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Neste vídeo, Marcelo Carcanholo discute a crise capitalista contemporânea e suas diversas fases. Ele explica que a crise não é causada apenas pela pandemia da COVID-19, mas antes um resultado da forma histórica específica sob a qual o capitalismo foi reconstruído desde a sua última grande crise estrutural no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Carcanholo destaca a importância de compreender o papel do capital fictício e a aceleração do tempo de rotação do capital na formação do sistema capitalista contemporâneo. Ele também discute a teoria marxista da dependência e sua relevância na compreensão das especificidades do capitalismo nas economias dependentes. Carcanholo defende que a crise actual não é específica apenas do sector financeiro, mas contamina todos os sectores do capital. Ele explora ainda o impacto da crise na economia brasileira, enfatizando a dependência do país do sistema capitalista global e a exacerbação dessa dependência através de políticas neoliberais. Carcanholo também discute a necessidade de intervenção governamental em tempos de crise e critica a postura conservadora do governo brasileiro. Ele expressa preocupação com a direção futura da economia brasileira, prevendo um retorno a uma forma mais endurecida e monetarista de neoliberalismo, com maiores medidas de austeridade e reformas. No geral, Carcanholo pinta um quadro sombrio do cenário económico actual e futuro, destacando a necessidade de medidas mais robustas e sustentadas para enfrentar os desafios causados pela crise. 00:00:00 Nesta seção, Marcelo Carcanholo discute a crise capitalista contemporânea e enfatiza que ela não é causada apenas pela pandemia da COVID-19. Ele argumenta que a economia capitalista global já estava em crise há algum tempo antes de a pandemia chegar. Carcanholo também critica as teorias económicas que atribuem a crise apenas a factores externos, sugerindo que não conseguem fornecer uma explicação abrangente para a natureza cíclica das crises capitalistas. Embora a pandemia não seja a causa da crise actual, Carcanholo reconhece a sua importância na intensificação da crise e potencialmente na definição da sua forma. Refere-se ao estado actual da crise capitalista como a terceira fase, que começou em 2007 com o rebentamento da bolha imobiliária nos EUA, e destaca que a economia global ainda não recuperou totalmente desde então. 00:05:00 Nesta seção, Marcelo Carcanholo discute a natureza da crise capitalista contemporânea. Ele observa que esta crise é o resultado da forma histórica específica sob a qual o capitalismo foi reconstruído desde a sua última grande crise estrutural no final da década de 1960 e início da década de 1970. O capitalismo contemporâneo foi moldado por vários fatores, como a reestruturação produtiva, o neoliberalismo e a liberalização financeira. Carcanholo destaca duas características importantes do capitalismo contemporâneo. Em primeiro lugar, desde a década de 1970, tem havido uma aceleração na rotação do capital, o que significa que o capital demora menos tempo a desempenhar as suas funções. Isto, no entanto, reduz a taxa anual de mais-valia, levando a um aumento na taxa periódica de lucro. Em segundo lugar, há o surgimento de uma nova forma de valorização histórica denominada capital fictício, que se relaciona com a antecipação da apropriação futura de um valor que ainda não foi produzido. Esta inversão da lógica tradicional de acumulação de capital é impulsionada pela criação e negociação de instrumentos financeiros baseados em expectativas de valor futuro. Estas características definem o sistema capitalista contemporâneo, onde existe uma dialética entre o capital fictício e a acumulação de capital fixo. 00:10:00 Nesta seção, Marcelo Carcanholo discute a crise capitalista contemporânea, destacando a disfuncionalidade do capitalismo causada pela acumulação de capital fictício. Ele explica que quando a massa de capital fictício é superproduzida ou se acumula mais rapidamente do que a produção de valor real, isso pode levar a uma redução na taxa de lucro. Por outro lado, destaca também que o capital fictício permite acelerar o tempo de rotação do capital, trazendo um futuro incerto, mas cheio de possibilidades. Carcanholo sublinha que esta crise não é específica apenas do sector financeiro, pois a lógica da valorização fictícia contamina todos os sectores do capital. Menciona a crise financeira global de 2007-2008, que foi desencadeada pela superacumulação de capital fictício no mercado hipotecário subprime. Isto levou à desvalorização do capital e ao colapso de vários bancos. Carcanholo explica ainda o papel dos Estados-nação na tentativa de salvar a acumulação de capital fictício, levando ao aumento da dívida pública e à implementação de medidas de austeridade. Conclui afirmando que a crise continuou a desenrolar-se, com as questões não resolvidas da primeira fase a conduzirem à segunda fase em 2010-2011, particularmente na Zona Euro, onde o crescimento exponencial da dívida pública comprometeu a sua renovação. 00:15:00 Nesta seção, Marcelo Carcanholo discute a crise capitalista contemporânea e suas diversas fases. Ele explica que a primeira fase foi caracterizada pelo aumento da dívida, que não foi efetivamente resolvida apesar das medidas fiscais. Carcanholo destaca que a terceira fase da crise é a explosão ou colapso, mas não se sabe de onde ela terá origem. Ele menciona a possibilidade de um estouro de bolha no mercado imobiliário chinês ou no mercado futuro dos preços do petróleo. Carcanholo sublinha que a pandemia não é a causa da crise, mas sim uma ação específica que se enquadra na terceira fase da mesma crise estrutural do capitalismo. Em seguida, apresenta a teoria marxista da dependência e explica que o seu principal objetivo é compreender as especificidades do capitalismo em economias que não são imperialistas. Estas economias dependentes apresentam características particulares, como a transferência de valor, que se refere à produção e apropriação de valor pelo capital. Carcanholo argumenta que a categoria central de análise na teoria marxista da dependência deveria ser o capital e a relação dialética entre capital e trabalho. Ele enfatiza que os estados nacionais no capitalismo são, em última análise, capitalistas, pelo que o foco deve estar no capital e não no estado-nação. 00:20:00 Nesta seção, Marcelo Carcanholo explica os mecanismos que permitem que uma parte da mais-valia produzida pelo capitalismo independente seja apropriada pelos centros capitalistas nas economias imperialistas. Estes mecanismos incluem a transferência de valor através da concorrência dentro do mesmo sector, da concorrência entre diferentes sectores e da posição monopolista das empresas transnacionais. Ele também menciona a transferência de valor através de pagamentos por importações de capital e a necessidade do capitalismo dependente superexplorar o trabalho para compensar a transferência de valor. Carcanholo argumenta que a teoria marxista da dependência nos ajuda a compreender as especificidades das economias dependentes na divisão capitalista global do trabalho. 00:25:00 Nesta seção, Marcelo Carcanholo discute a crise capitalista contemporânea e seu impacto na economia brasileira. Ele enfatiza que a atual crise econômica no Brasil não é causada apenas pela pandemia, mas é resultado da dependência do Brasil do sistema capitalista global, que está em crise desde 2007. Além disso, ele argumenta que a implementação de políticas neoliberais por vários governos , incluindo os do PT (Partido dos Trabalhadores), exacerbou a dependência do Brasil e reforçou os seus determinantes estruturais. Esta estratégia neoliberal, caracterizada por medidas de austeridade, privatizações e abertura financeira, aprofundou a transferência de valor e piorou a situação económica do Brasil. Carcanholo também critica o atual governo Bolsonaro pela forma como geriu mal a pandemia e por não ter mudado a sua estratégia económica em resposta à crise. 00:30:00 Nesta seção, Marcelo Carcanholo discute a necessidadede o governo implementar políticas econômicas em tempos de crise, independentemente de suas crenças ideológicas. Ele argumenta que mesmo governos conservadores e neoliberais como o de Jair Bolsonaro no Brasil perceberam que durante uma crise profunda, o Estado deve implementar políticas monetárias e fiscais expansionistas para estimular a economia. No entanto, ele critica a abordagem tímida do governo brasileiro, especialmente em termos de fornecer crédito suficiente à economia real e implementar políticas fiscais para apoiar os mais necessitados. Carcanholo destaca também a inadequação do programa de ajuda de emergência, que teve duração limitada e forneceu apenas um apoio modesto às pessoas afectadas pela crise. Alerta que os efeitos da pandemia na economia global continuarão para além do final deste ano e questiona o que acontecerá no futuro quando as políticas actuais expirarem. Em última análise, Carcanholo enfatiza a importância de implementar medidas mais robustas e sustentadas para enfrentar os desafios económicos causados pela crise. 00:35:00 Nesta seção, Marcelo Carcanholo discute a atual crise capitalista e expressa preocupação com os rumos futuros da economia brasileira. Ele prevê um regresso a uma forma de neoliberalismo mais endurecida e monetarista, com maiores medidas de austeridade e reformas. Carcanholo sublinha que isto terá consequências económicas, sociais e políticas significativas, agravando potencialmente a situação já desafiante. Apesar de quaisquer tentativas do governo de implementar políticas sociais compensatórias, como um programa de rendimento básico, Carcanholo acredita que a agenda acabará por se inclinar para uma abordagem neoliberal mais dura e conservadora. Ele argumenta que esta mudança é justificada pela necessidade de abordar o défice fiscal resultante dos gastos pandémicos, mas irá exacerbar ainda mais os efeitos da crise económica global numa economia dependente como a do Brasil. No geral, Carcanholo pinta um quadro sombrio do cenário econômico futuro no Brasil.