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1 – Conceitos Básicos de Macroeconomia 1.1. Introdução: A Economia como a Ciência da Escassez Um dos princípios fundamentais da Economia é a chamada “lei da escassez”, segundo a qual as necessidades humanas são ilimitadas, enquanto que os recursos necessários à produção dos bens capazes de satisfazer a essas necessidades são escassos, ou seja, existem em quantidades limitadas. As necessidades humanas variam desde as mais elementares, tais como alimentação, segurança, moradia, etc, até as mais sofisticadas, tais como a cultura e o lazer. As necessidades humanas são consideradas ilimitadas, basicamente, por dois motivos: a) Porque se renovam dia a dia, exigindo contínuo suprimento de bens para atendê-las (por exemplo, alimentação, vestuário, transporte, etc); b) Porque tendem a seguir uma escala de sofisticação: a cada dia surgem novos desejos e novas necessidades, motivadas pelas perspectivas de aumento do padrão de vida da sociedade (por exemplo, cultura, lazer, moda, etc). Para atender à imensa gama de desejos humanos, é preciso que sejam produzidos certos bens. Entende-se o conceito de bem como sendo tudo aquilo capaz de atender a uma necessidade humana. Os bens podem ser materiais (quando é possível atribuir-lhes características físicas, tais como tamanho, forma e cor) e imateriais (os chamados bens intangíveis como, por exemplo, os diversos tipos de serviços). A produção dos bens, por sua vez, exige o uso de certo conjunto de recursos, também chamados fatores de produção, que podem ser classificados em três grandes grupos: a) O fator de produção “Terra”, incluindo o solo e os diversos recursos naturais: minérios, florestas, recursos hídricos, etc; b) O fator de produção “Trabalho”, representado pela força de trabalho humano, seja ele físico ou intelectual; c) O fator de produção “Capital”, que corresponde às máquinas, equipamentos, ferramentas, instrumentos, infra-estrutura, enfim, bens que foram produzidos anteriormente e que continuam a serem utilizados durante algum tempo para a produção de outros bens. Ocorre que toda sociedade, num dado momento, possui um estoque limitado desses recursos ou fatores de produção. Isto significa que não é possível produzir uma quantidade infinita de bens, porque os recursos são limitados. Assim, surge o problema econômico da escassez: a) De um lado, as necessidades humanas são ilimitadas; b) De outro, os recursos ou fatores de produção que devem ser utilizados para produzir os bens (que irão atender a essas necessidades) são limitados. Ou seja, não é possível produzir todos os bens de que a sociedade necessita, mas é possível utilizar os recursos da melhor maneira possível, para produzir o máximo de bens e desse modo atender à maior gama possível de necessidades. Isso nos leva a uma das idéias-chave na Economia, que é a idéia da eficiência: maximizar a produção de bens e serviços, dadas as restrições colocadas pela quantidade limitada de fatores de produção. Assim, a sociedade como um todo se organiza de modo a tentar produzir os bens e serviços de forma eficiente, ou seja, empregando de forma racional os recursos disponíveis, visando otimizar seus resultados, maximizando o nível de bem-estar da população. Nesse contexto, a Economia se apresenta como a ciência social que se ocupa da administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos. Para fins didáticos, costuma-se “dividir” a Ciência Econômica em áreas específicas, dentre as quais destaca-se a Microeconomia – o estudo do comportamento das unidades produtivas, dos indivíduos, dos mercados, etc – e a Macroeconomia – o estudo do comportamento dos grandes agregados econômicos: produto interno bruto, inflação, desemprego, etc. A Macroeconomia trata do estudo dos agregados econômicos, de seus comportamentos e das relações que guardam entre si. Tenta-se avaliar o desempenho da economia no sentido de satisfazer as necessidades da sociedade. Assim, uma das questões fundamentais da Macroeconomia – nosso objeto de estudo daqui por diante – é justamente avaliar esse desempenho econômico. Em outras palavras, como “medir” a quantidade total de bens e serviços que estão sendo disponibilizados à sociedade, e verificar as relações econômicas que estão na base desse processo produtivo. A Macroeconomia nos fornece um conjunto de variáveis que permitem saber se a economia de um país, num certo momento, está “crescendo” ou está em “recessão”, se existe “desemprego de fatores” ou “pleno emprego”, como está o “nível geral de preços”, etc... Assim, o ponto de partida é medir o desempenho da economia através de algum indicador. Normalmente se utilizam os agregados macroeconômicos Produto, Renda e Despesa para se mensurar o nível de atividade econômica de um país, de uma região ou cidade. Nas próximas seções vamos discutir como se chegar a essas medidas da atividade econômica. 1.2. O Fluxo Circular da Renda A Macroeconomia parte do princípio de que existem dois grandes mercados: a) O Mercado de Bens e Serviços, correspondente à compra e venda dos diversos bens produzidos (carros, alimentos, vestuário, aviões, etc) e dos diversos serviços comunicações, transportes, distribuição de energia elétrica, etc). Nesse mercado, as firmas (ou unidades produtivas, ou também chamadas “empresas”) ofertam bens e serviços aos indivíduos; b) O Mercado de Fatores de Produção, correspondente à compra e venda dos diversos fatores de produção: terra e recursos naturais, trabalho e capital. Nesse mercado, os indivíduos ofertam os fatores de produção às firmas. A figura a seguir ilustra esse relacionamento os dois mercados e os dois “setores” da economia – as firmas e os indivíduos. Os indivíduos são os proprietários da força de trabalho, da terra, dos recursos naturais, das máquinas, equipamentos, entre outros, que precisam ser utilizados pelas firmas no seu processo de produção (em alguns textos de Economia, há autores que usam o termo “famílias” ao invés de “indivíduos”, mas na essência ambos representam a mesma coisa: os proprietários dos fatores de produção). Portanto, as firmas compram o uso dos fatores de produção dos indivíduos, no mercado de fatores. Na figura acima, essas transações são representadas pelas linhas da parte inferior do quadro. As linhas cheias representam movimentos de fatores de produção e as linhas tracejadas, a contrapartida monetária do movimento dos fatores. Por outro lado, na parte superior da figura, vemos o que acontece no mercado de bens e serviços: as linhas cheias representam as transações com bens e serviços, produzidos pelas firmas e colocados à disposição dos indivíduos, que em troca pagam por esses bens e serviços, gerando a contrapartida monetária da produção, representada pelas linhas tracejadas. Esse esquema representa o Fluxo Circular da Renda, elemento fundamental para se compreender o funcionamento macro de um determinado sistema econômico. O modelo aqui apresentado é uma simplificação, pois ainda não incorpora outros setores importantes, tais como o Governo e o Setor Externo. De fato, estamos fazendo algumas “abstrações”, ou seja, “simplificações”, partindo de um modelo básicopara chegar a um modelo mais sofisticado e mais próximo da realidade. Por enquanto, vamos admitir que só existem esses dois “setores” na economia: as firmas e os indivíduos. Esse modelo corresponde ao que se chama normalmente de “Economia Fechada e sem Governo” (“fechada” porque não existem, no modelo considerado, transações com o exterior, como importações e exportações; “sem Governo” porque não existem, no modelo considerado, gastos públicos ou impostos). Gradativamente iremos adicionando essas variáveis, até chegarmos à “Economia Aberta e Com Governo”. 1.3. Economia Fechada, sem Governo e sem Formação de Capital Nessa economia simplificada, existem apenas o setor “firmas” e o setor “indivíduos”. Vamos imaginar que os preços dos diversos bens e serviços são constantes (ou seja, não existe inflação) e que a economia é estacionária, ou seja, sua capacidade produtiva total (relativa ao máximo de bens e serviços que é possível produzir) não se expande no curto prazo. Isso quer dizer que não existe, por enquanto, formação de capital, isto é, poupança e investimento. Se somarmos todos os bens e serviços finais produzidos pelas firmas durante certo período de tempo (normalmente durante um ano) teremos o valor do Produto: Onde “pi” representa o preço do bem ou serviço “i” e “qi” representa as quantidades do bem ou serviço “i”. Isso significa que no cálculo do Produto temos que somar o valor monetário da produção dos diversos bens e serviços: Um exemplo numérico pode ser visto na tabela a seguir (valores hipotéticos): Observe que estamos falando de “Produto” como um agregado, um somatório de todos os bens e serviços gerados pelo sistema econômico num certo período de tempo. Essa noção é fundamental, pois em Macroeconomia estaremos todo o tempo falando dos Agregados Macroeconômicos, ou seja, medidas que correspondem a totais globais, somatórios de toda a economia. O Produto é um dos principais agregados macroeconômicos, ao lado da Renda e da Despesa (ou Dispêndio), os quais discutiremos adiante. → Atenção: Só entram no cálculo do Produto os bens finais, isto é, os bens que não serão mais transformados em outros bens. Isso para evitar o problema da dupla contagem. Explicando melhor: no cálculo do Produto, levamos em consideração todas as vendas de bens e serviços realizadas pelas empresas durante certo período de tempo. No entanto, muitas dessas vendas acontecem entre as próprias empresas, pois alguns bens e serviços se constituem em insumos para outros bens e serviços. Tais insumos são chamados bens intermediários e não podem ser computados no cálculo do Produto, pois senão isto vai causar o problema da dupla contagem. Assim, no cálculo do Produto, vamos considerar, por exemplo, o valor da produção de pão, mas não podemos somar novamente o valor da produção do trigo, do fermento, do sal, da farinha de trigo, etc... senão estaríamos somando várias vezes os mesmos valores. O valor da produção de pão (bem final) já contém, embutido no próprio bem, o valor dos insumos intermediários e matérias-primas utilizados em fases anteriores do processo produtivo. Para gerar o Produto durante certo ano, as firmas necessitam adquirir fatores de produção, e para usar esses fatores, como vimos, as firmas necessitam remunerar os proprietários dos mesmos, que são os indivíduos. O total de pagamentos que as firmas fazem aos indivíduos, pelo uso dos fatores de produção, é o que chamamos de Renda: Onde: • w = Salários (remuneração do fator de produção "Trabalho”); • j = juros (remuneração do fator de produção “Capital” na forma monetária); • a = aluguéis (remuneração do fator de produção “Terra”); • l = lucros (remuneração do fator de produção “Capital”, este na forma de máquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo). → Observe que neste modelo os lucros representam uma espécie de “custo” para as empresa, na medida em que correspondem a valores que as mesmas devem pagar aos acionistas (indivíduos). → Note ainda que, se as firmas de um país hipotético “Z”, durante o ano de 2006, por exemplo, produziram bens e serviços num total de $ 50 milhões, isto significa que tais firmas precisaram, durante todo o ano, utilizar fatores de produção e remunerar os proprietários de tais fatores, de forma que a soma de todos os salários, aluguéis, lucros e juros também totalizaram $ 50 milhões. Temos então uma identidade macroeconômica fundamental: Ou seja, o valor do Produto (total de bens e serviços finais produzidos durante certo período de tempo) é igual ao valor da Renda (total de pagamentos feitos pelas firmas aos proprietários dos fatores de produção). Os indivíduos, por sua vez, utilizam suas rendas de que maneira? Gastando na compra de bens e serviços. Em outras palavras, os indivíduos realizam o Consumo, que nesse modelo representa a Despesa (também chamada Dispêndio, e que corresponde ao total de gastos realizados pelos indivíduos na compra de bens e serviços). Assim, temos: Despesa = Consumo (C) E mais, temos a identidade macroeconômica fundamental: Produto = Renda = Despesa Portanto, se quisermos medir o desempenho de uma economia durante certo período de tempo, temos três óticas diferentes, gerando o mesmo resultado: • Sob a ótica da Produção, usando o total de bens e serviços finais gerados durante o período; • Sob a ótica da Renda, usando o total de recebimentos dos indivíduos, por terem cedido os � Sob a ótica da Despesa, usando o total de pagamentos que os indivíduos fizeram durante o ano na aquisição de bens e serviços diversos. 1.4. Economia Fechada, sem Governo e com Formação de Capital O modelo anterior é de uma economia estacionária, ou seja, o nível anual de produção não cresce: todo ano é gerado um Produto no mesmo valor. Para haver crescimento econômico (crescimento do Produto em relação ao ano anterior) é necessário ampliar a capacidade produtiva da economia, através do Investimento. Se os empresários estão otimistas quanto ao ritmo dos negócios no futuro, eles tendem a realizar gastos com a aquisição de novas máquinas, equipamentos e instalações, para ampliar seu parque industrial e dessa forma aumentar a produção de bens e serviços. Assim, algumas empresas se dedicarão a produzir tais bens: máquinas, equipamentos, ferramentas, instrumentos, etc... Portanto, temos que considerar agora que a Produção (o Produto Agregado) é composta de dois tipos de bens: • Bens de Consumo, destinados a satisfazer as necessidades dos indivíduos, como alimentação, transporte, vestuário, etc. • Bens de Investimento (ou Bens de Capital), destinados a aumentar a capacidade de produção das firmas: máquinas, equipamentos, instalações, etc. Os Bens de Investimento são utilizados pelas firmas no seu processo produtivo ao longo do tempo, portanto a cada ano o estoque acumulado desses bens na economia vai aumentando. Assim, um aumento nesse estoque de capital leva, no longo prazo, a um aumento da capacidade produtiva total da economia. → Observe que é possível definir “Investimento” de duas maneiras: → Investimento como sendo os gastos (despesas) com bens para aumentar a capacidade produtiva da economia; • Investimento comosendo os gastos com bens que foram produzidos, mas que não foram consumidos no período (serão consumidos em períodos futuros), ou seja: I = Produto – C Os bens que foram produzidos, mas não foram consumidos no presente são os seguintes: • Máquinas, equipamentos, instalações, infra-estrutura, imóveis, etc – Correspondem à Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) ou ainda “investimento planejado”. • Variação de Estoques (∆ E), que representa um “investimento não-planejado” pelas empresas. São quantidades que foram produzidas mas não foram vendidas. Por que a variação de Estoques é considerada também como investimento? Observe que se o setor produtivo da economia (as empresas) gerou uma produção total igual a $1.000, isto significa que foi gerada também uma renda para os indivíduos no total de $1.000, correspondente ao total de salários, aluguéis, lucros e juros. Suponha que os indivíduos resolveram comprar mercadorias somente num total de $800. Isto significa que $200 correspondem a mercadorias que foram produzidas, mas não foram consumidas. Do ponto de vista das empresas, esse aumento nos seus estoques é uma espécie de investimento, como se elas tivessem “comprado” essa produção, sendo possível vender mais num período futuro. Afinal de contas, as empresas tiveram que adquirir os fatores de produção correspondentes, junto aos indivíduos, portanto as empresas realizaram uma despesa. Na prática, as empresas tiveram que fazer um gasto total no valor de $200 para possuir tais mercadorias em estoque. Mas, como as empresas puderam financiar estes estoques? Elas gastaram $1.000 na produção, e só receberam $800, pois os indivíduos só realizaram compras neste valor... De onde vieram os $200 restantes? Estes recursos vêm da Poupança gerada pelos indivíduos, no valor de $200, equivalente à renda obtida pelos mesmos ($1.000) menos o valor gasto em consumo ($800). Observe: os indivíduos pouparam (ou seja, não gastaram parte de sua renda) num valor de $200, e deixaram estes recursos aplicados no mercado financeiro. Tais recursos foram disponibilizados pelos bancos, na forma de empréstimos, às empresas, que já tinham encomendado bens de capital às demais firmas produtoras destes bens. Aqui nós podemos observar uma importante relação entre os conceitos de Investimento e Poupança. Estas duas variáveis econômicas estão inter-relacionadas e correspondem aos dois “lados” do processo de acumulação de capital: o Investimento representa as aplicações de recursos, por parte das firmas, e a Poupança representa as origens de recursos. Voltaremos a examinar tal relação mais adiante. Portanto, temos a seguinte relação para identificar o valor do investimento: I = FBKF + ∆E → Algumas observações importantes: 1. A variação de estoques (∆E) representa a diferença entre o valor dos estoques de mercadorias em poder das empresas ao final de um período e o valor desses estoques ao final do período imediatamente anterior; 2. Investimento no sentido econômico representa gasto, despesa; no sentido cotidiano utiliza- se a palavra investimento como sinônimo de aplicação financeira, compra de ações, etc... Na linguagem da Macroeconomia, que se preocupa com a contabilização dos agregados macroeconômicos, isso não é investimento, é poupança. 3. O total do investimento num certo ano corresponde à compra de bens, equipamentos, máquinas, etc, novos, fabricados naquele ano. Isso significa que a compra de ativos usados, de segunda mão, não representa investimento, pois não está aumentando a capacidade produtiva da economia. Um conceito relacionado é o de Depreciação, que corresponde ao desgaste gradativo do capital físico (máquinas, equipamentos, veículos, etc). Constantemente as empresas necessitam fazer uma reposição de parte dos seus bens de capital desgastados. Dessa forma, uma parte do Investimento feito na economia se destina a repor as perdas correspondentes à depreciação, o que nos leva à diferenciação entre Investimento Bruto e Investimento Líquido: IL = IB – dep • IL = Investimento Líquido (aumento efetivo da capacidade produtiva da economia); • IB = Investimento Bruto (Formação Bruta de Capital + Variação de Estoques); • dep = Depreciação no período. Assim, a expressão completa para definir o Investimento Líquido na economia é: IL = FBKF + ∆E – dep A depreciação nos leva também a alterar o conceito de Produto, criando a distinção entre Produto Líquido e Produto Bruto: PL = PB – dep Vamos agora completar nosso modelo, considerando também o conceito de Poupança: a parcela da renda que os indivíduos não consomem. Assim, o ato de poupar representa abrir mão do consumo atual para desfrutar de um consumo maior no futuro. Podemos representar essa idéia da seguinte maneira: S = Renda – C Em que: S = Poupança (do inglês “Saving”) • R = Renda • C = Consumo Nosso modelo agora se apresenta do seguinte modo: • Ótica da Produção: Produto = Σ pi.qi • Ótica da Renda: Renda = C + S • Ótica da Despesa: Despesa = C + I Como Produto = Renda = Despesa, temos que C + S = C + I, Logo: S = I 1.5. Economia Fechada, com Governo e com Formação de Capital O Setor Público corresponde à presença do Governo nas três esferas: a União, os Estados e o Distrito Federal, e os Municípios, bem como os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). O Governo interfere na economia através da Tributação (T) e dos Gastos Públicos (G). A Tributação (T) compreende: • Impostos Indiretos, aqueles que incidem sobre as transações econômicas com bens e serviços, a exemplo do ICMS, do IPI e do ISS; • Impostos Diretos, os quais incidem sobre o patrimônio e a renda das pessoas, físicas e jurídicas, como o Imposto de Renda, o IPTU, o IPVA; • Contribuições à Previdência Social, os encargos trabalhistas, etc. • Outras receitas de governo como taxas e multas, etc. Os Gastos Públicos (G), por sua vez, compreendem: • Os gastos dos ministérios, secretarias e autarquias, referentes a despesas correntes ou custeio (salários do funcionalismo, compras de materiais) e despesas de capital (construção de estradas, hospitais, escolas, etc). • Os gastos com Transferências (bolsas de estudos, benefícios previdenciários, seguro- desemprego) e subsídios (para baixar o preço de certos produtos agrícolas, por exemplo). Observe que os gastos realizados pelas empresas públicas e sociedades de economia mista são computados no setor “firmas”, pois estas entidades desempenham atividades ligadas ao mercado, à produção de bens e serviços. Outra observação: não estamos considerando aqui gastos com pagamento de juros ou correção monetária; apenas gastos “não-financeiros”, ou seja, gastos com a compra de bens e serviços. No encontro de contas, podemos verificar que o Governo poderá apresentar, durante um determinado período de tempo, as seguintes situações: • Se os gastos públicos forem superiores à Tributação (G > T) teremos o déficit fiscal; • Se os gastos públicos forem no mesmo montante da Tributação (G = T) teremos o equilíbrio no orçamento público; • Se os gastos públicos forem inferiores à Tributação (G < T) teremos o superávit fiscal. Quando introduzimos o Governo no nosso modelo macroeconômico, veremos que o valor do Produto será alterado. Sem a presença do Governo, o valor do Produto é igual à Renda, ou seja: Produto = Renda Renda= w + j + a + l Produto = w + j + a + l É o que chamamos Produto “a Custo de Fatores”. Podemos entendê-lo como sendo o Produto mensurado “a preços de fábrica”. Pcf = w + j + a + l Acontece que antes de chegar ao consumidor final, muitos bens e serviços terão seu preço alterado; alguns bens serão tributados pelo ICMS, outros pelo IPI, etc. Isso quer dizer que alguns bens vão chegar ao consumidor por um preço mais elevado. Por outro lado, algumas firmas receberão subsídios do Governo para venderem seus bens a um preço mais baixo. Também nesse caso o preço do bem ao consumidor final vai se alterar, ficando mais em conta. Portanto, o Produto “a preços de mercado”, ou o Produto medido através do preço final praticado para o consumidor será diferente do Produto “a custo de fatores”, conforme a seguir: Ppm = Pcf + tributos indiretos - subsídios Os tributos diretos não interferem no valor do Produto Nacional, pois não são incidem sobre o valor das transações econômicas, mas sim sobre o patrimônio e a renda dos indivíduos e das próprias empresas. Assim nada têm a ver com a diferença entre o custo dos fatores e os preços praticados no mercado. A presença do Governo também faz surgir os seguintes conceitos: • Carga Tributária Bruta: Total da arrecadação fiscal do Governo. • Carga Tributária Líquida: Diferença entre a arrecadação fiscal do Governo e as transferências e subsídios ao setor privado. Utiliza-se como parâmetro de avaliação da carga tributária o Produto Interno Bruto a preços de mercado (vamos falar sobre ele na próxima seção). Comparando-se a carga tributária com o PIB podemos ter dois índices: 1.6. Economia Aberta, com Governo e com Formação de Capital Para completar nosso modelo, vamos considerar as transações feitas com empresas e pessoas não-residentes, ou seja, residentes em outros países. Normalmente se chama o conjunto dos “outros países” como “resto do mundo” ou “setor externo”. As variáveis a serem incorporados ao nosso modelo são as seguintes: • Exportações (X): representam as compras de nossos bens e serviços pelos estrangeiros, ou seja, são gastos do setor externo com as nossas firmas. • Importações (M): representam nossas compras relativas a bens e serviços produzidos por firmas de outros países, ou seja, do setor externo. Observe-se que Exportações e Importações se referem à compra e venda de bens e “serviços não-fatores”, ou seja, serviços que não representam “remuneração”. Estamos falando de fretes, seguros, turismo, etc..., que são pagamentos (ou recebimentos) feitos a firmas pela compra (ou venda) de serviços não-fatores. Outros pagamentos de serviços, tais como assistência técnica, consultorias, honorários, lucros, são feitos das firmas aos indivíduos, a titulo de remuneração, e nesse caso são chamados de “serviços de fatores”, sendo considerados nas seguintes variáveis: • Renda Enviada ao Exterior (REE): representa uma parcela da renda gerada internamente, nos limites territoriais do nosso país, mas que não pertence aos nacionais. Como exemplos, temos a remessa de lucros de uma empresa estrangeira para sua matriz no exterior, o pagamento de uma consultoria internacional, o pagamento de assistência técnica, etc. • Renda Recebida do Exterior (RRE): representa exatamente o fluxo contrário, ou seja, trata-se de uma parcela da renda gerada em outro país, que se agrega à renda nas mãos dos nacionais. Por exemplo, recebimento de lucros obtidos por filiais de uma empresa nacional situada em outro país. • Renda Líquida de Fatores Externos (RLFE): constitui-se na diferença entre a Renda Recebida do Exterior e a Renda Enviada ao Exterior: RLFE = RRE - REE Quando um país recebe mais renda do exterior do que envia, a Renda Líquida de Fatores Externos é positiva; em caso contrário, é negativa. Nessa segunda hipótese, é muito comum se usar a expressão “Renda Líquida Enviada ao Exterior”: RLEE = REE – RRE Se a Renda Líquida Enviada ao Exterior é positiva, isso significa que REE > RRE, quer dizer, o país envia mais renda para o exterior do que recebe. Quando a RLEE é negativa, acontece exatamente o oposto. Essas remessas e recebimentos de renda vão provocar um ajuste no conceito de Produto. Vamos ter que diferenciar o Produto Nacional do Produto Interno. O Produto Interno corresponde de fato ao total de bens e serviços finais produzidos por um determinado país, num certo período de tempo, dentro de suas fronteiras territoriais. Um dos conceitos mais utilizados na Macroeconomia é exatamente o do PIB, ou Produto Interno Bruto, que corresponde à Renda Interna Bruta, originada na produção de bens e serviços que se deu dentro dos limites territoriais de um país. Porém, parte desse PIB (dessa Renda Interna Bruta) vai remunerar indivíduos que estão fora do país: remessa de lucros, pagamentos de assistência técnica, royalties, etc. Isto significa que nem toda a renda gerada internamente vai de fato pertencer aos residentes no país. Portanto, devemos abater do PIB a Renda Enviada ao Exterior. Além disso, os residentes no país recebem remuneração por serviços prestados em outros países. Assim, devemos somar ao PIB a Renda Recebida do Exterior. Assim, teremos a seguinte relação: PIB – REE + RRE = PNB O Produto Nacional Bruto corresponde à renda que pertence efetivamente aos nacionais, incluindo a renda recebida por nossas empresas no exterior e excluindo a renda enviada por nossas empresas para o exterior. Outra maneira de escrever essa relação entre PNB e PIB: PIB – (REE – RRE) = PNB PIB – RLEE = PNB Agora estamos como nosso modelo completo, e podemos reescrever uma das principais equações vistas anteriormente: a Despesa Interna Bruta: DIB = C + I + G + X – M = PIB Onde: • C = Despesas de Consumo dos indivíduos, ao comprar os bens e serviços finais; • I = Despesas de Investimento das empresas, ao comprar máquinas, equipamentos, etc. • G = Despesas do Governo, ao gastar com a aquisição de bens de consumo ou bens de investimento; • X = Despesas do setor externo com os nossos produtos, mandados ao exterior através das exportações; As importações (M) entram com o sinal negativo porque representam deduções da despesa nacional. Quando realizamos importações, estamos gastando menos com nossos próprios produtos (menos despesa nacional) e gastando mais com o produto gerado no exterior (portanto contribuindo com a despesa nacional do outro país). O quadro a seguir resume as diferenças entre os vários conceitos de Produto: 2 – Contas Nacionais 2.1. Introdução No capítulo anterior foram analisados os conceitos básicos da Macroeconomia, ecessários para o entendimento das relações entre a produção, distribuição da renda e a realização dos gastos, por parte dos agentes econômicos, com a aquisição de bens de consumo e bens de capital. Foram descritas algumas das principais variáveis usadas para medir os grandes fluxos no sistema econômico: o Consumo, a Poupança, os Gastos do Governo, Exportações, etc... Agora neste capítulo vamos abordar esses conceitos de forma um pouco mais sistematizada, a partir dos princípios que regem a chamada Contabilidade Nacional (também designada de Contabilidade Social). A ContabilidadeNacional tem como objetivo não somente revelar o total dos agregados macroeconômicos, mas também proceder ao registro sistemático das diversas relações entre os setores que compõe a economia de um país, usando a mesma metodologia de débitos e créditos empregada pela contabilidade das empresas. A grande maioria dos países utiliza o sistema de Contas Nacionais padronizado pela ONU, através do seu System of National Accounts (SNA) ou “Sistema de Contas Nacionais”. A versão mais recente deste padrão foi divulgada no ano de 1993. Na Brasil o órgão responsável pelo registro e divulgação das Contas Nacionais é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. É importante observar que, no caso brasileiro, o IBGE empregou até o ano de 1996 uma metodologia baseada na versão anterior da SNA. Os dados da economia brasileira a partir do ano de 1997 já foram apresentados na versão nova das SNA, de 1993. Para uma melhor compreensão da relação entre os diversos agregados macroeconômicos, vamos analisar as duas metodologias usadas pelo IBGE, bem como as similaridades e diferenças entre elas. 2.2. Sistema de Contas Nacionais vigente até 1996 Para entendermos como funciona o Sistema de Contas Nacionais, é necessário ter em mente os quatro “setores” da economia que estudamos no primeiro capítulo: • O setor “empresas”, que representa as unidades produtivas da economia. As empresas compram o uso dos fatores de produção e pagam aos indivíduos uma remuneração por estas compras, que compreende as diversas formas de renda: salários (w), aluguéis (a), juros (j) e lucros (l). As empresas empregam os fatores de produção nos processos de transformação que geram os diversos bens e serviços. • O setor “indivíduos” (também denominado em alguns textos de Economia como setor “famílias”) que representa as pessoas. Estas vendem o uso dos fatores de produção às empresas, em troca da renda recebida, efetuam gastos de Consumo (C) e realizam a Poupança (S); O setor “Governo” que realiza gastos com a compra de bens e serviços junto ao setor “empresas”. O Governo necessita financiar estes gastos com a cobrança de impostos diretos (que representam deduções da renda ou do patrimônio das pessoas) e impostos indiretos (que são cobrados sobre a produção e a circulação dos diversos bens e serviços gerados pelas empresas). Lembramos ainda que o Governo efetua gastos com subsídios ao setor produtivo, sendo estes considerados como verdadeiros impostos indiretos negativos, e também efetua as chamadas “transferências” às famílias, representadas pelos benefícios da previdência e assistência social. • O setor “Resto do Mundo”, representando todos os demais agentes econômicos externos, também chamados de “não-residentes” no país. Quando nosso país vende mercadorias ao “resto do mundo” contabilizamos isto como exportações (X), e quando nosso país compra mercadorias do “resto do mundo”, registramos tais transações como importações (M). As transações econômicas envolvendo residentes e não-residentes são também contabilizadas num outro registro, denominado de Balanço de Pagamentos, que será objeto de nosso estudo num momento posterior. Devemos também lembrar que na economia ocorre um processo de “acumulação” de capital, representado pelo crescimento, ao longo do tempo, do estoque total de capital (na forma de máquinas, equipamentos, instalações, prédios, ferramentas, infra-estrutura, etc), de modo que a capacidade produtiva do país vai crescendo ao longo do tempo. Para ilustrar esse fenômeno, usamos o conceito de Investimento (I), realizado basicamente pelas empresas, e que se desdobra em: formação bruta de capital fixo (FBKF), variação de estoques (∆E) e depreciação (d) – esta última com o sinal negativo, por se tratar da perda de valor econômico dos ativos em função da duração de sua vida útil ou ainda por obsolescência tecnológica. Voltando para nosso sistema de contas nacionais, vamos observar alguns princípios para facilitar o entendimento de como funcionam as contas: • Toda transação deve ser registrada nas contas através do método das partidas dobradas, ou seja, realizando simultaneamente um lançamento a débito e um lançamento a crédito, de forma similar ao que acontece com a contabilidade geral; • No lado direito das contas, serão feitos os registros “a crédito”, que representam as “origens dos recursos”; • No lado esquerdo das contas, entrarão os registros “a débito”, que correspondem, por sua vez às “aplicações do recursos”; Vamos agora examinar cada uma das contas nacionais: 2.2.1. Conta “Produto Interno Bruto” Esta conta compreende basicamente as transações realizadas pelo setor “empresas”. Devemos então adotar o ponto de vista das firmas quando utilizarmos esta conta. Assim, a coluna dos créditos nos mostra as “origens” dos recursos, ou seja, como as empresas obtém recursos para seu funcionamento. Ora, para manter suas operações, as empresas realizam vendas de bens e serviços, e como estamos falando de números macroeconômicos, esta conta vai nos apresentar justamente as vendas dos bens de consumo e dos bens de capital, mostrando quem está comprando a produção. Quem são os compradores dos bens e serviços produzidos pelas empresas? A resposta é: as famílias, o Governo, o Resto do Mundo e as próprias empresas que compram bens de capital, ao realizar seus investimentos. É por isso que vamos encontrar do lado das origens, nada mais, nada menos, que as variáveis já conhecidas: Consumo, Gastos do Governo, Formação Bruta de Capital Fixo, Variação de Estoques e Exportações Líquidas (ou seja, Exportações menos Importações). O lado do “Débito” nos mostra em que as empresas aplicam os recursos obtidos: basicamente, na cobertura dos seus próprios custos de produção. Por isso aparecem do lado das “aplicações” os pagamentos aos trabalhadores (salários) bem como aos demais fatores de produção, agregados na denominação “Excedente Operacional Bruto”, que corresponde à soma de aluguéis, juros e lucros (ou seja, a todos os demais rendimentos que não sejam provenientes do trabalho). Não se esqueça que os lucros são considerados como “custos de produção” para as empresas, pois na prática representam uma remuneração que a empresa tem que gerar para o acionista – este sim é o dono do fator de produção Capital. Assim, teremos a seguinte apresentação desta conta: Observe as relações importantes que derivam desta conta: w + a + j + l = PIBcf w + a + j + l +Ti – Sub = PIBpm C + G + FBKF + ∆E + X – M = DIBpm → Muita atenção para estes pontos: • Na metodologia do IBGE, o item “Consumo final das administrações públicas” envolve somente os gastos de consumo do Governo; os demais gastos governamentais, com bens de capital (ou seja, gastos de investimento do Governo) são contabilizados na rubrica “Formação Bruta de Capital Fixo”. • As importações aparecem com o sinal negativo no lado das origens, pois de fato as mesmas reduzem a Despesa Interna Bruta. Quando os agentes econômicos residentes do país fazem importações, acabam reduzindo a despesa “interna”, pois estão gastando recursos com a compra de bens produzidos no exterior. Observe ainda o que acontece quando fazemos uma pequena arrumação na equação abaixo:PIBpm = C + G + FBKF + ∆E + X – M → Mais observações importantes: • Note que as Exportações e Importações estão representando “bens e serviços”. Nesses “serviços” são considerados somente os “serviços não-fatores”, ou seja, serviços que não correspondem a pagamentos a fatores de produção; são serviços que representam gastos com viagens, fretes, seguros, etc... Os demais serviços “fatores” são aqueles que representam pagamentos a fatores de produção, portanto representam “renda” e como tal, são apropriados numa outra conta (a do Resto do Mundo, que será vista a seguir), nos itens “Renda Enviada ao Exterior” e “Renda Recebida do Exterior”. • O IBGE não apura o valor da depreciação do estoque de capital. Observe que o investimento está representado por FBKF + ∆E, ou seja, trata-se do investimento bruto. Porém, algumas questões de concurso cobram os efeitos da depreciação sobre essa Conta de Produção, cuja versão teórica original considera a sua presença. Note que, na contabilidade geral, das empresas, a depreciação é uma “despesa” que reduz o lucro, mas não representa, de fato, um desembolso, não constitui movimentação financeira. Assim, a depreciação acaba sendo uma espécie de “lucro retido” pela empresa, na medida em que reduz o valor do lucro contábil que é distribuído para os acionistas. Assim, tendo em vista que algumas questões de concurso costumam apresentar os valores de salários, aluguéis, juros e lucros e também da depreciação, precisamos fazer uma pequena modificação no nosso esquema da Conta de Produção: → Conclusão: No esquema de contas do IBGE, o qual não calcula a depreciação, podemos afirmar que: w + a + j + l = PIBcf Mas, diante de uma questão de concurso que também apresente o valor da depreciação, lembre que o valor da mesma constitui, na prática uma redução do lucro contábil distribuído aos acionistas, e nesse caso teremos: w + a + j + l = PILcf Agora, estamos considerando os lucros em termos líquidos, após abater a depreciação, portanto menores que os lucros “brutos” presentes na metodologia do IBGE. Assim, considerando o cálculo da depreciação, teremos: w + a + j + l + d = PIBcf 2.2.2. Conta “Renda Nacional Disponível Bruta” Esta conta se destina a registrar as transações realizadas pelo setor “indivíduos”, no sentido de como eles se apropriam da renda gerada no sistema econômico. Ora, o Governo também se apropria de parte da renda gerada na economia, através dos diversos mecanismos de tributação. Daí, esta conta vai considerar também o Governo, ao lado das famílias. Do ponto de vista das pessoas e do Governo, portanto, a coluna dos créditos nos mostra as “origens” dos recursos. As famílias obtém rendimentos do trabalho, além de aluguéis, juros e lucros. Além disso, as famílias podem ainda receber rendimentos gerados no exterior, que se constituem na Renda Recebida do Exterior. Em virtude deste último fato, teremos então que abater os rendimentos que as famílias obtém no nosso país, mas que são remetidas para o resto do mundo, ou seja, a Renda Enviada ao Exterior. Em termos líquidos, devemos abater a Renda Líquida Enviada ao Exterior (Renda Enviada menos Renda Recebida). O Governo, por sua vez, obtém recursos através dos impostos indiretos, portanto temos que somar estes valores no lado direito da conta (origens) e pela mesma razão, devemos abater o valor dos subsídios, que entram, dessa forma, com o sinal negativo. O resultado desses lançamentos pode ser visto no quadro a seguir: Note que o Governo também se apropria de parte da renda através dos impostos diretos. Sendo assim, onde estão eles contabilizados? Ora, sendo os impostos diretos basicamente incidentes sobre a renda das pessoas, eles se constituem em parcelas dos salários, lucros, aluguéis e juros, portanto não aparecem explicitamente na Conta 2, pois já estão “embutidos” no valor destes rendimentos. Observe que no lado esquerdo da Conta, constam as possíveis aplicações dos recursos. As famílias gastam seus recursos na compra de bens de consumo, quantificada no item “Consumo final das famílias”. O Governo, por sua vez, aplica os recursos obtidos com a tributação na compra de bens e serviços, representada pelo item “Consumo final das administrações públicas”. A “sobra”, ou seja, o “resíduo” da renda apropriada pelas famílias e pelo Governo vai compor a “poupança bruta”. → Atenção: Note que a Poupança Bruta abrange tanto a poupança bruta do setor privado (famílias) quanto do setor público (Governo), esta última também chamada de “Saldo em Conta-Corrente do Governo”: Sb = Sbsp + Sg • Sb = Poupança Bruta • Sbsp = Poupança Bruta do Setor Privado • Sg = Poupança do Governo → Mais atenção ainda! Essa conta 2 também representa os valores em termos brutos, pois, como vimos, o IBGE não calcula a depreciação. Sendo assim, se nós considerarmos que a depreciação representa uma espécie de “retenção” prévia de uma parcela dos lucros, por parte das empresas, ela acaba funcionando quase como se fosse uma “poupança forçada” que os acionistas estão fazendo. Em outras palavras, quando as firmas reconhecem contabilmente a despesa de depreciação, elas acabam apurando um lucro menor, e dessa forma os acionistas acabam recebendo menos recursos. Assim, as empresas têm uma maior disponibilidade de caixa, que será utilizada, dentre outras destinações, para a reposição de suas máquinas e equipamentos. Sendo assim, a depreciação nos faz chegar ao conceito de Poupança Líquida do Setor Privado, dado por: Poupança Bruta do Setor Privado menos depreciação: Slsp = Sbsp - d E nossa conta 2 fica dessa forma: Este último conceito tem uma implicação especial sobre a conta 3, que veremos daqui a pouco. Por razões didáticas, vamos examinar, antes disso, a conta 4, que mostra as transações da economia do país com o resto do mundo. 2.2.3. Conta “Transações Correntes com o Resto do Mundo” Esta conta mostra as transações realizadas com o Resto do Mundo, evolvendo o fluxo de entrada e saídas de bens e serviços, e também o fluxo de entrada e saída de rendas (remuneração de serviços prestados por proprietários de fatores de produção). Note que, do lado do crédito (origens dos recursos) encontraremos os recebimentos correntes, do ponto de vista do Resto do Mundo. Ora, os demais países recebem recursos do nosso país de duas formas: ou através de nossas importações (M) , em que nós compramos bens e serviços produzidos no exterior, ou através do envio de rendimentos para não-residentes (REE): lucros remetidos pelas filiais de empresas estrangeiras para suas matrizes no exterior, juros pagos por empréstimos internacionais, etc. Por outro lado, na coluna do débito encontraremos a destinação destes recursos, também do ponto de vista do Resto do Mundo: as exportações (X) representam nossas vendas de mercadorias ao exterior, portanto representam, para o Resto do Mundo, uma aplicação de recursos. Do mesmo modo, figuram as rendas que os residentes em nosso país recebem do exterior (RRE). Comparando estas movimentações de entradas e saídas, chegaremos ao Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes, ou simplesmente Saldo de Transações correntes (TC) dado pela seguinte fórmula: TC = ( X + RRE ) - ( M + REE ) Ou seja, o Saldo de Transações Correntes é dado pela diferençaentre as aplicações que o Resto do Mundo fez em nossa economia (X + RRE) a obtenção de recursos por parte do Resto do Mundo, fornecidos pelo nosso país (M + REE ). • Note que se as entradas de recursos (X + RRE) forem inferiores as saídas de recursos (M + REE) de nosso país, temos um Déficit em Transações Correntes. • Por outro lado, se as entradas de recursos (X + RRE) forem superiores as saídas de recursos ( M + REE ) de nosso país, temos um Superávit em Transações Correntes. → Agora, atenção redobrada para este conceito: Se as entradas de recursos (X + RRE) forem inferiores as saídas de recursos (M + REE) de nosso país, teremos, como vimos, um Déficit em Transações Correntes. Em termos stritamente financeiros, podemos dizer saiu de nosso país uma quantidade de moeda estrangeira muito maior do que a que entrou. Porém, em termos reais, ou seja, em termos de quantidade de bens e serviços, entraram mais bens e serviços do que saíram no nosso país. O que isto significa? Significa que o Resto do Mundo financiou parte deste consumo feito pelo nosso país. Em outras palavras, usamos Poupança Externa para poder consumir mais do que vendemos ao exterior. Em suma, um Déficit em Transações Correntes corresponde a uma Poupança Externa Positiva. → Este sem dúvida é um dos conceitos mais cobrados em provas de concursos, que não se pode esquecer de jeito nenhum! Déficit em Transações Correntes → TC < 0 significa Poupança Externa Positiva → Se >0 De modo inverso, se as entradas de recursos (X + RRE) forem superiores as saídas de recursos (M + REE) de nosso país, teremos, como vimos, um Superávit em Transações Correntes. Em termos estritamente financeiros, podemos dizer que entrou em nosso país uma quantidade de moeda estrangeira muito maior do que a que saiu. Porém, em termos reais, ou seja, em termos de quantidade de bens e serviços, saíram mais bens e serviços do que entraram no nosso país. Isto quer dizer que? Nosso país financiou um consumo maior por parte do Resto do Mundo. Em outras palavras, mandamos poupança para o exterior, permitindo que o Resto do Mundo consumisse mais do que nos foi vendido. Assim, um Superávit em Transações Correntes corresponde a uma Poupança Externa negativa. Superávit em Transações Correntes → TC > 0 significa Poupança Externa Negativa → Se <0 Considerando a fórmula contida na Conta 4, temos: TC = ( X + RRE ) - ( M + REE ) TC = X – M + RRE - REE TC = X – M – REE + RRE TC = X – M – (REE – RRE) TC = X – M – RLEE O Saldo de Transações Correntes pode ser encontrado a partir da diferença entre exportações e importações e da Renda Líquida Enviada ao Exterior. A Poupança Externa, por sua vez, sempre terá o sinal contrário ao Saldo de Transações Correntes (quando um deles for positivo, o outro será negativo, e vice-versa): Se = -TC A poupança externa é um dos componentes da Poupança Total gerada no sistema econômico. Observe que a Poupança Bruta será dada pela soma Poupança Interna + Poupança Externa, ou seja: Sb = Sbsp + Sg + Se Essa Poupança Bruta é a fonte de financiamento do Investimento Bruto, com a seguinte composição: Ib = Fbkf + ∆E Veremos a seguir como esses agregados macroeconômicos são consolidados, na Conta 3, que mostra o financiamento da acumulação bruta de capital na economia. 2.2.4. Conta de Acumulação de Capital Essa conta representa a acumulação bruta de capital fixo na economia, bem como as fontes de financiamento. De acordo com a metodologia do IBGE, temos a apresentação da conta como se segue: A Conta 3 nos mostra que o Investimento total bruto da economia (formação bruta de capital fixo mais variação de estoques) é financiado pela Poupança Bruta, menos o saldo das transações correntes com o resto do mundo. O IBGE considera como Poupança Bruta a Poupança Interna (setor privado + setor público) e ao diminuir o Saldo de Transações Correntes com o resto do mundo, na verdade está somando a Poupança Externa (quando o saldo de TC for negativo). Assim, a Conta de Capital nos mostra como é financiado o investimento total bruto: Investimento Bruto = Poupança Privada (Bruta) + Poupança do Governo + Poupança Externa Ib = Sbsp + Sg + Se Mais uma vez vamos adaptar a apresentação desta conta, detalhando um pouco mais os seus componentes: → Atenção: Este esquema sem dúvida tem sido um dos pontos mais cobrados nas questões que tratam de contabilidade nacional. Ele pode ser expresso também na forma do seguinte conjunto de equações: I = S Fbkf + ∆E – d = Slsp + Sg + Se Se = - TC = - (X – M – RLEE) 2.3. Metodologia atualmente usada pelo IBGE, com dados desde 1997 Essa nova forma de apresentação das contas nacionais substituiu as tradicionais colunas de débito e crédito das contas pelas colunas de usos (aplicações) e recursos (origens). Sendo assim, as novas Contas Econômicas Integradas são formadas por três grupos de contas, reproduzidas a seguir. A título de exemplo, constam alguns dados do ano de 2005 da economia brasileira, com o destaque das principais relações entre as variáveis econômicas representadas: Tabela 1 – Economia Nacional – Conta de bens e serviços – 2001 • O item “Produção” se refere ao “Valor Bruto da Produção” (VBP), ou seja, à produção total dos bens finais mais os bens intermediários. • O valor bruto da produção está considerado a custo de fatores, portanto antes dos efeitos dos impostos indiretos e dos subsídios. • Se somarmos o item “impostos sobre produtos”, que engloba o “imposto de importação” mais os “demais impostos sobre os produtos” teremos o VBP a preços de mercado (Esses “impostos sobre produtos” já é um valor líquido de subsídios). • O “Consumo Intermediário” representa as compras de insumo e matérias-primas feitas pelas empresas, para a produção dos bens e serviços finais. Sendo assim, o valor do PIB a preços de mercado é obtido como se segue: PIBpm = Produção + Impostos sobre Produtos – Consumo Intermediário A Oferta Total de Bens e serviços (finais e intermediários) é dada pela soma: Produção + Impostos sobre Produtos + Importação de Bens e Serviços A Demanda Total de Bens e Serviços (finais e intermediários) é dada pela soma: Consumo Intermediário + Despesas de Consumo Final + Formação Bruta de Capital Fixo + Variação de Estoques + Exportações As Despesas de Consumo Final englobam tanto as despesas de consumo das famílias quanto as despesas de consumo do Governo. Sendo assim, o cálculo do PIBpm pela ótica da despesa é dado pela soma: PIBpm = DIBpm=Despesas de Consumo Final + Formação Bruta de Capital Fixo + Variação de Estoques + Exportações - Importações Vamos agora analisar a próxima Tabela: Tabela 2 – Economia Nacional – Contas de produção, renda e capital – 2001 Conta 1 – Conta de Produção Esta tabela nos indica também como é feito o cálculo do PIBpm: PIBpm = VBP + imp.s/produtos – Consumo Intermediário Ainda na Tabela 2, a Conta 2 mostra como é gerada a renda: PIBpm = Remuneração dos Empregados (residentes e não-residentes) + Excedente Operacional Bruto + impostos sobre a produção e de importação – subsídios à produção Conta 2 – Conta da Renda Conta 2.1 – Conta de distribuição primária da renda Conta 2.1.1 – Conta de geração da Renda A próxima seção da Conta 2, nesta Tabela 2 incorpora os fluxos de entrada e saída das Rendas de propriedade enviadase recebidas do resto do mundo, de modo a chegarmos ao valor da Renda Nacional Bruta: Conta 2.1.2 – Conta de alocação da Renda A próxima seção 2.2 nos mostra a relação entre Renda Nacional Bruta e Renda Disponível Bruta: RDB = RNB + Transferências correntes recebidas do resto do mundo – Transferências correntes enviadas para o resto do mundo Conta 2.2 – Conta de distribuição secundária da renda A seção 2.3. indica como as famílias e o Governo utilizam a Renda Disponível Bruta: Renda Disponível Bruta = Despesa de consumo final + Poupança Bruta Conta 2.3 – Conta de uso da renda A Conta 3 nos mostra os fluxos que compõem a acumulação de capital na economia e o seu financiamento: Conta 3 – Conta de acumulação Conta 3.1 – Conta de capital Aqui vamos notar que as Origens dos recursos se compõem de: Poupança Bruta + Transferência de Capital Recebidas do resto do mundo E as Aplicações dos recursos são calculadas da seguinte forma: Formação Bruta de capital fixo + variação de estoques + Transferências de Capital Enviadas ao resto do mundo Confrontando Origens e Aplicações de recursos, temos os seguintes conceitos: Origens > Aplicações → Capacidade Líquida de Financiamento Origens < Aplicações → Necessidade Líquida de Financiamento Concluindo, temos as contas que tratam das transações com o resto do mundo: Tabela 3 – Economia Nacional – Conta das transações do resto do mundo com a economia nacional – 2001 Conta 1 – Conta de bens e serviços do resto do mundo com a economia nacional Conta 2 – Conta de distribuição primária da renda e transferências correntes do resto do mundo com a economia nacional Conta 3 – Conta de acumulação do resto de mundo com a economia nacional 2.4. Valores Reais e Valores Nominais Vimos que o investimento aumenta a capacidade produtiva da economia, pois amplia o estoque de capital físico existente. Ao longo dos anos, deverá haver aumento do valor do Produto em termos físicos (quantidades produzidas). Até o momento estávamos trabalhando com a hipótese de que os preços dos bens e serviços não se alteravam com o passar dos anos, isto é, não havia inflação. Portanto, se o PIB de um determinado país no ano de 2005 foi igual a US$ 600 bilhões, e no ano de 2006 foi igual a US$ 630 bilhões, podemos afirmar que houve um crescimento percentual de 5%, calculado da seguinte forma: Assim, o crescimento nominal do PIB entre os anos de 2005 e 2006 foi igual a 5%. O crescimento nominal compara os valores nominais do PIB nos dois anos, sem se preocupar com a variação de preços que ocorreu durante este período. Observe que se a inflação foi igual a zero, então o crescimento real também seria igual a 5%. O crescimento real compara os valores reais do PIB nos dois exercícios, ou seja, os valores descontados da inflação do período. Em outras palavras, os valores deflacionados. Suponhamos que a inflação entre o ano de 2005 e o de 2006 tenha sido igual a 8%. Isso significa que o produto real de 2006 (ou seja, o produto nominal de 2006 deflacionado, ou ainda, o produto de 2006 a preços de 2005) seria igual a: Então a variação real do produto entre os dois períodos seria igual a: Assim, houve uma queda real de 2,77%, aproximadamente, na produção física de bens e serviços. Isto ocorreu porque o crescimento nominal do produto é de 5% e a inflação do período é de 8%, ou seja, de fato a produção física se reduziu no período considerado. Observe também que usamos um deflator, que nada mais é do que um fator empregado para descontar o efeito da inflação e transformar um valor nominal em um valor real. O deflator pode ser qualquer índice de preços. No Brasil temos diversos índices de preços, tais como o IGP-M, IGP-DI, INPC (calculados pela FGV), o IPCA (calculado pelo IBGE), etc, cada um deles com sua metodologia própria de cálculo. Todo índice de preço busca captar a variação dos preços de uma determinada cesta de mercadorias ao longo de certo período de tempo. De acordo com a forma de cálculo podemos ter índices do tipo Laspeyres ou índices do tipo Paasche. Vejamos a aplicação destes conceitos na tabela a seguir. Suponhamos uma economia hipotética que só produza três tipos de bens: arroz, feijão e milho. Vejamos na tabela o desempenho desta economia nos anos de 2005 e 2006: A pergunta é: qual foi a variação do produto nominal neste período? Vamos fazer o somatório: Então, temos: Ou seja, um crescimento nominal de 13% do PIB entre 2005 e 2006. Mas, observe que houve inflação no período; os preços de todos os bens aumentaram. Analisando cada bem de modo isolado, percebemos que a produção de arroz e de feijão foi menor em 2006. Houve crescimento real da produção de milho apenas. E agora? Como calcular o crescimento (ou queda) real da economia como um todo? Para isso teremos que deflacionar o PIB de 2006, usando um índice de preços. Vamos, em primeiro lugar calcular um índice de preços do tipo Laspeyres, empregando a fórmula: Em que: • p1 é o preço do bem no período mais recente (no caso, 2006); • p0 é o preço do bem no período mais antigo (no caso, 2005); • q0 é a quantidade produzida do bem no período mais antigo (no caso, 2005); • L é o índice de preços entre os períodos 2005 e 2006. Assim, teremos: O índice de preços de Laspeyres resultou em 122,46. Logo podemos afirmar que a inflação do período foi igual a 122,46 – 100 = 22,46% ao ano. Agora vamos deflacionar o PIB de 2006: E agora podemos calcular a variação real do PIB entre 2005 e 2006: Portanto houve uma queda real de 7,69% no PIB total do país, considerando o índice de preços de Laspeyeres. Assim como escolhemos as quantidades do período mais antigo para efeito de cálculo do índice de preços, poderíamos utilizar as quantidade do período mais recente. Nesse caso, usaríamos o Índice de Preços de Paasche: Em que: • p1 é o preço do bem no período mais recente (no caso, 2006); • p0 é o preço do bem no período mais antigo (no caso, 2005); • q1 é a quantidade produzida do bem no período mais recente (no caso, 2006); • P é o índice de preços entre os períodos 2005 e 2006. Portanto o Índice de Paasche utiliza as quantidades do período mais recente, enquanto que o índice de Laspeyres usa as quantidades do período mais antigo. Pequenas diferenças que podem ser observadas entre as duas avaliações das variações de preços advém do fato de que, na verdade, é impossível obter uma separação perfeita entre variações de preços e quantidades, uma vez que essas variações não são independentes entre si. Além dos índices de Laspeyres e Paasche, existem ainda algumas dezenas de possibilidades de estimativas de variações de preços. Entretanto, a maior parte dessas alternativas são variações pequenas em torno desses dois índices básicos. O índice de Fischer, por exemplo, consiste numa média geométrica entre os dois anteriores, sendo calculado através da raiz quadrada do produto dos índices de Laspeyres e Paasche. 3 – Modelo Keynesiano 3.1. Introdução O Modelo Keynesiano é um dos principais modelos utilizados para se compreender como é o processo de determinação da Renda, a partir da idéia básica do equilíbrio macroeconômico. Esse modelo foi formulado por John Maynard Keynes, um dos economistas mais conhecidos, e descreve as principais forças envolvidasna determinação do equilíbrio e da própria Renda. Para entender o modelo keynesiano precisamos ter em mente um importante conceito: a renda de equilíbrio. Como vimos anteriormente, existe uma distinção conceitual entre Renda e Despesa. Enquanto que o conceito de “renda” mede o fluxo de pagamentos relativos ao uso dos fatores de produção, ou seja, salários, juros, lucros e aluguéis, durante certo período de tempo, a “despesa”, por sua vez, mede o fluxo dos gastos realizados pelos agentes econômicos com a compra de bens e serviços de consumo e de investimento, também durante certo período de tempo. Vimos através do fluxo circular da renda que as despesas acabam se transformando em pagamentos que remuneram os fatores de produção, os quais por sua vez contribuem para a produção dos diversos bens e serviços. Isto significa que renda e despesa são duas medidas diferentes do mesmo fluxo contínuo. Mas, se por algum motivo as despesas forem maiores ou menores que a correspondente remuneração dos fatores de produção, o resultado é que a renda gerada nessa economia não é a renda de equilíbrio. A renda de equilíbrio é aquela em que a remuneração dos fatores coincide com os gastos desejados em bens e serviços de consumo e investimento. Vamos considerar a partir desse momento, que a produção total de bens e serviços gerados pelo sistema econômico, durante certo período de tempo, corresponde à Oferta Agregada de bens e serviços. Por outro lado, a despesa corresponde à Demanda Agregada por bens e serviços (lembrando ainda que a produção e a despesa têm um valor equivalente ao da renda). Como essas variáveis se relacionam? Tudo começa a partir da demanda agregada. O que acontece quando a demanda agregada por bens e serviços aumenta, num determinado instante? As firmas (empresas, unidades produtivas) respondem aos aumentos de demanda através dessas opções: 1) Aumentando sua produção física, ou seja, a quantidade física de bens e serviços será maior, para atender ao crescimento da demanda agregada; 2) Elevando os preços dos produtos, aproveitando o aquecimento do mercado, ou seja, uma maior demanda por bens e serviços; 3) Finalmente, as firmas podem fazer uma combinação das opções anteriores (aumentar quantidades físicas e preços dos produtos, em maior ou menor grau). Para facilitar o entendimento, vamos abstrair a terceira hipótese e nos concentrar nos casos extremos. A hipótese nº 1 corresponde a uma situação em que existe certo nível de desemprego na economia. Isso quer dizer que neste momento existem trabalhadores que não estão empregados nas empresas, embora estejam procurando por emprego. Em outras palavras, existe nessa situação o chamado desemprego involuntário, ou seja, ao nível vigente de salários neste momento, existem trabalhadores dispostos a vender sua força de trabalho, mas que não conseguem encontrar colocação nas empresas. Nessa situação, podemos afirmar que existe um certo “estoque” do fator de produção trabalho que pode ser utilizado a qualquer momento pelas empresas, caso estas desejem aumentar a produção de bens e serviços. Então, nessa hipótese, aumentos da Demanda Agregada representam uma maior procura de bens e serviços, a qual as empresas tentarão suprir aumentando sua produção física, e para isto vão contratar mais trabalhadores, sem haver impacto sobre o nível dos salários, pois existe desemprego involuntário. Assim, aumentos na Demanda Agregada por bens e serviços causarão aumentos na produção física de bens e serviços, aumento do nível de emprego e, portanto, crescimento da própria renda. A hipótese nº 2, por sua vez, representa uma situação de pleno emprego dos fatores de produção. Atenção que a expressão “pleno emprego” não significa exatamente que o desemprego é igual a zero, ou seja, que no pleno emprego não há trabalhadores desempregados. Numa situação de pleno emprego, não existe o desemprego involuntário; mas, existe sim algum nível de desemprego, pois sempre há certo número de trabalhadores que estão saindo das empresas e procurando por outra colocação em busca e salários mais elevados. Assim, a própria rotatividade de mão-de-obra na economia determina a existência de um desemprego friccional, isto é, um certo número de trabalhadores que estão trocando de emprego, de forma voluntária. Conseqüentemente, numa situação de pleno emprego, não existe mais aquele “estoque” de mão-de-obra desempregada de forma involuntária (e, portanto, uma mão-de-obra “barata”, pois são trabalhadores que aceitariam trabalhar aos níveis salariais vigentes). Se houver um aumento na Demanda Agregada por bens e serviços, as empresas tentarão obter mais força de trabalho no mercado de fatores, e para isto necessariamente enfrentarão maiores custos, pois para conseguir mais trabalhadores as empresas deverão oferecer salários mais elevados, atraindo assim empregados de seus próprios concorrentes. Então, aumentos no custo de produção das empresas determinam aumento nos preços dos próprios bens e serviços ofertados no mercado. Observe, portanto, que numa situação de pleno emprego, aumentos da demanda agregada por bens e serviços, resultam, no limite, em impactos apenas sobre os preços dos bens e serviços, sem ocorrer crescimento real, das quantidades físicas ofertadas. Assim, numa situação de pleno emprego, a Demanda Agregada não é capaz de afetar o nível de renda. Finalmente, a hipótese nº 3 é uma situação intermediária, exatamente entre duas situações extremas: de um lado, alto nível de desemprego na economia, no qual aumentos da Demanda Agregada resultam em crescimento real da produção, e portanto da renda, e, no outro extremo, o pleno emprego, no qual aumentos da Demanda Agregada somente afetam positivamente os preços dos bens e serviços, deixando inalterados o produto e a renda em termos reais. O gráfico a seguir ilustra as situações comentadas. O eixo vertical contém o nível geral de preços da economia. O eixo horizontal contém a renda (vamos usar a partir de agora a letra “Y” para nos referirmos à renda). A Curva Oa representa a Oferta Agregada, que representa as diferentes combinações entre o nível de produção (que é igual à renda Y) e o nível geral de preços (P). O ponto “Yp” representa a renda de pleno emprego, isto é, a renda (produção) máxima que a economia poderia gerar a partir do estoque de fatores de produção existente, considerando que não existiria, nessa situação, desemprego involuntário, mas tão-somente desemprego friccional. Podemos pensar no ponto Yp como sendo uma representação do Produto Potencial desta economia. Nesse momento precisamos analisar esse comportamento da curva de oferta agregada levando em conta dois momentos distintos no tempo: 1) No Curto Prazo, podemos afirmar que os preços dos diversos bens e serviços, bem como os salários, são rígidos, ou seja, não se modificam. Existe desemprego involuntário na economia, pois o equilíbrio macroeconômico (a igualdade entre Demanda Agregada e Oferta Agregada) ocorre num ponto distante da Renda de Pleno Emprego. No curto prazo, aumentos da Demanda Agregada (veremos mais adiante o que poderia causar estes aumentos) levam a um crescimento real do produto, permanecendo constantes os preços e os salários.Observe que no curto prazo a curva de oferta agregada tende a ser horizontal. 2) No Longo Prazo, podemos afirmar que os preços dos diversos bens e serviços, bem como os salários, são flexíveis, ou seja, se modificam diante das flutuações do mercado. Não existe desemprego involuntário na economia, e o equilíbrio macroeconômico (a igualdade entre Demanda Agregada e Oferta Agregada) tende a ocorrer num ponto muito próximo da Renda de Pleno Emprego. No longo prazo, aumentos da Demanda Agregada levam a um crescimento nominal, dos preços e dos salários, permanecendo constante o nível real do produto. Note que no longo prazo a curva de oferta agregada tende a ser vertical. → É fundamental termos em mente que o modelo Keynesiano se preocupa em explicar as flutuações da produção, da renda e do emprego no curto prazo. Portanto, são hipóteses fundamentais do modelo Keynesiano: • A existência de desemprego involuntário; • A ocorrência do equilíbrio entre Oferta e Demanda Agregada num ponto distante do pleno emprego; • A rigidez de preços e salários; • A produção e, portanto, a própria renda, sendo afetadas pela Demanda Agregada. Assim, no modelo macroeconômico keynesiano, a oferta agregada ajusta-se às expansões ou retrações dos componentes da demanda agregada. Dessa forma, todas as flutuações no nível de consumo, investimento, despesas governamentais e exportações vão gerar reflexos no nível de produção e emprego da economia nacional. Para desenvolver a teoria keynesiana, vamos considerar que a renda Y corresponde, de fato, à produção efetiva de bens e serviços finais durante certo período de tempo, a qual resulta das decisões das empresas em ofertar estes bens e serviços. Por outro lado, a demanda agregada que nos interessa é a demanda “efetiva”, ou seja, são os gastos realizados pelos agentes econômicos pelos agentes econômicos ao comprar, adquirir e encomendar às empresas certa quantidade de bens e serviços. Os níveis de preços e salários são constantes, portanto vamos representar a demanda agregada utilizando uma já conhecida equação da contabilidade nacional: DA = C + I + G + X – M Sendo: • C = Despesas de consumo das famílias; • I = Despesas de investimento das empresas; • G = Gastos do Governo; • X = Exportações de bens e serviços • M = Importações de bens e serviços Vejamos a seguir como se dá, finalmente, a determinação da Renda no modelo keynesiano, partindo do caso mais simples, da economia fechada, sem formação de capital e sem governo, para o caso mais complexo, da economia aberta, com formação de capital e com governo. No equilíbrio macroeconômico, temos que verificar a seguinte situação: o nível de produto (renda) deve ser igual ao nível das despesas dos agentes econômicos, ou seja: Y = DA A renda de equilíbrio será determinada por meio da introdução gradativa de cada um dos componentes da demanda agregada. 3.2. Economia Fechada, sem Formação de Capital e Sem Governo Vamos imaginar uma economia muito simples, na qual tudo o que for produzido acaba sendo consumido. Nesse caso, não há formação de estoques, o capital produtivo não se deprecia, não existem Governo nem Comércio Exterior. Trata-se da hipótese da economia fechada, sem governo, e sem formação de capital. Com essas hipóteses, teremos que: I = 0; G = 0; X = 0; M = 0; logo: DA = C Resta agora saber o que determina o nível das despesas de consumo da coletividade. A Função Consumo A decisão de consumir é tomada por agentes econômicos diferentes dos que decidem sobre o volume da produção. A renda de equilíbrio será obtida apenas se as despesas de consumo planejadas pelos indivíduos forem exatamente iguais ao volume de produção planejado pelos empresários; caso contrário, a renda obtida não será a renda de equilíbrio. Assim, as empresas procuram adequar seus níveis de produção e de emprego aos níveis de consumo dos indivíduos. Mas, o que determina os gastos de consumo dos indivíduos? Em primeiro lugar, a própria renda. Podemos dizer que o Consumo (C) é uma função da Renda (Y) ou: C = f(Y) A renda é o fator que, isoladamente, tem maior influência na determinação do consumo. Desse modo, a magnitude das despesas em consumo programado pela coletividade dependerá basicamente do nível de renda da própria economia. A Função Consumo representa uma relação linear entre Consumo e Renda, e pode ser representada da seguinte forma: C = Co + cY Os parâmetros desta função significam: • Co = Consumo autônomo (ou consumo mínimo) da coletividade, que ocorre mesmo que a renda da população seja igual a zero. • c = Propensão Marginal a Consumir (PMgC) = parcela da renda adicional que é gasta com o consumo adicional de bens e serviços. O consumo autônomo Co é um valor positivo, pois representa gastos com bens de consumo que os agentes econômicos farão mesmo que não tenham obtido renda do período em análise (por exemplo, vendendo parte do seu próprio patrimônio). A propensão marginal a consumir, por sua vez, tem um valor positivo e menor do que um, e apresenta um comportamento relativamente estável no tempo. Com essas informações, podemos imaginar que a função consumo teria o seguinte comportamento: Supondo Co = $ 100 unidades monetárias e c = 0,8 teremos: C = 100 + 0,8Y • Se Y = 0 então C = 100 + 0,8 . 0 = 100; • Se Y = 50 então C = 100 + 0,8 . 50 = 100 + 40 = 140; • Se Y = 100 então C = 100 + 0,8 . 100 = 100 + 80 = 180; • Se Y = 200 então C = 100 + 0,8 . 200 = 100 + 160 = 260; E assim por diante. Graficamente teríamos algo como descrito na imagem a seguir: → Note que a função Consumo é crescente, pois cada vez que a renda se eleva, o consumo total da população também aumenta. → Note ainda que a PMgC equivale à relação entre o acréscimo no consumo desejado em decorrência do acréscimo na renda da coletividade: Observe o que acontece quando a renda Y passa de 50 para 100: o consumo cresce de 140 para 180, então, temos: ∆Y = 100 – 50 = 50 ∆C = 180 – 140 = 40 ∆C / ∆Y = 40/50 = 0,8 Cuidado para não confundir Propensão Marginal a Consumir com a Propensão Média a Consumir; esta última relaciona, num dado período, o Consumo Total realizado pela coletividade, com a Renda Total deste mesmo período: No exemplo em questão, para cada combinação de C e Y, temos uma Propensão Média a Consumir diferente, e decrescente: • Se Y = 50 então C = 140, logo C/Y = 140 / 50 = 2,8 • Se Y = 100 então C = 180, logo C/Y = 180 / 100 = 1,8 • Se Y = 200 então C = 260, logo C/Y = 260 / 200 = 1,3 Como já visto, a PMgC tem seu valor entre zero e a unidade. Dificilmente a população poderia aumentar por muito tempo o consumo numa proporção maior do que o acréscimo na renda. Logo, 0 < PMgC < 1 O equilíbrio entre a oferta agregada (ou renda nacional) Y e a demanda (despesa) agregada DA ocorre quando: Y = DA Sendo, portanto, DA = C Então temos que: Y = C Ora, mas a função consumo é dada por: C = Co + cY Então deveremos escrever:
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