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CAP. 31 SÍNDROMES ANSIOSAS E SÍNDROMES COM IMPORTANTE COMPONENTE DE ANSIEDADE Síndromes ansiosas “puras” ★ 2 grupos: ○ Ansiedade constante e permanente (ansiedade generalizada, livre e flutuante) ○ Crises de ansiedade abruptas (crises de pânico e/ou transtorno de pânico) ★ Critérios diagnósticos (CID-11 e DSM-5) ○ TAG: ansiedade, apreensão e preocupações excessivas, por pelo menos 6 meses, em diferentes atividades e eventos, de difícil controle, associadas a pelo menos mais três dos seguintes sintomas: ■ Inquietação ou sensação de estar “com os nervos à flor da pele” ■ Cansaço, fatigabilidade ■ Dificuldade de concentrar-se ■ Irritabilidade ■ Tensão muscular, dificuldade de relaxar ■ Alteração do sono - Ansiedade, preocupação ou sintomas físicos causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, pessoal e ocupacional do indivíduo ○ Ataque de pânico: crise de ansiedade, de intenso desconforto ou de sensação de medo que alcança, um pico em minutos, com pelo menos quatro dos seguintes critérios: ■ Palpitações ou taquicardia ■ Sensação de falta de ar, desconforto respiratório ■ Sensação de asfixia ou de estar sufocando ■ Suor de mãos, pés, face, geralmente frio ■ Medo de perder o controle ou enlouquecer ■ Medo de morrer, de ter um ataque cardíaco ■ Tremores ou abalos ■ Formigamentos ou anestesias nos dedos e nos lábios ■ Ondas de calor ou calafrios ■ Desrealização (sensação de que o ambiente familiar está estranho) ou despersonalização (sensação de estranheza quanto a si mesmo) ■ Tontura, instabilidade ■ Dor ou desconforto torácico ■ Náusea ou desconforto abdominal ○ Transtorno de pânico: ter ataques de pânico de forma repetitiva e inesperada. Pelo menos um dos ataques foi seguido por período mínimo de um mês com os seguintes critérios: ■ Preocupação persistente com a possibilidade de ter novos ataques ■ Preocupação com implicações ou consequências dos ataques, como perder o controle, enlouquecer ou ter um infarto ■ Alterações do comportamento relacionadas aos ataques (evitar aglomerações, evitar sair de casa) ■ Presença ou não de agorafobia (fobia de aglomerações e lugares amplos) associada ○ Transtorno de ansiedade de separação: medo e ansiedade relacionados a separar-se de pessoas significativas, percebidas como protetoras. Os sintomas devem durar muitos meses e ser suficientemente graves, prejudicando o desenvolvimento escolar, pessoal e social da criança, adolescente ou adulto. ■ Medo de que algo muito ruim ocorra ■ Dificuldade de dormir sozinho e/ou ter pesadelos relacionados à separação (em crianças) ○ Síndromes ansiosas de base orgânica: síndrome ansiosa resultante de doença física, uso de fármacos, substâncias ou outra condição orgânica. ■ Irritabilidade ■ Labilidade do humor Síndromes com importante componente de ansiedade (fobias e ansiedade social, dissociações, conversões, somatizações, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivos) ★ Transtornos fóbicos: medos intensos e irracionais, desproporcionais, desencadeados por situações, objetos ou animais que objetivamente não oferecem ao indivíduo perigo real e proporcional a intensidade de tal medo. ○ Agorafobia: medo e angústia relacionados a um conglomerado de pessoas em espaços amplos ou locais de onde possa ser difícil escapar. ○ Fobia simples ou específica: medo intenso, persistente, desproporcional e irracional de algo. A exposição ao objeto fobígeno deflagra um estado de angústia intenso, que pode chegar a uma crise de pânico. Indivíduos reconhecem o caráter irracional e desproporcional de seus medos. ○ Ansiedade social e fobia social: medo intenso e persistente de situações sociais que envolvam expor-se. Pessoas com fobia social têm com frequência TP evitativa. ★ Transtornos dissociativos: caracterizam-se por perda na continuidade da experiência subjetiva e perturbação da integração normal da consciência, memória, identidade, emoções, percepções, representação corporal, controle motor e/ou do comportamento. Ocorre em decorrência de traumas emocionais graves ou conflitos psíquicos. ○ Dissociação: perturbação, separação e isolamento de aspectos da mente e da personalidade. Pode ocorrer por meio de crises em que se perde parcialmente a consciência ou em episódios em que parte da memória é momentaneamente apagada. Pensamentos, desejos e experiências vividas, conflitantes com os valores do paciente, são isolados e suprimidos do campo da consciência e da memória. ■ Amnésia dissociativa: o indivíduo esquece elementos seletivos e significativos do ponto de vista psicológico. Pode ocorrer fuga dissociativa, na qual o indivíduo perambula sem rumo em estado parcialmente alterado da consciência. ■ Transtorno dissociativo de identidade: ruptura da identidade e presença de dois ou mais estados de personalidade distintos. Implica em marcante descontinuidade no senso de si mesmo, agência e domínio das próprias ações. Mudanças da personalidade são acompanhadas de alterações correlatas na sensopercepção, cognição, afeto, controle motor, memória e comportamentos. Há episódios de amnésia associados a tais dissociações. ■ Transtorno de despersonalização: estranhamento e sensação de irrealidade em relação ao próprio eu. Não deve apresentar sintomas psicóticos (delírios e/ou alucinações). ■ Transtorno de desrealização: perceber o mundo, pessoas e objetos conhecidos e familiares como se fossem irreais ou estranhos. Não deve apresentar sintomas psicóticos (delírios e/ou alucinações). ■ Transtorno do transe e transtorno do transe com possessão: alterações no estado de consciência e no senso de identidade pessoal. No transe com possessão, a consciência e identidade da pessoa é substituída por uma instância ou identidade externa possuidora. São involuntários e indesejados. ■ Crises histéricas (transtorno conversivo com ataques semelhantes a uma convulsão epiléptica): crises de curta duração, com turvação mais ou menos profunda da consciência, espasmos, tremores, abalos, hipertonia ou atonia muscular. São desencadeadas por situações estressantes. ★ Transtornos conversivos: um ou mais sintomas de alteração de função motora ou sensorial estão presentes. Sintomas devem causar sofrimento e/ou disfunção e não são explicados por causas neurológicas ou médicas somáticas. ○ Conversão: alterações das funções sensoriais ou das funções motoras, que lembram sintomas neurológicos, mas que são, na realidade, claramente distintos das condições neurológicas. Há conversão do conflito psíquico para o corpo. ■ No DSM-5, os transtornos conversivos são de: 1. Fraqueza ou paralisia 2. Movimentos anormais, como tremores, distonias, mioclonias, distúrbios da marcha 3. Dificuldades ou impossibilidade de deglutição 4. Alterações da fala, como afonia e disfonia, rouquidão ou fala arrastada 5. Ataques semelhantes a uma convulsão epiléptica 6. Anestesia ou perda sensorial 7. Sintomas mistos ★ Transtorno de estresse pós-traumático: se caracteriza por lembranças ou recordações vívidas (flashbacks) que invadem a consciência do indivíduo que passou por um trauma. Os seguintes sintomas duram semanas ou meses e causam grande sofrimento: ○ Emoções fortes e profundas ○ Ansiedade, medo, horror ○ Sensações físicas marcantes ○ Sensação de que se está imerso nas mesmas emoções do evento traumático ○ Estado de contínua sensação de ameaça ○ Hipervigilância ★ Transtorno obsessivo-compulsivo: ideias, fantasias, imagens obsessivas, atos, rituais ou comportamentos compulsivos vividos como uma pressão sobre o indivíduo, como algo que o obriga e a que se submete. ○ 2 subtipos: ■ Quadro obsessivo: ideias, pensamentos, fantasias ou imagens persistentes que surgem de forma recorrente na consciência. O indivíduo reconhece o caráter irracional e absurdo dos pensamentos. ■ Quadros compulsivos: predominam comportamentos e rituais repetitivos (podemse dar em forma de atos mentais, com o cumprimento de regras mágicas). Muitas vezes envolvem o pensamento mágico. CAP. 34 SÍNDROMES RELACIONADAS AO COMPORTAMENTO ALIMENTAR ★ O comportamento alimentar é um fenômeno humano complexo e de importância central nas sociedades humanas e na experiência subjetiva das pessoas. O comportamento alimentar reúne três dimensões básicas: ○ Dimensão fisiológico-nutritiva ○ Dimensão afetiva e relacional ○ Dimensão social e cultural ★ Transtornos alimentares ○ Anorexia nervosa: peso muito baixo devido à restrição de ingesta calórica em relação às necessidades, o que leva a perda de peso auto induzido. A perda de peso ocorre por abstenção ou comportamentos como vômito e/ou purgação auto induzida, exercício excessivo e uso de medicamentos anorexígenos e/ou laxantes. Há busca implacável pela magreza e medo intenso e mórbido de parecer ou ficar gordo. Percepção da autoimagem normalmente distorcida (distorção da imagem corporal). São comuns episódios de bulimia. ■ 2 subtipos: ● Restritivo: restrição de alimentos, com ou sem sintomas obsessivo-compulsivos ● Compulsão alimentar purgativa: evitação de alimentos calóricos e comportamentos ativos de perda de calorias (exercício físico, vômito, uso de laxantes etc) ○ Transtorno alimentar restritivo/evitativo: esquiva ou restrição graves na área da alimentação, produzidas pela aversão a alimentos. Causa perda de peso significativa e não está associada a preocupações corporais. ○ Bulimia nervosa: preocupação persistente com o comer e desejo irresistível de se alimentar, com episódios de hiperfagia (binge eating) e preocupação excessiva com o controle do peso corporal. Pacientes costumam negar os sintomas. ■ 4 níveis de gravidade: 1. Leve: 1 a 3 episódios por semana 2. Moderada: 4 a 7 episódios por semana 3. Grave: 8 a 13 episódios por semana 4. Extrema: 14+ episódios por semana ○ Transtorno de compulsão alimentar: episódios frequentes e recorrentes de comer compulsivamente, pelo menos uma vez por semana, por vários meses. O indivíduo tem a sensação de perda de controle e sofre muito. Não há comportamentos purgativos. ○ Transtorno pica: ingestão persistente e regular de substâncias não alimentares, durante o período mínimo de um mês. Variantes são a coprofagia e a potomania. ○ Transtorno de ruminação: comportamento repetido e intencional de regurgitar o alimento ingerido. Deve ocorrer com frequência, em geral, várias vezes por semana, durante pelo menos um mês. Não é explicado por causas físicas gastrointestinais.