Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO 
TRABALHO DA 21ª REGIÃO
Desembargador Eridson João Fernandes Medeiros
Presidente e Corregedor
Desembargador Eduardo Serrano da Rocha
Vice-Presidente
Desembargadora Maria Auxiliadora Barros de Medeiros Rodrigues 
Ouvidora
Desembargadora Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro
Diretora da Escola Judicial
CONSELHO CONSULTIVO 
Desembargadora Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro 
Desembargador Ricardo Luíz Espíndola Borges 
Juiz Hermann Araújo Hackradt 
Juíza Lygia Maria de Godoy Batista Cavalcanti 
Juíza Lisandra Cristina Lopes 
 
Juíza Lisandra Cristina Lopes 
Coordenadora Pedagógica 
 
Haroldo Helinski Holanda
Secretário da Escola Judicial 
 
Simone Resende Nunes de Carvalho
Chefe do Setor de Aperfeiçoamento e Capacitação de Magistrados e Servidores 
 
Isabelle Bandeira de Figueiredo Souza 
Chefe do Setor de Educação à Distância 
 
Edlene Melo Reis do Nascimento, Mary Ann Rios Forte Paranhos, Ray Rommenigge 
do Nascimento Rabelo, Séfora Soraia da Costa e Silva, Wagner Viana Dourado, Maria 
Eloíza dos Anjos Oliveira e Pedro Henrique de Souza Neves. 
 
Leandro do Nascimento de Souza
Assistente da Biblioteca
Raylla Nascimento Costa, Emmily Hariadny Gomes da Silva e Maria Laura 
Tambellini Barros (estagiárias da Biblioteca)
 ISSN 1981-6715
Rev. Trib. Reg. Trab. 21a Reg. Natal v. 23 n. 1 p. 1-177 dez. 2024
© 1993 Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região ISSN 1981-6715
O teor dos artigos é de total responsabilidade dos seus autores, não refletindo necessariamente a posição 
da Comissão da Revista e de Outras Publicações e/ou do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região.
CONSELHO EDITORIAL
Des. Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro 
Des. Bento Herculano Duarte Neto 
Juiz Hermann de Araújo Hackradt 
Juíza Jólia Lucena da Rocha Melo 
Profa. Ana Beatriz Ferreira Rebello Presgrave 
Prof. Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho
Coordenação: Secretaria da Escola Judicial
Organização e Supervisão: Haroldo Helinski Holanda, Simone Resende Nunes de 
Carvalho e Leandro do Nascimento de Souza
Produção Editorial: Cinthia Lopes Cardoso e Michele Santana Gomes
Revisão Textual: Alyne Martins Teles Brito
Capa, Diagramação e Arte final: Diogo Freitas, Caio Vinicius e Gutemberg Emerenciano
Assessoria Bibliográfica: Leandro do Nascimento de Souza, Raylla Nascimento 
Costa, Emmily Hariadny Gomes da Silva e Maria Laura Tambellini Barros
Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região
Av. Capitão-Mor Gouveia, 3104 – Lagoa Nova – Natal/RN
CEP 59063-900
CNPJ 02.544.593/0001-82
Fone: (84) 4006-3001 / 4006-3002
http://trt21.jus.br/
Bibliotecário responsável: Leandro do Nascimento de Souza (CRB 15/902)
R454
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região / Escola Judicial do TRT da
 21ª Região, vol. 1, n. 1, 1993-. Natal/RN, 1993- .
Anual
Modo de acesso eletrônico: World Wide Web: http://www.trt21.jus.br
v.23, n.1, dez. 2024
 Direito do Trabalho. 2. Processo Trabalhista. 3. Justiça do Trabalho – Brasil. 4.
 Jurisprudência Trabalhista – Brasil. I. Brasil. Tribunal Superior do Trabalho.
 CDU – 34(05)
Composição do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região
PRESIDENTE E CORREGEDOR
Desembargador Eridson João Fernandes Medeiros
VICE-PRESIDENTE
Desembargador Eduardo Serrano da Rocha
OUVIDORA
Desembargadora Maria Auxiliadora Barros de Medeiros Rodrigues 
DESEMBARGADORES
Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro
Carlos Newton de Souza Pinto
José Barbosa Filho
Ronaldo de Medeiros de Souza
Maria Auxiliadora Barros de Medeiros Rodrigues
Ricardo Luis Espíndola Borges
Bento Herculano Duarte Neto
Isaura Maria Barbalho Simonetti
PROCURADOR-CHEFE DA PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO
Procurador Antônio Gleydson Gadelha de Moura
JUÍZES TITULARES DE VARAS DO TRABALHO
Juiz Hermann de Araújo Hackradt 
Juiz Zéu Palmeira Sobrinho
Juiz Manoel Medeiros Soares de Sousa
Juiz Luciano Athayde Chaves
Juiz Dilner Nogueira Santos 
Juíza Lygia Maria de Godoy Batista Cavalcanti 
Juíza Simone Medeiros Jalil 
Juiz Joanilson de Paula Rêgo Júnior 
Juiz Antonio Soares Carneiro 
Juiz Décio Teixeira de Carvalho Júnior 
Juiz Alexandre Érico Alves da Silva 
Juíza Daniela Lustoza Marques de Souza Chaves
Juíza Lilian Matos Pessoa da Cunha Lima 
Juiz Hamilton Vieira Sobrinho 
Juiz Gustavo Muniz Nunes 
Juiz Magno Kleiber Maia 
Juíza Rachel Vilar de Oliveira Villarim 
Juíza Lisandra Cristina Lopes 
Juíza Jólia Lucena da Rocha Melo 
Juíza Maria Rita Manzarra de Moura Garcia
Juíza Janaina Vasco Fernandes
Juíza Derliane Rêgo Tapajós
Juiz Carlito Antônio da Cruz
S U M Á R I O
JUÍZES DO TRABALHO SUBSTITUTOS
Fátima Christiane Gomes de Oliveira
Luíza Eugênia Pereira Arraes
Carlito Antônio da Cruz
Aline Fabiana Campos Pereira
Nágila Nogueira Gomes
Cácio Oliveira Manoel
José Maurício Pontes Júnior
Marcella Alves de Villar
Michael Wegner Knabben
Inácio André de Oliveira
Syméia Simião da Rocha
Anne de Carvalho Cavalcanti
Higor Marcelino Sanches
Daniel dos Santos Figueiredo
Thácia Janny de Freitas Cardoso
Stella Paiva de Autran Nunes
Laís Ribeiro de Sousa Bezerra
Igor Volpatto da Silva
Alexsandro de Oliveira Valério
João Paulo de Souza Júnior
Ticiano Maciel Costa
Danusa Berta Malfatti
Rafael Vieira Bruno Tavares
Felipe Marinho Amaral
S U M Á R I O
Apresentação
Desembargadora Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro
Diretora da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região
Artigos Doutrinários
DIAGNÓSTICO DO TRABALHO EMOCIONAL NO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 21ª 
REGIÃO
Larissa Cunha Dantas, Cynara Carvalho de Abreu ................................................................................12
A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE E SEUS REFLEXOS SOBRE A GARANTIA DE ACESSO NA 
JUSTIÇA DO TRABALHO: DESEMPENHO, EFICIÊNCIA E EFETIVIDADE EM ORGANIZAÇÕES DA 
JUSTIÇA
Cláudio Delgado Freitas, Dr. Luciano Athayde ......................................................................................29
SOCIEDADE E ESTADO EM REDE: O DIÁLOGO NECESSÁRIO ENTRE AS PROVAS DIGITAIS E OS 
DIREITOS FUNDAMENTAIS NA JUSTIÇA DO TRABALHO NO BRASIL
Luciano Athayde Chaves, Maria Fernanda de Araújo Duda.....................................................................43
A ESCRITA JURÍDICA E A LINGUAGEM SIMPLES
Maria do Perpetuo Socorro Wanderley de Castro...................................................................................63
TRABALHO VERSUS PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA
Lisiane Aguiar Henrique...................................................................................................................67
A INDÚSTRIA 4.0 E O DIREITO FUNDAMENTAL DE PROTEÇÃO EM FACE DA AUTOMAÇÃO 
(ART. 7º, XXVII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL): UMA INTERPRETAÇÃO À LUZ DO MÉTODO 
GRAMATICAL E DO MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO
Yara Maria Pereira Gurgel , Tiago Batista dos Santos, Ricardo Galvão de Sousa Lins.....................................81
ANÁLISE DO TRABALHO NA JUSTIÇA TRABALHISTA: O OLHAR DA CLÍNICA DA ATIVIDADE
Rosane Helena Cardoso de Melo, Tatiana de Lucena Torres, Erick Idalino Moura, Jorge Tarcisio da Rocha 
Falcão..........................................................................................................................................93
Acórdãos
Apresentação
 Prezado leitor, Prezada leitora
Apresentamos o volume 23 da Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 
21Região, relativo ao ano de 2024. 
 A edição é integrada por artigos sobre temas diversos, mas sempre em vista 
do mundo do trabalho e das relações trabalhistas, na constante reflexão sobre as 
questões palpitantes que dele decorrem.
 São abordados temas como a saúde física, mental e emocional de 
servidores e magistrados; a prescrição intercorrente e seus impactos na garantia 
constitucional de acesso à Justiça do Trabalho; a presençaVenosa	(2021,	p.	501),	“o	exercício	de	um	direito	não	pode	ficar	pendente	
indefinitivamente.	Deve	ser	exercido	pelo	titular	dentro	de	um	determinado	prazo”.	Esse	mesmo	
autor	ressalta	que,	não	ocorrendo,	perde	o	 titular	a	“prerrogativa	de	fazer	valer	seu	direito”,	
tudo	isso	com	fundamento	na	paz	social,	na	tranquilidade	da	ordem	jurídica.	Por	essa	linha	de	
raciocínio,	essa	é	a	razão	que	deveríamos	buscar	para	o	fundamento	da	prescrição.	Sublinha,	
por	fim,	o	 referido	autor	que,	para	os	“não	 iniciados	na	ciência	 jurídica”,	a	prescrição	pode	
parecer	injusta,	mas	a	realidade	é	a	de	que	a	mesma	se	mostra	indispensável	à	estabilidade	das	
relações	sociais.
	 Quanto	 ao	 conceito	 de	 prescrição,	 segundo	 Pontes	 de	 Miranda	 (2000,	 p.	 135),	 “a	
prescrição	é	a	exceção,	que	alguém	tem,	contra	o	que	não	exerceu,	durante	certo	tempo,	que	
alguma	regra	jurídica	fixa,	a	sua	pretensão	ou	ação.	Serve	à	segurança	e	à	paz	públicas,	para	
limite	temporal	à	eficácia	das	pretensões	e	das	ações”.
	 Já	no	que	 se	 refere	à	prescrição	 intercorrente,	Mauro	Schiavi	 (2017,	p.	86)	assevera	
que	se	chama	 intercorrente	quando	a	prescrição	se	dá	no	curso	do	processo,	após	o	 trânsito	
em	 julgado,	pois	na	 fase	de	execução,	 se	o	autor	não	promover	os	 atos	do	processo,	o	 juiz	
extinguirá	sem	resolução	do	mérito.	Trata-se,	portanto,	de	um	fenômeno	endoprocessual,	isto	é,	
manifestado	no	curso	do	processo,	distinto	da	prescrição	geral,	que	ocorre	antes	da	propositura	
da	ação	(Chaves,	2012,	p.	539).	Ostenta,	assim,	a	prescrição	intercorrente	uma	natureza	híbrida	
(Schivi,	2017,	p.	86),	tendo	em	vista	que	entrelaça	o	direito	material	com	o	direito	processual	
do	trabalho,	e	seu	efeito	é	a	inexigibilidade	do	direito,	acarretando	a	extinção	do	processo	com	
resolução	de	mérito.
	 Quanto	aos	tipos	de	prescrição,	Rezende	(2012,	p.	925)	explica:	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202432
A	subdivisão	da	prescrição	em	parcial	e	total	não	decorre	de	lei,	e	sim	da	construção	
jurisprudencial	acerca	do	tema,	e	notadamente	do	entendimento	predominante	no	TST.	
Nesse	contexto,	é	fundamental	esclarecer	que	a	prescrição	bienal	será	sempre	total,	
razão	pela	qual	o	conceito	de	prescrição	parcial	se	aplica	 tão	somente	à	prescrição	
quinquenal,	que	pode	ser	total	ou	parcial. 
	 A	bienal	prescreve	nos	dois	anos	dados	ao	trabalhador	para	que	intente	a	ação	trabalhista,	
contados	a	partir	da	extinção	do	contrato	de	trabalho.	Já	a	quinquenal	pode	ocorrer	tanto	durante	
a	vigência	do	contrato,	pois	o	trabalhador	tem	cinco	anos	para	ajuizar	a	reclamação	trabalhista	
a	contar	da	data	da	lesão	do	seu	direito,	isto	quando	ainda	há	o	vínculo	trabalhista;	bem	como	
após	a	extinção	do	contrato	individual	de	trabalho,	já	que,	ajuizada	a	reclamatória	trabalhista,	
esta	poderá	reparar	somente	as	lesões	ocorridas	nos	cinco	anos	anteriores	ao	seu	ajuizamento.
	 Já	Venosa	 (2021,	 p.	 502)	 separa	 as	 prescrições	 entre	 extintiva	 e	 aquisitiva,	 sendo	 a	
primeira	aquela	prescrição	propriamente	dita,	que	conduz	à	perda	do	direito	de	ação	por	seu	
titular	negligente	ao	fim	de	certo	lapso	de	tempo;	já	a	segunda	consiste	na	aquisição	de	direito	
real	pelo	decurso	de	tempo,	a	exemplo	do	usucapião.
	 Sobre	prescrições	extintivas,	a	Constituição	Brasileira	garante	o	direito	de	ação	quanto	
aos	créditos	resultantes	das	relações	trabalhistas,	condicionando	ao	prazo	prescricional	de	cinco	
anos,	para	os	trabalhadores	urbanos	ou	rurais,	e	até	dois	anos	depois	de	extinto	o	contrato	de	
trabalho	(art.	7º,	XXIX),	ou	seja,	especifica	duas	prescrições	extintivas	por	decurso	do	prazo.	
Entretanto,	 além	 desses	 prazos	 prescricionais,	 a	 Lei	 da	 Reforma	Trabalhista,	 nº	 13.467/17,	
consolidou	a	prescrição	intercorrente	na	fase	de	execução,	resolvendo	a	divergência	existente	
entre	a	literatura	técnica	e	a	jurisprudência.
	 Por	certo	que	essa	mudança	não	foi	a	única	que	gerou	efeitos	sobre	a	fase	de	execução,	já	
que	a	reforma	trabalhista	de	2017	promoveu	várias	alterações	nesse	campo	processual	(Chaves,	
2017).	No	entanto,	trata-se	de	uma	mudança	que	atingiu	um	instituto	processual	muito	sensível	
e	com	possíveis	repercussões	significativas	no	procedimento	aplicado	na	Justiça	do	Trabalho.
	 Segundo	Soares	(2016,	p.	403),
A	prescrição	intercorrente	atua	no	processo	instaurado,	e	representa	o	reconhecimento	
da	 impossibilidade	de	dar	andamento	ao	processo,	 se	o	credor	permanecer	durante	
determinado	lapso	temporal,	inerte	na	necessária	prática	de	atos	aptos	ao	alcance	do	
objetivo	de	obter	a	concretização	da	condenação	ou	mesmo	da	própria	execução.
	 Na	prescrição	intercorrente,	essa	perda	decorre	da	inércia	de	uma	das	partes,	em	especial	
da	parte	exequente,	durante	um	determinado	tempo	no	curso	de	um	procedimento.	De	acordo	
com	o	artigo	11-A	da	CLT,	introduzido	pela	Lei	da	Reforma	Trabalhista,	citada	acima,	a	ação	
poderá	ser	extinta	se	o	autor	da	ação	ou	o	credor	dos	valores	deixar	de	cumprir	determinação	
judicial,	 sem	qualquer	motivo	ou	 justificativa,	 por	mais	 de	dois	 anos.	Ressalta-se	que,	 para	
aplicação	 da	 prescrição	 intercorrente,	 há	 necessidade	 de	 prévia	 intimação	 e	 inequívoca	 do	
exequente	(Miessa,	2017),	de	modo	a	assegurar	a	presença	de	uma	inércia	consciente	do	credor,	
situação	processual	que	pode	implicar	a	extinção	da	execução.
	 Nota-se	que,	sobre	a	prescrição	intercorrente,	há	um	aparente	conflito	entre	os	princípios	
constitucionais	 de	duração	 razoável	 do	processo	 e	 do	 acesso	 à	 justiça	 (no	 seu	 sentido	mais	
amplo),	pelo	qual	deverá	ser	solucionado	pela	ponderação	de	princípios,	conforme	cita	Mendes	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 33
(2012,	p.	110)	:
Quando	os	princípios	se	contrapõem	em	um	caso	concreto,	há	que	se	apurar	o	peso	
(nisso	consistindo	a	ponderação)	que	apresentam	nesse	mesmo	caso,	tendo	presente	
que,	se	apreciados	em	abstrato,	nenhum	desses	princípios	em	choque	ostenta	primazia	
definitiva	 sobre	 o	 outro.	 Nada	 impede,	 assim,	 que,	 em	 caso	 diverso,	 com	 outras	
características,	o	princípio	antes	preterido	venha	a	prevalecer.
	 Segundo	Tucci	 (2017,	p.	6),	“Tempo	e	processo	constituem	duas	vertentes	que	estão	
em	constante	confronto”.	Cita	o	autor	que	muitas	vezes	o	tempo	“age	em	prol	da	verdade	e	da	
justiça”,	entretanto,	na	maioria	das	vezes,	 ressalta	o	autor,	ela	“conspira	contra	o	processo”.	
Explana	o	autor	que	a	“excessiva	duração	do	litígio	vulnera	a	garantia	do	devido	processo”,	
dentre	outros	princípios.
	 Importante	ressaltar	que	a	prescrição	intercorrente	pode	ser	compreendida	como	mais	
um	dos	óbices	ao	efetivo	acesso	à	justiça	para	a	parte	que	recorre	à	Justiça	do	Trabalho	com	
a	 utilização	 do	 jus postulandi,	 uma	 vez	 que	 sendo	 a	 parte	 desacompanhada	 de	 advogado,	
seu	 processo	 tem	maiores	 chances	 de	 ficar	 inerte	 pelo	 prazo	 capaz	 de	 ensejar	 a	 prescrição	
intercorrente	e,	consequentemente,	ser	extinto	com	resolução	de	mérito	ante	referida	inércia	e,	
portanto,	não	ter	o	efetivo	acesso	à	justiça.
	 Ressalva	 peculiar	 fez	 Silva	 (2017,	 p.	 22),	 quando	 teceu	 comentários	 ao	 art.	 11-A	
implementado	pela	Reforma	Trabalhista:	
Em	resumo,	a	sociedade	espera	que	o	art.	11-A,	§	2º,	não	seja	utilizado	irrefletidamente,	
apenas	para	 cumprimento	de	metas	 e	 apresentações	de	dados	 estatísticos,	mas	por	
força	de	uma	análise	detida	 sobre	eventual	 comportamento	negligente	do	credor	–	
que,	afinal,	é	a	base	que	os	pretores	romanos	utilizam	para	desenvolver	o	conceito	
da	perda	da	exigibilidade	do	direito	por	inércia	injustificada	do	interessado	,ou	seja,	
a	 literatura	 especializada	 se	 preocupa	 com	 os	 critérios	 subjetivos	 da	 aplicação	 da	
prescrição	intercorrente.
3. PRESCRIÇÕES NO TEMPO E A INTERCORRENTE
	 Antes	 da	 Lei	 da	 Reforma	 Trabalhista,	 havia	 divergência	 entre	 posicionamento	 do	
Supremo	 Tribunal	 Federal	 e	 aquele	 sustentado	 pelo	 Tribunal	 Superior	 do	 Trabalho	 (TST)	
quanto	à	possibilidade	de	aplicação	da	prescrição	intercorrentena	Justiça	do	Trabalho.	Enquanto	
a	Suprema	Corte,	na	Súmula	nº	327,	definiu,	desde	13	de	dezembro	de	1963,	que	o	direito	
processual	trabalhista	admite	a	prescrição	intercorrente,	ou	seja,	que	havia	aplicabilidade	desse	
instituto	no	Processo	do	Trabalho,	a	Corte	Superior	Trabalhista	sempre	sustentou	que	não	se	
aplicava	a	prescrição	intercorrente	nesse	segmento,	conforme	se	vê	da	súmula	nº	114,	publicada,	
originalmente,	em	3	de	novembro	de	1980.
	 Interessante	notar	que,	mesmo	após	a	reforma	de	2017,	alguns	autores	sustentam	que	
essa	discussão	 ainda	pode	 ter	 sobrevida.	Miessa	 (2017),	 por	 exemplo,	 ponderando	 sobre	 as	
particularidades	do	direito	processual	do	trabalho	e	do	grande	impacto	que	o	novo	dispositivo	
exercerá,	causando	grandes	alterações	na	execução	trabalhista,	descreve	algumas	controvérsias	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202434
que	 a	 aplicação	 do	 instituto	 da	 prescrição	 no	 âmbito	 do	 processo	 trabalhista	 será	 objeto:	
“prazo	prescricional,	 suspensão	e	extinção	da	execução,	data	de	 início	da	fluência	do	prazo	
prescricional,	possibilidade	de	declaração	ex	officio	e	momento	de	declaração	da	prescrição”.
	 Contudo,	 com	 a	 publicação	 da	 Reforma	 de	 2017,	 a	 Justiça	 do	 Trabalho	 passou	 a	
admitir	expressamente	a	prescrição	intercorrente,	ainda	que	em	relação	apenas	às	execuções	
iniciadas	após	a	vigência	da	referida	Lei	nº	13.467,	de	acordo	com	o	que	vem	decidindo	o	TST	
(Brasil,	2023),	quanto	a	ser	a	aplicação	retroativa	da	Lei	acima	inviável.	A	expressa	opção	pela	
aplicação	da	prescrição	 intercorrente	no	Processo	do	Trabalho	vem	do	próprio	TST,	quando	
definiu	o	marco	temporal	para	a	vigência	dos	dispositivos	da	reforma	de	2017,	como	se	vê	do	
art.	2º	da	Instrução	Normativa	n°	41	(Brasil,	2017),	considerando	a	ausência	de	previsão	na	
13.467/2017	de	procedimento	a	ser	adotado	para	o	reconhecimento	da	prescrição	intercorrente,	
a	referida	Instrução	Normativa	dispõe	que	“O	fluxo	da	prescrição	intercorrente	conta-se	a	partir	
do	descumprimento	da	determinação	judicial	a	que	alude	o	§	1º	do	art.	11-A	da	CLT,	desde	que	
feita	após	11	de	novembro	de	2017	(Brasil,	2017)”.
	 Em	síntese,	a	Reforma	Trabalhista,	ao	introduzir	a	prescrição	intercorrente	na	execução	
de	 forma	 expressa,	 adotou	 o	modelo	 em	que	 se	 toma	 em	 consideração	 a	 conduta	 subjetiva	
do	exequente	que	permanece	 inerte	mesmo	após	 instado	pelo	 juízo	a	promover	a	execução,	
conforme	indica	o	§	1º	do	art.	11-A	da	CLT,	ao	estabelecer	que	a	fluência	do	prazo	prescricional	
intercorrente	 inicia-se	quando	o	exequente	deixa	de	cumprir	determinação	 judicial	no	curso	
da	execução,	que	não	pode	ser	anterior	ao	arquivamento	provisório	dos	autos,	e	só	a	partir	da	
determinação	se	tem	por	iniciada	a	fluência	do	prazo	prescricional	intercorrente	de	dois	anos.
	 Importante	 frisar	 as	 diretrizes	 contidas	 na	 Recomendação	 n.º	 3/2018,	 editada	 pela	
Corregedoria-Geral	 da	 Corregedoria-Geral	 da	 Justiça	 do	 Trabalho,	 quanto	 à	 aplicação	 da	
prescrição	 intercorrente	 na	 esfera	 trabalhista.	 O	 referido	 instrumento	 tem	 como	 finalidade	
uniformizar	 os	 procedimentos	 adotados	 pelos	 magistrados	 do	 trabalho	 quanto	 à	 prescrição	
intercorrente,	bem	como	harmonizar	os	novos	dispositivos	celetistas	com	os	outros	dispositivos	
aplicáveis	ao	processo	do	trabalho,	como	a	Lei	de	Executivos	Fiscais	e	o	Código	de	Processo	
Civil.
	 Assim,	de	acordo	com	a	mencionada	Recomendação	n.º	3/2018,	o	início	da	contagem	do	
prazo	para	o	reconhecimento	da	prescrição	intercorrente	conta-se	a	partir	do	não	cumprimento	
da	determinação	judicial,	desde	que	referida	determinação	tenha	sido	expedida	após	11/11/2017,	
data	de	início	da	vigência	da	Reforma	Trabalhista	–	Lei	13.467/2017.	Além	disso,	recomenda-se,	
também,	que	o	reconhecimento	da	prescrição	só	se	dará	após	expressa	intimação	do	exequente	
para	a	realização	da	determinação	judicial	no	curso	da	execução,	de	modo	que,	o	magistrado	
trabalhista	deverá	indicar,	com	precisão,	qual	determinação	deve	ser	cumprida,	especificando	
as	consequências	do	descumprimento.
	 A	Recomendação	também	ressalta,	dentre	outros	procedimentos,	que	cabe	ao	magistrado	
promover,	de	ofício,	todos	os	meios	possíveis	para	satisfação	da	dívida,	inclusive	por	meio	de	
ferramentas	eletrônicas	de	 localização	de	ativos	à	disposição	do	Poder	Judiciário,	 tais	como	
Bacenjud,	Infojud,	Renajud	ou	Simba;	e	pelo	 instrumento	processual	de	desconsideração	da	
personalidade	jurídica	da	sociedade	empresária	executada.	Além	disso,	o	ato	estabelece	que	o	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 35
prazo	prescricional	não	iniciará	nas	hipóteses	em	que	não	for	localizado	o	devedor	ou	encontrados	
bens	sobre	os	quais	possa	recair	a	penhora,	devendo	o	juiz,	nesses	casos,	suspender	o	processo	
ou	arquivá-lo	provisoriamente,	com	a	possibilidade	de	desarquivamento	e	prosseguimento	da	
execução	a	qualquer	momento.
	 Sobre	 o	 tema	 impulso	 oficial	 do	 juiz,	 determinante	 quanto	 à	 possibilidade	 do	
impulsionamento	ser	exclusivo	das	partes,	destaca-se,	da	decisão	tomada	pelo	TST	no	processo	nº	
Ag-AIRR-720-41.2015.5.07.0027	(7ª	Turma,	Relator	Ministro	Cláudio	Mascarenhas	Brandão,	
DEJT	19/12/2022),	uma	direção	 interpretativa	quanto	à	atribuição	de	ser	a	 responsabilidade	
única	 ao	 credor	 pelo	 retardamento	 do	 feito.	 Essa	 preocupação	 se	 dá	 pela	 alteração	 do	 art.	
878	 da	 CLT,	 que	 anteriormente	 permitia	 a	 que	 a	 execução	 fosse	 “promovida	 por	 qualquer	
interessado,	 ou	ex officio pelo	 próprio	 Juiz	 ou	Presidente	 ou	Tribunal	 competente”.	Após	 a	
Reforma	Trabalhista	de	2017,	diminuiu	drasticamente	a	possibilidade	de	o	juiz	dar	andamento	
à	execução	sem	ser	instigado	pelas	partes,	nos	seguintes	termos:	“A	execução	será	promovida	
pelas	partes,	permitida	a	execução	de	ofício	pelo	juiz	ou	pelo	Presidente	do	Tribunal	apenas	nos	
casos	em	que	as	partes	não	estiverem	representadas	por	advogado”.
	 Na	referida	decisão,	o	ministro	relator	enumera	alguns	passos	para	análise	da	aplicação	
da	prescrição	intercorrente,	afastando	as	situações	onde	a	alegação	de	impulsionamento	pelo	
juízo	não	seria	permitida:	(1)	A	atribuição	da	responsabilidade	única	ao	credor	pelo	retardamento	
do	feito	deve	ser	encarada	com	reservas.	Primeiro,	porque	é	do	Judiciário	–	e	não	do	credor	–	o	
dever	de	fazer	cumprir	a	decisão	que	proferiu,	caminho	para	que	consiga	obter	a	denominada	
efetividade,	 que	nada	mais	 é	 do	que	 a	 produção	de	 efeitos	 jurídicos	 no	mundo	da	 vida,	 no	
mundo	dos	fatos,	 (2)	A	regra	contida	no	artigo	2º	do	CPC	evidencia	a	proibição	para	que	o	
juiz	possa	dar	início	ao	processo,	mas,	uma	vez	iniciado	pela	parte,	a	ele	é	atribuído,	de	modo	
expresso,	frise-se,	o	impulso	oficial,	tal	como	também	contempla	o	artigo	765	da	CLT,	que,	de	
maneira	óbvia,	não	se	resume	ao	processo	de	conhecimento	e	nem	foi	revogado.	(3)	O	artigo	
878	da	CLT	atribui	às	partes	–	e	não	apenas	ao	credor	–	a	iniciativa	de	promover	a	execução,	o	
que	significa	tratar-se	de	iniciativa	concorrente.	(4)	É	dever	do	magistrado	–	não	mera	faculdade	
–	executar	de	ofício	e	até	final	a	contribuição	previdenciária,	consoante	previsão	contida	no	
artigo	114,	VIII,	da	Constituição,	e	seria	no	mínimo	desarrazoado	supor	estar	autorizado	a	fazê-
lo	em	relação	ao	crédito	acessório	–	a	contribuição	previdenciária	–,	e	não	em	relação	ao	crédito	
principal	–	as	parcelas	atribuídas	ao	credor	principal.	(5)	Os	meios	concretos	mencionados	pelo	
magistrado	na	questionada	decisão	são	perfeitamente	dele	conhecidos,	se	infrutíferos	até	então,	
não	 significa	 que	 assim	 permaneçam	 em	momento	 posterior,	 devem	 significar	 a	 concessão	
de	uma	espécie	de	“alforria”	ao	devedor	inadimplente	ou,	menos	ainda,	representar	um	mero	
registro	 positivo	 de	 encerramento	 do	 processo	 na	 estatística	 da	Vara.	 (6)	Ao	 executado	 são	
atribuído	inúmeros	deveres	no	âmbito	do	processo,	a	começar	pelo	dever	fundamental	genérico	
de	cooperação	(artigo6º	do	CPC),	e,	de	modo	particular,	o	dever	de	atuação	ética,	capitaneado	
pela	 regra	 contida	 no	 artigo	 774	 do	 CPC,	 que	 enumera	 atos	 cuja	 prática	 são	 considerados	
atentatórios	 à	 dignidade	 da	 justiça,	 entre	 os	 quais	 a	 recusa	 à	 indicação	 dos	 bens	 sujeitos	 à	
penhora	 (inciso	V);	sem	esquecer	dos	demais	 incisos,	 todos	eles	direcionados	ao	combate	à	
atuação	temerária	ou	dificultosa	ao	andamento	regular	do	processo.	(7)	Não	se	pode	atribuir	a	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202436
condição	de	quem	abandonou	a	execução.	Apenas	–	se	tanto	–	não	dispunha	de	informações	ou	
meios	necessários	para	o	alcance	do	resultado	por	ele	perseguido.	(8)	Acolher	a	tese	da	“inércia	
judicial”	representaria	a	negativa	do	direito	fundamental	ao	processo	efetivo	(ou	à	tutela	efetiva),	
há	muito	consagrado	na	doutrina,	positivado	entre	as	denominadas	“normas	fundamentais	do	
processo	civil”	 (leia-se	 “processo	brasileiro”,	 em	virtude	da	previsão	do	artigo	15	do	CPC)	
contidas	no	CPC	(artigos	1º	a	12),	compreendido	como	o	direito	fundamental,	reconhecido	ao	
jurisdicionado,	“de	obter	do	Poder	Judiciário	uma	prestação	jurisdicional	efetiva,	adequada	e	
tempestiva,	seja	em	decorrência	do	princípio	do	devido	processo	legal	(art.	5º,	LIV,	CF),	seja	
em	decorrência	do	princípio	da	inafastabilidade	da	atividade	jurisdicional.
	 Assim,	mesmo	considerando	essas	condições	para	a	aplicação	da	prescrição	intercorrente,	
consolidou-se	mais	uma	forma	de	prescrição	que	diz	respeito	diretamente	à	questão	do	acesso	
à	Justiça	do	Trabalho,	uma	vez	que,	com	a	extinção	de	processo	fase	de	execução,	não	é	mais	
possível	se	exigir	os	créditos	ali	apurados,	mesmo	que	com	um	novo	processo,	de	acordo	com	
a	regra	prevista	no	art.	337,	§§	1º,	2º	e	3º	do	Código	de	Processo	Civil.
	 Ressalta-se	que	há,	entretanto,	quem	critique	a	utilização	da	prescrição	intercorrente,	
mesmo	no	âmbito	do	direito	civil.	Tartuce	(2015),	por	exemplo,	salienta	que	nunca	concordou	
com	a	utilização	deste	tipo	de	prescrição	na	esfera	privada,	pois	entende	que	ela	poderia	ser	
injusta,	principalmente	quando	se	leva	em	consideração	a	morosidade	do	nosso	Poder	Judiciário.
4. PESQUISA EMPÍRICA
	 Apoiado	 nesta	 importante	 alteração	 legislativa	 e	 procedimental,	 que	 produz	 reflexos	
no	acesso	à	Justiça	e	na	efetividade	da	prestação	jurisdicional,	o	presente	estudo	se	propôs	a	
analisar	a	hipótese	de	que	é	crescente	a	utilização	da	prescrição	 intercorrente	nos	Tribunais	
Trabalhistas,	nomeadamente	após	a	Reforma	Trabalhista	de	2017.	Para	alcançar	esse	objetivo,	
fez-se	uso	de	investigação	bibliográfica	e	documental	(Gil,	2008),	além	de	utilização	de	pesquisa	
empírica	quantitativa,	ancorada	em	métodos	da	estatística	descritiva	(Serra,	2013),	para	aferir	a	
utilização	da	prescrição	intercorrente	como	forma	de	extinção	das	execuções	trabalhistas.
Faz-se	 necessário	 explicar	 que	 a	 alimentação	 estatística	 da	 forma	 de	 extinção	 da	 execução	
na	 Justiça	 do	Trabalho	 ocorre	 diretamente	 no	 Processo	 Judicial	 Eletrônico	 -	 PJe,	 por	meio	
de	 sentença	na	 fase	de	execução	 (a	 sentença	é	coletada	no	 item	90.093	do	e-gestão),	 sendo	
obrigatória	 a	 informação	 do	 tipo	 da	 extinção	 (prescrição	 intercorrente	 é	 uma	 das	 formas,	
coletada	no	 item	90.442	do	e-gestão),	 conforme	consta	no	manual	do	 sistema	estatístico	da	
Justiça	do	Trabalho	-	e-gestão.
	 Entretanto,	 por	 ser	 uma	 ação	 manual	 do	 servidor	 ou	 magistrado	 que	 procede	 ao	
preenchimento	dos	campos	destinados	à	movimentação	processual,	há	risco	de	que	a	informação	
do	tipo	da	extinção	inserida	não	reflita	a	realidade	da	sentença,	sendo	possível	a	informação	
equivocada	de	uma	forma	de	extinção	por	outra,	visto	que	estas	têm	o	mesmo	peso	estatístico,	
gerando	dados	estatísticos	incorretos	e	que	podem	distorcer	os	dados	coletados	abaixo.
	 A	 forma	 de	 coleta	 dos	 dados	 foi	 a	 geração	 dos	 relatórios	 dos	 itens	 estatísticos	 no	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 37
sistema	 e-gestão,	 gerenciados	 pela	 estatística	 do	 TST	 (https://egestao.tst.jus.br/BOE/BI), 
utilizando-se	do	item	90.093	[Execução	encerrada	com	a	declaração,	por	sentença,	da	extinção	
da	execução	(art.	794	do	CPC)]	em	comparação	com	o	item	90.442	[Execuções	extintas	por	
aplicação	da	prescrição	intercorrente].	Quanto	ao	período	da	pesquisa,	tendo	em	vista	que	a	
alimentação	do	item	estatístico	90.442	(prescrição	intercorrente),	somente	foi	disponibilizada	
no	PJe	Trabalhista	 em	meados	 de	 janeiro	 de	 2020,	 fez-se	 necessário	 considerar	 a	 data	 de	
1/1/2020	como	marco	inicial	das	comparações,	impossibilitando	comparações	anteriores.
	 Da	coleta,	extrai-se	que	a	utilização	do	uso	da	prescrição	intercorrente	nos	Tribunais	do	
Trabalho,	durante	o	período	de	01/01/2020	a	31/01/2023,	conforme	quadro	abaixo,	sinaliza	uma	
alta	discrepância	e	uma	despadronização	da	utilização	dessa	forma	de	extinção,	existindo	desde	
o	percentual	de	3,71%,	encontrado	no	TRT15,	quanto	um	percentual	de	21,97%	registrado	no	
TRT23.	Esses	números	constatam	uma	média	de	13,1%	de	média	de	utilização	nacional,	bem	
como	um	valor	de	mediana	de	13,18%.
Prescrição	(90.442) Total	(90.093) %
TRT1 21482 169930 12,64%
TRT2 56685 412891 13,73%
TRT3 39021 190749 20,46%
TRT4 13379 147693 9,06%
TRT5 11617 111426 10,43%
TRT6 11196 123218 9,09%
TRT7 14696 69038 21,29%
TRT8 9897 56721 17,45%
TRT9 24985 142941 17,48%
TRT10 10433 56387 18,50%
TRT11 2011 25432 7,91%
TRT12 7955 66229 12,01%
TRT13 6672 38850 17,17%
TRT14 3479 32426 10,73%
TRT15 8009 215743 3,71%
TRT16 7856 54468 14,42%
TRT17 6418 44712 14,35%
TRT18 11176 62278 17,95%
TRT19 2253 25860 8,71%
https://egestao.tst.jus.br/BOE/BI
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202438
TRT20 3327 26520 12,55%
TRT21 2703 35164 7,69%
TRT22 3077 44466 6,92%
TRT23 8254 37568 21,97%
TRT24 5094 35502 14,35%
Total 291675 2226212 13,10%
Fonte:	Relatório	D.03	disponível	em	https://novoegestao.tst.jus.br
	 Desta	mesma	pesquisa,	quando	totalizada	a	quantidade	de	prescrições	intercorrentes	em	
relação	ao	total	de	extinções	das	execuções,	conforme	quadro	abaixo,	percebe-se	que,	quanto	
ao	uso	da	prescrição	intercorrente,	como	meio	de	extinção	da	execução	na	Justiça	do	Trabalho,	
nota-se	um	crescente	aumento,	tendo	um	incremento	global	de	7,63%	em	2020	para	18,21%	em	
2022.
JUSTIÇA	DO	TRABALHO	-	Classificação	da	sentença	de	extinção	da	execução	por	
aplicação	da	prescrição	intercorrente
Ano Prescrição	(90.442) Total	(90.093) %
2020 53.788 705.155 7.63%
2021 90.288 699.856 12.90%
2022 138.036 757.612 18.21%
Fonte:	Relatório	D.03	disponível	em	https://novoegestao.tst.jus.br
	 Ressalta-se	que,	diante	da	 facilidade	de	acesso	à	coleta	de	dados	dos	pesquisadores,	
restringiu-se	a	coleta	de	dados	por	unidade	judiciária	ao	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	21ª	
Região	-	TRT21,	local	de	exercício	funcional	dos	mesmos.	A	partir	desse	filtro	de	pesquisa	e,	
conforme	dados	a	seguir,	percebe-se	que	quanto	ao	uso	da	prescrição	intercorrente	como	meio	
de	extinção	da	execução	Trabalhista	especificamente	no	TRT21,	há	também	uma	curva	de	uso	
crescente,	notadamente	mais	acentuada,	tendo	um	incremento	de	3,26%	em	2020	para	12,11%	
em	2022.	Ressaltando-se	que	nos	3	(três)	anos	pesquisados,	o	uso	da	prescrição	intercorrente	
no	TRT21	foi	sempre	inferior	à	média	nacional.
	 Ressalta-se	que	para	buscar	as	razões	para	menor	ou	maior	utilização	tanto	internamente	
em	cada	unidade	judiciária	como	em	cada	um	dos	TRT’s	faz-se	necessário	pesquisa	qualitativa	
que	não	está	inserida	no	escopo	deste	artigo,	mas	que	pode	e	deve	ser	estudado	em	pesquisas	
posteriores.
https://novoegestao.tst.jus.br/
https://novoegestao.tst.jus.br/
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 39
TRT21	-	Classificação	da	sentença	de	extinção	da	execução	por	aplicação	da	prescrição	
intercorrente
ano prescrição	(90.442) Total	(90.093) %
2020 399 12.2573,26%
2021 574 9.889 5,80%
2022 1.621 13.385 12,11%
Fonte:	Relatório	D.03	disponível	em	https://novoegestao.tst.jus.br
	 Embora	 perceba-se	 esse	 crescimento,	 pelo	 quadro	 abaixo	 nota-se	 que	 ainda	 não	 há	
uniformidade	quanto	ao	uso,	entre	01/01/2020	a	31/01/2023,	do	instituto	da	referida	prescrição	
nas	 unidades	 judiciárias	 do	 TRT21,	 existindo	 unidades	 judiciárias	 bem	 díspares	 quanto	 a	
utilização,	a	exemplo	da	VT	de	Assu/RN,	com	0,24%	e	a	9ª	VT	de	Natal/RN,	com	22,71%	de	
uso	da	prescrição	intercorrente,	estando	ambas	com	alto	desvio	da	média	estadual,	que	foi	de	
7,29%,	e	da	mediana	do	TRT21,	que	foi	de	7,83%.
Período	01/01/2020	a	31/01/2023	VTs Prescrição	(90.442) Total	(90.093) %
1ª VT NATAL 60 1.332 4,50%
2ª VT NATAL 255 2.822 9,04%
3ª	VT	NATAL 54 2.332 2,32%
4ª VT NATAL 32 1.446 2,21%
5ª	VT	NATAL 132 1.209 10,92%
6ª VT NATAL 81 1.832 4,42%
7ª VT NATAL 273 1.685 16,20%
8ª	VT	NATAL 51 1.275 4,00%
9ª	VT	NATAL 263 1.158 22,71%
10ª VT NATAL 179 1.640 10,91%
11ª VT NATAL 161 1.688 9,54%
12ª VT NATAL 81 941 8,61%
https://novoegestao.tst.jus.br/
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202440
13ª	VT	NATAL 17 969 1,75%
1ª VT MOSSORÓ 11 1.456 0,76%
2ª VT MOSSORÓ 115 1.643 7,06%
3ª	VT	MOSSORÓ 115 1.806 6,37%
4ª VT MOSSORÓ 60 1.332 4,50%
VT ASSU 3 1.249 0,24%
VT CAICÓ 72 692 10,40%
VT CEARÁ-MIRIM 142 1.284 11.06%
VT CURRAIS NOVOS 78 820 9,51%
VT GOIANINHA 233 2.649 8,80%
VT MACAU 122 2.315 5,27%
Total 2.594 35.590 7,29%
Fonte:	Relatório	D.03	disponível	em	https://novoegestao.tst.jus.br
	 Nota-se	que	em	 todos	os	dados	coletados	há	disparidade	na	quantificação	do	uso	da	
prescrição	 intercorrente	 no	 mesmo	 período	 temporal.	 Para	 entender	 essa	 divergência	 seria	
necessário	pesquisa	qualitativa	para	coletar	junto	a	magistratura	trabalhista	o	entendimento	de	
cada	magistrado	sobre	o	uso	dessa	forma	de	extinção.
	 Outra	 possibilidade	 que	 pode	 ser	 estudada	 é	 verificar,	 através	 de	 ferramenta	 de	
Inteligência	 Artificial,	 a	 corretude	 entre	 o	 que	 está	 decidido	 na	 sentença	 de	 extinção	 e	 a	
informação	estatística	a	ela	relacionada,	a	fim	de	identificar	se	há	incorretude	na	alimentação	
dos	dados	da	extinção	da	execução.
5. CONCLUSÃO
	 Fonte	 de	 divergências	 passadas,	 com	 súmulas	 destoantes	 entre	 STF	 (327,	 de	 13	 de	
dezembro	de	1963)	e	TST	(114,	de	3	de	novembro	de	1980),	e	atuais,	mesmo	com	a	reforma	
trabalhista	(Lei	nº	13.467/2017),	notadamente	quanto	a	critérios	em	contraponto	ao	princípio	
de	impulso	oficial	do	juiz	ao	processo	(artigo	765	e	878	CLT),	a	prescrição	intercorrente	passa	
a	ter	utilização	crescente	na	Justiça	do	Trabalho,	conforme	evidenciada	pela	coleta	dos	dados	
exposta	acima.
	 Entretanto,	não	há	como	deixar	de	associar	a	discrepância	de	utilização	desta	forma	de	
extinção	de	execução,	tanto	quanto	comparados	os	TRT’s	nos	últimos	três	anos	como	no	caso	
específico	das	unidades	 judiciárias	do	TRT21	no	mesmo	período,	às	críticas	da	forma	como	
a	inclusão	da	prescrição	intercorrente	na	esfera	trabalhista,	por	meio	da	Lei	conhecida	como	
reforma	foi	apressada,	açodada,	bem	como	a	recomendação	TST	nº	3/2018,	que	em	contraponto,	
enumerou	procedimentos	que	devem	ser	observados	em	relação	à	prescrição	intercorrente.
https://novoegestao.tst.jus.br/
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 41
	 Em	síntese,	sem	adentrar	na	análise	quanto	à	justiça	ou	equidade	da	utilização	de	um	
instituto	que	extingue	um	processo	por	inércia	da	parte,	visando	garantir	a	duração	razoável	
do	 processo	 (CF/88,	 artigo	 5º,	 inciso	LXXVIII)	 em	contraponto	 ao	 princípio	 constitucional	
do	Acesso	à	justiça	(que	abrange	que	seus	direitos	e	garantias	sejam	efetivamente	observados)	
conclui-se	 que	 é	 crescente	 a	 utilização	 da	 prescrição	 intercorrente,	 o	 que	 pode	 refletir	 na	
diminuição	 da	 efetividade	 da	 plena	 execução	Trabalhista,	 aliada	 à	 impossibilidade	 de	 novo	
acesso	à	justiça	para	pleitear	mesmos	direitos	não	efetivados.
	 Ressalta-se,	entretanto,	que	devido	às	divergências	doutrinárias	e	jurisprudenciais,	não	
parece	 razoável	que,	para	fins	estatísticos,	o	aumento	da	utilização	dessa	 forma	de	extinção	
da	execução	seja	medido	como	mesmo	peso	de	desempenho,	nem	tampouco	como	um	fator	
de	eficiência,	sendo,	em	princípio,	um	indicador	que	não	deveria	ser	contabilizado	de	forma	
equivalente,	ou	seja,	que	seja	posto	em	reflexão	a	possibilidade	de	medição	com	peso	inferior,	
devido	às	ressalvas	inerentes,	sendo	em	contrário,	privilegiadas	com	pesos	maiores	às	demais	
formas	de	extinção	da	execução,	associadas	diretamente	a	efetividade	da	execução	trabalhista.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017.	(2017).	Altera	a	Consolidação	das	Leis	do	
Trabalho	(CLT),	aprovada	pelo	Decreto-Lei	nº	5.452,	de	1º	de	maio	de	1943,	e	as	Leis	n	º	
6.019,	de	3	de	janeiro	de	1974,	8.036,	de	11	de	maio	de	1990,	e	8.212,	de	24	de	julho	de	1991,	
a	fim	de	adequar	a	legislação	às	novas	relações	de	trabalho.	Disponível	em:	https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm.	Acesso	em:	13	mai.	2023.
BRASIL. Constituição de 1988, promulgada em 5 de outubro de 1988.	(1988).	
Constituição	da	República	Federativa	do	Brasil:	Disponível	em:	https://www2.camara.leg.br/
legin/fed/consti/1988/constituicao-1988-5-outubro-1988-322142-publicacaooriginal-1-pl.html	
Acesso	em:
12	mai.	2023.
BRASIL.	Tribunal	Superior	do	Trabalho.	(2023).	Decisão no Recurso de Revista nº 1760-
25.2011.5.03.0087,	julgado	em	17	de	maio	de	2023.	Disponível	em:
https://jurisprudencia-backend2.tst.jus.br/rest/
documentos/83dc9ae4ede9072f534a01186d69fc2b.	Acesso	em:	20	mai.	2023.
BRASIL.	Tribunal	Superior	do	Trabalho.	Resolução	n.	221,	de	21	de	junho	de	2018	[Instrução	
Normativa	n.	41].	Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho:	caderno	judiciário	do	Tribunal	
Superior	do	Trabalho,	Brasília,	DF,	n.	2503,	p.	38-40,	25	jun,	2018.	
BRITO,	Cristiano	Gomes	de.	A	incidência	da	prescrição	intercorrente	no	processo	de	
execução.	Revista de Informação Legislativa,	Brasília,	v.	59,	v.	233,	p.	179-200,	2022.	
Disponível	em:	https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/59/233/ril_v59_n233_p179.pdf.	
Acesso	em:	20	mai.	2023.
CHAVES,	Luciano	Athayde.	Curso de Processo do Trabalho.	São	Paulo:	LTr,	2012.	
CHAVES,	Daniela	Lustoza	Marques	de	Souza;	CHAVES,	Luciano	Athayde.	(2017).
Aspectos gerais da reforma da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT (Lei nº 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1988/constituicao-1988-5-outubro-1988-322142-publicacaooriginal-1-pl.html
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1988/constituicao-1988-5-outubro-1988-322142-publicacaooriginal-1-pl.html
https://jurisprudencia-backend2.tst.jus.br/rest/documentos/83dc9ae4ede9072f534a01186d69fc2b
https://jurisprudencia-backend2.tst.jus.br/rest/documentos/83dc9ae4ede9072f534a01186d69fc2b
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/59/233/ril_v59_n233_p179.pdf
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202442
13.467/2017) no processo de execução na Justiça do Trabalho. In:	FELICIANO,	Guilherme	
Guimarães;	TREVISO,	Marco	Aurélio;	FONTES,	Saulo	Tarcísio	de	Carvalho.	Reforma	
trabalhista:	visão,	compreensão	e	crítica.	São	Paulo:	LTr,	p.	257-262.
GIL,	Antonio	Carlos.	Métodos e técnicas de pesquisa social.	São	Paulo:	Atlas,	2008.
MARINHO,	Treicy	Martins.	A	prescrição	intercorrente	na	esfera	trabalhista	e	sua	
releitura	em	face	das	recentes	mudanças.	Revista do Tribunal Regional da 10ª 
Região,	Brasília,	v.	22,	n.	2,	2018.	Disponível	em:	https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/
handle/20.500.12178/153990/2018_marinho_treicy_pres	cricao_intercorrente.
pdf?sequence=1&isAllowed=y.	Acesso	em:	20	mai.	2023.
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional.	7	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	
2012.
MIESSA,	Élisson.	Prescrição intercorrenteno processo do trabalho após a Lei n. 
13.467/2017.	Revista	Ltr:	legislação	do	trabalho,	São	Paulo,	SP,	v.	81,	n.	9,	p.	1111-1120,	set.	
2017.
OST,	François.	O tempo do direito.	Lisboa:	Piaget,	1999.
PINHEIRO,	Orlando	Augusto	Barbosa.	Prescrição intercorrente no processo do trabalho: 
uma	análise	crítica	do	entendimento	adotado	pela	reforma	trabalhista.	2018.	52	f.	Monografia	
(Graduação	 em	Direito)	 -	 Faculdade	 de	Direito,	Universidade	 Federal	 do	Ceará,	 Fortaleza,	
2018.
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado.	São	Paulo:	Método,	2011.
SCHIAVI,	Mauro.	Execução no processo do trabalho:	de	acordo	com	o	novo	CPC.
(9a	ed.).	São	Paulo:	LTR,	2017.
SILVA,	Homero	Batista	Mateus	da.	Comentários à Reforma Trabalhista.	São	Paulo:	
Editora	Revistas	dos	Tribunais,	2017.	
SERRA,	Márcia	Milena	Pivatto.	Como	utilizar	elementos	da	estatística	descritiva	na	
jurimetria.	Revista Eletrônica do Curso de Direito das Faculdades OPET.	Curitiba	PR	
Brasil.	Ano	IV,	nº	10,	jun	/dez	2013.
SOARES,	Flaviana	Rampazzo.	Dos	requisitos	ao	reconhecimento	da	prescrição
intercorrente	no	novo	CPC	–	Comentários	ao	recurso	especial	n.°	1589.753/PR.	Revista da 
AJURIS,	Porto	Alegre,	v.	43,	n.140,	p.	399/417,	jun.	2016,	p.	403.
TARTUCE,	Flávio.	Direito civil 1:	Lei	de	introdução	e	parte	geral.	11	ed.	Rev.	São	Paulo:	
Método,	2015.
TUCCI, J. R. C. e. Tempo e processo:	uma	análise	empírica	das	repercussões	do	tempo	na	
fenomenologia	processual	:	civil	e	penal.	São	Paulo:	Ed.	Revista	dos	Tribunais,	1997.
VENOSA,	Sílvio	de	Salvo.	Direito civil:	parte	geral.	(21a	ed.).	São	Paulo:	Atlas,	2021.
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/153990/2018_marinho_treicy_prescricao_intercorrente.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/153990/2018_marinho_treicy_prescricao_intercorrente.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/153990/2018_marinho_treicy_prescricao_intercorrente.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/153990/2018_marinho_treicy_prescricao_intercorrente.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/153990/2018_marinho_treicy_prescricao_intercorrente.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/153990/2018_marinho_treicy_prescricao_intercorrente.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 43
SOCIEDADE E ESTADO EM REDE: O DIÁLOGO NECESSÁRIO ENTRE AS PROVAS 
DIGITAIS E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA JUSTIÇA DO TRABALHO NO 
BRASIL
NETWORKED SOCIETY AND STATE:	THE	NECESSARY	DIALOGUE	BETWEEN	
DIGITAL EVIDENCE AND FUNDAMENTAL RIGHTS IN LABOR JUSTICE IN BRAZIL
Luciano Athayde Chaves1
Maria Fernanda de Araújo Duda2
RESUMO
O	artigo	examina	a	presença	das	provas	digitais,	no	âmbito	do	processo	trabalhista	brasileiro,	
e	objetiva	explorar	como	a	sua	utilização	pode	ser	devidamente	empregada,	com	ênfase	nos	
requisitos	 de	 validade	 da	 prova	 digital,	 enquanto	 documento	 eletrônico	 e	 na	 consonância	
dessas	com	os	demais	direitos	fundamentais	aplicáveis	ao	processo,	como	os	de	personalidade,	
intimidade	e	proteção	de	dados	pessoais.	Com	base	em	uma	pesquisa	bibliográfica	e	descritiva,	
o	 estudo	 analisa	 a	 teoria	 da	 sociedade	 em	 rede,	 desenvolvida	 por	 Manuel	 Castells,	 e	 as	
consequências	advindas	dessa	nova	conjuntura,	sobretudo	no	que	tange	à	remodelação	do	papel	
do	Estado	e	do	Poder	Judiciário,	os	quais	têm	procurado	se	adaptar	diante	das	transformações	
socioeconômicas	decorrentes	da	rápida	incorporação	das	tecnologias	da	informação	em	todos	
os	 campos	 da	 vida	 e	 em	 vários	 processos	 organizacionais,	 públicos	 e	 privados.	Assim,	 na	
medida	em	que	a	instrumentalização	tecnológica	da	sociedade	foi	sendo	expandida,	o	registro	
dos	 fatos,	 por	meio	desses	 instrumentos,	 tornou-se	progressivamente	mais	 comum,	gerando	
uma	 ruptura	 do	 paradigma	 probatório	 que	 constituía	 o	 processo	 judicial,	 em	 especial	 o	 do	
trabalho,	que	passou	a	acolher	as	provas	digitais.	Buscando	aprofundar	a	compreensão	de	como	
esses	mecanismos	 podem	 ser	 utilizados	 para	 proporcionar	 uma	maior	 eficácia	 ao	 processo,	
por	atenderem	a	uma	sociedade	cada	vez	mais	conectada,	uma	sociedade	em	rede,	foi	possível	
observar	que	essa	eficiência	só	pode	ser	obtida	quando	assegurados	à	prova	digital	os	requisitos	
de	sua	autenticidade	e	integridade,	bem	como	a	devida	proporcionalidade	e	razoabilidade	com	
os	demais	direitos	fundamentais	que	envolvem	os	processos	judiciais,	como	o	direito	à	proteção	
da	privacidade,	da	intimidade	e	da	proteção	de	dados	pessoais.
Palavras-chave:	provas	digitais;	direitos	 fundamentais;	processo	do	 trabalho;	sociedade	em	
rede.
ABSTRACT
The	 article	 examines	 the	 presence	 of	 digital	 evidence,	 within	 the	 scope	 of	 the	 Brazilian	
labor	process,	and	aims	to	explore	how	its	use	can	be	properly	employed,	with	an	emphasis	
on	 the	validity	 requirements	of	 the	digital	evidence,	as	an	electronic	document	and	on	 their	
consistency	with	other	fundamental	rights	applicable	to	the	process,	such	as	personality,	privacy	
and	protection	of	personal	data.	Based	on	a	bibliographic	and	descriptive	research,	the	study	
analyzes	the	theory	of	the	network	society,	developed	by	Manuel	Castells,	and	the	consequences	
arising	 from	 this	 new	 situation,	 especially	with	 regard	 to	 the	 remodeling	 of	 the	 role	 of	 the	
1	Doutor	em	Direito	Constitucional.	Professor	da	Graduação	e	do	Programa	de	Pós-	Graduação	Stricto Sensu em 
Direito	da	Universidade	Federal	do	Rio	Grande	do	Norte.	Magistrado	do	Trabalho.
2	Graduanda	em	Direito	pela	Universidade	Federal	do	Rio	Grande	do	Norte	(UFRN).
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202444
State	and	the	Judiciary,	which	have	sought	to	adapt	to	socioeconomic	transformations	resulting	
from	 the	 rapid	 incorporation	 of	 information	 technologies	 in	 all	 areas	 of	 life	 and	 in	 various	
organizational,	public	and	private	processes.	Thus,	as	the	technological	instrumentalization	of	
society	was	expanded,	the	recording	of	facts,	through	these	instruments,	became	progressively	
more	 common,	 generating	 a	 break	 in	 the	 evidentiary	 paradigm	 that	 constituted	 the	 judicial	
process,	especially	the	labor	one,	which	started	to	host	the	digital	evidence.	Seeking	to	deepen	
the	understanding	of	how	 these	mechanisms	can	be	used	 to	provide	greater	effectiveness	 to	
the	process,	as	they	serve	an	increasingly	connected	society,	a	network	society,	it	was	possible	
to	 observe	 that	 this	 efficiency	 can	 only	 be	 obtained	when	 ensuring	 the	 digital	 proof	 of	 the	
requirements	of	its	authenticity	and	integrity,	as	well	as	due	proportionality	and	reasonableness	
with	the	other	fundamental	rights	involving	legal	proceedings,	such	as	the	right	to	protection	of	
privacy,	intimacy	and	protection	of	personal	data.
Keywords: digital	evidence;	fundamental	rights;	work	process;	network	society.
A	internet	é	o	tecido	de	nossas	vidas.	Se	a	tecnologia	da	informação	é	hoje	o	que	a	
eletricidade	foi	na	Era	Industrial,	em	nossa	época	a	internet	poderia	ser	equiparada	
tanto	a	uma	rede	elétrica	quanto	ao	motor	elétrico,	em	razão	de	sua	capacidade	de	
distribuir	a	força	da	informação	por	todo	o	domínio	da	atividade	humana.
Manuel	Castells	(2003,	p.	7)
“A	tecnologia	não	é	antropologicamente	universal;	seu	funcionamento	é	assegurado	
e	 limitado	 por	 cosmologias	 particulares	 que	 vão	 além	 da	 mera	 funcionalidade	
e	 da	 utilidade.	Assim,	 não	 há	 uma	 tecnologia	 única,	 mas	 uma	 multiplicidade	 de	
cosmotécnicas”.
Yuk	Hui	(2020,	p.	25)
1. INTRODUÇÃO
	 A	sociedade	contemporânea	é	marcada	pela	crescente	inserção	da	tecnologia	nas	práticas	
habituais,	sendo	diversas	as	atividades	realizadas	pelo	ser	humano	que	passaram	a	ser	feitas	
através	de	novas	ferramentas	tecnológicas.	Essa	maleabilidade	de	condutas	atende	aoconceito	
da	modernidade	 líquida	 defendido	 por	Bauman	 (2001),	 que	 diz	 respeito	 a	 uma	 nova	 época	
na	qual	as	relações	sociais,	econômicas	e	de	produção	são	ágeis,	fugazes	e	estão	sempre	em	
transformação.	O	conceito	opõe-se	ao	da	modernidade	sólida,	que,	por	sua	vez,	caracteriza-se	
pela	rigidez	e	durabilidade	dessas	mesmas	relações.	
	 Nesse	cenário	de	rápidas	mudanças,	onde	os	acontecimentos	globais	se	aceleram	dia	
após	dia,	presenciamos	o	fenômeno	da	“compressão	espaço-tempo”	(Harvey,	1999),	relacionado	
a	uma	globalização	que	acelera	os	processos	humanos,	de	forma	que	as	distâncias	se	encurtam	
na	medida	em	que	os	meios	de	comunicação	e	de	 transporte	evoluem.	Mais	que	 isso,	esses	
fenômenos	 hoje	 precisam	 também	 ser	 compreendidos	 a	 partir	 da	 incorporação	 das	 novas	
tecnologias,	em	especial	aquelas	alusivas	à	comunicação	e	informação	(TIC),	que	emprestaram	
a	 esse	 processo	 de	 mundialização	 novas	 características,	 que	 implicam	 grandes	 desafios	
analíticos	e	compreensivos,	uma	vez	que	essas	mudanças	estão	apoiadas	em	fluxos	de	dados	e	
informações	muito	velozes,	que	capturam	a	ideia	de	tempo,	emprestando	à	instantaneidade	um	
traço	de	normalidade	em	uma	sociedade	amplamente	conectada.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 45
	 Essa	 conjuntura	 atinge,	 de	 forma	 transversal,	 todas	 as	 áreas	 de	 produção	 e	 do	
conhecimento,	ainda	que,	como	acentua	Castells	(1999)	e	Hui	(2020),	cuidem-se	de	fenômenos	
que	 se	 manifestam	 de	 forma	 bastante	 irregular	 pelo	 Globo,	 assumindo	 “cosmo	 técnicas”	
diferentes	em	cada	lugar,	com	ampla	dependência	do	papel	que	eventualmente	assume	o	Estado	
e	 outros	 atores	 sociais	 importantes,	mas	 com	 grande	 poder	 de	 penetrabilidade	 em	 todas	 as	
partes.
	 No	 campo	 do	 direito,	 essas	 transformações	 têm	 demandado	 a	 criação	 de	 uma	 nova	
realidade	jurídica,	assim	compreendida	na	forma	de	variados	conjuntos	de	textos	normativos	de	
controle	e	regulação	social	(Nader,	2003,	p.	76),	mesmo	porque	-	como	expressa	o	conhecido	
brocardo	jurídico	-	onde	está	a	sociedade	há	de	estar	o	direito,	com	suas	regras	e	seus	meios	de	
emprestar	validade	a	comportamentos	e	de	dar	procedimentalidade	e	autoridade	à	resolução	de	
conflitos.	Logo,	acompanhar	a	reestruturação	social	é	um	desafio	que	se	coloca	ao	profissional	
e	intérprete	dessa	área,	haja	vista	a	complexidade	da	revolução	tecnológica	ensejar	novos	tipos	
de	organizações,	como	administrativas,	financeiras	e	trabalhistas.
	 No	 tocante	à	esfera	processual,	 a	 internet fundou	uma	nova	principiologia	orientada	
pelo	princípio	da	conexão,	que	rompe	a	separação	rígida	entre	o	mundo	do	processo	judicial	
e	o	das	relações	sociais.	Com	a	inserção	dos	autos	no	meio	eletrônico,	o	processo	deixa	de	ser	
linear,	materializado	em	folhas	de	papel,	ou	mesmo	simplesmente	digitalizado	para	uma	forma	
eletrônica,	e	passa	a	estar	em	rede.	Por	conseguinte,	novos	dados	e	novas	formas	de	transmitir	
informações	para	o	ambiente	processual	sobrevivem,	como	é	o	caso	das	provas	digitais.	Com	a	
transferência	crescente	das	relações	para	o	ambiente	virtual,	o	registro	dos	fatos,	por	exemplo,	
encontra	amparo	cada	vez	maior	nos	suportes	eletrônicos,	o	que	gera	uma	gradual	ruptura	do	
paradigma	probatório	anterior.
	 Partindo	desse	panorama,	o	presente	trabalho	tem	por	objetivo	estudar	alguns	aspectos	
relevantes	do	uso	e	da	produção	das	provas	digitais	no	âmbito	do	processo	trabalhista	e	analisar	
como	 esses	 instrumentos,	 quando	 utilizados	 em	 consonância	 com	os	 direitos	 fundamentais,	
podem	proporcionar	uma	maior	eficácia	ao	processo,	já	que	atendem	a	uma	sociedade	cada	vez	
mais	conectada.	Para	alcançar	tais	propósitos,	será	utilizado	o	método	de	abordagem	descritivo	
(Gil,	2008),	com	aplicação	dos	instrumentos	de	investigação	bibliográfica	e	documental,	esta	
última	não	se	resumindo	à	legislação	trabalhista	e	comum,	mas	também	às	decisões	de	tribunais	
brasileiros,	estas	tomadas	como	fontes	de	evidência	do	objeto	de	investigação.
	 O	tema	abordado	mostra	relevância	analítica,	dentre	outros	fatores,	em	razão	da	crescente	
inserção	das	relações	sociais	no	cenário	tecnológico,	e	pela	forma	como	essa	mudança	atingiu	as	
mais	diversas	organizações,	até	mesmo	o	próprio	Estado.	A	partir	dessa	nova	estrutura,	muitas	
outras	possibilidades	de	se	alcançar	maior	grau	de	certeza	dentro	do	processo	judicial	foram	
descobertas,	o	que	suscita	a	necessidade	de	entender	como	esses	novos	mecanismos	devem	ser	
utilizados.
	 Deste	modo,	 a	 fim	 de	 se	 atingir	 o	 itinerário	 traçado	 na	 investigação,	 será	 estudada,	
inicialmente,	a	teoria	da	sociedade	em	rede,	de	Manuel	Castells,	que	se	refere	a	uma	nova	forma	
de	organização	social	e	produtiva,	onde	as	relações	interpessoais	e	a	cultura	passam	a	ocorrer	
em	um	novo	espaço,	estruturado	em	redes	de	informação.	Neste	prisma,	será	analisado	também	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202446
como	o	Estado,	e,	em	particular,	o	Poder	Judiciário,	vem	se	ajustando	a	essas	mudanças,	tanto	
no	 que	 se	 refere	 à	 adoção	 de	 ferramentas	 tecnológicas	 para	 instrumentalizar-se	 em	meio	 à	
globalização,	quanto	à	regulamentação	desses	instrumentos.
	 Posteriormente,	explora-se	o	conceito	de	provas	digitais	e	de	documento	eletrônico,	a	
sua	natureza	jurídica	e	as	bases	legais	que	as	disciplinam,	em	especial	no	contexto	da	ordem	
jurídica	brasileira.	Além	disso,	serão	analisados	também	os	requisitos	de	validade	e	os	critérios	
para	a	admissão	dessas	no	curso	do	processo,	haja	vista	a	sua	aplicabilidade	não	ser	irrestrita	
e	 precisar	 necessariamente	 dialogar	 com	 os	 direitos	 fundamentais	 aplicáveis	 ao	 campo	 do	
Direito	e	do	processo,	além	de	possuir	os	requisitos	necessários	para	atestar	sua	veracidade	e	
confiabilidade.
	 Na	sequência,	será	estudada	a	inserção	das	ferramentas	digitais	na	seara	trabalhista	e	
como	esses	mecanismos	podem	ser	úteis	à	prestação	jurisdicional.	Para	tanto,	serão	explorados	
alguns	 recursos	utilizados	na	produção	das	provas	digitais,	como	a	geolocalização,	as	 redes	
sociais	e	as	gravações	telefônicas,	a	fim	de	compreender	como	estes	podem	auxiliar	não	apenas	
o	trabalho	do	julgador	e	dos	causídicos,	mas	também	a	investigação	no	ambiente	forense.	Ao	
final,	serão	apresentadas	algumas	notas	conclusivas.
2. A SOCIEDADE E O ESTADO EM REDE
	 A	 palavra	 rede	 deriva	 do	 latim	 redis, que	 quer	 dizer	 trama	 ou	 conjunto	 de	 fios	
entrelaçados.	Qualquer	fenômeno	que	manifeste	a	ocorrência	de	interligação	de	seus	membros	
pode	 ser	 chamado	de	 rede,	 e	 essa	 complexidade	 se	 verifica	não	 somente	no	mundo	digital,	
mas	também	no	metabolismo	celular,	nas	estruturas	cerebrais,	na	economia,	na	política,	e	em	
tantos	outros	tipos	de	articulação	entre	indivíduos,	organizações,	cidades	ou	países.	Por	essa	
razão,	Habermas	 (2001,	 p.	 84)	 afirma	que	o	vocábulo	 “rede”	 se	 tornou	uma	palavra-chave,	
podendo	abranger	desde	vias	de	transporte	para	bens	e	pessoas	até	o	processamento	eletrônico	
de	informações.
	 Por	seu	turno,	o	uso	desse	conceito	no	estudo	de	fenômenos	sociais	já	ocorre	há	bastante	
tempo.	Para	a	psicologia	e	a	antropologia,	por	exemplo,	o	termo	vem	sendo	aplicado	há	muito	
como	 instrumento	 de	 análise	 das	 relações	 construídas	 pelos	 indivíduos,	 estruturadas	 por	
inúmeras	redes	de	relacionamento	pessoal	e	organizacional	de	diversas	áreas	(Marques,	1999,	
p.	5).	Da	compreensão	desses	campos	de	estudo,	é	possível	aferir	as	particularidades	de	um	
determinado	sistema	social,	como	os	principais	atores	que	o	sustentam,	os	grupos	incluídos	e	
excluídos,	os	fatores	de	conectividade	e	as	naturezas	das	múltiplas	interações	(Scherer-Warren,	
1997,	p.	27).
	 Para	 Castells	 (1999,	 p.	 499),	 rede	 é	 um	 conjunto	 de	 nós	 conectados	 que	 podem	 se	
expandir	de	forma	ilimitada,	integrando	novos	nós,	desde	que	consigam	se	comunicar	utilizando	
os	mesmos	códigos.	Esse	autor	foi	o	responsável	por	criar	o	conceito	de	“sociedade	em	rede”,amplamente	 utilizado	 em	 diversos	 campos	 do	 conhecimento,	 como	 a	 sociologia,	 filosofia,	
informática	e	direito.	Segundo	ele,	com	a	evolução	 tecnológica,	que	marcou	o	 início	da	era	
da	informação,	houve	uma	reconfiguração	social	que	alterou,	por	si	só,	as	dinâmicas	de	poder,	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 47
economia	e	cultura	antes	existentes.
	 Sob	 esta	 ótica,	 a	 revolução	 vivenciada	 nas	 últimas	 décadas	 caracteriza-se	 por	 uma	
penetrabilidade,	 ou	 seja,	 por	 sua	 penetração	 em	 todos	 os	 domínios	 da	 atividade	 humana,	
como	o	 tecido	em	que	essa	atividade	é	exercida.	E	é	 justamente	por	essa	característica	que,	
embora	a	forma	de	organização	social	em	redes	tenha	existido	em	outros	tempos	e	espaços,	é	
na	contemporaneidade	que	se	intensifica,	uma	vez	que	possui	base	material	para	expandir-se	
de	forma	profunda	em	toda	a	estrutura	social	(Castells,	1999,	p.	24).	Essa	expansão	é	criada	
mediante	uma	linguagem	digital	comum,	na	qual	a	informação	é	gerada,	armazenada,	processada	
e	transmitida.
	 Em	vista	disso,	a	transformação	ocasionada	pela	tecnologia	não	se	restringe	às	formas	
de	produção,	tampouco	às	relações	sociais,	pois	afeta	toda	a	cultura	e	a	dinâmica	do	poder	em	
uma	coletividade.	O	que	antes	era	exposto	por	meio	de	fontes	históricas	e	geográficas,	passa	
a	 ser	 feito	pelas	 redes	de	 comunicação	 eletrônica,	 que	 criam	uma	diversidade	de	 códigos	 e	
valores.	Com	a	informação	circulando	predominantemente	neste	novo	espaço,	Castells	(1999,	
p.	572)	adverte	que	o	Estado	precisa	se	adaptar	a	essas	novas	dimensões,	que	não	são	mais	fixas	
e	estanques,	ao	contrário,	reduzem-se	ou	ampliam-se	no	ritmo	dos	fluxos	de	comunicação.
	 Por	conseguinte,	tal	conjuntura	remodela	o	antigo	papel	que	os	entes	estatais	possuíam	
no	 contexto	 das	 sociedades,	 a	 exemplo	 daquele	 existente	 nos	 primórdios	 do	 capitalismo	
industrial,	constituído,	em	suma,	pelas	classes	burguesa	e	operária,	no	qual	o	Estado	detinha	
exclusivamente	a	função	de	garantir	os	contratos	de	trabalho	e	de	comércio.	Para	além	deste,	o	
modelo	seguido	pelas	oligarquias	e	trabalhadores	rurais	também	difere-se	bastante,	já	que,	nesse	
período,	o	ente	em	tela	fora	protagonista	do	desenvolvimento	industrial.	Em	contraste	a	essa	
realidade	conhecida	e	tradicional,	a	vasta	gama	de	atores	sociais	e	mecanismos	de	comunicação	
existentes	hoje	 sinaliza	para	a	 incompatibilidade	com	uma	estrutura	governamental	 rígida	e	
centralizada,	na	qual	os	processos	de	decisão	são	pouco	visíveis	e	controláveis	pelos	cidadãos.
	 Trata-se	de	um	novo	contexto	relacional,	no	qual	o	anterior	nexo	vertical	pautado	entre	
o	poder	público	e	o	povo,	baseado	na	regulação	e	subordinação,	é	confrontado.	Nesse	cenário,	
são	fomentadas	as	relações	horizontais	que	privilegiam	a	diversidade	e	o	diálogo,	o	que	altera	
significativamente	as	fronteiras	que	antes	separavam	esses	dois	setores	(Evans,	1996,	p.	1130).	
De	tal	forma,	fomenta-se	uma	forma	própria	ou	diferente	de	democracia,	uma	vez	que	o	acesso	
à	 justiça	 é	 impulsionado	 pelo	 novo	 papel	 que	 o	Estado	 possui	 em	 sociedade.	É	 a	 chamada	
“democracia	 digital”,	 que	 concebe	 a	 relação	Estado-sociedade	 a	 partir	 de	 um	novo	 prisma,	
passando,	na	perspectiva	off-line,	de	um	modelo	com	maior	preponderância	do	governo,	para	
uma	visão	online	em	que	a	sociedade	teria	maior	protagonismo	e	capacidade	de	influenciar	no	
ciclo	das	políticas	públicas	(Dias;	Sano;	Medeiros,	2019,	p.	23).
	 Portanto,	 enquanto	 na	 modernidade	 sólida	 o	 Estado	 possuía	 a	 habilidade	 de	 domar	
o	espaço	 -	pela	colonização	do	 território	 -	 e	o	 tempo,	pela	neutralização	do	 seu	dinamismo	
(Bauman,	2001,	p.	257),	na	conjuntura	atual	dos	fluxos	globais	de	dados	essa	característica	é	
superada,	tendo	em	vista	que	tais	fluxos	possuem	tempo	e	espaço	próprios:	o	instantâneo	e	o	
comprimido,	 respectivamente.	De	 tal	 forma,	conforme	defende	Van	Creveld	 (2004,	p.	540),	
o	desenvolvimento	do	Estado	está	intimamente	relacionado	à	ascensão	da	tecnologia,	dada	a	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202448
dependência	deste	quanto	aos	meios	de	produção	para	impor	o	seu	poder.
	 Nesse	panorama,	não	apenas	o	ente	estatal	em	si,	 como	 também	as	 instituições	e	os	
agentes	públicos	que	o	integram	encontram-se	permeados	pela	conjuntura	atual	da	sociedade	em	
rede3.	Seja	na	via	legislativa,	executiva	ou	judiciária,	o	fato	é	que	esses	setores	jamais	poderiam	
estar	alheios	à	transformação	social	que	vem	atrelada	ao	uso	dos	novos	recursos	tecnológicos,	
até	mesmo	porque	o	seu	próprio	funcionamento	é	otimizado	por	essa	realidade	digital.	Neste	
passo,	 no	 âmbito	 dos	 estudos	 de	 governança	 pública,	 fala-se	 na	 “maturidade	 digital”	 dos	
governos,	 como	 um	 relevante	 fator	 para	 garantir	 a	 continuidade	 de	 políticas	 públicas	 bem-
sucedidas,	estando	a	informatização	dos	procedimentos	públicos	inserida,	necessariamente,	no	
modelo	contemporâneo	de	adequada	governança.
	 No	 que	 diz	 respeito	 ao	 Poder	 Judiciário,	 este	 já	 mostra	 ter	 recepcionado	 diversas	
iniciativas	de	modernização	ao	 longo	dos	últimos	anos.	Como	apontam	Sousa	e	Guimarães	
(2014,	 p.	 321-344),	 as	 inovações	 voltadas	 para	 esse	 setor	 incluem	novos	métodos,	 arranjos	
estruturais	e	processos	de	trabalho	que	auxiliam	na	eficiência	da	prestação	jurisdicional.	Tais	
mudanças	surgem	desde	meados	dos	anos	90,	a	exemplo	do	primeiro	portal	virtual	lançado	pelo	
Superior	Tribunal	de	Justiça	(STJ),	em	1996,	que	posteriormente	contou	com	a	implementação	
de	um	sistema	automático	de	envio	de	publicações	(sistema	push),	em	1998.
	 Nos	 anos	 seguintes,	 as	 soluções	 tecnológicas	 foram	 surgindo	 de	 forma	 gradual	 e	
constante.	Em	2006,	a	informatização	dos	processos	judiciais	passou	a	ser	disciplinada	pela	Lei	
11.419/2006,	que	 implementou	o	Processo	Judicial	Eletrônico	 (PJe),	considerado	um	marco	
para	 a	 atual	 estrutura	processual	vivenciada	no	Brasil.	Esse	 sistema	 tornou-se	 elementar	no	
uso	 de	 novas	 tecnologias	 a	 serviço	 da	 eficiência	 jurisdicional,	 aprimorando	 a	 padronização	
de	 atos	 jurídicos	 e	 o	 acompanhamento	do	 trâmite	 processual.	 Para	 além	disso,	 transformou	
todo	o	paradigma	de	quem	vivenciava	o	processo	físico,	de	forma	a atingir,	vigorosamente,	o	
cotidiano	de	magistrados,	servidores,	advogados	e	partes,	estes	últimos	obtendo	um	acesso	à	
justiça	fortemente	mais	amplo	que	o	anterior,	haja	vista	a	obtenção	de	informações	online	se	dar	
de	maneira	muito	mais	simplificada	do	que	quando	se	depende	da	locomoção	física.
	 Para	 além	 do	 PJe,	 em	 2020,	 o	Conselho	Nacional	 de	 Justiça	 (CNJ),	 por	 intermédio	
da	Resolução	Administrativa	nº	345,	 instituiu	a	criação	do	Juízo	100%	Digital,	por	meio	do	
qual,	no	ato	de	processamento	do	feito,	a	parte	e	o	seu	advogado	podem	optar	por	um	processo	
exclusivamente	 eletrônico.	Esse	 sistema	compreende	a	possibilidade	do	cidadão	valer-se	da	
tecnologia	 para	 acessar	 a	 Justiça	 sem	 precisar	 comparecer	 fisicamente	 aos	 tribunais,	 e	 foi	
implementado	 com	o	 objetivo	 de	 aumentar	 a	 celeridade	 processual,	 bem	 como	 viabilizar	 o	
princípio	constitucional	do	amplo	acesso	à	justiça	(art.	5º,	XXXV,	da	Constituição	Federal).
	 Além	disso,	desde	 janeiro	de	2021,	está	em	 implementação	nos	órgãos	do	 judiciário	
brasileiro	o	Programa	“Justiça	4.0”,	desenvolvido	pelo	CNJ	em	parceria	com	o	Programa	das	
Nações	Unidas	para	o	Desenvolvimento	(PNUD)	e	o	Conselho	da	Justiça	Federal	(CJF).	Essa	
política	do	Conselho	busca	aprimorar	a	atividade	jurídica	mediante	a	disponibilização	de	novas	
3 Em	sua	obra,	Castells	 (1999,	p.	566)	cita	como	exemplos	marcantes	da	nova	estrutura	social	o	 teletrabalho,	o	comércio 
eletrônico	(telecompras),	os	serviços	de	saúde	online	e	a	educação,	principalmente	as	universidades
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 49
tecnologias	e	inteligência	artificial,	a	fim	de	obter	serviços	mais	rápidos,eficazes	e	acessíveis.	
Como	exemplo	das	soluções	digitais	promovidas,	tem-se	o	Balcão	Virtual,	a	Plataforma	Digital	
do	Poder	Judiciário	Brasileiro	(PDPJ-Br)	e	o	Sistema	Nacional	de	Gestão	de	Bens	(SNGB)4. 
	 Ressalta-se,	 ainda,	 que	 o	 caminho	 percorrido	 pelo	 Poder	 Judiciário,	 no	 tocante	 a	
consumação	de	serviços	tecnológicos,	sofreu	grande	impulso	no	contexto	da	crise	sanitária	do	
Coronavírus,	a	partir	de	março	de	2020.	Esse	período	demandou	uma	rápida	adaptação	de	todas	
as	áreas	ao	exercício	de	suas	funções	de	maneira	remota,	por	meio	da	rede	de	computadores.	
De	tal	forma,	essa	necessidade	urgente	colocou	em	evidência	a	importância	e	a	utilidade	destas	
ferramentas,	responsáveis	por	garantir	a	continuidade	de	muitos	setores	e	serviços	essenciais	no	
campo	da	administração	da	justiça.
	 Ao	passo	que	a	instrumentalização	tecnológica	dos	atores	do	direito	foi	sendo	realizada,	
também	se	fez	por	necessário	regulamentar	a	utilização	desses	mecanismos.	Tal	necessidade	
mostrou-se	fundamental,	haja	vista	a	inserção	da	sociedade	em	um	novo	meio	-	virtual	-	ensejar	
novos	 riscos	e	ameaças	às	ga-	 rantias	constitucionais,	 como	é	o	caso	da	 livre	circulação	de	
dados	pessoais	na	Internet,	que	afronta	os	direitos	fundamentais	de	intimidade	e	privacidade,	
consagrados	pela	Constituição	Federal	(art.	5º,	X).
	 Com	a	intenção	de	disciplinar	a	situação,	foram	editadas	as	Leis	nº	12.965/2014	(Marco	
Civil	da	Internet)	e	nº	13.709/2018	(Lei	Geral	de	Proteção	de	Dados	Pessoais	—	LGPD).	A	
primeira	 é	 responsável	por	disciplinar	o	uso	da	 internet	no	Brasil,	 por	meio	da	previsão	de	
direitos,	garantias	 e	deveres,	 além	de	princípios	que	 tornam	o	ambiente	digital	mais	 seguro	
e	democrático.	A	criação	do	referido	texto	normativo	se	deu	justamente	pela	necessidade	de	
regularizar	esse	ambiente,	haja	vista	a	 inexistência	de	diretrizes	específicas	anteriores.	Com	
essa	normatização,	diversos	aspectos	importantes	da	vida	social	e	econômica	entrelaçados	pelas	
tecnologias	da	informação	passaram	a	ter	o	devido	respaldo	legal,	como	o	direito	de	acesso	à	
rede,	a	liberdade	de	expressão	nos	meios	virtuais	e	os	deveres	dos	provedores	de	internet.
	 Já	 a	LGPD,	 no	 que	 lhe	 concerne,	 é	 o	 resultado	 de	 uma	 sociedade	 inserida	 no	meio	
digital,	que	precisou	se	atentar	para	a	forma	como	os	dados	de	usuários	são	coletados	e	tratados5. 
De	 tal	maneira,	 consolidou-se	 como	 um	 grande	 avanço	 legislativo	 brasileiro	 em	 termos	 de	
proteção	da	informação	que	circula	na	web,	regulamentando	o	tratamento	de	dados	pessoais,	
nos	meios	digitais,	por	pessoa	natural	ou	por	pessoa	 jurídica	de	direito	público	ou	privado.	
Possui	 como	objetivo	 a	 proteção	dos	direitos	 fundamentais	 de	 liberdade	 e	 de	privacidade	 e	
o	 livre	 desenvolvimento	 da	 personalidade	 da	 pessoa	 natural.	Outrossim,	 também	determina	
penalidades	 para	 o	 descumprimento	 das	 condições	 por	 ela	 estabelecidas,	 que	 vão	 desde	 a	
aplicação	de	multas	até	a	proibição	da	atividade	de	tratamento	dos	dados.
4 Conforme	disposição	no	portal	do	CNJ,	o	Balcão	Virtual	é	uma	ferramenta	que	disponibiliza	o	atendimento	remoto	direto	e	
imediato	dos	usuários	dos	serviços	da	Justiça	às	secretarias	das	Varas	em	todo	o	país.	Já	a	PDPJ-Br	tem	por	objetivo	modernizar	
a	plataforma	do	PJe	e	transformá-la	em	um	sistema	multisserviço	que	permita	aos	tribunais	fazer	adequações	conforme	suas	
necessidades	e	garantir	a	unificação	do	trâmite	processual	no	país.	O	SNGP,	por	sua	vez,	é	uma	ferramenta	que	aprimora	a	
política	de	gestão	de	bens	judicializados	e	oferece	um	maior	controle	da	tramitação	judicial	desses	bens	para	evitar	depreciações,	
perecimentos	e	extravios.	Disponível	em:	https://www.cnj.jus.br/tecnologia-da-informacao-e-comunicacao/justica-4-0/.
5 Sob	a	mesma	necessidade	foi	publicado,	em	2018,	o	General Data Protection Regulation (GDPR),	pelo	Parlamento	Europeu,	
que	estabelece	regras	sobre	a	privacidade	e	proteção	de	dados	de	cidadãos	da	União	Europeia.
http://www.cnj.jus.br/tecnologia-da-informacao-e-comunicacao/justica-4-0/
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202450
	 De	tal	maneira,	a	edição	desses	textos	normativos	representa	uma	evolução	nas	fronteiras	
regulatórias	do	tema	no	país,	não	somente	no	que	se	refere	à	transição	para	o	ambiente	digital,	
mas	 também	à	necessária	atenção	à	questão	da	 segurança	 jurídica	dos	atos	e	processos	que	
ocorrem	nesse	meio.	Assim,	vale-se	de	um	importante	aporte	normativo	para	proceder	com	a	
devida	utilização	dos	mecanismos	oriundos	do	contexto	tecnológico.
	 Dessa	 forma,	 todo	 esse	 cenário	 compreensivo	 fornece	 uma	 ancoragem	 analítica	
necessária	 para	 a	 discussão	 das	 mudanças	 no	 campo	 do	 Direito	 Processual,	 em	 particular	
no	 campo	 probatório,	 progressivamente	 tocado	 por	 todas	 essas	 transformações	 sociais	 e	
regulatórias.	Longe	de	se	constituir	fenômeno	isolado	ou	raro,	a	presença	transversal	das	novas	
tecnologias	e	de	seus	efeitos	na	vida	cotidiana	tem,	cada	dia	mais,	produzido	efeitos	na	forma	
como	as	interações	sociais	são	realizadas,	registradas,	documentadas	e	apresentadas	como	fontes	
de	evidência	em	processos	judiciais.	A	Justiça,	sob	esse	ponto	de	vista,	tornou-se	fortemente	
impactada	por	esses	processos	informacionais,	de	que	são	exemplos	as	provas	digitais. 
3. PROVAS DIGITAIS
	 A	incursão	no	universo	temático	das	provas	digitais	reclama	um	passo	inicial:	compreender	
o	conceito	de	prova	por	si	só.	Como	ensina	Nucci	(2009,	p.	15),	a	prova	é	a	demonstração	lógica	
da	realidade,	no	processo,	por	meio	dos	instrumentos	legalmente	previstos,	buscando	gerar	a	
certeza	em	relação	aos	fatos	alegados.	Assim,	por	meio	da	reconstituição	dos	fatos,	que	dizem	
respeito	a	eventos	passados,	poderá	o	magistrado	formar	a	sua	convicção	quanto	ao	julgamento,	
embasando-se	no	conjunto	probatório	produzido	nos	autos	do	processo,	de	forma	a	cumprir	a	
exigência	constitucional	de	fundamentação	das	decisões	(art.	93,	IX	da	Constituição	Federal).
	 De	 tal	 forma,	 provar	 é,	 portanto,	 o	 ato	 de	 evidenciar	 a	 verdade	 sobre	 determinado	
acontecimento.	E	esse	ato	apoia-se	em	diversas	regras	procedimentais,	as	quais,	como	assinalam	
Marinoni	 e	Arenhart	 (2011,	p.	 49),	 objetivam	oferecer	 legitimação	à	 construção	da	verdade	
processual	que	se	refletirá	nas	decisões	do	Poder	Judiciário.
	 No	tocante	à	prova	digital,	Thamay	e	Tamer	(2020,	p.	33)	a	conceituam	como	sendo	“o	
instrumento	jurídico	vocacionado	a	demonstrar	a	ocorrência	ou	não	de	determinado	fato	e	suas	
circunstâncias,	 tendo	ele	ocorrido	 total	ou	parcialmente	em	meios	digitais	ou,	 se	 fora	deles,	
esses	 sirvam	como	 instrumento	 para	 sua	 demonstração”.	Logo,	 compreende-se	 como	prova	
digital	o	mecanismo	que,	da	mesma	forma,	busca	evidenciar	algum	fato,	mas	difere-se	no	que	
diz	respeito	ao	meio	material	em	que	é	consubstanciado	-	o	digital.	Assim,	verifica-se	que	o	que	
muda	é	o	suporte,	mas	não	a	finalidade.	Enquanto	a	prova	tradicional	se	dá	por	meio	físico,	a	
digital	é	constituída	por	unidades	de	informação,	denominadas	bits6. Para	além	disso,	deve	ser	
ressaltado	que	o	novo	Código	de	Processo	Civil,	ao	trazer	a	prova	digital	na	seção	intitulada	
“Dos	Documentos	Eletrônicos”,	conferiu	àquela	a	natureza	jurídica	documental.	De	tal	forma,	
importa	salientar	que	o	conceito	jurídico-processual	de	“documento”	não	mais	se	limita	a	algo	
materializado	na	escrita	em	papel,	mas	configura-se	como	toda	base	materialmente	disposta	a	
6 O termo bit,	que	é	proveniente	das	palavras	dígito	binário,	ou	“BInary	digiT”,	é	a	menor	unidade	de	medida	de	transmissão	
de	dados	usada	na	computação	e	 informática.	Disponível	em:	https://www.tecmundo.com.br/programacao/227-o-que-e-bit-.
htm	Acesso	em:	22/04/2023.
http://www.tecmundo.com.br/programacao/227-o-que-e-bit-
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 51
concentrar	um	pensamento,	uma	ideia	ou	qualquer	manifestação	de	vontade	do	ser	humano,	
o	que	pode	ser	feito	através	da	escrita,	de	sinais,gráficos	ou	símbolos	(Nucci,	2009,	p.	123).	
Complementa	Taruffo	(2014,	p.73)	essa	definição,	afirmando	que,	de	forma	geral,	documento	
é	qualquer	 coisa	que	 represente	um	 fato,	 independente	da	natureza	da	 coisa	que	 tenha	 essa	
função.	Com	efeito,	o	documento	é,	portanto,	qualquer	suporte	físico	ou	eletrônico	em	que	um	
fato	e	suas	circunstâncias	estão	registrados.
	 Por	seu	turno,	o	documento	eletrônico	encontra	definição	no	glossário	publicado	pela	
Câmara	Técnica	 de	Documentos	Eletrônicos	 (CTDE),	 como	 sendo	 “informação registrada, 
codificada em forma analógica ou em dígitos binários, acessível por meio de um equipamento 
eletrônico”.	São	exemplos	desse	 tipo	de	documento	os	vídeos,	 fotografias,	 áudios	e	e-mails	
produzidos	 por	 meio	 da	 técnica	 digital.	Assim,	 para	 Thamay	 e	 Tamer	 (2020,	 p.	 118-122),	
documento	eletrônico	é	aquele	produzido,	autenticado,	armazenado	e	transmitido	em	suporte	
eletrónico	na	sua	forma	original.	Importante	atentar	para	a	distinção	deste	com	o	documento	
digitalizado,	o	qual	inicialmente	fora	produzido	em	meio	físico	e	depois	transportado,	por	meio	
da	digitalização,	para	suporte	eletrônico.
	 Além	das	definições	acerca	do	que	são	as	provas	digitais,	deve-se	verificar,	 também,	
os	 fundamentos	 legais	 que	 as	 permeiam.	 O	 Código	 de	 Processo	 Civil	 autoriza	 as	 partes	 a	
empregarem	todos	os	meios	legais,	bem	como	os	moralmente	legítimos,	para	provar	a	“verdade	
dos	fatos”	em	que	se	funda	o	pedido	ou	a	defesa	e	influir	com	eficácia	na	convicção	do	juiz	
(art.	369	do	CPC).	Além	disso,	 em	seu	art.	370,	dispõe	que	“caberá	ao	 juiz,	de	ofício	ou	a	
requerimento	da	parte,	determinar	as	provas	necessárias	ao	julgamento	do	mérito”.
	 De	outro	lado,	o	Marco	Civil	da	Internet	(Lei	nº	12.965/2014),	já	mencionado	na	seção	
anterior,	 estabelece	 que	 “a	 parte	 interessada	 poderá,	 com	 o	 propósito	 de	 formar	 conjunto	
probatório	em	processo	judicial	cível	ou	penal,	em	caráter	 incidental	ou	autônomo,	requerer	
ao	juiz	que	ordene	ao	responsável	pela	guarda	o	fornecimento	de	registros	de	conexão	ou	de	
registros	de	acesso	a	aplicações	de	internet”	(artigo	7º,	III,	c/c	22	da	Lei	nº	12.965/2014).	Além	
disso,	 também	assegura	a	 imperatividade	da	disponibilização	dos	 registros	e	dados	pessoais	
armazenados	nos	provedores	de	conexão	e	de	acesso	a	aplicações	de	internet	por	ordem	judicial	
(art.	10	da	Lei	nº	12.965/2014).
	 No	mesmo	sentido,	a	LGPD,	ao	tratar	das	hipóteses	em	que	se	admite	o	tratamento	de	
dados	pessoais,	apresenta,	em	seu	art.	7º,	VI,	a	possibilidade	deste	ser	realizado	para	o	exercício	
regular	de	direitos	em	processo	judicial.	Isto	porque,	embora	em	uso	processual,	o	sigilo	das	
informações	e	dos	dados	recebidos	resta	assegurado,	uma	vez	que	a	lei	garante	a	preservação	
da	intimidade	da	vida	privada,	da	honra	e	da	imagem	do	titular	de	dados	pessoais	(art.	23	da	Lei	
nº	12.965/2014	e	art.	2º,	I	e	III,	da	LGPD).
	 Noutro	giro,	a	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho	(CLT)	também	estabelece,	em	seu	
art.	765,	que	“os	Juízos	e	Tribunais	do	Trabalho	terão	ampla	liberdade	na	direção	do	processo	e	
velarão	pelo	andamento	rápido	das	causas,	podendo	determinar	qualquer	diligência	necessária	
ao	esclarecimento	delas”,	permissão	legal,	portanto,	para	que	o	juiz	possa	ajustar	a	condução	
ou	 gerenciamento	 processual	 de	 acordo	 com	 as	 peculiaridades	 da	 causa	 e,	 também,	 com	 a	
atualidade	das	técnicas	procedimentais.	Dessa	forma,	percebe-se	que	não	há	óbice	legal	para	o	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202452
emprego	das	provas	digitais	no	processo	judicial	brasileiro,	haja	vista	estarem	amparadas	por	
diversas	normativas	legais.	No	entanto,	faz-se	necessário	atentar	para	a	validade	e	confiabilidade	
que	devem	possuir	para	a	sua	devida	aceitação	em	juízo,	além	da	consonância	com	os	direitos	
fundamentais	consagrados	pela	Constituição	Federal,	temas	que	serão	tratados	nos	próximos	
tópicos.
3.1. Requisitos de validade da Prova Digital 
	 Sendo	 o	 documento	 eletrônico	 qualquer	 informação	 obtida	 por	meio	 não	material	 (no	
sentido	tradicional,	cartular	ou	físico),	a	sua	aceitação	como	fonte	de	evidência	ou	probatória	
poderia	 ser	 compreendida	 como	 algo	 processualmente	 inseguro.	 No	 panorama	 de	 fáceis	
manipulações	digitais,	destaca	Nascimento	(2020,	p.	117)	que	a	utilização	processual	de	dados	
provenientes	da	internet fica	suscetível	a	indagações	quanto	a	sua	veracidade,	legitimidade	e	
confiabilidade,	elementos	necessários	ao	devido	valor	probatório	que	se	admite	em	juízo.	Por	
isso,	essa	autora	 sustenta	que	a	parte	que	utiliza	desse	 tipo	de	prova	 tem	o	prévio	dever	de	
averiguar	a	sua	procedência	e	integridade,	tendo	em	vista	o	compromisso	processual	de	agir	
com	boa-fé	(art.	5º,	CPC).
	 Sobre	o	mesmo	tema,	entendem	Marinoni	e	Arenhart	(2020,	p.	64)	que	a	confiabilidade	
da	prova	documental	se	fixa	na	estabilidade	do	suporte	em	que	a	informação	é	registrada.	Não	
à	toa	o	documento	original	possui	maior	força	probante	do	que	a	simples	cópia,	a	menos	que	
seja	certificada	a	“conformidade	entre	a	cópia	e	o	original”	(art.	424	do	CPC).	O	problema	se	dá	
quando	o	suporte	em	que	as	provas	digitais	são	produzidas	é	passível	de	alteração	sem	grandes	
esforços,	 como	 uma	 fotografia	 que	 pode	 ser	 editada	 em	 simples	 aplicativos,	 ou	 até	mesmo	
informações	divulgadas	na	internet	que	não	passam	de	fake news. 
	 Em	vista	disso,	para	que	se	possa	obter	a	devida	segurança	jurídica	das	provas	a	serem	
utilizadas,	é	preciso	atender	a	duas	premissas	básicas,	expressamente	previstas	no	art.	195	do	
Código	de	Processo	Civil,	para	o	registro	de	atos	processuais	eletrônicos:	a	autenticidade	do	
documento	e	a	integralidade	das	informações.
	 Para	Thamay	e	Tamer	(2020,	p.40),	a	autenticidade	deve	ser	entendida	como	a	qualidade	
da	prova	digital	que	permite	a	certeza	com	relação	ao	autor	ou	autores	do	fato	digital.	No	caso	
dos	 documentos	 eletrônicos,	 estes	 foram	 regulamentados	pelo	 art.	 10	da	Medida	Provisória	
2.200/2001.77	Portanto,	quando	a	assinatura	eletrônica	for	certificada,	em	conformidade	com	as	
diretrizes	da	ICP-Brasil –	Infraestrutura	de	Chaves	Públicas	Brasileira,	o	documento	se	presume	
autêntico.	Os	demais	documentos	poderão	ser	utilizados,	desde	que	as	partes	concordem	com	a	
7 Para	 uma	 melhor	 compreensão	 da	 discussão,	 transcrevem-se	 os	 dispositivos	 de	 interesse:	 “Art.10.	 Consideram-se	
documentos	públicos	ou	particulares,	para	todos	os	fins	legais,	os	documentos	eletrônicos	de	que	trata	esta	Medida	Provisória.	
§1º	As	declarações	constantes	dos	documentos	em	forma	eletrônica	produzidos	com	a	utilização	de	processo	de	certificação	
disponibilizado	pela	ICP-Brasil	presumem-se	verdadeiros	em	relação	aos	signatários,	na	forma	do	art.	131	da	Lei	no	3.071,	
de	1	de	 janeiro	de	1916	 -	Código	Civil.	§	2º	O	disposto	nesta	Medida	Provisória	não	obsta	a	utilização	de	outro	meio	de	
comprovação	da	autoria	e	integridade	de	documentos	em	forma	eletrônica,	inclusive	os	que	utilizem	certificados	não	emitidos	
pela	ICP-Brasil,	desde	que	admitido	pelas	partes	como	válido	ou	aceito	pela	pessoa	a	quem	for	oposto	o	documento”	(BRASIL,	
2001).
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 53
sua	utilização,	conforme	o	§	2º	da	Medida	Provisória	citada.
	 Em	relação	à	integridade	da	prova,	esta	se	faz	necessária	para	que	se	verifique	a	certeza	
quanto	 à	 sua	 completude	 e	não	 adulteração.	De	 tal	 forma,	 é	 um	atributo	que	diz	 respeito	 à	
inexistência	de	sinais	de	alteração	ou	mutilação,	de	modo	a	afastar	a	consideração	de	vício	ou	
falsidade	(Mittermaier,	2006,	p.	336	e	345-6).	Assim	sendo,	será	considerada	íntegra	a	prova	
digital	que	se	apresentar	isenta	de	qualquer	modificação,	desde	o	momento	da	realização	do	fato	
até	a	apresentação	do	seu	resultado	em	juízo.
 Uma	das	formas	de	se	garantir	a	integridade	documental	consiste	na	elaboração	da	ata	
notarial	 (art.	 384,	CPC),	 envolvendo	 o	 registro,	 perante	 um	 tabelião,	 de	 umaprova	 digital,	
como	um	vídeo,	um	áudio	ou	mesmo	um	registro	textual	colhido	em	meio	digital.	Trata-se	de	
instrumento	público,	por	meio	do	qual	o	tabelião	certifica	a	ocorrência	de	determinado	fato	por	
ele	presenciado,	com	a	finalidade	de	se	atestar	a	sua	veracidade	e	servindo	como	meio	de	prova,	
inclusive	para	as	digitais	(art.	384,§	1º	do	CPC).
	 Nessa	ótica,	para	além	das	formalidades	mencionadas,	o	acolhimento	da	prova	digital	
também	depende	da	harmonia	desta	com	os	preceitos	constitucionais	atinentes	à	proteção	de	
dados	pessoais,	à	privacidade	e	à	intimidade,	por	exemplo.	Não	raramente,	a	produção	desse	
tipo	de	prova	se	dá	de	forma	ilimitada	e	em	desrespeito	aos	mencionados	direitos	dos	titulares	
de	dados	pessoais,	o	que	enseja	o	correto	diálogo	e	ponderação	entre	essas	garantias,	tema	que	
será	abordado	a	seguir.
3.2. Critérios de admissibilidade e diálogo com os direitos fundamentais
	 A	discussão	apresentada	até	aqui	permite	observar	que	algumas	formalidades	devem	ser	
atendidas	para	a	segura	utilização	das	provas	digitais	no	processo.	Contudo,	para	além	desses	
aspectos	formais	e	procedimentais,	também	constitui	uma	necessidade	essencial	a	presença	da	
consonância	do	instrumento	probatório	com	os	direitos	fundamentais	que	permeiam	o	tipo	de	
prova	que	está	sendo	produzida,	como	é	o	caso	da	proteção	dos	dados	pessoais	das	partes.	Tal	
medida	é	crucial	uma	vez	que,	em	muitas	situações,	o	emprego	de	ferramentas	digitais	para	a	
obtenção	desses	dados	pode	invadir	a	esfera	da	privacidade	e	 intimidade	do	sujeito	em	tela,	
principalmente	porque	a	ordem	jurídica	protege	não	apenas	dados	pessoais,	mas	também	dados	
sensíveis	das	pessoas	naturais.
	 Isso	ocorre,	em	muitos	casos,	quando	a	utilização	da	ferramenta	se	dá	de	forma	ilimitada	
e	desproporcional	ao	que	é	necessário	à	controvérsia	processual.	Exemplo	disso	acontece	na	
condição	em	que	é	fornecida	a	geolocalização	irrestrita	do	trabalhador	para	comprovar	a	sua	
eventual	permanência	na	empresa,	nos	casos	em	que	se	pleiteia	o	pagamento	de	hora	extra.	
Nessa	situação,	não	há	a	necessidade	de	divulgação	de	dados	que	representem	horários	além	
daqueles	em	discussão	no	 litígio.	No	entanto,	o	que	pode	se	verificar	em	 tal	conjuntura	é	a	
carência	de	um	juízo	de	ponderação	de	valores,	a	fim	de	se	assegurar	a	proporcionalidade	entre	
o	 exercício	de	ambos	os	direitos	na	 situação	concreta,	quais	 sejam	o	de	produção	da	prova	
digital	(art.	422	do	CPC)	e	os	de	personalidade	da	pessoa	envolvida	(art.	5º,	inciso	X,	da	CF).
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202454
	 Sob	 esta	 ótica,	 é	 possível	 perceber	 a	 concretização	 dessa	metodologia	 de	 aplicação	
do	Direito	 em	diversos	 julgamentos	de	Tribunais	do	Trabalho	brasileiros,	 que	 refletem	essa	
preocupação	para	que	a	produção	endoprocessual	de	provas	digitais	seja	feita	dentro	da	moldura	
constitucional.	Ilustram	esse	processo	de	concretização	de	direitos	fundamentais	os	seguintes	
julgados,	com	destaques	acrescidos:
MANDADO DE SEGURANÇA. AGRAVO INTERNO. PROVA DIGITAL DE 
GEOLOCALIZAÇÃO.	Não	 se	 olvida	 que,	 dentro	 de	 seu	 poder	 instrutório,	 o	 juiz	
pode	determinar	a	produção	de	prova	digital	de	geolocalização	visando	a	busca	da	
verdade	real.	Uma vez que essa prova atinge a esfera da vida privada das pessoas, 
essa persecução deve observar certos limites legais e constitucionais, especialmente 
os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, a partir de um juízo de 
ponderação dos valores envolvidos, visando	a	adequação	axiológica	e	finalística	da	
atuação	jurisdicional.	Cabe,	portanto,	ao	juiz	sopesar	a	sua	real	necessidade	frente	aos	
demais	meios	de	prova	disponibilizados	às	partes	pela	legislação	processual	(TRT	da	
18ª	Região.	Mandado	de	Segurança	nº	0010305-	51.2022.5.18.0000,	Relator:Silene				
Aparecida	Coelho,	Tribunal	Pleno,	Data	de	Publicação:	22/08/2022)
DADOS	 DE	 GEOLOCALIZAÇÃO.	 REQUISIÇÃO.	 OFENSA	 AO	 DIREITO	
AO	 SIGILO	 TELEMÁTICO	 E	 À	 PRIVACIDADE.	 Embora	 a	 prova	 digital	 da	
geolocalização	possa	ser	admitida	em	determinados	casos,	ofende direito líquido e 
certo ao sigilo telemático e à privacidade, a decisão que determina a requisição de 
dados sobre horários, lugares, posições da impetrante, durante largo período de 
tempo, vinte e quatro horas por dia, com o objetivo de suprir prova da jornada a qual 
deveria ser trazida aos autos pela empresa. Inteligência	dos	incisos	X	e	XII	do	art.	
5º	da	CR.	(TRT	da	3ª.	Região.	Mandado	de	Segurança	nº	011155-59.2021.5.03.0000.	
Rel.	Marco	Antônio	Paulinelli	Carvalho,	Data	de	Julgamento:	27/10/2021,	1a	Seção	
de	Dissídios	Individuais,	Data	de	Publicação:	04/11/2021).
 
	 Portanto,	 embora	 exista	 uma	 vasta	 gama	 de	 fontes	 normativas	 que	 envolvam	 a	
possibilidade	da	produção	probatória	digital,	a	sua	aplicabilidade	não	é	irrestrita	e	deve	atender	
a	determinados	preceitos,	sob	pena	de	violação	do	tecido	normativo	de	proteção	dos	direitos	
fundamentais,	que	também	deve	ser	observado	na	dinâmica	da	produção	de	atos	probatórios.
	 De	tal	forma,	para	que	as	provas	digitais	sejam	admitidas,	é	importante	que	o	magistrado	
instrutor	analise,	pondere	e	considere	se	há	outro	meio	lícito	de	provar	o	fato	(necessidade);	
estime	a	lealdade	e	a	boa	fé	da	parte	que	pretende	se	utilizar	da	prova;	avalie	se	o	fato	pode	
ser	 comprovado	 daquela	maneira	 (utilidade);	 constate	 se	 houve	 a	 preservação	 da	 dignidade	
da	 pessoa	 humana	 e	 dos	 demais	 direitos	 fundamentais	 aplicáveis	 a	 essa	 atividade,	 e	 se	 foi	
atendido	 o	 interesse	 público	 na	 produção	 daquela	 prova.	 Ademais,	 também	 é	 necessário	
que	seja	adotada	a	máxima	da	proporcionalidade	como	um	método	eficaz	para	solucionar	a	
colisão	entre	princípios	fundamentais	quando	da	produção	da	prova,	especialmente	porque,	na	
sociedade	 informacional,	há	uma	tendência	de	alocação	de	uma	quantidade	 inimaginável	de	
dados	pessoais	e	sensíveis	em	ambientes	digitais,	como	ocorre	com	os	arquivos	em	nuvem8.
8 Computação	em	nuvem	(em	inglês,	cloud computing)	é	um	termo	coloquial	para	a	disponibilidade	sob	demanda	de	recursos	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 55
	 Isto	posto,	uma	vez	acatada	a	referida	metodologia	de	razoabilidade	e	proporcionalidade	
entre	os	direitos	fundamentais	que	integram	a	seara	da	produção	da	prova	digital,	em	princípio	
não	há	óbice	para	sua	utilização,	 sendo	mecanismos	de	 imenso	valor	probatório	à	 instrução	
processual.
4. ALGUMAS PROVAS DIGITAIS NO PROCESSO DO TRABALHO E SEUS 
DESAFIOS
	 No	tocante	às	relações	de	trabalho,	é	muito	difícil	não	se	deparar	com	ferramentas	digitais	
envolvidas	nos	seus	processos	e	fluxos	organizacionais.	A	instrumentalização	tecnológica	se	faz	
presente	desde	o	uso	preponderante	de	documentos	eletrônicos	no	cotidiano	trabalhista	-	como	
folhas	de	ponto	e	termos	de	rescisões	digitais	-	até	a	própria	adoção	de	aplicativos	eletrônicos,	
como	a	Carteira	de	Trabalho	Digital9.
	 O	que	também	se	percebe	é	o	crescente	uso	das	redes	sociais	e	outras	ferramentas	de	
interação	laboral	e	social,	ambiente	que	não	apenas	é	espaço	para	registro	de	informações,	mas	
no	qual	também	se	pode	praticar	violações	à	ordem	jurídica,	como	assédio	moral,	sexual,	dentre	
outras	 formas	 de	 violência	 no	 trabalho,	 censuradas	 pela	Convenção	 nº	 190	 da	Organização	
Internacional do Trabalho (OIT).
	 Frente	 a	 esse	mundo	 em	 transformação,	 a	 Justiça	 do	Trabalho	 ,	 enquanto	 segmento	
do	Poder	Judiciário	brasileiro	que	lida	com	as	matérias	inerentes	ao	trabalho	e	suas	relações,	
tem	se	mostrado	alinhada	com	a	preocupação	de	aplicar	e	reconhecer	a	utilização	dos	meios	
eletrônicos	no	âmbito	processual.
	 Esse	perfil	organizacional	 foi,	até	mesmo,	 responsável	por	assumir	o	uso	das	provas	
digitais	 em	 forma	de	um	projeto	 institucional,	o	projeto	“Provas	Digitais”10.	Tal	projeto	diz	
respeito	 à	 uma	 ação	 contínua	 de	 formação	 e	 especialização	 de	magistrados	 e	 servidores	 da	
Justiça	do	Trabalho	no	tocante	à	utilizaçãodas provas digitais no 
âmbito do processo trabalhista brasileiro, com o objetivo de explorar como sua 
utilização pode ser adequadamente empregada; o uso de linguagem simples, mais 
acessível, clara e inclusiva, de modo a permitir que o cidadão médio compreenda 
a produção jurídica; a análise da situação de desemprego, que leva indivíduos à 
condição de rua, e o impacto do desemprego; a investigação sobre a interpretação 
do artigo 7º, inciso XXVII, da Constituição Federal, diante das ameaças às relações 
de trabalho provocadas pela “Indústria 4.0”; e a análise do processo de saúde 
e adoecimento mental de secretários de audiência do Judiciário Trabalhista da 
Paraíba, que acompanham os juízes.
 A Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região também é meio de 
divulgação da jurisprudência do Tribunal, por suas Turmas e Tribunal Pleno, sendo 
feito convite amplo para que sejam apresentadas, dentro do prazo estabelecido, 
as decisões a serem publicadas. Assim, ela traz os acórdãos selecionados por seus 
Relatores, o que possibilita a consulta, análise e compreensão do pensamento da 
Corte. Completando o perfil do pensamento judicial no âmbito deste Tribunal 
há a publicação de sentenças igualmente indicadas pelas Julgadoras e Julgadores 
que as proferiram.
 Desejamos que tenham uma leitura enriquecedora, pela possibilidade de 
que os textos ora apresentados despertem reflexões críticas e novas proposições 
jurídicas sobre a justiça social no Brasil 
 
Desembargadora Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro
Diretora da Escola Judicial - EJud21 
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202410
ARTIGOS
DOUTRINÁRIOS
ARTIGOS
DOUTRINÁRIOS
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202412
DIAGNÓSTICO DO TRABALHO EMOCIONAL NO TRIBUNAL 
REGIONAL DO TRABALHO DA 21ª REGIÃO
DIAGNOSIS OF EMOTIONAL LABOR IN 21st BRAZILIAN REGIONAL LABOR 
COURT 
Larissa Cunha Dantas1
Cynara Carvalho de Abreu2
RESUMO
	 O	 trabalho	 emocional	 é	 definido	 como	 o	 esforço	 dos	 trabalhadores	 em	 expressar	
emoções	adequadas	no	ambiente	laboral,	de	modo	a	atender	às	normas	implícitas	de	conduta	
e	comportamento	da	organização	ou	atividade	profissional.	A	necessidade	de	compreender	os	
impactos	pessoais	e	organizacionais	do	esforço	de	regulação	emocional	dos	trabalhadores	nas	
organizações	 tem	 se	 afirmado	 como	 tópico	 relevante	 nas	 discussões	 científicas.	Através	 da	
aplicação	a	servidores	e	magistrados	de	questionário	eletrônico	desenvolvido	a	partir	da	Escala	
de	Trabalho	Emocional	(ETE-Br)	(Silva;	Gondim,	2019),	versão	brasileira	da	Emotional	Labour	
Scale	(Brotheridge;	Lee,	2003),	e	sua	correlação	com	a	bibliografia	científica	e	peculiaridades	do	
trabalho	no	Poder	Judiciário	brasileiro,	esta	pesquisa	promoveu	um	diagnóstico	organizacional	
do	trabalho	emocional	no	âmbito	do	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	21ª	Região	(TRT21).	Os	
dados	coletados	confirmaram	a	presença	do	construto	trabalho	emocional	no	TRT21,	em	suas	
três	facetas	-	demandas	emocionais	de	trabalho	(DET)	e	estratégias	de	regulação	emocional,	
nas	dimensões	de	ação	superficial	(EAS)	e	ação	profunda	(EAP),	com	maior	intensidade	nos	
servidores	da	área	judiciária,	que	trabalham	com	atendimento	ao	público	e	em	contato	direto	com	
autoridades,	e	sua	correlação	com	os	resultados	das	pesquisas	do	Conselho	Nacional	de	Justiça	
(CNJ),	que	apontam	piora	na	saúde	física,	mental	e	emocional	de	servidores	e	magistrados	após	
o	retorno	das	atividades	presenciais	após	a	pandemia	de	COVID-19.	
Palavras-chave:	 trabalho	 emocional;	 psicologia	 do	 trabalho;	 poder	 judiciário	 brasileiro;	
psicologia	organizacional;	tribunal	federal.
ABSTRACT
	 Emotional	 labor	is	 the	effort	of	workers	 to	express	appropriate	emotions	in	the	work	
environment,	to	comply	with	the	rules	of	conduct	and	behavior	in	organization	or	professional	
activity.	 Understanding	 the	 personal	 and	 organizational	 impacts	 of	 workers’	 emotional	
regulation	 efforts	 in	 organizations	 has	 emerged	 as	 a	 relevant	 topic	 in	 scientific	 discussions.	
Through	 applying	 an	 electronic	 questionnaire	 to	 public	 servers	 and	magistrates,	 developed	
from	“Escala	de	Trabalho	Emocional”	(ETE-Br)	(Silva;	Gondim,	2019),	brazilian	version	of	
the	 Emotional	 Labor	 Scale	 (Brotheridge;	 Lee,	 2003),	 and	 its	 correlation	with	 the	 scientific	
bibliography	 and	 peculiarities	 of	work	 in	 the	Brazilian	 Justiciary,	 this	 research	 promote	 an	
organizational	diagnosis	of	emotional	labor	within	the	scope	of	a	Regional	Labor	Court	(Tribunal	
1	Engenheira	civil	e	bacharel	em	Direito.	Analista	 judiciária	do	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	21ª	Região.	
Especialista	em	Direito	e	Processo	do	Trabalho.	Mestra	em	Gestão	de	Processos	Institucionais/UFRN.
2	Psicóloga,	Mestra	em	Administração,	Doutora	em	Educação,	docente	do	Departamento	de	Psicologia/UFRN,	
docente	permanente	do	Programa	de	Pós-graduação	em	Gestão	de	Processos	Institucionais/UFRN.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 13
Regional	do	Trabalho	da	21ª	Região	-	TRT21).	The	data	collected	confirmed	the	presence	of	the	
emotional	labor	in	TRT21,	in	its	three	facets	-	emotional	work	demands	(DET)	and	emotional	
regulation	strategies,	in	the	dimensions	of	superficial	action	(EAS)	and	deep	action	(EAP),	with	
greater	intensity	in	the	public	servers	in	the	judicial	area	or	in	direct	contact	with	public	and	
authorities,	and	its	correlation	with	the	results	of	research	by	the	National	Council	of	Justice	
(Conselho	Nacional	de	Justiça	-	CNJ),	which	indicate	a	worsening	in	the	physical,	mental	and	
emotional	health	of	civil	servants	and	magistrates	after	the	return	of	in-person	activities	after	
the	COVID-19	pandemic.
Keywords:	emotional	labor;	labor	psychology;	brazilian	justiciary;	organizational	psychology;	
federal	law	court.
1. INTRODUÇÃO
	 Historicamente,	 o	 desenvolvimento	 profissional	 está	 ligado	 ao	 aprimoramento	 de	
competências	meramente	instrumentais.	Para	o	mercado	de	trabalho,	o	bom	profissional	é	aquele	
que	 “sabe	 fazer”	 com	perfeição,	 produtividade	 e	 eficiência.	Mais	 recentemente,	 no	 entanto,	
cresceu	 a	 importância	 do	 desenvolvimento	 das	 competências	 socioemocionais	 (soft	 skills),	
voltadas	ao	aprimoramento	dos	relacionamentos	interpessoais	no	trabalho	e	suas	repercussões	
para	 o	 resultado	 das	 organizações,	 sendo	 a	mais	 conhecida	 delas	 a	 inteligência	 emocional,	
definida	 como	 a	 capacidade	 de	 identificar	 e	 gerenciar	 sentimentos	 e	 emoções	 próprios	 no	
contexto	dos	relacionamentos	interpessoais	(Goleman,	2001).
	 Os	 estudos	 mais	 modernos	 sobre	 o	 tema	 demonstram	 que,	 para	 alcançar	 um	 bom	
desempenho	 profissional	 nas	 organizações,	 não	 basta	 apenas	 ter	 conhecimentos	 técnicos,	
as	 organizações	 buscam	 trabalhadores	 que	 detenham	 a	 capacidade	 de	 perceber	 e	 regular	 as	
emoções	no	ambiente	laboral,	através	da	habilidade	de	identificar,	compreender,	exprimir,	gerir	
e,	principalmente,	utilizar	as	emoções	a	seu	favor	(Kotsou,	2012).	Aí	se	insere	a	capacidade	de	
regulação	emocional,	fator	de	sucesso	pessoal	não	somente	para	a	vida	particular,	mas	também	
na	 vida	 profissional.	 A	 regulação	 emocional	 dos	 profissionais	 é	 conhecida	 como	 trabalho	
emocional.
	 O	esforço	para	a	regulação	emocional	no	ambiente	laboral	 tem	sido	tema	de	estudos	
há	 quase	meio	 século	 (Hochschild,	 1979).	Nas	 organizações,	 o	 relacionamento	 interpessoal	
entre	os	colaboradores,	gestores	e	clientes	externos	tem	exigido,	cada	vez	mais,	a	habilidade	
de	 enfrentar	 sentimentos	 variados.	 O	 senso	 comum	 presume	 que	 um	 profissional	 que	 sabe	
reconhecer	seus	sentimentos	e	“adequar”	suas	emoções	à	conduta	exigida	para	cada	situação	
contribui	 para	 um	ambiente	 organizacional	 harmônico	 e	 o	 desenvolvimento	de	 trabalho	 em	
equipe	mais	eficiente.
	 A	vivência	profissional	como	gestora	de	pessoas	nade	informações	tecnológicas	para	auxílio	na	instrução	
processual.
 Assim,	 valendo-se	 de	 seminários	 e	 cursos	 de	 formação,	 o	 programa,	 desde	 2020,	
tem	 se	 voltado	 à	 capacitação	 desses	 agentes	 para	 um	 melhor	 aproveitamento	 e	 manuseio	
das	 ferramentas	 tecnológicas	 no	 âmbito	 do	 processo	 trabalhista,	 voltado	 para	 a	 janela	 de	
lacuna	formativa	dos	profissionais	quanto	ao	tema.	Dessa	forma,	tratando-se	de	instrumentos	
complexos	e	que	necessitam	de	uma	devida	análise	própria,	esta	seção	do	trabalho	se	concentra	
em	algumas	dessas	provas	digitais,	a	fim	de	compreender	como	a	sua	aplicação	processual	pode	
ser	adequadamente	efetivada.
do	sistema	de	computador,	especialmente	armazenamento	de	dados	e	capacidade	de	computação,	sem	o	gerenciamento	ativo	
direto	 do	 utilizador.	 Disponível	 em:	 https://pt.wikipedia.org/wiki/Com-	 puta%C3%A7%C3%A3o_em_nuvem.	Acesso	 em:	
16/05/2023
9 A	Carteira	de	Trabalho	Digital	é	uma	ferramenta	para	o	cidadão	acompanhar	de	modo	fácil	a	sua	vida	laboral,	tendo	acesso	
a	dados	pessoais	e	aos	seus	contratos	de	trabalho	que	estão	registrados	na	Carteira	de	Trabalho	e	Previdência	Social.	Permite	
também	solicitar	o	Seguro-Desemprego	e	consultar	outros	benefícios	 trabalhistas,	como	o	Abono	Salarial,	Benefício	TAC-
Taxista	e	o	Benefício	Emergencial.	Disponível	em:	https://apps.apple.com/br/app/carteira-de-trabalho-digital/id1295257499.	
Acesso	em:	22/05/2023
10 Disponível	em:	https://www.tst.jus.br/provas-digitais.	Acesso	em:	13	jun.	2023.
http://www.tst.jus.br/provas-digitais
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202456
4.1. Geolocalização
	 A	geolocalização	é	um	recurso	tecnológico	que	consiste	em	localizar	qualquer	pessoa	
ou	objeto	com	base	na	sua	posição	geográfica,	detectada	automaticamente	por	um	sistema	de	
coordenadas,	captadas	por	meio	do	apoio	de	sistemas	de	comunicação,	articulado	com	satélites	
artificiais	que	orbitam	o	nosso	planeta.	Na	prática,	essa	detecção	se	dá	com	base	na	latitude	e	
longitude	do	local	em	que	se	encontra	o	alvo.
	 Como	explicam	Albino	e	Lima	(2022,	p.	225),	a	localização	de	pessoas	está	relacionada	
com	o	rastreamento	de	seu	aparelho	celular,	que	é	feito	através	do	GPS	aparelho	celular,	que	é	
feito	através	do	GPS	(Global Positioning System),	com	base	nas	conexões	de	rede	ou	conexão	
via	satélite.	Não	obstante,	essa	captação	também	ocorre	a	partir	de	sinais	de	radiofrequência	
pela	triangularização	das	antenas	de	celulares.
	 No	 tocante	 à	utilização	desse	 recurso	 tecnológico	no	Processo	do	Trabalho,	 é	muito	
frequente	 que	 seja	 solicitado	 para	 buscar	 comprovar,	 com	 maior	 exatidão,	 a	 presença	 do	
trabalhador	nas	dependências	da	empresa	ou	em	outros	lugares,	a	fim	de	pleitear	o	pagamento	
de	 horas	 extras,	 por	 exemplo.	Contudo,	 como	 discutido	 nas	 seções	 anteriores	 deste	 estudo,	
nessas	situações	deve-se	observar	o	limite	da	esfera	privada	do	sujeito	em	tela,	uma	vez	que	o	
fornecimento	de	informações	acerca	de	sua	geolocalização,	de	forma	demasiada	e	ultrapassando	
o	que	se	discute	no	processo,	atinge	os	seus	direitos	de	privacidade	e	proteção	de	dados	pessoais.
	 Nesse	contexto,	comporta	ilustrar	esse	debate,	a	Justiça	do	Trabalho	em	Joinville,	Santa	
Catarina,	considerou	válido	o	pedido	feito	por	um	banco	para	que	o	registro	de	localização	do	
aparelho	celular	da	trabalhadora,	que	pleiteava	o	pagamento	de	horas	extras,	fosse	disponibilizado	
nos	 autos11.	Ao	 decidir	 a	 respeito	 da	 produção	 da	 prova	 digital,	 a	 Juíza	 instrutora	 deferiu	
parcialmente	o	pedido,	 determinando	que	 a	pesquisa	 fosse	 feita	por	 amostragem,	 indicando	
a	 localização	do	celular	apenas	em	dias	úteis	e	somente	em	20%	do	período	do	contrato	de	
trabalho.
	 Com	essas	medidas,	a	referida	magistrada	destacou	que	os	parâmetros	da	busca	evitariam	
a	violação	à	privacidade	da	trabalhadora	e	seriam	suficientes	para	demonstração	dos	fatos	em	
controvérsia.	Ademais,	a	questão	probatória	foi	levada	à	análise	da	segunda	instância,	por	meio	
de	mandado	de	segurança,	impetrado	pela	parte	reclamante,	sendo	a	decisão	instrutória	de	1º	
Grau	ratificada	pela	Seção	Especializada	2	do	TRT	da	12ª	Região.
	 Tal	metodologia	de	razoabilidade	e	ponderação	de	valores	espelha	justamente	a	adequação	
que	deve	ser	prezada	para	que	o	instrumento	probatório	digital,	ao	ser	manuseado,	esteja	dentro	
dos	limites	legais	para	o	seu	devido	aproveitamento,	sendo	de	extrema	valia	para	comprovar	a	
localização	de	alguém	em	determinado	dia,	horário	e	local.	Portanto,	é	fundamental	destacar	
a	importância	de	que,	ao	recorrer	a	esse	tipo	de	prova,	o	magistrado	do	Trabalho	deve	motivar	
a	sua	decisão	(art.93,	IX)	com	base	nos	critérios	de	razoabilidade	e	proporcionalidade.	Como	
demonstrado,	o	manuseio	dessas	ferramentas	não	é	irrestrito	e	encontra	limites	nos	direitos	e	
11 Processo	 n°	 0000955-41.2021.5.12.0000.	 Disponível	 em:	 https://por-	 tal.trt12.jus.br/noticias/empresa-pode-requisitar-
dados-de-localizacao-do-celular-de-	trabalhador-como-prova-em-acao.	Acesso	em:	23/05/2023.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 57
garantias	fundamentais	dos	trabalhadores	e	na	proteção	dos	dados	pessoais.
	 De	 tal	 forma,	 valendo-se	 de	 registros	 de	 geolocalização	 como	 fonte	 probatória,	 que	
identifiquem	 o	 cidadão	 em	 sua	 esfera	 cotidiana	 privada,	 é	 crucial	 que	 estes	 alcancem	 tão	
somente	os	registros	concernentes	ao	efetivo	horário	de	trabalho,	sob	pena	de	violação	ao	sigilo	
telemático,	à	privacidade	e	à	proteção	de	dados	pessoais,	direitos	amplamente	assegurados	pela	
ordem	jurídico-constitucional	brasileira.
4.2. Redes sociais
	 Em	meio	ao	modelo	de	sociedade	informacional	existente	hoje,	cujas	relações	sociais	
são,	 em	 grande	maioria,	 intermediadas	 por	 plataformas	 digitais,	 é	 de	 se	 esperar	 que	 destes	
ambientes	virtuais	sejam	extraídos	os	registros	de	tais	interações.	Sob	essa	mesma	perspectiva,	
também	é	coerente	que	esses	registros	sejam	utilizados	como	meio	de	prova	quando	necessário,	
uma	vez	que	a	presença	intensa	das	redes	sociais	no	cotidiano	das	pessoas	reflete,	por	exemplo,	
nas	 relações	 de	 trabalho,	 consequentemente	 gerando	 uma	maior	 inserção	 desse	 aparato	 nos	
processos	que	tramitam	perante	a	Justiça	do	Trabalho.
	 Nesse	panorama,			a			comunicação			institucional			do	Tribunal	Superior	do	Trabalho	
publicou	interessante	matéria,	com	diversos	exemplos	de	como	as	postagens	feitas	nas	redes	
podem	compor	o	processo	na	qualidade	de	instrumentos	probatórios	digitais12.	Dentre	os	citados,	
destacam-se	os	casos	em	que	publicações	 feitas	no	ambiente	virtual,	quando	da	propagação	
de	críticas	e	ofensas	à	imagem	da	empresa	ou	do	empregador,	constituem	argumentos	para	a	
dispensa	por	justa	causa	(art.	482,	alínea	‘k’,	da	CLT).	Nada	obstante,	publicações	que	retratem	
desídia	por	parte	do	empregado	em	horário	e	local	de	trabalho	também	embasam	de	igual	maneira	
a	demissão	por	justa	causa	(art.	482,	alínea	‘e’,	da	CLT),	na	medida	em	que	a	comprovação	
do	suposto	ato	 lesivo	à	ordem	jurídica,	por	meio	de	prints das	 telas	dos	smartphones	ou	de	
computadores	nas	respectivas	páginas	de	interesse	nas	redes	sociais,	por	exemplo,	constituem	
prova	digital	a	ser	utilizada	no	processo.
	 Para	além	destes,	as	 redes	sociais	 também	podem	ser	 importantes	aliadas	quando	da	
comprovação	de	conduta	por	má-fé	por	parte	de	algum	dos	sujeitos	processuais.	É	o	caso,	por	
exemplo,	da	demonstração	de	falsidade	de	um	atestado	utilizado	para	isentar-se	do	trabalho,	
ou	até	mesmo	de	atos	processuais,	como	o	comparecimento	em	audiências,	quando	existem	
postagens	em	rede	que	são	incompatíveis	com	a	condição	de	saúde	retratada	pelo	documento	
médico,	podendo	constituir	o	conjunto	probatório	para	postular	a	litigância	por	má-fé.
	 Outrossim,	conversas	em	aplicativos	como	o	whatsapp também	são	úteis	a	demonstrar	
a	constituição	ou	não	do	vínculo	empregatício	entre	as	partes.	Nesses	casos,	por	meio	de	uma	
comunicação	 cotidiana,	 é	 possívelaferir	 se	 aquela	 relação	 possui	 os	 requisitos	 legais	 para	
caracterizar	o	vínculo	de	emprego,	quais	sejam	a	pessoalidade,	habitualidade,	subordinação	e	
onerosidade	(art.	3º	da	CLT).	
12 Objeto	 de	 defesa	 e	 acusação,	 redes	 sociais	 figuram	 em	 ações	 na	 Justiça	 do	Trabalho”.	Disponível	 em:https://www.tst.
jus.br/-/objeto-de-defesa-e-acusacao-redes-so-	 ciais-figuram-em-acoes-na-justica-do-trabalho#:~:text=%22Postagens%20po-	
dem%20servir%2C%20ainda%2C,local%20de%20trabalho%22%2C%20conclui.	Acesso	em:	24/05/2023.
http://www.tst.jus.br/-/objeto-de-defesa-e-acusacao-redes-so-
http://www.tst.jus.br/-/objeto-de-defesa-e-acusacao-redes-so-
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202458
	 Contudo,	 tratando-se	 de	 documentos	 digitais	 suscetíveis	 à	 fraudes	 e	 manipulações,	
quando	forem	utilizados	prints ou	outras	formas	de	introdução	de	mensagens,	fotos	e	vídeos	no	
ambiente	processual,	faz-se	imprescindível	que	seja	assegurado	a	estes	as	devidas	garantias	de	
sua	autenticidade	e	integridade.	Como	já	abordado,	esses	elementos	são	cruciais	para	assegurar	
o	devido	valor	probatório	que	se	admite	em	juízo.
	 Tal	 conduta	 é	 fundamental	 para	 garantir	 a	 devida	 confiabilidade	 dessas	 informações	
enquanto	 fontes	 de	 prova,	 o	 que	 pode	 ser	 feito,	 por	 exemplo,	 através	 da	 autenticação	 do	
documento	por	ata	notarial,	na	qual	o	tabelião	acessa	o	endereço	eletrônico	e	atesta	a	veracidade	
e	autenticidade	do	conteúdo.	Ao	fazer	isso,	eleva-se	a	garantia	de	validade	legal	daquela	prova,	
na	medida	em	que,	uma	vez	 registrada,	 reduz-se	 a	margem	para	 a	 adulteração	do	conteúdo	
original.	Outra	 forma	 de	 assegurar	 a	 confiabilidade	 da	 prova	 digital	 diz	 respeito	 ao	 uso	 da	
assinatura	eletrônica	ou	até	mesmo	da	possibilidade	de	acesso	e	confirmação	online	do	conteúdo	
na	íntegra	por	parte	do	magistrado.
	 De	 tal	 maneira,	 uma	 vez	 assegurados	 os	 elementos	 que	 garantem	 a	 veracidade	 dos	
documentos	digitais,	as	redes	sociais	assumem	importante	papel	quando	da	comprovação	dos	
fatos	em	litígio,	sendo	um	mecanismo	de	imenso	valor	probatório	ao	processo.
4.3. Gravação telefônica
	 A	gravação	telefônica,	por	seu	turno,	também	é	um	exemplo	desse	tipo	de	prova,	uma	
vez	que	é	produzida	de	forma	digital.	Neste	mecanismo,	o	desafio	consiste	em	assegurar	que	o	
ato	foi	realizado	de	forma	lícita,	haja	vista	a	Constituição	Federal	garantir,	em	seu	art.	5.º,	XII,	
a	inviolabilidade	do	sigilo	das	comunicações,	sendo	esse	um	direito	fundamental	do	indivíduo.	
Todavia,	 o	 referido	 dispositivo,	 regulamentado	 pela	 norma	 infraconstitucional	 nº	 9.296/96,	
admite	a	quebra	do	sigilo	para	os	casos	de	interceptação	telefônica,	em	investigação	criminal	e	
em	instrução	processual	penal,	quando	autorizado	judicialmente.
	 O	termo	“interceptação”,	por	sua	vez,	prevê	a	existência	de	uma	terceira	pessoa	estranha	
à	conversa,	que	se	coloca	no	meio	dos	 interlocutores.	A	 interceptação	 telefônica	em	sentido	
estrito	compreende	a	captação	da	conversa	por	um	terceiro,	sem	o	conhecimento	de	qualquer	
dos	interlocutores.	Já	a	escuta	telefônica,	outra	forma	de	interceptação,	consiste	na	captação	
da	conversa	por	um	terceiro,	com	o	consentimento	de	apenas	um	dos	interlocutores.	Ambas	as	
formas	se	submetem	às	exigências	da	Lei	nº	9.296/96,	e	a	transgressão	destas	constitui	crime,	
nos	termos	do	art.	10	da	mesma	legislação13.
	 Todavia,	quando	um	dos	interlocutores,	sem	o	conhecimento	do	outro,	grava	a	conversa	
de	ambos,	está	configurada	a	gravação	telefônica.	Esse	conceito,	por	sua	vez,	não	se	encontra	
inserido	na	expressão	“interceptação”	(art.	5º,	XII,	da	CF),	não	sendo	disciplinado,	portanto,	
pela	Lei	nº	9.296/96,	já	que	não	há	a	figura	da	terceira	pessoa	na	captação	do	diálogo.
13 A	interceptação	telefônica	também	se	diferencia	da	quebra	de	sigilo	telefônico,	uma	vez	que,	na	primeira,	quem	intercepta	
tem	acesso	ao	teor	da	conversa,	já	na	quebra	do	sigilo,	a	única	informação	a	que	se	tem	acesso	é	o	registro	de	ligações	efetuadas	
e	recebidas.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 59
	 A	licitude	da	gravação	telefônica	como	meio	de	prova	foi	uniformizada	pelo	Supremo	
Tribunal	Federal	 (Repercussão	Geral	 -	Tema	237	do	Repertório	de	Repercussão	Geral),	 em	
decisão	de	2009:	“É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos 
interlocutores sem conhecimento do outro”. De	tal	forma,	a	jurisprudência	tem	entendido	que,	
quando	 feita	 por	 um	dos	 interlocutores,	mesmo	 sem	o	 conhecimento	do	outro,	 para	fins	de	
comprovação	de	direito,	a	gravação	é	lícita	e	pode	ser	usada	como	prova	em	ação	judicial,	desde	
que	não	haja	causa	legal	de	sigilo	ou	de	reserva	da	conversação.
	 Assim	 sendo,	 no	 âmbito	 do	 processo	 trabalhista,	 as	 gravações	 telefônicas,	 quando	
realizadas	por	um	dos	interlocutores mesmo	sem	o	conhecimento	dos	demais,	é	lícita	e	constitui	
mecanismo	probatório	a	ser	utilizado	em	juízo.	Ademais,	esse	tipo	de	prova	é	de	grande	eficácia	
para	evidenciar	fatos	que,	de	outra	maneira,	não	teriam	como	ser	comprovados,	haja	vista	em	
diversos	casos	as	interações	se	darem	sem	terceiros	aptos	a	testemunhá-las.
5. CONCLUSÃO
	 A	tecnologia	permeia	de	diversas	formas	a	sociedade	vivenciada	hoje.	Como	defende	
Castells	(1999,	p.	69),	a	evolução	digital,	responsável	por	modificar	as	dinâmicas	de	cultura	
e	poder	antes	existentes	em	coletividade,	marcou	o	 início	da	era	da	 informação.	Em	meio	a	
essa	conjuntura,	não	apenas	os	cidadãos,	mas	também	o	Estado	precisou	se	adaptar	ao	fluxo	
da	nova	dinâmica	social,	marcada	pela	agilidade	e	 temporaneidade	das	 informações,	que	se	
atualizam	a	todo	instante.	De	tal	forma,	tamanha	necessidade	reverberou	aos	próprios	órgãos	
que	constituem	o	ente	estatal,	como	é	o	caso	do	Poder	Judiciário.
No	 que	 lhe	 concerne,	 o	 estudo	 permitiu	 perceber	 que	 a	 Justiça	 brasileira	 tem	 procurado	
incorporar	 diversas	 iniciativas	 que	 impulsionam	 a	 prestação	 jurisdicional	 com	 apoio	 ou	
mediação	de	 tecnologias	da	 informação,	como	o	Processo	 Judicial	Eletrônico	e	o	Programa	
“Justiça	 4.0”.	 Os	 procedimentos	 judiciais	 também	 têm	 apresentado	 importante	 abertura	 na	
recepção	e	acolhimento	de	novos	recursos	à	dinâmica	processual,	à	exemplo	da	admissão	das	
provas	digitais,	alinhados	com	a	sociedade	informacional.	Como	visto,	trata-se	de	mecanismos	
que	buscam	evidenciar	fatos	consubstanciados	no	meio	digital,	mas	possuem	natureza	jurídica	
documental,	sendo	o	documento	eletrônico	qualquer	informação	acessível	por	um	equipamento	
eletrônico.
	 Sob	 essa	 perspectiva,	 a	 transferência	 crescente	 das	 relações	 sociais	 para	 o	 ambiente	
virtual	ocasionou	um	amparo	cada	vez	maior	nesse	 tipo	de	prova.	No	âmbito	da	 Justiça	do	
Trabalho,	a	sua	utilização	é	extensa,	haja	vista	esse	subsistema	processual	estar	permeado	por	
ferramentas	digitais,	que	vão	desde	documentos	formais	que	constituem	a	relação	empregatícia,	
como	folhas	de	ponto	e	instrumentos	de	rescisão	contratual	em	formato	eletrônico,	até	aparelhos	
de	 registro	e	 comprovação	dos	 fatos,	 como	celulares	 e	gravadores.	Todavia,	 como	pôde	 ser	
visto	ao	longo	do	estudo,	a	utilização	desses	mecanismos	como	fonte	de	prova	não	é	irrestrita	
e	deve	observar	alguns	preceitos	 jurídicos	para	ser	corretamente	empregada,	quais	sejam	os	
requisitos	de	validade	da	prova	digital	e	a	sua	consonância	com	os	demais	direitos	fundamentais	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202460
envolvidos	no	processo.
	 No	que	diz	respeito	à	validade	da	prova,	é	fundamental	que	estejam	asseguradas	a	sua	
autenticidade	 e	 integridade	 (art.	 195	 do	CPC),	 como	 forma	 de	 garantir	 a	 devida	 segurança	
jurídica	que	se	admite	em	juízo.	Para	tanto,	a	assinatura	eletrônica	certificada	em	conformidade	
com	as	diretrizes	da	ICP-Brasil	é	pertinente	para	assegurar	a	certeza	com	relação	ao	autor	do	
fato	digital,	garantindo	a	sua	autenticidade.	Com	relação	à	integridadeda	prova,	uma	das	formas	
de	atestar	a	certeza	quanto	a	sua	completude	e	não	adulteração	é	através	da	elaboração	da	ata	
notarial	(art.	384	do	CPC),	por	meio	da	qual	o	tabelião	certifica	a	ocorrência	de	determinado	
fato	por	ele	presenciado,	com	a	finalidade	de	se	atestar	a	sua	veracidade.
	 Já	quanto	à	consonância	do	instrumento	probatório	com	os	demais	direitos	fundamentais	
que	envolvem	a	temática,	como	a	proteção	de	dados	pessoais,	a	privacidade	e	a	intimidade,	é	
essencial	que	esta	seja	observada	como	forma	de	garantir	que	as	esferas	da	vida	privada	do	
sujeito	em	questão	não	sejam	ofendidas.	Para	tanto,	é	necessário	que	seja	adotada	a	máxima	da	
proporcionalidade	e	razoabilidade	como	método	eficaz	para	solucionar	a	colisão	entre	princípios	
fundamentais	quando	da	produção	da	prova,	de	modo	que	seja	realizada	a	devida	ponderação	
dos	valores	envolvidos	nos	casos	concretos.	À	exemplo	dessa	conduta,	tem-se	as	decisões	que	
determinam	o	fornecimento	de	informações	advindas	de	recursos	tecnológicos	tão	somente	na	
proporção	que	necessita	a	controvérsia	processual,	uma	vez	que,	sendo	a	fonte	de	informações	
uma	ferramenta	de	uso	habitual	do	titular	-	como	o	aparelho	celular	-	o	provimento	irrestrito	
invadiria	a	esfera	de	 sua	vida	privada	e	ofenderia	 seus	direitos	de	 intimidade	e	proteção	de	
dados	pessoais,	amplamente	protegidos	pelo	ordenamento	jurídico	brasileiro.
	 De	 tal	 forma,	 uma	 vez	 garantidos	 os	 preceitos	 que	 asseguram	 à	 prova	 digital	 sua	
devida	validade	e	aceitabilidade	no	processo,	as	vias	estão	abertas	para	o	emprego	de	fontes	
de	evidência	de	valor	probatório	a	ser	utilizado	em	juízo,	por	atender	a	uma	sociedade	cada	
vez	mais	 dependente	 do	 amparo	 tecnológico	 para	 comprovação	 dos	 fatos.	Assim,	 enquanto	
sociedade	mediada	por	 redes,	nada	mais	condizente	do	que	utilizar	os	 recursos	advindos	da	
evolução	tecnológica	como	forma	de	proporcionar	uma	prestação	jurisdicional	mais	eficiente	e	
adaptada.
REFERÊNCIAS
ALBINO,	 João	 Pedro;	 LIMA,	 Ana	 Cláudia	 Ferreira	 de	 Lima.	 Técnicas	 de	 captura	 de	
geolocalização	 para	 produção	 de	 prova	 judicial. Revista Direito das Relações Sociais e 
Trabalhistas,	v.	8,	n.	1,	p.	216-233,	2022.
BAUMAN,	Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 
BRASIL. Código de Processo Civil (2015).	Código	de	Processo	Civil	Brasileiro.	Brasília,	
DF:	Senado,	2015.	26	de	mar.	de	2015.	
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de	05.10.1988.	Brasília,	1988.	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 61
Disponível	em:	http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Consti-	tuicao/Constituiçao.	Acesso	em:	
20	out.	2020.
BRASIL. Decreto-lei n° 5.452, de 1 de maio de 1943.	Aprova	a	consolidação	das	leis	do	
trabalho.	Brasília,	1943.
BRASIL. Lei no 12.965, de 23 de Abril de 2014.	Estabelece	princípios,	garantias,	direitos	e	
deveres	para	o	uso	da	Internet	no	Brasil.	Brasília,	2014.
BRASIL. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).	Brasília,	DF:	Presidência	
da	República,	[2020].	Disponível	em:	https://www.planalto.gov.br/cci-vil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/l14020.htm.	Acesso	em:	20	out.	2020.
CÂMARA TÉCNICA DE DOCUMENTOS ELETRÔNICOS (CTDE). Glossário: 
Documentos Arquivísticos Digitais. Rio de Janeiro, 2020.
CASTELLS,	Manuel.	“A Sociedade em Rede”.	A	Era	da	Informação:	economia,	sociedade	e	
cultura. Vol	I.	São	Paulo:	Paz	e	Terra,	1999.
CASTELLS,	Manuel.	A galáxia da internet.	Rio	de	Janeiro:	Jorge	Zahar	Editor,	2003.
DIAS,	Thiago	Ferreira;	SANO,	Hironobu;	MEDEIROS,	Marcos	Fernando	Machado	de.	
Inovação e tecnologias da comunicação e informação na Administração Pública.	Brasília:	
ENAP,	2019.
EVANS,	Peter.	Government	action,	social	capital	and	development:	reviewing	the	evidence	on	
synergy. World Development.	Vol.	24,	Nº	6,	1996.
GIL,	Antonio	Carlos.	Métodos e técnicas de pesquisa social. São	Paulo:	Atlas,	2008
HABERMAS,	Jürgen.	A constelação pós-nacional: ensaios políticos. Tradução	de	Márcio	
Seligmann-Silva.	São	Paulo:	Littera	Mundi,	2001.	
HARVEY,	David.	Condição Pós-Moderna.	13	ed.	São	Paulo:	Edições	Loyola.	2004.
MARINONI,	Luiz	Guilherme	Marinoni;	ARENHART,	Sérgio	Cruz.	A prova.	São	Paulo:	
Editora	Revista	dos	Tribunais,	2011.
HUI,	Yuk.	Tecnodiversidade.	São	Paulo:	Ubu	Editora,	2020.
MARQUES,	Eduardo	Cesar.	Redes	sociais	e	instituições	na	construção	do	Estado	e	da	sua	
permeabilidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais.	V.	14,	No	41,	São	Paulo,	out,	1999.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Consti-
http://www.planalto.gov.br/cci-
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202462
NADER,	Paulo. Introdução ao estudo do direito.	23ª	ed.	rev.	e	atual..	Rio	de	Janeiro:	
Forense,	2003.
NASCIMENTO,	Bárbara	Luiza	Coutinho	do.	Provas	digitais	obtidas	em	fontes	abertas	
na	internet:	conceituação,	riscos	e	oportunidades.	In: WOLKART,	Erik	Navarro;	LAUX,	
Francisco	de	Mesquita;	RAVAGNANI,	Giovani	dos	Santos;	LUCON,	Paulo	Henrique	dos	
Santos.	Direito,	processo	e	tecnologia. São	Paulo:	Thomson	Reuters	Brasil,	p.	109-124,	2020.
NUCCI,	Guilherme	de	Souza.	Provas no processo penal.	São	Paulo:	Revista	dos	Tribunais,	
2009.
RAFFUL,	Leonardo	José.	RAFFUL,	Ana	Cristina.	Prova	eletrônica.	Revista do Direito 
Público,	Londrina,	v.	12,	n.	2,	p.	48-76,	ago.	2017.	DOI:	10.5433/1980-511X.2017v12n2p48.
SOUSA,	M.	M;	GUIMARÃES,	T.	A.	Inovação	e	desempenho	na	administração	judicial:	
desvendando	lacunas	conceituais	e	metodológicas.	Revista de Administração e Inovação,	v.	
11,	n.	2,	p.	321-344,	2014.
SCHERER-WARREN	Ilse.	Redes e espaços virtuais: uma agenda para a pesquisa de ações 
coletivas na era da informação. Cadernos de Pesquisa,	UFSC/PPGSP,		n.	11,	jul,	1997.
TARUFFO, Michele. A prova.	Trad.	João	Gabriel	Couto.	Madrid	|	Barcelona	|Buenos	Aires	|	
São	Paulo:	Marcial	Pons,	2014.	
THAMAY,	Rennan;	TAMER,	Mauricio. Provas no direito digital: conceito da prova 
digital, procedimentos e provas digitais em espécie. São	Paulo:	Thomson	Reuters	Brasil,	
2020.
VAN CREVELD. Martin. Ascensão e declínio do Estado.	Tradução	de	Jussara	Simões;	
revisão	da	tradução	Silvana	Vieira;	revisão	técnica	Cícero	Araújo.	São	Paulo:	Martins	Fontes,	
2004.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 63
A ESCRITA JURÍDICA E A LINGUAGEM SIMPLES.
LEGAL WRITING AND PLAIN LANGUAGE
Maria do Perpetuo Socorro Wanderley de Castro1
RESUMO
A	escrita	 do	Direito	 tem	 se	 caracterizado	pela	 linguagem	 rebuscada,	 construção	 inversa	 e	 textos	 de	
compreensão	 enigmática.	Um	novo	movimento	mundial	 postula	 a	 utilização	 de	 linguagem	 simples:	
mais	acessível,	clara	e	inclusiva	para	permitir	que	o	cidadão	médio	possa	entender	a	produção	jurídica	
que	lhe	afeta.
Palavras-chave:	escrita	jurídica;	linguagem	simples;	linguagem	inclusiva.
ABSTRACT
Legal	writing	has	been	characterized	by	its	convoluted	language,	inverted	construction	and	enigmatic	
texts.	A	new	worldwide	movement	is	calling	for	the	use	of	plain	language:	more	accessible,	clear	and	
inclusive	language	to	enable	the	average	citizens	to	understand	the	legal	production	that	affects	them.	
Keywords:	legal	writing;	plain	language;	inclusive	language.
1. INTRODUÇÃO
	 Uma	 transformação	 cultural	 na	 atividade	 jurídica	 está	 em	 curso.	 Trata-se	 da	 utilização	 da	
linguagem	clara,	após	séculos	de	uso	de	linguagem	rebuscada,	construção	inversa	e	textos	herméticos.	
É	um	movimento	que	ocorre	em	numerosos	países	e	diferentes	expressões	da	atividade	jurídica.	Visa	ao	
cidadão	médio	e	a	lhe	dar	compreensão	sobre	a	produção	jurídica	que	lhe	afeta.
2. PELA CLAREZA DA LINGUAGEM
	 Uma	transformação	cultural	na	atividade	jurídica	está	em	curso.	Surgiu	nos	países	anglo-saxões,	
prosseguiu,	entre	outros	países,	na	França	e	em	Portugal,	 instaura-se	na	Espanha	e	se	multiplica	nos	
países	de	língua	espanhola.
	 É	um	movimento	 largo	quanto	 aos	países	 e	 abrangente	quanto	 às	 atividades.	Diz	 respeito	 à	
elaboração	 das	 leis,	 aos	 textos	 legais;	 aos	 atos	 da	 Administraçãode	 forma	 que	 deve	 ocorrer	 em	
Decretos,	Portarias,	Resoluções	do	Executivo;	e	no	Judiciário,	nas	decisões,	sentenças	e	acórdãos	e	nas	
comunicações	dos	atos	judiciais.
	 No	 Brasil,	 há	 o	 Pacto	 Nacional	 do	 Judiciário	 pela	 Linguagem	 Simples	 encaminhado	 pelo	
Conselho	 Nacional	 de	 Justiça	 e	 expresso	 na	 Recomendação	 nº	 144,	 de	 25	 de	 agosto	 de	 20232. O 
direcionamento	visa	ao	cidadão	médio.	Trata-se	de	uma	figura	abstrata	a	que	são	atribuídas	
condutas,	procedimentos	e	até	noção	de	mundo.
	 Em	enfoque	particularizado,	o	direcionamento	tem	em	vista	as	relações	assimétricas,	
como	as	 relações	de	consumo.	É	pertinente,	portanto,	ao	Direito	do	Trabalho	e	ao	processo	
do	trabalho	pela	natureza	das	relações	em	que	ocorrem	os	conflitos	jurídicos.	A	intermediação	
1	Desembargadora	do	TRT21.	Professora	aposentada	do	Departamento	de	Direito	Privado	da	UFRN.	Perpetuo@
trt21.jus.br
2	Embora	o	texto	legal	se	refira	à	linguagem	simples,	uso,	neste	artigo,	a	expressão	linguagem	clara,	tendo	em	vista	
a	utilização	necessária	de	termos	técnicos,	na	linguagem	jurídica.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202464
da	representação	técnica,	por	advogados,	não	satisfaz	à	possibilidade	de	compreensão	de	atos	
judiciais	e	tramitação	de	processo.	Há,	no	processo	do	trabalho,	a	possibilidade	legal	de	iniciativa	
ou	defesa	pela	parte	legal.	Chama-se	jus postulandi.	Nesse	caso,	a	parte	tem	a	compreensão	dos	
fatos.	
	 Como	entender	a	decisão,	o	dispositivo	que	enuncia	o	pedido?	Ou	procedente	em	parte?	
Não	podendo	ser	afastada	a	expressão	técnica,	o	seu	sentido	deve	ser	explicado.
	 Perafán3	(2024)	adverte	que	“	O	que	sí	no	entendemos	la	sentencia	desfavorable	de	um	
jueces	decir,	que	nos	afecta	-,	creemos	que	este	fue	sobornado	para	fallar	en	nuestra	contra.”
	 Essa	autora	discorre	sobre	os	Imaginarios culturales.	Como	crenças	que	influenciam	a	
comunicação.	Refere	que,	sob	esse	entendimento,	o	trabalho	extenso	é	de	melhor	qualidade,	
em	desconsideração	da	concisão	que,	no	entanto,	implica	deixar	de	mencionar	boa	parte	dos	
conhecimentos	para	dizer	só	o	essencial.	Menciona	que	o	uso	de	imagens	é	entendido	como	
falta	de	seriedade	e	rigor.
	 Entre	as	crenças	apontadas,	duas	se	destacam.	A	primeira	é	o	senso	comum	de	que	aquele	
que	fala	ou	escreve	de	forma	complicada	é	muito	inteligente,	pois	quem	fala	com	simplicidade	
é	porque	 lhe	 faltam	conhecimentos,	não	 tem	 recursos	de	escrita	ou	de	extenso	vocabulário.	
No	Brasil,	como	se	sabe,	é	decorrência	do	bacharelismo.	Não	escapou	à	 ironia	de	Machado	
de	Assis	ao	descrever	o	médico	e	agregado	José	Dias,	em	Dom	Casmurro,	pois	ao	lhe	traçar	o	
perfil,	diz	que	ele	“amava	os	superlativos.	Era	um	modo	de	dar	feição	monumental	às	ideias;	
não	as	havendo,	servia	a	prolongar	as	frases.”	(Assis,	2019).
	 A	segunda	crença	a	ser	destacada	consiste	no	que	Perafán	(2024)	chama	de	elegantia 
iuris	;	trata-se	do	uso	de	termos	arcaicos,	expressões	latinas	e	orações	complexas	pontuadas	por	
vírgulas.
	 Outro	autor,	Leonardo	Altamirano	(2024,	p.	161-162),	relaciona	desafios	que	hoje	são	
acrescidos	ao	rol.	O	grande	volume	de	textos	jurídicos	que	é	produzido	diariamente	com	poucos	
servidores.	O	apego	a	modelos	de	escritos	pouco	claros	consolidados	pelo	uso.	A	urgência	da	
produção	de	escritos	forenses	para	o	cumprimento	de	prazos	processuais	e	de	produtividade	
institucional.	
La	 incidencia	 de	 textos	 juridicos	 poco	 claros	 que	 forman	parte	 de	 los	 expedientes	
judiciales	 y	 que	 han	 sido	 emitidos	 por	 legisladores,	 representantes	 legales	 de	 las	
partes,	 funcionais	 gubernamentales,	 peritos,	 equipos	 técnicos,	 agentes	 policiales	 y	
penitenciarios,	entre	otros4.
	 Os	produtores	de	textos	jurídicos	são	inúmeros	e	isso	contribui	para	a	dissonância,	opacidade	
dos	 textos	 e	 até	 algazarra	 das	 diferentes	 vozes.	Basta	 atentar	 para	 um	 processo	 trabalhista,	 em	 que	
há,	frequentemente,	a	linguagem	dos	representantes	de	autor	e	reclamado;	a	linguagem	de	peritos	que	
incursionam	pela	linguagem	jurídica;	a	transcrição	de	depoimentos,	com	a	linguagem	direta	de	partes	e	
testemunhas.	A	linguagem	do	servidor	ao	lançar	certidões	e	informativos.	A	linguagem	do	julgador,	ao	
proferir	despachos	e	sentenças.
	 Daí	 a	 urgência	 de	 compreender	 a	 simplificação	 da	 linguagem	 ou	 linguagem	 clara.	 Poblete	
Olmedo5	(2024)	diz	que	a	linguagem	clara	é	um	texto	com	estilo	claro	e	direto,	que	toma	em	
3	PERAFÁN,	B.	Enseñar	Lenguaje	jurídico	claro	para	promover	la	confianza	en	el	derecho.	In:	ARIAS,	G.	J.	A.;	WENCES,	
I.	(coords.)	¿CÓMO	PUEDE	ALGUIEN	CUMPLIR	UNA	LEY	QUE	NADIE	ENTIENDE?:	estudios	interdisciplinarios	sobre	
lenguaje	claro	y	cultura	de	la	legalidad.	Marcial	Pons:	Madrid,	2024.	p.	125-141.
4	 ALTAMIRANO.	 L.	 La	 implementación	 del	 lenguaje	 claro	 en	 los	 Tribunales	 Argentinos:	 experiencias	 y	
obstáculos.	In:	ARIAS,	G.	J.	A.;	WENCES,	I.	(coords.)	¿CÓMO	PUEDE	ALGUIEN	CUMPLIR	UNA	LEY	QUE	
NADIE	ENTIENDE?:	estudios	interdisciplinarios	sobre	lenguaje	claro	y	cultura	de	la	legalidad.	Marcial:	Madri,	
2024.	p.	145-164.
5	OLMEDO,	C.	P.	Derecho	a	comprender	y	Lenguaje	claro:	hacia	un	modelo	explicativo	integral.	In:	ARIAS,	G.	
J.	A.;	WENCES,	 I.	 (coords.)	¿CÓMO	PUEDE	ALGUIEN	CUMPLIR	UNA	LEY	QUE	NADIE	ENTIENDE?:	
estudios	interdisciplinarios	sobre	lenguaje	claro	y	cultura	de	la	legalidad.	Marcial	Pons:	Madrid,	2024.	p.	207-230.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 65
conta	o	propósito	comunicativo	e	o	destinatário	e,	citando	Montolío	e	Tascón	(2020),	explica	
—	“El	lenguaje	claro	utiliza	una	sintaxis	correcta,	sucinta	y	clara,	y	un	léxico	comprensible	y	
no	rebuscado,	pero	sin	renunciar	nunca	a	la	precisión	y	el	rigor.”.
	 Nas	sugestões	para	a	escrita	clara	são	referidos	numerosos	procedimentos.	A	utilização	
de	verbo	em	vez	de	substantivo	(começar	e	não,	dar	começo).	A	redação	de	frases	concisas,	com	
a	sugestão	de	no	máximo	dez	palavras,	até	mesmo	a	referência	ao	modo	Twitter	(atual	X)	com	
o	limite	de	140	caracteres,	a	redação	de	parágrafos	de	nove	a	quinze	linhas.	O	uso	moderado	
dos	elementos	de	ênfase,	como	negritos,	sublinhados,	maiúsculas,	letras	cursivas.	A	limitação	
do	uso	de	tecnicismos	e	a	explicação	de	seu	conteúdo,	ou	significado.	A	utilização	de	paratextos	
com	notas	de	rodapé	para	citação	de	doutrina	e	jurisprudência.
	 Uma	das	mais	repetidas	sugestões	é	a	observância	da	estrutura	lógica	da	oração,	isto	é,	
sujeito,	verbo	e	complemento.	Essa	estrutura	torna	mais	fácil	e	rápida	a	compreensão	do	que	é	
dito.	A	comunicação	jurídica	é	diferente	da	acadêmica	e	da	literária;	elas	têm	o	estilo	próprio	
no	qual	é	autorizado	o	uso	de	alterações	sintáticas	e	uso	de	vocabulário	mais	sofisticado	e	até	
arcaísmos.
	 Não	pode	ser	desconsiderado	que	a	linguagem	jurídica	é	uma	linguagem	específica	que	
é	necessária	para	dar	precisão	conceitual.	O	tecnicismo	é	necessário.	É	inevitável	a	exatidão	
do	texto	e	a	compreensão	geral	do	comando	emitido	na	decisão.	Como	ensina	Moreira	(2001),	
uma	petição	 inicial	 será	 sempre	e	necessariamente,	uma	petição	 inicial.	O	vocábulo	 técnico	
possibilita	uma	percepção	unívoca	e,	desse	modo,	se	destina	a	que	todos	possam	ter	o	devido	
conhecimento.	Diante	da	natural	dificuldade	que	representa,	são	adotados	os	glossários	em	que	
é	explicado	o	significado.
	 Ao	mesmo	 tempo	é	necessário	atentar	para	a	 evolução	de	uma	nova	 tecnificação	da	
linguagem	decorrente	de	nossos	universos	regulatórios,	de	novos	direitos	surgidos	no	mundo	
atual.	 Basta	 lembrar	 as	 expressões	 surgidas	 do	Direito	 digital	 e	 das	 novas	 tecnologias	 que	
implicam	o	uso	de	novos	termos	técnicos.
	 Altamirano	(2024)	acentua	que	uma	transformação	global	do	trabalho	discursivo	requer	
que	todos	participem	do	procedimento	de	clarificação,	o	que	torna	necessário	o	compromisso	
também	dos	atuantes	jurídicos	externos,	como	partes	e	seus	advogados,	peritos	entre	outros6. 
Não	se	confunda	todavia,	com	o	uso	do	vocativo,	Excelência	como	manifestação	de	linguagemsimples.	A	pertinência	de	se	dirigir	ao	interlocutor	só	se	completa	com	uma	mensagem	clara	e	
adequada.
	 A	mensagem	deve	ser	legível	e	inteligível.	Daí	porque	autores	mencionam	a	importância	
de	 estabelecer	 convergência	 entre	 juristas,	 linguistas	 e	 comunicadores7 (Cano, 2024). A 
interdisciplinaridade	 é	 própria	 da	multiplicidade	 e	 diversidade.	 O	 texto	 é	 dirigido	 para	 um	
auditório	múltiplo,	no	grau	de	compreensão	da	linguagem	que	não	basta	ser	lida	em	cada	palavra,	
mas	exige	ser	compreendida	em	seu	todo.	E	na	esfera	jurídica,	tem	que	ser	compreendida	no	
comando	que	emite,	e	nas	razões	por	que	assim	é	estabelecido.
3. CONCLUSÃO
	 São	várias	as	vozes	do	discurso	jurídico.	A	linguagem	deve	ter	a	clareza	necessária	para	
6	 ALTAMIRANO.	 L.	 La	 implementación	 del	 lenguaje	 claro	 en	 los	 Tribunales	 Argentinos:	 experiencias	 y	
obstáculos.	In:	ARIAS,	G.	J.	A.;	WENCES,	I.	(coords.)	¿CÓMO	PUEDE	ALGUIEN	CUMPLIR	UNA	LEY	QUE	
NADIE	ENTIENDE?:	estudios	interdisciplinarios	sobre	lenguaje	claro	y	cultura	de	la	legalidad.	Marcial:	Madri,	
2024.	p.	145-164.
7	CANO,	M.	J.	S.	Aproximaciones	una	cultura	del	lenguaje	jurídico	claro	y	(des)encuentros	con	la	cultura	de	la	
legalidad.	In:	ARIAS,	G.	J.	A.;	WENCES,	I.	(coords.)	¿CÓMO	PUEDE	ALGUIEN	CUMPLIR	UNA	LEY	QUE	
NADIE	ENTIENDE?:	estudios	interdisciplinarios	sobre	lenguaje	claro	y	cultura	de	la	legalidad.	Marcial	Pons:	
Madrid,	2024.	p.	23-35.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202466
apresentar	à	comunidade	uma	comunicação	eficaz,	uma	transmissão	de	conteúdo	que	permita	o	
acesso	à	informação,	de	forma	precisa,	transparente	e	acessível.	Uma	narrativa	em	que	o	Direito	
continua	a	ser	um	elemento	essencial	à	vida	em	sociedade.
REFERÊNCIAS
ALTAMIRANO.	 L.	 La	 implementación	 del	 lenguaje	 claro	 en	 los	 Tribunales	 Argentinos:	
experiencias	 y	 obstáculos.	 In:	ARIAS,	 G.	 J.	A.;	WENCES,	 I.	 (coords.)	 ¿CÓMO PUEDE 
ALGUIEN CUMPLIR UNA LEY QUE NADIE ENTIENDE?:	estudios	interdisciplinarios	
sobre	lenguaje	claro	y	cultura	de	la	legalidad.	Marcial:	Madri,	2024.	p.	145-164.
ASSIS, M. Dom Casmurro.	3	ed.	Jandira:	São	Paulo,	2019.
CANO,	M.	J.	S.	Aproximaciones	una	cultura	del	lenguaje	jurídico	claro	y	(des)encuentros	con	la	cultura	
de	la	legalidad.	In:	ARIAS,	G.	J.	A.;	WENCES,	I.	(coords.)	¿CÓMO PUEDE ALGUIEN CUMPLIR 
UNA LEY QUE NADIE ENTIENDE?:	estudios	interdisciplinarios	sobre	lenguaje	claro	y	cultura	de	
la	legalidad.	Marcial	Pons:	Madri,	2024.	p.	23-35.
CONSELHO	NACIONAL	DE	JUSTIÇA	(Brasil).	Recomendação n. 144,	de	25	de	agosto	de	2023.	
Diário	da	Justiça	[do]	Conselho	Nacional	de	Justiça,	Brasília,	DF,	n.	144,	p.	4-5,	25	ago.	2023.
MONTOLÍO,	E.;	TASCÓN,	M.	El derecho a entender. Catarata: Madrid, 2020. 
MOREIRA, J. C. B. A linguagem forense. In:	Palestra	proferida	no	Conselho	Técnico	da	Confederação	
Nacional	do	Comércio,	em	04/03/99,	Temas	de	direito	processual:	7ª	série.	São	Paulo:	Saraiva,	2001.	
OLMEDO,	C.	P.	Derecho	a	comprender	y	Lenguaje	claro:	hacia	un	modelo	explicativo	 integral.	 In: 
ARIAS,	G.	J.	A.;	WENCES,	I.	(coords.)	¿CÓMO PUEDE ALGUIEN CUMPLIR UNA LEY QUE 
NADIE ENTIENDE?:	 estudios	 interdisciplinarios	 sobre	 lenguaje	 claro	 y	 cultura	 de	 la	 legalidad.	
Marcial	Pons:	Madri,	2024.	p.	207-230.
PERAFÁN,	B.	Enseñar	Lenguaje	jurídico	claro	para	promover	la	confianza	en	el	derecho.	In:	ARIAS,	
G.	J.	A.;	WENCES,	I.	(coords.)	¿CÓMO PUEDE ALGUIEN CUMPLIR UNA LEY QUE NADIE 
ENTIENDE?:	estudios	interdisciplinarios	sobre	lenguaje	claro	y	cultura	de	la	legalidad.	Marcial	Pons:	
Madri,	2024.	p.	125-141.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 67
TRABALHO VERSUS PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA
WORK VERSUS HOMELESS PERSON
Lisiane Aguiar Henrique1
RESUMO
O	foco	do	artigo	foi	a	análise	da	situação	de	desemprego	que	leva	a	pessoa	à	situação	de	rua	e	
o	desemprego	que	a	fragiliza	ainda	mais	após	passar	a	viver	nas	ruas,	onde	precisa	de	inventar	
práticas	para	sua	sobrevivência.	Inicialmente,	tece-se	alguns	dos	vários	motivos	que	levam	a	
pessoa	à	rua,	tais	como	questões	familiares,	porém	este	ensaio	é	sobre	“trabalho	e	emprego”.	
Buscou-se	abrir	mais	uma	janela	no	pensamento	da	comunidade,	inclusive	jurídica,	que	aborda	
amplamente	questões	como	trabalho	e	emprego	no	Brasil,	desemprego,	emprego	salubre	física	
e	mentalmente,	outros	direitos	trabalhistas,	violações	a	direitos	trabalhistas.	A	janela	se	abre	
para	 esse	 segmento	 composto	de	no	mínimo	236.400	pessoas	no	Brasil,	 das	quais	 cerca	de	
39%	estão	nas	ruas	devido	a	ausência	de	trabalho	e	tampouco	conseguem	trabalho	a	partir	do	
momento	em	que	passam	a	morar	na	rua,	agravando-se	no	decorrer	dos	dias	e	meses.	Não	se	
quis	detalhar	muito	aqui	trabalho	x	emprego,	sendo	ambas	as	nomenclaturas	empregadas	quase	
que	sem	maiores	formalizações,	em	alguns	momentos	como	que	equivalentes,	distinguindo-se	
apenas	das	questões	como	catações	de	latinha,	pedintes,	pequenas	vendas	de	objetos	achados	
em	lixeira,	etc.
Palavras-chave:	população	em	situação	de	rua;	emprego	antes;	emprego	depois.
ABSTRACT
The	focus	of	the	article	was	the	analysis	of	the	unemployment	situation	that	leads	people	to	
become	homeless	and	the	unemployment	that	makes	them	even	more	fragile	after	starting	to	
live	on	the	streets,	where	they	need	to	invent	practices	for	their	survival.	Initially,	some	of	the	
various	 reasons	 that	 lead	people	 to	 the	 streets	 are	discussed,	 such	as	 family	 issues,	 but	 this	
essay	is	about	“work	and	employment”.	We	sought	to	open	another	window	into	the	thinking	
of	the	community,	including	the	legal	community,	which	broadly	addresses	issues	such	as	work	
and	employment	in	Brazil,	unemployment,	physically	and	mentally	healthy	employment,	other	
labor	rights,	violations	of	labor	rights.	The	window	opens	for	this	segment	made	up	of	at	least	
236,400	people	 in	Brazil,	 of	which	 around	39%	are	on	 the	 streets	due	 to	 lack	of	work	 and	
cannot	find	work	from	the	moment	they	start	living	on	the	streets,	worsening	in	the	over	the	
days	and	months.	We	did	not	want	to	detail	work	x	employment	here,	with	both	nomenclatures	
being	used	without	 further	 formalization,	 almost	 equivalent,	 distinguishing	 themselves	only	
from	issues	such	as	collecting	cans,	begging,	small	sales	of	objects	found	in	rubbish	bins,	etc.
Keywords: homeless	population;	employment	before;	employment	after.
1	Analista	Judiciário	do	Tribunal	Regional	Terceira	Região.	Assessora	Coordenadora	de	Gabinete	de	Magistrado	
na	Segunda	Vara	do	Trabalho	de	Pouso	Alegre/MG.	Graduada	em	Direito.	Mestra	em	Direito	Ambiental,	na	linha	
Direitos	Humanos	e	Sustentabilidade.	Pós-graduada	em	Direito	Público.	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202468
1. INTRODUÇÃO
	 O	desemprego	antes	e	posterior	da	pessoa	em	situação	de	rua	precisa	ser	urgentemente	
pensado	no	Estado	Social	que	imagina	haver	trabalho	para	todas	e	todos.
	 Iniciando	pelo	desemprego	anterior,	como	um	motivo	que	levara	a	pessoa	a	morar	nas	
ruas,	não	se	olvida	de	outros	vários	fatores,	que	citaremos	alguns.
	 Vínculos	 familiares	 (ou	 bem	próximos)	 interrompidos	 ou	 fragilizados,	 pensando	 em	
família	 como	 um	 encadeamento	 de	 relações	 afetivas.	 Quase	 a	 totalidade	 da	 população	 em	
situação	de	rua	possui	uma	referência	familiar,	contudo	a	solidariedade	e	os	vínculos	afetivos	que	
poderiam	as	unir,	se	dissolveram.	Quando	se	atribui	a	situação	de	rua	à	família,	os	argumentos	
são	 desde	 que	 os	 próprios	 moradores	 de	 rua	 esgotaram	 suas	 famílias,	 impossibilitando	 a	
convivência,	ou	as	famílias	são	problemáticas,	com	conjunturas	abusivas,	descontroladas,	ou	
até	a	falta	de	apoio	familiar	relativamente	estável,	“não	porque	este	foi	retirado,	mas	porque	não	
havia	nenhum	desde	o	princípio”	(Anderson	e	Snow,	1998,	p.	414).
	 Melo	(2011)	percebe	que,	além	das	questões	de	pobreza	e	violência	familiar,	a	situação	
de	falecimento	de	algum	membro	da	família	tem	muita	implicação	emocional	nessa	temática,	
por	 inclusiveacentuar	problemas	emocionais	anteriores,	criando	um	propício	 terreno	para	a	
entrada	na	situação	de	rua.	Também	percebeu	ser	muito	comum	a	perda	de	cônjuge,	em	especial	
no	sentido	de	o	homem	ser	deixado	ou	traído	por	sua	companheira,	como	fatores	implicantes.
	 Falou-se	acima	de	pobreza	e	esse	seria	o	maior	e	mais	extenso	campo	a	se	abordar.	A	
pobreza	que	antecede	a	“extrema	pobreza”	(nesta	se	situa	a	população	de	rua)	está	ligada	ao	
modo	como	a	sociedade	brasileira	(e	outras)	se	organiza,	“em	um	processo	concentrador	de	
renda,	marcado	por	desigualdades	sociais,	conjunturas	econômicas	de	recessão	e	desemprego	
e	agravamento	das	más	condições	de	reprodução	da	vida	humana,	como	moradia	e	saúde,	por	
exemplo”	(Rosa,	2005,	p.29).
	 Silva	(2009)	aponta	que	a	condição	e	estagnação	da	pobreza	são	vinculadas	à	sociedade	
capitalista,	como	um	fenômeno	produzido	socialmente,	e	que	suas	estruturas	são	reproduzidas.	
Leff	(2015),	diante	da	atual	retórica	do	desenvolvimento	sustentável,	que	converteu	o	sentido	
crítico	 do	 conceito	 de	 ambiente	 para	 perspectivas	 neoliberais,	 questiona	 como	 falar	 de	
sustentabilidade	do	capitalismo,	por	ser	um	sistema	incapaz	de	deter	a	degradação	entrópica	
que	gera.
	 Ausência	 de	 moradia,	 mudanças	 econômicas,	 fatos	 biográficos,	 como	 ruptura	 de	
vínculos,	morte	de	familiares	(até	arrimos),	doenças	mentais,	uso	de	álcool	e	droga,	interrupção	
dos	estudos	até	mesmo	para	suprimir	o	desemprego	das	pessoas	adultas	da	família,	migração,	
assim	por	diante.
	 O	questionamento	do	porquê	algumas	pessoas	se	tornam	moradoras	de	rua,	enquanto	
outras,	também	vulneráveis,	do	ponto	de	vista	estrutural,	não	o	tornam,	pode	obter	a	resposta	
na	 consulta	 de	 instituições	 voltadas	 a	 essa	 assistência,	 na	 literatura	 das	 ciências	 sociais,	 na	
história	individual	experienciada	ou	na	conversa	com	os	próprios	moradores	de	rua.	Anderson	
e	Snow	(1998,	p.	405-407)	perceberam	que	as	respostas	são	muitas	e	variadas,	contudo	muitos	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 69
moradores	de	rua	a	associam	a	problemas	pessoais	ou	azar.
	 Segundo	 eles,	 grande	 parte	 dos	 moradores	 de	 rua	 não	 atribui	 a	 explicação	 ao	
voluntarismo,	 ou	 escolha	 pessoal.	 Quando	 o	 desabrigo	 é	 percebido	 como	 uma	 questão	 de	
“escolha”,	 normalmente	 é	 quando	 há	 poucas	 “alternativas	 disponíveis”,	 que	 não	 são	 mais	
palatáveis	que	a	vida	nas	ruas.
	 Muitas	 pessoas	 poderiam	 ser	 inseridas	 no	 fator	 “azar”	 se	 esses	 forem	 considerados,	
conforme	 dizem	 esses	 autores	 (em	 suas	 experiências	 empíricas),	 acidente	 de	 automóvel,	
ferimento	grave,	objetos	pessoais	roubados	(pessoas	que	têm	pouco),	“perda	de	um	emprego	
devido	ao	encerramento	de	atividades	de	uma	fábrica,	à	redução	do	ritmo	de	atividades	específica	
a	uma	indústria,	ou	a	mudança	econômica	geral”	(Anderson	e	Snow,	1998,	p.	423).
	 Há	 também	trabalhadores	que	não	conseguem	acompanhar	as	mudanças	do	perfil	de	
emprego	e	da	sociedade	e	daí	“sofrem	os	efeitos	de	forte	alijamento	do	mercado	de	trabalho”	
(Rosa,	2005,	p.	31).
	 A	bem	da	verdade,	praticamente	todas	essas	reflexões,	que	são	baseadas	em	pesquisas	
e	 relatos	dos	próprios	moradores	de	 rua,	nos	 levam	à	questão	da	pobreza	estrutural	 (muitas	
vezes	não	percebida	pelo	vulnerável	dessa	forma),	ou	seja,	questões	sociais	e	econômicas	que	
“possuem”	a	pessoa	no	enfrentamento	das	fatalidades.	Fora	dessa	linha	de	pobreza,	a	pessoa	
teria	mais	recursos	para	sair	da	precariedade	física	ou	psicológica,	em	regra,	mas	não	sempre.
	 Ficaremos	 aqui,	 neste	 ensaio,	 com	 a	 questão	 já	 aventada	 do	 “trabalho”	 (que	 será	
impossível	 separar	 totalmente	da	questão	do	capitalismo	e	miséria	subjacente).	 Inicialmente	
a	ausência	de	trabalho	gera	a	situação	de	rua	e,	linhas	mais	a	frente,	a	possibilidade	ou	não	de	
inserção	da	pessoa	já	em	situação	de	rua	no	mercado	de	trabalho,	ainda	nessa	situação.
	 O	“versus”	utilizado	no	título	vem	mesmo	da	ideia	de	um	“confronto”.	Não	o	confronto	
que	 alguém	 poderia	 querer	 fazer,	 como	 o	 ter	 “aversão	 ao	 trabalho”,	 mas	 o	 real	 “não”	 do	
“trabalho”	a	essas	pessoas	“enojantes”.
2. TRABALHO E EMPREGO: OFERTAS ANTES
	 Uma	 das	 causas	mais	 consideráveis	 para	 explicação	 do	 fenômeno	 da	 população	 em	
situação	de	rua	é	o	alijamento	da	pessoa	do	mercado	de	trabalho	formal.
	 O	diagnóstico	do	Governo	Federal	 divulgado	em	agosto	de	2023	 registra,	 com	base	
em	dados	obtidos	a	partir	do	Cadastro	Único,	236.400	pessoas	em	situação	de	rua	no	Brasil,	
cadastradas.	Dos	motivos,	o	desemprego	representa	39%	das	pessoas	cadastradas,	seguida	de	
29%	devido	a	alcoolismo	ou	uso	de	drogas,	etc.
	 Um	parêntese	é	importante.	A	questão	do	álcool	ou	droga	pode	tanto	ter	levado	a	pessoa	
a	viver	nas	 ruas,	 como	pode	 ter	 sido	posteriormente	uma	 fuga	para	“dar	conta”	de	viver	as	
penúrias	da	rua,	desde	fome	até	depressão.
	 Prosseguindo,	 Silva	 (2009)	 explica	 que	 o	 fenômeno	 denominado	 “pauperismo”	
generalizou-se	em	toda	a	Europa	Ocidental	no	último	quartel	do	século	XVIII.	Aqueles	que	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202470
“foram	expulsos	de	 suas	 terras	não	 foram	absorvidos	pela	 indústria	nascente	 com	a	mesma	
rapidez	 com	 que	 se	 tornaram	 disponíveis,	 seja	 pela	 incapacidade	 da	 indústria,	 seja	 pela	
dificuldade	de	adaptação	repentina	a	um	novo	tipo	de	disciplina	de	trabalho”	(Silva,	2009,	p.	
95).	Foi	a	partir	daí	que	muitos	indivíduos	passaram	à	situação	de	rua.
	 Estaria	vinculado	ao	processo	de	acumulação	do	capital.	A	produção	não	era	apenas	de	
produtos,	mas	também	do	valor	das	mercadorias,	tal	como	o	trabalho	humano	(dispor	da	força	
de	trabalho	como	mercadoria	a	vender),	que	pode	se	tornar	a	superpopulação	relativa,	conforme	
exploração	histórica	e	marxista	feita	por	Silva	(2009,	p.	98).
	 Trata-se	de	um	excedente	à	capacidade	de	absorção	pelo	capitalismo	(no	eixo	capital/
trabalho),	 que	 surge	de	 forma	aguda	ou	 crônica,	mas	 conceituado	 como	o	 tempo	em	que	o	
trabalhador	 fica	 desempregado	 ou	 parcialmente	 empregado.	 Uma	 população	 oriunda	 de	
diversas	formas,	inclusive	local	consubstanciada	na	estagnação	ou	não	regulação	das	condições	
de	trabalho,	mas	muito	evidente	também	nos	fluxos	migratórios	dos	trabalhadores	rurais	(ora	
repelidos,	ora	atraídos	pelo	mercado	de	trabalho)	e	em	outras	formas	de	população	latente.
	 No	entanto,	no	final	do	século	XV	e	todo	o	século	XVI,	aponta	a	autora	que	já	surgiram	
nos	 países	 da	 Europa,	 por	 exemplo,	 uma	 legislação	 rígida	 contra	 vadiagem,	 que	 tinha	 a	
finalidade	de	forçar	as	pessoas	a	aceitarem	empregos	com	péssimas	condições,	rígida	disciplina	
e	baixos	salários,	no	intuito	principalmente	de	inibir	o	deslocamento	de	tais	indivíduos	à	busca	
de	melhores	condições.
	 O	fenômeno	pauperismo	vincula-se	hoje	à	denominada	população	em	situação	de	rua.	
Não	se	trata	de	reflexões	longínquas,	pois	as	atuais	transformações	na	política	e	na	economia	
têm	alterado	o	funcionamento	do	mercado	de	trabalho,	assim	como	a	aceleração	de	processos	
tecnológicos,	precarizando	cada	vez	mais	as	condições	de	emprego.	“Esta	é	a	perspectiva	de	
um	dos	eixos	da	análise:	conjunturas	sociais	e	econômicas	ligadas	ao	trabalho	podem	contribuir	
para	que	pessoas	se	vejam	forçadas	a	ir	para	a	rua”	(Rosa,	2005,	p.108).
	 Significa	 que	 as	 desigualdades	 sociais	 são	 aprofundadas	 na	 cena	 contemporânea,	
inclusive	pelas	mudanças	no	mundo	do	 trabalho	diante	da	 tecnização	e	em	seu	processo	de	
reestruturação	 produtiva,	 bem	 como	 pelo	 fato	 das	 (re)orientações	 por	 parte	 do	 Estado,	 que	
não	consulta	os	mais	vulneráveis	 (suposta	minoria)	 e	 supervaloriza	os	detentores	do	capital	
financeiro	(de	fato	minoria),	tornando-se	instrumento	político	qualificado	na	mediação	entre	as	
classes	sociais.
	 Discorre	Bauman	(2005b,	p.	56)	que	“a	superpopulação	é	apenas	um	efeito	colateral	
da	civilização	global	emergente	que	se	manifesta	na	produção	e	remoção	de	refugos”.E	esses	
refugos,	assim	como	o	exército	industrial	de	reserva,	são	os	seres	humanos	mais	vulneráveis.
	 Agora,	criticando	o	paradigma	da	vagabundagem	e	o	falso	pressuposto	de	que	existe	
trabalho	para	todos	(inclusive	os	socialmente	isolados),	a	doutrina	aponta	que	outras	pesquisas	
sobre	a	população	de	 rua	 revelam	claramente	que	se	 trata	de	um	perfil	de	 trabalhadores	em	
situação	de	 sem	emprego	ou	 subemprego,	 contrário	àquela	visão	corrente	da	 sociedade	que	
concebe	tais	pessoas	como	“sem	capacidade	de	pensar,	refletir	e	se	organizar	e	todos	dependentes	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 71
do	álcool”	(Rosa,	2005,	p.42).
	 Nas	pesquisas,	a	análise	principalmente	do	conjunto	das	trajetórias	ocupacionais	desses	
indivíduos	 chega	 a	 duas	 perspectivas:	 uma	 individual	 e	 outra	 de	 ordem	 geral.	A	 primeira	
considera	 como	 que	 cada	 pessoa,	 ao	 longo	 dos	 anos,	 perdeu	 oportunidades	 de	 trabalho	 e	
emprego,	seja	devido	à	sua	formação	escolar,	profissional	ou	pela	ausência	de	experiências.	
A	segunda	vertente,	ainda	conforme	Rosa	(2005,	p.	114),	demonstra	que	todos	os	indivíduos	
obtêm	no	mercado	de	trabalho	as	mesmas	oportunidades	precárias,	inclusive	com	rebaixamento	
salarial.
	 Em	suas	pesquisas	 realizadas	nos	Texas	da	década	de	1980,	 sociólogos	seguiram	no	
mesmo	 sentido.	 “É	 a	 falta	 de	 disponibilidade	 ou	 de	 acesso	 ao	 trabalho	 regular	 que	 torna	 o	
trabalho	um	dos	dilemas	centrais	nas	vidas	dos	moradores	de	rua.	O	senso	comum,	todavia,	
frequentemente	sustenta,	em	lugar	disso,	que	os	moradores	de	rua	fogem	do	trabalho	regular	
porque	são	preguiçosos”	(Anderson;	Snow,	1998,	p.	185).
	 Veja-se	que	a	discussão	sobre	trabalho	que	precedia	a	situação	de	rua,	agora	a	sucede	e	
passa	a	ser	mais	brutal.
	 Apontou-se	primeiro	que	o	mercado	não	foi	capaz	de	acolher	a	todos,	principalmente	
os	fragilizados,	seja	diante	de	sua	pouca	preparação	ou	adaptação	para	o	trabalho	ou	emprego,	
seja	pela	precariedade	do	próprio	mercado,	ou	até	mesmo	pela	estratégia	do	sistema	que	sempre	
mantém	uma	superpopulação	relativa	desempregada.
	 Agora	a	discussão	caminha	no	sentido	da	inerente	manutenção	da	situação	de	desemprego	
da	população	de	rua,	que	possui	dificuldades	mais	extremadas	ainda	de	se	(re)inserir	no	mercado	
de trabalho.
3. TRABALHO E EMPREGO: OFERTAS DEPOIS
	 O	emprego	já	parece	uma	realidade	muito	distante,	pela	ausência	de	condições	sólidas	
de	participarem	de	uma	entrevista,	mas	o	 trabalho	como	autônomo	e	outros	dignos	 também	
é	 distante,	 contentando-se	muitas	 vezes,	 para	 sobrevivência,	 a	 fazerem	pequenas	 vendas	 de	
resíduos	 ou	 objetos.	 Um	 problema	 também	 é	 que	 a	 pessoa	 não	 apenas	 vai	 ficando	 com	 a	
“aparência	cada	vez	mais	suja”	no	decorrer	dos	dias	e	semanas	que	sucedem	sua	situação	de	
rua,	ainda	que	tome	banho	no	abrigo,	pela	própria	condição	da	rua,	mas	também	vai	perdendo	
a	sanidade	no	decorrer	dos	meses	e	quando	mais	se	prolonga	seu	estado	na	rua	menos	consegue	
sair	dele	em	todos	os	aspectos.
	 Anderson	 e	 Snow	 (1998)	 não	 olvidam	 que	 há	 ofertas	 de	 emprego,	 porém	 indagam:	
“primeiro,	quais	são	os	níveis	de	qualificação	dos	moradores	de	rua?	Segundo,	há	suficientes	
empregos	que	pagam	decentemente	para	os	quais	os	moradores	de	rua	se	qualificam?	Terceiro,	
os	moradores	de	rua	realmente	deixam	de	ir	atrás	desses	empregos	e,	em	caso	afirmativo,	por	
quê?”	(Anderson	e	Snow,	1998,	p.	186).
	 No	primeiro	caso,	alegam	que	não	há	fundamento	empírico	de	que	os	anúncios	“procura-
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202472
se”	vão	ao	encontro	da	qualificação	dos	moradores	de	rua.
	 Outros	obstáculos	são	o	vestuário,	a	aparência,	o	ter	onde	guardar	as	coisas	(que	muitas	
vezes	 são	 carregadas	 num	 saco	 –	 todas	 as	 roupas	 que	 possui,	 espelho,	 shampoo	 e	 outros	
pertences	pessoais),	lugar	para	tomar	um	banho	e	fazer	barba,	falta	de	referência,	de	ideia	de	
tempo,	de	telefone	e	endereço	(a	não	ser	o	do	abrigo	-	se	for	o	caso	-	o	que	já	gera	preconceito),	
local	para	preparar	a	marmita	à	noite	para	ir	trabalhar	no	dia	seguinte,	além	de	estar	vulnerável	
a	ter	seu	uniforme	de	trabalho	roubado,	e	assim	por	diante.
	 Por	fim,	atestaram	em	suas	pesquisas	que,	quando	já	na	situação	de	rua	e	foram	indicados	
a	algum	emprego,	cerca	de	89,3%	responderam	à	indicação,	mas	foram	também	rejeitados	pelo	
emprego.
	 A	possibilidade	de	emprego	(formal,	na	relação	empregatícia	com	carteira	assinada)	é	
mínima.	Trabalhos	em	geral	também	não	são	fáceis	de	conseguir	por	esse	segmento	populacional,	
contudo,	dos	entrevistados	por	Rosa	(2009,	p.126),	metade	estava	sem	ocupação,	uma	pessoa	
trabalhava	como	servente	de	pedreiro,	outra	em	acampamento	do	MST	e	os	demais	ativavam-
se	como	catadores	de	papel	e	latas,	carregamento	e	descarregamento	de	caminhão	ou	entulho,	
serviços	domésticos	ou	serviço	de	guardar	barracas,	sempre	de	forma	irregular	e	esporádica.
	 Como	parte	constitutiva	das	relações	sociais	capitalistas,	na	acepção	de	uma	expressão	
de	desigualdades,	encontram-se	as	conformações	pelo	trabalho,	e	o	segmento	população	de	rua	
é	inquestionavelmente	a	dicção	mais	radical	dessa	questão,	que	é	social.
	 A	título	de	exemplo,	Silva	(2009,	p.	169)	apontou	que,	na	pesquisa	realizada	em	2005	na	
cidade	de	Recife,	a	maioria	dos	moradores	de	rua	entrevistados	indicaram	o	desemprego	como	
principal	motivo	da	situação	de	rua,	assim	como	demonstraram	querer	sair	das	ruas	mediante	
inserção	no	mercado	de	trabalho.
	 Enquanto	 não	 efetivado,	 as	 atividades	 socioespaciais	 de	 sobrevivência	 na	 rua	 que	
mais	se	destacam	no	Brasil,	das	mais	perceptíveis	atualmente,	para	obtenção	de	rendimentos,	
são	as	voltadas	à	catação	de	materiais	recicláveis	e	as	vinculadas	a	guardar	e	lavar	carros.	A	
mendicância	é	bem	presente	em	algumas	capitais,	mas	não	é	a	principal	fonte	para	se	ganhar	
dinheiro,	pois,	conforme	censo	nacional	realizado	pelo	Ministério	do	Desenvolvimento	Social	
(MDS)	Em	2008,	apenas	15,7%	dos	entrevistados	pediam	dinheiro	como	principal	meio	de	
sobrevivência2.
	 Enfim,	 conforme	 depreende	 Melo	 (2011,	 p.	 14),	 o	 principal	 marcador	 desde	 a	
criminalização	 da	mendicância	 à	 formação	 da	 população	 em	 situação	 de	 rua,	 é	 a	 categoria	
trabalho/emprego,	em	especial	a	falta	dele	no	processo	de	desenvolvimento	capitalista.
	 Sem	buscar	 aqui	 adentrar	muito	 nos	 conceitos	 de	 emprego,	 trabalho	 autônomo,	 etc,	
certo	é	que	não	se	confundem	com	práticas	de	sobrevivência	diária,	por	intermédio	de	meios	
para	se	conseguir	algum	dinheiro.
	 Para	 a	 sociedade,	 num	grosso	modo,	 é	 porque	 não	 quer	 trabalhar	 que	 a	 pessoa	 está	
2	Índice	encontrado	na	p.93	da	pesquisa	nacional	realizada	em	2007	e	2008,	consoante	publicação	no	site	do MDS, 
que	se	encontra	nas	referências,	sendo	esse	ministério	o	realizador	da	pesquisa.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 73
nessa	situação.	Não	é	uma	matéria	que	vamos	repisar,	porque	o	presente	trabalho	não	é	palpite	
e	sim	um	enredo	técnico,	porém	as	identidades	das	pessoas	de	rua,	quando	situacionalmente	
estabelecidas	e	atribuídas	por	outrem,	estariam	exemplificadas	na	seguinte	situação:	“quando	
estudantes	de	colégio	gritam	para	fora	das	janelas	de	seu	ônibus	escolar	aos	moradores	de	rua	
que	 estão	na	fila	 de	 jantar	 em	 frente	 ao	Sally3:	Arrumem	um	emprego,	 seus	 vagabundos!’”	
(Anderson	e	Snow,	1998,	p.	343).
	 A	 Política	 Nacional	 para	 Inclusão	 Social	 da	 População	 em	 Situação	 de	 Rua	 coloca	
esse	segmento	populacional	como	“público-alvo	prioritário	na	intermediação	de	emprego,	na	
qualificação	profissional	e	no	estabelecimento	de	parcerias	com	a	iniciativa	privada	e	com	o	setor	
público	para	a	criação	de	novos	postos	de	trabalho”,	e	apresenta	como	mecanismo	a	“promoção	
de	 capacitação,	 qualificação	 e	 requalificação	profissional	 da	 população	 em	 situação	 de	 rua”	
e	o	“incentivo	às	formas	cooperadas	de	trabalho”	(p.	16).	Dispõeainda	sobre	a	possibilidade	
de	“promoção	de	oficinas	sobre	economia	solidária,	centradas	no	fomento	e	na	capacitação,	a	
partir	de	recortes	regionais,	com	o	apoio	do	Ministério	do	Trabalho	e	Emprego”	(p.	17).
	 Silva	 (2009,	p.	116)	aponta	que	em	Belo	Horizonte	e	São	Paulo	existem	há	décadas	
movimentos	organizados	de	população	de	rua	na	luta	por	trabalho	e	políticas	públicas.	É	preciso	
pensar	hoje	se	essas	reuniões	para	debates	desses	temas	não	estão	vazias.
	 Existe	 um	 projeto	 de	 iniciativa	 do	 Ministério	 Público	 de	 Minas	 Gerais,	 do	 Servas	
(Serviço	Voluntário	de	Assistência	Social)	e	do	Tribunal	de	Justiça	de	Minas	Gerais,	intitulado	
“Rua	do	Respeito”4,	que	pretende	promover	sobretudo	o	diálogo	e	reflexão	entre	representantes	
de	setores	da	sociedade	sobre	as	condições	em	que	vivem	as	pessoas	de	trajetória	de	rua,	que,	
dentre	outros,	resultou	na	criação	de	uma	cooperativa,	denominada	“CoopMulti”	(Cooperativa	
de	 Serviços	Múltiplos),	 “responsável	 pela	 capacitação	 e	 inserção	 profissional	 direcionada	 à	
construção	civil”.	A	última	divulgação	que	se	tem	a	respeito	é	datada	de	2019.
	 Já	o	prefeito	de	São	Paulo5	iniciou,	conforme	disponível	no	site	da	prefeitura	da	Capital,	
a	 partir	 de	 reuniões	 formalizadas	 desde	 04	 de	 janeiro	 de	 2017,	 um	projeto	 intitulado	 como	
Trabalho	 Novo6.	 O	 projeto,	 conforme	 divulgado	 na	 Folha	 de	 São	 Paulo7,	 consistiria	 numa	
parceria	da	prefeitura	com	a	empresa	McDonald’s	visando	dar	vagas	de	emprego	a	moradores	
de	rua,	mas	também	parece	buscar	sensibilizar	outros	empregadores.	A	meta	seria	empregar,	até	
o	final	de	2017,	20	mil	pessoas.	A	última	divulgação	que	se	tem	a	respeito	é	datada	de	2019.	
	 Ao	se	considerar	a	última	estatística	realizada	no	município	(2015),	na	qual	se	constatou	
o	número	de	15.905	pessoas	em	situação	de	rua	naquela	localidade,	é	possível	considerar	que	
mencionado	prefeito	deseja	empregar	praticamente,	ou	no	mínimo,	todos	os	moradores	de	rua,	
um	projeto,	de	fato,	hegemônico.
	 Alguns	pontos	precisam	ser	indagados,	como	as	“possibilidades”,	e	até	vontades,	de	todas	
3	Era	um	abrigo	temporário	para	moradores	de	rua	no	Texas.
4	Projeto	lançado	em	setembro	de	2015,	cujas	informações	estão	no	site	do	MPMG,	conforme	referências.
5	João	Dória,	com	mandato	de	outubro	de	2016	à	2020.
6	 Conforme	 relatórios	 de	 reuniões	 e	 atos	 de	 adesão	 elencados	 no	 site	 da	 prefeitura,	 cujos	 conteúdos	 não	 se	
encontram	disponíveis	para	usuário	externo.	Endereço	eletrônico	nas	referências.
7	Jornal	Folha	de	São	Paulo,	matéria	on-line divulgada	em	10	de	abril	de	2017,	conforme	referências.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202474
essas	pessoas	de	se	inserirem	no	mercado	de	trabalho.	Não	se	pode	olvidar	da	particularidade	de	
cada	indivíduo	e	seu	processo	construtivo.	Uma	fórmula	para	propiciar	a	saída	da	rua	de	todos	
pode	gerar	dúvidas	por	conduzir	a	uma	pseudo	individualidade,	no	sentido	de	que	o	individual	
pode	se	reduzir	“à	capacidade	do	universal	de	marcar	tão	integralmente	o	contingente	que	ele	
possa	ser	conservado	como	o	mesmo”	(Adorno	e	Horkheimer,	1985,	p.	128).
	 De	qualquer	forma,	a	Folha	de	São	Paulo	informou	que,	até	abril	de	2017,	já	haviam	
sido	contratadas	230	pessoas	por	intermédio	do	programa,	sendo	que	14	foram	dispensados.	
A	prefeitura	 informou	que	várias	outras	vagas	 já	haviam	sido	viabilizadas.	Interessante	uma	
entrevista	colhida	por	 tal	 jornal	 referente	a	um	desses	assistidos,	de	nome	Charles,	que	está	
dentre	os	14	dispensados	do	emprego.
“Não	tenho	despertador.	Durmo	na	rua.	Como	ia	acordar	para	entrar	às	6h?	Acordava	
às	 3h	 para	 não	 atrasar,	 aflito”,	 diz	Charles	Queiroz,	 29,	 que	 trabalhou	 na	 limpeza	
do	Hospital	 das	 Clínicas	 enquanto	 dormia	 no	Anhangabaú,	 no	 centro.	 Ele	 diz	 ter	
sido	 vítima	 de	 discriminação.	 “[No	 hospital]	 não	 sabiam	 que	 éramos	 de	 rua.	Mas	
funcionários	questionaram	porque	recebíamos	marmita	e	eles	não.	Quando	souberam,	
ficou	a	maior	fofoca”,	diz.	(FOLHA	DE	S.	PAULO).
	 Percebe-se	 algumas	 dificuldades	 de	 logística	 enfrentadas	 pelos	moradores	 de	 rua	 ou	
de	compreensão	no	ambiente	laboral.	Fatores	como,	repita-se,	horário	para	acordar	e	iniciar	a	
jornada	de	trabalho,	locomoção,	ter	que	lidar	com	o	vício,	saúde	fraca	(acentuada	cada	vez	mais	
com	o	tempo),	além	de	tudo	o	mais	que	já	foi	exposto,	são	muitas	vezes	complicadores	que,	por	
mais	que	a	pessoa	queira	desvincular	da	(não)	rotina	das	ruas,	muitas	vezes	não	consegue,	num	
plano	primário	e	imediato.
	 Conforme	informações	do	jornal,	em	regra,	o	programa	não	emprega	pessoas	que	ainda	
dormem	na	calçada.	A	pessoa	deve,	provavelmente,	ter	que	estar	então	abrigada,	mas,	como	
visto,	casas	de	acolhimento	não	são	consideradas	moradia/habitação,	além	de	abarcar	várias	
situações	em	torno	da	ausência	de	autonomia,	tal	como	se	chegar	atrasado	por	qualquer	motivo	
já	não	entra,	pois	não	se	trata	de	casa	mas	de	institucionalização.
	 Não	há	dúvida	de	que	tanto	a	empresa	como	a	pessoa	em	situação	de	rua	contratada	
demora	muito	a	se	adaptar,	pois	cada	um	tem	sua	cultura.	Diante	disso,	aquela	prefeitura	teria	
aderido	ao	“RH	Compartilhado”,	instituído	pela	ONG	“Rede	Cidadã”8,	que	faz	o	meio	campo	
entre	moradores	de	rua	e	empresas,	acompanhando	ambos,	de	forma	até	que	as	demissões	só	
aconteçam	após	decisão	conjunta.	A	imprensa	aponta	que,	antes	de	iniciarem	os	trabalhos,	os	
moradores	de	 rua	passam	por	um	curso	comportamental	de	uma	semana,	ministrado	por	 tal	
ONG,	no	qual	há	inclusive	tapetes	de	ioga	nos	quais	as	pessoas	se	deitam	e	escutam	palavras	
como	“acredite”.
	 Não	há	dúvida	de	que	o	acompanhamento	deve	ser	realizado	por	rede	articulada,	devido	
8	A	Rede	Cidadã	 é	 uma	organização	 não	 governamental	 de	Belo	Horizonte,	 sem	fins	 lucrativos,	 que	 busca	 a	
transformação	social	por	meio	da	integração	entre	vida	e	trabalho,	atuante	desde	2002,	que	reúne	sociedade	civil,	
empresas,	órgãos	públicos	e	outras	organizações	sociais	para	 trazer	soluções	para	geração	de	trabalho	e	renda,	
conforme	consta	em	seu	endereço	virtual,	que	está	nas	referências.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 75
à	heterogeneidade	do	segmento	e	em	inclusive	pela	dificuldade	do	morador	de	rua	de	se	livrar	
dos	hábitos	da	rua	tão	arraigados	e	marcados	pelo	alheamento	em	vários	aspectos.	Precisa	até	
mesmo	de	apoio	para	conseguir	se	(re)encaixar	no	mercado	por	exigência	competitiva.	Desse	
modo,	também	necessita	ser	mais	contínuo,	sendo	incompatível	com	apenas	uma	semana.
	 São	 pessoas	 com	 identidades	 próprias	 e	muita	 diversidade.	Ou	 seja,	 é	 bom	 lembrar	
que	a	população	de	rua	não	é	uma	população	homogênea	ou	hegemônica.	É	só	levar	em	conta	
que	há	muitos	moradores	em	situação	de	rua	migrantes	de	várias	regiões.	Ademais,	o	trabalho	
humano	é	histórico	e	varia	de	uma	localidade	para	outra,	inclusive	de	acordo	com	as	condições	
climáticas	e	culturais.
	 Não	se	olvida,	contudo,	que	o	projeto	da	prefeitura	de	São	Paulo,	numa	primeira	vista,	
parece	muito	bom,	ao	menos	diante	das	informações	divulgadas,	mas	há	grandes	contradições	e	
ambiguidades	em	relação	ao	conjunto	de	políticas	voltadas	à	população	de	rua	naquela	cidade,	
o	que	faz	questionar	sua	real	preocupação	com	esse	segmento	da	sociedade.	A	inserção	de	todos	
os	moradores	de	rua	num	emprego	seria	mais	pela	intenção	de	higienizar,	limpar	a	cidade,	e	
retirar	o	desconforto	dos	domiciliados?
	 Veja-se	que	no	mesmo	ano	de	2017,	meses	depois	do	início	do	projeto	“Trabalho	Novo”,	
a	rádio	CBN	local	noticiou,	precisamente	em	19	de	julho	de	2017,	que	moradores	em	situação	de	
rua	eram	acordados	com	jatos	de	água	aplicados	por	empresa	contratada	pela	prefeitura,	o	que	
acontece	de	manhã	ou	de	madrugada,	embora	o	clima	da	cidade	tenha	alcançado	temperaturas	
de cerca de 7º a 12º9.
	 Aparenta	 uma	 intolerância.	 Enquadra-se	 ou	 é	 exterminado.	 Jogar	 água	 vai	
indubitavelmente	ao	encontro	da	ideologia	da	higienização.	Desse	modo,	coloca-seem	dúvida	
as	reais	motivações	para	as	políticas	implementadas	nesse	segmento.
	 De	qualquer	forma,	retomando	o	debate,	constata-se	que	“enquanto	alguns	comerciantes	
podem	achar	que	é	vantajoso	adaptar	os	esquemas	do	mercado	a	fim	de	expandir	o	mercado	
de	classe	baixa,	os	empregadores	são	pouco	incentivados	a	adaptar	suas	exigências	e	práticas	
de	modo	 a	 atender	 aos	moradores	 de	 rua,	 desde	 que	 haja	 outros	 candidatos	 disponíveis	 ao	
emprego”	(Anderson	e	Snow,	1998,	p.	201).
	 A	 camada	 que	 vive	 uma	 das	 piores	 condições	 sociais	 depende,	 geralmente,	 para	
sua	 sustentação,	 dos	 serviços	 sociais	 lhes	 prestados,	 arcados	 pelos	 demais	 trabalhadores	 no	
pagamento	de	impostos	ao	Estado.	Contudo,	é	necessário	levar	também	à	discussão	a	questão	
das	 pessoas	 aptas	 ao	 trabalho,	mas	que	não	 são	 absorvidas	 pelo	mercado.	Obviamente,	 por	
outro	lado,	dentre	a	população	em	situação	de	rua,	há	idosos	e	deficientes,	que	devem	receber	
a	assistência	adequada	de	profissionais,	que	podem	até	tentar	levantar	a	possibilidade	dos	laços	
familiares	que,	pela	invalidez,	aqueles	não	têm	condição	de	realizar.
	 Num	geral,	é	preciso	notar	que	o	trabalho	permanece	como	determinante	na	estruturação	
capitalista,	ainda	que	a	reestruturação	produtiva	contemporânea	seja	pautada	em	prevalência	na	
tecnologia,	o	que	pode	reduzir	a	oferta	de	postos	de	trabalho.
9	Trata-se	de	reportagem	do	dia	19	de	 julho	de	2017,	via	rádio	globo	CBN	notícias,	cujo	 link	encontra-se	nas	
referências.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202476
	 Além	disso,	“o	trabalho	é	atividade	dos	seres	humanos	na	construção	de	respostas	às	
suas	necessidades;	e	nas	condições	em	que	se	realiza	na	sociedade	capitalista,	em	que	é	visto	
como	criador	de	novas	mercadorias	e	gerador	do	valor	das	mercadorias”	(Silva,	2009,	p.	22).
	 Veja-se	 que	 “a	 produção	 é,	 pois,	 uma	 atividade	 social	 e	 histórica.	 E,	 como	 tal,	 não	
produz	 apenas	 objetos	materiais,	mas	 relações	 sociais	 entre	 pessoas,	 classes,	 embora	 essas	
relações	estejam	ligadas	a	coisas	e	aparecem	como	coisas”	(p.	39).	Aliás,	“a	produção	social	é	
também	a	produção	de	ideias	e	representações	que	expressam	essas	relações	sociais”	(p.	39-40).
	 Na	 verdade,	 as	 perspectivas	 neoliberais	 exigem	no	mercado	 de	 trabalho	 o	 potencial	
de	 produtividade	 e	 alcance	de	metas	 que,	muitas	 vezes,	 a	 pessoa	 em	 situação	de	 rua	 não	 é	
capacitada.	No	entanto,	o	trabalho,	historicamente,	sempre	será	visto	como	criação	de	coisas	
úteis	 e	 condição	 indispensável	 à	 existência	 dos	 seres	 humanos,	 seja	 para	 satisfação	 das	
necessidades	da	vida	material,	seja	por	necessidades	justamente	históricas:
O	 trabalho,	 em	 seu	 processo	 de	 realização,	 ou	 seja,	 como	 atividade	 concreta	 do	
processo	de	trabalho,	é	uma	atividade	consciente	dos	seres	humanos	de	transformação	
da	natureza,	orientada	para	o	fim	de	 satisfazer	 as	 suas	necessidades,	 sejam	elas	 as	
necessidades	de	reprodução	da	vida	material	ou	outras	necessidades	historicamente	
construídas,	 inclusive	 a	 de	 dar	 continuidade	 ao	 conjunto	 da	 vida	 social,	 a	 um	
determinado	estágio	de	sociabilidade.	(SILVA,	2009,	p.	43).
	 Pelo	 exposto,	 vislumbra-se	 dois	 corolários.	 O	 primeiro	 é	 a	 constatação	 do	 trabalho	
como	atividade	de	realização	histórica	do	ser	humano,	até	ser	imposta.	Segundo,	a	inserção	do	
morador	de	rua	no	mercado	empregatício	demanda	uma	rede	de	organização	e	adaptação,	com	
abrangência	de	aspectos	até	imateriais.	Desse	último,	percebe-se:
Existem	 muito	 mais	 aspectos	 envolvidos	 e	 relacionados	 que	 são	 provocadores	 e	
que	fazem	a	manutenção	da	permanência	nas	 ruas.	Mesmo	havendo	dinheiro,	uma	
pessoa	sozinha,	tendo	sofrido	experiências	de	ruptura	que	o	levam	a	rua,	entre	tantas	
decepções	possíveis,	muitas	vezes	precisa	de	mais	do	que	o	salário	para	conseguir	
sair	dessa	situação.	Por	outro	lado,	as	drogas	aparecem	como	uma	questão	de	saúde	
pública.	O	aspecto	referido	como	doença,	mostra	a	força	esmagadora	que	ela	pode	vir	
a	ter	sobre	a	autonomia	dos	sujeitos.	(MELO,	2011,	p.	78).
	 Não	 é	 apenas	 um	 salário	 que	 possui	 o	 condão	 de	 propiciar	 a	 saída	 das	 ruas.	 As	
experiências	de	ruptura,	a	ausência	de	autonomia	do	indivíduo	e/ou	outras	realidades	podem	
dificultar	o	processo.
	 É	 substancial	 evocar	 o	 tema	 emprego	 na	 pesquisa	 direcionada	 à	 população	 de	 rua,	
contudo	é	curioso	notar	que	a	sociedade	“classifica	o	emprego	como	uma	chave	-	a	chave	-	
para	 solução	 dos	 problemas	 ao	mesmo	 tempo	 da	 identidade	 pessoal	 socialmente	 aceitável”	
(Bauman,	2005b,	p.	19).
Caminhando	ao	fim	deste	artigo,	destaca-se	que	às	vezes	uma	certa	rotina	na	rua	(negociar	a	
vida	nas	ruas)	é	mais	simples	do	que	se	ativar	numa	empresa,	haja	vista	a	habituação	àquela	e	
pelos	vínculos	de	amizade	que	surgiram.
	 Para	 Anderson	 e	 Snow	 (1998)	 nem	 sempre	 o	 emprego	 é	 algo	 perseguido	 com	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 77
compromisso	interno.	Ora,	a	ação	e	a	cognição,	conforme	aduzem,	podem	estar	alinhadas,	mas	
não	necessariamente.	“O	comportamento	de	alguns	indivíduos	pode	se	ancorar	no	estilo	de	vida	
da	subcultura	de	rua,	desde	que	a	orientação	cognitiva	deles	em	relação	a	si	mesmos	e	ao	futuro	
se	enraíze	em	outra	parte.	Inversamente,	alguns	se	identificam	e	expressam	compromisso	interno	
com	a	vida	nas	ruas”	(Anderson	e	Snow,	1998,	p.	82),	o	que	muitas	vezes	está	relacionado	ao	
tempo	de	exposição	na	rua.
	 Ademais,	 como	 dito,	 alguns	 fatores	 da	 vida	 diária	 interferem	 no	 desempenho	 no	
emprego,	até	mesmo	problemas	com	alcoolismo	ou	problemas	físicos	desenvolvidos	durante	a	
permanência	na	rua.	Doenças	como	pneumonia,	úlceras	e	até	de	articulações	são	muito	comuns	
e	 ter	 que	 lidar	 com	 isso,	 na	 dinâmica	 de	 horários	 e	 burocracias	 empresariais,	 é	 um	desafio	
muitas	vezes	descomunal.
	 Pessoas	que,	há	anos,	não	usam	um	banheiro	convencional	ou	não	possuem	um	relógio,	
têm	 até	 a	 atenção	 perturbada,	 pelos	 próprios	 perigos	 da	 rua,	 gerando	 algumas	 angústias.	
Também,	conforme	já	aventado,	o	hábito	da	rua	pode	gerar	discrepâncias	cognitivas,	inclusive	
pelo	fato	de	se	comer	mal	e	beber	muito	pouco	água.
	 Assim,	muitas	vezes,	as	políticas	públicas	ou	as	iniciativas	particulares	preferem	apenas	
fornecer	o	acomodamento,	possibilitando	que	ao	menos	não	durmam	na	rua,	visto	a	dificuldade	
enorme	de	engajar	no	mercado	de	 trabalho.	No	entanto,	é	preciso	 reforçar	que	essa	não	é	a	
melhor	 política	 pública	 para	 o	 segmento,	 pois	 a	 inserção	no	mercado	de	 trabalho	deve	 sim	
ser	fomentada,	mas	com	todos	os	acompanhamentos	e	possibilidades	adequadas	que	se	fazem	
imprescindíveis,	inclusive	trabalhando	conjuntamente	a	lógica	da	moradia.
	 O	morador	de	rua	tem	muita	tendência	de	se	concentrar	no	presente,	haja	vista	que	sua	
sobrevivência	 necessita	 de	 ajudas	 imediatas.	Assim,	 programar	 um	 futuro,	 esperar	 sua	 vez,	
esperar	o	tempo	certo,	é	algo	difícil	para	ser	rapidamente	assimilado.
	 Ao	 se	 trazer	 tais	 perspectivas,	 não	 se	quer	 associar	 a	 adaptação	 a	um	emprego	 com	
atributos	dos	 indivíduos,	mas	o	debate	está	nas	 situações	que	os	 incapacitam	e	 têm	que	 ser	
superadas.
	 Imperioso,	novamente	e	também,	indagar	se	há	de	fato	oportunidade	de	trabalho	a	esse	
segmento	populacional,	seja	antes	ou	depois	da	situação	de	rua.
	 Por	tudo	isso,	a	importância,	numa	ótica	sustentável,	de	se	fortalecer:	as	oportunidades	
de	trabalho	por	intermédio	de	políticas	específicas	para	esse	segmento	da	população	e	fomentar	
por	exemplo	cooperativas;	o	empenho	para	que	esses	indivíduos	possuam	preferencialmente	
garantias	 empregatícias	 de	 um	 trabalho	 formal	 (“fichado”);	 o	 acompanhamento	 contínuo,	
realizado	 pela	 rede	 (uma	 rede	 multissetorial	 por	 exemplo	 da	 Prefeitura),	 tanto	 pela	
heterogeneidade	do	segmento,	pelas	limitações,	como	pelas	dificuldades	de	adaptação	por	parte	
de	empregado	e	empregador;e	o	respeito	à	autonomia	do	indivíduo	e	à	sua	condição	de	ser	
humano,	que	pode	ancorar	sua	cognição	em	outro	estilo	de	sobrevivência.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202478
4. CONCLUSÃO
	 No	exposto,	não	se	quis	chegar	a	um	debate	ou	solução	para	evitar	a	situação	de	rua,	
tampouco	 para	 tirar	 as	 pessoas	 dessa	 condição.	Quem	dera.	 Precaver	 ou	 resolver	 não	 foi	 a	
discussão	 em	 foco	 neste	 simples	 artigo.	 O	 que	 se	 quis,	 de	 fato,	 foi	 abrir	 mais	 uma	 janela	
no	 pensamento,	 quando	 se	 fala	 em	 trabalho	 e	 emprego	 no	 Brasil,	 com	 suas	 questões	 de	
desemprego,	 emprego	 salubre	 física	 e	mentalmente,	 outros	 direitos	 trabalhistas,	 violações	 a	
direitos	 trabalhistas.	Em	 toda	 essa	discussão,	 existe	um	 segmento	 composto	de	milhares	de	
pessoas	(população	em	situação	de	rua)	em	que	ao	menos	grande	percentual	dele	lamenta	nas	
ruas	o	que	o	mercado	de	trabalho	fez	e/ou	lhe	faz.
REFERÊNCIAS
ADORNO,	 Theodor	W.;	 HORKHEIMER,	Max.	 Dialética	 do	 Esclarecimento.	 Tradução	 de	
Guido	Antônio	de	Almeida.	Rio	de	Janeiro:	Zahar,	1985.
ANDERSON,	Leon;	SNOW,	David.	Desafortunados:	um	estudo	sobre	o	povo	da	rua.	Tradução	
de	Sandra	Vasconcelos.	Petrópolis:	Vozes,	1998.
ANDRADE,	Laura	Martins	Maia	de.	Meio	ambiente	do	trabalho	e	ação	civil	pública	trabalhista.	
São	Paulo:	Editora	Juarez	de	Oliveira,	2003.
BAUMAN,	 Zygmunt.	Vidas	 Desperdiçadas.	 Tradução	 de	 Carlos	Alberto	Medeiros.	 Rio	 de	
Janeiro:	Zahar,	2005,	p.	19.
BIZAWU,	Kiwonghi;	HENRIQUE,	Lisiane	Aguiar.	Meio	ambiente	e	redução	das	desigualdades	
e	da	pobreza.	Revista	da	AGU,	Brasília,	v.16,	n.03,	p.197-216,	2017.
BRASIL.	Manda	 executar	 o	 Código	Criminal.	 Código	Criminal	 do	 Império	 do	Brazil:	 dos	
Crimes,	e	das	Penas.	Lei	de	16	de	dezembro	de	1830.	Disponível	em:	https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/lim/LIM-16-12-1830.htm.	Acesso	em:	22	set.	2017.
BRASIL.	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho.	Decreto-Lei	nº	5.452,	de	01	de	maio	de	1943.	
Disponível	em:	https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm.	Acesso	em:	01	
maio 2016.
BRASIL.	[Constituição	(1988)].	Constituição	da	República	Federativa	do	Brasil.	Disponível	
em:	http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.	Acesso	em:	
26 maio 2016.
BRASIL.	 Institui	 a	 Política	 Nacional	 para	 a	 População	 em	 Situação	 de	 Rua	 e	 seu	 Comitê	
Intersetorial	de	Acompanhamento	e	Monitoramento,	e	dá	outras	providências.	Decreto	nº	7.053	
de	23	de	dezembro	de	2009.		Disponível	em:	https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/decreto/d7053.htm.	Acesso	em:	15	jul.	2017.
BRASIL.	 Lei	 das	 Contravenções	 Penais.	 Decreto-Lei	 nº	 3.688	 de	 03	 de	 outubro	 de	 1941.	
Disponível	em:	http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3688.htm.	Acesso	em:	22	
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM-16-12-1830.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM-16-12-1830.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7053.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7053.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3688.htm
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 79
set.	2017.
BRASIL.	Política	Nacional	para	Inclusão	Social	da	População	em	Situação	de	Rua.	Brasília:	
maio	 de	 2008.	 Disponível	 em:	 https://www.justica.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/
files/documento/2019-08/pol.nacional-morad.rua_.pdf.		Acesso	em:	15	jul.	2017.
CONSELHO	NACIONAL	DO	MINISTÉRIO	PÚBLICO.	Guia	de	Atuação	Ministerial:	defesa	
dos	direitos	das	pessoas	em	situação	de	rua.	Brasília:	CNMP,	2015.	Disponível	em:
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Publicacoes/documentos/Guia_Ministerial_CNMP_
WEB_2015.pdf.	Acesso	em:	21	set.	2017.
FARIA,	Tiago	Guilherme.	OLIVEIRA,	Anna	 Flora	Carvalho	 de.	 ROCHA,	Gabrielle	 Leite.	
VILHENA,	Sielen	Barreto	Caldas	de.	Entraves	para	o	desenvolvimento	de	uma	cooperativa	
popular:	 o	 caso	 da	 COOPMULT.	 Salvador	 (BA):	 XVI	 Encontro	 Nacional	 da	 ABET	 3	 a	
6/9/2019,	 UFBA	 Disponível	 em:	 .	Acesso	em:	14	jun.	2024.
FREITAS,	 Juarez.	 Sustentabilidade:	 direito	 ao	 futuro.	 3	 ed.	 Belo	 Horizonte:	 Fórum,	 2016.	
FUNDAÇÃO	INSTITUTO	DE	PESQUISAS	ECONÔMICAS.	Censo	da	população	em
situação	 de	 rua	 da	 cidade	 de	 São	 Paulo,	 2015,	 Resultados.	 Disponível	 em:	 .	Acesso	em:	21	set.	2017.
GRAGNANI,	Juliana.	Ação	de	Doria	para	moradores	de	rua	tem	de	demissão	a	autoestima	em	
alta.	Folha	UOL,	São	Paulo,	10	abr.	2017.	Disponível	em	.	Acesso	em:	21	set.	2017.
HENRIQUE,	 Lisiane	Aguiar.	 Labirintos	 e	 paradoxos:	 constituição	 dos	 direitos	 humanos	 é	
marcada	 por	 lutas	 e	 resistência.	 Dom	 Total,	 em	 19	 j a n 	
2017.	 Disponível	 em:
.	Acesso	em:	22	set.	2017.
HENRIQUE,	 Lisiane	Aguiar.	 Conversão	 ecológica:	 preceito	 da	 encíclica	 Laudato’si	 numa	
conjunção	 social.	 In:	 Direito	 ambiental	 e	 socioambientalismo	 II	 -	 Organização	 Conpedi	
Montevidé	 -	 Uruguai.;	 coord:	 Misailidis,	 M.G.L.M;	 Tybusch,	 J.S.;	 Carnelli,	 C.C.	 -	 Santa	
Catarina:	 CONPEDI,	 2016,	 p.	 100-118.	 Disponível	 em:	 .	Acesso	em:	22	set.	2017.
JUSTO,	Marcelo	Gomes.	A	fresta	-	ex-moradores	de	rua	como	camponeses	num	assentamento	
pelo	MST.	São	Paulo:	Humanitas,	2008.
LEFF,	Enrique.	Saber	Ambiental:	sustentabilidade,	racionalidade,	complexidade,	poder.	saberes.	
Tradução	de	Lúcia	Mathilde	Endlich	Orth.	11	ed.	Petrópolis:	Vozes,	2015.
MELO,	 Tomás	 Henrique	 de	Azevedo	 Gomes.	A	 rua	 e	 a	 sociedade:	 articulações	 políticas,	
socialidade	e	a	luta	por	reconhecimento	da	população	em	situação	de	rua.	2011.	Dissertação	
(Mestrado)	-	Universidade	Federal	do	Paraná,	Setor	de	Ciências	Humanas,	Letras	e	Artes	do	
Departamento	de	Antropologia,	Programa	de	Pós-Graduação	em	Antropologia	Social.	Curitiba,	
2011.	 Disponível	 em:	 .	Acesso	em:	20	set.	2017.
https://www.justica.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2019-08/pol.nacional-morad.rua_.pdf
https://www.justica.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2019-08/pol.nacional-morad.rua_.pdf
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Publicacoes/documentos/Guia_Ministerial_CNMP_WEB_2015.pdf
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Publicacoes/documentos/Guia_Ministerial_CNMP_WEB_2015.pdf
about:blank
about:blank
http://www/
http://www1.folha.uol.com.br/
http://domtotal.com/noticia/1117547/2017/01/labirintos-e-paradoxos-constituicao-dos-
http://www.conpedi.org.br/
http://www.humanas.ufpr.br/portal/ppga/files/2012/04/A-Rua-e-a-
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202480
MINISTÉRIO	 DOS	 DIREITOS	 HUMANOS	 E	 CIDADANIA.	 População	 em	 Situação	 de	
Rua:	diagnóstico	com	base	nos	dados	e	informações	disponíveis	em	registros	administrativos	
e	sistemas	do	Governo	Federal.	Brasília,	agosto	de	2023.	Disponível	em:	.	Acesso	em:	14	jun.	2024.
MPMG.	 Rua	 do	 respeito:	MPMG,	 TJMG	 e	 Servas	 lançam	 projeto	 em	 defesa	 dos	 direitos	
das	 pessoas	 em	 situação	 de	 rua.	 17	 set.	 2015.	 Disponível	 em:	área	judiciária	de	um	tribunal	federal	
trabalhista	 confirma	a	 importância	de	manter	 relações	profissionais	 saudáveis	 e	promover	o	
bem-estar	 das	 pessoas	 nas	 organizações,	 especialmente	 sob	 o	 aspecto	 emocional.	Afinal,	 as	
organizações	têm	nas	pessoas	seu	maior	valor	e	nelas	devem	focar	seus	esforços	para	manter	
uma	ambiência	de	trabalho	favorável	ao	desenvolvimento	dos	colaboradores	e	dos	objetivos	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202414
organizacionais.	Nesse	contexto,	é	importante	perceber	as	duas	principais	perspectivas	do	trabalho	
emocional:	por	um	lado,	contribui	para	a	promoção	de	bons	relacionamentos,	reconhecimento	
e	 ascensão	 profissional;	 por	 outro,	 o	 esforço	 de	 regulação	 emocional	 é	 desgastante	 para	 os	
indivíduos	-	psicológica,	emocional	e	fisiologicamente.
	 A	maior	 parte	 da	 literatura	 científica	 se	 debruça	 exclusivamente	 sobre	 o	 estudo	 das	
repercussões	negativas	do	esforço	de	inibição	emocional	para	o	trabalhador,	sob	os	aspectos	
psicológico	e	fisiológico	(Hochschild,	1983;	Grandey,	2000;	Gross;	Levenson,	1997).	Poucos	
estudiosos	abordam	o	 trabalho	emocional	como	potencialmente	benéfico	para	o	 trabalhador,	
sob	a	perspectiva	da	sua	utilidade	como	forma	de	incrementar	a	performance	social	no	ambiente	
laboral	 (Rafaeli;	 Sutton,	 1991).	 Há	 uma	 lacuna	 científica	 relevante	 no	 desenvolvimento	
de	 intervenções	 institucionais	 que	 efetivamente	 promovam	 melhorias	 para	 trabalhadores	 e	
organização	no	contexto	do	trabalho	emocional.
	 De	todo	modo,	as	pesquisas	já	desenvolvidas	apresentam	uma	conclusão	em	comum:	
a	 percepção	 do	 trabalho	 emocional	 como	 um	 esforço	 pessoal	 que	 promove	 o	 sucesso	 das	
organizações,	mas	que	não	beneficia	o	trabalhador	na	mesma	proporção.	Esse	desequilíbrio	entre	
os	interesses	da	organização	e	dos	seus	colaboradores	atenta	contra	o	bem-estar	das	pessoas	nas	
organizações,	tema	de	relevância	mundial,	inserto	na	Agenda	2030	da	Organização	das	Nações	
Unidas	(ONU),	alinhado	com	os	seguintes	Objetivos	de	Desenvolvimento	Sustentável	(ODS):
ODS	3	–	Saúde	e	bem-estar:	assegurar	uma	vida	saudável	e	promover	o	bem-estar	
para	todos,	em	todas	as	idades.
ODS	 8	 –	 Trabalho	 decente	 e	 crescimento	 econômico:	 promover	 o	 crescimento	
econômico	sustentado,	inclusivo	e	sustentável,	emprego	pleno	e	produtivo,	e	trabalho	
decente	para	todos.
ODS	 16	 –	 Paz,	 justiça	 e	 instituições	 eficazes:	 promover	 sociedades	 pacíficas	 e	
inclusivas	para	o	desenvolvimento	sustentável,	proporcionar	o	acesso	à	justiça	para	
todos	e	construir	instituições	eficazes,	responsáveis	e	inclusivas	em	todos	os	níveis.
	 Este	 artigo	 apresenta	 o	 diagnóstico	 do	 trabalho	 emocional	 no	 âmbito	 do	 Tribunal	
Regional	do	Trabalho	da	21ª	Região	(TRT21),	órgão	do	Poder	Judiciário	Federal	instalado	no	
Estado	do	Rio	Grande	do	Norte	que	elenca	a	valorização	das	pessoas	como	valor	institucional,	
porém,	relata	crescimento	de	relatos	de	 insatisfação,	assédio,	discriminação	e	sentimento	de	
desvalorização	e	não	pertencimento	das	pessoas.	
	 Através	da	investigação	da	correlação	do	trabalho	emocional	com	variáveis	pessoais	e	
organizacionais	que,	por	hipótese,	impactam	o	bem-estar	dos	trabalhadores	do	Poder	Judiciário	
brasileiro,	pretende-se	contribuir	para	o	esclarecimento	das	repercussões	do	trabalho	emocional	
para	 o	 indivíduo,	 de	 modo	 a	 balizar	 a	 efetiva	 atuação	 da	 organização	 em	 favor	 da	 saúde	
emocional	dos	seus	colaboradores,	em	especial	no	atual	cenário	mundial,	pós-pandêmico,	no	
qual	as	pessoas	e	as	organizações	estão	passando	por	adaptações	e	transformações	decorrentes	
dos	 anos	 de	 isolamento	 social,	medo	 e	 incertezas,	 tanto	 nas	 empresas	 privadas,	 quanto	 nas	
instituições	públicas.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 15
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Trabalho emocional: conceituação
	 A	 tradicional	 sociedade	baseada	 na	 produção	 agrícola	 ou	 industrial	 não	 existe	mais.	
A	 lógica	de	produção	 industrial	 -	de	multiplicar	o	mesmo	produto,	massificando-o	para	um	
número	 cada	 vez	 maior	 de	 consumidores	 -	 foi	 superada	 no	 século	 XXI,	 com	 a	 revolução	
tecnológica	e	informacional	vivenciada	pelo	mundo.	Atualmente,	a	lógica	produtiva	é	regida	
pela	necessidade	de	multiplicar	o	mesmo	produto	em	novas	versões,	num	processo	de	constante	
diferenciação,	para	o	mesmo	segmento	e	o	mesmo	número	de	consumidores.	Nesse	processo	
se	baseia	a	sociedade	do	conhecimento,	centrada	nos	indivíduos,	“Trata-se	de	uma	revolução	
que	agrega	novas	capacidades	à	inteligência	humana	e	muda	o	modo	de	trabalharmos	juntos	e	
vivemos	juntos”	(González	De	Gomez,	1997).
	 O	mundo	globalizado	da	sociedade	do	conhecimento	acarretou	mudanças	significativas	
no	mercado	de	trabalho.	O	conceito	de	emprego	(mão-de-obra	subordinada	a	um	empregador,	
condicionado	a	seguir	ordens)	vem	sendo	substituído	pelo	de	trabalho,	mais	amplo,	que	não	
mais	exige	do	trabalhador	um	conhecimento	perene,	estático	e	imutável,	este	deve	ser	agregado	
a	outros	vieses,	como	criatividade,	senso	crítico,	autonomia	e	adaptabilidade	rápida	às	mudanças	
da	sociedade	(“saber	conhecer”).	A	criatividade	e	a	disposição	para	capacitação	permanente	são	
requeridas	e	valorizadas.	As	competências	técnicas	(“saber	fazer”)	não	bastam	mais	para	garantir	
sucesso	 profissional,	 devem	 estar	 associadas	 às	 capacidades	 de	 decisão,	 adaptação	 a	 novas	
situações	e	comunicação	(“saber	ser”),	bem	assim	de	fomentar	relacionamentos	interpessoais	
saudáveis	e	o	trabalho	em	equipe	(“saber	conviver”).
	 No	campo	do	“saber	conviver”	no	trabalho,	em	que	todos	são	afetados	de	alguma	forma,	
em	maior	ou	menor	proporção,	a	depender	das	características	de	cada	indivíduo,	insere-se	o	
trabalho	emocional,	enquanto	causa	e	consequência	das	repercussões	pessoais	e	organizacionais	
das	interações	sociais	dos	indivíduos	no	ambiente	de	trabalho.
	 A	 psicologia	 do	 trabalho	 tem	 cada	 vez	 mais	 se	 voltado	 para	 o	 estudo	 do	 trabalho	
emocional.	Desde	os	primeiros	ensaios	 (Hochschild,	1979;	Fineman,	1993;	Grandey,	2000),	
os	estudos	sobre	o	tema	comprovam	que	as	emoções	são	manifestações	de	sentimentos	úteis	e	
valiosas	na	gestão	das	organizações.	Essa	constatação	desencadeou	o	interesse	e	a	necessidade	
de	 compreender	 como	 os	 trabalhadores,	 maior	 valor	 organizacional,	 expressam	 e	 regulam	
as	emoções	nas	situações	laborais,	em	confronto	com	os	padrões	de	conduta	normalizados	e	
normatizados,	expressa	ou	tacitamente,	nas	organizações.
	 Apesar	de	alguns	estudiosos	 tratarem	emoções	e	sentimentos	como	sinônimos,	esses	
conceitos	apresentam	distinções.	A	diferenciação	feita	por	Fineman	(2001)	é	esclarecedora:	o	
sentimento	é	uma	experiência	privada,	não	exteriorizada,	derivada	dos	pensamentos	e	sensações	
vivenciadas	pelo	indivíduo,	enquanto	a	emoção	é	a	manifestação	do	sentimento,	passível	de	
observação	pelos	demais.
	 Nessa	esteira,	pode-se	conceituar	as	emoções	como	alterações	fisiológicas	e	corporais	
perceptíveis	 por	 terceiros,	 desencadeadas	 por	 estímulos	 internos	 ou	 externos,	 positivos	 ou	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202416
negativos,	 do	 indivíduo	 a	 determinado	 evento	 (sentimentos).	 São	 estados	 passageiros,	 mas	
intensos,	 que	 não	 podem	 ser	 total	 e	 conscientemente	 controlados	 pelo	 sujeito.	 Em	 outras	
palavras,	as	emoções	são	as	respostas	fisiológicas	do	corpo	que	preparam	o	organismo	para	a	
ação,	tais	quais	batimentos	cardíacos	acelerados	e	variações	na	pressão	arterial	e	na	sudorese	
(Bonfim;	Gondim,	2010).
 No	ambiente	profissional,	assim	como	em	outras	situações	cotidianas,	o	indivíduo	está	
submetido	aos	impulsos	naturais	dos	sentimentos.	Mas,	para	se	ajustar	às	regras	de	convívio	
social,	deve	regular	a	manifestação	desses	sentimentos,	modulando	a	expressão	das	emoções	de	
modo	a	melhor	se	adequar	ao	contexto	que	está	vivenciando	no	momento.	Os	afetos	impactam	
diretamente	-	de	formacomunicacao/noticias/rua-do-respeito-mpmg-tjmg-e-servas-lancam-projeto-em-defesa-dos-	
direitos-das-pessoas-em-situacao-de-rua.htm#.WftzVNWnF5U>.	Acesso	em:	17	set.	2017.
NICOLAU,	André.	 Programa	Trabalho	Novo	 capacita	 ex-moradores	 de	 rua	 em	SP.	Catraca	
Livre,	12	de	abr.	2019.	Disponível	em:	.	Acesso	em:	13	jun.	2024.
O	GLOBO.	Moradores	de	rua	são	acordados	com	jatos	de	água	fria	em	SP,	diz	CBN.	19	jul.	
2017.	 Disponível	 em:	 https://oglobo.globo.com/politica/moradores-de-rua-sao-acordados-
com-jatos-de-agua-fria-em-sp-diz-cbn-21607407	.	Acesso	em:	19	jul.	2017.
PREFEITURA	DE	SÃO	PAULO.	Trabalho	novo.	Disponível	em:	.	Acesso	em:	11	jul.	2017.
ROSA,	CLEISA	MORENO	MAFFEI.	Vidas	de	rua.	São	Paulo:	Hucitec	Associação	Rede	Rua,	
2005.
REDE	CIDADÃ.	Quem	somos:	Rede	Cidadã.	Disponível	 em:	.	Acesso	em:	21	set.	2017.
SILVA,	Maria	Lúcia	Lopes	da.	Trabalho	e	população	em	situação	de	rua	no	Brasil.	São	Paulo:	
Cortez,	2009.
TRIBUNAL	DE	 JUSTIÇA	DE	MINAS	GERAIS:	Mutirão	 realiza	 prestação	 de	 serviços	 às	
pessoas	em	situação	de	rua.	Belo	Horizonte,	novembro	2023.	Disponível	em:	.	Acesso	em:	14	jun.	2014.
VASCONCELOS,	Ruth.	In:	PINTO,	João	Batista	Moreira;	SOUZA,	Eron	Geraldo	de.	(Org).	
Os	 direitos	 humanos	 como	 um	 projeto	 de	 sociedade:	 desafios	 para	 as	 dimensões	 política,	
socioeconômica,	ética,	 jurídica	e	socioambiental.	Rio	de	Janeiro:	Lumen	Juris,	2015,	p.143-	
162.
http://www.gov.br/
http://www.gov.br/
http://www.mpmg.mp.br/
http://www.mpmg.mp.br/
https://catracalivre.com.br/carreira/projeto-trabalho-novo-capacita-ex-moradores-de-rua-em-sp/
https://catracalivre.com.br/carreira/projeto-trabalho-novo-capacita-ex-moradores-de-rua-em-sp/
https://oglobo.globo.com/politica/moradores-de-rua-sao-acordados-com-jatos-de-agua-fria-em-sp-diz-cbn-21607407
https://oglobo.globo.com/politica/moradores-de-rua-sao-acordados-com-jatos-de-agua-fria-em-sp-diz-cbn-21607407
http://www.capital.sp/
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/mutirao-realiza-prestacao-de-servicos-as-pessoas-em-situacao-de-rua.htm
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/mutirao-realiza-prestacao-de-servicos-as-pessoas-em-situacao-de-rua.htm
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/mutirao-realiza-prestacao-de-servicos-as-pessoas-em-situacao-de-rua.htm
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/mutirao-realiza-prestacao-de-servicos-as-pessoas-em-situacao-de-rua.htm
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 81
A INDÚSTRIA 4.0 E O DIREITO FUNDAMENTAL DE PROTEÇÃO EM 
FACE DA AUTOMAÇÃO (ART. 7º, XXVII, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL): UMA INTERPRETAÇÃO À LUZ DO MÉTODO GRAMATICAL 
E DO MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO
Yara Maria Pereira Gurgel 
 Tiago Batista dos Santos 
Ricardo Galvão de Sousa Lins
RESUMO
Investiga-se	 a	 interpretação	 do	 artigo	 7º,	 XXVII,	 da	 Constituição	 Federal,	 sob	 os	modelos	
gramatical	 (hermenêutica	 clássica)	 e	 tópico-problemático	 (hermenêutica	 constitucional).	 A	
investigação	é	justificada	pela	ameaça	de	extinção	ou	de	precarização	das	relações	de	trabalho,	
provocada	pela	“Indústria	4.0”.	Utilizou-se	o	método	bibliográfico	qualitativo.	Os	resultados	
encontrados	foram:	(I)	a	interpretação	gramatical	revela	que	a	automação	não	é	uma	mazela	a	
ser	combatida,	tratando-se	apenas	de	um	fenômeno	em	face	do	qual	os	trabalhadores	têm	direito	
fundamental	à	proteção,	a	depender	de	regulamentação	infraconstitucional;	(II)	a	interpretação	
tópico-problemática	 revela	 que	 é	 admissível	 a	 atuação	 regulatória	 do	 Poder	 Executivo,	
respeitado	o	princípio	da	legalidade,	sendo	que	a	legislação	eventualmente	editada	deve	conter,	
no	mínimo,	quatro	abordagens:	privacidade	no	ambiente	trabalho,	controle	final	por	humanos	
(abordagem	“humano-no-comando”),	qualificação	dos	trabalhadores	e	indenização	especial	na	
hipótese	de	ruptura	contrato	de	trabalho.
Palavras-chaves:	 indústria	 4.0;	 modelo	 gramatical;	 	 método	 tópico-problemático;	 direito	
fundamental;	direito	à	proteção;	Constituição	Federal.
ABSTRACT
The	interpretation	of	article	7º,	XXVII,	of	the	Federal	Constitution	is	investigated,	under	the	
grammatical	 (classical	 hermeneutics)	 and	 topical-problematic	 (constitutional	 hermeneutics)	
models.	 The	 investigation	 is	 justified	 by	 the	 threat	 of	 extinction	 or	 precarization	 of	 work	
relationships,	caused	by	“Industry	4.0”.	The	qualitative	bibliographic	method	was	used.	The	
results	found	were:	(I)	the	grammatical	interpretation	reveals	that	automation	is	not	a	problem	
to	be	combated,	it	is	simply	a	phenomenon	in	the	face	of	which	workers	have	a	fundamental	
right	 to	 protection,	 depending	 on	 infraconstitutional	 regulation;	 (II)	 the	 topical-problematic	
interpretation	reveals	that	the	regulatory	action	of	the	Executive	Branch	is	admissible,	respecting	
the	principle	of	legality,	and	that	the	legislation	eventually	enacted	must	contain,	at	least,	four	
approaches:	 privacy	 in	 work	 environment,	 final	 control	 by	 humans	 (“human-in-command”	
approach),	 worker	 qualification	 and	 special	 compensation	 in	 the	 event	 of	 a	 termination	 of	
employment	contract.
Keywords:	industry	4.0;	grammatical	model;	topical-problematic	method;	fundamental	right;	
right	to	protection;	Federal	Constitution.
 
1. INTRODUÇÃO
 O	 fenômeno	 denominado	 “Indústria	 4.0”	 (ou	 “quarta	 revolução	 industrial”)	 vem	
alterando	 rápida	 e	 profundamente	 o	 modo	 de	 produção	 e	 de	 prestação	 de	 serviços,	 com	
evidentes	reflexos	nas	relações	de	trabalho,	que	passam	a	estar	ameaçadas	de	extinção	ou	de	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202482
precarização.	Nesse	 cenário,	 é	 relevante	 investigar	 a	 interpretação	 do	 artigo	 7º,	XXVII,	 da	
Constituição	Federal	(C.F.),	que	estabelece	o	direito	fundamental	de	proteção	dos	trabalhadores	
em	face	da	automação,	sob	os	métodos	gramatical	e	tópico-problemático.	A	seleção	dos	métodos	
teve	a	finalidade	de	 ilustrar	as	diferenças	entre	a	hermenêutica	clássica	—	a	que	pertence	o	
método	 gramatical	—	 e	 a	 hermenêutica	 constitucional	—	 a	 que	 pertence	 o	método	 tópico-
problemático.		Quanto	ao	plano	de	trabalho,	a	primeira	etapa	consiste	em	definir	o	fenômeno	
da	 Indústria	 4.0;	 a	 segunda	 etapa,	 em	apresentar	 a	 teórica	 central	 de	 cada	um	dos	métodos	
selecionados,	aplicando-os	na	tarefa	de	interpretação	do	artigo	7º,	XXVII,	da	C.F.;	na	terceira	
e	última	etapa,	serão	apresentadas	as	conclusões	do	estudo.	Na	elaboração	de	todas	as	etapas,	
foram	utilizados	 trabalhos	da	doutrina	 especializada,	bem	como	documentos	de	organismos	
internacionais	e	institutos	de	pesquisa.
2. A INDÚSTRIA 4.0 (QUARTA REVOLUÇÃO EMPRESARIAL)
	 Embora	não	exista	consenso	sobre	o	que	seja	uma	“revolução	industrial”,	normalmente	
são	identificadas	quatro	revoluções	industriais	(NATIONAL	ACADEMY	OF	SCIENCE	AND	
ENGINEERING,	2013,	p.	5)1, sendo	a	primeira	caracterizada	pela	utilização	de	equipamentos	
de	manufatura	mecânicos,	movidos	a	água	ou	vapor,	a	partir	do	final	do	século	XVIII;	a	segunda,	
pelo	advento	de	tecnologias	de	produção	em	massa,	providas	por	energia	elétrica,	no	alvorecer	
do	século	XX;	a	terceira,	pela	popularização	de	eletrônicos	e	da	tecnologia	da	informação	nas	
fábricas,	e	a	quarta	revolução	industrial,	também	conhecida	como	“indústria	4.0”2, caracterizada	
pela	 Internet	 das	Coisas	 (em	 inglês,	 Internet of Things,	 IoT)	 e	 pelos	Sistemas	Ciber-físicos	
(em	 inglês,	 no	 singular,	Cyber-physical system,	CPS)	 (Liao;	Loures;	Deschamps;	Brezinski;	
Venâncio,	2017,	p.	1-2).
	 De	 sua	 feita,	 a	 IoT	 pode	 ser	 definida	 como	 uma	 infraestrutura	 de	 rede	 de	 dinâmica	
global,	 com	 capacidades	 deauto-configuração	 baseadas	 em	 protocolos	 de	 comunicação	
interoperáveis	e	padronizados,	na	qual	“coisas”	físicas	e	virtuais	possuem	identidades,	atributos	
físicos,	personalidades	e	usam	interfaces	inteligentes,	e	são	perfeitamente	integrados	na	rede	de	
informação	(CERP,	2009,	p.	4)3.
	 Por	outro	lado,	o	CPS	é	uma	evolução	do	sistema	embutido	(ou	“sistema	embarcado”),	
sendo	este	último	definido	como	um	sistema	computacional	dedicado	ao	controle	de	algum	
equipamento,	por	exemplo,	o	semáforo	de	um	cruzamento	rodoviário	(GERMAN	TRADE	&	
INVEST.	s.d.,	p.	8)4. Nesse	caminho,	se	o	sistema	embutido	do	semáforo	apenas	controlava	a	
sequência	e	o	tempo	de	acionamento	das	luzes,	o	CPS	é	uma	forma	evoluída,	que	conecta	em	
rede	os	semáforos	da	cidade,	e	utiliza	inteligência	artificial	para	decidir	sobre	a	melhor	forma	
1 No	original:	“The	first	three	industrial	revolutions	came	about	as	a	result	of	mechanization,	electricity	and	IT.	Now,	the	
introduction	of	the	Internet	of	Things	and	Services	into	the	manufacturing	environ-	ment	is	ushering	in	a	fourth	industrial	
revolution”.
2 Conferir	Ribeiro	(2017,	p.	9)	sobre	o	 termo	“Indústria	4.0”	que	surgiu	na	Feira	de	Hanôver	 (capital	do	Estado	da	
Baixa	Saxônia,	Alemanha,	também	grafado	“Hanover”	ou,	em	alemão,	“Hannover”),	tendo	constado	do	relatório	final	
apresentado	em	2013	por	um	grupo	de	trabalho	presidido	por	Siegfried	Dais	e	Henning	Kagermann,	documento	no	qual	
foram	feitas	recomendações	ao	Governo	Alemão	para	implementar	um	modelo	industrial	em	que	máquinas,	sistemas	e	
ativos	estão	interligados,	criando	“fábricas	inteligentes”.
3 No	original:	“The	Internet	of	Things	is	an	integrated	part	of	Future	Internet	and	could	be	defined	as	a	dynamic	global	
network	infrastructure	with	self	configuring	capabilities	based	on	standard	and	interoperable	communication	protocols	
where	physical	and	virtual	“things”	have	identities,	physical	attributes,	virtual	personalities	and	use	intelligent	interfaces,	
and	are	seamlessly	integrated	into	the	information	network”.
4 Conferir	ITPro	(2019):	os	sistemas	embutidos	estão	presentes	em	vários	equipamentos	modernos,	desde	máquinas	de	
lavar	até	carros.	Em	um	carro,	há	vários	sistemas	embutidos,	dedicados	ao	controle,	por	exemplo,	do	sistema	de	tração,	
da	navegação	por	GPS,	mecanismos	de	estabilidade	e	airbags.	Disponível	em:	https://www.itpro.co.uk/hardware/30317/
what-is-an-embedded-system.	Acesso	em:	15	jan.	2020.
http://www.itpro.co.uk/hardware/30317/what-is-an-embedded-system
http://www.itpro.co.uk/hardware/30317/what-is-an-embedded-system
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 83
de	acionamento	deles,	com	vistas	a	permitir	um	melhor	fluxo	do	trânsito.	Tratando-se	de	um	
fenômeno	recente,	e	ainda	em	curso,	é	natural	que	existam	outras	definições	da	Indústria	4.0,	
algumas	de	caráter	marcadamente	analítico,	extenso.	Por	exemplo,	Schwab	afirma	que	a	quarta	
revolução	 industrial	 possui	 três	 características	 fundamentais:	 velocidade	 exponencial,	 em	
contraste	com	as	revoluções	anteriores,	que	progrediram	linearmente;	amplitude	e	profundidade,	
pois	combina	amplamente	as	tecnologias,	alterando	de	modo	profundo	a	sociedade;	e	o	impacto	
sistêmico,	porque	afeta	desde	as	relações	entre	países	até	as	relações	humanas	(Schwab,	2016,	
p.	 13).	 O	 autor	 enumera,	 ainda,	 os	 impulsionadores	 tecnológicos	 da	 Indústria	 4.0	 em	 três	
categorias,	quais	sejam,	veículos	autônomos,	impressão	3D,	robótica	avançada,	novos	materiais	
(categoria	física),	IoT	(categoria	digital)	e	biotecnologia	(categoria	biológica)	(Schwab,	2016,	
p.	23-24;	26;	29).
	 A	despeito	da	definição	que	seja	adotada,	o	crucial	é	perceber	que	a	Indústria	4.0	pode 
ter	um	efeito	prejudicial	sobre	o	mercado	de	trabalho,	pelo	menos	no	horizonte	próximo,	porque	
o	 efeito	destrutivo,	 decorrente	da	 automação,	que	 substitui	 o	 trabalho	pelo	 capital,	 vem	em	
primeiro	lugar,	e	o	efeito	capitalizador,	no	qual	o	capital	provoca	a	aparição	de	novas	empresas	
e	profissões,	vem	apenas	em	segundo	lugar	(Schwab,	2016,	p.	41-42).	Nesse	contexto	é	que	
deve	ser	indagada	qual	a	interpretação	do	artigo	7º,	XXVII,	da	C.F.
3. O MÉTODO GRAMATICAL NA INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 7º, XXVII, 
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
	 De	partida,	é	curial	 ressaltar	que	o	artigo	7º,	XXVII,	da	C.F.,	estabelece	um	“direito	
fundamental”,	categoria	que	abrange	os	direitos	humanos	consagrados	na	ordem	constitucional	
positiva	de	um	determinado	Estado,	correspondendo,	no	caso	do	Brasil,	aos	direitos	individuais	
e	coletivos,	direitos	sociais,	nacionalidade,	direitos	políticos	e	partidos	políticos	(Sarlet,	2004,	
p.	34-36).	
	 Dito	isto,	pode-se	afirmar	que	o	método	gramatical,	também	conhecido	como	método	
filológico,	recomenda	que	as	palavras	(e	as	relações	entre	elas)	sejam	o	ponto	de	partida	da	
interpretação	de	uma	norma	jurídica.	Assim,	para	fixar	o	sentido	e	o	alcance	de	um	preceito	
normativo,	o	intérprete	deve	inicialmente	examinar	os	signos	linguísticos.	Além	de	constituir	o	
início	da	interpretação,	o	exame	da	literalidade	da	norma	jurídica	é	também	o	limite	da	atividade	
interpretativa	 (Bastos,	2002,	p.	58),	 não	podendo	o	 intérprete	 se	 afastar	 completamente	dos	
significados	mínimos	das	palavras	que	constituem	o	enunciado	normativo.
	 Realmente,	 o	 método	 gramatical,	 que	 compõe	 a	 chamada	 hermenêutica	 clássica,	
defende	que	o	começo	da	interpretação,	invariavelmente,	será	o	texto	normativo,	devendo	ser	
pressuposto	a	clareza	deste	(França,	1994,	p.	50).	Sem	embargo	de	sua	importância	—	pois	o	
intérprete	necessita	da	linguagem	para	tomar	contato	com	a	norma	—	o	método	gramatical	não	
pode	ser	utilizado	isoladamente	(Peixinho,	2003,	p.	35).
	 Assim,	inicia-se	o	estudo	do	artigo	7º,	XXVII,	da	C.F.,	mediante	a	invocação	do	seu	
texto:	“são	direitos	dos	trabalhadores	urbanos	e	rurais,	além	de	outros	que	visem	à	melhoria	de	
sua	condição	social:	[…]	proteção	em	face	da	automação,	na	forma	da	lei”.
	 Ao	 afirmar	 que	 a	 proteção	 deve	 ocorrer	 “em	 face	 da	 automação”	 e	 não	 “contra	 a	
automação”,	a	norma	constitucional	evidencia	que	a	automatização	da	produção	e	da	circulação	
de	bens	e	serviços	não	é	um	mal	em	si	mesmo,	vale	dizer,	não	é	algo	contra	o	qual	se	deva	lutar.	
A	diretriz	constitucional	apenas	assegura	aos	trabalhadores	o	direito	de	estarem	protegidos	em	
face	 da	 automação	 que	 signifique	medida	 de	 exclusão,	 acarretando	 eliminação	 drástica	 dos	
postos	de	trabalho	(Coutinho,	2013,	p.	609).
	 Demais	disso,	a	expressão	“na	forma	da	lei”,	revela	que	se	trata	de	norma	constitucional	
de	eficácia	limitada,	a	qual,	portanto,	carece	de	regulamentação	legal	para	que	possa	produzir	
integralmente	seus	efeitos	 (Silva,	2009,	p.	148).	Um	exemplo	de	atuação	do	 legislador	para	
conferir	eficácia	ao	artigo	7º,	XXVII,	da	C.F.,	foi	a	edição	da	Lei	Federal	n.	9.956/2000,	que	proíbe	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202484
o	funcionamento	de	bombas	de	auto-serviço	nos	postos	de	abastecimento	de	combustíveis5.
	 Além	da	Lei	Federal	n.	9.956/2000,	é	possível	mencionar	a	Convenção	n.	158	da	O.I.T.,	
sobre	o	Término	da	Relação	de	Trabalho,	cujo	artigo	13	 recomenda	que	o	encerramento	da	
relação	de	trabalho,	por	motivos	tecnológicos,	deve	ser	precedido	de	informes	aos	trabalhadores,	
explicitando	as	razões	do	término	contratual,	a	quantidade	de	pessoas	atingidas	e	a	época	em	
que	as	demissões	ocorrerão.	Adicionalmente,	a	Convenção	n.	158	da	O.I.T.	prevê	que,	de	acordo	
com	a	legislação	e	a	prática	nacionais,	devem	ser	realizadas	consultas	com	os	representantes	
dos	trabalhadores	afetados,	na	tentativa	de	minimizar	as	consequências	advindas	da	demissão,	
bem	como	devem	 ser	 notificadas	 às	 autoridades	 competentes.	Nada	obstante,	 a	 vigência	 da	
Convenção	n.	158	da	O.I.T.	no	plano	nacional	brasileiro	está	sub judice,	 ainda	sem	solução	
definitiva6.
4. O MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO NA INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 7º, 
XXVII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
 O	método	 tópico-problemático	 foicatalogado	 e	 examinado	 no	 artigo	 científico	 “Os	
métodos	 de	 interpretação	 constitucional:	 inventário	 e	 crítica”,	 de	 autoria	 do	 jurista	 alemão	
Ernst-Wolfgang	Böckenförde,	 e	divulgado	na	 literatura	 jurídica	brasileira	por	 intermédio	da	
obra	de	Canotilho	(Silva,	2005,	p.134).
	 Na	visão	de	Böckenförde,	a	recepção	da	tópica	e	do	pensamento	orientado	a	problemas	
como	um	método	de	interpretação	constitucional	deve	começar	pela	visualização	do	problema	
que	o	método	hermenêutico	clássico	deixa	sem	solução,	senão	totalmente,	ao	menos	quando	
é	aplicado	à	Constituição:	diante	da	natureza	fragmentária	—	muitas	vezes	 indefinida	—	da	
Constituição,	 faz	 sentido	 recorrer	 ao	 procedimento	 tópico,	 orientado	 a	 problemas,	 a	 fim	de	
combater	a	inadequação	das	regras	de	interpretação	clássica	e	evitar	o	non liquet,	o	qual	não	é	
mais	possível,	haja	vista	a	jurisdição	constitucional	existente	(Böcken-	Förde,	2011,	p.	128).
5 Conferir	Bandeira	(2001,	p.	166):	há	lição	doutrinária	no	sentido	de	que	a	proibição,	pura	e	simples,	do	funcionamento	
de	bombas	de	auto-serviço	fere	a	livre	iniciativa,	que	é	um	dos	fundamentos	da	República	Federativa	do	Brasil,	portanto	
a	Lei	n.	9.956/2000	seria	inconstitucional;	entretanto,	esta	doutrina	ressalta	ser	possível	a	proibição	de	demissão	dos	
frentistas.	É	interessante	notar	que	a	Lei	do	Estado	de	São	Paulo	n.	9.796,	de	3	de	outubro	de	1997,	proibiu	a	instalação	
e	a	operação	de	bombas	do	tipo	auto	serviço,	no	âmbito	do	Estado	de	São	Paulo,	tendo	sido	atacada	por	meio	da	Ação	
Direta	de	Inconstitucionalidade	(ADI)	n.	3113/SP,	sob	diversos	argumentos,	dentre	eles	o	argumento	de	que	teria	havido	
invasão	da	competência	privativa	da	União	de	legislar	sobre	direito	do	trabalho.	Em	sua	manifestação,	a	Advocacia-
Geral	da	União	frisou	que	a	declaração	de	inconstitucionalidade	da	Lei	do	Estado	de	São	Paulo	n.	9.796/1997	acarretaria	
a	 perda	 de	 cinquenta	 mil	 postos	 de	 trabalho.	 Finalmente,	 a	ADI	 n.	 3113/SP	 foi	 julgada	 prejudicada,	 em	 razão	 da	
superveniência	da	Lei	Federal	n.	9.956/2000,	cujo	texto	é	quase	idêntico	ao	da	lei	paulista,	tendo	revogado	esta	última.
6 A	Convenção	n.	158	da	O.I.T.	foi	aprovada	na	68.a	reunião	da	Conferência	Internacional	do	Trabalho,	entrando	em	
vigor	no	plano	internacional	em	23	de	novembro	de	1985.	No	Brasil,	a	aprovação	deste	tratado	internacional	se	deu	
pelo	Decreto	Legislativo	n.	68,	de	16	de	setembro	de	1992,	do	Congresso	Nacional,	sendo	promulgado	pelo	Decreto	
Executivo	n.	1.855,	de	10	de	abril	de	1996.	Contudo,	houve	denúncia	da	Convenção	n.	158	da	O.I.T.	poucos	meses	
depois,	pelo	Decreto	Executivo	n.	2.100,	de	20	de	dezembro	de	1996	(Organização	Internacional	do	Trabalho	(O.I.T.).	
C158	—	Término da Relação de Trabalho por Iniciativa do Empregador.	Disponível	 em:	 https://www.ilo.o	 rg/
brasilia/conven-	coes/WCMS_236164/lang--pt/index.htm.	Acesso	em:	24	jan.	2020).	Contra	esta	denúncia,	foi	ajuizada	
a	Ação	Direta	de	Inconstitucionalidade	(ADI)	n.	1625/UF,	ainda	sem	julgamento	definitivo,	mas	com	a	manifestação	de	
seis	votos,	assim	resumidos:	os	Ministros	Maurício	Corrêa	(relator)	e	Carlos	Britto	votaram	pela	procedência,	em	parte,	
da	ação	para,	emprestando	ao	Decreto	Federal	n.	2.100,	de	20	de	dezembro	de	1996,	interpretação	conforme	ao	artigo	49,	
inciso	I,	da	Constituição	Federal,	determinar	que	a	denúncia	da	Convenção	n.	158	da	O.I.T.	condiciona-se	ao	referendo	
do	Congresso	Nacional,	a	partir	do	que	produz	a	sua	eficácia	plena;	o	Ministro	Nelson	Jobim	votou	pela	improcedência	
da	ação;	os	Ministros	Joaquim	Barbosa,	Rosa	Weber	e	Teori	Zavascki	votaram	pela	total	procedência	da	ação.	Conforme	
o	último	registro	de	movimentação	processual,	em	6	de	maio	de	2019,	os	autos	se	encontram	no	Gabinete	do	Ministro	
Dias	Toffoli	;	conferir	Brasil	(1997).
http://www.ilo.o/
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 85
	 Na	abordagem	de	Canotilho,	o	método	tópico-problemático	adota	três	premissas:	(I)	a	
índole	prática	da	interpretação	constitucional;	(II)	a	natureza	aberta	das	normas	constitucionais;	
e	 (III)	 a	 predileção	 pelo	 debate	 dos	 problemas,	 em	 contraponto	 à	 abordagem	da	 subsunção	
(Canotilho,	1993,	p.	1163).
	 É	importante	frisar	que	a	“tópica”	é	uma	maneira	de	pensar	que	se	baseia	em	problemas,	
surgida	na	obra	homônima	do	filósofo	Aristóteles	(Leite,	2001,	p.	97).	No	campo	jurídico,	a	
tópica	surge	em	1953	com	a	obra	Topik und Jurisprudenz de	Theodor	Viehweg,	que	retoma	as	
lições	aristotélicas	e	apresenta	como	ideia	central	a	importância	de	se	resgatar	a	argumentação	
tópica	(Atienza,	2016,	p.	37)..	Após	a	flexão	linguística	de	gênero,	a	“tópica”	assume	a	forma	
“tópico”,	para	integrar	a	expressão	“tópico-problemático”.
	 A	 doutrina	 aponta	 que,	 no	 método	 tópico-problemático,	 a	 interpretação	 deve	 focar	
no	problema,	visto	que	o	foco	no	próprio	 texto	constitucional	encontrará	como	obstáculos	a	
natureza	aberta	da	Constituição,	cuja	redação	é	insuficiente	para	desvelar	o	respectivo	conteúdo	
normativo	(Coelho,	62002,	p.	163-18),	sendo	usual	dizer-se	que	o	método	tópico-problemático	
inicia	a	análise	com	o	problema	para	só	depois	voltar	os	olhos	para	a	norma.
	 De	maneira	 concisa,	 pode-se	 asseverar	 que	 o	 nascimento	 de	métodos	 específicos	 de	
interpretação	constitucional,	dentre	eles	o	método	tópico-problemático,	tem	origem	nas	seguintes	
circunstâncias:	 o	 caráter	 inicial	 da	 Constituição,	 porque	 ocupa	 o	 ápice	 do	 escalonamento	
normativo,	não	se	remetendo	a	qualquer	norma	superior	para	buscar	fundamento	de	validade;	
o	caráter	aberto	do	texto	constitucional,	cuja	leitura	deve	se	adaptar	às	alterações	sofridas	pela	
sociedade;	o	caráter	sintético	dos	preceitos	constitucionais,	em	contraste	com	a	redação	extensa	
dos	preceitos	normativos	de	outros	 ramos	do	direito;	o	caráter	político	da	Constituição,	que	
torna	os	métodos	estritamente	jurídicos	insuficientes	para	resolver	os	conflitos	interpretativos;	
e	o	caráter	estruturante	da	norma	constitucional,	que	governa	a	atividade	do	legislador,	de	modo	
que	as	 técnicas	usadas	na	 interpretação	do	obra	deste	não	teriam	a	mesma	serventia	quando	
aplicadas	à	interpretação	da	Constituição	(Nishiyama,	2013,	p.	93-94).	
	 No	entanto,	não	basta	descrever	o	método	 tópico-problemático	em	 termos	abstratos,	
porque,	 cuidando-se	 de	 um	 método	 de	 interpretação,	 sua	 plena	 compreensão	 depende	 de	
exemplos	de	aplicação	na	atividade	interpretativa7.
Diante	disso,	cumpre	iniciar	a	análise	averiguando	os	problemas	que	a	Indústria	4.0	pode	trazer	
para	o	mundo	do	trabalho.
	 Nessa	direção,	é	preciso	lembrar	que	novos	equipamentos,	frutos	da	quarta	revolução	
industrial,	 podem	 ser	 instalados	 não	 para	 substituir	 os	 trabalhadores,	mas	 para	monitorar	 o	
trabalho	 humano	de	maneira	 intensa	 e	 ampla,	 o	 que	 levanta	 questões	 quanto	 à	 preservação	
da	privacidade	no	ambiente	laboral.	Acerca	do	tema,	a	Corte	Europeia	de	Direitos	Humanos	
(CEDH)	assentou	que	o	monitoramento,	pelo	empregador,	das	atividades	on-line do	empregado,	
conquanto	em	princípio	seja	lícito,	deve	observar	a	diretriz	da	proporcionalidade.	Sem	esgotar	
o	que	seriam	medidas	proporcionais,	a	CEDH	mencionou	ser	recomen-	dável	ao	empregador	
alertar	 o	 empregado	 acerca	 da	 possibilidade	 de	monitoramento	 de	 seus	 correios	 eletrônicos	
(e-mail)	e	demais	formas	de	comunicação	eletrônica;	possuir	motivos	legítimos	a	amparar	a	
fiscalização	das	comunicações;	e	buscar	continuamente	formas	menos	invasivas	de	supervisão	
(CEDH.	2017,	itens	121;	141).
	 Sob	a	ótica	do	desemprego,	segundo	o	Banco	Mundial,	de	um	conjunto	de	35	países,	
incluindo	desde	países	de	baixa	renda	(a	exemplo	da	Armênia)	até	países	de	alta	renda	(a	exemplo	
da	Dinamarca),	menos	 de	 15	%	 dos	 postos	 de	 trabalho	 correm	 grande	 risco	 de	 automação	
(Hallward-driemeier,	2017,	p.	135).
	 No	Brasil,	a	partir	de	dados	da	Relação	Anual	de	Informações	Sociais	(RAIS)	de	2017,	
constatou-se	que	as	ocupações	com	probabilidade	alta	ou	muitoalta	de	automação	totalizam	
7 Conferir	Silva	(2005,	p.	134-136)	sobre	a	carência	de	exemplos	práticos	notada	por	Silva:	“Não	se	costuma	examinar,	
por	exemplo,	quando	se	fala	desse	ou	daquele	método,	como	seria	uma	aplicação	prática	de	cada	um	deles.	As	análises	
costumam	limitar-se	a	expor	a	ideia	teórica	central	de	cada	método.	Isso	é	obviamente	insuficiente,	pois	métodos	não	são	
um	fim	em	si	mesmos,	mas	existem	para	serem	aplicados”.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202486
54,45	%	(cinquenta	e	quatro	inteiros	e	quarenta	e	cinco	centésimo	por	cento)	do	total,	e	verificou-
se	que	estas	ocupações	apresentam	tendência	de	crescimento	no	quantitativo	de	trabalhadores,	
o	que	traz	risco	de	desemprego	em	massa	(Albuquerque,	2019).
	 Após	examinarem	702	profissões,	com	dados	extraídos	do	Departamento	do	Trabalho	
dos	EUA,	Frey	e	Osborne	concluíram	que	aproximadamente	47	%	dos	empregos	no	território	
americano	possuem	grande	risco	de	serem	automatizados.	De	acordo	com	os	autores,	a	primeira	
onda	de	automação	atingirá	os	postos	de	trabalho	nas	áreas	de	logística	e	transportes,	juntamente	
com	as	áreas	de	escritório	e	suporte	administrativo,	visto	que	o	custo	dos	veículos	automatizados	
está	em	franco	declínio,	além	do	que	os	algoritmos	de	computador	estão	rapidamente	ingressando	
nos	domínios	que	dependem	de	armazenamento	e	acesso	de	informações	(bancos	de	dados),	
os	 quais	 tipicamente	 recrutavam	 trabalhadores	 em	 setor	 administrativo;	 em	 acréscimo,	 a	
pesquisa	concluiu	que	os	trabalhadores	de	baixa	qualificação	serão	os	primeiros	a	sofrerem	as	
consequências	da	automação	dos	postos	de	trabalho	(Frey,	2017,	p.	254-280).
	 Também	analisando	a	situação	dos	EUA,	com	enfoque	não	somente	na	profissão	em	si,	
mas	nas	tarefas	relativas	a	ela,	Chui,	Manyika	e	Miremadi	afirmam	que,	enquanto	apenas	5%	das	
profissões	podem	ser	totalmente	automatizadas,	cerca	de	30	%	das	tarefas	relativas	a	60	%	das	
profissões	podem	ser	feitas	por	procedimentos	automatizados,	o	que	implica	uma	redefinição	
dos	papéis	dos	trabalhadores.	Por	exemplo,	no	tocante	ao	diagnóstico	de	problemas	de	saúde,	a	
automação	pode	ser	utilizada	na	identificação	das	doenças	mais	comuns,	com	grande	precisão,	
deixando	os	médicos	livres	para	focar	atenção	nos	casos	mais	agudos	ou	incomuns.	Ainda,	os	
pesquisadores	ressaltam	que	embora	a	correlação	entre	salários	e	possibilidade	de	automação	
seja	estatisticamente	significativa,	a	variabilidade	é	alta,	de	maneira	que	o	patamar	salarial	não	
é	um	preditor	forte	do	risco	de	automação,	o	que	confronta	com	o	senso	comum	(Chui,	2015,	p.	
5-7).
	 Investigando	 a	 situação	 em	Camboja,	 Indonésia,	 Filipinas,	Tailândia	 e	Vietnã,	 cinco	
países	membros	da	Associação	das	Nações	do	Sudeste	Asiático	 (ASEAN),	Chang	 e	Huynh	
encontraram	que	aproximadamente	56	%	dos	empregos	estão	sujeitos	a	alto	risco	de	automação,	
gerando	desemprego,	nos	próximos	vinte	anos.	De	maneira	específica,	no	Camboja,	país	onde	
a	produção	de	vestuário	domina	o	setor	manufatureiro,	quase	meio	milhão	de	operadores	de	
máquinas	de	costura	estão	sujeitos	a	um	alto	risco	de	automação;	e	na	Tailândia,	cerca	de	um	
milhão	de	vendedores	de	loja	correm	alto	risco	de	verem	suas	funções	automatizadas	(Chang,	
2016,	p.	4).
	 Por	outro	lado,	Berger	apresenta	um	prospecto	positivo,	de	criação	líquida	de	empregos	
no	 Leste	 Europeu,	 com	 perda	 de	 8,3	 milhões	 de	 postos	 de	 trabalho,	 mas	 surgimento	 de	
aproximadamente	 dez	milhões	 de	 postos	 de	 trabalho	 até	 o	 ano	 2035.	 Nessa	 perspectiva,	 a	
modernização	 associada	 à	 Indústria	 4.0	 permitirá	 uma	melhor	 aplicação	 do	 capital,	 aspecto	
chave	na	geração	de	 empregos,	 havendo	um	potencial	 de	 surgimento	de	postos	de	 trabalho	
tanto	na	manufatura	quanto	em	“novos	serviços”,	estes	no	campo	da	educação,	saúde,	lazer,	
mobilidade,	entre	outros	(Berger,	s.d.,	p.	15-18).
	 De	modo	panorâmico,	os	estudos	consultados	ressaltam	que	as	inovações	tecnológicas	
de	natureza	disruptiva,	relacionadas	à	Indústria	4.0,	tem	grande	potencial	de	destruir	postos	de	
trabalho.	Entretanto,	cenários	pessimistas	do	impacto	da	tecnologia	sobre	os	níveis	de	emprego,	
ao	longo	da	segunda	metade	do	século	XX,	se	mostraram	exagerados	(O.I.T.,	2017,	p.	24).
	 Em	verdade,	o	que	se	infere	das	discrepâncias	entre	os	resultados	dos	estudos	científicos	
é	que	o	impacto	de	longo	prazo	da	quarta	revolução	industrial	sobre	a	quantidade	de	postos	
de	trabalho	ainda	não	pode	ser	aferido	com	exatidão.	No	curto	prazo,	porém,	há	convergência	
quanto	 à	 conclusão	 de	 que	 vários	 postos	 de	 trabalho	 serão	 eliminados	 ou	 profundamente	
modificados,	devendo	os	respectivos	trabalhadores	receberem	a	proteção	mencionada	no	artigo	
7º,	XXVIII,	da	C.F.,	sendo,	agora,	o	momento	de	ir	até	a	norma	constitucional,	para	interpretá-
la	a	partir	do	problema	delineado.
	 Um	 primeiro	 ponto	 de	 vista	 seria	 interpretar	 de	 maneira	 mais	 atenuada	 a	 “eficácia	
limitada”	da	norma	constitucional	em	debate,	haja	vista	a	grande	velocidade	que	se	verifica	na	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 87
quarta	revolução	industrial,	se	comparadas	às	três	anteriores8. Nessa	direção,	além	da	atuação	
do	 legislador,	 é	viável	 reconhecer	 ao	Poder	Executivo	a	prerrogativa	de	estabelecer	 atos	de	
regulamentação	da	proteção	em	face	da	automação,	sem	descuidar	do	princípio	da	legalidade.
	 Exemplo	dessa	atuação	regulatória	foi	a	edição	da	Portaria	n.	340,	de	4	de	maio	de	2000,	
pelo	então	Ministério	do	Trabalho	e	Emprego,	que,	com	o	intento	de	preservar	a	segurança	dos	
trabalhadores	de	veículos	de	transporte	coletivo	de	passageiros,	condicionava	a	instalação	de	
inovações	tecnológicas	à	realização	inspeção	prévia	pelo	Auditor-Fiscal	do	Trabalho.	Na	prática,	
a	fiscalização	do	trabalho	passou	a	multar	as	empresas	proprietárias	de	ônibus	que	circulavam	
sem	cobradores	por	terem	instalado	catracas	eletrônicas	(inovação	tecnológica)	para	substituir	
estes	trabalhadores,	sendo	as	multas	jus-	tificadas	pelo	prejuízo	à	segurança	do	motorista,	que	
ficaria	 sozinho,	 com	 a	 atribuição	 de	 conduzir	 o	 veículo	 e	 de	 resolver	 eventuais	 problemas	
atinentes	à	cobrança	de	passagens,	distraindo-o	da	função	de	condução	veicular	(FOLHA	DE	
SÃO PAULO, 2.000)9. Não	há	que	se	cogitar	de	violação	ao	princípio	da	legalidade,	porque	
razões	de	segurança	no	trabalho	legitimam	a	atuação	reguladora	do	Poder	Executivo	Federal,	
por	 força	do	artigo	200	da	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho	 (CLT)10. No	entanto,	cumpre	
registrar	que	a	Portaria	n.	340,	de	4	de	maio	de	2000,	foi	recentemente	revogada	pela	Portaria	
n. 1417,	de	19	de	dezembro	de	2019,	editada	pela	atual	Secretaria	Especial	de	Previdência	e	
Trabalho	do	Ministério	da	Economia	(SEPRT).
	 Um	segundo	ponto	de	vista	recai	sobre	as	abordagens	que	devem	figurar	na	legislação	
que	eventualmente	for	editada	para	proteger	os	trabalhadores	em	face	da	automação.	De	pronto,	
é	possível	vislumbrar	um	mínimo	de	quatro	abordagens:	privacidade	no	ambiente	de	trabalho,	
controle	final	por	humanos,	qualificação	dos	trabalhadores	e	indenização	especial	na	hipótese	
de	ruptura	contrato	de	trabalho.
	 No	tocante	à	proteção	da	privacidade,	a	legislação	precisa	limitar	a	espécie,	quantidade	
e	 a	 destinação	 dos	 dados	 coletados	 dos	 trabalhadores,	 resguardando-lhes	 a	 vida	 privada.	 É	
relevante	notar	que	a	 regulamentação	desse	 aspecto	não	 significa	a	 simples	 transposição	da	
guarida	concedida	pelo	direito	civil	para	a	 seara	 trabalhista,	pois	 regular	 a	maneira	como	o	
poder	diretivo	do	empregador	faz	uso	de	dados,	buscando	evitar	que	a	busca	por	crescimento	da	
produtividade	gere	riscos	ocupacionais	e	aumento	de	estresse	nos	empregados,	tem	pertinência	
atávica	com	o	direito	do	trabalho	(De	Stefano,	2019,	p.	29).
	 No	tocante	ao	controle	final	por	humanos	(abordagem	“humano-no-comando”),	(EESC,	
2017)11, a	legislação	deve	assegurar	que	a	última	palavra	sobre	o	exercício	do	poder	diretivo	e	
disciplinar	do	empregadorseja	dada	por	um	ser	humano.	Com	efeito,	ainda	que	seja	possível	à	
inteligência	artificial	avaliar	e	determinar	o	ritmo	da	produção,	a	decisão	final	deve	ser	tomada	
por	um	ser	humano,	o	mesmo	se	aplicando	a	questões	disciplinares	(De	Stefano,	2019,	p.	29).
8 Nas	palavras	de	Schwab	(2016,	p.	13),	a	rapidez	exponencial	da	quarta	revolução	industrial	é	resultado	“do	mundo	
multifacetado	e	profundamente	interconectado	em	que	vivemos”	.
9 Conferir	Giuliana	sobre	Portaria	que	obriga	empresas	a	manter	cobradores	a	partir	de	sexta.	A	reportagem	da	Folha 
de São Paulo esclarece,	corretamente,	que	a	obrigação	é	de	manter	os	cobradores	de	ônibus,	não	havendo	proibição	de	
instalação	das	catracas	eletrônicas.
10 Conferir	Bandeira	 (2001,	 p.	 165)	 sobre	CLT,	 art.	 200:	 “Cabe	 ao	Ministério	 do	Trabalho	 estabelecer	 disposições	
complementares	às	normas	de	que	trata	este	Capítulo	[Da	Segurança	e	da	Medicina	do	Trabalho],	 tendo	em	vista	as	
peculiaridades	de	cada	atividade	ou	setor	de	trabalho	[…]”.	Há	posição	doutrinária	de	que	os	Municípios,	na	qualidade	de	
poder	concedente	do	serviço	de	transporte	urbano	coletivo	de	passageiros	(C.F.,	art.	30,	V)	podem	inserir	nos	respectivos	
contratos	de	concessão,	por	ordem	da	Administração	Municipal,	a	proibição	das	catracas	eletrônicas	nos	ônibus,	com	
vistas	a	preservar	o	emprego	dos	cobradores.
11 A	abordagem	“humano-no-comando”	 (em	 inglês,	human-in-command)	 é	preconizada	pelo	Comitê	Econômico	e	
Social	Europeu,	o	qual	prescreve	como	pré-condição	para	o	desenvolvimento	responsável,	seguro	e	útil	da	inteligência	
artificial,	que	as	máquinas	permaneçam	máquinas	e	que	as	pessoas	mantenham	o	controle	sobre	essas	máquinas	o	tempo	
todo. No	original:	“1.6	The	EESC	calls	for	a	human-in-command	approach	to	AI,	including	the	precondition	that	the	
development	of	AI	be	responsible,	safe	and	useful,	where	machines	remain	machines	and	people	retain	control	over	these	
machines	at	all	times”.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202488
	 Acerca	 da	 necessidade	 de	 qualificação	 dos	 trabalhadores,	 cumpre	 rememorar	 que	 a	
formação	intelectual	ocupa	posição	nuclear	na	defesa	do	trabalhador	em	face	da	automação,	
sendo	 certo	 que	 o	 desafio	 de	manter	 em	 harmonia	 o	 crescimento	 econômico,	 a	 criação	 de	
empregos	 e	 o	 trabalho	 de	 qualidade	 está	 na	 reinvenção	 dos	 trabalhadores,	 com	 esteio	 no	
treinamento,	destinado	a	aquisição	de	habilidades	digitais	(Ciulli,	2018,	p.	210).
	 Por	 fim,	 no	 atinente	 à	 indenização	 especial	 devida	 em	 caso	 de	 ruptura	 contrato	 de	
emprego	motivada	por	 automatização	do	posto	de	 trabalho,	 esta	 consequência	 indenizatória	
parece	mais	razoável	do	que	proibir	a	automação	em	si,	ou	mesmo	do	que	assegurar	o	emprego,	
independentemente	da	extinção	da	função,	determinando	o	remanejamento	do	empregado	dentro	
da	empresa.	Dessa	 forma,	 sem	comprometer	a	competitividade	empresarial12, que	 terá	papel	
inegável	na	geração	dos	empregos	futuros,	é	possível	compartilhar,	desde	logo,	os	dividendos	
da	quarta	revolução	industrial13.
5. CONCLUSÃO
Diante	do	exposto,	podem	ser	firmadas	as	seguintes	conclusões:
1. A	 interpretação	 gramatical	 do	 artigo	 7.º,	XXVIII,	 da	C.F.	 revela	 que	 (a)	 a	
escolha	da	expressão	“em	face	da”	—	cuja	carga	semântica	é	neutra	—	em	lugar	do	
termo	“contra”	—	cuja	carga	semântica	é	de	negatividade	—	indica	que	a	automação	
não	é	uma	mazela	a	ser	combatida,	tratando-se	apenas	de	um	fenômeno	em	face	do	
qual	os	trabalhadores	têm	direito	fundamental	à	proteção;	(b)	a	expressão	“na	forma	
da	lei”	significa	que	se	trata	de	norma	constitucional	de	eficácia	limitada,	a	depender	
de	 regulamentação	 infraconstitucional	 para	 que	 possa	 produzir	 integralmente	 seus	
efeitos.
2. A	 interpretação	 tópico-problemática	 do	 artigo	 7º,	 XXVIII,	 da	 C.F.	
resulta	 em	 que(a)	 a	 eficácia	 limitada	 deve	 ser	 interpretada	 de	 modo	 atenuado,	
admitindo	 a	 atuação	 regulatória	 do	 Poder	 Executivo,	 respeitado	 o	 princípio	 da	
legalidade,	 haja	 vista	 a	 velocidade	 com	 que	 as	 mudanças	 da	 quarta	 revolução	
industrial	 são	 implantadas;	 (b)	 a	 legislação	 que	 eventualmente	 for	 editada	
para	 proteger	 os	 trabalhadores	 em	 face	 da	 automação	 deve	 conter,	 no	 mínimo,	
quatro	 abordagens:	 privacidade	 no	 ambiente	 trabalho,	 controle	 final	 por	
humanos	 (abordagem	 “humano-no-comando”),	 qualificação	 dos	 trabalhadores	 e	
indenização	especial	na	hipótese	de	ruptura	contrato	de	trabalho.	 
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE,	Pedro	et al. Na era das máquinas, o emprego é de quem? Estimação da 
probabilidade de automação de ocupações no Brasil.	Brasília:	LMFAO,	2019.	Disponível	
em: https://lamfo.shinyapps.io/automacao/	.Acesso	em:	25	jan.	2020.
12 Neste	 particular,	 é	 preciso	 reconhecer	 que	 a	 Indústria	 4.0	 é	 um	 movimento	 global,	 que	 tem	 angariado	 grande	
atenção	na	agenda	de	desenvolvimento	de	países	como	Alemanha,	Estados	Unidos,	China,	Japão	e	Coréia	do	Sul,	sendo	
imprescindível	 formular	 e	 efetivar	 um	plano	de	 ação	para	viabilizar	 ao	parque	 industrial	 brasileiro	 a	 capacidade	de	
competir	no	mercado	globalizado	,	para	tanto	conferir	CNI	(2016,	p.	33-34).	
13 A	preocupação	em	dividir	os	dividendos	tecnológicos	justifica-se	porque	eles,	até	o	momento,	estão	circunscritos	aos	
setores	digitais,	não	tendo	se	espraiado	para	outros	setores	da	economia,	com	risco	de	aprofundamento	de	desigualdades,	
especialmente	entre	capital	e	trabalho,	conferir	O.I.T.	(2017,	p.	26).	No	original:	“[…]	so	far	the	technological	dividends	
generated	in	the	digital	sectors	have	not	spilled	over	to	the	rest	of	the	economy,	and	thus	risk	deepening	some	of	the	
prevailing	inequalities,	notably	between	capital	and	labour”.
https://lamfo.shinyapps.io/automacao/
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 89
ATIENZA,	Manuel.	As razões do direito: teorias da argumentação jurídica.	 Tradução:	
Maria	Cristina	Guimarães	Cupertino.	2.	ed.	São	Paulo:	Landy,	2016.
BANDEIRA,	Luiz	Fernando.	Proibição	de	bombas	de	auto-serviço	em	postos	de	gasolina	e	
de	catracas	eletrônicas	em	ônibus:	 limites	e	possibilidades	da	 ingerência	estatal	na	empresa	
privada.	Revista de informação legislativa,	v.	38,	n.	150,	p.	157-166,	abr.-
-jun.	2001.	Disponível	em:	https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/686.	Acesso	em:	08	 jan.	
2020.
BASTOS,	Celso	Ribeiro.	Hermenêutica e Interpretação Constitucional.	3.	ed.	São	Paulo:	
Celso	Bastos/IBDC,	2002.	p.	58.
BERGER, Roland. The Industrie 4.0 transition quantified.	 s.d.,	 p.	 15-18.	 Disponível	
em:	 https://www.rolandberger.com/publications/publication_pdf/roland_berger_indus-	
try_40_20160609.pdf.	Acesso	em:	25	jan.	2020.
BÖCKENFÖRDE,	 Ernst-Wolfgang;	 GOSEWINKEL,	 Dieter.	 Wissenschaft, Politik, 
Verfassungsgericht: Aufsätze von Ernst-Wolfgang Böckenförde. Biographisches Interview 
von Dieter Gosewinkel.	 Berlim:	 Suhrkamp,	 2011. Disponível em: https://cdn-assetservice.
ecom-api.beck-shop.de/product/readingsample/8869043/9783518296066_excerpt_001.pdf 
Acesso	em:	07	jan.	2020.	
BRASIL.	Presidência	da	República.	Casa	Civil.	Subchefia	para	Assuntos	Jurídicos.	Constituição 
da República Federativa do Brasil, 1988.	Brasília,	DF,	05	out.	1988.	Disponível	em:	http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.	Acesso	em:	27	jan.	2020.
BRASIL.	Presidência	da	República.	Decreto-lei	n.	5.452,	de	1º	de	maio	de	1943.	Aprova	a	
consolidação	das	leis	do	trabalho	(CLT).	Diário Oficial da União,	Brasília,	DF,	09	ago.	1943.	
Disponível	em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm.	Acesso	em:	27	
jan.	2020.
BRASIL.	 Presidência	 da	 República.	 Lei	 n.	 9.956,	 de	 12	 de	 janeiro	 de	 2000.	 Proíbe	 o	
funcionamento	 de	 bombas	 de	 auto-serviço	 nos	 postos	 de	 abastecimento	 de	 combustíveis	 e	
dá	outras	providências.	Diário Oficial da União,	Brasília,	DF,	13	jan.	2000.	Disponível	em:	
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9956.htm. Acesso	em:	19	jan.	2020.BRASIL.	Presidência	da	República.	Portaria	MTE	n.	340,	de	4	de	maio	de	2000.	Diário Oficial 
da União,	 Brasília,	 DF,	 05	 maio	 de	 2000.	 Disponível	 em:	 https://www.legisweb.com.br/
legislacao/?id=182276.Acesso	em:	19	jan.	2020.
BRASIL.	 Presidência	 da	República.	 Portaria	 n.	 1.417,	 de	 19	 de	 dezembro	 de	 2019.	Diário 
Oficial da União,	Brasília,	DF,	 20	 dez.	 2019.	Disponível	 em:	 http://www.in.gov.br/en/web/	
dou/-/portaria-n-1.417-de-19-de-dezembro-de-2019-234644241.	Acesso	em:	19	jan.	2020.
BRASIL.	 Presidência	 da	 República.	 Supremo	 Tribunal	 Federal	 (STF).	 Ação Direta de 
Inconstitucionalidade:	ADI	3113/SP.	Relator:	Ministro	Eros	Grau.	DJ:	16/03/2005.	Disponível	
em: 
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/14792101.	Acesso	em:	22	jan.	2020.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/686
http://www.rolandberger.com/publications/publication_pdf/roland_berger_indus-
http://www.rolandberger.com/publications/publication_pdf/roland_berger_indus-
https://cdn-assetservice.ecom-api.beck-shop.de/product/readingsample/8869043/9783518296066_excerpt_001.pdf
https://cdn-assetservice.ecom-api.beck-shop.de/product/readingsample/8869043/9783518296066_excerpt_001.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9956.htm
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=182276
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=182276
http://www.in.gov.br/en/web/
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stf/14792101
http://tinyurl.com/nff27ze
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202490
BRASIL.	 Presidência	 da	 República.	 Supremo	 Tribunal	 Federal	 (STF).	 Ação Direta de 
Inconstitucionalidade:	ADI	1625/UF.	Relator:	Min.	Maurício	Corrêa.	Pendente	de	julgamento.	
Disponível	 em:	 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=1675413.	Acesso	 em:	
24	jan.	2020.
CANOTILHO,	J.	J.	Gomes.	Direito Constitucional.	6.	ed.	Coimbra:	Almedina,	1993.	
CEDH.	Corte	Europeia	de	Direitos	Humanos.	Bărbulescu v. Romania.	 Julgamento:	 05	 set.	
2017.	Disponível	em:	http://hudoc.echr.coe.int/eng?i=001-177082.	Acesso	em:	21	jan.	2020.
CERP.	 Internet	of	Things	European	Research	Cluster	 (2009).	 Internet of Things:	Strategic	
Research	 Roadmap.	 Disponível	 em:	 https://pt.scribd.com/document/44962661/CERP-IoT-
SRA-IoT-v11-pdf.	Acesso	em:	02	jan.	2020.
CHANG,	Jae-Hee;	HUYNH,	Phu.	ASEAN in transformation: the	 future	of	 jobs	at	 risk	of	
automation.	 International	Labour	Office,	Bureau	 for	Employers’	Activities.	Genebra:	O.I.T.,	
2016.	 Disponível	 em:	 http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---act_emp/
documents/publication/wcms_579554.pdf.	Acesso	em:	23	jan.	2020.
CHUI,	Michael;	MANYIKA,	James;	MIREMADI,	Mehdi.	Four fundamentals of workplace 
automation.	 Washington:	 McKinsey	 Global	 Institute,	 2015.	 Disponível	 em:	 https://www.
mckinsey.com/capabilities/mckinsey-digital/our-insights/four-fundamentals-of-workplace-
automation		Acesso	em:	25	jan.	2020.
CIULLI,	Diego.	L’economia	delle	piattaforme:	trend	tecnologici	e	trasformazioni	del	lavoro.	In: 
CIPRIANI,	Alberto;	GRAMOLATI,	Alessio;	MARI,	Giovanni	(Ed.).	Il lavoro 4.0: La Quarta 
Rivoluzione industriale e le trasformazioni delle attività lavorative.	Firenze	University	Press,	
2018.	 Disponível	 	 em:	 https://flore.unifi.it/retrieve/e398c37c-d7c3-179a-e053-3705fe0a4cff/
Causarano%20Orofessionalit%204.0%20finale.pdf.Acesso	em:	17	jan.	2020.
CNI.	Confederação	Nacional	da	Indústria.	Desafios para a indústria 4.0 no Brasil:	relatório.	
Brasília:	CNI,	2016.	Disponível	em:	https://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2016/8/
desafios-para-industria-40-no-brasil/
Acesso	em:	25	jan.	2020.
COELHO,	 Inocêncio	 Mártires.	 Métodos	 —	 Princípios	 de	 interpretação	 constitucional.	
Revista de Direito Administrativo,	 Rio	 de	 Janeiro,	 v.	 230,	 p.	 163-186,	 out.	 2002.	 ISSN	
2238-5177.	 Disponível	 em:	 https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4565164/mod_resource/
content/1/1.%20COELHO%2C%20Inoc%C3%AAncio.%20M%C3%A9todos%20e%20
Princ%C3%ADpios%20da%20Interpreta%C3%A7%C3%A3o%20Constitucional.pdf.	Acesso	
em: 22 Jan. 2020.
COUTINHO,	Aldacy	Rachid.	Comentário	ao	artigo	7º,	XXVII,	da	C.F.	In:	CANOTILHO,
J.J.	Gomes;	MENDES,	Gilmar	Ferreira;	SARLET,	Ingo	Wolfgang.;	STRECK,	Lenio	Luiz.	
(Coords.).	Comentários à Constituição do Brasil.	São	Paulo:	Saraiva/Almedina,	2013.
DE	STEFANO,	Valerio.	‘Negotiating	the	Algorithm’:	Automation,	Artificial	Intelligence	and	
Labour	Protection.	Comparative Labor Law & Policy Journal,	v.	41,	n.	1,	2019.	Disponível	
em:	https://ssrn.com/abstract=3178233.	Acesso	em:	08	jan.	2020.
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=1675413
http://hudoc.echr.coe.int/eng?i=001-177082
https://pt.scribd.com/document/44962661/CERP-IoT-SRA-IoT-v11-pdf
https://pt.scribd.com/document/44962661/CERP-IoT-SRA-IoT-v11-pdf
http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dia-
https://www.mckinsey.com/capabilities/mckinsey-digital/our-insights/four-fundamentals-of-workplace-automation
https://www.mckinsey.com/capabilities/mckinsey-digital/our-insights/four-fundamentals-of-workplace-automation
https://www.mckinsey.com/capabilities/mckinsey-digital/our-insights/four-fundamentals-of-workplace-automation
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4565164/mod_resource/content/1/1. COELHO%2C Inocêncio. Métodos e Princípios da Interpretação Constitucional.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4565164/mod_resource/content/1/1. COELHO%2C Inocêncio. Métodos e Princípios da Interpretação Constitucional.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4565164/mod_resource/content/1/1. COELHO%2C Inocêncio. Métodos e Princípios da Interpretação Constitucional.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4565164/mod_resource/content/1/1. COELHO%2C Inocêncio. Métodos e Princípios da Interpretação Constitucional.pdf
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 91
EESC.	 Comitê	 Econômico	 e	 Social	 Europeu.	 Opinião	 sobre	 “Inteligência	 artificial	 —	As	
consequências	da	inteligência	artificial	no	mercado	único	(digital),	produção,	consumo,	emprego	
e	sociedade”.	Diário Oficial da União Europeia,	C.	288,	v.	60,	31	ago.	2017.	Disponível	em:	
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=OJ:C:2017:288:TOC.	Acesso	em:	17	jan.	
2020.
FRANÇA,	Rubens	Limongi.	Hermenêutica jurídica.	3.	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	1994.
FREY,	Carl	Benedikt;	OSBORNE,	Michael	A.	The future of employment: How susceptible 
are jobs to computerisation?. Technological forecasting and social change,	 v.	 114,	
p.	 254-280,	 2017.	 Disponível	 em:	 https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/
S0040162516302244.	Acesso	em:	23	Jan.	2020.
GTAI.	Germany	Trade	&	 Invest.	Agência	 de	 Comércio	 Exterior	 e	 Investimento	 Interno	 da	
República	 Federal	 da	 Alemanha.	 Smart Manufacturing for the Future.	 Disponível	 em:	
https://pt.scribd.com/document/378680327/2014-01-14-Industrie-4-0-Smart-Manufacturing-
for-the-Future-German-Trade-Investe.	Acesso	em:	02	jan.	2020.
HALLWARD-DRIEMEIER,	Mary;	NAYYAR,	Gaurav.	Trouble in the Making? The Future 
of Manufacturing-Led Development.	Washington:	 Banco	Mundial,	 2017.	 Disponível	 em:	
https://www.skillsforemployment.org/sites/default/files/2024-01/wcmstest4_194713.pdf 
Acesso	em:	21	jan.	2020.
ITPro. What is an embedded system?.	Londres:	Dennis	Publishing,	2019.	Disponível	 em:	
https://www.itpro.co.uk/hardware/30317/what-is-an-embedded-system.	 Acesso	 em:	 15	 jan.	
2020.
LEITE,	 George	 Salomão.	 Interpretação constitucional e tópico jurídico.	 2001,	 171	 f.	
Dissertação	 (Mestrado	 em	Direito)	—	 Pontifícia	 Universidade	 Católica	 de	 São	 Paulo,	 São	
Paulo,	2001.
LIAO;	 LOURES;	 DESCHAMPS;	 BREZINSKI;	 VENÂNCIO,	 André.	 The	 Impact	 of	 the	
Fourth Industrial Revolution: a	 cross-country/region	 comparison.	 Pontifícia	UniversidadeCatólica	 do	 Paraná,	 Curitiba,	 2017.	 Disponível	 em:	 https://www.scielo.br/j/prod/a/
hRmXgtCKq6qbwMkK4nVkj8g/?lang=en.	Acesso	em:	22	jan.	2020,	p.	1-2.
MAGANE,	Renata	Possi.	O	método	concretista	da	constituição	aberta.	Revista da Faculdade 
de Direito do Sul de Minas,	Pouso	Alegre,	v.	25,	n.	2,	jul-dez	2009.	Disponível	em:	https://
www.fdsm.edu.br/adm/artigos/1d466143fcaa8f66b451a0d053b25349.pdf.	Acesso	em:	15	jan.	
2020.
MARTINEZ,	 Luciano;	 MALTEZ,	 Mariana.	 O	 Direito	 Fundamental	 à	 Proteção	 em	 Face	
da	 Automação.	 Revista Nova Hileia,	 v.	 2.	 n	 2,	 jan-jun	 2017.	 Disponível	 em:	 http://
repositorioinstitucional.uea.edu.br/handle/riuea/1253.	Acesso	em:	06	jan.	2020.
NATIONAL	 ACADEMY	 OF	 SCIENCE	 AND	 ENGINEERING	 —	 ACATECH.	
Recommendations for implementing the strategic initiative industrie 4.0. final report of 
the industrie 4.0 working group.	Frankfurt:	ACATECH,	2013.	Disponível	em:	https://www.
acatech.de/wp-content/uploads/2018/03/Final_report__Industrie_4.0_accessible.pdf.	 Acesso	
em:	15	jan.	2020.
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=OJ:C:2017:288:TOC
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0040162516302244
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0040162516302244
https://pt.scribd.com/document/378680327/2014-01-14-Industrie-4-0-Smart-Manufacturing-for-the-Future-German-Trade-Investe
https://pt.scribd.com/document/378680327/2014-01-14-Industrie-4-0-Smart-Manufacturing-for-the-Future-German-Trade-Investe
https://pt.scribd.com/document/378680327/2014-01-14-Industrie-4-0-Smart-Manufacturing-for-the-Future-German-Trade-Investe
https://www.skillsforemployment.org/sites/default/files/2024-01/wcmstest4_194713.pdf
http://www.itpro.co.uk/hardware/30317/what-is-an-embedded-system
http://www.itpro.co.uk/hardware/30317/what-is-an-embedded-system
http://www.itpro.co.uk/hardware/30317/what-is-an-embedded-system
https://www.scielo.br/j/prod/a/hRmXgtCKq6qbwMkK4nVkj8g/?lang=en
https://www.scielo.br/j/prod/a/hRmXgtCKq6qbwMkK4nVkj8g/?lang=en
http://www.fdsm.edu.br/adm/artigos/1d466143fcaa8f66b451a0d053b25349.pdf
http://www.fdsm.edu.br/adm/artigos/1d466143fcaa8f66b451a0d053b25349.pdf
http://www.fdsm.edu.br/adm/artigos/1d466143fcaa8f66b451a0d053b25349.pdf
http://repositorioinstitucional.uea.edu.br/handle/riuea/1253
http://repositorioinstitucional.uea.edu.br/handle/riuea/1253
https://www.acatech.de/wp-content/uploads/2018/03/Final_report__Industrie_4.0_accessible.pdf
https://www.acatech.de/wp-content/uploads/2018/03/Final_report__Industrie_4.0_accessible.pdf
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202492
NISHIYAMA,	Adolfo	Mamoru.	Os	métodos	de	interpretação	constitucional.	Unisul de Fato 
e de Direito: revista jurídica da Universidade do Sul de Santa Catarina,	[S.l.],v.	4,	n.	7,	p.	
77-95,	nov.	2013.	ISSN	2358-601X.	Disponível	em:https://portaldeperiodicos.animaeducacao.
com.br/index.php/U_Fato_Direito/article/view/19531.	Acesso	em:	23	jan.	2020.
O.I.T.	Organização	Internacional	do	Trabalho.	C158 — Término da Relação de Trabalho por 
Iniciativa do Empregador.	Disponível	em:	https://www.ilo.org/pt-pt/resource/c158-termino-
da-relacao-de-trabalho-por-iniciativa-do-empregador.	Acesso	em:	24	jan.	2020.
O.I.T.	Organização	Internacional	do	Trabalho.	Inception Report for the Global Commission 
on the Future of Work.	2017.	Disponível	em:	https://www.ilo.org/media/420216/download. 
Acesso	em:	04	jan.	2020.
PEIXINHO,	Manoel	Messias.	A interpretação da Constituição e os princípios fundamentais: 
elementos	para	uma	hermenêutica	constitucional	renovada.	3.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Lumen	Juris,	
2003.
RIBEIRO,	 Joaquim	 Meireles.	 O conceito da indústria 4.0 na confecção:	 análise	 e	
implementação.	 2017,	 82	 f.	 Dissertação	 (Mestrado	 em	 Engenharia	 Têxtil)	 –	 Escola	 de	
Engenharia,	Departamento	de	Engenharia	Têxtil,	Universidade	do	Minho,	Braga,	2017.
ROVAI,	Giuliana.	Portaria	obriga	empresas	a	manter	cobradores	a	partir	de	sexta.	Folha de S. 
Paulo,	São	Paulo,	04	maio	de	2000.	Disponível	em:	https://www.folha.uol.com.br/fol/	geral/
ult04052000275.htm. Acesso	em:	15	dez.	2019.
SARLET,	Ingo	Wolfgang.	A eficácia dos direitos fundamentais:	uma	teoria	geral	dos	direitos	
fundamentais	na	perspectiva	constitucional.	4.	ed.	Porto	Alegre:	Livraria	do	Advogado,	2004.
SCHWAB,	Klaus.	A quarta revolução industrial.	São	Paulo:	Edipro,	2016.
SILVA,	José	Afonso	da.	Aplicabilidade das Normas Constitucionais.	São	Paulo:	Malheiros,	
2009.
SILVA,	 Virgílio	 Afonso	 da.	 Interpretação	 constitucional	 e	 sincretismo	 metodológico.	 In: 
Interpretação constitucional.	São	Paulo:	Malheiros,	2005.	Disponível	em:	
https://constituicao.direito.usp.br/wp-content/uploads/2005-Interpretacao_e_sincretismo.pdf. 
Acesso	em:	22	jan.	2020.
https://www.ilo.org/pt-pt/resource/c158-termino-da-relacao-de-trabalho-por-iniciativa-do-empregador
https://www.ilo.org/pt-pt/resource/c158-termino-da-relacao-de-trabalho-por-iniciativa-do-empregador
https://www.ilo.org/media/420216/download
https://www.folha.uol.com.br/fol/ geral/ult04052000275.htm
https://www.folha.uol.com.br/fol/ geral/ult04052000275.htm
https://constituicao.direito.usp.br/wp-content/uploads/2005-Interpretacao_e_sincretismo.pdf
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 93
ANÁLISE DO TRABALHO NA JUSTIÇA TRABALHISTA: O OLHAR DA 
CLÍNICA DA ATIVIDADE
ANALYSIS OF WORK IN LABOR JUSTICE:	THE	VIEW	OF	THE	CLINIC	OF	
ACTIVITY
Rosane Helena Cardoso de Melo1
Tatiana de Lucena Torres2
Erick Idalino Moura3
Jorge Tarcisio da Rocha Falcão4
 
RESUMO
O	 objetivo	 deste	 estudo	 é	 analisar	 o	 processo	 saúde-adoecimento	mental	 de	 secretários	 de	
audiência	 do	 judiciário	 trabalhista	 da	 Paraíba,	 que	 acompanham	 os	 juízes	 nas	 audiências	
(contato	 com	 as	 partes,	 digitação	 dos	 termos,	 encaminhamentos).	 A	 clínica	 da	 atividade	
foi	 o	 aporte	 teórico-metodológico	 escolhido,	 com	 o	 uso	 da	 técnica	 de	 instrução	 ao	 sósia,	
complementada	por	entrevistas	semiestruturadas	e	delineamento	descritivo	para	informações	
sociodemográficas	dos	participantes.	Destacamos	como	resultados:	(a)	as	relações	interpessoais	
laborais	 fomentaram	 ou	 desregularam	 a	 saúde	 mental	 dos	 trabalhadores;	 (b)	 o	 excesso	 de	
atribuições,	o	distanciamento	dos	pares	e	inexistência	de	pausas	durante	a	execução	das	tarefas	
favoreceram	vivências	de	sofrimento	e	impotência;	(c)	o	enfraquecimento	dos	coletivos	e	do	
gênero	profissional	se	relacionaram	com	a	perda	da	saúde;	por	outro	lado,	(d)	houve	formas	
de	escapar	às	limitações	da	atividade,	pelos	instrumentos	criados	pelos	trabalhadores	para	se	
reinventarem	 e	 a	 personalizarem.	A	 articulação	 entre	 os	 secretários	 de	 audiências	 enquanto	
coletivo	de	trabalho	pode	fomentar	ações	de	proteção	à	saúde	mental	desses	trabalhadores.
Palavras-chave:	saúde	mental;	trabalho;	poder	judiciário.
ABSTRACT
This	study	aimed	to	analyze	the	mental	health-illness	process	of	court	hearing	secretaries	of	
the	labor	judiciary	of	Paraíba.	These	professionals	accompany	judges	in	hearings	(contacting	
parties,	typing	terms,	drawing	referrals,	etc.).	Activity	Clinic	was	the	theoretical-methodological	
approach	we	chose,	using	the	 technique	of	 interview	to	 the	double,	complemented	by	semi-
structured	 interviews	 and	 a	 descriptive	 design	 to	 collect	 participants’	 sociodemographic	
information.	We	highlight	the	following	results:	(a)	interpersonal	relationships	at	work	fostered	
or	 disrupted	 the	workers’	mental	 health;	 (b)	 an	 excess	 of	 attributions,	 distance	 from	 peers,	
and	the	lack	of	pauses	during	the	execution	of	the	tasks	favored	experiences	of	suffering	and	
impotence;	(c)	the	weakening	of	collectives	and	the	professional	genre	was	related	to	the	loss	
of	health;	on	the	other	hand,	(d)	participants	had	ways	to	escape	the	limitations	of	their	activity	
by	instruments	they	created	to	reinvent	and	personalize	their	activity.	The	articulation	between	
the	secretaries	of	hearings	as	a	work	collective	can	promoteactions	to	protect	the	mental	health	
of	these	workers.
Keywords:	mental	health;	work;	judiciary.
1	 https://orcid.org/0000-0001-8334-907X
2	 https://orcid.org/0000-0001-6274-1929
3	 https://orcid.org/0000-0003-0621-0191
4	 https://orcid.org/0000-0002-2798-372
https://orcid.org/0000-0001-8334-907X
https://orcid.org/0000-0001-6274-1929
https://orcid.org/0000-0003-0621-0191
https://orcid.org/0000-0002-2798-3727
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202494
1. INTRODUÇÃO
	 O	trabalho	no	contexto	do	Poder	Judiciário	brasileiro	tem	se	transformado,	buscando	
atender	uma	crescente	demanda	pela	aceleração	dos	processos	de	julgamentos,	que	é	motivada	
por	queixas	constantes,	em	relação	aos	órgãos	judiciários,	quanto	à	morosidade	nos	julgamentos,	
à	obsolescência,	à	ineficiência	e	à	pouca	transparência	da	máquina	pública	em	geral	(Renault,	
2005).	Essas	transformações	envolvem	progressivas	inovações	tecnológicas,	determinação	de	
metas	e	mudanças	na	organização	do	trabalho,	o	que	impõe	novas	exigências	aos	trabalhadores	
(Amazarray	et al.,	2019;	Fernandes;	Ferreira,	2015).
	 Estudos	apontam	que	essas	mudanças	têm	provocado	efeitos	negativos	sobre	a	saúde	
dos	servidores,	especialmente	pela	aceleração	dos	ritmos	de	trabalho	e	o	incremento	de	metas	
na	produção	(Amazarray	et al.,	2019;	Andrade,	2011;	Dal	Pai	et al.,	2014).	Vale	observar	a	
existência	 de	 sintomas	 relacionados	 à	 organização	 do	 trabalho	 no	 setor	 público,	 tais	 como	
ressecamento	ocular,	dores	na	coluna,	cefaleias,	sensação	de	cansaço	e	desgaste	mental	(Dal	
Pai et al.,	2014).	Outras	pesquisas	(Fernandes;	Ferreira,	2015;	Giannini	et al.,	2019)	indicam	
que	o	incentivo	à	competitividade	e	o	enfraquecimento	das	redes	de	cooperação	intensificam	
os	 riscos	 de	 adoecimento	 desses	 trabalhadores.	Amazarray	 et al.	 (2019)	 constataram	 forte	
associação	entre	o	contexto	laboral	do	judiciário	e	a	potencialização	de	transtornos	mentais	e	
sofrimento	psíquico,	destacando	que	a	forma	como	as	atividades	são	divididas,	o	conteúdo	das	
tarefas,	o	sistema	hierárquico,	as	formas	como	as	relações	socioprofissionais	são	estabelecidas	
e	a	configuração	das	relações	de	poder	podem	se	relacionar	à	vulnerabilidade	da	saúde	mental	
desses	trabalhadores.	Nesse	sentido,	considerando	que	o	Poder	Judiciário	Trabalhista	é	o	lugar	
da	garantia	de	direitos	trabalhistas,	nos	pareceu	relevante	e	pertinente	analisar	a	atividade	de	
trabalho	nesse	contexto.
	 A	 escolha	 da	 atividade	 de	 secretariar	 audiências,	 dentre	 as	 atividades	 do	 ofício	 de	
servidor	 técnico	no	 âmbito	do	Poder	 Judiciário	Trabalhista,	 justifica-se	por	 ser	 um	 trabalho	
fundamental	para	o	 funcionamento	das	varas	do	 trabalho,	que	contam	com	secretário/a(s)	 e	
salas	de	audiências.	Tal	profissional	acompanha	o/a	 juiz/a	do	 trabalho	nas	audiências,	digita	
os	termos	(conciliações,	depoimentos	das	partes	e	testemunhas),	é	responsável	pelo	primeiro	
contato	 com	 as	 partes	 antes	 da	 audiência	 e	 por	 encaminhamentos	 decorrentes	 das	 decisões	
judiciais.	Na	descrição	do	cargo	é	esperado	que	o/a	trabalhador/a	tenha	nível	superior	completo	
(sem	área	especificada),	experiência	em	digitação	e	edição	de	textos,	conhecimento	em	sistemas	
informatizados	 da	 justiça,	 domínio	 nas	 áreas	 de	 processo	 civil,	 direito	 do	 trabalho,	 direito	
processual	trabalhista,	sobretudo	no	que	se	refere	à	organização	das	pautas	de	julgamento	para	
o/a	 juiz/a.	Além	 disso,	 consideramos	 que	 esses	 profissionais	 exercem	 atividades	 de	 intensa	
carga	de	trabalho	e	complexa	exigência	cognitiva	(Fonseca;	Carlotto,	2011),	o	que	se	associa	
ao	contexto	organizacional	de	controle	e	pressão	para	cumprimento	de	metas	(Arenas,	2013;	
Mansur,	2016;	Pooli;	Monteiro,	2018).
	 Propositor	da	clínica	da	atividade,	Yves	Clot	(2010)	afirma	que	uma	das	características	
estruturais	 da	 atividade	 de	 trabalho	 é	 a	 existência	 de	 um	 trabalho	 prescrito,	 aquele	 que	 é	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 95
demandado	pela	organização	ou	pelos	regramentos	existentes,	e	o	trabalho	realizado,	aquele	
que	 representa	 a	 concretização,	 pelos	 trabalhadores,	 das	 prescrições	 recebidas	 (Clot,	 2006,	
2010).	Guérin	et al.	(2005)	observam	que	o	trabalho	prescrito	se	refere	ao	conjunto	de	objetivos	
a	serem	perseguidos,	os	métodos,	as	normas	técnicas,	os	protocolos	e	procedimentos,	as	ordens	
e	 instruções	 a	 seguir,	 a	 forma	 de	 divisão	 do	 trabalho,	 os	 prazos	 estabelecidos,	 assim	 como	
os	meios	técnicos	e	as	condições	socioeconômicas	disponíveis.	Estes	autores	destacam	que	a	
atividade	de	trabalho	não	reproduz	rigorosamente	o	pré-estabelecido	sobre	ele,	mas	abarca	a	
subjetividade	dos	sujeitos	e	tem	o	coletivo	de	trabalhadores	como	regulador	da	ação	de	cada	
indivíduo,	 de	modo	 que	 o	 trabalho	 permeia	 tanto	 a	 dimensão	 da	 história	 singular	 de	 cada	
indivíduo,	quanto	a	história	de	cada	ofício,	de	construção	coletiva	de	um	gênero	profissional	
(BendassollI;	Soboll,	2011;	Clot,	2010).	Nesse	sentido,	a	organização	da	atividade	de	trabalho	
extrapola	o	indivíduo-trabalhador	e	o	auxilia	no	que	diz	respeito	à	realização	de	sua	própria	
atividade.
	 O	 indivíduo-trabalhador	 se	 reporta	 a	 um	 coletivo	 de	 trabalho,	 instância	 tangível	
representada	pelo	conjunto	de	outros	 indivíduos-trabalhadores	que	compartilham	as	mesmas	
metas	de	trabalho	e	filiação	a	um	gênero	profissional.	Desta	filiação	resulta	o	referenciamento,	
que	permite	ao	trabalhador,	através	de	seu	coletivo,	avaliar	o	quão	bem	realizou	seu	trabalho,	
mesmo	que	tal	referenciamento	comporte	a	limitação	do	poder	de	agir	deste	trabalhador	(Clot,	
2006,	2010).	Nesta	ordem	de	ideias,	o	enfraquecimento	dos	coletivos	e	do	gênero	profissional,	
muitas	vezes	imposto	pela	organização	do	trabalho,	favorece	o	sofrimento	e,	eventualmente,	
o	adoecimento,	pois	impede	que	os	indivíduos	adquiram	apoio	e	recursos	para	lidarem	com	as	
situações	no	exercício	laboral.	Nesse	sentido,	a	recuperação	dos	coletivos	de	trabalho	pode	ser	
um	dispositivo	fundamental	no	enfrentamento	dos	bloqueios	do	poder	de	agir	e	do	adoecimento	
no trabalho.
	 O	sofrimento	no	 trabalho	 refere-se	a	um	trabalhador	passivo	às	circunstâncias	que	o	
acometem,	esvaziado	de	seu	poder	de	agir,	 tendo	em	vista	o	enfraquecimento	de	seu	gênero	
profissional,	 e	 entregue	 aos	 especialistas	 do	 cuidado	 (Clot,	 2010;	 Clot;	 Gollac,	 2014;	 Clot	
et al.,	 2021).	Na	 clínica	 da	 atividade,	 a	 atividade	 de	 trabalho	 é	 entendida	 como	meio	 para	
estabelecimento	e	restauração	da	saúde	(Clot,	2010)	nas	situações	em	que	o	sofrimento	é	causado	
pela	amputação	do	poder	de	agir	dos	sujeitos	trabalhadores	pela	própria	atividade	de	trabalho	
(Rabardel;	Gouédard,	2012).	A	abordagem	clínica	da	atividade	de	 trabalho,	 ao	preconizar	 a	
consideração	do	indivíduo	trabalhador,	do	contexto	em	que	o	trabalho	se	realiza	e	do	conjunto	
de	prescrições	que	estabelecem	balizas	para	o	trabalho	esperado,	traz,	portanto,	elementos	não	
somente	 para	 caracterizar	 eventual	 precarização,	mas	 para	 fazer	 face	 a	 ela,	 e,	 por	 esta	 via,	
contribuir	para	a	restauração	da	saúde	do	trabalhador.	Cabe	desde	logo	ter	clareza	quanto	ao	
fato	de	que	a	referida	precarização	da	atividade	de	trabalho	decorre	de	aspectos	que	ultrapassam	
qualquer	abordagem	psicológica,	tendo	em	vista	os	arranjos	do	modo	de	produção	capitalista	
ocidental	contemporâneo.	Não	obstante,	a	abordagem	clínica	da	atividade	de	trabalho	permite	ao	
indivíduo-trabalhador	tomar	consciência	do	que	faz,	do	que	deixa	de	fazer	(e	por	quais	razões)	e	
do	que	poderia	fazer.	Nesse	sentido,	a	atividade	efetivamente	realizada	pelo	trabalhador	(aquilo	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202496
que	se	faz)	é	tão	somente	uma	dentre	várias	possibilidades,	face	às	prescrições	que	balizam	o	
trabalho	esperado.	O	real	da	atividade	compreende	essa	gama	de	possibilidades,	que	abarca	o	
trabalho	realizado,	mas	não	se	circunscreve	a	este.Diante	 disso,	 defendemos	 que	 a	 saúde	 está	 ligada	 ao	 contexto	 de	 trabalho	 em	 que	
se	 vive,	 e	 à	 capacidade	de	 se	 desenvolver	 individual	 e	 coletivamente	para	 transformar	 esse	
meio.	Situações	de	adoecimento	no	 trabalho,	 sobretudo	o	adoecimento	mental,	podem	estar	
relacionadas	às	dificuldades	decorrentes	do	desencontro	entre	o	trabalho	prescrito	e	o	trabalho	
real	(atividade	efetivamente	realizada).	De	acordo	com	Clot	(2010),	as	escolhas	recalcadas	–	
ou	possibilidades	de	ação	–,	que	não	foram	utilizadas	na	atividade,	continuam	a	influenciar	ela	
e	o	sujeito,	 tendo	no	conceito	de	real	da	atividade	a	manifestação	dessa	atividade	subtraída,	
oculta	ou	recuada,	que	influi	na	atividade	presente.	Reiteramos	aqui,	portanto,	que	o	real	da	
atividade	se	situa	entre	a	atividade	prescrita	(aquilo	que	deve	ser	feito)	e	a	atividade	realizada	
(aquilo	que	se	fez),	partindo-se	do	pressuposto	teórico	segundo	o	qual	as	prescrições	nunca	são	
rigorosamente	cumpridas	na	prática.	Assim,	para	dar	conta	das	dificuldades	impostas	por	esse	
desencontro,	o	sujeito	aparece	como	agente	de	seu	próprio	ato	no	trabalho,	já	que	precisa	fazer	
escolhas	e	criar	soluções	(Osório	da	Silva;	Ramminger,	2014).
	 Diante	do	exposto,	este	estudo	teve	o	objetivo	de	analisar	o	processo	saúde-adoecimento	
mental	 na	 atividade	de	 trabalho	de	 secretários	 de	 audiências	 (SA)	 do	Tribunal	Regional	 do	
Trabalho	da	Paraíba,	a	partir	do	olhar	da	clínica	da	atividade,	buscando	compreender	o	processo	
de	 sofrimento	e	 adoecimento	mental	dos	participantes,	dimensões	do	coletivo	de	 trabalho	e	
suas	condições	de	laboração.	Destacamos	a	pertinência	teórica	da	clínica	da	atividade	para	o	
campo	da	Saúde	Mental	e	Trabalho,	na	medida	em	que	se	constitui	como	uma	abordagem	de	
transformação	das	situações	de	trabalho	que	pode	contribuir	para	a	prevenção	ou	minimização	
dos	problemas	de	saúde.
2. MÉTODO
	 O	estudo	teve	caráter	clínico-interventivo,	com	base	na	perspectiva	teórica	da	clínica	da	
atividade.	Participaram	nove	trabalhadores,	todos	servidores	públicos,	no	cargo	de	técnicos/as	
judiciários/as,	na	função	de	secretários/as	de	audiências	(SA),	com	o	seguinte	perfil:	maioria	de	
homens	(5),	com	idades	entre	35	e	59	anos,	a	maioria	(6)	possuía	mais	de	20	anos	de	trabalho	no	
judiciário	e	mais	de	10	anos	na	função.	Tais	participantes	aceitaram	voluntariamente	o	convite,	
considerando	o	 prazo	para	 a	 realização	do	 estudo	 e	 adequação	 ao	 cronograma	da	pesquisa.	
Todos	os	participantes	eram	trabalhadores	no	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	Paraíba,	e	se	
distribuíram	entre	as	13	(treze)	varas	do	trabalho	da	cidade	de	João	Pessoa	(PB).
	 Contamos	com	a	anuência	da	instituição	em	todas	as	etapas	do	estudo.	A	pesquisa	foi	
aprovada	pelo	Comitê	de	Ética	em	Pesquisa	com	Seres	Humanos	 (parecer	3.325.829),	e	 foi	
conduzida	por	uma	das	autoras	do	presente	artigo,	na	condição	de	trabalhadora	da	organização	
participante.	 Por	 isso,	 na	 intenção	 de	manter	 o	 sigilo	 e	 confidencialidade	 dos	 participantes,	
todos	os	nomes	apresentados	nos	resultados	deste	estudo	são	fictícios.
	 Os	trabalhadores	foram	convidados	para	participarem	da	pesquisa	através	da	divulgação	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 97
presencial	em	cada	setor,	e,	apesar	da	dificuldade	de	acesso	e	da	indisponibilidade	de	tempo	
destes,	 houve	 procura	 espontânea	 e	 voluntária,	 além	 de	 indicação	 de	 trabalhadores	 pelos	
entrevistados	(técnica	da	“bola	de	neve”).	O	local	escolhido	pelos	participantes	foi	a	sala	de	
audiências,	ou,	quando	não	estava	disponível,	a	sala	de	psicologia.
	 Realizamos	entrevistas	 semiestruturadas	com	questões	norteadoras	pré-estabelecidas,	
que	buscaram	obter	narrativas	autobiográficas	de	cada	participante	em	sua	atividade	de	trabalho	
(Bauer;	Gaskell,	 2008),	 na	 intenção	de:	 (a)	 compreender	 a	 trajetória	 profissional	 e	 ingresso	
na	função;	(b)	identificar	vivências	de	sofrimento	e	adoecimento	na	trajetória	de	trabalho;	(c)	
identificar	experiências	de	mal-estar	no	trabalho,	impedimentos	e	condições	de	trabalho	para	
atender	as	demandas	prescritas;	(d)	caracterizar	as	relações	com	colegas	que	realizam	a	mesma	
atividade;	e,	(e)	compreender	o	sentido	do	trabalho	bem-feito	para	os/as	participantes.
	 Logo	após	a	referida	entrevista,	foi	realizada	a	Instrução	ao	Sósia	(IaS),	que	é	uma	técnica	
que,	além	de	obter	informações	acerca	da	atividade	de	trabalho,	busca	ampliar	o	poder	de	agir	
e	restaurar	os	coletivos	de	trabalho	a	partir	da	reflexão	e	co-análise	sobre	o	desenvolvimento	
da	atividade	laboral	com	auxílio	do	pesquisador.	A	IaS	consiste	em	uma	entrevista	dialogada	
gravada,	na	qual	o	trabalhador	ou	trabalhadora	indica	ao	pesquisador	como	este	deve	se	portar	
em	 relação	 à	 atividade	 de	 trabalho,	 supondo	 que	 o	 pesquisador	 será	 sósia	 do	 trabalhador-
participante	no	dia	seguinte,	de	modo	que	não	se	perceba	que	se	trata	de	outra	pessoa	(Osório	
da	Silva,	2014).	A	entrevista	e	a	IaS	foram	transcritas,	e	em	um	segundo	momento	validadas	
pelos	trabalhadores.
	 Para	 analisar	 as	 informações,	 utilizamos	 a	 técnica	 dos	 Núcleos	 de	 Significação,	
procedimento	que	possibilita	ao	pesquisador	apreender	 sentidos	e	 significados	que	o	 sujeito	
constrói	em	contato	com	a	realidade	em	uma	dimensão	mais	concreta.	Para	nos	apropriarmos	
das	significações,	é	necessário	apreender	não	sua	unilateralidade,	mas	suas	relações,	qualidades,	
contradições,	isto	é,	as	mediações	sociais	e	históricas	que	as	configuram	como	unidades	dialéticas	
da	fala	e	do	pensamento	(Aguiar	et al.,	2015).	A	construção	dos	Núcleos	de	Significação	possui	
três	etapas:	levantamento	de	pré-indicadores	(identificação	de	formas	de	pensar,	sentir	e	agir	
dos	 sujeitos),	 sistematização	de	 indicadores	 (articulação	de	pré-indicadores	baseando-se	nos	
critérios	 de	 “similaridade”,	 “complementaridade”	 e	 “contraposição”)	 e	 sistematização	 dos	
núcleos	de	significação	(articulação	dos	indicadores	para	revelar	a	realidade	estudada	a	partir	do	
empírico	e	dos	sentidos	construídos	pelos	sujeitos)	(Aguiar	et al.,	2015).	Outrossim,	as	etapas	
apresentadas	não	pressupõem	uma	sequência	linear,	mas	um	processo	dialético.	Neste	estudo,	o	
material	transcrito	de	cada	entrevista	e	IaS	passou	por	uma	fase	de	leitura	flutuante,	juntamente	
com	a	escuta	do	áudio,	a	fim	de	apreender	as	palavras	ou	frases	que	chamaram	atenção	por	se	
repetirem,	complementarem	ou	contradizerem,	ou	ainda	que	indicavam	uma	carga	emocional	
(fala	emocionada).	Os	pré-indicadores	foram	agrupados	na	forma	de	indicadores	temáticos,	no	
sentido	de	avançar	nas	significações	trazidas	pelos	sujeitos.	No	presente	artigo,	optamos	por	
realizar	um	recorte	e	seleção	de	quatro	núcleos	de	sentido,	dos	nove	que	integram	a	pesquisa	na	
íntegra,	por	compreendermos	que	estes	representam	e	ilustram	melhor	a	análise	do	trabalho	dos	
secretários	de	audiência	(SA).
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202498
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
	 Os	resultados	advindos	da	IaS	e	das	entrevistas	transcritas	foram	submetidos	à	análise	
dos	Núcleos	de	Significação,	com	a	seleção	de	unidades	do	discurso	que	revelassem	o	todo,	
por	meio	de	temas	que	aparecem	reiteradas	vezes	ou	com	uma	ênfase	emocional	na	fala	dos	
sujeitos.	Nesse	processo,	a	articulação	de	uma	narrativa	com	as	demais	revela	o	contexto	social	
mais	amplo	em	que	se	inserem	os	sujeitos	históricos,	incluindo	as	contradições.
Núcleo de significação 1: as situações que chegam às audiências, as relações interpessoais 
que se estabelecem e seus reflexos na saúde dos servidores
	 A	 abordagem	 da	 clínica	 da	 atividade	 propõe	 um	 deslocamento,	 que	 entende	 que	 as	
causas	do	 sofrimento	no	 trabalho	não	 estão	nos	 sujeitos	 ou	nas	 relações	 entre	 eles,	mas	no	
próprio	trabalho,	utilizando,	para	isso,	o	conceito	de	atividade	impedida	(Bendassolli,	2011).	
Para	esta	abordagem,	toda	atividade	profissional	é	considerada	uma	co-atividade,	uma	vez	que	é	
sempre	uma	respostaà	atividade	dos	outros.	A	atividade	de	trabalho,	então,	se	define,	cristaliza,	
e	organiza	na	atividade	dos	outros,	com	a	atividade	dos	outros,	contra	a	atividade	dos	outros,	
apoiando-se	ou	aproximando-se	da	atividade	dos	outros,	construindo-se	sempre	no	universo	da	
atividade	dos	outros	(Santos,	2006).	Por	meio	das	significações	que	os/as	SA	construíram	acerca	
de	sua	atividade	de	trabalho,	a	sala	de	audiências	é	um	lugar	que	precisa	ser	preparado	para	o	
dia	da	audiência,	dando	encaminhamento	ao	que	foi	resolvido	nela.	Portanto,	há	tarefas	a	serem	
cumpridas	pelo/a	SA	antes,	durante	e	após	as	audiências	trabalhistas,	por	isso	os/as	participantes	
afirmam	a	 necessidade	 de	 que	 o/a	 profissional	 seja	 “multitarefas”.	Expressam	 também	uma	
preocupação	em	não	cometer	erros,	pois	sabem	que	têm	consequências	para	os	outros,	tanto	
para	os	demais	colegas	da	vara	do	trabalho,	que	darão	seguimento	ao	processo	na	fase	seguinte	
(chamada	execução),	como	para	as	partes	(trabalhadores,	empregadores,	advogados),	que	terão	
prejuízo	e	transtorno	se	não	forem	notificadas	a	tempo,	em	caso	de	adiamento	da	audiência.
Até	chegar	ali,	no	dia	da	audiência,	aí	 tem	o	papel	do	secretário	de	audiência,	que	
é	pegar	o	processo,	abrir	a	 inicial,	ver	se	 tem	algum	pedido	urgente,	alguma	tutela	
de	urgência,	tal,	pedindo	alguma	coisa	urgente,	um	plano	de	saúde	que	cortaram	ou	
seguro	desemprego,	FGTS.	Aí	a	gente	que	tem	que	ver	e	passar	logo	pra	frente	pro	
pessoal	resolver	de	imediato	(RO	–	IaS).
Eu	acho	assim,	eu	acho	que	cada	atividade	ali	dentro	da	Vara	é	como	se	fosse	um	
organismo,	 né?	 E	 então,	 se	 você	 não	 faz	 bem	 agora,	 lá	 na	 frente.	 .	 .	 .	 Então	 tem	
feedback	.	.	.	É	como	se	fosse	o	início,	e	vai	espalhando	ou	coisas	boas	ou	coisas	ruins,	
né?	pra	Vara	(MS	–	Entrevista).
	 Esse	“espalhar	de	coisas”	também	acaba	sendo	um	dos	motivos	que	os	faz	perceber	a	
importância	da	atividade,	da	qual	muitos	admitiram	gostar	muito,	e	percebem	que	a	audiência	
é	o	início	de	tudo,	da	visão	de	cada	processo	judicial	que	irá	tramitar	no	Tribunal.	Além	disso,	
pensam	 no	 colega	 que	 vai	 dar	 continuidade	 ao	 processo,	 nos	 efeitos	 para	 as	 partes,	 para	 a	
garantia	de	direitos	das	pessoas.
	 As	 falas	 citadas	 remetem	 à	 afirmação	 de	 Clot	 (2006)	 de	 que	 o	 trabalho	 “requer	 a	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 99
capacidade	de	realizar	coisas	úteis,	de	estabelecer	e	manter	engajamentos,	de	prever	com	outros	
e	para	outros	algo	que	não	tem	vínculo	diretamente	consigo”	(p.	73).	Quando	os	trabalhadores	
cometem	algum	erro	ou	deixam	de	 realizar	uma	 tarefa,	 já	 imaginam	os	 efeitos	na	vida	dos	
envolvidos	no	processo,	incluindo	possíveis	prejuízos.
Aí	tem	todo	esse	lado,	intimar	a	testemunha.	Se	você	deixa	de	intimar	uma	testemunha,	
vem	todo	mundo:	“Cadê?	Eita,	deixaram	de	intimar.	Quem	foi?	Foi	você”.	Aí	todo	
mundo:	“vamos	adiar”	.	.	.	porque	se	preparam,	chama	advogado,	briga	em	casa,	falta	
emprego,	falta	trabalho.	Aí	se	o	secretário	errar,	é	prejuízo	pra	todo	mundo,	aí	isso	fica	
na	minha	cabeça,	pô,	se	eu	deixar	(RO	–	Entrevista).
	 Contraditoriamente,	 os	 trabalhadores	 narram	 que	 ficam	 afetados	 pelos	 julgamentos,	
enquanto	 admitem	 ser	 imprescindível	 que	 esse	 afeto	 não	 transpareça	 no	 desenvolver	 da	
atividade,	pois	podem	ficar	propensos	ao	erro,	além	de	comprometerem	outro	papel	que	devem	
exercer:	de	auxílio	às	pessoas	envolvidas	 (trabalhadores	buscando	seus	direitos,	 advogados,	
representante	de	empresas,	empregadores)	para	propiciar	um	ambiente	mais	amistoso	durante	
a	 audiência	 trabalhista.	 Em	nossa	 análise,	 esse	 papel	 foi	 construído	 no	 gênero	 profissional,	
uma	vez	que	os	SA	o	tomam	como	uma	dimensão	imprescindível	na	tarefa	formal	de	convocar	
os	participantes	para	recolherem	os	documentos	e	informações	meramente	mais	burocráticas	
que	antecedem	e	viabilizam	as	audiências.	Se	fazer	acolhedor	e	prestativo	nesse	momento	se	
constitui	para	os	SA	como	algo	intrínseco	e	indispensável	à	atividade,	indo	além	das	obrigações	
estabelecidas.	Nesse	contexto,	percebemos	o	quanto	o	gênero	pode	enriquecer	e	tornar	dinâmica	
a	atividade,	constituindo-se	também	como	uma	fonte	de	prescrições,	mesmo	que	não	explícitas.
É	que	tem	testemunha	que	chega	muita	nervosa,	vai	testemunhar	e	fica	tremendo	e	
tal,	não	chega	nem	a	falar	direito.	Geralmente,	se	a	pessoa	tá	nervosa,	a	gente	fala:	
“fica	tranquilo	aí”.	Deixar	a	pessoa	à	vontade,	que	a	pessoa	fica	mais	tranquila	e	tal,	o	
pessoal	não	tem	muito	entendimento	dessa	dinâmica	do	direito	e	tal	(RN	–	IaS).
	 Apesar	da	 função	de	SA	definir	procedimentos	 estabelecidos	nos	 ritos	do	 judiciário,	
trabalhar	 na	 sala	 de	 audiências	 vai	 além	de	digitar	 o	 que	 se	 diz	 e	 realizar	 as	 tarefas.	Neste	
sentido,	o	cotidiano	na	atividade	de	SA	começa	antes	da	audiência	–	ao	conferir	os	documentos	
do	processo,	o	funcionamento	dos	equipamentos	e	de	ferramentas	usadas	durante	as	sessões,	o	
primeiro	contato	com	as	partes	interessadas	no	julgamento	–,	e	pode,	inclusive,	invadir	o	horário	
do	pós-expediente,	sem	pausas,	sendo	um	fato	comum	para	esses	profissionais.	Ao	longo	das	
audiências,	 os	 SA	precisam	 lidar	 com	diferentes	 situações	 e	manejar	 seus	 sentimentos,	 tais	
como	o	estresse,	ansiedade	e	o	cansaço	mental	e	físico.
	 A	atividade	de	trabalho	sempre	é	dirigida	pelo	sujeito,	pela	tarefa	e	para	os	outros	(Clot,	
2010).	A	atividade	dos	SA	expressa	esse	interjogo	entre	as	exigências	da	tarefa	e	a	atividade	
dos	outros	e	as	próprias	dinâmicas	do	sujeito	da	ação,	e	como	estes	produzem	impactos	para	
a	sua	própria	atividade,	em	que	os	aspectos	intersubjetivos	influenciam	sua	saúde	mental.	De	
acordo	com	os	 trabalhadores,	quando	o	 relacionamento	com	os	magistrados	que	presidem	a	
audiência	é	tranquilo	e	respeitoso,	a	atividade	de	trabalho	é	vivenciada	como	propiciadora	de	
desenvolvimento,	no	contexto	da	qual	os	SA	sentem	que	podem	contar	com	a	ajuda	e	apoio	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024100
desses	magistrados.
	 Muitos	 SA	 descreveram	 sintomas	 psicossomáticos,	 como	 taquicardia	 e	 pressão	
sanguínea	elevada,	no	período	em	que	passaram	por	contextos	relacionais	considerados	“ruins”	
com	colegas	e/ou	superiores,	além	de	descreverem	mal-estar	após	audiências	que	lhes	afetaram	
emocionalmente.
Taquicardia,	do	nada,	em	casa	ficava	nervoso.	E	eu	 indo	 trabalhar,	que	eu	via	que	
aquele	negócio	eu	ia,	sabe,	aquela	coisa	que	não	tinha	mais	vontade	de	trabalhar,	por	
conta	dessa	chefia,	né?		 	Aquilo	lá	me	fez	muito	mal.	Não	chegava	a	adoecer,	mas	
começou	umas	dores	de	cabeça	esquisitas,	e	chegava	em	casa	e	o	coração.	Eu	ia	falar	
alguma	coisa	sobre	o	que	aconteceu,	todo	dia	sempre	tinha	alguma	notícia	ruim,	aí	
o	coração	começava	a	palpitar,	aí	eu	“pá”,	ficava	aquela	coisa,	aquela	agonia	(RO	–	
Entrevista).
	 No	 decorrer	 das	 audiências,	 a	 comunicação	 entre	 juízes	 e	 SA	 é	 perpassada	 pelos	
diferentes	 papéis	 profissionais	 e	 hierárquicos	 que	 cada	 um	 ocupa	 nesta	 relação	 desigual	 de	
poder.	Os	SA	precisam	observar	e	conhecer	o/a	juiz/a,	conseguindo	captar	rapidamente	suas	
ações	 e	 ritmos	 no	 trabalho	 para	 traduzi-los	 em	 forma	 texto,	 que	 resultará	 em	 documento	
ao	fim	de	 cada	 audiência	 (termos	 de	 audiências).	 Por	 outro	 lado,	mesmo	 com	 essa	 relativa	
proximidade,	 precisam	 incorporar	 o	 funcionamento	 das	 instituições	 judiciárias	 no	 tocante	 à	
estrutura	hierarquizada,	obedecendo	a	distância	estrutural	e	inerente	a	tal	funcionamento	entre	
magistrados	e	servidores.
Existe	o	juiz,	lá	na	estratosfera,	e	a	gente,	na	hierarquia,	aqui	bem	embaixo,	não	tem.	
É	diferente	da	maioria	dos	órgãos	públicos.	O	juiz	é	aquele	cidadão	que	tá	ocupando	
uma	função	pública,	que	é	muito,	mas	muito	diferente,	na	realidade,	da	sua	eu	cuidei	
de	 trabalhar	 isso	na	minha	cabeça,	de	manter	o	distanciamento	necessário.	Eu	não	
posso	ter	um	nível	de	intimidade,	como	eu	tenho	com	um	colega	de	trabalho.	Vêpositiva	ou	negativa	-	a	capacidade	individual	de	regulação	emocional	
em	cada	circunstância	da	vida.
	 No	 ambiente	 laboral,	 a	 livre	 expressão	 dos	 afetos	 é	 historicamente	 coibida,	 como	
algo	 indesejável	que	pode	acarretar	 repercussões	adversas	para	a	organização.	Os	contextos	
sociais,	inclusive	os	ambientes	de	trabalho,	tendem	a	normatizar,	mesmo	que	implicitamente,	
a	expressão	dos	estados	afetivos,	de	modo	a	torná-los	previsíveis	e	ajustados	às	necessidades	
do	grupo.	No	entanto,	estudos	mais	recentes	têm	acolhido	as	emoções	como	indissociáveis	da	
cognição	humana,	percebendo	os	processos	emocionais	e	cognitivos	como	 interdependentes	
e	fortemente	relacionados,	especialmente	na	tomada	de	decisões.	A	partir	de	então,	os	afetos	
e	 emoções	 passaram	 a	 assumir	 papel	 relevante	 na	 gestão	 organizacional,	 como	 propulsores	
das	rotinas	de	trabalho	(Fineman,	2001),	o	que	ensejou	a	necessidade	de	aprofundamento	nos	
estudos	interdisciplinares	sobre	o	tema.
	 Importante	vertente	desses	estudos	se	debruça	sobre	a	regulação	emocional,	conceituada	
como	o	processo	de	gerenciamento	da	expressão	de	emoções,	de	modo	a	atender	às	demandas	
comportamentais	 do	 trabalho.	 É	 o	 que	 denominamos	 de	 trabalho	 emocional,	 que	 se	 define	
pelo	 ciclo	 de	 processos	 neurofisiológicos,	 cognitivos	 e	 comportamentais,	 conscientes	 ou	
inconscientes,	 automáticos	 ou	 controlados,	 que	 têm	 a	 finalidade	 de	 mudar	 a	 experiência	
emocional	por	meio	da	modificação	da	expressão	emocional	e	do	que	se	sente	em	diferentes	
contextos	(Gross,	2013).
2.2 Trabalho emocional e suas repercussões para o indivíduo
	 Ao	expressar	emoções	distintas	dos	sentimentos	vivenciados,	o	indivíduo	age	contra	o	
seu	impulso	natural.	Esse	esforço	de	modulação	emocional	gera	repercussões	diretas	para	o	ser	
humano,	psicológicas	e	fisiológicas,	tanto	na	vida	privada,	quanto	no	ambiente	organizacional.	
Apesar	de	a	 regulação	dos	estados	emocionais	na	vida	privada	 ser	natural	 e	 inata	aos	 seres	
humanos,	ocorrendo	nos	processos	de	socialização	que	acontecem	desde	o	nascimento	como	
forma	 de	 corresponder	 às	 expectativas	 sociais	 de	 adequação	 e	 aceitação,	 a	 necessidade	 de	
regulação	emocional	no	 trabalho	ganha	outros	contornos,	assumindo	valor	de	mercado	para	
as	organizações	(Hochschild,	1983),	e	aí	reside	a	face	mais	crítica	do	trabalho	emocional.	Ao	
transferir	a	gestão	das	emoções	do	ambiente	privado	para	o	laboral,	o	desempenho	emocional	
passa	a	ser	um	recurso	que	gera	vantagens	para	as	organizações,	primordialmente.	Em	busca	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 17
dessas	 vantagens,	 as	 organizações	passam	a	normatizar	 a	 conduta,	 as	 interações	humanas	 e	
as	emoções	a	serem	manifestadas	pelos	colaboradores,	que,	por	sua	vez,	são	monitorados	por	
usuários,	colegas	de	trabalho	e	gestores,	sofrendo	a	pressão	da	necessidade	de	adequação	sobre	
si.
	 Os	 estudos	 científicos	 acerca	 das	 consequências	 do	 trabalho	 emocional	 para	 o	
trabalhador	 apresentam	 conclusões	 diversas.	 Enquanto	 parte	 dos	 pesquisadores	 ressalta	 os	
resultados	 positivos	 para	 a	 organização,	mas	 a	 elevado	 custo	 pessoal	 para	 os	 trabalhadores	
(Hochschild,	1983;	Grandey,	2000;	Gross;	Levenson,	1997),	outros	destacam	a	possibilidade	
de	gerar	consequências	positivas	para	o	indivíduo	(Rafaeli;	Sutton,	1991;	Totterdell;	Holman,	
2003).
	 A	maior	parte	dos	estudos	se	debruça	sobre	os	aspectos	nocivos	do	trabalho	do	esforço,	
destacando	 que	modular	 os	 estados	 afetivos	 causa	 efeitos	 como	 alienação	 e	 supressão	 dos	
sentimentos	 genuínos	 (Hochschild,	 1983).	 O	 estresse	 característico	 do	 trabalho	 emocional,	
acarretado	pela	necessidade	de	controlar	emoções	negativas,	prejudica	a	saúde	do	trabalhador,	
causando	doenças.	Hostilidade	e	inibição	de	sentimentos	negativos,	por	exemplo,	são	associadas	
à	hipertensão	e	a	doenças	coronarianas,	podendo	acelerar	a	progressão	do	câncer	e	ocasionar	
psicopatologias	(Gross;	Levenson,	1997).
	 Nas	 interações	 com	 pessoas	 externas	 à	 organização	 (clientes,	 por	 exemplo),	 o	
trabalhador	 tende	 a	 apresentar	 dissonância	 emocional,	 controlando	 e	 expressando	 emoções	
adequadas,	segundo	o	contexto	organizacional.	Já	com	os	colegas	de	trabalho,	o	colaborador	
tende	ao	desvio	emocional,	ou	seja,	expressa	seu	real	estado	afetivo,	sem	esforço	de	adequação	
emocional,	descuidando	de	expressar-se	da	forma	prescrita	(Tschan;	Rochat;	Zapf,	2005	apud 
Bonfim;	Gondim,	 2010).	Essa	 diversidade	 na	 expressão	 de	 afetos	 deriva	 essencialmente	 do	
papel	do	trabalhador,	enquanto	preposto	da	organização	em	cada	dimensão	de	interação	social:	
com	os	clientes	(onstage),	o	colaborador	atua	em	nome	da	organização,	razão	pela	qual	o	dever	
de	 “parecer	 ser”	 prevalece.	Na	 intimidade	do	backstage	do	 ambiente	 corporativo,	 de	 forma	
diversa,	sente-se	mais	livre	para	se	expressar	sem	máscaras.
	 Essas	 repercussões	danosas	do	 trabalho	emocional	para	 as	pessoas	 acarretam	perdas	
reflexas	 para	 a	 organização.	 O	 mal-estar	 físico	 e	 psicológico	 dos	 trabalhadores	 impacta	
negativamente	na	 satisfação	 com	o	 trabalho	 (Grandey;	Gabriel	 2015;	Gross,	 1998;	Hartley;	
Phelps,	2010	apud Silva,	2016),	bem	como	no	burnout	e	no	absenteísmo	(Alves,	2015;	Chau;	
Dahling;	Levy;	Diefendorff,	2009;	Goodwin;	Groth;	Frenkel,	2011	apud Silva,	2016).
	 Alguns	pesquisadores	argumentam	que,	em	regra,	o	trabalhador	se	utiliza	conscientemente	
do	trabalho	emocional	em	benefício	próprio,	para	aprimorar	sua	performance	social	no	ambiente	
laboral,	sendo	ele	potencialmente	positivo	para	os	indivíduos	(Rafaeli;	Sutton,	1991).	A	escassez	
de	estudos	científicos	que	especifiquem	e	mensuram	as	consequências	positivas	-	psicológicas	e	
fisiológicas	-	do	trabalho	emocional	para	o	indivíduo	tornam	qualquer	conclusão	nesse	sentido	
incipiente	(Totterdell;	Holman,	2003).
	 Em	resumo,	a	literatura	científica	indica	que	o	trabalho	emocional,	por	ser	um	processo	
antinatural,	mas	que	pode	trazer	recompensas	para	o	profissional,	provoca	reações	ambíguas	
nos	 indivíduos,	 deixando	 alguns	 esgotados	 e	 infelizes,	 outros	 desafiados	 e	 satisfeitos.	 Essa	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202418
ambiguidade,	 importante	 destacar,	 é	 inerente	 à	 regulação	 emocional	 nas	 interações	 sociais,	
tanto	 na	 esfera	 privada,	 quanto	 na	 profissional,	 porém	 também	 aponta	 que	 na	 vida	 privada	
o	indivíduo	detém	maior	poder	de	escolha	sobre	as	relações	que	pretende	manter,	o	que	não	
ocorre	no	ambiente	laboral,	em	regra.	De	forma	geral,	as	relações	humanas	envolvem,	em	regra,	
afetos	ambivalentes	e	contraditórios,	gerando	prazer	e	sofrimento	(Gondim,	2006	apud Bonfim;	
Gondim,	 2010),	 o	 que	 dificulta	 a	 mensuração	 das	 repercussões	 fisiológicas	 e	 psicológicas	
diretamente	originadas	pela	 inibição	das	emoções	no	ambiente	organizacional.	 Inobstante,	o	
trabalho	é	 reconhecido	cientificamente	como	uma	das	grandes	 fontes	de	estresse	emocional	
na	atualidade,	conduzindo	à	conclusão	de	que	a	ambiência	laboral	é	preditor	para	a	maior	ou	
menor	sensação	de	bem-estar	do	trabalhador,	no	contexto	do	trabalho	emocional.
	 Temos,	portanto,	o	seguinte	cenário:	de	um	lado,	o	sujeito	é	impulsionado	pela	vontade	
e	 necessidade	 de	 melhorar	 a	 performance	 profissional	 através	 da	 regulação	 da	 expressão	
emocional,	 de	modo	 a	 permanecer	 e	 ascender	 na	 hierarquia	 da	 organização;	 do	outro,	 há	 o	
estresse	emocional	que	causa	repercussões	negativas,	tanto	psicológicas,	quanto	fisiológicas,	
ao	indivíduo.	Os	estudos	demonstram	a	prevalência	dos	malefícios	do	trabalho	emocional	para	
os	 trabalhadores,	 sem,	contudo,	demonstrar	um	 retorno	à	organização	e	da	organização	que	
justifique	a	submissão	dos	colaboradores	a	esse	estresse.	Em	resumo,	no	contexto	laboral,	as	
pessoas	sofrem	mais	do	que	se	beneficiam	com	o	trabalho	emocional.	Trata-se	da	perspectiva	
neoliberal	 do	 trabalho	 não	 humanizado,	 focadocomo	
o	audiencista,	ele	trabalha	dentro	desse	pisar	em	ovos	(AR	–	Entrevista).
	 A	 comunicação	 com	 o	 juiz,	 para	 os	 SA,	 é	 vista	 como	 fundamental	 não	 só	 para	 o	
desempenho	deles	na	atividade,	mas	para	 todos	que	estão	participando	da	audiência.	E	essa	
comunicação	 se	 torna	 mais	 facilitada	 quando	 o	 secretário	 de	 audiências	 conhece	 bem	 o	
magistrado	que	auxilia,	contribuindo	para	construir	uma	relação	de	respeito.	Nesse	sentido,	para	
a	realização	de	sua	atividade,	os	SA	desenvolvem	estratégias	para	lidarem	com	as	atividades	dos	
outros	envolvidos	que,	dentre	essas,	envolvem	o	desenvolvimento	de	relacionamentos	positivos	
com	os	envolvidos	na	audiência,	e,	em	específico,	adequam-se	ao	estilo	profissional	de	cada	
juiz/juíza.
	 Os	 participantes	 do	 estudo	 descreveram	 também	 que,	 para	 superarem	 adversidades	
nas	 relações	no	 trabalho,	 recorreram	ao	suporte	externo,	como	a	família,	amigos,	atividades	
religiosas	 e	 tratamentos	médicos,	 suportando	 as	 situações	 adversas,	 mesmo	 sabendo	 que	 a	
causa	principal	do	sofrimento	estava	no	ambiente	de	trabalho.	No	entanto,	não	basta	“curar”	
os	sujeitos,	mas	“intervir”	na	forma	em	que	este	trabalho	é	organizado	socialmente	a	partir	da	
perspectiva	do	trabalho	real	(Bendassolli,	2011).
	 Partimos,	aqui,	do	pressuposto	de	que	o	cuidado	com	o	trabalho	e	transformação	das	
condições	em	que	ele	é	realizado	se	relaciona	com	a	saúde	dos	trabalhadores	(Osório	da	Silva,	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 101
2014).	Nesse	contexto,	ressaltamos	que,	para	garantir	esse	cuidado,	as	instituições	precisam,	
através	de	seus	dirigentes,	se	engajarem	nesse	processo,	a	partir	da	tomada	de	consciência	de	
que,	ao	cuidar	da	atividade	de	trabalho,	reduzimos	os	impedimentos	à	atividade,	possibilitando	
que	os	trabalhadores	se	desenvolvam	por	meio	dela.
Núcleo de significação 2: fazer audiência diariamente aumenta o estresse, o cansaço, e 
gera ansiedade: a importância de ter alguém com quem revezar e fazer pausas
	 O	estresse	próprio	do	trabalho	em	audiência	aparece	nas	narrativas	relacionadas	a	não	
poder	cometer	erros	na	transcrição	das	audiências,	ter	atenção	e	evitar	erros.	Essa	característica	
da	função	parece	contribuir	para	o	cansaço	mental,	principalmente	quando	a	intensidade	e	carga	
de	trabalho	aumentam,	seja	pela	quantidade	ou	pela	duração	das	audiências.
	 Para	o	desenvolvimento	da	atividade	de	SA	é	fundamental	a	administração	do	tempo	e	a	
realização	de	tarefas	com	rapidez,	sem	erros.	Na	descrição	institucional	das	atribuições	dos	SA	
prevalecem	as	tarefas	técnicas,	relacionadas	aos	processos	da	vara,	como	observar	e	cumprir	
diretrizes	 e	 determinações,	 registrar	 e	 secretariar,	 expedir	 notificações	 e	 certidões,	 redigir	
documentos	 e	 certificar eventuais	 alterações	 processuais,	 dentre	 outros.	 Em	 contraposição	
ao	 excesso	 de	 atribuições	 descritos,	 não	 se	 evidencia	 nos	 documentos	 a	 necessidade	 do	
autocuidado	 para	 a	 prevenção	 de	 adoecimentos.	Um	 dos	 participantes	 relacionou	 episódios	
de	labirintite	a	um	período	de	estresse	no	trabalho,	quando	havia	mais	audiências.	O	número	
e	a	complexidade	de	audiências	se	relacionam	com	a	saúde	desses	trabalhadores.	Secretariar	
audiências	diariamente	aumenta	o	estresse,	o	cansaço	e	gera	ansiedade	Provavelmente	por	isso	
poucos	servidores	aceitam	ocupar	esta	função	(mesmo	recebendo	gratificação	para	exercê-la),	e	
isso	se	soma	à	sobrecarga	de	não	ter	outra	pessoa	para	revezar.	Alternar	com	colegas	os	dias	em	
sala	de	audiência	e	as	atribuições	do	SA	é	importante	para	diminuir	o	acúmulo	do	cumprimento	
de	suas	obrigações.
	 O	 volume	 de	 trabalho	 se	 soma	 às	 audiências	 de	 longa	 duração,	 contribuindo	 para	
negligenciar	 os	 momentos	 de	 alimentação	 e	 movimentos	 do	 corpo,	 pois	 comumente	 os	
trabalhadores	 permanecem	 longas	 horas	 sentados	 sem	 se	 alimentar.	 Tais	 dificuldades	 são	
associadas	pelos	 trabalhadores	à	quantidade	de	 tarefas,	 imposta	não	apenas	pelos	 juízes	aos	
quais	estão	subordinados,	mas	também	por	eles	próprios,	para	darem	conta	da	atividade.
	 Para	a	servidora	Bianca,	foi	necessário	criar	uma	estratégia	para	driblar	a	dificuldade	de	
se	levantar	ou	se	ausentar	da	sala	de	audiências	quando	sente	fome	ou	sede.	Ao	dar	instruções	
à	sua	sósia,	ela	enfatiza	a	importância	de	não	se	esquecer	destes	itens	no	trabalho:
Lembre	da	sua	água	e	do	seu	lanche.	Normalmente	eu	trago	alguma	coisa	que	dê	pra	
eu	comer	aqui.	Então,	assim,	eu	já	trago	de	casa	separado	aí	eu	posso	ir	digitando	aqui,	
comendo	aqui	e	vou	digitando	(BI	–	IaS).
	 O	 cuidado	 com	 a	 própria	 saúde	 no	 cotidiano	 de	 trabalho	 (alimentação	 em	 horários	
regulares	e	adequados,	realização	de	pausas	ao	longo	da	jornada),	assim	como	a	necessidade	
de	desenvolver	as	tarefas	de	forma	mais	célere,	acabam	se	tornando	inconciliáveis	no	cotidiano	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024102
desses	servidores,	o	que	se	agrava	pela	escassez	de	trabalhadores	para	revezarem	na	realização	
da	 atividade.	 Em	 relação	 a	 isso,	 um	 trabalhador	 esclarece	 as	 impossibilidades	 com	 que	 se	
depara,	pois	não	consegue	realizar	tudo	que	gostaria	em	tempo	hábil:
Aí	eu	vou	fazendo,	né?	Aí	eu	levanto	menos,	fico	mais	na	mesa,	tomo	menos	café.	Aí	
eu	procuro	fazer	aquela	coisa	bem	concentrado,	assim	mais	rápido…	assim,	tento	ser	
mais	direto,	dinâmico,	né?	Aí	vai	fazendo,	vai	conseguindo	.	.	.	às	vezes,	você	deixa	de	
fazer	alguma	coisa	não	por,	é	ser	relapso,	mas	pela	correria,	pela	falta	talvez	de	ajuda	
de	colegas,	e	de	conscientização,	né?	Ou	pela	carga,	é,	também	de	trabalho	só,	talvez,	
em	cima	de	mim	(RO	–	IaS).
	 Discorreram	 também	 sobre	 possíveis	 soluções	 que	 acreditam	 que	 amenizariam	 esse	
contexto,	dentre	as	quais	aparecem	sugestões	de	cunho	mais	pessoal	(por	exemplo,	diminuir	a	
autocobrança	e	respeitar	seu	ritmo	de	trabalho),	como	também	mudanças	no	âmbito	institucional,	
como	ter	mais	uma	pessoa	de	suporte	em	períodos	de	maior	realização	de	audiências,	ou	não	ser	
exigido	que	quem	fica	em	audiência	cumpra	outras	obrigações.
	 Distintas	formas	de	se	comportar	dão	pistas	sobre	como	os	SA	podem	estar	tentando	
escapar	dos	obstáculos	da	atividade	e	dos	seus	respectivos	impedimentos,	pois	a	ação	do	sujeito	
tem	sua	fonte	nas	atividades	contrariadas	(Clot,	2006).	Essas	atividades	contrariadas	não	cessam	
de	exercer	seus	efeitos	sobre	o	sujeito,	considerando	que	a	atividade	não	se	resume	ao	que	se	
pode	observar	(à	atividade	realizada),	mas	também	envolve	as	impossibilidades,	o	realizado	e	
o	não	realizado,	emoções	e	afetos	–	o	real	da	atividade.
Núcleo de significação 3: a novidade, o inesperado e a criação, apesar dos impedimentos 
e limitações
	 O	 destino	 que	 cada	 um	 dá	 ao	 enfrentamento	 dos	 empecilhos	 cotidianos	 pode	 ser	
vivenciado	como	sofrimento,	isto	é,	como	dor	física	ou	mental,	como	diminuição	ou	destruição	
da	capacidade	de	agir	(Clot,	2001,	2006).	Por	outro	lado,	também	pode	ser	o	ponto	de	partida	
para	a	invenção	de	outras	formas	de	vida,	sobretudo	no	trabalho.
	 Como	 vimos,	 o	 tempo	 é	 um	 impedimento	 e	 uma	 preocupação	 constante	 para	 os	
trabalhadores	do	judiciário,	uma	vez	que	devem	cumprir	também	os	prazos	processuais.	Mas,	na	
maioria	das	vezes,	não	dispõem	de	tempo	suficiente	para	realizarem	o	trabalho	como	gostariam,	
constituindo-se	isso	como	um	dos	principais	impedimentos	na	atividade.
	 Em	muitas	das	 situações,	os	 servidores	 se	veem	realizando	atividades	burocráticas	e	
tecnicistas,	por	questões	da	própria	natureza	da	função	que	ocupam	e	da	própria	estrutura	do	
judiciário,	o	que	reduz	muito	o	raio	de	ação	na	atividade	de	trabalho.	Conforme	os	próprios	SA	
apontam,	estão	ali	para	digitar	o	que	as	testemunhas,	reclamantes	e	reclamados	falam,	assim	
como	advogados,	e	o	juiz.	Contudo,	mesmo	só	como	digitadores,	eles	não	executam	apenas	
o	prescrito.	Apesar	de	serem	exigirem	que	sejam	“multitarefas”,	 tendo	muitas	habilidades	e	
cumprindoas	etapas	rígidas	no	desenvolvimento	de	suas	atividades	laborais,	os	SA	não	devem	
ter	um	trabalho	automatizado,	conforme	eles	mesmos	apontaram:
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 103
Eu	acho	que	o	trabalho	da	sala	de	audiência	é	menos	automatizado	do	que	se	imagina,	
assim,	o	trabalho	mais	eficaz,	mas	que	atinge	mais	o	objetivo,	ele	não	é	um	trabalho	
automatizado.	.	.	A	gente	é	muito	mais	facilitador	do	que	qualquer	outra	coisa	dentro	
da	sala	de	audiência.	 .	 .	Digitar,	qualquer	pessoa	pode	digitar.	 .	 .	Ou	seja,	é	um,	é	
como	se	expandisse	os	sentidos	do	juiz	durante	a	audiência,	pra	isso	serve	também	o	
assistente	da	audiência.	.	.	Não	é	função	exatamente	minha,	mas	é	preciso	que	você	
esteja	integrado	com	tudo	que	está	acontecendo	na	sala	(AR	–	IaS).
 Isso	 remete	 à	 impossibilidade	 das	 prescrições	 da	 tarefa	 darem	 conta	 de	 todas	 as	
situações	 do	 cotidiano	 de	 trabalho.	 Diante	 da	 defasagem	 entre	 a	 atividade	 prescrita	 e	 a	
realizada,	é	necessário	a	emergência	dos	trabalhadores	como	seres	ativos	nesse	processo.	Existe	
mobilização	cognitiva	e	afetiva,	por	mais	que	uma	tarefa	seja	repetitiva.	No	caso	da	tarefa	dos	
SA,	eles	precisam	aparecer	o	mínimo	possível,	mas	estarem	atentos,	presentes	e	necessários	ao	
mesmo	tempo;	devem	aparecer	em	momentos	cruciais,	auxiliando	o	trabalho	do	juiz,	que	é	o	
responsável	e	autoridade	na	condução	da	audiência.
	 Ao	mesmo	tempo	em	que	dizem	que	o	trabalho	é	simples,	que	qualquer	um	pode	fazer,	
que	é	 só	digitar	 conforme	aconteceu	na	audiência,	há	outras	 esferas	do	 trabalho	em	que	há	
ação,	atividade,	criação	do	servidor.	Eles	acabam	se	fazendo	necessários	ao	trabalho	do	juiz	
em	outros	aspectos,	sobretudo	quanto	à	atenção	redobrada	que	precisam	ter	ao	que	acontece	
à	 sua	 volta	 para	 justamente	 intervirem	 em	 situações	 bem	 específicas,	 tais	 como	 observar	 a	
dinâmica	de	pessoas	na	sala	de	audiência	e	avisar	ao	juiz	se	algo	ou	alguém	pode	interferir	nos	
procedimentos	judiciais,	auxiliando	as	partes	e	o	juiz	no	que	lhes	couber.
A	atenção	é	algo	extremamente	exigido	no	cotidiano	da	atividade,	inclusive	em	procedimentos	
anteriores	ao	 início	da	audiência,	como	estar	atento	e	conferir	os	participantes	da	audiência	
trabalhista	conforme	documentos:
Aí	 você	 vai	 ver,	 é	 seu	 Matheus?	 “Seu	 Matheus,	 o	 senhor	 poderia	 me	 dar	 seus	
documentos	de	identificação?”.	Que	eu	não	sei	se	seu	Matheus	é	seu	Matheus,	né?	Aí	
ele	lhe	dá	identidade,	CPF	e	carteira	de	trabalho	(LU	–	IaS).
 Apreendemos	 que	 a	 atividade	 adquire	 um	 sentido	 de	 que	 o	 servidor	 deve	 ficar	
despercebido	na	audiência,	mas,	simultaneamente,	deve	exercer	o	papel	de	um	facilitador,	ou	
de	um	árbitro	de	futebol,	como	sinalizado	por	Arlindo:
Assista	100%	da	audiência,	a	audiência	inteira.	Assista	mais	de	que	o	juiz	.	.	.	E	outra	
coisa:	passe	o	máximo	possível	despercebido.	É	como	um	árbitro	de	futebol,	no	jogo,	
se	o	árbitro	não	aparecer	é	porque	ele	foi	muito	bem,	ele	fez	muito	bem,	ninguém	
percebeu	que	tinha	um	árbitro,	que	tinha	alguém	digitando,	que	tinha	não,	porque	ele	
foi	ótimo	(AR	–	IaS).
	 Se	o	prescrito	da	atividade	envolve	acompanhar	o	juiz	do	trabalho	para	secretariar	as	
audiências,	digitar	os	termos	de	audiências	no	decorrer	dessas	(conciliações,	depoimentos	das	
partes	e	testemunhas,	entre	outros),	e,	ainda,	se	responsabilizar	pelo	primeiro	contato	com	as	
partes	antes	da	audiência	trabalhista	e	por	alguns	encaminhamentos	decorrentes	das	decisões	
judiciais.	O	trabalho	real	se	apresenta	com	eventuais	necessidades	de	sair	da	“invisibilidade”	e	
“ampliar	os	sentidos	do	juiz”,	pois,	em	casos	peculiares,	esses	servidores	acabam	intervindo	na	
audiência,	já	que	observam	tudo	que	se	passa	no	seu	andamento.	Isso	acaba	sendo	um	aspecto	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024104
da	atividade	que	surge	para	além	do	trabalho	aparentemente	prescrito.
	 Além	disso,	os	as	precisam	lidar	com	suas	próprias	 limitações,	o	que	é	 indicado	por	
eles	 como	 lentidão,	 tanto	na	 realização	de	procedimentos	do	processo,	quanto	na	digitação.	
No	entanto,	quando	se	observa	a	situação	de	trabalho,	percebemos	a	alta	carga	de	trabalho	a	
que	esses	trabalhadores	estão	submetidos,	um	grande	número	de	processos	trabalhistas,	muitas	
audiências	para	secretariar,	com	diversas	atividades	e	processos	burocráticos.	A	suposta	lentidão	
dos	sujeitos	expõe	um	sentido	atribuído	a	si	mesmos	pelos	próprios	 trabalhadores,	um	certo	
julgamento	de	valor	de	si,	o	que	acaba	ocultando	as	características	da	atividade	–	o	indivíduo	
que	acaba	se	considerando	lento,	limitado.	Ainda	assim,	outra	restrição	que	os	incomoda	é	o	
conhecimento	limitado	em	Direito,	já	que	essa	formação	não	é	um	requisito	para	ocupação	do	
cargo	público	nesta	situação.
	 Há	ainda	os	sentimentos	de	que	os	SA	ficam	restritos	e	“presos”	à	audiência,	sem	contato	
com	os	demais	colegas	do	setor,	o	que	remete	a	um	isolamento	no	trabalho	desses	servidores.	
Ainda	 assim,	 percebemos	 que	 esses	 trabalhadores	 têm	 satisfação	 de	 terem	 contato	 com	 o	
público	atendido	nas	audiências,	para	o	qual	a	instituição	presta	o	serviço,	a	quem	devem	prestar	
informações,	fazer	o	primeiro	acolhimento	antes	da	audiência,	exercendo	o	papel,	inclusive,	de	
acalmá-los	em	algumas	situações,	para	além	do	prescrito,	uma	vez	que	acabam	conhecendo	a	
história	de	muitos,	o	percurso	que	fizeram	até	chegar	a	buscar	seus	direitos	junto	ao	judiciário	
trabalhista.	Portanto,	a	novidade,	o	inesperado,	a	possibilidade	de	crescimento	e	aprendizagem	
no	trabalho	são	aspectos	levantados	por	eles	como	positivos,	sendo	destacado	que	sempre	há	
algo	novo	a	cada	audiência	realizada,	a	cada	história	que	chega.	Os	SA	enfatizam	a	novidade	
e	o	inesperado	como	coisas	positivas,	uma	atividade	diferente	das	outras:	“todo	dia	tem	uma	
novidade,	é	algo	diferente,	sai	do	mecânico”	(RO	–	Entrevista).	Para	Clot	(2013),	é	importante	
os	 trabalhadores	 se	 sentirem	participantes	 na	 dinâmica	 de	 tomada	 de	 decisões	 em	 contexto	
de	 trabalho,	 algo	 diretamente	 relacionado	 ao	 seu	 poder	 de	 agir	 face	 ao	 trabalho	 prescrito,	
organização	de	trabalho	e	gênero	profissional.	Tal	participação	tem	importância	em	termos	de	
manutenção	da	saúde	para	estes	 trabalhadores.	Percebemos	algumas	formas	 interessantes	de	
contornar	as	limitações	da	atividade	por	parte	dos	participantes	desse	estudo,	principalmente	
voltadas	 a	 automatizar	 certos	 tipos	 de	 tarefas.	 Isso	 se	 dá,	muitas	 vezes,	 pelos	 instrumentos	
que	criam	ou	que	 se	utilizam	para	driblar	não	 só	 suas	dificuldades	pessoais,	 como	a	de	 ser	
mais	rápidos,	mas	também	como	uma	forma	de	se	reinventar,	de	colocar	algo	seu	no	trabalho,	
fazer	as	coisas	terem	sentido	e	reconhecimento,	não	só	para	os	outros,	mas	também	para	eles	
mesmos.
	 Quando	o	trabalhador	não	é	impedido	de	agir,	ele	não	cessa	de	reinventar	as	funções	
sociais	 da	 ferramenta	 (Clot,	 2010).	 Os	 SA	 utilizam	muito	 dos	 recursos	 do	 próprio	 sistema	
informatizado	de audiências,	o	AUDI,	que	facilita	a	criação	de	documentos	próprios	em	cada	
situação,	 facilitando	o	 resgate	 quando	há	 necessidade.	Usam	 também	de	modelos	 de	 textos	
criados	 por	 eles	 próprios	 ao	 longo	 dos	 diferentes	 tipos	 de	 audiências	 realizadas,	 que	 são	
compartilhados	com	os	pares,	possibilitando	a	troca	entre	eles.	Realizar	anotações	no	decorrer	
da	atividade	constitui-se	também	como	uma	forma	de	se	organizar,	de	ter	controle;	facilita	os	as	
em	situações	posteriores	e	auxilia	no	resgate	de	informações.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 105
	 Os	 enfrentamentos	 e	 limitações	 com	 que	 esses	 profissionais	 se	 deparam,	 além	 de	
resultarem	em	sofrimento	e	adoecimento	mental,	também	podem	ser	o	ponto	de	partida	para	a	
criação	na	atividade.	Com	isso,	vemos	a	mobilização	psíquica	que	permanece,	mesmo	diante	
das	adversidades	(Clot,	2010).	O	conflito	na	atividade	coloca	o	sujeito	diante	de	sua	capacidade	
de	recriartécnicas,	de	fazer	uso	deslocado	e	subversivo	destas,	conforme	suas	necessidades.
Núcleo de significação 4: estamos no mesmo barco, é preciso ter solidariedade
	 Conforme	ressaltam	Clot	(2001,	2006,	2010)	e	Almeida	e	Lima	(2017),	o	coletivo	de	
trabalho	detém	a	história	do	pensar	sobre	o	trabalho	e	é	o	alicerce	para	a	atividade	individual.	
Osório	da	Silva	(2014)	relembra	que	“	.	.	.	o	trabalhar	é	sempre	coletivo,	mesmo	que	se	realize	
por	um	único	trabalhador”	(p.	84).	No	processo	de	criação	ou	transformação	de	ferramentas	
ou	objetos	do	trabalho	conforme	sua	necessidade,	é	importante	que	o	profissional	possa	contar	
com	o	suporte	dos	colegas	de	ofício	para	endossar	a	utilização	desses	instrumentos	em	situações	
semelhantes.	O	coletivo	proporciona	também	um	repertório	do	qual	o	sujeito	busca	elementos	
para	tomar	suas	decisões	e	enfrentar	as	adversidades	no	cotidiano	da	atividade,	constituindo-se	
numa	fonte	protetiva	de	sua	saúde	mental	no	trabalho.
	 No	 tocante	 ao	 gênero	 profissional,	 apreendemos	 que	 o	 coletivo	 de	 referência	 acaba	
sendo	a	equipe	da	Vara	do	Trabalho	como	um	todo,	já	que	os	entrevistados	remetem	muitas	
vezes	ao	apoio	e	preocupações	com	a	continuidade	do	trabalho	no	interior	da	própria	unidade,	
onde	 estão	 lotados.	Nesses	 contextos,	 é	 possível	 perceber	 nos	 discursos	 que	 há	 um	 sentido	
maior	de	coletivo	entre	todos.
	 Entretanto,	 conforme	Arlindo	 destacou,	 até	mesmo	 com	a	 proximidade	 cotidiana	 no	
mesmo	ambiente,	a	cooperação	pode	ser	substituída	pelo	sentimento	de	isolamento:
A	gente	conhecer,	saber	qual	é	o	dia	a	dia	do	outro,	gera	uma	intimidade	natural,	né?	
Aquela	intimidade	de	solidariedade	quase,	né?,	nós	somos,	estamos	no	mesmo	barco,	
mas	não	 temos	amizades,	não	se	constrói	amizades	em	 torno	disso,	 sabe?	 .	 .	 .	não	
existem	grupos,	 rede	social,	coisa	mais	natural	do	mundo,	mais	 fácil	do	mundo	se	
fazer	um	grupo	de	pessoas	na	rede	social,	mas	não	existe.	A	gente	se	dá	muito	bem,	
todo	mundo	se	dá	bem,	não	tem	nenhum	problema	um	com	outro	não,	mas	não	temos	
essa	coisa	de	discutir	a	situação,	discutir	uma	coisa	ou	outra,	o	que	é	que	uma	coisa	
que	tá	pegando,	uma	coisa	que	tá,	uma	dificuldade	e	tal	que	o	outro	possa	ajudar	(AR	
–	Entrevista).
	 Além	disso,	destacamos	que	a	cooperação	entre	servidores	de	diferentes	varas	do	trabalho	
pode	ser	ainda	mais	dificultada	pela	lógica	de	funcionamento	do	judiciário,	que	pressupõe	a	
independência	de	cada	juiz,	assim	como	a	cultura	de	competição	(Giannini	et al.,	2019)	entre	as	
unidades	da	qual	cada	magistrado	está	à	frente,	posto	que	cada	uma	delas	acaba	tendo	resultados	
diversos,	e	podem	ser	comparadas	em	rankings	de	seu	desempenho	institucional.
	 Entretanto,	sabemos	que,	para	manter	a	saúde	dos	trabalhadores,	é	importante	estimular	
as	construções	coletivas,	o	estímulo	ao	debate	sobre	a	atividade	de	 trabalho,	 incentivando	a	
solidariedade	e	cooperação	entre	os	pares.	Quando	o	acesso	ao	gênero	está	impedido	pela	falta	
de	debate,	abre-se	espaço	para	que	haja	sofrimento	psíquico,	já	que	o	sujeito	fica	limitado	em	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024106
sua	capacidade	para	dar	sentido	à	atividade	e	se	desenvolver	(Osório	da	Silva,	2014).
	 Além	disso,	a	criação	na	atividade	 também	pode	ser	potencializada	pela	experiência	
coletiva,	já	que	implica	o	encontro	consigo	mesmo	e	com	o	outro	(Barros;	Benevides,	2007).	A	
abertura	de processos	que	façam	aumentar	o	pensar	e	o	fazer	sobre	o	trabalho	pode	contribuir	
para	aumentar	a	autonomia	desses	trabalhadores,	assim	como	pode	favorecer	a	superação	de	
situações	de	sofrimento.	Apesar	de	os	pares	que	trabalham	em	um	mesmo	setor/Vara	constituírem	
um	coletivo	de	referência	para	esses	servidores,	não	podemos	desconsiderar	a	importância	do	
fortalecimento	ou	até	mesmo	a	construção	de	um	coletivo	de	SA.	Clot	(2006)	menciona	que	o	
cruzamento	entre	os	diferentes	gêneros	profissionais	é	o	que	enriquece	a	criação	de	um	estilo	
específico,	individual.
	 Justamente	por	esse	contato	com	diversos	gêneros	simultaneamente	é	que	um	coletivo	
de	SA	poderia	 se	 beneficiar	 de	 um	enriquecimento	proporcionado	por	momentos	 de	 debate	
sobre	a	atividade.
	 Lembramos,	ainda,	que	os	discursos	remetem	à	importância	da	renovação	do	gênero,	o	
qual	não	é	algo	estático,	mas	está	sempre	em	movimento,	mudando	conforme	as	transformações	
históricas	e	os	sujeitos	vão	se	apropriando	dele,	e,	ao	mesmo	tempo,	dando	suas	contribuições	
para	desenvolvê-lo.
Eu	acho	que,	quando	você	faz	uma	coisa,	principalmente	depois	de	um	tempo,	é	difícil	
.saber	tudo,	mas	você	sabe	80%,	você	sente	mais	confortável,	e,	como	você	ver	que	
aquilo	tá	dando	certo	pra	você	e	tá	dando	certo	pro	grupo	que	você	trabalha	.	.	.	Acho	
que	qualquer	local	do	setor	público	você	chega	zero,	você	não	tem	nada	e	você	tem	
a	experiência	das	outras	pessoas	que	 já	passaram	em	arquivos	e	eles	passam	esses	
arquivos.	 É	 extremamente	 comum,	 você	 chega,	 eles	 passam	 os	 arquivos.	 E	 esses	
arquivos,	eles	ajudam	pra	deixar	a	coisa	mais	rápida,	mais	autônoma,	e	você	consegue	
ir	modificando	e	deixando	do	seu	jeito	.	.	.	você	acaba	tendo	que	remodelar,	fazer	de	
novo	com	relação	aos	novos	procedimentos,	sabe?	(MS	–	Entrevista).
	 Os	 “arquivos”	 mencionados	 pelo	 trabalhador	 explicitam	 a	 existência	 de	 um	 acervo	
do	 trabalho	 que	 serve	 de	 herança	 para	 os	 que	 chegam.	 É	 uma	 produção	 coletiva,	 que	 se	
constitui	 no	 gênero	 profissional.	 Assim,	 o	 diálogo	 entre	 profissionais	 acerca	 da	 atividade	
possibilita	transformar	a	experiência	em	meio	de	vida,	auxiliando	o	reencontro	do	sujeito	com	
o	sentimento	de	vida	e,	por	consequência,	com	a	saúde.	A	associação	entre	saúde,	poder	de	
agir	e	criação	pode	ser	mais	uma	vez	mencionada,	na	medida	em	que	a	saúde	vai	além	de	se	
conformar	e	se	adaptar	à	norma:	ela	remete	ao	poder	de	ação	sobre	si,	e	sobre	o	mundo,	o	qual	
se	adquire	com	outros	(Clot,	2010).	Os	dados	explorados	nos	quatro	núcleos	de	significação	
que	foram	aqui	sumarizados	trazem	elementos	no	sentido	de	evidenciar	este	ponto	central:	os	
trabalhadores	explicitaram	regras	de	ofício	e	demandas	do	trabalho	prescrito,	evidenciando	o	
quanto	a	existência	de	obstáculos	para	dar	conta	dessas	regras	é	adoecedor,	além	do	eventual	
caráter	 patógeno,	 em	 si,	 das	 próprias	 regras.	 Se,	 por	 um	 lado,	 é	 crucial	 para	 o	 trabalhador	
dispor	do	referenciamento	do	gênero	profissional,	através,	muitas	vezes,	de	seus	coletivos	de	
trabalho,	 por	 outro	 lado,	 o	 enquadre	 fornecido	 pelo	 gênero	 pode	 ser	 de	 ordem	 a	 contrariar	
aspectos	do	que	o	 trabalhador	considera	um	 trabalho	bem-feito.	Esta	 tensão	constante	entre	
indivíduo	trabalhador	e	seus	contextos	de	referenciamento	constitui	a	dinâmica	da	atividade	de	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 107
trabalho,	possibilitando	ao	trabalhador	iniciativas	inovadoras	(estilizadoras)	que	podem	vir	a	se	
incorporar	no	acervo	comum	do	gênero,	ou	serem	refutadas	como	variantes	não-aceitas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	 A	atividade	de	trabalho,	na	contemporaneidade,	contribui	centralmente	para	a	construção	
de	identidade	psicossocial,	e,	por	esse	aspecto,	para	o	desenvolvimento,	para	a	saúde	e	para	o	
adoecimento.	A	atividade	de	trabalho	dos	SA,	abordada	aqui,	apresenta	aspectos	assimiláveis	ao	
contexto	da	precarização,	alguns	dos	quais	foram	referidos:	constata-se	excesso	de	atribuições,	
impossibilidade	de	contar	com	os	pares	e	de	realizar	pausas	durante	a	execução	das	 tarefas.	
Estes	 aspectos	 foram	 indicados	 como	 causadores	 ou	 agravantes	 de	 quadros	 de	 ansiedade	 e	
estresse,	assim	como	puderam	ser	associados	a	vivências	de	sofrimento	e	impotência	em	relação	
ao	trabalho.	Mesmo	que	as	características	do	trabalho	dos	SA	dificultem	a	realização	de	trocas	
de	qualidade	entre	os	pares,	a	partir	das	narrativas	dos	entrevistados	foi	possível	perceber	como	
positivo	e	desejável	o	incentivo	a	essas	trocas	no	âmbito	do	coletivo,	sendo	visto	como	algo	
desuma	importância	para	a	saúde	mental	dos	trabalhadores	do	judiciário.	Destacamos	que	as	
relações	interpessoais,	sejam	elas	com	superiores,	colegas	ou	público	externo	a	quem	atendem,	
adquirem	relevância	no	processo	de	saúde/sofrimento,	entendendo	que	a	clínica	da	atividade	
vai	além	da	concepção	de	trabalho	apenas	como	causa	de	sofrimento;	ela	busca	resgatar	seu	
papel	como	operador	de	saúde,	de	lugar	de	criação	coletiva	e	pessoal.
	 No	âmbito	do	judiciário,	o	enfraquecimento	dos	coletivos	e	do	gênero	pode	estar	abrindo	
caminho	 para	 o	 sofrimento	 e	 o	 adoecimento	 no	 trabalho	 para	 aqueles	 que	 desempenham	o	
ofício	de	secretário	de	audiência.	Para	que	se	resgate	a	função	do	trabalho	como	operador	de	
saúde,	destacamos	a	necessidade	de	maior	articulação	no	interior	de	cada	coletivo	de	trabalho	
nesse	contexto.	Uma	vez	que	a	 saúde	 se	 constitui	 como	 recurso	coletivo,	 é	preciso	ampliar	
os	recursos	psicossociais	para	a	ação	desses	trabalhadores	por	meio	de	ações	que	incentivem	
a	 cooperação,	 em	 contrário	 à	 lógica	 de	 competição	 e	 isolamento	 das	 formas	 de	 gestão	 no	
judiciário.	Neste	 sentido,	 a	 organização	 deve	 construir	 espaços	 que	 possam	 contribuir	 para	
o	fortalecimento	de	coletivos	e	dos	gêneros	profissionais,	o	que	está	de	acordo	com	aspectos	
centrais,	aqui	discutidos,	da	proposta	da	clínica	da	atividade.	Cabe	finalmente	ressaltar	o	quanto	
essa	perspectiva	também	se	coaduna	com	a	defesa	de	direitos	trabalhistas	em	termos	de	garantias	
para	a	saúde	e	desenvolvimento	do	trabalhador,	com	rebatimentos	para	a	atividade	de	trabalho	
em	sua	completa	extensão.
REFERÊNCIAS
AGUIAR,	W.	M.	J.;	SOARES,	J.	R.;	MACHADO,	V.	C.	Núcleos	de	significação:	uma	proposta	
histórico-dialética	de	apreensão	das	significações.	Cadernos de Pesquisa,	São	Paulo,	v.	45,	
p.	56-75,	2015.	Disponível	em:	http://dx.doi.org/10.1590/198053142818.	Acesso	em:	09	ago	
2022.
ALMEIDA,	A.	P.	C.;	LIMA,	M.	E.	A.	A	instrução	ao	sósia	no	contexto	da	pesquisa:	Diferentes	
http://dx.doi.org/10.1590/198053142818
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024108
modos	de	apropriação	do	instrumento.	Horizontes, [S. l.]		v.	35	n.	3,	p.	58-70,	2017.	Disponível	
em:	https://doi.org/10.24933/horizontes.v35i3.521.	Acesso	em:	09	ago	2022.
AMAZARRAY,	M.	R.;	OLIVEIRA,	G.	F.;	FEIJÓ,	F.	R.	Contexto	de	 trabalho	e	 transtornos	
mentais	comuns	em	trabalhadores	do	Judiciário	Federal	do	Rio	Grande	do	Sul,	Brasil.	Revista 
Psicologia: Organizações	e	Trabalho,	v.	19,	n.	3,	p.	687-694,	2019.	Disponível	em:	http://dx.doi.
org/10.17652/rpot/2019.3.16744.	Acesso	em:	09	ago	2022.
ANDRADE, P. P. Sentimento de (in)justiça na Justiça: fatores	 (des)estruturantes	de	QVT	
sob	 a	 ótica	 dos	 servidores	 de	 um	 órgão	 do	 Poder	 Judiciário.	 2011.	Dissertação	 (Mestrado)	
Universidade	de	Brasília.	UnB.	Brasília,	2011.	Disponível	em:	https://repositorio.unb.br/jspui/
handle/10482/10350.	Acesso	em:	09	ago	2022.
ARENAS, M. V. S. Assédio moral e saúde no trabalho do servidor público do judiciário: 
Implicações psicossociais.	2013.	Tese	(Doutorado)	Universidade	Federal	do	Rio	Grande	do	
Sul,	 Porto	Alegre,	 2013.	 Disponível	 em:	 https://lume.ufrgs.br/	 handle/10183/78677.	Acesso	
em:	20	ago	2022.
BARROS,	M.E.B.;	BENEVIDES	DE	BARROS,	R.	Da	dor	ao	prazer	no	trabalho.	In: BARROS, 
M.E.B.;	 SANTOS,	S.B.	 (Orgs.).	Trabalhador da saúde:	muito	 prazer	 –	 protagonismo	dos	
trabalhadores	na	gestão	do	trabalho	em	saúde.	Porto	Alegre:	Unijuí,	2007.	p.61-72.
BAUER,	M.W.;	GASKELL,	G.	Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um	manual	
prático.	7	ed..	Petrópolis:	Vozes,	2008.	
BENDASSOLLI,	P.	F.;	SOBOLL,	L.	A.	P.	(Orgs.).	Clínicas do trabalho:	novas	perspectivas	
para	compreensão	do	trabalho	na	atualidade.	São	Paulo:	Atlas,	2011.
BENDASSOLLI,	P.	F.	Mal	estar	no	 trabalho:	do	 sofrimento	ao	poder	de	agir.	Revista Mal 
Estar e Subjetividade,	v.	11,	n.1,	p.	65-99,	2011.	Disponível	em:	https://ojs.unifor.br/rmes/
article/view/4977.	Acesso	em:	09	jul	2022.
CLOT, Y. A função psicológica do trabalho.	2	ed.	Petrópolis:	Vozes,	2006.	
CLOT,	Y.	O	ofício	como	operador	de	saúde.	Cadernos de Psicologia Social do Trabalho,	vol.	
16,	n.	especial	1,	p.	1-11,	2013.	Disponível	em:	https://revistas.usp.br/cpst/article/view/77855.	
Acesso	em:	09	jul	2022.
CLOT,	Y.	Clínica	do	 trabalho,	clínica	do	real.	Tradução:	Kátia	Santorum;	Suyanna	Linhales	
Barker.	Le Journal des Psychologues,	v.	185,	p.		48-51,	2001.
CLOT,	Y.;	BONNEFOND,	J.-Y.;	BONNEMAIN,	A.;	ZITTOUN,	M.	Le prix du travail bien 
fait: La	cooperation	conflictuelle	dans	les	organisations.	Paris:	La	Découverte,	2021.
CLOT,	Y.;	GOLLAC,	M.	(2014)	Le travail peut-il devenir supportable?	Paris:	Armand	Colin,	
2014.
CLOT, Y. Trabalho e poder de agir.	Belo	Horizonte:	Fabrefactum,	2010.
DAL	PAI,	D.;	LAUTERT,	L.;	TAVARES,	J.	P.;	SOUZA	FILHO,	G.	A.	E.;	DORNELLES,	R.	
A.	N.;	MERLO,	A.	R.	C.	Repercussões	 da	 aceleração	 dos	 ritmos	 de	 trabalho	 na	 saúde	 dos	
servidores	de	um	juizado	especial.	Saúde e Sociedade, São	Paulo.	Vol.	23,	n.	3	jul./set	2014,	p.	
https://doi.org/10.24933/horizontes.v35i3.521
http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2019.3.16744
http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2019.3.16744
https://repositorio.unb.br/jspui/handle/10482/10350
https://repositorio.unb.br/jspui/handle/10482/10350
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/78677
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/78677
https://ojs.unifor.br/rmes/article/view/4977
https://ojs.unifor.br/rmes/article/view/4977
https://revistas.usp.br/cpst/article/view/77855
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 109
942-952.	Disponível	em:	http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014000300017.3.
Acesso	em:	20	jul	2022.
FERNANDES,	L.	C.;	FERREIRA,	M.	C.	Qualidade	de	vida	no	trabalho	e	risco	de	adoecimento:	
Estudo	no	poder	judiciário	brasileiro.	Psicologia USP,	v.	26,	n.	2.	p.	296-306,	2015.	Disponível	
em:	https://doi.org/10.1590/0103-656420130011.		Acesso	em:	15	jul	2022.
FONSECA,	 R.	 M.	 C.;	 CARLOTTO,	 M.	 S..	 Saúde	 mental	 e	 afastamento	 do	 trabalho	 em	
servidores	do	judiciário	do	estado	do	Rio	Grande	do	Sul.	Psicologia em Pesquisa,	v.	5,	n.	2,	
p.	 117-125;	 2011.	 Disponível	 em:	 https://periodicos.ufjf.br/index.php/psicologiaempesquisa/
article/view/23595.	Acesso	em:	15	jul	2022.
GIANNINI,	 R.;	 SZNELWAR,	 L.	 I.;	 UCHIDA,	 S.;	 LANCMAN,	 S.	 A	 cooperação	 como	
instrumento	de	enfrentamento	do	real:	O	caso	dos	magistrados	do	trabalho	no	Brasil.	Laboreal, 
v.	15,	n.	1,	p.	1-19,	2019.	Disponível	em: https://doi.org/10.4000/laboreal.1202	.	Acesso	em:	20	
jul	2022.
GUÉRIN,	 F.;	 LAVILLE,	 A.;	 DANIELLOU,	 F.;	 DURAFFOURG,	 J.;	 KERGUELEN,	 A.	
Compreender o trabalho para transformá-lo: A	prática	da	ergonomia.	São	Paulo:	Edgard	
Blücher, 2001.
MANSUR,	 J.	 E.	 A.	 Metas	 de	 produtividade	 no	 Poder	 Judiciário:	 Entre	 o	 aprimoramento	
da	 gestão	 e	 a	 potencialização	dos	 riscos	 de	 assédio	moral	 no	 trabalho.	 In:	B.	Farah	 (Org.),	
Assédio moral e organizacional: Novas	modulações	 do	 sofrimento	 psíquico	 nas	 empresas	
contemporâneas.	São	Paulo:	LTr,	2017.	p.107-123.
OSÓRIO DA SILVA, C.		Pesquisa	e	intervenção	em	clínica	da	atividade:	a	análise	do	trabalho	
em	movimento.	In	P.	F.	Bendassolli;	L.	A.	P.	Soboll	(Orgs.),	Métodos de pesquisa e intervenção 
em psicologia do trabalho: Clínicas	do	trabalho.	São	Paulo:	Atlas,	2014.	p.82-99.
OSÓRIO DA SILVA C.;	 RAMMINGER,	T..	 O	 trabalho	 como	 operador	 de	 saúde.	Ciência 
& Saúde Coletiva,	 v.	 19,	 n.	 12,	 p.	 4751–4758,	 dez.	 2014.	 Disponível	 em:	 https://doi.
org/10.1590/1413-812320141912.15212013	. Acesso	em:	20	jul	2022.
POOLI,	A.;	MONTEIRO,	J.	Assédio	moral	no	judiciário:	Prevalência	e	repercussões	na	saúde	
dos	trabalhadores.	Revista Psicologia:	Organizações	e	Trabalho,	v.	18,	n.	2,	p.	346-353,	2018.	
Disponível	em:		http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2018.2.13516.	Acesso	em:	18	jul	2022.
RABARDEL,	 P.;	 	 GOUÉDARD,	 C.	 Pouvoir	 d’agir	 et	 capacités	 d’agir:	 Une	 perspective	
méthodologique?.	Pistes,	 v.	 14,	 n.	 2,p.	 1-29,	 2012.	Disponível	 em:	https://doi.org/10.4000/
pistes.2808.	Acesso	em:	18	jul	2022.
RENAULT,	S.	R.	T.	A	reforma	do	Poder	Judiciário	sob	a	ótica	do	governo	federal.	Revista do 
Serviço Público,	v.	56,	n.	2,	p.	127-136,	2005.	Disponível	em:	https://doi.org/10.21874/rsp.
v56i2.221.	Acesso	em:	20	jul	2022.
SANTOS,	M.	Análise	psicológica	do	trabalho	:	dos	conceitos	aos	métodos.	Laboreal,	v.	2	n.1,	
p.	1-12,	2006.	Disponível	em:	https://doi.org/10.4000/laboreal.13678.	Acesso	em:	20	jul	2022.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902014000300017.3
https://doi.org/10.1590/0103-656420130011
https://doi.org/10.4000/laboreal.1202
https://doi.org/10.1590/1413-812320141912.15212013
https://doi.org/10.1590/1413-812320141912.15212013
http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2018.2.13516
https://doi.org/10.4000/pistes.2808
https://doi.org/10.4000/pistes.2808
https://doi.org/10.21874/rsp.v56i2.221
https://doi.org/10.21874/rsp.v56i2.221
https://doi.org/10.4000/laboreal.13678
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024110
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 111
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024112
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 113
ACÓRDÃOS
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024114
RECURSO ORDINÁRIO Nº. 0000047-98.2024.5.21.0041
DESEMBARGADORA RELATORA: MARIA DO PERPETUO SOCORRO 
WANDERLEY DE CASTRO
RECORRENTE: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS 
HOSPITALARES - EBSERH
ADVOGADA: ZULÍVIA CONCEIÇÃO BRITTO MENEZES E 
OUTROS
RECORRIDA: ROSIMERE JUSTINO DA SILVA
ADVOGADO: VIVIANE DA SILVA LIMA HOLLANDA E OUTRO
ORIGEM: 11ª VARA DO TRABALHO DE NATAL
1.	 Justiça	 do	 Trabalho.	 Competência.	 Pedido	 com	 fundamento,	 por	 analogia,	 em	
norma	estatutária.	A	pretensão	de	licença	para	cuidados	de	familiar,	formulada	pelo	
servidor	 celetista	 em	 face	 de	 empresa	 pública,	 invocando	 por	 analogia	 normas	 da	
legislação	 estatutária,	 não	 envolve	 parcela	 tipicamente	 estatutária,	 sendo	 portanto	
competente	em	razão	do	regime	funcional	e	do	pedido,	a	Justiça	do	Trabalho.
2.EBSERH.	Equiparação	à	Fazenda	Pública.	Prerrogativas	processuais.	Cabimento.	
A	equiparação	da	reclamada	EBSERH	à	Fazenda	Pública	decorre	do	entendimento	
firmado	pelo	Supremo	Tribunal	Federal	no	julgamento	da	ADPF	473/CE,	de	Relatoria	
da	Ministra	Rosa	Weber,	publicado	no	DJ	de	5/10/2020,	que	estende	as	prerrogativas	
processuais	da	Fazenda	Pública	à	Sociedade	de	Economia	Mista,	por	ser	entidade	que	
atua	em	regime	não	concorrencial	e	que	tem	por	finalidade	a	prestação	de	serviços	
gratuitos	 de	 assistência	 médico-hospitalar,	 ambulatorial	 e	 de	 apoio	 diagnóstico	 e	
terapêutico	à	comunidade,	inseridos	integral	e	exclusivamente	no	âmbito	do	Sistema	
Único	de	Saúde	 -	SUS	 ,	 assim	como	a	 prestação,	 às	 instituições	 públicas	 federais	
de	ensino	ou	 instituições	congêneres,	de	serviços	de	apoio	ao	ensino,	à	pesquisa	e	
à	 extensão,	 ao	 ensino-aprendizagem	 e	 à	 formação	 de	 pessoas	 no	 campo	 da	 saúde	
pública,	observada,	nos	termos	do	a	autonomia	universitária	(art.	3º,	caput	,	e	§	1º,	da	
Lei	12.550/2011),	considerando	mais	que	a	EBSERH	possui	capital	integralmente	sob	
a	propriedade	da	União,	devendo	seu	lucro	líquido	ser	reinvestido	para	atendimento	
do	objeto	social	da	empresa,	excetuadas	as	parcelas	decorrentes	da	reserva	legal	e	da	
reserva	para	contingência,	na	forma	do	art.	8º,	parágrafo	único,	da	Lei	12.550/2011.
3.Justiça	Gratuita.	A	simples	declaração	de	hipossuficiência	firmada	pela	reclamante	é	
bastante	à	concessão	dos	benefícios	da	justiça	gratuita,	conforme	o	disposto	no	artigo	
790,	§	4°,	da	CLT,	e	os	artigos	98	e	99	e	§3°,	do	Código	de	Processo	Civil.
4.	Empregada	pública.	Cuidados	com	dependente.	Redução	da	Jornada	sem	Redução	
do	Salário.	Aplicação	de	Lei	Federal	por	analogia.	A	redução	de	jornada,	sem	redução	
de	salário,	prevista	em	Lei	Federal	para	os	servidores	públicos	federais	é	aplicável	
também,	 por	 extensão,	 aos	 empregados	 públicos,	 dado	 o	 alto	 sentido	 social	 que	 a	
embasa.	Importa	considerar,	nesse	sentido,	decisões	do	Supremo	Tribunal	Federal,	a	
partir	do	fundamento	da	decisão	do	Tema	1097-	RG	(RE	1237867,	Relator	Ministro	
Ricardo	 Lewandowski),	 e	 do	 entendimento	 positivo	 acerca	 do	 direito	 à	 redução	
da	 carga	 horária	 de	 servidor	 público	 que	 tenha	 filho	 ou	 dependente	 portador	 de	
deficiência.	Assim,	consideradas	a	absoluta	prioridade	do	direito	da	criança	à	saúde,	a	
disposição	do	art.	227	da	Constituição	da	República	e	os	fundamentos	da	Convenção	
Internacional	 sobre	 os	 Direitos	 das	 Pessoas	 com	Deficiência	 (CDPD)	 também	 na	
empresa	pública,	é	devida,	por	analogia,	a	 redução	da	carga	horária	da	empregada	
pública	 que	 tenha	 filho	 ou	 dependente	 portador	 de	 deficiência	 para	 que	 possa	 lhe	
prestar	a	devida	assistência	e	promover	o	desenvolvimento	de	sua	capacidade.
5.	Recurso	ordinário	a	que	se	nega	provimento.
Vistos	etc.
Trata-se	 de	 recurso	 ordinário	 interposto	 pela	 EMPRESA	 BRASILEIRA	 DE	 SERVIÇOS	
HOSPITALARES	 -	 EBSERH	 em	 face	 de	 sentença	 prolatada	 pelo	 d.	 Juiz	Higor	Marcelino	
Sanchez,	Substituto	na	11ª	Vara	do	Trabalho	de	Natal	(ID.	cca4afe	-	fls.	315	e	ss.),	que	julgou	
procedentes	 os	 pedidos	 formulados	 por	 Rosimere	 Justino	 da	 Silva,	 para	 determinar	 que	 a	
reclamada	EBSERH	reduza	a	jornada	da	autora	sendo	suprimido	um	plantão	de	12	(doze)	horas	
por	semana,	a	partir	da	semana	subsequente	à	Decisão,	sob	pena	da	imposição	de	multa	diária	
correspondente	a	R$	150,00	(cento	e	cinquenta	reais)	por	dia,	ficando	a	jornada	da	reclamante	
reduzida	para	24	(vinte	e	quatro)	horas	semanais	que	pode	ser	adequada	pelas		partes,	por	meio	
de	acordo,	com	a	distribuição	do	tempo		em	dias	e	horários	diferentes	e,	em	caso	de	não	haver	
concordância	de	ambas	as	partes,	 	correspondendo	a	 	dois	plantões	de	12	horas;	autorizada,	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 115
ainda,	a	mudança,	pela	reclamada	EBSERH,	do		setor	da	reclamante	para	melhor	adequação	da	
prestação	de	serviço	ao	atendimento	público.	Condenou,	ainda,	a	reclamada	ao	pagamento	de	
honorários	de	sucumbência,	no	valor	de	R$	1.000,00	(um	mil	reais).	Concedeu	os	benefícios	
da	justiça	gratuita	à	reclamante	e,	à	reclamada,	os	benefícios	legalmente	concedidos	à	Fazenda	
Pública,	sendo	dispensado	o	recolhimento	de	custas	do	processo	e	o	depósito	recursal.
Em	suas	razões	de	recurso	(ID	a4694fe	-	fls.	340	e	ss.)	a	reclamada	arguiu	a	 incompetência	
da	Justiça	do	Trabalho	para	julgar	o	feito,	afirmando,	com	base	no	Tema	1143,	de	repercussão	
geral	 julgado	pelo	Supremo	Tribunal	Federal,	que	a	pretensão	da	 reclamante,	 contratada	no	
regime	da	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho,	 tem	por	base	a	 legislação	que	rege	o	pessoal	
enquadrado	no	regime	administrativo,	de	modo	que	a	competência	para	julgar	a	matéria	é	da	
Justiça	Comum.	Mencionou	a	concessão	dos	benefícios	da	Fazenda	Pública,	seguindo	a	linha	
de	julgamentos	proferidos	pelo	Supremo	Tribunal	Federal	e	pelo	Tribunal	Superior	do	Trabalho.	
Repetiu	que	a	reclamante	foi	contratada	por	empresa	pública	no	regime	celetista,	pelo	qual	não	
é	prevista	a	redução	de	jornada,	tendo	a	reclamante	embasado	seu	pedido	na	Lei	nº	8.036/90,	
aplicável	aos	servidores	públicos,	de	modo	que	a	redução	de	horário	implica	na	redução	salarial	
proporcional.	Destacou	a	inexistência	de	norma	coletiva	que	preveja	a	redução	de	jornada	da	
reclamante	para	acompanhar	tratamento	de	filho.	Afirmou	que	no	julgamento	do	caso	deve	ser	
observado	o	princípio	da	legalidade	e	na	falta	de	lei	específica	a	ser	aplicada	em	benefício	da	
reclamante,	seu	pedido	deve	ser	julgado	improcedente.	Alegou	que	as	sociedades	de	economia	
mista	e	as	empresas	públicas,	entidades	da	administração	indireta,	têm	regime	jurídico	próprio	
das	 empresas	 privadas,	 inclusive	 no	 que	 se	 refere	 aos	 direitos	 e	 às	 obrigações	 trabalhistas,	
consoanteprevisto	no	art.	173,	§1º,	 II,	da	Constituição	da	República,	obedecendo	às	 regras	
insertas	 na	Consolidação	 das	Leis	 do	Trabalho,	 não	 lhes	 sendo	 aplicada	 a	Lei	 nº	 8.112/90,	
que	 é	 destinada	 aos	 servidores	públicos	 integrantes	da	 administração	pública	 federal	 direta.	
Ressaltou	que	deve	ser	dada	prevalência	ao	interesse	público	sobre	o	particular,	discorrendo	
sobre	a	 inalterabilidade	unilateral	do	contrato	de	 trabalho	e	os	 limites	de	seu	poder	diretivo	
por	influxo	do	regime	de	direito	público,	que	impõe	o	respeito	aos	princípios	administrativos	
legais	e	constitucionais	e	a	observância	do	princípio	da	legalidade.	Aduziu	que	somente	poderia	
diminuir	a	jornada	da	reclamante	se	existente	norma	coletiva	neste	sentido,	e	se	reportou	ao	
art.	 503,	 da	Consolidação	das	Leis	 do	Trabalho	 e	 à	 previsão	 de	 correspondente	 diminuição	
remuneratória.	Disse	que	o	regime	especial	constitucional	de	proteção	à	pessoa	deficiente	não	
tem	o	condão,	por	si	só,	de	conferir	benefício	que	não	está	previsto	em	lei,	necessitando	de	
efetiva	ação	dos	órgãos	competentes	para	que	a	ausência	de	norma	jurídica	não	seja	obstáculo	
ao	atendimento	de	suas	necessidades	prioritárias	e	ponderou	que	a	atividade	desenvolvida	é	
essencial	 e	 de	 relevância	 pública,	 consoante	 previsão	 constitucional.	Referiu	 o	 princípio	 da	
separação	dos	poderes,	afirmando	que	o	Poder	Judiciário	não	pode	intervir	em	questões	que	
constituam	matéria	sob	reserva	de	governo	ou	que	consubstanciem	atos	funcionalmente	políticos,	
a	exemplo	da	jornada	de	trabalho	dos	empregados	públicos,	por	ser	matéria	que	se	insere	na	
esfera	de	organização	administrativa,	vinculada	à	competência	exclusiva	para	a	condução	do	
contrato	 de	 trabalho	 de	 seus	 empregados,	 decidindo-se	 as	 questões	 surgidas	 com	 base	 nos	
critérios	de	conveniência	e	oportunidade,	dentre	outros	princípios	administrativos.	Alegou	que	
a	 reclamante	não	comprovara	preencher	os	 requisitos	do	 art.	 790,	§§	 	 3º	 e	4º,	 da	CLT,	não	
demonstrando	auferir	salário	inferior	a	40	%	do	limite	máximo	dos	benefícios	do	Regime	Geral	
da	Previdência	Social,	nem	insuficiência	de	recursos	para	suportar	o	encargo		processual	e	disse	
que	a	reclamante	possui	dois	vínculos	públicos,	sendo	que	o	salário	da	Ebserh,	conforme	Fichas	
Financeiras	juntadas,	estão	muito	acima	da	média	salarial	do	brasileiro	comum,	não	cabendo	a	
concessão	do	benefício	da	justiça	gratuita	formulado	pela	reclamante.
	 A	reclamante	apresentou	contrarrazões	ao	recurso	ordinário	interposto	pela	reclamada	
(ID	aff21f4	-	fls.	382	e	ss.).
Não	houve	encaminhamento	do	processo	à	Procuradoria	Regional	do	Trabalho.
É	o	relatório.
VOTO:
 1. Conhecimento
	 1.1.	A	reclamada	EBSERH	interpôs	recurso	ordinário	tempestivamente	em	10/04/2024	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024116
(ID	a4694fe	-	fls.	340	e	ss.),	considerando	que	a	ciência	da	Decisão	se	deu	em	01/04/2024,	
consoante	informação	contida	no	sistema	PJE-JT.	O	recurso	ordinário	foi	subscrito	por	advogada	
habilitada	através	de	procuração	e	substabelecimento	insertos	nos	autos	(ID	5ff0ed6	-	fls.	333	
a	337).	Preparo	inexigível	ante	a	concessão	das	prerrogativas	da	Fazenda	pública	à	reclamada	
(ID	cca4afe	-	fls.	321).
	 1.2	A	reclamante,	nas	contrarrazões,	assevera	que	não	cabe	a	extensão	das	prerrogativas	
da	 Fazenda	 Pública	 à	 reclamada.	O	Tribunal	 Superior	 do	Trabalho	 já	 firmou	 entendimento	
no	sentido	da	equiparação	da	EBSERH	à	Fazenda	Pública	proferindo	julgados	neste	sentido,	
consoante	ementas	abaixo	transcritas:
 
“AGRAVO.	RECURSO	DE	REVISTA.	ACÓRDÃO	PUBLICADO	NA	VIGÊNCIA	
DA	LEI	Nº	13.467/2017.	EBSERH.	NATUREZA	JURÍDICA.	PRERROGATIVAS	
DA FAZENDA PÚBLICA. EXTENSÃO. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA . O 
Tribunal	Pleno	desta	Corte,	 ao	examinar	o	Processo	E-RR-252-19.2017.5.13.0002,	
no	dia	20/3/2023,	firmou	tese	no	sentido	de	que	a	EBSERH,	por	ter	como	finalidade	
a	 prestação	 de	 serviços	 públicos	 essenciais,	 ligados	 à	 saúde	 e	 à	 educação,	 além	
de	não	atuar	 em	 regime	de	 concorrência	 e	não	 reverte	 lucros	 à	União,	 faz	 jus	 aos	
privilégios	 próprios	 da	 Fazenda	 Pública	 referentes	 à	 isenção	 de	 recolhimento	 de	
custas	e	depósitos	recursais.	Decisão	regional	em	desarmonia	com	esse	entendimento.	
Dessa	 forma,	 correta	 a	 decisão	monocrática	 que	 conheceu	 do	 recurso	 de	 revista	 e	
afastou	 a	 deserção	 do	 recurso	 ordinário	 da	 parte	 reclamada.	Agravo	 não	 provido”	
(Ag-RRAg-10089-74.2021.5.03.0184,	5ª	Turma,	Relator	Ministro	Breno	Medeiros,	
DEJT	16/06/2023).
“A)	AGRAVO	DE	INSTRUMENTO.	RECURSO	DE	REVISTA.	PROCESSO	SOB	
A	ÉGIDE	DA	LEI	 13.467/2017	 .	 PRERROGATIVAS	DA	 FAZENDA	PÚBLICA.	
EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES - EBSERH. SERVIÇO 
PÚBLICO. EMPRESA PÚBLICA FEDERAL VINCULADA AO MINISTÉRIO 
DA EDUCAÇÃO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS GRATUITOS NA 
ÁREA DE SAÚDE NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E 
SERVIÇOS DE APOIO AO ENSINO EM HOSPITAIS PÚBLICOS FEDERAIS EM 
REGIME	NÃO	CONCORRENCIAL.	 EQUIPARAÇÃO	À	 FAZENDA	PÚBLICA.	
ADPF	 437/STF	 APLICADA	 POR	 ANALOGIA.	 Demonstrado	 no	 agravo	 de	
instrumento	 que	 o	 recurso	 de	 revista	 preenchia	 os	 requisitos	 do	 art.	 896	 da	 CLT,	
dá-se	 provimento	 ao	 agravo	 de	 instrumento,	 para	 melhor	 análise	 da	 arguição	 de	
violação	do	art.	173,	§	1º,	II,	da	Constituição	Federal.	Agravo	de	instrumento	provido.	
B) RECURSO DE REVISTA. PRERROGATIVAS DA FAZENDA PÚBLICA. 
EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES - EBSERH. SERVIÇO 
PÚBLICO. EMPRESA PÚBLICA FEDERAL VINCULADA AO MINISTÉRIO DA 
EDUCAÇÃO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS GRATUITOS NA ÁREA 
DE SAÚDE NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS E SERVIÇOS 
DE APOIO AO ENSINO EM HOSPITAIS PÚBLICOS FEDERAIS EM REGIME 
NÃO	CONCORRENCIAL.	EQUIPARAÇÃO	À	FAZENDA	PÚBLICA.	ADPF	437/
STF	APLICADA	POR	ANALOGIA	 .	A	 jurisprudência	 desta	Corte	 era	 no	 sentido	
de	 que	 as	 empresas	 públicas	 e	 sociedades	 de	 economia	 mista,	 pessoas	 de	 direito	
público	 privado,	 ainda	 que	 desenvolvam	 atividade	 relevante	 e	 de	 caráter	 social,	
não	se	enquadravam	no	conceito	constitucional	e	 legal	de	Fazenda	Pública,	não	se	
beneficiando	das	prerrogativas	previstas	no	Decreto-lei	nº	779/69	ou	da	Lei	9.494/97,	
nos	termos	da	Súmula	170/TST	e	do	art.	173,	parágrafos	1º,	II,	e	2º,	da	CF.	Contudo	
,	a	partir	do	julgamento	da	ADPF	473/CE/STF,	de	Relatoria	da	Ministra	Rosa	Weber,	
publicado	no	DJ	de	5.10.2020,	em	que	se	reconheceu	que	a	Empresa	de	Assistência	
Técnica	e	Extensão	do	Ceará	-	EMATERCE,	entidade	estatal	prestadora	de	serviço	
público,	sem	fins	lucrativos,	possui	as	prerrogativas	processuais	da	Fazenda	Pública,	a	
matéria	deve	ser	analisada	não	apenas	sob	o	enfoque	da	natureza	jurídica	da	entidade,	
mas	 também	sob	o	prisma	do	 caráter	 da	 atividade	 realizada	 .	No	 caso	 concreto,	 a	
Empresa	Brasileira	de	Serviços	Hospitalares	-	EBSERH	é	uma	entidade	que	atua	em	
regime	não	concorrencial	e	que	possui	por	finalidade	a	prestação	de	serviços	gratuitos	
de	assistência	médico-hospitalar,	ambulatorial	e	de	apoio	diagnóstico	e	 terapêutico	
à	comunidade,	 inseridos	 integral	e	exclusivamente	no	âmbito	do	Sistema	Único	de	
Saúde	 -	SUS	 ,	 assim	como	a	prestação,	 às	 instituições	públicas	 federais	de	ensino	
ou	instituições	congêneres,	de	serviços	de	apoio	ao	ensino,	à	pesquisa	e	à	extensão,	
ao	 ensino-aprendizagem	 e	 à	 formação	 de	 pessoas	 no	 campo	 da	 saúde	 pública,	
observada,	nos	 termos	do	a	 autonomia	universitária	 (art.	 3º,	 caput	 ,	 e	§	1º,	 da	Lei	
12.550/2011).	Além	disso,	a	EBSERH	possui	capital	integralmente	sob	a	propriedade	
da	União,	devendo	seu	lucro	líquido	ser	reinvestido	para	atendimento	do	objeto	social	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 117
da	 empresa,	 excetuadas	 as	 parcelas	 decorrentes	 da	 reserva	 legal	 e	 da	 reserva	 para	
contingência,	na	forma	do	art.	8º,	parágrafo	único,	da	Lei	12.550/2011.	Assim,	tendo	
em	vista	que	a	EBSERH	tem	por	finalidade	a	prestação	de	serviço	públicoessencial,	
em	 regime	 não	 concorrencial,	 sendo	 constituída	 por	 capital	 integralmente	 sob	 a	
propriedade	da	União,	a	Recorrente	faz	jus	à	aplicação	das	prerrogativas	processuais	
concedidas	 à	Fazenda	Pública	 .	 Julgados	 desta	Corte.	Logicamente	 que	 o	 referido	
entendimento	 não	 altera	 a	 natureza	 jurídica	 da	Reclamada	 -	 que	 preserva,	 para	 os	
demais	fins,	sua	condição	de	empresa	pública	federal,	submetida	ao	regime	jurídico	
próprio	das	empresas	privadas,	nos	termos	do	art.	173,	§	1º,	II,	da	CF.	Tampouco	lhe	
confere	prerrogativas	exacerbadas	da	Fazenda	Pública,	tais	como	o	prazo	em	dobro	
ou	em	quádruplo	para	as	suas	manifestações	processuais.	Assim,	as	prerrogativas	da	
Fazenda	Pública	aplicáveis	à	Recorrente	consistem	na	isenção	das	custas	processuais,	
na	inexigibilidade	do	depósito	recursal	e	na	execução	por	meio	de	precatório	.	Recurso	
de	 revista	 conhecido	 e	 provido”	 (RR-11174-34.2020.5.18.0016,	 3ª	Turma,	 Relator	
Ministro	Mauricio	Godinho	Delgado,	DEJT	02/06/2023).
 
	 Assim,	não	é	exigível	o	preparo	do	recurso	ordinário.
	 1.3	Conheço	do	recurso	ordinário	interposto	pela	reclamada	EBSERH.
 2. Mérito
	 2.1.	A	reclamada	suscita	a	incompetência	da	Justiça	do	Trabalho	para	julgar	o	feito	com	
vistas	ao		entendimento	do	Supremo	Tribunal	Federal	expresso	no	Tema	1143,	de	repercussão	
geral,	alegando	que	a	pretensão	da	reclamante,	contratada	no	regime	da	Consolidação	das	Leis	
do	Trabalho,	tem	por	base	a	legislação	que	rege	o	pessoal	enquadrado	no	regime	administrativo,	
de	modo	que	a	competência	para	julgar	a	matéria	é	da	Justiça	Comum.
A	matéria	surgiu	apenas	nas	razões	de	recurso,	todavia	em	face	do	disposto	no	art.	64,	§	1º,	do	
Código	de	Processo	Civil,	ora	utilizado	de	forma	supletiva,	não	há	supressão	de	instância	ou		
inovação	recursal.
No	Tema	1143,	o	STF	analisou	a	competência	para	julgar	ação	ajuizada	por	servidor	celetista	
contra	o	Poder	Público,	quando	é		pleiteada	prestação	de	natureza	administrativa,	firmando	a	
seguinte	tese:	A	Justiça	Comum	é	competente	para	julgar	ação	ajuizada	por	servidor	celetista	
contra	o	Poder	Público,	em	que	se	pleiteia	parcela	de	natureza	administrativa	.
	 A	ementa	do	acórdão,	proferido	no	RE1288440/SP,	é	a	seguinte:
 
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E DO TRABALHO. RECURSO 
EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. DEMANDA PROPOSTA 
POR EMPREGADO PÚBLICO CELETISTA CONTRA O PODER PÚBLICO. 
PRESTAÇÃO DE NATUREZA ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA .
1.	Recurso	extraordinário,	com	repercussão	geral	reconhecida,	em	que	se	discute	a	
competência	da	Justiça	do	Trabalho	ou	da	Justiça	Comum	para	julgar	ação	proposta	
por	servidor	celetista	contra	o	Poder	Público,	na	qual	se	pleiteia	prestação	de	natureza	
administrativa.
2.	Tratando-se	de	parcela	de	natureza	administrativa,	a	Justiça	Comum	é	o	ramo	do	
Poder	Judiciário	que	tem	expertise	para	apreciar	a	questão.	Nesses	casos,	embora	o	
vínculo	com	o	Poder	Público	seja	de	natureza	celetista,	a	causa	de	pedir	e	o	pedido	
da	 ação	 não	 se	 fundamentam	 na	 legislação	 trabalhista,	mas	 em	 norma	 estatutária,	
cuja	apreciação	-	consoante	já	decidido	por	esta	Corte	ao	interpretar	o	art.	114,	I,	da	
Constituição	-	não	compõe	a	esfera	de	competência	da	Justiça	do	Trabalho.
3.	Recurso	extraordinário	a	que	se	nega	provimento,	com	a	fixação	da	seguinte	tese:	A	
Justiça	Comum	é	competente	para	julgar	ação	ajuizada	por	servidor	celetista	contra	o	
Poder	Público,	em	que	se	pleiteia	parcela	de	natureza	administrativa	.
4.	Modulação	dos	efeitos	da	decisão	para	manter	na	Justiça	do	Trabalho,	até	o	trânsito	
em	julgado	e	correspondente	execução,	os	processos	em	que	houver	sido	proferida	
sentença	de	mérito	até	a	data	de	publicação	da	presente	ata	de	julgamento. 
 
	 No	 leading	 case,	 as	 autoras,	 servidoras	 do	 Hospital	 das	 Clínicas	 da	 Faculdade	 de	
Medicina	da	Universidade	de	São	Paulo,	regidas	pelo	regime	celetista,	pleiteavam	o	recálculo	
de	quinquênios	sobre	os	vencimentos	integrais,	com	base		em	normas	de	direito	administrativo,	
quais	sejam,	a	Lei	nº	10.261/1968,	do	Estado	de	São	Paulo,	que	institui	o	regime	jurídico	dos	
funcionários	públicos	civis	daquele	ente	 federativo,	e	o	art.129	da	Constituição	Estadual.	O	
entendimento	adotado	decorreu	que	a	causa	de	pedir	e	o	pedido	da	ação	se	fundamentam	em	
norma	estatutária.		No	caso	em	análise,	o	pedido	é	“a	redução	da	sua	carga	horária	em	50%	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024118
(cinquenta	 por	 cento),	 sem	 redução	de	 salário”	 sendo	 citadas	 nos	 fundamentos,	 disposições	
da	Lei	8.112.	Todavia,	não	se	trata	de	típico	pedido	estatutário,	mas	apenas	com	fundamento	
analógico	nas	normas	do	regime	estatutário.
	 Assim,	não	há	aderência	ao	entendimento	do	Supremo	Tribunal	Federal	ao	caso,	sendo,	
por	conseguinte,	da	competência	da	Justiça	do	Trabalho.
	 2.2.	A	reclamada	discute	a	concessão	dos	benefícios	da	justiça	gratuita	à	reclamante,	
asseverando	que	ela	tem	rendimentos	superiores	ao	dobro	do	mínimo	legal,	de	modo	que	não	se	
enquadra	nos	requisitos	estabelecidos	pelo	art.	790,	§	3º,	da	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho	
e	pode	pagar	as	custas	do	processo.
	 O	d.	Julgador	de	primeiro	grau	consignou,	sobre	a	matéria,	os	seguintes	fundamentos	
(ID	cca4afe	-	fls.	319	e	320):
 
“A.2.	BENEFÍCIOS	DA	JUSTIÇA	GRATUITA
Pela	 nova	 sistemática	 imposta	 pela	 Reforma	 Trabalhista,	 para	 a	 concessão	 dos	
benefícios	da	justiça	gratuita	a	parte	requerente	deverá	possuir	salário	igual	ou	inferior	
a	40%	(quarenta	por	cento)	do	teto	do	Regime	Geral	de	Previdência	Social,	ou	ainda,	
o	referido	benefício	poderá	ser	deferido	à	parte	que,	mesmo	auferindo	remuneração	
superior	aos	limites	anteriormente	citados,	comprove	a	insuficiência	de	recursos.
Nesse	passo,	verifico	que	os	contracheques	apresentados	pela	reclamante	demonstram	
uma	remuneração	mensal	superior	ao	limite	de	40%	(quarenta	por	cento)	do	teto	do	
Regime	Geral	de	Previdência	Social.
Ocorre	que	os	gastos	por	ela	narrados	com	assistência	médica	e	de	profissionais	da	
saúde	para	os	cuidados	com	seus	filhos	certamente	fazem	com	que	a	reclamante	não	
tenha	condições	de	arcar	com	os	custos	desta	demanda	judicial.
Assim,	tenho	que	a	autora	comprovou	que	necessita	da	assistência	judiciária.	Dessa	
forma,	defiro	o	pedido	de	benefício	da	justiça	gratuita,	formulado	pelo	reclamante,	já	
que	preenchidos	os	requisitos	contidos	no	art.	790,	§3º,	da	CLT.”
 
	 O	direito	aos	benefícios	da	justiça	gratuita	pode	ser	requerido	e	analisado	em	qualquer	
instância	(art.	790,	§	3º,	CLT).	Na	petição	inicial,	a	reclamante	afirmou	o	cabimento	da	assistência	
judiciária	em	seu	favor	(ID	2cf62d9	-	fls.	3	e	ss.),	alegando	que	toda	renda	que	auferia	estava	
comprometida	com	despesas	fixas	e	variáveis	em	favor	de	sua	família,	asseverando	ser	pessoa	
física	e	não	ter	condições	de	arcar	com	os	custos	processuais	sem	prejuízo	de	seu	sustento	e	de	
sua	família.
	 Nos	termos	do	artigo	790,	§	4º,	da	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho,	o	benefício	da	
justiça	gratuita	também	deve	ser	concedido	“à	parte	que	comprovar	insuficiência	de	recursos	
para	o	pagamento	das	custas	do	processo”,	regra	que	está	em	sintonia	com	o	que	estabelece	o	
Código	de	Processo	Civil	sobre	a	matéria,	em	seus	artigos	98	e	99,	presumindo-se	verdadeira	a	
alegação	de	insuficiência	deduzida	pela	pessoa	natural,	nos	termos	do	§	3º,	artigo	99,	também	
do	Código	de	Processo	Civil,	de	aplicação	subsidiária	ao	processo	do	trabalho.
	 Ademais,	o	entendimento	do	Tribunal	Superior	do	Trabalho	é	de	que	mesmo	após	a	
vigência	da	Lei	nº	13.467/2017,	que	modificou	a	redação	do	§	3º,	e	incluiu	o	§	4º	ao	artigo	790,	
da	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho,	a	simples	declaração	de	hipossuficiência	é	bastante	para	
a	concessão	do	benefício	da	Justiça	Gratuita.
 
	 Nesse	sentido	o	seguinte	julgado:
 
AGRAVO	 EM	 RECURSO	 DE	 REVISTA	 REGIDO	 PELA	 LEI	 Nº	 13.467/2017.	
BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA. COMPROVAÇÃO. AÇÃO AJUIZADA 
NA	 VIGÊNCIA	 DA	 LEI	 Nº	 13.467/2017.	 DECLARAÇÃO	 PROFERIDA	 POR	
PESSOA	 NATURAL.	 Não	 mereceprovimento	 o	 agravo	 que	 não	 desconstitui	 os	
fundamentos	 da	 decisão	 monocrática	 que	 deu	 provimento	 ao	 recurso	 de	 revista	
interposto	 pelo	 reclamante	 para	 deferir-lhe	 os	 benefícios	 da	 gratuidade	 de	 justiça.	
Com	 efeito,	 o	 entendimento	 sedimentado	 neste	Tribunal	 Superior	 é	 no	 sentido	 de	
que	a	comprovação	a	que	alude	o	§	4º	do	artigo	790	da	CLT	pode	ser	feita	mediante	
declaração	 de	 miserabilidade	 da	 parte.	 Nesse	 contexto,	 a	 simples	 afirmação	 do	
reclamante	 de	 que	 não	 tem	 condições	 financeiras	 de	 arcar	 com	 as	 despesas	 do	
processo	autoriza	a	concessão	da	Justiça	gratuita	à	pessoa	natural.	Agravo	desprovido.	
(Ag-RR-2057-06.2017.5.20.0004,	 2ª	 Turma,	 Relator	 Ministro	 José	 Roberto	 Freire	
Pimenta,	DEJT	06/05/2022).
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 119
 
	 Assiste,	pois,	à	reclamante	o	direito	à	gratuidade	de	justiça,	ficando	ela	dispensada	do	
pagamento	das	custas	processuais.	Ressalta-se	que,	além	da	suficiência	de	declaração,	constata-
se	pelo	o	exame	da	tabela	de	gastos	apresentada	pela	reclamante,	corroborada	pela	documentação	
que	trouxe	aos	autos,	junto	à	petição	inicial,	o	dispêndio	de	consideráveis	quantias	com	planos	
de	saúde	e	com	o	pagamento	de	terapias	necessária	ao	tratamento	de	seu	filho,	de	modo	que	
não	 lhe	 sobram	 largos	 recursos	 para	 atender	 despesas	 cotidianas	 e	 despesas	 processuais,	
principalmente	se	considerarmos	os	gastos	com	o	tratamento	médico	de	seu	dependente,	o	qual	
foi	comprovado	nos	autos.	Cabe	acrescentar	que	eventual	prova	em	contrário	cabe	à	empresa	
reclamada,	 sendo	 descabida	 a	 pretensão	mesmo	que	 afirmada	 a	 existência	 de	 dois	 vínculos	
funcionais	da	reclamante.
	 2.3.	A	reclamada	alega	que	não	cabe	a	redução	da	jornada	de	trabalho	da	reclamante	pois	
as	sociedades	de	economia	mista	e	as	empresas	públicas,	entidades	da	administração	indireta,	
têm	 regime	 jurídico	 próprio	 das	 empresas	 privadas,	 inclusive	 no	 que	 se	 refere	 aos	 direitos	
e	 às	 obrigações	 trabalhistas,	 o	 que	 exclui	 a	 incidência	 das	 disposições	 da	 Lei	 nº	 8.112/90.	
Discorre	sobre	a	inalterabilidade	unilateral	do	contrato	de	trabalho,	a	necessária	observância	
dos	 princípios	 administrativos	 legais	 e	 constitucionais,	 e	 a	 ausência	 de	 norma	 jurídica	 que	
estabeleça	o	benefício	para	a	pessoa	deficiente,	não	cabendo	assim	a	flexibilização	do	horário	
de	trabalho	para	a	reclamante.
	 O	d.	Julgador	de	primeiro	grau	proferiu	a	sentença	com	os	seguintes	fundamentos	(ID	
cca4afe	-	fls.	315	e	ss.):
 
“A.	MÉRITO
A.1.	ADEQUAÇÃO	DA	CARGA	HORÁRIA	DA	RECLAMANTE
A	arte	autora	informa	que	é	empregada	pública	federal	e	que	possui	um	filho	portador	
de	Transtorno	do	Espectro	Autista	(CID10:	F84	e	CID11:	6A02)	e	(CID	10:	F71)).
Sustenta	 que	 a	 criança	 necessita	 de	 tratamento	 terapêutico	 ocupacional,	 com	
envolvimento	 da	 genitora	 e	 de	 todo	 o	 contexto	 social	 e	 familiar,	 bem	 como	
acompanhamento	por	diversos	profissionais	da	área	de	saúde.	Conclui	dizendo	que	é	
preciso	um	acompanhamento	multidisciplinar	no	cuidado	com	o	menor.
Em	razão	desse	contexto,	requer	a	redução	da	sua	carga	horária	em	50%	(cinquenta	
por	cento),	sem	redução	de	salário.
Analiso.
Inicialmente,	a	Convenção	sobre	os	Direitos	das	Pessoas	com	Deficiência	aprovada	
por	meio	do	Decreto	n.	186/2008,	com	força	de	Emenda	Constitucional,	estabelece,	
como	princípio	geral,	o	respeito	pelo	desenvolvimento	das	capacidades	das	crianças	
com	deficiência,	além	de	prever	que	o	portador	de	deficiência	tem	o	direito	de	gozar	
do	estado	de	saúde	mais	elevado	possível	e	de	melhoria	contínua	de	suas	condições	
de	vida.	Cito	o	art.	3	da	Convenção:
“Artigo	3
Princípios	gerais
Os	princípios	da	presente	Convenção	são:
a)	O	respeito	pela	dignidade	inerente,	a	autonomia	individual,	inclusive	a	liberdade	de	
fazer	as	próprias	escolhas,	e	a	independência	das	pessoas.
b)	A	não-discriminação;
c)	A	plena	e	efetiva	participação	e	inclusão	na	sociedade;
d)	O	respeito	pela	diferença	e	pela	aceitação	das	pessoas	com	deficiência	como	parte	
da	diversidade	humana	e	da	humanidade;
e)	A	igualdade	de	oportunidades;
f)	A	acessibilidade;
g)	A	igualdade	entre	o	homem	e	a	mulher;
h)	O	respeito	pelo	desenvolvimento	das	capacidades	das	crianças	com	deficiência	e	
pelo	direito	das	crianças	com	deficiência	de	preservar	sua	identidade.
Já	 no	 preâmbulo	 da	Convenção	 há	 a	 citação	 de	 que	 “a	 família	 é	 o	 núcleo	 natural	
e	 fundamental	 da	 sociedade	 e	 tem	 o	 direito	 de	 receber	 a	 proteção	 da	 sociedade	 e	
do	Estado	 e	 de	 que	 as	 pessoas	 com	deficiência	 e	 seus	 familiares	 devem	 receber	 a	
proteção	e	a	assistência	necessárias	para	tornar	as	famílias	capazes	de	contribuir	para	
o	exercício	pleno	e	equitativo	dos	direitos	das	pessoas	com	deficiência”.
Nesse	sentido,	fica	claro	que	o	Estado	Brasileiro,	ao	aprovar,	nos	termos	do	§3º	do	
art.	5º	da	Constituição	Federal,	o	texto	da	Convenção	sobre	os	Direitos	das	Pessoas	
com	Deficiência	e	de	seu	Protocolo	Facultativo,	obrigou-se	a	cumprir	os	termos	ali	
expostos,	inclusive	com	força	de	emenda	constitucional.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024120
Além	 disso,	 no	 texto	 infraconstitucional,	 o	 Estatuto	 da	 Criança	 e	 do	Adolescente	
(Lei	n.	8.069/90)	estabelece	ser	dever	da	família	e	do	poder	público	assegurar	com	
absoluta	prioridade	a	efetivação	dos	direitos	à	dignidade	e	convivência	 familiar	da	
criança	(art.4º),	com	especial	proteção	à	criança	com	deficiência	(art.	70-A,	parágrafo	
único),	sob	pena	de	responder	por	sua	negligência.
Tais	 dispositivos	 garantem	 a	 adoção	 de	 medida	 destinada	 à	 proteção	 da	 criança	
com	deficiência	que	necessita	 especial	 atenção	da	mãe	 trabalhadora,	 justificando	a	
aplicação	analógica	ao	caso	da	§3º	do	art.	98	da	Lei	n.	8112/90:
Art.	98.	Será	concedido	horário	especial	ao	servidor	estudante,	quando	comprovada	a	
incompatibilidade	entre	o	horário	escolar	e	o	da	repartição,	sem	prejuízo	do	exercício	
do	cargo.
§1º	Para	efeito	do	disposto	neste	artigo,	será	exigida	a	compensação	de	horário	no	
órgão	ou	entidade	que	tiver	exercício,	respeitada	a	duração	semanal	do	trabalho.
§2º	 Também	 será	 concedido	 horário	 especial	 ao	 servidor	 portador	 de	 deficiência,	
quando	comprovada	a	necessidade	por	 junta	médica	oficial,	 independentemente	de	
compensação	de	horário.
§3º	As	disposições	constantes	do	§	2º	são	extensivas	ao	servidor	que	tenha	cônjuge,	
filho	ou	dependente	com	deficiência.
Logo,	 a	 lei	 13.370/16	 alterou	 a	 lei	 8.112/90	 para	 estender	 ao	 servidor,	 que	 tenha	
cônjuge,	 filho	 ou	 dependente	 com	 deficiência,	 o	 direito	 à	 redução	 da	 jornada	 de	
trabalho,	sem	necessidade	de	compensação	de	horário.
No	presente	caso,	o	que	vejo	é	uma	situação	de	extrema	necessidade,	já	que	a	autora	
possui	um	filho	com	Transtorno	do	Espectro	Autista,	que	requer	atenção	redobrada	na	
condução	dos	tratamentos	terapêuticos.
No	presente	caso,	este	magistrado	tem	que	adequar	os	preceitos	legais	que	determinam	
ao	Estado	brasileiro	uma	atenção	especial	às	pessoas	com	deficiência,	inclusive	aos	
entes	privados,	com	extensão	horizontal	dos	direitos	fundamentais,	ao	atendimento	
público,	propiciando	a	continuidade	dos	serviços	e	a	eficiência	deles.
Nesse	sentido,	não	há	se	falar	em	princípio	da	legalidade	e	ausência	de	norma	que	
dê	 subsídio	 ao	 requerimento	 da	 autora,	 uma	vez	 que	 existe	 preceito	 com	 força	 de	
norma	constitucional	 que	 ampara	o	desenvolvimento	das	 capacidades	das	 crianças	
com	deficiência	e	garante	esse	direito	à	família	que	o	acompanha,	como	medida	de	
saúde	para	o	efetivo	desenvolvimento.
Enfim,	entendo	que	o	Estado	Brasileiro	trouxe	uma	proteção	maior	às	pessoas	com	
deficiência,	elencando,	como	política	pública,	tanto	a	proteção,	como	o	cuidado	que	se	
exige	a	esses	cidadãos,	assegurando	a	máxima	efetividade	ao	princípio	da	dignidade	
humana.
Assim,	entendo	que	não	se	trata	de	uma	questão	individual	apenas	da	reclamante,	mas	
simde	uma	medida	de	saúde	pública,	aplicada	também	ao	regime	privado,	conforme	
a	eficácia	horizontal	dos	direitos	fundamentais.
Por	todo	o	exposto,	tenho	que	a	reclamante	tem	o	direito	à	adequação	de	sua	jornada,	
para	garantir	uma	real	assistência	ao	seu	filho	deficiente,	tudo	com	fulcro	no	art.	8º	
da	CLT,	no	Princípio	da	Dignidade	da	Pessoa	Humana	e	nas	normas	que	garantem	
especial	proteção	à	criança	com	deficiência.
Enfim,	aplico	analogicamente	ao	caso	o	§3º	do	art.	98	da	Lei	n.	8112/90	para	confirmar	
a	tutela	anteriormente	deferida	e	julgar	procedente	o	pedido.
Dessa	forma,	levando	em	consideração	o	depoimento	das	partes,	entendo	ser	possível	
a	adequação	do	horário	da	reclamante,	de	forma	que	julgo	procedente	o	pedido,	para	
ratificar	 a	 tutela	 anteriormente	deferida	e	determinar	que	a	EBSERH	proceda	com	
a	redução	da	jornada	da	autora	da	seguinte	forma:	a	autora	deverá	ter	reduzido	um	
plantão	de	12	horas	por	semana,	iniciando-se	a	partir	da	próxima	semana,	tudo	sob	
pena	de	incidência	de	multa	diária	de	R$	150,00	(cento	e	cinquenta	reais)	por	dia.
Dessa	forma,	reduzo	a	jornada	da	reclamante	de	36	horas	para	24	horas	semanais.
As	 partes	 podem,	 em	 comum	 acordo,	 adequar	 a	 jornada	 de	 24	 horas	 acima	
fixada,	distribuindo	em	dias	e	horários	diferentes,	desde	que	ambas	Caso	não	haja	
concordância	de	ambas	as	partes,	concordem.	deverão	observar	a	jornada	fixada	por	
este	magistrado,	qual	seja,	dois	plantões	de	12	horas	por	semana.
Poderá	a	reclamada	EBSERH	adotar	a	mudança	de	setor	da	reclamante	para	melhor	
adequação	da	prestação	de	serviço	ao	atendimento	público.”
 
	 O	Supremo	Tribunal	Federal,	no	julgamento	do	Tema	1097	-	RG,	firmou	entendimento	
positivo	acerca	do	direito	à	 redução	da	carga	horária	de	servidor	público	que	 tenha	filho	ou	
dependente	portador	de	deficiência,	com	fixação	da	 tese	de	repercussão	geral	 (RE	1237867,	
segredo	de	justiça,	Relator	Ministro	Ricardo	Lewandowski).
	 No	acórdão	da	Suprema	Corte,	ostenta	os	fundamentos:
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 121
 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS 
DIREITOS	 DAS	 PESSOAS	 COM	 DEFICIÊNCIA.	 TRATADO	 EQUIVALENTE	
À EMENDA CONSTITUCIONAL. PROTEÇÃO INTEGRAL E PRIORITÁRIA À 
CRIANÇA	E	AO	ADOLESCENTE.	LEI	12.764/2012.	POLÍTICA	NACIONAL	DE	
PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PESSOA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO 
AUTISTA. PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA DA FAMÍLIA DE PESSOAS COM 
DEFICIÊNCIA. REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO SEM ALTERAÇÃO 
NOS VENCIMENTOS. SERVIDORA ESTADUAL CUIDADORA DE FILHO 
AUTISTA. INEXISTÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESTADUAL. ANALOGIA 
AO	ART.	 98,	 §	 3°,	DA	LEI	 8.112/1990.	 LEGITIMIDADE	DA	APLICAÇÃO	DE	
LEGISLAÇÃO	FEDERAL	QUANDO	A	OMISSÃO	ESTADUAL	OU	MUNICIPAL	
OFENDE	 DETERMINAÇÃO	 CONSTITUCIONAL	 AUTOAPLICÁVEL	 QUE	
NÃO ACARRETE AUMENTO DE GASTOS AO ERÁRIO. PRINCÍPIO DA 
IGUALDADE	SUBSTANCIAL.	RECURSO	EXTRAORDINÁRIO	A	QUE	SE	DÁ	
PROVIMENTO. FIXAÇÃO DE TESE DE REPERCUSSÃO GERAL. I - A Carta 
Política	 de	 1988	fixou	 a	 proteção	 integral	 e	 prioritária	 à	 criança	 e	 ao	 adolescente,	
cujas	garantias	têm	sido	reiteradamente	positivadas	em	nossa	legislação,	a	exemplo	
do	 Estatuto	 da	 Criança	 e	 do	Adolescente	 (Lei	 8069/1990)	 e	 da	 promulgação	 da	
Convenção	Internacional	sobre	os	Direitos	da	Criança	(Decreto	99.170/1990).	II	-	A	
Política	Nacional	de	Proteção	dos	Direitos	da	Pessoa	 com	Transtorno	do	Espectro	
Autista,	no	§	2°	do	art.	1°	da	Lei	12.764/2012,	estipulou	que	eles	são	considerados	
pessoas	com	deficiência,	para	 todos	os	efeitos	 legais.	Assim,	é	 incontestável	que	a	
Convenção	Internacional	sobre	os	Direitos	da	Pessoa	com	Deficiência	e	a	Lei	Brasileira	
de	Inclusão	da	Pessoa	com	Deficiência	aplicam-se	também	a	eles.	III	-	A	Convenção	
Internacional	 sobre	 os	Direitos	 das	 Pessoas	 com	Deficiência	 (CDPD)	 foi	 assinada	
pelo	Brasil	e,	por	ter	sido	aprovada	de	acordo	com	os	ritos	previstos	no	art.	5°,	§	3°	da	
Constituição	Federal	de	1988,	suas	regras	são	equivalentes	a	emendas	constitucionais,	
o	que	reforça	o	compromisso	internacional	assumido	pelo	País	na	defesa	dos	direitos	
e	garantias	das	pessoas	com	deficiência.	IV	-	A	CDPD	tem	como	princípio	geral	o	
“respeito	 pelo	 desenvolvimento	 das	 capacidades	 das	 crianças	 com	 deficiência	 e	
pelo	direito	das	crianças	com	deficiência	de	preservar	sua	identidade”	(art.	3°,	h)	e	
determina	que,	nas	ações	relativas	àquelas	com	deficiência,	o	superior	interesse	dela	
receberá	consideração	primordial	(art.	7°,	2).	V	-	No	Preâmbulo	(item	X),	o	Tratado	é	
claro	ao	estabelecer	que	a	família,	núcleo	natural	e	fundamental	da	sociedade,	tem	o	
direito	de	receber	não	apenas	a	proteção	de	todos,	mas	também	a	assistência	necessária	
para	torná-la	capaz	de	contribuir	para	o	exercício	pleno	e	equitativo	dos	direitos	das	
pessoas	 com	 deficiência.	 VI	 -	 Os	 Estados	 signatários	 obrigam-se	 a	 “adotar	 todas	
as	 medidas	 legislativas,	 administrativas	 e	 de	 qualquer	 outra	 natureza,	 necessárias	
para	a	realização	dos	direitos	reconhecidos	na	presente	Convenção”	(art.	4°,	a).	VII	
-	A	omissão	do	Poder	Público,	 portanto,	 não	pode	 justificar	 afronta	 às	 diretrizes	 e	
garantias	constitucionais.	Assim,	a	inexistência	de	lei	estadual	específica	que	preveja	
a	redução	da	jornada	de	servidores	públicos	que	tenham	filhos	com	deficiência,	sem	
redução	 de	 vencimentos,	 não	 serve	 de	 escusa	 para	 impedir	 que	 seja	 reconhecido	
a	 elas	 e	 aos	 seus	 genitores	 o	 direito	 à	 dignidade	 da	 pessoa	 humana	 e	 o	 direito	 à	
saúde.	VIII	 -	A	convivência	e	acompanhamento	familiar	para	o	desenvolvimento	e	
a	inclusão	das	pessoas	com	deficiência	são	garantidos	pelas	normas	constitucionais,	
internacionais	 e	 infraconstitucionais,	portanto,	deve-se	 aplicar	o	melhor	direito	 em	
favor	da	pessoa	com	deficiência	e	de	seus	cuidadores.	IX	-	O	Superior	Tribunal	de	
Justiça	já	reconheceu	que	é	legítima	a	aplicação	da	Lei	8.112/1990	nos	casos	em	que	
a	legislação	estatal	e	municipal	for	omissa	em	relação	à	determinação	constitucional	
autoaplicável	 que	 não	 gere	 aumento	 ao	 erário.	 Precedentes.	X	 -	Tendo	 em	vista	 o	
princípio	 da	 igualdade	 substancial,	 previsto	 tanto	 em	 nossa	 Carta	 Constitucional	
quanto	na	Convenção	Internacional	sobre	o	Direito	das	Pessoas	com	Deficiência,	se	
os	servidores	públicos	federais,	pais	ou	cuidadores	legais	de	pessoas	com	deficiência	
têm	o	direito	a	horário	especial,	sem	a	necessidade	de	compensação	de	horário	e	sem	
redução	de	vencimentos,	os	servidores	públicos	estaduais	e	municipais	em	situações	
análogas	também	devem	ter	a	mesma	prerrogativa.	XI	-	Recurso	extraordinário	a	que	
se	dá	provimento.Fixação	de	tese:	“Aos	servidores	públicos	estaduais	e	municipais	é	
aplicado,	para	todos	os	efeitos,	o	art.	98,	§	2°	e	§	3°,	da	Lei	8.112/1990”.
	 Diante	disso,	 considerada	a	garantia	à	criança,	 com	absoluta	prioridade,	do	direito	à	
vida	e	à	 saúde,	como	dever	da	 família,	da	sociedade	e	do	Estado,	enunciada	no	art.	227	da	
CRFB;	e	os	fundamentos	expressos	pelo	STF,	em	que	avulta	a	Convenção	Internacional	sobre	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024122
os	Direitos	das	Pessoas	com	Deficiência	(CDPD)	na	qual	há	como	princípio	geral	o	“respeito	
pelo	desenvolvimento	das	capacidades	das	crianças	com	deficiência	e	pelo	direito	das	crianças	
com	deficiência	de	preservar	sua	identidade”	(art.	3°,	h)	e	determina	que,	nas	ações	relativas	
àquelas	com	deficiência,	o	 superior	 interesse	dela	 receberá	consideração	primordial	 (art.	7°,	
2)	e	a	disposição	de	que	a	família,	núcleo	natural	e	fundamental	da	sociedade,	tem	o	direito	
de	receber	não	apenas	a	proteção	de	todos,	mas	também	a	assistência	necessária	para	torná-la	
capaz	de	contribuir	para	o	exercício	pleno	e	equitativo	dos	direitos	das	pessoas	com	deficiência,	
cabe	a	redução	da	carga	horária	da	reclamante.
	 É	preciso	destacar	que	a	Suprema	Corte	evidenciou	que	a	omissão	do	Poder	Público,	
na	 edição	 de	 lei	 queassegure	 a	 redução	da	 jornada	 para	 servidores	 que	 tenham	filhos	 com	
deficiência,	 não	 pode	 redundar	 em	 negativa	 do	 direito	 a	 eles,	 em	 virtude	 do	 princípio	 da	
igualdade	substancial.	Neste	sentido,	a	igualdade	significa	que	-	“todos,	indistintamente,	têm	o	
direito	de	ser,	igualmente,	governados	pelas	mesmas	leis”	(Edgard	Lincoln	de	Proença	Rosa,	
Revista	de	 Informação	Legislativa,	 jul/set.	1981).	Por	 lógico,	 a	 todos	os	 servidores	 federais	
pode	ser	aplicada	a	disposição	regente	do	serviço	público	federal,	alcançando	os	celetistas,	por	
meio	da	analogia,	para	assegurar	a	igualdade.
	 O	Tribunal	Superior	do	Trabalho,	na	mesma	 linha,	estabeleceu	o	 reconhecimento	do	
direito,	para	o	caso	de	empregada	pública,	a	exemplo	das	decisões	a	seguir	transcritas:
 
“AGRAVO	DE	INSTRUMENTO	EM	RECURSO	DE	REVISTA.	REGÊNCIA	DAS	
LEIS	 NOS	 13015/2014	 E	 13467/2017.	 RITO	 SUMARÍSSIMO.	 EMPREGADA	
PÚBLICA. REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA PARA ACOMPANHAMENTO 
DE FILHO PORTADOR DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA). 
PROVA DA NECESSIDADE DE REDUÇÃO DA JORNADA. TRANSCENDÊNCIA 
NÃO	 RECONHECIDA.	 A	 aplicação	 analógica	 do	 art.	 98	 da	 Lei	 nº	 8112/1990	
a	 empregados	 públicos,	 nas	 hipóteses	 em	que	 se	 faz	 imprescindível	 a	 necessidade	
de	 redução	 da	 jornada	 de	 trabalho	 do	 empregado	 para	 acompanhamento	 de	 filho	
portador	de	necessidade	especial,	 tem	sido	admitida	nesta	Corte	por	força	dos	arts.	
4º	 e	 5º,	 da	LINDB,	por	 se	 tratar	método	de	 integração	do	direito	 (analogia	 legis).	
In	 casu,	 as	premissas	 fáticas	 e	probatórias	 trazidas	pelo	Regional,	 insuscetíveis	de	
reapreciação	nessa	 instância	 extraordinária	 (Súmula	nº	 126	do	TST),	 denunciam	a	
extrema	necessidade	de	redução	da	jornada	de	trabalho	da	empregada,	sem	redução	da	
remuneração	e	sem	compensação	de	horário,	para	acompanhamento	da	filha	menor,	
que	foi	diagnosticada	com	grau	severo	de	transtorno	do	espectro	autista,	a	necessitar	
de	 acompanhamento	 especializado	 multidisciplinar	 cinco	 vezes	 na	 semana	 (vinte	
horas	semanais),	por	prazo	indeterminado.	Assim,	a	decisão	regional,	da	forma	como	
posta,	não	implica	violação	dos	arts.	5º,	II,	7º	XXVI,	37,	caput,	II,	227,	§1º,	II,	da	
Constituição	da	República.	Agravo	de	instrumento	conhecido	e	não	provido”	(AIRR-
128-54.2020.5.19.0005,	 8ª	 Turma,	 Relator	 Ministro	 Sergio	 Pinto	 Martins,	 DEJT	
02/05/2023).
“AGRAVO	 EM	AGRAVO	 DE	 INSTRUMENTO	 EM	 RECURSO	 DE	 REVISTA	
INTERPOSTO PELA RECLAMADA. RITO SUMARÍSSIMO. JORNADA 
DE TRABALHO. REDUÇÃO PARA CUIDADO DE FILHO PORTADOR DE 
DEFICIÊNCIA (AUTISMO). EMPREGADO PÚBLICO. ANALOGIA. ART. 
98,	§§	2	 º	 e	3	 º,	DA	LEI	8.112/90.	1.	O	Tribunal	Regional	deferiu	 ao	 reclamante,	
empregado	 público,	 redução	 de	 jornada	 (50%),	 sem	 diminuição	 salarial	 para	 que	
o	 autor	 acompanhe	 sua	 filha,	 com	 diagnóstico	 de	Transtorno	 do	 Espectro	Autista,	
nas	 atividades	 relacionadas	 com	 o	 respectivo	 tratamento,	 por	 aplicação	 analógica	
do	 art.	 98,	 §§2	 º	 e	 3	 º,	 da	 Lei	 8.112/90,	 com	 redação	 da	 Lei	 13.370/2016.	 2.	No	
contexto	do	processo	de	constitucionalização	do	Direito	Administrativo,	a	utilização	
da	 analogia	 a	fim	de	 realizar	 a	 integração	da	 lacuna	normativa	do	 regime	 jurídico	
aplicável	ao	reclamante	encontra	amparo	na	 leitura	contemporânea	do	princípio	da	
legalidade	administrativa,	à	luz	do	primado	da	juridicidade,	de	modo	a	não	vincular	
o	administrador	público	exclusivamente	às	diretrizes	oriundas	do	Poder	Legislativo,	
mas	também	para	balizar	sua	atividade	pelos	valores	e	princípios	constitucionais.	3.	O	
caso	dos	autos	abrange	a	tutela	de	bens	jurídicos	destacados	na	ordem	constitucional	
de	 1988,	 notadamente,	 o	 direito	 da	 pessoa	 com	 deficiência,	 alçado	 à	 categoria	 de	
direito	 fundamental,	 sobretudo	 em	 face	 da	 internalização,	 com	 status	 de	 emenda	
constitucional	(art.	5	º,	§	3	º,	da	CF),	da	Convenção	Internacional	sobre	os	Direitos	
da	 Pessoa	 com	Deficiência	 pelo	 Decreto	 6.949/2009.	 4.	 Desse	modo,	 a	 aplicação	
analógica	do	art.	98,	§§	2	º	e	3	º,	da	Lei	8.112/90	à	situação	dos	autos,	envolvendo	
empregado	 público,	 decorre	 da	 incidência	 de	 princípios	 oriundos	 dos	 arts.	 1º,	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 123
III,	5	 º,	6	 º,	7	 º,	227	da	CF	e	3	 º	do	Estatuto	da	Criança	e	do	Adolescente	 (Lei	nº	
8.069/90),	além	da	destacada	Convenção	Internacional	sobre	os	Direitos	da	Pessoa	
com	Deficiência,	não	se	vislumbrando	qualquer	ofensa	ao	primado	da	legalidade	ou	
aos	demais	princípios	que	regem	a	Administração	Pública.	Precedentes.	Agravo	não	
provido	 “	 (Ag-AIRR-585-48.2021.5.12.0037,	 8ª	Turma,	Relatora	Ministra	Delaide	
Alves	Miranda	Arantes,	DEJT	27/03/2023).
“AGRAVO	 INTERNO	 EM	AGRAVO	 DE	 INSTRUMENTO	 EM	 RECURSO	 DE	
REVISTA	 INTERPOSTO	 PELA	 RECLAMADA	 .	 LEI	 Nº	 13.467/2017.	 HORAS	
NOTURNAS. NORMA COLETIVA. INEXISTÊNCIA DE 
PREQUESTIONAMENTO.	 SÚMULA	 Nº	 297	 DO	 TST.	 AUSÊNCIA	 DE	
TRANSCENDÊNCIA	 .	 Não	 se	 constata	 a	 transcendência	 da	 causa,	 no	 aspecto	
econômico,	político,	jurídico	ou	social.	Agravo	interno	conhecido	e	não	provido,	por	
ausência	de	transcendência	da	causa	.	Agravo	conhecido	e	não	provido.	EMPREGADA	
PÚBLICA. FILHO PORTADOR DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 
(TEA) DE BAIXO FUNCIONAMENTO. DIREITO À REDUÇÃO DA JORNADA 
DE TRABALHO. PRINCÍPIOS DA IGUALDADE MATERIAL E DA DIGINIDADE 
DA	PESSOA	HUMANA.	APLICAÇÃO	ANALÓGICA	DO	ARTIGO	98,	 §3º,	DA	
LEI	Nº	 8.112/90.	TRANSCENDÊNCIA	 JURÍDICA	CONSTATADA	 .	A	discussão	
cinge-se	 em	 definir	 se	 há,	 ou	 não,	 direito	 de	 redução	 da	 jornada	 de	 trabalho	 da	
empregada	 pública	 para	 o	melhor	 acompanhamento	 de	 filho	 com	deficiência,	 sem	
necessidade	de	compensação	ou	redução	de	salários,	por	aplicação	analógica	do	artigo	
98,	 §3º,	 da	 Lei	 nº	 8.112/90.	A	Constituição	 Federal,	 em	 seu	 capítulo	VII,	 garante	
especial	proteção	à	família,	conceituando-a	como	instituição	fundamental	e	base	da	
sociedade,	responsável	pelo	pleno	desenvolvimento	e	proteção	dos	indivíduos	que	a	
compõem	.	Com	isso,	estabelece	que,	além	de	toda	sociedade	e	do	Estado,	é	dever	da	
família	“	assegurar	à	criança,	ao	adolescente	e	ao	jovem,	com	absoluta	prioridade,	o	
direito	à	vida,	à	 saúde,	à	alimentação,	à	educação,	ao	 lazer,	à	profissionalização,	à	
cultura,	à	dignidade,	ao	respeito,	à	liberdade	e	à	convivência	familiar	e	comunitária,	
além	de	colocá-los	a	salvo	de	toda	forma	de	negligência,	discriminação,	exploração,	
violência,	crueldade	e	opressão	“	(art.	227,	caput	,	da	CF/88).	Notabiliza-se,	portanto,	
a	importância	da	entidade	familiar	na	formação	das	crianças,	adolescentes	ou	jovens	
submetidos	aos	seus	cuidados,	principalmente	em	situações	de	vulnerabilidade	,	como	
em	 alguns	 casos	 de	 pessoas	 com	 deficiência.	 Há,	 ainda,	 obrigação	 expressa,	
direcionada	 ao	 Estado,	 no	 sentido	 da	 necessidade	 de	 “	 criação	 de	 programas	 de	
prevenção	 e	 atendimento	 especializado	 para	 as	 pessoas	 portadoras	 de	 deficiência	
física,	sensorial	ou	mental,	bem	como	de	integração	social	do	adolescente	e	do	jovem	
portador	de	deficiência,	mediante	o	treinamento	para	o	trabalho	e	a	convivência,	e	a	
facilitação	do	acesso	aos	bens	e	serviços	coletivos,	com	a	eliminação	de	obstáculos	
arquitetônicos	e	de	todas	as	formas	de	discriminação	“	(art.	227,	§1º,	II,	da	CF/88).	
Sobre	esse	aspecto,	com	o	advento	da	denominada	“Convenção	de	Nova	York”	-	a	
Convenção	 Internacional	 sobre	 os	 Direitos	 das	 Pessoas	 com	 Deficiência	 -	 e	 seu	
Protocolo	Facultativo,	assinados	em	Nova	York,	em	30	de	março	de	2007,	vigente	no	
Brasil	desde	25	de	agosto	de	2009,	após	ratificação,	pelo	Congresso	Nacional,	com	
equivalência	 a	 emenda	 constitucional,	 em	 virtude	 de	 haver	 sido	 observado	 o	
procedimento	 previsto	 no	 §	 3º	 do	 artigo	 5º	 da	 Constituição	 (Decreto	 nº	 6.949),	
inaugurou-se	um	novo	cenário	normativo	voltado	à	inclusão	e	proteção	das	pessoas	
com	 deficiência	 .	 Tais	 normas,	 complementadas	 pelano	 resultado	 da	 organização	 através	 da	
exploração	das	pessoas	como	meios	de	produção,	inclusive	sob	a	perspectiva	emocional,	que	
prevalece	inclusive	no	Judiciário	brasileiro.
	 Essas	 conclusões,	 no	 entanto,	 ainda	 demandam	maior	 aprofundamento.	A	 literatura	
científica	elenca	alguns	instrumentos	para	medir	o	trabalho	emocional,	a	exemplo	do	Escala	
de	Trabalho	Emocional	(Brotheridge;	Lee,	2003),	Inventário	de	Trabalho	Emocional	(Mann,	
1999	 apud Silva,	 2016)	 e	 a	 Escala	 de	 Trabalho	 Emocional	 Frankfurt	 (Zapf;	 Vogt;	 Seifert;	
Mertini;	Isic,	1999	apud Silva,	2016).	Porém,	esses	artefatos	objetivam	apenas	o	diagnóstico	
institucional,	não	indicando	os	meios	e	estratégias	mais	adequados	para	abordar	as	circunstâncias	
determinantes	para	o	contexto	verificado	em	cada	caso	concreto,	o	que	pode	justificar	porque	
esses	instrumentos	ainda	são	pouco	utilizados	pelos	gestores	nas	organizações.
	 As	pesquisas	desenvolvidas	a	partir	dos	estudos	de	Brotheridge	e	Lee	(2003)	mapearam	
os	impactos	pessoais	e	organizacionais	dos	indivíduos	no	exercício	do	trabalho	emocional.	A	
frequência	das	 interações	pessoais	afeta	negativamente	a	satisfação	no	 trabalho,	diminuindo	
a	 capacidade	 de	 regulação	 emocional	 superficial	 e	 aumentando	 a	 sensação	 de	 exaustão	 do	
trabalhador	 (Chou;	 Hecker;	 Martin,	 2012	 apud Silva,	 2016).	 A	 necessidade	 de	 aparentar	
emoções	não	sentidas	também	impacta	negativamente	a	satisfação	e	o	engajamento	no	trabalho,	
enquanto	que	a	capacidade	de	modular	os	sentimentos	à	necessidade	de	expressão	emocional	
promovem	maior	 satisfação,	 engajamento	 no	 trabalho	 e	 sensação	 de	 suporte	 organizacional	
(Chou;	Hecker;	Martin,	2012	apud Silva,	2016).	O	desgaste	inerente	à	necessidade	de	fingir	o	que	
não	sente	e/ou	neutralizar	emoções	em	resposta	a	demandas	organizacionais	provoca	prejuízos	
ao	bem-estar	do	trabalhador,	além	de	afetar	a	autenticidade,	contribuindo	para	a	alienação	de	
sentimentos	pessoais	 e	o	 adoecimento	psicológico	 (Brotheridge;	Lee,	 2003;	Grandey,	2000;	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 19
Hochschild,	1983).
	 Por	 outro	 lado,	 a	 produção	 científica	 se	 volta	 primordialmente	 para	 a	 medição	 do	
trabalho	emocional,	não	o	confrontando	com	os	cenários	organizacionais	ou	com	outros	dados	
relevantes	 para	 a	 gestão	 organizacional,	 a	 exemplo	 de	 índices	 e	marcadores	 relacionados	 à	
gestão	de	pessoas	e	ao	desempenho	das	organizações,	tampouco	introduzem	possíveis	soluções	
interventivas	 para	 as	 organizações	 que	 possam	 efetivamente	 amenizar	 os	 malefícios	 desse	
contexto	laboral	para	os	seus	colaboradores,	o	que	denota	a	relevância	de	uma	abordagem	mais	
prática	da	questão.
3. DIAGNÓSTICO DO TRABALHO EMOCIONAL NO TRT21
3.1 Escopo da pesquisa
	 A	pesquisa	foi	realizada	mediante	coleta	de	dados,	via	questionário	eletrônico,	junto	aos	
magistrados	e	servidores	do	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	21ª	Região	(TRT21),	órgão	do	
Poder	Judiciário	Federal	pertencente	à	Justiça	Especializada	do	Trabalho	instalado	no	Estado	
do Rio Grande do Norte (RN).
	 A	correlação	da	atuação	como	analista	judiciária	do	TRT21	com	a	revisão	bibliográfica	
evidenciou	os	principais	aspectos	e	papéis	institucionais	a	serem	analisados	como	representativos	
das	possibilidades	interventivas	do	trabalho	emocional	no	TRT21.	Na	ambiência	de	um	tribunal	
do	 Judiciário,	 a	 maior	 ou	menor	 imposição	 de	 inibição	 emocional	 deriva	 da	 exposição	 do	
indivíduo	a	dois	fatores	estressores,	que	serão	adotados	como	principais	variáveis	na	análise	
dos	 dados	 coletados:	 a	 maior	 ou	 menor	 proximidade	 da	 autoridade	 política,	 exercida	 nos	
tribunais	pelos	magistrados;	e	o	atendimento	direto	aos	usuários	externos	e	internos	(advogados,	
jurisdicionados	e	outros	servidores	e	magistrados).
	 Partindo	dessas	premissas,	a	coleta	de	dados	foi	centrada	em	servidores	e	magistrados	que	
atuam	em	atividades	organizacionais	diversas:	administrativas	e	finalísticas	(na	área	judiciária,	
em	primeiro	e	segundo	graus	de	jurisdição),	que	trabalhem	ou	não	no	atendimento	direto	aos	
usuários,	 e	 o	 nível	 de	 autonomia	 ou	 ingerência	 da	 autoridade	 política	 (magistrado)	 sobre	 o	
desenvolvimento	das	atividades	laborais.	Ao	todo,	o	TRT21,	instituição	alvo	da	intervenção,	
conta	com	52	magistrados	e	724	servidores	-	sendo	634	servidores	efetivos,	75	servidores	que	
ingressaram	por	cessão	ou	requisição,	e	15	servidores	sem	vínculo.
	 Não	foram	alvo	deste	estudo	outros	grupos	da	comunidade	de	trabalhadores	do	TRT21,	
como	advogados,	estagiários	e	prestadores	de	serviços,	porque	não	possuem	acesso	identificado	
ao	sistema	interno,	condição	imposta	aos	respondentes	do	questionário	de	autorrelato,	e,	ainda,	
por	não	manterem	vínculo	permanente	com	a	instituição,	logo,	interferem,	mas	não	representam		
a	cultura	e	clima	organizacionais	do	tribunal.
3.2 Instrumento: Questionário eletrônico
	 O	instrumento	de	coleta	de	dados	foi	um	questionário	eletrônico	desenvolvido	a	partir	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202420
da	Emotional	Labour	Scale	(ELS)	construída	por	Brotheridge	e	Lee	(2003),	adaptada	para	o	
Brasil	por	Silva	e	Gondim	(2019),	sob	o	título	de	Escala	de	Trabalho	Emocional	(ETE-Br).	A	
escolha	da	ETE-Br	como	base	para	o	instrumento	de	coleta	de	dados	decorre	justamente	do	
trabalho	primoroso	de	Silva	e	Gondim	(2019)	na	validação	científica	da	versão	adaptação	para	
o	português	brasileiro.
	 Partindo	da	ETE-Br,	o	questionário	eletrônico	autoaplicável,	colecionado	pelo	Anexo	1	
deste	estudo,	foi	composto	por	quatro	seções	principais.	Introdutoriamente,	na	sessão	intitulada	
“PERFIL	DO	RESPONDENTE”,	foram	coletados	dados	relativos	a	variáveis	sociodemográficas	
(gênero,	 idade,	 escolaridade,	 estado	 civil,	 cor/raça/etnia	 e	 filhos)	 e	 laborais	 (cargo,	 área	 de	
trabalho,	 tempo	de	 serviço	no	 tribunal,	 se	 trabalha	diretamente	com	magistrado,	 se	 trabalha	
diretamente	com	atendimento	ao	público	externo,	se	trabalha	diretamente	com	público	interno	
e	regime	de	trabalho).
	 Em	seguida,	foram	submetidos	aos	respondentes	os	nove	itens	da	Escala	de	Trabalho	
Emocional,	 devidamente	 adaptados,	 estruturados	 em	múltipla	 escolha	 na	 escala	 de	 resposta	
tipo	 likert	de	cinco	pontos	—	de	1	 (nunca)	a	5	 (sempre)	 (Flick,	2013).	As	afirmações	serão	
precedidas	de	“em	um	dia	normal	de	trabalho,	eu…”.
	 Os	itens	originários	da	ETE-Br	foram	adaptados	à	realidade	dos	profissionais	do	Poder	
Judiciário.	Enquanto	a	ETE-Br	foi	construída	para	mensurar	o	trabalho	emocional	em	artistas	
circenses,	que,	por	sua	ocupação,	são	demandados	a	expressar	emoções	intensas	e	claramente	
perceptíveis	 para	 o	 público	 dos	 espetáculos,	 mesmo	 sem	 sentir	 o	 que	 estão	 expressando,	
os	 profissionais	 do	 Judiciário	 são	 demandados	 a	 inibir	 sua	 expressão	 emocional,	 mesmo	
em	situações	que	 lhe	gerem	sentimentos	 fortes,	de	modo	a	se	adequarem	à	neutralidade	e	à	
sobriedade	do	ambiente	do	Judiciário.	Os	itens	da	Escala	de	Trabalho	Emocional	foram	assim	
apresentados	aos	respondentes	que	aceitaram	participar	da	pesquisa:
Tabela	1	–	Adaptação	dos	9	itens	da	ETE-Br	ao	trabalho	no	Poder	Judiciário
Itens do instrumento de coleta de dados
(Precedidos da expressão 
“Em um dia normal de trabalho, eu…”)
1.	não	posso	expressar	emoções	intensas	no	meu	trabalho,	mesmo	em	situações	que	gerem	
sentimentos	intensos.
2.	preciso	expressar	emoções	específicas	(por	exemplo:	calma	ou	alegria).
3.	preciso	expressar	emoções	diferentes	e	que	não	condizem	com	meus	sentimentos	verdadeiros	ao	
longo	do	dia.
4.	escondo	os	meus	sentimentos	verdadeiros.
5.	hesito	em	expressar	meus	sentimentos	verdadeiros.
6.	finjo	ter	emoções	que,	de	fato,	não	tenho.
7.	tento	realmente	vivenciar	as	emoções	que	devo	demonstrar.
8.	faço	um	esforço	para,	de	fato,	sentir	as	emoções	que	necessito	exibir	para	o	público.
9.	tento	verdadeiramente	sentir	as	emoções	que	preciso	demonstrar	como	parte	do	meu	trabalho.
Fonte:	ElaboradoLei	 nº	 13.146/2015	 -	 a	 Lei	
Brasileira	de	Inclusão	da	Pessoa	com	Deficiência	(Estatuto	da	Pessoa	com	Deficiência)	
-	,	formam	o	que	a	doutrina	denomina	de	“Bloco	de	Constitucionalidade”	(URIARTE,	
Oscar	Ermida	-	Aplicação	judicial	das	normas	constitucionais	e	internacionais	sobre	
direitos	humanos	trabalhistas.	Revista	TST,	Brasília,	v.	77,	n.º	2,	(abr./jun.	2011),	p.	
137),	 passam	 a	 reger	 os	 referidos	 temas	 e	 afastam	 qualquer	 possibilidade	 de	
interpretação	que	conflite	com	os	princípios	e	as	regras	nelas	inseridos	.	Já	no	artigo	
1º,	a	mencionada	convenção	traz	como	seu	principal	propósito	“	promover,	proteger	e	
assegurar	o	exercício	pleno	e	eqüitativo	de	 todos	os	direitos	humanos	e	 liberdades	
fundamentais	por	 todas	as	pessoas	com	deficiência	e	promover	o	 respeito	pela	sua	
dignidade	inerente	“.	No	artigo	23	(item	5),	foi	prevista	a	seguinte	obrigação:	“	Os	
Estados	Partes,	no	caso	em	que	a	família	imediata	de	uma	criança	com	deficiência	não	
tenha	condições	de	cuidar	da	criança	,	farão	todo	esforço	para	que	cuidados	alternativos	
sejam	oferecidos	por	outros	parentes	e,	se	isso	não	for	possível,	dentro	de	ambiente	
familiar,	 na	 comunidade	 .”	 (grifo	 nosso).	 Por	 sua	 vez,	 a	 Lei	 nº	 13.146/2015,	 em	
preceito	similar	ao	contido	na	Carta	Magna,	dispõe	que:	“	Art.	8º	É	dever	do	Estado,	
da	 sociedade	 e	 da	 família	 assegurar	 à	 pessoa	 com	 deficiência,	 com	 prioridade,	 a	
efetivação	dos	direitos	 referentes	 à	vida,	 à	 saúde,	 à	 sexualidade,	 à	paternidade	e	 à	
maternidade,	à	alimentação,	à	habitação,	à	educação,	à	profissionalização,	ao	trabalho,	
à	previdência	social,	à	habilitação	e	à	reabilitação,	ao	transporte,	à	acessibilidade,	à	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024124
cultura,	ao	desporto,	ao	turismo,	ao	lazer,	à	informação,	à	comunicação,	aos	avanços	
científicos	e	tecnológicos,	à	dignidade,	ao	respeito	,	à	liberdade,	à	convivência	familiar	
e	comunitária	,	entre	outros	decorrentes	da	Constituição	Federal,	da	Convenção	sobre	
os	Direitos	das	Pessoas	com	Deficiência	e	seu	Protocolo	Facultativo	e	das	leis	e	de	
outras	 normas	 que	 garantam	 seu	 bem-estar	 pessoal,	 social	 e	 econômico	 .”	 (grifo	
nosso).	 Diante	 desse	 arcabouço	 normativo,	 torna-se	 inconfundível	 o	 papel	 que	 a	
família,	como	entidade	de	apoio,	exerce	na	habilitação	e	assistência	necessárias	ao	
gozo,	 pela	 pessoa	 com	 deficiência,	 de	 todos	 os	 direitos	 humanos	 e	 liberdades	
fundamentais	a	ela	garantidos,	sendo	a	intenção	do	legislador,	portanto,	a	facilitação	
de	condições	efetivas	para	tanto	.	Foi	justamente	nessa	toada	que	foi	editado	o	artigo	
98,	§§	2º	e	3º,	da	Lei	nº	8.112/90	-	aplicável	aos	servidores	públicos	civis	da	União,	
das	autarquias	e	das	fundações	públicas	federais	-,	cujo	teor	segue	transcrito:	“	Art.	98.	
(...)	§	2º	-	Também	será	concedido	horário	especial	ao	servidor	portador	de	deficiência,	
quando	comprovada	a	necessidade	por	 junta	médica	oficial,	 independentemente	de	
compensação	de	horário;	§	3º	-	As	disposições	constantes	do	§	2º	são	extensivas	ao	
servidor	 que	 tenha	 cônjuge,	 filho	 ou	 dependente	 com	 deficiência	 .”	 (grifo	 nosso).	
Garante-se,	assim,	a	redução	da	jornada	de	trabalho	do	servidor	público	federal	com	
deficiência,	 assim	 como	 daquele	 que	 tenha	 cônjuge,	 filho	 ou	 dependente	 em	 tal	
situação,	sem	a	necessidade	de	compensação	de	horário	ou	redução	salarial.	Embora	
inexista	tal	previsão	na	CLT,	esta	Corte	Superior,	mediante	exercício	integrativo	(art.	
8º	da	CLT),	vem	entendendo	ser	possível	a	sua	aplicação	analógica	aos	contratos	de	
trabalho,	pela	promoção	da	igualdade	material	e	observância	do	princípio	da	dignidade	
da	pessoa	humana,	que	permeiam,	por	óbvio,	a	relação	em	análise	(eficácia	horizontal	
dos	direitos	fundamentais).	Na	hipótese	concreta	,	o	TRT	registrou	que	a	autora	possui	
filho	 portador	 de	Transtorno	 do	Espectro	Autista	 (TEA),	 de	 baixo	 funcionamento,	
com	necessidade	de	acompanhamento	para	realização	de	atividades	simples	do	dia	a	
dia,	como	alimentação,	higiene	e	segurança.	Constou	que	o	dependente	da	reclamante	
“	não	apresenta	noções	de	perigo,	sendo	evidente	sua	vulnerabilidade	extrema	para	os	
atos	da	vida	comum,	com	dependência	de	um	adulto	“.	O	quadro	fático	delineado	no	
acórdão	 regional	 revela,	 ainda,	 que	 o	 seu	 tratamento	 depende	 da	 realização	 de	
consultas	 diárias,	 em	 variados	 campos,	 como	 psiquiatria	 e	 demais	 atividades	
terapêuticas	 indicadas	pelos	 profissionais.	É	de	 salientar,	 também,	que	 todos	 esses	
cuidados	são	realizados	pela	autora,	sem	a	ajuda	do	pai	biológico	.	A	Lei	nº	12.764/2012,	
que	instituiu	a	Política	Nacional	de	Proteção	dos	Direitos	da	Pessoa	com	Transtorno	
do	 Espectro	Autista,	 define	 que	 “	 a	 pessoa	 com	 transtorno	 do	 espectro	 autista	 é	
considerada	pessoa	com	deficiência,	para	 todos	os	efeitos	 legais	“.	Ainda,	segundo	
literatura	da	área,	reitera-se	ser	fundamental	a	participação	direta	de	pessoa	da	família	
no	tratamento	para	evolução	e	melhora	do	dependente,	em	especial	da	mãe,	que,	para	
tanto,	necessitará	de	tempo	não	só	para	a	realização	de	tais	ocupações,	mas	também	
para	manutenção	de	sua	saúde	física	e	mental,	através	da	prática	do	autocuidado.	Pelo	
exposto,	não	merece	reparo	a	decisão	regional	que,	por	aplicação	analógica	do	artigo	
98,	§3º,	da	CLT,	deferiu	a	redução	da	jornada.	Agravo	conhecido	e	não	provido”	(Ag-
AIRR-10144-56.2019.5.15.0153,	 7ª	Turma,	Relator	Ministro	Claudio	Mascarenhas	
Brandão,	DEJT	25/11/2022).
 
Assim,	a	reclamante,	empregada	pública	que	tem	filho	com	deficiência,	como	está	comprovado	
nos	autos,	tem	direito	à	redução	de	sua	carga	horária	sem	redução	de	sua	remuneração,	para	
assim	prover	aos	cuidados	necessários	ao	seu	dependente.
	 Ante	 o	 exposto,	 conheço	 do	 recurso	 ordinário	 interposto	 pela	 reclamada	 e	 lhe	 nego	
provimento.
	 Isto	posto,	em	Sessão	Ordinária	de	Julgamento	realizada	nesta	data,	sob	a	Presidência	
da	Excelentíssima	Senhora	Desembargadora	Maria	Auxiliadora	Barros	de	Medeiros	Rodrigues,	
com	a	presença	das	Excelentíssimas	Senhoras	Desembargadoras	Maria	do	Perpétuo	Socorro	
Wanderley	de	Castro	(Relatora)	e	Isaura	Maria	Barbalho	Simonetti,	do	Excelentíssimo	Senhor	
Juiz	 Convocado	 Décio	 Teixeira	 de	 Carvalho	 Júnior	 e	 do(a)	 Representante	 da	 Procuradoria	
Regional	do	Trabalho	da	21ª	Região,	Dr.	José	Diniz	de	Moraes,
	 ACORDAM	 as	 Excelentíssimas	 Senhoras	 Desembargadoras	 Federais	 e	 o	 Juiz	
Convocado	da	Primeira	Turma	de	Julgamento	do	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	Vigésima	
Primeira	Região,	por	unanimidade,	conhecer	do	recurso	ordinário	interposto	pela	reclamada.	
Mérito:	por	unanimidade,	negar	provimento	ao	recurso	ordinário.
	 Obs.:	Ausente,	justificadamente,	o	Excelentíssimo	Senhor	Desembargador	Ricardo	Luís	
Espíndola	Borges,	por	se	encontrar	em	gozo	de	férias	regulamentares.	Convocado	o	Excelentíssimo	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 125
Senhor	 Juiz	 Décio	 Teixeira	 de	 Carvalho	 Júnior	 (RESOLUÇÃO	 ADMINISTRATIVA	 Nº	
012/2024).
 
Natal/RN,	21	de	maio	de	2024.
	 MARIA	DO	PERPETUO	SOCORRO	WANDERLEY	DE	CASTRO
	 Desembargadora	Relatora
	 Acórdão	divulgado	em	22/05/2024	(quarta-feira),	na	edição	nº	3976/2024,	no	caderno	
do	TRT	21ª	Região	-	Jurídico,	do	Diário	Eletrônico	da	Justiça	do	Trabalho	e	sendo	considerado	
publicado,	de	acordo	com	a	Resolução	Administrativa	nº	0056/2015,	em	23/05/2024	(quinta-
feira),	conforme	disciplina	o	art.	6º	do	Ato	Conjunto	TST.	CSJT	Nº	15/2008.	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024126
AGRAVO DE PETIÇÃO Nº 0021000-98.2009.5.21.0012
DESEMBARGADOR RELATOR: ERIDSON JOÃO FERNANDES 
MEDEIROS
AGRAVANTE: FRANCISCO CARLOS AMORIM JÚNIOR
ADVOGADO: ARYANNA FERNANDES DE AMORIM SALDANHA
AGRAVADO: KAIO CESAR DE SOUSA REBOUÇAS
ADVOGADO:KALLIO LUIZ DUARTE GAMELEIRA
ORIGEM: 2ª VARA DO TRABALHO DE MOSSORÓ/RN 
EXECUÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. EMPRESA 
COM FALÊNCIA DECRETADA. INCIDENTEpela	autora	(2023).
	 Em	um	terceiro	trecho,	foram	apresentados	dois	quesitos,	com	opção	de	resposta	“sim”	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 21
ou	“não”,	para	aferir	a	satisfação	dos	respondentes	com	o	seu	trabalho:	a)	“você	conta	os	dias	
para	se	aposentar	do	trabalho	no	TRT21?”	e	b)	“se	pudesse,	você	se	aposentaria	amanhã	do	
trabalho	no	TRT21,	mesmo	que	implicasse	em	perda	salarial?”.
	 Por	fim,	cada	respondente	teve	a	oportunidade	de	trazer	sua	percepção	pessoal	sobre	a	
temática,	propor	melhorias	que	pudessem	contribuir	para	o	bem-estar	emocional	no	trabalho	
para	o	TRT21	e	registrar	opiniões,	comentários	e	depoimentos	pessoais.
	 O	questionário	eletrônico	foi	submetido	a	um	pré-teste,	por	três	juízes	da	comunidade	
de	 trabalhadores	do	TRT21,	para	validação.	O	 tempo	médio	de	 resposta	ao	questionário	 foi	
de	4	minutos	e	as	adaptações	por	eles	sugeridas	foram	acolhidas	e	incorporadas	aos	quesitos	
propostos	pela	autora.	O	modelo	aprovado	e	aplicado	consta	do	Anexo	1	desta	dissertação.	A	
versão	final	do	questionário	foi	submetida	à	análise	e	aprovação	da	Escola	Judicial	do	TRT21	
(EJUD21)	 (Anexos	2	e	3)	e	por	ela	encaminhado	aos	e-mails	 institucionais	de	magistrados,	
servidores	e	setores	(Anexo	4).
	 As	respostas	foram	armazenadas	sem	identificação	dos	respondentes,	sendo	preservada	a	
confidencialidade	individual	das	respostas	obtidas,	de	modo	a	assegurar	a	livre	manifestação	do	
público-alvo	da	pesquisa	e,	ainda,	observar	os	cuidados	éticos	que	devem	nortear	as	pesquisas	
em	organizações.
3.3 Procedimentos de análise de dados
	 O	 questionário	 coletou	 respostas	 de	 servidores	 e	 magistrados	 de	 áreas	 meio	
(administrativa)	e	fim	(judicial)	que	estavam	ou	não	submetidos	aos	dois	fatores	que	nortearam	
a	análise	dos	resultados	desta	pesquisa:	a	maior	ou	menor	proximidade	da	autoridade	política,	
exercida	nos	tribunais	pelos	magistrados;	e	o	atendimento	direto	aos	usuários	externos	e	internos	
(advogados,	jurisdicionados	e	outros	servidores	e	magistrados).
Os	dados	foram	compilados	e	estruturados	em	gráficos	e	tabelas	de	acordo	com	as	principais	
variáveis	a	serem	analisadas	nesta	pesquisa.
Tabela	2:	Estratificação	dos	dados	a	serem	analisados
Cargos Área de atuação Atividades em foco
Magistrado
Servidor
Administrativa
Judiciária
Trabalho	direto	com	magistrado
Atendimento	direto	ao	público	externo
Atendimento	direto	ao	público	interno
Fonte:	Elaborado	pela	autora	(2023).
	 O	público	alvo	foi	composto	por	magistrados	e	servidores	ativos,	efetivos	ou	não,	do	
quadro	funcional	do	TRT21.	Ao	todo,	a	instituição	conta	com	52	magistrados	e	724	servidores	
-	sendo	634	servidores	efetivos,	75	servidores	que	ingressaram	por	cessão	ou	requisição,	e	15	
servidores	sem	vínculo	-,	dos	quais	112	respondentes	aceitaram	participar	da	pesquisa,	sendo	3	
magistrados,	97	servidores	efetivos	e	12	servidores	não	efetivos,	o	que	representa	uma	amostra	
de	14,43%	do	público	alvo.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202422
	 As	respostas	ao	segundo	trecho	do	questionário	eletrônico,	relativas	à	Escala	de	Trabalho	
Emocional	 adaptada	 ao	 Poder	 Judiciário,	 foram	 estruturadas	 sob	 duas	 facetas:	 demandas	
emocionais	de	trabalho	e	estratégias	pessoais	de	regulação	emocional.	As	demandas	emocionais	
inerentes	à	ocupação,	sob	o	enfoque	de	frequência,	intensidade	e	variedade	da	exibição	emocional	
durante	as	interações	sociais.	As	estratégias	pessoais	de	regulação	emocional	serão	compiladas	
em	duas	dimensões:	ação	profunda,	que	afere	a	capacidade	do	indivíduo	de	modificar	a	emoção	
sentida	para	que	convirja	com	a	emoção	expressada;	e	ação	superficial,	que	mede	a	expressão	
de	uma	emoção	dissonante	daquela	verdadeiramente	sentida.
	 Segundo	 Brotheridge	 e	 Lee	 (2003),	 o	 trabalho	 emocional	 apresenta	 duas	 facetas,	 a	
primeira	 focada	nas	demandas	emocionais	da	ocupação	ou	profissão	(job-focused emotional 
labor),	 a	 segunda	 focada	nas	 estratégias	de	 regulação	 emocional	 do	 trabalhador	 (employee-
focused emotional labor).	A	primeira	faceta,	com	foco	no	trabalho,	analisa	quanto	a	atividade	
profissional	demanda	de	interações	humanas	e	variedade	de	expressões	emocionais.	A	segunda	
faceta	 analisa	 as	 estratégias	 individuais	 do	 trabalhador	 para	 demonstrar	 emoção	 distinta	 da	
sentida	(ação	superficial	-	regulação	emocional	“com	foco	na	aparência”)	e	modificar	a	emoção	
sentida	para	fazê-la	convergir	com	a	emoção	expressada	(ação	profunda	-	regulação	emocional	
“de	dentro	para	fora”).	Portanto,	ao	pensar	em	possibilidades	interventivas,	precisamos	refletir	
sobre	 a	 necessidade	 de	 adequação	 das	 demandas	 emocionais	 da	 ocupação	 profissional	 e	 na	
capacitação	dos	trabalhadores	para	a	autorregulação	emocional.
	 Na	compilação	dos	dados	coletados,	as	respostas	foram	organizadas	de	acordo	com	as	
duas	facetas	e	três	dimensões	pertinentes	à	avaliação	do	trabalho	emocional	nas	organizações,	
para	fins	de	análise	qualitativa	e	quantitativa:
Tabela	3	–	Distribuição	dos	9	itens	da	ETE-Br
Facetas Dimensões Itens do instrumento de coleta de dados
(Precedidos da expressão 
“Em um dia normal de trabalho, eu…”)
Demandas	emocionais	
de trabalho
Demandas	emocionais	
de trabalho
1.	sou	demandado	a	não	expressar	emoções	
intensas	no	meu	trabalho.
2.	sou	demandado	a	expressar	emoções	
específicas	(por	exemplo:	calma	ou	alegria).
3.	sou	demandado	a	expressar	emoções	
diferentes	ao	longo	do	dia	de	trabalho.
Ação	superficial 4.	escondo	os	meus	sentimentos	verdadeiros.
5.	hesito	em	expressar	meus	sentimentos	
verdadeiros.
Estratégias	de	 6.	finjo	ter	emoções	que,	de	fato,	não	tenho.
regulação	emocional Ação	profunda 7.	tento	realmente	vivenciar	as	emoções	que	
devo	demonstrar.
8.	faço	um	esforço	para,	de	fato,	sentir	as	
emoções	que	necessito	exibir	para	o	público.
9.	tento	verdadeiramente	sentir	as	emoções	
que	preciso	demonstrar	como	parte	do	meu	
trabalho.
Fonte:	Elaborado	pela	autora	(2023).
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 23
	 Os	dados	coletados	foram	submetidos	a	uma	avaliação	estatística,	com	a	identificação	
dos	 itens	 com	maior	 incidência	 de	 resposta,	 e	 confrontados	 com	 as	 respostas	 aos	 quesitos	
complementares	propostos	nas	seções	“PERFIL	DO	RESPONDENTE”,	“SUA	PERCEPÇÃO	
SOBRE	 TRABALHO	 EMOCIONAL”,	 “NÍVEL	 DE	 SATISFAÇÃO	 PESSOAL	 COM	 O	
TRABALHO	NO	TRT21”	e	“PARTICIPE	COM	SUGESTÕES”.
3.3 Resultados
	 Para	fins	 de	 análise	 qualitativa	 e	 quantitativa,	 os	 dados	 coletados	 sobre	 a	 percepção	
pessoal	 dos	 participantes	 sobre	 o	 trabalho	 emocional	 (seção	 “SUA	 PERCEPÇÃO	 SOBRE	
TRABALHO	 EMOCIONAL”)	 foram	 estratificados	 em	 demandas	 emocionais	 de	 trabalho	
(DET)	e	estratégias	de	regulação	emocional,	nas	dimensões	de	ação	superficial	(EAS)	e	ação	
profunda	(EAP)	(Brotheridge;	Lee,	2003).
	 Considerando	 a	 participação	 ínfima	 dos	 magistrados	 (3	 magistrados	 dos	 112	
respondentes),	a	amostra	não	é	significativa	e	suficiente	para	tecer	conclusões	sobre	o	trabalho	
emocional	 desse	 grupo	 de	 trabalhadores.	 Portanto,	 a	 análise	 considerará	 os	 dados	 como	
conclusivos	em	relação	apenas	aos	servidores,	especialmente	os	efetivos,	que	representam	
86,6%	dos	respondentes.
	 Os	resultados	da	pesquisa	revelam	que,	entre	os	servidores	do	TRT21,	há	prevalência	
de	esforço	despendidos	nas	demandas	emocionais	inerentes	à	ocupação	profissional	(DET)	e	a	
adoção	de	estratégias	individuais,	pelos	trabalhadores,	para	convergir	as	emoções	sentidas	com	
as	que	precisam	ser	expressadas	(ação	profunda	-	EAP),	com	tendência	geral	à	baixa	utilização	
da	ação	superficial	como	estratégia	de	regulação	emocional.
	 Esses	resultados	confirmam	uma	das	hipótese	levantadas	inicialmente	na	pesquisa:	em	
razão	 da	 intensidade	 e	 variedade	 de	 interações	 sociais	 inerentes	 às	 atividades	 profissionais,	
o	 trabalho	no	Poder	Judiciário	exige	dos	seus	servidores	esforço	para	 regular	sua	expressão	
emocional,	de	modo	a	adequá-la	às	normasde	conduta	neutra	e	sóbria	inerentes	ao	ambiente	
laboral	do	Judiciário.	Para	tanto,	esses	profissionais	buscam	modular	suas	emoções	verdadeiras	
para	adequá-las	às	emoções	que	precisam	expressar	regularmente	(ação	profunda).	Porém,	ao	
contrário	do	que	se	esperava,	segundo	a	amostra	deste	estudo,	os	servidores,	em	geral,	não	se	
utilizam	de	estratégias	individuais	de	regulação	emocional	que	permitam	demonstrar	emoções	
adequadas	para	seus	interlocutores	(ação	superficial).
	 A	correlação	dos	dados	obtidos	a	partir	da	aplicação	do	questionário	inspirado	na	ELS	
(Emotional Labor Scale)	 com	variáveis	 pessoais,	 profissionais	 e	organizacionais	 apresentou	
resultados	relevantes	para	uma	melhor	abordagem	do	trabalho	emocional	no	Poder	Judiciário	e,	
especificamente,	no	TRT21.
	 A	 pesquisa	 demonstra	 maior	 resiliência	 emocional	 pelas	 mulheres,	 e	 uma	 maior	
capacidade	de	adaptação	emocional	dos	homens.	Não	foi	possível	identificar	as	origens	dessa	
distinção	de	desempenho	entre	homens	e	mulheres,	o	que	demonstra	uma	oportunidade	para	
futura	pesquisa	científica.	Apesar	de	estarem	diretamente	relacionados	com	a	maior	ou	menor	
adesão	à	cultura	organizacional,	o	tempo	de	serviço	no	TRT21	e	a	natureza	do	vínculo	com	a	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202424
instituição	(efetivo	ou	não	efetivo)	não	impactam	na	percepção	individual	dos	servidores	sobre	
trabalho emocional.
	 A	 área	 de	 atuação	 do	 servidor	 no	TRT21	 afeta	 substancialmente	 o	 esforço	 inerente	
ao	 trabalho	 emocional.	 Os	 servidores	 da	 área	 administrativa	 percebem	menos	 esforço	 para	
o	 trabalho	 emocional	 do	 que	 os	 servidores	 da	 área	 judiciária,	 especialmente	 na	 adoção	 de	
estratégias	de	regulação	emocional	de	ação	superficial	(EAS),	relacionadas	à	necessidade	de	
modular	a	expressão	emocional	em	dissonância	com	os	sentimentos	vivenciados.	Esse	resultado	
converge	com	a	maior	intensidade	dos	contatos	com	o	público	externo,	em	atendimento,	e	com	
os	magistrados	na	área	judiciária,	confirmando	uma	das	hipóteses	iniciais	desta	pesquisa.
Na	mesma	linha,	o	contato	direto	e	contínuo	com	magistrados	é	um	dos	fatores	que	intensifica	
o	esforço	de	regulação	emocional	dos	servidores.	Enquanto	os	servidores	que	não	trabalham	em	
contato	com	magistrados	não	percebem	ou	sentem	menos	intensamente	o	esforço	de	regulação	
emocional,	aqueles	que	trabalham	com	magistrados	apresentam	grande	incidência	de	resposta	
positiva	para	o	trabalho	emocional.
	 Por	fim,	o	atendimento	ao	público,	especialmente	o	externo,	é	fator	estressor,	no	contexto	
do	 trabalho	emocional,	com	maior	utilização	de	estratégias	de	 regulação	emocional	de	ação	
superficial	(EAS)	entre	os	servidores	que	trabalham	com	atendimento	ao	público	externo.
	 Essas	 constatações	 se	 alinham	 com	 a	 literatura	 científica.	 A	 adoção	 de	 estratégias	
superficiais	 de	 regulação	 emocional	 (EAS)	 (para	 aparentar	 emoções	 verdadeiramente	 não	
sentidas)	é	mais	penosa	para	os	 indivíduos,	exigindo	maior	recurso	pessoal	e	com	potencial	
para	provocar	mais	mal-estar	do	que	o	uso	de	estratégias	de	ação	profunda,	mais	acionada	de	
forma	geral	pelos	participantes	da	pesquisa.	A	desgastante	tarefa	de	fingir	o	que	não	sente	ou	
neutralizar	emoções	em	resposta	a	demandas	organizacionais,	o	que	caracteriza	a	estratégia	de	
ação	superficial,	provoca	prejuízos	ao	bem-estar	do	trabalhador;	além	disso,	afeta	a	autenticidade,	
contribuindo	para	a	alienação	de	sentimentos	pessoais	e	o	adoecimento	psicológico	(Brotheridge	
&	Lee,	2002;	Grandey,	2000;	Hochschild,	1983	apud Silva,	2016).
	 Por	outro	aspecto,	como	Boyle	(2005)	destaca,	quanto	mais	informal	o	relacionamento	
com	o	 interlocutor,	menor	o	esforço	de	 regulação	emocional.	As	 interações	 sociais	onstage,	
na	atuação	profissional	entre	servidor	e	público	externo,	são	caracterizadas	pela	neutralidade,	
formalismo,	sobriedade	e	impessoalidade,	de	modo	a	assegurar	homogeneidade	de	tratamento	
entre	aqueles	que	buscam	o	Judiciário	para	atendimento.	O	esforço	de	 regulação	emocional	
diminui	 significativamente	 nas	 interações	 backstage (“de	 bastidores”)	 e	 offstage (“fora	 do	
ambiente	laboral”),	conforme	esperado.
	 Conclui-se,	 portanto,	 que	 o	 trabalho	 em	 contato	 direto	 com	magistrados	 e	 usuários,	
especialmente	os	externos,	são	os	dois	principais	fatores	estressores	que	impactam	negativamente	
o	trabalho	emocional	no	TRT21.	Isso	decorre	das	interações	sociais	mais	frequentes	e	intensas	
desses	 servidores	 com	 pessoas	 com	 as	 quais	 não	mantêm	 relação	 afetiva:	 quanto	menor	 a	
interação	com	pessoas	estranhas	à	organização	e	figuras	de	autoridade,	menor	o	esforço	inerente	
ao	trabalho	emocional	dos	servidores.
	 Essa	 conclusão,	 derivada	 da	 análise	 qualitativa	 e	 quantitativa	 dos	 dados	 coletados,	
corrobora	os	resultados	das	pesquisas	realizadas	pelo	CNJ,	em	especial	o	Diagnóstico	sobre	a	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 25
saúde	mental	de	magistrados	e	servidores	no	contexto	da	pandemia	de	COVID-19	(2022),	que	
indica	agravamento	acentuado	na	saúde	física,	mental	e	emocional	de	servidores	e	magistrados	
do	judiciário	entre	o	período	prévio	à	pandemia,	sua	fase	inicial	e	a	retomada	das	atividades	
presenciais.	 Segundo	 esses	 estudos,	 o	 trabalho	 remoto	 durante	 a	 pandemia	 de	 COVID-19	
gerou	uma	consequência	inesperada:	a	preferência	dos	servidores	e	magistrados	pelo	trabalho	
não	presencial	(virtual	ou	híbrido),	em	especial	na	Justiça	do	Trabalho,	na	qual	as	atividades	
jurisdicionais	podem	ser	quase	integralmente	desenvolvidas	de	forma	remota.	Essa	é	a	causa	
direta	 da	 piora	 constatada	 entre	 os	 períodos	 pré	 e	 pós-pandêmicos:	 a	 transição	 do	 trabalho	
remoto	da	pandemia,	em	que	o	contato	com	pessoas	estranhas	ao	círculo	familiar	foi	reduzido,	
e	o	retorno	às	atividades	presenciais	nos	tribunais.
	 Os	dados	coletados	entre	servidores	que	trabalham	em	regime	presencial	e	em	teletrabalho	
integral	 e	 parcial	 confirmam	 a	 tendência	 verificada	 nas	 pesquisas	 do	CNJ.	Nos	 regimes	 de	
teletrabalho	 integral	 e	 parcial	 (híbrido),	 os	 trabalhadores	 tendem	a	 apresentar	 resposta	mais	
neutra	ao	trabalho	emocional	-	chegando	a	ser	27,55%	superior	à	média	geral	em	DET	e	21,18%	
superior	em	EAS	-,	e	menor	incidência	de	resposta	positiva	(-14,82%	em	DET	no	teletrabalho	
integral	e	-5,95%	em	EAP	no	teletrabalho	parcial).	A	tendência	se	inverte	no	regime	de	trabalho	
presencial:	 redução	 da	 percepção	 neutra	 e	 incremento	 nas	 respostas	 positivas	 ao	 trabalho	
emocional.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	 O	trabalho	no	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	21ª	Região	(TRT21)	satisfaz	os	seus	
servidores	 em	vários	 aspectos,	mas	 apresenta	 singularidades	organizacionais	prejudiciais	 ao	
bem-estar	dos	seus	servidores,	possibilitando	identificar	os	principais	aspectos	que	impactam	o	
bem-estar	dos	trabalhadores	(servidores,	em	especial)	do	TRT21	e,	extensivamente,	do	Poder	
Judiciário	brasileiro.
	 O	 diagnóstico	 realizado	 identificou	 a	 presença	 do	 construto	 trabalho	 emocional,	 em	
todas	as	suas	facetas	e	dimensões,	como	esperado.	Através	da	investigação	da	sua	correlação	
com	 variáveis	 pessoais	 e	 organizacionais	 que,	 por	 hipótese,	 impactam	 o	 bem-estar	 dos	
trabalhadores	do	Poder	 Judiciário	brasileiro,	 foi	possível	 concluir	que	o	esforço	 inerente	ao	
trabalho	emocional	impacta	e	é	impactado	diretamente	pela	saúde	mental	e	emocional	dos	seus	
servidores,	 em	especial	daqueles	que	atuam	na	área	 judiciária,	 com	atendimento	ao	público	
externo	e	em	contato	direto	com	autoridades.	Esse	resultado	confirma	as	pesquisas	do	CNJ	que	
apontam	piora	acentuada	no	estado	geral	de	saúde	de	servidores	e	magistrados	do	Judiciário	em	
razão	do	retorno	às	atividades	presenciais	após	a	pandemia	de	COVID-19,	quando	as	interações	
sociais	no	trabalho	foram	intensificadas	pela	retomada	do	regime	presencial	de	trabalho.
	 As	conclusões	desta	pesquisa	convergem	com	a	mudança	que	o	mercado	de	trabalhovem	apresentando	após	a	pandemia	de	COVID-19.	O	trabalhador	não	quer	o	 trabalho	como	
centro	 da	 vida,	 essa	 é	 a	 tendência	mundial.	Ao	ordenar	 o	 retorno	 ao	modelo	 tradicional	 de	
trabalho	presencial,	sem	flexibilidade	e	autonomia,	o	Poder	Judiciário	brasileiro	impôs	estresse	
emocional	aos	seus	servidores	e	magistrados,	o	que	repercutiu	diretamente	nos	indicadores	de	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202426
saúde	e	bem-estar	aferidos	pelo	CNJ.
	 Esse	cenário,	associado	aos	relatos	de	sobrecarga	de	trabalho,	não	reconhecimento,	falta	
de	 autonomia	 e	 opressão,	 com	 sentimentos	 de	desvalorização	 e	 desesperança,	 impactam	no	
adoecimento	psicossomático,	invadindo,	inclusive,	a	seara	da	vida	privada	dessas	pessoas.	A	
reação,	em	geral,	é	de	fuga	dos	aspectos	danosos	do	trabalho	no	TRT21,	seja	pelo	busca	pelo	
regime	híbrido	ou	de	teletrabalho,	seja	pela	busca	de	novas	oportunidades	ocupacionais	dentro	
e	fora	do	Judiciário,	na	esperança	de	se	distanciar	emocionalmente	do	trabalho	e	das	figuras	
de	 autoridade	 que	 os	 oprimem.	Porém,	 na	 realidade,	 a	 solução	 se	 encontra	 na	 integração	 e	
aproximação	entre	os	grupos	de	trabalhadores	(magistrados	e	servidores,	da	área	administrativa	
e	judiciária)	em	propósito,	reconhecimento,	remuneração	e	condições	de	trabalho.
	 O	 quadro	 se	 agravou	 significativamente	 a	 partir	 da	 instituição	 da	 política	 de	metas	
pelo	Conselho	Nacional	de	Justiça	(CNJ),	quando	o	foco	do	Poder	Judiciário	voltou-se	para	as	
estatísticas	e	indicadores	(aspectos	quantitativos),	em	detrimento	do	bem-estar	das	pessoas	e	
da	qualidade	na	prestação	de	serviços	à	sociedade	(aspectos	qualitativos,	não	mensurados	pelas	
metas).	Não	obstante,	embora	seja	de	conhecimento	dos	dirigentes	o	mal-estar	emocional	dos	
servidores,	ainda	não	há	movimento	de	mudança	cultural	no	Poder	Judiciário	brasileiro.
	 A	adoção	das	intervenções	sugeridas	neste	estudo	auxiliará	o	TRT21	a	cumprir	a	Meta	
Específica	da	Justiça	do	Trabalho,	mediante	a	redução	das	cinco	doenças	mais	frequentes	e	das	
cinco	maiores	causas	de	absenteísmo	(CSJT,	2023),	além	de	atender	aos	valores	institucionais	
da	 ética,	 da	 impessoalidade,	 da	 inovação,	 da	 qualidade	 e	 da	 valorização	 das	 pessoas,	 bem	
como	aos	objetivos	institucionais	de	fortalecer	a	governança	e	a	gestão	estratégica,	promover	o	
trabalho	decente	e	incrementar	o	modelo	de	gestão	de	pessoas,	contribuindo	para	os	seguintes	
projetos	do	Plano	Tático	2024-2025	(TRT21):
1. Programa	de	formação	de	líderes;
2. Realizar	capacitação	sobre	gestão	da	mudança;
3.	 Dimensionar	e	alocar	adequadamente	a	capacidade	de	execução	das	equipes	de	
trabalho	de	cada	unidade/setor;
4. Implantar	a	Gestão	de	Pessoas	por	competências;
5.	 Implantar	o	Programa	de	Gerenciamento	de	estresse	no	ambiente	de	trabalho;
6. Implantar	o	Projeto	Novos	Líderes;
7. Planejar	e	monitorar	a	força	de	trabalho,	mediante	métricas	para	definição	de	quadro	
de	pessoal	em	áreas	não	definidas	por	normativos	do	CSJT	e	CNJ;
8.	 Implantar	seleção	por	competências	para	lotação	em	unidades	administrativas	e	
judiciárias;
9.	 Elaborar	e	implementar	programa	de	reconhecimento	de	pessoas	e	equipes;
10. Implantar	o	Projeto	Desenvolvendo	Atitudes;
11. Implementar	programa	de	socialização;
12. Contratar	ou	designar	equipe	de	servidores	ocupantes	de	cargos	e	especialidades	
atinentes	à	área	de	segurança	ocupacional,	para	prestarem	serviços	que	promovam	a	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 27
segurança	ocupacional	de	forma	preventiva	e	corretiva;
13.	 Instituir	equipe	multidisciplinar	para	opinativo	e	orientação	de	remoção	por	questões	
de	saúde	emocional;
14. Implantar	portfólio	de	demandas	de	capacitação	(gaps	de	competências,	capacitações	
obrigatórias	e	relação	com	projetos	estratégicos	ou	táticos);
15.	 Aprimorar	a	implantação	do	banco	de	talentos	do	TRT21;
16. Revisar	as	matrizes	de	competência	em	função	no	novo	Regulamento	Geral;
17. Implementar	o	Programa	de	Qualidade	de	Vida	e	de	melhoria	do	clima	organizacional;	
e
18.	 Conceber	o	Programa	de	Desenvolvimento	de	Equipes. 
 
 
REFERÊNCIAS
BONFIM, M. GONDIM, S. Trabalho emocional:	demandas	afetivas	no	exercício	
profissional.	Salvador:	EDUFBA,	2010.
BOYLE,	M.	V.	“You	wait	until	you	get	home”:	emotional	regions,	emotional	process	work,	
and	the	role	of	onstage	and	offstage	support.	In:	HARTEL,	C.;	ZERBE,	W.	J,	ASHKANASY,	
N. M. (Ed.). Emotions in organizational behavior.	Nova	Jersey:	Lawrence	Erlbaum	
Associates,	2005.	p.	45-65.
BROTHERIDGE,	C.	M.;	LEE,	R.	T.	Development	and	validation	of	the	emotional	labor	
scale.	Journal of occupational and Organizational Psychology,	Londres,	v.	76,	n.	3,	p.	365-
379,	2003.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Diagnóstico sobre a saúde mental de 
magistrados e servidores no contexto da pandemia de COVID-19.	Brasília:	CNJ,	2022.	
Disponível	em:	https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2022/11/pesquisa-saude-mental-
2022-v2-24052022-1.pdf.	Acesso	em	09	jan.	2024.
FINEMAN,	S.	Emotions	and	organizational	control.	In:	PAYNE,	R.;	COOPER,	C.	L.		
Emotions at work:	Theory,	research	and	applications	in	management,	p.	219-237,	2001.
FINEMAN, S. Emotion in organizations.	London:	Sage,	1993.
FLICK,	U.	Introdução à Metodologia de Pesquisa:	um	guia	para	iniciantes.	Porto	Alegre:	
Penso,	2013.
GOLEMAN, D. Trabalhando com a inteligência emocional.	Rio	de	Janeiro:	Objetiva,	2001.
GONZÁLEZ	DE	GOMEZ,	M.	N.	A	globalização	e	os	novos	espaços.	Rio	de	Janeiro:	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202428
Informare,	v.	3,	n.	2-3,	jan.	1997.
GRANDEY,	A.	A.	Emotional	regulation	in	the	workplace:	A	new	way	to	conceptualize	
emotional labor. Journal of occupational health psychology,	Ontario,	v.	5,	n.	1,	p.	95,	2000.
GROSS,	J.	J.	Emotion	regulation:	taking	stock	and	moving	forward.	Emotion,	Washington,	v.	
13,	n.	3,	p.	359,	2013.
GROSS,	J.	J.;	LEVENSON,	R.	Hiding	feelings:	the	acute	effects	of	inhibiting	negative	and	
positive	emotion.	Journal of abnormal psychology,	Boston,	v.	106,	n.	1,	p.	95,	1997.
HOCHSCHILD,	A.	R.	Emotion	work,	feeling	rules,	and	social	structure.	American Journal 
of Sociology,	Chicago,	n.	85,	p.	551-575,	1979.
HOCHSCHILD, A. R. The managed heart:	commercialization	of	human	feeling.	Los	
Angeles:	University	of	California	Press,	1983.
KOTSOU,	I.	Inteligência emocional e gestão:	compreender	e	utilizar	a	força	das	emoções.	
Lisboa:	Piaget,	2012.
ONU. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.	Disponível	em:	https://brasil.un.org/pt-
br/sdgs.	Acesso	em:	22	fev.	2023.
RAFAELI,	A.;	SUTTON,	R.	I.	Emotional	contrast	strategies	as	means	of	social	influence:	
lessons	from	criminal	interrogators	and	bill	collectors.	Academy of management journal, 
Nova	Iorque,	n.	34,	p.	749-775,	1991.
SILVA,	L.	B.;	GONDIM,	S.	M.	G.	Escala	de	trabalho	emocional:	adaptação	e	evidências	
de	validade.	Estudos de Psicologia,	Campinas,	v.	36.		2019.	Disponível	em:	https://doi.
org/10.1590/1982-0275201936e170065.	Acesso	em:	22	jul.	2023.
SILVA, L. B. Trabalho emocional, engajamento no trabalho e bem-estar no trabalho de 
artistas de espetáculo.	Dissertação	(Mestrado)	Programa	de	Pós	Graduação	em	Psicologia,	
Universidade	Federal	da	Bahia.	UFBA,	Salvador:	2016.
TOTTERDELL,	P.;	HOLMAN,	D.	Emotion	regulation	in	customer	service	roles:	testing	a	
model	of	emotional	labor.	Journal of Occupational Health Psychology,Worcester,		n.	8,	p.	
55-73,	2003.
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 21ª REGIÃO (TRT21). Plano tático 2024-
2025.	Disponível	em:	https://www.trt21.jus.br/institucional/areas-administrativas/governanca-
e-estrategia-organizacional/gestao-estrategica.	Acesso	em:	26	mar.	de	2024.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 29
A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE E SEUS REFLEXOS SOBRE A GARANTIA DE 
ACESSO NA JUSTIÇA DO TRABALHO:
DESEMPENHO, EFICIÊNCIA E EFETIVIDADE EM ORGANIZAÇÕES DA JUSTIÇA 
 
THE INTERIM STATUTE OF LIMITATIONS AND ITS EFFECTS ON THE GUA-
RANTEE OF ACCESSTO JUSTICE IN THE LABOR COURT: 
PERFORMANCE, EFFICIENCY AND EFFECTIVENESS IN JUSTICE ORGANIZATIONS
Cláudio Delgado Freitas1
Luciano Athayde Chaves2
RESUMO
O	presente	artigo	aborda	a	prescrição	intercorrente	e	seus	reflexos	sobre	a	garantia	constitucional	
de	acesso	na	justiça	do	trabalho	e	objetiva	contextualizar	o	uso	dessa	modalidade	de	prescrição	
processual,	 bem	 como	 analisar	 a	 sua	 utilização	 na	 justiça	 do	 trabalho,	 em	 especial	 após	 o	
início	da	coleta	da	informação	inerente	à	sua	pronúncia	pelo	magistrado	no	Processo	Judicial	
Eletrônico	(PJe).	A	hipótese	a	ser	comprovada	é	que	há	uma	crescente	utilização	desta	espécie	
de	prescrição	nos	Tribunais	Trabalhistas.	Utilizando	a	pesquisa	documental	e	bibliográfica,	e	de	
pesquisa	empírica	quantitativa,	ancorada	em	métodos	da	estatística	descritiva,	o	estudo	permitiu	
aferir	 a	 utilização	 desta	 forma	peculiar	 de	 prescrição	 e	 seus	 impactos	 no	 acesso	 à	 justiça	 e	
na	 efetividade	da	prestação	 jurisdicional,	 bem	como	possibilitou	 concluir	 que	 é	 crescente	 a	
utilização	dessa	forma	de	extinção	da	execução	na	 justiça	 trabalhista.	Para	fins	de	pesquisa,	
foram	comparados	todos	os	TRTs,	entretanto,	a	fim	de	reduzir	o	número	de	varas	do	trabalho	a	
serem	comparadas,	o	escopo	da	análise	comparativa	foi	reduzido	para	as	varas	trabalhistas	do	
TRT21,	local	de	exercício	profissional	dos	pesquisadores.
Palavras-Chave:	poder	judiciário;	justiça	do	trabalho;	prescrição	intercorrente;	acesso	à	justiça;	
efetividade.
ABSTRACT 
 
This	article	addresses	the	issue	of	the		interim	statute	of	limitations		and	its	impacts	on	the	
constitutional	guarantee	of	access	to	justice	in	Labor	Courts.	It	aims	to	contextualize	the	use	
of	this	type	of	procedural	statute	of	limitations	and	to	analyze	its	utilization	in	Labor	Courts,	
especially	after	the	beginning	of	the	collection	of	information	inherent	to	its	pronouncement	
by	the	judge	in	the	Electronic	Judicial	Process	(PJe).	The	hypothesis	to	be	tested	is	that	there	
is	a	growing	use	of	this	type	of		statute	of	limitations	in	Labor	Courts.	Using	documentary	
and	bibliographic	research,	as	well	as	quantitative	empirical	research	anchored	in	descriptive	
statistical	methods,	the	study	allowed	us	to	assess	the	use	of	this	peculiar	form	of		statute	of	
limitations	and	its	impacts	on	access	to	justice	and	the	effectiveness	of	the	provision	of	justice,	
as	well	as	to	conclude	that	there	is	a	growing	use	of	this	form	of	extinction	of	execution	in	
Labor	Courts.	For	research	purposes,	all	TRTs	were	compared,	however,	in	order	to	reduce	the	
number	of	Labor	Courts	to	be	compared,	the	scope	of	the	comparative	analysis	was	reduced	
to	the	TRT21	Labor	Courts,	the	place	of	professional	practice	of	the	researchers. 
 
Keywords:	judiciary; Labor	Justice;	interim	statute	of	limitations;	access	to	justice;	
1	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	21ª	Região.	E-mail:	delgado@trt21.jus.br
2	Universidade	Federal	do	Rio	Grande	do	Norte.	E-mail:	luciano.athayde@ufrn.br
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 202430
effectiveness.
1. INTRODUÇÃO
	 A	prescrição	intercorrente	é	um	tema	importante	quando	relacionado	ao	acesso	à	Justiça	
e	à	efetividade,	principalmente	no	segmento	da	Justiça	do	Trabalho.	Importante	ressaltar	que	
há	outras	formas	de	prescrição	no	ordenamento	jurídico	brasileiro,	nas	quais	o	fator	prazo	e/ou	
tempo	também	é	um	limitador	para	que	uma	pessoa	exerça	o	direito	de	ação,	tempo	esse	que,	
segundo	conceito	de	Santo	Agostinho,	não	tem	realidade	em	si,	mas	é	fruto	de	uma	invenção	
do	homem,	constituído	por	três	nadas:	o	passado,	que	não	existe	mais;	o	futuro,	que	ainda	não	
existe;	e	o	presente,	tão	fugaz	que	é	uma	mistura	de	passado	e	futuro.	Por	sua	vez,	OST	(1999,	
p.	14),	articulando	o	direito	e	o	tempo,	afirma:	“o	direito	afeta	diretamente	a	temporalização	do	
tempo,	o	passo	que,	em	compensação,	o	tempo	determina	a	força	instituinte	do	direito”.
	 A	base	jurídica	da	prescrição	está	inserida	tanto	na	Constituição	federal	(CF)	como	na	
consolidação	das	leis	do	trabalho	(CLT).	Com	efeito,	no	art.	7º,	inciso	XXIV,	da	CF,	afirma-se	
ser	direito	dos	trabalhadores,	dentre	outros,	a	“ação,	quanto	aos	créditos	resultantes	das	relações	
de	trabalho,	com	prazo	prescricional	de	cinco	anos	para	os	trabalhadores	urbanos	e	rurais,	até	
o	limite	de	dois	anos	após	a	extinção	do	contrato	de	trabalho”.	A	CLT,	seu	art.	11	estabelece:	
“a	pretensão	quanto	a	créditos	 resultantes	das	 relações	de	 trabalho	prescreve	em	cinco	anos	
para	os	trabalhadores	urbanos	e	rurais,	até	o	limite	de	dois	anos	após	a	extinção	do	contrato	de	
trabalho.	(Brasil,	2017).	Já	quanto	à	prescrição	intercorrente,	esta	se	encontra	prevista	no	artigo	
11-A	da	CLT,	com	o	seguinte	teor:	“Art.	11-A	Ocorre	a	prescrição	intercorrente	no	processo	
do	trabalho	no	prazo	de	dois	anos.	§	1º	A	fluência	do	prazo	prescricional	intercorrente	inicia-
se	quando	o	exequente	deixa	de	cumprir	determinação	judicial	no	curso	da	execução.	§	2º	A	
declaração	da	prescrição	intercorrente	pode	ser	requerida	ou	declarada	de	ofício	em	qualquer	
grau	de	jurisdição”.
	 O	problema	que	motiva	a	presente	pesquisa	consiste	em	verificar	se,	com	as	alterações	
da	Lei	conhecida	como	Reforma	Trabalhista	(Brasil,	2017),	houve	um	aumento	da	aplicação	
da	 prescrição	 intercorrente	 pelos	 magistrados	 da	 Justiça	 do	 Trabalho.	 Como	 hipótese	 de	
estudo	almejou-se	comprovar	se,	em	que	pese	as	diferenças	de	entendimento	jurisprudenciais	
e	 de	 opiniões,	 anteriores	 à	 alteração	 legislativa,	 há	 um	 crescente	 aumento	 da	 utilização	 da	
prescrição	intercorrente	na	execução	no	ramo	Trabalhista.	Utilizando	de	pesquisa	bibliográfica	
e	 documental	 e	 bibliográfica,	 bem	 como	 da	 pesquisa	 empírica	 quantitativa,	 ancorada	 em	
métodos	da	estatística	descritiva,	foram	coletados	dados	das	utilizações	desta	forma	peculiar	de	
prescrição	especificamente	na	Justiça	Trabalhista	analisando	e	concluindo	que	há	realmente	um	
acréscimo	significativo	ano	a	ano.
	 O	texto	está	dividido	em	três	partes.	Na	primeira,	explora-se	os	conceitos	de	prescrição	e	
os	seu	relacionamento	com	o	acesso	à	justiça	e	o	aparente	conflito	entre	princípios	constitucionais	
de	duração	razoável	do	processo	e	do	acesso	à	justiça.	A	seção	seguinte	discute,	em	perspectiva	
histórica,	 as	 diferenças	 de	 opiniões	 dos	 juristas	 e	 posições	 dos	 tribunais	 sobre	 a	 prescrição	
intercorrente	antes	da	Lei	da	Reforma	Trabalhista	de	2017.	Por	fim,	na	última	seção,	descreve-se	
as	mudanças	ocorridas	com	a	referida	Lei	e,	em	seguida,	apresenta-se	o	resultado	e	a	análise	da	
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, v. 23, n. 1, 2024 31
coleta	de	dados,	relacionados	a	essa	forma	de	prescrição,	no	panorama	da	Justiça	do	Trabalho,	
comparando	 os	TRTs	 entre	 si.	 Ressalta-se	 que	 a	 fim	 de	 reduzir	 o	 escopo	 da	 quantidade	 de	
unidades	judiciárias	a	serem	comparadas,	foi	reduzido	o	escopo	da	comparação	para	somente	
as	 unidades	 judiciárias	 do	TRT21,	 local	 de	 exercício	 profissional	 dos	 pesquisadores.	 Outra	
redução	de	escopo	necessária	 foi	a	 redução	 temporal,	diante	da	 impossibilidade	de	acesso	a	
dados	anteriores	a	2020,	ano	de	início	da	coleta	da	informação	classificada	da	forma	de	sentença	
de	extinção	inerente	à	pronúncia	pelo	magistrado	no	Processo	Judicial	Eletrônico	(PJe).
2. CONCEITOS, CONFLITOS CONSTITUCIONAIS E RELAÇÃO COM O ACESSO 
À JUSTIÇA
	 A	 prescrição	 nem	 sempre	 ocupou	 um	 lugar	 na	 ordem	 jurídica	 ocidental.	 Segundo	
Venosa	 (2021,	 p.	 503),	 o	 instituto	 da	 prescrição	 era	 desconhecido	 do	 direito	 romano,	 onde	
vigorava	a	ideia	de	perpetuidade	das	ações.	Citando	Antônio	Luís	Câmara	Leal,	Venosa	explica	
que,	posteriormente,	os	pretores	foram	investidos	pela	lei	Aebutia	do	poder	de	criar	ações	não	
previstas	no	direito	honorário,	pelo	que	puderam	fixar	um	prazo	para	a	duração	das	mesmas,	
originando,	assim,	as	ações	temporárias,	diferentes	das	demais	ações	de	direito	quiritário,	que	
eram	perpétuas.
	 Conforme

Mais conteúdos dessa disciplina