Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 1 de 30 Unidade I – Fundamentos da Ergonomia UNIDADE I – Fundamentos da Ergonomia 1.1 – Introdução - Conceito, origem e evolução; 1.2 – Sistema homem-tarefa-máquina (SHTM); 1.3 – Postura e Movimentos; - biomecânica - antropometria - trabalho em pé, sentado e mudança de postura - levantar e transportar pesos - movimentos das mãos 1.4 – acessibilidade universal Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 2 de 30 1.1 – Introdução Conceito, origem e evolução Historicamente, a adaptação das condições do ambiente ou mesmo das ferramentas de trabalho às características humanas remonta aos primórdios da humanidade. O conceito básico da ergonomia surgiu junto com o homem primitivo, por meio da necessidade em se proteger e sobreviver, ele começou a adaptar o meio material de acordo com as suas necessidades, como na confecção de utensílios de barro para tirar água de lagos e cozinhar alimentos. O termo ergonomia remonta a 1857, pelo polonês W. Jastrzebowski, que publicou um artigo intitulado “Esboço da ergonomia ou ciência do trabalho baseada nas verdadeiras avaliações das ciências da natureza”. Quase cem anos mais tarde, em 1949, um psicólogo inglês chamado Muffel e outros pesquisadores (psicólogos, fisiologistas e engenheiros) formaram na Inglaterra a primeira sociedade nacional de ergonomia, a “Ergonomic Research Society”, para o estudo dos seres humanos no seu ambiente de trabalho. Durante a II Guerra Mundial, com a construção de aviões, tanques, submarinos, armas, sistemas de comunicação avançados e radares, tais equipamentos não estavam adaptados às características perceptivas daqueles que os operavam, que implicam nas quantidades de informações, complexidades e riscos nas decisões que envolvem possibilidade de erros fatais. “Progresso humano X Progresso tecnológico” As indústrias européias e estadunidense estavam buscando elevar a produção com notória escassez de trabalhadores qualificados e no limite de matéria-prima. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 3 de 30 Em 1911, Frederick Winslow Taylor, deu início o conceito do trabalho dividido, fracionando o trabalho onde alguns elaboravam e outros eram treinados para executar de forma continua apenas uma parte do processo, sendo o processo cronometrado e como forma de incentivo de produção criou a bonificação salarial. Ford (1914), através dos princípios da “linha de montagem” levou o trabalho simplificação e parcelamento extremos. O resultado foi a desqualificação do operário e a intensificação do trabalho. Em 1960 inicia-se a intervenção dos sindicatos para entender os problemas de saúde ligados às más condições de trabalho. Logo com o surgimento dos sistemas automáticos e informatizados, em 1990 aparece as LER/DORT no Brasil. Então, o que é ergonomia? ( ≠ ergonometria, ≠ ergologia) Alguns conceitos... Etimológico: estudo das leis do trabalho. (ergo = trabalho; nomos = normas, regras, leis.) Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 4 de 30 Muffel (1949): “é um conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessário para os engenheiros conceberem ferramentas, máquinas e conjuntos de trabalhos que possam ser utilizados com máximo conforto, segurança e eficiência. Singleton (1972): é a tecnologia do projeto do trabalho. Laville (1977): “é o conjunto de conhecimentos relativos ao comportamento do homem em atividade, a fim de aplica-los à concepção das tarefas, dos instrumentos, das máquinas e dos sistemas de produção.” Ergonomic Research Society-UK: é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente e a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução de problemas surgido desse relacionamento. Associação Brasileira de Ergonomia- ABERGO: estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de forma integrada e não dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas. International Ergonomics Association (IEA): conceituou a Ergonomia (ou human factors) como uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema. Iida (2005), Ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. O trabalho abrangendo não somente aqueles executados com máquinas e equipamentos, utilizados para transformar os materiais, mas também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva. Envolvendo não apenas o ambiente físico, mas também os aspectos organizacionais. Aurélio: sf. Ciência que visa a organização metódica do trabalho em função do fim proposto e das relações entre o homem e a máquina. Domínios da ergonomia Ergonomia física Refere-se as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação a atividade física. • Postura no trabalho; • Manuseio de materiais; • Movimentos repetitivos; • Distúrbios músculo- esquelético relacionados ao trabalho; • Projeto de posto de trabalho; • Segurança e saúde. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 5 de 30 Ergonomia organizacional Refere-se estruturas organizacionais, políticas e de processos: • Comunicações, projeto de trabalho; • Organização temporal do trabalho; • Trabalho em grupo; • Projeto participativo; • Novos paradigmas do trabalho; • Cultura organizacional; • Organizações em rede e gestão de qualidade. Ergonomia Cognitiva Refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme afetam interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. • Carga mental de trabalho; • Tomada de decisão; • Performance especializada; • Interação homem computador, stress e treinamento conforme estes se relacionam aos projetos envolvendo seres humanos e sistemas. Atuação da Ergonomia Medicina do trabalho: identificação dos postos de trabalham que apresentam maior índice de afastamento devido a patologia ocupacionais e causadores de acidentes; Engenhariade Projetos: produção de equipamentos adequados, rearranjo de layout; Engenharia de Produção: organização do trabalho, posto de trabalho sem sobrecargas; Engenharia de Segurança e manutenção: identificação de maquinário potencialmente perigosa e pontos a serem modificados. Psicólogo do trabalho: análise dos processos cognitivos, relacionamento humano, seleção e treinamento de pessoal, podem ajudar na implantação de novos métodos. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 6 de 30 Enfermeiros e fisioterapeutas: Podem contribuir na recuperação de trabalhadores com dores ou lesão. Tipos de Ergonomia Ergonomia de Concepção É a aplicação da Ergonomia no início de um projeto, seja ele produto, máquina, ambiente ou sistema. A Ergonomia de Concepção requer um elevado nível de conhecimento e experiência, pois as decisões de questões hipotéticas, porém é onde toda e qualquer situação pode ser minuciosamente avaliada sem restrição. Ergonomia de Correção A ergonomia de correção, é aplicada em situações reais, já existentes, para resolver problemas que refletem na segurança, fadiga excessiva, doença do trabalhador ou quantidade e qualidade da produção. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 7 de 30 Ergonomia de Conscientização A ergonomia de conscientização procura capacitar os próprios trabalhadores para a identificação e correção dos problemas do dia-a-dia ou aqueles emergenciais. 1.2 – Sistema homem-tarefa-máquina (SHTM) A concepção de Sistema Humano-Tarefa-Máquina (SHTM) é um dos conceitos básicos da ergonomia, focalizando a interação do ser humano com utensílios, equipamento, máquinas e ambientes. Quando a comunicação Humano-Tarefa-Máquina passou a privilegiar a cognição, em vez da percepção dos objetos físicos, os antigos modelos foram revistos e atualizados. A partir da evolução dos modelos de sistema Humano-Máquina-Tarefa, introduzem-se novos paradigmas, enfatizam-se as questões cognitivas (entender e compreender) e de convergência na comunicação e da primazia do humano. Assim, na nova modelagem da comunicação (interação) humano-tarefa-máquina, como forma de garantir as considerações envolvidas em todas as variáveis do sistema, permitindo que todos os aspectos da interação sejam considerados. Desta forma um “sistema” é definido como “Um conjunto de partes inter-relacionadas que trabalham na direção de um objetivo.” Logo para ergonomia é um conceito que focaliza a interação do ser humano com utensílios, equipamentos, máquinas e ambientes. Um sistema humano-máquina significa que o ser humano e a máquina mantêm uma relação recíproca. O ser humano; A máquina; A tarefa. Em quaisquer sistemas de equipamentos, utiliza-se ou envolvem-se pessoas, pois são sempre elaborados por com algum objetivo humano, pois: Existem para atender a determinada necessidade humana. São planejados e construídos por seres humanos. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 8 de 30 São manejados por humanos, supervisionando-os, alimentando-os, observando-lhes o funcionamento e cuidando de sua manutenção. Vias de informação e direções no SHMT Segundo Kroemer & Grandjean (2005), as vias de informação e suas direções são: O mostrador que veicula o progresso da produção; O operador percebe essa informação e precisa entende-la e acessa-la corretamente. Com base na sua interpretação e conhecimento prévio adquirido, o ser humano toma uma decisão. Em seguida é comunicar a sua decisão a máquina por meio de controles, sendo que os parâmetros podem ser mostrados por instrumentos. Representação esquemática, abaixo, do sistema humano-máquina, Kroemer & Grandjean (2005). Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 9 de 30 Representação esquemática do sistema humano-máquina, Itiro Iida (2005) adaptado. 1.3 – Postura e Movimentos 1.3.1 – Biomecânica Para realizar uma postura ou um movimento, são acionados diversos músculos, ligamentos e articulações do corpo. Os músculos fornecem a força necessária para o corpo adotar uma postura ou realizar um movimento. Os ligamentos desempenham uma função auxiliar, enquanto as articulações permitem um deslocamento de partes do corpo em relação às outras. Posturas e movimentos inadequados produzem tensões mecânicas nos músculos, ligamentos e articulações, resultando em dores no pescoço, costas, ombros, punhos e outras partes do sistema músculo-esquelético. (DUL e WEERDMEESTER, 2012). Segundo HALL (2013), o termo biomecânica combina o prefixo bio, que significa “vida”, com o campo da mecânica, que é o estudo da ação das forças. Biomecânicos utilizam as ferramentas da mecânica, o ramo da física que envolve a análise das ações das forças, para estudar aspectos anatômicos e funcionais dos organismos vivos. A Cinética é uma das subdivisão da mecânica, e também considerado como uma subdivisão da biomecânica, que estuda a força associada ao movimento, como a ação de puxar ou empurrar um corpo (objetos). A Cinesiologia, que estuda o movimento do corpo humano, tem como a biomecânica umas das suas subdisciplina. Alguns movimentos, além de produzirem tensões mecânicas nos músculos e articulações, apresentam um gasto energético que exige muito dos músculos, coração e pulmão. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 10 de 30 Segundo IIDA (2005), a biomecânica ocupacional faz parte da biomecânica geral, ocupa-se dos movimentos corporais e forças relacionadas ao trabalho, desta forma preocupa-se com as interações físicas do trabalhador, com o seu posto de trabalho, máquinas, ferramentas e materiais, visando reduzir os riscos de distúrbios músculo-esqueléticos. Analisa basicamente a questão das posturas corporais no trabalho, a aplicação de forças, bem como as suas consequências. Muitos produtos e postos de trabalhos inadequados provocam estresses musculares, dores e fadiga que, às vezes, podem ser resolvida com providencias simples como aumento ou redução da altura de mesa ou cadeira, melhoria do layout ou concessão de pausa no trabalho, conclui IIDA (2005). Durante a atividade laboral diária, o trabalhador assume diversas posições, posturas, diferentes e muitas vezes é involuntário. Isso deve-se a necessidade do corpo “procurar” uma postura confortável. O atual mercado de trabalho exige grande produtividade a um custo competitivo. Estas condições impõem, muitas vezes, ritmos intensos e jornadas prolongadas, sendo que frequentementeo trabalho é realizado em posturas e ambientes ergonomicamente inadequados, predispondo os trabalhadores a lesões. Os primeiros relatos de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho no Brasil ocorreram no século XVI (PEREIRA e LECH, 1997). A alta especialização das tarefas impostas aos trabalhadores após a revolução industrial gerou atividades monótonas, repetitivas e muitas vezes envolvendo um só segmento corporal. Este fato tornou mais comum o aparecimento de lesões do sistema músculo-esquelético relacionadas ao trabalho. O esforço físico é um comportamento funcional objetivando completar as tarefas da vida diária (higiene pessoal, deslocamentos, atividades sociais, etc) e as tarefas do trabalho. Portanto, o esforço físico é parte integral da vida. Ele tem a capacidade tanto de curar (cinesioterapia) quanto de causar lesões dependendo de suas características. Westgard e Winkel (1997) apud Edgar Ramos Vieira* M.Sc., e Shrawan Kumar Ph.D(2004), definiram esforço físico do trabalho como sendo as forças mecânicas geradas para realizar as tarefas ocupacionais, considerando sua intensidade, repetitividade, e duração. As características do esforço físico estão associadas às lesões do sistema músculo-esquelético relacionadas ao trabalho. Os fatores biomecânicos contributivos mais importantes na origem dessas lesões são a força, a repetitividade, a velocidade dos movimentos, e a duração da atividade. Desta forma, as posturas de trabalho desconfortáveis, limitadas, assimétricas, repetidas, e/ou prolongadas; os movimentos extremos e/ou repetitivos; e a utilização de força excessiva podem causar sobrecarga nos tecidos e exceder seus limites de estresse, causando lesões teciduais devido a esforços inadequados (the Overexertion Theory and the Differential Fatigue Theory – KUMAR, (2001) apud Edgar Ramos Vieira* M.Sc., e Shrawan Kumar Ph.D, 2004). Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 11 de 30 Abaixo está reproduzido parte do artigo “ESFORÇO FÍSICO OCUPACIONAL E SAÚDE MÚSCULO- ESQUELÉTICA” de Edgar Ramos Vieira* M.Sc., e Shrawan Kumar Ph.D., publicado no XIII Congresso Brasileiro de Ergonomia. “Cabeça e Pescoço Uma postura anteriorizada da cabeça pode ser uma adaptação resultante da exposição a tarefas ocupacionais exigindo essa postura e/ou pode ser uma consequência de hábitos adquiridos (DARNELL, 1983). A postura anteriorizada da cabeça pode estar relacionada à dor na articulação temporomandibular, no pescoço, e no tronco (ROCABADO e IGLARSH, 1991). De acordo com Chaffin (1973), o momento e a força muscular necessária para manter a postura da cabeça aumenta 50% quando o pescoço está em flexão de 30°. Além disso, a resistência (tempo que o indivíduo é capaz de manter a postura) é significantemente reduzida em flexão do pescoço 30°. Fadiga muscular localizada desenvolve-se com contração contínua e está associada à dor muscular local. Tronco As desordens relacionadas à coluna apresentam elevada incidência, e representam o maior custo dentre as lesões musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho. O estudo epidemiológico realizado por Kelsey e Hardy (1975) mostrou que a manutenção da postura sentada por períodos prolongados associada à vibração é um fator de risco para as lombalgias. Mais recentemente, a revisão sobre biomecânica e epidemiologia das posturas de trabalho realizada por Magnusson e Pope (1998) apresentou evidências de que as lombalgias podem ser causadas tanto pela postura sentada quanto pela postura em pé, caso estas posições sejam mantidas por períodos prolongados. O grau de compressão do disco intervertebral é menor em decúbito dorsal (deitado) e atinge o grau máximo na postura sentada com o tronco fletido. A compressão é intermediária e aumenta linearmente respectivamente nas posições em pé com o tronco na posição neutra, sentado com o tronco na posição neutra, e em pé com o tronco fletido (NACHEMSON, 1981). Flexão e rotação do tronco também estão associadas às lombalgias (FRYMOYER et al., 1980). Além desses fatores, o levantamento de cargas e a realização de movimentos forçados durante o trabalho também são relatados como sendo riscos para as lombalgias (PUNNETT et al., 1991). Além dos mecanismos de lesão comentados, as lombalgias também podem ocorrer como resultado da carga física ocupacional cumulativa. Indivíduos com lombalgia apresentaram maior carga cumulativa (forças compressivas e translacionais ao longo da vida de trabalho) do que indivíduos sem lombalgia (KUMAR, 1990). Portanto, os efeitos de posturas inadequadas no trabalho podem aparecer apenas tardiamente, quando os trabalhadores estão empregados a mais tempo. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 12 de 30 Ombros O estudo realizado por Bjelle, Hagberg and Michaelsson (1979) mostrou que aproximadamente 70% dos trabalhadores industriais com dor no ombro trabalhavam com as mãos na altura ou acima desta articulação. Finsen, Christensen e Bakke (1998) estudaram as posturas de trabalho e queixas musculoesqueléticas dentre dentistas. Os autores encontraram uma prevalência de dor no ombro de 88%, e associaram este alto valor com a grande abdução dos membros superiores observada nestes profissionais (abdução > 30° durante um terço do tempo de trabalho com pacientes). Mão e Punho Posturas articulares inadequadas (desvio ulnar, extensão do punho > 45°), força (pinça digital e pega), e repetitividade são riscos para o desenvolvimento de lesões músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho na mão e punho (SILVERSTEIN et al., 1986). Ciclos de trabalho com duração inferior a 30 segundos e realização de movimentos repetitivos durante um período maior do que 50% da jornada de trabalho também foram encontrados como estando relacionados com lesões músculo-esqueléticas na mão e punho (SILVERSTEIN, FINE e ARMSTRONG, 1986). Movimentos do punho altamente repetitivos durante o trabalho foram encontrados como estando diretamente associados com dor nessa região quando comparados com trabalho com baixa repetitividade. A revisão da literatura realizada por Buckle e Devereux (2002) mostrou fortes evidências de que a combinação de postura inadequada com repetição, força, e vibração é um risco para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho nos membros superiores. Membros Inferiores As lesões músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho nos membros inferiores são menos comuns do que na coluna, pescoço, e membros superiores (LI e BUCKLE, 1999). Contudo, a pressão na região dos músculos isquiotibiais e glúteos é aumentada na postura sentada sem um suporte para os pés. Esta compressão pode causar isquemia e acúmulo de metabólitos (MAGNUSSON e POPE, 1998). Além disto, trabalhar na postura ajoelhada por um período igual ou maior do que 15 minutos está associado com dor no joelho (NAHIT et al., 2001).” 1.3.2 - Antropometria Interface usuário-produto O corpo humano tem se transformado por milhares de anos. Durante este tempo ele ficou mais adaptado a certa situações. A caça e a procura por alimentos adaptaram segmentos corporais de forma a torná-los mais fortes. Habilidades práticas como a construção de abrigo e proteção exigiram um controle mais adequado das mãos.Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 13 de 30 No mundo tecnológico de hoje nós raramente realizamos tais atividades básicas. No entanto, as tarefas desenvolvidas dependem de atributos físicos que não mudaram significativamente nestes anos. Independente de estarmos executando atividades de trabalho ou lazer, é importante que os produtos, máquinas e equipamentos sejam projetados para adequar o tamanho, forma e habilidade das pessoas que os usam. É possível comprar produtos como óculos, roupas ou calçados de diversos tamanhos de forma a se adequar as dimensões dos usuários. Entretanto, a maior parte dos produtos, equipamentos e ambientes são projetados de forma a serem usados por um grande número de pessoas. Sendo assim, é vital que sejam entendidas as relações ou interfaces entre estes produtos, máquinas e equipamentos e aqueles que os usam. Antropometria O que é antropometria? “Antropometria é uma disciplina baseada na Antropologia Física, que estuda as dimensões dos segmentos corporais do ser humano.” O termo antropometria deriva do grego antropos, significando “humano” e metrikos, que significa “medida de”. Os dados antropométricos definem as medições de tamanho, peso e proporção do corpo humano aplicáveis a um correto dimensionamento de projeto de produtos, equipamentos e postos de trabalho. O uso correto das medidas antropométrica permite identificar o nível de adequação de produtos, instrumentos, equipamentos, máquinas e postos de trabalho aos usuários diretos, eventuais ou não, e aos indiretos [por exemplo, aqueles envolvidos na manutenção]. De acordo com Roebuck [1995] apud Soares (2013), a antropometria é um ramo da antropologia física. Foi concebida originalmente a cerca de 200 anos atrás com a intenção de distinguir raças e grupos étnicos, para identificar criminosos e auxiliar no diagnóstico médico. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 14 de 30 Durante a Segunda Guerra Mundial este tema sofreu um grande impulso devido a necessidade de se conciliar as dimensões humanas com a sofistica tecnologia bélica disponível. O enfoque vigente era a resolução de problemas de diversas complexidades que inclua controle de comandos, botões, painéis, mesas com instrumental de alta precisão, cockpits de aeronaves e fardamentos. Mais recentemente, a antropometria se tornou útil na adequação de ambientes industriais e é identificada com o desenvolvimento dos requisitos de design e avaliação de veículos modernos, locais de trabalho, equipamentos e peças do vestuário. Infelizmente as aplicações da antropometria no design de caráter social, como os espaços e mobiliários urbanos, sanitários públicos, mobiliário escolar, etc ainda deixam muito a desejar. As aplicações para a antropometria podem ser encontradas em quase todas as áreas do design. Observando-se os mobiliários, de cadeiras a armários, pode-se constatar que eles desempenharão melhor os seus propósitos se estiverem adequados aos requisitos dimensionais de seus usuários. Tanto os produtos de consumo, variando de equipamentos para cozinhar até computadores, quanto os produtos industriais serão usados de maneira mais fácil, eficiente e segura se os fatores antropométricos forem considerados no seu design. As dimensões humanas também são igualmente importantes no design de ambientes nos quais objetos, máquina e equipamentos são utilizados – de cozinha, escritório e chão da fábrica, até submarinos e veículos espaciais. Os dados fornecidos pela antropometria no projeto de produtos, máquina e equipamentos incluem as diversas variedades de tamanhos, proporções, mobilidade, força e outros fatores que definem fisicamente os seres humanos. Sendo assim, a antropometria auxilia, entre outros, na: • Conformação de pegas, botões e manípulos • Avaliação de posturas e distâncias para atingir controles • Especificação de espaços que separam o corpo do equipamento ao redor • Identificação de objetos ou elementos que obstruem o movimento. É importante considerar que a antropometria deve ser utilizada em conjunto com a biomecânica em diversas situações, como na análise de forças e torques durante a condução manual de materiais, adequação de operadores a veículos, conforto e desempenho humano em geral. Os seres humanos apresentam características físicas diversas dependente do país de origem, sexo, idade, classe social, raça e etnia, dieta e saúde, atividades físicas (esportes e exercícios), etc. Estudos estatísticos comprovam que, sob o ponto de vista da antropometria, as diferença mais importantes entre os grupos populacionais não são o tamanho dos membros em si, mas a proporção entre as diferentes partes do corpo. De acordo com Guimarães [2000], existem diferença raciais entre a proporção dos membros inferiores e o tronco: no caso dos americanos e a maioria dos europeus, o comprimento da perna é 48% da estatura. Já para os coreanos e japoneses, afirma a autora, o comprimento da perna é 46% da estatura. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 15 de 30 Comparando com os brancos, os negros americanos têm pernas mais longas em relação ao seu tronco. A figura abaixo apresenta as variações extremas do corpo humano de acordo com Diffrient et all. [1974]. Três aspectos fundamentais nas diferenças individuais estão relacionados a: • Influência do sexo • Influência da idade • Influência étnica. Influencia do sexo As diferenças biológicas entre os homens e as mulheres são bem conhecidas: dimensões antropométricas, forças musculares, capacidade cardio-vascular e o funcionamento do aparelho reprodutor feminino. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 16 de 30 Homens e mulheres apresentam diferenças antropométricas significativas, não apenas em dimensões absolutas, mas também nas proporções dos diversos segmentos corporais. As mulheres costumam ser cerca de 12 cm menores que os homens. Entretanto, se forem considerados os segmentos do corpo, nem sempre são menores que os homens na mesma proporção da estatura. Mesmo naqueles casos em que há predominância da mão-de-obra feminina, muitas vezes as máquinas, acessórios e postos de trabalho foram projetados para o uso dos homens. A falta de adaptação a esses equipamentos torna o trabalho mais difícil e mais fatigante para elas. As mulheres têm uma capacidade muscular de aproximadamente dois terços do homem e capacidade pulmonar 70% dos homens. O limite para carregamento manual de cargas para as mulheres deve ser fixado em 20 kg no máximo. A figura abaixo mostra a evolução da potência muscular máxima em homens e mulheres em função da idade. Influência da idade A estatura das pessoas começa a diminuir gradativamente depois dos 50 anos.Os homens perdem 3 cm até os 80 anos e as mulheres 2,5 cm. Há uma redução dos alcances e da flexibilidade, especialmente dos braços, requerendo especial atenção no uso de tabelas antropométricas aplicadas a população mais idosa. A força muscular começa a declinar significativamente após os 40 anos: A força máxima exercida pelo homem ocorre aos 25 anos (100%) e se reduz a 95% aos 40, 80% aos 50 e 50% aos 60 anos. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 17 de 30 Aos 50 anos, as mulheres conseguem exercer aproximadamente a metade da força dos homens de mesma idade. O declínio da força, tanto masculina, quanto feminina, não ocorre uniformemente: os braços e as mão são menos afetados pela idade que o tronco e pernas. Com a idade, os movimentos se tornam mais lentos. Os tempos de reação para uma pessoa de 60 anos são 20% menores do que os de um jovem de 20 anos. Isto tende a se acentuar em tarefas mais complexas que exijam a capacidade de discriminação entre vários estímulos diferentes. A visão vai perdendo gradativamente a sua eficiência a partir dos 20 anos com um decréscimo da acuidade visual, capacidade de acomodação, adaptação ao escuro e visão de cores. A perda da audição ocorre sobretudo em sons agudos acima de 1000 hertz. Há pouca redução da memória de curta duração, mas a informação passa a ser retida por menos tempo e as informações armazenadas temporariamente são facilmente perturbadas. Influencia étnica Diversos estudos antropométricos realizados durante várias décadas comprovaram a influência da etnia nas medidas antropométricas. O menor homem é o pigmeu da África Central com a estatura média de 143,8cm. O mais alto encontra-se na região sul do Sudão com a média de 182,9 cm. As variações do corpo ocorrem em função de adaptações climáticas [Roberts, 1975]. Sendo assim, os povos de clima quente tendem a ter o tronco fino e membros superiores e inferiores mais longos facilitando a troca de calor com o ambiente, enquanto que os de clima mais frio têm tronco volumoso e arredondado e membros inferiores e superiores mais curtos para facilitar a conservação de calor. Há uma forte correlação de carga genética com as proporções corporais, mas não com as dimensões do corpo em si. As medidas antropométricas de um povo podem modificarem-se com a época pois as alterações alimentares, saúde, a prática de esportes, melhoria da qualidade de vida, podem fazer a pessoa crescer. De acordo com Iida [1992], um estudo realizado com filhos de imigrantes japoneses nos Estados Unidos constatou um crescimento médio de 11 cm a mais em estatura, em relação a geração Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 18 de 30 de seus pais. No entanto, as proporções corporais não se modificaram. Este crescimento é mais pronunciado quando povos sub-alimentados passam a consumir maior quantidade de proteínas. Antropometria Estática e Dinâmica Os designers usam tanto as informações da antropometria dinâmica quanto a estática na melhoria das interfaces usuários-produtos, máquinas e equipamentos. Por exemplo, no design de uma estação para uso com o computador deve-se considerar medidas estáticas como a altura entre a superfície de assento e o computador, o alcance entre o usuário e o teclado, os movimentos da cabeça e do corpo requeridos para ler e escrever, etc. No design de uma cozinha haverá a necessidade de se considerar uma série de atividades dinâmicas como as que permitem que o usuário se incline para baixo ou para cima para alcançar os armários, se inclina sobre a bancada e a pia, e se mantenha de pé enquanto prepara a comida. Em ambos os casos os designers necessitam estabelecer o quanto as pessoas podem se mover e inclinar de forma confortável. Isto significa que os designers precisam estabelecer o envoltório de alcance das pessoas para as quais se está projetando. De maneira geral, a única forma de se definir este envoltório é através do uso de manequins antropométricos em escala e a construção de mock- ups de teste. Antropometria estática Compreende as dimensões físicas do corpo humano parado ou com poucos movimentos. Lida com as dimensões estruturais do corpo, tomadas com os sujeitos em posições fixas e estandardizadas: alturas, larguras, comprimentos e perímetros. A antropometria estática deve ser aplicada ao projeto de objetos sem partes móveis ou com pouca mobilidade, como no caso do mobiliário em geral. No Brasil, ainda não existem medidas antropométricas normalizadas da população. Foram realizados apenas levantamentos parciais como o conduzido pelo Instituto Nacional de Tecnologia – INT junto a população masculina da indústria de transformação do Rio de Janeiro [INT, 1988] e o realizado por Iida e Wierbicki [1973] com homens e mulheres de uma empresa eletrônica. Pode-se utilizar, no dimensionamento de um posto de trabalho ou produto, dados antropométricos da literatura estrangeira, obedecendo a uma certa cautela. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 19 de 30 Antropometria dinâmica A antropometria dinâmica mede os alcances dos movimentos. Embora os movimentos de cada parte do corpo são medidos mantendo-se o resto do corpo estático, observa-se que, na prática, cada parte do corpo não se move isoladamente, mas há uma conjugação de diversos movimentos para se realizar uma função. O alcance das mãos, por exemplo, não é apenas limitado pelo comprimento dos braços. Ele envolve também o movimento dos ombros, rotação do tronco, inclinação das costas e o tipo de função que será exercido pelas mãos. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 20 de 30 A figura abaixo apresenta os planos para registro dos movimentos corporais. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 21 de 30 Uso da antropometria dinâmica nos espaços de trabalho O design de espaços de trabalho inclui o que se denomina como envelope de alcance (incluindo aqui os alcances manuais e visuais). Trata-se de um espaço tri-dimensional aonde tipicamente o operador manuseia produtos, controles e monitora visualmente mostradores e monitores. Os limites dos alcances são definidos pelo alcance das mãos e olhos, a limitação biológica de alcance (limitada pela capacidade de alcance dos braços e mãos) e a natureza da tarefa a ser desempenhada. Exemplo de zonas de alcances preferenciais e máximos para a posição sentada. A fisiologia usa alguns termos próprios para designaros movimentos musculares: Movimentos dos membros que tendem a se afastar do corpo ou de suas posições normais de descanso chamam-se abdução e o movimento oposto adução. O movimento dos braços acima da horizontal é elevação, para a frente é flexão e inverso, trazendo o braço para perto do tronco, é extensão. No movimento de rotação da mão chama-se pronação quando o polegar gira para dentro do corpo e supinação quando gira para fora. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 22 de 30 1.3.3-Trabalho em pé, sentado e mudança de postura 1.3.3.1 – Postura A postura é frequentemente, determinada pela natureza da tarefa ou do posto de trabalho. As posturas prolongadas podem prejudicar os músculos e as articulações. (DUL e WEERDMEESTER, 2004) A postura mais adequada ao trabalhador é aquela que ele escolhe livremente e que pode ser variada ao longo do tempo. A concepção dos postos de trabalho ou da tarefa deve favorecer a variação de postura, principalmente a alternância entre a postura sentada e em pé. O tempo de manutenção de uma postura deve ser o mais breve possível, pois seus efeitos nocivos ou não, serão função do tempo durante o qual ela será mantida. Segundo Mairiaux (1992) a apreciação do tempo de manutenção de uma postura deve levar em conta, por um lado, o tempo unitário de manutenção (sem possibilidade de modificações posturais) e, por outro, o tempo total de manutenção registrado durante a jornada de trabalho. Todo esforço de manutenção postural leva a uma tensão muscular estática (isométrica) que pode ser nociva à saúde. Os efeitos fisiológicos dos esforços estáticos estão ligados à compressão dos vasos sanguíneos. O sangue deixa de fluir e o músculo não recebe oxigênio nem nutrientes, os resíduos metabólicos não são retirados, acumulando-se e provocando dor e fadiga muscular. Manutenções estáticas prolongadas podem também induzir ao desgaste das articulações, discos intervertebrais e tendões. A postura de trabalho adotada é função da atividade desenvolvida, das exigências da tarefa (visuais, emprego de forças, precisão dos movimentos etc.), dos espaços de trabalho, da ligação do trabalhador com máquinas e equipamentos de trabalho como, por exemplo, o acionamento de comandos. As amplitudes de movimentos dos seguimentos corporais como os braços e a cabeça, assim como as exigências da tarefa em termos visuais, de peso ou esforços, influenciam na posição do tronco e no esforço postural, tanto no trabalho sentado como no trabalho em pé. 1.3.3.2 – Posição em Pé De maneira geral, na concepção dos postos de trabalho não se leva em consideração o conforto do trabalhador na escolha da postura de trabalho, mas sim as necessidades da produção. A escolha da postura em pé, muitas vezes, tem sido justificada por considerar que, nesta posição, as curvaturas da coluna estejam em alinhamento correto e que, desta forma, as pressões sobre o disco intervertebral são menores que na posição sentada. Segundo vários autores (Oliver e Middledith, 1998, apud Adams e Hutton, 1980) os músculos que sustentam o tronco contra a força gravitacional, embora vigorosos, não são muito adequados para manter a postura em pé. Eles são mais eficazes na produção dos movimentos necessários às principais Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 23 de 30 mudanças de postura. Por mais econômica que possa ser em termos de energia muscular, a posição em pé ideal não é usualmente mantida por longos períodos, pois as pessoas tendem a utilizar alternadamente a perna direita e esquerda como apoio, para provavelmente facilitar a circulação sanguínea ou reduzir as compressões sobre as articulações. A manutenção da postura em pé imóvel tem ainda as seguintes desvantagens: tendência à acumulação do sangue nas pernas o que predispõe ao aparecimento de insuficiência valvular venosa nos membros inferiores, resultando em varizes e sensação de peso nas pernas; sensações dolorosas nas superfícies de contato articulares que suportam o peso do corpo (pés, joelhos, quadris); A tensão muscular permanentemente desenvolvida para manter o equilíbrio dificulta a execução de tarefas de precisão; A penosidade da posição em pé pode ser reforçada se o trabalhador tiver ainda que mantiver posturas inadequadas dos braços (acima do ombro, por exemplo), inclinação ou torção de tronco etc; A tensão muscular desenvolvida em permanência para manutenção do equilíbrio traz mais dificuldades para a execução de trabalhos de precisão. A escolha da postura em pé só está justificada nas seguintes condições: - a tarefa exige deslocamentos contínuos como no caso de carteiros e pessoas que fazem rondas; - a tarefa exige manipulação de cargas com peso igual ou superior a 4,5Kg; - a tarefa exige alcances amplos freqüentes, para cima, para frente ou para baixo; no entanto, deve- se tentar reduzir a amplitude destes alcances para que se possa trabalhar sentado; - a tarefa exige operações freqüentes em vários locais de trabalho, fisicamente separados; - a tarefa exige a aplicação de forças para baixo, como em empacotamento. Fora destas situações, não se deve aceitar, em hipótese alguma, o trabalho contínuo em pé. Muitos profissionais, no afã de resolver as dificuldades dos empregadores, têm emitido opiniões favoráveis ao trabalho em pé apenas para evitar que o plano de trabalho seja adaptado, o que acarretaria certo custo monetário. Ora, os custos destas pequenas adaptações são mínimos se comparados à fadiga e a penosidade das tarefas que vão ser executadas em pé durante todo o dia e por vários anos. Na maioria das vezes nem é o gasto econômico que está na origem da dificuldade. Muitos empregadores têm a falsa impressão de que o trabalho sentado induz à indolência. Evidentemente, trata se de uma falácia. 1.3.3.3 – Posição Sentada A postura sentada faz parte do cotidiano das pessoas, mas deve ser analisada as vantagens e desvantagens causadas ao profissional que trabalha sentado por um longo período nesta postura. As vantagens da posição sentada são: baixa solicitação da musculatura dos membros inferiores, reduzindo, assim, a sensação de desconforto e cansaço; possibilidade de evitar posições forçadas do corpo; menor consumo de energia do corpo; facilitação da circulação sanguínea pelos Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 24 de 30 membros inferiores. As desvantagens segundo o autor são: pequena atividade física geral (sedentarismo); adoção de posturas desfavoráveis: lordose ou cifoses excessivas; estase sanguínea nos membros inferiores, situação agravada quando há compressão da face posterior das coxas ou da panturrilha contra a cadeira, se esta estiver mal posicionada. (SALIBA, 2004) A posição sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre para manter esta posição. Praticamente todo o peso do corpo é suportado pela pele que cobre o osso ísquio nas nádegas. O consumo de energia é de 3 a 10% maior em relação a posição horizontal. A postura ligeiramente inclinada para frenteé mais natural e menos fatigante do que a ereta. O assento deve permitir mudanças frequentes de posturas para retardar o aparecimento da fadiga. (IIDA, 2005) COURY (1995) afirma que a sobrecarga imposta pela postura sentada vai sendo sentida gradualmente por todas as partes do nosso corpo; começam a surgir dores, formigamento, sensação de peso nas costas, pescoço, pernas, braços e mãos. O esforço postural (estático) e as solicitações sobre as articulações são mais limitadas na postura sentada que na em pé. A postura sentada permite melhor controle dos movimentos pelo que o esforço de equilíbrio é reduzido. É, sem sombra de dúvidas, a melhor postura para trabalhos que exijam precisão. Em determinadas atividades ocupacionais (escritórios, trabalhos com computadores, administrativos etc.) a tendência é de permanecer sentado por longos períodos. De maneira geral, os problemas lombares advindos da postura sentada são justificados pelo fato de a compressão dos discos intervertebrais serem maior na posição sentada que na posição em pé. No entanto, tais problemas não são apenas decorrentes das cargas que atuam sobre a coluna vertebral, mas principalmente da manutenção da postura estática. A imobilidade postural constitui um fator desfavorável para a nutrição do disco intervertebral que é dependente do movimento e da variação da postura. A incidência de dores lombares é menor quando a posição sentada é alternada com a em pé, e menor ainda quando se podem movimentar os demais segmentos corporais como em pequenos deslocamentos. A postura de trabalho sentado, se bem concebida (com apoios e inclinações adequadas), pode até apresentar pressões intradiscais inferiores à posição em pé imóvel, desde que o esforço postural estático e as solicitações articulares sejam reduzidos ao mínimo. Trabalhar sentado permite maior controle dos movimentos porque o esforço para manter o equilíbrio postural é reduzido. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 25 de 30 As vantagens da posição sentada são: Baixa solicitação da musculatura dos membros inferiores, reduzindo assim a sensação de desconforto e cansaço; possibilidade de evitar posições forçadas do corpo; menor consumo de energia; facilitação da circulação sanguínea pelos membros inferiores. As desvantagens são: Pequena atividade física geral (sedentarismo); adoção de posturas desfavoráveis: lordose ou cifoses excessivas; estase sangüínea nos membros inferiores, situação agravada quando há compressão da face posterior das coxas ou da panturrilha contra a cadeira, se esta estiver mal posicionada. Conforto de trabalho na posição sentado e na posição em pé O conforto do trabalho sentado ou do trabalho em pé é função: - Do tempo de manutenção da postura (evitar esforços estáticos); - Da adaptação às exigências visuais: a localização das fontes de informações visuais vai determinar o posicionamento da cabeça que pode, por sua vez, influenciar a postura do tronco, levando o trabalhador a adotar posturas inadequadas prolongadas ou repetitivas da nuca em flexão, extensão e torção extrema ou de inclinação/torção do tronco. Exemplo comum: colocar monitores de vídeo lateralmente e/ou muito baixo ou muito alto; - Dos espaços para pernas e pés: a falta de espaço suficiente para pernas e pés induz o trabalhador a adotar posturas tais como: inclinação e torção do tronco, pernas muito flexionadas, aumento do braço de alavanca; - Da altura do plano de trabalho: a altura do plano de trabalho é um elemento importante para o conforto postural. Se o plano de trabalho é muito alto, o trabalhador deverá elevar os ombros e os braços durante toda a jornada. Se for muito baixo, ele trabalhará com as costas inclinadas para frente. Esta observação é válida tanto para trabalho sentado como para o trabalho em pé. O ponto de referência utilizado para determinar a altura confortável de trabalho é a altura dos cotovelos em relação ao piso, mas a natureza da tarefa tem que ser levada em consideração. No planejamento / adaptação do posto de trabalho sentado deve-se sempre levar em consideração duas medidas principais: a altura da cadeira e a altura do plano de trabalho. Considerando que as dimensões corporais são muito diversas (inter e intra-individuais), no mínimo uma destas alturas tem que ser regulável, para facilitar a adaptação do posto à maioria dos trabalhadores; - Das características da cadeira: o assento de trabalho ideal deve ser determinado em função da atividade desenvolvida, das condições ambientais de trabalho e principalmente da opinião dos usuários. 1.4 – acessibilidade universal Entende-se acessibilidade universal ou integral como o direito de ir e vir de todos os cidadãos, inclusive daquelas pessoas com deficiências permanentes ou ocasionais, quer seja cadeirantes, Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 26 de 30 deficientes visuais ou auditivos, gestantes ou idosos, e de transitar e acessar todos os espaços da cidade, prédios públicos e institucionais, de usar transporte e equipamentos públicos, como telefones, sanitários, rede bancária, etc. Acessibilidade é “possibilidade e condição dealcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos” (ABNT, 2004).¹ ¹Rosa Maria Locatelli Kalil ; Luiz Roberto Medeiros Gosch; Adriana Gelpi(Univ. Passo Fundo/RS) A norma brasileira que trata de acessibilidade é a NBR 9050/2004 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Dentre outros objetivos , visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos. Assim temos duas definições: acessibilidade: Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos. desenho universal: Aquele que visa atender à maior gama de variações possíveis das características antropométricas e sensoriais da população. Temos compilado abaixo o item 6.9-Circulação interna, como exemplo de estudo desta norma. 6.9 Circulação interna 6.9.1 Corredores 6.9.1.1 Os corredores devem ser dimensionados de acordo com o fluxo de pessoas, assegurando uma faixa livre de barreiras ou obstáculos, conforme 6.10.8. As larguras mínimas para corredores em edificações e equipamentos urbanos são: a) 0,90 m para corredores de uso comum com extensão até 4,00 m; b) 1,20 m para corredores de uso comum com extensão até 10,00 m; e 1,50 m para corredores com extensão superior a 10,00 m; c) 1,50 m para corredores de uso público; d) maior que 1,50 m para grandes fluxos de pessoas, conforme aplicação da fórmula apresentada em 6.10.8. 6.9.1.2 Em edificações e equipamentos urbanos existentes onde a adequação dos corredores seja impraticável, devem ser implantados bolsões de retorno com dimensões que permitam a manobra completa de uma cadeira de rodas (180°), sendo no mínimo um bolsão a cada 15,00 m. Neste caso, a largura mínima de corredor em rota acessíveldeve ser de 0,90 m. 6.9.1.3 Para transposição de obstáculos, objetos e elementos com no máximo 0,40 m de extensão, a largura mínima do corredor deve ser de 0,80 m, conforme 4.3.2. Acima de 0,40 m de extensão, a largura mínima deve ser de 0,90 m. 6.9.2 Portas As figuras 92 e 93 exemplificam espaços necessários junto às portas, para sua transposição por P.C.R. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 27 de 30 Figura 92 — Aproximação de porta frontal – Exemplo Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 28 de 30 Figura 93 — Aproximação de porta lateral – Exemplos 6.9.2.1 As portas, inclusive de elevadores, devem ter um vão livre mínimo de 0,80 m e altura mínima de 2,10 m. Em portas de duas ou mais folhas, pelo menos uma delas deve ter o vão livre de 0,80 m. 6.9.2.2 O mecanismo de acionamento das portas deve requerer força humana direta igual ou inferior a 36 N. 6.9.2.3 As portas devem ter condições de serem abertas com um único movimento e suas maçanetas devem ser do tipo alavanca, instaladas a uma altura entre 0,90 m e 1,10 m. Quando localizadas em rotas acessíveis, recomenda-se que as portas tenham na sua parte inferior, inclusive no batente, revestimento resistente a impactos provocados por bengalas, muletas e cadeiras de rodas, até a altura de 0,40 m a partir do piso, conforme figura 94. 6.9.2.4 As portas de sanitários, vestiários e quartos acessíveis em locais de hospedagem e de saúde devem ter um puxador horizontal, conforme a figura 94, associado à maçaneta. Deve estar localizado a uma distância de 10 cm da face onde se encontra a dobradiça e com comprimento igual à metade da largura da porta. Em reformas sua utilização é recomendada quando não houver o espaço exigido nas figuras 92 e 93. Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 29 de 30 Vista frontal Vista superior Figura 94 — Portas com revestimento e puxador horizontal – Exemplo 6.9.2.5 As portas do tipo vaivém devem ter visor com largura mínima de 0,20 m, tendo sua face inferior situada entre 0,40 m e 0,90 m do piso, e a face superior no mínimo a 1,50 m do piso. O visor deve estar localizado entre o eixo vertical central da porta e o lado oposto às dobradiças da porta, conforme figura 95. Figura 95 — Porta do tipo vaivém – Exemplo Faculdade 7 de Setembro – FA7 Engenharia de Produção Ergonomia e Qualidade de Vida no Trabalho | 80 h/a | 5º sem Unidade I – Fundamentos da Ergonomia Profº Flávio Souza - Fortaleza-Ce 30 de 30 6.9.2.6 Quando as portas forem providas de dispositivos de acionamento pelo usuário, estes devem estar instalados à altura entre 0,90 m e 1,10 m do piso acabado. Quando instalados no sentido de varredura da porta, os dispositivos devem distar entre 0,80 m e 1,00 m da área de abertura. 6.9.2.7 Quando as portas forem acionadas por sensores ópticos, estes devem estar ajustados para detectar pessoas de baixa estatura, crianças e usuários de cadeiras de rodas. Deve também ser previsto dispositivo de segurança que impeça o fechamento da porta sobre a pessoa. 6.9.2.8 Em portas de correr, recomenda-se a instalação de trilhos na sua parte superior. Os trilhos ou as guias inferiores devem estar nivelados com a superfície do piso, e eventuais frestas resultantes da guia inferior devem ter largura de no máximo 15 mm. 6.9.2.9 O vão livre de 0,80 m, previsto em 0, deve ser garantido também no caso de portas de correr e sanfonadas, onde as maçanetas impedem seu recolhimento total, conforme figura 96. a) Porta de correr – Vista superior b) Porta sanfonada – Vista superior Figura 96 — Vãos de portas de correr e sanfonadas 6.9.2.10 Quando instaladas em locais de prática de esportes, as portas devem ter vão livre mínimo de 1,00 m. 6.9.3 Janelas 6.9.3.1 A altura das janelas deve considerar os limites de alcance visual conforme 4.8, exceto em locais onde deva prevalecer a segurança e a privacidade. 6.9.3.2 Cada folha ou módulo de janela deve poder ser operado com um único movimento, utilizando apenas uma das mãos. Os comandos devem atender ao disposto em 4.6.
Compartilhar