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RHC 58306 / RJ 
RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 
2015/0075575-0 
Relator(a) 
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) 
Órgão Julgador 
T6 - SEXTA TURMA 
Data do Julgamento 
19/05/2015 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 27/05/2015 
Ementa 
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO 
TEMPORÁRIA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. IMPRESCINDIBILIDADE 
ÀS INVESTIGAÇÕES NÃO DEMONSTRADA. FLAGRANTE ILEGALIDADE. RECURSO 
PROVIDO. 
1. Cabe prisão temporária quando esta for imprescindível para as 
investigações do inquérito policial, ou quando o indiciado não tiver 
residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao 
esclarecimento de sua identidade, e quando houver fundadas razões de 
autoria ou participação do indiciado nos crimes que a lei lista, 
dentre eles o de homicídio. 
2. Hipótese em que o Juiz de primeiro grau decretou a prisão 
temporária sem fundamentar adequadamente a medida. Limitou-se a 
referir a mencionar o dispositivo legal, sem motivar o julgado no 
que tange ao periculum libertatis, não logrando demonstrar de que 
maneira a reclusão do indiciado serviria para facilitar o trabalho 
da autoridade policial no curso da investigação. 
3. Recurso provido para revogar a prisão temporária. 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima 
indicadas, acordam os Ministros da SEXTA Turma do Superior Tribunal 
de Justiça: A Sexta Turma, por unanimidade, deu provimento ao 
recurso, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. 
Ministros Sebastião Reis Júnior (Presidente), Rogerio Schietti Cruz, 
Nefi Cordeiro e Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) 
votaram com a Sra. Ministra Relatora. 
Referência Legislativa 
LEG:FED LEI:007960 ANO:1989 
 ART:00001 
http://www.stj.jus.br/SCON/include/linkPlanalto.jsp?tipo=LEI&numero=007960&ano=1989
Veja 
 STJ - HC 236328-MG, HC 187869-MG, HC 60425-MT 
 
 
HC 313157 / MG 
HABEAS CORPUS 
2014/0345177-5 
Relator(a) 
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) 
Órgão Julgador 
T6 - SEXTA TURMA 
Data do Julgamento 
05/05/2015 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 02/06/2015 
Ementa 
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. CUMPRIMENTO DO PERÍODO 
DA PRISÃO TEMPORÁRIA POR DOIS PACIENTES. ORDEM PREJUDICADA NO PONTO. 
PRISÃO TEMPORÁRIA. FUNDAMENTAÇÃO. IMPRESCINDIBILIDADE PARA AS 
INVESTIGAÇÕES. ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL. FALTA DE 
INDICAÇÃO DE ELEMENTOS CONCRETOS A JUSTIFICAR A MEDIDA. MOTIVAÇÃO 
INIDÔNEA. ORDEM PARCIALMENTE PREJUDICADA, E, NO MAIS, CONCEDIDA. 
1. Já tendo sido cumprido o período da prisão temporária por dois 
pacientes, prejudicada a análise do pedido de soltura. 
2. A prisão processual deve ser configurada no caso de situações 
extremas, em meio a dados sopesados da experiência concreta, 
porquanto o instrumento posto a cargo da jurisdição reclama, antes 
de tudo, o respeito à liberdade. In casu, prisão temporária que não 
se justifica ante a fundamentação inidônea, hostil aos termos da Lei 
n.º 7.960/1989. Ademais, o inquérito policial já foi concluído, o 
que evidencia que a medida extrema perdeu sua razão de ser. 
3. Habeas Corpus parcialmente prejudicado, em relação aos pacientes 
Michael Charles Francisco da Silva e Rodrigo da Silva Pereira e, no 
mais, concedido a fim de revogar a prisão temporária decretada em 
desfavor do paciente Cassio Silva, sem prejuízo de que o Juízo a 
quo, de maneira fundamentada, examine se é caso de se decretar 
prisão preventiva. 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima 
indicadas, acordam os Ministros da SEXTA Turma do Superior Tribunal 
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=%28%28%27HC%27.clas.+e+@num=%27236328%27%29+ou+%28%27HC%27+adj+%27236328%27.suce.%29%29
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=%28%28%27HC%27.clas.+e+@num=%27187869%27%29+ou+%28%27HC%27+adj+%27187869%27.suce.%29%29
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=%28%28%27HC%27.clas.+e+@num=%2760425%27%29+ou+%28%27HC%27+adj+%2760425%27.suce.%29%29
de Justiça: A Sexta Turma, por unanimidade, julgou parcialmente 
prejudicado o habeas corpus, em relação aos pacientes Michael 
Charles Francisco da Silva e Rodrigo da Silva Pereira e, no mais, 
concedeu a ordem ao paciente Cassio Silva, nos termos do voto da 
Sra. Ministra Relatora, com ressalva de entendimento do Sr. Ministro 
Rogerio Schietti Cruz. Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior 
(Presidente), Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro e Ericson Maranho 
(Desembargador convocado do TJ/SP) votaram com a Sra. Ministra 
Relatora. 
Informações Adicionais 
 Não é possível a manutenção da prisão temporária quando o 
Tribunal a quo se limita a ressaltar a presença de indícios de autoria e materialidade do 
crime de homicídio para se decretar a prisão temporária do paciente sem, contudo, 
apontar qualquer 
elemento concreto a justificar a imposição da medida extrema. Isso porque a prisão 
processual deve ser configurada no caso de situações 
extremas, em meio a dados sopesados da experiência concreta, porquanto o instrumento 
posto a cargo da jurisdição reclama, antes de tudo, respeito à liberdade. 
 (RESSALVA DE ENTENDIMENTO) (MIN. ROGERIO SCHIETTI CRUZ) 
 "[...] o decreto de prisão temporária está fundamentado. Assim 
voto, acrescento, em adesão à teoria da "decisão mínima", em razão da qual, em regra, o 
Tribunal não deve avançar, na fundamentação, com argumentos e raciocínios que não 
sejam necessários para alcançar a solução apresentada". 
Referência Legislativa 
LEG:FED LEI:007960 ANO:1989 
 ART:00001 
Veja 
(PRISÃO TEMPORÁRIA - DENÚNCIA OFERTADA) 
 STJ - HC 210697-SP 
 
 
 
HC 296507 / RS 
HABEAS CORPUS 
2014/0136919-9 
Relator(a) 
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ (1158) 
Órgão Julgador 
T6 - SEXTA TURMA 
http://www.stj.jus.br/SCON/include/linkPlanalto.jsp?tipo=LEI&numero=007960&ano=1989
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=%28%28%27HC%27.clas.+e+@num=%27210697%27%29+ou+%28%27HC%27+adj+%27210697%27.suce.%29%29
Data do Julgamento 
05/03/2015 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 19/03/2015 
Ementa 
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO TEMPORÁRIA. 
PRESSUPOSTOS DO ART. 1º DA LEI N. 7.960/1989. FUNDAMENTAÇÃO 
INSUFICIENTE. OCORRÊNCIA DE MANIFESTO CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM 
CONCEDIDA. 
1. A jurisprudência desta Corte Superior é remansosa no sentido de 
que o encarceramento provisório do indiciado ou acusado antes do 
trânsito em julgado da decisão condenatória, como medida 
excepcional, deve estar amparado nas hipóteses taxativamente 
previstas na legislação de regência e em decisão judicial 
devidamente fundamentada. 
2. O art. 1º da Lei 7.960/1989 evidencia que o objetivo primordial 
da prisão temporária é o de acautelar o inquérito policial, 
procedimento administrativo voltado a esclarecer o fato criminoso, a 
reunir meios informativos que possam habilitar o titular da ação 
penal a formar sua opinio delicti e, por outra angulação, a servir 
de lastro à acusação. 
3. Na espécie, quase todos os fundamentos apresentados pelo juiz de 
primeira instância, tanto na decisão que originalmente decretou a 
prisão temporária quanto na que a renovou, dizem respeito a outra 
espécie de constrição processual, a prisão preventiva, a saber: (a) 
evitação da destruição das provas; (b) tensão social dentro da 
reserva; (c) indícios sérios da existência de armas entre os 
indígenas; (d) integrantes da comunidade indígena com notória 
capacidade de influenciar os demais e (e) fuga dos acusados, que se 
refugiaram na reserva indígena. 
4. A decisão que renovou a constrição cautelar apontou, ainda, (a) 
"o grande número de indivíduos supostamente participantes do duplo 
homicídio (aproximadamente trinta indígenas), parcialmente 
identificados, a dificultar sobremaneira a ultimação das diligênciasinvestigatórias", bem como a (b) "necessidade de cumprimento de três 
mandados de prisão temporária, expedidos em 05/05/2014 e ainda não 
cumpridos em razão das alegadas dificuldades de ingresso na reserva 
indígena, afora as demais diligências probatórias necessárias ao 
aprofundamento das investigações e a organização da prova colhida". 
5. Ordem concedida para, confirmada a liminar, cassar a prisão 
temporária dos pacientes. 
Acórdão 
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, 
acordam os Ministros da Sexta Turma, por maioria, conceder a ordem, 
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Vencida a Sra. Ministra 
Maria Thereza de Assis Moura. Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, 
Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) e Sebastião Reis 
Júnior (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator. 
Referência Legislativa 
LEG:FED LEI:007960 ANO:1989 
 ART:00001 INC:00001 INC:00002 
Veja 
(TERRA INDÍGENA - CUMPRIMENTO DE MANDADO JUDICIAL - POLÍCIA FEDERAL 
E FORÇAS ARMADAS) 
 STF - PET 3388-RO 
 
 
 
II – DO DECRETO PRISIONAL VAZIO E NÃO FUNDAMENTADO 
 
Conforme afirmado, a decisão judicial que decretou a 
prisão temporária do paciente está eivada de vício insanável, eis que 
carente de fundamentação idônea. 
Interessante, pois, transcrever, na íntegra, a decisão 
atacada: 
II - “O(s) delito(s) em tese praticado(s) pelo(s) 
acusado(s) é de extrema gravidade, estando comprovada a materialidade, 
bem como estando presentes indícios suficientes de autoria, devendo a 
presente representação ser atendida nos termos requeridos pela D. 
Autoridade Policial e ratificada pelo Ministério Público. 
Relato(s) prestado(s) pela(s) testemunha(s), em 
fase inquisitorial, dão conta 
 
Diante disso e por tudo o mais que dos autos 
consta, presente os requisitos autorizadores da prisão temporária , 
atendendo a representação da D. Autoridade pol icial, ratificada pelo 
Representante do Ministério Publico, DECRETO A PRISÃO TEMPORÁRIA 
do indiciado RICARDO CARLOTA DA SILVA, por trinta (30) dias, com 
fundamento no artigo 1º, incisos I e III, alínea “a” da Lei nº 7.960/89 e 
artigo 2º, parágrafo 4º, da Lei nº 8.072/90. 
 
http://www.stj.jus.br/SCON/include/linkPlanalto.jsp?tipo=LEI&numero=007960&ano=1989
http://www.stj.jus.br/SCON/include/linkSTF.jsp?pesquisa=PET%20e%20%283388.NUME.%29
Da decisão transcrita, é possível extrair apenas a 
repetição dos termos legais. Não houve a apresentação de nenhum dado 
concreto a indicar que o paciente ofereça risco à ordem pública, 
pretenda se furtar à aplicação da lei penal ou pr ejudicar a instrução 
criminal. 
 
Nenhum desses fundamentos, posto que abstratos e 
desvinculados de circunstâncias concretas, é apto a legitimar uma restrição 
cautelar da l iberdade, tida, sempre , como excepcional. Exatamente por 
isso, a doutrina especializada e a jurisprudência dominante do Supremo 
Tribunal Federal é extremamente rigorosa na análise das prisões cautelares, 
exigindo fundamentação concreta, pormenorizada e não apenas a repetição 
das hipóteses legais de decretação da prisão temporária. 
 
Rebata-se, ainda, a alegação de que se trata de crime de 
gravidade. O Supremo Tribunal Federal é tranquilo no sentido de rechaçar 
toda e qualquer fundamentação que se baseie na gravidade em abstrato da 
infração penal. Nesse sentido, em tema correlato ao aqui tratado, o verbete 
sumular 718 do Excelso Pretório: “a opinião do julgador sobre a 
gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a 
imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena 
aplicada”. 
 
Na doutrina especializada, importante trazer as lições de 
Aury Lopes Junior: “garantia da ordem pública. Por ser um conceito vag o, 
indeterminado, presta-se a qualquer senhor, diante de uma maleabilidade 
conceitual apavorante, como mostraremos no próximo item, destinado à 
crí tica. Não sem razão, por sua vagueza e abertura, é o fundamento 
preferido, até porque ninguém sabe ao certo o que quer dizer. Nessa linha, 
é recorrente a definição de risco para ordem pública como sinônimo de 
“clamor público”, de crime que gera um abalo social, uma comoção na 
comunidade, que perturba a sua tranquilidade. Alguns, fazendo uma 
confusão de conceitos ainda mais grosseria, invocam a “gravidade” ou 
“brutalidade” do delito como fundamento da prisão preventiva . – grifos 
nossos. (Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional – 
Volume II – 2ª Edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris. Página 109). 
Sem dados concretos a indicar o perigo para o processo 
(como, et coetera , a pretensão de fuga, o perigo para a vítima ou a intenção 
do acusado de praticar novos crimes), a manutenção da prisão basear -se-á, 
por certo, em meros juízos presuntivos, incompatíveis com um processo 
penal racional e constitucionalizado . Aponte-se, pois, dados concretos a 
autorizar a segregação cautelar do acusado. Sem esses elementos, de rigor 
sua soltura, conforme entendimento tranquilo dos Tribunais Superiores. É o 
que se colhe de brilhante ementa, produzida a partir de voto do decano do 
Supremo Tribunal Federal, Ministro Celso de Mello: 
 
"HABEAS CORPUS" - PRISÃO EM FLAGRANTE MANTIDA COM 
FUNDAMENTO NA GRAVIDADE OBJETIVA DO DELITO - CARÁTER 
EXTRAORDINÁRIO DA PRIVAÇÃO CAUTELAR DA LIBERDADE 
INDIVIDUAL - UTILIZAÇÃO, PELO MAGISTRADO, NO 
INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA, DE 
CRITÉRIOS INCOMPATÍVEIS COM A JURISPRUDÊNCIA DO 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - SITUAÇÃO DE INJUSTO 
CONSTRANGIMENTO CONFIGURADA - IRRELEVÂNCIA, PARA 
EFEITO DE CONTROLE DA LEGALIDADE DO DECRETO DE PRISÃO 
CAUTELAR, DE EVENTUAL REFORÇO DE ARGUMENTAÇÃO 
ACRESCIDO POR TRIBUNAIS DE JURISDIÇÃO SUPERIOR - 
PRECEDENTES - INSUBSISTÊNCIA, DE QUALQUER FORMA, DE 
FUNDAMENTAÇÃO BASEADA EM MERA SUPOSIÇÃO DE QUE O 
PACIENTE, EM LIBERDADE, PODERIA INTERFERIR NA INSTRUÇÃO 
PROBATÓRIA - SUPERVENIÊNCIA DE DECISÃO DE PRONÚNCIA - 
INOCORRÊNCIA DE SITUAÇÃO DE PREJUDICIALIDADE - PEDIDO 
DEFERIDO. A PRISÃO CAUTELAR CONSTITUI MEDIDA DE 
NATUREZA EXCEPCIONAL . - A privação cautelar da liberdade 
individual reveste-se de caráter excepcional, somente devendo ser 
decretada ou mantida em situações de absoluta n ecessidade. A prisão 
cautelar, para legitimar-se em face de nosso sistema jurídico, impõe - além 
da satisfação dos pressupostos a que se refere o art . 312 do CPP (prova da 
existência material do crime e presença de indícios suficientes de autoria) 
- que se evidenciem, com fundamento em base empírica idônea, razões 
justificadoras da imprescindibilidade dessa extraordinária medida cautelar 
de privação da liberdade do indiciado ou do réu. - A questão da 
decretabilidade ou manutenção da prisão cautelar. Possibi lidade 
excepcional, desde que satisfeitos os requisitos mencionados no art. 312 do 
CPP. Necessidade da verif icação concreta, em cada caso, da 
imprescindibil idade da adoção dessa medida extraordinária. Precedentes. 
A MANUTENÇÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE - ENQUANTO 
MEDIDA DE NATUREZA CAUTELAR - NÃO PODE SER UTILIZADA 
COMO INSTRUMENTO DE PUNIÇÃO ANTECIPADA DO INDICIADO 
OU DO RÉU. - A prisão cautelar não pode - e não deve - ser utilizada, 
pelo Poder Público, como instrumento de punição antecipada daquele a 
quem se imputou a prática do delito, pois, no sistema jurídico brasileiro, 
fundado em bases democráticas, prevalece o princípio da liberdade, 
incompatível com punições sem processo e inconcil iável com condenações 
sem defesa prévia. A prisão cautelar - que não deve ser confundida com a 
prisão penal - não objetiva infligir punição àquele que sofre a sua 
decretação, mas destina-se, considerada a função cautelar que lhe é 
inerente, a atuar em benefício da atividade estatal desenvolvida no 
processo penal. A GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME NÃO 
CONSTITUI FATOR DE LEGITIMAÇÃO DA PRIVAÇÃO CAUTELAR DA 
LIBERDADE.- A natureza da infração penal não constitui, só por si , 
fundamento justif icador da decretação da prisão cautelar daquele que 
sofre a persecução criminal instaurada pelo Estado. Precedentes. A 
PRISÃO CAUTELAR NÃO PODE APOIAR-SE EM JUÍZOS 
MERAMENTE CONJECTURAIS. - A mera suposição, fundada em simples 
conjecturas, não pode autorizar a decretação da prisão cautelar de 
qualquer pessoa. - A decisão que ordena a privação cau telar da liberdade 
não se legitima quando desacompanhada de fatos concretos que lhe 
justifiquem a necessidade, não podendo apoiar -se, por isso mesmo, na 
avaliação puramente subjetiva do magistrado de que a pessoa investigada 
ou processada, se em liberdade, poderá delinqüir, ou interferir na 
instrução probatória, ou evadir -se do distrito da culpa, ou, então, 
prevalecer-se de sua particular condição social , funcional ou econômico -
financeira. - Presunções arbitrárias, construídas a partir de juízos 
meramente conjecturais, porque formuladas à margem do sistema jurídico, 
não podem prevalecer sobre o princípio da liberdade, cuja precedência 
constitucional lhe confere posição eminente no domínio do processo penal. 
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO, NO CASO, DA NECESSIDADE 
CONCRETA DE MANTER-SE A PRISÃO EM FLAGRANTE DO 
PACIENTE . - Sem que se caracterize si tuação de real necessidade, não se 
legit ima a privação cautelar da liberdade individual do indiciado ou do 
réu. Ausentes razões de necessidade, revela -se incabível, ante a sua 
excepcionalidade, a decretação ou a subsistência da prisão cautelar. O 
POSTULADO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA 
IMPEDE QUE O ESTADO TRATE, COMO SE CULPADO FOSSE, 
AQUELE QUE AINDA NÃO SOFREU CONDENAÇÃO PENAL 
IRRECORRÍVEL. - A prerrogativa jurídica da liberdade - que possui 
extração constitucional (CF, art. 5º, LXI e LXV) - não pode ser ofendida 
por interpretações doutrinárias ou jurisprudenciais que, fundadas em 
preocupante discurso de conteúdo autoritário, culminam por consa grar, 
paradoxalmente, em detrimento de direitos e garantias fundamentais 
proclamados pela Constituição da República, a ideologia da lei e da 
ordem. - Mesmo que se trate de pessoa acusada da suposta prática de 
crime hediondo, e até que sobrevenha sentença p enal condenatória 
irrecorrível, não se revela possível - por efeito de insuperável vedação 
constitucional (CF, art. 5º, LVII) - presumir-lhe a culpabilidade. No 
sistema jurídico brasileiro, não se admite, por evidente incompatibilidade 
com o texto da Const ituição, presunção de culpa em sede processual penal. 
Inexiste, em consequência, no modelo que consagra o processo penal 
democrático, a possibilidade jurídico -constitucional de culpa por mera 
suspeita ou por simples presunção. - Ninguém pode ser tratado como 
culpado, qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe 
tenha sido atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão judicial 
condenatória transitada em julgado. O princípio constitucional da 
presunção de inocência, em nosso sistema ju rídico, consagra, além de 
outras relevantes consequências , uma regra de tratamento que impede o 
Poder Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao 
indiciado, ao denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem sido 
condenados, definitivamente, por sentença do Poder Judiciário. 
Precedentes. INADMISSIBILIDADE DO REFORÇO DE 
FUNDAMENTAÇÃO, PELAS INSTÂNCIAS SUPERIORES, DO 
DECRETO DE PRISÃO CAUTELAR . A legalidade da decisão que decreta 
a prisão cautelar ou que denega liberdade provisória deverá s er aferida 
em função dos fundamentos que lhe dão suporte, e não em face de eventual 
reforço advindo dos julgamentos emanados das instâncias judiciárias 
superiores. Precedentes. A motivação há de ser própria, inerente e 
contemporânea à decisão que decreta o ato excepcional de privação 
cautelar da liberdade, pois a ausência ou a deficiência de fundamentação 
não podem ser supridas "a posteriori". INOCORRÊNCIA DE 
PREJUDICIALIDADE DO "WRIT" EM FACE DA SUPERVENIÊNCIA 
DA DECISÃO DE PRONÚNCIA. - A superveniência da decisão de 
pronúncia faz instaurar, ordinariamente, situação de prejudicialidade da 
ação de "habeas corpus", exceto se se mostrarem destituídos de idoneidade 
jurídica os fundamentos - nela reiterados pelo magistrado pronunciante - 
em que se apoiou, em momento anterior, a decisão que decretou a prisão 
cautelar do paciente ou que lhe negou a concessão de liberdade provisória. 
HC 98862/SP, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, Supremo 
Tribunal Federal – acórdão publicado em 23/10/2009 .

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