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PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
O Direito Administrativo brasileiro não é codificado. Por isso, as funções sistematizadora e unificadora das leis, em outros ramos desempenhadas por códigos, no Direito Administrativo cabem aos princípios. 
Princípios são regras gerais que a doutrina identifica como condensadores dos valores fundamentais de um sistema. Por meio de um processo lógico denominado abstração indutiva, os estudiosos extraem da totalidade de normas específicas as ideias-chave que animam todo o complexo de regras. Assim, os princípios informam o sistema normativo. Informam porque armazenam e comunicam o núcleo valorativo essencial da ordem jurídica. 
Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, “princípio é, pois, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para exata compreensão e inteligência delas, exatamente porque define a lógica e racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhes a tônica que lhe dá sentido harmônico”. E completa: “violar um princípio é muito mais grave do que violar uma norma.[1] 
O Direito Administrativo, como vimos anteriormente, como ramo que se destaca do Direito Público, caracteriza-se por ser informado por princípios próprios. 
Distinção de princípios, regras e valores constitucionais - Por Elpídio Donizetti
A doutrina tradicional apontava diferenças entre normas e princípios, na medida em que aquelas constituíam preceitos a serem seguidos, enquanto estes eram considerados como meros conselhos ou “cânones de interpretação”. O neoconstitucionalismo, ao conferir status de norma aos princípios, abandonou essa distinção tradicional, de modo que, atualmente, regras e princípios são, na verdade, espécies de normas. Nesse sentido, esclarece Humberto Ávila que “cada espécie normativa desempenha funções diferentes e complementares, não se podendo sequer conceder uma sem a outra, e a outra sem a uma.”
Os princípios, na lição doutrinária de Francisco Amaral,
“[...] são pensamentos diretores de uma regulamentação jurídica, critérios para a ação e para a constituição de normas e de institutos jurídicos [...] Como diretrizes gerais e básicas, servem também para fundamentar e dar unidade a um sistema ou a uma instituição”
Eles são, portanto, diretrizes gerais do ordenamento jurídico, que servem para fundamentar e interpretar as demais normas. Os princípios têm origem nos aspectos políticos, econômicos e sociais vivenciados na sociedade, assim como nas demais fontes do ordenamento.
Com a unificação do sistema jurídico em torno do texto constitucional, tornou-se mais evidente a utilização dos princípios como fundamentos das decisões emanadas pelo Poder Judiciário. Diferentemente do que se passava no positivismo jurídico, no qual se pregava a mera subsunção da situação fática à norma positivada, no neoconstitucionalismo e o neoprocessualismo os princípios constituem elementos norteadores da atividade jurisdicional no decorrer de todo o processo.
As regras, por outro lado, são prescrições específicas que disciplinam determinadas situações “no âmbito daquilo que é fática e juridicamente possível”. Embora as duas espécies normativas (princípios e regras) sejam cogentes, as regras esgotam em si mesmas, ao passo que descrevem o que se deve e o que não se deve; o que se pode e o que não se pode. Já os princípios são mandamentos de otimização que servem para ordenar o cumprimento de algo na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e fáticas de cada caso concreto.
Além dessas diferenças, temos que no conflito entre regras, a solução dar-se-á com a utilização dos critérios cronológico, hierárquico ou da especialidade, conforme teoria construída por Norberto Bobbio; no conflito entre princípios, como um não pode ser excluído em detrimento de outro, a doutrina e a jurisprudência vêm utilizando a técnica de ponderação dos bens jurídicos envolvidos, aliada ao princípio da proporcionalidade.
Os valores, por sua vez, surgem a partir de conceitos, elaborados pela própria sociedade, sobre o que é “bom” ou “mau”, o que é “certo” ou “errado”, o que é “moralmente aceito” e o que é “imoral”, etc. Os valores refletem as características principais de uma sociedade e estão baseados no senso comum, ou seja, no que normalmente a sociedade considera como aceitável.
Humberto Àvila esclarece que
“os princípios não se identificam com valores, na medida em que eles não determinam o que deve ser, mas o que é melhor. Da mesma forma, no caso de uma colisão entre valores, a solução não determina o que é devido, apenas indica o que é melhor. Em vez do caráter deontológico dos princípios, os valores possuem tão-só o axiológico.” https://portalied.jusbrasil.com.br/artigos/262440228/o-que-sao-principios-regras-e-valores#:~:text=Os%20princ%C3%ADpios%20t%C3%AAm%20origem%20nos,nas%20demais%20fontes%20do%20ordenamento.&text=Os%20valores%20refletem%20as%20caracter%C3%ADsticas,a%20sociedade%20considera%20como%20aceit%C3%A1vel.
Classificação: princípios basilares ou supraprincípios (supremacia e indisponibilidade do interesse público); princípios constitucionais expressos ou explícitos (art. 37 caput); princípios implícitos na Constituição ou decorrentes do regime jurídico administrativo (presunção de veracidade, autotutela etc.)
Observação: não há hierarquia entre princípios - quando há conflito, deve-se resolver pela especialidade de princípio ou pela ponderação de valores, com prevalência de um determinado princípio em detrimento de outros na solução de um caso específico.
Supraprincípios ou princípios basilares do Direito Administrativo:
Conforme ensina ainda o mestre Celso Antônio Bandeira de Mello, o Direito Administrativo é regido por dois supraprincípios (ou princípios basilares da Adm. Pública) que são o da: supremacia do interesse público sobre o particular e a indisponibilidade do interesse público.
Interesse Público: a) primário, que é o interesse da coletividade; b) secundário é o interesse da Administração enquanto pessoa jurídica de direito público. Havendo conflito, prevalece o interesse primário.
O princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado, também chamado simplesmente de princípio do interesse público ou da finalidade pública, significa que os interesses da coletividade são mais importantes que os interesses individuais, razão pela qual a Administração, como defensora dos interesses públicos, recebe da lei poderes especiais não extensivos aos particulares. A outorga dos citados poderes projeta a Administração Pública a uma posição de superioridade diante do particular. Em termos práticos, cria uma desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados. São exemplos de prerrogativas especiais conferidas à Administração Pública e seus agentes decorrentes da supremacia do interesse público: a possibilidade de transformar compulsoriamente propriedade privada em pública (desapropriação); autorização para usar propriedade privada em situações de iminente perigo público (requisição de bens); prazos processuais em dobro para manifestar-se nos autos (processo civil); presença de cláusulas exorbitantes nos contratos administrativos; impenhorabilidade dos bens públicos dentre outras. 
Para alguns doutrinadores, os limites dos atos do administrador à busca do interesse público são: a) as garantias e os direitos fundamentais (ex. devido processo legal); b) o princípio da legalidade.
O princípio da indisponibilidade do interesse público enuncia que os agentes públicos não são donos do interesse por eles defendido. Assim, no exercício da função administrativa os agentes públicos estão obrigados a atuar, não segundo sua própria vontade, mas do modo determinado pela legislação. Como decorrência dessa indisponibilidade, não se admite tampouco que os agentes renunciem aos poderes legalmente conferidos ou que transacionem em juízo (salvo matérias previamente autorizadas pela própria Administração Pública).
A indisponibilidadetraz, por outro lado, um enfoque de restrições de atuação da Administração Pública. Sendo indisponível o interesse público, a Administração tem de se comportar de acordo com a legalidade. As aquisições de bens, a contratação de serviços, a alienação de bens públicos são realizadas mediante processo de licitação, como garantia de fiscalização da coisa pública e com a finalidade de obtenção dos melhores preços e condições, sejam nas aquisições ou contratações de serviços, quer nas vendas de bens públicos.
Princípios Constitucionais do Direito Administrativo 
A Constituição Federal trouxe inovação ao fazer menção a alguns dos princípios a que se submete a Administração Pública. O rol consta do artigo 37, mas não é taxativo, simplesmente explicativo. 
Inicialmente constavam os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. Com o advento da Emenda Constitucional nº 19, de 04-06-98, acrescentou-se o princípio da eficiência. 
Pode-se chamá-los de princípios constitucionais expressos ou explícitos. Para memorizar os nomes dos cincos princípios mencionados no artigo 37, caput, pode ser usada a seguinte regra mnemônica: LIMPE = legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
1- Princípio da Legalidade
Já vimos anteriormente que no Direito Privado vige o princípio da autonomia da vontade, ou seja, as partes podem fazer tudo o que a lei não proíbe, podendo livremente eleger os fins que pretendem alcançar e utilizar de todos os meios para atingi-los, desde que fins e meios não sejam proibidos pelo Direito. No Direito Público, diferentemente, a Administração Pública somente pode praticar atos previamente autorizados pela lei, só lhe é permitido fazer o que a lei expressamente autoriza. Vige a idéia de função, de dever do atendimento do interesse público. 
Esse princípio está contido no artigo 37, caput, bem como no artigo 5º, II, ambos da Constituição Federal. 
Hely Lopes Meirelles o define com maestria: “Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo o que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza.” (pág. 86). 
Assim, a Administração Pública, em toda sua atividade está presa aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilidade de seu autor. A Administração, diferentemente do particular, só pode agir, quando, como e se a lei autoriza. Vale dizer, se a lei nada dispuser, não pode a Administração Pública agir, salvo em situações excepcionais (grave perturbação da ordem e guerra quando irrompem inopinadamente). 
Legalidade aqui deve ser entendida no sentido amplo ou material. Isso porque a Administração é regida pela legislação administrativa e não apenas pela lei no sentido formal (aprovada pelos parlamentos federal, estaduais e municipais). A legalidade inclui desde a Constituição Federal, passando pelas leis complementares e ordinárias, tratados, normas regulamentares infralegais, como decretos, portarias, instruções normativas etc. Lei aqui deve, então, ser entendida como o ato normativo que dá amparo a uma conduta, ou à realização de ato físico (construção de uma ponte) ou jurídico (uma decisão administrativa).
Legalidade administrativa pode ter três conotações: a) legalidade estrita – atuação do administrador nos estrito limites da lei; b) legitimidade – vincula não apenas aos limites estabelecidos na lei, mas também à moralidade e à finalidade pública; c) juridicidade – vincula o administrador aos limites da totalidade do ordenamento jurídico administrativo (lei, constituição e princípios jurídicos).
2- Princípio da Impessoalidade 
A atividade administrativa deve ser destinada a todos os administrados, dirigida a todos os cidadãos em geral, sem determinação de pessoa ou discriminação de qualquer natureza. 
Este princípio estabelece um dever de imparcialidade (igualdade) na defesa do interesse público, impedindo discriminações ou privilégios indevidamente dispensados a particulares no exercício da função pública. 
A impessoalidade, portanto, está ligada à noção de igualdade, de tratamento isonômico, pois o administrador não pode favorecer nem prejudicar aqueles que têm alguma relação jurídica com a Administração, seja no âmbito interno quer no externo. 
Discriminações somente são possíveis quando pertinentes, como é caso de exigência de altura mínima para o cargo de policial; não ter tatuagens aparentes para o exercício de determinados cargos, que violem valores constitucionais (racistas, nazistas etc). O STF, no RE 898.450, firmou tese: “Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais”; idade mínima e máxima para o exercício de determinadas funções (quando a natureza do cargo o exigir).
Há também relação desse princípio com a noção de finalidade pública (o interesse público). Para Hely Lopes Meirelles, o princípio da impessoalidade “nada mais é do que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal”.[2] Assim, ao agir visando a finalidade pública prevista na lei, a Administração Pública necessariamente imprime impessoalidade e objetividade na atuação, evitando tomar decisões baseadas em preferência pessoal ou sentimento de perseguição.
A impessoalidade possui outro aspecto. A atuação dos agentes públicos é imputada ao Estado, significando um agir impessoal da Administração. Assim, as realizações não devem ser atribuídas aos agentes públicos que os praticam, mas à pessoa jurídica a que os agentes se encontram vinculados. Trata-se da aplicação da Teoria do Órgão. A própria Constituição Federal dá um exemplo da aplicação deste princípio ao estabelecer a vedação de que constem nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos em publicidade de atos, programas, obras, serviços e campanhas de órgãos públicos. (art. 37, parágrafo 1º). 
3- Princípio da moralidade 
A moralidade tratada no caput, do artigo 37, é a moralidade administrativa. Referido princípio tem hoje status constitucional.
A moralidade administrativa não confunde com a moralidade comum, que é a distinção entre o bem o mal. A moralidade administrativa está intimamente ligada ao conceito de bom administrador, aquele que, usando de sua competência, determina-se não só pelos preceitos legais vigentes, propugnando pelo que for melhor e mais útil para o interesse público. 
Por essa razão, veda-se à Administração Pública qualquer comportamento que contrarie os princípios da lealdade, boa-fé, ética, probidade, decoro e honestidade. 
Assim, o Administrador não deve agir apenas e tão somente de acordo com a lei, mas também de acordo com a moral. A legislação brasileira prevê diversos instrumentos de proteção da moralidade administrativa. Merecem destaque: a Ação Popular; a Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa (Lei de Improbidade Administrativa – Lei 8.429/92); Controle exercido pelos Tribunais de Contas e as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). 
Exemplo: fere o princípio da moralidade a nomeação de cônjuge ou parente até o 3º grau para cargos ou funções de confiança (sem concurso público) ofende a moralidade administrativa (Súmula Vinculante n. 13 do STF). Exceção: nomeação para cargos de natureza política não é considerado nepotismo.
Improbidade administrativa: A improbidade administrativa é uma infração à moralidade administrativa. Probidade significa honestidade, integridade, retidão. A ausência de probidade é sancionada pela Constituição Federal (art. 37, § 4º) e pela Lei 8429/92, na qual há a figura de quatro espécies de atos ímprobos: que importam em enriquecimento ilícito; que causam danos ao erário; que afrontem aos princípios jurídico-administrativos; que concedem benefícios de ISS em contrariedade à lei que regra o tributo(artigos 9º, 10, 10-A e 11). As penalidades são várias: ressarcimento do dano, multa, suspensão dos direitos políticos, perda do cargo público, impossibilidade de contratação com o poder público.
4- Princípio da Publicidade 
Esse princípio torna obrigatória a divulgação oficial do agir administrativo. Todos os atos, contratos e outros instrumentos celebrados pela Administração direta e indireta, devem ser levados a conhecimento público para que possam surtir efeito. A publicidade da atuação administrativa é a regra, sendo excepcionada nos casos de sigilo previstos em lei. 
O próprio texto Constitucional definiu 3 exceções ao princípio da publicidade, autorizando o sigilo nos casos de risco para : a) segurança do Estado (art. 5º, XXXIII, da CF). Exemplo: informações militares; b) a segurança da sociedade ( art. 5º, XXXIII, da CF). Exemplo: sigilo das informações sobre o interior de usina nuclear para evitar atentados terroristas; c) a intimidade (art. 5º, X, da CF). Exemplo: processos administrativos disciplinares. 
Na Constituição Federal há disposições a respeito da abrangência do princípio da publicidade: 
Artigo 5º, inciso XIV: “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”; 
Artigo 5º, inciso XXXIII: “todos têm direito a receber dos órgãos públicos as informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado” 
 Artigo 5º, inciso LXXII: “conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.” 
A impetração do habeas data é cabível quando a informação for relativa ao próprio impetrante. Fora dessa hipótese a obtenção de informação sonegada pelo Estado pode ser viabilizada pela utilização de mandado de segurança individual e mandando de segurança coletivo.
Lei de acesso à informação: níveis de sigilo (art. 24 da Lei 12.527/2011)
Ultrassecreta: 25 anos
Secreta: 15 anos
Reservada: 5 anos
 5- Princípio da Eficiência
Este princípio foi acrescentado ao artigo 37, “caput”, da Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº 19, de 04-06-98. Foi um dos pilares da Reforma Administrativa que procurou implementar o modelo de administração pública gerencial voltada para um controle de resultados de atuação estatal. 
A eficiência deve existir tanto na estruturação dos órgãos administrativos, como também na atuação dos agentes públicos. 
Segundo Diógenes Gasparini, a Administração Pública direta e indireta deve realizar suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, além, por certo, de observar outras regras, a exemplo da legalidade. O desempenho com rapidez, significa que o mesmo deve ser oferecido de forma a satisfazer os interesses dos administrados em particular da coletividade em geral. 
As atribuições também devem ser executadas com perfeição, valendo-se das técnicas e conhecimentos necessários a tornar a execução a melhor possível, evitando sua repetição e reclamos por parte dos administrados. Por fim, tais competências devem ser praticadas com rendimento, isto é, com resultados positivos para o serviço público e satisfatório para o interesse da coletividade. Resultados positivos não significam lucros, embora, em alguns casos, possam existir. Deve-se com esse desempenho, rápido e perfeito, atingir um maior numero de beneficiados. Procura-se maximizar os resultados em toda e qualquer intervenção da alçada da Administração Pública.[3] 
O princípio da eficiência, portanto, está vinculado ao binômio qualidade e rapidez. Outro aspecto importante é a economicidade. A boa administração (eficiência) conduz à economia de recursos, que devem ser bem utilizados para atender às necessidades coletivas.
Entretanto, a Administração Pública está também sujeita a outros princípios, que, por sua natureza, interferem nesses dois aspectos da eficiência. Por exemplo: a legalidade não permite contratações sem que haja um processo de licitação, o que causa demora no início de prestações de serviços e fornecimento de bens; o devido processo legal impede, por exemplo, a realização sumária de demissões de servidores públicos, ainda que tenham cometido faltas graves, ou que sejam extremamente ineficientes. 
Princípios implícitos na Constituição ou decorrentes do regime jurídico-administrativo
Não estão expressos ou escritos na Constituição Federal, mas, nem por isso, são menos importantes. Estão presentes de forma implícita na Carta Política e, por isso, também são considerados princípios constitucionais.
1. Principio da presunção de legitimidade e veracidade – como são praticados exclusivamente com a finalidade de aplicação da lei, os atos administrativos beneficiam-se da legitimação democrática conferida pelo processo legislativo. Assim, os atos administrativos são protegidos por uma presunção relativa (júris tantum) de que foram praticados em conformidade com o ordenamento jurídico. Por isso, até prova em contrário, os atos administrativos são considerados válidos para o Direito, cabendo ao particular o ônus de provar eventual ilegalidade na sua prática. 
Legitimidade diz respeito ao respeito às formalidades das leis e dos atos administrativos dela derivados. Já a veracidade, refere-se à certeza quantos aos fatos que embasam os atos legais e administrativos, considerados, presumidamente verdadeiros.
Como se trata de presunção relativa, juris tantum, admite-se prova em contrário, que, todavia, não será ônus da Administração, mas do terceiro (geralmente o particular).
A consequência dessa presunção é que as decisões administrativas (ou atos administrativos) são de execução imediata e têm a possibilidade de criar obrigações aos particulares, mesmo sem sua concordância. Podem, em certas circunstâncias, serem executadas (as decisões) pela própria Administração, mediante meios diretos ou indiretos de coação.
2. Princípio da Especialidade: esse princípio é atinente à ideia de descentralização da Administração, com especialização de funções, através da criação de autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. Segundo nosso sistema constitucional, o Estado / Administração não realiza diretamente todas as atividades e serviços públicos, transferindo-os mediante lei aos entes da Administração indireta. Há, assim, uma especialização na atuação administrativa e prestação de serviços, cuja delimitação é estabelecida na lei que cria a entidade pública. Ex. INSS – cuida da previdência e da assistência social. 
3. Princípio do controle ou da tutela – para assegurar que as entidades da Administração Indireta observem o princípio da especialidade, cabe aos entes federativos (União, Estados, DF e Municípios) controlarem a atuação das autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, podendo fiscalizar e verificar se estão cumprindo as funções para as quais foram criadas. Esse controle ou tutela não retira a autonomia da entidade da Administração Indireta, sendo exercido nos estritos limites da lei. A regra é a autonomia da entidade descentralizada. A ingerência é a exceção.
4. Princípio da autotutela - a Administração Publica está obrigada a policiar o mérito (conveniência e oportunidade) e a legalidade dos atos administrativos que pratica. Cabe-lhe, assim, retirar do ordenamento jurídico os atos inconvenientes e inoportunos (por revogação) ou ilegais (por anulação). Essa orientação encontra apoio no enunciado n. 473 da Súmula do STF: “A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todosos casos, a apreciação judicial”.
 Em algumas situações, entretanto, a administração poderá proceder à ratificação (ou convalidação) de atos ilegais, especialmente quando a convalidação não acarretar lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros. Há casos em que a anulação é de todo inconveniente, seja para a própria Administração Pública quer também para a coletividade, sendo recomendável que haja a convalidação (Ex.: inviabilidade de retomada de área da prefeitura na qual foram construídas milhares de casas, formando-se um bairro populoso, há muitos anos; nesse caso é preferível convalidar do que anular).
A poder de anulação de atos ilegais decai no prazo de 5 anos, contados da data em que foram praticados, com ressalva das situações que fique comprovada a má-fé (art. 54 da Lei 9784/99). 
A administração está sujeita também à heterotutela, primeiramente pelo poder judiciário, a quem compete julgar a administração e anular atos administrativos ilegais e/ou inconstitucionais. 
Ao Poder legislativo, por sua vez, com o auxílio do Tribunal de Contas (CF, art. 71), cabe “fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta” (CF, art. 49, X). 
5. Princípio da Hierarquia: Esse princípio só existe relativamente no seio do exercício das funções administrativas, não quanto às funções jurisdicionais / legislativas, pois são manifestações da autonomia dos poderes. Do princípio da hierarquia decorre uma série de prerrogativas para a Administração: rever atos dos subordinados, delegar e avocar atribuições, punir; por outro lado, emerge o dever de obediência. 
A Administração está subordinada ao estabelecido nas súmulas vinculantes e, caso assim não proceda, poderá ser forçada por decisão do STF em reclamação (art. 103-A da CF).
6. Princípio da continuidade dos serviços públicos - estes não podem parar, porque não param os anseios da coletividade. Assim, os desejos dos administrados são contínuos. Daí, dizer que a atividade da Administração Pública é ininterrupta.
Desse princípio extraem-se as seguintes consequências jurídicas: 
Lei específica de greve, com limitação desse direito, para continuidade do serviço público. Enquanto não há lei de greve dos servidores, o STF determinou a aplicação da lei geral de greve da iniciativa privada (n. 7783/89), naquilo que for compatível.
Suplência, delegação e substituição dos servidores em suas ausências.
Fornecimento de bens e serviços por período de até 90 dias, sem recebimento da contrapartida.
Requisição pela Administração de bens móveis ou imóveis necessários à prestação de serviços
Encampação da concessão de serviço público que não esteja sendo prestado adequadamente.
7. Principio Finalidade: o Administrador, ao exercer suas competências, deve atuar em obediência à finalidade que lhe imposta. Num sentido amplo, os agentes públicos devem agir sempre com o intuito de atender ao interesse público, que a finalidade geral da administração pública. Em sentido estrito, deve o administrador atender à finalidade específica de comando normativo, que geralmente se encontra na lei a ser executada (cumprida). 
O administrador não pode se desviar da finalidade legal, sob pena de restar caracterizado o desvio de poder ou desvio de finalidade, gerando com isso nulidade do ato administrativo.
Alguns doutrinadores entendem que o princípio da finalidade está inserido no princípio da impessoalidade, pois, para que o administrador atenda à finalidade administrativa, deverá fazê-lo de forma impessoal ou imparcial. 
O desvio do poder ou abuso de poder pode ser sancionado, inclusive, pela via do mandado de segurança, conforme art. 5º, LXIX – “conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público”
8- Princípio da motivação – os atos administrativos precisam ser motivados. Devem ser mencionados para a prática de qualquer ato administrativo as razões de fato e de direito que levaram a Administração a proceder daquele modo. A motivação é necessária em todo e qualquer ato administrativo, consoante já decidiu o STF (RDP, 34: 141). 
Deve a Administração indicar as razões de fato e de direito em suas decisões, tanto em atos administrativos vinculados quanto discricionários.
Há exceção: os cargos e funções comissionadas são demissíveis “ad nutum”, ou seja, não há necessidade de motivação para que o servidor seja dispensado / exonerado. 
No âmbito federal, a Lei 9784/99, em seu art. 2º, parágrafo único, VII, exige “a indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão”. No mesmo sentido o art. 50 da referida Lei. 
Motivos determinantes: a Administração se vincula aos fundamentos (motivação) de suas decisões, de modo que, ausente os pressupostos fáticos ou jurídicos constantes, há de ser nulo ou anulável o correspondente ato administrativo. 
9- Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade - ser razoável / proporcional é uma exigência inerente ao exercício de qualquer função pública. Sob a vigência do Estado de Direito não se pode admitir a utilização de prerrogativas públicas sem moderação e racionalidade.
Afere-se a razoabilidade segundo o critério ou os “valores do homem médio” (Lúcia Valle Figueiredo – 2ª ed. Malheiros, 1995, p. 46). A razoabilidade não pertence ao subjetivismo do administrador, mas cuida-se de um conceito formado no bom senso e segundo padrões comumente aceitáveis na sociedade.
A razoabilidade é informadora dos limites de atuação da administração. Ao administrador público é concedido o poder discricionário para proceder às melhores escolhas das ações e dos meios para atingir os fins. Mas, caso essas escolhas não sejam razoáveis, podem ser embargadas perante o judiciário. O juiz não poderá apontar o que o administrador deverá fazer, mas poderá decidir que determinada postura está eivada de falta de razoabilidade. 
A doutrina tem entendido que a proporcionalidade é um das formas de manifestação da razoabilidade. Ou seja, a razoabilidade seria uma espécie de proporcionalidade ampla, que abarcaria outros subprincípios, dentre eles a proporcionalidade em sentido estrito. A razoabilidade (ou proporcionalidade ampla), por essa ótica, se subdivide em três subprincípios: 
- adequação (utilidade): a medida deve ser adequada ao fim almejado;
- necessidade (exigibilidade): o meio deve ser aquele que menos cause prejuízo aos administrados;
- proporcionalidade em sentido estrito: ao ser tomada uma decisão administrativa, as vantagens devem superar as desvantagens.
Ex. falta de razoabilidade / proporcionalidade: a exoneração de um servidor público que chegou uma vez com atraso ao trabalho.
10. Princípio da segurança jurídica, proteção à confiança e boa-fé: a segurança jurídica foi incluída na Lei de Processo Administrativo (9784/99) com o fim específico de vedar a aplicação retroativa de nova interpretação de lei no âmbito administrativo (art. 2º, XIII). 
Isso não quer dizer que a Administração não possa anular atos ilegais. O que a segurança jurídica limita é que, no futuro, haja a anulação de atos praticados sobre uma determinada orientação jurídica.
Proteção da confiança e boa-fé são manifestações da segurança jurídica. Proteção da confiança significa que os administrados se relacionam juridicamente com a Administração confiados que os atos que dela emanam são legais. 
A boa-fé tem sido levada em consideração nas diversas relações da Administração com os particulares. Tem um aspecto objetivo, que diz respeito à conduta leal e honesta; e um subjetivo, que significa à crença de um administrado no sentido de que ele está agindo corretamente.
Esses princípios têm sido utilizados: 
- a segurança jurídica, por exemplo, é fundamento para a manutenção ou convalidação de atos ilegais, quando o prejuízo da invalidação for maior do que o da ratificação. O interessepúblico norteará a decisão (se anula ou convalida).
- a manutenção de atos praticados por funcionário de fato: a investidura do servidor está irregular, mas, tendo a aparência de que estava regular gerou a confiança no administrado. Logo, os atos por ele praticados devem ser mantidos.
- fixação de prazos para anulação de atos: prazo decadencial de 5 anos para anulação, ressalvada a má-fé (art. 54 da Lei 9784/99). Os atos praticados de boa-fé, a contrario sensu, são prestigiados e não podem ser anulados após cinco anos.
- regulação da súmula vinculante: art. 4º da Lei 11.417/06, que regulamenta o art. 103-A da CF, estabelece que o STF pode restringir os efeitos da súmula vinculante ou modular seus efeitos, com fundamento na segurança jurídica (efeitos “ex nunc”).
 
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