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CRIMINOLOGIA 3. TEORIAS MACROSSOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE 3.5 Labelling Approach Análise Histórica Essa ideia nasceu nos anos 60, sendo marco inaugural da chamada Teoria do Conflito. A ideia de encarar uma sociedade toda pacífica, sem problemas sociais ou culturais, que trabalha de forma coesa é totalmente abandonada, em face das crises de valores, perdas de referências demonstradas pela fragilidade do Estado. Antes, as demais teorias focaram no crime e no criminoso. Agora, as teorias do conflito se embasam na forma de controle social e a participação da vítima. Então, quais foram os fatores sociais determinantes para a ruptura da antiga criminologia? Após da 2ª Grande Guerra Mundial, os EUA tiveram um grande desenvolvimento econômico, fazendo com que uma grande parcela da classe média tivesse acesso a bens de consumo não antes imaginados. Só que nos anos 60 ocorreram vários conflitos críticos que fizeram que o american dream ficasse abalado. Isso se deu em todos os setores sociais, fazendo com que nascesse um movimento contracultural, rebeldia de jovens, com força marcante de uso de drogas, rock and roll e uma grande resistência à Guerra do Vietnã. Aqui nasce um conflito pelo reconhecimento de mais direitos sociais, luta pela minoria negra, pelo fim das descriminações sexuais. Os jovens não estavam contentes com o que presenciavam e queriam mudanças. Viram que tinham força e não aceitaram os papeis convencionais da sociedade. No final da década de 60, o uso da maconha havia se tornado um poderoso símbolo de liberdade e de desobediência civil. Depois, tem-se o movimento hippie. Velhos ideais de vida comunitária e amor livre coexistiam de forma pacífica com crenças ancestrais e exóticas religiões orientais, além de uma revalorização do cristianismo original (SHECAIRA, 2012, p. 240). Apesar dos hippies terem a ideologia de paz e amor, esses também participavam de movimentos sociais. Em outubro de 1967, muitos participaram da Marcha ao Pentágono, sendo um dos maiores confrontos entre estudantes e força militar. Já em 1968 houve um conflito em Chicago, por ocasião da Convenção do Partido Democrata. A polícia reprimiu a manifestação estudantil com força, matando várias pessoas. Em 1969, vários estudantes e voluntários ocuparam um terreno abandonado da Universidade de Berkeley e o transformaram em espaço público, com várias atividades para as crianças. O governador da Califórnia convocou a polícia e a guarda nacional para resolver a situação, onde tal solução consistiu em destruição total do parque e morte de um estudante. Ainda, neste mesmo ano, aconteceu o festival de Woodstock. No mundo, as revoltas estudantis tomaram força e fizeram a diferença. Outra vertente de crítica foi em relação às questões raciais. O papel determinante foi de Martin Luther King Jr., ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1964. Iniciou a sua luta pública pelos direitos dos negros em 1956. Ainda, tem-se a luta feminista, em face da postura de Betty Friedan. Sobre a Teoria do Labelling Approach Essa teoria surgiu nos anos 60, nos EUA. É conhecida também como Teoria do Etiquetamento, Teoria da Rotulação Social, Teoria Interacionista ou da Reação Social. As ideias sustentadas por essa teoria surgiram antes dos anos 60. Já Jeremy Bentham já mencionava que a prisão contribuía para a criminalidade. O Labelling Approach, segundo Schecaira (2012, p. 250), desloca o problema criminológico do plano de ação para o da reação (dos bad actors para os powerful reactors), fazendo com que a características comuns dos delinquentes seja a resposta das audiências de controle. Assim, o impacto causado no agente e perante a sociedade da aplicação do controle social informal e do controle social formal é bem diferente. O controle social formal é seletivo e discriminatório. Quando as outras pessoas decidem que uma pessoa não é bem vinda naquela sociedade, por ser perigosa, não confiável a reação destas é desagradável, adotando certas posturas que não teriam com outras pessoas. Essas posturas acabam humilhando e causando a rejeição destas pela sociedade, trazendo tais pessoas estigmatizadas para um controle que retirará sua liberdade. Howard S. Becker, com o seu livro Outsiders definiu melhor as principais ideias dessa teoria. Uma mera tradução desse termo chega-se a conclusão que um outsider é uma pessoa que não é aceita em determinado grupo social. Pode alcançar um traficante de drogas ou alguém que bebeu em excesso em uma festa e que se comportou de forma exagerada. Surgindo a intolerância, haverá uma espécie de estigmatização da pessoa. “Para os autores do labelling a conduta desviante é o resultado de uma reação social e o delinquente apenas se distingue do homem comum devido à estigmatização que sofre. Daí o tema central desta teoria ser precisamente o estudo do processo de interação, no qual o indivíduo é chamado de delinquente” (SCHECAIRA, 2012, p. 253). Schecaira citando Becker: “Para Becker, a conduta desviante é originada pela própria sociedade. Dentro dessa linha de raciocínio, a desviação não é uma qualidade do ato que a pessoa comete, mas uma conseqüência da aplicação pelos outros das regras e sanções para o ofensor. O desviante é alguém a quem o rótulo social de criminoso foi aplicado com sucesso; as condutas desviantes são aquelas que as pessoas de uma dada comunidade aplicam como um rótulo àquele que comete um ato determinado” (SCHECAIRA, 2012, p. 253). Com essa teoria, é necessário responder a seguinte pergunta: “Por que pessoas normais não seguem os impulsos desviantes que todos têm?” E Becker responde dizendo que a classe média já conseguiu certos padrões e que se alguém dessa classe se envolvesse com o crime, perderia muito mais do que pessoas de classes menos favorecidas, que não tem muito a perder, como a futura carreira, família, status. Quando se pratica um crime, a partir daí sempre tal pessoa será rotulada como “criminosa”. E esse rótulo, depois de certo tempo, passa a fazer parte da personalidade do agente, fazendo com que este se aproxime de “seus iguais”, partindo para uma carreira criminosa. Dentro do aspecto da desviação, tem-se a desviação primária e a desviação secundária. Desviação primária é aquela que fundamenta a criminalidade por vários fatores, como social, cultural, econômico e racial ou até todos esses fatores combinados. A desviação secundária traduz- se numa resposta de adaptação aos problemas ocasionados pela reação social à desviação primária, ou seja, é a reação da sociedade em relação ao crime praticado. Um dos maiores problemas da desviação é o mergulho no papel desviado: aqui se analisa a partir de dois pontos: como a sociedade analisa o desviado e como o próprio desviado se vê. Outro problema são as cerimônias degradantes: pode ser um contato com assistente social, ou o próprio processo criminal. Exemplo disso é o que é noticiado pela mídia e a forma de exploração de tal notícia. Portanto, a criminalização de conduta e o seu processamento criam um processo estigmatizante para o condenado. Segundo Juarez Cirino dos Santos, a pena acaba sendo geradora de desigualdades, uma vez que cria reação negativa nos círculos familiares, de amigos e que acaba por gerar marginalização no âmbito do mercado de trabalho e escolar. A prisão como repressão ao crime passa a funcionar como um elemento de criminalização que gera um processo em espiral para a clientela do processo penal. A criminalização primária gera rotulação, que acaba gerando a criminalização secundária (reincidência). O rótulo criminal, que fica demonstrado através de fichas criminais, por exemplo, acaba fazendo com que essas pessoas se envolvam com pessoas já estigmatizadas e que já partam para a carreira do crime. (2008,p. 14). Conforme Outro problema da desviação é a permanência na instituição total: quanto mais tempo o desviado permanece longe do convívio social, mas ele fica desculturado, ou seja, como está acostumado a ser humilhado, rebaixado por outras pessoas, não consegue relembrar as regras sociais mais comuns, sendo difícil a sua adaptação. A primeira coisa que o desviado sente no processo de desculturamento é a perda do seu nome. Quando entra na unidade prisional, ele é privado de seus pertences pessoais, como carteira de identidade e outros documentos, e ganha um uniforme padrão. Depois, será medido, identificado, fotografado, examinado por um médico para depois ser lavado e terminar com o rito de passagem. Isso quando não é “marcado” através de uma tatuagem, a qual identificará por qual crime foi preso. Com a convivência, perderá o seu jeito de falar e aprenderá a “língua” da cadeia, bem como permanecerá vigiado 24 horas. Assim, há a pretensão de afirmar que um preso com bom comportamento é um homem recuperado, porque a prisão o resgatou. Essa é uma afirmativa totalmente falsa, uma vez que ninguém se recupera com ações negativas. O que ocorre é a prisonização, ou seja, o preso já se adaptou as novas regras e as segue, demonstrando um falso bom comportamento. Schecaira: “Pode-se resumir o modelo explicativo seqüencial dos atos do labelling approach da seguinte forma: delinqüência primária → resposta ritualizada e estigmatização → distância social e redução de oportunidades → surgimento de uma subcultura delinquente com reflexo na autoimagem → estigma decorrente da institucionalização → carreira criminal → delinqüência secundária” (2012, p. 264). Diante de todos esses problemas apontados por tal teoria, pergunta-se: Como acabar com a delinquência primária? a) a primeira coisa seria a eliminação de todos os problemas sociais, culturais, existenciais e psicológicos dos agentes envolvidos nos crimes. b) a resposta ritualizada e estigmatizante deve ser repensada. As cerimônias deveriam ser menos degradantes, evitando a divulgação da reação estatal junto aos órgãos das imprensas. c) outro problema é de cunho social, ou seja, deve ser diminuída a distância social que cria uma redução de oportunidades para as pessoas que se envolvem com o sistema de justiça criminal. Eliminar as marcas do processo, como registro de antecedentes criminais. d) Evitar uma subcultural delinquente com reflexos na autoimagem do agente do crime consiste em investir em terapia social que atue sobre o ego do acusado, permitindo uma autocrítica. e) Para acabar com a institucionalização decorrente do recolhimento prisional só mesmo com o seu fim. f) para ter-se a diminuição das carreiras criminais, necessário criar um meio de transição entre a prisão fechada e a sociedade aberta. Aplicando tais medidas, ter-se-ia uma diminuição sensível nesse processo em espiral diagnosticado pelo labelling e que leva a criminalização secundária e à reincidência. Medidas influenciadas pelo Labelling Approach no Brasil a) Direito penal mínimo: princípio da intervenção mínima. b) Sistema progressivo. c) Penas alternativas. d) Direitos e deveres do preso: arts. 40 à 43, da LEP. e) Identificação civil e não criminal (só em alguns casos previstos estritamente na lei). f) Juizado Especial Criminal: pontos positivos e negativos.
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