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Notas de Aula Disciplina - Mecânica dos Solos 1 Profa. Cecilia Silva Lins Prof. Raphael Claus Recife-PE (2016) ÍNDICE CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................... 4 1. INTRODUÇÃO A MECÂNICA DOS SOLOS ................................................................ 4 1.1 Mecânica dos Solos ............................................................................................. 4 1.2 Origem e Evolução da Mecânica dos Solos ..................................................... 4 1.3 Mecânica dos Solos e Outras Ciências............................................................. 5 1.4 Aplicações .............................................................................................................. 6 CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................... 8 2. ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS ......................................................................... 8 2.1 Intemperismo Físico ............................................................................................. 8 2.2 Intemperismo Químico ......................................................................................... 8 2.3 Intemperismo Biológico........................................................................................ 9 2.4 Classificação dos Solos Quanto a Origem e Formação ................................. 9 2.5 Composição Química e Mineralógica dos Solos ........................................... 12 2.6 Superfície Especifica .......................................................................................... 14 CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................. 15 3. PROPRIEDADES DAS PARTÍCULAS E ÍNDICES FÍSICOS DOS SOLOS .......... 15 3.1 Teor de Umidade de um solo ............................................................................ 17 3.2 Peso específico Aparente de um solo ............................................................. 18 3.3 Índice de Vazios .................................................................................................. 19 3.4 Grau de Compacidade ....................................................................................... 19 3.5 Porosidade ........................................................................................................... 19 3.6 Saturação ............................................................................................................. 19 3.7 Peso específico de um solo saturado .............................................................. 20 3.8 Peso específico submerso ................................................................................ 20 3.9 Peso Específico da Água – (Yw) ...................................................................... 20 3.10 Peso especifica das Partículas ......................................................................... 20 3.11 Forma das partículas.......................................................................................... 21 CAPÍTULO 4: ............................................................................................................................ 22 4. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DOS SOLOS E ENSAIOS .......................................... 22 4.1 Tamanho e Forma das Partículas .................................................................... 22 4.2 Caracterização Granulométrica dos Solos ..................................................... 22 4.3 Análise Granulométrica...................................................................................... 23 CAPÍTULO 5 ............................................................................................................................. 27 5. PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA FÍSICA DOS SOLOS ..................................... 27 5.1 Limites de Consistência ..................................................................................... 27 5.2 Determinação dos limites de Consistência ..................................................... 28 CAPÍTULO 6 ............................................................................................................................. 32 6. PRINCIPAIS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS ............................... 32 6.1 Sistema Unificado de Classificação ................................................................. 32 6.2 Sistema de Classificação do H.R.B. ................................................................ 35 CAPÍTULO 7 ............................................................................................................................. 39 7.1 FENÔMENOS CAPILARES ............................................................................................. 39 7.1 Teoria do Tubo Capilar ...................................................................................... 39 7.2 Importância dos Fenômenos Capilares .......................................................... 41 CAPÍTULO 8 ............................................................................................................................. 43 8.1 COMPRESSIBILIDADE E COMPACTAÇÃO DOS SOLOS ....................................... 43 8.1 Analogia da Mecânica de Terzaghi .................................................................. 45 8.2 Teoria do Adensamento de Terzaghi .............................................................. 46 8.3 Compressibilidade dos Terrenos Pouco Permeáveis (Argila) ..................... 47 8.4 Compressibilidade dos Terrenos Permeáveis (Areia e Pedregulho).......... 48 8.5 Ensaio de Adensamento.................................................................................... 48 CAPÍTULO 9 ............................................................................................................................. 51 9. NOÇÕES GERAIS DE PROSPECÇÃO DO SUBSOLO ........................................... 51 9.1 Profundidade, Locação e Numero de Sondagens......................................... 52 9.2 Métodos de prospecção geotécnica ................................................................ 52 9.3 Sondagens Especiais para Extrair Amostras Ideformadas de Solos ......... 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 60 4 Apostila de Mecânica dos Solos CAPÍTULO 1 1. INTRODUÇÃO A MECÂNICA DOS SOLOS A definição do que é solo depende em muitos casos de quem o utiliza. Os agrônomos, por exemplo, o vêem como um material de fixação de raízes e um grande armazém de nutrientes e água para as plantas. Para o geólogo de mineração, a capa de solo sobrejacente ao minério é simplesmente um material de rejeito a ser escavado. Para o engenheiro civil, os solos são um aglomerado de partículas provenientes de decomposição da rocha, que podem ser escavados com facilidade, sem o emprego de explosivos, e que são utilizados como material de construção ou de suporte para estruturas. Como material de construção e de fundação, os solos têm grande importância para o engenheiro civil. Nas barragens de terra, nas fundações de estruturas, o solo – assim como o concreto e o aço – está sujeito a esforços que tendem a comprimi-lo e a cisalhá-lo, provocando deformações e podendo, eventualmente, levá-lo à ruptura. 1.1 Mecânica dos Solos Todas as obras de engenharia se assetam sobre o terreno e inevitavelmente requerem que o comportamento do solo seja devidamente considerado. A Mecânica dos solos estuda o comportamento dos solos quando tensões são aplicadas, como nas fundações, ou aliviadas, no caso de escavações, ou ainda perante o escoamento de água nos seus vazios. Quase todas as obras de engenharia têm, de alguma forma, de transmitir as cargas sobre elas impostas ao solo. Além disto, em algumas obras, o solo é utilizado como o próprio material de construção, assim como o concreto e o aço são utilizados na construção de pontes e edifícios, como exemplo tem-se os aterros rodoviários, as bases para pavimentos de aeroportos e as barragens de terra. O estudo do comportamento do solo frente às solicitações a ele impostas por estas obras é portanto de fundamental importância, constituindo assim numa Ciência de Engenharia na qual os engenheiros se baseiam para desenvolver seus projetos. 1.2 Origem e Evolução da Mecânica dos Solos Os primeiros trabalhos sobre o comportamento dos solos datam do século XVII. Vauban (1687), COULOMB, 1773, RANKINE, 1856 e DARCY 1856 publicaram importantes trabalhos sobre o comportamento dos solos. A partir destes trabalhos foram desenvolvidas teorias clássicas sobre o equilíbrio dos maciços terrosos, de sentido predominantemente matemático e sem o correspondente ajustamento das suas conclusões a realidade física. Estas teorias, apesar de suas limitações tão conhecidas, atualmente, desempenham um importante papel no desenvolvimento dos maciços terrosos. O acúmulo de insucessos em obras de Engenharia observados no início do século XX como os descritos abaixo, cedeu lugar ao desenvolvimento dos estudos baseado em dados fornecidos pela experiência e pela observação interpretada dos fenômenos, como eles se passam na natureza. 5 - O escorregamento de solo durante a construção do canal do Panamá, 1913; - Rompimento de grandes Barragens de Terra e Recalque em Grandes edifícios, 1913; - Escorregamento de Muro de Cais na Suécia, 1914. O Levou em 1922 a publicação pelos suecos de uma nova teoria para o cálculo e Estabilidade de taludes; - Deslocamento do Muro de cais e escorregamento de solo na construção do canal de Kiev na Alemanha,1915. Em 1925 o professor Karl Terzaghi publicou seu famoso livro de Mecânica dos solos (Erdbaumechanik), baseado em estudos realizados em vários países depois do início dos grandes acidentes. Desta forma nascia a Mecânica dos Solos, ou seja, a mecânica dos sistemas constituídos por uma fase sólida granular e uma fase líquida. A partir de 1936 a Mecânica dos Solos foi oficialmente batizada durante a realização do primeiro Congresso Internacional de Mecânica dos Solos. A mecânica dos solos no Brasil antes de 1938 resumia-se em artigos publicados em revistas técnicas de uma tese apresentada na Congregação da Escola Nacional de Engenharia, atual UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro. No inicio de 1938, foi instalado o 1o Laboratório de Mecânica dos Solos, no IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas em São Paulo. Posteriormente foram instalados laboratórios no norte do país e em 1942 mais três laboratórios foram instalados no Rio de Janeiro. A mecânica dos solos passa a assumir um papel cada vez mais importante no Brasil com a criação da ABMS – Associação Brasileira da Mecânica dos Solos em 1950. Para a área de pavimentação temos a criação da ABPv – Associação Brasileira de Pavimentação em 1959. Associações que ate hoje exercem papel fundamental para o desenvolvimento tecnológico na área de solos no Brasil. 1.3 Mecânica dos Solos e Outras Ciências Por ser o solo um material natural, cujo processo de formação não depende de forma direta da intervenção humana, o seu estudo e o entendimento de seu comportamento depende de uma série de conceitos desenvolvidos em ramos afins de conhecimento. A mecânica dos solos é o estudo do comportamento de engenharia do solo quando este é usado ou como material de construção ou como material de fundação. Ela é uma disciplina relativamente jovem da engenharia civil, somente sistematizada e aceita como ciência em 1925 por Terzaghi (Terzaghi, 1925), que é conhecido com todos os méritos, como o pai da mecânica dos solos. Um entendimento dos princípios da mecânica dos sólidos é essencial para o estudo da mecânica dos solos. O conhecimento e aplicação de princípios de outras matérias básicas como física e química são também úteis no entendimento desta disciplina. Por ser um material de origem natural, o processo de formação do solo, o qual é estudado pela geologia, irá influenciar em muito no seu comportamento. O solo é um material trifásico, composto basicamente de ar, água e partículas sólidas. A parte fluida do solo (ar e água) pode se apresentar em repouso ou pode se movimentar pelos seus vazios mediante a existência de determinadas forças. O movimento da fase fluida do solo é estudado com base em conceitos desenvolvidos pela mecânica dos fluidos. Pode−se citar ainda algumas disciplinas, como a física dos solos, ministrada em cursos de agronomia, como de grande importância no estudo de uma mecânica dos solos mais avançada, denominada de mecânica dos solos não saturados. Além disto, o estudo e o desenvolvimento da mecânica dos solos são fortemente amparados em bases experimentais, a partir de ensaios de campo e laboratório. 6 1.4 Aplicações A Mecânica dos Solos faz parte de um campo de engenharia chamado de Geotécnica ou Geotecnia, e é uma das mais novas disciplinas da Engenharia Civil. Principais razões que levam à necessidade de se compreender a Mecânica dos Solos: a) Aprender a entender e poder avaliar as propriedades dos materiais geológicos, em particular o solo; b) Aplicar o conhecimento dos solos de uma maneira prática para projetar obras geotécnicas de forma segura e econômica; c) Desenvolver e progredir no conhecimento da Mecânica dos Solos através da pesquisa e experiência, e então acrescentar novos conhecimentos conceituais; d) Estender conhecimentos a outros ramos do aprendizado ainda a serem desenvolvidos. A aplicação dos princípios da mecânica dos solos para o projeto e construção de fundações é denominada de "engenharia de fundações". A engenharia geotécnica (ou geotecnia) pode ser considerada como a junção da mecânica dos solos, da engenharia de fundações, da mecânica das rochas, da geologia de engenharia e mais recentemente da geotecnia ambiental, que trata de problemas como transporte de contaminantes pelo solo, avaliação de locais impactados, projetos de sistemas de proteção em aterros sanitários, etc. Fundações: As cargas de qualquer estrutura têm de ser, em última instância, descarregadas no solo através de sua fundação. Assim a fundação é uma parte essencial de qualquer estrutura. Seu tipo e detalhes de sua construção podem ser decididos somente com o conhecimento e aplicação de princípios da mecânica dos solos (Figura 1). Figura 1: Preparação da fundação. Obras subterrâneas e estruturas de contenção: Obras subterrâneas como estruturas de drenagem, dutos, túneis e as obras de contenção como os muros de arrimo, cortinas atirantadas somente podem ser projetadas e construídas usando os princípios da mecânica dos solos e o conceito de "interação solo−estrutura". 7 Projeto de pavimentos: o projeto de pavimentos pode consistir de pavimentos flexíveis ou rígidos. Pavimentos flexíveis dependem mais do solo subjacente para transmissão das cargas geradas pelo tráfego. Problemas peculiares no projeto de pavimentos flexíveis são o efeito de carregamentos repetitivos e problemas devidos às expansões e contrações do solo por variações em seu teor de umidade. Escavações, aterros e barragens: A execução de escavações no solo requer frequentemente o cálculo da estabilidade dos taludes resultantes. Escavações profundas podem necessitar de escoramentos provisórios, cujos projetos devem ser feitos com base na mecânica dos solos. Para a construção de aterros e de barragens de terra, onde o solo é empregado como material de construção e fundação, necessita−se de um conhecimento completo do comportamento de engenharia dos solos, especialmente na presença de água. O conhecimento da estabilidade de taludes, dos efeitos do fluxo de água através do solo, do processo de adensamento e dos recalques a ele associados, assim como do processo de compactação empregado é essencial para o projeto e construção eficientes de aterros e barragens de terra. (Figura 2 e 3). Figura 2: Realização de Aterros Figura 3: Barragem de Terra 8 CAPÍTULO 2 2. ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS Os solos são materiais que resultam do intemperismo ou da deterioração da rocha por desintegração mecânica ou decomposição química, podendo assim ser classificados em três grandes grupos: intemperismo químico, intemperismo mecânico ou ainda intemperismo biológico. Normalmente estes processos atuam simultaneamente, em determinados locais e condições climáticas, um deles pode ser predominante sobre o outro. O solo é assim, uma função da rocha-mater e dos agentes de alteração. Os vários tipos de intemperismo e a intensidade com que atuam no processo de formação dos solos dão origem a diferentes tipos de solo. 2.1 Intemperismo Físico Ou mecânico é o processo de decomposição da rocha sem alteração química dos seus componentes. Os principais agentes são: Variação de temperatura: Provoca a deformação da rocha de maneira desigual, pois a mesma é formada por diferentes tipos de minerais, cada qual possuindo uma constante de dilatação térmica. Repuxo coloidal: Retração da argila devido à sua diminuição de umidade, o que em contato com a rocha gera tensões capazes de fratura-la. Congelamento da água: Esta água presente nos poros da rocha pode vir a congelar, expandindo-se e exercendo esforços no sentido de abrir ainda mais as fraturas preexistentes na rocha, auxiliando no processo de intemperismo (a água aumenta em cerca de 8% o seu volume devido à arrumação das partículas durante a cristalização). Alívio de pressões: Provocam a expansão do maciço, contribuindo assim no fraturamento, estricções e formação de juntas na rocha. Estes processos permitem a entrada de agentes químicos e biológicos, cujos efeitos aumentam as fraturas e tende a reduzir a rocha a blocos cada vez menores. 2.2 Intemperismo Químico É o processo de decomposição da rocha onde os vários processos químicos alteram solubilizam e depositam os minerais das rochas transformando-a em solo, ou seja, ocorre a alteração química dos seus componentes. Neste caso há modificação na constituição mineralógica da rocha, originando solos com características próprias. Este tipo é mais frequente em climas quentes e úmidos e, portanto muito comum no Brasil. Os tipos mais comuns são: Hidrólise; Hidratação; Oxidação e Carbonatação. HIDRÓLISE: Leva a destruição dos silicatos, que são os compostos químicos mais importantes da litosfera. Por isso, é um dos processos mais importantes. HIDRATAÇÃO: É a entrada de moléculas de água na estrutura dos minerais. A hidratação ocasiona nos Granitos e Gnaisses a transformação de feldspato em argila. CARBONATAÇÃO: Reação do mineral com ácido carbônico dissolvido na água. O intemperismo por carbonatação é mais acentuado em rochas calcárias por causa da diferença de solubilidade entre o CaCO3 e o bicarbonato de cálcio formado durante a reação. 9 OXIDAÇÃO: Mudança que sofre um mineral em decorrência da penetração de oxigênio na rocha. 2.3 Intemperismo Biológico Neste processo a decomposição da rocha se dá graças a esforços mecânicos produzidos por vegetais através de raízes, por animais através da escavação de roedores, pela ação do próprio homem, ou de ambos, ou ainda pela liberação de substâncias agressivas quimicamente, intensificando assim o intemperismo, como por exemplo, pela decomposição de seus corpos. 2.4 Classificação dos Solos Quanto a Origem e Formação Há diferentes maneiras de se classificar os solos, como pela origem, pela sua evolução, pela presença ou não de matéria orgânica, pela estrutura, pelo preenchimento dos vazios, etc. De acordo com o seu processo geológico de formação os solos podem ser classificados em três grupos principais: residuais e sedimentares, a depender da existência ou não de um agente de transporte na sua formação, ou ainda orgânicos. SOLOS RESIDUAIS Solos residuais são os solos que permanecem no local de decomposição da rocha que lhes deu origem. Para a sua ocorrência é necessário que a velocidade de remoção do solo seja menor que a velocidade de decomposição da rocha. A velocidade de decomposição depende de vários fatores, entre os quais a temperatura, o regime de chuvas e a vegetação. As condições existentes nas regiões tropicais são favoráveis a degradações mais rápidas da rocha, razão pela qual há uma predominância de solos residuais nestas regiões (centro sul do Brasil, por exemplo). Como a ação das intempéries se dá, em geral, de cima para baixo, as camadas superiores são, via de regra, mais trabalhadas que as inferiores. Este fato nos permite visualizar todo o processo evolutivo do solo, de modo que passamos de uma condição de rocha sã, para profundidades maiores, até uma condição de solo residual maduro, em superfície. A Figura 4 ilustra um perfil típico de solo residual. 10 Figura 4: Perfil geotécnico típico de solo residual do Rio de Janeiro. (Ortigão, 2007) A rocha que mantém as características originais, ou seja, a rocha sã é a que ocorre em profundidade. Quanto mais próximo da superfície do terreno, maior é o efeito do intemperismo. Sobre a rocha sã encontra-se a rocha alterada, em geral muito fraturada e permitindo grande fluxo de água através das descontinuidades. A rocha alterada é sobreposta pelo solo residual jovem, ou saprólito, que é um material arenoso. O material mais intemperizado ocorre acima do saprólito e é denominado solo residual maduro, que contém maior percentagem de argila. SOLOS SEDIMENTARES Os solos sedimentares ou transportados são aqueles que foram levados ao seu local atual por algum agente de transporte e lá depositados. As características dos solos sedimentares são função do agente de transporte. Cada agente de transporte seleciona os grãos que transporta com maior ou menor facilidade, além disto, durante o transporte, as partículas de solo se desgastam e/ou quebram, resultando assim um tipo diferente de solo para cada tipo de transporte. Esta influência é tão marcante que a denominação dos solos sedimentares é feita em função do agente de transporte predominante. Pode-se listar os agentes de transporte da seguinte forma: - Vento (solos eólicos); - Água (solos aluvionares); - Água dos Oceanos e Mares (Solos Marinhos) - Água dos Rios (Solos Fluviais) - Água das Chuvas (Solos Pluviais) - Geleiras (Solos Glaciais); - Gravidade (Solos Coluvionares) 11 Solos Eólicos Transporte pelo vento. Devido ao atrito os grãos dos solos transportados possuem forma arredondada. A ação do vento se restringe ao caso das areias e dos siltes. São exemplos de solos eólicos as DUNAS e os solos LOÉSSICOS. Dunas – Barreira Loéssicos – Vegetais As dunas são exemplos comuns de solos eólicos do nordeste do Brasil. A formação de uma duna se dá inicialmente pela existência de um obstáculo ao caminho natural do vento, o que diminui a sua velocidade e resulta na deposição de partículas de solo, como mostrado na Figura 5. Figura 5. Atuação do transporte eólico na formação das dunas. Solos Aluvionares O agente de transporte é a água. A sua textura depende da velocidade de transporte da água e podem ser classificados como de origem PLUVIAL, FLUVIAL ou DELTAICO (solos formados na foz dos rios com o mar ou lagos). - Grãos de diversos tamanhos; - Mais grossos que os eólicos; - Sem coesão. Solos Glaciais Formados pelas geleiras. São formados de maneira análoga aos fluviais. Solos Coluvionares Formados pela ação da gravidade. Grande variedade de tamanhos. Dentre os solos podemos destacar o TALUS, que é solo formado pelo deslizamento de solo do topo das encostas. SOLOS ORGÂNICOS Impregnação do solo por sedimentos orgânicos preexistentes, em geral misturados de restos de animais e vegetais. Cor escura e cheiro forte. As TURFAS são solos que encorporam florestas soterradas em estado avençado de decomposição. Não se aplicam as teorias da mecânica dos solos. 12 A Figura 6 mostra um perfil típico de solo sedimentar, muito comum no litoral brasileiro devido à sedimentação do transporte fluvial no ambiente marinho das baías e restingas, como é o caso, por exemplo, da argila do Rio de Janeiro, depositada em toda a periferia da baía de Guanabara, e das argilas de Santos, de Florianópolis e de São Luís. A camada superficial de argila mole é muito fraca e a construção sobre este tipo de terreno é sempre problemática, requerendo a realização de estudos especiais por engenheiro geotécnico experiente. Figura 6: Perfil geotécnico típico de argila mole 2.5 Composição Química e Mineralógica dos Solos As propriedades química e mineralógica das partículas dos solos assim formados irão depender fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. Estas propriedades, por sua vez, irão influenciar de forma marcante o comportamento mecânico do solo. Os minerais são partículas sólidas inorgânicas que constituem as rochas e os solos, e que possuem forma geométrica, composição química e estrutura própria e definida. Eles podem ser divididos em dois grandes grupos, a saber: − Primários: Aqueles encontrados nos solos e que sobrevivem a transformação da rocha (advêm portanto do intemperismo físico). − Secundários: Os que foram formados durante a transformação da rocha em solo (ação do intemperismo químico). Quanto a composição química dos principais minerais componentes dos solos grossos tem-se: Silicatos − feldspato, quartzo, mica, serpentina. Óxidos − hematita, magnetita, limonita Carbonatos − calcita, dolomita Sulfatos − gesso, anidrita 13 SILICATO Silicato é um composto salino resultante do óxido silício, são abundantes na natureza e formam os FELDSPATOS, MICAS e QUARTZO e SERPENTINA. FELDSPATO: São silicatos duplos de AL e de metal alcalino ou alcalino terroso “k”, “Na” ou Ca, sofrem decomposição acentuada pela ação da água carregada de CO2 , produzindo argila branca (CAULIM). MICA: Ortossilicatos de Al, Mg, K, Na ou Li e raramente Mn e Cr apresenta-se em forma de lâminas flexíveis, e de fácil clivagem. tem-se a muscovita (mica branca e a biotita (mica preta) QUARTZO: é o mais importante do grupo dos silicatos. Sua composição química é simples, SiO2, as partículas são equidimensionais, como cubos ou esferas e ele apresenta baixa atividade superficial (devido ao tamanho de seus grãos). Por conta disto, o quartzo é o componente principal na maioria dos solos grossos (areias e pedregulhos). ÓXIDOS Composto de metalóide e oxigênio, não se une com a água. Hematita (Fe2O3), Magnetita (Fe2O4) e Limonita (Fe2O3. H2O). CARBONATOS Calcita (CaCO3), Dolomita [(CO3)2CaMg]. A calcita é o segundo mineral mais abundante na crosta terrestre (). SULFATOS Dentre os sulfatos citam-se o gesso (CaSO4.2H2O) e Anidrita (CaSO4). Já os solos finos possuem uma estrutura mais complexa e alguns fatores, como forças de superfície, concentração de íons, ambiente de sedimentação, etc., que podem intervir no seu comportamento. As argilas possuem uma complexa constituição química e mineralógica, sendo formadas por sílica no estado coloidal (SiO2) e sesquióxidos metálicos (R2O3), onde o R se refere ao Al e ao Fe. As argilas são constituídas basicamente por silicatos de alumínio hidratados, podendo apresentar silicatos de magnésio, ferro ou outros metais. Os minerais que formam as frações finas pertencem a três grupos: CAULINITA, ILITA e MONTMORILONITA. CAULINITA São formadas por unidades estruturais de silício e alumínio, que se unem alternadamente, conferindo-lhes uma estrutura rígida. São relativamente estáveis em presença de água. ILITAS São estruturalmente semelhantes as Montmorilonitas. As substituições isomórficas que ocorrem (não alteram o arranjo dos átomos), tornam ela menos expansiva. 14 MONTMORILONITAS Unidades estruturais de alumínio entre duas unidades de silício, e entre as unidades existem moléculas de água. São instáveis em presença de água. Ex: BENTONITA. A presença de um determinado mineral de argila pode ser determinado por análise TERMODIFERENCIAL, RAIO X, MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA e ETC. 2.6 Superfície Especifica É a soma da superfície total de um conjunto de partículas dividida pelo seu peso. Quanto mais fino for o solo maior será a sua superfície especifica, o que constituí uma das razões das diferenças entre as propriedades físicas solos finos e dos solos grossos. A superfície especifica dos argilominerais é: CAULINITA S = 10m2/s de solo ILITA S = 80m2/g de solo MONTMORILONITA S = 800m2/g de solo A superfície específica é uma importante propriedade dos argilo−minerais, na medida em que quanto maior a superfície específica, maior vai ser o predomínio das forças elétricas (em detrimento das forças gravitacionais), na influência sobre as propriedades do solo (estrutura, plasticidade, coesão, etc.). 15 CAPÍTULO 3 3. PROPRIEDADES DAS PARTÍCULAS E ÍNDICES FÍSICOS DOS SOLOS O solo é um material constituído por um conjunto de partículas sólidas, deixando entre si vazios que poderão estar parcial ou totalmente preenchidos pela água. No caso mais geral é um sistema disperso formado por três fases: sólida, líquida e gasosa (Figura 7). Figura 7: Esquema dos constituintes do solo. Fase sólida: Caracterizada pelo seu tamanho, forma, distribuição e composição mineralógica dos grãos. Fase Gasosa: Fase composta geralmente pelo ar do solo em contato com a atmosfera, podendo−se também apresentar na forma oclusa (bolhas de ar no interior da fase água). A fase gasosa é importante em problemas de deformação de solos e é bem mais compressível que as fases sólida e líquida. Fase Fluida: Composta em sua maior parte pela água, podendo conter solutos e outros fluidos imiscíveis. É extremamente difícil separar os diferentes estados em que água se apresenta nos solos, no entanto é de grande importância estabelecer uma distinção entre eles. A seguir são apresentados os termos mais comumente utilizados para descrever os estados da água no solo (Figura 8). Água Livre: Preenche os vazios dos solos. Pode estar em equilíbrio hidrostático ou fluir sob a ação da gravidade ou de outros gradientes de energia. Água Capilar: É a água que se encontra presa às partículas do solo por meio de forças capilares. Esta se eleva pelos interstícios capilares formados pelas partículas sólidas, devido a ação das tensões superficiais oriundas a partir da superfície livre da água. Água Adsorvida ou adesiva: É uma película de água que adere às partículas dos solos finos devido a ação de forças elétricas desbalanceadas na superfície dos argilo−minerais. Está submetida a grande pressões, comportando−se como sólido na vizinhança da partícula de solo. Água de Constituição: É a água presente na própria composição química das partículas sólidas. Não é retirada utilizando−se os processos de secagem tradicionais. Ex: Montmorilonita (OH)4 Si2 Al4 O20 nH2 O. 16 Água Higroscópia: Água que o solo possui quando em equilíbrio com a umidade atmosférica e a temperatura ambiente. “A água livre, Higroscópica e Capilar podem ser totalmente eliminadas a temperatura práticas de 1000C”. Figura 8. Água contida no solo. Os índices e as relações que serão apresentados desempenham um papel importante no estudo das propriedades dos solos, uma vez que estas dependem das propriedades dos seus constituintes e das proporções relativas entre eles, assim como da interação de uma fase sobre outra. Esta apresentada na Figura 9, esquematicamente as três fase constituintes do solo, a esquerda estão os volumes ocupados por cada parte e a direta os pesos correspondentes. Figura 9. Fases constituintes do solo Assim é possível obter uma relação fundamental, em volume e pesos, entre os constituintes de um solo, descrita abaixo: V = Vv + Vs = Va + Vw + Vs P = Ps +Pa 17 Onde, V = volume total Vv = volume de vazios Va = volume de ar Vw = volume de água Vs = volume de sólidos P = peso total Pw = peso da água Ps = peso de sólidos A seguir serão apresentadas correlações existentes entre as três fases constituintes do solo. Essas correlações se aplicam a estudos de aterros sobre solo mole, estabilidade de taludes, etc. 3.1 Teor de Umidade de um solo Símbolo (w) - expressa a quantidade de água existente numa dada porção de solo úmido, é a relação entre o peso da água (Pw) e o peso de sólidos (Ps). Para sua determinação, inicialmente mede-se o peso de solo úmido (Pu), em seguida esse solo úmido é colocado em uma estufa à temperatura de 105oC a 110oC, a água irá evaporar e amostra deverá permanecer na estufa até constância de peso, em seguida, mede-se o peso da porção de solo seco (Ps). A diferença entre os dois pesos (Pu - Ps) é o peso da água que dividido pelo peso de sólidos (Ps) tem-se o teor de umidade. Onde W – teor de umidade (%) Pw – peso da massa de água (g) Ps – peso dos sólidos (g) Trata-se de um procedimento de ensaio mais utilizado em laboratório de solo. Os valores médios de teor de umidade normalmente encontrados situam-se entre 10% e 40%, estando a umidade intimamente relacionada com a superfície especifica do solo. Um outro meio, alias mais simples e rápido, para determinar a umidade, consiste no emprego do aparelho Speedy. Ele é constituído por um reservatório metálico fechado que se comunica com um manômetro destinado a medir a pressão interna. Dentre deste reservatório são colocados, em contato, uma certa quantidade de solo úmido e uma determinada porção de carbureto de cálcio. A água contida no solo combinando- se com o carbureto de cálcio gera acetileno, que provoca a variação da pressão interna e pela sua variação obtém-se a quantidade de água existente no solo. 18 3.2 Peso específico Aparente de um solo Símbolo (γs) – unidade (kN/m3), é a relação entre o peso dos sólidos e o volume ocupado pelos sólidos. O volume considerado inclui os vazios entre os grãos dos sólidos. Como se trata de peso específico e peso é a massa x a aceleração da gravidade temos kN no SI – sistema internacional de medidas. Utiliza-se também massa específica aparente seca, a unidade (g/cm3), nesse caso é o grama como unidade de massa. Onde: γs = peso específico aparente seco (g/cm3) Ps = peso dos sólidos (g) V = volume dos sólidos (cm3) No campo, a determinação do peso especifico aparente de um solo (y) pode ser feita, entre outros, pelo conhecido “processo do frasco de areia”, utilizando-se um frasco no qual se adapta um funil munido de um registro, conforme mostrado na Figura 10. Figura 10. Ensaio com Frasco de areia. Assim, tem-se o peso especifico do solo (y) como: y = Pt/Vt 19 3.3 Índice de Vazios Símbolo (e), exprime a quantidade de vazios em relação a quantidade de sólidos. Obtém-se indiretamente através de outros índices. e = Vv / Vs Vv = V – Vs e = (V – Vs) / Vs e = V/ Vs – 1 onde, V é o volume total, Vv o volume de vazios e Vs o volume de sólidos. 3.4 Grau de Compacidade O estado natural de um solo não coesivo define-se pelo chamado grau de compacidade, compacidade relativa ou densidade relativa (Dr): GC = (emáx – enat) / (emáx – emin) Onde, emáx, emin e nat são os índice de vazios máximo, mínimo e natural, respectivamente. 3.5 Porosidade Símbolo (n), a semelhante ao índice de vazios, é relação do volume de vazios pelo volume total. n (%) = (Vv/V) *100 ou em relação ao índice de vazios n = e / (1+e) 3.6 Saturação Símbolo (S) indica o grau de saturação do solo, é a relação do volume de água (Vw) pelo volume de vazios (Vv). Solo saturado tem grau de saturação = 100% e se o solo estiver seco = 0%. Sua determinação é feita indiretamente. S (%)= (Vw/Vv)*100 S = W*Yg/e (fórmula indireta – obtém-se conhecendo-se o Yg – peso especifico das partículas e o índice de vazios). 20 3.7 Peso específico de um solo saturado Peso específico do solo se viesse a ficar saturado e se isto ocorresse sem variação de volume. É de pouca aplicação prática, servindo para a programação de ensaios ou a análise de depósitos de areia que possam vir a se saturar. Ysat = Wsat/V 3.8 Peso específico submerso É o peso específico efetivo do solo quando submerso. Serve para cálculos de tensões efetivas. É igual ao peso específico saturado menos o peso específico da água. É expresso pelo símbolo Ysub. Ysub = Ysat – Yw 3.9 Peso Específico da Água – (Yw) Adota-se o valor de 10 kN/m3, esse valor varia pouco com a temperatura, entretanto, deve-se considerar essa pequena variação nos ensaios laboratoriais. 3.10 Peso especifica das Partículas Símbolo (Yg) – unidade (kN/m3), é a relação do peso dos sólidos (Ps) pelo volume dos sólidos (Vs). Da mesma forma, como se trata de peso específico e peso é a massa x a aceleração da gravidade temos kN no SI – sistema internacional de medidas. Ensaio de fácil assimilação e de difícil execução. A dificuldade esta em obter o volume da amostra, essa pode ser obtida indiretamente, com pesagem hidrostática, esta apresentada na Figura 11 o esquema do processo do ensaio pelo método do picnômetro. Yg = Ps/Vs O ensaio consiste em adicionar uma massa de solo conhecida dentro do picnômetro, adicionar água destilada até que recubra toda a amostra, submeter o conjunto a pressão negativa com bomba de vácuo para eliminar a quantidade de ar, em seguida, completar com água até a marca do menisco e efetuar a medida da massa do conjunto. Conhecendo-se a massa do picnômetro com água até o menisco, o volume da amostra V é: 21 Figura 11 – Esquema para obtenção do volume da amostra por pesagem hidrostática Cuidados necessários para a realização do ensaio, o volume do picnômetro deve estar aferido em função da variação da temperatura, numa faixa de 15oC a 35oC para facilitar a execução do ensaio. A norma ABNT 6508/84, especifica que devem ser feitas duas determinações e a diferença entre elas não deve ser superior a 0,02 g/cm3. 3.11 Forma das partículas As formas das partículas têm grande influencia sobre suas propriedades. Distinguem-se, principalmente, as seguintes formas (Figura 12): a) Esférica subdividindo-se arredondadas e angulares: Predominam em pedregulhos, areias e siltes. b) Lamelares: Encontram nas argilas. c) Fibrilares: Características dos solos turfosos. Figura 12: Formas das partículas (Moura, 2012). Resumo da Formulações. 22 CAPÍTULO 4: 4. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DOS SOLOS E ENSAIOS 4.1 Tamanho e Forma das Partículas A textura de um solo é o tamanho relativo e a distribuição das partículas sólidas que formam. O estudo da textura dos solos é realizado por intermédio do ensaio de granulometria. Pela sua textura os solos podem ser classificados em solos grossos e solos finos. SOLOS GROSSOS Solos com 0,074mm e suas partículas tem forma arredondada poliédrica, e angulosa. Os solos grossos são os PEDREGULHOS e as AREIAS. SOLOS FINOS Os solos finos são os SILTES e as ARGILAS. Solos com 0,074mm. A fração granulométrica classificada como ARGILA possui diâmetro inferior a 0,002mm e se caracteriza pela sua plasticidade marcante e elevada resistência quando seca. 4.2 Caracterização Granulométrica dos Solos Os solos segundo as dimensões das suas partículas e dentro de determinados limites convencionais recebem designações próprias. Essas frações de acordo com a escala granulométrica brasileira são (ABNT) (Figura 13): Bloco de rocha – Fragmentos de rocha transportados ou não, com diâmetro superior a 1,0 m. Matacão – fragmento de rocha transportado ou não, comumente arredondado por intemperismo ou abrasão, com uma dimensão compreendida entre 200 mm e 1,0 m. Pedra de mão fragmento de rocha com diâmetro compreendido entre 60 mm e 200 mm. Pedregulho – solos formados por minerais ou partículas de rocha, com diâmetro compreendido entre 2,0 e 60,0 mm. Quando arredondados ou semi-arredondados, são denominados cascalhos ou seixos. Divide-se quanto ao diâmetro em: pedregulho fino – (2 a 6 mm), pedregulho médio (6 a 20 mm) e pedregulho grosso (20 a 60 mm). Areia – solo não coesivo e não plástico formado por minerais ou partículas de rochas com diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm. As areias de acordo com o diâmetro classificam-se em: areia fina (0,06 mm a 0,2 mm), areia média (0,2 mm a 0,6 mm) e areia grossa (0,6 mm a 2,0 mm). Silte – solo que apresenta baixo ou nenhuma plasticidade, baixa resistência quando seco ao ar. Suas propriedades dominantes são devidas à parte constituída pela fração silte. É formado por partículas com diâmetros compreendidos entre 0,002 mm e 0,06 mm. 23 Argila – solo de graduação fina constituída por partículas com dimensões menores que 0,002 mm. Apresentam características marcantes de plasticidade; quando suficientemente úmido, molda-se facilmente em diferentes formas, quando seco, apresenta coesão suficiente para construir torrões dificilmente desagregáveis por pressão dos dedos. Caracteriza-se pela sua plasticidade, textura e consistência em seu estado e umidade naturais. Figura 13. Escala granulométrica da ABNT NBR 6502 de 1995 4.3 Análise Granulométrica A análise da distribuição das dimensões dos grãos, denominada análise granulométrica, objetiva determinar os tamanhos dos diâmetros equivalentes das partículas sólidas em conjunto com a proporção de cada fração constituinte do solo em relação ao peso de solo seco. A representação gráfica das medidas realizadas é denominada de curva granulométrica. Pelo fato de o solo geralmente apresentar partículas com diâmetros equivalentes variando em uma ampla faixa, a curva granulométrica é normalmente apresentada em um gráfico semi−log, com o diâmetro equivalente das partículas em uma escala logarítmica e a percentagem de partículas com diâmetro inferior à abertura da peneira considerada (porcentagem que passa) em escala linear. Ensaio de Granulometria Serão apresentados a seguir de maneira sucinta os procedimentos para a realização do ensaio de distribuição granulométrica de solos. Esses procedimentos estão baseados nas normas: ABNT-NBR-6457 (86) – Amostras de Solo – Preparação Para Ensaios de Compactação e Ensaios de Caracterização e, ABNT-NBR-7181 (84) – Solo – Análise Granulométrica. O ensaio de granulometria para o levantamento da curva granulométrica do solo é realizado com base em dois procedimentos distintos: a) peneiramento − realizado para partículas com diâmetros equivalentes superiores a 0,074mm (peneira 200) e b) Sedimentação − procedimento válido para partículas com diâmetros equivalentes inferiores a 0,2mm. O ensaio de peneiramento não é realizado para partículas com diâmetros inferiores a 0,074mm pela dificuldade em se confeccionar peneiras com aberturas de malha desta ordem de grandeza. Embora existindo no mercado, a peneira 400 (com abertura de malha de 0,045mm) não é regularmente utilizada no ensaio de peneiramento, por ser facilmente danificada e de custo elevado. 24 Peneiramento: utilizado para a fração grossa do solo (grãos com até 0,074mm de diâmetro equivalente), realiza−se pela passagem do solo por peneiras padronizadas e pesagem das quantidades retidas em cada uma delas. Retira−se 50 a 100g da quantidade que passa na peneira de #10 e prepara−se o material para a sedimentação. A série de peneiras de malhas quadradas adotada constitui-se das peneiras de aberturas correspondentes a 50, 38, 25, 19, 9.5, 4.8, 2.0, 1.2, 0.15 e 0.075mm. Sedimentação: os solos muito finos, com granulometria inferior a 0,074mm, são tratados de forma diferenciada, através do ensaio de sedimentação desenvolvido por Arthur Casagrande. Este ensaio se baseia na Lei de Stokes, segundo a qual a velocidade de queda, V, de uma partícula esférica, em um meio viscoso infinito, é proporcional ao quadrado do diâmetro da partícula. Sendo assim, as menores partículas se sedimentam mais lentamente que as partículas maiores. O ensaio de sedimentação é realizado medindo−se a densidade de uma suspensão de solo em água, no decorrer do tempo, calcula−se a percentagem de partículas que ainda não sedimentaram e a velocidade de queda destas partículas. Com o uso da lei de Stokes, pode−se inferir o diâmetro máximo das partículas ainda em suspensão, de modo que com estes dados, a curva granulométrica é completada. A equação abaixo apresenta a lei de Stokes. Onde, - viscosidade do fluído Yw - peso específico do fluido Ys -peso específico médio das partículas do solo D – diâmetro das partículas Representação gráfica do ensaio de granulometria A representação gráfica do resultado de um ensaio de granulometria é dada pela curva granulométrica do solo. A partir da curva granulométrica, podemos separar facilmente os solos grossos dos solos finos, apontando a percentagem equivalente de cada fração granulométrica que constitui o solo (pedregulho, areia, silte e argila). Além disto, a curva granulométrica pode fornecer informações sobre a origem geológica do solo que está sendo investigado. A figura 14 apresenta um exemplo de um gráfico de granulometria. 25 Figura 14. Exemplo de um gráfico de granulometria (Machado S & Machado M., 2002). De acordo com a curva granulométrica obtida, o solo pode ser classificado como bem graduado, caso ele possua uma distribuição contínua de diâmetros equivalentes em uma ampla faixa de tamanho de partículas (caso da curva granulométrica a) ou mal graduado, caso ele possua uma curva granulométrica uniforme (curva granulométrica c) ou uma curva granulométrica que apresente ausência de uma faixa de tamanhos de grãos (curva granulométrica b). Figura 15. Tipos de distribuição granulométricas (Moura, 2012) Alguns sistemas de classificação utilizam a curva granulométrica para auxiliar na previsão do comportamento de solos grossos. Para tanto, estes sistemas de classificação lançam mão de alguns índices característicos da curva granulométrica, para uma avaliação de sua uniformidade e curvatura. Os coeficientes de uniformidade 26 e curvatura de uma determinada curva granulométrica são obtidos a partir de alguns diâmetros equivalente característicos do solo na curva granulométrica. D10 − Diâmetro efetivo − Diâmetro equivalente da partícula para o qual temos 10% das partículas passando (10% das partículas são mais finas que o diâmetro efetivo). D30 e D60 − O mesmo que o diâmetro efetivo, para as percentagens de 30 e 60%, respectivamente. As equações abaixo apresentam os coeficientes de uniformidade e curvatura de uma dada curva granulométrica. Coeficiente de uniformidade: De acordo como valor do Cu obtido, a curva granulométrica pode ser classificada conforme apresentado abaixo: Cu < 5 - muito uniforme 5 < Cu < 15 - uniformidade média Cu > 15 - não uniforme Coeficiente de curvatura: Classificação da curva granulométrica quanto ao coeficiente de curvatura 1 < Cc < 3 - solo bem graduado Cc < 1 ou Cc > 3 - solo mal graduado 27 CAPÍTULO 5 5. PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA FÍSICA DOS SOLOS Para solos em cuja textura haja certa porcentagem de fração fina, não basta a granulometria para caracteriza-los, pois suas propriedades plásticas dependem do teor de umidade, além da forma das partículas e da sua composição química e mineralógica. A plasticidade é normalmente definida como uma propriedade dos solos, que consiste na maior ou menor capacidade de serem moldados, sob certas condições de umidade, sem variação de volume. Trata-se de uma das principais propriedades das argilas. Um solo argiloso pode se apresentar em um estado líquido, plástico, semi−sólido ou sólido, a depender de sua umidade. A este estado físico do solo dá−se o nome de consistência. Os limites inferiores e superiores de valor de umidade para cada estado do solo são denominados de limites de consistência. Para solos grossos (areias e pedregulhos com pequena quantidade ou sem a presença de finos), o efeito da umidade nestes solos é frequentemente negligenciado, na medida em que a quantidade de água presente nos mesmos tem um efeito secundário em seu comportamento. 5.1 Limites de Consistência Sendo a umidade do solo muito elevada, ele se apresenta como um fluido denso e se diz no estado liquido. À medida que evapora a água, ele endurece e para certo h= LL (limite de liquidez) perde sua capacidade de fluir. Porém pode ser moldado facilmente e conservar sua forma, agora o solo encontra-se no estado plástico. Com a continuação da perde de umidade o estado plástico desaparece até que para h = LP (limite de plasticidade) o solo se desmancha ao ser trabalhado, este é o estado semi- sólido. O limite entre os dois estados é um teor de umidade h=LC (limite de contração). A figura 16 mostra esquematicamente esses estados físicos, chamados de Estados de Consistência, e suas fronteiras são os limites de consistência. Figura 16: Esquema dos estados físicos do solo e seus limites de consistência. Os dois primeiros limites (LL e LP) são devido ao cientista sueco Atterberg (1911) e o ultimo (LC) a Haines. 28 5.2 Determinação dos limites de Consistência LIMITE DE LIQUIDEZ A determinação do limite de liquidez do solo é realizada seguindo-se o seguinte procedimento: 1) Coloca−se na concha do aparelho de Casagrande uma pasta de solo (passando #40) com umidade próxima de seu limite de plasticidade. 2) Faz−se um sulco na pasta com um cinzel padronizado. 3) Aplicam−se golpes à massa de solo posta na concha do aparelho de Casagrande, girando−se uma manivela, a uma velocidade padrão de 2 golpes por segundo. Esta manivela é solidária a um eixo, o qual por possuir um excêntrico, faz com que a concha do aparelho de Casagrande caia de uma altura padrão de aproximadamente 1cm. 4) Conta−se o número de golpes necessário para que a ranhura de solo se feche em uma extensão em torno de 1cm. 5) Repete−se este processo ao menos 5 vezes, geralmente empregando−se valores de umidade crescentes. 6) Lançam−se os pontos experimentais obtidos, em termos de umidade versus log N° de golpes e ajusta−se uma reta passando por esses pontos. O limite de liquidez corresponde à umidade para a qual foram necessários 25 golpes para fechar a ranhura de solo. A Figura 17 ilustra o aparelho utilizado na determinação do limite de liquidez. A Figura 18 apresenta a determinação do limite de liquidez do solo (vide NBR 6459). Figura 17. Aparelho de Casagrande para determinação do limite de liquidez. 29 Figura 18. Relação entre o numero de golpes e umidade para determinação do LL. LIMITE DE PLASTICIDADE A determinação do limite de plasticidade do solo é realizada seguindo−se o seguinte procedimento: 1) prepara−se uma pasta com o solo que passa na #40, fazendo−a rolar com a palma da mão sobre uma placa de vidro esmerilhado, formando um pequeno cilindro. 2) quando o cilindro de solo atingir o diâmetro de 3mm e apresentar fissuras, mede−se a umidade do solo. 3) esta operação é repetida pelo menos 5 vezes, definido assim como limite de plasticidade o valor médio dos teores de umidade determinados. A Figura 19 ilustra a realização do ensaio para determinação do limite de plasticidade (vide NBR 9180). Figura 19. Determinação do limite de plasticidade. ÍNDICE DE PLASTICIDADE O índice de plasticidade (IP) corresponde a faixa de valores de umidade do solo na qual ele se comporta de maneira plástica. É a diferença numérica entre o valor do limite de liquidez e o limite de plasticidade. IP = LL - LP 30 O IP é uma maneira de avaliarmos a plasticidade do solo. Seria a quantidade de água necessária a acrescentar a um solo para que este passasse do estado plástico ao líquido. Classificação do solo quanto ao seu índice de plasticidade: IP = 0: NÃO PLÁSTICO 1 < IP < 7: POUCO PLÁSTICO 7 < IP < 15: PLASTICIDADE MÉDIA IP > 15: MUITO PLÁSTICO A partir das propriedades acima é possível caracterizar o solo a partir do gráfico proposto por ARTHUR CASAGRANDE para classificação do solo segundo suas propriedades plásticas (Figura 20). Figura 20. Gráfico para classificação dos solos de acordo com o LL e LP. ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA É uma forma de medirmos a consistência do solo no estado em que se encontra em campo. IC = (LL – h )/ IP É um meio de se situar a umidade do solo entre os limites de liquidez e plasticidade, com o objetivo de utilização prática. Obtenção do estado de consistência do solo em campo utilizando−se o IC: 31 IC < 0: FLUÍDO − DENSO 0 < IC < 1:ESTADO PLÁSTICO IC > 1: ESTADO SEMI-SÓLIDO OU SÓLIDO LIMITE DE CONTRAÇÃO A determinação do limite de contração do solo é realizada seguindo−se o seguinte procedimento: 1) molda−se uma amostra de solo passando na #40, na forma de pastilha, em uma cápsula metálica com teor de umidade entre 10 e 25 golpes no aparelho de Casa Grande. 2) seca−se a amostra à sombra e depois em estufa, pesando−a em seguida. 3) utiliza−se um recipiente adequado (cápsula de vidro) para medir o volume do solo seco, através do deslocamento de mercúrio provocado pelo solo quando de sua imersão no recipiente. O limite de contração é determinado pela equação apresentada a seguir (vide NBR 7183). LC = W – Yw*(V1 – V2)/Ps, Onde V1 e V2, são os volumes da cápsula e da pastilha (correspondente ao solo seco), respectivamente. 32 CAPÍTULO 6 6. PRINCIPAIS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS Devido a natureza extremamente variável do solo, é inevitável que em qualquer classificação ocorram casos onde é difícil se enquadrar o solo em uma determinada e única categoria, em outras palavras, sempre vão existir casos em que um determinado solo poderá ser classificado como pertencente a dois ou mais grupos. Apesar das limitações a que estão sujeitas as diferentes classificações, constituem-se no meio prático de para identificar os solos. Em vista disto, um sistema de classificação deve ser tomado como um guia preliminar para a previsão do comportamento de engenharia do solo, a qual não pode ser realizada utilizando-se somente sistemas de classificação. Assim, deve−se usar um sistema de classificação do solo, dentre outras coisas, para se obter os dados necessários ao direcionamento de uma investigação mais minuciosa, quer seja na engenharia, geoquímica, geologia ou outros ramos da ciência. Os dois principais sistemas de classificação são: O sistema Unificado de Classificação idealizado por Casagrande e a classificação do H.R.B. (Highway Reseach Board), originária da classificação do Public Roads Administration. 6.1 Sistema Unificado de Classificação A ideia básica do Sistema Unificado de Classificação dos solos é que os solos grossos podem ser classificados de acordo com a sua curva granulométrica, ao passo que o comportamento de engenharia dos solos finos está intimamente relacionado com a sua plasticidade. Em outras palavras, os solos nos quais a fração fina não existe em quantidade suficiente para afetar o seu comportamento são classificados de acordo com a sua curva granulométrica, enquanto que os solos nos quais o comportamento de engenharia é controlado pelas suas frações finas (silte e argila), são classificados de acordo com as suas características de plasticidade. As três maiores divisões do Sistema Unificado de Classificação dos Solos são as seguintes: (1) − Solos grossos (pedregulho e areia), (2) − Solos finos (silte e argila), (3) Solos orgânicos (Turfa). A classificação é realizada na fração de solo que passa na peneira ·#200 (0,075mm), devendo-se anotar a quantidade de material eventualmente retida nesta peneira. São denominados solos grossos aqueles que possuem mais do que 50% de material retido na peneira 200 e solos finos aqueles que possuem mais do 50% de material passando na peneira 200. Os solos orgânicos são geralmente identificados visualmente. Cada grupo é classificado por um símbolo, derivado dos nomes em inglês correspondentes: Pedregulho (G), do inglês "gravel"; Argila (C), do inglês "Clay"; Areia (S), do inglês "Sand"; Solos orgânicos (O), de "Organic soils" e Turfa (Pt), do inglês "peat". A única exceção para esta regra advém do grupo do silte, cuja letra representante, M, advém do Sueco "mjäla". Cada grupo por sua vez é dividido em quatro subgrupos a depender de sua curva granulométrica ou da natureza da fração fina eventualmente existente. São eles: 33 1) Material praticamente limpo de finos, bem graduado w, (SW e GW) 2) Material praticamente limpo de finos, mal graduado P, (SP e GP) 3) Material com quantidades apreciáveis de finos, não plásticos, M, (GM e SM) 4) Material com quantidades apreciáveis de finos, plásticos C, (GC ou SC) Exemplos: GW-GM = “pedregulho bem graduado com silte” SP-SC = “Areia mal graduada com argila” Além disto, para os solos finos (siltosos ou argilosos) tem-se os grupos de solos com baixa compressibilidade (LL< 50) e alta compressibilidade (LL>50), sendo designados da seguinte forma: Solos de baixa compressibilidade: ML, CL e OL. Solos de alta compressibilidade: MH, CH e OH. O gráfico de plasticidade é utilizado pelo SU, tal como mostrado na Figura 21. A Figura 21. Classificação do Sistema Unificado. 34 Tabela 1: Resumo do Sistema Unificado de Classificação dos Solos Classificação S.U.C.S. 35 SOLOS FINOS 6.2 Sistema de Classificação do H.R.B. Classificação de solos que data da década de 1920 e que após a 2a. Guerra Mundial sofreu alterações quando foi normalizada pela AASHTO – American Association of State Highway Officials, que perduram até nossos dias. É um sistema de classificação de solos de aplicação rodoviária baseado nos limites de Atterberg e na granulometria. Nesta classificação dos solos são reunidos em grupos e subgrupos, em função de sua granulometria e plasticidade. Os solos granulares correspondem os grupos A-1, A-2 e A-3, e os solos finos os grupos A-4, A-5, A-6 e A-7, três dos quais divididos em subgrupos. As classes A-1, A-2 e A-3 tratam-se de materiais mais grossos, que apresentam de até no máximo de 35% de material retido na # 200 (0,075mm de abertura). Limitados em 15%, 25% e 10% para os grupos A-1-a, A-1-b e A-3 respectivamente. Para as classes A-1 e A3 o IP – índice de plasticidade é limitado em 6% o que caracteriza materiais com predominância de não plástico (pedra britada, pedregulho e areias). Já os grupos A-2-4 e A-2-5 o IP é limitado em 10%, os grupos A-2-6 e A-2-7 especifica um mínimo de 11% no IP. Na classe A-2 considera-se o LL – limite de liquidez, tratam- se dos materiais: areias e areias argilosas ou siltosas. 36 Para as classes A-4, A-5, A-6 e A-7, tem-se no mínimo 35% de material passado na peneira acima e considera-se também tanto o IP como o LL. Tratam-se solos finos argilas e siltes. A Tabela 2 indica detalhadamente os tipos de materiais, sua identificação e classificação como subleito. O índice de grupo é utilizado para auxiliar na classificação do solo. Ele é baseado na performance de diversos solos, especialmente quando utilizados como subleitos. O índice de grupo é determinado utilizando−se a equação apresentada adiante: Onde F é a percentagem de solo passando na peneira 200. Quando trabalhando com os grupos A−2−6 e A−2−7 o índice de grupo deve ser determinado utilizando−se somente o índice de plasticidade. No caso da obtenção de índices de grupo negativos, deve−se adotar um índice de grupo nulo. 37 Tabela 2: Classificação TRB – AASHTO (DNER, 1996). 38 Classificação H.R.B. 39 CAPÍTULO 7 7.1 FENÔMENOS CAPILARES Entende-se por fenômenos capilares certos fenômenos que surgem pelo contato dos líquidos com os sólidos e que resultam das ações moleculares, ou seja, é a ascensão da água acima do nível freático do terreno, através dos espaços intersticiais do solo, em um movimento contrário à gravidade. Na Figura 22 verifica-se a distribuição típica da umidade do solo. Observa-se que o solo não se apresenta saturado ao longo de toda a altura de ascensão capilar, mas somete até um certo nível, denominado nível de saturação. Figura 22: Distribuição da umidade no solo Posição do lençol freático variável: varia segundo as estações do ano, clima da região, etc. Períodos de estiagem: posição do lençol freático sofre normalmente um abaixamento. Período de cheias: posição do lençol freático se eleva. Zona saturada: zona onde os vazios, poros e fraturas se encontram totalmente preenchidos d’água. Nível do lençol freático: linha abaixo da qual o solo estará na condição de submersão, e acima estará o solo saturado até uma determinada altura ou lugar geométrico dos pontos da superfície da água no subsolo, submetidos à ação da pressão atmosférica. Nos solos, por capilaridade, a água se eleva por entre os interstícios de pequenas dimensões deixados pelas partículas sólidas, além do nível do lençol freático. A altura alcançada depende da natureza do solo. Observa-se que o fenômeno de capilaridade ocorre em maiores proporções em solos argilosos. A altura capilar é calculada pela teoria do tubo capilar. 7.1 Teoria do Tubo Capilar Quando um tubo é colocado em contato com a superfície da água livre, forma-se uma superfície curva a partir do contato água-tubo. A curvatura é função das propriedades do material do tubo. A água sobe pelo tubo capilar até que seja estabelecido o equilíbrio das pressões internas e externas à superfície - fenômeno de ascensão capilar. 40 Assim, tendo-se um tubo em U, no qual um dos ramos é capilar (diâmetro interno de, por exemplo, 0,2 mm) e outro não (diâmetro interno de, por exemplo, 20 mm) e o preenchermos com água, verifica-se um desnível h entre as duas superfícies livres, sendo o nível mais alto no tubo capilar (Figura 23a). Preenchendo o tubo com mercúrio, observamos que o nível no tubo capilar é mais baixo (Figura 23b). Figura 23: a) Ascensão capilar e b) depressão capilar. Esse fenômeno se deve à presença da Pressão de Laplace que atua na superfície curva do líquido no capilar (Figura 24). Para uma superfície esférica com raio de curvatura R, essa pressão é dada pela fórmula de Laplace: E relação entre o ângulo de contato (), o raio do capilar (r) e o raio de curvatura do menisco (R) é dada por: Substituindo a equação R na equação acima obtém-se 41 Figura 24. Relação entre o ângulo de contato, raio capilar e raio de curvatura do menisco. Portanto, temos na superfície de um líquido num capilar uma força f que atua para cima, devido à pressão de Laplace, e outra, gravitacional (Fg), para baixo, devido ao peso da coluna do líquido no capilar (Figura 24). Como força é pressão multiplicada por área, a força f equivale à pressão de Laplace multiplicada pela área transversal do capilar: e a força gravitacional equivale a Em equilíbrio as duas forças serão iguais, portanto: Assim, onde σ é a tensão superficial do líquido, α é o ângulo de contato, ρ é a densidade do líquido, g é a aceleração da gravidade e r é o raio do tubo. A relação da altura h com o raio do tubo capilar é chamada a equação da capilaridade ou equação de Jurin. Por essa equação verificasse que quando α < 90°, cos α > 0 e h > 0, ou seja, ascensão capilar. Quando α > 90°, cos α < 0 e h < 0 (depressão capilar). 7.2 Importância dos Fenômenos Capilares • Construção de Aterros e Pavimentos Rodoviários: a água que sobe por capilaridade tende a comprometer a durabilidade de pavimentos; 42 • Sifonamento capilar em barragens: a água pode, por capilaridade, ultrapassar barreiras impermeáveis e gerar por efeito de sifonamento (percolação da água sobre o núcleo impermeável da barragem), a percolação através do corpo da barragem (Figura 25). Ocorre quando a altura capilar do material que cobre o núcleo impermeável é maior que a distância entre a crista do núcleo e o NA de montante. Figura 25. Sifonamento capilar em barragens Coesão Aparente: parcela de resistência gerada pelos meniscos capilares presentes em solos não saturados. Em areias úmidas, permite converter uma praia numa pista firme com taludes muito inclinados. Quando seca ou saturada a areia, a pista se desfaz e o talude desmorona. 43 CAPÍTULO 8 8.1 COMPRESSIBILIDADE E COMPACTAÇÃO DOS SOLOS As cargas de uma determinada estrutura são transmitidas ao solo gerando uma redistribuição dos estados de tensão em cada ponto do maciço (acréscimos de tensão), a qual irá provocar deformações em maior ou menor intensidade, em toda área nas proximidades do carregamento, que por sua vez, resultarão em recalques superficiais. Todos os materiais existentes na natureza se deformam, quando submetidos a esforços. A estrutura multifásica característica dos solos confere-lhe um comportamento próprio, tensão-deformação, o qual normalmente depende do tempo. O solo é um sistema particulado composto de partículas sólidas e espaços vazios, os quais podem estar parcialmente ou totalmente preenchidos com água. Os decréscimos de volume (as deformações) dos solos podem ser atribuídos, de maneira genérica, a três causas principais: • Compressão das partículas sólidas; • Compressão dos espaços vazios do solo, com a consequente expulsão da água (no caso de solo saturado); • Compressão da água (ou do fluido) existente nos vazios do solo. Para os níveis de tensões usuais aplicados na engenharia de solos, as deformações que ocorrem na água e grãos sólidos são desprezadas (pois, são incompressíveis). Calculam-se, portanto, as deformações volumétricas do solo a partir da variação do índice de vazios (função da variação das tensões efetivas) com a consequente expulsão da água intersticial. A saída dessa água dependerá da permeabilidade do solo: - Para as areias, em que a permeabilidade é alta, a água poderá drenar com bastante facilidade e rapidamente; - Para as argilas, a expulsão de água dos vazios necessitará de muito mais tempo, até que o solo atinja um novo estado de equilíbrio, sob as tensões aplicadas. Essas variações volumétricas que se processam nos solos finos, ao longo do tempo, constituem o fenômeno de adensamento, e são as responsáveis pelos recalques a que estão sujeitas estruturas apoiadas sobre esses solos. Definem-se então alguns conceitos importantes: ADENSAMENTO é o processo lento e gradual de redução do índice de vazios de um solo por expulsão do fluido intersticial e transferência da pressão do fluído para a estrutura sólida, devido a cargas aplicadas ou ao peso próprio das camadas sobrejacentes. COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS é a diminuição do volume sob a ação de cargas aplicadas. COMPACTAÇÃO é o processo manual ou mecânico de redução do índice de vazios, por expulsão do ar. 44 RECALQUE ou ASSENTAMENTO é o termo utilizado em Engenharia Civil para designar o fenômeno que ocorre quando uma obra sofre um rebaixamento devido ao adensamento do solo sob sua fundação. O recalque é a principal causa de trincas e rachaduras em edificações, principalmente quando ocorre o recalque diferencial, ou seja, uma parte da obra rebaixa mais que outra gerando esforços estruturais não previstos e podendo até levar a obra à ruína. Causas de recalques de uma estrutura (Simons e Menzies, 1977). 1. Aplicação de cargas estruturais; 2. Rebaixamento do nível d’água; 3. Colapso da estrutura do solo devido ao encharcamento; 4. Inchamento de solos expansivos; 5. Árvores de crescimento rápido em solos argilosos; 6. Deterioração da fundação (desagregação do concreto por ataque de sulfatos, corrosão de estacas metálicas, envelhecimento de estacas de madeira); 7. Subsidência devido à exploração de minas; 8. Buracos de escoamento; 9. Vibrações em solos arenosos; 10. Inchamento de solos argilosos apos desmatamento; 11. Variações sazonais de umidade; 12. Efeitos de congelamento. Grande parte das obras de engenharia civil (prédio, pontes, viadutos, barragens, estradas, etc.) é assentada diretamente sobre o solo. A transferência dos esforços da estrutura para o solo é feita através de fundações rasas (sapatas, radiers) ou profundas (estacas, tubulões). No projeto geotécnico de fundações faz-se necessário avaliar se a resistência do solo é suficiente para suportar os esforços induzidos pela estrutura e, principalmente, se as deformações (recalques) estarão dentro dos limites admissíveis. Recalques diferenciais ou de magnitude elevada podem causar trincas na estrutura ou inviabilizar sua utilização. Daí a necessidade de conhecer os temas COMPRESSIBILIDADE e ADENSAMEN-TO DE SOLOS. O solo natural constitui simultaneamente um material complexo e variável de acordo com a sua localização. Contudo, devido à sua universalidade e baixo custo, apresenta normalmente uma grande utilidade enquanto material de construção para Engenharia Civil. Por vezes, é normal que o solo de um determinado local não cumpra, total ou parcialmente, os requisitos necessários. Terá então de ser tomada uma decisão relativa à solução mais indicada para cada caso, e que irá geralmente contemplar uma das seguintes hipóteses: 45 1. Aceitar o material original e ajustar o projeto às restrições por ele impostas; 2. Remover o material do seu local original e substituí-lo por material de qualidade superior; 3. Alterar as propriedades do solo existente de forma a criar um material capaz de responder às necessidades da tarefa prevista, normalmente designada por ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS. As alterações às propriedades de um solo podem ser de ordem química, física e biológica. Contudo, devido à grande variabilidade dos solos nenhum método será bem sucedido em mais do que alguns tipos de solos. Fundações superficiais de pequenas estruturas também podem ser afetadas por estas variações de umidade no solo, mas é em pavimentos rodoviários que a estabilização dos solos requer maiores cuidados. Para o projetista de vias de comunicação rodoviárias a resistência do solo não é condição suficiente para garantir uma boa estabilização, visto que, por exemplo, ao compactar um solo expansivo aumenta-se a sua resistência, mas em contato com a água este poderá absorvê-la e expandir, diminuindo novamente a resistência. Muitos solos argilosos aumentam e diminuem de volume com as variações sazonais do seu teor de umidade. Estas variações de volume podem não coincidir com as alturas de máxima precipitação ou insolação, uma vez que em solos de baixa permeabilidade a velocidade de percolação da água pode ser substancialmente reduzida. Notar que as variações de volume referidas devem-se apenas à alteração do teor de umidade, e só mantendo constante a quantidade de água presente no solo é que é possível evitar alterações ao seu volume inicial. 8.1 Analogia da Mecânica de Terzaghi Compreende-se facilmente esse mecanismo de transferência de pressões, utilizando- se a analogia da mecânica de Terzaghi (Figura 30), onde as molas representam as partículas sólidas do solo, e os furos capilares nos êmbolos, os seus vazios. É claro que a pressão nas molas (ou seja, nas partículas sólidas) aumenta à medida que a água escapa pelos furos (através dos vazios do solo). Figura 30. Analogia mecânica para o processo de adensamento, segundo Terzaghi Com a expulsão da água intersticial da camada compressível considerada, o volume dos seus vazios vai diminuindo e, consequentemente, o seu volume total. Como a 46 camada está confinada lateralmente, a redução do volume se dará pela redução de altura. Esta redução de altura é o que se denomina recalque por adensamento. 8.2 Teoria do Adensamento de Terzaghi A partir dos princípios da Hidráulica, Terzaghi elaborou a sua teoria, tendo, entretanto, que fa-zer algumas simplificações, para o modelo de solo utilizado. As hipóteses básicas de Terzaghi são: 1. solo homogêneo e completamente saturado; 2. partículas sólidas e a água intersticial4 são incompressíveis; 3. adensamento unidirecional, isto é, compressão (deformação) e drenagem unidimensionais (vertical); 4. determinadas propriedades do solo permanecem constante5 ( k, mv, Cv); 5. escoamento de água unidirecional e validade da lei de Darcy ( v = k . i ); 6. há relação linear entre a variação do índice de vazios e as tensões aplicadas; 7. extensão a toda massa de solo das teorias que se aplicam aos elementos infinitesimais. Grau de Adensamento (U) É a relação entre a deformação (ε) ocorrida num elemento numa certa posição ou profundidade z, num determinado instante de tempo t e a deformação deste elemento quando todo o processo de adensamento tiver ocorrido (εf), ou seja: A deformação instantânea do elemento pode ser expressa através da relação entre a variação da sua altura (∆H) e sua altura inicial (H). A deformação final do elemento devida ao acréscimo de tensão pode ser expressa pela equação seguinte: Num instante t qualquer também, o índice de vazios será “e” e a deformação correspondente ocorrida até aquele instante será: 47 Substituindo-se as equações obtém-se: Portanto, pode-se dizer que o Grau de Adensamento é a relação entre a variação do índice de vazios até o instante t e a variação total do índice de vazios devido ao carregamento. Coeficiente de Compressibilidade Considerando linear o comportamento da curva índice de vazios x tensão vertical efetiva, pode-se definir a inclinação da reta correspondente como um coeficiente que dá indicações da compressibilidade do solo. Esse coeficiente é denominado Coeficiente de Compressibilidade vertical, av, definido conforme a equação: Como a cada variação de tensão efetiva corresponde uma variação de pressão neutra, de mesmo valor mas de sentido contrário, pode-se dizer que: 8.3 Compressibilidade dos Terrenos Pouco Permeáveis (Argila) No caso de camada de argila, e de acordo com o mecanismo anteriormente descrito, a sua variação de altura, que se denominada compressão primária ou adensamento propriamente dito, representa apenas uma fase particular de compressão. Além desta, considera-se ainda a compressão inicial ou imediata – a qual se atribui a uma deformação da estruturada argila ante a aplicação brusca da carga e à compressão instantânea da fase gasosa quando esta existir – e a compressão ou adensamento secundário, o qual se explica como uma compressão das partículas sólidas do solo. Desses três tipos de compressão, apenas o primeiro tem importância especial, dados os seus efeitos sobre as construções. Tanto os efeitos à compressão inicial como os ocasionados pelo adensamento secundário, são em geral negligenciados na prática; os primeiros, em virtude de seu pequeno valor; os outros, por serem muito atenuados pela extrema lentidão com que as deformações ocorrem, muito embora o adensamento secundário seja, às vezes, responsável por uma apreciável fração do recalque total. 48 8.4 Compressibilidade dos Terrenos Permeáveis (Areia e Pedregulho) Em se tratando de terrenos muito permeáveis, com as areias e os pedregulhos, o processo de adensamento não se apresenta como acabamos de expor, pois a pressão efetiva é praticamente igual a pressão aplicada e, consequentemente, as deformações se produzem de maneira muito rápida. Tais deformações explicam-se simplesmente como devidas a um reajuste de posição das partículas do solo; daí serem, em muito maior grau que nas argilas, irreversíveis as deformações nos terrenos permeáveis. 8.5 Ensaio de Adensamento O ensaio de adensamento ou de compressão unidirecional confinada pretende determinar diretamente os parâmetros do solo, necessários para o cálculo de recalques. A realização do ensaio consiste basicamente em se instalar dentro de um anel rígido uma amostra de solo de pequena espessura (geralmente 2,5 cm). O corpo de prova é drenado, pelas faces superior e inferior, com o auxilio de pedras porosas, conforme se mostra na Figura 31. Figura 31. Ensaio de Adensamento O conjunto é levado a uma prensa na qual são aplicadas tensões verticais ao corpo de prova, em vários estágios de carregamento. Cada estágio permanece atuando até que cessem as deformações originadas pelo carregamento (na prática, normalmente, 24 horas). Em seguida, aumenta-se o carregamento (em geral, aplica-se o dobro do carregamento que estava atuando anteriormente). As medidas que se fazem usualmente são as de deformação do corpo de prova (pela
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