
guias de turismo, receptivo local, gestores em cultura, meio ambiente e turismo das cidades 
envolvidas) com conhecimentos teóricos e práticos em Ecoturismo de Base Comunitária. 
Assim, analisando as premissas do turismo de base comunitária que segundo 
Coriolano (2006. p.5) seria “jeito diferenciado de trabalhar com o turismo. Trata-se de um 
eixo do turismo centrado no trabalho de comunidades, de grupos solidários, ao invés do 
individualismo predominante no estilo econômico do eixo tradicional” surgiu o interesse para 
a realização do presente trabalho de conclusão de curso de graduação – TCC. Duas questões 
inspiradoras foram: - “Como seria a construção do conceito de Turismo de Base Comunitária 
(TBC) para as cidades envolvidas que são caracterizadas pelo turismo de massa, onde se 
predomina empreendedores não nativos e cujo planejamento turístico não conta com a 
 
1
 Petroleira norueguesa ativa no Brasil desde 2001 e atualmente mantem operações no Campo de Peregrino , na 
Bacia de Campos na costa do Rio de Janeiro. 
Fonte: http://www.statoil.com/brazil/pt/about/pages/default.aspx Acesso: 23/09/2014 
 
10 
 
 
 
participação da comunidade local?” - “Como e por que esse curso foi pensado para as cidades 
envolvidas (Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios) com uma lógica histórica, 
política e econômica que se contrapõe aos projetos turísticos de base comunitária?”. 
Sendo assim, este presente trabalho tem como objetivo geral: 
Analisar os resultados oriundos do curso para a implantação do TBC nas cidades de 
Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios. 
E objetivos específicos: 
 identificar o processo de concepção e implantação do curso de Ecoturismo de 
Base Comunitária; 
 identificar os resultados do curso para os participantes; 
 apontar as barreiras e possibilidades na implantação do TBC em Arraial do 
Cabo, Armação de Búzios e Cabo Frio. 
Para o presente trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental, 
principalmente para a fundamentação teórica sobre o Turismo de Base Comunitária (TBC). A 
pesquisa bibliográfica e documental constituiu-se no procedimento metodológico para a 
coleta de informações, que segundo Gil (2002, p. 66): 
- [...] a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições 
dos diversos autores sobre determinado assunto e [...] a pesquisa documental 
vale-se de materiais que não receberam ainda tratamento analítico, ou que 
ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. 
Também foram realizadas entrevistas com os participantes do curso. A partir das 
entrevistas, foram analisados de forma qualitativa os resultados com a metodologia de Análise 
de Conteúdo. 
De acordo com Bardin (1977), a análise de conteúdo é definida como: 
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por 
procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das 
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de 
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis 
inferidas) destas mensagens. 
Ferreira (2003) relaciona as possibilidades de uso da análise de conteúdo: 
A análise de conteúdo é usada quando se quer ir além dos significados, da 
leitura simples do real. Aplica-se a tudo que é dito em entrevistas ou 
depoimentos ou escrito em jornais, livros, textos ou panfletos, como também 
a imagens de filmes, desenhos, pinturas, cartazes, televisão e toda 
comunicação não verbal: gestos, posturas, comportamentos e outras 
expressões culturais. 
Para atender aos objetivos, o trabalho, então se divide em quatro capítulos além do que 
se refere às considerações finais. O primeiro capítulo intitulado “História Econômica e 
Política do Turismo no Estado do Rio de Janeiro com Foco Região dos Lagos” apresenta uma 
11 
 
 
 
visão geral sobre o turismo no estado do Rio de Janeiro com olhar específico sobre a região 
foco desta pesquisa. O segundo capítulo, “Turismo de Massa” apresenta conceitos sobre o 
turismo de massa e suas consequências. O terceiro capítulo, “Novas Perspectivas para o 
Turismo: Turismo de Base Comunitária”, busca a contextualização do Turismo de Base 
Comunitária com a apresentação do histórico de iniciativas e políticas públicas desenvolvidas 
no mundo, na América Latina e no Brasil. Este faz um levantamento das perspectivas 
conceituais sobre o Turismo de Base Comunitária reunindo visões de diferentes autores e 
apresenta as iniciativas de Turismo de Base Comunitária em atividade no Estado do RJ. E por 
fim, o quarto capítulo descreve o curso de Ecoturismo de Base Comunitária do Projeto 
Negócios Comunitários Sustentáveis e analisa as ações realizadas no mesmo e seus 
desdobramentos. 
 
 
12 
 
 
 
1. HISTÓRIA ECONÔMICA E POLÍTICA DO TURISMO NO 
ESTADO DO RIO DE JANEIRO COM FOCO REGIÃO DOS LAGOS 
O desenvolvimento da atividade turísticano Brasil teve seu inicio a partir da 
transferência para a cidade do Rio de Janeiro da corte portuguesa, na segunda metade o século 
XIX. Esse fato gerou uma reordenação estrutural, sociocultural e econômica na cidade, com o 
intuito de torná-la mais agradável e adequada à nobreza que por lá se instalou. (MACHADO, 
2005 apud FRATUCCI, 2005). 
Para Castro (2006, p.81): 
Nas primeiras décadas do século XX que o turismo organizado começou a 
funcionar, tendo como principal centro a cidade do Rio de Janeiro. Surgiram 
os primeiros guias, hotéis turísticos, órgãos oficiais e agencias de viagem 
destinados prioritariamente a atrair e a receber turistas. (...) Ainda hoje, o 
Rio é a cidade brasileira que recebe mais viajantes estrangeiros, e o turismo 
é sempre apontado como um fator fundamental para a revitalização 
econômica da cidade e um elemento construtivo de sua identidade de 
“Cidade Maravilhosa”. 
A importância do turismo para o Rio de Janeiro é citado por Fratucci (2005, p.82), “o 
Rio de Janeiro sempre foi e continua sendo, o estado brasileiro onde a atividade turística 
apresenta dimensões mais marcantes, tanto para a sua economia, como para a sua estrutura 
sociocultural”. E conforme Catramby e Costa (2005, p. 13): 
 O Turismo no Rio de Janeiro é o retrato do Turismo no Brasil. Considerado 
pela Embratur o principal portão brasileiro de entrada dos turistas 
internacionais a cidade não deixa de ser uma das capitais mais visitadas do 
mundo, sendo um referencial para a atividade turística nacional e 
internacional. 
Em 2002, o Rio de Janeiro recebeu 1,45 milhões de estrangeiros e foi o destino de 
38,5% dos estrangeiros que vieram ao Brasil. O Rio de Janeiro é a cidade mais visitada pelos 
estrangeiros que vêm ao Brasil em busca de lazer, recebeu 1,6 milhão de turistas 
internacionais no último estudo do Ministério do Turismo, feito em parceria com a Fundação 
Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe)
2
. Segundo o Observatório do Turismo do Estado do 
Rio de Janeiro, os quatro principais pontos turísticos cariocas movimentaram em 2012, mais 
de 2,5 milhões de turistas, com um crescimento de 12% em relação a 2011. O secretário de 
turismo do estado, Ronald Ázaro projeta um crescimento de 4,5% do PIB do turismo, que 
hoje é de 3,5%, passando para 8% nos próximos quatro anos (MTUR, 2014, CATRAMBY E 
COSTA, 2005). 
 
2
 http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20140116-2.html Rio atrai dois em cada três turistas 
da Copa. Acesso em 28/09/2014. 
13 
 
 
 
A preocupação com a atividade turística em termos institucionais se deu a partir de 
1960 com a criação, pelo governo do antigo estado do Rio de Janeiro, da Flumitur – 
Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro. O processo de interiorização da 
atividade turística iniciou-se com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro em 
1974. A Flumitur foi transferida para o bairro da Lapa, em 1980 para a Praça XV e passa a 
desenvolver ações voltadas principalmente para o interior do estado. Na cidade do Rio de 
Janeiro, a promoção turística ficou a cargo da Riotur – Empresa de Turismo do Município do 
Rio de Janeiro. Essa divisão ajudou a criar uma lacuna entre o produto turístico da capital e os 
dos demais municípios do estado, dificultando a interiorização dos fluxos que aportavam na 
capital. Apenas após a inauguração da BR 101 (Rio-Santos) e da ponte Rio-Niterói (ambas na 
primeira metade da década de 70) é que a população carioca procurou os locais litorâneos das 
regiões turísticas (litoral norte e sul do Estado), atualmente conhecidas como Costa Verde e 
Costa do Sol (Região dos Lagos), respectivamente (FRATUCCI, 2005). 
Entre os anos de 1988/1989 houve uma tentativa de se desenvolver o turismo na 
Região dos Lagos (atual Costa do Sol, constituída por Armação dos Búzios, Cabo Frio, 
Arraial do Cabo, Maricá, Rio das Ostras, Macaé, Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, 
Casimiro de Abreu, São Pedro da Aldeia, Quissamã e Carapebus), através do Plano Indutor de 
Desenvolvimento Turístico para a Região dos Lagos. Esse plano foi desenvolvido pela AD-
Rio (Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro), com o apoio da 
Turisrio em parceria com a cidade de Catalunha na Espanha. O objetivo era desenvolver um 
trabalho conjunto de planejamento visando transferir o conhecimento turístico adquirido na 
Catalunha para o Rio de Janeiro. O plano pretendia induzir o desenvolvimento da região que 
tinha o turismo como atividade econômica central, através de ações de reordenamento do uso 
do solo, preservação do meio ambiente, recuperação da paisagem regional e melhoria dos 
sistemas de infraestrutura. Dificuldades politicas encontradas nos municípios abrangidos, a 
não disponibilização de recursos financeiros e a eleição de um novo governo inviabilizaram o 
plano, que sequer iniciou suas propostas. (FRATUCCI, 2005) 
Com a implantação do Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, 
em 1990, observou-se no estado do Rio de Janeiro diversos movimentos espontâneos de 
grupos de municípios circunvizinhos no sentido de se estabelecer unidades regionais com 
características turísticas homogêneas, com o objetivo de otimizar o desenvolvimento turístico 
em seus territórios. Apesar do desenvolvimento regional não estar previsto no PNMT, à 
medida que os agentes locais tomavam conhecimento técnico do fenômeno turístico através 
14 
 
 
 
de oficinas de capacitação realizadas pelo programa, os mesmos foram compreendendo que 
poderiam implantar ou estimular o desenvolvimento da atividade turística através de uma 
visão regional. (FRATUCCI, 2005) 
Um movimento importante ocorreu na região turística da Costa do Sol mesmo antes da 
implantação do PNMT. O processo de reunião destes municípios se deu com a elaboração do 
Plano Indutor de Desenvolvimento Turístico para a Região dos Lagos, que mesmo não sendo 
implantado, acabou por envolver e despertar os municípios da região para o fato que por 
possuírem um produto turístico homogêneo e poderia e deveria ser desenvolvido em conjunto 
por todos e não de maneira individualizada como vinha sido feito. Inicialmente os secretários 
municipais de turismo dos municípios de Maricá, Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo, 
Cabo Frio, Casemiro de Abreu, São Pedro da Aldeia e Rio das Ostras (na época Armação dos 
Búzios e Iguaba Grande não eram emancipados) se reuniram e formaram a TurisLagos, porém 
esta entidade por motivos político-partidários, não conseguiu atingir seus objetivos 
plenamente, apesar de ter desenvolvido diversas ações de relativo sucesso, antes de ser 
“esvaziada” politicamente. Atualmente, encontra-se em atividade o Fórum de Secretários 
Municipais de Turismo da Região da Costa do Sol, que busca organizar o desenvolvimento 
turístico regional. (FRATUCCI, 2005) 
Entre seus atrativos turísticos da região estão: a singular diversidade litoral da região, 
com praias propícias para a prática do surf e do mergulho, além de lagoas que compõem um 
belo cenário e de potencialidade para as atividades náuticas e balneárias; as dunas, o 
patrimônio histórico e cultural, com amostras que contextualizam a história local e também o 
artesanato e a gastronomia. Outro ponto que se destaca para a procura da região para o 
turismo é a proximidade da mesma com a cidade do Rio de Janeiro (cerca de 150 km). Além 
também, do clima estável e de pouca variação térmica durante o ano todo. Entre as cidades da 
região, destacam-se, aqui, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo e Cabo Frio que fazem 
diferença, comparativamente, entre as demais localidades pelo fluxo turístico catado, perfil de 
visitantes e projeçãonacional e internacional. 
Os três municípios foram escolhidos para o estudo, pois fizeram parte do Projeto 
Negócios Comunitários Sustentáveis, realizado pelo Instituto Bioatlântica e pelo Instituto 
EcoBrasil com patrocínio da Statoil e apoio das prefeituras de Arraial do Cabo, Cabo Frio e 
Armação dos Búzios. 
 1.1 BREVE HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOS ARMAÇÃO DOS BÚZIOS, ARRAIAL 
DO CABO E CABO FRIO. 
15 
 
 
 
Os três municípios têm em comum sua história. Armação dos Búzios e Arraial do 
Cabo faziam parte do município de Cabo Frio. 
A descoberta das terras do município de Cabo Frio data do início do século XVI. 
Presume-se que foi nas terras de Cabo Frio que Américo Vespúcio aportou. num local 
conhecido como praia do Cabo da Rama (atual praia dos Anjos em Arraial do Cabo), a 
serviço da Coroa portuguesa. A exploração econômica estava subordinada ao ciclo do pau-
brasil, tem-se registro de um período de lutas entre portugueses e estrangeiros que 
contrabandeavam a madeira (SECRETARIA GERAL DE PLANEJAMENTO DO TCE, 
2010). 
Em seguida, houve um grande crescimento populacional com a chegada de imigrantes 
portugueses. Em 1615 fundou-se a cidade de Santa Helena. Em 1615, passou a chamar-se 
Nossa Senhora da Conceição do Cabo Frio. A mesma prosperou lentamente até fins do 
século XIX, quando se baseava na agricultura do café com mão de obra escrava em grandes 
fazendas. A abolição da escravatura levou a um declínio econômico do qual Cabo Frio sairia 
bem mais tarde, com o desenvolvimento da indústria do sal, da pesca e do turismo, e, 
sobretudo, a implantação da rodovia (Rodovia Amaral Peixoto) e da estrada de ferro (Estrada 
de Ferro Maricá - atualmente desativada). O desenvolvimento ocorreu na década de 1960, 
com a instalação de duas grandes usinas de beneficiamento de sal em Cabo Frio, e também 
com a construção do complexo industrial da Cia. Nacional de Álcalis (SECRETARIA 
GERAL DE PLANEJAMENTO DO TCE, 2013). 
A inauguração da ponte Rio – Niterói, em 1973, facilitou a circulação de veículos e o 
acesso à região; ampliou o fluxo do turismo de veraneio; levou ao aumento das segundas 
residências. Em meados da década de 1980, a região absorveu fluxos migratórios novos. E 
nos anos 1990 aumentou o Turismo de Sol e Mar e de segunda residência, levando a 
consolidação da região como destino turístico. Em 1985, Arraial do Cabo teve sua 
emancipação. Em 1996, foi Armação dos Búzios (FONSECA, 2011; SECRETARIA GERAL 
DE PLANEJAMENTO DO TCE, 2013). 
O Polo Costa do Sol constitui-se em um dos mais importantes polos de atração 
turística do Estado, onde se concentram 26,21% do total de visitantes, 33,16% do total de 
veranistas e 8,90% do total de turistas. Dentre os visitantes, 90,45% correspondem aos 
veranistas, enquanto 9,55% correspondem aos turistas, constituindo-se, portanto, em 
importante centro de veraneio (SEPDET/TURISRIO, 2001; FONSECA, 2011). 
1.1.1 TURISMO EM ARMAÇÃO DOS BÚZIOS 
16 
 
 
 
Armação dos Búzios está a 166 km distante da cidade do Rio de Janeiro, possui 23 
praias consideradas paradisíacas, além de áreas bem preservadas de Mata Atlântica e restinga. 
Conforme dados estatísticos (2011), é um dos 10 municípios brasileiros que mais recebe 
turista estrangeiro e é um dos 65 Destinos Indutores do Turismo, projeto instituído pelo 
Ministério do Turismo (MTUR; SEBRAE, 2013). 
Com origem em uma pequena aldeia de pescadores, Armação dos Búzios hoje é 
considerado um sofisticado e badalado balneário de reconhecimento internacional. No início 
da década de 1950, a região era frequentada para veraneio, por um abastado grupo da elite 
carioca. Em 1964, Armação dos Búzios evolui de uma simples aldeia de pescadores, para 
tornar-se balneário internacionalmente conhecido por ser frequentado pela atriz Brigitte 
Bardot levando ao processo de turistificação da localidade. Entre as décadas de 1960 a 1980, 
Armação dos Búzios cresceu de maneira forte impulsionada pelo turismo, tanto nacional 
quanto internacional e por residências de veraneio. Outro fator que ajudou no 
desenvolvimento de Armação dos Búzios foi que após a fuga da crise econômica em seu país 
no fim dos anos de 1970, os argentinos descobriram a cidade. Hoje estes se encontram na 
cidade tanto como turistas quanto como empresários do ramo do turismo. 
O acesso à cidade se dá por terra pelas rodovias BR101, RJ 124 e RJ 106. A cidade é 
atendida por ônibus pela auto viação 1001 e viação Salineira, apesar de não possuir 
rodoviária. Por ar, pelo Aeroporto Umberto Modiano (localizado em Búzios e fechado 
temporariamente) e pelo Aeroporto de Cabo Frio. Boa parte do fluxo de turistas que chega por 
mar, circula pela cidade entre os meses de setembro a abril durante a temporada de cruzeiros. 
A Secretaria de Turismo de Armação dos Búzios está localizada no pórtico da cidade e 
conta com dois centros de informações ao turista, um no centro da cidade e o outro no pórtico. 
Esta possui representação na Câmara Municipal e participação em feiras nacionais e 
internacionais e também é membro do Grupo Gestor do Ministério do Turismo e tem 
parcerias com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Búzios Convention & Visitors 
Bureau, Associação de Pousadeiros de Búzios, Associação de Hotéis de Búzios, Turisrio e 
SEBRAE. 
Segundo dados da Secretaria Municipal de Turismo (setembro/2014), Búzios recebe 
aproximadamente um milhão e meio de turistas por ano via terrestre, pelo mar recebeu cerca 
de quatrocentos e sessenta mil pessoas na temporada 2013/2014. Rio de Janeiro, Minas 
17 
 
 
 
Gerais, Espírito Santo e São Paulo são os principais emissores nacionais e Argentina, Chile e 
Uruguai emissores internacionais de turistas para a localidade
3
. 
1.1.2 TURISMO EM ARRAIAL DO CABO 
Conhecida como Paraíso do Atlântico e também nomeada como Capital Nacional do 
Mergulho, Arraial do Cabo reúne algumas das mais belas praias do nosso litoral. Mas o 
crescimento desordenado e a especulação imobiliária levaram a um processo de favelização 
nos morros e consequente perda de espaços de comunidades tradicionais que lá existiam. 
Distante aproximadamente 140 km do Rio de Janeiro, a cidade possui 11 praias, o 
acesso se dá por terra pelas rodovias BR101, RJ 124 e RJ 106. A cidade é atendida por ônibus 
pela Auto Viação 1001 e viação Salineira. Por ar pelo Aeroporto de Cabo Frio que está 
localizado a cerca de 15 km. Pelo mar, a cidade possui um porto exclusivo para carga e 
descarga e operações de transbordo e um píer de embarcações turísticas, localizado ao lado do 
Porto do Forno. 
A Secretaria de Turismo está localizada no pórtico da cidade onde também fica o 
único Centro de Informações Turísticas. Um dos mais requisitados atrativos é um 
convencional passeio de barco, comercializado pela maior parte das empresas de turismo 
náutico. A Secretaria Municipal de Turismo de Arraial do Cabo tem por pretensão mudar o 
perfil do turista que visita a cidade, de um tipo predatório, atraídos por aspectos geográficos 
de proximidade, para um turista de maior qualidade. Como estratégias, a valorização da 
dimensão cultural do município, a organização de um calendário de eventos adequados às 
características ambientais e culturais da cidade, o ordenamento da entrada dos ônibus de 
excursão (apenas com a presença de um Guia de Turismo local ou regional, com registro no 
MTur), serviços de city tour em veículo somente com reserva prévia junto a Secretaria 
Municipal de Turismo entre outros (SECRETARIA MUNICIPAL DE TURISMO DE 
ARRAIAL DO CABO, 2014). 
A pesca é de tão grande importância para o lugar que, em 1997, foi criada a reserva 
extrativista (RESEX) de Arraial do Cabo, a única reserva extrativista marinha do Estado. O 
uso do marpara a prática do turismo, assim como da praia, se constituem então de grande 
tema de conflito sobre seus usos, entre pescadores, empresas de mergulho, barqueiros e 
outros. 
1.1.3 TURISMO EM CABO FRIO 
 
3
 Após contato por e-mail, a secretária de turismo de Armação dos Búzios enviou os documentos: inventário 
turístico realizado em 2011 e índice de competitividade do MTUR 2013. 
18 
 
 
 
Com vocação turística cidade de Cabo Frio é um importante destino no cenário 
nacional e internacional. A maior cidade (do ponto de vista populacional e econômico) da 
região possui 10 praias e suas dunas de areia muito branca. Fica distante cerca de 152 km do 
Rio de Janeiro e o acesso à cidade se dá por terra pelas rodovias BR101, RJ 124 e RJ 106. 
Possui a boa infraestrutura urbana. A cidade possui o Terminal Rodoviário Alexis Novellino e 
é atendida pelas empresas de ônibus Viação Salineira, Autoviação 1001, Itapemirim, 
Macaense, Penha, Única e Útil que ligam a cidade aos municípios vizinhos e a outras cidades 
ao redor do país. Por ar, Aeroporto Internacional de Cabo Frio e Boa parte do fluxo de turistas 
que chega por mar (Píer Cabo Frio), circulam pela cidade entre os meses de setembro a abril 
durante a temporada de cruzeiros. 
A Secretaria Municipal de Turismo está localizada no Largo do Itajuru, ao lado do 
Convento Nossa Senhora dos Anjos. Possui parceria com o Convention & Visitors Bureau e 
assento no Conselho Municipal de Turismo. A cidade possui três postos de informação ao 
turista: Posto de Informação da Praia, Píer de Cabo Frio e o Terminal de Passeios. Cabo Frio 
possui inventário turístico e Plano Estratégico de Turismo. Participa de feiras, no Brasil e no 
exterior, a fim de promover Cabo Frio como destino turístico de excelência. 
Constata-se ser no território que o turismo sempre se manifesta, sendo assim sem o seu 
ordenamento não é possível garantir que o crescimento do setor seja fator gerador de um 
processo de desenvolvimento socioespacial para as comunidades locais. Tal processo deve ser 
sustentável, equilibrado, justo e focar mudanças em três direções: do crescimento econômico, 
do bem-estar social e do exercício da cidadania, permitindo que as comunidades tenham 
autonomia sobre os seus territórios e lugares e, por consequência sobre suas vidas 
(FRATUCCI, 2005). 
 A Região da Costa do Sol é um destino turístico consolidado. As cidades de Armação 
dos Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo são extremamente explorados turisticamente, que 
por diversas ações de política pública, facilidade de acesso, entre outros levou ao turismo de 
massa, que nos dias de hoje apresenta seus efeitos negativos, como degradação ambiental e 
descaracterização ambiental e cultural, dentre outros. Acima de tudo, dependentes do sol e 
praia como principal atrativo, constata-se o fenômeno da sazonalidade bem marcado. 
Principalmente, em região com inverno presente, ou seja, sem a presença do sol durante um 
período do ano, a baixa temporada tem um impacto sobre a economia local tão dependente do 
turismo. 
19 
 
 
 
2. O TURISMO DE MASSA 
Dissertando sobre o início do fenômeno do turismo de massa, segundo Magalhães 
(2008, p.101) com a Revolução Industrial e: 
Com as conquistas trabalhistas dos séculos XIX e, em especial, do século 
XX, a atividade turística é intensificada, possibilitando o surgimento do 
chamado turismo de massa. É importante salientar que este tipo de atividade 
só é possível à medida que os trabalhadores têm acesso aos seus direitos, 
como é o caso apontado por John Urry, ao tratar da ascensão do balneário 
inglês no século XIX, e de Marc Boyer, ao demonstrar o surgimento do 
turismo de massa na França, que só ocorre a partir de 1936, quando há 
ganhos sociais advindos do movimento operário, principalmente o direito a 
férias remuneradas e a folgas, elementos conquistados pelos trabalhadores, 
sendo o grande motivador do turismo de massa. 
Outro importante fator para o crescimento do turismo de massa foi o crescimento 
tecnológico e a consequente melhoria dos meios de transporte, primeiramente das estradas de 
ferro, que levavam os trabalhadores ingleses aos seus balneários fabris, e depois a Primeira 
Guerra Mundial demonstrou a importância do automóvel e do transporte terrestre em geral. 
No período entre guerras, as férias remuneradas passaram a ser uma realidade para grande 
parte da população europeia, o que permitiu que classes menos favorecidas economicamente 
também começassem a viajar. Após a Segunda Guerra Mundial foram criadas linhas 
comerciais regulares de transporte aéreo de passageiros, encurtando distâncias e facilitando 
um acesso de um maior número de pessoas a atividade turística (RABAHY, 1990; URRY, 
1996; RUSCHMANN, 1997; BARRETTO, 2006). 
O início da fase turística do estado do Rio de Janeiro, principalmente de seu litoral, 
segue-se ao período que marca também historicamente o fluxo turístico mundial, como já 
citado anteriormente. Influenciados pelo fim da II Guerra Mundial, os movimentos relativos à 
viagem em nível mundial tiveram novos rumos, caracterizando o período como o início da 
“massificação do turismo”, conforme Lickorish e Jekins (2000), possibilitada por diversos 
fatores políticos, econômicos e sociais que também marcaram a história do fluxo nacional. A 
partir do boom dos movimentos de viagem relacionados ao turismo, a atividade deixou de ser 
uma prática elitizada e passou a ser direito de muitos cidadãos, principalmente pelos 
benefícios resultantes da redução da jornada de trabalho e pela criação das férias anuais. O 
avanço da tecnologia dos transportes, assim como o aumento de investimentos em estratégias 
de marketing e publicidade foram elementos que, também, influenciaram o aumento do fluxo 
turístico mundial (REJOWSKI; SOLHA 2002). 
O que se destacou no período foi o surgimento de uma sociedade contemporânea 
concentrada na busca pelo prazer, uma urbanidade com desejo de evasão, descanso e 
20 
 
 
 
recreação em ambientes próximos à natureza. Conforme Rejowski e Solha (2002), a busca 
pelo prazer fez com que na década de 1960, surgissem os chamados três “S” do turismo: a 
busca pelo sun, sand and sex (sol, praia e sexo). 
 Mendonça (2010), tendo como referência o litoral sul do estado do Rio de Janeiro, 
analisou a proposta do “Projeto Turis – Desenvolvimento Turístico do Litoral Rio-Santos” 
(1975) para a região na década de 1970, pelo “fato de ser a PRAIA o mais importante 
elemento catalisador das duas molas mestras: as FÉRIAS e a consequente demanda de 
LAZER” (EMBRATUR, 1975, p.1 apud MENDONÇA, 2010, p. 89) determinou a imagem do 
turismo brasileiro durante muito tempo, sem aqui problematizar a questão do terceiro “s” – 
sex (sexo). Toda esta intervenção de ações públicas ou privadas, destacadas por Mendonça 
(2010), também podem ser reconhecidas no litoral norte do estado do Rio de Janeiro, foco do 
presente trabalho como a construção da Ponte Rio-Niterói e o trecho BR 101 que liga parte 
sul a parte norte do estado. 
O turismo de massa se caracteriza pelo deslocamento de um grande número de 
pessoas, individualmente ou em grupos, para um mesmo lugar geralmente na mesma época do 
ano. É, considerado por muitos, como um dos maiores agressores dos espaços naturais. O 
excesso de turistas conduz ao superdimensionamento dos equipamentos destinados a 
alojamento, alimentação, transporte e entretenimento, o que inevitavelmente leva a ocupação 
de grandes espaços, assim agredindo paisagens e causando danos, muitas vezes irreversíveis, 
aos recursos naturais (RUSCHMANN, 1997). 
Ou seja, tem-se tido como prioridade apenas o ambiente econômico da atividadeturística e os outros ambientes (cultural, ecológico e social) são deixados de lado. Isso 
acarreta consequências como a degradação ambiental, desmantelamento da paisagem, 
urbanização desenfreada, especulação imobiliária, processo de marginalização socioambiental 
da população local, dentre outros. Esses fatores são mais impactantes em localidades mais 
pobres onde o turismo é mostrado muitas vezes como solução para a melhoria das condições 
sociais da população, porém acaba se tornando causa de deterioração das mesmas 
(CORIOLANO, 2006; LUCHIARI, 1997). 
É importante destacar que, as localidades que têm como posicionamento o segmento 
de Sol e Mar têm sido historicamente, associadas ao turismo de massa, conforme citação, 
por concentrar um grande número de pessoas na mesma época e em um só 
lugar. Apresenta altas taxas de sazonalidade, explicada fundamentalmente 
pelas características próprias do produto que se comercializa, o que traz 
como consequência uma demanda concentrada nos meses de verão ou 
21 
 
 
 
estiagem (no caso das praias fluviais) e em períodos de férias ou feriados 
prolongados. (BRASIL, MTUR, 2008, p. 19). 
No entanto, observando as tendências mercadológicas do turismo, percebe-se que a 
demanda turística evoluiu em relação as suas necessidades, não aprovando mais, em alguns 
casos, o tipo de modelo de produção que o turismo de massa propõe. A demanda turística tem 
se tornado mais exigente, variada e variável. Tendendo a focar-se cada vez mais sobre a 
qualidade e a manifestar as necessidades da cultura e do meio ambiente. Essas exigências 
contradizem com a oferta do turismo de massa, onde são privilegiados o lucro imediato e a 
grande escala, que destroem a qualidade dos sítios turísticos (ZAOUAL, 2008). 
Apesar de o turismo de massa responder, em maior parte, pelos fluxos de demanda, 
existe porém uma crescente tendência à segmentação dessa demanda, onde surge um turista 
mais preocupado, mais consciente, mais exigente e menos passivo em relação à qualidade das 
suas experiências durante a viagem. Segundo a OMT, o crescimento do turismo de massa 
segue a uma taxa anual média de 5%, enquanto o turismo segmentado (alternativo) vem 
mantendo uma taxa anual de crescimento acima de 10% nos últimos anos. (FRATUCCI, 
2000) 
Para Zaoual (2008, p.3) ao turismo de massa: 
Valores negativos lhe são cada vez mais associados, de forma que a 
inatividade cultural e contatos superficiais com os meios da recepção, riscos 
nutricionais, poluição e, principalmente, a conscientização dos efeitos cruéis 
de um produto uniforme. 
Assim é possível perceber que o turismo de massa vem apresentando constante 
declínio. Como mostra Deprest (apud Zaoual 2008, p.3) “em uma pesquisa sobre o turismo de 
massa, este perdeu seu atrativo, ao mesmo tempo, junto à clientela e aos especialistas, 
sociólogos ou economistas, do turismo”. 
Assim para crescer, a atividade turística (como outras atividades econômicas), 
necessita de planejamento e ordenamento para que se minimizem os impactos negativos e se 
maximizem os impactos positivos. No entanto, é possível observar que em variadas regiões 
do Brasil e do mundo, o desenvolvimento desenfreado e sem planejamento da atividade 
turística levou a um acúmulo de impactos negativos e consequente prejuízo à imagem do 
destino turístico. 
2.1. Turismo de massa no Brasil e no estado do Rio de Janeiro 
No Brasil, o turismo como fenômeno social começou depois de 1920. A partir de 1950 
grandes contingentes passam a viajar, mas apesar de ser considerado um turismo de massa, 
nunca atingiu o total da população, sendo consumido principalmente pela classe média 
(BARRETTO, 2006). 
22 
 
 
 
De acordo com Medaglia e Silveira (2010) as políticas públicas no Brasil tratam o 
turismo como um setor da economia por mais que alguns membros da comunidade acadêmica 
considere o ser humano como foco principal do fenômeno turístico. Os autores ainda citam 
que considerando o turismo de massa, deve-se estar atento para as metas apresentadas no 
Plano Nacional do Turismo (2003-2007) (MTUR, 2003 apud Medaglia e Silveira 2010) 
como: 1- Criar condições para gerar 1.200.000 novos empregos e ocupações; 2- Aumentar 
para nove milhões o número de turistas estrangeiros no Brasil; 3- Gerar oito bilhões de 
dólares em divisas; 4- Aumentar para 65 milhões a chegada de passageiros nos voos 
domésticos; e, 5- Ampliar a oferta turística brasileira, desenvolvendo no mínimo três produtos 
de qualidade em cada Estado da Federação e Distrito Federal. O maior problema é que ao 
conceber metas tão arrojadas é o que deve ser feito para atingi-las. Tendo isso (MEDAGLIA; 
SILVEIRA, 2010, p. 168) citam: 
Um aumento tão significativo no número de turistas em tão curto espaço de 
tempo implica o uso de estratégias de desenvolvimento de turismo de massa, 
forma de turismo que já provou gerar mais impactos negativos que positivos 
às destinações; o que quer dizer que o país estaria caminhando na direção 
oposta às tendências atuais de desenvolvimento turístico sustentável. Ao que 
parece, em termos de política turística, o Brasil estaria passando pela fase 
chamada por Hall (2001, p. 43) de ‘fomento’, que é considerada pelo autor 
como não planejamento. 
O Plano (2007-2010) procurou minimizar os excessos do primeiro Plano, onde incluiu 
um caráter mais social nos objetivos. O Plano atual (2013-2016) ainda apresenta tendência à 
internacionalização e à economia de escala, fatores essenciais ao turismo de massa. Este 
modelo de crescimento é seguido por países em desenvolvimento por décadas e apesar de ser 
considerado como resposta a questões econômicas e por consequência sociais, é necessária 
atenção principalmente quando o desafio é manter a qualidade de vida e as riquezas culturais 
e naturais da nação (MEDAGLIA; SILVEIRA, 2010; MTUR, 2013). 
Para o estado do Rio de Janeiro, as rodovias tiveram um importante papel na 
promoção do turismo de massa, com a construção da ponte Rio-Niterói (1974) ligando as 
duas maiores cidades do estado, a abertura da BR 101, a duplicação das BR 116 e 040. Com o 
aumento no fluxo de pessoas em terras fluminenses houve uma expansão da atividade turística 
em direção ao litoral sul (Costa Verde) e ao litoral norte (Costa do Sol). Foram esses os dois 
grandes vetores de expansão do turismo litorâneo, secundados pela BR-116 (Rodovia 
Presidente Dutra) que corta a região do Vale do Paraíba. A melhora desses eixos de transporte 
levou ao desenvolvimento da atividade turística principalmente para os municípios 
localizados fora à metrópole, tanto litorâneos, como do interior. Da mesma forma em 
23 
 
 
 
associação aos outros fatores, como o quadro natural diversificado, e aos condicionantes 
históricos possibilitando a disseminação da atividade turística por alguns municípios 
fluminenses, transformando-os em verdadeiros lugares para o consumo. Na região da Costa 
do Sol, o advento da ponte Rio-Niterói foi o principal fator de influência para a massificação 
do turismo, tal facilidade de acesso ocasionou também grande proliferação de segundas 
residências (RIBEIRO, 2003; FONSECA, 2011). 
Nos municípios escolhidos para o estudo (Arraial do Cabo, Cabo Frio e Búzios) são 
extremamente explorados turisticamente e consequentemente sofrem os efeitos do turismo de 
massa. FERNANDES (2013, p.520) aponta Cabo Frio como exemplo: 
O turismo de massa – que atualmente encontramos no Brasil, em cidades 
como Salvador (BA) em época de Carnaval e em Cabo Frio (RJ) na alta 
temporada do verão, quando os turistas geralmente da classe média se 
dirigem a essas localidades para usufruírem de um turismo sazonal e de mais 
baixo custo se comparado ao turismo elitista...Sobre Búzios e o turismo de massa BANDUCCI JR (2001, p.42) fala: 
O turismo sofisticado, que permeou a transformação de Búzios de vila a 
núcleo turístico, está cedendo lugar ao turismo de massa. A cidade, no 
momento em que começa a sofrer a pressão do volume maior de visitantes, 
perde grande parte de seu encanto. A violência, a sujeiras das praias, a 
ausência de saneamento, entre outros problemas, começam a se tornar parte 
do cotidiano da cidade. 
Em Arraial do Cabo, o turismo de massa trouxe consequências. Sobre isso, Enrique 
Blanco (AGÊNCIA NOTISA, 2009) fala: 
Um exemplo é Arraial do Cabo, localizada na Região dos Lagos, no Rio de 
Janeiro. Conhecida como a “Pérola do Atlântico”, se transformou, em pouco 
mais de uma década, numa cidade degradada com crescimento desordenado, 
consumo de drogas, comércio desorientado, favelização, focos de poluição e 
violência, devido à desorganização provocada por um turismo predatório. 
Parte da areia da Prainha está ocupada por centenas de cadeiras e quiosques 
que preparam toda sorte de alimentos e bebidas. O início da Praia Grande foi 
loteado por trailers e demarcado com cordas que se estendem pela areia 
definindo a área de atuação dos vendedores, que para animar os turistas, 
aumentam o volume das caixas de som ao sabor de ritmos variados. O 
impacto negativo do turismo de massa desestruturou a cidade em diversos 
setores, não apenas no aspecto desorganizado de ocupação das praias. 
O turismo como fenômeno de massa pode ser exemplificado pelos anuários 
estatísticos que apresentam os resultados dos movimentos mundiais, nacionais e locais e 
destacam o turismo como um dos principais fenômenos de econômico da atualidade. 
Conforme dados da OMT em 2013, 1,087 bilhão de pessoas viajaram o que representou o 
gasto de U$ 1,075 bilhões. O anuário estatístico Brasileiro apresenta um fluxo de 5.813.342 
pessoas para o Brasil em 2013. O histórico do fluxo turístico no Brasil pode ser exemplificado 
pela tabela 1 abaixo: 
24 
 
 
 
Tabela 1: Chegada de Turistas no Brasil (1970-2013) 
Fonte: Anuário Estatístico Brasileiro 2013 
O fenômeno contemporâneo do turismo apresenta-se então como um meio de 
mudanças contrastante e representativo: enfatiza a produção de lugares de consumo e o 
consumo dos lugares. Porém não deve ser apontado apenas o ponto de vista negativo, como 
um ávido separador de antigas formas e funções sociais que, de forma constante, destrói o 
velho substituindo-o pelo novo. O intermédio entre o global e o local proposto pelo turismo 
possibilita tomarmos o lugar e o mundo em sua unidade. Este processo permite também que 
se traga a tona novas formas de sociabilidade, harmonizadas em função do processo 
contemporâneo de revalorização das paisagens para o lazer. Tal movimento, ao invés de 
contrapor o tradicional ao moderno, o lugar ao mundo, o natural ao artificial, instiga a 
reordenação das relações do lugar com o mundo e o curso de organizações sócio-espaciais 
cada vez mais híbridas, cujas formas e lógicas antigas associadas às novas originam uma nova 
composição (LUCHIARI, 1997). 
É com este pensamento de Luchiari que este capítulo se encerra e já inicia a 
interlocução como o próximo, intitulado “Novas Perspectivas para o Turismo: Turismo de 
Base Comunitária”, onde se busca apresentar estas novas composições sócio-espaciais 
intermediadas por novas possibilidades de turismo em um território caracterizado pelo 
turismo de massa. 
 
25 
 
 
 
3. NOVAS PERSPECTIVAS PARA O TURISMO: Turismo de Base 
Comunitária – TBC 
Como opção aos impactos negativos do turismo e também como forma de usufruir dos 
benefícios da atividade, observou-se que em algumas localidades, de diferentes países, por 
meio da mobilização e organização da sociedade civil, surgiram diversas iniciativas 
diferenciadas, baseadas nos modos de vida locais. Nestas experiências as dimensões da 
sustentabilidade são pré-requisitos para a estruturação da oferta das atividades turísticas, 
como as redes de comércio justo no turismo, as ações ligadas ao pro-poor tourism4 e ao 
turismo responsável, ações de desenvolvimento local endógeno e o fomento a práticas de 
economia solidária na cadeia produtiva do turismo. Nesta perspectiva, estruturaram-se as 
práticas de turismo de base comunitária, também conhecidas como “turismo comunitário”, 
“solidário”, “de conservação”, entre outras denominações (MTUR, 2009, p.364). 
Assim, Coriolano (2006, p.200) valoriza novas formas de estabelecimento do Turismo. 
Os lugares onde o turismo se instalou de cima para baixo, de forma 
autoritária diferem substancialmente daqueles onde se originou por decisão 
das próprias comunidades, reativando a economia, valorizando a cultura e os 
padrões locais. Neste ultimo modelo, o turismo é bem visto. 
Desta forma, pode-se indicar que o turismo de base comunitária se estabelece diante 
de uma nova lógica e tendência do mercado turístico. Talvez em contraponto aos resultados 
negativos do ponto de vista sociocultural e ambiental oriundos da prática do turismo de massa 
como cita Irving (2002a): 
...novas tendências têm marcado também a “ressignificação” do turismo, 
como, por exemplo, uma mudança sutil no perfil de turistas, conectados 
progressivamente com os temas da responsabilidade social e ambiental, o 
que passou a influenciar operadoras e agências internacionais, que, por sua 
vez, buscaram dar maior visibilidade a destinos turísticos menos 
convencionais, mas capazes de viabilizar novas experiências e descobertas 
para um “cidadão global”, em busca de oportunidades de vivências e 
aprendizagens, para além do “cardápio” de opções disponíveis. 
Além disso, a percepção de que o avanço no desenvolvimento turístico nem 
sempre tem ocorrido a favor das populações locais, e tem sido 
frequentemente responsável por fenômenos significativos de exclusão social, 
passou a exigir medidas de ajuste em planejamento. Assim, as discussões 
realizadas no Brasil e no mundo sobre turismo e sustentabilidade passaram a 
recomendar para a prática turística: a conservação dos recursos naturais e 
culturais, o compromisso de desenvolvimento socioeconômico das 
comunidades receptoras e a participação dos atores sociais em todas as 
etapas do processo de planejamento e implementação de projetos, com a 
geração de benefícios para a população local e sua autonomia no processo de 
decisão. 
 
4
 Turismo a favor dos pobres (tradução livre) 
26 
 
 
 
Assim, percebe-se então, que o Turismo de Base Comunitária surge como um 
movimento social em contraponto ao modelo hegemônico do turismo, exemplificado pelo 
fluxo de massa. Para demonstrar isso Mendonça e Moraes (2012, p.1173) citam: 
...estes grupos perceberam o potencial do lugar em que moram como destino 
turístico. Decidiram, então, se inserir na atividade de forma diferenciada, em 
um modelo de turismo em que é possibilitada a oportunidade de diversos 
atores sociais participarem de forma mais efetiva no planejamento, 
implementação e gestão do turismo, cuja maior parte dos benefícios gerados 
é destinada à própria comunidade. Esta iniciativa surge em contraponto a 
todo um processo convencional de desenvolvimento turístico caracterizado 
por: vazamentos de recursos financeiros; descaracterização de ambientes 
naturais; alteração de costumes e de valores tradicionais; especulação 
imobiliária e a consequente exclusão territorial de residentes. 
3.1. PERSPECTIVA HISTÓRICA E POLÍTICA DO TBC NO MUNDO E NO 
BRASIL 
Os debates envolvendo o turismo de base comunitária pelo mundo estão ligados à 
questão de como a atividade turística contribui para a redução da pobreza no mundo.Em 
2002, durante a Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável, a Rio 
+10, realizada em Johanesburgo, a OMT lançou o Programa de Turismo Sustentável e 
Eliminação da Pobreza (Sustainable Tourism – Eliminating Poverty - STEP). Nos anos 
subsequentes, o STEP promoveu uma série de seminários em países da África, Ásia e 
América Latina. Entretanto, esta não foi a primeira iniciativa a tentar promover o TBC no 
mundo, talvez tenha sido a mais articulada e com maior volume de recursos envolvidos 
(BURSZTYN, 2012). 
Na América Latina, o turismo de base comunitária (ou turismo rural comunitário - 
TRC) é um fenômeno relativamente recente. Suas primeiras iniciativas datam de meados da 
década de 1980 e estão presentes em praticamente todos os países e procuram aliar lugares de 
rara beleza cênica com manifestações culturais únicas. Tem como seu principal alicerce as 
comunidades rurais de origem indígenas espalhadas pela região dos Andes e América Central, 
onde muitas delas ainda mantêm tradições pré-colombianas. (MALDONADO, 2009; 
BURSZTYN, 2012) 
Segundo Maldonado (2009 apud Bursztyn, 2012), são quatro os fatores de ordem 
econômica, social, cultural e política podem explicar a origem destas iniciativas. O primeiro é 
a pressão do mercado turístico internacional, que buscando diversidade de seus produtos, 
induziu a abertura de diversas comunidades rurais para o turismo, identificando o turismo 
comunitário como um segmento de mercado. Estas iniciativas são também apoiadas por 
ONGs ambientalistas, imbuídas do discurso no qual o turismo é apontado como uma 
27 
 
 
 
alternativa econômica para a preservação dos recursos naturais, onde certas comunidades se 
propuseram a receber visitantes interessados em conhecer seus ativos ambientais 
proporcionando experiências culturais enriquecedoras. O segundo fator está relacionado à 
busca pela superação de uma situação de pobreza crônica, onde através do fomento a 
atividades não agrícolas, o turismo é apresentado como alternativa. O terceiro fator está 
vinculado ao papel relevante das micro e pequenas empresas na sustentação do 
desenvolvimento local, pois as mesmas prestam serviços de forma mais personalizada e em 
escala reduzida e também por terem ampla distribuição, mobilizam recursos, geram riquezas e 
disseminam renda para as economias locais. E o quarto fator está associado às estratégias 
políticas dos movimentos indígenas e dos povos rurais em preservar seus territórios 
ancestrais, fundamento de seu patrimônio e de sua cultura, podendo assim se inserir no 
mercado globalizado sem perder seus traços fundamentais de identidade (MALDONADO, 
2009; BURSZTYN, 2012). 
Na América Central, três países avançaram bastante nos últimos anos na elaboração de 
um marco legal para o fomento ao TRC. Na Guatemala, embora nenhuma lei ou decreto 
tenham sido aprovados, o Instituto Guatemalteco de Turismo (INGUAT) tem desempenhado 
um papel fundamental nas articulações entre as iniciativas locais e o poder público. A Costa 
Rica é um dos países em que o TRC está mais consolidado e sua ligação com movimentos de 
conservação ambiental atrai projetos de cooperação internacional. Suas bases estão 
fundamentadas no cooperativismo, por meio do Consórcio Cooperativo Rede Ecoturística 
Nacional (COOPRENA), e na ação de grupos familiares, representados na Associação 
Costarriquense de Turismo Rural Comunitário (ACTURA). A Nicarágua também lançou, em 
2010, sua política de promoção do TRC. Fruto de dois anos de diálogo entre o Instituto de 
Turismo da Nicarágua (ITN), principal organismo público de turismo do país, e a Rede 
Nicaraguense de Turismo Rural (RENITURAL) esta política tem por objetivo dinamizar a 
atividade no país, que conta com cerca de 100 iniciativas em operação (BURSZTYN, 2012). 
Na América do Sul a cena é equitativamente próspera. O Equador é pioneiro e, desde 
2002, discute a questão do turismo comunitário no Conselho Consultivo de Turismo, órgão 
vinculado ao Ministério do Turismo. O diálogo entre a Federação Plurinacional de Turismo 
Comunitário do Equador (FEPTCE) e o Ministério do Turismo deram origem aos “Centros de 
Turismo Comunitário”, uma ação inovadora de fortalecimento da atividade. O Peru tem 
acompanhado os avanços obtidos por seus vizinhos e, nos últimos anos, tem investido na 
incorporação do turismo comunitário à oferta nacional. O Plano Nacional Estratégico de 
28 
 
 
 
Turismo (PENTUR) prevê a participação das comunidades, principalmente das mulheres e 
dos jovens, no desenvolvimento turístico do país. A Bolívia é, sem dúvida, o país onde o 
fomento ao TRC ganhou mais força. O Plano Nacional de Turismo, lançado em 2006, prioriza 
o fomento ao turismo comunitário, a partir da incorporação das comunidades indígenas, rurais 
e urbanas, no planejamento e gestão do turismo, considerando uma perspectiva territorial 
(BURSZTYN, 2012). 
Esses avanços só foram possíveis devido ao arranjo das comunidades em redes 
regionais e nacionais. Podendo argumentar e com maior poder de pressão, conseguiram 
espaço nas estruturas públicas de poder para garantir seus direitos de existência e de 
autonomia para decidir os rumos do seu desenvolvimento. De fundamental importância para 
esse contexto, é a Rede de Turismo Comunitário da América Latina (RedTurs), que contribuiu 
para a qualificação dos debates sobre TBC no continente através da realização de oficinas 
regionais e encontros nacionais e internacionais (BURSZTYN, 2012). 
O movimento do turismo de base comunitária no Brasil está no início. Experiências de 
Turismo de Base Comunitária no Brasil datam de meados dos anos 1990, e foram organizadas 
independentemente de ações públicas. Os estudos e pesquisas dedicados ao tema começaram 
a ser discutidos nas primeiras edições do Encontro Nacional de Turismo com Base Local 
(ENTBL) sendo que este se configurou como um importante fórum de debates. Outras 
discussões sobre o fortalecimento desta atividade ocorreram em algumas oficinas realizadas 
durante o Fórum Social Mundial - FSM (2002) e no I Seminário Internacional de Turismo 
Sustentável (2003). Após esses dois encontros foram intensificadas articulações entre os 
atores sociais envolvidos (ONGs, universidades e lideranças comunitárias). Ações nos anos 
seguintes no FSM de 2004, 2005 e 2006, foram fundamentais para a formação de opinião 
sobre o tema no país. Duas importantes redes de iniciativas que promovem o TBC no Brasil: 
A Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário (TURISOL - esta atualmente 
inoperante) e a Rede Cearense de Turismo Comunitário (TUCUM). Ambas tratam do TBC 
com princípios balizadores próprios e que tem em comum a valorização da cultura e dos 
saberes locais e a geração e distribuição justa e igual de renda (BURSZTYN, 2012; MTUR, 
2010). 
As autoras, Mendonça e Moraes (2012, p.1173), citam que no Brasil os projetos de 
Turismo de Base Comunitária surgiram principalmente, 
...em lugares com grande riqueza ecossistêmica, onde grupos sociais com 
perfil de baixo capital econômico e cultural vivem economicamente, 
essencialmente, de atividades produtivas tradicionais. Entende-se, aqui, 
como baixo capital cultural, aqueles que possuem baixo nível educacional e 
29 
 
 
 
pouco conhecimento em gestão e elementos técnicos para operar atividades 
associadas ao turismo. No entanto, estes grupos perceberam o potencial do 
lugar em que moram como destino turístico. Decidiram, então, se inserir na 
atividade de forma diferenciada, em um modelo de turismo em que é 
possibilitada a oportunidade de diversos atores sociais participarem de forma 
mais efetiva no planejamento, implementação e gestão do turismo, cuja 
maior parte dos benefícios geradosé destinada à própria comunidade. Esta 
iniciativa surge em contraponto a todo um processo convencional de 
desenvolvimento turístico caracterizado por: vazamentos de recursos 
financeiros; descaracterização de ambientes naturais; alteração de costumes 
e de valores tradicionais; especulação imobiliária e a consequente exclusão 
territorial de residentes. 
Também destacam que: 
...muitas iniciativas de turismo de base comunitária em território brasileiro 
estão ligadas a um movimento político e social direcionado à reivindicação 
pela posse da terra, pela permanência no lugar onde nasceram e vivem, pelo 
direito à moradia, entre outros (MENDONÇA; MORAES, 2012, p.1173). 
Apresentamos então, a ideia de que o Turismo de Base Comunitária é um movimento 
social. 
De acordo com o MTUR (2010): 
Com a criação do Ministério do Turismo, em 2003, as iniciativas de TBC 
são reconhecidas pelo órgão como um fenômeno social e econômico em 
algumas regiões do País, por meio de organizações não governamentais e 
pesquisadores do tema, como porta-vozes das iniciativas de TBC. 
Quanto ao incentivo à realização do TBC, o MTUR (2009, p.365) destaca que: 
O fomento às iniciativas de TBC ao mobilizar, organizar e fortalecer os 
atores locais residentes de destinos para a gestão e a oferta de bens e serviços 
turísticos visa tanto atrair turistas que demandam especificamente este 
segmento turístico, como agregar valor a destinos turísticos de cunho mais 
tradicional, por meio da oferta deste segmento, cujos elementos de 
preservação e valorização da cultura local, sua identidade e produção são de 
interesse dos visitantes. A interação entre a comunidade fortalecida em todos 
os aspectos da sustentabilidade e os visitantes externos é que pode gerar 
ganhos de bem-estar para a população local, assim como na experiência do 
visitante. 
O produto turístico de base comunitária se diferencia por incorporar o modo 
de viver e de representar o mundo da comunidade anfitriã. Desta forma, 
prevê na sua essência um intercâmbio cultural com a oferta dos produtos e 
serviços turísticos, em que há oportunidade para o visitante vivenciar uma 
cultura diferente da sua e à comunidade local de se beneficiar com as 
oportunidades econômicas geradas e também pelo intercâmbio cultural 
(MTUR, 2009, p.365). 
Sendo assim, o MTUR decidiu lançar um Edital de chamada pública de seleção de 
projetos de TBC em 2008. De acordo com o edital, foram selecionados projetos de apoio à 
realização de atividades nas cinco linhas temáticas: 1) produção associada ao turismo; 2) 
qualificação profissional; 3) planejamento estratégico e organização comunitária; 4) 
promoção e comercialização; e, 5) o fomento às práticas de economia solidária. Tendo como 
previsão inicial o recebimento de cerca de 100 projetos, sendo que destes seriam selecionados 
30 
 
 
 
de 10 a 15 para apoio financeiro. A expectativa foi ultrapassada com recebimento de mais de 
500 projetos. Tendo em vista, a disponibilidade orçamentária e capacidade técnica e 
operacional do MTUR, decidiu-se por apoiar 50 projetos entre os anos de 2008 e 2009 
(MTUR, 2009). 
 
3.2. TBC – PERSPECTIVAS CONCEITUAIS 
Segundo Coriolano (2006, p.201), 
Entende-se por turismo comunitário aquele em que as comunidades de forma 
associativa organizam arranjos produtivos locais, possuindo o controle 
efetivo das terras e das atividades econômicas associadas à exploração do 
turismo. 
E ainda acrescenta que o turismo de base comunitária é o 
...jeito diferenciado de trabalhar com o turismo. Trata-se de um eixo do 
turismo centrado no trabalho de comunidades, de grupos solidários, ao invés 
do individualismo predominante no estilo econômico do eixo tradicional. 
(CORIOLANO, 2006, p.5) 
A opção ao turismo de base comunitária ocorre como um processo de descoberta 
quando a comunidade discute o que quer ou não fazer para o desenvolvimento das pessoas e 
da localidade. A expectativa principal continua sendo o lucro, além da geração de riqueza e 
renda, mas o turismo comunitário não se preocupa só com o consumo, é uma troca de 
experiências, de laços de amizade e de valorização cultural. A característica do TBC é que as 
iniciativas de estruturação e/ou organização de produtos e serviços turísticos são 
protagonizados pelas comunidades receptoras. (CORIOLANO, 2006; MTUR, 2009) 
A WWF Internacional (2001, p. 2) cita que: 
Turismo comunitário ou de base comunitária pode ser definido como aquele 
onde as sociedades locais possuem controle efetivo sobre seu 
desenvolvimento e gestão. E por meio do envolvimento participativo desde o 
início, projetos de turismo devem proporcionar a maior parte de seus 
benefícios para as comunidades locais. 
Carlos Maldonado (2009, p.31), especialista da Organização Internacional do Trabalho 
e coordenador da Rede de Turismo Sustentável da América Latina (RedTurs) define: 
Por Turismo Comunitário entende-se toda forma de organização empresarial 
sustentada na propriedade e na autogestão sustentável dos recursos 
patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de cooperação e 
equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação 
dos serviços turísticos. A característica distinta do turismo comunitário é sua 
dimensão humana e cultural, vale dizer antropológica, com objetivo de 
incentivar o diálogo entre iguais e encontros interculturais de qualidade com 
nossos visitantes, na perspectiva de conhecer e aprender com seus 
respectivos modos de vida. 
Para Carvalho (apud Ribeiro 2008, p. 2): 
31 
 
 
 
O turismo comunitário apresenta-se sendo desenvolvido pela própria 
comunidade, onde seus membros passam a ser ao mesmo tempo 
articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda e lucro 
permanecem na comunidade contribuindo para melhoria de qualidade de 
vida, levando todos a se sentirem capazes de cooperar e organizar as 
estratégias do desenvolvimento do turismo. Além de requerer a participação 
de toda a comunidade, considera os direitos e deveres individuais e coletivos 
elaborando um processo de planejamento participativo. Desenvolvendo 
assim a gestão participativa, ou seja, os atores sociais na sua maioria se 
envolvem com as atividades desenvolvidas no local de forma direta ou 
indireta tendo sempre em vista a melhoria da comunidade e de cada 
participante, levando em conta os desejos e as necessidades das pessoas, a 
cultura local e a valorização do patrimônio natural e cultural. 
Para melhor compreensão sobre as perspectivas conceituais sobre o Turismo de Base 
Comunitária, foram analisados os primeiros resultados da pesquisa “O estado da arte do 
turismo de base comunitária no litoral do Estado do Rio de Janeiro: abordagem teórico-
conceitual, político-organizacional e iniciativas em curso”, dois trabalhos de conclusão de 
curso de Bacharel em Turismo: “Perspectivas Teórico-conceituais sobre o Turismo de Base 
Comunitária e Participação como foco de análise”, de Aleixa Miranda Viana (2013) e “Afinal, 
o que significa Turismo de Base Comunitária ou Turismo Comunitário? A busca por uma 
perspectiva conceitual” de Patricia Isabella Frutuoso Lima (2014). Ambos os trabalhos 
tiveram como objetivo mapear e analisar as perspectivas teórico-conceituais acerca do TBC. 
O trabalho desenvolvido por Viana (2013) teve as seguintes obras selecionadas para a 
análise de conteúdo: “O Turismo dos Discursos, nas Políticas e no Combate à Pobreza” 
(CORIOLANO, 2006); “Segmentação do mercado turístico: os estudos, produtos e 
perspectivas” (PASSOLO NETTO, A.; ANSARAH, M., 2009); “Turismo de experiência” 
(PASSOLO NETTO; GAETA, 2010); “Turismo comunitário, solidário e sustentável: da 
crítica e das ideias à prática”(SAMPAIO; HENRÍQUEZ; MANSUR, 2011); “Turismo, 
Território e Conflitos Imobiliários” (CORIOLANO; VASCONCELOS, 2012). 
Resultando em 113 (cento e treze) termos retirados do levantamento teórico-conceitual 
sobre o TBC, que orientados pela análise de conteúdo, são capazes de revelar as ideias 
expressadas acerca do TBC. Os termos foram considerados quantitativamente, com o objetivo 
de identificar as teorias mais recorrentes e a sua representação na construção do conceito de 
TBC (quadro 1). Agrupadas por afinidade essas diversas perspectivas resultaram em 10 eixos 
representativos que concentram o olhar teórico e conceitual do tema. Alguns dos termos 
selecionados foram encaixados em mais de um eixo, o que revela a união das diversas 
perspectivas para elaboração dos conceitos de TBC (VIANA, 2013). 
Quadro 1: Eixos temáticos que representam o TBC segundo Viana (2013) 
32 
 
 
 
Eixos temáticos 
1 TBC como segmento turístico 
2 Abordagem específica sobre sustentabilidade 
3 Relação visitante-visitado 
4 Práticas econômicas solidárias 
5 Um outro tipo de turismo, turismo em oposição ao turismo convencional 
6 Preservação Ambiental 
7 Participação Comunitária, Gestão Comunitária e Organização Social. 
8 Valorização dos modos de vida locais, tradicionais e características comunitárias. 
9 Benefícios Socioculturais 
10 Modos e Meios de Produção em Comunidade 
Fonte: Viana, 2013 
No trabalho desenvolvido por Lima (2014) 15 obras (teses e dissertações) foram 
selecionadas para a análise de conteúdo (quadro 2). Neste trabalho a autora encontrou no 
levantamento teórico-conceitual sobre o TBC, 162 (cento e sessenta e dois) termos que, 
pautados pelo método da análise de conteúdo são capazes de revelar as ideias expressadas 
sobre o tema. As diversas perspectivas foram agrupadas por afinidade ou similaridade, tendo 
como resultado a representação do olhar teórico e conceitual em 15 eixos. 
Quadro 2: Eixos temáticos que representativos sobre o TBC: teses e dissertações segundo 
Lima (2014) 
Eixos temáticos 
1 Controle comunitário e participativo sobre o planejamento, desenvolvimento e gestão 
do turismo. 
2 Forma/relação dialógica entre turistas e comunidade. 
3 Benefícios econômicos e sociais diretos do turismo para a comunidade 
4 Apropriação e protagonismo socioeconômico, político e cultural 
5 Sustentabilidade socioespacial e socioambiental 
6 Um novo modelo de desenvolvimento turístico 
7 Baseado nos valores culturais e no respeito às tradições 
8 Baseado nos valores culturais e no respeito às tradições e modos de vida 
9 Práticas econômicas e produtivas ligadas ao associativismo e cooperativismo 
10 Qualidade de vida e bem estar social 
11 Promove encontros e intercâmbios culturais 
12 Desenvolvimento local, econômico e social. 
13 Turismo como complementariedade e não substituição 
14 Forma de obter cidadania e emancipação social 
15 Atrai um turista responsável 
Fonte: Lima, 2014 
33 
 
 
 
Segundo Lima (2014) é importante observar que muitos termos se repetiram em 
diversos trabalhos. Destacando assim, os termos: modos de vida; economia solidária; controle 
efetivo; benefícios para as comunidades; e interesse pelo outro. A autora também cita que as 
categorias que tiveram um maior número de vezes seus princípios abordados entre os teóricos 
foram: Controle comunitário e participativo sobre o planejamento, desenvolvimento e gestão 
do turismo; Forma/relação dialógica entre turistas e comunidade; Benefícios econômicos e 
sociais diretos do turismo para a comunidade; Apropriação e protagonismo socioeconômico, 
político e cultural; e Sustentabilidade socioespacial e socioambiental. 
Na análise realizada por Lima (2014), a autora identificou e concluiu que alguns eixos 
que são comuns ou consonantes. Pesquisas que orientam a perspectiva conceitual sobre o 
tema e tais pensamentos concordantes podem direcionar a perspectiva conceitual do TBC no 
Brasil. São eles: 
 em que os benefícios socioeconômicos impactam de forma mais direta à 
comunidade local; 
 em que sustentabilidade socioespacial e econômica seriam as práticas 
orientadoras; 
 em que prevalece uma relação dialógica entre turista e comunidade; 
 em que existe forte componente de participação e protagonismo social dos 
agentes internos (da comunidade); 
 em que a gestão comunitária dos empreendimentos locais e outras formas de 
organização comunitária são importantes; 
 onde existe foco para o alcance do desenvolvimento local; 
 em que a noção de pertencimento e identidade fortalecem as atividades 
produtivas e o modo de vida; 
 em que as atividades estão baseadas e permeadas pelos valores culturais e 
respeito às tradições; 
 onde, muitas vezes, o turismo como complemento a outras atividades 
econômico-produtivas e não como substituição; 
Segundo Lima (2014, p. 54) o TBC é: 
Um novo tipo de turismo que tem como sujeito principal os atores sociais 
locais, dentro de uma diversidade de lógica de construções sociais, que 
buscam ser os protagonistas das atividades ligadas ao turismo. Atividades 
capazes de conduzir estes grupos à sua auto-sustentação, também, sob ótica 
econômica, para que não haja dependência extrema dos agentes externos, 
pois, conforme cita Mendonça (2004, p. 168) “A auto-sustentação, sob essa 
34 
 
 
 
ótica, se constitui em um dos elementos essenciais para a promoção do 
desenvolvimento local”. 
Em ambos os trabalhos foi possível perceber que as iniciativas de TBC destoam ao 
modelo hegemônico de turismo, extremamente massificado. Os diversos eixos representados 
com destaque nas pesquisas são resultados de como diversos grupos sociais têm se inserido 
num mercado tão competitivo que é o turismo e que buscam por uma autonomia no que se 
refere ao poder de decisão dos mesmos. A gestão comunitária e participativa é considerada 
fator primordial para o desenvolvimento das atividades de TBC. 
3.3. TBC NO ESTADO DO RJ 
Tendo como base apenas os projetos contemplados pelo Edital MTUR, n.º 001/2008 
(MTUR, 2009), as iniciativas de TBC no Brasil estão distribuídas da seguinte forma: 
• Região Sul: 8 iniciativas; 
• Região Centro – Oeste: 3 iniciativas; 
• Região Norte: 6 iniciativas; 
• Região Nordeste: 16 iniciativas; 
• Região Sudeste: 16 iniciativas. 
A Região Sudeste possui 16 iniciativas de TBC, conforme seleção do MTUR, 8 estão 
localizadas no estado do Rio de Janeiro. São elas: 
1. Caiçaras, indígenas e quilombolas: construindo juntos o turismo cultural na Região 
Costa Verde (Associação dos Moradores do Campinho) 
Realizado na Região da Costa Verde (Angra dos Reis/RJ e Paraty/RJ e Ubatuba/ SP), 
é um projeto de turismo social e cultural de base comunitária no qual serão envolvidas 12 
comunidades tradicionais, sendo 5 quilombolas, 2 indígenas e 7 caiçaras. O objetivo principal 
do projeto foi fortalecer as comunidades tradicionais caiçaras, indígenas e quilombolas, que 
participam do Fórum de Comunidades Tradicionais, como protagonistas do turismo cultural 
da região (MTUR, 2009). 
2. Ecoturismo de Base Comunitária da Região da Trilha do Ouro (Sociedade Angrense 
de Proteção Ecológica – SAPE) 
A Trilha do Ouro tem início na pequena cidade de São José do Barreiro, no Vale do 
Paraíba paulista, e termina na Vila de Mambucaba, no litoral de Angra dos Reis, divisa com 
Paraty. Tem extensão de 98 km, cortando o Parque Nacional da Serra da Bocaina – PNSB, 
importante fragmento da Mata Atlântica, com alta diversidade e complexidade natural e 
refúgio ecológico de diversas espécies ameaçadas de extinção. O objetivo do projeto é 
consolidar os pólos da atividade turística na região da Trilha do Ouro, estabelecendo em 
35

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