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Plantas Psicoativas 2

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Ricardo LIns

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Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Sumário 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS CALMANTES .................................................. 9 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS ESTIMULANTES ........................................... 11 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS ALUCINÓGENAS .......................................... 14 
MARACUJÁ (Passiflora sp) ........................................................................................... 19 
MELISSA (Melissa officinalis) ....................................................................................... 28 
VALERIANA (Valeriana officinalis) ................................................................................ 38 
PLANTAS ESTIMULANTES ............................................................................................ 46 
CAFÉ (Coffea arabica) .................................................................................................. 46 
ERVA-MATE (Ilex paraguariensis) ................................................................................ 55 
GUARANÁ (Paullinia cupana) ...................................................................................... 64 
MACONHA (Cannabis sp) ............................................................................................ 72 
AYAHUASCA ................................................................................................................ 93 
REFERÊNCIA .............................................................................................................. 105 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS PSICOATIVAS 
 
Alguma discussão pode surgir a respeito da expressão utilizada, “plantas 
psicoativas”, em função de existir muita polêmica a respeito do assunto. Da mesma 
forma, algumas pessoas podem se sentir um tanto desconfortáveis com a expressão, 
uma vez que o senso comum considera, à primeira vista, as plantas psicoativas como 
sendo drogas de abuso e, portanto, combatidas pela legislação que regulamenta o uso 
de entorpecentes, o classificando como crime. Essa polêmica a respeito do termo surge 
em função de várias terminologias serem utilizadas em diferentes situações, sem uma 
análise criteriosa. Portanto, são consideradas as definições da Organização Mundial de 
Saúde (OMS), de forma a esclarecer - a conotação pretendida com o uso do termo 
“plantas psicoativas”. 
De acordo com a OMS, uma “droga psicoativa” possui como característica a 
capacidade de alterar o comportamento e os processos cognitivos; esses efeitos sobre 
o comportamento e a cognição são causados, portanto, por meio de alterações do 
funcionamento normal do sistema nervoso central. Já a definição de “droga 
psicotrópica”, ainda segundo a OMS, considera basicamente o mesmo conceito 
empregado para droga psicoativa; no entanto, inclui um elemento importante: drogas 
psicotrópicas, além de agirem sobre o comportamento e sobre os processos cognitivos, 
possuem também uma importante propriedade reforçadora, ou seja, elas causam 
efeitos que reforçam a continuidade do uso, o que pode levar a pessoa ao vício em 
função do uso repetido. 
Portanto, plantas psicoativas são aquelas espécies vegetais que, de alguma 
forma, interferem em processos relacionados à atividade mental, ao comportamento 
(como o controle das emoções ou a regulação do sono, por exemplo), ao humor e a 
processos cognitivos, como aprendizagem e memória. Muitas discussões têm sido 
conduzidas a respeito da terminologia mais adequada, discussões essas que se tornam 
acaloradas e muitas vezes não produtivas. Optou-se por utilizar a expressão “planta 
psicoativa”, com o sentido mencionado na primeira definição da OMS, apresentado no 
início deste tópico. Com o objetivo de evidenciar seus efeitos sobre o funcionamento 
ordinário da mente, do comportamento e de processos cognitivos, bem como de 
compreender os mecanismos pelos quais produz tais efeitos. 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Essas plantas, que de alguma forma alteram o funcionamento da mente, 
fascinam os seres humanos desde os primórdios da história. Na grande maioria das 
culturas, em muitos pontos diferentes do globo, chegam mesmo a ser consideradas de 
um ponto de vista místico, com significado impregnado de crenças e superstições, 
dotadas de uma conotação mágica e muitas vezes utilizadas em rituais religiosos. Pode-
se até mesmo falar, sem correr o risco de cair em exageros, que muitas sociedades 
consideradas tradicionais tiveram sua estrutura sócio-cultural construída e fortalecida 
sobre relações surgidas e/ou moldadas em torno do uso de determinadas espécies 
vegetais dotadas de propriedades psicoativas. É o que pode ser observado quando se 
toma como exemplo a relação existente entre os povos dos altiplanos andinos e a coca, 
ou entre os índios norte-americanos (com sua Igreja Nativa Americana) e o peiote, entre 
tantos outros exemplos. Nessas sociedades, a organização social pode ter sido 
influenciada pelo conhecimento que determinados indivíduos possuem sobre as 
plantas, em especial sobre as plantas psicoativas. Muitos são os nomes que esses 
indivíduos podem ter; seja considerado (a) um (a) curandeiro (a), um (a) erveiro (a), um 
(a) pajé ou um (a) xamã, entre outros nomes. É incontestável seu profundo e vasto 
conhecimento a respeito do uso e das condições associadas ao uso dessas plantas, 
podendo mesmo ser considerados como verdadeiros “bancos de dados” tradicionais do 
conhecimento associado a plantas. Como ocorre com outras categorias de plantas, o 
conhecimento sobre as espécies vegetais psicoativas foi sendo transmitido ao longo das 
gerações diretamente de um indivíduo a outro, principalmente por uma tradição oral de 
transmissão. 
Uma vez que a transmissão oral do conhecimento não deixa registros, muito 
pode ter sido perdido a respeito do conhecimento sobre inúmeras espécies vegetais 
psicoativas, bem como muito ainda pode vir a se perder. Considerando o acelerado 
processo de modernização em que se encontra um grande número de comunidades no 
mundo todo. Agricultores e caçador-coletores de algumas sociedades possuíam, e ainda 
possuem um papel importante no conhecimento dessas espécies vegetais; no entanto, 
o bruto do conhecimento sobre as plantas psicoativas, na maioria das vezes, está em 
indivíduos que dominam a arte da cura, do contato com o sagrado, que são considerados 
sábios e detentores de dons especiais. Como afirma o professor Luiz Claudio Di Stasi, 
importante pesquisador brasileiro na área do estudo das plantas medicinais utilizadas 
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por comunidades tradicionais, o conhecimento das virtudes de espécies vegetais pode 
realmente ser considerado como a arte dos benzedores, dos curandeiros e dos Xamãs. 
A qual, por sua vez, foi herdada dos magos e feiticeiros do passado. Tal afirmação se 
torna ainda mais precisa quando se trata de plantas dotadas de propriedades 
psicoativas. 
 Há quem se arrisque a afirmar que o uso de plantas psicoativas data de épocas 
específicas, remetendo ao antigo uso desses recursos vegetais. No entanto, a 
ancestralidade do uso dessas plantas é tão remota que torna qualquer estimativa 
aleatória e nos faz crer que seu uso, na verdade, tenha acompanhado toda a história 
humana. Achados arqueológicos sugerem que muitas espécies psicoativas já tenham 
sido empregadas pelos homens, e seus ancestrais, em tempos pré-históricos, e com uma 
distribuição geográfica de uso muito ampla. Outras evidências históricas, além dede seus principais constituintes), além de 
compostos terpenóides como o ácido carnósico, o ácido ursólico e o ácido oleanólico, e 
do fenilpropanóide ácido caféico. Muitos estudos, inclusive, já foram realizados 
especificamente com alguns desses compostos de forma isolada, com a finalidade de se 
investigar suas propriedades biológicas. Assim, por exemplo, já foi comprovada a ação 
do citral como um composto com propriedade anticolinesterásica fraca, bem como os 
efeitos antioxidantes, antiamiloidogênicos e antiapoptóticos de compostos fenólicos 
como o ácido rosmarínico. 
Embora os mecanismos de ação central da melissa ainda não estejam totalmente 
esclarecidos, sugere-se que os compostos ativos dos extratos de suas folhas estejam 
dentre os mencionados acima. Esses componentes podem ser os responsáveis inclusive, 
pelos efeitos observados in vitro, os quais demonstram potente atividade antioxidante 
e afinidade de ligação tanto com receptores muscarínicos quanto com receptores 
nicotínicos de tecido cortical do cérebro humano. Este mecanismo de ação, relacionado 
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à função da acetilcolina cerebral, tem sido o mais frequentemente estudado quando se 
trata de Melissa officinalis, e facilmente se compreende o motivo: uma das doenças 
neurológicas mais conhecidas e frequentes atualmente, a Doença de Alzheimer, parece 
envolver particularmente mecanismos cerebrais que envolvem a função colinérgica. 
A Doença de Alzheimer, também conhecida por Mal de Alzheimer, ocorre com 
relativa frequência em pessoas idosas e acredita-se que seja o resultado do mau 
funcionamento de diferentes vias bioquímicas. Existem diferentes hipóteses para a 
causa deste distúrbio, embora a mais discutida atualmente seja a “hipótese colinérgica”. 
A acetilcolina é um neurotransmissor sintetizado a partir de dois precursores, a acetil 
coenzima A e a colina. Para que esses dois precursores possam dar origem à acetilcolina, 
é necessária a presença de uma enzima que facilita esse processo e que é chamada de 
acetiltransferase. Após realizar suas funções neurobiológicas, e para que não se acumule 
em excesso nas sinapses, a acetilcolina precisa ser degradada. E isso ocorre com a 
participação de uma segunda enzima, de ação oposta à primeira, e denominada 
acetilcolinesterase que age, por sua vez, quebrando a acetilcolina novamente em seus 
precursores (acetil coenzima A e colina). Portanto, quando a enzima acetilcolinesterase 
age de forma intensa, muita acetilcolina é degradada, diminuindo a função colinérgica 
cerebral. De forma contrária, quando algum composto inibe a ação da 
acetilcolinesterase, impedindo assim a destruição da acetilcolina, esse 
neurotransmissor se acumula no sistema nervoso central, aumentando a atividade 
colinérgica cerebral. 
A hipótese colinérgica da Doença de Alzheimer considera que tal distúrbio seja 
resultante de uma diminuição da quantidade disponível de acetilcolina em 
determinadas regiões cerebrais. Os principais medicamentos atualmente disponíveis 
para o tratamento do Alzheimer agem contrabalançando essa falta de acetilcolina, ou 
seja, aumentam o nível colinérgico no cérebro. E fazem isso justamente inibindo a ação 
da acetilcolinesterase, aquela enzima que degrada a acetilcolina e, por isso, são 
denominadas de drogas inibidoras da acetilcolinesterase. No entanto, e infelizmente, 
algumas das drogas aprovadas com tal finalidade terapêutica apresentam algum nível 
de hepatotoxicidade e, em função disso, tem-se dado maior importância e relevância à 
busca de novos compostos com ação semelhante e menor ocorrência de efeitos 
secundários indesejados. E, nesse aspecto, as plantas utilizadas tradicionalmente 
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ocupam novamente lugar de destaque. Não é de surpreender, portanto, o fato de que 
um dos principais anticolinesterásicos atualmente empregados no tratamento do 
Alzheimer tenha sido descoberto justamente a partir de uma planta. Trata-se do 
alcaloide galantamina, isolado de várias espécies vegetais pertencentes à família 
botânica Amaryllidaceae, principalmente da espécie Galanthus nivalis. 
Além da hipótese colinérgica, existe também uma hipótese complementar muito 
aceita atualmente na tentativa de se explicar as causas da Doença de Alzheimer, 
hipótese essa que tem associado o distúrbio a um processo inflamatório. Peptídeos do 
tipo β-amilóide existentes em placas senis encontradas em cérebros de pacientes com 
Alzheimer têm sido associadas a processos inflamatórios nos quais espécies reativas de 
oxigênio são liberadas. Essas espécies reativas de oxigênio, conhecidas vulgarmente 
como radicais livres, podem causar danos a componentes celulares, além de atuarem 
como um segundo mensageiro em processos de inflamação. Assim, compostos 
antioxidantes, que atuariam capturando esses radicais livres, também podem ser 
considerados muito úteis no tratamento do Alzheimer, principalmente em seu 
componente mnemônico, ou seja, relativo à memória. 
Nesse sentido, existe um grande número de pesquisas sobre os efeitos biológicos 
de plantas tradicionalmente utilizadas em infusões ou em remédios caseiros para 
melhorar a memória. Esses estudos podem ser in vitro ou in vivo e envolvem, 
frequentemente, ensaios para verificar a atividade anticolinesterásica ou a atividade 
antioxidante dos extratos vegetais. Tais investigações são realizadas com a finalidade de 
encontrar novas moléculas ou grupo de moléculas que possam ser utilizadas 
terapeuticamente sem a toxicidade observada com os compostos quimicamente 
sintetizados. Para tal finalidade, portanto, a melhor estratégia de escolha para 
investigação do potencial terapêutico de espécies vegetais seria testar justamente 
aquelas indicadas pela população como capazes de melhorar a memória. E a espécie 
Melissa officinalis parece ser a espécie de escolha com relação a essa atividade, em 
função de ser indicada para melhorar a memória há centenas de anos. E muitos 
trabalhos já podem ser encontrados facilmente na literatura científica, atestando 
justamente sua propriedade anticolinesterásica, como um antioxidante natural e com 
propriedades antiamiloidogênicas. 
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Um relativo número de estudos realizados nesta década tem demonstrado a 
existência de um efeito benéfico do tratamento com o extrato de Melissa officinalis, 
indicando principalmente melhoria da função cognitiva e redução da agitação em 
pacientes com Doença de Alzheimer, em estágio leve a moderado. Um estudo recente, 
de 2006, mostra que essa planta é realmente capaz de modular o humor e a 
performance cognitiva, quando administrada a voluntários jovens e saudáveis. Além 
disso, um teste padronizado e controlado por placebo avaliou a eficácia e segurança de 
Melissa officinalis em 42 pacientes com Alzheimer, em estágio leve a moderado. Os 
indivíduos foram tratados durante 4 meses. Os resultados revelaram que os pacientes 
que receberam o extrato de melissa experimentaram melhora significativa na cognição 
após 16 semanas de tratamento. Os pesquisadores deste estudo não observaram 
diferenças significativas na frequência de efeitos colaterais entre o grupo que recebeu 
placebo e o grupo que recebeu o extrato de melissa. No entanto, a frequência de 
agitação foi maior no grupo que recebeu placebo, comparado ao qual recebeu o 
tratamento ativo, mostrando uma vantagem associada ao uso de melissa em quadros 
de Alzheimer, consistente com o uso tradicional que se faz dessa planta no tratamento 
da ansiedade. 
Outras investigações, também recentes, têm mostrado que tanto o extrato 
etanólico quanto a planta seca de Melissa officinalis possuem a propriedade de se ligar 
a receptores colinérgicos em testes in vitro, além de melhorar o desempenho damemória e aumentar a sensação de tranquilidade em 20 voluntários sadios, com uma 
dose de 1600 mg de extrato seco das folhas encapsulado. Os autores deste trabalho, 
também realizado em 2006, afirmam que o óleo volátil de Melissa officinalis inibiu a 
enzima acetilcolinesterase de maneira dose-dependente. E 65% dessa inibição foi obtida 
com uma quantidade de óleo essencial equivalente a 1013 mg da planta, o que é 
considerada uma quantidade relativamente pequena. Nesse trabalho, a melissa 
também apresentou uma forte atividade antioxidante, representada pela capacidade de 
capturar radicais livres presentes em uma solução. 
A melissa também é frequentemente empregada na terapêutica farmacológica 
em combinação com outras plantas. Como exemplo, pode-se citar a lista de drogas 
catalogadas pela indústria farmacêutica da Alemanha, a qual inclui 49 produtos 
contendo, em sua composição, Melissa officinalis. A planta que mais frequentemente 
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aparece em combinação com a melissa é a valeriana, Valeriana officinalis, e essa 
combinação tem apresentado efeitos positivos sobre a qualidade do sono, de forma 
similar à dose de 0,125 mg do medicamento sintético triazolam. Outros estudos também 
atestam a grande validade da combinação melissa-valeriana no tratamento de 
distúrbios do sono, como um realizado em 1999 em que foram observadas melhorias 
significativas na qualidade do sono durante o tratamento de 30 dias com 600 mg diárias 
da combinação dos extratos de melissa e valeriana. Estudos adicionais sugerem efeitos 
específicos da Melissa officinalis, quando empregada sozinha, como sedativo, anti-
agitação e calmante. Dentre tais estudos, inclui-se um realizado com animais 
experimentais em que foi observada redução da movimentação espontânea após 
administração tanto do óleo volátil de melissa quando dos terpenos isolados do seu 
extrato, além de reduções na atividade comportamental exploratória em situações 
aversivas, promovida pela administração do extrato hidroalcoólico de melissa. Neste 
último estudo, realizado em 1991, também foi observado um aumento nos parâmetros 
de sono induzido por pentobarbital, indicando efeitos hipnóticos significativos do 
extrato de melissa. 
O óleo volátil da melissa também tem sido frequentemente empregado em 
práticas de aromaterapia e, em função desta prática, diversas investigações têm sido 
conduzidas com o objetivo de verificar a validade ou não deste uso para fins 
tranquilizantes ou calmantes. Assim, um estudo clínico realizado em 2002 examinou os 
efeitos do óleo volátil de Melissa officinalis, empregado em aromaterapia, sobre 
parâmetros de agitação e qualidade de vida em 71 pacientes, os quais sofriam de algum 
tipo de demência grave. Os resultados deste trabalho mostraram que, após 4 semanas 
de tratamento, os pacientes tratados com o óleo volátil da melissa mostraram-se menos 
agitados, mais sociáveis e mais engajados em atividades construtivas do que aqueles 
que receberam placebo. 
Alguns resultados também indicam a ação da Melissa officinalis como um 
modulador do humor. Um trabalho realizado em 2003 afirma que a ingestão de doses 
únicas de melissa foi capaz tanto de modular o humor quanto de melhorar o 
desempenho cognitivo, em voluntários jovens saudáveis, de maneira dosedependente, 
e relaciona tais efeitos também à atividade sobre a neurotransmissão colinérgica. 
 
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VALERIANA (Valeriana officinalis) 
 
 
 
Canteiro de cultivo de Valeriana officinalis 
 
 
Nome científico 
 
Valeriana é o nome popular que recebem as espécies do gênero Valeriana, tais 
como Valeriana wallichii, Valeriana fauriei e Valeriana angustifolia. O gênero contém 
mais de 250 espécies atualmente descritas e pertence à família Valerianaceae. Na 
dependência do tipo de condições onde pode ser cultivada, cada espécie é mais utilizada 
em uma região geográfica. Assim, Valeriana wallichii é a espécie mais frequentemente 
utilizada na Índia e Valeriana angustifolia na China. No entanto, a mais conhecida em 
diferentes partes do mundo por suas atividades calmantes, sedativas e tranquilizantes 
é, sem dúvida, a espécie Valeriana officinalis. A qual será considerada neste item e que 
consta como a espécie oficial utilizada na Europa e nos Estados Unidos, estando 
presente nas farmacopeias de diversos outros países. 
 
Nomes populares 
 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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A Valeriana officinalis não apresenta grande diversidade de nomes populares, 
quando comparada às outras espécies vegetais apresentadas. Dentre alguns dos nomes 
pelos quais a planta também pode ser conhecida, pode-se mencionar: 
- heliotrópio-de-jardim; 
- amantilla (em países de língua espanhola); 
- erva-de-gato. 
 
Informações botânicas 
 
A Valeriana officinalis é uma planta perene, herbácea, com pequenas e 
numerosas flores de coloração rósea (brancas mais raramente), que florescem após o 
segundo ano de idade e no período de primavera e verão. Geralmente apresenta cerca 
de 1 metro de altura, podendo alcançar no máximo 2 metros. Possui um caule resistente 
a intempéries e reto, dificilmente quebrável. Suas folhas são do tipo compostas e 
presentes em grande número. Desenvolve-se em lugares temperados, de onde são 
originárias, frescos, com solo profundo e pouco úmido (dificilmente se desenvolvem em 
solos com tendência à retenção de água). Seus frutos são pequenos e apresentam 
somente uma semente. A propagação desta planta se dá por meio do rizoma, que é 
também a parte empregada para uso medicinal e que costuma ser coletada para tal 
finalidade por volta do mês de outubro, em função da concentração de princípios ativos. 
 
 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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 Detalhe da planta de Valeriana officinalis 
 
Histórico 
 
Acredita-se que a planta tenha recebido o nome “valeriana” como uma 
derivação do termo em latim “valere”, que significa bem-estar, felicidade, força e vigor, 
fazendo referência à finalidade do uso da planta. A espécie foi descrita por Dioscórides 
como um sedativo moderado. 
Seu uso contra estados de angústia, nervosismo, insônia, irritação e outras 
condições associadas já é relatado há mais de 2000 anos, uma vez que já era 
recomendada também por Galeno, para o tratamento de tais condições. 
A valeriana está presente em muitas lendas medievais, frequentemente 
associada a contextos místicos, ou fazendo referência às suas propriedades sedativas. 
Na Idade Média, acreditava-se que a realização de um ritual, realizado no último dia de 
lua cheia e logo após o pôr-do-sol, e o qual consistia em colher a planta e, segurando-a 
nas mãos, proferir um texto mágico, protegeria a pessoa contra qualquer tipo de mal 
físico, assegurando saúde até a próxima lua cheia. A espécie também é mencionada em 
muitos rituais medievais de expulsão de demônios, pois se acreditava que o mau odor 
de suas raízes teria a propriedade de limpar o espírito de indivíduos agitados, histéricos 
e que estivessem sob jugo de entidades malévolas. 
Tão interessante quanto, é um relato que associa a valeriana ao episódio do 
Flautista de Hamelin. O episódio, ocorrido em 1284, tornou-se folclórico após ser escrito 
pelos Irmãos Grimm e conta como um flautista conseguiu livrar uma cidade alemã, 
Hamelin, da infestação de ratos. Alguns relatos folclóricos alemães dizem que, além de 
tocar sua flauta mágica, o flautista levava em seus bolsos muitas raízes de valeriana. O 
mau cheiro liberado por elas teria sido capaz de atrair os ratos, os quais, sedados pela 
planta, acabaram afogados no mar. Embora seja um relato pitoresco e folclórico, é 
interessante notar como o efeito tranquilizante da espécie já fazia parte do imaginárioe do cotidiano em tempos remotos. 
 
Usos populares e efeitos popularmente relatados 
 
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De forma inquestionável, os principais usos populares da espécie dizem respeito 
às suas propriedades sobre o sistema nervoso central, embora efeitos sobre outros 
sistemas orgânicos também sejam frequentemente mencionados. Assim, a espécie é 
popularmente indicada para promover o sono, combater a ansiedade e a insônia, para 
tratar episódios convulsivos, como sedativo, contra a irritabilidade nervosa, a fadiga e o 
estresse emocional, todas essas indicações em função de seus efeitos relaxantes e 
tranquilizantes. Além dos efeitos centrais, também é indicada para tratar distúrbios 
gastrointestinais, tais como espasmos e dispepsias, para tratar a hipertensão, angina, 
palpitações, asma brônquica, e cólicas menstruais. 
 
Dados químicos e farmacológicos 
 
Planta tradicionalmente utilizada principalmente contra a insônia, mas também 
como um tranquilizante moderado, a Valeriana officinalis é, atualmente, uma das 
espécies vegetais mais utilizadas medicinalmente em todo o mundo. O rizoma e as raízes 
secas desta planta têm recebido reputação considerável como um tranquilizante e para 
promover o sono por mais de 1 milênio, e esse conhecimento milenar foi intensamente 
incorporado também pela medicina atual. Estima-se que, só na Alemanha, existam mais 
de 400 produtos contendo valeriana em sua composição. Além disso, quase todos os 
fitoterápicos voltados ao tratamento de distúrbios do sono também contêm, em sua 
composição, extratos de valeriana. Atualmente, seu uso vem aumentando ainda mais 
em substituição a outras espécies vegetais, as quais são utilizadas para a mesma 
finalidade. Como exemplo, pode-se citar o caso da espécie Kava Kava (Piper 
methysticum), também tradicionalmente utilizada como hipnótico, ansiolítico, sedativo 
e tranquilizante. Recentemente, relatos de toxicidade hepática causados por extratos 
de Kava, a qual possui efeitos farmacológicos muito semelhantes aos da valeriana, 
fizeram com que órgãos fiscalizadores recomendassem a retirada de produtos à base de 
seus extratos do mercado. Dessa forma, produtos contendo extratos de valeriana 
passaram a substituir, no gosto popular, aqueles que apresentavam algum tipo de 
toxicidade. 
Durante as décadas de 80 e 90, com o aumento do uso de medicamentos 
benzodiazepínicos, a utilização da valeriana para tratar distúrbios do sono ou ansiedade 
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diminuiu consideravelmente. Os benzodiazepínicos (tais como o diazepam, alprazolam, 
midazolam, mais conhecidos pelos nomes-fantasias Valium®, Frontal® e Dormonid®, 
respectivamente, entre outros compostos) são os medicamentos de escolha, na clínica, 
para promover o sono e tratar distúrbios de ansiedade; no entanto, são drogas que 
podem causar um grande número de efeitos secundários indesejados, tais como baixa 
tolerância, dependência, insônia paradoxal, amnésia e relaxamento muscular. Em 
função disso, os últimos anos vêm presenciando novamente o aumento do uso de 
compostos de origem vegetal para tratar a insônia, a ansiedade e demais sintomas 
associados ao estresse e, nesse contexto, a valeriana ocupa lugar de destaque. 
Inúmeros estudos vêm sendo realizados para comprovar a eficácia clínica da 
valeriana e, a despeito do grande número de trabalhos presentes na literatura, ainda é 
objeto de estudo de um considerável número de pesquisas voltadas a estabelecer a base 
química e farmacológica de sua atividade psicobiológica. 
A parte da planta empregada medicinalmente são as raízes e os rizomas, as quais 
contêm do ponto de vista químico, dois principais grupos de compostos: os 
sesquiterpenos do óleo volátil e os valepotriatos. Entre os sesquiterpenos encontrados 
no óleo volátil, óleo esse dotado de um odor desagradável, estão presentes a 
valeranona, o ácido valerênico, o ácido acetoxivalerênico, o valeranal e outros 
monoterpenos e sesquiterpenos. Os três últimos compostos mencionados (ácido 
valerênico, acetoxivalerênico e valeranal) só ocorrem na espécie Valeriana officinalis, o 
que permite distingui-la de outras espécies do gênero, podendo ser utilizado para sua 
correta identificação. O segundo grupo de compostos são os valepotriatos, 
principalmente diidrovaltrato, acevaltrato, isovaleroxi-hidroxivaltrato, valtrato e 
isovaltrato, sendo que os dois últimos representam 90% do conteúdo de valepotriatos. 
Por conterem uma determinada parte química comum, também podem ser chamados 
de compostos iridóides. Esses valepotriatos são compostos químicos muito instáveis, 
ou seja, degradam-se com facilidade, ocorrendo somente enquanto o material ainda 
está fresco ou quando o extrato é seco em temperaturas abaixo de 40o C. Se a planta 
não for seca e armazenada de forma adequada, ocorre a degradação dos valepotriatos, 
que é o que confere o cheiro desagradável característico pelo qual o extrato de valeriana 
é conhecido. 
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Além dos sesquiterpenos do óleo volátil e dos valepotriatos, outros constituintes 
como flavonóides, triterpenos, lignanas e alcaloides também podem estar presentes nos 
extratos de valeriana. Muitas pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de 
determinar qual desses compostos é o responsável por sua ação sobre o sistema 
nervoso central, o que tem gerado certa polêmica. Durante muitos anos, seu efeito 
calmante foi atribuído ao óleo volátil, em função do fato de que esse tipo de atividade 
era associado a plantas as quais continham óleos com odores desagradáveis. No 
entanto, a partir do final da década de 60, com o isolamento dos valepotriatos, esses 
compostos passaram a ser vistos como os responsáveis pela propriedade calmante da 
valeriana. Até a década de 90, realmente acreditava-se que eram apenas os 
valepotriatos que exerciam atividade sobre o sistema nervoso central, a despeito de 
serem compostos instáveis e que estão presentes apenas em quantidades pequenas na 
maioria das preparações. Polêmicas à parte, uma coisa tem se tornado mais clara à 
medida que avançam as pesquisas sobre a valeriana: é muito provável que sua ação não 
seja devida a um ou dois compostos determinados ou classes de compostos e, sim, a 
uma ação sinérgica entre todos – ou a maioria – de seus compostos os quais, juntos, 
eliciariam a atividade depressora do sistema nervoso central. 
Os efeitos depressores da valeriana sobre o sistema nervoso central já foram 
demonstrados tanto em animais de laboratório quanto na clínica médica e, atualmente, 
parece haver certo nível de consenso com relação à sua ação: a maioria dos estudos 
científicos afirma, com base em seus resultados, que os compostos presentes na 
valeriana agem sobre a via de neurotransmissão GABAérgica, ou seja, atuam 
interferindo na quantidade do neurotransmissor GABA (ácido gamaaminobutírico) que 
é liberado nas fendas sinápticas. O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do 
sistema nervoso central, modulando diversos sistemas funcionais. É justamente sobre o 
GABA, aumentando sua atividade, que agem os medicamentos benzodiazepínicos, 
utilizados na clínica para tratar a insônia e os sintomas da ansiedade, como já 
mencionado anteriormente. 
Sugere-se que diferentes constituintes de valeriana interajam com o sistema 
GABAérgico no cérebro: já foi relatada a inibição da GABA-transaminase (enzima que faz 
a degradação do GABA), a interação com receptores GABA/benzodiazepínicos 
e a interferência na recaptação e liberação do GABA nas fendas sinápticas, ecanismos 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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os quais poderiam explicar, pelo menos em parte, os efeitos hipnóticos, sedativo e 
ansiolítico da valeriana. 
Existem muitos dadosexperimentais comprovando a ação hipnótica da 
valeriana, tanto em animais experimentais quanto em humanos. Em animais, o extrato 
etanólico das raízes de valeriana é capaz tanto de diminuir a latência para o início do 
sono induzido por pentobarbital, como de prolongar o tempo de sono. Isto quer dizer 
que animais tratados com o extrato de valeriana dormem mais rapidamente e durante 
um tempo maior. Além disso, animais sob o efeito da valeriana apresentam diminuição 
da locomoção espontânea, o que é um indicativo de sua atividade sedativa. Esses 
resultados fazem com que a valeriana seja, realmente, considerada útil como 
medicamento, não somente por apresentar propriedades de um hipnótico moderado, 
como também por produzir efeitos de melhoria da qualidade do sono 
Estudos sobre os efeitos da valeriana em seres humanos indicam que seus 
extratos são capazes de aumentar o sono de ondas lentas – característico do sono 
profundo –, de melhorar a qualidade do sono e de diminuir a latência para início do 
sono, fazendo com que os indivíduos durmam mais rapidamente. 
Alguns grupos de pesquisadores afirmam a existência do próprio 
neurotransmissor GABA nos extratos de valeriana. Caso isso seja realmente 
comprovado, ainda assim não é suficiente para explicar totalmente os efeitos da planta. 
Isso porque o GABA, quando administrado sistemicamente, não atravessa facilmente a 
barreira hemato-encefálica, ou seja, não chega facilmente às estruturas cerebrais. 
Embora não expliquem totalmente os efeitos da valeriana, outros estudos têm 
demonstrado a ação de seus compostos isolados sobre a neurotransmissão GABAérgica. 
Como exemplo, podem-se citar estudos afirmando que o ácido valerênico é capaz de 
inibir a degradação do GABA, contribuindo para o aumento da quantidade desse 
neurotransmissor na fenda sináptica. Em animais de laboratório, o ácido valerênico têm 
apresentado efeitos sedativos e anticonvulsivantes, muito provavelmente em função de 
uma ação direta sobre neurônios GABAérgicos, incluindo aumento da liberação de 
GABA, diminuição da recaptação ou diminuição da degradação do mesmo. 
Estudos com humanos reproduzem os resultados obtidos em animais de 
laboratório. Em voluntários saudáveis, por exemplo, doses entre 400 e 900 mg do 
extrato de valeriana mostraram-se capazes de diminuir a latência de sono e de melhorar 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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a qualidade do mesmo, diminuindo o número de vezes em que o indivíduo acorda ao 
longo de uma noite. No entanto, é importante ressaltar que, na maioria dos indivíduos, 
esse efeito sobre o sono não é observado rapidamente. Em alguns casos, os efeitos 
benéficos da valeriana somente são observados após cerca de duas semanas de 
tratamento contínuo, ou seja, os efeitos podem não aparecer de forma aguda. 
Com relação aos efeitos adversos que a valeriana pode produzir, a literatura 
científica afirma que raramente ocorrem. Quando ocorrem, podem se manifestar na 
forma de alterações do funcionamento gastrointestinal, por alergia de contato, dores 
de cabeça, sono agitado paradoxal (que é quando ocorre o efeito oposto ao esperado, 
ou seja, o indivíduo apresenta ainda mais insônia) e midríase (dilatação pupilar). A título 
de exemplo, pode-se citar um estudo sobre os efeitos do tratamento com o extrato de 
valeriana, durante 14 dias, em 16 pacientes. Apenas dois efeitos adversos foram 
relatados: dor de cabeça e efeitos gastrointestinais. Já outro estudo, esse com 102 
indivíduos, no qual foi avaliado o tempo de reação, o grau de alerta e a concentração 
dessas pessoas após o uso do extrato das raízes de valeriana, na dose de 600 mg, não 
foram observados efeitos secundários indesejados. 
Atualmente, não se conhece muito bem seus efeitos durante a gestação e a 
lactação, o que recomenda cautela no uso nessas condições. Ainda com relação aos 
cuidados recomendados, muitos artigos científicos afirmam que os compostos bioativos 
presentes na valeriana são capazes de potencializar os efeitos de drogas barbitúricas, de 
benzodiazepínicos ou de outros hipno-sedativos. Isso levanta a questão do cuidado que 
devem ter pacientes que fazem tratamento utilizando a valeriana, uma vez que seus 
efeitos sedativos podem potencializar os efeitos de outros compostos. 
Neste ponto, é relevante enfatizar que o objetivo não é, de forma alguma, 
recomendar ou estimular o uso de determinadas espécies vegetais, pelo contrário. Seu 
único objetivo é apresentar, de forma sintética, o que se encontra disponível atualmente 
na literatura científica a respeito dos mecanismos de ação farmacológica de diferentes 
espécies utilizadas tradicionalmente por diferentes comunidades. Caso haja interesse 
no uso medicinal de tais espécies, faz-se absolutamente necessária a recomendação e 
orientação médica adequada, lembrando que a automedicação faz um grande número 
de vítimas anualmente, o que é válido não somente no caso de medicamentos sintéticos 
como também no caso de medicamentos de origem vegetal. 
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PLANTAS ESTIMULANTES 
 
CAFÉ (Coffea arabica) 
 
 
Planta de Coffea arabica 
 
 
Nome científico 
 
O café como conhecido tradicionalmente é, na verdade, a semente de uma 
espécie vegetal chamada popularmente de cafeeiro. Pertencente à família botânica 
Rubiaceae, seu nome científico é Coffea arabica. No entanto, existem aproximadamente 
100 outras espécies do gênero Coffea, entre as quais se incluem a Coffea canephora 
(que, junto com a Coffea arabica, responde por mais de 70% do café cultivado para fins 
comerciais) e a Coffea liberica, cultivada em pequena escala para os mesmos fins. 
 
Nomes populares 
 
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A espécie Coffea arabica não possui grande variedade de nomes populares, 
sendo conhecida quase unanimemente, pelo menos em território brasileiro, pelo nome 
de café. A etnobotânica, subdivisão da etnobiologia, que estuda as diferentes interações 
existentes entre as plantas e o homem em comunidades consideradas tradicionais, 
afirma que a existência de poucos nomes populares para designar uma mesma espécie 
vegetal indica uma maior concordância com relação ao uso popular que é feito de tal 
planta. Em outras palavras, significa dizer que quando uma espécie vegetal é conhecida, 
em diferentes regiões geográficas, por um mesmo nome, o uso que se faz dessa planta 
também tende a ser o mesmo nessas regiões. E é exatamente o caso do café, o qual é 
utilizado para preparar a bebida consumida em função de suas propriedades aromáticas 
e estimulantes, em diferentes regiões do mundo. Ainda assim, no território brasileiro, a 
planta em si pode ser chamada tanto de café quanto de cafeeiro (ou até de “cafezeiro”, 
em algumas regiões), embora o termo “café” tenha sido inicialmente cunhado para 
designar a bebida preparada com as sementes torradas do cafeeiro. 
 
Informações botânicas 
 
O cafeeiro é uma planta arbustiva, raramente atingindo mais de 4 metros de 
altura. Possui folhas opostas, com ondulações nas bordas e flores brancas distribuídas 
ao longo dos ramos. Suas folhas possuem coloração entre verde e cinza, as quais se 
tornam mais verdejantes conforme ficam mais maduras. Seus frutos são ovalados, com 
cores diferentes conforme o estágio de desenvolvimento da planta: frutos verdes em 
estágio inicial de desenvolvimento, vermelhos em estágio médio e pretos quando em 
desenvolvimento avançado. As sementes, parte utilizada tradicionalmente, são envoltas 
por uma polpa adocicada e de aroma agradável. É uma espécie com preferência de 
cultivo em regiões de clima ameno, solos férteis e sem acúmulo de água, 
desenvolvendo-se melhor em lugares sombreados. Parece se desenvolver melhor em 
lugares em que a temperatura média esteja entre 18 e 22°C eque, mais importante, não 
apresentem picos de baixas temperaturas, pois é uma espécie pouco tolerante ao frio. 
Geralmente, não se desenvolvem bem em regiões abaixo de 500 m de altitude, pelo 
menos no que diz respeito à espécie Coffea arabica. 
 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Frutos maduros de Coffea arabica 
 
Histórico 
 
A história do cafeeiro remete à província de Kaffa, nome antigo para a região que 
hoje é conhecida como Etiópia. Embora não existam evidências concretas que 
comprovem exatamente quando a planta passou a ser utilizada no preparo dessa bebida 
estimulante, feita com suas sementes, existem diversas lendas a respeito do início de 
sua utilização para tal finalidade. A mais conhecida dessas lendas conta que, há cerca de 
1000 anos, um pastor de cabras de nome Kaldi observou que seus animais ficavam 
sempre mais agitados depois de mastigar e ingerir pequenos frutos vermelhos de uma 
planta muito comum naquela região. Como Kaldi não tinha tempo para se dedicar à 
leitura do Alcorão durante o dia, pois cuidava de suas cabras o dia todo, pensava em 
alguma maneira de conseguir ficar acordado durante a noite para que pudesse lê-lo. 
Assim, passou a observar ainda mais o comportamento das cabras e notou que, após 
ingerir aquelas sementes, os animais conseguiam caminhar durante muito tempo com 
maior facilidade e disposição. Tendo isso em mente, Kaldi resolveu mastigar algumas 
daquelas sementes e notou, para sua felicidade, que seu cansaço havia diminuído, 
sendo substituído por uma sensação de disposição, conseguindo ficar acordado por mais 
tempo, para que pudesse ler o Alcorão. Em suas andanças conduzindo as cabras, 
comentou o ocorrido com um religioso daquela região e lhe ofereceu algumas daquelas 
sementes, que passara a carregar consigo. O religioso, por sua vez, curioso sobre os 
efeitos relatados, resolveu experimentá-las também. Porém, em função de não apreciar 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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o gosto amargo que elas liberavam após a mastigação, decidiu fazer uma infusão com 
aquelas sementes e bebê-la. Após a sua ingestão, percebeu que conseguia ficar 
acordado durante muito tempo, tempo esse que destinava a realizar suas orações. 
Embora essa seja apenas uma lenda, existem realmente indícios de que o café não só 
tenha sido originado como bebida na antiga região de Kaffa, como também que tenha 
sido cultivado em monastérios por volta da mesma época mencionada pela lenda. Já 
com relação à sua comercialização, os primeiros registros indicam que a mesma tenha 
ocorrido após o século XV, onde hoje está localizado o Iêmen. Documentos históricos 
afirmam que as primeiras casas de comercialização do café, já na forma de bebida, 
foram abertas em Meca, de onde se espalharam pelo mundo árabe. Essas casas de café, 
na época, eram lugares finamente decorados, onde negociantes tratavam de seus 
negócios enquanto ocorriam apresentações de dança e música. Posteriormente, 
passaram a ser combatidas em função de terem se tornado centros de discussão e de 
atividade política, embora tenham retornado após algum tempo. O cultivo do café, bem 
como seu preparo, era tratado com muito sigilo e envolto por segredos por parte dos 
árabes, os quais sequer permitiam que estrangeiros visitassem suas plantações. Mesmo 
assim, as sementes chegaram até as colônias alemãs da época, situadas em Java e na 
Índia, e foram os alemães os responsáveis por fazer a bebida chegar à Europa, de onde 
se difundiu para outras regiões do mundo conforme foram ocorrendo colonizações. 
 
 
Semente de café após a torrefação 
 
Dados químicos e farmacológicos 
 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Como o próprio nome indica, a cafeína (1,3,7-trimetilxantina) é o principal 
constituinte químico da bebida preparada à base das sementes de Coffea arabica. É 
sintetizada não somente nesse gênero, como em grande número de espécies vegetais 
(Paullinia cupana, o guaraná, e Ilex paraguariensis, a erva-mate). Portanto, muito do 
mecanismo de ação aqui mencionado também é aplicado a essas espécies, em virtude 
de também apresentarem a cafeína em sua composição. A cafeína é um alcaloide 
amplamente difundido pelo reino vegetal, tanto em plantas superiores como em plantas 
mais simples, como é o caso da monocotiledônea Scilla maritima, conhecida 
popularmente como cebola-do-mar. No entanto, a quantidade de cafeína presente 
entre as espécies varia enormemente. Com relação especificamente ao gênero Coffea, 
a quantidade de cafeína presente nas sementes pode variar entre 0,4 e 2,4% do seu 
peso seco. Embora existam outros componentes presentes em sua constituição química, 
a cafeína é a principal responsável por seus efeitos estimulantes e, em função dos 
inúmeros estudos disponíveis na literatura que afirmam esse fato, este item é voltado 
para a discussão da ação desta metilxantina sobre o sistema nervoso central. 
A cafeína é a substância psicoativa mais consumida no mundo. Os Estados Unidos 
registram um consumo médio de 200 mg/dia por pessoa, o que equivale a 2 ou 3 xícaras 
de café por dia. Além disso, o que contribui para que seja o psicoativo mais consumido 
em todo o mundo. É o fato de que também faz parte da composição de um grande 
número de bebidas, tais como os refrigerantes à base de cola, que também contêm 
quantidades apreciáveis de cafeína e que são consumidos em larga escala não somente 
por adultos, mas também por crianças. 
Os efeitos estimulantes da cafeína relacionam-se à diminuição da fadiga, 
melhoria da concentração e da atenção, à estimulação física, à inibição do sono 
decorrente do cansaço, entre outros efeitos oriundos de sua ação estimulante sobre o 
sistema nervoso central. Estudos clínicos indicam que a cafeína é eficaz em reduzir o 
tempo de reação a estímulos, além de melhorar a capacidade cognitiva em testes de 
laboratório. É importante mencionar, no entanto, que tais efeitos são dose-
dependentes e que, após um limite máximo de consumo, o qual fica por volta de 300 
mg, os efeitos benéficos são sobrepujados por reações indesejadas, tais como tremores, 
insônia de longo prazo, desconfortos gastrointestinais, entre outros sintomas. 
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A cafeína não só é ingerida por meio do café, como também é sintetizada 
quimicamente para utilização terapêutica. Muitos medicamentos utilizados para o 
tratamento de condições dolorosas apresentam cafeína em sua composição, em função 
de potencializar o efeito analgésico de algumas drogas, como a aspirina. Além disso, 
prolonga o tempo de convulsões em terapias eletroconvulsivas e também é utilizada no 
tratamento de enxaquecas e dores de cabeça de origens diversas, entre outros usos 
terapêuticos. É um composto bem absorvido pelo trato gastrointestinal e, quando 
ingerido, induz o esvaziamento gástrico por meio da estimulação dos nervos submucoso 
e mioentérico gástrico. A isso se segue a passagem direta da cafeína do estômago para 
a corrente sanguínea. O sistema nervoso central também é estimulado pela cafeína, por 
meio dos nervos autonômicos colinérgicos do trato gastrointestinal. 
 Para compreender seu mecanismo de ação central é necessário mencionar o 
papel neurofisiológico desempenhado por uma substância endógena chamada 
adenosina. A adenosina é considerada um neuromodulador por agir modulando a 
liberação de diversos neurotransmissores, incluindo a acetilcolina, a dopamina, a 
noradrenalina, o GABA e a serotonina. A adenosina age sobre esses neurotransmissores 
de forma inibitória, ou seja, diminuindo sua liberação. Considerando que os receptores 
de adenosina se encontram preferencialmente no sistema nervoso central, torna-se fácil 
compreender o efeito central que desencadeia. Entre os receptoresde adenosina 
atualmente conhecidos, os tipos A1 e A2 são os que predominam em regiões cerebrais. 
Há mais de vinte anos foi proposto que os efeitos psicoestimulantes tanto da cafeína 
como de outras metilxantinas fossem decorrentes do antagonismo que exercem sobre 
a adenosina. Em outras palavras, a cafeína atua como um antagonista seletivo do 
receptor de adenosina; isso quer dizer que ela se liga ao mesmo sítio de ligação da 
adenosina, no entanto exercendo efeitos bloqueadores, não deixando que esta cumpra 
seu papel fisiológico, que é inibitório. A cafeína se liga, como antagonista, tanto aos 
receptores do tipo A1 quanto do tipo A2, embora possua uma afinidade maior para estes 
últimos. Acredita-se que o bloqueio desses receptores seja o principal responsável por 
seus efeitos estimulantes e essa hipótese foi confirmada por dados experimentais. Os 
quais demonstram a habilidade de outros antagonistas de receptores do tipo A2 em 
reproduzir os mesmos efeitos bioquímicos e comportamentais da cafeína, enquanto que 
antagonistas dos receptores do tipo A1 não produziram tais efeitos. Além disso, 
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pesquisas científicas também afirmam que a cafeína não produz a estimulação esperada 
em animais experimentais, ditos knockout para os receptores A2, isto é, animais 
geneticamente selecionados em função de não possuírem esses receptores, indicando 
que seja realmente seu alvo preferencial de ação. 
Dados disponíveis na literatura científica também sugerem que os efeitos 
estimulantes observados após a ingestão de cafeína ocorrem em função do bloqueio 
dos receptores de adenosina influenciar a neurotransmissão de dopamina, como ocorre 
com outras categorias de psicoestimulantes. Essa hipótese é reforçada por dois tipos de 
evidências: primeiro, pelo fato de que a estimulação motora induzida pela cafeína pode 
ser evitada por drogas que bloqueiam receptores dopaminérgicos ou que produzam a 
depleção de dopamina; em segundo lugar, pela crença de que os efeitos reforçadores 
da cafeína sejam dependentes da dopamina, uma vez que esse neurotransmissor é 
crucial em casos de estabelecimento de reforço positivo. A compreensão do que é 
reforço positivo é necessária para compreender a questão da dependência química a 
diferentes compostos e, no caso da cafeína, existe certa polêmica a respeito disso. Um 
reforço positivo é uma situação que aumenta a probabilidade de um determinado 
comportamento ocorrer em função de ter causado uma sensação prazerosa. Dessa 
maneira, drogas psicoestimulantes que produzem dependência assim o fazem em 
função de serem reforçadoras, ou seja, os efeitos prazerosos produzidos reforçam a 
repetição do uso. Nesses casos, muitas evidências científicas afirmam que é a dopamina 
o neurotransmissor que regula tais processos. E, se a cafeína atua como um antagonista 
de receptores de adenosina - e isso interfere na quantidade de dopamina liberada - a 
probabilidade de que ocorra tolerância e dependência se torna muito grande. Como já 
foi mencionado, essa é uma questão polêmica. Embora o uso milenar do café sugira sua 
relativa inocuidade, uma grande quantidade de trabalhos científicos afirma que os 
indivíduos que fazem uso constante da cafeína podem, realmente, desenvolver 
tolerância ao composto e, consequentemente, apresentar sintomas de abstinência com 
a interrupção do uso. Esses sintomas podem incluir: dores de cabeça (sintoma mais 
comum), frequentemente de origem difusa, pulsante e intensamente dolorosa, que é 
exacerbada por exercícios; letargia; apatia; cansaço; tremores; perda do controle sobre 
movimentos finos, além de falta de concentração, irritabilidade e distúrbios 
gastrointestinais. Os dados também sugerem que a probabilidade de ocorrência de 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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sintomas de abstinência à cafeína é maior entre mulheres. Podem aparecer 12 horas 
após a última ingestão de cafeína, ou após um período de tempo relativamente maior, 
na dependência da intensidade e da frequência com que o café é normalmente 
consumido. 
O Manual de Diagnóstico e de Estatística dos Distúrbios Mentais, em sua quarta 
edição, conhecido pela sigla DSM-IV, reconhece alguns distúrbios relacionados ao 
consumo de cafeína. Incluindo intoxicação cafeínica, ansiedade induzida por cafeína e 
distúrbios do sono, mas não reconhece, por insuficiência de dados, a cafeína como droga 
de abuso ou ocorrência de dependência, física ou psicológica. 
Nos últimos anos, diferentes grupos de pesquisa têm sugerido que a cafeína 
talvez possa ser empregada no tratamento da doença de Parkinson, embora os estudos 
ainda estejam em fase experimental. Essa hipótese partiu de trabalhos que indicam a 
existência de uma pronunciada associação inversa, e dose-dependente, entre o 
consumo de café em algumas populações europeias e norte-americanas e o risco de 
desenvolvimento de Parkinson. Em outras palavras, esses pesquisadores sugerem que 
o consumo habitual de café reduza os riscos de aparecimento da doença de Parkinson, 
atuando como um agente protetor. Isso faz sentido ao se considerar que, de acordo com 
seu mecanismo de ação, ao atuar como bloqueador dos receptores de adenosina do tipo 
A2, a cafeína realmente poderia melhorar déficits motores, que são justamente um dos 
sintomas do Parkinson. Essa hipótese tem sido reforçada por resultados obtidos com 
animais experimentais. Trabalhos recentemente publicados têm demonstrado que 
antagonistas de receptores de adenosina do tipo A2 são capazes de melhorar déficits 
motores em modelos animais da doença de Parkinson. Além disso, o efeito neurotóxico 
causado pela droga conhecida pela sigla MPTP (1-metil-4-fenil-1,2,3,6-
tetrahidropiridina) sobre a depleção de dopamina em modelos animais da doença de 
Parkinson também se mostrou diminuída em camundongos tratados com cafeína. 
Com relação à sua possível toxicidade, existem diversos relatos na literatura 
acerca de seus efeitos tóxicos, a despeito do café ser utilizado milenarmente. Muitos 
desses estudos investigam os efeitos do consumo de café sobre o feto durante a 
gestação, em função das características físico-químicas da cafeína permitir que a mesma 
atravesse a barreira placentária com facilidade, podendo exercer algum tipo de efeito 
durante o desenvolvimento fetal. Alguns deles sugerem que o feto, quando exposto à 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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cafeína, pode apresentar prejuízos de desenvolvimento neuromuscular, além de 
contribuir para seu mau posicionamento no útero. Estudos com animais de laboratório 
afirmam que a administração por via intraperitoneal de doses sub-letais de cafeína, na 
segunda semana de gestação de fêmeas, resulta em uma alta frequência de fetos mal 
formados, principalmente com má formação esquelética. 
Talvez isso aconteça porque a cafeína e seus metabólitos passam livremente 
através da placenta, e o feto pode não conseguir degradar essas substâncias, que 
interfeririam em seu desenvolvimento normal. Estudos adicionais afirmam, ainda, que 
a cafeína, na dose de 25 mg/kg e administrada por via oral à fêmeas de roedores 
grávidas, induz a um déficit na formação do tubo neural contribuindo para a mortalidade 
pós-natal. Também existem evidências dos embriões, além de atrasar o 
desenvolvimento do coração, olhos e patas, o que do acúmulo de cafeína e seus 
metabólitos no tecido cerebral de fetos de animais experimentais. No entanto, é 
importante ressaltar que esses efeitos tóxicos, embora bastante descritos em animais 
de laboratório, não se encontram muito bem documentados em humanos. De qualquer 
forma, sugere-se cautela na ingestão de café durante a gestação, recomendando-se que 
a gestante reduza as doses consumidas diariamente. 
Adicionalmente, a cafeína pode provocar o aumento da quantidade decálcio 
intracelular, quando presente em doses muito elevadas na circulação sanguínea, o que 
pode levar à ocorrência de tremores involuntários e hiperestimulação da função 
cardiovascular, com aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. O excesso de 
cafeína no sangue pode levar também à intoxicação cafeínica, cujos sintomas mais 
comuns são tonturas, perda do equilíbrio, náuseas ou vômitos, diarreias, câimbras, 
cansaço e irritabilidade. A dose letal para um adulto saudável de peso médio é 
relativamente alta e, quando medida na forma de xícaras, fica em torno de 70 a 100 
xícaras de café, uma quantidade muito acima do que normalmente é consumida. Apenas 
a título de curiosidade, é interessante mencionar que, embora produza efeitos 
estimulantes no organismo, inclusive melhorando o desempenho físico, o Comitê 
Olímpico Brasileiro (COB) atualmente não lista a cafeína como substância proibida em 
exames antidoping. Ainda, muitas pessoas procuram evitar a ingestão de cafeína 
evitando o consumo de café; no entanto, é necessário lembrar que também está 
presente em grande número de bebidas, tais como o chá-preto, o chá-verde, 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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refrigerantes à base de cola, entre outras. Algumas espécies vegetais podem apresentar, 
inclusive, quantidades de cafeína maiores do que as contidas em Coffea arabica, como 
é o caso do guaraná. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ERVA-MATE (Ilex paraguariensis) 
 
 
Ilex paraguariensis 
Nome científico 
 
“Erva-mate” é um dos nomes populares mais frequentes da espécie Ilex 
paraguariensis, pertencente à família botânica Aquifoliaceae, família que possui cerca 
de 400 espécies. Em função de semelhanças morfológicas e entre suas propriedades, 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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outras espécies do gênero também podem ser chamadas de ervamate, como é o caso 
de Ilex mate, Ilex sorbilis, Ilex theezans e Ilex domestica. 
 
Nomes populares 
 
A erva-mate também recebe outros nomes populares, na dependência da região 
geográfica e da população ali residente. Além disso, a forma de processamento da erva-
mate antes de chegar ao consumidor final, bem como a forma de preparo, também 
interfere no nome que recebe. Assim, pode ser encontrada com as seguintes 
designações, entre outras menos frequentes: 
- Mate (preferencialmente a forma utilizada para o preparo do 
“chimarrão”); 
- Chá-mate (nome que recebe a erva-mate comercializada na forma de 
sachês, para o preparo do chá); 
- Erva-verdadeira; 
- Erveira; 
- Congonha; 
- Verba mate (em países de língua espanhola da América Latina); 
- Tereré; 
- Chimarrão; 
- Mate Tea (em países de língua inglesa). 
 
Informações botânicas 
 
É uma espécie arbórea endêmica das regiões situadas mais ao sul da América 
Latina, principalmente no sul do Brasil (onde desempenha um papel social e econômico 
extremamente importante), na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. É uma árvore 
dióica, perene e que, em alguns casos, pode atingir mais de 10 metros de altura, mas 
com altura média entre 4 e 8 metros. Produz flores e frutos; floresce de outubro a 
novembro e frutifica de março a junho. Necessita de um regime severo de chuvas anuais, 
as quais não devem ser menores do que 1200 mm, bem distribuídas ao longo do ano. 
No entanto, não é tão vulnerável a variações de temperatura, podendo resistir a 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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temperaturas de até -6°C, embora se desenvolva melhor em locais que apresentem 
média anual de temperatura entre 21 e 22°C. Resiste até mesmo a nevascas, que são 
frequentes em algumas regiões montanhosas em que se desenvolve. Seu caule possui 
tonalidade acinzentada e o tamanho relativamente pequeno, com diâmetro de 
aproximadamente 30 cm. Suas folhas são ovais, do tipo coriácea. As plantas encontradas 
na forma nativa, não cultivadas, são germinadas com o auxílio de pássaros, os quais 
ingerem suas sementes e as dispersam. 
 
 
Folhas de Ilex paraguariensis 
 
 
Histórico 
 
Embora hoje a bebida preparada com a erva-mate seja um dos principais 
símbolos da população do sul do Brasil, bem como da Argentina, Paraguai e Uruguai, sua 
história remete aos índios Guaranis que habitavam a região do Rio da Prata, na época 
da colonização europeia da América Latina. Os registros deixados pelos colonizadores 
que chegaram a esta região relatam que os índios Guarani tinham dois hábitos 
relacionados à erva-mate: ou tostavam suas folhas, trituravamnas e mastigavam como 
um alimento energético, ou colocavam as folhas trituradas, tostadas ou frescas em uma 
cabaça seca, acrescentavam água e ingeriam com o auxílio de um canudo feito de 
bambu ou outra planta. A essa bebida, os índios davam o nome de “caá” ou “caá-i”. A 
planta era tão importante na cultura desses índios que eles acreditavam ter sido enviada 
diretamente por Tupã, o deus indígena. A lenda conta que em uma das tribos de índios 
Guarani, vivia um cacique muito sábio. Esse cacique possuía uma única filha, de nome 
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Caá-Yari, a quem muito se dedicava e amava. No entanto, algo o preocupava: sua velhice 
se aproximava e as regras da tribo exigiam que o cacique fosse substituído por seu filho 
homem. Como ele só possuía uma filha e, portanto, não tinha um sucessor natural, 
pensou em escolher para seu sucessor um bravo e corajoso guerreiro da tribo. Mas isso 
lhe trazia muita angústia, uma vez que sabia que sua filha era apaixonada por esse 
guerreiro. Caso o escolhesse, o novo cacique teria muitas vezes que se ausentar da tribo 
e, como as regras exigiam que sua esposa o acompanhasse, o velho cacique teria que 
ficar sem a companhia de sua amada filha e sofrendo de uma profunda solidão. Ele 
estava em um grande dilema. Para ajudá-lo a tomar a melhor decisão, resolveu pedir 
ajuda a Tupã. Como sabia que não poderia ter sua filha ao seu lado para sempre, pediu 
que Tupã enviasse a ele algo que fosse sua companhia em todas as horas. E Tupã o 
atendeu: enviou uma árvore e disse ao cacique que, quando estivesse se sentindo 
sozinho, poderia preparar uma bebida quente e acolhedora utilizando as folhas torradas 
dessa árvore. Ainda, ordenou que a preparasse dentro de uma cabaça sagrada e a 
ingerisse com o auxílio de um pequeno bambu. E assim fez o sábio cacique. Após o 
casamento de sua filha com o bravo guerreiro, e sempre que esses se ausentavam, o 
velho cacique preparava a bebida sagrada e, bebendo-a durante horas, sentia-se muito 
revigorado, animado, bem disposto e, o mais importante, nunca mais se sentiu sozinho. 
Relatos históricos afirmam que os colonizadores europeus instalados na região 
do Rio da Prata, observando os índios Guarani que consumiam grandes quantidades 
daquela bebida, a experimentaram e, notando seus efeitos estimulantes e benéficos ao 
corpo, também passaram a consumi-la à maneira dos indígenas. Em função de sua 
grande popularidade, rapidamente os europeus aqui situados passaram a cultivá-la e a 
comercializá-la com colonizadores situados nas províncias brasileiras, como foi o caso 
das Missões do Guaíra, onde hoje se situa o Paraná. Acredita-se que tenha sido nesta 
região que os jesuítas também passaram a consumir a bebida, inclusive desenvolvendo 
uma técnica de cultivo muito produtiva e passando a comercializá-la na região. Alguns 
desses jesuítas, ao se deslocarem para a região argentina de Missiones, iniciaram o 
cultivo do mate em grande escala, contribuindo para que a região se estabelecesse 
como um dos maiores produtores dessa espécie vegetal na América Latina. 
Atualmente, o hábito de compartilhar o mate representa mais do que uma 
tradição entre as populações do sul do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai: 
Plantas psicoativas –uma abordagem farmacológica 
 
 
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tornou-se um verdadeiro símbolo dessas regiões. A forma tradicional de consumo da 
bebida é chamada de “chimarrão” (ou apenas de “mate”). É preparado de maneira 
semelhante à descrita na lenda, com a adição de água quente às folhas trituradas e secas 
da planta, dispostas em uma cuia e ingeridas com o auxílio da bomba. No entanto, 
também pode ser consumida de outras formas, como o “tererê”, preparado com adição 
de água gelada e limão às folhas trituradas, ou simplesmente como um chá, 
adicionando-se água quente a sachês contendo a folha queimada e triturada da planta. 
A produção brasileira anual de Ilex paraguariensis está em torno de 200.000 
toneladas, sendo que os principais estados produtores são Paraná, Santa Catarina, Rio 
Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Com relação ao maior consumidor, o Rio Grande 
do Sul destaca-se, consumindo mais de 50% do que é comercializado no Brasil. 
Anteriormente restrito à região sul do país, o consumo do mate vem se expandindo, 
sendo hoje consumido inclusive em estados da região norte. Aparece como uma das 
espécies arbóreas naturais de maior importância econômica para a região sul do Brasil 
já há muitas décadas, principalmente por ser uma espécie resistente às baixas 
temperaturas observadas na região. Contribuiu, inclusive, para a fixação do homem ao 
campo nas regiões sulinas. 
Atualmente, a Argentina é considerada o principal produtor de Ilex 
paraguariensis, cultivando mais de 150.000 hectares anualmente, o que equivale a cerca 
de 280.000 toneladas da planta. O Brasil e o Paraguai são o segundo e o terceiro 
produtores, respectivamente. No mundo todo, são cultivados mais de 290.000 hectares 
de mate, com uma produção anual de mais de 800.000 toneladas, isso só no ano de 
2002. Em 2004, o valor de sua produção mundial foi estimado em cerca de 1 bilhão de 
dólares. 
 
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Folhas de Ilex paraguariensis após processamento 
 
Dados químicos e farmacológicos 
 
As folhas da erva-mate, parte utilizada tradicionalmente no preparo da bebida 
estimulante mais conhecida por “chimarrão” ou por “chá-mate”, possui como principal 
constituinte químico, responsável por seus efeitos estimulantes do sistema nervoso 
central, a cafeína. Em função de ser o principal constituinte químico do café, as 
propriedades psicobiológicas da cafeína já foram mencionadas no item anterior, sobre 
a espécie Coffea arabica. Portanto, a fim de evitar redundâncias, suas propriedades 
biológicas não serão novamente mencionadas, embora seja o principal componente 
químico estimulante presente nas folhas de Ilex paraguariensis. 
Muitos outros compostos, no entanto, também estão presentes nas folhas de 
erva-mate, os quais também podem contribuir para suas propriedades centrais 
estimulantes. Além da cafeína (presente num teor entre 0,8 e 2%), as folhas jovens de 
erva-mate contêm entre 0,08 e 0,5% de teobromina e pequenas quantidades de 
teofilina. Aliás, a questão da presença ou não de teofilina na espécie é controversa: 
alguns pesquisadores indicam a presença de pequenas quantidades desse alcaloide 
estimulante; outros grupos de pesquisa, no entanto, afirmam que a teofilina não está 
presente em extratos de Ilex paraguariensis. De qualquer forma, a cafeína e a 
teobromina parecem ser realmente seus principais compostos psicoestimulantes. 
Além de cafeína e teobromina, investigações fitoquímicas sobre a espécie Ilex 
paraguariensis demonstram a existência de muitas classes de constituintes químicos, 
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tais como aminoácidos, polifenóis (como o ácido clorogênico e o ácido caféico), 
flavonóides (quercetina, rutina e canferol) e saponinas triterpênicas. É importante 
mencionar que diversos trabalhos científicos têm associado a presença de polifenóis e 
de flavonóides ao papel protetor que alguns extratos vegetais desempenham contra 
determinadas doenças, como parece ser também o caso da erva-mate. 
Das três metilxantinas mais comumente encontradas no reino vegetal, a cafeína, 
como já mencionado, é a que está presente em maior concentração no mate, seguida 
pela teobromina. Esses dois compostos são encontrados principalmente nas folhas das 
plantas e em pequena concentração no tronco. A concentração de cafeína que chega 
até o consumidor é de aproximadamente 78 mg em uma xícara do mate 
(aproximadamente 150 ml). Comparada com o café, é uma quantidade de cafeína muito 
similar (85 mg por xícara). No entanto, a frequência com que o mate é consumido no 
método tradicional representa uma média mínima de ingestão de 500 ml, o que resulta 
em 260 mg ou mais de cafeína, quantidade essa que dificilmente seria atingida com a 
ingestão diária de café. É importante mencionar também que, embora exista uma 
grande variabilidade do conteúdo de metilxantinas existente em Ilex paraguariensis, em 
função do tipo de solo, das condições climáticas, da ocorrência ou não de ataque de 
parasitas, da época de colheita, entre outros fatores. A legislação atual brasileira 
estabelece que deva haver um conteúdo mínimo de cafeína de 0,5% (massa/massa) no 
mate comercializado. 
Mais do que suas propriedades aromáticas ou sua bebida estimulante, a erva-
mate parece representar uma importante fonte de compostos necessários ao bom 
funcionamento do organismo. No entanto, relativamente poucos estudos científicos já 
foram realizados a respeito de toda a sua potencialidade medicinal, provavelmente em 
função de que apenas um pequeno número de países está envolvido em seu consumo. 
Nos últimos anos, esse panorama já vem apresentando alguma alteração, 
principalmente em virtude de outros países já terem incorporado a erva-mate em seus 
hábitos alimentares. 
As bebidas à base de erva-mate, de sabor amargo, parecem possuir propriedades 
hepatoprotetora, hipocolesterolêmica, anti-reumático, diurética, glicogenolítica e 
lipolítica. Atualmente, a erva-mate também tem sido empregada em preparações 
fitoterápicas como tônica, anticelulítica e para combater o envelhecimento. Algumas 
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dessas atividades farmacológicas são atribuídas ao seu alto teor de derivados cafeoil e 
de flavonóides. No entanto, a principal atividade da erva-mate parece ser como um 
antioxidante natural, combatendo os radicais livres, especialmente em regiões 
cerebrais. Essa possível capacidade antioxidante da ervamate pode estar relacionada à 
sua concentração de polifenóis. Em média, a quantidade de polifenóis extraída do mate 
utilizado em forma de chá é de 92 mg, equivalente a ácido clorogênico por grama de 
folhas secas, enquanto outros chás possuem significativamente menos. 
A produção de radicais livres está envolvida em uma série de condições 
patológicas, entre as quais se incluem doenças neurodegenerativas como o Alzheimer, 
como já mencionado no item sobre a espécie Melissa officinalis. Antioxidantes naturais 
têm sido considerados como eficazes no combate à ação nociva desses radicais livres e, 
consequentemente, na prevenção de tais condições patológicas. Isso leva a crer que o 
dano oxidativo e as doenças, consequentes da progressão do mesmo, possam ser 
retardados por meio de antioxidantes naturais. A oxidação de lipoproteínas de baixa 
densidade induzida por radicais livres parece ser uma causa chave para o 
estabelecimento de tais doenças. Estudos sobre o potencial da espécie Ilex 
paraguariensis como um antioxidante natural indica que a planta possui constituintes 
que inibem efetivamente a oxidação de lipoproteínas de baixa densidade in vitro, 
sugerindo que a ingestão desses constituintes antioxidantes pode ser benéfica. Esses 
compostos antioxidantes da erva-mate são facilmente absorvidos e alcançam níveis 
suficientesno plasma para inibir a autoxidação lipídica. Algumas pesquisas têm 
demonstrado que a espécie Ilex paraguariensis aumenta a capacidade antioxidativa do 
plasma, e que essa ação talvez possa ser explicada pela presença de quantidades 
significativas de polifenóis e de flavonóides. 
Muitos tipos de flavonóides são conhecidos por serem absorvidos pelo trato 
gastrointestinal de humanos e animais e são considerados antioxidantes potentes, 
“captadores” de radicais livres e inibidores da peroxidação lipídica. 
Além de seu possível efeito antioxidante potente, há evidências científicas de 
que a erva-mate promova melhoria do humor, da performance psicomotora e da 
concentração. Embora considerada inócua em doses moderadas, pode causar insônia, 
ansiedade e aumento da frequência cardíaca com o uso excessivo, além de ser preferível 
que pessoas com úlceras gástricas, hipertensão e taquicardia evitem seu consumo. 
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Existem algumas evidências, ainda, de que seu consumo na forma de infusão 
(principalmente na forma conhecida como “chimarrão”) esteja relacionado à ocorrência 
de câncer orofaríngeo, embora a explicação mais cogitada para esse fato relacione-se à 
alta temperatura da água adicionada à bebida, a qual é ingerida ainda bastante quente. 
No entanto, estudos mais aprofundados ainda são necessários para esclarecer essa 
possível correlação. 
Estudos sobre os efeitos farmacológicos da erva-mate, quando comparado a 
outras espécies vegetais estimulantes, são relativamente limitados, a despeito de seu 
grande uso popular, principalmente na região sul do Brasil. Ainda assim, um estudo 
realizado em 2004, com 71 voluntários, indica que a quantidade de cafeína presente na 
erva-mate não foi suficiente para afetar o funcionamento cardiovascular, o que 
representaria uma vantagem. Ao contrário do esperado, no entanto, o consumo da 
bebida preparada à base de erva-mate após o almoço não produziu um melhor 
desempenho em atividades cognitivas, como ocorre após a ingestão do café e do 
guaraná. No entanto, os autores justificam esse resultado afirmando que a dose de erva-
mate empregada neste estudo apresentava uma quantidade relativamente pequena de 
cafeína, a qual não seria suficiente para eliciar os efeitos esperados. 
Portanto, os resultados disponíveis atualmente na literatura científica sugerem 
que a ingestão do mate pode representar uma maneira eficaz e econômica de fornecer 
uma quantidade importante de compostos que aumentam o sistema de defesa 
antioxidante do organismo. Considerando que tal atividade antioxidante parece estar 
relacionada com a presença de polifenóis, é importante ressaltar que a quantidade dos 
compostos polifenóicos encontrados no mate para chá difere significativamente do 
mate que é vendido para o preparo do chimarrão. Ainda assim, estudos afirmam que 
ambas as formas de apresentação mostram atividades antioxidantes comparáveis, as 
quais indicam que a etapa de secagem, conhecida como “sapeco”, embora modifique o 
perfil dos compostos voláteis e do conteúdo de compostos polifenólicos da infusão, não 
afeta sua propriedade antioxidante. No entanto, estudos adicionais são necessários 
tanto para comprovar definitivamente sua atividade antioxidante em tecidos neuronais, 
quanto para assegurar a ausência de toxicidade das preparações de Ilex paraguariensis, 
embora seja uma espécie tradicionalmente utilizada há séculos. 
 
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GUARANÁ (Paullinia cupana) 
 
 
 
Paullinia cupana 
 
Nome científico 
 
O estimulante conhecido como guaraná trata-se, na verdade, das sementes do 
guaranazeiro, cujo nome botânico é Paullinia cupana, mais especificamente sua 
variedade sorbilis, pertencente à família botânica Sapindaceae. No entanto, 
farmacopeias de diferentes países podem considerar o guaraná como sendo outra 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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espécie pertencente ao gênero Paullinia, como por exemplo, a farmacopeia 
norteamericana, que conhece o guaraná por dois nomes específicos diferentes: Paullinia 
cupana Kunth e Paullinia sorbilis Martius. Na verdade, trata-se de duas variedades de 
uma mesma espécie: Paullinia cupana variedade cupana e Paullinia cupana variedade 
sorbilis. 
 
Nomes populares 
 
Assim como ocorre com o café, a espécie Paullinia cupana não apresenta uma 
grande diversidade de nomes populares. Em quase toda a totalidade em que ocorre 
naturalmente é conhecida pelo nome de “guaraná” ou pelo nome de sua árvore, o 
“guaranazeiro”. Aqui também se evidencia a relação entre a baixa diversidade de nomes 
populares encontrados e a relativa uniformidade na finalidade do uso, que, neste caso, 
se faz como tônico e estimulante. Os índios Sateré-Mawé, considerados os inventores 
da cultura do guaraná, o chamam de “çapó”, que é o guaraná em forma de bastão, que 
é ralado na água e bebido rotineiramente ou para finalidades rituais e religiosas. 
 
Informações botânicas 
 
Planta lenhosa e trepadeira, a espécie Paullinia cupana ocorre na região 
Amazônica, da qual é um dos símbolos de beleza e uso medicinal, principalmente nos 
estados do Acre, Amazonas e Pará, e uma pequena parte do Maranhão, além de regiões 
localizadas na Venezuela, Peru, Colômbia e Bolívia. Quando cresce em área de mata 
fechada, pode atingir cerca de 10 metros de altura; no entanto, em áreas abertas, 
assume um porte arbustivo, atingindo no máximo 3 metros. Apresenta um número 
maior de flores femininas quando comparadas às flores masculinas, e florescem nos 
meses mais secos do ano. O fruto, que dá origem ao preparado que recebe o nome de 
guaraná, é bem característico. Composto por uma cápsula de coloração alaranjada a 
qual se abre ao amadurecer, expondo as sementes – de 1 a 3 por fruto – de cor marrom, 
envoltas por um arilo de coloração branca, lembrando a morfologia de um olho humano. 
E é nesse estágio que a colheita deve ser feita, para que não se percam as sementes, as 
quais se desprendem da cápsula. O guaranazeiro pode ser propagado pelas sementes 
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ou por propagação vegetativa, com o auxílio de estacas. A espécie necessita de solo 
profundo e bem drenado, onde não haja acúmulo de água, o qual pode inviabilizar as 
sementes. É uma planta que se desenvolve bem em baixas altitudes e clima quente e 
úmido, com média anual de chuvas em torno de 2500 mm, tal qual o clima amazônico. 
 
 
Frutos de Paullinia cupana 
 
 
Histórico 
 
A região brasileira com maior prevalência do guaranazeiro coincide com o 
território habitado pelos índios da etnia Sateré-Mawé. O guaraná é uma espécie vegetal 
de tal importância para esses indígenas que seu cultivo e preparo se confunde com sua 
história, inclusive com a lenda que explica o seu surgimento. Não é exagero afirmar, 
portanto, que os Sateré-Mawé sejam os inventores da cultura do guaraná, e eles assim 
se consideram, como os Filhos do Guaraná. Não é de se estranhar, portanto, que a 
produção do guaraná estivesse, até o final da década de 70, concentrada no município 
de Maués, no Estado do Amazonas, município que recebe esse nome em função de estar 
localizado em área tradicional dos SateréMawé. Os índios Sateré-Mawé possuem a 
reputação de serem excelentes comerciantes e acredita-se que essa habilidade seja 
decorrente do comércio de guaraná, que realizam há séculos. Desde que os homens 
brancos tomaram contato com o guaraná, ficaram impressionados com suas 
propriedades como estimulante, tônico e supostamente afrodisíaco, e passaram 
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também a beneficiá-lo para consumo e comércio. No entanto, por não possuírem os 
conhecimentostradicionais dos Sateré-Mawé sobre o cultivo e o preparo, esse guaraná 
produzido pelos homens brancos era considerado, naquela época, como sendo de baixa 
qualidade ou um falso guaraná. Esse fato também faz parte da lenda do guaraná, a qual 
trata tanto do surgimento do guaranazeiro quanto do aparecimento do primeiro índio 
Sateré-Mawé. 
Segundo a lenda indígena, existiam três irmãos de uma etnia indígena ancestral, 
dois meninos e uma menina. A menina, de nome Onhimuab (ou Onhiámuáçabê) era 
muito querida por seus irmãos, tanto porque brincava todos os dias com eles, indo 
juntos buscar castanhas na castanheira-sagrada, quanto porque cuidava de seus 
ferimentos e de sua saúde com remédios que só ela sabia preparar, de uma grande 
variedade de plantas. Onhimuab queria muito se casar, mas seus irmãos não gostavam 
da idéia, pois ela não poderia mais ficar com eles todo o tempo. Um dia, ao caminhar 
pela floresta, uma cobra tocou sua perna e a índia engravidou. Seus irmãos ficaram tão 
bravos por ela estar grávida que a expulsaram da tribo e a proibiram de comer as 
castanhas da castanheira-sagrada, das quais os três tanto gostavam e que ela mesma 
havia plantado. Triste, Onhimuab foi embora e construiu sua própria cabana, onde viveu 
até o nascimento de seu filho. A índia deu à luz um belo e forte menino, que trouxe 
muita alegria à sua vida. Logo que aprendeu a falar, o menino disse à mãe que queria 
comer daquelas castanhas que ela e seus tios tanto gostavam, mas ela explicou ao filho 
que não podia, pois seus tios a haviam proibido de se aproximar da castanheira-sagrada. 
Ao ver a tristeza do filho, Onhimuab permitiu que o menino fosse até a castanheira e 
pegasse algumas castanhas. Como seus irmãos deixaram no local alguns vigias – animais 
da floresta – para cuidar da castanheira e garantir que ninguém se aproximasse, ao saber 
da presença dos dois ali, ordenaram que matassem quem quer que se aproxime 
novamente. Assim, quando o menino voltou ao local para apanhar mais algumas 
castanhas, deu-se a tragédia: o indiozinho foi decepado e sua mãe, que se aproximava 
por ter ouvido os gritos do filho, não chegou a tempo de salvá-lo. Tomando o corpo do 
filho nos braços, em completo desespero, Onhimuab arrancou os olhos do menino e os 
plantou naquele local. Dizem os índios que do olho esquerdo nasceu uma planta que 
não prestava o falso guaraná, enquanto que do olho direito plantado nasceu o guaraná 
verdadeiro, uma planta que dava ânimo e coragem aos índios, curando-os de todos os 
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males. Ali também a índia enterrou o corpo do filho e cercou o local. Dias depois, saiu 
da sepultura uma criança, que era o filho de Onhimuab ressuscitado, o qual foi o 
primeiro Sateré-Mawé, nascido do pé de guaraná brotado do olho enterrado do menino, 
fazendo referência ao formato das sementes do guaranazeiro. 
Lendas a parte, o fato é que foram realmente os índios Sateré-Mawé os 
primeiros detentores do conhecimento sobre o cultivo e o preparo do guaraná. Foi no 
início da década de 80 que a produção do guaraná saiu da região amazônica, sendo 
introduzida em regiões do centro-oeste e do nordeste brasileiro. Atualmente, o guaraná 
é consumido e exportado na forma das sementes em si ou de preparações das mesmas, 
na forma de pó (empregados com muita frequência em compostos terapêuticos), de 
xaropes (utilizados para o preparo de sucos e refrigerantes que levam o nome da planta), 
entre outras apresentações. Estima-se que sejam exportadas, anualmente, 
aproximadamente 500 toneladas de guaraná para os Estados Unidos e países europeus, 
o que movimenta uma cifra considerável no mercado brasileiro. No mercado interno, 
duas são as formas mais consumidas: na forma de extrato, presente em refrigerantes, e 
na forma de guaraná em pó, utilizado como complemento alimentar em função de suas 
propriedades estimulantes do funcionamento físico e mental. Dados indicam que o 
Brasil é praticamente o único país produtor do guaraná em grande escala, sendo os 
principais estados produtores a Bahia, o Amazonas, o Pará e o Acre. 
Dados químicos e farmacológicos 
 
A primeira investigação sobre a composição química das sementes do guaraná 
foi realizada no século XVIII pelo botânico alemão Theodore von Martius, o qual isolou 
uma substância amarga e cristalina com marcantes propriedades biológicas. Essa 
substância foi chamada inicialmente de guaranina; posteriormente, descobriu-se que se 
tratava da já conhecida cafeína. Como já mencionado, a cafeína é um alcaloide do tipo 
purínico amplamente distribuído no Reino Vegetal. Acredita-se que mais de 60 espécies 
de plantas a apresentem em sua composição, sendo o guaranazeiro a espécie com maior 
teor deste alcaloide psico-estimulante. Além da cafeína, e de forma semelhante ao que 
ocorre com a espécie Ilex paraguariensis, a espécie Paullinia cupana apresenta, ainda, 
os alcaloides teobromina e teofilina, em pequenas quantidades. Nas sementes da 
espécie, os teores de cafeína são bastante altos, variando entre 2,5 e 6% do seu peso 
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seco, o que é uma quantidade considerável quando comparada às de teobromina e 
teofilina, inferiores a 0,02% e 0,01%, respectivamente. 
Além das metilxantinas mencionadas, o guaraná também possui saponinas e 
taninos em sua composição, e muitos estudos afirmam que esses compostos 
desempenham um papel muito importante na determinação dos efeitos estimulantes 
da espécie, de maneira semelhante ao que ocorre com outra espécie vegetal bastante 
utilizada em função de suas propriedades estimulantes do sistema nervoso central, o 
ginseng (Panax ginseng). Diversos estudos disponíveis na literatura científica afirmam, 
inclusive, que os taninos isolados de Paullinia cupana apresentam considerável atividade 
antioxidante, o que reforça ainda mais a importância desses compostos presentes no 
guaraná. 
Um considerável número de trabalhos investigando os efeitos do guaraná sobre 
a performance cognitiva, em animais de laboratório, encontra-se disponível na 
literatura. Já em humanos, o número de estudos é comparativamente menor, embora 
os dados até agora disponíveis contribuam de maneira significativa para a compreensão 
dos efeitos psicoativos do guaraná. As investigações sobre os efeitos do seu extrato 
sobre o humor e a performance mental mostram atividades que podem ser resumidas 
em alerta, melhoria de aspectos cognitivos como aprendizado e memória, como 
estimulante da performance motora, entre outras atividades. 
Com relação às investigações sobre os efeitos do guaraná em animais de 
laboratório, alguns estudos específicos podem ser citados. Em 1997, um grupo de 
pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de São Paulo avaliou a ação do 
guaraná sobre a performance geral em animais experimentais, utilizando o teste do 
nado forçado (para avaliação sobre o desempenho físico), testes de esquiva passiva e 
ativa (para verificação dos efeitos sobre aprendizado e memória) e os efeitos sobre a 
longevidade dos animais após o tratamento crônico. Os resultados obtidos neste estudo 
mostraram que animais previamente tratados com o extrato do guaraná apresentaram 
um melhor desempenho físico, no teste do nado forçado, e que a administração aguda 
tanto do guaraná quando da cafeína isolada, para comparação, impediu o efeito 
amnésico induzido pela escopolamina nos animais. A administração crônica do guaraná 
também protegeu ratos mais velhos dos efeitos amnésicos da escopolamina. Os autores 
afirmam que esses efeitos positivos observados foram obtidos mesmo em doses muito 
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pequenas, as quais continham apenas 0, 0062 mg/ml de cafeína (quantidade 15 vezes 
menor que a dose de cafeína utilizada como referência no trabalho).comprovar a remota origem de sua utilização, ainda confirmam sua grande importância 
dentro do contexto sócio-cultural em determinadas comunidades. Assim, uma espécie 
vegetal psicoativa poderia simultaneamente ser utilizada como alimento, para fins de 
proteção, para facilitar processos de caça e pesca, como um instrumento de 
comunicação, utilizada em adornos associados a contextos culturais ou hierárquicos da 
sociedade e, frequentemente, empregada em rituais de cura. O fato é que parece ser 
muito provável que as plantas psicoativas tenham acompanhado o homem ao longo de 
sua trajetória neste planeta. Ou que os homens tenham acompanhado – e até mesmo 
seguido – as plantas psicoativas. 
Portanto, um questionamento que pode ser feito a partir do conhecimento de 
que ambos, homens e espécies vegetais, talvez tenham caminhado juntos em seus 
percursos evolutivos e que é, no mínimo, intrigante é o seguinte: 
- “O que fez com que as plantas psicoativas fossem tão importantes para 
os homens e seus ancestrais? ” 
Ou ainda, de um ponto de vista evolutivo, outro questionamento pode aparecer: 
- “Existe algum motivo especial pelo qual os homens tenham optado por usar 
determinadas espécies psicoativas, a despeito de suas potencialidades tóxicas? ”. 
Essas questões não possuem respostas óbvias e as tentativas de responde-las 
têm sido alvo de muita polêmica. A importância da discussão, entretanto, parece não se 
chegar a um consenso na resposta, antes compreender os processos nos quais podem 
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ter contribuído para que o conhecimento sobre o uso de espécies vegetais psicoativas 
não tenha desaparecido ao longo dos séculos. E que, pelo contrário, esteja sendo cada 
vez mais discutido em diferentes meios e por diferentes formas, é o que parece ser mais 
importante. 
Assim como o estudo das plantas bio-ativas, de uma forma geral, o estudo das 
plantas psicoativas é caracterizado por ser uma área absolutamente interdisciplinar – 
ou pelo menos deveria ser – envolvendo antropólogos, ecólogos, botânicos, agrônomos, 
químicos, farmacologistas, entre outros profissionais. Com o intuito de compreender, 
da forma mais abrangente possível, o que representa a planta tanto em termos de 
significado sócio-cultural quanto em termos biológicos. Dessa forma, uma única espécie 
vegetal pode gerar uma infinidade de informações, tais como: 
- O contexto social e cultural no qual ela é empregada por diferentes 
comunidades: se o uso é ritualizado, se existem hierarquias desenvolvidas com base no 
seu manejo, o papel que a espécie possui na cosmologia da sociedade, se é igualmente 
manipulada por homens e por mulheres, a forma como a comunidade vê aquele recurso, 
entre outros tantos fatores; 
- As lendas e mitos que cercam seus usos e efeitos; 
- Os nomes populares que recebe, os quais variam amplamente de uma região 
para outra; 
- Sua nomenclatura científica: o nome científico que foi dado à espécie e que 
permite identificá-la, corretamente, em qualquer lugar do mundo, ou que pelo menos 
facilite a correta identificação; 
- Os dados botânicos e agronômicos da espécie: suas características visuais e 
microscópicas, flores, colorações, tamanho da planta, climas nos quais se desenvolve as 
condições de cultivo, entre outros aspectos; 
- As formas como as diferentes populações a utilizam tradicionalmente: para 
quais finalidades, em que circunstâncias, para quais quadros de saúde, como se dá o 
preparo, a quantidade que é utilizada, quais partes são utilizadas; 
- A composição química de suas partes: quais substâncias estão presentes nas 
partes que são utilizadas, as quais classes químicas pertencem, de que forma extraí-las, 
como otimizar a obtenção de uma maior quantidade dessas substâncias, entre outros 
fatores; 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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- A farmacologia dessas plantas: como agem no organismo, de que forma, por 
quais mecanismos, envolvendo quais sistemas orgânicos, produzindo quais efeitos 
adversos e efeitos positivos; 
- Entre outras classes de informações que podem ser obtidas por meio do 
estudo de uma espécie vegetal psicoativa. 
 
Nesse contexto, se faz necessária a colaboração de um grande número de 
profissionais, com as mais variadas formações acadêmicas, e a boa integração entre eles 
é que ajudará na maior compreensão da importância de uma planta psicoativa em um 
amplo contexto. 
Especificamente com relação à situação brasileira, o estudo das plantas 
psicoativas, ganha uma importância ainda maior. Isso se deve a diversos fatores: 
- À composição biológica, ou seja, à complexa diversidade biológica 
existente no Brasil, que faz com que seja considerado o primeiro em número de espécies 
vegetais no mundo, verdadeiro banco genético de espécies; 
- Ao grande número de espécies vegetais endêmicas, que existem somente 
em território brasileiro; 
- À existência de biomas tão diferentes e ricos em variedade biológica 
vegetal, tais como a Mata Atlântica, os Campos Sulinos, o Pantanal, o Cerrado, a 
Caatinga e a Amazônia; 
- E, tão importante quanto à grande diversidade cultural, proveniente da 
tão grande diversidade étnica. Um país de índios, colonizado por portugueses, povoado 
por descendentes de africanos, imigrantes italianos, espanhóis, asiáticos; um país onde 
convivem comunidades indígenas, remanescentes de quilombos, comunidades de 
pescadores, populações ribeirinhas, comunidades agro-extrativistas, entre tantos 
outros componentes do belo quadro multiétnico brasileiro. 
A questão da grande diversidade de povos e de origens acaba sendo tão 
importante quanto à própria diversidade biológica existente no país. Se pensarmos que 
a cada grupo étnico originário das terras brasileiras se somou um sem número de 
influências de outros povos, dos mais diferentes lugares do mundo, teremos uma 
pequena noção da real riqueza etno-botânica resultante. Uma fonte inesgotável de 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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conhecimentos a respeito, inclusive, do uso de plantas que alteram o funcionamento da 
mente. 
Apenas a título de exemplo, em um estudo recém-divulgado e realizado por um 
grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo e liderado pela 
pesquisadora Eliana Rodrigues. Foram investigadas quais plantas com possíveis ações 
sobre o sistema nervoso central eram utilizadas popularmente no Brasil, a partir de 
fontes históricas dos séculos XVI ao XIX. As autoras utilizaram como fonte da pesquisa 
livros históricos encontrados em instituições brasileiras reconhecidas, tais como: as 
bibliotecas da Universidade de São Paulo e do Instituto Botânico do Estado de São Paulo, 
e pesquisaram quais plantas eram mencionadas nesses livros como sendo 
popularmente utilizadas por seus efeitos sobre o sistema nervoso central. Os resultados 
divulgados neste estudo são muito interessantes: as pesquisadoras encontraram 93 
plantas mencionadas por seus efeitos centrais, inclusive espécies amplamente 
conhecidas no Brasil, tais como o caju (Anacardium occidentale), a mandioca (Manihot 
utilissima), o guaraná (Paullinia sp) e o cacau (Theobroma sp). Dessas 93 plantas, 34 
espécies eram nativas do Brasil, ou seja, mais de 35% do total de plantas mencionadas, 
o que dá uma ligeira idéia da importância do Brasil como banco de espécies vegetais, 
especificamente de espécies vegetais psicoativas. 
Outro ponto importante a se considerar quando se trata do estudo de plantas 
psicoativas, bem como de todas as demais espécies vegetais bio-ativas, é a falsa crença, 
muitas vezes nutrida por uma mídia apelativa e equivocada, de que as plantas não 
causam efeitos adversos, por serem de fonte natural. Frases como “pode usar que não 
tem problema, é natural”, “o que é natural é bom”, “se bem não faz, mal não vai fazer”, 
ouAlém disso, a maior 
dose do extrato do guaraná testada, contendo uma quantidade maior de cafeína, não 
se mostrou ativa. Portanto, os autores concluíram que os efeitos do guaraná sobre a 
performance física, assim como sobre a memória de ratos jovens e velhos, podem ser 
devidos também a outras substâncias e não apenas à cafeína. Como mencionado no 
início deste tópico, realmente alguns pesquisadores sugerem que taninos e saponinas 
também contribuam para os efeitos benéficos do guaraná sobre o sistema nervoso 
central. 
Outros estudos também confirmam os efeitos do guaraná contra a amnésia 
induzida por escopolamina, em animais de laboratório. Em 2005, outro grupo de 
pesquisa brasileiro, dessa vez da Universidade Estadual de Maringá, investigou os 
efeitos do tratamento crônico com o extrato bruto do guaraná, bem como dos 
constituintes semi-purificados de suas sementes, sobre o comportamento cognitivo de 
ratos, utilizando o teste do labirinto aquático de Morris. Esses pesquisadores 
observaram que ratos cronicamente tratados com o extrato bruto apresentaram 
melhoria do comportamento cognitivo. Além disso, a administração crônica (tanto do 
extrato bruto quanto de seus compostos isolados) também foi capaz de proteger os 
animais dos efeitos amnésicos da escopolamina. Sugerindo que tanto o extrato bruto 
quando os compostos semi-purificados das sementes do guaraná são capazes de 
melhorar a cognição tanto em ratos normais quanto em ratos com amnésia induzida. 
Com relação a estudos clínicos, poucos já foram realizados para investigar os 
efeitos do guaraná sobre processos cognitivos, embora seus efeitos como estimulante 
físico já estejam bem estabelecidos. Neste sentido, um estudo clínico relevante foi 
realizado em 2004 por pesquisadores do Reino Unido, em que foram avaliados os efeitos 
do tratamento agudo com 75 mg de guaraná sobre a performance cognitiva e o humor 
em 28 voluntários saudáveis. Os resultados dessa pesquisa mostram que doses únicas 
de guaraná, bem como da combinação entre guaraná e ginseng, foram realmente 
capazes de melhorar a performance cognitiva em comparação com o placebo, pelo 
menos em jovens saudáveis. Tais melhorias foram representadas por um notável 
aperfeiçoamento do desempenho em muitas tarefas, bem como pela diminuição do 
declínio de desempenho observado no grupo controle (placebo) com relação à 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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conclusão das tarefas solicitadas. Este estudo forneceu as primeiras evidências 
empíricas as quais confirmam as supostas propriedades psicoativas do guaraná em 
humanos. Os autores ressaltam que o resultado mais notável foi a melhoria da 
velocidade na realização de tarefas, observadas após a administração da dose de 75 mg 
do extrato de guaraná. 
Além de estudos clínicos e com animais experimentais, alguns estudos in vitro 
também já foram realizados com o extrato do guaraná para verificação de suas 
propriedades biológicas. Com relação à ação relacionada, direta ou indiretamente, ao 
sistema nervoso central, estudos in vitro demonstram a atividade do guaraná como um 
antioxidante natural, relacionando tal atividade à presença de quantidades significativas 
de polifenóis, similarmente ao que ocorre com a espécie Ilex paraguariensis. Portanto, 
estudos sobre o possível efeito protetor do guaraná contra doenças neurogenerativas, 
também associadas à ocorrência de danos oxidativos, representam uma área de 
pesquisa bastante promissora. 
Esses dados experimentais, quando observados em conjunto, fazem com que os 
pesquisadores dos efeitos psicoativos do guaraná o considerem como uma droga 
nootrópica. Essa terminologia é utilizada para designar uma categoria de agentes 
psicoativos os quais apresentam efeitos seletivos no desempenho intelectual, no 
aprendizado e na memória, na presença ou ausência de um déficit cognitivo anterior. 
Considerando que, pelo menos entre a população brasileira, a forma mais 
frequente do uso do guaraná como estimulante se dá na forma de pó. É importante 
mencionar a questão da quantidade de cafeína presente nessas preparações, a qual 
pode variar de acordo tanto com a procedência da matéria-prima, quanto com método 
de cultivo, com a presença de contaminantes, ou com outros fatores. Nesse sentido, 
pesquisadores de diferentes instituições de pesquisa localizadas na cidade de Campinas, 
SP, publicaram em 2007 um estudo sobre a contribuição do guaraná em pó sobre a 
quantidade de cafeína presente na dieta. Nesse estudo, os pesquisadores investigam os 
teores de cafeína presentes em diferentes marcas de guaraná em pó comercializados. 
Os pesquisadores observaram que as quantidades de cafeína nas amostras de guaraná 
avaliadas variaram tanto entre marcas quanto entre lotes de uma mesma marca, e que 
o coeficiente de variação entre os lotes ficou entre 4,5 a 30,6% de variação. 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Os autores afirmam que o crescente consumo de guaraná em pó pela população 
brasileira nos últimos anos faz com que seja importante a determinação da quantidade 
média de cafeína neste produto, a fim de evitar possíveis interações ou efeitos 
inesperados. Ainda, fazem um alerta: de acordo com valores estabelecidos, ao seguir a 
orientação do fabricante para o consumo diário do guaraná em pó, que fica entre 3 e 15 
g, um consumidor pode ingerir até cerca de 550 mg de cafeína, o que é uma quantidade 
suficiente para eliciar os sintomas de um distúrbio conhecido como “cafeinismo”. O 
“cafeinismo” pode ser causado por excesso de cafeína no organismo e apresentam 
como sintomas: sensação de ansiedade, inquietação, irritabilidade, entre outras reações 
desagradáveis, decorrentes do bloqueio excedente de receptores de adenosina, como 
mencionado no item sobre dados químicos e farmacológicos da espécie Coffea arabica. 
 
PLANTAS ALUCINÓGENAS 
 
MACONHA (Cannabis sp) 
 
 
Cannabis sativa 
 
 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Nome científico 
 
Pertencente à família botânica Cannabaceae, o gênero Cannabis possui um 
número considerável de espécies vegetais, entre as quais as mais comumente 
encontradas são Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis, espécies essas 
também consideradas a “maconha” popularmente conhecida. No entanto, embora 
diferentes espécies do gênero respondam pelo mesmo nome popular, a espécie mais 
comumente conhecida como maconha é, sem dúvida, a espécie Cannabis sativa. 
 
 a b c 
 
Desenhos esquemáticos para comparação entre: 
Cannabis indica (a), 
Cannabis ruderalis (b) e 
Cannabis sativa (c). 
 
 
Nomes populares 
 
Espécies pertencentes ao gênero Cannabis, principalmente C. sativa, C. indica e 
C. ruderalis, são conhecidas por uma infinidade de nomes, na dependência da região 
mundial. Até mesmo dentro de um mesmo país, as espécies do gênero podem ser 
conhecidas popularmente por diversos nomes, os quais também variam em função do 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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tipo de preparação que é feita a partir da planta. Os nomes mais frequentemente 
encontrados são cânhamo-da-índia (principalmente referindo-se à espécie C. indica), 
cânhamo, maconha (nome popular pelo qual as espécies do gênero são mais 
popularmente conhecidas no Brasil, em especial a espécie C. sativa), bhang e marijuana 
(nomes pelos quais são conhecidas preparações com menor conteúdo de substâncias 
psicoativas extraídas da planta como um todo), haxixe/hashish e charas (nomes dados 
à resina seca extraída das flores de plantas fêmeas, contendo uma maior porcentagem 
de compostos psicoativos), ghanja e sinsemila (o material seco encontrado no topo de 
plantas fêmeas), pot, weed ougrass (gírias norte-americanas pelas quais as espécies 
também podem ser conhecidas), hemp (nome usado para designar variedades com 
baixas concentrações do principal composto ativo, utilizadas principalmente para fins 
industriais), entre muitos outros nomes e gírias atribuídas popularmente a essas 
espécies. 
 
Informações botânicas 
 
A espécie Cannabis sativa é uma planta herbácea dióica, anual, com um talo 
rígido e resistente, reto e de cor verde escura. A planta possui um tamanho médio entre 
1 e 2 metros, podendo, em alguns casos, atingir até 6 metros. Libera um odor forte em 
função de ser uma espécie aromática. As folhas, finas, compridas e de bordos 
serrilhados, digitadas, se originam diretamente do talo, sem pecíolos, e são alternadas. 
As flores femininas se aglomeram nas axilas das folhas e aparecem mais na parte 
superior da planta. As flores masculinas se agrupam em ramos e são menores que as 
femininas. A planta masculina geralmente morre após polinizar a feminina. As plantas 
de Cannabis sativa se adaptam facilmente a diferentes condições de solo e clima, 
embora se desenvolva melhor em climas temperados, com média anual de chuva por 
volta dos 60 cm. Necessita de solo fértil, bem drenado, com pH entre neutro e alcalino, 
não crescendo em solo ácido. Sua propagação se dá preferencialmente por sementes, 
as quais são viáveis por mais de dois anos. 
 
Histórico 
 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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O uso de espécies vegetais do gênero Cannabis data de milhares de anos e, 
embora existam algumas contradições entre possíveis datas de início do uso, acredita-
se que já tenha sido utilizada, principalmente para fins medicinais, há 8000 anos. É 
provável que esse antigo uso da maconha seja devido, além da utilização medicinal, à 
utilização das espécies para fins alimentares (principalmente as sementes) e em função 
de produzirem uma fibra vegetal muito útil para a construção de cordas, cabos e 
confecção de produtos têxteis. O primeiro registro de uso medicinal da maconha data 
de aproximadamente 2000 anos, tendo sido originária da China. Existem descrições de 
seu potencial terapêutico naquela que é conhecida como a primeira farmacopeia do 
mundo, o Pen-Ts’ao Ching. Nos textos sagrados hindus, o Atharvaveda, que datam de 
aproximadamente 1200 a 800 a.C., a maconha é mencionada como “erva sagrada”, uma 
das cinco plantas sagradas da Índia, sendo utilizada de formas rituais e medicinais em 
oferendas a Shiva, uma das principais divindades hindus. Evidências arqueológicas 
sugerem que a maconha tenha sido introduzida na cultura europeia por volta de 500 
a.C., tendo sido encontrada, próximo a Berlim, uma urna contendo vestígios de folhas e 
que foi datada como sendo desta época. Personalidades as quais influenciaram o 
pensamento ocidental, tais como Heródoto, Dioscórides e Galeno também 
mencionaram a maconha, em alguma parte de suas obras, tanto em função de suas 
propriedades euforizantes quanto em função de sua potencialidade terapêutica. 
Referências que datam aproximadamente entre os anos 500 e 600 d.C. também são 
encontradas no Talmud dos judeus, com relação às suas propriedades euforizantes. Os 
assírios também faziam uso constante da maconha, a qual era considerada como o 
principal medicamento de sua farmacopeia, recebendo nomes em função da finalidade 
para a qual era utilizada, tal como o termo gan-zi-gunnu, denominação que quer dizer 
“substância que extrai a mente”. Lendas da tradição indiana dizem que a planta foi 
enviada pelos deuses como presente aos homens, para lhes dar coragem, prazer e 
aumentar seus desejos sexuais. Até hoje, na Índia, acredita-se nos poderes divinos da 
planta, que teria a capacidade de conferir poderes sobrenaturais a quem dela faz uso. 
Como pode ser percebido pelas informações acima, a maconha representa um 
dos cultivares mais antigos da humanidade, talvez em função de cinco principais 
motivos: por ser uma fonte de fibras, pelas características nutritivas de seu óleo, por 
suas sementes consumidas como alimentos, por suas propriedades psicoativas, 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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principalmente as alucinógenas, e terapeuticamente por tratar de uma ampla variedade 
de condições na medicina popular tradicional. Essa forte relação entre a espécie vegetal 
e os seres humanos acabou por influenciar fortemente algumas de suas características, 
desde sua facilidade de dispersão até o aumento da variedade de cultivares, a eficácia 
de germinação, o poder das sementes, entre outras condições. 
Embora existam evidências de que a maconha seja originária de regiões asiáticas, 
muito cedo ela foi levada a outras regiões do mundo. Acredita-se que os vikings a 
tenham levado para a Europa; os europeus, por sua vez, a teriam disseminado por outras 
regiões; os franceses a teriam levado para o Canadá e os espanhóis para o México e 
América Latina, principalmente o Peru. Ou seja, as espécies conhecidas atualmente 
como maconha encontram-se amplamente distribuídas pelas mais diferentes regiões do 
globo, com exceção da região ártica. 
 
Usos populares e efeitos popularmente relatados 
 
Embora algumas comunidades tradicionais consumam as sementes da maconha 
ou outras partes da planta em função de seu alto valor nutritivo, sem dúvida o principal 
uso se deve às suas funções psicoativas alucinógenas. E, para esta finalidade, a forma de 
uso mais amplamente utilizada é o fumo de preparações feitas de partes da planta, 
principalmente das folhas, flores e talos. As pessoas que a utilizam na forma de fumo 
relatam que o aparecimento de seus efeitos ocorre de forma quase imediata, com um 
pico de ação em torno de 20 minutos e com duração do efeito por volta de 1 a 2 horas 
após o início. Já na forma de ingestão de partes da planta, o aparecimento dos efeitos 
ocorre de forma mais tardia, de 1 a 2 horas após a ingestão, com uma duração maior, 
por volta de 3 a 4 horas após o início. 
Os efeitos relatados por seus usuários podem ser classificados qualitativamente 
em “positivos” – que são aqueles que reforçam o uso, ou seja, classificados por eles 
como bons –, “neutros”, ou “negativos” – que são aqueles considerados desagradáveis 
e indesejados. Embora exista uma grande variabilidade individual, os principais efeitos 
relatados pelos usuários são: 
 
Positivos 
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Euforia, relaxamento, alterações da percepção, sensação de bem-estar, 
aumento moderado dos sentidos (principalmente olfato, paladar e audição), maior 
sensibilidade à música, súbitas alterações no pensamento e na expressão, aumento da 
fluência verbal, risos frequentes e elevação do humor, redução do estresse, pensamento 
criativo e/ou filosófico, aumento do apetite, redução de náuseas, entre outros. 
 
Neutros 
Alteração geral do nível da consciência, movimentos vagarosos, alteração da 
percepção visual, aumento da sensibilidade a luzes e a cores, entre outros. 
 
Negativos 
Sentimentos paranóicos, problemas respiratórios das vias superiores, brusca 
alteração da frequência cardíaca, prejuízos cognitivos, sonolência e letargia, dificuldade 
em seguir uma linha de pensamento, náusea (principalmente quando associada ao uso 
de álcool ou de outros psicoativos), ataques de pânico e ansiedade severa, precipitação 
ou exacerbação de sintomas psiquiátricos, boca seca, nervosismo, redução da 
capacidade de concentração, cansaço e confusão mental, vermelhidão ocular, tensão 
facial, tosse e asma, dores de cabeça intensa, episódios alérgicos, entre outros. 
 
Dados químicos e farmacológicos 
 
Estudos revelam que a espécie C. sativa possui mais de 400 compostos químicos. 
Os chamados “compostos canabinóides” representam 50 a 60 desses compostos e são 
os responsáveis pela atividade biológica da planta.O principal composto canabinóide é 
denominado Δ9-THC, abreviação de Δ9-tetrahidrocanabinol, o qual foi isolado pela 
primeira vez na década de 60. No entanto, outros canabinóides também contribuem 
para a atividade biológica da planta, tais como o Δ8-THC, o canabinol, o canabidiol, o 
canabigerol, entre outros compostos, que parecem ter efeitos sinérgicos ou 
antagonistas aos do Δ9-THC, podendo modificar suas ações na dependência das 
concentrações. Os canabinóides estão presentes no talo, folhas, flores e sementes da 
planta, além da resina secretada pela planta fêmea. Os demais compostos químicos da 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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planta, considerados não-canabinóides, são muito semelhantes aos que estão presentes 
na espécie Nicotiana tabacum, conhecida popularmente como tabaco. 
A Cannabis afeta todo o sistema orgânico, combinando muitos dos efeitos 
presentes em outros agentes psicoativos, tais como o álcool, tranquilizantes, opióides e 
outros alucinógenos. Atua como ansiolítico, como sedativo, analgésico e psicodélico. 
Sua toxicidade aguda é extremamente baixa e, até hoje, nenhuma morte diretamente 
relacionada ao uso agudo de Cannabis foi relatada. Em função de seus efeitos 
especificamente sobre o sistema nervoso central, muitos estudos já foram conduzidos 
no sentido de esclarecer seu mecanismo de ação. 
Na década de 80, descobriu-se que os efeitos centrais da Cannabis ocorriam em 
função de suas ações sobre um conjunto específico de receptores celulares, por isso são 
chamados de receptores canabinóides, os quais estariam naturalmente presentes em 
neurônios humanos. Até o momento, são conhecidos dois tipos de receptores 
canabinóides neuronais, denominados de CB1 – amplamente distribuídos em regiões 
cerebrais –, e CB2 – esse encontrado apenas em regiões periféricas, principalmente no 
sistema imunológico. 
 A partir da descoberta da existência desses receptores canabinóides, surgiu a 
pergunta: se existem receptores naturais para os compostos canabinóides provenientes 
da planta, existirá no organismo algum composto que atue como um canabinóide 
natural, ou seja, produzido pelo próprio organismo? Os estudos subsequentes 
responderam afirmativamente a essa questão: uma série de canabinóides endógenos 
os quais agem como ligantes naturais desses receptores, e que passaram a ser chamados 
de endocanabinóides, foi descoberta. 
Embora com uma constituição química diferente dos canabinóides encontrados 
na planta, uma vez que os endocanabinóides parecem ser derivados do ácido 
aracdônico, esses compostos endógenos agem como agonistas dos receptores CB1 ou 
CB2, ou seja, ativando-os para a ocorrência dos efeitos biológicos. Foram descobertos, 
até agora, pelo menos três endocanabinóides, dos quais o mais frequentemente 
estudado, em função de sua ampla distribuição e quantidade, foi denominado de 
anandamida, nome que deriva do termo sânscrito ananda e que significa felicidade, 
alegria ou êxtase. Portanto, em função dos estudos sobre os efeitos centrais 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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promovidos pela Cannabis, foi descoberta uma nova classe de possíveis 
neurotransmissores, os quais compõem o sistema endocanabinóide humano. 
Alguns compostos canabinóides já puderam ser sintetizados artificialmente em 
laboratório e são consideradas drogas sintéticas que atuam como agonistas ou 
antagonistas específicos dos receptores CB1 e CB2. Um desses compostos, o 
rimonabanto, que atua bloqueando seletivamente os receptores CB1, tem sido 
amplamente utilizado em estudos sobre as ações dos canabinóides sobre o sistema 
nervoso central. 
A habilidade do THC e de um canabinóide sintético chamado nabilona em 
controlar a náusea e o vômito associado à quimioterapia do câncer é uma das poucas 
aplicações médicas bem documentadas dessas substâncias. O THC sinteticamente 
produzido, com o nome de dronabinol, e a nabilona foram aprovados para uso médico 
nos Estados Unidos, embora nenhuma das duas drogas tenha se mostrado muito útil. A 
estreita margem entre a dose antiemética e a que causa os efeitos psíquicos indesejados 
faz com que sejam drogas medicamentosas de difícil uso. 
Tendo sido constatados os efeitos centrais da planta, a pergunta é: como agem 
esses canabinóides vegetais no sistema nervoso central de forma que ocorram os efeitos 
psicoativos alucinógenos tão amplamente divulgados? Muitos estudos foram, e ainda o 
são, realizados em laboratório e, atualmente, dispõe-se de um grande número de 
informações sobre as ações dos compostos psicoativos da Cannabis. 
Alguns estudos sobre os efeitos dos canabinóides sobre o sistema psicomotor 
indicam que, em função dos receptores CB1 estarem expressos particularmente em 
altas densidades no gânglio basal e no cerebelo, que são áreas cerebrais responsáveis 
pelo controle motor, é compreensível que os canabinóides exerçam efeitos complexos 
sobre a função psicomotora. Em animais de laboratório, mostraram um efeito trifásico: 
em baixas doses, diminuem a atividade locomotora, em doses moderadas a altas 
estimulam os movimentos e, em doses extremas, causam catalepsia, que pode ser 
entendida como uma suspensão dos movimentos voluntários, acompanhada por rigidez 
muscular. 
 Animais de laboratório também parecem apresentar respostas do tipo “pipoca” 
quando tratados com THC: quando sedados com a substância, pulam abruptamente 
como resposta a um estímulo auditivo ou tátil e, como acabam pulando sobre outros 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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animais, inicia-se um evento em cascata. Ou seja, os animais permanecem imóveis por 
um período de tempo relativamente grande, saltando de forma abrupta ao serem 
estimulados. 
Esse comportamento sugere que os efeitos dos canabinóides sejam, em parte, 
devido a suas ações em receptores cerebelares ou estriatais, que são regiões cerebrais 
que controlam a intensidade do movimento de resposta, entre outras funções. Em 
testes com humanos, também já se demonstrou que a Cannabis produz prejuízos à 
performance motora, constatado por meio de testes os quais exigiam controle 
psicomotor. De fato, pessoas que fazem uso de Cannabis, com frequência relatam que 
podem permanecer imóveis por um longo período de tempo, mesmo sem se dar conta 
disso, respondendo de forma vigorosa quando estimulados. 
Com relação aos possíveis efeitos deletérios sobre a memória, relatados por 
pessoas que fazem uso de Cannabis, existe um grande número de estudos científicos 
realizados com humanos e que comprovam que a planta realmente exerce efeitos 
prejudiciais, especialmente sobre a memória de curta duração. 
A memória de curta duração, também chamada de memória de trabalho, é 
aquela necessária para que possamos realizar nossas tarefas diárias de forma 
satisfatória, sem que tenhamos que parar no meio delas sem saber o que estávamos 
fazendo ou o que deve ser feito na sequência. Os efeitos prejudiciais da Cannabis sobre 
a memória de curta duração são relacionados às ações dos canabinóides sobre uma 
estrutura cerebral chamada hipocampo, e que possui um papel fundamental nos 
mecanismos de memória, uma vez que existem relatos sobre a existência de um grande 
número de receptores CB1 hipocampais. 
Investigações a respeito dos efeitos da Cannabis sobre as habilidades de 
percepção têm produzido alguns resultados conflitantes. Enquanto os usuários 
frequentemente relatam um aumento subjetivo na percepção visual e auditiva, estudos 
realizados em laboratório não indicam grandes alterações em ambas as classes de 
percepção. Por outro lado, um efeito subjetivo que tem sido cientificamente confirmado 
é a sensação experimentada por quem utiliza a maconha de que o tempo parece passar 
mais rapidamente quando sob o efeito da substância. 
Com o intuito de investigar a suposta reação desonolência relatada por usuários 
da planta, trabalhos científicos avaliaram os efeitos do uso agudo ou crônico da 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Cannabis sobre a atividade eletroencefalográfica (EEG), que registra, em forma de ondas 
que representam o sinal elétrico cerebral, a situação fisiológica do cérebro. Tanto em 
humanos quanto em animais de laboratório, foram observadas profundas alterações no 
padrão do EEG, consistentes com um estado de sonolência ou torpor. 
Estudos de laboratório também foram feitos a respeito dos efeitos da Cannabis 
sobre a função cognitiva, a qual mostrou prejudicar o desempenho cognitivo em uma 
grande variedade de testes. No entanto, trabalhos científicos indicam que os efeitos 
danosos da Cannabis sobre as funções cognitivas mostramse mais discretos e tênues 
quando comparados àqueles produzidos pelo álcool, por exemplo. 
Tais estudos afirmam que respostas comportamentais que necessitam de uma 
rápida mobilização mostram-se muito prejudicadas mesmo por uma dose moderada de 
álcool, enquanto que doses altas de Cannabis não mostraram o mesmo efeito. Entre os 
prejuízos cognitivos causados pelo uso da Cannabis, já comprovados em muitos, porém 
não em todos os indivíduos, incluem-se: diminuição da habilidade de inibição de 
respostas, diminuição da vigilância, especialmente em tarefas longas e entediantes, 
diminuição da habilidade de realizar cálculos mentais complexos e prejuízos em testes 
de reações de tempo. 
Com relação à suposta atividade da Cannabis como estimulante do apetite, as 
investigações científicas confirmam esse fato, embora os resultados sejam variáveis. 
Testes clínicos demonstraram que o THC desempenhou um significativo efeito benéfico 
contra a perda de apetite e a redução do peso corporal em pacientes com AIDS, e essa 
é uma das indicações médicas para as quais essa substância foi aprovada oficialmente 
nos Estados Unidos. Trabalhos realizados indicam que o possível mecanismo pelo qual 
ocorre esse aumento no apetite seja devido à ação inibidora dos canabinóides sobre os 
efeitos de um hormônio chamado leptina que, em condições normais. Atua 
promovendo menor ingestão alimentar e regulando o eixo hipotálamo-hipófise, 
regulador do apetite, além de atuar sobre mecanismos neuroendócrinos. 
Muitas dúvidas existem a respeito da possibilidade de que o uso crônico de 
Cannabis possa causar efeitos irreversíveis às funções cerebrais, que persistam após a 
pessoa parar de usá-la. Essa é uma questão controversa e estudos que possam confirmar 
ou refutar essa hipótese são de difícil elaboração, uma vez que não é suficiente 
identificar um grupo de usuários e simplesmente testá-los após pararem de usar. 
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Embora exista essa dificuldade, que pode prejudicar os resultados de testes já 
realizados, a conclusão de algumas pesquisas a respeito do tema é que o uso regular de 
Cannabis pode, sim, causar pequenos, porém significativos, prejuízos sobre a função 
cognitiva, e que podem persistir após o término do uso. Esses danos parecem estar 
associados ao uso pesado e de longo prazo da planta e não parece afetar o que se chama 
de “usuários de recreação”. 
Além dos efeitos sobre o sistema nervoso central, os canabinóides interferem 
em muitos outros processos do organismo humano, da mesma forma que fazem outros 
alucinógenos. Com relação aos efeitos cardiovasculares, produzem taquicardia dose-
dependente, podendo ultrapassar a frequência de 160 batimentos por minuto, embora 
a tolerância a esse efeito seja desenvolvida com o uso persistente. Ainda com relação 
aos efeitos vasculares, a ocorrência de vasodilatação e vermelhidão das conjuntivas é 
vista como sendo considerado um sinal característico do uso de Cannabis. 
Esses efeitos cardiovasculares podem representar um grande risco para 
indivíduos que apresentem uma doença cardíaca pré-existente, e vários casos de 
incidentes cardíacos agudos já foram relatados em jovens os quais faziam uso da planta. 
Com relação aos efeitos sobre o sistema respiratório, as preparações feitas à base de 
Cannabis com o intuito de serem fumadas apresentam uma composição química muito 
semelhante à do tabaco, como já foi mencionado anteriormente, ou seja, monóxido de 
carbono, diversas categorias de irritantes brônquicos, agentes mutagênicos que podem 
desencadear o desenvolvimento de tumores, e agentes carcinogênicos. Estima-se que 
um cigarro feito de Cannabis, quando fumado, aumente cinco vezes mais a 
concentração de carboxi-hemoglobina e três vezes mais a quantidade de alcatrão 
inalado e retido no trato respiratório do que um cigarro convencional de tabaco. 
 Em função desse e de outros fatores, o fumo crônico de Cannabis está associado 
a crises de asma, bronquite e ocorrência de enfisema pulmonar. Existem evidências de 
que o fumo de 3 a 4 cigarros de maconha seja equivalente ao fumo de 20 cigarros ou 
mais por dia, com relação à ocorrência de bronquite aguda e crônica e ao alto grau de 
dano à mucosa brônquica. Além disso, parece haver um aumento da incidência de 
câncer orofaríngeo em pessoas jovens que fumam Cannabis de forma crônica. 
Ainda com relação aos efeitos sobre outros sistemas que não o central, a 
Cannabis parece possuir efeitos imunossupressores e endócrinos. Especificamente com 
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relação ao sistema endócrino, existem relatos de desenvolvimento de ginecomastia em 
homens jovens, que é o desenvolvimento anormal das glândulas mamárias, associada 
ao uso da maconha. O uso crônico também está associado a riscos reprodutivos, tanto 
à mãe durante a gestação e ao feto quanto ao recémnascido, embora sejam necessários 
mais estudos nessa área. 
Muitos relatos já foram feitos a respeito do possível estabelecimento de 
tolerância aos efeitos da Cannabis, tanto aos efeitos psicoativos quanto aos efeitos 
sobre demais sistemas orgânicos. Isso significa que, para manter o mesmo efeito obtido 
inicialmente, as pessoas que dela fazem uso precisam aumentar a dose regularmente. 
A existência de sintomas de retirada também já foi demonstrada de forma clara 
por estudos científicos, tanto em animais de laboratório quando em humanos. Esses 
sintomas de retirada, ou de abstinência, são muito semelhantes aos causados pelo 
álcool, por agentes opióides ou por drogas benzodiazepínicas, os quais incluem 
sensação de impaciência, insônia, ansiedade, predisposição a comportamentos 
agressivos, anorexia, tremores musculares e efeitos autonômicos. Portanto, em função 
de haver desenvolvimento de tolerância, fazendo com que o usuário necessite 
aumentar sua dose para obtenção dos efeitos desejados. E de ocorrer sintomas com a 
retirada do uso, facilitando o encorajamento da continuidade do uso, o uso crônico da 
Cannabis parece sim causar dependência, ao contrário de informações polêmicas que 
são divulgadas, existindo, inclusive, pacientes em tratamento contra a dependência. 
Portanto, frases como “eu fumo há 40 anos e nunca me viciei”, como algumas que foram 
divulgadas na mídia recentemente, devem ser interpretadas apenas do ponto de vista 
cômico e teatral, realmente, uma vez que as investigações científicas e os relatos de 
pacientes mostram que o contrário com frequência acontece. 
 
COCA (Erythroxylon coca) 
 
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Erythroxylon coca 
 
Nome científico 
 
Pertencente à família botânica Erythroxylaceae e ao gênero Erythroxylon, a 
espécie vegetal conhecida como “coca” foi descrita pela primeira vez como sendo 
pertencente a esse gênero em 1783, por A. L. Jussieu, embora seu nome tenha sido 
cunhado em 1786 por Lamarck, que a chamou de Erythroxylon coca. Embora tenha sido 
considerada como um único espécime botânicopor mais de 100 anos, hoje se sabe que 
existem duas variedades distintas. A primeira, denominada Erythroxylon coca variedade 
coca, é aquela conhecida com “coca boliviana” ou “coca huánuco”, e representa a 
variedade ancestral, tendo originado a segunda variedade, Erythroxylon coca variedade 
ipadu, conhecida como “coca amazônica”. 
 
 
Nomes populares 
 
A espécie Erythroxylon coca é conhecida como “coca” pelos povos dos altiplanos 
andinos, que a utilizam desde tempos ancestrais. A palavra coca foi originada do termo 
khoka que, na língua aymara – considerada a língua mãe na Bolívia e no Peru e também 
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presente antes mesmo da chegada dos incas à região significa: árvore. Também é 
conhecida pelo nome de “ahpi” pelos índios Tukano de regiões brasileiras, palavra que 
tem o significado de leite ou leite materno. Em algumas tribos indígenas do extremo 
norte do Brasil também é conhecida como “epadu”, nome que remete à forma de uso 
das folhas de coca, as quais são utilizadas trituradas. 
 
Informações botânicas 
 
A espécie Erythroxylon coca é uma espécie perene que pode ser encontrada nas 
formas arbustiva ou arbórea. Sua propagação pode ser feita por meio de sementes ou 
estaquia, sendo que cada fruto produz uma só semente. Sua germinação ocorre em 
aproximadamente 24 dias e uma plantação pode vingar por até 15 a 20 anos. 
 A colheita das folhas pode originar de 1700 a 2250 kg por hectare e, nos dois 
primeiros anos, pode haver uma média de 2 a 3 colheitas. Suas folhas são alternadas, 
elípticas ou ovaladas, com pecíolo, e apresentam duas linhas longitudinais em ambas as 
extremidades. Possuem flores pequenas e perfumadas, de coloração entre branca e 
amarela, que florescem nas axilas das folhas. Cresce melhor em altitudes entre 1200 e 
2000 metros, com temperaturas amenas e apresenta pouca tolerância a temperaturas 
elevadas. Seus frutos são pequenos e de coloração avermelhada. Sua propagação se dá 
tanto por semente quanto por mudas transplantadas. 
 
 
 
 
Folhas de coca secas (a); folhas de coca secas para comercialização na região 
andina (b). 
b a 
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Histórico 
 
A coca é uma espécie vegetal considerada sagrada pelos povos que habitam a 
região andina na América do Sul. Os incas, que habitavam principalmente a região onde 
hoje é Cuzco, no Peru, cultivavam e consumiam as folhas da coca, principal parte 
utilizada da planta, conservando diferentes lendas sobre sua origem. Para os incas, a 
coca teria uma ligação direta com a lenda de Manco Capac, que teria sido o primeiro 
inca, descendente direto do Deus Sol, para eles chamado de Inti. Diz a lenda que Manco 
Capac, o filho do Sol, teria descido dos céus sobre as águas do Lago Titicaca para ensinar 
aos homens as artes, a agricultura e para presentear-lhes com as primeiras sementes da 
planta cujas folhas seriam consumidas, tornando-os capazes de suportar a fadiga e a 
fome. 
Já para os índios Yunga, etnia indígena também de língua aymara e que 
habitavam a região onde hoje é a capital do Peru, Lima, o arbusto da coca possibilitaria 
derrotar o deus maligno. Portanto, em muitas regiões onde a planta da coca cresce 
naturalmente ou é cultivada, os habitantes possuem uma forte crença em sua origem 
divina, o que fez com que muitos sacerdotes mantivessem até hoje a tradição secular 
de utilizar as folhas para reverenciar seus deuses. Até hoje, a reverência aos deuses 
utilizando as folhas de coca faz parte da tradição religiosa de muitas populações 
indígenas do Peru, Colômbia, Bolívia e Equador, e pode ser vista em alguns eventos 
realizados com finalidades turísticas nessas regiões. 
Os primeiros relatos europeus sobre a utilização da planta datam de 1507 e 
foram feitos por Américo Vespúcio, o qual descreve o hábito de populações latino-
americanas de se mascar as folhas juntamente com cinzas. No entanto, existem 
evidências arqueológicas que sugerem que as populações indígenas da região andina já 
utilizavam as folhas de coca há cerca de 5000 anos. 
Primeiramente, a mastigação de suas folhas era restrita aos sacerdotes e à classe 
dominante; eram oferecidas em sacrifício aos deuses, mastigadas como parte de 
cerimônias religiosas, e colocadas na boca dos mortos como forma de assegurar uma 
viagem segura e agradável ao próximo mundo. A mastigação casual de coca era 
considerada sacrilégio e punida rigorosamente. Com o declínio do Império Inca, o uso 
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da coca começou a perder muito do seu significado religioso inicial e, na época da 
Conquista Espanhola, a mastigação das folhas já se encontrava disseminada entre todas 
as classes sociais. 
Quando se iniciou o processo de colonização nas regiões onde hoje se encontra 
o Peru, Bolívia e a Colômbia, as autoridades espanholas primeiramente condenaram o 
uso da coca, acreditando que os efeitos por ela produzidos tornavam os indígenas mais 
difíceis de serem catequizados e convertidos em força de trabalho, chegando mesmo a 
afirmar que era “uma planta enviada pelo demônio para destruir os nativos”. 
Assim, em 1551 o uso das folhas de coca pelas populações indígenas da região 
foi banido pelo Conselho Eclesiástico de Lima. Em 1569, no entanto, o Rei Felipe II da 
Espanha decretou que o ato de mascar as folhas de coca representava um hábito 
essencial para a manutenção da saúde do índio, liberando novamente seu consumo. 
O que pode ter parecido um ato de reconhecimento da cultura indígena local 
nada mais era que o interesse na otimização da força de trabalho, pois as autoridades 
espanholas perceberam que mascar as folhas aumentava o desempenho e diminuía a 
fome e a sede dos índios cativos, que eram explorados para o trabalho. 
Assim, sob o efeito dos princípios ativos contidos nas folhas, os índios 
trabalhavam mais arduamente e tinham menor necessidade de alimentação, efeito esse 
que é reconhecido até hoje. Frequentemente, passaram a ser pagos por seus trabalhos 
com folhas da coca e a Igreja Católica, que havia inicialmente declarado que seu uso era 
pecaminoso, passou a manter plantações para esse fim. 
 Após a colonização espanhola, os médicos, botânicos e demais pesquisadores 
que acompanhavam as expedições, passaram a levar para a Europa a planta que 
continha princípios considerados por eles como “euforizantes”, visando introduzir seu 
uso na sociedade europeia. Ao contrário do que se poderia esperar, no entanto, a 
sociedade europeia da época não se interessou muito por seu uso, que teve seu ápice, 
somente muitas décadas depois. 
Embora seja uma planta nativa da região andina, principalmente no Peru e na 
Bolívia, a espécie Erythroxylon coca cresce naturalmente hoje em muitas regiões da 
América do Sul, tais como o Chile, a Argentina, a Colômbia e outras regiões da Bacia 
Amazônica. 
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Cultivada em clima tropical e altitudes que variam entre 450 e 1800 metros 
acima do nível do mar, continua sendo usada pelos nativos da região, que mascam suas 
folhas em uma grande variedade de situações. Atualmente, também é cultivada na 
África (principalmente em Camarões) e na Ásia (especialmente na Índia e na Indonésia). 
 
Usos populares e efeitos popularmente relatados 
 
Um grande número de lendas se refere à espécie como estando envolvida nos 
mistérios sagrados da fertilidade, da sobrevivência e da morte, bem como em práticas 
curativas amplamente difundidas entre as populações indígenas das regiões andinas. 
Muitas tribos da Bacia Amazônica, principalmente na região de fronteira entre a 
Venezuela, a Colômbia e o Brasil, mantêm o hábito de mascar o “epadu”, ou “ipadu”. 
Nessa forma, as folhas são consumidas torradase misturadas com elementos 
básico-alcalinos, transformadas em pó e agrupadas em pequenas bolinhas. Os homens 
e as mulheres mais idosos, principalmente índios brasileiros da tribo Tukano, ingerem o 
pó várias vezes ao dia. Além de ser consumida em função de seu alto valor nutritivo, 
esses indígenas buscam o bem-estar e a ação euforizante para realização de suas tarefas 
cotidianas; portanto, o uso das folhas da coca está profundamente inserido na 
cosmologia e na cosmovisão dessas populações indígenas. 
Desde tempos antigos, as folhas da coca são utilizadas pelas populações 
tradicionais como anestésico estimulante e como um inibidor da fome, sede e cansaço. 
Também são utilizadas para inibir a náusea induzida pelas grandes altitudes, para 
impedir os vômitos e no tratamento de dores de estômago. Muitos nativos das 
montanhas peruanas utilizam-na para evitar a fome, aliviar a fadiga e para “elevar o 
espírito”. A toxicidade do uso tradicional parece ser muito baixa, uma vez que poucas 
concentrações de alcaloides estão disponíveis nas folhas em forma bruta. 
Quando efeitos danosos ocorrem, muitas vezes não são notados, ou são 
associados a outras condições. A quantidade do princípio ativo presente nas folhas que 
são mastigadas é relativamente baixa. A estimativa é de que, em média, fossem 
mascadas 60 g de folhas por dia, ou seja, em torno de 200 a 300 mg de cocaína – em 
forma bruta e não refinada –, principal princípio ativo presente nas folhas e sobre a qual 
será falado mais detalhadamente adiante. 
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Com relação ao uso tradicional, parece haver um limite, até mesmo físico, do 
número de folhas capazes de serem mascadas, servindo até como uma segurança contra 
os efeitos tóxicos das folhas utilizadas pelas populações tradicionais. O uso de cinzas 
junto com as folhas, realizado no ato da mastigação, deve-se ao fato de sua absorção 
pela mucosa da cavidade oral apenas se realizar em pH básico, fato esse observado 
desde os antigos que já a utilizavam. Os efeitos das folhas mascadas sobre o corpo é 
semelhante aos efeitos produzidos pela ingestão de grandes doses de cafeína. 
 
 
Dados químicos e farmacológicos 
 
A descoberta dos componentes químicos das folhas de coca, bem como da 
cocaína como sendo seu principal componente bioativo, possui uma longa e detalhada 
história, bem como informações ligeiramente desencontradas com relação às datas 
precisas. 
Em 1855, o químico alemão Friedrich Gaedcke conseguiu preparar um extrato à 
base das folhas de coca, que ele chamou de erythroxylene. Em 1859, outro químico 
também alemão, chamado Albert Niemann, conseguiu isolar a cocaína desse extrato das 
folhas produzido por Gaedcke, entre os numerosos alcaloides que ali existiam, e notou 
que só a cocaína representava cerca de 80% do total de alcaloides presentes. 
Além da cocaína, outros alcaloides também se mostraram presentes no extrato, 
tais como a nicotina, a cafeína e a morfina. Em concentrações menores, também foram 
encontradas as vitaminas tiamina, riboflavina e ácido ascórbico. Os efeitos fisiológicos 
específicos da cocaína passaram a ser estudados a partir de 1862, e a partir de 1880 suas 
propriedades farmacológicas começaram a ser investigadas. 
Em 1885, um químico que trabalhava para a indústria farmacêutica, Parke Davis, 
descobriu uma maneira de produzir cocaína semi-refinada nos países onde as fábricas 
estavam instaladas, revolucionando a produção que, até então, era feita levando-se as 
folhas da coca da América do Sul para outros países. Em que eram transformadas em 
produtos, perdendo-se muito da concentração do princípio ativo ao longo desse 
transporte. 
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Treze anos depois, em 1898, a estrutura química da cocaína foi descoberta e, 
quatro anos mais tarde, em 1902, Richard Martin Willstätter, que em 1915 seria 
condecorado com o Prêmio Nobel de Química por seu trabalho sobre pigmentos 
vegetais, conseguiu produzir cocaína sintética em laboratório. 
A cocaína é um alcaloide, mais especificamente uma benzoilmetilecgonina, 
obtida por purificação a partir das folhas de E. coca, e representa cerca de 0,5 a 1,8% do 
peso seco do material vegetal. Cerca de trinta anos após o seu isolamento pelo químico 
alemão Gaedke, o uso medicinal da cocaína foi introduzida na medicina europeia por 
ninguém menos que Sigmund Freud, o renomado médico psiquiatra fundador da 
psicanálise. 
Freud ficou tão admirado com os efeitos da cocaína e com o que ele acreditava 
ser um potencial medicamentoso incomparável que, em 1884, escreveu um livro cujo 
tema central era justamente os efeitos da cocaína sobre o organismo humano. E para o 
qual ele deu o título de Uber Coca, que em alemão significa “Sobre a Coca”. Nesse livro, 
Freud se mostra convencido das propriedades medicinais da cocaína, enaltecendo-a em 
função dos efeitos provocados e relatando a prescrição que fez a pacientes em estados 
depressivos, de 50 a 100 mg por via oral. 
 Em função de seu entusiasmo com a substância, Freud chegou a ser acusado de 
irresponsabilidade pela comunidade científica da época. Entre os efeitos 
medicamentosos da cocaína citados por Freud estão: estimulante, afrodisíaco, 
anestésico local, para o tratamento de diferentes tipos de asma e de desordens 
digestivas, contra exaustão nervosa, histeria e sífilis, no tratamento de mal-estares 
relacionados à altitude, no tratamento do alcoolismo e da dependência à morfina. 
O próprio Freud, segundo alguns de seus biógrafos, fazia uso diário de 200 mg 
de cocaína por dia, por via oral, em função do potencial medicamentoso da substância, 
por ele defendido. Em função disso, passou a tratar com cocaína um de seus amigos, 
Ernst Von Fleischl Marxow, um eminente fisiologista austríaco e estudioso do 
funcionamento cerebral, o qual havia amputado uma perna e se tornado dependente 
da morfina. No entanto, contrariamente ao esperado por Freud, Marxow não obteve 
nenhum quadro de melhora passando, inclusive, a desenvolver paranóias e alucinações 
e a se tornar dependente da cocaína. Freud também utilizou a cocaína para tratar outro 
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amigo, Karl Koller, médico oftalmologista austríaco, o qual também se tornou 
dependente dessa substância. 
Em função dos resultados desastrosos obtidos, Freud mudou sua opinião a 
respeito das potencialidades médicas da cocaína e, em 1887, escreveu um novo livro, 
dessa vez depreciando e desaconselhando seu uso médico em função dos sintomas 
paranóides que observou em seus pacientes e de seu grande potencial em causar 
dependência. Em 1892, chegou mesmo a reeditar o livro Uber Coca, contradizendo o 
que havia afirmado na primeira edição a respeito da cocaína. 
Em 1884, o próprio Karl Koller, que havia sido tratado por Freud e que era médico 
oftalmologista, demonstrou, pela primeira, vez que o olho humano se tornava insensível 
à dor quando sob o efeito da cocaína e, desta forma, foi o primeiro a defender a cocaína 
como um potencial anestésico. E foi como anestésico local que a cocaína se difundiu na 
prática médica ocidental. 
Além da ação anestésica, a cocaína produz uma série de outros efeitos 
fisiológicos sobre diferentes sistemas orgânicos. Atua, também, como um potente 
agente vasoconstritor; possui forte efeito sobre o sistema nervoso simpático; aumenta 
a frequência cardíaca e a pressão sanguínea, entre tantos outros efeitos. Do ponto de 
vista de abuso da substância, os efeitos mais relevantes da cocaína incluem a grande 
habilidade em produzir euforia e à sua capacidade reforçadora, o que facilita o 
estabelecimento do vício. 
Portanto, embora tenha sido inicialmente empregada pela medicina, como um 
anestésico local, muitos outros compostos foram desenvolvidos quese mostraram, e 
ainda se mostram, superiores em eficácia à cocaína para este fim, além de não causarem 
os múltiplos efeitos indesejados desta. Atualmente, o único emprego médico desse 
alcaloide ocorre nos Estados Unidos, com o intuito de evitar sangramento nasal durante 
a entubação nasotraqueal, em função de seu efeito vasoconstritor e como analgésico 
local. 
Diversos estudos já comprovaram que efeitos estimulantes e alucinógenos da 
cocaína ocorrem em função de sua ação sobre neurotransmissores cerebrais 
específicos. Possui um efeito simpatomimético, ou seja, atua estimulando as funções 
gerais do organismo. 
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Potencializa os efeitos da estimulação simpática em quase todos os sistemas 
corporais, principalmente o sistema nervoso central, por meio da inibição da recaptação 
de catecolaminas (adrenalina, noradrenalina, dopamina, etc.) pelos terminais nervosos. 
Como a recaptação das catecolaminas é a principal forma de finalização da transmissão 
simpática, a resposta adrenérgica acaba sendo potencializada, uma vez que a 
concentração de catecolaminas vai aumentando na fenda sináptica. Além disso, outro 
mecanismo de ação da cocaína se refere ao bloqueio de canais de sódio inibindo, assim, 
a formação de um potencial de ação (tanto neuronal quanto no músculo cardíaco). 
Um sistema específico de neurotransmissores parece ser particularmente 
afetado pela cocaína, sendo relacionada a ele a maioria dos efeitos observados: o 
sistema dopaminérgico. 
Em regiões do cérebro, os receptores dopaminérgicos parecem possuir um sítio 
específico de ligação para a cocaína. Assim, quando ligada a este sítio específico do 
receptor dopaminérgico, a cocaína impediria a recaptação de dopamina, levando ao 
aumento das concentrações na fenda sináptica. Acredita-se que esse mecanismo de 
ação desempenhe um papel importante no mecanismo de recompensa. 
 No qual leva ao abuso da cocaína, quando ocorre nos neurônios dopaminérgicos 
que partem do tronco cerebral e vão até o sistema límbico, área do cérebro que 
participa da regulação do comportamento emocional e da percepção do prazer. Os 
efeitos observados com o uso da cocaína tais como: resposta eufórica, hiperatividade, 
hiperestimulação sexual, entre outros efeitos considerados “prazerosos”, podem ser 
relacionados, portanto, ao aumento da dopamina especificamente nessas vias 
neuronais. 
Por meio do mecanismo de inibição da recaptação, portanto, a cocaína aumenta 
a quantidade de dopamina; no entanto, este efeito é apenas temporário, sendo seguido 
por uma queda dos níveis de dopamina a níveis abaixo do normal, o que pode explicar 
a ânsia por novo uso, estabelecendo-se um mecanismo de dependência. 
A cocaína parece afetar também, de forma significativa, as concentrações 
cerebrais de outro neurotransmissor: a serotonina. Inibindo sua síntese, que é feita a 
partir do aminoácido triptofano, e aumentando as ações da hidroxilase que a inativa, a 
cocaína pode promover uma diminuição da concentração normal de serotonina no 
cérebro. 
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A serotonina está envolvida na regulação do sono, apetite e do humor, o que 
ajudaria a explicar os efeitos da cocaína como inibidora do sono e anorexígeno. Outros 
efeitos da cocaína, como midríase (dilatação das pupilas), hipertensão, taquicardia e 
taquipnéia parecem ser mediados por uma ação da cocaína também sobre o sistema 
noradrenérgico de neurotransmissão, efeitos esses que são importantes do ponto de 
vista toxicológico. 
Além dos efeitos centrais, a cocaína produz uma ampla gama de efeitos sobre 
outros sistemas orgânicos. Estudos afirmam que a cocaína possui um forte efeito sobre 
o sistema cardiovascular, podendo induzir arritmias cardíacas e fibrilação ventricular. 
Frequentemente produz dores torácicas, hipertensão, distúrbios psiquiátricos como 
psicose, paranóia, agitação, ansiedade, depressão e ataques de pânico. Também é 
relatado, com frequência, ocorrência de hemorragia subaracnoídea, acidentes 
vasculares cerebrais, convulsões, dores de cabeça e até mesmo morte súbita com o uso 
de cocaína. 
 
AYAHUASCA 
 
 
 Ayahuasca sendo preparada para uso ritual. 
 
Histórico 
 
Diferentemente do que vem sendo apresentado, a ayahuasca não representa 
uma espécie vegetal psicoativa e, sim, uma bebida preparada a partir de diferentes 
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espécies vegetais. Portanto, a ordem dos tópicos que vinha sendo apresentada não será 
seguida aqui, de forma a tornar as informações mais coerentes. 
A ayahuasca é considerada por aqueles que dela fazem uso como um 
“enteógeno”, e não um alucinógeno propriamente dito. Enteógenos podem ser 
entendidos como substâncias nas quais geram experiências de cunho místico, que fazem 
com que aqueles que as vivenciam se sintam mais próximos do Divino, da esfera 
cósmica. Portanto, como pode ser compreendido por meio desta afirmação, o uso da 
ayahuasca tem se difundido muito mais vinculado a um contexto religioso e de 
facilitação do autoconhecimento do que como um alucinógeno de recreação, 
diferentemente de outras espécies vegetais. 
Embora frequentemente associado a grupos religiosos espalhados pelo Brasil e, 
hoje, também por muitos países ao redor do mundo, o uso da ayahuasca remete a 
tempos remotos entre grupos indígenas da Bacia Amazônica, e passou a chamar a 
atenção dos antropólogos ocidentais a partir da metade do século XIX. 
Embora não existam registros precisos da origem histórica do uso da ayahuasca, 
algumas evidências arqueológicas sugerem que seu uso poderia ter ocorrido já entre 
1500 a 2000 anos antes de Cristo, na região da Amazônia Equatoriana, evidências essas 
que não dizem respeito especificamente ao uso da ayahuasca e, sim, a muitas outras 
espécies vegetais psicoativas; acredita-se que, se os grupos humanos desta região 
desenvolveram um conhecimento tão vasto a respeito de um grande número de outras 
espécies vegetais psicoativas por volta desta época, muito provavelmente a ação da 
ayahuasca também era conhecida, e seu uso também já era realizado. 
Para uma ampla e profunda revisão sobre as origens da utilização da ayahuasca, 
recomenda-se a leitura do trabalho intitulado Ayahuasca: An Ethnopharmacologic 
History (Ayahuasca: História Etnofarmacológica), do etnofarmacologista norte-
americano Dennis McKenna, a quem a autora gostaria de agradecer particularmente 
pelas contribuições oferecidas durante a preparação deste item. Além de Dennis 
McKenna, a autora também agradece a Jace Callaway e a Jordi Riba, os quais se 
mostraram muito gentis ao enviar seus artigos originais, bem como demais informações, 
que foram incorporados neste item. 
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O termo “ayahuasca” vem da língua quíchua, uma das línguas oficiais do 
Equador, Peru e Bolívia, e significa “trepadeira das almas”, “vinho dos mortos” ou ainda 
“vinho das almas”, em uma referência direta ao seu efeito místico. 
No contexto tradicional, é uma bebida utilizada por xamãs, pajés ou outros 
indivíduos que atuam como líderes religiosos de comunidades indígenas amazônicas, 
principalmente em ritos de passagem, como fonte de cura para enfermidades do corpo 
e da alma, em rituais mágicos e religiosos. Estima-se que a ayahuasca faça parte do 
contexto social e cultural de mais de 70 grupos indígenas no Brasil, Venezuela, Equador, 
Peru e Bolívia. 
Sendo frequentemente empregada como um potente remédio, para promover 
o encontro com espíritos, entidades mágicas e divindades, para compreensão dos 
mistérios da natureza, entre outras condições da cultura de tais comunidades. O contato 
de seringueiros, agricultores e de populações ribeirinhas, que foram se instalando naregião amazônica no início do século passado. Proporcionou não só o contato com a 
bebida de uso ritual como a sua incorporação nos elementos religiosos já estabelecidos 
nesses grupos sociais, de forma que o uso da ayahuasca atingiu um novo contexto 
cultural. 
 A partir das décadas de 20 e 30, aproximadamente, a bebida passou a 
representar o principal meio de contato com as dimensões espirituais em grupos 
religiosos brasileiros marcados por um forte sincretismo religioso, nos quais se fundem 
elementos das tradições indígenas, do catolicismo e de rituais afrobrasileiros. Três dos 
principais grupos pertencentes ao que se denomina de “religiões ayahuasqueiras” são 
representados atualmente pela União do Vegetal, pelo Santo Daime e pela Barquinha, 
entre outros grupos menores. 
 Embora com manifestações distintas, os grupos tendem a ter características 
comuns, todas norteadas pelo consumo ritual da ayahuasca. Esse consumo é feito de 
maneira ritualística, incluindo ritos de iniciação e graus de aprendizagem; além disso, 
tais religiões são marcadas por princípios éticos e morais bem determinados, 
estabelecidos com base no grande envolvimento de seus membros tanto com os rituais 
em si quanto com a própria comunidade religiosa. 
Embora surgidas no território da Amazônia brasileira nas décadas de 20 e 30, 
atualmente encontram-se grupos espalhados por todo o território nacional, sendo que 
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um grande número também já foi implantado em outros países. Principalmente no 
continente europeu, por brasileiros ali radicados ou por estrangeiros que, tendo tido 
contato com tais religiões no Brasil, para lá levaram o conhecimento do uso. 
 A ayahuasca é preparada a partir da fervura de muitas horas do caule cortado 
da espécie Banisteriopsis caapi, com uma de diversas outras espécies vegetais, na 
dependência do contexto cultural de preparo. 
Mais de 90 espécies diferentes, pertencentes à cerca de 40 famílias botânicas, 
podem ser individualmente adicionadas à Banisteriopsis caapi no preparo da ayahuasca. 
Entre as quais podem ser citadas Nicotiana tabacum e Nicotiana rustica (tabaco), 
Erythroxylon coca (coca), Ilex guayusa (do gênero ao qual pertence à erva-mate), 
Paullinia yoco (do gênero do guaraná), Brugmansia suaveolens e Brugmansia insignis 
(saia-branca ou trombeteira), entre outras. 
 De todas as possíveis espécies empregadas no preparo da ayahuasca, sem 
dúvida duas são as mais frequentes, Psychotria viridis e Diplopterys cabrerana, sendo a 
primeira a mais relevante em termos do número de grupos que a utilizam. 
Portanto, em função do possível emprego de diferentes espécies vegetais, 
juntamente com Banisteriopsis caapi, no preparo da ayahuasca, é sempre importante 
especificar quais espécies foram utilizadas, quer seja para uso ritual da bebida ou para 
fins de investigação de sua atividade biológica. Neste capítulo, será dada ênfase à 
ayahuasca preparada a partir de Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis. 
A história do conhecimento sobre a ayahuasca também recebeu importantes 
contribuições a partir do trabalho do antropólogo Luis Eduardo Luna, o qual foi o 
primeiro a utilizar o conceito de “plantas mestres”, como são consideradas muitas 
plantas capazes de produzir experiências místicas. Foi por meio do trabalho deste 
pesquisador em parceria com Dennis McKenna, em 1986, que surgiu o interesse em uma 
possível investigação biomédica sobre a ayahuasca. 
Tal investigação pôde ser iniciada a partir de 1991, quando foram convidados 
pela União do Vegetal a participar da primeira Conferência de Estudos Médicos sobre a 
Ayahuasca, em São Paulo. 
 Retornando aos Estados Unidos, McKenna passou a elaborar as bases dessa 
investigação, a qual seria posteriormente conhecida como PROJETO HOASCA, e que teve 
seus trabalhos iniciados em 1993, contando com a participação de importantes 
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pesquisadores da Universidade da Califórnia, da Universidade de Miami, da 
Universidade de Kuopio na Finlândia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da 
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e do Hospital Amazônico de Manaus. 
Tendo sido legitimada para uso ritual e adquirido status legal para uso em 
contexto religioso pelo Conselho Nacional de Entorpecentes brasileiro em 1992. As 
discussões sobre ayahuasca permanecem polêmicas, e seu uso ritual tem gerado grande 
impacto não só sobre a religião como também sobre a política, a ciência e a sociedade 
de forma geral. 
 
Nomes científicos e populares 
 
A espécie Banisteriopsis caapi é pertencente à família Malpighiaceae, e é 
conhecida popularmente como hoasca, mariri, jagube, entre outros nomes, os quais 
variam em função da comunidade que a utiliza. 
Já a espécie Psychotria viridis pertence à família botânica Rubiaceae, sendo 
conhecida como chacrona, chacruna ou rainha, entre outras denominações, também 
variando em função do local e da comunidade. Já a bebida, preparada com base nas 
duas espécies, pode também receber diferentes nomes, tais como daime, yagé, chá, 
hoasca, natema, vegetal, dapa, mihi, mariri, entre outras denominações. 
 
 
 Banisteriopsis caapi Psychotria viridis 
 
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Informações botânicas 
 
Banisteriopsis caapi – É uma planta arbustiva, considerada uma liana, nativa de 
florestas tropicais e que não atinge grandes alturas. Sua casca é lisa e possui coloração 
marrom. Suas folhas são opostas, ovaladas, inteiras, de superfície lisa de coloração 
verde intensa. Suas inflorescências podem se desenvolver tanto nas axilas quanto nas 
porções terminais da planta. Suas flores são pequenas e apresentam pétalas de 
coloração rósea. Em função do fato de dificilmente produzirem sementes, a propagação 
da espécie é prioritariamente vegetativa. 
Psychotria viridis – De hábito perene, é uma espécie arbustiva podendo, no 
entanto, atingir até 5 metros de altura. Suas folhas são peninervadas, opostas e 
cruzadas, lanceoladas, inteiras e com pecíolos curtos. Suas flores se desenvolvem em 
inflorescências e seus frutos, de tamanho pequeno, possuem coloração arroxeada. Cada 
fruto possui até 2 sementes, cada um com dois cotilédones. Desenvolve-se bem tanto 
com alta exposição ao sol quanto em áreas sombreadas e prefere solos férteis e bem 
drenados. 
 
 
Dados químicos e farmacológicos 
 
Como já mencionado, a ayahuasca é preparada pela combinação das folhas de 
Psychotria viridis, uma planta arbustiva, com o cipó ou a casca do caule da trepadeira 
Banisteriopsis caapi, os quais são fervidos por muitas horas e, então, decantados ou 
filtrados. O resultado é uma bebida viscosa, marrom e levemente oleaginosa. 
 Sua ação biológica central ocorre em função de um extraordinário sinergismo 
entre os princípios ativos das duas plantas, raramente visto em preparações vegetais. 
Essa ação sinérgica, que intriga os pesquisadores até hoje, representa uma das 
realizações etnobotânicas mais significativas e antigas das culturas indígenas, que a 
descobriu sem os recursos técnicos dos quais dispõem os renomados farmacologistas. 
É mais uma incontestável evidência da importância do conhecimento 
etnobotânico como fonte de conhecimento empírico, principalmente quando diz 
respeito à atividade biológica de muitas espécies vegetais. 
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A teoria que explica a atividade oral da ayahuasca foi proposta pela primeira vez 
em um trabalho liderado por Dennis McKenna em 1984, no qual foi confirmado 
experimentalmente que a ação ocorria em função da combinação dos princípios ativos 
das duas plantas. Para entender essa relação, primeiramente é preciso conhecer quais 
são esses compostos ativos. 
Os principaiscompostos ativos de Banisteriopsis caapi são compostos chamados 
β-carbolínicos, e são principalmente quatro: harmina e tetrahidroharmina (em maiores 
proporções), harmalina (em menores proporções) e harmalol (traços), os quais podem 
representar de 0,5 a 1,95% do peso seco da planta - na dependência de variáveis como 
época de coleta, clima, condições de solo, entre outras. 
A harmina, presente em maior proporção quando comparado aos outros 
compostos, foi isolada primeiramente a partir das sementes de outra espécie vegetal, 
Peganum harmala, conhecida como arruda-da-síria, e que é uma planta nativa dos 
desertos asiáticos; somente em 1847 descobriu-se que também estava presente em 
grandes concentrações na espécie Banisteriopsis caapi. Essas βcarbolinas agem como 
inibidores reversíveis e altamente seletivos de uma enzima chamada 
monoaminaoxidase, mais conhecida como MAO. 
Essa enzima atua na fenda sináptica, entre os terminais nervosos, inativando 
neurotransmissores como a dopamina, a noradrenalina e a serotonina, para que esses 
neurotransmissores não ajam incessantemente nos terminais nervosos. 
Como os compostos β-carbolínicos de Banisteriopsis caapi inativam a enzima 
MAO, tais neurotransmissores se acumulam entre os neurônios, potencializando seus 
efeitos sobre o sistema nervoso central; embora essa potencialização também exerça 
efeitos fisiológicos importantes, não representa o principal mecanismo de ação da 
ayahuasca, o qual diz respeito mais aos efeitos do composto ativo presente em 
Psychotria viridis. 
Esse composto, pertencente à classe dos alcaloides, é chamado de 
dimetiltriptamina, ou DMT, o qual é estruturalmente relacionado à serotonina e, assim 
como outros compostos psicoativos alucinógenos, tais como o LSD e a mescalina, se liga 
a receptores serotonérgicos do tipo 5-HT2A, agindo como um agonista serotonérgico. 
O DMT pode representar de 0,1 a 0,66% do peso seco das folhas de Psychotria 
viridis, embora essas concentrações também estejam sujeitas às variáveis 
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anteriormente mencionadas, além de variar de forma surpreendente ao longo de um 
mesmo dia. O DMT possui uma atividade alucinógena potente quando fumado, injetado 
ou inalado; entretanto, diferentemente de outras substâncias psicoativas conhecidas, 
parece ser inativo oralmente. 
Isso porque é metabolizado pela enzima MAO presente no fígado e no intestino. 
E é justamente aí que se encontra a relação sinérgica entre os compostos ativos de 
Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis: uma vez que os compostos βcarbolínicos 
presentes em B. caapi atuam como inibidores da MAO, a enzima inativada deixa de 
metabolizar o DMT presente em P. viridis que, aí sim, passa a ter condições de ser 
absorvido e de exercer seus efeitos psicoativos alucinógenos, como demonstrados 
experimentalmente no trabalho de McKenna, mencionado anteriormente. 
A grande maioria dos trabalhos existentes na literatura científica que afirmam 
avaliar os efeitos farmacológicos da ayahuasca, na verdade avaliam os efeitos das 
substâncias isoladas das espécies vegetais. Utilizadas no preparo da bebida, 
principalmente o DMT, ou de misturas entre o extrato de uma das plantas empregadas, 
fornecido por indústrias farmacêuticas e não preparado de maneira tradicional, com 
substâncias sintéticas. 
Os trabalhos que avaliam farmacologicamente os efeitos da ayahuasca integral, 
tal como utilizada tradicionalmente. Geralmente pertencem aos mesmos grupos de 
pesquisadores (Dennis McKenna, Jordi Riba, Jace Callaway e Jonathan Ott) envolvidos 
no já mencionado PROJETO HOASCA, os quais estudam os efeitos da ayahuasca 
preparada sob orientação de vegetalistas experientes das religiões sincréticas que dela 
fazem uso. Além disso, outros trabalhos que afirmam avaliar seus efeitos farmacológicos 
utilizam como via de administração a via intraperitoneal, enquanto que o uso tradicional 
se faz por via oral, ou misturam duas vias diferentes de administração, caracterizando 
um viés experimental. 
 Em função dessas considerações, as informações a respeito dos efeitos 
biológicos centrais da bebida devem ser analisadas de maneira parcimoniosa, e estudos 
mais aprofundados devem ser realizados, de forma a minimizar a grande polêmica e 
especulação existente a respeito do tema. 
As primeiras investigações farmacológicas da ayahuasca em humanos, e que 
deram origem a um grande número de trabalhos científicos publicados, foram realizadas 
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pelos pesquisadores integrantes do PROJETO HOASCA. Entre os resultados mais 
relevantes de tais estudos, realizados com voluntários, os quais faziam uso da bebida 
em um contexto ritual, inclui-se a elevação persistente das concentrações de serotonina 
plasmática, indicativo de um efeito de longo prazo sobre a modulação serotonérgica do 
sistema nervoso central que poderia estar relacionado a alterações adaptativas das 
funções cerebrais. 
Em 2003, a equipe liderada por Jordi Riba realizou, em 2003, um estudo clínico 
com a ayahuasca para avaliação de seus efeitos subjetivos e cardiovasculares, além de 
investigar a farmacocinética da substância em 18 voluntários sadios com experiência no 
uso de substâncias psicoativas. Os autores avaliaram também a quantidade de 
metabólitos monoaminérgicos presentes na urina desses voluntários, com o objetivo de 
medir os efeitos da ayahuasca como um inibidor da MAO. 
 Nesse trabalho, os indivíduos foram rigorosamente selecionados e cada um 
recebeu cápsulas gelatinosas contendo diferentes quantidades de ayahuasca brasileira, 
liofilizada a partir da bebida tradicionalmente preparada, ou cápsulas de placebo 
contendo lactose. De forma resumida, a administração oral das cápsulas induziu um 
sentimento de ativação, euforia, bem-estar, efeitos somáticos, além de modificações da 
percepção, alterações do conteúdo do pensamento e aumento da instabilidade 
emocional, reações também observadas com outros compostos, tais como o LSD, a 
mescalina ou a cocaína. 
No entanto, os efeitos da ayahuasca diferiram dos desses últimos compostos 
com relação ao curso temporal. A duração total do efeito foi maior que a causada pelo 
DMT intravenoso, mas menor do que a causada pela mescalina ou pelo LSD. Ao contrário 
de drogas como a metanfetamina, a efedrina ou o metilfenidato, a ayahuasca não 
induziu aumento significativo na escala que avalia a percepção subjetiva da eficiência 
intelectual. 
Os autores afirmam, ainda, que a existência tanto de estimulação quanto da 
ampla variedade de alterações sensoriais coloca a ayahuasca como parte integrante da 
categoria dos compostos que possuem propriedades excitantes e psicoestimulantes. 
Com relação aos efeitos cardiovasculares, somente foi observada elevação significativa 
da pressão diastólica, em cerca de 9 mmHg, quando comparada com o grupo placebo e 
após 75 minutos da ingestão. Os aumentos na pressão diastólica, sistólica e na 
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frequência cardíaca foram mais brandos do que os induzidos por outras drogas 
simpatomiméticas, tais como as anfetaminas ou o MDMA (conhecido como ecstasy). 
Os autores concluem sugerindo que os efeitos psíquicos produzidos pela 
ayahuasca talvez se deva ao DMT, uma vez que as concentrações plasmáticas desse 
composto atingem um pico máximo concomitantemente ao pico máximo dos efeitos 
percebidos, enquanto tais efeitos ocorrem mesmo com níveis plasmáticos desprezíveis 
de harmina. 
Já que parece haver um consenso na literatura científica de que os efeitos 
centrais da ayahuasca estejam principalmente, mas não só, relacionados ao DMT, uma 
importante distinção deve ser feita entre os efeitos causados por preparações, contendo 
exclusivamente DMT. 
 E que são injetadas, fumadase inaladas e aquelas que são compostas por 
misturas de DMT e inibidores da MAO, como os compostos presentes em Banisteriopsis 
caapi, e que são utilizadas oralmente. Quando ingerido, inalado ou fumado, o DMT 
possui uma atividade muito mais rápida: o pico dos efeitos cognitivos parece ocorrer 
entre 3 e 10 minutos, com um grau de consciência retornando ao nível inicial após cerca 
de 30 minutos. 
De forma contrastante, os efeitos somáticos iniciais após o uso oral de DMT 
(náuseas, formigamentos, aumento da temperatura corporal) parecem ocorrer em 
aproximadamente 20 minutos, seguidos por uma gama de efeitos cognitivos que 
atingem um pico entre 60 e 120 minutos. Os efeitos cognitivos diminuem gradualmente, 
retornando ao estado normal em aproximadamente 4 horas. Em doses normalmente 
utilizadas, os efeitos psicológicos do DMT oral são menos intensos do que os produzidos 
por injeção, fumo ou inalação. 
Em uma ampla e atual revisão das informações científicas disponíveis sobre a 
ayahuasca, o autor Robert Gable afirma que qualquer tentativa de se caracterizar os 
possíveis efeitos adversos agudos da ayahuasca é prejudicada pelo número limitado de 
estudos científicos relevantes sobre as decocções que envolvem o DMT e os compostos 
β-carbolínicos. 
Tal quadro pode facilmente provocar uma confusão de interpretações, e induzir 
a especulações ou facilitar a ocorrência de inferências tendenciosas. O autor afirma, de 
maneira muito coerente, que argumentos feitos com base no ponto de vista legal são 
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especialmente tendenciosos, uma vez que decisões legais e políticas devem ser tomadas 
à luz do quanto realmente se conhece a respeito de determinado assunto. Um exemplo 
pode ser dado por uma situação ocorrida em 2006 nos Estados Unidos, onde um caso 
envolvendo a questão sobre quão segura era a decocção vegetal contendo DMT e β-
carbolinas utilizada ritualmente por membros de uma igreja Cristã espiritualista acabou 
sendo decidido pela Suprema Corte. 
A igreja prevaleceu na decisão unânime em parte devido ao fato do governo, o 
qual se opõe ao uso do DMT, não ter conseguido demonstrar se a ayahuasca realmente 
oferecia um grave risco à saúde dos membros que dela fazem uso. 
As informações disponíveis até o momento indicam que a toxicidade sistêmica 
aguda da ayahuasca é, por comparação, substancialmente menor que a do álcool. A 
dose letal média aguda do álcool etílico é de aproximadamente 330 g, 10 vezes mais do 
que a dose “recreacional” normal. Já a dose letal aguda da ayahuasca é de cerca de 20 
vezes a dose eficaz. 
Essa margem de segurança é semelhante à de compostos como a codeína e a 
metadona, por exemplo. Existem dados que indicam que a probabilidade de ocorrer 
uma overdose tóxica com o uso de ayahuasca é aparentemente minimizada pela 
estimulação serotonérgica do nervo vago, o qual, por sua vez, induz a vômitos. 
 A ocorrência de vômitos está presente em grande número de relatos existentes 
na literatura sobre experiências individuais com a ayahuasca. Em alguns contextos 
rituais, e também em certos contextos não religiosos, esse comportamento chega 
mesmo a ser encorajado e considerado como uma forma de purificação do corpo, parte 
importante do contexto. 
 O risco de uma overdose parece estar relacionado, portanto, primeiramente ao 
uso concomitante ou anterior de outras substâncias serotonérgicas. Em função disso, 
pessoas com algum tipo de deficiência metabólica ou com um estado de saúde 
comprometido possuem, obviamente, mais riscos do que a população normal, e devem 
prudentemente se manter afastados do uso. 
 Além disso, embora o acúmulo excessivo de serotonina promovido pelos 
compostos β-carbolínicos de Banisteriopsis caapi não sejam os principais responsáveis 
pelo efeito psicoativo alucinógeno da ayahuasca, tal acúmulo pode gerar um grande 
número de sintomas fisiológicos adversos pertencentes ao que se chama de síndrome 
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serotonérgica. Tal quadro inclui tremores, diarreia, instabilidade do sistema nervoso 
autônomo, hipertermia corporal, transpiração excessiva e espasmos musculares. 
 Portanto, é recomendável que indivíduos que tenham feito uso recente de 
espécies vegetais tais como Panax ginseng (ginseng), Hypericum perforatum (ervade-
São-João), de antidepressivos tricíclicos e de compostos inibidores seletivos da 
recaptação de serotonina, entre outras substâncias, não façam uso da bebida. Além 
disso, como ocorre com todos os compostos de ação psicoativa, recomenda-se que 
indivíduos com histórico prévio de quadros psiquiátricos não a utilizem, uma vez que 
existe grande risco de exacerbação ou precipitação dos sintomas, principalmente de 
sintomas psicóticos. 
Adicionalmente, é importante ressaltar que a ação alucinógena da ayahuasca, 
bem como de outros derivados triptamínicos, pode precipitar graves reações 
psicológicas adversas. E, isto se torna especialmente verdadeiro quando administrada 
fora de contextos cerimoniais bem organizados, uma vez que a estrutura ritual no qual 
é ingerida permite certo controle da dose e dos efeitos psicológicos subsequentes. 
Com relação à possibilidade de ocorrência de síndrome de abstinência após o 
uso crônico de ayahuasca, não existem estudos até o momento comprovando que 
realmente exista. No entanto, é importante enfatizar que a despeito da presumida 
ausência de dependência fisiológica. A ayahuasca pode agir como um reforçador 
positivo, levando a um potencial de abuso significativo, embora seu perfil 
psicofarmacológico geral (derivado triptamínico) sugira a não existência do potencial de 
abuso visto, por exemplo, em substâncias como a cocaína, as anfetaminas, os opióides 
ou outras substâncias de abuso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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BORTOLETTO, M. E.; BOCHNER, R. Impactos dos medicamentos nas intoxicaçõesainda, a pior delas, “não tem compostos químicos, é natural”, a despeito de serem 
grandes falácias, são muito mais ditas com relação às plantas do que se poderia 
imaginar. É importante ressaltar que as plantas podem ser tão tóxicas e tão perigosas 
quanto os compostos de origem sintética, quando mal utilizadas ou utilizadas de forma 
equivocada. Neste contexto, um trabalho divulgado em 2005 apresenta uma lista de 
efeitos adversos que podem ocorrer em virtude do uso de determinadas espécies 
vegetais, tais como fotodermatite pelo uso da ervade-São-João ou da angélica 
(Hypericum perforatum e Angelica archangelica, respectivamente), distúrbios hepáticos 
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pelo uso do mate (Ilex paraguariensis) ou desconforto abdominal pelo uso de sene 
(Cassia augustifolia), entre outros efeitos. 
Outra pesquisa, dessa vez realizada em 1999, também confirma a necessidade 
de uma atitude parcimoniosa com relação ao uso de plantas bioativas. Esse estudo 
apresenta o número de casos, óbitos e letalidade por agentes tóxicos registrados em 
centros de controle de intoxicações humanas no Brasil, de 1993 a 1996. Os autores do 
trabalho afirmam que, nesses três anos, foram registrados 5.862 casos de intoxicações 
causadas pelo uso de plantas, sendo que, em 31 dos casos, o paciente veio a óbito, o 
que fornece um índice de letalidade (porcentagem de óbito) de 0,53%. Quando 
comparado ao gigantesco número de 57.548 casos de intoxicações causadas por 
medicamentos convencionais, as intoxicações por plantas podem parecer irrelevantes. 
No entanto, se for considerado que, deste total de intoxicações por medicamentos, 
foram registrados 266 óbitos decorrentes, com um índice de letalidade de 0,46%, 
portanto menor do que o índice de letalidade por intoxicações com plantas, tem-se um 
claro quadro da situação. Ou seja, o uso de plantas por suas propriedades bioativas deve 
ser feito com o mesmo cuidado e a mesma parcimônia que deve ser dedicada a qualquer 
outro tipo de composto bio-ativo sintético, visando à manutenção da integridade física 
do organismo. 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS CALMANTES 
 
Diferentes nomes populares são dados àquelas espécies vegetais utilizadas como 
calmantes: tranquilizantes, sedativas, plantas “que dão sono”, que “assossegam”, que 
“acalmam crianças”, entre muitas outras denominações populares. A despeito da 
grande variedade de nomes, uma coisa elas têm em comum: são utilizadas em condições 
de agitação nervosa ou psicomotora, de angústia, de desconforto associado a algum tipo 
de nervosismo, e seu uso, assim como outras categorias de plantas medicinais, remonta 
às origens dos grupos sociais e desde que a espécie humana passou a reconhecer 
sintomas e associá-los a doenças. 
A importância associada ao estudo das plantas medicinais é multidimensional: 
contribui para a continuidade do saber tradicional associado ao uso de espécies vegetais 
para tratar diferentes condições de saúde; contribui para a preservação dos recursos 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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genéticos vegetais representados por tais espécies; representa uma fonte de 
conhecimento e práticas farmacológicas que se perpetuam há gerações, entre outros 
fatores tão ou mais importantes. Dentro do amplo conhecimento tradicional sobre 
plantas empregadas para tratar condições de saúde, aquelas que são utilizadas para 
acalmar as pessoas possuem um lugar especial, tanto em função da grande diversidade 
de espécies empregadas para este fim quanto em função da vasta quantidade de 
quadros de saúde associados, implicitamente, ao termo “acalmar”. O que a medicina 
ocidental sistematizou, classificou ou subdividiu em diferentes categorias de doenças, a 
cultura popular pode considerar como sendo uma entidade única. Assim, enquanto o 
padrão médico ocidental dá diferentes nomes ao que considera como sendo diferentes 
coisas, o saber médico tradicional pode chamar de uma coisa só, ou variações de um 
mesmo quadro, como é o caso da finalidade do uso das “plantas calmantes”. 
Em comunidades tradicionais não são utilizados com frequência termos como 
ansiedade generalizada, síndrome do pânico, distúrbio bipolar, depressão, transtorno 
do estresse pós-traumático ou epilepsias de diferentes tipos. Esses são quadros ou 
síndromes que englobam sintomas característicos e que foram categorizados pela 
medicina ocidental. No entanto, embora o saber médico tradicional não reconheça 
fundamentalmente tais categorias, conhecem, e muito bem, cada um de seus sintomas 
característicos. Dessa forma, podem não usar com frequência o termo “ansiedade 
generalizada”, mas já sabiam tratar sintomas de “angústia”, “aperto-no-peito”, 
“nervosismo”, “agitação”, muito antes do surgimento da medicina ocidental. Podem 
não usar o termo “insônia”, mas possuem muitos remédios vegetais para “falta de sono 
à noite” ou “sono que não vem”. O termo “epilepsia” pode também não ser muito 
usado, mas possuem remédios utilizados há muitas gerações para tratar “ataques de 
criança”, “ataques de cabeça” ou “ataques de espíritos”, alguns nomes populares pelas 
quais as epilepsias são conhecidas em determinadas comunidades tradicionais. 
Portanto, as plantas calmantes fazem parte do berço da medicina, como esta é 
entendida hoje, e por muitos séculos representaram o único meio de tratar condições 
que traziam algum tipo de desconforto aos indivíduos. E tal conhecimento mostra-se 
tão arraigado, mesmo na cultura tecnológica dos dias atuais, que não há uma só pessoa 
que não saiba dizer ao menos um nome de planta utilizada para acalmar. Caso esse fato 
pareça inverossímil, faça o teste: procure um amigo e peçao para dizer um nome de uma 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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planta usada para acalmar. E mais: o número de plantas diferentes que aparecerão será, 
muito provavelmente, proporcional ao número de pessoas interrogadas. 
Muitas plantas têm sido utilizadas para combater, inclusive, os sintomas 
relacionados ao estresse em função de suas habilidades de agir no sistema nervoso, ou 
de induzir estados de relaxamento e tranquilidade. Outras plantas agem relaxando a 
tensão muscular, o que por si só já representa uma fonte de alívio, e outras ainda ajudam 
a eliminar dores de cabeça, também causadas por situações estressantes ou auxiliam a 
dormir. Consequentemente, muitos desses remédios vegetais considerados calmantes 
auxiliam a combater, ou diminuir, diversos sintomas relacionados ao estresse, incluindo 
fadiga, insônia, ansiedade e nervosismo. 
As plantas calmantes descritas (maracujá, Passiflora sp; melissa, Melissa 
officinalis; e valeriana, Valeriana officinalis) não se referem apenas a plantas 
frequentemente utilizadas por diferentes comunidades no mundo todo. Referem-se 
também a plantas cujos efeitos relatados pelas populações já foram, ou continuam 
sendo, estudados em diferentes laboratórios de pesquisa. A fim de elucidar quais 
princípios ativos estão associados aos seus tão conhecidos efeitos, ou a fim de produzir 
medicamentos, baseados nos conhecimentos tradicionais, que possam representar um 
novo tratamento a diferentes condições de saúde mental, tais como os transtornos de 
ansiedade ou outras condições associadas ao funcionamento cerebral. 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS ESTIMULANTES 
 
A medicina popular tradicional conta com uma infinidade de espécies vegetais 
que são utilizadas em função de suas propriedades estimulantes, ou seja, que agem 
promovendo uma maior ativação do sistema nervoso central e, consequentemente, 
contribuem para manter o organismo mais alerta, estimulado, com maior resistência e 
vigor. Popularmente, são conhecidas por diferentes nomes: tônicas, estimulantes, 
revigorantes, fortificantes, entre outras designações. 
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Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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	INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS CALMANTES
	INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS ESTIMULANTES
	INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS ALUCINÓGENAS
	MARACUJÁ (Passiflora sp)
	Nome científico
	Nomes populares
	Informações botânicas
	Histórico
	Usos populares e efeitos popularmente relatados
	Dados químicos e farmacológicos
	MELISSA (Melissa officinalis)
	Nome científico
	Nomes populares
	Informações botânicas
	Histórico
	Usos populares e efeitos popularmente relatados
	Dados químicos e farmacológicos
	VALERIANA (Valeriana officinalis)
	Nome científico
	Nomes populares
	Informações botânicas
	Histórico
	Usos populares e efeitos popularmente relatados
	Dados químicos e farmacológicos
	PLANTAS ESTIMULANTES
	CAFÉ (Coffea arabica)
	Nome científico
	Nomes populares
	Informações botânicas
	Histórico
	Dados químicos e farmacológicos
	ERVA-MATE (Ilex paraguariensis)
	Nome científico
	Nomes populares
	Informações botânicas
	Histórico
	Dados químicos e farmacológicos
	GUARANÁ (Paullinia cupana)
	Nome científico
	Nomes populares
	Informações botânicas
	Histórico
	Dados químicos e farmacológicos
	MACONHA (Cannabis sp)
	Nome científico
	a b c
	Nomes populares
	Informações botânicas
	Histórico
	Usos populares e efeitos popularmente relatados
	Dados químicos e farmacológicos
	Nome científico
	Nomes populares (1)
	Informações botânicas (1)
	Histórico (1)
	Usos populares e efeitos popularmente relatados (1)
	Dados químicos e farmacológicos (1)
	AYAHUASCA
	Histórico
	Nomes científicos e populares
	Informações botânicas
	Dados químicos e farmacológicos
	REFERÊNCIASmuitos aspectos do modo de vida dito 
“estressante”, as pessoas estão fazendo uso dessas plantas com frequência cada vez 
maior, quer seja para aumentar sua produção individual, para conseguir realizar as 
inúmeras tarefas necessárias ou mesmo para aumentar suas capacidades cognitivas 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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(memória e atenção, por exemplo). As plantas estimulantes são utilizadas tanto para 
melhorar a resistência e diminuir o cansaço quanto para diversos outros aspectos, tais 
como combater os sinais do envelhecimento, melhorar o desempenho sexual, combater 
o estresse e também para combater o sobrepeso/obesidade, finalidade esta última 
muito divulgada nos tempos atuais. Em função dessa grande diversidade de usos, muitas 
espécies vegetais estimulantes têm sido empregadas há muitos séculos. E, fazem parte 
do cotidiano e da rotina de milhares de pessoas ao redor do mundo, como é o caso do 
café (Coffea arabica), do cacau (Theobroma cacao) e de muitos tipos de chás 
estimulantes. Essas espécies não só movimentam um mercado de milhões de dólares 
como, historicamente, contribuíram para a formação de muitas sociedades, o que torna 
fácil compreender sua acentuada importância sócio-econômica. Atualmente, o número 
de bebidas energéticas disponíveis no mercado só tem aumentado. Essas bebidas 
possuem, em sua composição, extratos de espécies vegetais ou constituintes químicos 
derivados das mesmas, como é o caso da cafeína, composto bioativo primeiramente 
isolado do café, do guaraná (Paullinia cupana), do ginseng (Panax ginseng), do chá-verde 
(Camellia sinensis), da cola (Cola sp), da erva-mate (Ilex paraguariensis), entre outras 
espécies. 
Entre o final da década de 40 e início da década de 50, um pesquisador russo de 
nome Nikolai Lazarev, ao estudar algumas espécies vegetais estimulantes russas, criou 
o termo “adaptógeno” para designar plantas cujos efeitos, como o próprio nome diz, 
auxiliariam os indivíduos a se adaptar a determinadas situações, geralmente 
estressantes. Essas plantas, consideradas por Lazarev como adaptógenos, seriam 
capazes de aumentar o estado de resistência do indivíduo frente a situações de estresse, 
melhorar sua capacidade cognitiva, diminuir os déficits cognitivos decorrentes do 
envelhecimento, aumentar a disposição, entre outros fatores. Ou seja, à primeira vista, 
seria apenas uma nova denominação para aquelas plantas, já tradicionalmente 
conhecidas, como estimulantes. No entanto, o conceito de adaptógeno criado por 
Lazarev envolve uma atividade biológica mais abrangente, considerando principalmente 
três condições: 
a) a planta deve produzir aumento da resistência de forma não-específica, ou 
seja, relativa a todo o organismo e não apenas a um único sistema orgânico; 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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b) sua ação deve promover a normalização de algum estado patológico presente 
no organismo; e, 
c) seus efeitos não devem causar nenhum dano e nem alterar 
desnecessariamente o funcionamento do organismo. Levando em consideração esses 
três critérios, é possível perceber que qualquer planta estimulante não pode, 
arbitrariamente, ser considerada um adaptógeno. Tanto porque, para que seja assim 
considerada, ela precisa ter sido intensamente estudada para a verificação de seus 
efeitos sobre diferentes sistemas orgânicos, porque deve ser desprovida de qualquer 
efeito tóxico. De forma simplista, é possível afirmar que uma planta considerada um 
adaptógeno pode ser considerada também uma planta estimulante, mas que o inverso 
não é verdadeiro – nem toda planta estimulante atua como um adaptógeno. De 
qualquer forma, é importante mencionar essa questão da terminologia, a qual vem 
sendo utilizada com maior frequência no Brasil. 
Com relação à constituição química das plantas estimulantes, grande parte delas 
(entre as quais já mencionadas aqui) possui algo em comum: a presença de compostos 
classificados quimicamente como metilxantinas. As metilxantinas são compostos que 
podem se comportar tanto como ácidos quanto como bases e ocorrem em mais de 50 
espécies vegetais. Alguns pesquisadores as consideram como sendo alcaloides do tipo 
purínicos, embora exista alguma discussão a respeito. As metilxantinas mais conhecidas 
e de maior ocorrência em espécies vegetais são a cafeína, a teobromina e a teofilina. Do 
ponto de vista farmacológico, apresentam uma ampla gama de ações biológicas, em 
diferentes sistemas orgânicos; algumas delas são, inclusive, empregadas atualmente no 
tratamento de distúrbios respiratórios, como é o caso da teofilina. Sua ação sobre o 
sistema nervoso central é pronunciada: agem aumentando a disponibilidade de 
neurotransmissores catecolaminérgicos (principalmente dopamina e noradrenalina) 
eles atuam como antagonistas de receptores de adenosina (acelerando o metabolismo 
neuronal), entre outros mecanismos de ação ainda não totalmente esclarecidos. 
As espécies vegetais estimulantes apresentadas (café, Coffea arabica; erva-mate, 
Ilex paraguariensis; e guaraná, Paullinia cupana) foram escolhidas por dois motivos 
principais: primeiro, por serem espécies amplamente utilizadas pela população 
brasileira em função de suas propriedades estimulantes, em diferentes regiões 
brasileiras. E, em segundo lugar, e não menos importante, por serem espécies que, de 
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alguma forma, caracterizam o folclore, a cultura e a sociedade brasileira em diferentes 
aspectos, além de movimentarem um grande volume financeiro. Em função de todas 
elas apresentarem usos e efeitos popularmente relatados muito semelhantes – como 
tônico, estimulante, para combater o cansaço e a fraqueza, para recuperar o vigor e a 
força, contra esgotamento mental, entre outros usos relacionados às suas propriedades 
estimulantes. 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS PLANTAS ALUCINÓGENAS 
 
Na literatura científica, frequentemente se encontra a expressão “plantas 
psicoativas” como sinonímia para “plantas alucinógenas”. No entanto, é de suma 
importância uma breve distinção entre as duas expressões. Embora as plantas 
alucinógenas sejam plantas psicoativas, uma vez que atuam alterando estados mentais 
modulados pelo funcionamento do sistema nervoso central, nem toda planta psicoativa 
atua como planta alucinógena. Existe um grande número de plantas que atuam 
modificando aspectos da fisiologia do sistema nervoso central sem, entretanto, produzir 
alucinações. Mas, afinal, o que são alucinógenos? O que são alucinações? Muitas 
definições são propostas para ambos os termos, na dependência da área de estudo, e o 
objetivo não é discutir a pertinência de cada definição. Portanto, a definição aqui 
apresentada nada mais é do que uma entre várias, e não tem a pretensão de negar as 
demais; apenas se mostra mais coerente com o contexto das informações apresentadas. 
Alucinações podem ser consideradas como experiências individuais baseadas na 
percepção de algo que “não está lá” realmente. A despeito de ser a percepção de algo 
que não está presente para os demais, para a pessoa que a vivencia pode ser tão real 
quanto ela mesma. As alucinações podem estar presentes em condições médicas ou ser 
induzidas por outras situações, entre as quais figuram as substâncias alucinógenas. 
Quando associadas a condições médicas, muitas vezes são chamadas de “psicoses” ou 
de “quadros psicóticos”, quando o indivíduo afirma ter a percepção de algo que não é 
real, como ouvir sons que não estão sendo produzidos, ter percepções táteis sem origem 
real, sentir cheiros que não estão presentes, entre outras percepções ausentes de 
objeto. Uma das doenças caracterizadas pela presença constante de alucinações é 
conhecida por esquizofrenia. 
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Como mencionado,as alucinações podem ser induzidas por outras situações que 
não são decorrentes de uma condição médica, ou seja, ocorrem em indivíduos 
fisicamente sadios. Uma destas situações é o uso de substâncias alucinógenas. 
Alucinógena, portanto, pode ser considerada uma substância capaz de produzir 
percepções sem objetos, de alterar o sentido de tempo, de produzir distorções dos 
sentidos, tal como conhecemos, e de alterar a organização racional do pensamento. As 
substâncias alucinógenas podem ser naturalmente produzidas por fungos, plantas ou 
animais ou, ainda, ser sintetizadas artificialmente em laboratório. O estudo das plantas 
produtoras de substâncias alucinógenas, especificamente, tem aumentado 
vertiginosamente nas últimas décadas por diferentes razões, e muitos estudiosos da 
área consideram que os principais motivos para esse grande aumento do interesse 
devem-se aos seguintes fatores: 
a) Em função dos alucinógenos representarem uma “porta de entrada” para 
a compreensão dos intricados processos da mente, uma vez que seus efeitos afetam 
grande número de funções mentais humanas; 
b) Em virtude de representarem potencialidades terapêuticas, ou seja, de 
serem compostos bio-ativos que poderiam hipoteticamente atuar como medicamentos; 
c) Considerando que o uso de substâncias alucinógenas produz um quadro 
muito semelhante aos dos quadros psicóticos presentes em condições médicas, o 
estudo do mecanismo de ação dessas substâncias poderia lançar luz à fisiopatologia de 
tais condições; 
d) Em função do consumo de tais substâncias aumentarem 
progressivamente com o passar dos anos. 
 
A essa lista deveria ser acrescentado, embora não o seja com frequência, o fato 
de que essas plantas representam um meio importante para o conhecimento e 
entendimento de relações sociais e culturais. Nas quais se desenvolvem em muitas 
comunidades as quais possuem como elemento importante de seu contexto cultural o 
uso de plantas psicoativas alucinógenas. Pensar que o interesse pelo tema só é 
justificável em termos de que “pode auxiliar a modernidade”, seja na compreensão do 
funcionamento cerebral seja na produção de novos medicamentos, é uma visão 
excessivamente utilitarista e reduz sua relevância e seu caráter multidisciplinar. 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Os seres humanos descobriram que algumas espécies vegetais eram capazes de 
alterar a percepção ordinária da mente nos primórdios de sua história, e mantêm sua 
utilização até os dias de hoje. Com relação a isso, dois questionamentos interessantes, 
resgatados da Introdução Geral, podem ser feitos. Primeiro, o que fez com que as 
plantas alucinógenas fossem tão importantes para os homens e seus ancestrais, a ponto 
dessa utilização ter sobrevivido até os dias de hoje? Segundo, existe, de um ponto de 
vista evolutivo, algum motivo especial pelo qual os homens tenham optado por usar 
determinadas espécies alucinógenas, a despeito de suas potencialidades tóxicas? 
Muitas hipóteses têm sido formuladas na tentativa de responder a tais 
questionamentos. Considerando sempre que representam apenas hipóteses, uma vez 
que muito dificilmente os processos históricos podem ser incontestavelmente 
comprovados, duas hipóteses para a manutenção do uso de espécies alucinógenas 
chamam a atenção. 
Uma dessas hipóteses foi formulada recentemente por R. J. Sullivan, do 
Departamento de Antropologia da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, e por 
E. H. Hagen, do Departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia em Santa 
Bárbara, nos Estados Unidos, os quais consideram as expressões: “psicoativos” e 
“alucinógenos” como sendo sinônimos. De forma bastante resumida, essa hipótese 
sugere que os seres humanos tenham compartilhado uma relação co-evolucionária com 
as plantas psicotrópicas que data de milhões de anos. Os autores afirmam que essa 
relação co-evolucionária se evidencia, tanto pelas muitas adaptações químicas e 
ecológicas que os mamíferos desenvolveram para metabolizar substâncias vegetais 
psicotrópicas (tais como o sistema de metabolização hepática), quanto pela estrutura 
química de compostos vegetais de defesa (os alcaloides, muitos deles dotados de 
propriedades alucinógenas). Os quais se desenvolveram no sentido de mimetizar a 
estrutura, e interferir na função, dos neurotransmissores de mamíferos. Segundo os 
autores, duas situações podem ter pressionado essa relação co-evolucionária: a 
restrição alimentar sofrida por homens primitivos, que comprometia sua provisão 
orgânica de aminoácidos essenciais à síntese de neurotransmissores e os levava a buscar 
por plantas dotadas de substâncias análogas, e ao fato dessas substâncias vegetais 
auxiliarem na modulação do estresse. Dessa forma, o consumo de substâncias 
alucinógenas vegetais, além de prevenir a depleção monoaminérgica, permitia que seus 
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consumidores tolerassem melhor o estresse causado por condições ambientais 
aversivas. 
Uma segunda explicação, que não diz respeito a um grupo específico de autores 
e, sim, a uma linha de pensamento bastante difundida, considera o papel religioso ou 
místico do uso das plantas alucinógenas. Deste ponto de vista, algumas civilizações, ao 
ingerir, aplicar ou fumar plantas contendo substâncias alucinógenas, teriam atribuído às 
alterações da percepção observadas a formas de contato espiritual, a deuses, a poderes 
sagrados e/ou a forças da natureza. Desta maneira, muitas crenças místicas, religiosas e 
ritualísticas teriam surgido com base no uso de espécies vegetais alucinógenas, o que 
teria contribuído para a manutenção do seu uso, desta vez não por pressão biológica, 
mas em função da cultura e da religião. As duas hipóteses mencionadas, apesar de muito 
diferentes em sua essência – uma vez que uma parte do ponto de vista biológico e a 
outra do ponto de vista cultural –, não se mostram incompatíveis nem excludentes e, 
hipoteticamente, podem mesmo ter ocorrido conjuntamente, ou aliadas a uma série de 
outros fatores. Inegável é a ancestralidade do conhecimento humano sobre as espécies 
vegetais alucinógenas. 
No final da década de 60 e início da década de 70 houve uma grande expansão 
da curiosidade a respeito de espécies vegetais alucinógenas em todo o ocidente, em 
função principalmente do movimento de contracultura, que ganhava força e se 
disseminava principalmente entre os jovens da época. Aliado a esse movimento, o 
lançamento dos livros do escritor e antropólogo Carlos Castañeda (The Teachings of Don 
Juan - a Yaqui way of knowledge, de 1968; A Separate Reality, de 1971, e Journey to 
Ixtlan - Lessons of Don Juan, de 1973, lançados no Brasil com os títulos A Erva do Diabo, 
Uma Estranha Realidade e Viagem a Ixtlan, respectivamente), aumentou ainda mais não 
só o interesse quanto a curiosidade sobre o tema. Nesses livros, principalmente no 
primeiro, o autor faz uma longa narrativa, descrevendo rituais realizados por um 
feiticeiro da etnia indígena Yaqui, do deserto mexicano. O qual utilizava espécies 
vegetais e um cogumelo como forma de enxergar o mundo e seus mistérios da forma 
como ele realmente seria, e não da forma como aprendemos e/ou fomos condicionados 
a compreendê-lo. A despeito das polêmicas sobre a veracidade ou não das experiências 
relatadas por Carlos Castañeda, o fato é que a publicação dos livros aguçou ainda mais 
a curiosidade das pessoas a respeito das plantas alucinógenas. 
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Muitas espécies de plantas e fungos podem produzir como parte integrante de 
suas funções metabólicas, diferentes substâncias com propriedades alucinógenas, a 
grande maioria delas na forma de alcaloides. Alcaloides são substâncias produzidas 
também por vegetais e considerados uma das classes de metabólitos secundários,ou 
seja, substâncias que geralmente não estão envolvidas em funções fisiológicas vitais das 
plantas e que são produzidas secundariamente a partir de outras substâncias as quais, 
essas sim, estão envolvidas em processos vegetais vitais. De forma geral, são aquelas 
substâncias cujo nome termina no sufixo “ina”, tais como a cocaína (presente em 
espécies vegetais, principalmente em Erythroxylon coca), a dimetiltriptamina (presente 
em vários gêneros vegetais, tais como Anadenanthera, Psychotria ou Mimosa, por 
exemplo), a cafeína, a teobromina, a teofilina (as três últimas já mencionadas na 
Introdução ao Estudo de Plantas Estimulantes), entre outras substâncias também 
consideradas alcaloides. Dois pontos, no entanto, são importantes mencionar. O 
primeiro é que, embora a maioria dos compostos vegetais alucinógenos pertença à 
classe dos alcaloides, nem todos os alcaloides possuem propriedades alucinógenas. E, 
em segundo lugar, é importante lembrar que determinados alcaloides podem ser 
considerados estimulantes ou alucinógenos na dependência da dose, embora o limite 
entre essas duas categorias de efeitos seja consideravelmente tênue. 
Embora as espécies vegetais alucinógenas sejam amplamente encontradas em 
diferentes regiões do globo, muitas delas encontram maior facilidade de adaptação em 
climas tropicais e temperados. Em virtude de tal característica, a América Central e a 
América Latina se destacam como verdadeiras fontes de grande número dessas espécies 
vegetais. Estima-se que, só nessas regiões, existam mais de 90 espécies vegetais 
utilizadas popularmente em função de suas propriedades alucinógenas. Essa grande 
disponibilidade natural de espécies psicoativas talvez ajude a explicar, pelo menos em 
parte, a predominância do uso de plantas em função de seus efeitos sobre o sistema 
nervoso central, especialmente entre comunidades descendentes de africanos e em 
comunidades indígenas brasileiras. As quais utilizam tais espécies vegetais 
principalmente associadas a contextos religiosos e/ou rituais. 
Tendo em vista as considerações aqui mencionadas, o objetivo principal é 
apresentar informações a respeito de algumas espécies vegetais consideradas 
alucinógenas. O critério de escolha de tais espécies em detrimento de outras se deve 
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tanto à disponibilidade de informações científicas quanto ao contexto de uso. Assim, 
serão discutidos aspectos referentes a duas espécies alucinógenas associadas a um 
contexto de amplo uso social vinculado a ostensivas proibições legais (maconha, 
Cannabis sp, e coca, Erythroxylon coca), bem como outras espécies associadas a um 
contexto cultural de uso (Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis – uma das 
combinações empregadas no preparo da ayahuasca). 
 
PLANTAS CALMANTES 
 
MARACUJÁ (Passiflora sp) 
 
Nome científico 
 
Como “maracujá” - são conhecidas diferentes espécies pertencentes ao gênero 
Passiflora. O gênero Passiflora é composto por aproximadamente 500 espécies vegetais, 
sendo o gênero da família Passifloraceae com maior número de espécies descritas. No 
Brasil, duas espécies são principalmente comercializadas em função de suas 
propriedades alimentícias: Passiflora edulis, o maracujá utilizado para o preparo de 
sucos, que algumas vezes pode ser confundido com a espécie Passiflora incarnata, de 
origem europeia, e a espécie Passiflora alata, ou “maracujáde-colher”, assim 
denominado em função do fruto apresentar polpa bastante adocicada, permitindo que 
seja consumido in natura. Além dessas duas espécies, as quais são as espécies de 
maracujá mais comumente encontradas em território brasileiro, outras espécies 
também são conhecidas como maracujá, tais como Passiflora coccinea, Passiflora 
caerulea, Passiflora quadrangularis, Passiflora foetida, Passiflora maliformis, entre 
outras. 
 
 
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Flor de Passiflora incarnata Flor de Passiflora edulis Flor de Passiflora alata 
 
Nomes populares 
 
As espécies do gênero Passiflora podem ser conhecidas com diferentes nomes, 
em função tanto da espécie a que se refere quanto da região em que se encontra. Assim, 
podem ser denominadas: 
- maracujá-amarelo; 
- maracujá-roxo; 
- maracujá-de-colher; 
- granadilla (países da América Latina); 
- passion fruit (fruta da paixão, nos países de língua inglesa); 
- maypop (países de língua inglesa). 
 
Informações botânicas 
 
As espécies do gênero Passiflora são plantas herbáceas, arbustivas e trepadeiras 
vigorosas que se sustentam com auxílio de gavinhas, de caule frequentemente sulcado. 
Em algumas espécies, as folhas são arredondadas e, em outras, são profundamente 
partidas, com bordos serrados. Apresentam flores: grandes, vistosas, de coloração que 
pode variar de branco-esverdeada a alaranjada, vermelha ou arroxeada, de acordo com 
a espécie. De modo geral, florescem no período de dezembro a abril. Apresentam frutos 
arredondados cuja morfologia externa também varia de acordo com a espécie, podendo 
ser de coloração verde, amarelada, alaranjada, arroxeada ou com manchas verde-claras. 
As sementes são achatadas, pretas, envolvidas por um arilo de textura gelatinosa de 
 
 
 
 
 
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coloração amarelada e translúcida. Frutificam durante todo o ano, de forma menos 
intensa de maio a agosto. Sua maior disseminação por países tropicais se deve à 
preferência por climas quentes e úmidos. Necessitam de solo argiloso-humoso, 
profundo, fértil e bem drenado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Histórico 
 
As espécies pertencentes ao gênero Passiflora encontram-se distribuídas em 
ambos os hemisférios, com predominância nas regiões tropicais do hemisfério sul, 
exceto na África tropical, Ásia e Austrália, onde ocorrem mais raramente. Muitas de suas 
espécies são cultivadas nos trópicos em função de seus frutos comestíveis. Neste caso, 
destaca-se por seu amplo cultivo a espécie Passiflora edulis. Muitas outras espécies do 
 
Fruto imaturo de 
Passiflora Incarnata 
 
 
 
Fruto maduro de 
Passiflora edulis 
 
Fruto maduro de 
Passiflora alata 
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gênero são também cultivadas em jardins, estufas ou canteiros residenciais em função 
da beleza de suas exóticas flores, que o fazem ser conhecido como um gênero 
ornamental. E acredita-se que as espécies de maracujá tenham sido primeiramente 
cultivadas não em função de seus frutos e, sim, em função das belas flores que 
produzem. 
O uso de espécies vegetais do gênero Passiflora para fins medicinais foi descrito 
pela primeira vez pelo pesquisador espanhol Monardus, no Peru, em 1569 e, desde 
então, muitas espécies deste gênero têm sido utilizadas com frequência pela medicina 
tradicional em diversas regiões do mundo. Farmacopeias de vários países contêm 
monografias sobre as possíveis ações medicinais do gênero: Farmacopeia Britânica 
(British Herbal Pharmacopoeia), Farmacopeia NorteAmericana (United States 
Homoeophatic Pharmacopoeia), Farmacopeia Indiana (Homoeophatic Pharmacopoeia 
of India), Farmacopeia Helvética, Farmacopeia Alemã e Farmacopeia Francesa. No 
entanto, muitos dos compêndios vegetais, da Materia Medica e das farmacopeias acima 
mencionadas contêm monografias referentes apenas à espécie Passiflora incarnata. Já 
na Farmacopeia Brasileira, considera-se como o “maracujá”, tradicionalmente utilizado, 
a espécie Passiflora alata. 
O nome popular da espécie em português, maracujá, deriva do termo tupi 
“murukuia” ou “marakuia”, que significa “alimento que dá em cuia”, fazendo referência 
à polpa e ao formato da casca dos frutos. Já o nome popular da espécie em inglês, 
passion flower, significa “flor-da-paixão”e esse nome faz uma interessante associação 
entre a flor das espécies de maracujá e a religiosidade católica, mais especificamente à 
Paixão de Cristo. Acredita-se que os missionários católicos que chegaram ao Brasil por 
ocasião do período de colonização e catequização indígena tenham lançado mão da flor 
do maracujá para auxiliá-los a ensinar aos indígenas, aqui presentes, a história da Paixão 
de Cristo, em uma interessante e peculiar história. As cores mais frequentes das flores 
foram associadas às cores oficiais utilizadas nos rituais católicos praticados durante a 
Semana Santa, o vermelho e o roxo. A coroa floral, onde se inserem as múltiplas e finas 
pétalas, foi associada à coroa de espinhos colocada em Jesus. Os três estigmas florais, 
onde se localiza o pólen da flor, representariam os três pregos que fixaram e 
sustentaram Jesus na cruz. As anteras, órgãos sexuais femininos, em número de cinco, 
representariam as chagas de Cristo. As gavinhas, caule modificado com a função de 
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sustentar a planta e auxiliá-la a crescer rente a estruturas, representariam os chicotes 
utilizados para açoitar Jesus, e o fruto, por último, representaria o mundo que seria salvo 
por Ele. Daí o nome pelo qual os diferentes maracujás também podem ser conhecidos, 
como “flor-da-paixão” ou “fruta-da-paixão”. 
 
Usos populares e efeitos popularmente relatados 
 
Embora diferentes espécies de maracujá sejam utilizadas para diferentes 
condições, tais como diurético, anti-inflamatório, anti-helmíntico, entre outras, uma 
coisa possuem em comum: de forma geral, todas as espécies são indicadas 
popularmente para o tratamento de condições nervosas, principalmente da ansiedade. 
Assim, existem indicações populares para acalmar nervosismo de “condição de mulher” 
(associado ao período de tensão pré-menstrual), para acalmar “criança que não dorme”, 
para o tratamento de convulsões (principalmente infantis), para ataque dos nervos, e 
para uma série de outros quadros associados à hiperestimulação nervosa. No Brasil, a 
título de exemplo, a espécie Passiflora alata (que consta como espécie oficial da 
Farmacopeia Brasileira) tem sido recomendada popularmente como sedativa, diurética, 
ansiolítica e analgésica. Já a espécie Passiflora caerulea (ou “maracujá-de-flor-azul”) tem 
sido indicada, no Brasil, tanto como sedativa e ansiolítica como para o tratamento de 
erisipelas e outras doenças inflamatórias da pele. Em outros países latino-americanos, a 
mesma espécie tem sido utilizada também como anti-helmíntica, anti-diarreico, tônico, 
no tratamento da hipertensão, dos sintomas associados à menopausa, nas cólicas 
infantis, além de sedativo e calmante. Já a Matéria Médica Americana menciona o uso 
de Passiflora incarnata para o tratamento de diferentes formas de epilepsia e, na 
Europa, esta espécie tem sido a espécie tradicional de referência no tratamento da 
insônia e da ansiedade. No Brasil, é utilizada prioritariamente como analgésica, 
antiespasmódica, antiasmática e sedativa, sendo a espécie Passiflora edulis a mais 
indicada pelas comunidades tradicionais brasileiras para o tratamento de condições 
nervosas. 
 
Dados químicos e farmacológicos 
 
Plantas psicoativas – uma abordagem farmacológica 
 
 
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Diversos trabalhos científicos têm estudado a composição química dos extratos 
de Passiflora. Como principais constituintes aparecem os alcaloides, flavonóides, fenóis 
e compostos cianogênicos. P. incarnata e P. edulis são as duas espécies mais estudadas 
com relação à constituição química de seus extratos. Em P. incarnata aparecem em 
maior quantidade os flavonóides luteolina, apigenina, quercetina, canferol, vitexina, 
isovitexina, orientina, isorientina, entre outros. Esses mesmos compostos também 
parecem ser os principais constituintes de outras espécies de Passiflora, além dos 
alcaloides indólicos. 
Muitos pesquisadores concordam que, quando comparado com a grande 
variedade de fitoconstituintes do gênero Passiflora, foram realizados, até agora, 
relativamente poucos estudos farmacológicos com as espécies do gênero. Desses 
estudos, nota-se que a grande maioria investiga os efeitos dos extratos de apenas 
algumas espécies do gênero sobre parâmetros relacionados à atividade do sistema 
nervoso central, principalmente com relação à ansiedade. As espécies mais estudadas 
com relação aos seus efeitos sobre parâmetros centrais parecem ser P. edulis, P. alata e 
P. incarnata, espécies que co-existem em território brasileiro. No entanto, tais estudos 
apresentam uma grande variedade de metodologia experimental utilizada, dosagem via 
de administração e, talvez por essas variações, resultados algumas vezes contraditórios. 
Um estudo realizado no Brasil em 1984 demonstrou que a administração 
intraperitoneal do extrato de P. alata, em camundongos, produziu os seguintes efeitos: 
diminuição da atividade motora induzida por anfetamina, um psicoestimulante; 
aumento do tempo de sono induzido por barbitúricos, um indicativo de efeito hipnótico, 
ou seja, promovendo o sono; diminuição do tempo de latência do sono, fazendo com 
que os animais dormissem mais rapidamente quando tratados com o extrato de P. alata; 
e diminuição da mortalidade associada a convulsões induzidas por pentilenotetrazol, 
indicativo de efeito protetor contra convulsões. Todos esses efeitos foram obtidos com 
doses de 75 e 150 mg/kg. O mesmo estudo indica a DL50 do mencionado extrato (dose 
necessária para matar 50% dos animais experimentais e que é indicativa de segurança) 
como sendo de 456 mg/kg. Um estudo realizado por outro grupo de pesquisadores 
também avaliou os efeitos centrais de extratos de P. edulis e P. alata, nas doses de 50, 
100 e 150 mg/kg. Importante ressaltar que, neste trabalho, embora haja indicação das 
doses utilizadas para investigação, não há indicação da via de administração utilizada. 
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Outro trabalho, também investigando os efeitos do extrato aquoso de P. edulis, indica, 
por sua vez, que o extrato não apresentou efeitos depressores centrais específicos e, 
sim, efeitos depressores centrais “não-específicos”, embora não mencionem o que 
consideram como efeitos “não-específicos”. Um estudo realizado em 1983, o qual 
consistia em uma investigação sobre os efeitos centrais também de P. edulis, 
demonstrou que o extrato aquoso da planta prolongou o tempo de sono induzido por 
barbitúricos e por morfina, além de bloquear parcialmente os efeitos estimulantes 
induzidos por anfetamina. Embora não haja informações sobre as doses em que tais 
efeitos foram observados. Diferentes trabalhos apresentam resultados relacionados à 
atividade tipo-ansiolítica da espécie, principalmente utilizando como teste o modelo do 
labirinto em cruz elevado, o qual se baseia no medo inato dos animais de laboratório a 
lugares abertos e intensamente iluminados. Nesse modelo, a espécie parece aumentar 
o tempo que os animais permanecem nos braços abertos do modelo, indicativo de 
atividade ansiolítica. Outros estudos, utilizando diferentes testes animais de ansiedade, 
também apresentam resultados que corroboram sua ação como um potencial 
ansiolítico natural. 
A opinião de diferentes autores também diverge na questão das espécies do 
gênero que produzem ou não efeitos centrais relevantes. Como exemplo, pode-se citar 
a espécie P. edulis. Um grupo de pesquisas brasileiro indica a espécie como sendo 
utilizada pela população tradicional brasileira para o tratamento de diversos distúrbios 
centrais, na forma de sucos e refrescos. No entanto, um grupo de cientistas indianos 
afirma o contrário, sugerindo que a espécie seja desprovida de efeitos centrais 
relevantes. A justificativa para esta última opinião está na grande semelhança 
morfológica entre P. incarnatae P. edulis. Esse grupo de pesquisa indiano sugere que, 
em estudos nos quais os extratos de P. edulis tenham demonstrado algum tipo de efeito 
depressor central, este extrato não seria realmente de P. edulis e, sim, de P. incarnata. 
Esse tipo de observação reforça ainda mais a necessidade de um estudo consistente 
sobre os efeitos depressores centrais das duas espécies. Devidamente classificadas 
taxonomicamente, ainda mais num país como o Brasil, cujos trabalhos científicos 
mencionam o grande uso feito pela população, tanto de extratos de P. edulis quanto de 
P. incarnata, para o tratamento das mesmas disfunções centrais. Foi justamente em 
função desta necessidade que o grupo de pesquisas, decidiu investigar os efeitos 
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centrais da espécie P. edulis, devidamente coletada e identificada taxonomicamente 
como sendo realmente tal espécie. Os resultados preliminares deste trabalho, os quais 
fazem parte de sua tese de doutorado atualmente em andamento, apontam efeitos 
centrais significativos de diferentes partes da espécie P. edulis, tais como efeitos do tipo 
ansiolítico, hipnótico e sedativo, sem prejuízo da atividade motora, ou seja, um efeito 
relativamente seletivo. 
Com relação à espécie P. incarnata, um estudo de 1997 relata sua atividade 
ansiolítica na dose de 400 mg/kg e atividade sedativa em doses superiores, indicando 
que a diferença qualitativa dos efeitos farmacológicos observados seja produzida de 
forma dose-dependente. Deve-se considerar, no entanto, que as doses utilizadas em tal 
trabalho (400 mg/kg e 800 mg/kg) são consideradas altas, em se tratando da 
investigação de efeitos farmacológicos de espécies vegetais, não reproduzindo de forma 
fidedigna o efeito sedativo obtido pela população quando da utilização da espécie, uma 
vez que seria necessária uma grande quantidade de planta para obtenção de tal efeito 
sedativo. 
É importante mencionar, neste ponto, que a seleção de determinadas partes da 
planta para a preparação do extrato, quando da investigação dos efeitos centrais de 
espécies de Passiflora, é extremamente importante. Isso porque a inserção de partes 
inertes da planta, ou seja, desprovidas de princípios ativos, ou com uma concentração 
menor dos mesmos, pode prejudicar a obtenção dos efeitos centrais desejados. Um 
exemplo existente na literatura são as raízes de P. incarnata as quais, quando presentes 
no extrato, podem adulterar os efeitos da espécie por serem destituídas de efeitos 
ansiolíticos, ou produzirem efeitos muito tênues, e devem ser separadas das partes 
aéreas para preparação de extratos terapêuticos. Essa observação foi feita apenas pelo 
mesmo grupo de pesquisas indiano mencionado anteriormente e, no entanto, nenhum 
outro trabalho indicou, até o momento, a mesma conclusão. O que é importante 
realmente é o fato de que diferentes estudos podem estar mencionando efeitos de uma 
mesma espécie vegetal utilizando, no entanto, extratos com constituição química 
diferente, em função das partes que foram utilizadas em sua preparação. 
A questão da via de administração também é muito relevante e as diferentes vias 
têm sido utilizadas por diferentes grupos de pesquisa. Um grande número de trabalhos 
investigativos sobre os efeitos centrais de espécies de Passiflora utiliza a via 
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intraperitoneal de administração, como por exemplo, nos trabalhos acima 
mencionados. No entanto, existe uma contradição com relação a tal metodologia. A 
grande maioria dos trabalhos utiliza como justificativa principal para seus estudos o 
amplo e difundido uso que a população tradicional faz de tais espécies vegetais, desde 
tempos imemoriais, para o tratamento de diferentes disfunções centrais. Porém, a via 
de administração mais utilizada popularmente é, sem dúvida, a via oral, uma vez que as 
populações fazem uso, principalmente, de sucos e refrescos das espécies. O 
conhecimento farmacológico atesta que a via de administração intraperitoneal diverge 
completamente da via oral com relação ao modo de ação de drogas. Portanto, tais 
estudos talvez não estejam representando a ação mencionada pela população da forma 
mais fidedigna, que seria utilizada como via de administração a via oral. 
Com relação a estudos clínicos, muitas informações já se encontram divulgadas 
na literatura a respeito da eficácia de extratos de maracujá como ansiolíticos ou para 
tratar outras condições associadas à hiperestimulação psicomotora. Um trabalho 
realizado em 2001 com 65 pacientes, os quais apresentavam dependência química a 
opiáceos, afirma que o extrato de P. incarnata mostrou-se benéfico no tratamento dos 
sintomas mentais da síndrome de abstinência. Uma vez que o grupo tratado com o 
extrato da espécie apresentou uma redução no número de sintomas associados à 
abstinência, quando comparado ao grupo que recebeu clonidina e ao grupo que recebeu 
um placebo. O mesmo grupo de pesquisa, também em 2001, verificou os efeitos do 
tratamento com cápsulas contendo extrato de P. incarnata em pacientes com 
diagnóstico para ansiedade generalizada. Os resultados obtidos por eles mostraram que 
tal extrato foi tão eficaz no tratamento dos sintomas desse tipo de ansiedade como o 
oxazepam, uma droga benzodiazepínica utilizada na clínica. Embora esses efeitos 
aparecessem mais rapidamente nos pacientes que receberam esse último tratamento 
do que nos pacientes que receberam o extrato da planta. Os autores afirmam que uma 
vantagem do uso desse extrato no tratamento da ansiedade generalizada estaria 
associada à ausência de efeitos colaterais frequentemente presentes com o tratamento 
com benzodiazepínicos, uma vez que os pacientes tratados com o extrato de P. 
incarnata neste estudo não apresentaram prejuízos de desempenho em suas 
ocupações. 
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Finalmente, é importante mencionar que muita discussão tem sido gerada na 
literatura científica a respeito de quais seriam os componentes biologicamente ativos 
presentes nos extratos de espécies de Passiflora, os quais seriam os responsáveis pelas 
atividades centrais tanto relatadas pela população quanto observadas 
experimentalmente. Pesquisadores de diferentes instituições em todo o mundo têm 
apresentado diferentes opiniões a respeito da bioatividade de espécies de Passiflora. 
Alguns grupos sugerem que sejam os alcaloides harmânicos (também presentes em 
algumas espécies alucinógenas) os fitoconstituintes bioativos, devido a suas 
propriedades inibitórias da enzima monoaminaoxidase, que degradam 
neurotransmissores como a dopamina, a serotonina e a noradrenalina. Outros grupos 
de pesquisa, por sua vez, sugerem que os constituintes responsáveis pela atividade 
central sejam os flavonóides. Nesse contexto, o flavonóide crisina tem recebido especial 
atenção na literatura científica. O derivado γ-pirônico maltol também já foi cogitado 
como sendo um dos possíveis responsáveis pela atividade central, embora alguns 
resultados tenham se apresentado contrários a essa teoria. Há ainda grupos que 
acreditam que nenhum dos fitoconstituintes, atualmente conhecidos em espécies do 
gênero Passiflora, seja o responsável pelas atividades ansiolíticas e sedativas. Uma 
teoria a ser considerada é a de que talvez não exista um único componente presente 
nos extratos que seja o responsável pela atividade central, que se daria em função do 
sinergismo entre diferentes categorias de compostos. Como pode ser observado, 
portanto, não existe um consenso entre as várias hipóteses postuladas. O que faz com 
que os estudos que tentam desvendar não só os componentes bioativos centrais de 
espécies de Passiflora, como também seus mecanismos de ação, continuem a ser 
desenvolvidos tanto no Brasil como em diferentes regiões do mundo.MELISSA (Melissa officinalis) 
 
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Melissa officinalis 
 
Nome científico 
 
A planta conhecida por melissa é, na verdade, a espécie vegetal Melissa 
officinalis, pertencendo à família das Lamiáceas, plantas conhecidas por serem 
arbustivas e extremamente ricas em óleos voláteis aromáticos. Existem três subespécies 
de Melissa officinalis: subespécie officinalis, subespécie inodora e subespécie altissima. 
No entanto, somente a subespécie officinalis possui valor comercial e o odor 
característico de limão da erva-cidreira, popularmente conhecida. 
 
 
 
Nomes populares 
 
Frequentemente conhecida como erva-cidreira, essa denominação pode dar 
margem a confusões, uma vez que em algumas regiões esse mesmo nome pode ser 
usado para designar três diferentes espécies: a Melissa officinalis, o Cymbopogon 
citratus e a Lippia alba. Portanto, é importante ressaltar que tais espécies são 
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absolutamente diferentes pertencendo, inclusive, a famílias botânicas distintas. Embora 
a espécie Cymbopogon citratus possa também ser chamada de ervacidreira, o nome 
mais adequado seria capim-cidreira, ou capim-limão, justamente com o intuito de se 
distinguir essas duas espécies tão frequentemente confundidas, apesar de muito 
diferentes. Como a erva-cidreira verdadeira considera-se a espécie Lippia alba, 
enquanto a denominação melissa é destinada à espécie Melissa officinalis, que também 
é chamada, em diferentes regiões, de: 
- melissa; 
- limão-bálsamo; 
- bálsamo comum (em regiões de Portugal); 
- abelha-bálsamo; 
- lemon balm (em países de língua inglesa). 
 
Informações botânicas 
 
De aspecto herbáceo ou arbustivo, a espécie Melissa officinalis possui baixa 
estatura, crescendo no máximo até 1 a 3 pés de altura. Possui haste de formato 
retangular, com raízes curtas e folhas pecioladas que se dão aos pares. As folhas, em 
formato de coração, possuem bordos serrilhados e textura macia, conferida por pêlos 
de superfície, e emitem um forte odor de limão quando partidas ou trituradas. 
Florescem geralmente de julho a outubro, com flores brancas ou amarelas (em menor 
ocorrência) que nascem em pequenos feixes nas axilas das folhas. Geralmente, a parte 
aérea da planta perece no inverno e, em função das raízes serem perenes, volta a 
germinar no verão. A planta cresce livremente em diferentes tipos de solo e é propagada 
por sementes, estaquia ou por pedaços de suas raízes replantadas. Recomenda-se seu 
plantio entre o inverno e o outono. 
 
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Detalhe da flor e da folha de Melissa officinalis 
 
 
Histórico 
 
Existem registros que afirmam que o nome “melissa” tenha sido originado do 
grego melisso, que significa abelha. Isso porque sendo suas flores muito ricas em néctar, 
muitas vezes são plantadas próximas a áreas de criação de abelhas, que utilizam esse 
néctar para produção de um tipo valioso de mel. Espécie de origem europeia, a melissa 
era inicialmente cultivada em países como a Itália, Portugal e Espanha, de onde foram 
trazidas para o Brasil por ocasião da colonização; atualmente, é uma espécie comum em 
quase todas as regiões do mundo. Em função da grande beleza de suas flores, 
geralmente de coloração branca, existe a lenda de que o imperador romano Carlos 
Magno tenha ordenado o plantio desta espécie em todos os mosteiros, para que tanto 
a beleza quanto o aroma de suas flores pudessem tornar esses locais ainda mais 
sublimes. 
A melissa é uma planta medicinal que tem sido utilizada há mais de 2000 anos 
em função da crença popular de que promove uma longa vida e favorece a memória, 
recuperando-a em casos de amnésia. Os historiadores greco-romanos Dioscórides e 
Plínio já mencionavam a espécie como útil para tratar os sintomas das picadas de cobras 
ou escorpiões, isso porque a planta possuiria um efeito “calmante” capaz de diminuir as 
dores causadas por tais ferimentos. Registros de sua história medicinal remetem à 
Materia Medica dos anos de 50 a 80 a.C.. Acreditase que tenha sido introduzida na Grã-
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Bretanha por volta do século IV, sendo considerada, já naquela época, como uma planta 
rejuvenescedora e fortalecedora das funções mentais, que também atuava afastando 
estados melancólicos. Justamente por ser muito empregada pelas mulheres da época 
como um rejuvenescedor, muitos a consideravam como um verdadeiro elixir da longa 
vida. Existem evidências de que o amplo uso da melissa na Europa tenha se difundido 
na Idade Média, tendo sido seu uso medicinal recomendado por Paracelso (1493-1541) 
como um bálsamo capaz de reavivar o homem e como indicação para qualquer tipo de 
queixa decorrente de um estado desordenado do sistema nervoso. E foi nessa época 
que o chá de melissa passou a ser muito utilizado em função de seus benefícios para o 
cérebro, especificamente para melhorar a memória. 
 
Usos populares e efeitos popularmente relatados 
 
O uso popular da melissa se faz, predominantemente, em função de suas 
supostas atividades como calmante, tranquilizante, em casos de nervosismo ou 
inquietação, para promover o sono ou melhorar a memória, para curar dores de cabeça. 
Mas além desses efeitos relacionados ao funcionamento cerebral, muitas comunidades 
utilizam a melissa como carminativo, ou seja, na prevenção ou tratamento de gases 
intestinais, como febrífugo ou diurético. Além disso, é frequentemente utilizada para 
fins antiespasmódicos e antimicrobianos. O chá de suas folhas é muito utilizado 
também, em diferentes regiões, para o tratamento de resfriados ou de excesso de 
secreção das vias aéreas superiores. No Brasil, o principal uso da melissa é como um 
remédio caseiro sedativo, calmante ou tranquilizante, utilizado no tratamento de 
“doença dos nervos”, da hipertensão e de sintomas associados à angústia e à falta de 
sono. É também frequentemente utilizado como anti-reumático. 
 
 
 
Dados químicos e farmacológicos 
 
A espécie Melissa officinalis é muito conhecida popularmente em função de suas 
propriedades calmantes e, de acordo com comunidades tradicionais de diferentes 
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regiões do mundo, age promovendo o relaxamento, o bem-estar advindo do alívio da 
tensão nervosa, combate problemas digestivos associados ao estresse e alivia a insônia, 
como resultado de sua atividade relaxante. O suíço Paracelso, que viveu entre 1493 e 
1541 e que é considerado até hoje um dos pais da medicina, já recomendava o uso de 
Melissa officinalis para dar ânimo aos homens, além da indicá-la para todas as queixas 
supostamente causadas por um estado desordenado do sistema nervoso. Muitos 
herbalistas da época também atribuíam ao chá da melissa não somente efeitos 
benéficos sobre o cérebro como também efeitos específicos de melhoria da memória. 
Dados mais atuais sugerem que, além de propriedades espasmolítica e antibacteriana, 
a melissa poderia agir modulando um grande número de medidas comportamentais. 
Sendo indicada na maioria das vezes como um sedativo moderado, em distúrbios do 
sono e na atenuação de sintomas de distúrbios nervosos, incluindo a redução da 
excitabilidade, da ansiedade e do estresse. 
 Com relação à sua composição química, muitos estudos fitoquímicos têm 
indicado a presença, tanto em suas folhas como em seu óleo volátil, dos seguintes 
compostos: monoterpenos (como o citral, considerado um dos constituintes 
majoritários); ácidos carboxílicos fenólicos (como o ácido rosmarínico); aldeídos 
monoterpênicos (como o geranial, o citronelal ou o neral); flavonóides (como a 
luteolina, também conhecida por ser um

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