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Reforma Tributária1 REFORMA TRIBUTÁRIA DE ACORDO COM A EC Nº 132/2023 (COM ÊNFASE NO IBS E NO IS) Reforma Tributária2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 5 2 HISTÓRICO 6 3 PEC 45/2019 12 4 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 132/2023 14 5 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL 14 6 PRINCÍPIOS DA REFORMA TRIBUTÁRIA 17 7 IBS 17 7.1 Conceito 17 7.2 Princípio de destino 17 7.3 Incidência e Não incidência 18 7.4 Base de cálculo 18 7.5 Alíquota de referência 18 7.6 Não cumulatividade 19 7.7 Saldo credor 22 7.8 Vigência 23 7.9 Transição 24 8 CBS 24 8.1 Conceito 24 8.2 Trava de referência 25 8.3 Não cumulatividade 25 8.4 Saldo credor 26 8.5 Base de cálculo 26 8.6 Vigência 26 Reforma Tributária3 8.7 Transição 26 9 IMPOSTO SELETIVO 27 9.1 Incidência 27 9.2 Fato gerador 27 9.3 Base de cálculo 27 9.4 Cumulatividade 28 9.5 Vigência 28 10 IPI 28 10.1 Aspectos gerais 28 10.2 Alíquota zero pós reforma 29 10.3 Zona Franca de Manaus 30 11 OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS 31 11.1 Simplificação das obrigações acessórias 31 12 SIMPLES NACIONAL 31 12.1 Modelo atual 31 12.2 Tributação única 32 12.3 Tributação fora do PGDAS 32 13 PRODUTOR RURAL 33 13.1 Conceitos 33 13.2 Regra geral 34 13.3 Alteração pós reforma 34 14 ZONA FRANCA DE MANAUS E ÁREAS DE LIVRE COMÉRCIO 35 14.1 Conceito 35 14.2 Competitividade 35 14.3 Incentivos 36 14.4 IPI 36 15 BENEFÍCIOS FISCAIS 36 15.1 Conceitos 36 15.2 Aplicação 36 15.2.1 Isenção ou alíquota zero 37 15.2.2 Redução 37 15.3 Extinção dos benefícios 38 16 REGIMES DIFERENCIADOS DE TRIBUTAÇÃO 38 16.1 Cesta básica nacional de alimentos 40 17 FUNDO DE COMPENSAÇÃO 40 18 FUNDO DE DESENVOLVIMENTO 41 Reforma Tributária4 19 CASHBACK 41 20 MONTADORAS DE VEÍCULOS - CRÉDITO PRESUMIDO DE CBS 42 21 IPVA 43 21.1 Incidência 43 22 ITCMD 44 23 CONCLUSÃO 44 24 REFERÊNCIAS 46 Reforma Tributária5 Reforma Tributária de acordo com a EC nº 132/2023 (com ênfase no IBS e no IS) 1 INTRODUÇÃO A Reforma Tributária no Brasil, que tem sido bastante discutida ao longo dos últimos anos, foi promulgada em 20.12.2023, com grande impacto para as empresas de todas as áreas, sejam elas da Indústria, do Comércio ou de Serviços. Vigente em mais de 170 países, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), agora instituído no Brasil por meio da Emenda Constitucional n° 132/2023, visa simplificar a tributação no país. A alteração do Sistema Tributário Nacional (STN), apelidado de manicômio tributário, objetiva reduzir o litígio fiscal e os custos das empresas para cumprirem todas as obrigações inerentes ao sistema, além do fim da guerra fiscal, por meio da aplicação do princípio do destino, uma vez que o produto da arrecadação será destinado ao estado/ município onde o adquirente do bem/serviço está localizado. Dentre as alterações advindas com a Reforma Tributária, destaca-se a mudança na tributação sobre o consumo pela instituição da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e do Imposto Seletivo (IS), em substituição à cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), do Imposto sobre Serviços (ISS), do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep) (Contribuição para o PIS/PASEP) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Além da alteração na tributação sobre o consumo, a Reforma também trouxe mudanças na tributação sobre a propriedade, ou seja, novas regras serão aplicadas no cálculo e recolhimento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), do Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) e da Contribuição para custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip), além da criação de mais uma contribuição estadual para custeio, expansão e melhoria de sistemas de monitoramento para segurança e preservação de logradouros públicos. Reforma Tributária6 2 HISTÓRICO O modelo de tributação brasileira teve início no Império, onde ocorreu o começo das grandes comercializações, de acordo com Varsano (1996, p.2) o modelo originado no Império vigorou até a década de trinta. Onde a economia era eminentemente agrícola e extremamente aberta, assim a principal fonte de receitas públicas era o comércio exterior, principalmente o imposto de importação, próximo a Proclamação da República chegou a corresponder a 50% da receita. Em 1889 foi adotada uma nova estruturação, o regime federativo contido na Proclamação da República, no qual o comércio exterior era a principal fonte de arrecadação, em sua maioria do Imposto de Importação (II), sendo responsável por 1/2 da receita total do governo, de acordo com Giambiagi e Além (2016). Em 1891 foi aderido com pequeno número de modificações pela Constituição Federal (CF). Ainda com a composição do sistema tributário no Brasil, segundo Varsano (1996, p.2), é possível compreender: A Constituição de 24 de fevereiro de 1891 adotou, sem maiores modificações, a composição do sistema tributário existente ao final do Império. Porém, tendo em vista a adoção do regime federativo, era necessário dotar os estados e municípios de receitas que lhes permitissem a autonomia financeira. Foi adotado o regime de separação de fontes tributárias, sendo discriminados os impostos de competência exclusiva da União e dos estados. Ao governo central couberam privativamente o imposto de importação (II), os direitos de entrada, saída e estadia de navios, taxas de selo e taxas de correios e telégrafos federais; aos estados, foi concedida a competência exclusiva para decretar impostos sobre a exportação (IE), sobre imóveis rurais e urbanos, sobre a transmissão de propriedades e sobre indústrias e profissões, além de taxas de selo e contribuições concernentes a seus correios e telégrafos. Quanto aos municípios, ficaram os estados encarregados de fixar os impostos municipais de forma a assegurar-lhes a autonomia. Além disto, tanto a União como os estados tinham poder para criar outras receitas tributárias. Assim a Constituição de 1891 tentou trazer autonomia financeira para os estados e municípios, adotando um regime de separação das fontes tributárias, criando também regras para a instituição dos tributos. Anterior a Constituição de 1946 houve a Constituição de 1934, contudo está não trouxe conteúdo novo, mantendo os princípios formais e fundamentais da anterior a república, o federalismo, o presidencialismo, a separação dos poderes, segundo José Afonso da Silva (2002). Reforma Tributária7 O imposto de vendas e consignações em 1946, era responsável por mais da metade da receita tributária estadual. Nos municípios, os impostos sobre indústrias, profissões e predial permaneceram com importância para a receita. Para Varsano (1996, p. 5), “o Brasil ingressa na fase em que a tributação explora principalmente bases domésticas ao mesmo tempo em que começava um processo de desenvolvimento industrial sustentado”. No mesmo ano, tiveram alterações importantes no sistema tributário. Segundo Martuscelli (2010): Houve uma repactuação dos repasses tributários aos municípios, [50] especificamente no que concerne à transferência do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR e do Imposto sobre Transmissão Inter Vivos – ITBI, dos Estados para os Municípios. Ainda, seriam transferidos aos municípios os percentuais de 15% (quinze por cento) do volume arrecadado com o Imposto de Renda e 10% (dez por cento) do total arrecadado com o Imposto sobre Consumo, dentre outras alterações. Com essas alterações é possível verificar que o Brasil passou a explorar a tributação interna, de acordo com Pêgas (2009) tendo um aumento, nos 20 anos seguintes da Constituição de 1946, na importância dos impostos indiretos sobre produto, em grande parte devido ao foco na industrialização do país, e no início dos anos 60 aproximadamente 40% da receitapor famílias de baixa renda; j. produtos agropecuários, aquícolas, pesqueiros, florestais e extrativistas vegetais in natura; k. insumos agropecuários e aquícolas; l. produções artísticas, culturais, de eventos, jornalísticas e audiovisuais nacionais, atividades desportivas e comunicação institucional; e m. bens e serviços relacionados à soberania e à segurança nacional, da informação e cibernética. Por fim, fica estabelecido pelo artigo 9°, § 12, da Emenda Constitucional n° 132/2023, que os profissionais liberais que prestam serviços de profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, desde que sejam submetidos à fiscalização por conselho profissional, terão redução de 30% da CBS e do IBS. Os benefícios poderão ser reavaliados a cada 5 anos, conforme artigo 9°, § 10, da Emenda Constitucional n° 132/2023. 15.3 Extinção dos benefícios Nos termos da cláusula décima do Convênio ICMS 190/17, os benefícios fiscais serão válidos até 31.12.2032, juntamente com a extinção do ICMS. 16 REGIMES DIFERENCIADOS DE TRIBUTAÇÃO Fica previsto no artigo 156-A, § 6°, da Constituição Federal, que a Lei Complementar regulamentará os regimes específicos de tributação para: a. combustíveis e lubrificantes; b. serviços financeiros, operações com bens imóveis, planos de assistência à saúde e concursos de prognósticos; c. sociedades cooperativas; d. serviços de hotelaria, parques de diversão e parques temáticos, agências de viagens e de turismo, bares e restaurantes; e. atividade esportiva desenvolvida por Sociedade Anônima do Futebol (SAF); f. aviação regional; Reforma Tributária39 g. operações alcançadas por tratado ou convenção internacional, inclusive referentes a missões diplomáticas, repartições consulares, representações de organismos internacionais e respectivos funcionários acreditados; h. serviços de transporte coletivo de passageiros rodoviário intermunicipal e interestadual, ferroviário e hidroviário. Destaca-se que, até o momento, não foram editadas pelo Congresso Nacional as Leis Complementares para regulamentar os regimes específicos de tributação, contudo, seguem abaixo as possíveis regras a serem aplicadas: a. Combustíveis e lubrificantes: Segundo o artigo 156-A, § 6°, inciso I, da Constituição Federal, o tributo incidirá uma única vez (monofásico). Além disso, as alíquotas serão aplicadas por unidade de medida (ad rem), uniformes em todo território nacional e podem ser específicas por produtos. Frisa-se que a aquisição de combustíveis e lubrificantes destinados à distribuição, comercialização ou revenda não gera crédito. Já nas demais hipóteses, os adquirentes poderão se creditar. b. Serviços financeiros, operações com bens imóveis, planos de assistência à saúde e concursos de prognósticos: O artigo 156-A, § 6°, inciso II, da Constituição Federal, prevê alíquotas próprias e uniformes em todo território nacional, calculadas com base na receita ou faturamento, bem como regras próprias de creditamento e apuração da base de cálculo, podendo não ser aplicada a regra da não cumulatividade (hipótese em que o adquirente destes serviços não teria direito a crédito). c. Sociedades cooperativas: Conforme o artigo 156-A, § 6°, inciso III, da Constituição Federal, a incidência tributária será optativa para assegurar competitividade, observando os princípios da livre concorrência e da isonomia tributária, cabendo à Lei Complementar dispor sobre a não incidência da CBS sobre os atos cooperados e regime específico para creditamento. Reforma Tributária40 d. Serviços de hotelaria, parques de diversão e parques temáticos, agências de viagens e de turismo, bares e restaurantes, atividade desenvolvida por Sociedade Anônima do Futebol e aviação regional: Com base no artigo 156-A, § 6°, inciso IV, da Constituição Federal, Lei Complementar poderá estabelecer alíquotas, bases de cálculo e regras próprias para creditamento. e. Serviços de transporte coletivo de passageiros rodoviário intermunicipal e interestadual, ferroviário e hidroviário: Estabelece o artigo 156-A, § 6°, inciso VI, da Constituição Federal, que Lei Complementar poderá estabelecer alíquotas específicas e regras de creditamento. 16.1 Cesta básica nacional de alimentos A Cesta Básica Nacional de Alimentos será composta de itens essenciais para o combate à fome, os quais serão especificados por Lei Complementar, levando em consideração a cultura e costumes regionais. 17 FUNDO DE COMPENSAÇÃO Criado o Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais ou Financeiro-Fiscais do ICMS do ICMS para compensar, entre 01/01/2029 e 31/12/2032, as pessoas físicas ou jurídicas beneficiárias de isenções, incentivos e benefícios fiscais ou financeiro-fiscais concedidos por prazo certo e sob condição. Formação do fundo de 2025 a 2032, por transferência da União de recursos que corresponderão aos seguintes valores, atualizados, de 2023 até o ano anterior ao da entrega, pela variação acumulada do IPCA: • em 2025, a R$ 8.000.000.000,00; • em 2026, a R$ 16.000.000.000,00; • em 2027, a R$ 24.000.000.000,00; • em 2028, a R$ 32.000.000.000,00; • em 2029, a R$ 32.000.000.000,00; • em 2030, a R$ 24.000.000.000,00; • em 2031, a R$ 16.000.000.000,00; • em 2032, a R$ 8.000.000.000,00. Reforma Tributária41 A compensação se aplica aos titulares de benefícios regularmente concedidos até 31/05/2023, mesmo que prorrogados ou renovados: • ICMS - art. 3º, II, LC nº 60/2017; • IPI - art. 11-C, Lei nº 9.440/1997 (Norte, Nordeste e Centro-Oeste); • IPI - arts. 1º a 4º, Lei nº 9.826/1999 (SUDAN, SUDENE e Centro-Oeste). A União deverá complementar os recursos em caso de insuficiência de recursos para a compensação e no caso de eventual saldo financeiro existente em 31/12/ 2032 será transferido para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional. 18 FUNDO DE DESENVOLVIMENTO O Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, é formado com recursos da CBS com o objetivo de reduzir as desigualdades regionais e sociais: • realização de estudos, projetos e obras de infraestrutura; • fomento a geração de emprego e renda; • promoção do desenvolvimento científico e tecnológico e à inovação. A distribuição obedecerá aos seguintes coeficientes: • população do estado ou do DF, com peso de 30%; • participação do estado ou do DF Imposto de Renda, com peso de 70%. Os coeficientes individuais serão calculados pelo Tribunal de Contas da União. É vedada qualquer retenção ou restrição ao recebimento destes recursos. A aplicação é coordenada pelos estados e o DF priorizando projetos com ações de sustentabilidade ambiental e redução das emissões de carbono. 19 CASHBACK O chamado cashback, que passa a ser previsto no artigo 156-A, § 5°, inciso VIII, e § 13, da Constituição Federal, na Reforma Tributária implementada pela Emenda Constitucional n° 132/2023, corresponde à devolução de parte do tributo pago por famílias de baixa renda. Reforma Tributária42 Deverão gerar cashback as operações com fornecimento de energia elétrica e botijão de gás, conforme o disposto no artigo 156-A, § 13, da Constituição Federal. Essa obrigatoriedade vale tanto para a CBS quanto para o IBS. A determinação de quais pessoas físicas serão enquadradas como beneficiárias do cashback e os limites deste serão definidos por Lei Complementar a ser editada pelo Congresso Nacional. 20 MONTADORAS DE VEÍCULOS - CRÉDITO PRESUMIDO DE CBS De acordo com o artigo 19 da Emenda Constitucional n° 132/2023, as montadoras de veículos com projetos habilitados à fruição dos benefícios estabelecidos pelo artigo 11-C da Lei n° 9.440/97, e pelos artigos 1° a 4° da Lei n° 9.826/99, poderão gozar de crédito presumido de CBS até 31.12.2032. O crédito presumido incentivará exclusivamente a produção de veículos equipados com motor elétrico, permitida a associação com motor de combustão interna que utilize biocombustíveis isolada ou simultaneamente com combustíveis derivados de petróleo. Poderão gozar do benefício projetos aprovados até 31.12.2024e novos projetos, aprovados até 31.12.2025, que ampliem ou reiniciem a produção em planta industrial utilizada em projetos ativos ou inativos habilitados à fruição dos benefícios. O crédito presumido poderá ter sua manutenção condicionada à realização de investimentos produtivos e em pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica e equivalerá ao nível de benefício estabelecido, para o ano de 2025, pelo artigo 11-C da Lei n° 9.440/97, e pelos artigos 1° a 4° da Lei n° 9.826/99. O benefício será reduzido em 20% ao ano entre 2029 e 2032. Ainda, os créditos poderão ser compensados com débitos próprios relativos a tributos administrados pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, nos termos da Lei, e não poderão ser transferidos a outro estabelecimento da pessoa jurídica, devendo ser utilizados somente pelo estabelecimento habilitado e localizado na região incentivada. Por fim, ressalta-se que o benefício será estendido a projetos mencionados acima relacionados à produção de veículos tracionados por motor de combustão interna, que utilize biocombustíveis isolada ou cumulativamente com combustíveis derivados de petróleo, desde que a pessoa jurídica habilitada: I - No caso de montadoras de veículos, inicie a produção de veículos até 01.01.2028; e II - Assuma, nos termos do ato concessório do benefício, compromissos relativos: Reforma Tributária43 a. ao volume mínimo de investimentos; b. ao volume mínimo de produção; e c. à manutenção da produção por prazo mínimo, inclusive após o encerramento do benefício. A Lei Complementar estabelecerá as penalidades aplicáveis em razão do descumprimento das condições exigidas para fruição do crédito presumido. 21 IPVA 21.1 Incidência O IPVA será devido anualmente no local do domicílio ou da residência do proprietário do veículo no estado de São Paulo, tendo como fato gerador a propriedade de veículo automotor, conforme artigos 2º a4º da Lei nº 13.296/2008. Com o novo texto Constitucional, o IPVA passa a incidir, também, sobre embarcações e aeronaves, como jet-skis, lanchas, iates, aviões, jatinhos e helicópteros. A nova regra de incidência visa a justiça tributária, já que os veículos que passam a ser tributados, em regra, são de propriedade de pessoas com alto poder aquisitivo. As alíquotas do IPVA irão variar de acordo com o tipo, valor, utilização e impacto ambiental de cada veículo. Por exemplo, a alíquota para veículos com maior eficiência energética e menor grau de emissão de gases poluentes ao meio ambiente será reduzida, desta forma veículos “verdes”, como, por exemplo, os elétricos, pagam menos imposto do que os mais poluentes. Contudo, visando não onerar alguns setores, foram estabelecidas no artigo 155, § 6°, inciso III, da Constituição Federal, algumas exceções para a incidência do IPVA. São elas: a. aeronaves agrícolas e de operador certificado para prestar serviços aéreos a terceiros; b. embarcações de pessoa jurídica com outorga de serviços de transporte aquaviário; c. embarcações de pessoa física ou jurídica que pratique pesca industrial, artesanal, científica ou de subsistência; d. plataformas que se locomovam na água sem reboques (navio-sonda ou navio- plataforma); e e. tratores e máquinas agrícolas. Para definição da base de cálculo do IPI, em regra, anualmente os Estados divulgam novas tabelas de valores que são utilizados para a base. Reforma Tributária44 Assim, é necessário consultar o estado. As alíquotas do IPVA, são determinadas na legislação estadual. 22 ITCMD As mudanças referentes ao ITCMD decorrem do artigo 155, § 1°, incisos VI e VII, da Constituição Federal, que estabelece a progressividade de forma obrigatória, de acordo com o valor da transferência patrimonial que está sendo realizada, seja ela causa mortis ou doação. Um ponto chave para aplicação da progressividade é observar não o montante total do patrimônio, mas o valor transferido individualmente por cada herdeiro ou donatário, considerando o número de beneficiários para encontrar em qual faixa de tributação a operação será enquadrada. Em resumo, quanto maior o patrimônio recebido, de forma individual, maior será a alíquota. Frisa-se que o valor do imposto passa a ser arrecadado no estado de domicílio da pessoa falecida. Além disso, fica estabelecida a incidência do ITCMD sobre as heranças no exterior, bem como a não incidência do imposto para as doações feitas às entidades sem fins lucrativos, com finalidade e relevância pública e social, incluindo neste grupo as organizações assistenciais e beneficentes de entidades religiosas e institutos científicos e tecnológicos. 23 CONCLUSÃO Os projetos de Leis Complementares que regulamentarão as principais regras já estão sendo desenvolvidos pelo PAT-RTC, com previsão de serem apresentados até meados de março de 2024 ao Congresso Nacional, e, de acordo com o Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, a regulamentação da reforma tributária será prioridade no 1° semestre deste ano. Apesar de os principais efeitos da Reforma Tributária se iniciarem a partir de 2026, a hora para as empresas buscarem adequação é agora, pois, como visto ao longo do curso, os impactos serão grandes para todos os regimes tributários. Desta forma, assim que as Leis Complementares forem sancionadas, as empresas que não iniciarem o seu processo de adequação estarão correndo o risco de ficarem para trás da concorrência, já que as regras do jogo já estão postas à mesa. Pontos de atenção a serem observados quando as Leis Complementares forem sancionadas: Reforma Tributária45 1. Impactos na apuração do Simples Nacional, em especial o período de convivência e o sistema de creditamento a ser adotado para essas empresas; 2. Compensações/Ressarcimentos de créditos tributários nas esferas Federal e Estadual; 3. Sistema não cumulativo adotado para o IVA e sua operacionalização; 4. Produtos alcançados e regras do Imposto Seletivo; 5. Regras adotadas pelos regimes específicos/beneficiados; e 6. Regulamentação dos benefícios (cesta básica nacional, cashback, entre outros). Reforma Tributária46 24 REFERÊNCIAS AFONSO, José Roberto. CASTRO, Kleber Pacheco de (2019). Consolidação da carga tributária bruta de 2018. 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Tesouro.fazenda.gov.br/premio/Premio_T N/v premio/fiancas/2tefpVPTN/VIOL_Andrea.pdf Reforma Tributária48 1 Introdução 2 Histórico 3 PEC 45/2019 4 Emenda Constitucional nº 132/2023 5 Sistema Tributário Nacional 6 Princípios da Reforma tributária 7 IBS 7.1 Conceito 7.2 Princípio de destino 7.3 Incidência e Não incidência 7.4 Base de cálculo 7.5 Alíquota de referência 7.6 Não cumulatividade 7.7 Saldo credor 7.8 Vigência 7.9 Transição 8 CBS 8.1 Conceito 8.2 Trava de referência 8.3 Não cumulatividade 8.4 Saldo credor 8.5 Base de cálculo 8.6 Vigência 8.7 Transição 9 Imposto Seletivo 9.1 Incidência 9.2 Fato gerador 9.3 Base de cálculo 9.4 Cumulatividade 9.5 Vigência 10 IPI 10.1 Aspectos gerais 10.2 Alíquota zero pós reforma 10.3 Zona Franca de Manaus 11 Obrigações acessórias 11.1 Simplificação das obrigações acessórias 12 Simples Nacional 12.1 Modelo atual 12.2 Tributação única 12.3 Tributação fora do PGDAS 13 Produtor rural 13.1 Conceitos 13.2 Regra geral 13.3 Alteração pós reforma 14 Zona Franca de Manaus e áreas de Livre Comércio 14.1 Conceito 14.2 Competitividade 14.3 Incentivos 14.4 IPI 15 Benefícios fiscais 15.1 Conceitos 15.2 Aplicação 15.2.1 Isenção ou alíquota zero 15.2.2 Redução 15.3 Extinção dos benefícios 16 Regimes diferenciados de tributação 16.1 Cesta básica nacional de alimentos 17 Fundo de Compensação 18 Fundo de desenvolvimento 19 Cashback 20 Montadoras de veículos - Crédito presumido de CBS 21 IPVA 21.1 Incidência 22 ITCMD 23 Conclusão 24 Referênciasdo país era decorrente da tributação sobre o consumo, sendo mais de 70% da receita dos estados resultante do imposto sobre vendas e consignações, e 45% das receitas municipais oriundas do imposto sobre indústrias e profissões. No início da década de 1950 constatou-se um déficit do Tesouro, elucidando a necessidade de aprimorar o sistema tributário, para estimular os investimentos e aumentar a arrecadação de receitas. Essa constatação levou a reforma tributária que teve início com a Emenda Constitucional 18/65, sendo reforçada pela criação do Código Tributário Nacional (CTN) através da Lei Complementar nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, e pôr fim a Constituição Federal de 1967. Em 1964 teve início o período chamado de “Ditadura Militar”, o ambiente que se implantou esse novo período, por um lado abalou drasticamente os direitos e garantias, porém por outro lado possibilitou uma reestruturação no sistema tributário conforme Santi (2009), sendo esse período marcado por diversas ações econômicas. A Emenda Constitucional de 1965 elaborada no governo Castello Branco tinha o intuito de tornar os recursos mais eficientes, centralizando a distribuição das arrecadações, e limitando a autonomia que os estados e os municípios possuíam para instituir impostos, de acordo com Dornelles (2013), outra medida tomada foi a vedação da bitributação. A Constituição de 1967, aliado com a Emenda Constitucional 18/65 e o Código Tributário Nacional (CTN), trouxeram para o país na época um dos sistemas tributários mais modernos do mundo. Tendo como base tributos de três gêneros: os impostos, as taxas, e as contribuições de melhoria. Reforma Tributária8 Segundo Santi (2009) essa reestruturação estava inserida “em um contexto em que era necessário o reavivamento da economia, o combate à inflação, o ajuste do desequilíbrio cambial e a uniformização do sistema”. Com isso ocorreu a simplificação, alteração e criação de impostos, o Imposto sobre a circulação de Mercadorias (ICM), sendo de competência estadual, porém, com alíquota uniforme em todo país fixada pelo Senado Federal (SF), e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), tendo sua incidência diferenciada de acordo com a importância e necessidade do produto, ambos não cumulativos e que substituíram os antigos impostos sobre consumo (PÊGAS, 2009). Tavares (2015) afirma que com as alterações realizadas, o estado passa a atuar diretamente na economia, impulsionando ou desincentivando importações ou exportações, também regulando o consumo. De acordo com Pêgas (2009): O sistema tributário após a constituição de 1967, sofreu apenas pequenas alterações até a Constituição de 1988, os tributos vigentes nesse período podiam ser divididos em: Sobre renda e o patrimônio (IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano, ITBI – Imposto de Transferência de Bens Imóveis, ITR – Imposto Territorial Rural, IR – Imposto de Renda); Sobre a produção e a circulação (IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, ICM – Imposto sobre a circulação de Mercadorias, IOF – Imposto sobre Operações Financeiras, ISS – Imposto sobre Serviços, ISTC – Imposto sobre Serviço de Transporte e Comunicações); Sobre o comércio exterior (II – Imposto de Importação, IE – Imposto de Exportação); E os impostos únicos (IUEE – Imposto Único sobre Energia Elétrica, IUCL – Imposto Único sobre Combustíveis e Lubrificantes, IUM – Imposto Único sobre Minerais). A imagem abaixo demonstra a divisão dos tributos após a reforma tributária de 1966, ilustrando como era o Sistema Tributário brasileiro na época, e mostra como ele foi bem estruturado para o país. Quadro 1 – Divisão dos tributos após a reforma tributária de 1966 3 Produção e Circulação IPI – Imposto sobre Produtos Industrializado, de cobrança Federal; ICM – Imposto sobre Comercialização de Mercadorias, de cobrança Estadual; ISS – Imposto Sobre Serviços, de cobrança Municipal; IOF – Imposto sobre Operações Financeiras, de cobrança Federal; ISTC – Imposto sobre Serviço de Transporte e Comunicações, de cobrança Federal. Patrimonio e Renda IPTU – Imposto Predial e Territorial, de cobrança Municipal; ITBI – Imposto de Transferência de Bens Imóveis, de cobrança Estadual; ITR – Imposto Territorial Rural, Federal; IR – Imposto de Renda, de cobrança Federal. Reforma Tributária9 Impostos Únicos IUEE – Imposto Único sobre Energia Elétrica; IUCL – Imposto Único sobre Combustível e Lubrificantes; IUM – Imposto Único sobre Minerais. Todos cobrados pela união. Comércio Exterior O imposto de Exploração (IE) foi transferido de esfera estadual para a Federal e, junto com o Imposto de Importação (II), se transformou em instrumento de política de comércio exterior. Fonte: O autor, 2024. Em 1968, tem por meio do Decreto nº 63.659 de 1968 a criação da Secretaria da Receita Federal, com isso de acordo com Martuscelli (2010, p. 4219) elevando a tributação nacional dos antigos 18% ao patamar de 24% do Produto Interno Bruto (PIB). Foram implantados fundos de participação e de partilha para os municípios realizarem transferências federais dos impostos únicos aos municípios e aos estados, o Fundo de participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), eram calculados sobre a arrecadação do Imposto sobre os Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto de Renda (IR). Nos períodos entre 1968 e 1973 o Produto Interno Bruto nacional passava por um dos seus maiores crescimentos levando a ser conhecido como “Milagre Econômico Brasileiro” ganhando uma estabilidade de preços relativa. Esse crescimento é causado pelas reformas institucionais feitas pelo Programa De Ação Econômica Do Governo (PAEG) que proporcionou uma taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 10% ao ano. Ainda que o país estivesse passando por um período econômico favorável, certas negligências com a economia foram agravando a situação do Brasil tanto interna quanto externamente. Barbosa, Brandão e Faro analisam essa necessidade de uma reforma tributária sobre a Constituição de 1988 da seguinte forma: Desde o final da década de 70 a situação das finanças públicas da economia brasileira vem se agravando paulatinamente. A carga tributária bruta caiu cerca de 3% entre 1978 e 1987, passando de 25,63% para 22,60% (...). A carga tributária líquida passou de 15,21% em 1978 para 13,5% em 1987. O imposto inflacionário aumentou para um novo patamar e atingiu a proporção de 3,53% do PIB em 1987. (1990, p. 413-414). Reforma Tributária10 No tocante ao raciocínio dos autores acima, nota-se que a poupança em conta corrente do governo caiu subitamente em 1978 e tornando-se negativa em 1987, considerando que as causas da crise fiscal a qual o Brasil estava passando não se resumia apenas a um fator, e sim uma reação conjunta. De acordo com os autores Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2007) “A inflação, que era vista como uma inflação de demanda no início dos governos militares, passou a ser vista como uma inflação de custos. Com isso, afrouxaram- se as políticas de contenção da demanda”. Como antecedente importante para a reforma tributária de 1988, houve a criação das contribuições sociais, como o Programa de Integração Social (PIS)/ Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) e o Fundo de Investimento Social (FINSOCIAL) juntamente com as diversas alterações no sistema de partilha das receitas da União ocorridas no período 1965 a 1988. Referente a criação do Programa de Integração Social (PIS), Giambiagi e Além (2011 p. 252) explicam que: A partir de 1970, tornou-se evidente para o governo que a concessão dos incentivos deteriorava de forma expressiva a receita. Para reforçar suas fontes de financiamento, o governo federal criou o Programa de Integração Social (PIS) – financiado por uma contribuição mensal sobre o faturamento das empresas. O Sistema Tributário Nacional com a Constituição brasileira de 1988 é considerado o mais extenso quandose refere a tributação, pois é cheia de regras e princípios onde seus fundamentos estão enraizados e se projetam sobre ordens jurídicas parciais da União, Estados e Municípios, segundo Coelho (2006). A Assembleia Nacional Constituinte em março de 1987 deu início aos debates distribuídos entre subcomissões temáticas o sistema tributário, que foi analisado e dirigido pelos constituintes Benito Gama e Fernando Bezerra Coelho, no qual o projeto anterior foi aprovado em 25/05/1987, consolidado dentre duas subcomissões que tratavam os orçamentos do sistema financeiro, sendo composta por 62 membros onde José Serra atuou como relator, e foi aprovada pelo Sistema Tributário em 22/06/87. Segundo Ricardo Varsano (1996), a Constituição de 1988 criou o sistema tributário estabelecido na época, onde no processo tiveram inúmeras participações de autores que por sua parte eram de políticos a qual estavam preparados para conduzir um processo de criação, pois, os mesmos tinham uma formação técnica e já haviam exercido funções executiva. Durante o processo de criação foi permitido a participação de todos os constituintes e até mesmo da população, que estava participando com emendas populares e com total liberdade de concepção. A reforma tributária de 1988 extinguiu impostos cumulativos e descentralizou a receita. A Carta Magna em seu capítulo referente ao sistema tributário da nova Constituição, apresenta restrições no que concede a criação de novos impostos. Mas ainda assim, se obteve caminhos para um sistema tributário paralelo, podendo ser criado uma tributação com taxas mais elevadas. Segundo leciona Andrea Viol (2000): Reforma Tributária11 A principal contribuição da Constituição Federal de 1988 não se trata de modificar substancialmente a estrutura tributária estabelecida em 1966, mas de alterar as regras de repartição de receitas tributárias entre os três entes da federação. Segundo Oliveira (2010), é feita a afirmação de que se manteve a estrutura da Emenda Constitucional nº 18 de 1966. Com o Imposto de Renda (IR) e também o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sendo os principais tributos a arrecadarem para a União, já o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias (ICM) se torna o atual Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que passou a ser a principal fonte de arrecadação para os estados, segundo Dornelles (2013). Mesmo mantendo sua estrutura, as alterações feitas no sistema tributário brasileiro pela Constituição Federal de 1988 segundo Viol (2000), levou ao aumento da base tributária do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incorporou a sua matriz os Impostos Únicos da União (incidem sobre combustível e energia elétrica), que teve aumento nos repasses aos Fundos de Participação. Nesse período houve uma crescente participação das contribuições sociais incidentes sobre o faturamento do PIS/COFINS e do Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) sobre a arrecadação total na época, segundo Tavares (2014). Ao analisar a reforma tributária ocorrida em 1988, é destacada a descentralização dos tributos, juntamente com a autonomia de legislar e instituir impostos, onde começou a ser distribuído entre as federações (União, Estados, Municípios e o Distrito Federal). De acordo Varsano (1996) a arrecadação dos estados com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) é de 10%, repartido em proporção à exportação de produtos manufaturados, a qual desse montante, os estados entregam em torno de 25% aos seus municípios. Segundo Varsano (1996), a Constituição Federal de 1988 consolidou uma situação de desequilíbrio no setor público, ocasionando também, uma insuficiência dos recursos da União, não promovendo os meios corretos e financeiros a qual poderia contemplar uma descentralização dos processos. Segundo Viol (2000), “a Constituição de 1988 ao invés de reverter os problemas estruturais causados pela reforma tributária de 1960, ocasionou em provocar maiores distorções no sistema econômico do país”. E assim, o sistema trazido pela Constituição Federal de 1988 foi elaborado sem a preocupação necessária para a solução da crise fiscal em que a economia do setor público brasileiro se encontrava. Reforma Tributária12 3 PEC 45/2019 A Proposta de Emenda à Constituição PEC nº 45/2019 (CÂMARA, 2019), foi apresentada em abril de 2019 pelo deputado Baleia Rossi tem como base uma das propostas que estavam sendo discutidas na Casa, defendida pelo Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), capitaneada pelo economista Bernardo Appy. Trata-se de uma proposta para modificar o texto da Constituição Federal alterando o sistema tributário no Brasil. A PEC nº 45/2019 (CÂMARA, 2019) propunha inicialmente a unificação de cinco tributos, são eles: Imposto sobre produtos industrializados (IPI); Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS); Contribuição para o financiamento da seguridade social (COFINS) ; Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços (ICMS); Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS). Os cinco tributos seriam substituídos por um único tributo, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), terá a característica de um Imposto sobre o Valor Adicionado (IVA), modelo já adotado por países como Austrália, Canadá, Japão, México e países da União Europeia (LUKIC, 2014). A PEC acrescentou na CF/88 o art. 152-A[10], o qual instituiu o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), sendo uniforme em todo território nacional, cabendo à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exercer sua competência exclusivamente por meio da alteração de suas alíquotas. Tendo sua regulamentação por meio de lei complementar, com caráter não cumulativo compensando-se o imposto devido em cada operação com aquele incidente nas etapas anteriores e não permitindo a concessão de isenções, incentivos ou benefícios tributários. O IBS não incidirá sobre as exportações assegurada a manutenção dos créditos terá alíquota uniforme para todos os bens, tangíveis e intangíveis, serviços e direitos, podendo variar entre Estados, Distrito Federal e Municípios (CÂMARA, 2019). A tributação será feita onde se deu a efetiva posse do bem ou a prestação do serviço independentemente da localização do fornecedor, tanto por meio virtual ou físico, como se decorre no Art. 152 da PEC n º 45/2019 (CÂMARA, 2019). Segundo Pinheiro (2019): A base de cálculo do tributo será a operação de venda ou a prestação do serviço e aqui não há a possibilidade de diferenciação de alíquotas em razão da seletividade ou outra característica do produto ou do serviço, assim a sua unificação e o fim das categorias de produtos / serviços. Reforma Tributária13 A fixação da alíquota será dada pela soma das alíquotas fixadas pelos entes federativos, uma espécie de “sub alíquota” formando um conjunto delas, com isso é criado uma alíquota única aplicável a todos os bens e serviços consumidos em ou destinados a cada um dos Municípios/Estados brasileiros. Essa alíquota aplicada sobre a base de cálculo do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), irá substituir a arrecadação dos tributos já citados, todos os bens e serviços destinados a determinado Município/estado são taxados por uma mesma alíquota, mas a tributação não é uniforme em todo território nacional, pois cada ente pode fixar sua alíquota (NETO; NUNES; ARAUJO; SOARES, 2019). Para ser instituído e fiscalizado o Imposto sobre Bens e Serviços precisa ser regulamentado por um comitê gestor, como informa Nasrallah (2019): § 6º do art. 152-A prevê a criação do comitê gestor nacional do IBS, que será composto por representantes da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios. A criação do comitê gestor – que será responsável pela regulamentação, bem como pela gestão da arrecadação centralizada e pela distribuição da receita do IBS – reforça o caráter nacional do imposto. O comitê gestor será responsável também pelacoordenação da atuação dos fiscos federal, estaduais e municipais na fiscalização e na cobrança do IBS, assim como pela representação judicial e extrajudicial dos três níveis de governo nas questões relativas ao imposto. O Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) será um imposto de competência federal, tributo federal (embora esteja previsto em um novo art. 152-A, e não no art. 153, da Constituição Federal, dispositivo que prevê os impostos federais), instituído por meio de lei complementar federal (exceto em relação à fixação da parcela das alíquotas destinadas à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, a ser definida por lei ordinária de cada ente federativo). O Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) será complementado pelo Imposto Seletivo Federal: (...) incidirá sobre bens e serviços geradores de externalidades negativas, cujo consumo se deseja desestimular, como cigarros e bebidas alcoólicas. A incidência do imposto seletivo seria monofásica, sendo a tributação realizada apenas em uma etapa do processo de produção e distribuição (provavelmente na saída da fábrica) e nas importações. (Nasrallah, 2019) O modelo segundo a PEC nº 45/2019, contêm características do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) tratamento das questões federativas; transição para os contribuintes; transição na distribuição federativa da receita; e tratamento das vinculações e partilhas. Reforma Tributária14 Durante o período de aprovação foi o encaminhamento do Projeto de Lei nº 3.887, de 2020, que cria um IVA federal - a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) -, em substituição ao PIS/PASEP e à COFINS. Trazendo para a tributação do consumo regras claras, simples e uniformes, estruturadas a partir do conceito de um IVA moderno, o qual seria baseado no critério do crédito financeiro, incidente apenas sobre o valor agregado, e que poderia representar a fase inicial de um possível IVA nacional. 4 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 132/2023 No dia 20.12.2023 tivemos a promulgação da EC nº 132/2023 que promoveu diversas alterações no nosso Sistema Tributário Nacional. A promulgação da EC ocorreu após diversas discussões através da PEC nº 45/2019. Entre as mudanças, a mais impactante foi a criação do IVA Dual, que é a junção do IBS com o CBS. Visto que após a promulgação da Reforma tributária, o Brasil passará a ter um IVA (Imposto sobre Valor Adicionado) Dual, composto pela CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), federal, e pelo IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), de estados e municípios. Além das mudanças nos impostos sobre o consumo tivemos também mudanças quanto ao IPTU, IPVA, ITCMD e COSIP. 5 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL O Sistema Tributário Nacional (STN) foi instituído por meio da Lei n° 5.172/66 - Código Tributário Nacional (CTN), que também estabeleceu normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados, ao Distrito Federal e Municípios. O STN foi recepcionado pela Constituição Federal, passando a ser regido por seus princípios e normas, com status de Lei Complementar, uma vez que dispõe sobre normas gerais de Direito Tributário. O sistema tributário pode se enquadrar em três modelos, são eles: progressivo, regressivo e neutro. No modelo progressivo, ocorre o aumento da alíquota do imposto à medida que cresce a base de cálculo. Como exemplo, é possível destacar a cobrança do Imposto de Renda, cuja alíquota aumenta de acordo com a receita auferida pelo indivíduo. Já o modelo regressivo é caracterizado quando a carga tributária incide proporcionalmente mais sobre quem tem menor nível de consumo, renda ou riqueza, ou seja, não se respeita a capacidade contributiva do indivíduo. No modelo neutro, a participação tributária independe da renda do indivíduo, sendo aplicada de forma igualitária a todos. Reforma Tributária15 Conforme previsto no artigo 3° do CTN, caracteriza-se como tributo toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. A Constituição Federal, nos artigos 145, 148, 149 e 195, classifica os tributos em cinco espécies: a. impostos; b. contribuições; c. taxas; d. contribuições de melhoria; e e. empréstimos compulsórios. Frisa-se que o artigo 5° do CTN classifica os tributos apenas como: impostos, taxas e contribuições de melhoria. Veja a seguir a competência de cada tributo: Conforme previsto no artigo 3° do CTN, caracteriza-se como tributo toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. A Constituição Federal, nos artigos 145, 148, 149 e 195, classifica os tributos em cinco espécies: a. impostos; b. contribuições; c. taxas; d. contribuições de melhoria; e e. empréstimos compulsórios. Frisa-se que o artigo 5° do CTN classifica os tributos apenas como: impostos, taxas e contribuições de melhoria. Veja a seguir a competência de cada tributo: Reforma Tributária16 Quadro 2 – Competência dos tributos MunicipalEstadualFederal Imposto sobre Transmissão de Bens Inter Vivos (ITBI); Imposto sobre Serviços (ISS); Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD); Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Imposto de Importação (II); Imposto de Exportação (IE); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Imposto sobre Operações Financeiras (IOF); Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ); Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF); Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide); Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); Instituto Nacional da Seguridade Nacional (INSS); Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep) (Contribuição para o PIS/Pasep). Fonte: O autor, 2024. Diante de todos os tributos e regras de tributação existentes no Brasil, os economistas afirmam que o Sistema Tributário Brasileiro foi instituído no modelo regressivo, e por esse motivo a Reforma Tributária foi assunto durante tantos anos. Com a aprovação da Reforma Tributária, o Governo busca, principalmente, uniformizar a tributação em território nacional com legislação e regulamentação única, conferindo estabilidade, transparência e segurança aos contribuintes. Reforma Tributária17 6 PRINCÍPIOS DA REFORMA TRIBUTÁRIA O Sistema Tributário Nacional deve observar os princípios da: a. Simplicidade; b. Transparência; c. Justiça tributária; d. Cooperação; e. Defesa do meio ambiente. As alterações na legislação tributária buscarão atenuar os efeitos regressivos. 7 IBS 7.1 Conceito O IBS, será cobrado em substituição ao ICMS (Estadual) e ISS (Municipal), e incidirá, também, sobre os bens intangíveis, cessão e o licenciamento de direitos, locação de bens e sobre as importações de bens, tangíveis e intangíveis, serviços e direitos. A cobrança do IBS estará fundamentada em legislação única e uniforme em todo o território nacional, podendo cada estado estabelecer a sua própria alíquota, e caso isso não ocorra, o estado deverá observar a alíquota geral fixada por Resolução do Senado Federal. Frisa-se que o IBS será não cumulativo, e não será objeto de concessão de isenções, incentivos ou benefícios tributários ou financeiros, inclusive de redução de base de cálculo ou de crédito presumido ou outorgado, no entanto, existirão duas alíquotas diferenciadas, com redução de 30% e 60%, bem como regimes específicos que poderão beneficiar alguns contribuintes.Saiba mais na aba “Benefícios”. De acordo com artigo 149-B da Constituição Federal, a CBS e o IBS terão regras comuns em relação a fatos geradores, bases de cálculo, hipóteses de não incidência e sujeitos passivos, imunidades, regimes específicos, diferenciados ou favorecidos de tributação e regras de não cumulatividade e creditamento. O motivo de termos regras comuns para os dois impostos é para se garantir maior segurança jurídica e evitar disputas tributárias, sendo este o maior objetivo da Reforma. 7.2 Princípio de destino O IBS é regido pelo princípio do destino, ou seja, princípio este que implica que toda a arrecadação do ICMS passe para o estado onde a mercadoria é consumida. Reforma Tributária18 Exemplo: Fornecedor localizado no estado de São Paulo realizando a venda para o estado do Paraná, o imposto será devido integralmente para a UF de destino. O artigo 156-A, § 5º, inciso IV, da Constituição Federal disciplina que os critérios para a definição do destino da operação, que poderá ser, inclusive, o local da entrega, da disponibilização ou da localização do bem, o da prestação ou da disponibilização do serviço ou o do domicílio ou da localização do adquirente ou destinatário do bem ou serviço, admitidas diferenciações em razão das características da operação. 7.3 Incidência e Não incidência Em suma o IBS deve incidir sobre as operações com mercadorias e as prestações de serviços. Entretanto, as hipóteses especificas serão definidas apenas por Lei Complementar. 7.4 Base de cálculo De acordo com o artigo 156-A, § 1°, inciso IX, da Constituição Federal, o IBS não integrará a sua própria base de cálculo (por fora) e não irá integrar a base de cálculo do: a. CBS; b. PIS; c. COFINS; e d. IS. O cálculo do IBS será realizado por fora, ou seja, o imposto não integrará a própria base. Exemplo de cálculo: Valor da mercadoria: R$ 2.000,00 Base de cálculo: R$ 2.000,00 Alíquota: 25% Imposto: R$ 500,00 Total da NF-e: R$ 2.500,00 7.5 Alíquota de referência Ainda, por não haver na Emenda Constitucional n° 132/2023 previsão da alíquota máxima para o IBS, a “alíquota de referência” será utilizada a fim de impedir o aumento da carga tributária atual. A alíquota de referência do IBS será reduzida, para que sejam iguais ao respectivo teto de referência, caso, no ano de 2035, se verifique que a média da receita base total entre 2029 e 2033 exceda o teto de referência total. Reforma Tributária19 7.6 Não cumulatividade O sistema não cumulativo, previsto na Emenda Constitucional, é de base ampla, permitindo a compensação do imposto devido com o imposto incidente sobre todas as operações de aquisição de bens, materiais ou imateriais, inclusive direitos, com a única exceção para as aquisições consideradas de uso ou consumo pessoal, nos termos de Lei Complementar a ser editada pelo Congresso Nacional. Desta forma, o contribuinte que adquirir bens e serviços ou tiver gastos com aluguel de imóveis, máquinas ou equipamentos, por exemplo, descontará o imposto pago pelos fornecedores/prestadores/locadores, reduzindo o montante a pagar nas suas operações. Cabe ressaltar que a Lei Complementar poderá condicionar a compensação ao efetivo recolhimento dos tributos nas operações de aquisição, sistema conhecido como “Split Payment”, em que o valor do tributo é destinado ao Fisco, não sendo direcionado ao fornecedor do bem ou serviço que originou o fato gerador. Caso seja de fato instituído por Lei Complementar, tal sistema seria automático, dependendo de um sistema informatizado, disponibilizado pelo Fisco, para operacionalização. Além disso, através de publicação de Lei Complementar será permitido ainda o crédito do ICMS, nas seguintes operações: a. contratação de transportador autônomo não contribuinte do ICMS; b. aquisição de bens móveis usados de pessoa física não contribuinte para revenda, desde que esta seja tributada e o crédito seja vinculado ao respectivo bem; c. crédito presumido na aquisição de mercadoria e serviço de produtor rural que não opte pelo recolhimento do IBS e CBS; e d. aquisição de resíduos e demais materiais destinados à reciclagem, reutilização ou logística reversa, de pessoa física, cooperativa ou outra forma de organização popular. No Imposto sobre Valor Agregado (IVA), a sistemática da não cumulatividade tem a função de fazer com que a tributação seja incidente somente sobre o valor agregado ao produto ou mercadoria em cada etapa da cadeia produtiva. Em outras palavras, o imposto incidirá somente sobre o valor que foi adicionado na etapa, e não sobre valores já tributados nas etapas anteriores. Também é característica deste modelo de tributação a desoneração do setor produtivo, transferindo o ônus tributário para o consumidor final. No exemplo a seguir, é considerada uma alíquota de IVA de 27,5% sobre cada uma das etapas da cadeia produtiva de um aparelho de televisão, que será pago pelo consumidor final juntamente com o valor do produto. Desta forma, o valor total a ser pago é de R$ 1.530,00 (1.200,00 + 330,00): Reforma Tributária20 Quadro 3 – Etapas da cadeira produtiva de um aparelho de televisão IVA (27,5% x Valor agregado)Valor agregadoPreço de vendaEtapa R$ 13,75R$ 50,00R$ 50,00Produtor – matéria- prima R$ 16,50R$ 60,00R$ 110,00Indústria – produto semielaborado R$ 38,50R$ 140,00R$ 250,00Indústria – produto elaborado R$ 82,50R$ 300,00R$ 550,00Atacadista R$ 178,75R$ 650,00R$ 1.200,00Varejista R$ 330,00IVA – Total Fonte: Econet editora A imagem abaixo, retirada da notícia disponibilizada pelo Senado Federal em 08/11/2023, demonstra o funcionamento do IVA, que incide de forma não cumulativa na cadeia produtiva. Figura 1 – Senado aprova e envia reforma tributária de volta à Câmara Reforma Tributária21 Reforma Tributária22 Fonte: Senado Federal, 2023. 7.7 Saldo credor Relativamente aos saldos credores de ICMS existentes em 31/12/2032, o artigo 134 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), prevê que estes valores poderão ser aproveitados ou transferidos a terceiros, nos termos de Lei Complementar a ser editada pelo Congresso Nacional. Reforma Tributária23 Neste caso, o titular do crédito deverá apresentar pedido de homologação, devendo o estado correspondente homologar tais saldos em prazo determinado pela legislação. Caso a homologação não seja realizada no prazo previsto, haverá a homologação tácita. Além disso, o sujeito passivo poderá realizar a compensação dos saldos credores com o IBS, pelo prazo remanescente ou em 240 meses. Os saldos serão atualizados pelo IPCA-E ou outro índice que venha a substituí-lo, a partir de 2033. Por fim, o artigo 134, § 6°, inciso III, determina que Lei Complementar disporá sobre forma de ressarcimento quando não for possível a compensação. 7.8 Vigência A tributação do IBS se iniciará a partir de 01/01/2026, com alíquota de 0,1% e, de forma gradual, à medida em que a alíquota do IBS for sendo aumentada, as alíquotas dos impostos substituídos devem ser reduzidas. Em 2027 e 2028 o IBS será cobrado à alíquota estadual de 0,05% e à alíquota municipal de 0,05%, sendo que, durante este período, a CBS será reduzida em 0,1%. A alíquota do IBS será aumentada gradualmente, através de Lei Complementar, no período de 2029 a 2032. Ainda, no período entre 2029 e 2032, haverá a redução das alíquotas e dos benefícios de ICMS e ISS. Estes serão aplicados nas seguintes proporções de suas respectivas alíquotas: a. 9/10, em 2029; b. 8/10, em 2030; c. 7/10, em 2031; e d. 6/10, em 2032. Também se aplica ao IBS a “alíquota de referência”, de forma que a alíquota deve corresponder a uma arrecadação que compense a redução da receita com o ICMS e o ISS. A partir de 2033, fica extinto o ICMS, bem como os fundos destinados a investimentos em obras de infraestrutura e habitação e financiados por contribuições sobre produtos primários e semielaborados, vinculados ao ICMS e ao ISS, e seus respectivos benefícios. Para os Estados que, em 30/04/2023,possuíam fundos destinados a investimentos em obras de infraestrutura e habitação e financiados por contribuições sobre produtos primários e semielaborados, vinculados ao ICMS, fica prevista a possibilidade de instituição de uma contribuição estadual não vinculada ao ICMS, observando que a alíquota ou percentual não poderão ser superiores e a base de incidência não poderá ser mais ampla que as contribuições vigentes em 30/04/2023. Reforma Tributária24 A contribuição deverá ter a mesma destinação, com prazo limite até 31.12.2043. 7.9 Transição Quadro 4 – Vigência do ICMS/ISS X IBS Fonte: O autor, 2024. Vigência: ICMS/ISS X IBS 203320322031203020292026 a 2028 Até 31/12/ 2025 Tributos NãoSim (60%) Sim (70%) Sim (80%) Sim (90%) Sim (100%) Sim (100%)ICMSS/ISS SimSimSimSimSimSim (teste)NãoIBS 8 CBS 8.1 Conceito A Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) substitui a cobrança da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, e incidirá sobre bens (materiais e imateriais), serviços, direitos (cessão e licenciamento), locação de bens e importações. Não incidirá, contudo, sobre as exportações. Frisa-se que, em observância ao disposto no artigo 195, § 16, da Constituição Federal, a CBS será não cumulativa e não será objeto de concessão de isenções, incentivos ou benefícios tributários ou financeiros, inclusive de redução de base de cálculo ou de crédito presumido ou outorgado, exceto os previstos na Constituição Federal. Ainda, em análise ao artigo 195, § 16, da Constituição Federal e ao artigo 130 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), destacamos que não foi definida a alíquota padrão para fins de tributação, a qual será definida por Resolução do Senado Federal, após regulamentação em Lei Complementar, no entanto, foi instituída a “trava de referência”, a fim de impedir o aumento da carga, por meio de uma verificação com base na arrecadação dos anos de 2027 e 2028, em comparação com a média de arrecadação da Contribuição para o PIS/PASEP, COFINS e IPI de 2012 a 2021, na proporção do Produto Interno Bruto (PIB). Reforma Tributária25 8.2 Trava de referência Por não haver na Emenda Constitucional n°132/2023 previsão da alíquota máxima para a CBS, a “trava de referência” será utilizada a fim de impedir o aumento da carga tributária atual. De acordo com o artigo 195, § 16, da Constituição Federal e com o artigo 130 do ADCT, a alíquota padrão para fins de tributação será definida por Resolução do Senado Federal, após regulamentação em Lei Complementar. A estimativa da Receita Federal é de que a alíquota gire em torno de 27,5%. A “trava de referência” tem o objetivo de impedir o aumento da carga tributária atual, por meio de duas verificações, sendo a primeira feita com base na arrecadação dos anos de 2027 e 2028, em comparação com a média de arrecadação da Contribuição para o PIS/PASEP, da COFINS e do IPI de 2012 a 2021, na proporção do PIB. A alíquota de referência da CBS será reduzida, para que seja igual ao respectivo teto de referência, se, no ano de 2035, por ocasião da segunda verificação a média da receita base total entre 2029 e 2033 exceder o teto de referência total. 8.3 Não cumulatividade O sistema não cumulativo, previsto na Emenda Constitucional, é de base ampla, permitindo a compensação do tributo devido com o tributo incidente sobre todas as operações de aquisição de bens, materiais ou imateriais, inclusive direitos, com a única exceção para as aquisições consideradas de uso ou consumo pessoal, nos termos de Lei Complementar a ser editada pelo Congresso Nacional. Desta forma, o contribuinte que adquirir bens e serviços ou tiver gastos com aluguel de imóveis, máquinas ou equipamentos, por exemplo, descontará o imposto pago pelos fornecedores/prestadores/locadores, reduzindo o montante a pagar nas suas operações. Cabe ressaltar que a Lei Complementar poderá condicionar a compensação ao efetivo recolhimento dos tributos nas operações de aquisição, sistema conhecido como “Split Payment”, em que o valor do tributo é destinado ao Fisco, não sendo direcionado ao fornecedor do bem ou serviço que originou o fato gerador. Caso seja de fato instituído por Lei Complementar, tal sistema seria automático, dependendo de um sistema informatizado, disponibilizado pelo Fisco, para operacionalização. No Imposto sobre Valor Agregado (IVA), a sistemática da não cumulatividade tem a função de fazer com que a tributação seja incidente somente sobre o valor agregado ao produto ou mercadoria em cada etapa da cadeia produtiva. Em outras palavras, o imposto incidirá somente sobre o valor que foi adicionado na etapa, e não sobre valores já tributados nas etapas anteriores. Também é característica deste modelo de tributação a desoneração do setor produtivo, transferindo o ônus tributário para o consumidor final. Reforma Tributária26 8.4 Saldo credor De acordo com o artigo 135 do ADCT, em relação aos saldos credores de IPI, PIS/ PASEP e COFINS, a Lei Complementar disciplinará sobre a forma de utilização dos créditos, inclusive presumidos, não apropriados ou não utilizados até a extinção, podendo compensá- los com outros tributos federais, inclusive com a CBS, ou ser feito o ressarcimento em dinheiro. 8.5 Base de cálculo De acordo com o artigo 195, § 17, da Constituição Federal, a CBS não integrará a sua própria base de cálculo (por fora) e não vai compor a base de cálculo do: a. IS; b. IBS; e c. PIS/PASEP e COFINS. 8.6 Vigência De acordo com o artigo 125 do ADCT, a tributação da CBS começará a partir de 01/01/2026, aplicando-se a alíquota “teste” de 0,9% até 31/12/2026, podendo ser feita a compensação dos valores pagos com o valor devido da Contribuição para o PIS/PASEP e COFINS do mesmo período. Já a partir de 01/01/2027, a CBS passa a ser cobrada com alíquota plena, a ser estabelecida em Lei Complementar, visando manter a mesma faixa de arrecadação atual, em conformidade com o artigo 126 do ADCT. Também, a partir de 01/01/2027, de acordo com o artigo 126, inciso II, do ADCT, a Contribuição para o PIS/PASEP e a COFINS se extinguem. 8.7 Transição Quadro 5 – Vigência: Pis/Cofins X CBS Vigência: PIS/COFINS X CBS A partir de 01/01/2027 De 01/01/2026 a 31/12/2026Até 31/12/2025Tributos NãoSimSimPIS/COFINS SimSim (teste)NãoCBS Fonte: O autor, 2024. Reforma Tributária27 9 IMPOSTO SELETIVO Previsto no artigo 153, inciso VIII, da Constituição Federal, o Imposto Seletivo (IS) será um novo tributo, de competência da União, que irá incidir sobre produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. O IS é um imposto extrafiscal, ou seja, não possui natureza unicamente arrecadatória, mas também regulatória. O IS, também conhecido como “imposto do pecado”, tem o objetivo de desestimular o consumo de determinados bens ou serviços, prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Isso acontece, pois, a carga tributária incidente sobre produtos nocivos ao ser humano e ao meio ambiente, será consideravelmente maior em virtude dessa incidência. Essa é uma das características do IS que deriva do IPI. 9.1 Incidência Com incidência monofásica, similar ao que já acontece no segmento de combustíveis para o ICMS, o IS poderá ter o mesmo fato gerador da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), incidindo na produção, extração, comercialização ou importação de bens e serviços a serem determinados por Lei Complementar. Ressalta-se que o IS não incidirá sobre as exportações, bem como nas operações com energia elétrica e com telecomunicações. 9.2 Fato gerador Considerando que o IS terá incidência monofásica, ou seja, incidirá uma única vez, entende-se que seu fato gerador será definido por meio de Lei complementar. 9.3 Base de cálculo Segundo o artigo 153, § 6°, da Constituição Federal, o IS será instituído por publicação de Lei Complementar. Esse tributo não integrará sua própria base de cálculo. Isso quer dizer que o tributo será calculado na sistemática mercadologicamenteconhecida como “por fora”. Vale ressaltar, porém, que o IS irá integrar a base de cálculo dos seguintes tributos: a. CBS; b. IBS; c. ICMS; e d. ISS. Reforma Tributária28 Outra particularidade de incidência do IS é que terá suas alíquotas definidas por Lei Ordinária. O montante devido poderá ser estabelecido por unidade de medida adotada como padrão ou ad valorem. No caso das atividades extrativas, como garimpo de pedras e metais preciosos, o IS irá incidir indiferentemente da destinação que será dada ao produto. Nessa hipótese, o percentual não poderá exceder a 1% do valor de mercado do produto. 9.4 Cumulatividade A não-cumulatividade consiste na possibilidade de o estabelecimento contribuinte daquele tributo apropriar créditos relativos ao que foi cobrado na etapa anterior. Esse princípio não tem previsão de aplicação pelo IS. Conforme artigo 153, § 6º, da Constituição Federal, além de monofásico, o IS não tem premissa de não cumulatividade, não havendo, portanto, a possibilidade da compensação do imposto pago nas etapas anteriores. 9.5 Vigência A cobrança do IS está prevista para se iniciar a partir de 01/01/2027, conforme artigo 126 dos Atos e Disposições ConstitucionaisTransitórias (ADCT). A legislação que o instituir ou aumentar deverá ser submetida à anterioridade anual e nonagesimal. Isso quer dizer que as particularidades relativas à regra matriz de incidência deste tributo deverão ser dispostas na respectiva legislação no ano anterior ao de início da sua cobrança. Além disso, para que essa cobrança possa se iniciar em 1º de janeiro, a legislação deverá ser publicada no diário oficial da união, no mínimo 90 dias antes a esta data. A relação dos produtos considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente será estabelecida por meio de Lei Complementar a ser editada pelo Congresso Nacional. 10 IPI 10.1 Aspectos gerais O IPI incide sobre os produtos industrializados, nacionais e estrangeiros, respectivamente identificados por sua Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) na Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI). O campo de incidência do imposto compreende todos os produtos relacionados na TIPI, com alíquota zero ou maior, exceto os produtos com a notação NT (não tributada) na tabela. Reforma Tributária29 Os produtos industrializados, são produtos obtidos através de processos de industrialização, como os mencionados nos artigos 4º c/c no artigo 8º do Regulamento do IPI/2010. Decreto nº 7.212/2010 (RIPI) [...] Art. 4° Caracteriza industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como (Lei n° 5.172, de 1966, art. 46, parágrafo único, e Lei n° 4.502, de 1964, art. 3°, parágrafo único): [...] Art. 8° Estabelecimento industrial é o que executa qualquer das operações referidas no art. 4°, de que resulte produto tributado, ainda que de alíquota zero ou isento (Lei n° 4.502, de 1964, art. 3°). Conforme o Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966), imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Por definição, fato gerador é o fato, ou conjunto de fatos, ou o estado de fato a que o legislador vincula o nascimento das obrigações jurídicas de pagar determinado tributo. Configura o aspecto temporal da regra-matriz de incidência tributária. Ou seja, é o momento no qual surge a obrigação de recolhimento do IPI, aplicados os princípios da não- cumulatividade, incentivos e benefícios fiscais. Desta forma, conforme artigo 35 do RIPI/2010, com base no artigo 2º da Lei 4.502/64, há ocorrência do fato gerador do IPI no desembaraço aduaneiro e na saída de produtos industrializados do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial. Por definição a base de cálculo de um imposto é o limite preestabelecido de uma grandeza econômica ou numérica sobre a qual se aplica a alíquota para obter o quantum a pagar ou a receber. Então a base de cálculo é o valor sobre o qual aplica-se a alíquota prevista relacionada na TIPI para determinada NCM visando determinar o valor do imposto devido. A determinação da base de cálculo do IPI está disciplinada nos artigos 190 e subsequentes do RIPI/2010. Em regras gerais a alíquota incidirá sobre o valor da operação em que decorra a saída do produto do estabelecimento industrial ou sobre o valor que sirva de base de cálculo para os tributos aduaneiros no processo de importação. O IPI é um tributo que observa o Princípio da Essencialidade, ou seja, tem sua incidência disciplinada com base na necessidade humana dos produtos. A aplicação da alíquota zero de IPI é usualmente confundida com Isenção ou Não incidência do tributo. 10.2 Alíquota zero pós reforma Com a publicação da Emenda Constitucional nº 132/2023 não houve a extinção definitiva do Imposto sobre Produtos industrializados (IPI). Sendo assim, este tributo permanece em nosso sistema tributário. Reforma Tributária30 De acordo com o artigo 126, inciso III, alínea “a”, do ADCT, o IPI terá suas alíquotas reduzidas a zero a partir de 01/01/2027. Serão exceções desta redução a relação de produtos que tenham industrialização incentivada na ZFM, conforme critérios que serão disciplinados por Lei Complementar. Por fim, cabe ressaltar que por vedação expressa no artigo 126, inciso III, alínea “b”, do ADCT, o IPI não poderá incidir cumulativamente com o IS. 10.3 Zona Franca de Manaus A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e de exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário, dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância a que se encontram os centros consumidores de seus produtos, de acordo com o artigo 1° do Decreto-Lei n° 288/67. De acordo artigo 81, inciso III, do RIPI, os produtos nacionais entrados na ZFM, possuem isenção de IPI para seu consumo interno, utilização ou industrialização, ou ainda, para serem remetidos, por intermédio de seus entrepostos, à Amazônia Ocidental. A isenção não se aplica a armas e munições (capítulo 93 da TIPI), perfumes (capítulo 33 da TIPI), fumo (capítulo 24 da TIPI), automóveis de passageiros (posição 8703 da TIPI) e bebidas alcoólicas (posições 2203 a 2206 e códigos 2208.70.00 e 2208.90.00, exceto o ex 01, da TIPI). A remessa dos produtos para a ZFM será com suspensão do IPI até a sua entrada naquela área (conforme expresso no artigo 84), quando então se efetivará a isenção de que trata o inciso III do artigo 81 do RIPI. Também sairão com suspensão do IPI (artigo 85 do RIPI): a. os produtos nacionais remetidos à ZFM, especificamente para serem exportados para o exterior, atendidas as condições estabelecidas pelo Ministro de estado da Fazenda; b. os produtos que, antes de sua remessa à ZFM, forem enviados pelo seu fabricante a outro estabelecimento, para industrialização adicional, por conta e ordem do destinatário naquela área. Segundo o artigo 93 do RIPI, será mantido, na escrita do contribuinte, o crédito do imposto incidente sobre equipamentos adquiridos para emprego na industrialização de produtos que venham a ser remetidos para a ZFM, para seu consumo interno, utilização ou industrialização na referida ZFM, bem como na hipótese do inciso II do artigo 85 do RIPI/2010. Reforma Tributária31 Os benefícios relativos à Zona Franca de Manaus serão extintos em 01.01.2074, conforme disposto no artigo 94 do RIPI. 11 OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS 11.1 Simplificação das obrigações acessórias Preliminarmente, frisamos que a Emenda Constitucional n° 132/2023 não criou ou estabeleceu critérios para as obrigações acessórias voltadas à apuração dos novos tributos (CBS, IBS e IS), contudo delegou competências para que sejam estabelecidostais normas. Assim, o artigo 156-A, § 5°, inciso IX, da Constituição Federal, passa a atribuir competência ao Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), para que este estabeleça critérios quanto às obrigações tributárias acessórias, visando sua simplificação. O artigo 156-B, § 6°, da Constituição Federal estabelece que o Comitê Gestor, a administração tributária da União e a PGFN irão compartilhar informações fiscais relacionadas à CBS e ao IBS e atuarão para harmonizar normas, interpretações, obrigações acessórias e procedimentos relativos a estes tributos. Por fim, fica previsto no artigo 125, § 4°, do ADCT que, no ano de 2026, os contribuintes que cumprirem as obrigações acessórias da CBS e do IBS poderão ser dispensados do recolhimento destes. 12 SIMPLES NACIONAL 12.1 Modelo atual A Reforma trouxe alterações para o regime de apuração do Simples Nacional, no entanto, é mantido o tratamento diferenciado e favorecido para as Microempresas (ME) ou Empresas de Pequeno Porte (EPP) previsto no artigo 146, § 1°, da Constituição Federal. O primeiro ponto a se observar é que as MEs e EPPs optantes pelo Simples Nacional poderão optar por duas formas de tributação, a primeira apurando a CBS e o IBS “por dentro”, sob regime unificado, e, a segunda, apurando esses tributos “por fora” do regime do Simples Nacional. Reforma Tributária32 12.2 Tributação única As MEs e EPPs optantes pelo sistema unificado de tributação (Simples Nacional) terão a apuração da CBS e do IBS em substituição à Contribuição para o PIS/PASEP, COFINS, IPI, ICMS e ISS, sem mudanças em relação ao IRPJ, CSLL e CPP. É importante ressaltar que, o artigo 146, § 3°, da Constituição Federal, prevê que, nessa hipótese, o optante pelo Simples Nacional não terá direito a créditos e as empresas que adquirirem bens, serviços ou direitos dele deverão tomar créditos com base nos valores exatos por ele recolhidos. Caso o optante pelo Simples Nacional não queira recolher os novos tributos pelo regime do Simples Nacional, ele poderá recolher somente o IRPJ, a CSLL e a CPP pelo regime simplificado e a CBS e o IBS por fora, com não cumulatividade plena, podendo, então, segundo o artigo 146, § 2°, da Constituição Federal, tomar crédito nas suas aquisições e, também, transferindo para o adquirente de bens e serviços um valor maior de créditos. Numa análise dos efeitos dessas novas regras, entende-se que, para as empresas que se encontram no início ou no meio da cadeia produtiva, essa escolha terá um impacto significativo. Por exemplo, atualmente, os optantes pelo Simples Nacional podem transferir, para os adquirentes do regime não cumulativo, integralmente, os créditos da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, no montante de 9,25%, o que garante competitividade, tratamento diferenciado e favorecido a essas empresas, conforme previsão constitucional. Com as novas regras, há restrição para transferência de crédito, ficando este limitado ao valor pago pelo regime do Simples Nacional. Dessa forma, os optantes desse regime, ao preferirem o pagamento da CBS e do IBS por dentro do Simples Nacional, terão perda de competitividade, já que irão transferir menos créditos ao adquirente. Caso optem pela tributação da CBS e do IBS por fora do Simples Nacional, é provável que tenham uma carga tributária maior. 12.3 Tributação fora do PGDAS As MEs e EPPs optantes pelo sistema unificado de tributação (Simples Nacional) terão a apuração da CBS e do IBS em substituição à Contribuição para o PIS/PASEP, COFINS, IPI, ICMS e ISS, sem mudanças em relação ao IRPJ, CSLL e CPP. É importante ressaltar que, o artigo 146, § 3°, da Constituição Federal, prevê que, nessa hipótese, o optante pelo Simples Nacional não terá direito a créditos e as empresas que adquirirem bens, serviços ou direitos dele deverão tomar créditos com base nos valores exatos por ele recolhidos. Caso o optante pelo Simples Nacional não queira recolher os novos tributos pelo regime do Simples Nacional, ele poderá recolher somente o IRPJ, a CSLL e a CPP pelo regime simplificado e a CBS e o IBS por fora, com não cumulatividade plena, podendo, então, segundo o artigo 146, § 2°, da Constituição Federal, tomar crédito nas suas aquisições e, também, transferindo para o adquirente de bens e serviços um valor maior de créditos. Reforma Tributária33 Numa análise dos efeitos dessas novas regras, entende-se que, para as empresas que se encontram no início ou no meio da cadeia produtiva, essa escolha terá um impacto significativo. Por exemplo, atualmente, os optantes pelo Simples Nacional podem transferir, para os adquirentes do regime não cumulativo, integralmente, os créditos da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, no montante de 9,25%, o que garante competitividade, tratamento diferenciado e favorecido a essas empresas, conforme previsão constitucional. Com as novas regras, há restrição para transferência de crédito, ficando este limitado ao valor pago pelo regime do Simples Nacional. Dessa forma, os optantes desse regime, ao preferirem o pagamento da CBS e do IBS por dentro do Simples Nacional, terão perda de competitividade, já que irão transferir menos créditos ao adquirente. Caso optem pela tributação da CBS e do IBS por fora do Simples Nacional, é provável que tenham uma carga tributária maior. 13 PRODUTOR RURAL 13.1 Conceitos Considera-se atividade rural, conforme artigo 2º, Lei nº 8.023 de 1990: a. a agricultura; b. a pecuária; c. a extração e a exploração vegetal e animal; d. a exploração da apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais; e. a transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matéria-prima produzida na área rural explorada, tais como a pasteurização e o acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados em embalagem de apresentação. Destaca-se que, a Lei nº 17.453/2021, especialmente no artigo 5º, estabelece os requisitos para manipulação e o beneficiamento de produtos de origem animal, sob a forma artesanal, de forma que a atividade mantenha a característica de atividade rural. Artigo 5° A manipulação e o beneficiamento de produtos comestíveis de origem animal, sob a forma artesanal, serão permitidas exclusivamente aos produtores, rurais e urbanos, que atendam aos seguintes requisitos, cumulativamente: Reforma Tributária34 I - utilizem matérias-primas de origem animal beneficiadas em uma unidade de processamento sujeita à inspeção oficial; II - utilizem matérias-primas de origem determinada; III - adotem, no processo produtivo, boas práticas de fabricação artesanal, assim entendidos os procedimentos e as condições higiênico-sanitárias e operacionais sistematizadas que atendam às normas regulamentares editadas com o objetivo de garantir a inocuidade alimentar, a identidade, a qualidade e a integridade dos produtos de origem animal; IV - adotem, em se tratando de estabelecimentos produtores de matéria-prima, boas práticas agropecuárias, assim entendidos os procedimentos que atendam às normas regulamentares quanto à oferta de alimentos seguros e oriundos de sistemas de produção sustentáveis, e sejam adequados para tornar os sistemas de produção mais rentáveis e competitivos; V - elaborem produto final individualizado, genuíno e que mantenha a singularidade e as características tradicionais, culturais ou regionais do produto, ou os atributos e as especificidades de inovação tecnológica, sendo permitida a variação sensorial entre os lotes; VI - restrinjam o uso de ingredientes industrializados ao percentual máximo previsto em normas regulamentares, vedada a utilização de corantes, aromatizantes e outros aditivos considerados cosméticos. 13.2 Regra geral Atualmente,o produtor rural segue a regra geral de tributação, dependendo da legislação estadual para tratamento tributário diferenciado. 13.3 Alteração pós reforma O artigo 9°, § 4°, da Emenda Constitucional n° 132/2023 prevê que o produtor rural, pessoa física ou jurídica, que obtiver receita anual inferior a R$ 3,6 milhões, poderá optar por ser contribuinte da CBS e do IBS. Já o artigo 9°, § 5°, da Emenda Constitucional n° 132/2023 autoriza a concessão do crédito do imposto ao adquirente de bens e serviços dos produtores rurais, ainda que não opte por ser contribuinte da CBS e do IBS. Frisa-se que o crédito presumido se refere ao valor não aproveitado pelo produtor rural, não contribuinte, nas etapas anteriores. Tais medidas visam manter a competitividade dos pequenos produtores rurais, de forma que estes possam transferir créditos para os adquirentes de seus bens e/ou serviços, em ambos os casos. Vale lembrar que o produtor rural que não optar por contribuir com a CBS e IBS, irá transferir um crédito menor. Já os produtores que optarem por ser contribuintes terão uma maior carga tributária, porém, poderão transferir integralmente os créditos aos seus adquirentes. Reforma Tributária35 14 ZONA FRANCA DE MANAUS E ÁREAS DE LIVRE COMÉRCIO 14.1 Conceito A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e de exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário, dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância a que se encontram os centros consumidores de seus produtos, de acordo com o artigo 1° do Decreto-Lei n° 288/67. O artigo 2° do Decreto n° 61.244/67 define a circunscrição da Zona Franca de Manaus, que compreende uma área localizada nas proximidades da cidade de Manaus. Assim, segundo o referido dispositivo legal, a Zona Franca de Manaus é configurada pelos seguintes limites, do vértice do paredão do Porto de Manaus, onde estão assinaladas as cotas das cheias máximas, pelas margens esquerdas dos rios Negros e Amazonas, até o promontório frente à Ilha das Onças; deste ponto, pelo seu paralelo, até encontrar o rio Urubu; desta intercessão, pela margem direita do mencionado rio, até a confluência do rio Urubuí; daí, em linha reta, até a nascente do rio Cuieiras; deste ponto, pela margem esquerda do citado rio, até sua confluência com o rio Negro; daí, pela margem esquerda deste rio, até o vértice do paredão do Porto de Manaus. O Convênio ICMS 49/94 estende aos Municípios de Rio Preto da Eva e de Presidente Figueiredo, no estado do Amazonas, as disposições do Convênio ICM 65/88, que isenta do ICMS as saídas de produtos industrializados de origem nacional para comercialização ou industrialização na Zona Franca de Manaus (ZFM), e os respectivos procedimentos de controle e fiscalização. Para fruição dos benefícios de PIS e COFINS a Solução de Consulta n° 442/2006 restringiu a área geográfica legal da Zona Franca de Manaus para parte da área territorial do município de Manaus, não incluindo qualquer outro município da Amazônia Ocidental. 14.2 Competitividade A Reforma Tributária garante a continuidade do diferencial competitivo à Zona Franca de Manaus (ZFM) e às Áreas de Livre Comércio (ALCs), de acordo com o artigo 92-B do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), até o ano de 2073. Ainda, conforme o artigo 92-B, será instituído por Lei Complementar o Fundo de Sustentabilidade e Diversificação Econômica do estado do Amazonas, constituído com recursos da União, que irá geri-lo, com a participação do estado do Amazonas. Reforma Tributária36 14.3 Incentivos As contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, em regras gerais, são beneficiadas com a redução de alíquota para zero nas operações destinadas às áreas de incentivo. Além disso, para o ICMS, por força do Convênio ICMS 65/88, há previsão de isenção quando os produtos sejam destinados a comercialização ou industrialização. Com a extinção desses tributos e a instituição da CBS e do IBS, o artigo 92-B do ADCT prevê a utilização, de forma isolada ou cumulativa, de instrumentos fiscais, econômicos e financeiros que mantenham o modelo da ZFM. Assim, as leis que delimitarem a incidência da CBS e do IBS poderão trazer incentivos que serão aplicados nas operações destinadas àquelas áreas. 14.4 IPI Com a publicação da Emenda Constitucional nº 132/2023 não houve a extinção definitiva do Imposto sobre Produtos industrializados (IPI). Sendo assim, este tributo permanece em nosso sistema tributário. De acordo com o artigo 126, inciso III, alínea “a”, do ADCT, o IPI terá suas alíquotas reduzidas a zero a partir de 01/01/2027. Serão exceções desta redução a relação de produtos que tenham industrialização incentivada na ZFM, conforme critérios que serão disciplinados por Lei Complementar. Por fim, cabe ressaltar que por vedação expressa no artigo 126, inciso III, alínea “b”, do ADCT, o IPI não poderá incidir cumulativamente com o IS. 15 BENEFÍCIOS FISCAIS 15.1 Conceitos Os benefícios fiscais são previstos na legislação e visam promover incentivos aos contribuintes, que tratam, respectivamente, da isenção, da redução de base de cálculo e crédito outorgado para determinados produtos e/ou operações. 15.2 Aplicação O Imposto sobre Valor Agregado (IVA), implantado em vários países, tem como preceito fundamental a ampla abrangência sobre todos os bens, sejam eles materiais ou imateriais, inclusive direitos, ou com serviços, de forma que todos contribuem, gerando uma alíquota geral baixa. Reforma Tributária37 Assim, de acordo com o artigo 156-A, inciso X e artigo 195, § 16, da Constituição Federal, a CBS e o IBS não serão objeto de concessão de incentivos e benefícios financeiros ou fiscais relativos ao imposto ou de regimes específicos, diferenciados ou favorecidos de tributação, excetuadas as hipóteses previstas na Constituição Federal. 15.2.1 Isenção ou alíquota zero O artigo 8°, parágrafo único, da Emenda Constitucional n° 132/2023, atribui competência à Lei Complementar para definir os produtos que compõem a Cesta Básica Nacional de Alimentos, sobre os quais as alíquotas de CBS e IBS serão reduzidas a zero. Ainda, como estabelece o artigo 9°, § 3°, incisos I, II e IV, da Emenda Constitucional n° 132/2023, terão, conforme o caso, isenção ou alíquota zero da CBS e do IBS: a. serviços de transporte público coletivo de passageiros rodoviário e metroviário de caráter urbano, semiurbano e metropolitano (isenção); b. dispositivos médicos (alíquota zero); c. dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência (alíquota zero); d. medicamentos (alíquota zero); e. produtos de cuidados básicos à saúde menstrual (alíquota zero); f. produtos hortícolas, frutas e ovos (alíquota zero); g. serviços prestados por Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT) sem fins lucrativos (alíquota zero); h. compra de automóveis de passageiros por pessoa com deficiência, pessoa com autismo ou taxistas (alíquota zero); e i. atividades de reabilitação urbana de zonas históricas e de áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística (isenção ou alíquota zero). Além dos benefícios elencados acima, o artigo 9°, § 3°, inciso III, da Emenda Constitucional n° 132/2023, dispõe que o ProUni terá 100% de desconto apenas na CBS. 15.2.2 Redução Segundo o artigo 9°, § 1°, da Emenda Constitucional n° 132/2023, terão redução de 60% na CBS e no IBS: a. serviços de educação; b. serviços de saúde; c. dispositivos médicos; d. dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência; e. medicamentos; Reforma Tributária38 f. produtos de cuidados básicos à saúde menstrual; g. serviços de transporte público coletivo de passageiros rodoviário e metroviário urbano, semiurbano e metropolitano; h. alimentos destinados ao consumo humano; i. produtos de higiene pessoal e limpeza majoritariamente consumidos