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CARTOGRAFIA GERAL AULA 6 Prof. Ricardo Michael Pinheiro Silveira 2 CONVERSA INICIAL A revolução digital é uma realidade, também, para as geociências. Nas últimas décadas, a função dos mapas e o modo de produzi-los e concebê-los foram incrementados pelo aparato informatizado, que rapidamente foi assimilado por esse campo do conhecimento. A chamada cartografia digital reúne os conceitos acumulados sobre a representação da Terra e as novas possibilidades com uso das geotecnologias. Destaca-se o papel da internet na popularização da cartografia, além dos Sistemas de Informações Geográficas, que descentralizaram a produção e uso da informação espacial. TEMA 1 – SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS (SIG) Os Sistemas de Informações Geográficas, conhecidos pela sigla SIG (ou GIS, do inglês), são ferramentas essenciais para a cartografia no âmbito digital. Desde a década de 1960, os SIGs vêm se desenvolvendo em paralelo às geotecnologias de modo geral, com a inclusão de recursos gráficos e computacionais cada vez mais sofisticados. Os preceitos da cartografia tradicional pouco a pouco foram adaptados e inseridos matematicamente nesses sistemas, que viabilizam entrada, armazenamento, edição, modelagem e saída (produtos) de dados geoespaciais. Ou seja, um SIG não é, exclusivamente, um software para produzir mapas, embora a maioria tenha essa função – além das outras mencionadas. Uma das principais vantagens de utilização dos SIGs para as representações cartográficas consiste na organização dos componentes por camadas selecionáveis. Assim, as representações ganham dinamicidade: podemos aproximar ou afastar a visualização (zoom) e, ao mesmo tempo, escolher quais temas serão visualizados (imagem de satélite, unidades de relevo, arruamento, equipamentos urbanos, fragmentos vegetacionais etc.). Referente às aplicações, os SIGs possibilitam mapeamentos, medições, monitoramentos, modelagens e gerenciamento de dados geoespaciais, sendo utilizados pelo poder público, pelo setor privado (comércio, logística), para o planejamento de transportes e a gestão do meio ambiente, por exemplo. Os dados inseridos num SIG são georreferenciados. Isso significa que, além de sua geometria (que pode ser ponto, linha ou polígono, no caso de arquivos vetoriais), ou de sua resolução (tamanho do pixel, em arquivos 3 matriciais, como imagens de satélite), tais dados também têm um sistema de referência espacial atribuído. Alguns SIGs, tais como o ArcGIS e o QGIS, podem representar múltiplos dados, com distintas projeções, sem alterar a extensão dos arquivos. Esse processo chama-se “projeção on the fly”, que pode ser alterado para visualização em tela. Caso o usuário deseje, os SIGs supramencionados também possibilitam mudar permanentemente a projeção dos dados geoespaciais. Georreferenciar, portanto, consiste na espacialização de um dado com base em um sistema de coordenadas predefinido. Comumente, os conceitos de Cartografia Digital, SIG e Geoprocessamento são confundidos ou utilizados como sinônimos. Sobre essa questão, destaca-se que: A Cartografia preocupa-se em apresentar um modelo de representação de dados para os processos que ocorrem no espaço geográfico. Geoprocessamento representa a área do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas ecomputacionais, fornecidas pelos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), para tratar osprocessos que ocorrem no espaço geográfico. Isto estabelece de forma clara a relação interdisciplinar entre Cartografia e Geoprocessamento. (D'Alge, 2003, p. 1) No espaço geográfico, os processos podem ter ocorrência pontual ou zonal (locais com alta poluição, por exemplo) ou contínua (como a temperatura do ar). Em ambiente digital, essa característica é representada com o uso de objetos discretos e campos contínuos, normalmente com vetores e matrizes, respectivamente. Os dados vetoriais possibilitam “desenhar” aspectos pontuais, lineares ou areais (zonais) dos objetos discretos; os dados matriciais (raster) representam fenômenos contínuos, pois são imagens compostas por pixels que trazem a noção de continuidade. Imagens de satélite e modelos digitais de elevação são exemplos da representação contínua do espaço geográfico. Outra importante questão dos SIGs é a coleta ou aquisição de dados para compor as representações. Os dados podem ser primários ou secundários; neste último caso, é essencial conhecer a origem e suas características de elaboração ou processamento. Os dados que descrevem os dados são chamados de metadados, e contêm informações como: quem produziu, ano de elaboração, escala, instituição/equipe responsável, atualizações, sistema de coordenadas de referência, histórico de edições etc. Uma das principais vantagens de utilização dos SIGs nos projetos cartográficos, além da entrada e saída de dados e representações, é o armazenamento dos dados em Bancos de Dados Geográficos. Além das 4 facilidades de estruturação do conjunto de dados, ainda trazem segurança ao sistema. Um Banco de Dados Geográficos tem a especificidade de armazenar tantos as informações temáticas (indicadas pelas tabelas de atributos dos dados), quanto as informações espaciais (a geometria e o georreferenciamento do dado). De modo aplicado, os usuários de SIG utilizam essa ferramenta como instrumento para análises espaciais, cujos preceitos cartográficos constam imbricados. Segundo Longley et al. (2013), podemos dividir as análises efetuadas por SIGs em três grandes categorias: • Análises baseadas na localização: contemplam análises e consultas de tabela de atributos (por exemplo: quais municípios têm população superior a 100 mil habitantes?), junções espaciais, sobreposição de polígonos (por exemplo: unir fragmentos florestais esparsos num único polígono) e análise matricial (feita para arquivos raster, sobretudo imagens de satélite). • Análises baseadas na distância: compreendem medições de distâncias, áreas ou comprimentos, detecções de agrupamentos, dependência da distância, estimativa de densidades (por exemplo, qual é a concentração dos casos de dengue em determinada região metropolitana?) e interpolação espacial (estima valores contínuos a partir de valores discretos conhecidos de um fenômeno; estações meteorológicas e chuva são um exemplo), e geração de faixas de distância. Para essa última ferramenta de análise, consideremos um exemplo de legislação ambiental: como determinar uma Área de Preservação Permanente (APP) de um rio com base num arquivo vetorial que contenha o leito do canal? Determinando uma faixa de distância automaticamente com base nos valores predefinidos (30 metros para cada margem, se for o caso). • Análises de superfície, que incluem muitas operações realizadas em arquivos matriciais (raster), por representarem fenômenos contínuos. Tais análises abarcam ferramentas de modelagem digital do relevo, como declividade e orientação das vertentes, deslocamentos, delimitação de bacias hidrográficas e canais de drenagem e cálculos de visibilidade. Pode-se compreender que o SIG trouxe novas possibilidades à cartografia, somando elementos dos mapas elaborados manualmente, no papel 5 e estáticos, para a tela de computadores, cada vez mais dinâmicos e interativos. Essas ferramentas potencializaram a visualização e elaboração de informação espacial. Outro importante recurso oferecido pelos WebSIGs é o controle de escala para a visualização de cada camada que os compõe, sendo possível definir um limiar mínimo e máximo de visualização, tanto para informações vetoriais quanto matriciais. Para sistemas que disponham de temas multiescalares ou com grande variação na escala espacial dos dados, essa ferramenta é essencial por atribuir parâmetros de representação, além de auxiliar na alternância entre as camadasde acordo com o processo de generalização cartográfica. TEMA 2 – SISTEMA GLOBAL DE NAVEGAÇÃO POR SATÉLITE (GNSS) Na cartografia, a determinação das localizações configura aspecto central. A atribuição de coordenadas, nesse contexto, emerge como recurso orientativo indispensável ao mapeamento dos objetos que compõem o espaço geográfico. Os primeiros sistemas de navegação por satélites foram desenvolvidos em paralelo à corrida espacial no contexto da Guerra Fria (para fins militares), com ampla aplicabilidade recentemente (no âmbito civil). O Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS), segundo o IBGE (2018, p. 20), “refere-se à constelação de satélites que possibilita o posicionamento em tempo realde objetos, bem como a navegação em terra ou mar”, cujos sistemas “são utilizados em diversas áreas, como mapeamentos topográficos e geodésicos, aviação, navegação marítima e terrestre, monitoramento de frotas, demarcação de fronteiras, agricultura de precisão”, além de outros usos. O GNSS mais comum é o GPS (Global Positioning System), estadounidense, embora também tenhamos em funcionamento o Glonass (russo) e, em fase de desenvolvimento, o Galileo (da União Europeia) e o Compass (da China). Os sistemas apresentam uma constelação de satélites, a partir dos quais é atribuída posição. Com um aparelho receptor móvel, o posicionamento é feito com informações adquiridas de pelo menos três satélites da constelação. O sistema GPS, de acordo com Timbó (2001), tem a capacidade de indicar localizações geográficas com baixa, média ou alta precisão, variando em função dos instrumentos e metodologias utilizados na coleta e processamento 6 dos sinais. Esse sistema tornou-se efetivo e completamente operacional em 1995, custando 10 bilhões de dólares, compondo uma constelação de 31 satélites para assegurar que “sempre tenham, ao menos, 24 satélites operando,distribuídos em seis órbitas, a uma altitude aproximada de 20.200 km da superfície terrestre” (IBGE, 2018, p. 20). Na geografia, os receptores móveis GPS são importantes inclusive como base para pesquisas e trabalhos de campo, com a coleta de dados que posteriormente vêm a compor representações cartográficas. Os dados primários muitas vezes são levantados dessa maneira. Em outros casos, inversamente, o GPS auxilia a localizar objetos previamente mapeados. Atualmente, há grandes vantagens pelo fato de os smartphones terem esse sistema integrado. Miranda (2005, p. 100) afirma que “a coleta de dados com uso de GPS se democratizou grandemente devido ao fato de o usuário poder receber esses dados via satélite por meio de coletores manuais. Esses coletores definem a localização geográfica e altitude com variado grau de precisão”. Os principais erros vinculados à utilização do GPS são relacionados aos sistemas de referência. Os receptores comerciais são projetados com o Datum WGS84 (geocêntrico), que é muito próximo dos parâmetros do Sirgas2000. Portanto, se o mapa de referência estiver com outro sistema de referência, poderá haver deslocamentos entre a localização atribuída e a correspondência no mapa (e vice-versa). Além disso, muitas áreas podem ter sinal fraco na recepção, por conta de obstáculos que constem na paisagem, como montanhas ou grandes construções. O sistema foi desenvolvido de modo que no mínimo quatro satélites sejam observáveis em qualquer momento do dia e em qualquer lugar do planeta Terra. Com referência aos outros GNSS disponíveis ou em desenvolvimento, destaca-se que o Glonass (sistema global de posicionamento por satélites russos) tornou-se completamente operacional em 2011, operando com uma constelação de 24 satélites, com altitude de 19.100 km. Sua distribuição se dá em três planos orbitais. Em relação ao projeto europeu denominado Galileo, diferentemente de outros GNSS, a iniciativa de desenvolvimento do sistema é civil e não militar. Tal fato pode trazer mais segurança aos usuários. A previsão é de que o sistema esteja operacional a partir de 2020, com 30 satélites a 23.222 km de altitude. Quanto ao projeto chinês intitulado Compass (ou Beidou-2), 7 salienta-se que é similar ao GPS e ao Glonass, estando em desenvolvimento com uma constelação de 35 satélites. Previamente, tornou-se operacional na China em 2011, contando com 10 satélites. Trata-se da segunda geração do sistema. No Brasil, o IBGE é responsável pela Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo dos Sistemas GNSS (RBMC), caracterizada como uma rede de estações permanentes – que, atualmente, contabilizam 146. TEMA 3 – CARTOGRAFIA WEB E VISUALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA A cartografia recente passa por muitas transformações de ordem técnica e de aplicabilidade, ambas mediadas pela inserção da tecnologia no tratamento e na representação de informações geográficas. Segundo Câmara, Davis e Monteiro (2001), no cenário atual, o aparato técnico proveniente do desenvolvimento das geotecnologias impulsionou o desenvolvimento científico da cartografia em ambiente informatizado, tanto pela disponibilidade de dados quanto pela capacidade de processamento em plataformas computadorizadas. O desenvolvimento da cartografia nas últimas décadas abarcou novas perspectivas de comunicação, para além de representações estáticas, elaboradas no papel e cujos documentos representavam a visão restrita do cartógrafo. A interatividade, assim, despontou como aspecto de destaque, aproximando os usuários dos produtos cartográficos – dinamizando-os e ressignificando-os. A maior interação com os mapas, amparadas pela tecnologia, descentralizou a produção e o uso das representações. Eis os conceitos da visualização cartográfica, que englobam também recursos animados e multimídia. Os conceitos de interatividade e exploração, na cartografia, denotam uma alteração na relação entre emissor (produtor do mapa) e receptor (usuário do mapa). Para Martinelli (2007, p. 23), a visualização configura “a aplicação da cartografia computadorizada para viabilizar os procedimentos de análise e comunicação junto às representações feitas através de mapas”, o que resulta numa “cartografia dinâmica com grande potencial para a manipulação interativa das informações espaciais”. Os mapas dinâmicos foram favorecidos pelos recursos de animação, por um lado, e pela revolução que a internet vem causando na cartografia, de outro. De acordo com Olaya (2014), a denominada cartografia web se desenvolveu em 8 oito etapas: 1. cartografia web estática; 2. cartografia web criada dinamicamente (a partir de base de dados); 3. cartografia web distribuída (várias fontes de dados); 4. cartografia web animada; 5. cartografia web personalizada (representação definida pelo usuário); 6. cartografia web interativa; 7. cartografia web analítica (análises por SIG); 8. cartografia web colaborativa (aquisição e manutenção de dados distribuídos). Com a internet, os SIGs, outrora restritos a máquinas locais, pouco a pouco dão lugar aos WebSIGs, que mantêm as características tradicionais com o adicional do compartilhamento e armazenamento em nuvem. Segundo Longley (2013, p. 79), os dados em formato digital são mais simples de transformar, processar e analisar. Os SIG nos permitem fazer coisas com as representações digitais que não seriam possíveis com os mapas impressos: medir rápida e precisamente, superpor e combinar, mudar a escala e navegar, não importando o limite entre as folhas. Tenhamos como exemplo o esquema representado na Figura 1. Um SIG na Web (WebSIG) tem as características de um SIG comum (desktop), viabilizando o tratamento de dados e a obtenção de resultados. Além disso, ramifica-se ramifica para três campos de possibilidades. Na perspectiva dos produtores, o conjunto de ferramentas disponível para as representações temáticas e elaboração do projeto cartográfico configura um ponto de partida. A eficácia dependedo conhecimento sobre os preceitos básicos intrínsecos à cartografia. Em um segundo momento, há as possibilidades de desenvolvimento, personalização e automatização de processamentos, que otimizam a comunicação cartográfica e podem atender públicos específicos. Por fim, pensando nos usuários, os WebSIGs podem ser aplicados para diversas finalidades, seja para planejamento, gestão, educacionais, logística e muitas outras. 9 Figura 1 – Possibilidades de um WebSIG. No contexto da internet, o uso de mapas popularizado por computadores e smartphones, com aplicações no cotidiano da população em geral, trouxe novas demandas e responsabilidades para a cartografia. A popularização da tecnologia também é um fator a ser considerado na compreensão do papel da cartografia neste século (Rosa, 2005), tais como no ensino de geografia (seja ele formal ou não). Hoje, com os smartphones, muitos aplicativos têm como base o componente espacial, empregado para diversas finalidades. As representações e a compreensão sobre os mapas, entretanto, nem sempre são adequadas. A cartografia web também resultou numa nova maneira de obtenção e compartilhamento de informação geográfica. Longley et al. (2013, p. 35) apontam que, nos últimos anos, tem se popularizado o termo neogeografia para descrever o desenvolvimento da tecnologia de mapeamento na Web e de infraestruturas de dados espaciais que têm reforçado muito nossas habilidades em construir, compartilhar e interagir com a informação geográfica em tempo real. Trata-se de uma cartografia colaborativa. A grande potencialidade é a democratização da cartografia. A principal limitação, por sua vez, está nos cuidados em relação à origem, aos processamentos e à manutenção da qualidade dos dados gerados (e sua consequente transformação em informação). 10 TEMA 4 – FOTOGRAMETRIA E SENSORIAMENTO REMOTO No último século, os produtos derivados da fotogrametria e do sensoriamento remoto foram base para a cartografia, tanto para a elaboração de mapas de base ou topográficos quanto para mapas temáticos. A capacidade de visualizar a superfície de modo mais abrangente resultou em novas maneiras de concebê-la e interpretá-la, primeiramente com fotografias aéreas e depois com os dados derivados de satélites (imageamento digital). Uma definição clássica do sensoriamento remoto coloca-o como “a ciência e arte de obter informações a respeito de um objeto, área ou fenômeno pela análise de dados adquiridos por um sistema que não se encontra em contato com o objeto, área ou fenômeno sob investigação” (Lillesand; Kiefer, 1994), com a utilização de regiões do espectro eletromagnético (extrapolando, comumente, a região visível). Centeno (2009) cita que a primeira forma de sensoriamento remoto foi a fotografia aérea. As primeiras tentativas de fotografar amplas regiões eram feitas a partir de torres ou montanhas, com vistas a posicionar a câmera em uma posição acima dos objetos de interesse. As primeiras fotografias permanentes datam do século XIX, cujas câmeras, posteriormente, foram alocadas em balões ou aviões para denotar a visão espacializada (muitas vezes tomando-se uma perspectiva oblíqua). Com a invenção do avião, no século XX, a fotogrametria (responsável pela medição das distâncias e das dimensões dos objetos da superfície terrestre) se desenvolveu, viabilizando representações mais precisas. A corrida espacial durante a Guerra Fria, por sua vez, culminou no desenvolvimento de satélites que puderam ser utilizados para a observação multitemporal e multiespectral da Terra. Atualmente, os populares veículos aéreos não tripulados (VANT), conhecidos como drones, vêm sendo utilizados como sensores para mapeamentos de pequena escala. Os preceitos básicos do sensoriamento remoto consistem na relação entre os seguintes elementos: sensores, fontes de energia, alvos e radiação eletromagnética, conforme ilustrado pela Figura 2. Há diversos sensores, com distintas características, acoplados em vários satélites que orbitam a Terra. 11 Figura 2 – Elementos fundamentais do sensoriamento remoto Fonte: Novo; Ponzoni, 2001, p. 6. Além disso, reforça-se que: No centro do triângulo deste esquema, encontra-se a Radiação Eletromagnética (REM), que é o elemento de ligação entre todos os demais que se encontram nos vértices. São eles, a fonte de REM, que para o caso da aplicação das técnicas de sensoriamento remoto no estudo dos recursos naturais, é o Sol (pode ser também a Terra para os sensores passivos de microondas e termais, podem ser antenas de microondas para os sistemas radares); o sensor, que é o instrumento capaz de coletar e registrar a REM refletida ou emitida pelo objeto, que também é denominado alvo, e que representa o elemento do qual se pretende extrair informação (Novo; Ponzoni, 2001, p. 7) Desse modo, para compreender as características dos produtos derivados do sensoriamento remoto, devemos considerar: as características da energia eletromagnética; o balanço de energia; o espectro eletromagnético (ou seja, as faixas de energia usadas no sensoriamento remoto e as fontes de radiação); a interação da energia eletromagnética com a atmosfera (absorção e espalhamento atmosférico); resposta espectral de alvos; plataformas e sistemas sensores. O espectro eletromagnético (Figura 3) é um conceito-chave para o sensoriamento remoto. O olho humano consegue visualizar uma pequena porção de todas as radiações eletromagnéticas existentes (na faixa espectral que vai de 0,38 a 0,78 micrômetros, conhecida como espectro do visível), embora o espectro eletromagnético varie desde as ondas de rádio (maior comprimento de onda) até os raios gama (menor comprimento de onda) – incluindo, também, o raio X, ultravioleta, infravermelho e microondas. Para exemplificar uma aplicação desse conceito, as imagens que captam o infravermelho detectam a vegetação (alvo) de modo eficiente. Inicialmente, as imagens com essas características foram utilizadas para identificar alvos camuflados em conflitos militares, mas hoje podem detectar áreas de desmatamento ou monitoramento de atividades agrícolas, por exemplo. 12 Figura 3 – Comprimentos de onda do espectro eletromagnético Outro conceito fundamental vincula-se à resolução, que no sensoriamento remoto pode ser: espacial, espectral, radiométrica e temporal. A resolução espacial condiz ao detalhamento da estrutura matricial da imagem, cuja menor unidade é o pixel (célula). Portanto, quanto maior for o tamanho do pixel, menor será o detalhamento da representação. Inversamente, quanto menor o tamanho do pixel, mais detalhes a imagem conseguirá representar. A Figura 4 ilustra essa diferenciação, com duas imagens com resoluções espaciais distintas que representam o mesmo recorte geográfico. A escala das representações cartográficas pode ser estabelecida em relação à resolução espacial. Figura 4 – Comparação entre a resolução espacial de uma imagem WorldView- 2 e RapidEye. A resolução espectral vincula-se à capacidade dos sensores de operarem em distintas faixas do espectro eletromagnético. Assim, os dados podem ser captados em bandas distintas (intervalos correspondentes às ondas emitidas). 13 Quanto mais bandas um sensor oferece, maior será a resolução espectral – daí a denominação “multiespectral”. A resolução radiométrica é uma quantificação digital da imagem, que transforma o volume de luz captado em tons de cinza. As imagens são codificadas em bits. Assim, uma imagem com 8 bits tem 256 possibilidades (8 x 8) de tons de cinza; uma imagem com 11 bits tem 2048 níveis (11 x 11); e assim por diante. Por fim, a resolução temporal é dada pelo tempo de retorno do sensor para um mesmo ponto na superfície. Quanto menor for o tempo de revisita, maior é a resolução temporal. Isso é importante para trabalhosque realizem análises multitemporais, como o desmatamento. Quanto às aplicações, o sensoriamento remoto tem alcançado uma ampla difusão em vários campos de pesquisa e monitoramento dos recursos naturais e do meio ambiente, além de ser um importante instrumento de apoio à cartografia. TEMA 5 – PROBLEMAS E ERROS COMUNS DA CARTOGRAFIA DIGITAL O cenário atual marca uma fase de transição entre mapas analógicos para mapas digitais. Embora essa fase traga muitas potencialidades para a Cartografia, com novas possibilidades e perspectivas, também carrega consigo muitas limitações. Os principais erros, tanto pelos produtores dos mapas quanto pelos usuários, compreendem os seguintes aspectos: desconhecimento sobre a origem e as características dos dados digitais utilizados; deficiência teórica e metodológica durante os processamentos e análises dos dados; elaboração inadequada do projeto cartográfico, sem considerar os preceitos da cartografia de base e da cartografia temática. Atualmente, a grande disponibilidade de arquivos digitais é um aspecto muito positivo. Entretanto, a preocupação com a consistência dos dados parece ser secundária, e essa questão remete a alguns conceitos básicos da Cartografia, tais como: sistemas de referência, sistema de coordenadas, projeção e escala. Dados inconsistentes geram produtos inconsistentes. No caso dos arquivos vetoriais shapefile, amplamente utilizados sem projeção conhecida, os deslocamentos podem comprometer a representação. Essa é a importância dos metadados, que descrevem a origem – são os dados sobre os dados. Além disso: geralmente, o assunto projeções de mapas é visto como responsabilidade e preocupação apenas de cartógrafos. Muitas vezes, 14 usuários de SIG ignoram esse importante assunto da representação espacial. Contudo, com a crescente difusão do uso de SIG e com tudo que diz respeito a geoprocessamento, como agricultura de precisão, posicionamento por satélite e sensoriamento remoto por satélites, esse assunto não pode ser ignorado. (Miranda, 2005, p. 83) No Brasil, devemos lembrar que o sistema geodésico oficial atualmente é o Sirgas2000, embora já tenha sido o SAD69 e o Córrego Alegre. Ou seja, se documentos cartográficos antigos são convertidos em formato digital com o datum errado, há uma propagação de erros nos usos posteriores. Nos processamentos realizados em dados geoespaciais, surgem muitos erros durante a etapa analítica. Para Rosa (2011, p. 275), “a análise espacial faz a ligação entre o domínio essencialmente cartográfico e as áreas de análise aplicada, estatística e a modelagem, permitindo combinar variáveis georreferenciadas e, a partir delas, criar e analisar novas variáveis”. Todavia, tais análises espaciais precisam ser amparadas pelo domínio teórico-metodológico, pois os erros acumulados durante o processo podem ser omitidos na representação final na forma de mapa. Na perspectiva do usuário: Muitos consultam mapas, mas não sabem tirar todas as informações possíveis. Poucos têm a preocupação de decidir sobre que informações devem ou não ser mantidas em um mapa no caso de uma generalização. Quantos têm se preocupado com os problemas de distorção produzidos pelas projeções? Aceita-se um mapa como ele é apresentado sem muitas preocupações ou considerações. Estes são pontos importantes quando se usa mapas, principalmente em SIG. (Miranda, 2005, p. 111) Na etapa de elaboração de uma base de dados para se trabalhar com Cartografia digital, DeMers (1997) cita sete regras básicas para um projeto coerente: 1. Qual é a finalidade da base de dados?; 2. Especificar os objetivos claramente antes de selecionar os mapas; 3. Evitar usar dados de fontes duvidosas quando existirem dados de fontes convencionais; 4. Usar o dado mais preciso para construir a base de dados; 5. O nível da precisão dos dados espaciais inseridos na base de dados interfere nos resultados esperados; 6. tanto quanto possível, usar o mesmo mapa planialtimétrico para inserir com diferentes planos de informação a base de dados; 7. Os planos de informação da base de dados devem ser os mais específicos possíveis. 15 NA PRÁTICA Os conceitos da cartografia digital podem ser aplicados em diversas situações do cotidiano. A compreensão na prática é favorecida, atualmente, pelos softwares livres de SIG, tal como o QGIS. É fundamental que os profissionais da área busquem conhecer as principais ferramentas e possibilidades oferecidas pelas técnicas de geoprocessamento, seja para fins de planejamento, meio ambiente ou educação. Sugere-se consultar a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE) do Brasil para download de arquivos que possam servir de base para praticar o uso do software QGIS. FINALIZANDO Os mapas feitos exclusivamente no papel, com representações estáticas de recortes do espaço geográfico, ganharam dinamicidade e interatividade com os mapas visualizados na tela de computadores, em ambiente digital. As geotecnologias apresentam muitas potencialidades para a Cartografia, embora as limitações dessa fase transitória devam ser sempre ressaltadas – especialmente em relação aos conceitos cartográficos de base. 16 REFERÊNCIAS CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. Introdução à ciência da geoinformação. São José dos Campos: DPI/INPE, 2001. CENTENO, J. A. S. Sensoriamento remoto e processamento de imagens digitais. Pós-Graduação em Ciências Geodésicas, UFPR, Curitiba, 2009. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. LILLESAND, T. M.; KIEFER, R. W. Remote Sensing and Image Interpretation. 3. ed. New York: John Wileyand Sons. Inc., 1994. LONGLEY, P. A. et al. Sistemas e Ciência da Informação Geográfica. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2007. MIRANDA, J. I. Fundamentos de sistemas de informações geográficas. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2005. NOVO, E. M. L. M.; PONZONI, F. J. Introdução ao Sensoriamento Remoto. São José dos Campos: INPE, 2001. OLAYA, V. Sistemas de información geográfica. Create Space Independent Publishing Platform, 2014. ROSA, R. Análise Espacial em Geografia. Revista da ANPEGE, v. 7, n. 1, p. 275-289, 2011. _____. Geotecnologias na geografia aplicada. Revista do Departamento de Geografia, n. 16, p. 81-90, 2005. TIMBÓ, M. A. Elementos de Cartografia. Departamento de Cartografia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.