Logo Passei Direto
Buscar

ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA FILOSÓFICA APOSTILA

User badge image
D NP

em

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

ANTROPOLOGIA 
E SOCIOLOGIA FILOSÓFICA
 
APRESENTAÇÃO 
 
DAIANY CRIS SILVA 
 
• Mestre em Ciências Sociais – Universidade Estadual de Maringá (2020); 
• Licenciada em Ciências Sociais – Universidade Estadual de Maringá (2018); 
• Professora de Sociologia na rede de educação básica do estado do Mato Grosso/ 
SEDUC – MT (2021); 
• Professora de Sociologia e Antropologia Jurídica e Filosofia do Direito na Faculdade de 
Nova Mutum - MT/FAMUTUM (2021); 
• Professora conteudista da UNICESUMAR EAD – Disciplina de “Fundamentos 
sociológicos e antropológicos da educação” (2020); 
• Professora conteudista da VG EDUCACIONAL – Disciplinas de “Introdução a Sociologia” 
e “Projetos Sociais: conceitos, elaboração e operacionalização” (2020 – 2021); 
• Diretora de Juventude – Gabinete do Prefeito da Prefeitura Municipal de Maringá 
(2020); 
• Professora de Sociologia na rede de educação básica do estado do Paraná/ SEED – PR 
(2018-2020); 
• Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/9836626816148868 
Cientista Social e Professora de Sociologia. Possui licenciatura e mestrado em Ciências 
Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Possui experiência no ensino de 
sociologia e antropologia para o nível superior, médio regular e de jovens e adultos. 
Desenvolve trabalhos como professora conteudista em diversas instituições na 
modalidade EAD. Atuou na gestão de políticas públicas para a juventude na Prefeitura 
Municipal de Maringá- PR. Os principais interesses de pesquisa são: geração, gênero, 
juventude e velhice. 
. 
http://lattes.cnpq.br/9836626816148868
http://lattes.cnpq.br/9836626816148868
 
 
 
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
 
Olá, estudante! 
 Na disciplina de Antropologia e Sociologia Filosófica iremos conhecer os diversos 
olhares sobre o entendimento do humano, como a ciência construiu metodologias e 
teorias que pensam em nós, como sociedade que produz significados, contradições e 
conhecimento. Você, estudante, terá como principal objetivo nesta disciplina se 
desprender de concepções pré-concebidas e refletir sobre a sociedade em que vive. 
 Para alcançar esse objetivo você, estudante, terá que cumprir um caminho em 
quatro etapas, relacionadas nas diferentes unidades da disciplina e que propõe debates 
importantes para a consolidação da antropologia como ciência. 
 Na unidade I, vamos conhecer o conceito de sociedade pela perspectiva da 
sociologia, teremos a dimensão de como esse campo científico se formou, o seu 
contexto histórico de formação e duas diferentes metodologia e teorias. Nesta unidade, 
perceberemos que a sociologia é muito importante para a compreensão do mundo que 
vivemos. 
 Já na unidade II você saberá mais sobre o conceito de cultura e a sua relação com 
a consolidação da antropologia com um campo científico, conheceremos, ainda, os 
diferentes campos de estudos sobre cultura. 
 Na sequência, na unidade III falaremos a respeito da filosofia e os campos de 
estudo dessa área do conhecimento. Ao conhecermos os estudos filosóficos, 
tomaremos contato com questões como: existência, natureza, liberdade, amor e moral. 
 Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina discutindo 
sobre as diversidades culturais, diferenças religiosas e os desafios impostos pela era 
digital na sociedade moderna. 
 Esperamos que esta disciplina possa contribuir significativamente para a sua 
formação profissional. 
 Bons estudos! 
 
UNIDADE I 
A HUMANIDADE E A VIDA EM SOCIEDADE 
Professor Mestra Daiany Cris Silva 
 
 
Plano de Estudo: 
• Conceitos e Definições de sociedade; 
• Campos de estudo das ciências sociais; 
• Contextos históricos para o surgimento da sociologia; 
• A imaginação sociológica. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
• Conceituar e contextualizar a definição de sociedade; 
• Compreender os estudos sociológicos como ferramenta de entendimento humano; 
• Estabelecer a importância da sociologia como ciência. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá, estudante! 
 Você já se perguntou o que é sociedade? O que caracteriza e faz possível a 
formação de uma sociedade? Ou, ainda, pensou se é possível fazer da sociedade um 
objeto de estudo? Nesta primeira unidade dos nossos estudos sobre antropologia e 
sociologia filosófica, buscaremos responder essas perguntas, principalmente, no que se 
refere à definição do conceito de sociedade. 
 Para conseguirmos responder questões como as citadas acima, precisamos 
conhecer a ciência que se dedica a estudar as sociedades humanas, a sociologia. 
Portanto, discutiremos sobre os diferentes campos de estudo nas ciências sociais e 
traçaremos um breve histórico de surgimento dos estudos sobre a vida em sociedade, 
ou seja, conheceremos o contexto que possibilitou a consolidação da sociologia como 
uma ciência. 
 Diante da apresentação de todos esses temas, perceberemos, estudante, que a 
sociologia é uma ciência que possibilita a compreensão da realidade social em que 
vivemos, suas problemáticas e possibilidades. Ao conhecermos os estudos sociológicos 
perceberemos as complexidades da vida em sociedade e, por meio desse conhecimento, 
teremos a possibilidade de refletir sobre as nossas possibilidades de ação no meio social. 
 Espero que você, estudante, diante do material apresentado, tenha condições 
de compreender a importância da sociologia. 
 Bons Estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE SOCIEDADE 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/crowd-people-
walking-street-1379935829 
 
Uma das grandes questões para quem desconhece a sociologia é: como seria 
possível estudar a vida em sociedade? E para responder a essa questão, precisamos, 
primeiramente, compreender o que é um objeto de estudo científico nessa área. 
Todo conhecimento científico precisa de algo para concentrar seus estudos, um 
objeto, aquilo que podemos manusear, provar e manipular para que novas descobertas 
sobre determinado assunto surjam. Na biologia, por exemplo, o objeto científico é a 
natureza, portanto, o estudo que os biólogos realizam buscam compreender todas as 
complexidades da natureza, para isso, utiliza-se laboratórios, microscópios e muitos 
outros instrumentos de manuseio desse objeto de estudo, que pode ser representado 
por células, vegetais, animais, dentre outros. Já na Sociologia, os Sociólogos e Cientistas 
Sociais, estudam a sociedade, ou seja, estudamos grupos de pessoas que se organizam 
e se relacionam coletivamente de uma determinada maneira, desse modo, o nosso 
ambiente de estudo é a vida humana em coletividade, as relações entre as pessoas, a 
família, a escola, os hábitos e gostos de diferentes lugares, a política e muitos outros 
temas que fazem parte da nossa vida cotidiana. 
Sabe o que isso tudo significa na prática? Significa que a Sociologia é a Ciência 
que se dedica a conhecer o mundo em que vivemos e possui como um dos seus 
principais objetivos mostrar por meio dos seus estudos quais são as características da 
nossa sociedade, quais são nossos maiores problemas e como podemos enfrentá-los. 
Portanto, quando nos perguntam se é possível tornar a vida em sociedade em 
um objeto de estudo científico, podemos responder com toda certeza que sim, pois, 
para a Sociologia, a Sociedade é um objeto de estudo científico com métodos e técnicas 
de análise próprias. 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/crowd-people-walking-street-1379935829
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/crowd-people-walking-street-1379935829
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Segundo uma definição prática de sociedade de GIDDENS E SUTTON (2017), 
Sociedade é: “um conceito usado para descrever as instituições e relações sociais 
estabelecidas entre uma grande comunidade de pessoas que não pode ser reduzida a 
um mero acúmulo ou agregação de indivíduos” (GIDDENS e SUTTON, 2017, P.37). Isso 
quer dizer, estudante, que não basta um grupo maior de três pessoasética e a moral, conheceremos 
os conceitos desses dois termos tão essenciais para a humanidade. 
Esperamos que, nesta unidade, você, estudante, seja capaz de desenvolver uma 
leitura mais atenta e reflexiva sobre a realidade que vive. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DO CONHECIMENTO FILOSÓFICO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/socrates-ancient-greek-
philosopher-1027476298 
A compreensão da humanidade como ser é uma das grandes questões 
da filosofia, área do conhecimento a qual nos dedicaremos nesta unidade. Uma 
outra questão surge, ainda, para os estudantes que tomam contato com a 
filosofia pela primeira vez é: para quê serve a Filosofia? E vamos tentar 
responder isso. 
 Existem muitas coisas em que acreditamos apenas porque sabemos 
desde sempre, porque acreditamos que é assim e ponto. Por exemplo, porque 
o céu é azul? Geralmente respondemos que é assim porque sempre o vimos 
dessa forma, sem mais considerações, não buscamos saber o porquê e o que 
realmente isso significa. Essa maneira de acreditar é silenciosa, pois nós 
acreditamos sem buscar saber mais, sem questionar. Da mesma forma, 
lidamos com as nossas relações na família, no trabalho, com os amigos, ou 
ainda, reproduzimos valores e pensamentos de cunho moral, político, religioso, 
artístico, aceitamos regras de conduta, finalidades de vida, assim como elas 
estão postas, sem nos perguntar para o quê elas servem. 
 Nesse sentido, podemos dizer que o entendimento de todos esses 
porquês, seus significados e causalidades são objetos da Filosofia. Em 
contrapartida, o ato de acreditar sem indagar, sem refletir é algo característico 
do senso comum, portanto, não é objeto da Filosofia. 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/socrates-ancient-greek-philosopher-1027476298
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/socrates-ancient-greek-philosopher-1027476298
 
 O Senso Comum é formado por nossas convenções e crenças coletivas 
que são o principal elemento a ser questionado pela Filosofia. Expressões 
rotineiras como: “se sair na chuva você irá se molhar”, são ditas no cotidiano e 
apontam uma causa e um efeito, mas no dia a dia nós não nos questionamos 
sobre isso, nem sequer nos interrogamos sobre muitas outras expressões e 
conhecimentos de Senso Comum. A Filosofia se pergunta o que é a causa? O 
que é efeito? Questões que não são rotineiras e até mesmo causam 
estranhamento aos olhos de quem não se questiona sobre o mundo. Quando 
perguntamos: que horas são? Partimos do pressuposto que existe um tempo 
que contabiliza a nossa vida, mas alguém já se perguntou: o que é o tempo? 
Essa questão possui um cunho filosófico (CHAUÍ, 2008). 
 Portanto, para fugir do senso comum a filósofa ou filósofo deve cultivar 
a atitude filosófica. 
 Imagine situações em que no lugar de perguntarmos: “você sonhou?”, 
perguntássemos: “o que é o sonho?”. Essa é uma atitude filosófica (CHAUÍ, 
2008) . Decidir ter uma atitude filosófica é se distanciar do senso comum, da 
maneira de pensar cotidiana e rotineira. Questionar a nossa existência, no que 
cremos e porque cremos, nossos valores e costumes, é uma atitude filosófica, 
ou seja, questionar no que cremos silenciosamente. 
 A atitude filosófica nos leva a uma atitude crítica sobre as coisas que 
acontecem no nosso dia a dia. Primeiramente, existe uma postura negativa de 
dizer não para o que o senso comum determina, nossas pré-noções e 
preconceitos. Seguidamente, existe uma ação positiva em que interrogamos o 
quê e para quê das nossas atitudes, ações e dizeres, desenvolvemos a partir 
daqui um pensamento crítico (CHAUÍ, 2008). Segundo a autora: 
 
A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso 
comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que 
imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, 
afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei 
que nada sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a 
Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo 
Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto. “ 
(CHAUI, 2008, p.09) 
 
 
Compreendemos, portanto, que existem diferentes maneiras de exercer o 
pensamento crítico. No trecho acima percebemos que para o filósofo Platão, a atitude 
crítica vem da admiração, para Aristóteles do espanto, ambos sentimentos que podem 
causar estranhamento e questionamentos. Essa admiração e espanto significam que 
devemos tomar certa distância do nosso mundo, agir como se tivéssemos acabado de 
nascer, como se fosse a primeira vez que víssemos ou ouvimos algo. De modo a 
perguntar, o que somos e como somos. 
 Nesse sentido, quando nos perguntamos para quê serve a filosofia podemos 
responder de um lado que para muitos filósofos existe preocupação em encontrar uma 
utilidade para a filosofia, principalmente, se essa utilidade surgir para dar valor 
econômico a esse conhecimento. Por outro lado, podemos dizer que as questões 
filosóficas formulam um acúmulo de saberes que permitem às ciências e as artes 
desenvolver teorias e práticas. Na Sociologia, por exemplo, utilizamos saberes filosóficos 
sobre a democracia e, então, por meio dos saberes filosóficos, conseguimos desenvolver 
métodos e técnicas, teorias e formulações sobre a democracia no nosso mundo. Em 
outros temas como: justiça social; liberdade; igualdade e poder. 
 Dessa forma, é possível compreender que as formulações filosóficas servem para 
conceituar métodos e teorias. Quem não sabe sobre a importância da filosofia para 
todas as ciências pode pensar que filosofar é inútil. E a filosofia não é inútil porque é 
uma atitude de questionamento sobre o mundo necessária. Pois, desenvolve 
formulações que produzem conhecimento, utilizado pelas ciências e aplicado pela 
tecnologia. A filosofia não ensina moral apenas, não é uma religião, um modo sábio de 
ver a vida. Não possuímos filosofias de vida, apenas por apresentar posicionamentos 
coerentes sobre a vida e por quê? 
 Podemos dizer que não existe filosofia de vida porque a atitude filosófica indaga 
por meio de um pensamento sistemático e lógico. Realizando perguntas como: O quê? 
Como? Por quê? 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS 
A sistemática do pensamento filosófico se solidifica por meio de três pilares: ANÁLISE, 
REFLEXÃO e CRÍTICA. Análise para avaliar o que é e como é algo, reflexão para 
descobrir possíveis significados e crítica para compreender. 
 Fonte: a autora. 
#SAIBA MAIS# 
 
Tendo em vista as características principais da Filosofia, vamos discutir um 
pouco sobre o seu contexto de surgimento e seus campos de atuação. 
 
 
2 BREVE HISTÓRICO DA FORMAÇÃO DO CONHECIMENTO FILOSÓFICO 
 
Imagem do tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/santorini-
greece-picturesq-view-traditional-cycladic-1040803156 
 
A Filosofia é de fato grego. Pelo menos a Filosofia que conhecemos e que 
repercutiu no ocidente sim. A filosofia com sistemática, características próprias e 
formas de pensar e expressar pensamentos tipicamente grega. Isso não significa que 
outros povos não desenvolveram conhecimentos sobre si e o mundo mas, por outra 
lógica, que não a filosófica que buscamos compreender aqui. 
 Para os gregos entende-se a filosofia como um ato de amor à sabedoria. A 
palavra filosofia, em sua origem do latim, significa: PHILO (amor fraterno/amizade) + 
SOPHIA (saber/ sabedoria quem ama a sabedoria). 
 Para o filósofo Pitágoras, o filósofo é movido pelo desejo de observar a vida, as 
ações humanas, ele possui o desejo por saber. Segundo Pitágoras (séc. V a.c): “a 
sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou 
amá-la, tornando-se filósofos ” (CHAUI, 2008, p.19). 
 Essa forma de construir e desenvolver o pensamento deixou um legado para o 
ocidente, nos dando as bases para a compreensãoatual de razão, racionalidade, 
ciência, ética, política, técnica, método e, até mesmo, a noção de arte. 
 De acordo com a tradição grega, existem conhecimentos que são necessários e 
universais que podem e devem ser conhecidos pelo pensamento. Um exemplo é a lei 
da gravidade, independente de onde e como falamos sobre, a gravidade é um fato 
imutável e necessário da natureza e conhecê-lo é necessário. A partir dessa 
perspectiva, compreende-se que existem leis naturais que ordenam as nossas vidas e 
por meio da análise filosófica podemos distinguir o que é verdadeiro ou falso, 
desenvolvendo assim, a razão. 
A ideia de razoabilidade implica no ato de distinguir o que é imutável e universal 
da força de nossas ações e escolhas humanas. Ex: O fato da pedra cair é uma lei 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/santorini-greece-picturesq-view-traditional-cycladic-1040803156
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/santorini-greece-picturesq-view-traditional-cycladic-1040803156
 
necessária e natural (a gravidade) mas, se a pedra for jogada por alguém, de maneira 
intencional isso é resultado da ação humana, nesse caso conseguimos distinguir o que 
é necessário da situação ocasional ou eventual movida pela escolha humana. 
Portanto, para a Filosofia, tanto as leis da natureza, quanto a razão humana, 
podem ser conhecidas como um meio de nos conhecer e conhecer o mundo em que 
vivemos. A própria razão possui a possibilidade de conhecer a si mesma. A sabedoria 
é conquistada aqui pela razão, não por explicações naturais e divinas. 
REFLITA 
Compreende-se como razão como o que nos permite mobilizar conceitos, responder 
problemas e avaliar a nossa experiência, é uma qualidade intrinsecamente humana. 
Fonte: a autora. 
#REFLITA# 
 
Diante disso, considera-se que a Filosofia, em sua origem grega, possui uma 
série de contextos para o seu surgimento, acontecimentos esses que proporcionaram 
o desenvolvimento e valorização da razão humana como principal fonte de 
conhecimento. São eles: 
● A ruptura da narrativa dos mitos para explicação da origem das coisas e do 
mundo; 
● As viagens marítimas que provaram que nos lugares em que acreditavam haver 
monstros, heróis, titãs e deuses, haviam outros seres humanos; 
● A invenção do calendário que permitiu a compreensão do tempo e das estações 
do ano como algo natural e não incompreensivelmente divino; 
● A invenção da moeda, da vida urbana, da escrita alfabética e da política, como 
produtos de civilização humana que modificaram a lógica da experiência social, 
principalmente no que se refere à política, que proporcionou às pessoas a 
capacidade discursiva por meio da razão, a criação das leis, do espaço público e 
 
desenvolveu alternativas de comunicação e transmissão de ideias pelo 
pensamento. 
Assim como muitos outros campos científicos, a filosofia possui, além de 
seus contextos de formação, princípios norteadores em sua origem. São eles: 
● A racionalidade como principal forma de explicação do mundo; 
● Comprovação da verdade por meio da razão; 
● Sistemática do pensamento, é preciso apresentar os fundamentos e 
justificativas para a comprovação da verdade; 
● Recusa de predefinições; 
● Generalização, buscar explicações universais para um mesmo pensamento. 
Para alcançar esses princípios existem duas ações básicas: síntese e análises. A 
síntese se refere à reunião de semelhanças, por meio da busca de um pensamento que 
se generaliza por meio da abstração, isto é, a operação e junção de traços semelhantes. 
No que se refere à análise, é o ato de diferenciar pelo pensamento situações diferentes 
que apresentam ser semelhantes. Separação das diferenças e evidenciá-las. 
 
 
 
 
 
3 PERÍODOS DA FILOSOFIA GREGA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/pericles-funeral-
oration-on-old-greece-1598220667 
 
Os campos de atuação na filosofia podem ser melhor compreendidos diante dos 
diferentes períodos da filosofia grega. São eles: período pré – socrático ou cosmológico 
(final do século VII ao final do séc. V a.C.); período socrático ou antropológico (final do 
séc. V e todo o séc IV a.C); período sistemático (final do séc. IV ao final do séc. III a.C.) e 
período helenístico (durante o império greco-romano no final do séc. III a.C até VI d.C). 
Período pré – socrático ou cosmológico (final do século VII ao final do séc. V 
a.C.) 
Nesse período, a grande busca foi pela compreensão das origens da natureza e 
do mundo e suas transformações. Em oposição ao criacionismo, a cosmologia buscava 
conhecer a origem do mundo e da natureza por meio de uma sistemática racional, 
portanto, acreditava-se que: nada vem do nada e nada volta ao nada. Contrariando a 
cultura Judaico-Cristã. Dessa maneira, a natureza é entendida como infinita e eterna e 
existe a compreensão de que tudo o que existe transforma-se sem desaparecer. Isso 
tudo forma uma concepção de um mundo entendido em um movimento constante em 
que estamos submetidos ao devir, de modo a estarmos em constante passagem que é 
determinada pela natureza. 
Período socrático ou antropológico (final do séc. V e todo o séc IV a.C) 
Neste período, a busca se dava pelo entendimento das questões humanas como 
ética, política e a arte. Desse modo, o período é considerado como antropológico porque 
busca essencialmente o conhecimento sobre a humanidade e todas as transformações 
e criações que advém dela, como a vida urbana. 
 A democracia da polis é um marco essencial nesse período, a experimentação de 
uma organização política que advém do povo condiciona muitas formulações desse 
período. Diante disso, compreende-se que a democracia grega afirmava igualdade de 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/pericles-funeral-oration-on-old-greece-1598220667
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/pericles-funeral-oration-on-old-greece-1598220667
 
todos os homens adultos perante as leis e garantia o direito de todos a participação do 
governo da cidade, a pólis. A partir daqui, surge a concepção de cidadão grego, uma 
figura política deve opinar e construir posicionamentos sobre a vida em sociedade. 
 É importante destacar que o é cidadão apenas homens adultos, mulheres, 
idosos, crianças, escravos e estrangeiros seriam seus dependentes. Destacava-se como 
principal qualidade de um cidadão a persuasão e a oratória, momento em que surgem 
os sofistas, que foram os primeiros filósofos desse período, pessoas que ofereciam 
treinamentos de oratória e pregavam que independentemente da verdade, se o cidadão 
puder persuadir com bons argumentos nas assembleias, teria a vitória sobre seus 
posicionamentos. 
 O principal filósofo desse período é Sócrates, que foi um severo crítico da prática 
dos sofistas e constituiu um entendimento que norteou a filosofia da época, de que é 
possível pela consciência racional diferenciar o que é verdadeiro ou falso e isso nos traria 
total compreensão das nossas questões. Sobre Sócrates, trataremos mais adiante. 
Período sistemático (final do séc. IV ao final do séc. III a.C.). 
Partindo do pressuposto de que tudo pode ser investigado desde que haja leis 
bem estabelecidas, nesse período tanto os conhecimentos cosmológicos quanto 
antropológicos foram investigados. O principal autor desse período é Aristóteles que fez 
uma verdadeira enciclopédia dos conhecimentos adquiridos pela Filosofia grega desde 
o seu surgimento. 
 Nesse período, houve a imposição de hierarquizações entre conhecimentos mais 
complexos e superiores, de modo a constituir diferentes campos de conhecimento e os 
separou em suas diferentes ciências. 
Para Aristóteles havia um conjunto de campos científicos: 
1) Ciências produtivas, que possuíam uma finalidade em si: arquitetura, 
economia, medicina, farmacologia, engenharias… 2) Ciências práticas, que 
produziram estudos sobre as práticas humanas: ciências sociais, psicologia… 
3) Ciências teocráticas, desenvolvimentode teorias e complexos: física, 
química, matemática, biologia… 4) Ontologia: o estudo da metafísica e da 
teologia; e 5) Epistemologia: teorias sobre o conhecimento científico, 
sistematização de técnicas (CHAUI, 2008, p. 48). 
 
Período helenístico (durante o império greco-romano no final do séc. III a.C até VI 
d.C). 
Neste período, a formação de sacerdotes da igreja foi essencial pois, a 
religiosidade possuía um forte poder político e social. Dessa forma, as investigações se 
concentraram nos conhecimentos sobre a ética e as relações humanas com a natureza 
divina. É nesse período que temos a criação do Deus cristão. 
 Há, ainda, que se considerar o predomínio do império romano sua aproximação 
dos conceitos orientais sobre as questões humanas, o que influenciou fortemente a 
construção filosófica do período. 
 Como é possível observar até aqui, Sócrates é crucial para a formação da Filosofia 
grega, mas o filósofo não possui escritos, tudo o que sabemos sobre ele é o que seu 
discípulo, Platão, registrou, bem como os conhecimentos dos Sofistas, o que sabemos 
são as críticas de Sócrates sobre eles. 
 Em discordância aos antigos filósofos e aos Sofistas, Sócrates propunha que, 
antes de querer conhecer a Natureza e antes de querer persuadir os outros, cada um 
deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. A expressão “conhece-te a 
ti mesmo” que estava gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono grego da 
sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates (CHAUÍ, 2008, p. 43). 
 A maneira com que Sócrates ensinava a desenvolver o pensamento mostra-nos 
a diferença entre opinião e conceito, pois admite na ignorância que não possuímos todo 
o conhecimento sobre o mundo e que nossas opiniões, avaliações não sistemáticas não 
podem ser consideradas como verdade absoluta. 
 
 
 
 
4 QUESTÕES FILOSÓFICAS: A ÉTICA E A MORAL 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ethical-moral-symbol-
businessman-turns-wooden-1939402231 
 
Diante da discussão que temos travado até aqui, percebe-se que compreender a 
racionalidade humana é de extrema importância para a filosofia, portanto, entender de 
que maneira a moral e a ética são desenvolvidas são questões que tocam diretamente 
a maneira como a razão humana se constrói nas suas relações sociais. Torna-se 
importante, portanto, diferenciar o que significam ética e moral para a filosofia. Para 
isso, precisamos conceituar esse dois termos: 
 
● MORAL: reflexo de valores sociais como justiça, liberdade, integridade, verdade, 
dentre outros conceitos que carregam significados que são construídos 
coletivamente, de acordo com costumes e hábitos culturais. 
● ÉTICA: postura que busca garantir a dignidade humana, é um modo de ser e agir 
que possui a característica de controlar nossos impulsos e paixões, como os que 
levam a violência, a injustiça ou a exploração. 
 
Nesse sentido, nem toda moral é ética, pois os construtos sociais que 
condicionam a moralidade de uma sociedade podem ser antiéticos no sentido de ferir a 
dignidade humana, principalmente, em sociedades tão violentas e desiguais como a que 
vivemos. 
Vamos desenvolver melhor esses conceitos, estudante? Vejamos as diferenças 
entre o senso moral e a consciência moral. 
No que se refere ao senso moral e à consciência moral caracterizam os nossos 
sentimentos de solidariedade, justiça, piedade e a famosa empatia, que está muito em 
voga na atualidade como significação do sentimento de se colocar no colocar no lugar 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ethical-moral-symbol-businessman-turns-wooden-1939402231
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ethical-moral-symbol-businessman-turns-wooden-1939402231
 
do outro ou de esperar que se coloquem no seu lugar para desenvolver atitudes mais 
fraternas. 
Pela adesão do senso moral, agimos em conformidade com a consciência moral 
que desperta sentimentos de moralidade. E sabe de onde surge essa moralidade, 
estudante? Das nossas construções culturais, costumes e hábitos cotidianos que 
significam os nossos conceitos de justiça, liberdade, integridade, dignidade, coragem, 
dentre muitas outras qualidades que podem ser consideradas virtuosas se forem 
positivas ou se forem negativas, falhas morais. 
Para o desenvolvimento dessas competências morais, criamos juízo de valor, que 
se difere do juízo de fato. O juízo de fato diz respeito a acontecimentos irrefutáveis, de 
força natural, por exemplo: “hoje choveu”, já o juízo de valor, expressa os valores que 
construímos coletivamente: “ hoje choveu de maneira bonita”, a beleza que se encontra 
na chuva é um valor. 
 Essas duas expressões, o juízo de fato e o juízo de valor, revelam as diferenças 
que possuem a natureza e a cultura, pois, quando falamos da natureza, tratamos de 
fatos determinados biologicamente ou naturalmente como a chuva, mas quando 
tratamos da cultura, dos valores, tocamos em interpretações que a humanidade 
constrói sobre si mesma e sobre o mundo, diante da sua relação com a natureza, por 
isso a chuva passa a ser bela de acordo com os significados que a humanidade construiu 
para esse fenômeno que é natural. 
Diante disso, percebe-se que tanto a ética quanto a moral são construções 
histórico-culturais, desenvolvidas de acordo com a necessidade do meio em que estão 
inseridas. 
Para evitar conflitos violentos, no sentido da força de coerção física e psicológica 
em que obriga alguém a fazer algo contra a sua vontade, é que se institui padrões de 
conduta e de comportamentos sociais. A defesa da vida humana de maneira digna é 
portanto, uma grande preocupação de debates éticos, por isso, temas como: 
criminalidade, eutanásia, aborto, vício e drogadição, são discussões que nos impõem 
dilemas éticos. 
 
Um dos princípios fundamentais da ética considera que somos pessoas e não 
podemos ser tratados como coisas (CHAUÍ, 2008). A ética é normativa exatamente por 
isso, suas normas visam impor limites e controles ao risco da violência. 
São constituintes do campo ético: 
● Não se pode empregar meios imorais para alcançar fins morais, para a ética isso é 
impossível; 
● Apenas meios morais são justificáveis em uma ação que possui um fim moral; 
● Só existe sujeito ético se: 1) houver consciência de si e dos outros, reconhecendo que 
o outro é tão sujeito quanto você, por isso é igual e merece o mesmo senso de igualdade; 
2) ser dotado de controle por suas decisões, impulsos e desejos; 3) ser responsável e 
reconhecer suas próprias ações com capacidade de avaliar suas implicações sobre si e 
sobre os outros e; 4) ser livre e agente ativo na tomada de decisões e não estar 
submetido a poderes externos que impõe situações que são contra a sua vontade; 
● A liberdade como poder de autodeterminar-se, dando a si regras e normas de conduta 
que controlam seus impulsos e proporcionam uma escolha clara e autônoma sobre suas 
atitudes. 
Diante desses pontos, se constitui o agente moral e os valores morais, no sentido 
de formar alguém que ao aderir valores morais também possui a capacidade de agir 
diante de suas decisões e controle sobre seus impulsos. 
A Ética é, portanto, uma expressão de como a cultura e a sociedade definem a si 
mesmas, o que é visto como violento, ou não, bom ou mal, bom ou ruim, verdadeiro ou 
falso. 
 
 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Prezado (a), estudante! 
 
 Nesta unidade, conhecemos algumas contribuições da filosofia para a 
compreensão da humanidade diante de diversas questões. 
 Primeiramente, conceituamos e contextualizamos a filosofia como campo de 
conhecimento. A partir disso, compreendemos que a busca pela serventia da filosofia 
não deve ter como horizonte resultados práticos, pois, esta é uma área do 
conhecimento que não nos oferece nenhum milagre econômico ou lucros capitalista e, 
sim, um acúmulo de saberes que possibilita o desenvolvimento de todas as ciências. 
 Seguidamente, tivemoso entendimento que a filosofia é um fato grego, pelo 
menos a filosofia que influenciou o pensamento ocidental sim. Fruto de uma série de 
acontecimentos históricos que proporcionaram a criação de cidades, da política e das 
navegações, a filosofia surgiu no ensejo de períodos que revelaram a humanidade que 
precisaríamos construir mais conhecimentos sobre nós mesmos. 
 Diante disso, a unidade mostrou-nos que a filosofia é uma importante 
ferramenta de entendimento humano e a discussão sobre ética e moral nos abre os 
olhos para isso pois, por meio dessa discussão, compreendemos que, até mesmo, os 
valores que construímos para a resolução de conflitos ou para dar juízos de valor sobre 
nossas relações são construtos coletivos que precisam de reflexão. 
 Ao término desta unidade desejamos a você, estudante, que esse seja um passo 
inicial para que você desenvolva uma postura crítica sobre a realidade. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
O MITO DA CAVERNA 
 
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após 
geração, os seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão 
algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a 
olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. 
A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se 
possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. 
 A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e 
os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual 
foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. 
Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com 
figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. 
 Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros 
enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, 
mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. 
 Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas 
são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber 
que são imagens (estatuetas de coisas), nem que existem outros seres humanos reais 
fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz 
no exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna. 
 O que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que 
faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os 
outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos 
anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, 
deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. 
 Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na 
verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-
se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no 
 
caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não 
vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da 
caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. 
 Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria 
desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. 
 Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, 
não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas 
caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar 
o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, 
quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também 
decidiram sair da caverna rumo à realidade. 
 O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das 
estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que 
se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. 
O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. 
Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros 
prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A Filosofia. Por que 
os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à 
condenação de Sócrates à morte pela assembleia ateniense)? Porque imaginam que o 
mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro. 
 
Fonte: CHAUI, Marilena.Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
• Título. O mundo de Sofia 
• Autor. Jostein Gaarder 
• Editora. Companhia das Letras 
• Sinopse. Prestes a completar 15 anos de idade, Sofia Amundsen, começa a receber 
bilhetes e cartões-postais bem esquisitos, com perguntas como: quem você é? De onde 
vem o mundo? A partir das perguntas que recebia, Sofia faz uma viagem pelo 
pensamento filosófico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título. Sociedade dos poetas mortos. 
• Ano. 1990. 
• Sinopse. O filme trata de um professor de literatura que demonstra para os alunos 
conceitos como finitude, incentivados pelo lema Carpe diem, que pode ser traduzido 
como “viva o dia”. As aulas desse professor incentivam uma série de reflexões filosóficas 
interessantes. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
CHAUI, Marilena.Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2008. 
 
PLATÃO. A República. Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha 
Pereira. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1987. 
 
 
 
 
UNIDADE IV 
EU E O OUTRO: ALTERIDADE. 
Professora Mestra Daiany Cris Silva 
 
 
Plano de Estudo: 
• A alteridade e a compreensão do eu e o outro; 
• Diversidade cultural; 
• A religiosidade brasileira e suas múltiplas representatividades; 
• As tecnologias de informação e comunicação na sociedade moderna. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
• Conceituar e contextualizar o tema das diversidades culturais; 
• Compreender a questão das diferenças com relação a religiosidade; 
• Estabelecer a importância das teorias das ciências humanas na era digital. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá, estudante! 
 
Nesta unidade, iremos discutir as relações entre o eu e o outro diante do 
conceito de alteridade. Para isso, vamos discutir sobre as diversidades culturais, 
diferenças religiosas e os desafios impostos pela era digital na sociedade moderna. 
Primeiramente, trataremos sobre o conceito de alteridade e a compreensão das 
relações entre o eu e o outro. Compreendemos que por meio da alteridade é possível 
desenvolver um olhar atento às diferenças. 
Seguidamente, a diversidade cultural será o nosso debate principal em busca do 
entendimento das diferentes alteridades da sociedade brasileira que pode ser 
compreendida mediante a heterogeneidade ético- racial de formação do nosso país. 
Ainda no ensejo do debate sobre diversidades e diferenças, discutimos a 
religiosidade brasileira e suas múltiplas representatividades, de modo a compreender as 
raízes africanas das religiões brasileiras. 
Por fim, discutimos que ao considerar as transformações da sociedade 
contemporânea devemos compreender que além das questões sobre diversidade 
cultural e o respeito às diferenças temos um condicionante que pode facilitar o acesso 
a novas histórias, este condicionante é o espaço virtual. Portanto apresentamos um 
debate sobre as tecnologias de informação e comunicação na sociedade moderna. 
Desejamos que esta unidade contribua para que você, estudante, perceba as 
diversidades e as diferenças como algo que deve ser valorizado. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 A ALTERIDADEE A COMPREENSÃO DO EU E O OUTRO 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/positive-dark-skinned-
young-woman-man-1673141401 
 
Quando nos dedicamos a estudar a nossa vida em sociedade percebemos que 
praticamente todas as nossas ações possuem uma origem na convivência coletiva. 
Nossos gostos, hábitos e tradições são desenvolvidas em coletividade e transmitidas de 
geração em geração como herança social. Portanto, nenhuma ação humana em 
coletividade é estritamente natural, motivada pela biologia/natureza, mas é baseada 
em construções sociais, desenvolvidas de maneira coletiva pela sociedade em que 
vivemos. 
Dessa forma, para compreender o significado da cultura para a ciência é 
necessário conhecer o meio em que convivemos e prestar atenção nas nossas ações 
coletivas. 
Existe, ainda, uma confusão sobre o significado do termo cultura quando o 
relacionamos com erudição, elegância ou, até mesmo, como “educação”, como se 
existissem pessoas com mais ou menos cultura. Você caro, aluno, certamente já se 
deparou com ocasiões em que pessoas dissessem que alguém é “sem cultura” por não 
ouvir “boa música” com a música clássica instrumental e óperas, porém, se 
considerarmos o sentido de cultura diante da perspectiva social, perceberemos que 
todas as formas de arte, populares, ou não, são produto de cultura. 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/positive-dark-skinned-young-woman-man-1673141401
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/positive-dark-skinned-young-woman-man-1673141401
 
Esse movimento de dizer que existem pessoas com mais ou menos cultura, acaba 
por classificar e distanciar diferentes grupos de pessoas. 
E a cultura não possui esse sentido diante do fazer científico. 
Devemos considerar como cultura, portanto, todas as nossas criações coletivas 
que possuem um sentido social, ou seja, ações e hábitos que são essenciais para a nossa 
sociedade e criados pelos indivíduos desse meio. São exemplos de cultura, as comidas 
típicas de cada região, sotaques, diferentes linguagens, modos de se vestir e se 
comportar e, até mesmo, a maneira com que as pessoas se cumprimentam. 
 
REFLITA 
 
Cultura é, em Antropologia Social e Sociologia, um mapa, um receituário, um código 
através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam 
o mundo e a si mesmas. (DAMATTA, 1981, p. 02). 
 
#REFLITA# 
 
 Diante da compreensão do conceito antropológico de cultura temos o incentivo 
necessário para o reconhecimento de culturas no plural, considerando as diversidades 
que compreendem a vida coletiva. No entanto, não é sempre que lidamos muito bem 
com as diferenças. Por isso, esteriótipos e etnocentrismos estão tão presentes no nosso 
dia a dia, reafirmando preconceitos e o desconhecimento sobre o outro. 
Contudo, a antropologia criou um conceito que nos ajuda na compreensão do 
outro, a alteridade. O conceito pode ser lido como um sinônimo sociológico de “outro”. 
Este é um conceito utilizado para estudar a vida social e investigar como as interações 
sociais entre pessoas de origens e expressões culturais distintas são estabelecidas 
(JOHNSON, 1997). O olhar do outro, nesse sentido, proporciona uma perspectiva sobre 
nós mesmos diante de outra lente. 
 
 Devemos admitir que a antropologia possui em sua gênese muitos equívocos, 
que persistem na atualidade. Esses equívocos tangem: “as relações de poder desigual 
entre pesquisadores e seus então “nativos” no início da disciplina, o suposto exotismo 
dos “primitivos”, a fabricação dos “especialistas” regionais (africanistas, americanistas, 
oceanistas etc), o financiamento politicamente direcionado”. (PEIRANO, 2004, p. 05). 
Sobretudo, é preciso reconhecer que existem muitas vantagens na perspectiva 
antropológica, também, principalmente, no que se refere ao reconhecimento da 
diversidade cultural: “e, mais importante, o resultado fundamental da pesquisa de 
campo: o despertar de realidades/agências desconhecidas no senso comum, 
especialmente no senso comum acadêmico”. (PEIRANO, 2004, p. 05). 
 Os estudos antropológicos nos impele, desse modo, um despertar de novos 
olhares sobre o mundo, redefinindo nossa atenção sobre como percebemos o outro. 
 Diante dessa perspectiva, o olhar do outro nos permite conhecer as diferenças 
de modo a vê-las como algo construtivo e não segregador. Ao desenvolvermos a 
alteridade, essa compreensão do olhar do outro, temos a possibilidade de construir 
pontes entre diversas culturas. Para isso, segundo Peirano (1999, p.02): “o Brasil é um 
caso etnográfico privilegiado” quando se trata de alteridade. 
 Durante a década de 1950, quando a antropologia brasileira se concentrou em 
conhecer as diversas culturas indígenas no nosso país, desenvolvemos um tipo de 
alteridade radical, que se propôs a investigar comunidades totalmente desconhecidas. 
Posteriormente, a antropologia brasileira amenizou as alteridades e se deslocou para a 
investigação nos espaços rurais e urbanos, avaliando as relações das populações 
indígenas com os demais. Na década de 1980 a alteridade se torna mínima, no sentido 
de buscar compreender um outro que estava mais próximo, do perímetro urbano diante 
de suas temáticas específicas. 
 Compreende-se, portanto, que o exercício da alteridade é contínuo e possui uma 
série de nuances. Na antropologia brasileira, por exemplo: “a alteridade deslizou 
territorial e ideologicamente, em um processo dominado pela incorporação de novas 
temáticas e ampliação do universo pesquisado” (PEIRANO, 1999, p. 03). Essas as 
diferentes formas em que os estudos antropológicos exerceram alteridade no Brasil 
 
colaborou para a construção de uma antropologia plural. 
 O histórico de pesquisas da antropologia brasileira demonstra que a alteridade é 
um elemento essencial para nós, antropólogas e antropólogos, e colabora no debate 
sobre as diferenças no sentido de distanciar o debate que as define como um marcador 
de distâncias e exclusões, demonstrando que o fundamento do estudo das diferenças é 
conhecer o outro para que possamos reconhecer a nós mesmos e compreender as 
pluralidades de vivências existentes. 
Diante do exposto, é possível perceber que ao estabelecer relações de alteridade 
damos um passo importante para construir vínculos democráticos entre pessoas e 
grupos sociais de origens étnicas distintas, promovendo a inclusão e diversidade. 
Seguindo essa perspectiva a alteridade não é falar de exotismos, características curiosas 
sobre as diferentes culturas ou levantar costumes que aos nossos olhos externos parece 
absurdo, ao contrário, é promover a compreensão dos sentidos constituídos 
socialmente que dão racionalidade a todos os hábitos e costumes. 
 
2 DIVERSIDADE CULTURAL 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mosaic-happy-successful-
people-on-bright-1477576958 
 
A definição de alteridade mostra-nos que: “diferença ou o exotismo divergem: 
se todo exotismo é um tipo de diferença, nem toda diferença é exótica. Por outro lado, 
a ênfase na diferença tem como dimensão intrínseca a comparação; já a ênfase no 
exotismo dispensa contrastes” (PEIRANO, 1999, p. 05). Isso significa que quando 
percebemos o outro como diferente e não exótico temos a possibilidade de nos colocar 
em diálogo, comparando experiências e trocando vivências. O lugar exótico estabelece 
uma relação desigual de inferioridade ou de hierarquia que é questionada pelos estudos 
antropológicos na atualidade. 
Ao exercer a alteridade percebemos que não existem distâncias, segregações e 
exclusões sociais justificáveis em uma sociedade como a brasileira, por exemplo, o que 
existe é um desconhecimento sobre o outro pela simples inabilidade de construir uma 
convivência social plural e verdadeiramente atenta. 
Nesse sentido, segundo Peirano (1999, p. 02), “o Brasil é um caso etnográfico 
privilegiado” quando falamos de alteridade pois, quando asantropólogas e 
antropólogos do nosso país buscaram conhecer as comunidades indígenas, o que 
ocorreu até a década de 1950, criamos uma forma de alteridade que pode ser chamada 
de radical. Desenvolvida no estudo de povos indígenas totalmente desconhecidos. 
Posteriormente, “amenizamos” as alteridades quando nos deslocamos para 
espaços de pesquisas mais conhecidos, como o meio rural e urbano, avaliando as 
relações de indígenas com outros grupos sociais. Na década de 1980, alteridade se torna 
mínima na produção científica brasileira, já que nossos pesquisadores estavam 
preocupados em construir uma perspectiva de alteridade que: “deslizou territorial e 
ideologicamente, em um processo dominado pela incorporação de novas temáticas e 
ampliação do universo pesquisado” (PEIRANO, 1999, p. 03), o que fez a antropologia 
urbana. 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mosaic-happy-successful-people-on-bright-1477576958
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mosaic-happy-successful-people-on-bright-1477576958
 
 Diante dessa dinâmica de formação da antropologia brasileira, podemos 
perceber que diferentes formas de alteridade foram exercidas e discutidas, 
consolidando um campo antropológico muito plural no nosso país. 
 Nesse contexto, muitos pesquisadores se destacaram, no entanto, quando 
falamos de diversidade cultural, principalmente, no Brasil, é imprescindível citar os 
estudos do antropólogo e político brasileiro, Darcy Ribeiro. Sua principal publicação é 
de 1995, intitulada “O Povo Brasileiro”. Resultado de 30 anos de estudo, nesta obra, o 
antropólogo retrata a diversidade étnica e cultural brasileira. Segundo o autor, toda a 
identidade brasileira tem em sua origem um processo cruel de colonização, com 
características repressivas e de geneocídio das populações indígenas e africanas. 
Em busca de compreender o processo de construção do povo brasileiro, Darcy 
Ribeiro (1995) realiza o esforço de analisar a multiplicidade étnica brasileira de modo a 
definir a diversidade cultural, regional e ecológica do nosso país. Compreende-se no 
estudo do antropólogo que todas as particularidades e complexidades do processo de 
formação da nação brasileira é o que nos torna singulares, bem como, é o que nos une 
como nação. Nas palavras do antropólogo: 
 
Mais que uma simples etnia, porém, o Brasil é uma etnia nacional, um 
povo‐nação, assentado num território próprio e enquadrado dentro 
de um mesmo Estado para nele viver seu destino. Ao contrário da 
Espanha, na Europa, ou da Guatemala, na América, por exemplo, que 
são sociedades multiétnicas regidas por Estados unitários e, por isso 
mesmo, dilaceradas por conflitos interétnicos, os brasileiros se 
integram em uma única etnia nacional, constituindo assim um só povo 
incorporado em uma nação unificada, num Estado uni‐étnico. A única 
exceção são as múltiplas micro etnias tribais, tão imponderáveis que 
sua existência não afeta o destino nacional. (RIBEIRO, 1995, p. 22). 
 
A obra de Darcy Ribeiro (1995) contribui para refletirmos como a diversidade é 
produto de muitas violências, mas, nem por isso, é menos valorativa. Sobretudo, mesmo 
compreendendo que existe uma uniformidade cultural, no sentido de formação da 
identidade brasileira, ainda devemos considerar a presença de um grande 
distanciamento social. 
 
Compreende-se, nesse sentido, que a sociedade brasileira é resultado da 
estratificação e segregação entre diferentes classes, etnias e raças, geradas pelo 
processo de colonização violenta em que a nossa nação foi submetida. 
Nesse sentido, a diversidade cultural surge principalmente pelo contato entre 
diferentes culturas que proporcionam um processo de assimilação, também conhecido 
como aculturação, que pode ocasionar uma imposição de uma cultura estrangeira sobre 
um grupo de determinado local. Esse processo de contato cultural é a base para a 
formação da diversidade cultural e do pluralismo, pois, é ele que possibilita a 
coexistência de origens culturais distintas em uma sociedade. JOHNSON (1997, p. 52). 
 
 
 
3 A RELIGIOSIDADE BRASILEIRA E SUAS MÚLTIPLAS REPRESENTATIVIDADES 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/bahia-brazil-july-02-2017-
civic-672786766 
 
Entre alteridades e diversidades a sociedade brasileira pode ser vista diante de 
manifestaçẽos culturas ricas em significados e simbolismos. Uma das manifestações 
mais marcantes no Brasil é a religiosidade que é composta por múltiplas 
representatividades sobre o povo brasileiro. 
Embora a sociedade brasileira seja em grande maioria adepta a religiões cristãs, 
principalmente, o catolicismo, existem inúmeras religiões e muitas são de origem 
brasileira. Assim como discutimos anteriormente, sabe-se que o Brasil é formado por 
uma mistura cultural muito rica, portanto, aqui temos povos indígenas, imigrantes da 
europa e de todo mundo, especialmente, os imigrantes do continente africano. É essa 
mistura que faz possível o surgimento de tantas expressões religiosas. 
 
SAIBA MAIS 
 
Tal como todas as instituições sociais, religião é definida sociologicamente pelas funções 
que desempenha em sistemas sociais. De modo geral, é um arranjo social construído 
para prover uma maneira compartilhada, coletiva, de lidar com aspectos desconhecidos 
e incognoscíveis da vida humana, com os mistérios da vida, morte e existência, e com 
os dolorosos dilemas que surgem no processo de tomar decisões de natureza moral. 
 
Fonte: JOHNSON, 1997, p.196. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
Compreende-se que a religião é uma instituição central para toda sociedade 
pois, é ela que em grande medida orienta os valores morais de seus grupos sociais de 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/bahia-brazil-july-02-2017-civic-672786766
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/bahia-brazil-july-02-2017-civic-672786766
 
origem. Pensando nisso, estudante, é que vamos conhecer um pouco sobre as religiões 
de origem brasileira, mais especificamente, as religiões de matrizes africanas. 
As religiões que possuem matrizes africanas são aquelas em que a base de sua 
doutrina, ou seja, o conjunto de princípios e valores que forma o seu sistema religioso 
possui influências de elementos da cultura africana. No Brasil a chamamos de religiões 
afro-brasileiras, destacam-se, nesse sentido: a Umbanda e o Candomblé. 
Uma das principais características dessas religiões é o sincretismo, o qual 
podemos ler como a mistura de elementos religiosos de diversas religiões formando 
uma terceira expressão religiosa. Essa mistura proporciona uma junção cultural de 
valores e símbolos, que em muitos casos são símbolos disfarçados para possibilitar a 
religiosidade de povos que seriam proibidos de praticar suas crenças e rituais. Nesse 
sentido, o sincretismo pode ser visto como uma forma de sobrevivência nacional e 
transnacional de povos africanos (ROMÃO, 2018) , já que esse não é um fenômeno 
exclusivo de religiões afro-brasileiras. 
No que se refere à Umbanda considera-se que esta seja a primeira religião que 
propõe um: “sincretismo nacional a partir de matrizes negras (macumba, candomblé) e 
ocidentais (catolicismo, kardecismo)” (NEGRÃO, 1994, p.113). A Umbanda é uma 
religião que surgiu na história recente do nosso país, em meados do século XX nos anos 
1940. Portanto, é uma manifestação cultural que possui forte relação com os processos 
de modernização das cidades. 
 
As interpretações sociológicas sobre o nascimento da umbanda 
assentam-se, como não poderia deixar de ser, em sua tríplice condição 
de religião nacional, surgida e consolidada no momento da expansão 
do sistema urbano industrial do segundo quartel do século, 
justamente nos centros urbanos mais importantes das regiões mais 
desenvolvidas do país (NEGRÃO, 1994, p. 117). 
 
 
Já o Candomblé é uma religião que há mais tempo está presente no nosso país, 
datada ainda no século XIX, e possui em sua origem cultostradicionais dos povos 
africanos e entidades que representam as forças da natureza. A depender da origem 
 
cultural do Candomblé, suas entidades podem receber diferentes denominações, são 
elas: orixás, voduns ou inquices. Sobre isso, BASTIDE (2001) diz que: 
 
Os candomblés pertencem a "nações" diversas e perpetuam, 
portanto, tradições diferentes: Angola, Congo, Gêge (isto é, Ewe), 
Nagô (têrmo com que os franceses designavam todos os negros de fala 
yoruba, da Costa dos Escravos), Quê to ( ou Ketu), Ijêxa ( ou Ijesha). É 
possível distinguir estas "nações" umas das outras pela maneira de 
tocar o tambor ( seja com a mão, seja com varetas), pela música, pelo 
idioma dos cânticos, pelas vestes litúrgicas, algumas vêzes pelos 
nomes das divindades, e enfim por certos traços do ritual (BASTIDE, 
2001, p.17). 
 
 De acordo com BASTIDE (2001), o Candomblé é diverso, por isso o autor fala de 
candomblés no plural. 
 
 
 
 
4 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA SOCIEDADE MODERNA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/back-view-female-
employee-speak-talk-1689338029 
 
 Ao considerar as transformações da sociedade contemporânea devemos 
compreender que além das questões sobre diversidade cultural e o respeito às 
diferenças, temos um condicionante que pode facilitar o acesso a novas histórias, este 
condicionante é o espaço virtual. 
É importante destacar que o ciberespaço deve ser considerado como um lugar 
(POLIVANOV, 2013). Contudo, devemos considerar que esse lugar não é habitável, pelo 
menos não concretamente, para todas as pessoas. Para iniciar essa discussão 
precisamos fazer a distinção entre imigrantes digitais e nativos digitais. 
Os imigrantes digitais são pessoas nascidas antes do advento das tecnologias de 
informação e comunicação (TIC’S), que se viram obrigadas a utilizá-las, geralmente, no 
campo laboral e mantém comportamentos e atitudes que revelam sua relação artificial 
com as tecnologias (STENGEL; DOURADO; DIAS; SOARES; FRICHE; FRAGA; LOCATELLI e 
SANTOS, 2018). A relação dos imigrantes digitais com as tecnologias, é utilitária. 
Diferentemente, os nativos digitais já nasceram imersos nas facilidades proporcionadas 
pelas TIC’S e demonstram uma maior intimidade no manuseio de suas ferramentas. 
Nesse sentido, percebemos que a relação com o ambiente virtual é distinta para 
diferentes gerações, o que não exclui o fato da internet ser considerada uma cultura ou 
artefato cultural, como aponta POLIVANOV (2013), ou seja, a internet vista como um 
espaço em que a cultura é constituída e reconstituída (HINE, 2000, p. 9 apud 
POLIVANOV, 2013, p. 03). 
Nesse sentido, seria possível perceber que há uma grande diferença entre a vida 
on-line e a vida off-line, por outro lado, a perspectiva que considera a internet como um 
artefato cultural, a coloca como um produto da cultura, uma tecnologia que media 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/back-view-female-employee-speak-talk-1689338029
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/back-view-female-employee-speak-talk-1689338029
 
relações, em que tem seu significado e a própria necessidade de manuseio produzida 
por pessoas, com objetivos específicos da cultura em que vivemos (POLIVANOV, 2013). 
Para os imigrantes digitais a relação com a internet se aproxima de uma 
perspectiva que vê seu uso como um artefato cultural, pois essas pessoas precisam se 
obrigar a aderir às tecnologias para fazer possível viver na sociedade moderna, mas isso 
não significa que isso seja orgânico, levando uma vida on-line despretensiosa como 
fazem o nativos digitais. 
Nesse sentido, há de se considerar a relação que estabelecem com as TIC’S, ou 
seja, se passaram ou não pela adaptação digital, mantendo uma familiaridade com elas 
(STENGEL; DOURADO; DIAS; SOARES; FRICHE; FRAGA; LOCATELLI e SANTOS, 2018) 
 Diante dessa realidade atual, em que todos temos que nos relacionar, de alguma 
maneira, com o ambiente virtual, os estudos antropológicos tiveram que se adaptar e 
possibilitar seus estudos nesse ambiente. Para isso criamos a etnografia virtual. 
 Segundo DIAS (2007): 
 
Etnografar no virtual é observar uma densa interconexão simbólica, e 
para tanto é preciso problematizar a tradição etnográfica 
fundamentada no trabalho de campo que se ergue fundamentada 
sobre o vínculo entre povo e lugar, nos moldes do funcionalismo 
malinowskiano: o desafio dos sites explicita, ainda, a necessidade de 
observar conexões, paralelismos e contrastes aparente 
incomensuráveis. (DIAS, 2007, p. 68). 
 
 
Segundo BRAGA (2013), o processo de etnografia virtual funciona da seguinte 
maneira: 
 
A abordagem mais tradicional da etnografia costuma envolver uma 
fase muito mais longa, mais intensiva e mais crítica destinada a 
descobrir a que perguntas o/a pesquisador/a vai responder. Assim, o 
primeiro aspecto da etnografia tradicional que acho muito útil para a 
etnografia em meios digitais é dedicar bastante tempo ao processo de 
familiarização, a olhar em torno e explorar o fenômeno sob todos os 
 
ângulos, tentando entender o que ele é, para quem existe e como é 
vivenciado. Considero este processo muito importante para 
desenvolver uma ideia das perguntas apropriadas a serem feitas e para 
alinhar as perguntas que fazemos com nossa noção de o que é esse 
fenômeno que estamos explorando. Começar diretamente a, por 
exemplo, fazer uma etnografia de um grupo de discussão online 
específico corre o risco de saltar esta importante fase de 
desenvolvimento de uma pergunta apropriada para a qual essa 
etnografia possa ser a resposta (e de pensar se de fato é prioridade 
para alguém obter resposta a essa pergunta, em termos práticos ou 
como parte do desenvolvimento de determinadas orientações 
teóricas). O segundo aspecto fundamental da etnografia de que não 
abro mão é a reflexividade. Os fenômenos digitais são muito 
complexos. Existem em múltiplos espaços, são fragmentados e 
costumam ser temporalmente complexos. Não podemos esperar ter 
uma vivência de um fenômeno assim apenas “estando presentes ali”, 
porque não sabemos automaticamente onde é “ali”, nem como “estar 
presentes”. Mas podemos ajudar a entender os fenômenos digitais 
tentando adquirir nossa própria experiência autêntica desses 
fenômenos como etnógrafos inseridos, incorporados, e refletindo 
constantemente sobre o que sabemos e como o sabemos. Penso que 
este aspecto da reflexividade – refletir sobre como sabemos o que 
sabemos sobre uma situação - provavelmente seja a parte mais 
significativa da etnografia em ambientes digitais. É importante refletir 
continuamente sobre a maneira como nosso entendimento é 
plasmado por determinadas abordagens metodológicas, pelo 
subconjunto de participantes com quem acontece de estarmos 
interagindo e pelos meios que escolhemos para essas interações. 
(BRAGA, 2013, p. 08). 
 
 
Diante do exposto, compreendemos que assim como na vida cotidiana, em que 
construímos cultura e somos construídos por ela, o espaço virtual colabora de maneira 
significativa nesse processo. Dessa forma, o estudo cultural se faz possível também 
nesse ambiente por meio da etnografia virtual. 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Olá, estudante! 
 Nesta unidade, discutimos sobre as relações entre o eu e o outro na 
antropologia, para tanto foi necessário o entendimento do conceito de alteridade. 
 A alteridade é, em antropologia, uma categoria essencial para a compreensão da 
multiplicidade de vivências que existem quando nos dedicamos a estudar cultura. Por 
isso, o exercício da alteridade é tão importante, principalmente, no sentido de 
compreendermos que cultura não classifica e hierarquiza as relações, mas, sim, 
representa os construtos coletivos de uma dada sociedade. 
 Diante do entendimento do conceito de alteridade, nos dedicamos a discutir 
sobre as diversidade culturais, mais especificamente, no que se refere à sociedade 
brasileira. De acordo como desenvolvimento da antropologia no Brasil, percebemos que 
existem muitas alteridades a serem conhecidas e estudadas no nosso país e pensando 
nisso o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro se dedicou a nos mostrar como se deu a 
gestação dessa sociedade tão plural que constitui o povo brasileiro. 
Seguidamente, como característica marcante da nossa diversidade, estudamos 
as manifestações religiosas como representante de todo o pluralismo cultural brasileiro. 
E, por fim, compreendemos que a cultura se constrói nos mais diversos espaços 
e a tecnologia não fica fora disso. Vimos, portanto, que assim como na vida cotidiana, 
em que construímos cultura e somos construídos por ela, o espaço virtual colabora de 
maneira significativa nesse processo. Dessa forma, o estudo cultural se faz possível 
também nesse ambiente por meio da etnografia virtual. 
Esperamos que ao conhecer as diversidades culturais e todas as possibilidades 
que os estudos antropológicos podem trazer para a compreensão da realidade, você, 
estudante, possa fazer desse material um ponto de partida para abrir ainda mais seus 
horizontes sobre o estudo da cultura. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
A quem interessa a onda de intolerância religiosa que sacode o Brasil? 
 
O Brasil está destruindo um dos seus maiores valores, sua proverbial tolerância 
religiosa e a coexistência pacífica entre as diferentes confissões. A quem interessa essa 
onda iconoclasta que - como este jornal publicou - cresceu 4.960% em apenas cinco 
anos, que registra uma denuncia de hostilidade ou profanação de locais de culto e 
pessoas que os dirigem a cada 15 horas? 
 Os mais perseguidos são os locais de culto das religiões de matriz africana, mas 
também atinge templos católicos e protestantes, igrejas evangélicas, centros espíritas e 
sinagogas judaicas. Imagens de orixás são queimadas, uma imagem de Nossa Senhora 
Aparecida é destruída a golpes de martelo, os sacrários das igrejas católicas são violados 
e as hóstias consagradas são jogadas no chão e nem os cemitérios são respeitados. 
 Estamos diante de um fato novo e é urgente descobrir o que se esconde por trás 
dessa nova guerra contra o sagrado. Que a um Brasil atravessado por uma perigosa 
corrente de ódio político e social se queira acrescentar a intolerância e a agressão física 
aos símbolos e pessoas religiosas poderia ser a última etapa da barbárie. A tolerância e 
a riqueza de entidades religiosas convivendo em paz neste país foi resultado da feliz 
conjunção histórica do encontro de três crenças trazidas pelos três povos que 
engendraram o Brasil: a indígena, a cristã - contribuição dos europeus -, e a africana, dos 
quatro milhões de escravos. 
 O longo e perigoso trabalho realizado pelas diferentes crenças religiosas para 
defender seus deuses produziu o milagre do sincretismo pacífico. Não foi realizado sem 
dor, mas o Brasil conseguiu manter a essência das três raízes espirituais caminhando 
juntas e até misturadas, dando vida a uma riqueza religiosa e cultural, talvez única no 
mundo. 
 Isso fez com que o Brasil fosse um dos países mais permeados pelo sagrado e, de 
acordo com muitos estudiosos das religiões, com uma diferença significativa, pois 
colocou o sagrado no coração da vida para libertá-la dos medos das religiões 
monoteístas injetando doses de felicidade e amor pela Terra e pela vida, a de carne e 
osso. 
 
 Foram as crenças africanas que ajudaram os brasileiros a ver, por exemplo, com 
novos olhos, não só a vida, mas também o seu fim, pois nelas os mortos, como escreveu 
o poeta senegalês Birago Diop, “não estão sob a terra, eles estão na árvore que geme”. 
Eles continuam vivos e ao nosso lado para nos proteger. 
 Triste paradoxo o de que um Brasil fazendo terrorismo com as crenças religiosas 
de origem africana quando elas começam a ser importadas pelo Ocidente racionalista. 
A mãe de santo alemã Gabriela Highest confessou, por exemplo, à minha colega Carla 
Jiménez, que os brasileiros “são espiritualmente mais desenvolvidos do que os 
alemães”. 
 Hoje é possível ser crente, agnóstico ou ateu, mas queiramos, ou não, é 
impossível evitar a pergunta de por que se morre, que segundo os especialistas foi a 
origem de todas as religiões. O Nobel de Literatura, o ateu José Saramago, disse que se 
os homens deixassem de morrer, as religiões acabariam. Mas continuamos morrendo, 
e as crenças, todas elas, com suas luzes e sombras, com seus símbolos sagrados e credos 
diferentes, nos lembram que a vida continuará atravessada pela dúvida, já que ninguém 
ainda resolveu o enigma do além. 
 Existem símbolos e arquétipos como os da vida e da morte, da mãe terra ou do 
sagrado, que, se não forem respeitados, deslizaremos para uma nova barbárie tão 
perigosa, se cabe a expressão, quanto à política ou à social. Somente os animais não têm 
cemitérios nem rendem cultos a seus mortos, embora pareça que os elefantes se 
afastem para morrer em um lugar especial para isso. Perseguir ou desprezar qualquer 
tipo de busca espiritual é querer apagar com violência a curiosidade e, talvez, a 
necessidade, que o homem continua tendo pelo mistério. 
Fonte: ARIAS, Juan. A quem interessa a onda de intolerância religiosa que sacode o Brasil?. PORTAL EL 
PAÍS BRASIL. Novembro de 2017. Disponível em: 
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/14/opinion/1510697413_063183.html, acesso em: 31 ago 2021. 
 
 
LIVRO 
 
 
• Título. Festas Populares no Brasil 
• Autor. Lélia Gonzalez. 
• Editora. Index. 
• Sinopse. Publicado em 1987, a obra possui o registro de festas populares ao redor de 
todas as regiões do Brasil, demonstrando a diversidade cultural do nosso país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título. Gente de Toda Fé 
• Ano. 2019. 
• Sinopse. Gente de Toda Fé é um filme sobre pessoas reais que encontram na fé um 
sentido para suas vidas, coragem para passar pelas dificuldades e consolo para seus 
sofrimentos. Concepções de vida e morte são trazidas do ponto de vista de praticantes 
de várias religiões, que adotam seus preceitos e os integram aos seus modos de pensar, 
sentir e de estar no mundo. 
• Link: https://www.youtube.com/watch?v=hC6gGE91mAE&t=2s 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARIAS, Juan. A quem interessa a onda de intolerância religiosa que sacode o Brasil?. 
PORTAL EL PAÍS BRASIL. Novembro de 2017. Disponível em: 
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/14/opinion/1510697413_063183.html, 
acesso em:dia 31 ago 2021. 
 
BASTIDE, R. O candomblé da Bahia Trad. Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2001. 
 
BRAGA, A. (2013). Etnografia segundo Christine Hine: abordagem naturalista para 
ambientes digitais. E-Compós, 15(3). https://doi.org/10.30962/ec.856 
 
DAMATTA, R. Você tem cultura? Jornal da Embratel, RJ, 1981. 
 
DIAS, Adriana Abreu Magalhães. “Um Novo Mar”. In: DIAS,Adriana Abreu Magalhães. 
Anacronautas do teutonismo virtual: uma etnografia do neonazismo na Internet. 
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e 
Ciências Humanas, Campinas, SP: [s. n.], 2007. 
 
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia. Zahar: Rio de Janeiro, 1997. 
 
NEGRÃO, Lísias Nogueira. Umbanda: entre a cruz e a encruzilhada. Tempo Social; Rev. 
Sociol. USP, S. Paulo, 5(1-2): 113-122, 1993 (editado em nov. 1994). Disponível em: 
https://www.scielo.br/j/ts/a/Vbmhsfmw4F5QTHpmfMMqwKG/?lang=pt&format=pdf. 
Acesso em: 22 set. 2021. 
 
PEIRANO, M. A Alteridade em contexto: a antropologia como ciência social no Brasil. 
Série Antropológica, n. 255, Brasília, 1999. 
 
PEIRANO, M. Pecados e virtudes da antropologia. Uma reação ao problema do 
nacionalismo metodológico. Novos Estudos Cebrap, n. 69, p. 49-56, 2004. 
 
POLIVANOV, Beatriz. Etnografia virtual, netnografia ou apenas etnografia? 
Implicações dos conceitos. Esferas Ano 2, no 3, julho a dezembro de 2013. 
 
RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro:A formação e o sentido do Brasil. 2. ed. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1995. 
 
 
ROMÃO, Tito Lívio Cruz. Sincretismo religioso como estratégia de sobrevivência 
transnacional e translacional. Trab. Ling. Aplic., Campinas, n(57.1): 353-381, jan./abr. 
2018. Disponível em: 
https://www.scielo.br/j/tla/a/BYNWpsPRxzMYh4gGGCwH5Vk/?format=pdf&lang=pt. 
Acesso em: 22 set. 2021. 
 
STENGEL, Márcia Stengel; DOURADO, Simone Pereira da Costa; DIAS, Vanina Costa; 
SOARES, Samara Sousa Diniz; FRICHE, Marilza de Lima; FRAGA, Jéssica Buthers Lima 
Ferraz ; LOCATELLI, Renata Sartori; SANTOS, Luis Filipe. GERAÇÃO, FAMÍLIA E 
JUVENTUDE NA ERA VIRTUAL. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 24, n. 2, p. 
424- 441, ago. 2018 
 
 
CONCLUSÃO GERAL 
 
Olá, estudante! 
Na disciplina de Antropologia e sociologia filosófica passamos por diversas 
discussões importantes para as ciências humanas e suas construções teóricas. 
 Na unidade I discutimos o surgimento da sociologia como conhecimento 
científico diante da compreensão do sistema capitalista com relação às suas influências 
sobre a vida cotidiana das pessoas, possibilitando, assim, a tomada de consciência sobre 
a realidade social de cada indivíduo. 
 Na unidade II apresentamos os estudos culturalistas e funcionalistas de modo a 
perceber que a antropologia é uma disciplina que se consolida se posicionando 
criticamente a teorias que tornam as diferenças culturais em exotismo, como em uma 
coleção de curiosidades. 
Nesta unidade III conhecemos algumas contribuições da filosofia para a 
compreensão da humanidade diante de diversas questões. Nesse sentido, buscamos 
mostrar que a filosofia é uma importante ferramenta de entendimento humano. 
 
Na unidade IV encerramos a disciplina discutindo as relações entre o eu e o outro 
diante do conceito de alteridade. Para isso, vamos discutir sobre as diversidades 
culturais, diferenças religiosas e os desafios impostos pela era digital na sociedade 
moderna. 
 Esperamos que depois de conhecer todas essas discussões tão importantes para 
nós, profissionais das humanidades, você, estudante, tenha referencial teórico 
suficiente para refletir sobre a realidade em que vive e perceber como as estruturas 
sociais nos constrói como humanidade. 
Bons estudos!para haver 
sociedade, o que constitui uma sociedade são um conjunto de regras comuns, costumes, 
hábitos e um modo de organização social, bem como, pode haver mais de uma 
sociedade dentro de um grupo maior, como podemos perceber aqui no Brasil. Embora 
haja uma grande sociedade brasileira, sabemos da existẽncia de diversos grupos sociais, 
principalmente, de populações indígenas, que possuem uma forma de organização 
distinta do restante da sociedade brasileira, isso não as exclui da sociedade brasileira, 
mas significa que existem diversas sociedades que compõem o nosso país. 
 
Fonte: a autora. 
 
SAIBA MAIS 
 
Desse modo, considerando a diversidade existente na vida em sociedade, assim 
como qualquer outra ciência, existe na Sociologia, diferentes especialidades. Sobre esse 
tema que discutiremos a seguir. 
 
 
2 CAMPOS DE ESTUDO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/businessman-studying-
crowd-people-magnifying-glass-1626913051 
 
Esta ciência que se dedica a estudar a sociedade, a sociologia, faz parte de um campo 
científico mais amplo que se chama ciências sociais. Além da Sociologia temos a Antropologia e 
a Ciência Política como integrantes desse campo científico e agora vamos conhecer quais são as 
especificidades de cada uma dessas áreas de conhecimento. 
Vamos começar pela Sociologia, que é: “o estudo da vida e do comportamento social, 
sobretudo em relação a sistemas sociais, como eles funcionam, como mudam, as consequências 
que produzem e sua relação complexa com a vida” (JOHNSON, 1997, p. 217). A Sociologia é uma 
ciência que analisa nossas relações interpessoais: a família, relacionamentos, grupos sociais, e 
nossas relações com a vida pública: escola, trabalho, religião, estado, justiça, dentre outros meios 
sociais que convivemos diariamente. 
Já a Antropologia, definida, essencialmente, como o estudo da humanidade, se 
concentrou, inicialmente, em investigar sociedades primitivas, com organização simples, restritas 
a ilhas e localizações distantes, que tiveram pouco contato com sociedades ocidentais, e que por 
serem: “qualificadas como "simples"; em consequência, elas irão permitir a compreensão, como 
numa situação de laboratório, da organização "complexa" de nossas próprias sociedades” 
(LAPLANTINE, 2003, p. 8). Desse modo, o estudo antropológico concentra-se no entendimento 
da racionalidade humana em sua coletividade, como a humanidade produz significados e 
simbolismos, ou seja, o que é cultura e como ela se constrói. O olhar antropológico mostra-nos 
que, ao conhecermos o outro, sociedades distintas da nossa, é que conhecemos a nossa própria 
realidade. 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/businessman-studying-crowd-people-magnifying-glass-1626913051
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/businessman-studying-crowd-people-magnifying-glass-1626913051
 
No que se refere à Ciência Política podemos compreendê-la mais amplamente como o 
conjunto de “estudos sobre os fenômenos e as estruturas políticas, conduzido sistematicamente 
e com rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos 
racionais” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 164). O que isso significa? Estudar os 
fenômenos e estruturas políticas é verificar tendências de comportamento político, ou seja, 
compreender como determinados grupos tendem a se identificar com quais posições políticas? 
Realizar uma leitura orientada sobre dados eleitorais, fazer pesquisas de intenção de votos, 
mapear as ações do estado ou avaliar políticas públicas. Esse é o âmbito das Ciências Sociais que 
investiga nossas ações com relação às instâncias de poder, as estruturas políticas do estado e 
suas instituições. 
Com esta breve definição sobre as diferentes áreas das Ciências Sociais o que é possível 
diagnosticar é que não há uma divisão bem clara entre uma área e outra, todos os temas se 
entrelaçam. Isso é muito construtivo para a consolidação das Ciências Sociais como campo de 
estudos, pois possibilita a produção de um conhecimento científico comprometido com a 
realidade social que, por sua vez, é diversa e dinâmica e, por isso, não pode ser lida por meio de 
uma única perspectiva. 
Considerando, portanto, que as ciências sociais compõem um campo científico muito 
plural, devemos compreender, ainda, que existem diferentes perspectivas e métodos de 
pesquisa para compreender este amplo objeto de estudo que é a vida em sociedade. Dessa 
maneira, precisamos conhecer as metodologias mais utilizadas na Sociologia e suas 
possibilidades. São elas: as pesquisas qualitativas, quantitativas e a etnografia. 
 As pesquisas qualitativas consideram metodologias que buscam um maior contato com o 
objeto de estudo, no caso da Sociologia pode ser algum grupo social. São características desse 
modelo de pesquisa, as entrevistas de trajetórias de vida e grupos focais, grupos de discussão em 
que, pelo menos, seis pessoas se encontram para opinar sobre o assunto estudado. 
As pesquisas quantitativas fazem amostras de grupos sociais por meio de estatísticas, é 
um tipo de pesquisa que considera dados numéricos. As pesquisas quantitativas são feitas por 
 
meio de questionários fechados com questões de múltipla escolha para compreender as opiniões 
e tendências de comportamento da sociedade. 
Como parte dos estudos antropológicos, sobre as culturas humanas, a etnografia dedica-
se a estudar o comportamentos dos grupos sociais no seu dia a dia, para isso, a pesquisadora ou 
pesquisador vão até o grupo estudado e convivem com eles até compreender as relações sociais 
dessa população. 
Esses diferentes métodos de se estudar a vida em sociedade compreendem as diversas 
complexidades a que os cientistas sociais, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos 
precisam enfrentar no cotidiano de pesquisa, desse modo, temos como possibilidade técnicas de 
pesquisa que se adaptam as mais diversas questões de investigação. 
 
3 CONTEXTOS HISTÓRICOS PARA O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-
production-line-workers-automation-1170064279 
 
 A formação de um campo de pesquisa tão amplo quanto as ciências sociais se deve, 
especialmente, ao surgimento da sociologia, foi essa ciência que deu início aos principais 
pressupostos teóricos e fundamentos metodológicos que repercutem até a atualidade. Portanto, 
faz-se necessário o entendimento do contexto de formação da sociologia como ciência. 
 O surgimento da Sociologia ocorreu no século XIX, a princípio, por influência da teoria 
positivista de Auguste Comte (1972), porém, muitos acontecimentos anteriores e concomitantes 
ao surgimento dessa nova ciência humana contribuíram para a sua formação. Podemos retomar 
os primeiros indícios de transformação da sociedade europeia que influenciaram a Sociologia 
ainda no Renascimento, sendo possível a inclusão de marcos históricos como as revoluções 
francesa e industrial e a revolução científica incentivada pelo Iluminismo. Todos esses 
acontecimentos colaboraram para transformações profundas na organização social da sociedade 
ocidental, principalmente, a europeia, o que reconfigurou a vida urbana, política e econômica. 
Com o período renascentista, a burguesia passa a crescer e aquela concepção de 
sociedade estamental medieval passa a ser alterada, visto que os burgueses não eram nobres, 
mas tinham tanto ou mais dinheiro quanto os nobres. A reivindicação da classe burguesa por 
seus direitos políticos ocorreu gradativamente de acordo com o crescimento dessa classe. Essas 
alterações, na configuração social europeia causaram uma alteração tão grande na ordem 
política e social do continente que, em partes, contribuem até para a Revolução Francesa e para 
os ideais de igualdade e liberdade propostos pelo Iluminismo. 
 A revolução industrial que começou na Inglaterra no séculoXVIII impôs muitas mudanças 
na sociedade europeia. O modo de produção industrial por meio das máquinas a vapor 
transformou as relações econômicas e sociais da população como um todo por meio do seu 
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-production-line-workers-automation-1170064279
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-production-line-workers-automation-1170064279
 
modelo de produção em série e do trabalho assalariado. No entanto, junto da revolução 
industrial ocorreu uma série de problemas sociais como o desemprego e o aprofundamento das 
desigualdades sociais. 
Anos mais tarde, percebendo todas as transformações sociais ocorridas em razão das 
revoluções francesa e industrial, o filósofo francês Auguste Comte (1972) buscou formular um 
conhecimento científico que pudesse explicar todas essas transformações. E com ele temos as 
primeiras formulações sobre o que se tornaria a sociologia. 
Auguste Comte (1972) foi um filósofo francês que viveu entre 1798 e 1857. O autor 
desenvolveu a teoria positivista, corrente filosófica que considera a ciência como principal meio 
de conhecimento humano. O autor criou um conceito que se chama física social (conhecida na 
atualidade como sociologia), a física social seria um conhecimento científico que buscaria leis 
universais sobre a vida em sociedade. Segundo Comte(1972): 
 
Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos 
fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados os 
fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, submetidos a 
leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Assim, ela se 
propõe diretamente a explicar, com a maior precisão possível, o grande 
fenômeno do desenvolvimento da espécie humana, visto em todas as suas 
partes essenciais (COMTE, 1972, p. 86). 
 
Compreende-se, portanto, que a física social seria uma reprodução de métodos e técnicas 
das ciências naturais para a compreensão e estudo da sociedade. 
A teoria positivista de Comte (1972) defendia que a ordem e a disciplina eram elementos 
essenciais para o desenvolvimento de uma sociedade. Para o autor, apenas por meio da 
compreensão da ordem presente em uma sociedade é que poderíamos alcançar o progresso 
social. 
 Auguste Comte (1972) definiu ainda a lei dos três estados que constituía três diferentes 
fases de formulação do conhecimento humano, são elas: teológica, metafísica e positiva. O 
 
estado teológico considera que as explicações sobre os fenômenos sociais e naturais são 
buscadas no sobrenatural, pela divindade de deuses, ou seja, seriam explicações distantes do uso 
da razão. O estado metafísico se configura pela tentativa de superação do estado teológico em 
busca do próximo estágio, o positivo, nesse estado, as explicações dos fenômenos sociais se 
constitui pelo entendimento das forças da natureza. E, por fim, estaria o estágio de 
conhecimento humano mais evoluído, o estado positivo, ou o estado científico, em que a 
explicação dos fenômenos segue a lógica da ciẽncia, por meio da experiência e comprovação 
metodológica. 
Embora Comte (1972) tenha um papel essencial para a formação da sociologia, a sua 
consolidação como conhecimento científico ocorreu com o trabalho de Émile Durkheim (1971), 
que formulou o primeiro método preciso e específico da sociologia. 
Para o sociólogo francês, Émile Durkheim (1971), a sociedade orienta boa parte da nossa 
vida, nos faz agir, pensar e se comportar de uma maneira determinada pelo meio social. Portanto, 
a Sociedade se impõe sobre o indivíduo, ou seja, faz com que nós sigamos suas normas. 
A perspectiva de Durkheim (1971) sobre a sociedade considera que existem regras de 
conduta que nos alinham socialmente, nos colocam em pleno funcionamento. Nesse sentido, 
para que a sociedade funcione bem é preciso, para Durkheim (1971), haver coesão social, ou seja, 
as regras e normas sociais precisam estar bem estabelecidas e serem cumpridas pelos membros 
dessa sociedade, caso contrário nos encontraremos em estado de anomia social, em estado de 
total desequilíbrio das normas sociais. 
Para compreender o funcionamento da sociedade, Durkheim (1971)desenvolve um 
método científico que é o fato social que, para Durkheim (1971): “é fato social toda maneira de 
agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, 
que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, 
independente das manifestações individuais que possa ter.” (DURKHEIM, 1971, p. 11). 
Portanto, o Fato Social possui três características: a coercitividade, a exterioridade e a 
generalidade. 
 
Durkheim (1971) buscava construir um método que reproduziria as técnicas e 
metodologias das ciências naturais mas, destacando que a questão social seria um elemento a 
ser considerado pela ciência, pensando nisso, o autor se dedicou a estudar o suicídio, em uma 
obra de mesmo nome publicada em 1897. Nesta obra, Durkheim (1966) demonstra que existem 
condições sociais em um fenômeno que inicialmente parece ser de origem patológica e natural. 
O sociólogo francês elenca 3 tipos de suicídios que possuem como motivações causas sociais que 
são exteriores aos indivíduos. 
 
● Suicídio Egoísta: possui motivações pessoais, a pessoa se encontra tão desajustada 
socialmente que não faz mais questão da própria vida. A eutanásia pode ser considerado 
um tipo de suicídio dessa classe; 
● Suicídio Altruísta: suas motivações são em razão de costumes, valores morais e hábitos 
culturais. Um exemplo são os kamikazes japoneses ou os homens-bomba do oriente 
médio, pessoas que acreditam tanto em suas crenças culturais que dão suas vidas por 
causa de sua sociedade; 
● Suicídio Anômico: em momentos de crise social, como a crise econômica de 1929, existem 
pessoas que se sentem inconsoláveis pelo mal funcionamento social, se sentem 
frustradas por não seguirem um ideal de sucesso, por exemplo, que não veem mais razão 
para viver. Esse tipo de suicídio costuma acontecer em sociedades que se encontram em 
estado de anomia social, ou seja, suas regras de conduta não estão mais em pleno 
funcionamento. 
 
Contudo, a Sociologia é uma ciência plural em perspectivas e métodos, assim como o seu 
objeto de estudo, a vida em sociedade. Dessa maneira, diante das diversas transformações 
sociais responsáveis pelo desenvolvimento da nossa sociedade moderna, muitos autores se 
ocuparam de pensar o novo sistema que se originava, o capitalismo. Desse modo, além de Comte 
(1972) e Durkheim (1971) consideramos como fundadores da sociologia os sociólogos Karl Marx 
(2004) e Max Weber (2008). 
 
No que se refere a Karl Marx (2004), que analisou os modos de produção da sociedade 
capitalista e revelou as estruturas sociais provenientes dela, bem como os problemas sociais 
característicos da divisão social entre os trabalhadores e os donos do poder econômico. 
Segundo o sociólogo alemão (2004), conjuntamente ao surgimento capitalista originou-
se a luta de classes, que significa os problemas e contradições vivenciados pela classe de 
trabalhadores por causa de sua condição de exploração no trabalho que 
vendem aos empresários, donos de fábricas e grupos da elite econômica. De acordo com Marx 
(2004) os trabalhadores (proletariado) são explorados pelos donos dos meios de produção 
(burguesia). São considerados meios de produção as fábricas, maquinários para a produção de 
mercadorias, propriedade de terras e imóveis e grandes empresas. 
Karl Marx (2004), mais conhecido como autor da proposta de uma sociedade comunista, 
é uma grande referência sobre os estudos das relações de produção no sistema capitalista e foi 
esse seu objeto de estudo em sua obra chamada “O Capital”, publicada entre 1867 e 1883. 
Em “O Capital”, Marx (2004) desenvolve seu método científico, o Materialismo Histórico 
Dialético,que é a concepção de que a sociedade transforma as nossas relações sociais, portanto, 
molda as nossas maneiras de pensar, agir e se comportar, mas, nós como indivíduos, também, 
temos o poder de transformar a sociedade que vivemos. Nessa perspectiva, a ciência, a 
Sociologia, mais especificamente, deve buscar compreender os contextos históricos que 
promovem mudanças nas relações sociais dos indivíduos, buscando compreender como 
materialmente isso se coloca na vida em sociedade, além de compreender quais são os 
movimentos coletivos que os indivíduos desenvolvem para transformar a sociedade que vivem. 
Marx (2001), entendia que as pessoas tinham o poder de se organizar e mudar a sua 
realidade social, por isso ele propôs o Comunismo, pois, nas suas palavras: “Os trabalhadores não 
têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes.” O que isso significa? 
É a possibilidade de revolta popular que questiona o poder dos grandes proprietários, os donos 
dos meios de produção, e busca acabar com a exploração do trabalho humano que constitui o 
capitalismo. A revolução comunista seria os trabalhadores, tomando o poder da burguesia e 
construindo um novo sistema social. 
 
 Em contrapartida, Max Weber (2008), outro sociólogo alemão essencial para o 
surgimento da sociologia, propôs uma forma de investigação que buscou interpretar as ações 
individuais de cada pessoa na sociedade, a Sociologia Compreensiva, buscou definir as relações 
sociais por meio da ação social. Diferentemente de Durkheim (1971), Weber (2008) não defende 
que existem leis gerais ou exteriores que se impõem sobre os seres humanos, pelo contrário, 
para Weber (2008), todo fenômeno social tem uma causa, um comportamento individual que o 
precede. Portanto, leis universais que influenciam o comportamento humano e o 
desenvolvimento histórico são inexistentes, o que mantém o construto coletivo dado pelas 
relações sociais estabelecidas no cotidiano. 
A análise sociológica proposta por Weber (2008), diante da ação social como seu objeto 
de estudo, presume um método que busca compreender as motivações individuais que 
impulsionam determinadas ações sociais. 
A ação social, como toda ação, pode ser: 
 
1. racional com relação a fins: determinada por expectativas no comportamento tanto de 
objetos do mundo exterior como de outros homens, e utilizando essas expectativas como 
“condições” ou “meios” para o alcance de fins próprios racionalmente avaliados e 
perseguidos; 
2. racional com relação a valores: determinada pela crença consciente no valor interpretável 
como ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma - próprio e absoluto de uma 
determinada conduta, considerada de per si e independente de êxito; 
3. afetiva: especialmente emotiva, determinada por afetos e estados sentimentais atuais; 
4. tradicional: determinada por um costume arraigado. (WEBER, 2008, p. 118, grifo do 
autor). 
Diante dessa perspectiva de Weber (2008), as interações dos indivíduos formam a 
sociedade em que vivemos, e dentre as nossas diversas maneiras de nos relacionar existe a 
dominação, forma de submissão e obediência entre os indivíduos. Existem três principais formas 
de dominação: 
 
1. Dominação Legal: depende dos interesses, vantagens e utilidades codificadas pelas 
regras, leis e técnicas legais; 
2. Dominação Tradicional: depende dos costumes, hábitos e valores morais; 
3. Dominação Carismática: tem origem nos afetos, gostos e crenças pessoais de seus 
comandados. 
As diferentes formas de dominação formam lideranças políticas pois, na perspectiva de 
Weber (1986), é o Estado que representa esse poder de submeter os indivíduos a um mandatário. 
São líderes de dominação legal os tecnicistas, que usam nas normas, regras de conduta e leis para 
exercer o seu poder. Os líderes de dominação tradicional, usam da moral e dos costumes para 
prevalecer a sua autoridade. Já a liderança de dominação carismática utiliza os afetos e 
sentimentos para conquistar seguidores, seja ódio, amor ou solidariedade. 
 
 
4 A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/great-idea-concept-young-
funny-african-1814497817 
Considerando as diferentes abordagens no campo sociológico, devemos discutir agora 
sobre o papel social da Sociologia como ciência. Para isso, vamos utilizar as reflexões do sociólogo 
Wright Mills (1969). Esse autor nos incentiva a refletir sobre como a sociologia proporciona um 
processo de conscientização sobre a nossa atuação na sociedade em que vivemos. Segundo o 
sociólogo, o passo inicial para uma compreensão plena da realidade é estabelecer o 
entendimento sobre a própria experiência neste mundo. Nas palavras de Mills: 
 
O indivíduo só pode compreender sua própria experiência e avaliar o seu próprio 
destino localizando-se dentro de seu período; só pode conhecer suas 
possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades de todas as 
pessoas, nas mesmas circunstâncias que ele. Sob muitos aspectos, é uma missão 
terrível, sob muitos outros, magnífica (WRIGHT MILLS, 1969, p. 12). 
 
Quando Mills (1969) nos diz que é preciso nos tornar cônscio de nossas possibilidades, o 
autor nos incentiva a ter lucidez e consciência sobre o lugar que ocupamos socialmente, 
principalmente, com relação às outras pessoas e grupos sociais. De certa forma, o sociólogo 
apresenta a sociologia como uma forma de compreensão do mundo que nos desperta para tudo 
que está ao nosso redor. 
 Nesse sentido, a compreensão de que existem condições pré-estabelecidas para a nossa 
vivência social nos coloca o desafio de percebermos que existem muitas explicações para além 
do que já nos acostumamos a acreditar. Diante disso, ao se tornar cônscio da sua realidade, você, 
estudante, eu e todas as pessoas que se propõem a realizar o exercício proposto por Mills, nos 
construímos como seres sociais com capacidade de atuação social ativa. 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/great-idea-concept-young-funny-african-1814497817
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/great-idea-concept-young-funny-african-1814497817
 
REFLITA 
 
Vamos pensar na seguinte situação, estudante, como seria a nossa sociedade se as 
pessoas deixassem de se conformar com o que está pré-estabelecido e começassem a produzir 
reflexões e posicionamentos próprios sobre a realidade? Será que teríamos, então, a 
possibilidade de construir uma sociedade melhor? 
 
Fonte: autora. 
 
#REFLITA# 
O exercício proposto pelo sociólogo Wright Mills (1969) é o que o autor chama de 
imaginação sociológica, que consiste nessa postura de observar a realidade em que vivemos para 
compreender como ela nos condiciona e influencia as nossas vidas. A imaginação sociológica, 
segundo Mills, não é exclusiva para sociólogos, mas, sim, possível para o entendimento de toda 
e qualquer pessoa que tenha contato com o conhecimento sociológico. 
 A imaginação sociológica é uma possibilidade de desenvolvermos a razão, a fim de 
perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro 
de si mesmo (MILLS, 1969). A proposta de Wright Mills (1969) é demonstrar como a sociologia é 
um conhecimento científico importante para a nossa sociedade é, justamente, por isso que esta 
discussão está presente aqui, pois temos como intuito que você, estudante, compreenda as 
possibilidades desse campo científico para sua concepção de mundo. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Prezado (a), estudante, 
 Nesta unidade, aprendemos o conceito de sociedade e contexto de formação da 
ciência que se dedica a estudar esse tema: a sociologia. Apresentamos, ainda, que as 
revoluções industrial e francesa foram marcos históricos que transformaram 
significativamente a vida em sociedade, o que inaugurou a sociedade moderna tal como 
conhecemos na atualidade. Esses acontecimentos proporcionaram o surgimento da 
sociologia que,por sua vez, originou-se para construir algumas explicações sobre todas 
as transformações provenientes do sistema capitalista. 
 A sociologia buscou, ainda, dedicar esforços na compreensão do sistema 
capitalista com relação às suas influências sobre a vida cotidiana das pessoas, 
possibilitando, assim, a tomada de consciência sobre a realidade social de cada 
indivíduo. 
 Desse modo, podemos compreender a importância da sociologia para a 
construção de seres sociais cada vez mais conscientes do seu lugar em sociedade e das 
suas possibilidades. Essa postura pode ser construída por meio da compreensão da 
realidade que torna possível um posicionamento mais crítico diante das desigualdades 
sociais e problemáticas presentes em nossa sociedade. 
 Para conhecermos cada vez mais sobre as possibilidades da humanidade em sua 
ação na sociedade, aguardo você, estudante, na próxima unidade. 
 Bons estudos! 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
Sociologia e liberdade 
 Zygmunt Bauman e Tim May 
 
A sociologia produz um sentido de entendimento que podemos chamar de 
relacional-interpretativo. Ela não se satisfaz em ver as coisas de modo isolado, porque a 
vida social não é assim. Por isso, ela não se encaixa bem nas reivindicações de 
“encerramento das atividades” daquilo que não é nem poderia ser hermeticamente 
selado como proteção contra influências externas. A sociologia é um comentário 
permanente das experiências surgidas em relações sociais e uma interpretação dessas 
experiências com referência aos outros e às circunstâncias sociais em que as pessoas se 
encontram. 
Isso não significa sugerir que ela detenha o monopólio da sabedoria no que diz 
respeito àquelas experiências – muito embora sem dúvida as enriqueça nos ajudando a 
compreender melhor com os outros e por meio dos outros. Na verdade, aprender a 
pensar sociologicamente amplia nossos horizontes de compreensão porque essa ação 
não se contenta com a exclusividade e a necessidade de ser definitiva – qualidades 
exigidas de qualquer interpretação. Ela também enfatiza, antes de mais nada, o custo 
das tentativas de acarretar essa situação. Isso está longe de sugerir que a sociologia não 
seja “prática”. Ao ampliar o horizonte de nosso entendimento, ela é capaz de lançar luz 
sobre o que de outra maneira poderia passar despercebido no curso normal dos 
eventos. Isso inclui uma pluralidade de experiências e formas de vida, além do modo 
como cada uma exibe e disponibiliza suas formas de entendimento, ao demonstrar 
também como é impossível cada qual ser uma unidade independente e autossuficiente. 
Muito simplesmente, todos somos vinculados uns aos outros, embora de maneiras 
diferentes. Esse é o desafio de se pensar sociologicamente, porque esse pensamento 
não refreia, mas facilita o fluxo e a troca de experiências. 
 
Para alguns, isso significa que a sociologia se pode somar à ambivalência porque 
não se juntará àqueles que procuram “congelar o fluxo” na busca de objetivos 
delimitados. Abordada dessa maneira, ela pode ser considerada parte do problema, e 
não a solução. Entretanto, se uma sociedade é séria em seu desejo de aprender, 
autorizará a forma de entendimento que melhor nos equipa para enfrentar o futuro. O 
grande serviço que a sociologia está preparada para oferecer à vida humana e à 
coabitação dos homens é a promoção do entendimento mútuo e da tolerância como 
condição suprema da liberdade compartilhada. Graças à forma de entendimento que 
disponibiliza, o pensamento sociológico promove, necessariamente, o entendimento 
produtor de tolerância e a tolerância que viabiliza o entendimento. 
Como sugerimos [...], a maneira como enxergamos os problemas influenciará o 
que é considerado a solução apropriada. Entre nossas expectativas para o futuro e as 
experiências obtidas do passado e do presente jaz um espaço que o pensar 
sociologicamente ilumina e a partir do qual podemos aprender mais sobre nós mesmos, 
os outros e as relações entre nossas aspirações, ações e as condições sociais que criamos 
e nas quais vivemos. A sociologia é, assim, central para qualquer tentativa de nos 
compreender melhor. 
 
Fonte: BAUMAN, Zygmunt, MAY, Tim. Aprendendo a pensar com a sociologia. Editora, Zahar. Ano de 
Edição, 2010. 
 
 
 
LIVRO 
 
• Título. Aprendendo a pensar com a sociologia 
• Autor. Zygmunt Bauman e Tim May. 
• Editora. Zahar. 
• Sinopse. Por meio de uma escrita leve e contextualizada diante de temas cotidianos, 
Bauman e May refletem nesse livro sobre as possibilidades que a sociologia pode 
oferecer para a compreensão do mundo e das vivências que cada um possui no dia a dia 
ao se relacionar em sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título. Tempos Modernos. 
• Ano. 1936 
• Sinopse. Neste filme Charles Chaplin interpreta um operário em uma linha de 
produção que está descobrindo os desafios do novo modelo de produção capitalista. O 
filme é um clássico das aulas de introdução à Sociologia e nos ajuda a compreender 
como a revolução industrial foi um marco para o surgimento da sociedade moderna. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BAUMAN, Zygmunt, MAY, Tim. Aprendendo a pensar com a sociologia. Editora, Zahar. 
Ano de Edição, 2010. 
 
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília: Editora UnB, 
1998. 
 
COMTE, A. “Cours de philosophie positive”. In: La science sociale. France: Gallimard, 
1972. 
 
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. São Paulo: Editora Nacional, 1971. 
 
DURKHEIM, É. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Nacional; 1966. 
 
GIDDENS, Anthony e SUTTON, Philip W. Conceitos essenciais da Sociologia. São Paulo, 
Editora Unesp, 2017. 
 
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia. Zahar: Rio de Janeiro, 1997. 
 
LAPLANTINE, François. Introdução: o campo e a abordagem antropológicos. In: 
Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003.MILLS, Wright C. A imaginação 
sociológica. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. 
 
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Tradução de Reginaldo Sant'anna. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. 
 
MARX, K.; ENGELS, F. O manifesto comunista. Porto Alegre: L&PM, 2001. 
 
MILLS, Wright C. A imaginação sociológica. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 
1969. 
 
SILVA, D. C.; BELANÇON, Milena Cristina.. Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
da Educação.1°. ed. Maringá: UniCesumar,, 2020. v. 1. 184p. 
 
 
WEBER, M. “Ação social e relação social”. In: FORACCHI, M. M; MARTINS, J. de S. 
Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: Livros 
Técnicos e Científicos – LTC, 2008. p. 117-121. 
 
WEBER, Max. “Os três tipos puros de dominação llegítima”. In: COHN, Gabriel (org.). 
Max Weber: Sociologia. 3a ed. São Paulo: Ática, 1986. 
UNIDADE II 
ANTROPOLOGIA OU ANTROPOLOGIAS? 
Professor Mestra Daiany Cris Silva 
 
 
Plano de Estudo: 
• Histórico de formação da antropologia como ciência; 
• Antropologia Filosófica; 
• Antropologia Social; 
• Antropologia Cultural. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
• Conceituar e contextualizar o surgimento da antropologia como ciência; 
• Compreender os campos de estudos da antropologia; 
• Estabelecer a importância da antropologia como conhecimento científico. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá, estudante! 
 As ciências das humanidades é formada por muitas teorias e perspectivas sobre 
o que é ser humano, portanto, uma das grandes questões é compreender como a 
humanidade se constrói coletivamente. A antropologia busca lançar luz a esta questão 
diante dos estudos culturais e é sobre isso que iremos aprender nesta unidade. 
 Para conhecermos o campo dos estudos antropológicos percorreremos um 
caminho em quatro etapas que irão apresentar diferentes correntes teóricas da 
antropologia. 
 Primeiramente apresentaremos a formação da antropologia como ciência, nesse 
momento, tomaremos contato com as primeirasformulações da antropologia, 
representada pelo evolucionismo social. 
 Em seguida, conheceremos antropologia filosófica, esta corrente teórica é a que 
se dedica à compreensão do que nos faz humanos, considerando as nossas construções 
simbólicas, a linguagem e a nossa cultura como formadora de significados. 
 Apresentaremos, também, a antropologia social, representada pelo 
funcionalismo de Bronislaw Malinowski, autor que inaugurou a metodologia moderna 
da antropologia, a etnografia, por isso, conheceremos, neste tópico, o que é e como se 
faz etnografia. 
 E, por fim, apresentamos a antropologia cultural e suas críticas sobre o 
evolucionismo social, percebemos que, nesta corrente, teórica a relativização e o 
conhecer o outro diante do próprio olhar é essencial. 
 Espero que você, estudante, diante do material apresentado, tenha condições 
de compreender a importância da antropologia. 
 Bons Estudos! 
 
 
 
 
 
1 HISTÓRICO DE FORMAÇÃO DA ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/human-evolution-natural-
selection-monkeys-modern-1715994928 
A Antropologia é uma das grandes responsáveis nas Ciências Sociais pelos 
estudos culturais, desenvolvendo metodologias e teorias próprias para isso. A 
antropologia busca, especialmente, compreender a racionalidade humana com relação 
à coletividade, ou seja, as antropólogas e os antropólogos buscam compreender como 
as pessoas produzem significados e simbolismos sobre o mundo. A antropologia estuda, 
portanto, o que é cultura e como ela se constrói. 
 É isso mesmo, estudar como a humanidade constrói significados para suas 
relações coletivas é estudar cultura, dessa forma, a antropologia demonstra que toda e 
qualquer pessoa possui cultura, Independentemente, da “sofisticação” individual, ou de 
um determinado grupo social, diante de seus hábitos e costumes cotidianos. 
 Nesse campo de estudos, entende-se que a humanidade em geral é agente e 
produtora de cultura, porque nós construímos simbolismos sobre a vida o tempo todo, 
seja por meio da maneira como nos expressamos ou quando definimos o que é feio ou 
bonito, o que é ou o que não são bons modos, dentre muitas outras práticas cotidianas. 
 Os primeiros estudos antropológicos datam em meados do século XIX e firmam-
se no debate de teóricos afetos ao evolucionismo social. Incentivados pelos estudos 
sobre a evolução das espécies desenvolvido por Charles Darwin, autores como Lewis 
Henry Morgan (1818-1881), Edward Burnett Tylor (1832-1917) e James George Frazer 
(1854 – 1941), investigaram as, até então, chamadas sociedades primitivas em uma 
perspectiva comparativa entre diferentes sociedades para mapear um caminho 
evolutivo da humanidade. 
 Assim como afirma CASTRO (2016): 
Como decorrẽncia da visão de um único caminho evolutivo humano, os povos 
“não ocidentais”, “selvagens” ou “tradicionais” existentes no mundo 
contemporâneo eram vistos como uma espécie de “museu vivo” da história 
humana – representantes de etapas anteriores da trajetória universal de 
homem rumo à condição dos povos mais “avançados”; como exemplos vivos 
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/human-evolution-natural-selection-monkeys-modern-1715994928
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/human-evolution-natural-selection-monkeys-modern-1715994928
 
daquilo “que já fomos um dia”. Para preencher as “lacunas” do longo período 
“primitivo” de evolução cultural humana a antropologia deveria utilizar o 
método comparativo, aplicando-o ao grande número de sociedades 
“selvagens” existentes contemporaneamente. (CASTRO, 2016, p. 11). 
 
 Nesse sentido, o principal objetivo dos autores do evolucionismo social, 
considerados como os precursores da antropologia, era compreender o processo 
histórico e cultural de desenvolvimento da humanidade por meio de determinações 
biológicas, ou seja, a natureza era um elemento definidor para as teorias dessa corrente 
intelectual. 
 Nesse momento, havia a compreensão de que “ao estudar as condições de tribos 
e nações nesses diversos períodos étnicos, estaríamos lidando, substancialmente, com 
a história antiga e com as antigas condições de nossos próprios remotos ancestrais” 
(CASTRO, 2016, p. 24). 
 As teorias evolucionistas deram o passo inicial para a construção da antropologia 
como uma disciplina científica. No entanto, nessa fase, o olhar antropológico estava 
focado em relacionar os construtos coletivos e culturais a condições da natureza 
humana. Diante disso, podemos chamar, também, o campo de estudos inaugurado 
pelos teóricos evolucionistas de Antropologia Biológica ou Física, pois, existe o 
estabelecimento de classificações da humanidade baseadas na biologia. 
 Roberto DaMatta (1987), define Antropologia Biológica ou Física da seguinte 
maneira: 
O estudo da Antropologia Biológica, situa a questão de uma consciência física 
do estudo do Homem. Ela remete aos parâmetros biológicos de nossa 
existência, revelando como estamos ligados ao mundo animal e aos 
mecanismos básicos da vida no planeta (DAMATTA, 1987, p. 35). 
Compreende-se, portanto, que em seus primeiros estudos a Antropologia 
buscou investigar as relações da humanidade com a sua natureza, tema que é recorrente 
nos estudos antropológicos até a atualidade que se pergunta: quais são os limites entre 
o que é cultural e natural? 
 Para compreender melhor as classificações dos teóricos evolucionistas, observe 
o quadro abaixo que descreve a escala de evolução das sociedades humanas de acordo 
com os estudos de Lewis Henry Morgan, presente em sua obra “A sociedade antiga” 
publicada em 1877. 
 
 
Quadro 1: evolução da sociedade humana, segundo Morgan 
 
Períodos 
 
 Condições 
I. Período inicial da selvageria 
 
Da infância da raça humana até o começo do próximo 
período. 
 
II. Período intermediário de 
selvageria. 
 
Da aquisição de uma dieta de subsistência à base de peixes 
e de um conhecimento do uso do fogo até etc. 
 
III. Período final de selvageria. 
 
Da invenção do arco e flecha até etc. 
 
 
IV. Período inicial de barbárie. 
 
 
Da invenção do fogo da arte da cerâmica até etc. 
 
 
V. Período intermediário de 
barbárie. 
 
 
Da dominação de animais no hemisfério oriental e, o 
ocidental, do cultivo irrigado de milho e plantas, com o uso 
de tijolos de adobe1e pedras, até etc. 
VI. Período final de barbárie. 
 
 
Da invenção do processo de fundir minério de ferro, como 
o uso de ferramentas de ferro até etc. 
 
 
1 O adobe é o antecessor histórico dos tijolos de barro, são feitos artesanalmente de terra, fibras 
naturais e água. 
 
VII. Status de civilização. 
 
 
Da invenção do alfabeto fonético, com o uso da escrita, até 
o tempo presente. 
 
Fonte: CASTRO, 2016, P. 21-22. Adaptado pela autora. 
 
No quadro acima é possível visualizar uma classificação de evolução social de 
acordo com o desenvolvimento da inteligência humana por meio de suas invenções e 
descobertas no decorrer da história. Essa perspectiva possui como regulador um ideal 
de sociedade “civilizada” e "evoluída" que culmina nas sociedades ocidentais. O que 
significa que os antropólogos que realizaram estudos evolucionistas tinham como 
referência que haveria culturas mais civilizadas do que outras, ou seja, definiram 
parâmetros de complexidade e desenvolvimento baseados em uma sociedade em 
específico para classificar e compreender sociedades distintas, com formações culturais 
e condições históricas distintas. 
 Você, estudante, se lembra daquela concepção inicial que discutimos no início 
desta unidade? Que prega que existem pessoas com mais ou menos cultura? Pois é, esse 
discurso não é exclusivo do senso comum, mas, se perpetuou durante algumas décadas 
no desenvolvimento científico da antropologia, principalmente, no seu início. 
 Agora vamos nos questionar sobreas problemáticas da perspetiva evolucionista 
para se pensar as diferentes culturas pelo mundo. 
 A grande questão para os críticos do evolucionismo social que consolidaram uma 
vertente muito importante na antropologia, inclusive, que se chama culturalismo ou 
relativismo cultural, o qual estudaremos na unidade seguinte - é que não seria possível 
estabelecer um único parâmetro de evolução para diferentes culturas humanas, pois, 
cada sociedade possui um processo histórico específico e características culturais 
próprias. Portanto, o culturalismo, a corrente intelectual fundada pelas discussões do 
antropólogo estadunidense Franz Boas, mostra-nos que não haveria como comparar de 
maneira adequada culturas que possuem origens e desenvolvimentos diferentes por 
meio de parâmetros universais. 
 Além disso, pensemos juntos, estudante, seria possível classificar diferentes 
 
sociedades, com símbolos, tradições e costumes diversos de modo comparativo? Se 
considerarmos que cada formação cultural possui um processo próprio de 
desenvolvimento, a resposta para essa pergunta é: não. Dessa maneira, nenhum hábito, 
costume ou tradição cultural pode ser considerada primitiva ou simples. 
 Essa lógica classificatória das culturas abriu espaço para uma série de discursos 
racistas no curso da história. Diante da centralidade da perspectiva europeia como ideal 
de civilização, as culturas não ocidentais e seus descendentes foram considerados como 
não “evoluídos”, portanto, inferiores, ocasionando episódios trágicos como a 
escravização de povos africanos e a colonização violenta das américas. 
 O evolucionismo social é responsável pela inauguração da antropologia como 
ciência, no entanto, a seguir, veremos como a antropologia se constituiu de forma cada 
vez mais plural durante o seu desenvolvimento. 
 
 
 
2 ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/satukunda-rock-paintings-
just-24-km-1776856127 
 
Como uma das principais questões para antropologia é o entendimento do que 
nos faz humanos e dos simbolismos e significados que construímos pela cultura, a 
antropologia filosófica surge como um campo científico que busca investigar 
atentamente essas questões, principalmente, no que se refere à noção de pessoa, ou 
seja, o que nos faz humanos? 
A antropologia filosófica se preocupa em conceituar o que é essencialmente 
humano. Para isso busca discutir questões como civilização e diferenças entre o natural 
e o cultural. 
 
#REFLITA# 
 
O que seria de nós sem nenhuma forma de linguagem? Seja por símbolos, sinais 
ou a fala? A antropologia filosófica nos ensina que são os simbolismos que fazem de nós 
humanos, ou seja, que possibilita a concretização de conceitos abstratos. 
 
Fonte: a autora. 
 
#REFLITA# 
 
Um dos seus principais autores é Max Scheler, que possui como obra referencial 
“A posição do homem no espaço”, publicada no século XX. A obra retrata a formação da 
antropologia filosófica e discute Nele, ele enfatizou, a necessidade da formação da 
antropologia filosófica diante da reflexão da essência do espírito humano. 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/satukunda-rock-paintings-just-24-km-1776856127
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/satukunda-rock-paintings-just-24-km-1776856127
 
 A antropologia filosófica demonstra, ainda, que a humanidade desenvolve um 
sistema simbólico, ou seja, por meio da linguagem nós nos expressamos e 
concretizamos nossos pensamentos, hábitos e costumes. 
 
Sem o simbolismo, a vida do homem seria como a dos prisioneiros na caverna 
do famoso símile de Platão. A vida do homem ficaria confinada aos limites de 
suas necessidades biológicas e seus interesses práticos; não teria acesso ao 
“mundo ideal” que lhe é aberto em diferentes aspectos pela religião, pela 
arte, pela filosofia e pela ciência. (CASSIRER, 1994, p. 10) 
 
Desse modo, não são as coisas que fazem as pessoas humanas, mas opiniões, 
maneiras de ser, pensar e agir. 
 
 
 
3 ANTROPOLOGIA SOCIAL 
 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/yang-sportive-indigenous-
tribal-boy-paddle-1172363122 
 
A antropologia é uma ciência que possui muitas correntes teóricas que pensam 
as culturas de maneiras distintas. Nesse momento, concentramos em conhecer a 
antropologia social, melhor representada pela corrente funcionalista. A seguir teremos 
a dimensão de que, para além de um campo científico que possui suas particularidades, 
a antropologia diferencia-se fortemente pela sua metodologia também. 
 O funcionalismo na antropologia destaca-se por possuir influência das teorias de 
um dos fundadores da sociologia, o sociólogo Émile Durkheim. Embora Durkheim nunca 
tenha se apresentado como um antropólogo (CASTRO, 2016), ele foi o responsável por 
um importante estudo sobre povos “primitivos” intitulado “As formas elementares da 
vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália” de 1912. Em parceria com seu sobrinho 
Marcel Mauss, Durkheim ofereceu a antropologia importantes descobertas no que se 
refere a pensar teorias que buscam uma análise geral de toda a humanidade (CASTRO, 
2016). 
 Marcel Mauss, por sua vez, considerado uma das principais referências da 
antropologia, consolidou em “Ensaio sobre a dádiva”, publicação de 1925, a perspetiva 
funcionalista ao buscar comprovar um lei geral que fundamenta toda as relações 
humanas, defendendo que existem determinadas lógicas nas instituições sociais, 
representadas por costumes e tradições específicas que são gerais em qualquer 
sociedade. Nesse caso, o autor defendia que a vida social seria um constante “dar e 
receber, fundamento de toda sociabilidade humana” (CASTRO, 2016, p. 82), fazendo 
uma alusão a lógica de trocas de presentes recorrentes em rituais do noroeste 
americano chamado potlach. 
A obra escrita por Malinowski em 1922, além de inaugurar a etnografia moderna, 
representa uma das correntes teóricas mais importantes da antropologia, o 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/yang-sportive-indigenous-tribal-boy-paddle-1172363122
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/yang-sportive-indigenous-tribal-boy-paddle-1172363122
 
funcionalismo. Ao analisar o kula, sistema de trocas intertribais da comunidade 
Trobriandesa, localizada nas ilhas de Nova Guiné, e “Os Argonautas do Pacífico 
Ocidental”, o autor mapeia como as instituições sociais são determinantes para se 
estabelecer relações sociais, principalmente, no que se refere ao funcionamento da 
própria sociedade como um todo. 
Primeiramente, vamos entender o que é o Kula. 
O Kula é um sistema de trocas de colares e braceletes entre tribos possibilitada 
por um ritual de navegação realizado por cada comunidade. Malinowski documentou 
essa tradição da sociedade trobriandesa entre os anos de 1914 e 1918. O Kula 
funcionava em dois sentidos, no sentido horário, presenteava-se as comunidades com 
colares de conchas vermelhas chamados soulava, já no sentido anti-horário, circulavam 
os braceletes feitos de conchas brancas, chamados mwali. Em um dado momento, 
aquele que recebia um colar soulava, estava obrigado a corresponder com um 
bracelete mwalli e vice-versa. 
As trocas de colares realizadas por meio do ritual do kula estabelece alianças que 
possibilitam relações de reciprocidade entre tribos, gerando hospitalidade, proteção e 
ajuda mútua. 
 Sobre a contribuição de Malinowski para a constituição da etnografia moderna 
devemos destacar as principais características apresentadas pelo autor para uma boa 
etnografia. 
 A etnografia: “é uma explicação descritiva da vida social e da cultura de um dado 
sistema social, baseado na observação detalhada do que as pessoas de fato fazem” 
(JOHNSON, 1997, p.101). Essa metodologia foi desenvolvida por antropólogos para 
investigar sociedades não ocidentais, de modo a descrever detalhadamente essas 
culturas e possibilitando uma análise profundasobre a organização e funcionamento 
das mais variadas sociedades. 
 A etnografia possui pelo menos duas características principais: a observação e a 
descrição. No que se refere à observação, ela não deve ser distanciada, como em uma 
situação de laboratório. Não se pode colocar grupos de pessoas em uma sala fechada e 
acreditar que elas agiriam da maneira com que agem no seu cotidiano. Por isso, a 
 
observação na antropologia deve ser participante. A antropóloga ou antropólogo que se 
dedica a estudar algum tema ou cultura, deve se deslocar até o local do grupo 
pesquisado, participar e observar de perto tudo o que acontece no cotidiano daquelas 
pessoas. 
 A observação participante proporciona uma aproximação do antropólogo ao 
grupo pesquisado que não pode ser conquistado a distância. Alguns antropólogos 
acreditam que seria possível, inclusive, que ao participar de uma outra cultura de 
maneira aprofundada e contínua o pesquisador se tornaria parte daquela cultura, logo 
a compreensão dos simbolismos e significados construídos ali seria mais completa. 
 A observação participante também é chamada de trabalho de campo. Ir a campo 
é o mesmo que ir até o grupo pesquisado. 
 Contudo, para haver o registro científico dessa experiência, é necessário 
descrever e detalhar tudo que se vivencia durante a observação participante. Esse 
registro é chamado de diário de campo do pesquisador. 
 O diário de campo é o registro de todos os acontecimentos da observação 
participante, uma descrição detalhada de todos os fatos relevantes. Registra-se, ainda, 
impressões dos acontecimentos, pensamentos e reflexões que ocorrem ao pesquisador 
durante o trabalho de campo. 
 As descrições que constituem o diário de campo são parte dos registros do 
processo científico da investigação antropológica. Esse material compõe a etnografia em 
um produto final de escrita acadêmica, que possui o modelo de uma monografia. 
 O diário de campo é a principal fonte de descobertas científicas na antropologia 
e junto a revisões bibliográficas e análises teóricas, se transforma em uma pesquisa 
científica detalhada que descreve uma determinada cultura por meio de um processo 
de imersão do pesquisador. 
Assim com o culturalismo, o funcionalismo na antropologia foi um dos marcos 
de: “ruptura com a tradição evolucionista, tanto em seus aspectos teóricos quanto 
práticos, foram as obras de Franz Boas (1858-1942) e de Bronislaw Malinowski (1884- 
1942) (CASTRO, 2005, p. 14). Isso se deve à perspectiva de pesquisa que considera a 
 
sociedade e a cultura como construtos coletivos que são constitutivos do 
comportamento social. 
 
 
4 ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
Imagem do Tópico:https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indian-tribe-feather-
headdress-elderly-brazilian-1940396416 
 
Outra corrente teórica na antropologia que é considerada um marco de ruptura 
ao evolucionismo social e, essencialmente, o mais importante nesse sentido, é o 
culturalismo que constitui a antropologia cultural. 
 Originado pelos estudos do antropólogo estadunidense Franz Boas, o relativismo 
cultural contrapõe o evolucionismo social. Para Castro (2016): 
 
[...] antes de supor que fenômenos aparentemente semelhantes 
pudessem ser atribuídos às mesmas causas, como faziam os 
evolucionistas, era preciso perguntar, para cada caso, se eles não 
teriam se desenvolvido independentemente, ou se não teriam sido 
transmitidos de um povo ao outro” (CASTRO, 2016, p. 32). 
 
 Franz Boas criou um novo método para o estudo antropológico, o “método 
histórico” que contrapunha o método comparativo desenvolvido pelos teóricos 
evolucionistas. Sua metodologia prevê que precisamos estudar cada sociedade de 
maneira independente, analisar caso a caso e compreender quais são os contextos e 
características específicas de cada grupo social, portanto, como cada cultura possui um 
processo de formação próprio. 
 Boas é considerado um dos fundadores da antropologia moderna, 
principalmente, pela sua perspectiva plural sobre cultura, o autor deixou de usar o 
conceito no singular e estudou as culturas humanas de maneira contextualizada 
(CASTRO, 2016), considerando as especificidades históricas de cada grupo social e 
relevando que não há universalismos quando tratamos de manifestações culturais. 
 As antropólogas e antropólogos que se tornaram discipulos de Frans Boas 
incentivaram muitos outros debates na antropologia, como as relações de gênero em 
seu caráter de construto cultural, representado pela obra “Sexo e temperamento” de 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indian-tribe-feather-headdress-elderly-brazilian-1940396416
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indian-tribe-feather-headdress-elderly-brazilian-1940396416
 
Margareth Mead (1935), e a definição de padrões de cultura da antropóloga Ruth 
Benedict (1983) que nos mostra que os costumes característicos de cada sociedade 
moldam a conduta dos indivíduos e só podemos compreender esse fenômeno se o 
analisarmos em sua totalidade (BENEDICT, 1983). 
 Vejamos o que pensa Ruth Benedict (1983) sobre o papel da antropologia: 
A antropologia ocupa-se dos seres humanos como produtos da vida em 
sociedade. Fixa a sua atenção nas características físicas e nas técnicas 
industriais, nas convenções e valores que distinguem uma comunidade de 
todas as outras que pertencem a uma tradição diferente. (BENEDICT, 1983, p. 
13). 
 Nesse sentido, entende-se que para os antropólogos do relativismo cultural todo 
o comportamento humano é produto da coletividade, no entanto, para que se possa ler 
os comportamentos em distintas sociedades seria preciso olhar diante das lentes de 
seus próprios componentes, ou seja, olhar a vida por meio do olhar do outro. 
#SAIBA MAIS# 
A relativização é essencial para os estudos antropológicos pois, é por meio da 
relativização que conhecemos o outro diante do seu próprio olhar. Relativizar em 
antropologia é manter a atenção às diversidades e peculiaridades que cada cultura 
possui, quem relativiza consegue evitar pensamentos preconceituosos sobre as 
diferentes culturas. 
Fonte: a autora. 
#SAIBA MAIS# 
 Os estudos culturalistas mostram-nos que existem padrões de cultura em cada 
sociedade, porém, só conseguimos compreendê-los se nos propomos a visualizar o 
outro em perspectiva própria. Portanto, relativizar é uma palavra muito importante para 
a antropologia. Relativizar é o principal objetivo desses antropólogos culturalistas, pois 
se caracteriza pela atitude, nos estudos antropológicos, de considerar os contextos em 
que determinada cultura se constrói. 
 O movimento antropológico que incentiva a relativização é crucial para que haja 
uma valorização genuína das mais diversas expressões culturais de acordo com as suas 
 
especificidades. Desse modo, relativizar em antropologia é se atentar às diferenças e às 
diversidades que cada cultura possui, o olhar antropológico da relativização impede a 
existência de uma uniformização etnocêntrica de características culturais nas relações 
humanas. 
 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Prezado (a) estudante, 
 Nesta unidade, aprendemos que existem muitas controvérsias dentre as 
diferentes correntes teóricas na antropologia, principalmente, no que se refere aos 
equívocos do evolucionismo social. 
 Com o surgimento dos estudos culturalistas e funcionalistas, percebemos que a 
antropologia é uma disciplina que se consolida posicionando-se criticamente a teorias 
que tornam as diferentes culturas exóticas, como em uma coleção de curiosidades. 
 Aprendemos, ainda, que a antropologia proporciona um olhar atento às 
diversidades culturais de diferentes culturas. Nesse sentido, diante dos conhecimentos 
adquiridos sobre a antropologia, torna-se possível perceber que existem 
hierarquizações que nos classificam, sim, mas que não precisam ser mais reproduzidas. 
 Para conhecermos cada vez mais sobre como as ciências dashumanidades nos 
ajudam a compreender a nós mesmos e a nossa ação em sociedade, aguardo você, 
estudante, na próxima unidade. 
 Bons estudos! 
 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
Antropologia Educacional: novo olhar sobre a prática educativa 
 
Diante do atual debate a respeito das transformações sociais e da percepção da 
crescente ênfase na centralidade da cultura como base para a análise deste momento 
histórico, a antropologia adquire uma importância fundamental, devido à sua 
contribuição na discussão sobre a contradição entre a função social da escola na 
sociedade contemporânea, como formadora para a inserção em um mercado de 
trabalho marcado pela preocupação com o imediatismo das respostas às demandas 
provindas de diversos setores e obcecado pelo acúmulo de capital, e a formação dos 
cidadãos voltada para uma inserção crítica na vida pública, de forma a contribuir com a 
transformação das desigualdades que habitam esta sociedade democrática. 
 As atuais desigualdades caminham em direção a algo drástico: os seres humanos 
estão cada vez menos semelhantes, não por conta da riqueza da sua multiplicidade 
cultural, mas, sim, pela diferença no acesso aos bens e serviços engendrados na 
modernidade. 
 Essas questões se ampliam quando se focaliza a formação de nossas crianças, 
adolescentes e jovens. Sendo a escola um espaço de longa jornada de convivência, que 
busca melhor compreender a realidade, formar para o presente e o futuro, questiona-
se qual contribuição vem auferindo para a caminhada histórica da humanidade. 
 Os diversos grupos culturais que até recentemente se encontravam alheados da 
escola, ou não, eram nela reconhecidos, nela adentraram-se. Contribui, sobremaneira, 
para ressignificar a educação e a escola, o reconhecimento da presença escolar de 
outros grupos identitários historicamente sem poder, tais como: as mulheres (meninas), 
as diversas sexualidades e diversidades de gênero, as minorias étnicas (negros e 
indígenas) e religiosas (as religiões afro-brasileiras), os desfavorecidos 
economicamente, sem falar nas subculturas que caracterizam a juventude (o 
movimento hip-hop, por exemplo). 
 
As diferenças culturais manifestam-se intensamente no interior da escola. Neste 
contexto, a antropologia tem um papel inquestionável no processo de mudança 
paradigmática, ganhando importância para os fundamentos da educação, ampliando o 
campo a ser investigado, notadamente no diálogo entre cultura e educação. 
 O que objetivamos não é a realização de estudos etnográficos sobre a escola, 
simplesmente, mas de uma mudança de olhar sobre ela, privilegiando os saberes locais, 
a diversidade étnico-cultural, as complexidades e as subjetividades do cotidiano social, 
portanto, trata-se de um novo olhar sobre a prática educativa. 
 Sendo a cultura este trajeto entre um “núcleo duro” e os diversos polos que 
borbulham, este circuito dialético entre a repetição/diferença e o desejo/horizonte 
histórico, as “histórias” (de cada pessoa, de cada escola) não serão as mesmas, 
tampouco as reações ou entendimentos advindos do seu contexto não serão 
semelhantes para os diferentes sujeitos. 
 Mas, nem sempre foi assim, nem sempre foi este o entendimento sobre cultura. 
Por isso, destaco a importância de se conhecer as principais escolas da antropologia, 
com seus principais pensadores e as interpretações dadas por eles à questão da 
diversidade humana, nos aspectos biológico (diferenças genéticas) e social (as 
organizações de parentesco, as instituições sociais e políticas, os sistemas simbólicos, 
religiosos e de comportamento), o que nos possibilitará desenvolver uma educação com 
respeito às diferenças étnicas e culturais e que promova a eliminação das diferenças 
econômico-sociais e, com isso, possibilitar que nos tornemos, mais, humanos. 
Fonte: OLIVEIRA, Julvan Moreira de. Antropologia Educacional: novo olhar sobre a prática educativa. 
Portal Geledés, publicado em 16/01/2017. Disponível em: https://www.geledes.org.br/antropologia-
educacional-novo-olhar-sobre-pratica-educativa/. Acesso em: 16 ago. 2021. 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
 
• Título. Cultura: um conceito antropológico 
• Autor. Roque De Barros Laraia. 
• Editora. Zahar. 
• Sinopse. Neste livro o antropólogo brasileiro nos apresenta o conceito antropológico 
de cultura de uma maneira didática e objetiva, compreensível para todas as pessoas, 
sejam elas antropólogas, ou não. 
 
 
 
 
 
 
https://www.amazon.com.br/s/ref=dp_byline_sr_book_1?ie=UTF8&field-author=Roque+De+Barros+Laraia&text=Roque+De+Barros+Laraia&sort=relevancerank&search-alias=stripbooks
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: O JARRO 
• Ano: 1992. 
• Sinopse. O Jarro é um filme iraniano que tem como trama principal o conserto do único 
jarro de água de uma escola, neste filme, o professor estimula os alunos a encontrar 
uma solução para o problema do jarro quebrado coletivamente. É um bom filme para 
refletir sobre o trabalho educacional e ter contato com uma cultura diferente da nossa, 
a de pessoas de uma vila isolada no deserto iraniano. 
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=LC-S0fTMY-M 
 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=LC-S0fTMY-M
 
REFERÊNCIAS 
 
CASSIRER, Ernst. Ensaio Sobre o Homem. Uma Introdução a uma Filosofia da Cultura 
Humana. Ed: Martins Fontes, São Paulo. 1994. 
 
BENEDICT, R. Padrões de Cultura. São Paulo: Ed. Livros do Brasil, 1983. 
 
CASTRO, C. (org.). Evolucionismo Cultural/textos de Morgan, Taylor e Frazer. Rio de 
Janeiro, Jorge Zahar, 2005. 
 
CASTRO, C. (org.). Textos básicos de antropologia. Cem anos de tradição: Boas, 
Malinowski, Lévi- Strauss e outros. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2016. 
 
DAMATTA, R. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro, 
Rocco, 1987. 
 
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia. Zahar: Rio de Janeiro, 1997 
 
MALINOWSKI, B. “Argonautas do Pacífico Ocidental”. Os Pensadores, São Paulo, Abril 
Cultural, 1998.JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia. Zahar: Rio de Janeiro, 1997 
 
OLIVEIRA, Julvan Moreira de. Antropologia Educacional: novo olhar sobre a prática 
educativa. Portal Geledés, publicado em 16/01/2017. Disponível em: 
https://www.geledes.org.br/antropologia-educacional-novo-olhar-sobre-pratica-
educativa/. Acesso em: 16 ago. 2021. 
 
UNIDADE III 
O SER HUMANO NA FILOSOFIA. 
Professor Mestra Daiany Cris Silva 
 
 
Plano de Estudo: 
 
• Conceitos e Definições do conhecimento filosófico; 
• Breve histórico da formação do conhecimento filosófico; 
• Períodos da filosofia grega; 
• Questões filosóficas: a ética e a moral. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
• Conceituar e contextualizar a filosofia como campo de conhecimento; 
• Compreender a formação histórica da filosofia; 
• Estabelecer a importância da filosofia como ferramenta de entendimento humano. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá, estudante! 
Nesta unidade, conheceremos as discussões sobre o ser humano na filosofia, 
para isso teremos quatro tópicos para aprendermos o tema. 
No tópico: conceitos e definições do conhecimento filosófico, discutiremos para 
quê serve a filosofia? É isso mesmo, iniciaremos compreendendo a definição da filosofia, 
essa área do conhecimento que é constituída pelo amor ao conhecimento sobre a 
humanidade. 
No tópico: breve histórico da formação do conhecimento filosófico, tomaremos 
contato com as condições históricas que fizeram possível o surgimento da filosofia. Será 
possível nesse momento reconhecer que a filosofia só foi possível, pois a humanidade 
pôde desbravar o mundo em navegações que a mostrou que o mundo era muito maior 
do que os mitos contavam. 
No tópico a seguir: períodos da filosofia grega, reafirmamos a filosofia como um 
fato grego e sistematizamos as principais características dos principais períodos dessa 
área do conhecimento em seu início. 
E, para finalizar, no tópico: questões filosóficas: a

Mais conteúdos dessa disciplina