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Crimes ambientais em espécie Você vai conhecer os aspectos gerais da norma penal ambiental e os elementos dos crimes ambientais em espécie. Profa. Gisele Bonatti 1. Itens iniciais Propósito Atualmente, a busca por profissionais com conhecimento aprofundado em matéria ambiental está cada vez maior no mercado de trabalho, de modo que é de extrema importância o conhecimento dos crimes ambientais em espécie, tanto para atuação na prevenção de danos ambientais como para a repressão após consumado. Preparação Antes de iniciar os estudos, tenha em mãos a Lei nº 9.605/98. Objetivos Analisar as principais características e os aspectos relevantes dos delitos ambientais. Identificar os crimes contra fauna e flora estabelecidos na Lei nº 9.605/98. Analisar os principais aspectos dos crimes contra ordenamento urbano e patrimônio cultural, crimes contra administração pública e os crimes de poluição e outros. Introdução A Lei nº 9.605/98, conhecida como Lei de crimes ambientais, é uma das principais normas que regulam a proteção do meio ambiente em nosso ordenamento jurídico brasileiro. No presente estudo, analisaremos os crimes ambientais em espécie, os quais se dividem em cinco tipos previstos entre os artigos 29 e 69 da Lei nº 9.605/98, que são: crimes contra fauna; crimes contra a flora; crimes contra o ordenamento público e patrimônio cultural; crimes contra a administração pública ambiental; e crime de poluição e outros. Para compreender melhor a estrutura dos delitos ambientais, iniciaremos expondo de forma breve o contexto em que a Lei de Crimes Ambientais surgiu em nosso ordenamento jurídico, em seguida, o meio ambiente como objeto de tutela penal e, por fim, as principais características dos crimes ambientais (norma penal em branco e delito de perigo concreto ou abstrato). Feito isso, analisaremos todos os crimes ambientais em espécie previstos na Lei nº 9.605/98, destacando os pontos mais importantes sobre cada um deles. • • • Ulrich Beck. 1. Aspectos gerais dos crimes ambientais Sociedade de risco e os crimes ambientais Neste vídeo, apresentamos uma introdução sobre a sociedade de risco e a evolução na tutela penal ambiental. Confira! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Desenvolvimento da tutela penal ambiental A atual sociedade possui demandas diferentes das sociedades do século anterior. As transformações ocorridas desde a Revolução Industrial, do século XVIII ao XXI, como a globalização, o desenvolvimento industrial e tecnológico e a crise ambiental, refletem-se no direito. O Estado deve se adequar a essa nova realidade, adaptando a legislação aos anseios sociais. Houve um entusiasmo muito grande com o desenvolvimento industrial e tecnológico. Afinal, não podemos negar que tais avanços trouxeram muitos benefícios para a sociedade. Mas, será que esse avanço e desenvolvimento tecnológico somente trouxeram coisas boas para as nossas vidas? Conforme o sociólogo Ulrich Beck afirma em sua obra Sociedade de Risco, apesar de todos os benefícios, tal desenvolvimento também gerou riscos, entendendo risco como a possível destruição da vida na Terra. Os fenômenos da sociedade de risco, como terrorismo, crise ambiental, crimes cibernéticos, entre outros, que colocam em risco o interesse coletivo, levaram o Estado a adaptar a política- criminal contemporânea, dando respostas a tais problemas sociais complexos, tornando o direito penal moderno prima ratio. Assim, a característica do direito penal moderno é a demanda da sociedade por criminalização de condutas, como instrumento de solução de conflitos. Nesse sentido, se antes o direito penal atuava sob o viés retributivo/punitivo, ou seja, sobre o injusto ocorrido, agia depois dos acontecimentos, hoje a sua tutela é preventiva, sendo instrumento de resposta aos medos e angústias sociais, aos riscos e perigos produzidos por determinados setores da sociedade, isto é, criminaliza situações antes do dano ocorrer. Nos termos de Hassemer: O Direito penal, a partir de agora, não quer mais ser uma resposta adequada a um injusto pretérito, e sim um instrumento para controlar o futuro. (Hassemer, 2008, p. 255) Ainda que sejam feitos questionamentos referentes à proporcionalidade em tipificar condutas de perigo (condutas que não tenham resultado em dano ambiental), considerando o meio ambiente saudável como condição para a sadia qualidade de vida, a tipificação de condutas de perigo (concreto ou abstrato) é aplicada para proteger esse bem ambiental tão importante. Devemos sempre lembrar: uma vez ocorrido o dano ambiental, é improvável que haja recuperação, reparação que o permita voltar ao estado anterior. Exemplo Pense no rompimento da barragem de uma mineradora. Toda a área contaminada com os rejeitos da atividade dificilmente será recuperada ou serão necessárias décadas para a sua descontaminação. É no contexto da sociedade de risco que a tutela penal ambiental é desenvolvida. O legislador passa a prever, tanto no texto constitucional como em normas infraconstitucionais, a proteção do bem jurídico ambiental, sendo o maior objetivo a prevenção de danos. Por tais razões, ao analisarmos os crimes ambientais em espécie, notaremos que muitos serão condutas de perigo concreto ou abstrato, não sendo necessário o resultado naturalístico do delito para ser considerado consumado. Principais legislações de crimes ambientais Neste vídeo, abordamos a proteção constitucional ao meio ambiente. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O mandamento constitucional de criminalização e a Lei nº 9.605/98 Os crimes ambientais em espécie estão previstos em diversas leis ambientais, sendo a principal, a Lei nº 9.605 de 1998, conhecida como a Lei de Crimes Ambientais, a qual foi promulgada com o objetivo de assegurar o cumprimento do disposto no artigo 225 da Constituição Federal de 1988 (CF/88), considerado a pedra angular da proteção ambiental em nosso ordenamento jurídico. O artigo 225, caput da CF/88, estabelece: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê- lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. É importante entendermos o caput do artigo supracitado, pois serve como vetor para interpretarmos o § 3º do mesmo artigo, o qual analisaremos em seguida. Interessante destacar que o dispositivo, além de deixar claro que o equilíbrio ecológico é direito de todos, sendo essencial à qualidade de vida, também impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Legislação ambiental. A partir dessa imposição, o legislador estabelece que órgãos da Administração Pública e do Poder Judiciário fiscalizem, sancionem, punam, aqueles que estiverem atuando em desconformidade com a lei ambiental, gerando riscos ou danos ao meio ambiente. Desta forma, o legislador constituinte estabeleceu no § 3º do artigo 225, a tríplice responsabilidade ambiental: civil, administrativa e penal, que dispõe o seguinte: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Como podemos perceber, o nosso legislador não se limitou a fazer uma declaração formal da tutela ambiental, mas deixou expressas medidas coercitivas, inclusive de cunho penal, aos transgressores do mandamento constitucional, incluindo de forma inédita a responsabilidade da pessoa jurídica. Atendendo ao comando constitucional, o legislador instituiu a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98). Devemos atentar para as seguintes observações: A Lei nº 9.605/98 não é a única que dispõe sobre crimes ambientais. Apesar de essa lei ser a mais conhecida – e de fato ser a mais importante e estudada sobre o tema de crimes ambientais –, existem outras leis(exibição, entrega, envio de e-mail). Cabe a modalidade culposa sendo a pena de detenção, de 1 a 3 anos. Há o aumento de pena se houver dano ambiental significativo em decorrência da informação falsa, incompleta ou enganosa. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Comentário Apesar de o STJ entender ser possível, excepcionalmente, a aplicação do princípio da insignificância em determinadas situações em que ocorre crime ambiental, quando se tratar de crime contra a Administração Ambiental, o entendimento é pela não aplicação. Verificando o aprendizado Questão 1 O art. 54 da Lei nº 9.605/1998 tipifica o crime de poluição ambiental, tendo como intenção coibir a poluição de qualquer natureza, em níveis que, de fato, representem risco ou efetivo danos à saúde humana ou, ainda, provoquem a morte de animais ou destruam a flora de forma significativa. De acordo com esse artigo, podemos dizer que A o crime se caracteriza quando o agente causa ou produz poluição de qualquer natureza que venha a provocar destruição de qualquer parcela da flora. B se o crime causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade, a pena máxima de reclusão é aumentada para quatro anos. C o crime não se caracteriza quando o agente causa ou produz poluição de qualquer natureza que apenas resulte a mortandade de animais. D se o crime causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade, a pena máxima de reclusão é reduzida de um a dois terços. E o crime se caracteriza quando o agente causa ou produz poluição atmosférica em níveis que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana. A alternativa E está correta. De acordo com o artigo 54 da Lei nº 9.605/98, será crime ambiental se o nível de contaminação for suficiente para provocar danos significativo à flora ou morte de animais, ou ainda, danos à saúde humana. Dessa forma, não é qualquer nível de poluição, mas deve estar acima do nível permitido. Além disso, em relação à flora, não é qualquer dano à flora, mas um dano significativo. Será hipótese de aumento de pena quando a poluição hídrica causada torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade, sendo a pena de reclusão de um a cinco anos. Questão 2 De acordo com o artigo 65 a Lei nº 9.605/98, podemos afirmar que a prática do grafite A não constitui crime por se tratar de manifestação artística, com possível valorização patrimonial. B constitui crime com atenuante diminuição de pena, caso tenha sido avaliado por órgão competente a respectiva valorização do imóvel. C constitui crime com atenuante diminuição de pena, caso tenha tido a anuência do proprietário do imóvel. D não constitui crime desde que vise valorizar o patrimônio, mediante manifestação artística e com aquiescência do proprietário, do locatário ou arrendatário. E quando se tratar de grafite em patrimônio público, pois sempre será crime ambiental. A alternativa D está correta. De acordo com o artigo 65, § 2º da Lei nº 9.605/98, não constitui crime a prática de grafite com intuito de valorizar o patrimônio público ou privado, desde que tenha a autorização do proprietário, locatário ou arrendatário do bem privado ou, no caso de bem público, autorização do órgão competente. 4. Conclusão Considerações finais Os crimes ambientais em espécie estão previstos nos artigos 29 a 69 da Lei nº 9.605/98. Atendendo ao princípio da prevenção do direito ambiental, atuam principalmente sob o viés preventivo, apresentando, em diversos dispositivos da lei, delitos de perigo concreto ou abstrato, podendo ser observada claramente a antecipação da tutela penal, sendo aplicada na fase de risco, que precede a possível consumação do dano ambiental. Além disso, o meio ambiente possui caráter complexo e dinâmico, o que leva o conteúdo do tipo penal ser complementado por outra norma (de mesma natureza ou não), o que chamamos de norma penal em branco. Reiteramos que a Lei de Crimes Ambientais não apenas tutela os recursos naturais, como também protege bens de natureza urbana e cultural. Por último, ressaltamos que o princípio da insignificância, de acordo com a doutrina majoritária e os tribunais superiores, não deve ser aplicado em casos que envolvam delitos ambientais. Com isso, concluímos a nossa análise sobre os crimes ambientais em espécie. Explore + Para conhecer melhor a sociedade de risco, delitos cumulativos e proteção do meio ambiente, sugerimos a leitura do livro Delitos cumulativos e a tutela ambiental, de Sérgio Hiane Harris, publicado em 2016. Referências GOMES, L. F.; MACIEL, S. Lei de crimes ambientais: comentários à Lei 9.605/1998. São Paulo: Método, 2015. MARCÃO, R. Crimes ambientais: anotações e interpretação jurisprudencial da parte criminal da Lei n. 9.605, de 12/02/1998. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. PRADO, L. R. Direito Penal do ambiente. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. Crimes ambientais em espécie 1. Itens iniciais Propósito Preparação Objetivos Introdução 1. Aspectos gerais dos crimes ambientais Sociedade de risco e os crimes ambientais Conteúdo interativo Desenvolvimento da tutela penal ambiental Exemplo Principais legislações de crimes ambientais Conteúdo interativo O mandamento constitucional de criminalização e a Lei nº 9.605/98 O meio ambiente como bem jurídico penal Conteúdo interativo O que seria o bem jurídico-penal ambiental? Exemplo Características dos crimes ambientais Conteúdo interativo Norma penal em branco Exemplo Delitos de perigo concreto e abstrato Uma pessoa precisa efetivamente retirar a areia do fundo do rio para ser considerado crime? Princípio da insignificância e o delito cumulativo Conteúdo interativo O princípio da insignificância nos crimes ambientais Exemplo Verificando o aprendizado 2. Crimes contra fauna e flora Crimes contra a fauna I (artigos 29 – 32) Conteúdo interativo Principais características Artigo 29 Comentário Extinção da punibilidade Causas de aumento de pena Artigo 30 Artigo 31 Artigo 32 Atenção Crimes contra a fauna II (artigos 33 – 37) Conteúdo interativo Outros tipos penais Artigo 33 Artigo 34 Artigo 35 Artigo 36 Artigo 37 Crimes contra a flora I (artigos 38- 41) Conteúdo interativo Peculiaridades Artigo 38 Atenção Artigo 39 Artigo 40 Artigo 41 Atenção Crimes contra a flora II (artigos 42-48) Conteúdo interativo Quais hipóteses para sua ocorrência? Artigo 42 Exemplo Artigo 44 Artigo 45 Artigo 46 Artigo 48 Exemplo Crimes contra a flora III (artigos 49 – 53) Conteúdo interativo Proteção de plantas ornamentais em espaço público ou privada Artigo 49 Artigo 50 Artigo 50-A Atenção Artigo 51 Artigo 52 Artigo 53 Verificando o aprendizado 3. Outros crimes ambientais Crime de poluição (artigo 54) Conteúdo interativo Conceituação e características Atenção Exemplo Crime de poluição e outros (artigo 55 - 61) Conteúdo interativo Como caracterizam-se? Artigo 55 Artigo 56 Artigo 58 Dano irreversível Lesão corporal Morte de outrem Artigo 60 Exemplo Artigo 61 Contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural (artigos 62 - 65) Conteúdo interativo Principais elementos Artigo 62 Destruição Inutilização Deterioração Artigo 63 Exemplo Artigo 64 Artigo 65 Atenção Contra a Administração Ambiental (artigos 66 - 69) Conteúdo interativo Aspectos gerais Artigo 66 Exemplo Artigo 67 Exemplo Artigo 68 Artigo 69 Exemplo Artigo 69-A Comentário Verificando o aprendizado 4. Conclusão Considerações finais Explore + Referênciasque tratam de alguns crimes ambientais específicos, como: Lei nº 6.766/1979 (Parcelamento do solo, arts. 50, 51 e 52) Lei nº 7.643/1987 (cetáceos, art. 2º) Lei nº 7.802/1989 (Agrotóxicos, arts.14,15 e 16) Lei nº 11.105/2005 (Biossegurança, arts. 24,25,26,27, 28 e 29) Apesar de a Lei nº 9.605/98 ser conhecida como Lei de Crimes Ambientais, trata-se de uma lei interdisciplinar que dispõe de sanções cíveis (art. 4º – Desconsideração da personalidade jurídica), administrativas (art. 70 e seguintes, art. 25 e outros) e, majoritariamente penais. Portanto, pelo fato de o equilíbrio ambiental ser muito importante à sadia qualidade de vida e estar relacionado com a dignidade da pessoa humana, o legislador constituinte estabeleceu, no artigo 225 da CF/ 88, o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Dessa forma, aquele que praticar condutas que coloquem em risco ou provoquem dano ambiental poderá ser responsabilizado nas três esferas: civil, administrativa e penal. Em cumprimento a esse mando constitucional, o legislador ordinário instituiu a Lei de Crimes Ambientais – nº 9.605/98. Apesar de não ser a única lei que disciplina os crimes ambientais em espécie, é a mais importante e, por isso, será o objeto principal do nosso estudo. O meio ambiente como bem jurídico penal Neste vídeo, explicamos o bem jurídico ambiental, sua abrangência e qual o objetivo do legislador ao tutelá-lo. Assista para entender! • • • • Muro pichado. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O que seria o bem jurídico-penal ambiental? O conceito de meio ambiente, tanto pela doutrina majoritária como para a jurisprudência, envolve fatores naturais, culturais e artificiais. Há quem entenda que o bem jurídico-penal é restrito aos recursos naturais relacionados à qualidade de vida do homem, sendo estes: ar, água, solo, fauna e flora (Prado, 2016, p. 218). Podemos constatar que o legislador infraconstitucional seguiu o conceito da doutrina majoritária, prevendo na Lei nº 9.605/98, crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural, nos artigos 62, 63, 64 e 65. Exemplo de crime contra o ordenamento urbano: uma pessoa picha o muro da casa de alguém. Essa conduta é considerada crime ambiental, de acordo com o artigo 65. Feita essa delimitação da abrangência do bem jurídico-penal ambiental, esclarecemos que o objetivo do legislador é proteger o equilíbrio do meio ambiente, seja ele natural, artificial ou cultural, permitindo condições dignas para a vida humana e seu desenvolvimento. Esse é o substrato do bem jurídico-penal ambiental. Desse modo, o objeto da tutela penal pode ser a proteção de um animal selvagem, a destruição de uma floresta, a contaminação da água fluvial, parcela do solo, atmosfera, ou até mesmo o patrimônio cultural e artificial. Antes de concluir, é importante dizer que, na Lei nº 9.605/98, também encontramos espécies de crimes ambientais relacionados à administração pública, isto é, o bem jurídico tutelado (aquele que se quer preservar) não é apenas o meio ambiente. Neste caso, também é a administração pública ambiental. Exemplo O funcionário público que concede licença ambiental em desacordo com as normas ambientais incorrerá no crime previsto no artigo 67. O que se pretende proteger com a Lei nº 9.605/98 é a administração pública, a moral, a probidade administrativa, ou seja, que o servidor público faça o seu trabalho da melhor maneira possível, respeitando a lei. Obviamente, o agente público, cumprindo a norma, protegerá não só a “moral” da administração pública, mas também o meio ambiente. Portanto, o equilíbrio ambiental, por ser essencial à qualidade de vida, é o que o torna bem jurídico merecedor de tutela penal. O rompimento ou o risco a romper a harmonia entre o equilíbrio ambiental e o desenvolvimento humano é o que caracteriza o delito ambiental, sendo abrigada pela norma constitucional a sanção penal às condutas que gerem lesão ou ameaça ao meio ambiente. Características dos crimes ambientais Neste vídeo, falamos sobre muitos crimes ambientais serem normas penais em branco e caracterizarem crimes de perigo concreto ou abstrato. Desmatamento de floresta tropical. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Norma penal em branco Muitos crimes ambientais são normas penais em branco. Mas o que isso significa? A chamada norma penal em branco é aquela que depende de uma complementação por outras normas para a perfeita adequação típica. A pena está determinada, faltando apenas a complementação de seu conteúdo. Existem dois tipos: De natureza homogênea De natureza heterogênea A norma penal em branco homogênea é aquela cuja complementação advém de um dispositivo legal que tem a mesma natureza jurídica e fonte legisladora. Por exemplo, uma lei federal que é complementada pelo disposto de outra lei federal. Vamos pensar no seguinte exemplo: de acordo com o artigo 38 da Lei nº 9.605/98, é crime ambiental destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente. O significado de floresta de preservação permanente está na Lei nº 12.651/2012, do Código Florestal. Ambas as normas são leis federais. Por outro lado, na norma penal de natureza heterogênea, o complemento provém de outra fonte legislativa, como os atos administrativos de órgãos ambientais (como o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama). Essa norma administrativa, com frequência, faz parte da estrutura dos crimes ambientais em espécie. Exemplo O artigo 29, § 4º, inciso I, da Lei nº 9.605/98, dispõe que matar, perseguir espécimes da fauna silvestre consideradas raras ou ameaçadas de extinção, além de ser crime, é hipótese de aumento de pena. Mas, o que seriam espécies raras ou ameaçadas de extinção? Como a lei não estabelece, essa norma precisará ser complementada por ato normativo administrativo que defina quais são tais espécies. Diante da complexidade da matéria ambiental, seria extremamente difícil para o legislador estabelecer todas as circunstâncias, características contidas em cada tipo penal ambiental. Inclusive porque, a cada dia, a ciência descobre um fato novo relevante, o que torna o objeto de tutela altamente dinâmico e que não acompanha o ritmo do legislador, mas sim dos órgãos administrativos que podem atualizar as suas resoluções com muito mais facilidade. Delitos de perigo concreto e abstrato Como vimos, o principal objetivo da norma penal ambiental é a prevenção, isto é, evitar que danos ambientais ocorram. Por essa razão, em determinadas hipóteses, haverá uma antecipação de tutela penal para incriminar 1. 2. Trabalhadores em serraria. a fase de risco, isto é, o legislador considerará como delito condutas que possam gerar risco considerável ao equilíbrio ambiental, sem a necessidade de comprovação do dano consumado. Existem dois tipos constituídos por crime de perigo: Delito de perigo concreto Delito de perigo abstrato No delito de perigo concreto, é exigida a demonstração que o bem jurídico tenha sido posto em perigo real. Por exemplo, o artigo 55 da Lei nº 9.605/98 estabelece que é crime extrair minério sem a devida licença do órgão ambiental. Uma pessoa precisa efetivamente retirar a areia do fundo do rio para ser considerado crime? Não. Se essa pessoa estava com o maquinário funcionando próximo ao rio e sem licença ambiental, independentemente de ter extraído a areia, ela cometeu crime ambiental. Trata-se de hipótese de crime de perigo concreto. Lembrando que, no perigo concreto, exige-se a constatação de um perigo real ao bem jurídico tutelado. Nos delitos de perigo abstrato, o comportamento se tipifica em atenção à sua periculosidade geral para o bem jurídico, baseada em dados da experiência comum. Ou seja, a consumação do crime de perigo abstrato ocorre com a prática da conduta prevista no tipo penal, estando afastada qualquer exigênciade comprovação da produção do perigo real. Por exemplo, fiscais de um órgão ambiental visitam uma serraria que acabara de inaugurar. Nela, havia o maquinário funcionando e os funcionários trabalhando. Os fiscais exigiram do responsável da serraria a apresentação da licença ambiental. O responsável disse que não possuía ainda a licença, pois nem havia madeira no estabelecimento. Os fiscais fazem um relatório certificando a falta de licença, o que é prova suficiente para o Ministério Público oferecer denúncia por crime ambiental previsto no artigo 60 da Lei nº 9.605/98. Portanto, nos delitos de perigo, o que se pune não é a lesão (porque ainda não existe), mas sim a conduta que é considerada um risco para o meio ambiente. Princípio da insignificância e o delito cumulativo Neste vídeo, analisamos se o princípio da insignificância se aplica aos crimes ambientais, assim como a jurisprudência sobre o assunto. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O princípio da insignificância nos crimes ambientais O princípio da insignificância, também conhecido como princípio da bagatela, pode ser aplicado em determinadas situações para excluir a tipicidade penal de uma conduta, que, embora formalmente se enquadre na definição legal de um crime, do ponto de vista penal, é considerada insignificante. 1. 2. Pescador descarregando rede de camarões. Segundo o STF, este princípio poderá incidir quando presentes as seguintes condições: Inexpressividade da lesão Nenhuma periculosidade social da ação Mínima ofensividade da conduta do agente Grau reduzido de reprovabilidade do comportamento Será que o princípio da insignificância pode ser aplicado aos crimes ambientais? A doutrina majoritária defende que esse princípio não deve ser aplicado aos crimes ambientais, pois o meio ambiente é um bem difuso, com titulares indetermináveis, ou seja, pertence a todos, às gerações presentes e futuras. Além disso, o equilíbrio ambiental é condição para a sadia qualidade de vida e dignidade humana. Por fim, é muito difícil mensurar se um dano ambiental é ou não totalmente insignificante. Em 2012, o STF aplicou o princípio da insignificância no caso conhecido como “O pescador e os doze camarões” (HC 112563 DF). Trata-se do pescador que foi preso por ter sido flagrado com doze camarões e rede de pesca que não atendia aos padrões estabelecidos pela Portaria 84/02, do IBAMA. Neste caso, o pescador teria praticado a conduta prevista no artigo 34, parágrafo único, II, da Lei nº 9.605/98. Entretanto, o STF aplicou o princípio da insignificância, pelas circunstâncias que foi praticada tal conduta, e o réu foi absolvido por atipicidade do comportamento. Apesar de o STF ter aplicado o princípio da insignificância no caso citado, e em outras situações semelhantes, as decisões mais recentes mostram uma negativa na aplicação desse princípio. Ilustramos com a seguinte decisão: CRIME AMBIENTAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. AUSÊNCIA DE TERATOLOGIA, ABUSO DE PODER OU ILEGALIDADE FLAGRANTE. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. Para além de observar que o paciente foi condenado no regime aberto, com substituição da pena, não verifico ilegalidade flagrante ou abuso de poder que autorize a imediata aplicação do princípio da insignificância penal. Seja porque o paciente já foi processado criminalmente pelo mesmo tipo de infração penal, seja pelo grau de reprovabilidade da conduta, praticada “em local de proteção ambiental com a utilização de petrechos proibidos, no caso, arrasto motorizado, tendo em vista o risco que esta conduta representa para todo o ecossistema aquático, independentemente da quantidade de espécimes efetivamente apreendidas ou não”. Precedente. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF – AgRg no HC 187.642 – 1ª Turma – 2020) (grifos nossos). Repare que, neste caso, o STF não levou em consideração a quantidade apreendida, que era mínima, mas sim o risco que aquela conduta representa para o equilíbrio do ecossistema aquático. No mesmo sentido, há decisões do STJ. Citamos a seguinte: • • • • AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DA LEI N. 9.605/1998. PESCA. UTILIZAÇÃO DE PETRECHOS PROIBIDOS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. De acordo com a jurisprudência desta Corte, a conduta do réu, consistente em praticar a pesca de lagostas, mediante a utilização de petrechos proibidos por lei, não pode ser considerada insignificante. (AgRg no AREsp 1793949, 5ª Turma – 2021) (grifos nossos). Percebe-se que o STJ também segue o mesmo entendimento do STF, não aplicando o princípio da insignificância, mesmo nos casos em que forem apreendidas quantidades irrisórias de peixes – lagostas, pois o que importa é punir a conduta de risco, que no caso em tela, é a utilização de rede proibida por lei. Os crimes ambientais fazem parte dos delitos cumulativos, isto é, a conduta praticada individualmente não possui caráter lesivo. Contudo, se essa conduta for praticada várias vezes, poderá lesar ou colocar em risco o meio ambiente. Exemplo Dez empresas despejam uma pequena quantidade de resíduos tóxicos em um rio. A conduta individual de cada empresa seria irrelevante, não afetaria o equilíbrio ecológico do rio. Porém, a soma desses resíduos poderia provocar a mortandade dos peixes. Isso é mais uma razão para a não aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais.Podemos concluir que o princípio da insignificância dificilmente será aplicado aos crimes ambientais. Verificando o aprendizado Questão 1 Considerando as características e os principais aspectos dos crimes ambientais, assinale a alternativa correta. A Atua-se sob o viés retributivo/punitivo, agindo após o dano ambiental ocorrido. B Trata-se de delitos que independem de norma integradora para sua compreensão e aplicação. C Por ser altamente complexa a matéria ambiental e não ser possível estabelecer todas as circunstâncias e características contidas em cada tipo penal, é possível que o seu conteúdo seja complementado por outra norma, desde que, seja por lei federal. D Também atua-se sob o viés da prevenção, agindo na fase de risco, ou seja, anterior ao dano ambiental consumado. E O equilíbrio ambiental é o bem jurídico tutelado pelos crimes ambientais e, por isso, sua proteção é exclusiva aos recursos naturais. A alternativa D está correta. O equilíbrio ambiental é essencial à sadia qualidade de vida. Por essa razão, a Lei nº 9.605/98 estabelece como delito ambiental as condutas que representem risco para o meio ambiente, havendo assim a antecipação da tutela penal, não atuando apenas após o dano ambiental consumado. Portanto, diversos dispositivos da Lei de Crimes Ambientais são delitos de perigo (concreto ou abstrato). Além disso, a normal penal em branco é verificada na maior parte dos delitos ambientais, isto é, normas que o seu conteúdo é complementado por outras normas, sejam elas da mesma natureza jurídica e fonte legisladora ou não. Por fim, o bem jurídico tutelado pela norma penal ambiental é o equilíbrio ambiental, que inclui a proteção dos recursos naturais, bens culturais e artificiais. Questão 2 O princípio da insignificância, frequentemente referido como princípio da bagatela, pode ser empregado em certas circunstâncias para remover a caracterização de um ato como crime, mesmo que ele se ajuste tecnicamente à definição legal de um delito. Do ponto de vista do direito penal, essa conduta é considerada como sendo de importância mínima. Sobre a aplicação do princípio da insignificância nos casos de delitos ambientais, assinale a alternativa correta. A Inaplicável o princípio da insignificância aos crimes ambientais, em razão de a CF, consolidando tendência mundial de atribuir maior atenção aos interesses difusos, conferir especial relevo à questão ambiental, ao elevar o meio ambiente à categoria de bem jurídico tutelado autonomamente. B A pequena quantidadede pescado eventualmente apreendido desnatura o delito ambiental que pune a pesca ou sua comercialização durante o período em que seja proibida, isto é, em época de reprodução da espécie e com utilização de petrechos não permitidos. C A aplicação do princípio da insignificância ou bagatela é tendência pelos tribunais superiores. D Se a conduta do indivíduo for insignificante para o desequilíbrio ambiental, nunca haverá delito ambiental, pois a ideia de delito cumulativo não se aplica. E Mesmo que sejam apreendidas quantidades irrisórias de peixes, se o indivíduo estiver pescando com espécie de rede proibida, a conduta poderá ser punida, pois o que se pune é a conduta de risco, logo, não se aplica o princípio da insignificância. A alternativa E está correta. De acordo com o entendimento majoritário (doutrina e jurisprudência), o princípio da insignificância não deve ser aplicado aos delitos ambientais, por ser um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida. Por mais que uma conduta individual não possua o caráter lesivo, ou seja, insignificante, se for praticada diversas vezes, poderá resultar em um expressivo dano ambiental. Trata-se de delito cumulativo, razão pela não aplicabilidade do princípio da insignificância. Sendo assim, condutas que possam colocar em risco a qualidade do meio ambiente, como pescar com petrechos proibidos ou em períodos de defeso, mesmo que tenha sido uma quantidade irrisória de peixes capturados, não será aplicado o princípio da insignificância. 2. Crimes contra fauna e flora Crimes contra a fauna I (artigos 29 – 32) Neste vídeo, abordamos os tipos penais dos crimes contra a fauna constantes dos artigos 29 a 32 e suas principais controvérsias. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Principais características Vamos conhecer agora as principais características dos artigos 29 a 32. Artigo 29 Confira o que diz o artigo! Art. 29 – Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécime da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. Pena – detenção de seis meses a um ano; e multa. Como podemos perceber, o conteúdo desse artigo aborda diversos tipos penais, e a prática de qualquer desses “verbos” representa a consumação do delito. Então, qualquer pessoa que mata, persegue, caça um animal, poderá incorrer neste delito. Entretanto, se uma pessoa tem autorização para caçar, não há crime, pois o elemento normativo do crime exige que a conduta ocorra sem autorização do Poder Público. Comentário Animais em rota migratória são animais que não são da fauna brasileira, mas que passam pelo Brasil. Por exemplo, um pinguim veio do Polo Norte, chegou a uma praia brasileira e uma pessoa o matou. Por equiparação, o § 1º e seus incisos estabelecem que aquele que impede a procriação da fauna, destrói, modifica, ninho, criadouro, ou vende, exporta, adquire, guarda, transporta, ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre sem a devida anuência do órgão ambiental, também estará praticando crime. Pontos importantes: Extinção da punibilidade De acordo com o § 2º, dependendo da situação, se o caso envolver a guarda doméstica de espécime silvestre, não considerado ameaçado de extinção, o juiz pode deixar de aplicar a pena. Por exemplo, uma senhora tem um papagaio (espécie silvestre) há 20 anos. Ela não tinha autorização para tê-lo em casa. É crime ambiental. Mas, devido às circunstâncias, o juiz poderá deixar de aplicar a pena. Causas de aumento de pena A pena poderá ser aumentada de metade, se o crime é prática contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, mesmo que seja somente no local da infração; em período proibido à caça; durante a noite; com abuso de licença; em unidade de conservação; ou, com emprego de métodos ou instrumentos que possam provocar a destruição em massa. A pena poderá ser aumentada até o triplo se o crime decorre do exercício da caça profissional. Atenção: O artigo 29 não se aplica aos atos de pesca. Artigo 30 Veja agora a redação deste artigo. Art. 30 – Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente. Pena – reclusão, de um a três anos, e multa. Por exemplo, se uma pessoa exporta pele de chinchila para o Uruguai, sem a devida autorização, cometerá o crime previsto no artigo 30. Mas, caso tenha autorização, não há crime. Artigo 31 Vejamos o que diz o artigo: Art. 31 – Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente. Pena – detenção, de três meses a um ano e multa. Por exemplo, uma pessoa vai para a Austrália e traz um coala em sua mala. Como o coala não faz parte da fauna brasileira, é necessário ter a autorização. Caso não tenha, praticará um crime ambiental. Artigo 32 Vejamos o que diz o artigo: Art. 32 – Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. Cientista em laboratório realizando teste com ratos. Aqui, temos alguns detalhes importantes: Animais domésticos ou domesticados são animais silvestres que foram treinados e adaptados para viver em sociedade. Por exemplo, cachorro, gato, calopsita, galinha, porco. Como figura equiparada, incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que seja para fins didáticos ou científicos, quando existem alternativas. Por exemplo, testar medicamento em rato. Não existindo alternativa, não haverá crime. Quando se tratar dos nossos queridos cachorrinhos e gatinhos, a pena será maior – reclusão, de 2 a 5 anos, multa e proibição da guarda. Essa inclusão na lei representou um grande avanço na proteção desses animais, pois com a pena maior, não caberá medida despenalizadora, podendo a pessoa ser efetivamente presa e perder a guarda do animal. Causa de aumento de pena: De um sexto a um terço, se ocorre a morte do animal. Atenção O aumento de pena estabelecido no artigo 32 em caso de morte do animal aplica-se apenas à morte culposa. Por exemplo, a pessoa fez um experimento e resultou na morte do animal, mas essa não era a sua intenção. Caso seja sua intenção matar o animal, aplica-se o artigo 29. Crimes contra a fauna II (artigos 33 – 37) Neste vídeo, abordamos os crimes contra a fauna constantes dos artigos 33 a 37 da Lei nº 9605, tratando das principais questões sobre eles. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Outros tipos penais Vamos agora abordar os artigos 33 a 37. Artigo 33 Vejamos o que diz o artigo: Art. 33 – Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras. Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. Devemos levar em consideração alguns detalhes importantes, como: O lançamento dos efluentes deve ser feita de forma dolosa, intencional, para matar espécies aquáticas. Por exemplo, uma pessoa lança um produto químico em um rio com a intenção de matar os peixes. Como figura equiparada, incorrem neste crime: Aquele que causar degradação em viveiros, açudes ou estações de aquicultura de domínio público. Quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem autorização, licença, permissão do órgão competente. Por exemplo, pessoa que explora campos de camarões, caranguejo, lagosta, sem a devida autorização. Também como figura equiparada, quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica, incorrerá neste crime. A carta náutica demarca os locais em que existem corais e bancos de molusco. Então, se a pessoa lançou detritos propositalmente nessas áreas, cometeu este crime ambiental. Exemplo de detritos: lixo plásticopreso no ecossistema de corais rasos nas Filipinas. Artigo 34 Vejamos o que diz o artigo: Art. 34 – Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente. Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Precisamos apontar alguns detalhes importantes: A pesca é permitida. Contudo, existem alguns períodos, chamados de “período de defeso”, nos quais a pesca é paralisada temporariamente para não prejudicar a reprodução das espécies e, assim, garantir sua preservação. O crime consiste em pescar durante este período. Também é crime pescar em lugares que foram interditados pelos órgãos competentes. • • Rede com peixes. Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) fiscalizando pesca de caranguejos-uçá no Pará em período de defeso. Também incorrerá neste crime aquele que pesca espécies que devam ser preservadas ou espécies de tamanhos inferiores ao permitido (pois, dificilmente sobreviverão ao serem devolvidos à água). Por exemplo, na pesca esportiva, é estabelecido o tamanho dos peixes. Caso seja pescado um peixe menor que o tamanho estabelecido, como os lambaris, a pessoa realizará a conduta deste artigo. Assim como as pessoas que pescarem quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos. Por exemplo, a pessoa utiliza uma rede não permitida pela norma técnica do IBAMA. Mesmo que ela tenha pescado uma quantidade irrisória, o crime está consumado pelo fato de ter sido utilizada uma rede fora do padrão. Por fim, quem transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes de coleta, apanha e pesca proibida, praticará o delito do artigo 34. Por exemplo, uma peixaria que tem como fornecedor uma pessoa que não apresenta a regularidade de sua pesca, e os peixes são oriundos de pesca ilegal, incorrerá no mesmo crime. Artigo 35 Vejamos o que diz o artigo: Art. 35 – Pescar mediante a utilização de explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante, ou substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente. Pena – reclusão de um ano a cinco anos. Algumas pessoas utilizam explosivos na pesca, pois é uma forma de matar os peixes e capturá-los de forma rápida. Contudo, são diversas consequências negativas para o equilíbrio aquático. Por isso, a pena é maior que do artigo 34. Artigo 36 Vejamos o que diz o artigo: Art. 36 – Considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico. Observamos que não é necessário a captura do peixe para o crime ser considerado consumado. Sendo assim, se um barco é flagrado com caixas de dinamite, mesmo que a explosão não tenha ocorrido, o crime de pesca ilegal pode ser considerado consumado. Logo, admite-se a tentativa. Além disso, é importante dizer que não é necessário que a pesca tenha a finalidade econômica. Artigo 37 Vejamos o que diz o artigo: Art. 37 – Não é crime o abate de animal quando: em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente, ou; por ser animal nocivo, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. Não será crime se a pessoa matar o animal, por exemplo: para saciar a fome; se tiver autorização para matar a raposa que importuna o rebanho de ovelhas, por exemplo. Crimes contra a flora I (artigos 38- 41) Neste vídeo, falamos sobre os crimes contra a flora constantes dos artigos 38 a 41 da Lei nº 9605, tratando das suas peculiaridades. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Peculiaridades Agora, vamos adentrar os artigos que tratam sobre os crimes contra a flora. Artigo 38 Vejamos o que diz o artigo: Art. 38 – Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção. Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Vejamos alguns detalhes importantes: Este delito não se refere apenas a “destruir” uma floresta, mas também, danificá-la. Entenda a diferença: Floresta destruída É aquela que desapareceu. Floresta danificada É aquela que sofreu danos. Trata-se de qualquer floresta? Não! O tipo se refere a floresta considerada de preservação permanente (ver artigos 2º e 3º do Código Florestal), mesmo que esteja em “formação”, ou seja, árvores crescendo, ainda pequenas. Atenção A exploração de uma floresta considerada de preservação permanente não será crime se estiver respeitando as normas de proteção. Por exemplo, em uma floresta em unidade de conservação de uso sustentável, caso a pessoa explore dentro dos limites estabelecidos pela administração da unidade, não haverá crime. A tentativa de exploração é admissível. A título de exemplo: a pessoa estava com o maquinário para derrubar toda a vegetação, mas foi impedida porque a polícia militar ambiental chegou no local. Cabe a modalidade culposa e a pena será reduzida à metade. Artigo 39 Vejamos o que diz o artigo: Art. 39 – Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem a permissão da autoridade competente. Pena – detenção de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Alguns detalhes importantes: O delito previsto no artigo 38 se refere à destruição, danificação de uma floresta. Diferentemente, no artigo 39, a conduta está relacionada ao corte de árvore em floresta considerada de preservação permanente, que pode ser uma ou dez, não importa o número de árvores. Apesar das condutas previstas nos artigos 38 e 39 serem diferentes, a pena é basicamente a mesma. É razoável que seja a mesma pena para quem destrói uma floresta daquele que corta uma árvore? Se houver permissão do órgão competente para o corte da árvore, não haverá crime. Então, é necessário verificar qual a norma que regulamenta a floresta considerada de preservação permanente em questão. Para incorrer neste crime, é necessário infringir a norma que trata sobre tal floresta. É admissível a tentativa? Sim! Não há previsão para a modalidade culposa. Artigo 40 Vejamos o que diz o artigo: Art. 40 – Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto n. 99.274, de 6 de junho 1990, independentemente de sua localização. Pena – reclusão, de um a cinco anos. Cisne nadando em rio poluído. Este artigo é um dos poucos que prevê pena máxima de 5 anos. Na maior parte dos tipos previstos na Lei nº 9.605/98, a pena é inferior. E isso é pelo grau de importância que as unidades de conservação possuem, por serem espaços especialmente protegidos. Caso o dano tenha ocorrido fora da unidade de conservação, mas a tenha impactado, incorrerá neste crime? Sim! O caput deixa bastante claro que a conduta é causar dano “direto ou indireto”. Exemplo: uma pessoa polui um rio, mas este rio passa por uma unidade de conservação, isto é, o dano não foi causado na unidade, mas a corrente do rio levou a contaminação para dentro da unidade de conservação e os animais acabaram consumindo a água poluída. Quando será considerada circunstância agravante? Se o dano afetar espécies ameaçadas de extinção no interior das unidades de conservação de proteção integral. Consulte a diferença das unidades proteção integral e uso sustentável na Lei nº 9.985/2000. Cabe a modalidade culposa e a pena será reduzida à metade. Artigo 41 Vejamos o que diz o artigo: Art. 41 – Provocar incêndio em mata ou floresta. Pena – reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Este artigo não exige que a mata ou floresta sejam considerados de preservação permanente. Cabe a modalidade culposa, reduzindo a pena para detenção de seis meses a um ano, e multa. AtençãoNão confunda o artigo 41 com o artigo 250 do Código Penal, que trata do crime de incêndio em qualquer lugar que possa expor a perigo a vida, integridade física ou patrimônio de outrem. Pelo princípio da especialidade, em se tratando exclusivamente de mata ou floresta, aplica-se o artigo 41. Crimes contra a flora II (artigos 42-48) Neste vídeo, explicamos os crimes contra a flora constantes dos artigos 42 a 48 da Lei nº 9605, passando por suas controvérsias. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Quais hipóteses para sua ocorrência? Vamos agora abordar os outros crimes contra a flora. Artigo 42 Vejamos o que diz o artigo: Art. 42 – Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento. Pena – detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Neste caso, há necessidade de incêndio para ser considerado consumado? Não. Trata-se de crime formal. Por exemplo: soltar, fabricar, vender, transportar o balão já é crime. Não importa se houve o incêndio ou não. Pode ser qualquer balão? Não. Para ser considerado crime, o balão deve ter potencialidade para provocar incêndio. Exemplo Balão de festa junina, lançado com velas acesas. Mesmo que a conduta tenha sido realizada em área urbana, é crime ambiental. Artigo 44 Vejamos o que diz o artigo: Art. 44 – Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. É importante verificar o conceito de florestas de domínio público na Lei nº 11.284/2006 e floresta de preservação permanente no Código Florestal. Se uma pessoa extrair pedra, areia, cal ou qualquer mineral sem anuência do Poder Público, incorrerá no crime previsto no artigo 44. Entretanto, se tiver autorização, não será crime. Admite-se tentativa. Artigo 45 Vejamos o que diz o artigo: Art. 45 – Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração econômica ou não, em desacordo com as determinações legais. Pena – reclusão, de um a dois anos, e multa. Diferente do artigo 44, que trata de extração de minérios, o artigo 45 dispõe sobre o corte ou transformação de madeira de espécie importante que precisa ser protegida (madeira de lei). Por essa razão, a pena é maior neste artigo. Não importa se o corte ou transformação foi ou não para fins industriais, energéticos ou qualquer tipo de atividade econômica. Se estiver em desacordo com a lei, incorrerá neste crime. Por exemplo: Homem armazenando madeira em seu depósito. Artigo 46 Vejamos o que diz o artigo: Art. 46 – Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. No artigo 45, o indivíduo cortou ou transformou a madeira em carvão. No artigo 46, outro indivíduo recebeu ou comprou aquele carvão. Podemos imaginar como se fosse uma “receptação” do produto do crime. Para evitar incorrer neste crime, quem receber ou comprar, para fins industriais ou comerciais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, deve exigir a apresentação da licença do vendedor e da via do documento relacionado ao produto, outorgada pelo órgão competente. Como figura equiparada, incorre no mesmo delito, aquele que vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem a devida licença válida. Por exemplo, o indivíduo não comprou, não recebeu, mas guardou, a pedido de um colega, a madeira em seu depósito. Não tendo a licença válida para o armazenamento, esta pessoa praticará a conduta prevista no parágrafo único deste artigo. Artigo 48 Vejamos o que diz o artigo: Art. 48 Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação. Pena – detenção, de seis meses a um ano e multa. Para ser considerado crime ambiental, não é necessário que tenha ocorrido o corte de árvore, desmatamento e condutas similares. Quando uma pessoa impede ou dificulta que determina área de vegetação se regenere, estará incorrendo no crime previsto no artigo 48. Exemplo Um indivíduo não cortou, não desmatou, contudo, acimentou uma determinada área para servir de ponto de helicóptero, e consequentemente, impediu que a vegetação neste local se regenerasse. Crime ambiental Fábrica que transforma madeira de lei em carvão sem autorização. Crime Pessoa que transformou madeira de lei em carvão para fazer um churrasco. Mulher ajudando homem que caiu em caminhada. Crimes contra a flora III (artigos 49 – 53) Neste vídeo, analisamos caso a caso os crimes contra a flora previstos nos artigos 49 a 53 da Lei nº 9605, tratando das principais questões sobre eles. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Proteção de plantas ornamentais em espaço público ou privada Por fim, vamos conferir os artigos 49 a 53. Artigo 49 Vejamos o que diz o artigo: Art. 49 – Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia. Pena – detenção de três meses a um ano ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Vamos imaginar uma pessoa, que não está “de bem com a vida”, chega em uma praça pública ou no jardim de uma casa, começa a arrancar todas as flores e pisotear o local. Esse indivíduo praticará o delito disposto no artigo 49. Repare que se aplica tanto a plantas de ornamentação de logradouros públicos como de propriedade privada alheia. Cabe a modalidade culposa, e a pena será de um a seis meses ou multa. Por exemplo, uma pessoa está caminhando e tropeça, caindo em cima do canteiro de uma pracinha, destruindo e danificando as flores. Não foi a sua intenção, mas poderá responder por este crime na modalidade culposa. Artigo 50 Vejamos o que diz o artigo: Art. 50 – Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetoras de mangues, objeto de especial preservação. Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. Neste tipo penal, o objeto de tutela são as dunas e mangues. Então, o indivíduo que destruir ou danificar floresta nativa (também chamada de primária, virgem, primitiva – floresta antiga sem perturbação significativa) ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas ou protetoras de mangues, incorrerá neste delito ambiental. Artigo 50-A Vejamos o que diz o artigo: Art. 50-A – Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente. Pena – reclusão de 2 a 4 anos e multa. Este dispositivo foi incluído pela Lei de Proteção de Florestas. O crime incide na conduta de desmatar, explorar economicamente, floresta (nativa ou plantada), em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do Poder Público. Atenção A exploração, o desmatamento e a degradação da floresta não serão considerados crime se a conduta for praticada com o objetivo de subsistência do indivíduo ou de sua família. Por exemplo, um homem que corta árvores para construir uma casa para sua família. Causa de aumento de pena: Se a área explorada for superior a mil hectares, a pena será aumentada de 1 ano por milhar de hectare. Artigo 51 Vejamos o que diz o artigo: Art. 51 – Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente. Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. A motosserra é um meio muito utilizado na prática de crimes ambientais. Por essa razão, se o indivíduocomercializa ou utiliza sem licença ou registro pelo órgão competente, incorrerá no delito previsto no artigo 51. Por exemplo, uma pessoa que vende motosserra sem licença para isso. Artigo 52 Vejamos o que diz o artigo: Art. 52 – Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da autoridade competente. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. Trata-se de um formal (não precisa do resultado naturalístico), ou seja, basta o indivíduo entrar em uma unidade de conservação portando substâncias ou instrumentos de caça ou exploração de produtos ou subprodutos florestais, para ser considerado crime. Se o indivíduo tiver licença para caçar ou explorar na unidade de conservação, será fato atípico, não havendo crime. Os instrumentos e substâncias conduzidos devem ter potencialidade para a caça ou exploração florestal – crime de perigo concreto. Artigo 53 Vejamos o que diz o artigo: Art. 53 – Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um terço. São hipóteses de aumento de pena: Se do fato resultar a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação do regime climático. Por exemplo, desmatamento de vegetação nativa que resultou erosão do solo. 2. Se o crime for cometido: No período da queda das sementes (período de reprodução). No período de formação de vegetações. Contra espécies raras ou ameaças de extinção, ainda que a ameaça ocorra somente no local da infração. Em época de seca ou inundação (o dano ambiental cometido neste período se potencializa). Durante a noite, domingo ou feriado. Verificando o aprendizado Questão 1 Lei nº 9.605/98, editada para regulamentar as sanções penais e administrativas a serem aplicadas às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, trouxe a definição de diversos crimes ambientais, no intuito de proteger tanto a fauna e a flora, quanto o meio ambiente como um todo. De acordo com a lei supramencionada, será crime contra a fauna A matar espécime da fauna silvestre. Condutas como perseguir um animal não são consideradas delitos ambientais. B matar animais que pertençam a fauna brasileira. Matar animal que esteja passando pelo Brasil, por exemplo, um pinguim, não será considerado crime, apenas infração administrativa. C mesmo com autorização para a caça, o indivíduo que realizar esta conduta, incorrerá no crime contra a fauna silvestre. D o indivíduo que destrói ninho, impedindo a procriação da fauna. E mesmo que a espécie silvestre não seja considerada ameaçada de extinção, no caso de guarda doméstica sem autorização do respectivo órgão ambiental, o juiz não poderá deixar de aplicar a pena. 1. • • • • • A alternativa D está correta. De acordo com o artigo 29 da Lei nº 9.605/98, será considerado crime contra a fauna, não apenas matar, mas perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécime da fauna silvestre, nativo ou em rota migratória, sem a devida anuência da autoridade competente. Sendo assim, uma pessoa que mata um pinguim, mesmo que ele não pertença à fauna nativa, incorrerá no crime do artigo 29. Na hipótese de a pessoa possuir autorização para caça, não haverá delito ambiental. Praticará o mesmo crime a pessoa que, de alguma forma, impedir a procriação da fauna, por exemplo: destruindo, modificando, ninho, abrigo ou criadouro. Por fim, poderá o juiz extinguir a punibilidade em situações em que a guarda doméstica de espécime silvestre não for considerada ameaçada de extinção. Questão 2 Os crimes contra a flora são aqueles que causam danos à biodiversidade vegetal, prejudicando áreas de floresta e vegetação em geral. De acordo com a Lei nº 9.605/98, sobre crimes contra a flora, podemos dizer que A a mera danificação de floresta considerada de preservação permanente não é crime ambiental. B se a utilização da floresta de preservação permanente ocorrer dentro dos limites permitidos por lei, em unidade de conservação de uso sustentável, não será considerada crime contra a flora. C não será crime contra flora, se a destruição ocorrer em floresta em desenvolvimento. D se o indivíduo não iniciar a conduta de derrubar a vegetação, porque foi interrompido com a chegada de terceiros, não incorrerá no delito previsto no artigo 29. E caso o indivíduo tenha danificado a floresta por ter utilizado acidentalmente substância acima do nível permitido, não será crime contra flora. A alternativa B está correta. De acordo com o artigo 38 da Lei nº 9.605/98, destruir ou danificar floresta de preservação permanente, mesmo que esteja na fase de formação (vegetação ainda se desenvolvendo), ou utilizá-la desrespeitando as normas de proteção ambiental, incorrerá em crime contra a flora. Sendo assim, se a utilização da floresta em unidade de conservação de uso sustentável ocorrer em conformidade com a lei, não haverá crime. Lembrando que este tipo admite tentativa e a modalidade culposa. Logo, se a conduta da pessoa tiver sido interrompida por vontade alheia ou não tenha sido a intenção da pessoa em danificar a floresta, responderá pelo crime ambiental. 3. Outros crimes ambientais Crime de poluição (artigo 54) Neste vídeo, abordamos os crimes de poluição do artigo 54 da Lei nº 9605, suas qualificadoras e a eventual necessidade de perícia. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Conceituação e características Vamos agora detalhar o artigo 54 da Lei nº 9605/98. Art. 54 – Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. O conceito de poluição está previsto no artigo 3º da Lei nº 6.938/81. A poluição pode ser de qualquer natureza (exemplo: atmosférica, hídrica, térmica, sonora, do solo). Atenção O importante no artigo 54 é o destaque ao nível de contaminação que possa provocar danos à flora, morte de animais ou danos à saúde humana. Não é qualquer poluição. O nível deve estar acima do permitido pelo órgão regulador e deve-se comprovar que houve dano à saúde das pessoas, significativo dano à flora ou morte de animais. Cabe a modalidade culposa quando a contaminação resultar de imprudência, negligência ou imperícia. A pena será de seis meses a um ano e multa. Por exemplo, se pessoa deixa de verificar as condições do barco e acaba vazando óleo combustível e matando o peixe do rio. Formas qualificadas (pena de reclusão, de um a cinco anos): Tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana. Por exemplo, rompimento de barragem de mineradora. Dificultar ou impedir o uso público das praias. Por exemplo, derramamento de óleo no mar que resulta na interdição da praia para banho. Causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade. Por exemplo, indústria lança efluente no rio, comprometendo a qualidade da água, afetando a saúde das pessoas e das espécies animais. Ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos. Por exemplo, lançamento de esgoto sem atender aos requisitos estabelecidos na lei. • • • • Causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população. Por exemplo, fábrica lança um produto nocivo no ar e as pessoas que trabalham e habitam no local começam a ter problemas respiratórios, tornando a área imprópria para o uso. Nas hipóteses citadas como qualificadoras, caberá apenas conduta dolosa. Por equiparação, também será caso de aumento de pena quando o indivíduo – diretor, administrador ou gerente, por exemplo – for obrigado por lei a adotar medidas de precaução e descumprir de forma dolosa as determinações da autoridade administrativa, e quetal descumprimento resulte em risco de dano ambiental grave ou irreversível. Exemplo O administrador da mineradora que tinha obrigação de cumprir com o protocolo de segurança para evitar o rompimento da barragem, mas não o fez. Podemos notar, nesse exemplo, que o indivíduo tinha por lei essa obrigação específica (artigo 2º parte final, da Lei nº 9.605/98). Logo, trata-se de um crime de omissão imprópria. Aqui, não se discute o dano ambiental, mas sim o descumprimento da norma que poderia colocar em risco grave ou irreversível o meio ambiente. Importante lembrar que, em regra, a perícia é necessária para a demonstração da poluição e do nexo causal entre esta e a conduta do sujeito ativo. Contudo, em consonância com o acordão paradigma (leia informativo nº 624, 18 de maio de 2018, terceira seção): [...] Já para o acórdão paradigma, ´o delito previsto na primeira parte do artigo 54, da Lei n. 9.605/1998, possui natureza formal, porquanto o risco, a potencialidade de dano à saúde humana, é suficiente para configurar a conduta delitiva, não se exigindo, portanto, resultado naturalístico e, consequentemente, a realização de perícia" (AgRg no REsp 1.418.795-SC, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellize, Rel. para acórdão Regina Helena Costa, Quinta Turma, DJe 7/8/2014). Deve prevalecer o entendimento do acórdão paradigma e nos casos em que forem reconhecidas a autoria e a materialidade da conduta descrita no art. 54, § 2º, V, da Lei n. 9.605/1998, a potencialidade de danos à saúde humana é suficiente para configuração da conduta delitiva, haja vista a natureza formal do crime, não se exigindo, portanto, a realização de perícia. Em suma, no crime de poluição, havendo risco à saúde humana, a perícia estará dispensada. Crime de poluição e outros (artigo 55 - 61) Neste vídeo, falamos sobre os crimes de poluição constantes dos artigos 55 a 61 da Lei nº 9605, bem como sobre eventuais causas de aumento de pena. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Como caracterizam-se? A seguir, vamos conhecer os pormenores dos artigos 55 a 61. Artigo 55 • Confira a redação deste artigo. Art. 55 – Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. Trata-se de mineração clandestina. Aquele que executar pesquisa, lavrar ou extrair minérios sem a devida anuência do Poder Público incorrerá neste crime. Admite-se tentativa. Por exemplo, o indivíduo estava com o maquinário pronto para a extração, mas foi impedido com a chegada dos fiscais. Da mesma forma, por equiparação, aquele que deixar de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos solicitados pelo órgão competente (omissão – por ser omissão não admite tentativa). Fiscalização realizada em mineradoras pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da cidade São Desidério, na Bahia. Artigo 56 Veja o que diz o artigo: Art. 56 – Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa, ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos. Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. Trata-se de produto ou substância tóxica. A realização da conduta prevista no tipo, não atendendo às exigências da lei e ao órgão regulador. Por exemplo, transporte de produto listado como nocivo na resolução nº 420/2004. Delito de perigo abstrato. Basta o transporte em desacordo com a resolução. Veja informativo 613 do STJ. Equipe enviada pelo MP do Estado do Pará para verificar resíduos industriais (lixo tóxico) jogados de maneira irregular em zona rural. Incorre nas mesmas penas quem abandonar ou utilizar os produtos ou substâncias previstas no caput, ou manipular, acondicionar, armazenar, coletar, transportar, reutilizar, reciclar ou dar destinação final a resíduos perigosos em desacordo com as normas ambientais ou de segurança. Aumento de pena: Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativo, a pena será aumentada de um sexto a um terço. Admite-se modalidade culposa. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. Artigo 58 Acompanhe o que dispõe esse artigo: Art. 58 – Aumento de pena nos crimes dolosos (Seção III – Poluição e outros) Características: Dano irreversível Se resultar dano irreversível à flora ou ao meio ambiente em geral, a pena será aumentada de um sexto a um terço. Lesão corporal Se resultar lesão corporal de natureza grave em outrem, a pena será aumentada de um terço até a metade. Morte de outrem Se resultar a morte de outrem, a pena poderá dobrar. Importante! Somente será aplicado o aumento de pena se, do fato, não resultar crime mais grave. Lembrando que o aumento de pena que trata este artigo se refere apenas a crimes dolosos. Artigo 60 Entenda a o que determina o artigo a seguir. Art. 60 – Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes. Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Trata-se do clássico exemplo de crime de perigo abstrato. O que se pune não é o dano ambiental (até mesmo porque não houve), mas a desobediência à norma, a qual poderia levar à poluição do meio ambiente. Exemplo Uma serraria funcionando sem licença ambiental. Não importa se havia madeira no local ou não. Sabemos que essa atividade é potencialmente poluidora e, para o seu funcionamento, é necessária licença ou autorização do órgão ambiental competente. Artigo 61 Confira o que estabelece o artigo: Art. 61 – Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas. Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. O objetivo principal é proteger as atividades de agricultura, pecuária e o meio ambiente de forma geral. Por exemplo, é crime disseminar, espalhar e propagar a febre suína, que vitimiza os porcos, bem como disseminar a lagarta dos cafezais, que destrói as plantas. Contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural (artigos 62 - 65) Neste vídeo, abordamos os crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural dos artigos 62 a 65 da Lei nº 9605 e suas qualificadoras. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Principais elementos Agora, vamos entender os artigos 62 a 65, sobre o ordenamento e patrimônio. Artigo 62 Vejamos o que diz o artigo: Art. 62 Destruir, inutilizar ou deteriorar: I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação cientifica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Quando houver destruição, inutilização ou deterioração de bem, especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, incorrerá no crime previsto do artigo 62. Entenda o que significa cada uma dessas ações: Destruição Conduta que elimina, torna algo inexistente. Inutilização Conduta que torna algo sem utilidade ou uso. Deterioração Conduta que leva à diminuição da qualidade. Por exemplo, um bem tombado (um bem que foi objeto de um procedimento administrativo, tombamento) é objeto especialmente protegido. Se alguém o deteriorar, cometerá um crime contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural. Também cometerá o mesmo crime a pessoa que destruir, inutilizar ou deteriorar um arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, estando sujeito à pena de reclusão, de um a três anos, e multa. Incêndio do Museu Nacional, em 2 de setembrode 2018. Admite-se a modalidade culposa. Então, se o indivíduo atuar com imprudência, imperícia ou negligência, estará sujeito a pena de seis meses a um ano detenção, mais multa. Artigo 63 Vejamos o que diz o artigo: Art. 63 Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização competente ou em desacordo com a concedida. Pena – reclusão, de um a três anos, e multa. A conduta está em alterar o aspecto ou a estrutura de edificação ou local protegido pelo Poder Público, seja por lei, ato administrativo ou decisão judicial, por possuir especial valor paisagístico, histórico, cultural, ecológico, religioso e os demais aspectos previstos no caput do artigo 63. Pichação da fachada do Pateo do Collegio em São Paulo. Exemplo Uma pessoa comprou uma casa tombada e, sem autorização, decidiu construir mais um andar, alterando o aspecto e a estrutura dessa edificação protegida. Por ser um bem protegido e não possuir autorização do órgão competente para construir o novo andar, essa pessoa poderá responder por crime ambiental. Cabe apenas modalidade dolosa, ou seja, se a pessoa atuar com imprudência, negligência ou imperícia, não há crime, pois não há previsão para a modalidade culposa. Artigo 64 Vejamos o que diz o artigo: Art. 64 – Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. Neste delito, a conduta se refere a construir em solo não edificável ou no seu entorno. A razão da proibição da construção se deve aos mesmos valores previstos no artigo 65, que são: paisagístico, ecológico, artístico, turístico e os demais disposto no caput. Artigo 65 Vejamos o que diz o artigo: Art. 65 – Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano. Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. De todos os crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural, este é o que merece maior destaque, pois é muito comum ser citado pela doutrina e jurisprudência. Trata-se do crime de pichação. A conduta se refere a pichar ou conspurcar (manchar, sujar, deteriorar) de forma permanente, uma edificação ou monumento urbano. O crime é de natureza material, de modo que a pessoa praticará tal conduta quando pichar, manchar e sujar de forma permanente edificação ou monumento urbano. A tentativa é admissível. Por exemplo, a pessoa estava com a lata de spray na mão para pichar, e o policial chegou. Forma qualificada: Caberá agravante quando o ato for realizado em monumento ou coisa tombada, sendo a pena de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa. Por exemplo, o indivíduo picha uma casa tombada. Atenção O grafite não é crime quando embeleza, valorizando o imóvel, e é feito com a anuência do proprietário, e quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado. No caso de bem público, é necessária autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelo órgão responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. Contra a Administração Ambiental (artigos 66 - 69) Neste vídeo, apresentamos os crimes contra a Administração Ambiental, previstos nos artigos 66 a 69 da Lei nº 9605 e seus aspectos gerais. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Aspectos gerais Por fim, vamos analisar os artigos 66 a 69. Artigo 66 Vejamos o que diz o artigo: Art. 66 – Fazer funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnicos-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental. Pena- reclusão, de um a três anos. Trata-se de crime próprio, ou seja, somente pode ser praticado por funcionário público. É crime formal, isto é, consuma-se quando o funcionário faz a afirmação falsa, mente, omite a verdade, esconde informações. Logo, não é necessário que a licença irregular seja concedida para configurar crime. Exemplo O funcionário, sabendo que havia uma espécie rara de vegetação no terreno onde se construiria o shopping, omite a informação, com o intuito de conceder a licença ao empreendedor. Neste crime, não se admite a modalidade culposa. Artigo 67 Vejamos o que diz o artigo: Visita técnica de engenheiros à barragem da ArcelorMittal em Itatiaiuçu, Minas Gerais. Art. 67 – Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público. Pena – detenção, de um a três anos, e multa. Assim como o artigo 66, trata-se de crime próprio, ou seja, somente pode ser praticado por funcionário público. É crime formal, ou seja, consuma-se quando o agente público concede a licença, permissão ou autorização. Neste caso, admite-se a modalidade culposa, sendo a pena de três meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Exemplo O funcionário do órgão licenciador não verificou todos os requisitos legais que deveriam ser atendidos e concedeu a licença, agindo de forma culposa. Desse modo, ele responderá pelo crime do artigo 67. Artigo 68 Vejamos o que diz o artigo: Art. 68 – Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental. Pena – detenção, de um a três anos, e multa. Trata-se de crime próprio, pois é necessário que o indivíduo tenha qualidade específica no cumprimento de obrigação ambiental, seja ela decorrente de um dever legal ou contratual. Assim, podemos dizer que é considerado um crime de omissão imprópria, ou seja, a omissão do agente (o deixar de fazer, cumprir) resulta ou poderá resultar no dano ambiental, o qual ele tinha a obrigação (legal ou contratual) de evitar. Por exemplo, o engenheiro responsável pela gestão da barragem de uma mineradora tem a obrigação de fiscalizar e cuidar do bom funcionamento dela. Caso haja suspeita de rompimento, ele tem obrigação de avisar aos superiores. Assim como o diretor ou quem tiver poder de decisão deve reparar a barragem o quanto antes. Caso não o faça, incorrerá no crime do artigo 68. Admite-se a modalidade culposa, sendo a pena de três meses a um ano mais multa. Artigo 69 Vejamos o que diz o artigo: Art. 69 – Obstar ou dificultar a ação fiscalizatória do Poder Público no trato de questões ambientais. Pena – detenção, de um a três anos, e multa. Trata-se de crime formal, consumando-se com o mero obstar (evitar), dificultar a fiscalização. Sendo assim, se for criada alguma dificuldade que acabou dificultando, adiando, a fiscalização, o crime está consumado. É crime comum, de modo que qualquer pessoa pode praticá-lo. Exemplo Um agente do órgão ambiental chega em uma indústria de papel, e o funcionário boicota a fiscalização, cortando os cabos de luz do galpão. No dia seguinte, o agente volta e consegue realizar a ação fiscalizatória. Ainda que a fiscalização tenha ocorrido, o crime já está consumado. Artigo 69-A Vejamos o que diz o artigo: Art. 69-A – Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão. Pena – reclusão, de 3 a 6 anos, e multa. Trata-se de crime próprio. Somente pessoas que podem elaborar ou apresentar, estudo, laudo ou relatório ambiental. A informação falsa ou enganosa deve estar relacionada ao licenciamento, concessão ou qualquer outro procedimento administrativo florestal. Também é crime formal, pois consuma-se com a elaboração (realização) ou apresentação