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As culturas africanas tiveram grande influência na formação cultural brasileira e a diversidade de origem dos africanos escravizados no Brasil reflete diretamente a variedade de povos existentes na África. Durante o período colonial e imperial, povos de diferentes regiões da África como os bantus, nagôs, jejes, hauçás e malês foram escravizados e trazidos para o Brasil, onde tiveram sua cultura suprimida pelo colonizador. Com a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888, que aboliu a escravidão, os negros foram deixados à própria sorte e abandonados sem direitos iguais aos da população branca, não havendo nem reformas que os integrasse socialmente. Não houve uma orientação destinada a integrar os negros às novas regras de uma sociedade baseada no trabalho assalariado. Os negros libertos buscaram moradia em regiões precárias e afastadas dos bairros centrais das cidades. No Rio de Janeiro, houve uma grande reforma urbana em 1904, que expulsou as populações pobres para os morros. Grupos como a liga dos Homens de Cor, surgiram para articular a população negra na cobrança de seus direitos, no entanto, mesmo com esses esforços, a população negra continuou sofrendo com a desigualdade social. Além da abolição da escravidão, outra grande conquista para o movimento negro no Brasil foi o estabelecimento do dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, a escolha dessa data deu-se por ser a data do assassinato de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história brasileira, o Quilombo dos Palmares. O estabelecimento da data ocorreu para que haja discussão e conscientização social, em torno da condição das pessoas negras em nosso país, sobre o racismo, e para que a luta do povo negro e os terríveis anos de escravidão não sejam apagados de nossa história. A data foi estabelecida pela primeira vez, em 1978, pelo Movimento Negro Unificado, sendo oficialmente reconhecida pela Lei 10.639/03. Nesse dia, ONGs, setores organizados da sociedade, sindicatos, entidades ligadas ao movimento negro, instituições de ensino e parte da mídia promovem debates, seminários e programas com a temática racial em nosso país. Também foi um nome de grande importância o advogado, jornalista, escritor e abolicionista negro Luís Gama. A população negra tem uma grande contribuição histórica e cultural para a formação do povo brasileiro. A escravidão no Brasil, por quase quatrocentos anos, além de ter constituído a base da economia material da sociedade brasileira, influenciou também sua formação cultural. No século XX, o movimento negro contou com forte atuação de pessoas, como: o artista, escritor, político e ativista Abdias do Nascimento; e a Iyalorixá (mãe de santo, líder de terreiro de candomblé) Mãe Menininha do Gantois, que defendeu o culto do candomblé e conquistou a admiração de artistas que deram mais visibilidade à importância de preservar-se as religiões de matriz africana. Outras personalidades importantes para a luta do movimento negro são: a empregada doméstica e ativista pelos direitos das empregadas e dos negros Laudelina de Campos Melo; o geógrafo e professor Milton Santos; o antropólogo e professor congolês naturalizado no Brasil Kabengele Munanga; o professor José Vicente; e, mais recentemente, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro e a socióloga, ativista e política Marielle Franco. Marielle ficou conhecida por sua atuação em defesa dos direitos humanos, da população negra e das mulheres. Desde 2016, ela vinha denunciando o projeto de intervenção de tropas federais nas favelas do Rio de Janeiro para a redução da criminalidade, o que para Marielle estava acarretando na morte de jovens negros na cidade. Além disso, a então vereadora denunciava a atuação de milícias nas comunidades cariocas. Marielle foi assassinada em 14 de março de 2018, ao que a investigação policial indica, por uma milícia carioca. Com tantas personalidades engajadas na luta, vieram também muitas conquistas. Apesar de não haver um sistema de segregação em nosso país, o racismo mantém uma segregação social de modo velado, o que resulta na exclusão da população negra do acesso aos melhores empregos, em maiores dificuldades para estudar, em menor expectativa de vida etc. Por isso, a atuação de movimentos, como o Movimento Negro Unificado, é importante em nosso país. Como resultado da atuação de tais movimentos temos, por exemplo, a Lei 12.711/12 e a Lei 12.990/14, popularmente conhecidas como Leis de Cotas. A primeira prevê a reserva de 50% das vagas em cursos de universidades e institutos federais para estudantes de escola pública e estudantes que se autodeclarem pretos, pardos ou indígenas. A segunda prevê a reserva de 20% das vagas ofertadas em editais de concursos públicos federais para pretos, pardos e indígenas. Também foi sancionada a Lei 7.716/89, popularmente conhecida como Lei Caó, que prevê detenção de um a cinco anos para crime de discriminação racial. Essa lei veda a recusa ao acesso a estabelecimentos públicos ou privados, o impedimento de acesso aos transportes públicos, a recusa à matrícula em instituições de ensino, ofensas, agressões e tratamento desigual por motivação racial; também veda a confecção e publicação da cruz suástica para a promoção do nazismo, bem como a propagação de ideias nazistas. Como surgiu o Movimento Negro Unificado (MNU)? Em 18 de junho de 1978, o feirante Robson Silveira da Luz foi acusado de roubar frutas na feira onde trabalhava. O homem negro de 27 anos foi levado para a 44º Delegacia de Polícia de Guaianazes, na Zona Leste de São Paulo. Lá o rapaz foi torturado e morto. Em 7 de julho de 1978, um ato contra a morte de Robson reuniu duas mil pessoas na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo. Aquele era o momento de nascimento do MNU. A partir do ato, vários representantes de movimentos que lutavam pela igualdade racial uniram-se para tornarem-se uma única entidade, mais forte e coesa. Como conquistas do MNU, além da proclamação do dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, há a proibição da discriminação racial na Constituição Federal de 1988 e a criação da Lei Caó, de 1989, que tipifica o crime de racismo no código penal. Em sala de aula, todas as informações anteriores podem ser utilizadas para ensinar os alunos sobre a importância da população negra na formação da sociedade brasileira. Inclusive podem ser realizadas atividades que destaquem as contribuições culturais e históricas dos negros no Brasil. Além disso, é importante ressaltar a discussão sobre as desigualdades raciais e o racismo estrutural, promovendo uma conscientização sobre a importância da igualdade racial. Estimular o conhecimento e o diálogo, pode contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. Com o intuito de tornar o assunto mais atrativo, dinâmico e transformador para a educação em sala de aula, seguem algumas sugestões: 1. Compartilhar histórias sobre indivíduos negros que superaram adversidades e contribuíram para sociedade, fazendo com que os alunos entendam o impacto das contribuições da população negra na sociedade. 2. Atividades interativas que permitam os alunos explorar a cultura negra, aprendendo sobre danças, pratos tradicionais africanos ou a criação de artes inspiradas na mãe África. 3. Promover discussões em sala de aula sobres questões raciais e sociais, auxiliando os alunos a desenvolverem uma compreensão mais profunda sobre essas questões e aprender a respeitá-las. 4. Incentivar os alunos a realizarem projetos de pesquisa sobre diferentes aspectos da história e da cultura negra, desenvolvendo habilidades de pesquisa e escrita, além de aprimorarem o conhecimento sobre o assunto. 5. Convidar líderes ou especialistas negros para palestrar sobre datas comemorativas para a população negra. 6. Os alunos devem expressar e valorizar a cultura negra por meio de diferentes linguagens artísticas como a música, a dança, a poesia, o teatro, o cinema, a pintura e etc. Os alunos devem escolher uma linguagem artística para apresentar uma obra que represente algum aspecto da culturanegra, como o samba, o maracatu, o rap, a capoeira, o candomblé, a literatura afro-brasileira, o cinema negro, a arte afro-brasileira, entre outros. Os alunos devem apresentar suas obras para os colegas e para a comunidade escolar, explicando o significado e a origem da sua escolha. 7. Os alunos devem pesquisar sobre personalidades negras que se destacaram na história e na cultura brasileira, como Zumbi dos Palmares, Machado de Assis, Carolina Maria de Jesus, Abdias do Nascimento, Milton Santos, Lélia Gonzalez, Gilberto Gil, Elza Soares, entre outros. Os alunos devem escolher uma personalidade para produzir um cartaz que contenha uma breve biografia, uma imagem e uma frase que represente sua importância. Os cartazes devem ser expostos na sala de aula ou em outro espaço da escola. 8. Os alunos devem analisar os dados estatísticos, os mapas e os gráficos apresentados pelo IBGE sobre a população negra no Brasil. Os alunos devem observar as informações e compará-las com outras fontes de dados, como o Censo Escolar ou o Atlas da Violência. Os alunos devem identificar as principais características e desafios da população negra no Brasil, como a distribuição geográfica, a composição étnica, a escolaridade, a renda, a saúde, a violência, entre outros. Os alunos devem discutir em grupo ou em plenária as causas e as consequências das desigualdades raciais no Brasil, bem como as possíveis soluções e políticas públicas para enfrentá-las. Ao incorporar essas estratégias em sala de aula, podemos ajudar os alunos a apreciar as contribuições da população negra para a sociedade e promover uma maior compreensão e respeito pela diversidade cultural, bem como estimular o pensamento crítico e a consciência cidadã dos alunos sobre as questões raciais no Brasil. Bibliografia: PORFíRIO, Francisco. "Movimento negro"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/dia-consciencia-negra-heroi-chamado-zumbi.htm. Acesso em 10 de agosto de 2025.