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UNIDADE I – NOÇÕES PRELIMINARES
CAPÍTULO 1
SOCIEDADE E ESTADO
1 Origem das sociedades. 2 Características gerais e conceito de sociedades humanas. 3 Organização das Sociedades em Estado. 
1 Origem das Sociedades
Qual a diferença entre agrupamentos de animais (abelhas, formigas) e agrupamentos humanos?
Os agrupamentos animais são vinculados só pelo instinto (agrupamentos de abelhas ou formigas de mesma espécie organizam-se da mesma forma em todos os lugares). 
Nos agrupamentos humanos identifica-se a presença da razão. Mas as teorias se dividem quanto ao que teria dado origem a estes agrupamentos – se unicamente o instinto, ou unicamente a razão:
(i) Naturalistas: afirmam que as Sociedades humanas formam-se naturalmente, como decorrência de um instinto natural do homem, se bem que não ignorem o papel da vontade (razão), que permite aos homens escolher permanecer em sociedade (em vez de sair dela), para repartir os benefícios do convívio social. 
Seus principais expoentes foram: Aristóteles, Cícero e Santo Tomás de Aquino.
Aristóteles (A Política) dizia que o homem é um “animal político”, e que só um deus ou um bruto poderia prescindir do convívio com os demais.� 
Cícero (A República), influenciado por Aristóteles, afirmava que “a primeira causa de agregação de uns homens a outros é menos a sua debilidade do que um certo instinto de sociabilidade em todos inato”.� 
Santo Tomás de Aquino (Summa Theologica), igualmente influenciado por Aristóteles, afirmava que a vida solitária se verificava apenas em três situações excepcionais, a saber, a do individuo notavelmente virtuoso (excellentia naturae), que vivia qual um santo eremita, em comunhão com a própria divindade; a do indivíduo com anomalia mental (corruptio naturae); e de mala fortuna, quando por acidente (naufrágio, etc.) o indivíduo se vê na contingência de ter que viver isoladamente.�
No âmbito da Teoria das Sociedades, a opinião dos naturalistas diz respeito a uma concepção organicista da Sociedade (universitas), em que o todo (a Sociedade ou, melhor, a comunidade) vem antes das partes (os indivíduos).� A comunidade pressupõe laços muito estreitos entre os indivíduos que a conformam. Os organicistas costumam dar maior importância à comunidade ou coletividade e seus interesses (bem comum ou interesse coletivo), do que aos indivíduos e seus interesses particulares.�
(ii) Racionalistas: defendem que as Sociedades humanas têm origem única e exclusivamente num ato de vontade racional, como os contratualistas clássicos, que argumentavam que os homens viviam anteriormente em “estado de natureza” e depois, por um ato de vontade racional, decidiram em algum momento constituir uma sociedade.�
Seus principais expoentes foram: Hobbes, Locke e Rousseau.
Hobbes (O Leviatã) argumentava que os homens viviam inicialmente em “estado de natureza” (estágio primitivo da história humana, em que imperava a situação de desordem, animada pela realização dos instintos inferiores, como o egoísmo, a luxúria, a animosidade, etc.), celebrando um contrato social, a fim de transferir mutuamente as potências individuais em favor de uma organização social eficiente (um Leviatã, que tudo pode), para precaverem do perigo constante (segurança).�
Locke (Segundo Tratado do Governo Civil) argumentava que os homens viviam inicialmente em “estado de natureza”, no qual já dispunham de determinados direitos (direito de se expressar, destacadamente o direito de propriedade, primeiramente do próprio corpo e de sua força de trabalho, e depois de tudo o que sua força de trabalho fosse capaz de produzir), celebrando um contrato social a fim de transferir mutuamente poderes individuais em favor de uma organização social eficiente (uma “associação de proprietários”) que mantivesse a propriedade dos que a cultivam pelo próprio trabalho.�
Rousseau (Do Contrato Social) argumentava que os homens (essencialmente bons, ao contrário do que pensava Hobbes) viviam inicialmente em “estado de natureza”, mas que em determinado momento os obstáculos que atentavam contra a sua conservação em estado natural excediam as forças que cada um podia empregar, donde a celebração de um contrato social, que implicou em transferência mútua de poderes para formar uma organização social eficiente para defesa de seus próprios bens, sem que isso implicasse em demasiado cerceamento da liberdade.�
No âmbito da Teoria das Sociedades, a opinião dos racionalistas diz respeito a uma concepção mecanicista da Sociedade (societas), em que as partes (os indivíduos) importam mais que o todo (a Sociedade). A sociedade, neste sentido, pressupõe laços mais largos entre os indivíduos que a “integram” (importância instrumental). Os mecanicistas colocam o indivíduo e os seus interesses no centro das preocupações da Sociedade, emprestando-lhe um caráter quase que instrumental: ela serve para assegurar que os indivíduos realizem seus interesses particulares.�
Estas teorias, contudo, podem não ser auto-excludentes.� O gênero homo (“pessoa”, “homem”) supostamente surgiu na Terra há 3 ou 4 milhões de anos. Dentro deste gênero, várias espécies se formaram, antes ou conjuntamente ao homo sapiens – como o homo erectus, o homo ergaster, o homo heidelbergensis (ou homo antecessor), o homo neanderthalis – evoluídas umas das outras ou de um ancestral comum: várias delas manifestaram princípios de inteligência espiritual, emocional e inclusive racional (surgidos em algum momento qualquer de sua evolução, quando muito provavelmente já viviam em grupos), posto que desenvolveram equipamentos de caça compostos (machado com cabo), dominaram o fogo e mantinham até formas rudimentares de linguagem. Depois de um longo processo evolutivo a partir de espécies anteriores, a espécie homo sapiens (“pessoa” ou “homem sábio”, “inteligente”) já teria surgido, portanto, dotada de inteligência (razão) e com ocasião propícia para desenvolver todas as suas potencialidades individuais, inclusive evoluindo e sofisticando sua forma de organização grupal no decorrer dos séculos seguintes.� 
Supõe-se, assim, que desde os mais remotos tempos os indivíduos (os primeiros hominídeos) já formavam pequenos grupos sociais; submetidos às leis do processo evolutivo e da seleção natural, estes indivíduos lograram desenvolver-se racional, intelectual e emocionalmente, culminando com o surgimento dos humanos modernos (homo sapiens), que se espalharam em pequenos grupos pelos quatro cantos do mundo (aprox. há 30 mil anos atrás); os pequenos grupos que se formavam aqui e ali, unindo-se uns aos outros ou multiplicando-se em número, constituíram grupos sociais cada vez maiores e mais desenvolvidos; gradativamente tornaram-se mais complexos e organizados, possibilitando a formação de vários outros grupos internos, com finalidades especializadas. Os mais antigos agrupamentos sociais vieram a encontrar na família a sua base�; várias famílias, de origem comum (clã) ou diversa, agrupadas, formaram a tribo; já dentro de cada tribo foram organizando-se grupos especializados de caçadores, de guerreiros, de artesãos, e assim por diante.� Portanto, desde as épocas imemoriais das Sociedades primitivas (selvagens e bárbaras) os homens passaram a integrar não apenas um grupo maior (Sociedade), mas a vários grupos internos (sociedades menores ou comunidades).
As primeiras sociedades civilizadas (sedentárias) de que se tem notícia surgiram no Oriente próximo e no Oriente médio, às margens dos rios Tigre e Eufrates (Mesopotâmia) e do rio Nilo (Egito), respectivamente – juntamente com as civilizações da Ásia oriental (China e Índia).�
Essa radicalização dos primeiros agrupamentos nômades encontra na religião pelo menos uma de suas justificações: a crença em que uma existência pós-morte se desenvolvia nas profundezas da terra justificava o dever de a família enterrar os seus mortos. As primeiras moradas fixas (casas) construíram-se logo ao lado dos cemitérios familiares.� 
2 Características gerais e conceito de sociedades humanas
Um grupo de pessoasem um espetáculo teatral forma uma sociedade?
Observa Dallari que toda sociedade humana reúne três características específicas, a partir das quais pode ser definida: uma finalidade (ou valor) social; manifestações de conjunto reiteradas e ordenadas; e um poder social.�
Finalidade: todo agrupamento social, toda sociedade possui uma finalidade que interessa a todos os membros, e que de resto justifica sua formação (fim social ou finalidade de bem comum).� Tal finalidade pode ser de duas ordens distintas:
(i) Quanto à natureza dos fins, as sociedades podem ser:
(a) de fins materiais: aquelas constituídas para buscar determinados bens concretos (Ex.: as sociedades empresariais, que buscam o lucro; algumas associações culturais, como os museus, que buscam preservar e expor ao público obras de arte);
(b) de fins imateriais: aquelas constituídas para buscar dados bens abstratos (Ex.: os clubes, que buscam o lazer; as igrejas, que buscam a salvação espiritual). 
(ii) Quanto à amplitude dos fins, as sociedades podem ser:
(a) de fins específicos: aquelas constituídas para buscar determinados bens definidos, sejam materiais, sejam imateriais (Ex.: clubes, igrejas, sociedades empresariais);
(b) de fins gerais: aquelas constituídas para buscar bens variados (Ex.: família e Estado, que buscam realizar os projetos de vida boa de seus membros).�
Manifestações de conjunto reiteradas e ordenadas: para que alcancem os fins sociais buscados, é imprescindível que as sociedades ajam de determinada maneira, a saber: 
(a) coletivamente: é preciso ação conjunta que dos integrantes do grupo, seja diretamente (por si mesmos), seja indiretamente (por meio de representação de uns pelos outros);
(b) reiteradamente: uma vez que as finalidades de bem comum são permanentes, é preciso que as manifestações coletivas também o sejam (não há sociedade numa relação que se extinga de plano, como numa compra e venda, por exemplo); 
(c) ordenadamente: a diversidade de opiniões, desejos e preferências exige uma ordenação, para que seus membros possam permanecer associados.
Poder social: é o poder social que ordena as sociedades – na família, os pais; na Igreja, a mais alta autoridade eclesiástica (como o Papa, na Igreja Católica, etc.); nas sociedades empresárias, o Conselho deliberativo e/ou o administrador; nas associações (recreativas, como os clubes, ou culturais, como museus e academias, etc.), a Assembléia Geral, etc.
A partir das citadas características, Dallari conceitua as sociedades humanas como manifestações de conjunto reiteradas e ordenadas (por um poder social), com vistas a alcançar uma dada finalidade de bem comum.�
As características gerais das sociedades – tais como conceituadas e articuladas por Dallari – podem conduzir a um conceito restrito de sociedade (apenas no sentido de comunidades, que pressupõe laços muito estreitos entre as partes do todo), que ilide a configuração de uma Sociedade civil geral (ou simplesmente Sociedade), dentro da qual se manifestem várias sociedades civis específicas ou comunidades (famílias, clubes, igrejas, sociedades empresárias, etc.), diferente da sociedade política (o Estado). Deles resultam apenas sociedades civis específicas (ou comunidades) no âmbito do domínio territorial (isto é, no “ambiente”) da sociedade política, à qual os indivíduos se vinculam por laços de cidadania.
Alguns autores da Teoria dos Sistemas adotam um conceito mais amplo de sociedade (ou sistema social). Parsons, por exemplo, admite mais ou menos as mesmas características formais do que chama de sistemas gerais de ação, a saber: integração (conceito mais débil que o de manifestações de conjunto), manutenção de um padrão de ação (conceito mais débil que o de ordenação), realização de objetivo (conceito mais débil que o de “finalidade de bem comum”), e ainda a adaptação (“conjunto de condições às quais a ação precisa adaptar-se e abrange o mecanismo primário de inter-relação com o ambiente físico”).� Fica implícita, em Parsons, a existência de um poder social (“força” ou “energia” que estabelece o padrão de ação), que Dallari torna explícito; e fica explícita a existência de um ambiente onde as relações sociais se desenvolvem, que em Dallari resta implícito. A par destas características, Parsons define a sociedade como “o tipo de sistema social caracterizado pelo nível mais elevado de auto-suficiência com relação ao seu ambiente, onde se incluem outros sistemas sociais.”� Especialmente com relação aos outros sistemas gerais de ação (os sistemas culturais, de personalidade e comportamentais), a autossuficiência se restringe à “estabilidade de relações de intercâmbio” com o ambiente no qual se manifestam ou agem – porque, do contrário, seu conceito eliminaria o conceito de sociedades civis específicas (ou comunidades), subsistindo apenas o conceito de Sociedade civil geral (ou simplesmente Sociedade) e o de sociedade política (Estado).�
Outros conceitos de sociedades como “sistema” conduzem a uma compreensão próxima da de Parsons, de maneira a abranger não apenas pequenos agrupamentos, mas também grandes agrupamentos.�
3 Organização das Sociedades em Estado
O que é o Estado? Quando surge? Qual sua relação com a Sociedade?
Além de várias teorias sobre a origem da Sociedade, há também várias teorias sobre o conceito do Estado, sobre sua origem e sobre a maneira como ele se relaciona com a Sociedade.
O Estado é uma forma específica de sociedade (sociedade política), pela qual os indivíduos se organizam politicamente para reger a Sociedade civil em geral (bem como as sociedades civis específicas ou comunidades).
Em despeito da diversidade de maneira de conceituar o Estado (filosoficamente, sociologicamente, juridicamente, etc.), pode-se defini-lo a partir de seus elementos – que em larga medida coincidem com as características das sociedades humanas em geral. Grosso modo, o Estado está presente sempre quando, sobre uma determinada base territorial, as pessoas que ali vivem (povo) se submetem a um poder (soberano), com vistas a alcançar finalidades de bem comum.
Há várias correntes de pensamento que procuram situar o surgimento do Estado. De maneira geral, é possível separá-las em dois grandes grupos:
(i) As que entendem que não há Sociedade sem Estado: o surgimento do primeiro implica necessariamente o surgimento da segunda, de tal maneira que Sociedade e Estado se confundem. É o caso das teorias da origem contratual do Estado (Hobbes, Locke e Rousseau), para quem os homens saem do “estado de natureza” (ou “estado selvagem”), em que não havia um poder social que estabelecesse qualquer ordenação interna – e ingressam no “estado de sociedade” (ou “estado de civilização”, ou “sociedade civil”, cujo sentido corresponde exatamente ao de “sociedade política”), já criando imediatamente o Estado para manutenção da ordem social. Sociedade civil e sociedade política tem para eles exatamente o mesmo significado.� 
(ii) Há correntes de pensamento que entendem que Sociedade é uma coisa, e Estado é outra, tendo havido ao longo da história Sociedades sem e Sociedades com Estado.� A Sociedade é um prius, isto é, vem sempre antes do Estado, que surge naturalmente (teorias da origem natural).� Dentro desta corrente, várias teorias divergem amplamente acerca do momento e da razão do surgimento do Estado:
(a) teoria da origem patriarcal, segundo a qual o Estado se originou do desenvolvimento e do crescimento da família;� 
(b) teoria da origem econômica, pela qual o Estado surgiu como resultado da exploração econômica de um grupo ou classe por outro, a partir da instituição de uma economia de produção;�
(c) teoria da origem pelo desenvolvimento interno da Sociedade, a principal das quais sustenta que o Estado surge com a evolução da Sociedade nômade (Sociedade primitiva) para a Sociedade sedentária (Sociedade antiga), que, já dotada do elemento humano, de poder social e de uma finalidade geral de bem comum a perseguir, passou a situar-se, desde então, num dado território –ainda que não rigidamente definido.� 
(d) teoria da origem violenta, nos termos da qual o Estado teria resultado da subjugação de um grupo social pela força de outro, ou pela conquista de uma Sociedade por outra.�
(e) teoria da soberania, nos termos da qual o Estado surge com o surgimento da idéia de soberania do poder político estatal.
Qualquer tenha sido a origem do Estado (a sedentarização, a instituição da economia de produção, a família, a força), das teorias acima resulta que o Estado existiu no passado, e que a figura criada com o surgimento da noção de soberania seria apenas um dado tipo de Estado, com um qualificativo próprio. Distinguem então, Estado antigo (egípcio, sumérios, hititas, gregos, romanos ocidentais, etc.), Estado medieval (romanos orientais) e Estado moderno.
Há bastante divergência nesse ponto, porque uma boa parte da doutrina entende que o Estado é, rigorosamente, uma forma recente de organização política, que veio a lume com o surgimento de uma qualidade especial do poder: a soberania (1648). As formas de organização política do passado (cidades-estado como as polis gregas, impérios multinacionais como a civitas romanas, etc.) eram formas de organização política, mas não Estados, sendo ele um produto da modernidade. Portanto, a expressão “Estado moderno” seria redundante.
Bibliografia
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TELLES JUNIOR, Goffredo. O Povo e o Poder: o conselho do planejamento nacional. São Paulo: Malheiros Editores, 2003.
WOLKMER, Antonio Carlos. “O Direito nas sociedades primitivas”. In WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Fundamentos de História do Direito. 2 ed. Del Rey: Belo Horizonte, 2003, pp. 21-29.
P/ download de clássicos da filosofia política: http://colecoesnerds.weebly.com/livros-de-filosofia-por-autores.html 
� 	ARISTÓTELES. A Política, p. 4 et seq.
� 	Apud DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 10. Cf.: CÍCERO, Marco Túlio. Da República. 5 ed. Tradução de Amador Cisneiros. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
� 	Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 10.
� 	“O Estado, ou sociedade política, é até mesmo o primeiro objeto a que se propôs a natureza. O todo existe necessariamente antes da parte. As sociedades domésticas e os indivíduos não são senão as partes integrantes da Cidade, todas subordinadas ao corpo inteiro, todas distintas por seus poderes e suas funções, e todas inúteis quando desarticuladas, semelhantes às mãos e aos pés que, uma vez separadas do corpo, só conservam o nome e a aparência, sem a realidade, como uma mão de pedra. O mesmo ocorre com os membros da Cidade: nenhum pode bastar-se a si mesmo. Aquele que não precisa dos outros homens, ou não poder resolver-se a ficar com eles, ou é um deus, ou um bruto. Assim, a inclinação natural leva os homens a este gênero de sociedade.” (ARISTÓTELES. A Política, p. 5)
� 	Cf. BONAVIDES, Paulo. Ciência Política, p. 54 et seq.
� 	Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 12 et seq. 
� 	Cf.: DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 14; HOBBES, Thomas. Leviatã: ou matéria, forma e poder de uma república eclesiástica e civil. Organização de Richard Tuck; tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva, Claudia Berliner; revisão da tradução de Eunice Ostrensky; supervisão da edição brasileira de Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Sobre a natureza humana numa perspectiva hobbesiana, cf. filme O Senhor das Moscas (Lord of the Flies, EUA, 1990).
� 	Cf.: CHÂTELET, François. Uma História da Razão, pp. 80-82; e CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das Idéias Políticas, pp. 27-124.
� 	Cf.: DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 16; ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social: princípios do direito político. 3 ed. Tradução de Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
� 	Cf. BONAVIDES, Paulo. Ciência Política, p. 54 et seq.
� 	Neste sentido Dallari, para quem “a existência desse impulso associativo natural não elimina a participação da vontade humana”. (DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 11).
� 	Telles Junior anota: “Há uma profunda diferença entre a sociabilidade dos homens e a sociabilidade de seres gregários não humanos. Em seres gregários não humanos, a sociabilidade é puramente instintiva. Nos homens, além de instintiva, ela é racional”. (TELLES JUNIOR, Goffredo. O Povo e o Poder, p. 16). Machado Paupério deseu turno anota: “O animal, por admirável instinto que tenha, não é dotado de inteligência ou de razão, como o homem (…). Como único ser vivo capaz de pensar (deduzindo, induzindo, abstraindo, etc.), o homem passou a elaborar conceitos e imagens mentais que possibilitaram a construção científica, capaz de legar o acervo intelectual de uma geração às gerações subseqüentes. Por isso, o homem, e só ele, pôde progredir, marchando das incertezas da idade da pedra ao requinte de civilização criado pela era do átomo.” (PAUPÉRIO, Arthur Machado. Introdução do Estudo do Direito, p. 21)
� 	Conforme anota Machado Paupério, para as teorias antropológicas evolucionistas a família, tal como é hoje conhecida, nem sempre existiu. No início dos tempos, em vez de organização familiar, integravam homens e mulheres um verdadeiro “gado humano”, subordinado ao que chama de promiscuidade sexual primitiva. “Dessa promiscuidade é que se teriam originado, posteriormente, formas mais evolvidas, através do que se passou a chamar de família poligínica e de família poliândrica, a primeira constituída pela união de um homem com várias mulheres, e a segunda, pela união de uma mulher com vários homens. (…) A família monogâmica seria, para os evolucionistas, o último elo de uma longa cadeia começada, nos primórdios da vida, com a promiscuidade sexual” (PAUPÉRIO, Arthur Machado. Introdução do Estudo do Direito, p. 28). Dessas teorias antropológicas evolucionistas antigas (séc. XIX), infere-se que os primeiros grupos formados, vivendo em promiscuidade sexual primitiva (regime de “gado humano”), teriam dado margem a um sistema matriarcal apoiado em famílias poliândricas, evoluindo daí para um sistema patriarcal apoiado em famílias poligínicas – precisamente em decorrência do surgimento da noção de propriedade privada – até culminar, atualmente, no sistema igualitário entre homem e mulher, apoiado em famílias monogâmicas (Cf. ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pp. 28-90, que embora tenha desenvolvido seus estudos já no séc. XX, debruçou-se sobre as investigações feitas por autores do séc. XIX). Embora os primeiros grupos tenham, de fato, vivido em regime de promiscuidade, e embora, de fato, tenham existido famílias matriarcais (inclusive atualmente, na Amazônia brasileira), as teorias antropológicas do séc. XX questionaram a generalidade linear desta seqüência histórica. Considerando a evolução do direito – que “pode ser interpretado segundo o tipo de sociedade que o gerou” (ou seja, “se a sociedade pré-histórica fundamenta-se no princípio do parentesco, nada mais natural do que considerar que a base geradora do jurídico encontra-se, primeiramente, nos laços de consangüinidade, nas práticas de convívio familiar de um mesmo grupo social, unidos por crenças e tradições”) – aponta Wolkmer a fragilidade das teses evolucionistas que tomam por base seqüencial evolutiva a comunhão de grupos, o matriarcado, o patriarcado, o clã (várias famílias de origem comum) e a tribo (várias famílias de várias origens). No seu entender, “não existe certeza se o matriarcado realmente ocorreu e se foi, posteriormente, sucedido pelo patriarcado” (WOLKMER, Antonio Carlos. “O Direito nas sociedades primitivas”. In WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Fundamentos de História do Direito, pp. 21 e 29). Isso não implica, por óbvio, no completo descrédito das teorias evolucionistas: “Nos últimos anos – como anota Ribeiro – praticamente todos os antropólogos retomaram a perspectiva evolucionista, reformulada, agora, em termos explicitamente multilineares e descomprometida do caráter conjuntural dos antigos ensaios sobre a origem de costumes e instituições” (RIBEIRO, Darcy. O Processo Civilizatório, p. 33).
� 	Vale transcrever a lição de Telles Junior: “Unas e homogêneas devem ter sido as uniões sociais mais primitivas. Provavelmente, não eram mais do que pequenos núcleos humanos, agrupamentos extremamente simples, mantidos pelo medo ante a agressividade do imenso mundo, e dirigidos pelas inclinações profundas da espécie, na ânsia pela sobrevivência. Talvez não fossem mais do que simples famílias. Mal teve início a evolução da sociedade, logo esses núcleos primitivos se devem ter tornado pletóricos. Logo, a cisão se impôs. Outras cisões, e outras mais, certamente se seguiram. E a sociedade passou a ser formada de entidades cada vez mais numerosas. Multiplicaram-se e diferenciaram-se as partes constitutivas da sociedade. Distribuíram-se as tarefas. Dentro do todo, grupos especializados se instituíram, com funções e encargos certos. Como conseqüência desse movimento de diferenciação, a sociedade se complexificou. E a primitiva homogeneidade foi sendo substituída por uma heterogeneidade crescente. Mas a evolução não é apenas diferenciação. A diferenciação das partes acarreta, como é óbvio, a interdependência dessas mesmas partes e funções. Nas sociedades complexas, cada indivíduo em sua classe, cada grupo, cada instituição executando sua tarefa especial, necessita, para sobreviver, da colaboração de outros indivíduos, dos outros grupos e instituições, que se entregaram às outras tarefas especiais. Onde há complexidade, nada basta a si próprio. Uns necessitam dos outros. E a solidariedade se impõe. O fenômeno dessa solidariedade acarreta o que se denomina movimento de coordenação. Diferenciação das partes e de suas respectivas funções; coordenação das partes e de suas respectivas funções – tais são os dois movimentos componentes do processo de integração das sociedades humanas. A sociedade humana, portanto, é um todo, mas um todo composto de grupos, de ‘corpos’, de instituições. Ela é uma unidade, mas é uma unidade feita de variedade”. (TELLES JUNIOR, Goffredo. O Povo e o Poder, pp. 19/20).
� 	“As civilizações ora estudadas [Egito e Mesopotâmia] fornecem um raro exemplo de simultaneidade do tempo histórico. Elas são construídas de forma lenta, mas a finalização do processo de mudança dá-se no mesmo período. Com efeito, existem indícios de existência de vida humana na Mesopotâmia e Egito já na Era Neolítica (ano 7000 a.C. na região da Mesopotâmia e 5500 a.C. no Egito). Mas é no séc. IV a.C. que a proximidade de datas fica mais evidente. Ambas as civilizações urbanizam-se e adotam a escrita em períodos muito próximos. Como já dito, as primeiras inscrições em cuneiforme aparecem na Mesopotâmia em 3100 a.C.; os primeiros textos em hieróglifos surgem no Egito no período compreendido entre 3100 e 3000 a.C. Quanto às cidades, elas já existem na Mesopotâmia no lapso de tempo situado entre 3100 e 1900 a.C.; no Egito, a urbanização dá-se de forma gradual, concomitante à unificação dos povos do Sul e Norte (Baixo e Alto Egito), o que resulta na formação das cidades entre 3100 e 2890 a.C. Segundo as pesquisas mais recentes, não há uma relação de causalidade entre as duas evoluções aqui descritas” (ARAUJO PINTO, Cristiano Paixão de. “Direitos e Sociedade no Oriente Antigo”. In WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Fundamentos de História do Direito, p. 36). 
� 	Cf.: COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga, p. 9 et seq.; ARAUJO PINTO, Cristiano Paixão de. “Direitos e Sociedade no Oriente Antigo”. In WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Fundamentos de História do Direito, p. 36.
� 	Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, pp. 20/21.
� 	Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 23.
� 	Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 46.
� 	Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 46.
� 	Cf. PARSONS, Talcott. O Sistema das Sociedades Modernas, p. 15 et seq. Os quatro sistemas gerais (ou primários) de ação por ele mencionados são: o sistema social, os sistemas culturais, os sistemas de personalidade e os sistemas comportamentais (Idem).
� 	PARSONS, Talcott. O Sistema das Sociedades Modernas, p. 19.
� 	PARSONS, Talcott. O Sistema das Sociedades Modernas, p. 19. 
� 	No âmbito da cibernética social, Gregori define sistema (todo e qualquersistema, inclusive o sistema social) como um “pacote de energia constituinte – com uma pele limitando a faixa interna e a faixa externa – por onde se dá o intercâmbio de energia reconstituinte (…)”, com capacidade variável de informação intra e inter-sistêmica (por meio de inputs e outputs), regulação (processamento) e direcionamento (feedback). Cf. GREGORI, Waldemar de. Cibernética Social I, p. 27 et seq. No Direito Constitucional, cf. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, p. 115 et seq.
� 	“I. A SOCIEDADE CIVIL NOS JUSNATURALISTAS. — A expressão Sociedade civil teve, no curso do pensamento político dos últimos séculos, vários significados sucessivos; o último, o mais corrente na linguagem política de hoje (v. § 6), é profundamente diferente do primeiro e, em certo sentido, é-lhe até oposto. Em sua acepção original, corrente na doutrina política tradicional e, em particular, na doutrina jusnaturalista. (…). Sociedade civil (societas civilis) contrapõe-se a "sociedade natural" (societas naturalis), sendo sinônimo de "sociedade política" (em correspondência, respectivamente, com a derivação de "civitas" e de "pólis") e, portanto, de "Estado". Conforme o modelo jusnaturalístico da origem do Estado, que se repete, com sensíveis variações, mas sem alterações substanciais da dicotomia fundamental "Estado de natureza-Estado civil", de Hobbes, que é seu criador, até Kant e seus seguidores, o Estado ou Sociedade civil nasce por contraste com um estado primitivo da humanidade em que o homem vivia sem outras leis senão as naturais. Nasce, portanto, com a instituição de um poder comum que só é capaz de garantir aos indivíduos associados alguns bens fundamentais como a paz, a liberdade, a propriedade, a segurança, que, no Estado natural, são ameaçados seguidamente pela explosão de conflitos, cuja solução é confiada exclusivamente à autotutela. (BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política I. Tradução de Carmen C. Varriale et al; coordenação da tradução de João Ferreira; revisão geral de João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 11 ed., 1998, p. 1206 et seq.) 
� 	Cf. CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado, p. 207.
� 	“VI. [A SOCIEDADE CIVIL] NA LINGUAGEM DE HOJE. — (…). Na contraposição Sociedade civil-Estado, entende-se por Sociedade civil a esfera das relações entre indivíduos, entre grupos, entre classes sociais, que se desenvolvem à margem das relações de poder que caracterizam as instituições estatais. Em outras palavras, Sociedade civil é representada como o terreno dos conflitos econômicos, ideológicos, sociais e religiosos que o Estado tem a seu cargo resolver, intervindo como mediador ou suprimindo-os; como a base da qual partem as solicitações às quais o sistema político está chamado a responder; como o campo das várias formas de mobilização, de associação e de organização das forças sociais que impelem à conquista do poder político.” (BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política I. Tradução de Carmen C. Varriale et al; coordenação da tradução de João Ferreira; revisão geral de João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 11 ed., 1998, p. 1210) 
� 	Caso de Robert Filmer. Cf.: GILSON, Bernard (Ed.). Resumo do Primeiro Tratado. In: LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil, pp. 51-78; e DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 55.
� 	Neste sentido, cf.: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado, pp. 207-234; e ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pp. 119/120. Engels afirma que “na constituição grega da época heróica vemos, ainda cheia de vigor, a antiga organização gentílica, mas já observamos igualmente o começo da sua decadência: o direito paterno, com herança dos haveres pelos filhos, facilitando a acumulação das riquezas na família e tornando esta um poder contrário à gens; a diferenciação de riquezas, repercutindo sobre a constituição social pela formação dos primeiros rudimentos de uma nobreza hereditária e de uma monarquia; a escravidão, a princípio restrita aos prisioneiros de guerra, desenvolvendo-se depois no sentido da escravização de membros da própria tribo e até da própria gens; a degeneração da velha guerra entre as tribos na busca sistemática, por terra e por mar, de gado, escravos e bens que podiam ser capturados, captura esta que chegou a ser uma fonte regular de enriquecimento. Resumindo: a riqueza passa a ser valorizada e respeitada como bem supremo e as antigas instituições da gens são pervertidas para justificar-se a aquisição de riquezas pelo roubo e pela violência. Faltava apenas uma coisa: uma instituição que não só assegurasse as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica, que não só consagrasse a propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração santificadora o objetivo mais elevado da comunidade humana, mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade às novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras – a acumulação, portanto, cada vez mais acelerada, das riquezas –; uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda. E esta instituição nasceu. Inventou-se o Estado.” (ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, pp. 119/120).
� 	Nesse sentido, cf. AZAMBUJA, Darcy. Introdução à Ciência Política, p. 99. A sedentarização do ser humano ocorreu ainda na Pré-História, há aproximadamente 10 mil anos atrás (8000 a.C.), quando tiveram lugar as primeiras culturas agrícolas, marcando a transição do Período Paleolítico (Idade da Pedra Lascada) para o Período Neolítico (Idade da Pedra Polida). Foi o estabelecimento de uma vida sedentária que proporcionou aos agrupamentos humanos avançar gradualmente do status de “barbárie” ao status de “civilização” (do latim civita, ou cidade, donde derive ainda civile, ou civil, cidadão), a partir da formação das cidades, do incremento do comércio e do desenvolvimento da escrita. Conforme assinala Araújo Pinto,“a idéia de cidade – compreendida como um lugar cívico, de satisfação do homem no plano coletivo, desvinculada de aspectos como sobrevivência, alimentação e proteção contra um ambiente hostil – já aparece nos primeiros locais em que eram celebrados ritos, normalmente fúnebres. Com isso, fica superada qualquer concepção estritamente utilitária da origem das cidades; passa-se a considerar o agrupamento organizado como uma primeira manifestação da identidade do próprio homem, de sua temporalidade e de sua diferença em relação a outros seres vivos. Com a organização em aldeias, resultante de sua sedentarização no território, que passa a ser cultivado – fenômeno esse típico da Era Neolítica –, a idéia moderna de cidade vai-se tornando mais próxima. O passo seguinte seria a formação das primeiras cidades. E isso ocorreu, como é consenso entre os historiadores, na Mesopotâmia”. (ARAUJO PINTO, Cristiano Paixão de. “Direitos e Sociedade no Oriente Antigo”. In WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Fundamentos de História do Direito, p. 34) Em remate, finaliza dizendo que “a formação da cidade na Mesopotâmia foi o termo final de um processo lento de destribalização que se estendeu pela maior parte do século IV a. C.” (Idem)
� 	Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 55.

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