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Texto 4 , . d
ANGERAMI-CAMON, V. A. Psicoterapia e Fenômeno Humano. In: ANGERAMI-CAMON, V. A. (ORG.).A pratica a
-~ Prática da Psicoterapia ~.psicoterapia. SP: Pioneira, 1999._
Uma mulher com quê .
de delicadeza e fragrância que me fez
novamente acreditar no poder
de um sorriso ...
e da esperança de que a própria vida e
o amor pulsante. e que incendeia a alma
bastam para vencer a distância e os desatinos
dos nossos caminhos ...
E de que a vida
te colocou no meu caminho
para novamente me fazer acreditar
nos sonhos e na ilusão
de um encontro de amor ...
e de que te sonhar
é a leveza de ter a vida pulsando
numa essência de paz e luz...
e de saber que um simples toque teu
transforma a vida em azul...
o azul de uma manhã azulada
de outono ...
Psicoterapia e
Fenômeno Humano
Para
Edézia A. Gomes
\.- Quando se fala em psicoterapia, a primeira idéia que urge é de um tra-
tamento destinado a levar o paciente à cura de determinados sintomas. Para
AngeramP a psicoterapia, independentemente de sua orientação teórica,
tem como seus principais objetivos levar o paciente ao autoconhecimen-
to, ao autocrescimento e à cura de determinados sintomas. No entanto, é
sempre' importante ressaltar que ao falarmos de psicoterapia na abordagem
existencial, não estamos presos aos modelos de atendimento impostos pela
quase totalidade das principais correntes teóricas. Assim, não temos no
paciente alguém que procura pela psicoterapia da mesma forma que leva-
mos um carro a uma oficina para consertá-Ia. A idéia de que o ser huma-
no é um conjunto de mecanismos reguladorese que em alguns momentos
desequilibra-se não é aceita ná psicoterapia existencial. Esse fato por si já
confere uma outraestrutura de andamento ao processo psicoterápico e irá
determinar peculiaridades. ~astante .precisas ao processo .••~ •••ausência do
nexo causal de compreensão estabelecida pelas principais corrente~ dap~i-
"'"",-~~,,,,~._....-.~,';";'".,~';'.""'-
": - """",,,' ,,- ••""-,' ,>,,' ,,' , ~.
lANGERA~I,V.A.? psicÓlogo nohospitalin;'psicologia hospitalar-teoria e prática"
mi,v.A., org., Editora Pioneíra, São Paulo, 1994.
~1I1"lfll'lll, hlllltlllll'lllt', {(llllro dali(: C1ueestabelece t A
" ou ros parametros para
.1 /Iqh IIIHllj'illl'lIhlt'lH'ild,
1"''101'1111'11\1'1111',p/lIVllra-se compreender h \o ser umano como sendo
1"".'."II.""'lldl'n.pni(~lll'j:tsp:tssadased L . , _ (', ' , . .' e latos que trazem lmphcaçoes ao
1 li", 1111'11"",1 ,'ll' ('/lIl'/ldl'l' fenômenos como ,. d _
/' angustia, epressao e outros
11.1111,11111"1.1111,',/'";dIZ:tdos principalmente na' LA , d EI, '" . mlanCla a pessoa, stabe-
'11" 1IIIII'II'd,I(';III11'/lIOljllechicontomosa ·A. d' _I' expenenclas e Igressoes teó-
I" n." '111'." 11dl'I(""I"I:1l1Ie maior, certamente sera' o estab l' d
/ ~ , e eClmento e1'11' 1111"111I11I/11111;lIlll'/llaisc!ue na '. dI " ' matona as vezes, escapa da perce ão
".II"'II'IIII,I.IlI("lll·.Apropostabásicadeab d L I" pç.. I .." or agem lenomeno oglca-exls-
11/1,LI. 1II.I.llIll·/lle ('compreender a exi tA 'h
s encla umana sem recorrer a e
111111111IIIIIIpllslo pe/oolharde causal'd d sse
I I I ' I a e e propor uma abordagem o d
1111'1111,I, ('('xlslenci:dsejaatotalid d d 'A , .. '. ne
,'11\'1',II IIlde condições financeiras não signifi-
ca resistência em se assumir o tratamento. A resistência diante do trata-
mento é algo que deve ser cuidadosamente verificada para não se incorrer
em falsas digressões teóricas.
É sabidoquernuitos pacientes hoje necessitam de psicoterapiajusta-
mente por problemas advindos de suas realidades financeiras. Ness~sen~
tido, é muito importante que não se coloquetaisquestõesnumrneropsi:
cologismO .•sem cqnsiderar;-seo ,sofrirnento yiyido por ele •d~yidoàssua~
condições econômicas. Igualmente é fato que o psicoterapeuta, de outra
parte, necessita dos honorários profissionais para sobreviver, cabendo, en-
tão, uma análise da pertinência desse tipo de problemática em sua reali-
dade profissional. Sou impelido a afirmar que todo psicoterapeuta deve-
ria ter consciência e responsabilidade social no sentido de abrir suas
possibilidades de atendimento para pessoas carentes em níveis socioeco-
nômicos. Seria muita idealização da minha parte que, enquanto catego-
ria, eles abrissem seus espaços para acolher as pessoas vitimadas pelo
modelo socioeconômico que se instalou no país. No entanto, o que se
assiste ainda, em que pese os índices disponíveis da desestruturação eco-
nômica vivida pelo país, é a colocação de inúmeros psicoterapeutas de
=Iue a dificuldade do paciente em assumir um compromisso honorário de
Dsicoterapia nada mais é do que resistência ao tratamento em si. Repito:
~vid~ntemente, existirão muitos casos onde a questão dos honorários de
:ato é resistência ao tratamento, mas também há outros tantos em que a
lificuldade socioeconômica é empecilho para submeter-se ao tratamen.-
o psicoterápico.
\ É necessária também uma colocação no sentido de se ter claro que o
,sicoterapeuta, ao contrário de seus descendentes, mantém-se a si mesmo,
endo responsável, com algumas exceções, pelo seu próprio sustento socio-
conômico. Basta pensar-se no padre ou no pastor, num simples contrapon-
D, que igualmente exercem atividades de promoção de alívio catártico e
ue podem desenvolver suas atividades sem receber remuneração do assis-
do, pois possui uma ordem religiosa ou igreja a sustentar-lhe em suas neces-
dades básicas. Dessa maneira, é possível facilmente pensar-se numa ativi-
de samaritana, pois o religioso não precisa preocupar-se com questões
)mezinhas, como aluguel, conta de telefone, honorários de secretária, etc.
ise balizamento é fundamental para que essas questões que envolvem o
19amento de honorários profissionais sejam compreendidas em sua verda-
:ira essência. Temos até mesmo a presença de psicólogos que exercem igual-
ente a atividade de religiosos - padres, pastores, etc. -, o que toma essa
iestão ainda mais delicada, pois todos os pontos levantados nessa reflexão
contram-se imbricados de modo indissolúvel tomando essa q~estão ain-
mais pCll~lmi'ca. ou psicoterapeuta sua ativi-
de in(~reintt::sà sua condição
,.
ta exerça sua liberdade de ação e escolha para determinar a melhor forma
de procedimento para o seu exercício profissional. As reflexões que emprei-
tamos nesse item visam muito mais a ampliação do leque de opções acer-
ca do setting terapêutico do que propriamente determinar normas específi-
cas de conduta. Nas atividades que exerço enquanto supervisor de jovens
psicoterapeutas, procuro levantar o maior número possível desses pontos
para que cada um desses supervisionandos possa fazer sua própria síntese e
escolher o procedimento que melhor possa se adequar à sua própria reali-
dade existencial. Nada mais. O melhor procedimento, a melhor performan-
ce, a melhor maneira de se efetuar a cobrança dos honorários profissionais,
enfim todos esses detalhamentos serão aqueles que o psicoterapeuta esco-
lher como sendo o mais viável e adequado para o exercício de sua prática
profissional.
c) De Vínculos Afetivos Preexistentes à Psicoterapia - A maioria
das correntes de psicoterapia preconiza que o psicoterapeuta não tenha
nenhum envolvimento anterior com o paciente antes do processo psico-
terápico. É fato que determinados vínculos - amizades estreitas com paren-
tes do paciente ou ainda atender-se simultaneamente pessoas de uma mes-
ma família em processos individuais de psicoterapia - certamente serão
prejudiciais ao desenvolvimento pleno da psicoterapia. E aí não se trata de
simplesmente escamotear-se a realidade dos fatos, pois a existência de vín-
culos anteriores ao processo psicoterápico em si já dará uma configuração
específica ao processo, prejudicando-lhe o seu pleno desenvolvimento. A
maioria das correntes de psicoterapia propõe que o psicoterapeuta, bem co-
mo a própria psicoterapia sejam neutros, assim como uma folha em bran-
co. Primeiramente, é preciso salientar-se que não existe neutralidade nem
no campo da psicoterapia, nem em qualquer outro campo da ciência. Ao
escolherfnos uma determinada linha teórica o fazemos a partir da identifi-
cação dessa teoria com a nossa concepção de homem, valores e mundo. De
princípio, já não somos neutros, pois vamos atender ao nosso paciente
segundo a concepção filosófica de nossa linha teórico-filosófica. Iremos
compreender a realidade do paciente de acordo com a nossa ótica de aná-
lise, sendo que a neutralidade simplesmente inexiste quando se adota um
determinado procedimento filosófico e todo o seu enfeixamento de com-
preensão da condição humana. .. •..•. .. .
De outra parte, não resta a menor dúvida que el1vol~imento antenor
com o paciente será uma variável queiimpedirá o desenvolvimento ~leno
da psicoterapia. O conhecimento por parte do paciente de que o .ps}co~e-
rapeutamantém relações att::tÍ\'ascom alguém de sua realidade eXIstencial
certamente será inibrtório para que ele possa deixar fluir questões que 1-
vam essa pessoa. E não há como exigir que o paciente se desenvol:;~~e_
. namente se ~o mesmo tempo o deixamos atrelados a questões de envolvi-
m~ntos ~f~tlvos e que extrapolam os vínculos estabelecidos no pro~ess .
pSlcoteraplCo. o
J6 Algumas correntes teóricas de psicoterapia são rI'gI'das. b nesse aspecto e
creIOn:.es~o, em ora façam disso uma afirmação meramente pessoal e sem
a.brangencla para outros psicoterapeutas existencialistas que vínculos ante
nores possuem a condição d t d' -N- h' e a ravancar o esenvolvimento psicoterápico
oao ~ac~mo quer~r que o processo psicoterápico com o filho de um ami~
g pes:>oapossa fluIr, ou então que uma ex-namorada de um filho m
~aedstarà vontade.para colocar seus desatinos diante de mim' ou que ~~~::
o e uma ex-paclente possa f '
dúbia de sua bl ,. .con I~rque não estarei fazendo uma avaliação
te . pro ;,matI~a eXIstencIal, ou que, apesar de tê-lo como pacien-
, usareI com? re erenclal dados e fatos colocados pela sua ex-esposa.
~ \p. Algu~s pSlcoterapeutas existenciais não são tão rígidos com r I -
taISquestoes Porém - . e açao a
lista - . , e sempre Importante frisar que a proposta existencia-
nao apresenta estruturas uniformes de atendimento nem tolhe o .
terapeLlta 'd d pSICO-
l' no SentI o e que ele possa escolher a melhor maneira de se ade-
;;~~:r~~~nte ~~:ssas~l~.est~eseI~ sua prática profissional. E usando desse
que aço tars co ocaçoes, salientando, ainda assim qu'e a minha
postura nessas questões toca muito de '
mais inflexíveis'isso signifi d ;per:o comoutr.as correntes teóricas
mento d ' ,. ca Izer que a smtese que fIZpara o desenvolvi-
:orrente; tm_e~exe~Cl,~Iopr_ofissional apresenta similaridades com outras
1em como :~ncas. ISS~~ao pode ser considerado nem como demé~ito
(ai de enconltrtude, mas unlCa e tão-somente que efetivei uma síntese que
ro a outras correntes teóricas.
~e: :ropos~a lil~ert~ria da psicoterapia existencial permite que se bus-
[essops~::tSe:á~i:~~:s ~obre ~ qUeS~ãOdesse~ v~ncul~s anteriores ao pro-
m 10 le d _ ,e qua quer orma, nao e posslvel, ainda que num
_ p quhe e o~~oes, que certos vínculos não sejam preservados para
ao se ten a preJulzo no desenvolvimento d '_. que
,sistimos nos dias de h '. o processo pSlcoteraplco. E se
1m d' b oJe questlOnamentos severos sobre terapias que abor-
Iversos mem ros de umf: -I''termin d' _, _ a mesma aml Ia, o cuidado no resguardo de
- a as vmculaçoeslra colaborar para q1deo paciente de fatoen
e no processo guarida para seus . . , .., con-
nda nas palavras de de:mtinc)s
oblema do outro,
Na realidade, o que se deve compreender é, além das "pessoas", os exis-
tenciais segundo os quais nós as compreendemos e que são o sentido sedi-
mentado de todas as nossas experiências voluntárias e involuntárias.15 É di-
zer que o nosso campo perceptivo se abre para acolher as verdades
perceptivas do paciente que deve ter uma amplitude total no nível de cons-
ciência para poder detalhar a pertinência de sua própria realidade existen-
cial. Não há como exigir-se uma psicoterapia de desenvolvimento pleno se
não livrarmos o campo perceptivo de nosso paciente de questões que lhes
são transtomantes ou ameaçadoras.
d) Da Transferência - A transferência é uma das temáticas mais reves-
tidas de controvérsia quando se fala da prática da psicoterapia existencial.
Lembro-me que diversas vezes falei dessa temática em eventos de psicote-
rapia existencial, sendo alvo das mais diferentes críticas, pois os meus pares
existencialistas, na sua maioria, sequer aceitam o processo conduzido à luz
da ótica fenomenológica-existencial, que apresenta manifestações do con-
ceito de transferência, ou ainda, a transferência é meramente um concei-
to trazido ao campo da psicoterapia pela psicanálise e só ocorre quando a
psicoterapia estiver fundamentada nos princípios psicanalíticos, não exis-
tindo por si isolada desse conceito teórico, Insisto novamente que o meu
posicionamento é pessoal e não encontra eco entre outros psicoterapeutas
de orientação existencialista. E se ainda assim estiver esbarrando em prin-
cípios que norte iam a prática psicoterápica de orientação teórica que não
a existencial, a questão é de foro íntimo para cada um dos que estiverem se
debruçando sobre essas linhas no sentido de compreendê-Ias, para que um
esboço significativo possa se configurar de modo convincente.
A transferência é uma conceituação teórica sobre o fenômeno do
paciente transferir para o psicoterapeuta valores e conotações de sua pró-
I
pria história de vida. Assim, diante de uma reflexão feita pelo psicotera-
peuta, o paciente pode trazer para a sessão sentimentos que possui em rela-
ção ao próprio pai. O simplismo desse exemplo serve apenas, naturalmente,
para enfeixarmos a base do que iremos discorrer, pois o fenômeno da trans-
ferência envolve questões muito subjetivas, cuja complexidade exige gran-
de sensibilidade do psicoterapeuta para serem apreendidas em sua total
abrangência. O que não podemos perder de parâmetto é que a transferên-
cia deve ser utilizada enquanto instrumento de análise da estrutura emo-
cionaldo paciente. O manejo da transferência não pode estar eqüidistan-
te daprópiiâ to1ldiçãocomoapsicoterapia.se desenvolve.
\ o \ A proposta existencialista deve ser pontuad;, em sua abrangência
libertária, no sentido de que, se aceitarmos a transferência enquanto fenô-
meno passível de ocorrência no processo psicoterápico, não poderemos
aceitar o relacionamento transferencial. O relacionamento transferencial
apresenta peculiaridades estanques para que possamos dimensioná-lo co-
mo viável para a libertação das amarras existenciais do paciente.
\ot A transferência na proposta existencialista deve servir ao Propósito de
sinalizar ao paciente a maneira como ele resolve suas vicissitudes existen-
ciais. Transferir é, antes de mais nada, adiar questões de vertentes emocio-
nais que não estão sendo enfrentadas de maneira adequada. Ésempre impor-
tante salientar que essa definição de adequada deve ser buscada
conjuntamente com o paciente; do contrário, estaremos agindo como a
maioria das psicoterapias que entendem o paciente de acordo com a sua
ótica sem qualquer convergência com a realidade dele. A principal finali-
dade da psicoterapia é fazer com que o paciente readquira sua condição
humana, acreditando em suas potencialidades, descobrindo-se em aspec-
tos que para si mesmo eram nebulosos para, em última instância, acreditar
nessa condição humana. Por isso é que psicoterapeutas mais experientes
afirmam que, independentemente da linha teórica, o processo psicoterápi-
co é eficaz quando tem a capacidade de resgatar o paciente de seu sofrimen-
to emocional, gerado, quase sempre, pela perda que tangenda sua poten-
cialidade humana de recuperação diante dos desatinos da própria vida; ou
ainda, nas palavras de Merleau-Ponty,16 para quem o puro espectador em,
que ergue toda coisa à essência, que produz suas idéias, somente tem garan-
tias de com elas tocar o ser atual que é o modo do ser predicativo. É dizer
que a própria descoberta de sua condição humana é a matriz libertária para
o enfrentamento do conjunto de problemáticas que podem estar cercean-
do seu desenvolvimento existencial.
o~) Detalhamentos de como atuam certas linhas teóricas são apenas cir-
' cunstanciais diante desse aspecto do resgate da própria condição humana.
Se determinadas correntes teóricas enfatizam aspectos adormecidos no
inconsciente, se outras Sustentam que as origens dos problemas estão em
vidas passadas e se outras, ainda, afirmam que tudo se originou no momen-
to do nascimento e quantas mais teorizaçõesforem possíveis de serem arro-
ladas para explicar alguns comprometimentos emocionais, ainda assim, na
essência daquilo que se propõe as pSlcoterapltas, o ceme dos fatos rell?-ete-
nos à condição de que a verdadeira do paciente quando ele
resgata novamente o esplendor de
.~ - d . dependentemente da linha teórica quea que a afirmaçao e que m b
verge par di' coterapia é eficiente se respeitar e us-está a embasá-la to a e qua quer pSI
car atingir esse preceito báShiCO. b pela novl'dade principalmen-' , 'd d' - umana a usca c ,
\oC\ E propno a con lçao I' _ bre a conduta humana. E issod olve uma nova exp Icaçao so d I'
te quan o env. , _ de de teorizações que tu o exp 1-' , d a expltcar o numero tao gran d
por SIaJu a 'd d' tantas correntes tentan o o
cam e que fazem com que SUrjaml~ca _a eI:istentes E no sumo dos pró-rf ' t das próprias exp lCaçoes .
ape elçoamen o 'd d humana de compreen-
prios fatos, sempre iremos encontrar ~ necessl a ~ _ emocional.
der da maneira mais a?rangente ~::I~el s~~~::~~~;oPsicoterápico _ Du-
( ) O Uso de Medicamentos ta o a d
\ {] J e , existencialista propagou em to a a sua con-
rante mUitos anos, a ve:te~te" t. da principalmente por Laing
dição a proposta da antlpsl(ula~na apresen :stionados os principais enun-
e Cooper.
l7
Des~e ~odo, ~.~m e sere~ :-se or terra todos os procedi-
ciados da psiqUlatna tradiCIOnal, lanç dr r p , .. 1 temos que a pro-
' . t' Passa o D IlJror ImCla ,mentos dessa mesma pSlqUla na. . -lternativa ao tratamento de
d L ' Cooper apresentava como a c 1
posta e amg e h to para esses doentes em a _f' , iátrico um acompan amen
con mamento pSlqu d' d "h 't 1dia" Isto sianifica que, aod ' s hoje em Ia e OSpla . b
go que enomm~mo d t 1 em hospitais manicomiais, se enseja
invés de trancaftar o oente men a , _o e com o acompanhamen-
1 . d tratamento sem a mternaça
uma a ternatlva e 1 d'camentoso. Nesses casos,f '1" mo de um contro e me I ,
to da aml Ia e ate mes _, '1' da nem os resquícios pum-dicamentação nao sera utl Iza ,
certamente a me d internamento tampouco co-
tivos dos remédios utilizados nosdProcedssos e . te Ao co~trário, a medi-
1 . 1 a da con uta esse paclen .
mo contro e socla ace,rc , d d over o reequilíbrio desse
cação administrada Visa, aCima e .t~ o, prom
d
, _ h mana. Em termos
1 ssa readqumr sua con lçao u
paciente para q~e e e p~ b" cessário um posicionamento lúci-
específicos de pSlcoterapla, tam em e ne condição libertária em
do do psicoterapeuta para que não percamos essa
mera e vã digressão te~rica. ão do medicamento administrado
\0 ~ A~tes de s.equest1:~~O~í~:~~t::~idepressivos, calmantes ou estimu-
ao paCiente, sejam el~s d les foram prescritos e com que
lantes, é pr~ciso avaltar-s~s~mo e9ua.~ °btscam a psicoterapia depois de
intenções. Es, os de expenenClas e Vl a pr
ta de situações ncas em term d desenvolvimento adquirido
dição genuína de empatia que po e superar o 'A l'a rica de vivên-
, " A fusão de uma eXlstenc
~~::Veé~:;:~:~~i;:~~:r:~~::rido a~ravés,da prática PsicO~:~á~~~~l::~::
um binômio indivisível ~ qu~ torn~ra tO~~~~:;:~:t~i:~e de situações
para debruçar-se sobre a or o paClen e. , v~lvimento da empa-
que esbarram em nossas limitações pessoal:, o desende total impraticabili-
tia será muito difícil e, em alguns casos, ate mesmo I t '
d' há a guns anos aras.
dadeN~o~:~ae::~~~~, ~~~~: p:::~u:~::i~as a torturas fís~cas e m:~
\1./:> , q d h mbo da ditadura militar que assolou o PalS por ~ ,
tals nos anos e c u d ' ro de atrocidades passlvels
d' d C vivia com um gran e numelongas eca as. on I tos de pacientes
d etidas contra a pessoa humana e com os re a
e sere~dcom _ de afogamento 19 choques elétricos nas genitálias, se~-
submen os a sessoes , d lh d ras no meia
sões de pau_de-arara,20espan~ament~s, raj::~:a :::~~im:l~sca possível,
da madrugada, para que acor assem a ma 'lha ão da con-
além de uma série de outros tantos itens de tortura e hUlLll ç ais se
di ão humana. Tratavam-se de sessões de psicotera~ia,onde ~ que m E is-
ç, eram termos de aberrações à condição de dlgmdade u~ana.
~:::::contar com o número de mortes que esses paciente~ traztam ~dmSec:
, 't . vezes havlam morri o
'da fossem elas de companheiros que mUl as "d 'd "
Vl , , da de arentes igualmente esapareCl os
sessões de tortura, fosse~ am P ilitares brasileiros. Esses parentes
nesse descalabro patrocmado pelos m d d . familiar e dire-
"desaparêcidos" muitas vezes eram fil~os arranca os o selO
cionados para os mais diferentes cammhos.
., . a vítima até um tonel de água e inserir sua cabeça
19 Sessão de afogamento conSIstIa em le~ar 'd·f 1 do por falta de condições res-
a vítima estivesse es a ecen I
dentro dele até o momento em que . '... bPí'a de vítima de dentro do tone para
N t o torturador teuravaa.ca ~.". . .. , Ipirat6rias. esse momen o, .... . seguida, i.niciar-se novamente o ntua
d ' alguns instantes para, em .... • ··d éque essa pu esse resplrarpor 'l' 'd . eríodo da ditadura militar, am a come-
de afogamento~ Essa prática, largam~nte 11:
1 Iza. ~~oc~m presos comuns, devido. àfac:ili(,l~ged~
tida no interior de algumas delegaCias, hOJeem Ia •..••..••.••.•..C .,,possa desenvolver-se de maneira real-
mente libertária.
(L~ Aceitar que temos nossas próprias limitações é aceitar que precisamos
desenvolver nossa condição humana de modo igualmente libertário. Do
contrário, estaremos escamoteando uma das face tas que seguramente
emperram muitos processos psicoterápicos de se desenvolverem plenamen-
te. É estar atento para as possibilidades que a vida se nos apresenta de mo-
do a poder integrá-Ia em nosso campo perceptivo de maneira harmoniosa,
questionando e refletindo a cada passo do processo psicoterápico as razões
que emperram muitas vezes o desenvolvimento livre da empatia. É assumir
antes de qualquer outro questionamento que o psicoterapeuta é igualmen-
te falível e possui limitações que podem prejudicar o pleno desenvolvimen-
to do processo psicoterápico, além de emperrar o caminho libertário do
paciente. . •
\"r'l As reflexões propostas no presente capítulo não são conclusivas nem
encerram sobre si o absolutismo das verdades axiomáticas que não permi-
tem questionamentos de nenhuma natureza. Ao contrário, iniciamos uma
trilha sobre a qual outros seguidores da psicoterapia existencial poderão
debruçar-se para não apenas refletir sobre seus postulados, mas também
para aperfeiçoar as idéias que ora estão sendo lançadas.
\'1-)\ Já foi dito exaustivamente que nós, os existencialistas, somos poucos e
que só não estamos ainda em processo de extinção pela nossa capacidade
de reflexão e superação de nossas limitações. E isso de forma clara e abso-
luta é que nos direciona para o constante aprimoramento de nossas práti-
cas e do embasamento teórico que está a sedimentar as nossas reflexões e
atuações. E assim posto, temos a necessidade de união de nossos materiais
para que a propostaexistencialista continue a crescer apesar de sermos tão
poucos ... Poucos, apaixonados em demasia em nossas crenças e ,ideais,
por menores que
ANGERAMI, Y.A. Psicologia hospitalar - teoria e prática, Editora Pioneira,
São Paulo, 1994.
ANGERAMI, Y.A. Psicoterapia Existencial, Editora Pioneira, São Paulo,
1993.
CHESSICK, D.R. Why Psychotherapists Fail, Science House, New York,
1971.
FORGHIERI, Y.c. Psicologia fenomenológica. Fundamentos, método e
pesquisas, Editora Pioneira, São Paulo, 1993.
MERLEU.PONTY, M. O visível e o invisível", Editora Perspectiva, São
Paulo, 1971.
STRATTON, P., e HAYES, N. Dicionário de psicologia, Editora Pioneira,
São Paulo, 1994.
Texto 20
GIOVANETTI, José Paulo. Desafios do Terapeuta Existencial Hoje. In: ANGERAMI-CAMON V A (ORG) A 'r
da psicoterapia. SP: Pioneira, 1999.. ' " " pra Ica
Desafios do Terapeuta
Existencial Hoje
o mundo sofreu, nos últimos trinta anos, uma transformação profun-
da. Nunca, na História da Humanidade, vivenciamos mudanças tão rápi-
das na nossa vida cotidiana. Estas mudanças atingiram a vida política, so-
cial, econômica e, como conseqüência, a psicológica, isto é, nossa vida
afetiva, principalmente por meio das transformações dos valores.
Se compararmos o homem dos anos 50-60 com o dos anos SO-90, va-
mos verificar que a vida de hoje é muito diferente da de 30 anos atrás. A
organização do dia-a-dia, antigamente, obedecia a uma hierarquia de valo-
res bem determinados e rigidamente estruturados. O homem moderno lutou
para c9nquistar uma vida melhor, com mais conforto, mas, mesmo ao dar
valor ao material, permanecia com um pensamento tradicional de que,
embora consiga bens materiais, estes não satisfazem às mais profundas aspi-
rações humanas. No início do século, a luta pelo progresso ainda estava
ligada a uma dimensão mais profunda do ser humano, a qual não podia ser
preenchida pelos bens materiais. Com o passar dos tempos, e com os ques-
tionamentCls provocados pelas mudanças sodoculturais, as convicções de
até então .começaram a ser derrubadas uma por uma. Ao invés de termos
certezas,pas~alllos a viver diant~chamar de culto do dese-
jo:Aqui;o que vale é aquilo que eu sinto, que me proporciona uma sensa-
ção agradável ou de bem-estar. Esse narcisismo, portanto, solidifica-se ~or
meio de um investimento maciço no corpo e por meio de um culto de obJe-
tos supérfluos, que provocam em mim a sensação de preenchimento do meu
desejo.
O presente estudo é composto de duas partes. No primeiro m~m~nt~,
procurrmos explicitar, diante do quadro exposto acima, quais os pnnclpats
problemas existenciais que afligem o homem contemporâneo. No segun-
do buscamos refletir sobre a missão do terapeuta existencial, quando defron-, "
tado com questões diferentes das de alguns anos atrás.
4.1 PROBLEMAS EXISTENCIAIS CONTEM;PORÂNEOS
cOl:ltemI)Or:3.n(~osão de
as esferas do
agir humano. Assim, vamos buscar, como psicólogo, destacar alguns desses
problemas com os seus respectivos sintomas.
- Desintegração da Unidade Psíquica
O primeiro problema que salta aos olhos do psicólogo clínico, quando
defrontado com as pessoas que o buscam no consultório, é a constatação de
que, muitas vezes, os mais diversos sofrimentos revelam uma desintegração
da unidade psíquica. A vida psíquica articula-se a partir de uma certa inte-
gração das várias faculdades psíquicas, como a preocupação e a representa-
ção, os sentimentos e o pensamento e a vontade. O estudo da função de ca-
da uma dessas faculdades e da sua dinâmica de integração constitui o objeto
de estudo de Psicologia. Lersch6 enfatiza que a vida psíquica é, por nature-
za, um todo que se articula na variedade das faculdades psíquicas e a quebra
dessa unidade pode provocar um desequilíbrio na nossa vida cotidiana. Es-
sa quebra de unidade pode ocorrer no momento em que privilegiamos uma
o:upação unilateral e exclusiva de uma dessas esferas da vida psíquica, ou,
aInda, em que, ao privilegiar uma, anulamos a presença da outra, não levan-
do em consideração que, por exemplo, a matéria sob a qual a vontade e o
pensamento funcionam e à qual se referem os sentimentos são os conteúdos
sensoriais e representativos estruturados nas sensações e repr~sentações. A
não-compreensão dialética dessas diferentes esferas da vida anímica provo-
ca o que designamos por desintegração da unidade psíquica.
A pergunta que vem à nossa mente pode ser traduzida da seguinte
maneira: quais são os fatores do dia-a-dia que poderiam provocar a desin-
tegração psicológica? Não se trata, aqui, agora, de explicitar todos, tarefa
quase impossível, mas de destacar alguns deles.
Um dos fatores principais é que a civilização contemporânea científi-
co-tecnológica elegeu como pilares de sua organização a ciência e a técni-
ca; e, dessa maneira, o processo de racionalização, isto é, em que tudo é
explicado pela força da razão e por meio do predomínio da experimenta-
ção, atinge quase todas as dimensões do nosso agir. A síndrome da organi-
zação que se verifica na nossa vida científica, econômica e política atinge
outras regiões do nosso dia-a-dia. Estamos diante de um domínio da razão
que :n~ta a espontaneidade da vida e, de~sa Faneira, assistimos a um pre-
dO~I1JJo da estrutura ra.ci0llalista dfi existência. Cada. vez mais,a planifi-
caçao, a burocratização que atinge o nosso. trabalho vai impossibilitando
ao trabalhador imprimir seu caráter pessoal no que está realizando. Lersch
fala dos efeitos da racionalização do trabalho, alertando que o
"... trabalho deixa de ser expressão de personalidade, deixa de ser auto-realiza-
ção, ficando reduzido a uma contribuição parcial especializada e necessária se se
quer seguir vivendo na complicada organização da vida modema."7
A perda da possibilidade de se imprimir um caráter pessoal no que se
faz vai desumanizando, pouco a pouco, as nossas ações, tomando-as estra-
nhas a nós. Como conclui o autor, a atividade profissional se desespiritua-
lizou e se mecanizou.
Outro fator que provoca essa atitude de racionalização do homem dian-
te das coisas é o fato de o ser humano captar o mundo na perspectiva do
pensamento, do estritamente racional. Desde a origem da Filosofia, quan-
do justamente se deu a passagem do mito à Filosofia, a racional idade pas-
sou a ser, por excelência, a forma de interpretar e organizar o mundo, e ela
atingiu, hoje, sua expressão mais sofisticada, isto é, o
"... pensamento racional-conceptual é o instrumento de que o homem se serve
para dominar o mundo e colocá-Io a seu próprio serviço."8
Não se trata, aqui, de discutir as formas de racionalidade contemporâ-
nea9, mas perceber que, no momento em que colocamos a racionalidade
científico-tecnológica como o paradigma da compreensão da realidade, o
homem moderno não se utiliza da imagem para captar a realidade em que
VIve, e tudo aquilo que peIl~tr~ em ;ua consciência se faz mediante o filtro
do conceito, pois, se a
"... Imagem é um todo harmonioso e perfeito em si, algo íntimo e essencialmen-
te significativo, o conceito revela o perfil de uma realidade inerte,"IO
isto é, ele tem uma função utilitária, um caráter instrumental. Esse fenô-
meno chama-se despoetização do mundo. Não vemos mais o mundo com
os olhos do poeta, da harmonia, da beleza espontânea, mas sim como uma
realidade que dominamos por meio dos nossos conceitos. A compreensão
do mundo passa a ser operacionaI, e não estética. O diagnóstico deste final
do século XX é extremamente sombrio, quando Lersch nos diz que o
"... homem moder:nose.~mpobreceu deidéias e imagens e, em contrapartida, sub-
meteu-se a uma inflação de conceitos numa tal medida que nem ele próprio tem
a mais leve suspeita. nu
Essa atitude provoca o que se chamou o desencantamento do mundo,
a passagem para o predomínio da racionalidade científico-tecnológica. Esse
segundo fator por nós enumerado, e que se pode denominar como despoe-
tização do mundo, vem contribuir, junto com o primeiro, com a racionali-
zação do cotidiano, para e?Cplicitaraquilo a que chamamos de desintegra-
ção da unidade psíquica,· o predomínio do pensamento sobre as outras
dimensões da vida anímica.
Ora, a interrogação que nos cabe fazer, agora, é: quais são os sintomas
que surgem na nossa vida cotidiana que traduzem essa dilaceração interna
do homem moderno?
O exagero de uma dimensão de nossa vida provocará uma quebra da
nossa harmonia como seres humanos; por isso, se vivemos num mundo ca-
da vez mais dominado pela racionalidade, corremos o risco de eliminar os
sentimentos de nossas vidas. Não há lugar para a experiência do amor, dos
sentimentos de admiração pelo outro, pois só pensamos e entendemos o
mundo à luz da operacionalidade, isto é, da instrumentalização conceptual.
Somos massacrados e escravos da explicação racional.
Essa alienação inconveniente, porém, faz-nos buscar formas alterna-
tivas de compensar a escravidão que está na raiz de nossa existência. Dian-
te da falta de liberdade, expressa por meio da razão reguladora, procuramos
alguns meios de extravasar a insatisfação provocada pela desintegração da
estrutura psíquica. Esses fenômenos, que podem aparecer sob as mais diver-
sas formas, alguns dos quais vamos explicitar a seguir, são o que podemos
chamar de sintomas do problema apresentado acima.
Uma das maneiras de se questionar a racionalidade reguladora e apos-
tar numa outra dimensão do ser humano que se oponha a ela é feita por
meio do culto do sentimento. A aposta aqui é esta: se somos massacrados
pela extrema organização da vida, vamos dar asas à imaginação, destacan-
do a "irracionalidade" como a maneira de fazer frente à unilateralidade da
razão. Essa postura, que à primeira vista aparece como libertadora, consis-
te, no fundo, em permanecer no mesmo referencial, pois se substitui uma
unilateralidade, a da racionalidade, por outra: a do sentimento. A vida,
que era governada pela sistematização da razão, passa a ser conduzida pela
"curtição" dos sentimentos e das sensações que estes oferecem.
Outra manifestaçãoda luta do homem contra o domínio da razão dá-
se na exacerbação da dimensão religiosa. Não queremos dizer que a valori-
zação do aspecto religioso seja uma alienação dohomem,pois °ser huma-
no é religi()so, lllasa.gro~seirasuRstituiçãoda. religiãopelasmâis diversas
v~l()riz~çõesdo 'ocultismo indica que a alienação dohon:YlUfIlodernà se
lf.>Fofimda.Como diz Lersch,
" ... a inclinação e a disposição até o oculto (entidades nebulosas e enigmáticas)
e toda a classe de mistificações é uma tentativa equivocada de compensar a des-
poetização e desdivinização do mundo ...""
pelo homem contemporâneo. A crença em algo nebuloso apresenta-se co-
mo uma fuga do massacrante processo de racionalização da sociedade con-
temporânea.
Outro fenômeno compensatório é a busca exagerada de distração e diver-
timento que invade nossa vida cotidiana. É a necessidade imperiosa de bus-
car a primeira distração que aparece, como, por exemplo, anestesiar-se dian-
te da TV, que apresenta, cada vez mais, programas que não nos fazem pensar.
Para tanto, basta verificar como o índice do Ibope está aumentando com os
programas com grande apelo emocional. Ora, aquele programa que não nos
fazpensar e que se baseia no imediato e no superficial éum dos mais procu-
rados. A diversão anestesia-nos da massacrante racionalidade imposta pela
sociedade moderna e nos faz esquecer dos problemas cotidianos, jogando-
nos para uma dimensão além da estressante vida moderna.
- Perda de Sentido da Vida
O segundo problema crucial do homem moderno, que, no consultó-
rio, não é explicitado de maneira clara num primeiro Illomento,é a perda
do sentido da vida. Às vezes, o cliente chega dizendo que a vida perdeu to-
do o encantamento, em decorrência de uma perda pontual, isto é, ele vem
de se separar ou de perder um ente querido próximo. Diante de um desses
fatos, a vida desmorona e ele tem a sensação de um vazio produzido por es-
sa perda pontual.
O problema que nos toca, aqui, é que essa perda de sentido da vida é
algo mai~profundo do que uma reviravolta momentânea na direç~o da nos-
sa vida. Ela é fruto de um conjunto de situações que iremos analIsar e que
tem como sintoma o vazio existencial, ou o tédio.
De maneira geral, o mundo contemporâneo está sendo ordenado pelo
efêmero e pelo superficial. Nossa vida cotidiana é impulsionada pelos modis-
mos, isto é, pelo hit-paradedas .idéias da contra cultura, do psicodelismo, .da
pedagogia libertária, do comportamento antia,utoritarista dasposições femi-
nistas e da defesa da ecologia,13Não queremos dizer com isso que tais idéias
não sejam importantes para o mundo .atual. O problema está em que
dez da sucessão de idéias gera o fenômeno a chamamos
"LERSCH, op. cit., p. 71.
IJ LIPOVETSKY, Gilles. I:empire
Tudo passa a ser sentido como algo que não tem muita duração, que é vis-
to como um modismo. Essa rapidez da mudança das idéias provoca, tam-
bém, outro fenômeno: o da superficialidade. Tudo passa a ser vivido sem
profundidade, como se o tempo, sendo curto, não permitisse o aprofunda-
mento das posições e o amadurecimento das idéias.
Este tipo de vida vai desencadear uma transformação na organização de
nossa vida psicológica, provocando o aparecimento de vivências internas dife-
rentes das ocorridas em uma sociedade mais tradicional e com tempo crono-
lógico diferente para assimilação e aprofundamento das questões existenciais.
O fator mais importante, que altera radicalmente nossa maneira de ver
o mundo, é aquilo que Lersch denomina de "desinteriorização do homem."14
O autor faz uma comparação entre o homem de hoje e o de antigamente,
mostrando que o antigo é como a criança diante do adulto, pois sua ampli-
tude de vida é reduzida diante do homem moderno, que tem em mãos uma
gama de possibilidades quase infinita para a organização de sua vida. O espa-
ço vital ampliou-se em proPorçõe5 inimagináveis, descentrando o homem
de suas atividades mais reflexivas.
"O mundo sobre o qual o homem se projeta e no qual realiza a sua existência
humana enriqueceu-se no sentido de uma multiplicidade e de uma plenitude de
possibilidades, cuja a máxima concentração encontramos na cidade urbana."I;
Esse fenômeno do enriquecimento do horizonte vital traz consigo a expe-
riência da desinteriorização, isto é, a perda da vivência da dimensão da pro-
fundidade, uma vez que a superficialidade e a efemeridade nos induzem a vi-
ver as coisas na dimensão da extensão, e não na dimensão da profundidade.
O ritmo de vida do homem moderno não é mais regido pela calma, mas
:litado pela pressa, o que nos leva cada vez mais a não sentir a vida, mas pas-
lar por ela. As vivências, como, por exemplo, a experiência do amor, que exi-
~euma sedimentação da relação, é "curtido" sem nenhuma interioridade. Por
sso, assistimos à banalização dessa experiência e à perda do significado mais
loofundo do que vem a ser o amor. Surge um novo estilo de vida, caracteri-
ado pelas mudanças bruscas das impressões e pelo culto da velocidade das
ransformações.l6 As coisas do dia-a-dia perdem sua profundidade, e como
onseqüência o sentido maisradicalé vivenciado por meio da banalização
06 aCiJnltecimen.tos, que se procura saber e conhecer sobre tudo, sem se
em nada específico. ,Estar por den.tro de todos os últimos aconte-
cimentos e jamais analisar algo sem coerência: o importante é estar a par dos
acontecimentos, sem, no entanto, relacioná-Ios e compreender suas raízes.
Outro fator que, no dia-a-dia, contribui para a diluição do sentido da
vida, sem que o homem perceba esse esfacelamento é a perda do contato
direto com a vida.l? Hoje, o contato que fazemos com o nosso semelhante
não é mais um contato face a face, mas um contato feito por meio de um
aparelho. Já não conheço mais a pessoa que conserta o meu sapato, não sei
o seu nome, como acontece na cidade pequena onde o sr. João é o meu
sapateiro. Pelo contrário, disco para uma central de atendimento, que me
fornece um número e um boy vem buscar o sapato em minha casa para ser
reparado, e um outro vem devolvê-Ia, já pronto.
Essa perda de contato com a vida, feita por meio da proliferação de apa-
relhos, a qual isola cada vez mais as pessoas, atinge, talvez, seu ápice, ho- ,
je, com a Internet, onde entro em comunicação com o outro, passando ho-
ras num bate-papo virtual, sem jamais ter idéia da pessoa com quem estou
falando, e mais: só sabendo o seu codinome, uma vez que, na conversa vir-
tual, uso um apelido para não ser identificado. Assim, não sinto e não per;
cebo o outro a partir de um contato imediato, mas sim de um aparelho. E
a interposição de um mundo técnico, a ditadura da tecnologia sobre a espon-
taneidade da vida, deixando, assim, o homem longe das suas relações ime-
diatas com o mundo e com os outros e provocando um distanciamento ca~
da vez maior das riquezas do contato espontâneo com a vida. O sintoma
que reflete essa problemática nós o denominamos vazio existencial.
Frankl (1970), por meio de sua obra e abordagem terapêutica denomi-
nada logoterapia, insiste que, no mais profundo do homem, existe uma força
denominada "vontade de sentido" que impulsiona o homem a dar à sua vi-
da um s;ntido mais profundo. Não é a tendência ao prazer o motor da exis-
tência, mas a vontade de sentido. O ocultamento dessa força provoca um
sentimento .de ausência de sentido que se manifesta no vazio existencial e
que outra coisa não é do que a frustração existencial. O autor assim expli-
cita essa idéia:
"Nós constatamos, com efeito, freqüentemente, que no pano de fundo
da frustração sexual, há, com efeito,.umafrustra~ão da necessidade de sen-
tido: nada melhor do que o vazio existencial para fazer proliferar a libido
sexual."18
11 FRANKL, V. La psychothérapíe et sonímage de l'homJhe.P~ris: Lece~fu~iol1-resma,
60. .~' ...'
18 GIDDENS, A. A transfcmnação da intimidade. São Paulo:
Dentro dessa p~rspectiva, a fonte dos distúrbios neuróticos pode ter,
como ponto de partIda um problema espiritual, um conflito moral ou uma
. cris~ existencial, pois ambas as questões nos remetem a um problema de
sentIdo, que coloca em cheque a orientação de nossa vida. O vazio exis-
tencial, que está ligado ao sentimento de falta de sentido da vida, cresce
no mundo contemporâneojustamente na medida em que o homem sente-
se distanciado de suas vivências mais espontâneas e é bombardeado com
um número infindável de exigências, que deslocam a sua atuação de uma
preocupação mais significativa para preocupações mais supérfluas mais
hedonistas. '
A sociedade contemporânea, na medida em que valoriza o imediato
aquilo que dá prazer imediato, instiga o homem a se perder nas promessa~
q~e trazem felicidade, esquecendo que as respostas que ele deve encontrar
dIan~e d.a~questões que a vida coloca constituem, no fundo, a realização
dos SIgnIfIcados que a vida oferece. Hoje, ter uma vida superficial, que se
expressa pelo comum e pela despersonalização, livra-nos de uma interro-
~ação mais exigente sobre os nossos engajamentos e as nossas responsabi-
lId~des. A vid~ fácil orquestrada pela sociedade sem questionamento é pre-
fenda a uma vIda de respostas às questões do significado. Essa atitude, muito
c?mum ~a sociedade, é que nos faz detectar, nas pessoas, o vazio existen-
Cial. O ntmo de vida moderno abafa e anestesia o desejo de sentido, pro-
vocando uma entrega às estimulações e aos modismos proporcionados pela
cultura pós-moderna.
- A Transformação da Intimidade
O terceiro problema que parece atingir o homem moderno são as con-
;eq?~nc.iasda velocida~e das mudanças na nossa vida, guiada pelos desejos
naISIntImas na nossa VIdapessoal. As experiências de sexualidade e de amor
?~fre~uma grande transformação, deixando de ser consideradas como expe-
IenCIaSem que se perceberia o sentido de uma vida, de um engajamento
ma serem banalizadas por meio dos meios de comunicação, como se fos~
em algo que você compra na esquina. Hoje, a experiência amorosa
". d I... tntro. uz pe ~prim7ira\,ez a 'ars erotica' no ceme do relacionamento conju-
gal e transf?rma~. reah~ação do prazer sexual recíproco em um elemento-chave
na manutenção ou dissolução do relacionamento."19
de ter um aspecto posi-
o homem e a
mulher neste final do século XX, pois a busca do prazer sexual passa a ser o
componente básico de sua vida e de seu relacionamento, modificando a inte-
ração conjugal, na qual o relacionamento de duas pessoas baseado no envol-
vimento emocional começava a predominar sobre o relacionamento basea-
do em critérios sociais.
Os fatores que provocaram essa mudança na vivência da intimidade,
que agora passa a ter como referência a satisfação do eu, principalmente na
dimensão sexual, podem ter as mais diversas origens. A grande transforma-
ção na concepção da sexualidade talvez seja um dos fatores mais significa-
tivos para entendermos que a apreensão da alteridade do outro - em que
desejo a esse outro o melhor - cede lugar ao investimento narcíseo do eu,
procurando ver o outro como aquele indivíduo que somente satisfará minhas
necessidades. Assim, Rojas utiliza a expressão "sexualidade light" para expri-
mir que as relações, hoje, são uniões sentimentais e muito pouco de amor,
e que qualquer relação superficial e passageira recebe o nome de amor,20vul-
garizando, dessa maneira, a importância do outro na minha vida.
O que queremos expressar com a expressão "sexualidade light" é que a
sexualidade que está por toda a parte na sociedade moderna está desvincu-
lada da afetividade. Nas palavras de Rojas, vive-se a
u••• sexualidade sem importância, sem interesse, desvalorizada, carente de qual-
quer autêntica intimidade,"21
acentuando que o sexo pode e deve ser vivido sem envolvimento emo-
cional. Essa máxima, em lugar de possibilitar-nos uma intimidade realizan-
te, dá-nos uma intimidade vazia e, por isso mesmo, frustrante.
Um segundo fator pode ser listado para entendermos esse investimen-
to narcíseo do eu, o qual se caracterizaria como a expansão da mentalidade
hedonista na sociedade contemporânea. Por hedonismo, entendemos aque-
la postUla de que o prazer deve ser buscado em primeiro lugar e acima de tu-
do. O que vale é submergir-se em sensações, gozando a vida ao máximo e
questionando todos os limites impostos pela sociedade. Não queremos dizer
que desfrutar a vida não seja algo importante, e até saudável, mas o que é
próprio da mentalidade hedonista é a maximização da diversão sem restri-
ção. Buscar saborear a vida é psicologicamente saudável; o frenesi da diver-
são sem restriçõeséqueindica a morte dos ideais propostos pela sociedade.22
Essa mentalidade hedonista a cujo ápice assistimos, é fruto, hoje, de
um otimismo doprojetoiluITünistado século passado, mas que se expressa
10 RO]AS, Enrique, O homemmodeJ:no. Sãq Paulo, Ed. Mandarim, 1996, p. 52.
II Idem, ibidelll' p. 19.
!l MORAIS, Regis. Stress existencial e sent.ído da vida. São Paulo, Loyola, 1997, p. 19.
como o caminho que pode levar o homem à felicidade, por meio da satis-
fação de todos os seus desejos e necessidades. Na medida em que essa pos-
tura de vida orienta nossas ações e relações pe~soais, a vivência da intimi-
dade sofre uma reviravolta, quando buscamos nà figura do outro só o
preenchimento de um desejo. A descaracterização do outro como alguém
que deve ser respeitado e visto como uma pessoa singular concretiza-se
quando esse outro é percebido como alguém que está diante de mim só para
concretizar o meu prazer.
A auto-afirmação do homem moderno por meio da vivência do hedo-
nismo radicaliza, em última instância, a idéia de que o que importa é viver
intensamente cada momento da vida e, com isso, a dimensão do futuro
desaparece do horizonte do ser humano. O que tem valor e o que se bus-
ca é viver intensamente o presente e, quando a dimensão de futuro desa-
parece de nossa 'vida, o problema do sentido analisado mais acima também
desaparece, deixando o homem à mercê de seus impulsos e desejos. O deses-
pero é a sensação que irá seguir-se a isso.
O sintoma à transformação descrita acima é um surgimento de um no-
vo estilo de vida, onde a liberação do eu é a premissa fundamental. A iden-
tidade do homem moderno passa a ser baseada nessa liberação e reconhe-
cida quando cada vez mais se afirma que o que vale é a liberação de tudo.
Esse novo estilo de vida, quando levado a um extremo, pode geriu um com-
portamento compulsivo, em que o indivíduo Se torna escravo da busca do
prazer e da utilização do outro para viver. E todo comportamento compul-
sivo está associado a uma sensação de perda de controle sobre o eu, geran-
do-se, assim, uma desintegração do eu, que poderia buscar uma compensa-
ção na bebida ou nas drogas.
O panorama traçado anterio~ente coloca-nos diante de alguns proble-
nas existenciais que podem ser os problemas de clientes do cotidiano,
:que nos lançam comc)eIltn~nt:á o que se torna urgen-
e para o enfrent:lr SitÚ:IÇâlOno
aínimo an!~usl:iarlte. ter:ipeuta /
oas
- Reorganização da Existência
Ajudar o cliente que vem ao seu consultório angustiado a buscar uma
nova organização de sua vida talvez seja a tarefa principal, para não dizer
primordial, do clínico-terapeuta. Uma grande parte das pessoas vai passan-
do pela existência na perspectiva de ir vivendo, sem nunca se perguntar
pelo sentido de seu ato, de sua ação concreta. Literalmente, passa pela vi-
da. Ora, essa atitude corriqueira e muito freqüente carrega consigo uma
grande insatisfação, que se manifesta, muitas vezes, por meio de uma soma-
tização. O conjunto de posturas "espontâneas" e irrefletidas do dia-a-dia
vai revelando uma estrutura da existência que chamaríamos inautêntica.
A necessidade de descobrir e reorganizar, no mais profundo de nós mesmos,
a estruturação dessa cotidianidade passa a ser vital para nossa sobrevivên-
cia psicológica.
A pergunta que cabe agora é: como é possível reorganizar, de maneira
saudável, o nosso dia-a-dia? Quais seriam os caminhos que nos ajudariam
a encontrar uma saída para esta insatisfação latente que começa a vir à
tona? É necessário desprender um grande esforço para atingirmos essa meta?
Nessa direção de reorganização de nossa existência, o terapeuta exis-
tencial pode ajudar o cliente nessa tarefa, incentivando-o a descobrir o ru-
mo mais profundo de sua existência, que pode se concretizar por meio de
uma"experiência" de descobrir o sentido mais profundo da vida e da ten-
tativa de entender a sua coerência interna.
Morais (1997) define o estresse existencial como o
" ... sofrimento advindo de uma realidade humana fragmentada (senão atomiza-
da) e marcada por aguda pobreza de sentido."2J
Esses dois pontos levantados pelo autor é o que acabamos de apontar
acima, indicando a necessidade de ajudar o cliente a ter uma coerência
intern1' em vez da existência fragmentada, e buscar explicitar o sentido
latente, mas esquecido, da nossa vida.
Não se trata aqui de fazer uma exposição exaustiva de como o sentido
se revela na nossa vida e como podemos explicitá-Io, mas, simplesmente,
de chamar a atenção do leitor para essa tarefa, deixando para uma outra
oportunidade o desenvqlvimento da busç:ado sentido.
Porém, podemos dizer que descobrir o sentido é buscar o significado da
vida, qtie exige
" ... auscultar as situações e ter coragem de apostar em decisões que os momentos
arrancam de nós."24
o autor usa também uma citação de um discípulo de Frankl para expli-
car o que é a busca do sentido, dizendo que:
u••• ao invés de ser uma cômoda apólice de seguros, o sentido se revela como desa'-
fio, associado a todo o risco que, proporcionalmente à sua dimensão, qualquer
empreendimento precisa assumir."15
E mais adiante no texto, ele conclui sobre a organização do seIf verda-
deiro, dizendo:
U ••• o self verdadeiro aparece desde que exista alguma organização mental do in~,~
víduo e ele (self verdadeiro) não é mais do que a soma da vida sensono-motor.
Para esse autor, o surgimento do seif verdadeiro toma-se uma realida-
de viva, na medida em que existe uma adapta~ão suficientem~nte ~~a da
mãe às necessidades vitais do recém-nascido. E a interação satlsfatona do
bebê com o seu meio ambiente, representado pela figura da mãe, que des~n-
cadeia a estruturação do self verdadeiro. O que acontece ao lor:go ~a vida
é que, segundo diz Winnicott, como o ambiente toma-se hostl1,.ha o s~~-
gimento do falso self, que tem como função dissimular o ver.dadei~o seif.-
Aqui, interessa-nos perguntar como é que o terapeuta e~i~tenclal pod~,
nesse emaranhado da sociedade pós-moderna, que leva o SUjeitoa co~str~ir
um falso seif e, por isso, sentir-se distante de suas vivências pessoals: aJu-
dar seu cliente a reencontrar seu verdadeiro self e, com isso, ter uma l~en-
tidade pessoal integrada, que lhe possibilitará ter um contato harmomoso
com o seu ambiente.
O primeiro passo para se concretizar essa tarefa é buscar reviver, com
o cliente, o sentimento de confiança, pois,
u••• a confiança nos outros é desenvolvida em conjunção com a formação de um
senso interno de confiabilidade, que fornece ulteriormente uma base para uma
auto-identidade estável."29
No momento em que a experiência de confiança é vivenciada, o .adul-
to tem chance de reorganizar sua existência, uma vez que a personalidade
adulta mostra-se estruturada quando o sentimento de confiança, a segu-
rança ontológica e o sentimento de continuidade da~ coisas e das p~ssoas
permanecem intimamente ligados entre si.30 O sentlment~ de confiança
é assim um dos alicerces para a instauração e o desenvolVimento do ver-, , .
dadeiro self.
Na medida em que o ser humano vai desenvolvendo o seu self verda-
deiro e passa a ter uma personalidade integrada, ele será ca~az de fa~er .a
distinção entre confiança e crença.3! Na experiência da confiança, o mdi-
víduo pondera conscientetrle~te as alternativas que despontam como ~os-
síveis, se a sua ação tiver uma determinada direção. Como exemplo, dire-
Descobrir e viver o significado dos nossos engajamentos, as raízes das
nossas atitudes, a direção dos nossos atos é fazer a experiência do sentido.
E aqui está uma das missões do terapeuta existencial, quando ajuda seu
cliente a desvelar o significado de seus atos.
A outra direção para uma reorganização da existência seria desenvol-
ver a dimensão oposta que a sociedade moderna valoriza no cotidiano do
ser humano. Se hoje o homem concentra-se no material, naquilo que pro-
porciona um estado de felicidade imediatq, a estratégia seria redescobrir a
dimensão espiritual. Com isso, estamos dizendo que se deve dirigir a aten-
ção para os valores, pois uma vida sem valores é, no fundo, uma existência
que carece de união. O progresso material colocado como alicerce do desen-
volvimento e do bem-estar das pessoas incentiva um individualismo doen-
tio e deixa de lado a vivência de dimensões de vida como a solidariedade,
a preocupação para com o outro fora do nosso dia-a-dia. Como o homem
é um ser inter-relacional, isto é, um ser que constrói a sua identidade a par-
tir da interação com o outro, o desprezo pela dimensão da solidariedade
para com o próximo acarreta uma unidimensionalidadeda existência. A
recuperação dessa dimensão e, por conseqüência, a instauração de uma cul-
tura da solidariedade - no lugar de uma cultura do individualismo, por meio
da redescoberta da dimensão espiritual, esfera do ser homem responsável
pela hierarquização dos valores - passam a ser uma tarefa crucial do tera-
peuta existencial.
- Busca do Self Verdadeiro
Se falamos da busca do sentido da vida e da coerência da existência, ago-
ra devemos voltar nossa atenção para a dimensão da identidade pessoal. Para
tanto, o trabalho terapêutico deve-se centrar no desvelamento do self verda-
deiro, em contraposição ao falso seIf. Winnicott afirma que o verdadeiro self é
u••• posição teórica de onde provém o gesto espontâneo e a
espontânéo é o self verdadeiro em ação. Só o verdadeiro
só ele pode ser sentidÓcomoreal."26
mos que se alguém adquirir um bem de segunda mão, como um automóvel,
ele correrá um certo risco de ter problemas, pois não está comprando um
bem novo. Dessa sorte, ele depositará uma confiança na pessoa do vende-
dor ou, ainda, no nome da firma, achando que não terá dor de cabeça com
o carro usado que está adquirindo. Essa pessoa está admitindo a alternati-
va de vir a ter problema.
Outra experiência diferente é quando a pessoa não coloca as alterna-
tivas, e se algum problema vier a acontecer com o seu carro usado, ele colo-
cará seu desapontamento como sendo algo provocado pelo outro: o vende-
dor agiu de má-fé, ete. Essa experiência denomina-se crença e contraria a
da confiança, na qual eu assumo parcialmente o meu risco, isto é, a res-
ponsabilidade de haver confiado no outro e, por conseqüência, não colo-
co a culpa no outro.
verdadeira relação pessoal, que o levaria a se aproximar e a encontrar o
seu verdadeiro se/f.
"A confiança pressupõe consciência da circunstância de risco, o que não ocorre
com a crença, porém, tanto a confiança como a crença referem-se a expectati-
vas que podem ser frustradas ou desencorajadas."J2
O homem pós-moderno, engajado numa sociedade em ritmo alucinan-
te de transformação, é voltado para as satisfações imediatas de suas neces-
sidades, desejos e, por isso, trabalha a liberação do eu atendendo, de forma
imperiosa, aos seus impulsos. Esse homem mergulhado no imediatismo é
governado pelo presente, perdendo, assim, toda e qualquer perspectiva de
planejamento de vida, uma vez que a dimensão do futuro é excluída de sua
vivência da temporalidade.
Estamos, pois, diante do homo psychologicus, em substituição ao
homo economicus do século XIX e do início desse século. Vale a satisfação
dos desejos e, mais do que isso, o fechaméhto em si mesmo, chegando a
excluir o outro do seu horizonte. Gostaria de retomar a máxima de
Rubin citada por Lasch e repetida por Lipovetsky33 com respeito ao amor,
dizendo que para ser feliz o homem pós-moderno não necessita do outro,
ele se basta:
" ... to love myself enough so that I do not need another to make me happy."
Ao longo da nossa reflexão destacamos três grandes desafios que se
colocam para o terapeuta existencial. O primeiro deles caracteriza-se pela
desintegração da unidade psíquica, destacando que os motivos que levam
a esse problema são a questão da racionalização e a da despoetização do
mundo. Os sintomas decorrentes desse primeiroproblema foram explici-
tados;:1o que denominamos como fenômenos compensatórios.
O segundo problema apontado foi o que denominamos a perda do
sentido da vida,provocado pelo fenômeno de desinteriorização do
homem, isto é, a sua vida, hoje, é pautada pela superficialidade. Essa per-
da do sentido é também acentuada no momento em que o homem atual
vai perdendo o contato direto com a vida. A sintomatologia desse pro-
blemadá-se .de maneira mais aguda no vazio, existencial e no tédio de
Essa distinção entre confiança e crença ajuda-nos a entender que na
primeira há um assumir a responsabilidade do seu ato e na crença é mais
fácil colocar a culpa no outro.
Ora, a ajuda que o terapeuta é chamado a dar ao homem'é de que, se
na relação terapêutica o sentimento de confiança for cultivado,aschances
de uma aproximação de seu verdadeiro sei! é grande, pois passo a assumir
as responsabilidades dos meus riscos, atos e não a transferir para outrem as
implicações da minha liberdade.
Como a confiança é desenvolvida dentro de uma relação pessoal, o
segundo fator de ajuda do terapeuta ao cliente, na busca do seu verdadei-
ro sei!,é vivenciar, com este, uma relação interpessoal autêntica, pois a con-
fiança é vivida sobre a mutualidade de resposta e de envolvimento da rela-
ção interpessoal.
Quanto mais sadia for a relação intersubjetiva, mais autêntica será a
experiência de confiança. No mundo moderno, como estamos cada vez
mais distantes do outro, isto é, isolamos-nos na nóssa problemática e
atendemos preferencialmente aos nossos desejos, torna-se raroestabele-
cer uma relação autêntica de troca entre as pessoas: Guardadas as devi-
das proporções, isto é, uma assimetria entre o cliente e . na
relação intersubjetiva terap(~utica o
1idade de, a partir da
de sexualidade apareciam como os fatores que excluíam o outro da vivên-
cia da intimidade, sintoma este o mais grave na organização da nossa vida,
. sem a necessidade de presença do outro.
Diante desse quadro em que procuramos ser o mais realista possível,
porém com um pouco de pessimismo, mas não derrotado, pensamos que o
terapeuta existencial deve abrir caminho para enfrentar com força e cora-
gem essa realidade crua e dolorosa.
Assim, apontamos, na segunda parte do nosso ensaio, duas tarefas que
não deixam de ser árduas, em que a reorganização da existência e a busca
do verdadeiro self são de tamanha importância para o homem atual que se
ele não conseguir realizá-Ias, correrá o risco de se perder cada vez mais.
Cada uma dessas tarefas foi discutida, destacando algumas atitudes
existenciais que poderiam ajudar o cliente a levar a bom termo sua bus-
ca desenfreada da integração pessoal. Ambas as missões não deixam de
ser integrativas e desafiadoras, pois a primeira apresenta-se mais como
uma tarefa em que a dimensão intelectual da existência se faz necessária,
enquanto a segunda concretiza-se por meio da solidificação de uma rela-
ção pessoal intersubjetiva, que está justamente sendo questionada pela
sociedade contemporânea. Elas são complementares, para não deixarem
de serem desafiadoras
Do Guatambú e de Como
a Vida Quer Viver
Para
Formiga,
a criatura mais adorável concebida pela mãe~Terra
. A ~oruja pia no entardecer
e se mistura à neblina ...
O esquilo corre entre as árvores ...
saltando rumo ao infinito
no esgalhar da vida ...
FRANKL, V. E. Um sentido para vida. Aparecida do Norte, Editora San-
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affectif et environnement, Paris, Payot, s/d.
O ~artim-pescador busca as aroeiras
para o descanso na noite ...
A arara voa para os galhos dos araribás ...
e a jaguatirica caminha solta pela mata
encontrando significado no reflorestamento da vida ...a transformação e alteração da consciência a par-
III .1111111"11'11\11do :i/I'I II .I, ilH'xiste. Ou então de pessoas que depois da inges-
Iíllldi' li/li 10/111111:1111SI'dÔl'l'is,contrariamente a condutas exibidas ao lon-
gll dll vldil. As,',IIII,11 illlj1I,)rtantcé estar atento nas transformações que as
dllll-!II~1"' 1\'1 11;1111,'1"1' varram de pessoa para pessoa, e que derivam de dife-
11'1111':,lIrv('l.~dI' n'a"'(II'Surganicas.
{I . A dl""111Iivhl:ldl' assim, mais do que uma manifestação individual e soli-
Ililla, I" Inlllhl'llI IIll1amanifestação que responde a todo um clamor social.
V, V/I IiI(, 1Iilln IH) IIfvd da consciência o próprio teor da destruição que até
('I";ill 111:ln.'inh:hsl'dislante dessa experiência, mas que, de alguma forma,
SI'tangl'IIl'lav:, p:lra torn:í-la real. Transpassa aspectos que se originam não
:111('1I:IS',!O, irna.gin:írio, mas na confluência desse com o conjunto das esco-
lhas,",ldIVldu:IISde lima determinada pessoa. Dessa maneira, abordar a des.\
I~ul IVldade no processo psicoterápico é abordar a totalidade de seu dimen- ';
sIresultado da avaliação
do teste e dos desenhos não considera a peculiaridade do paciente. Tudo
é generalizado.
I'>:) Apesar de tentar aceitar a aplicação dos testes projetivos, ainda assim
a proposta existencial determina que exista procedimento bastante cri te-
rioso e que permita ao paciente criar livremente seu enredamento de vida
sem o menor enquadramento com teorização preexistencial. De todo o mo-
do, porém, o uso de técnicas é praticamente descartável na abordagem exis-
tencial, embora existam alguns psicoterapeutas dessa abordagem que defen-
dam o seu uso naqueles casos em que consideram a necessidade de uma
estimulação para que o paciente possa apresentar maior desenvoltura dian-
te de suas amarras existenciais. No mínimo, tal procedimento é bastante
polêmico na medida em que a técnica estabelece uma condição artificial
de relacionamento; ele sempre nos remete ao fato de que o paciente reage
de modo diferente diante da mesma técnica em situações diferentes em
razão dos fatores que incidem sobre si e que, certamente, conferem condi-
ções que não se repetem.
\ Cp Assim, uma nOite maldormida, por exemplo, apenas para ficarmos num
exemplo simplista, determina por si uma configuração ao paciente diante
de uma técnica ou ainda da avaliação de um teste. Críticos da proposta
existencial afirmam que a ausência de técnicas não deixa de ser uma téc-
nica, onde a condição do processo psicoterápico se não é feita nos moldes
das técnicas apresentadas por outras correntes ainda assim tem em sua pro-
posta libertária, uma técnica que por si só determina um modelo específi-
co de relacionamento. E ainda que seja verdadeira tal premissa, a própria
atitude libertária que pede o fim do engessamento do psicoterapeuta dian-
te de normas estanques certamente teria de permitir a utilização de algu-
ma técnica quando esse psicoterapeuta julgar conveniente.
"\:". De qualquer maneira, o uso de técnicas destoa da proposta fenomeno-
\ lógica-existencial de compreensão humana, embora possamos encontrar
tal procedimento em alguns poucos psicoterapeutas dessa abordagem. A
única questão da qual não se abre mão é aquela onde a peculiaridade do
paciente será mantida e respeitada como tal. A técnica nos remete a cor-
rentes que compreendem o ser humano de modo mecanicista e reducionis-
ta. E usar de tal recurso é, de alguma maneira, ir de encontro nos postula-
dos d~compreensão humana,que a ótica fenomenológica-existencial
conceltua como desrespeitosa. E, por assim dizer, como fugir da visão meca-
nicistaqueenquadra'oser. .. de forma reducionista e buscar esses
mecanismos reguladores qúeo transitórm2lm . no processo psi-
coterápico; Ou temos COlno
cial vê cada pessoa como única, ou, então, buscamos uma outra ótÍGl de
compreensão do ser humano. E o que não faltam na atualidade são abor-
dagens para explicar o ser humano de todas as formas possíveis com todos
os tipos de técnicas. A dificuldade e o grande desafio é compreender o fenú-
menoenquanto fenômeno: um ser que não se repete e que não pode ser
explicado a partir de teorias apriorística. Nesse ponto, talvez esbarremos
num dos aspectos mais angustiantes da condição humana, que é a necessi-
dade de explicar os "porquês" da existência.
O ser humano, desde as mais remotas épocas, tenta explicar de todas
as formas os "porquês" da existência. E nesse sentido, recorre às religiões,
filosofias e recentemente às teorizações psicológicas. No entanto, a ques-
tão principal é a crença de que pode explicar a si mesmo, a sua própria exis-
tência e, num pensamento seqüencial, a origem de seus distúrbios emocio-
nais e orgânicos. Essa questão é de tal modo conflitante que todas as
tentativas de explicação da existência dependem da fé dogmática - a fé em
dogmas que não depende de fatos para cristalizar-se como real- para se efe-
tivarem como realidade. E num momento, assistimos o fortalecimento de
teorias que juntam princípios clássicos de psicologia com um sonho de um
punhado de idealizadores apaixonados. Como um mero contraponto, bas-
ta comparar-se a ótica fenomenológica-existencial com a Terapia de Vidas
Passadas. A proposta da terapia de vidas passadas, propõe a compreensão
do fenômeno da existência através da utilização de técnicas específicas;
conduz o paciente até a vivência de situações ocorridas em vidas passadas,
onde possivelmente originaram-se os próprios distúrbios sentidos e vividos
na atual existência. Os princípios reencarnacionistas são trazidos no cam-
po da psicoterapia e dele passam a fazer parte como se fossem uma única
indivisível postura, onde questões de discordância são tratadas de forma
dogmát'ica e onde inclusive se transita por questões de possíveis outras vi-
das com a mesma desenvoltura que são abordados fatos do cotidiano.
A questão do nexo de causalidade certaIIlente é um dos pontos mais
polêmicos na compreensãoda ótica fen.0IIlel).ológica-existeI1.cial.A quase
totalidade das correntes. psicoterápicas explicam a existência a partir do
modelo cartesiano·?l1degsfatossã?justaros~()sdef()rma seqüencial, bus-
cando-se, assim, um néxo de causá e eteitona compreensão d~ existência
humana.
~{) Pode-se afirmar, sem margem de erro, que é muito difícil deixar de la-
C do a ótica de causalidade nas experiências humanas, uma vez que a quase
totalidade dos enredos com os quais nos deparamos direciona-nos para esse
posicionamento. Buscamos na infância ou na adolescência possíveis expli-
cações para os desatinos ocorridos na vida adulta, e quando não encontra-
mos fatos que possam corresponder a essas buscas derivamos para outras
vivências que poderiam explicar de acordo com o nexo de causalidade.
~ Forghieri4 coloca que o mundo consiste na relação que o indivíduo
estabelece consigo, ou, em outras palavras, no ser-si-mesmo, na consciên-
cia de si e no autoconhecimento. Mas o si-mesmo não consiste num ensi-
mesmamento, pois o homem é um ser-no-mundo, ou seja, sempre é uma
pessoa com características próprias, em relação a algo ou alguém. São as
situações que a pessoa vai vivendo, relacionando-se com o mundo circun-
dante e com as pessoas, que lhe vão possibilitando atualizar as suas poten-
cialidades, oferecendo-Ihes as condições necessárias para ir descobrindo e
reconhecendo quem é. Dessa maneira, é necessária uma visão abrangen-
te no sentido de incluir não apenas as vivências do passado, mas também
as perspectivas do futuro para apreender uma compreensão mais ampla da
existência humana.
')./ Van Dem Ber5 ensina que podemos falar em nexo causal diante de uma
janela aberta ao vento, o qual irá provocar o seu fechamento. tantas vezes
quantas ela for aberta, fato que não ocorre na existência humana.
Enredamos avida num seqüencial de fatos como se tivéssemos a certeza do
pleno domínio desses fatos. No entanto, é sempre importante frisar: pode-
mos estar diante de situações angustiantes provocadas até mesmo pela nadi-
ficação da vida diante da perspectiva da morte, ou do temor provocado por
situações desconhecidas e que não têm a menor relação com o passado.
)-,/:) Essa configuração de compreensão da existência humana, sem a con-
taminação com o nexo de causalidade, é muito difícil de ser assumida, pois,
além de mais prático, temos inúmeras teorias que acoplam o paciente a um
enredo pré-concebido e o psicoterapeuta, dessa forma, nada mais necessi-
ta que não enquadrar teoria ao discurso desse paciente. Temos até mesmo
:eúrias que tratam de problemas da contratransferência da psicoterapeuta
ocalizando possíveis falhas na relação de maternagem vivida por esse psi-
oterapeuta. Assim, se opsicoterapeuta falhar nas filigranas presentes na
'sicoterapia, sua própria mãe pódera ser culpada de tal desatino. Não se
'~ata de negar tal possibilidade, tampouco outros aspectos presentes na exis-
tência humana; apenas é necessário enfatizar-se que antes de, buscar ~a
maternagem possíveis razões para o não-desenvolvimento da pSlcotera~ta,
devemos estar abertos para abarcar um número muito gran~e de oco,rren-
cias que certamente serão perdidas pelo simples fato de se ficar na digres-
são filosófica sobre questões de matemagem. , , ,
MerIeau- Ponty6 corrobora que o pensamento negativista (ou POSltlVIS-
ta) estabelece entre o nada e o ser uma coesão mac~ça e ao ,m.esmotempo
rígida e frágil: rígida porque é finalmente indiscern~vel e fragI! porquanto
até o fim permanecem opostos absolutos. Isso se vera toda ve~que se t,ratar
de compreender como o nada recebe o ser nele, e portanto n~o apenas, co-
mo dizíamos há pouco, quando se trata de compreender mmha encar~a-
ção mas também quando se trata de compreender como posso assumir a
visdo que outro tem de mim. É dizer que buscamos a c~mpreensã~ d~s fat,os
da existência fora da existência em teorias diversas deixando a propna eXIs-
tência sem plenitude ou em plano secundário. .
De outra parte, é sempre importante salientar que no processo ~SICO-
terápico existe uma grande tendência a se buscar esse nexo ~e causalidade,
pois o próprio paciente, muitas vezes, vem em busca desse tipo de enreda-
mento. E a grande dificuldade é criar-se condições para que se possa alca~-
çar uma compreensão da existência, debruçando-se sobre os fatos qu~ sao
trazidos pelo paciente, articulando-os da maneira mais ampla pos~,vel,
expandindo, assim, essa forma de análise tradicional de causa e efeito. E
contrariamente ao que pode parecer em princípio, onde a abordagem feno-
menológica-existencial é tachada de reducionista e s~~plist,a, os fatos mos~
tram absolutamente o oposto, pois nessa forma de analise ate mesmo a ~ers
pectiva de futuro é considerada e trazida ao rol das variantes que compoem
o enfeix~mento do fenômeno da existência humana. , . ,
É importante salientar ainda que muitas vezes tecem-s: cntlcas a abor-
dagem fenomenológica-existencial por total i~compree~sao de seus post~~
lados ou, o que é ainda pior e mais grave, deVido ~ ~rátlcas de alguns ~eo,
ricos que, embora revestidos do rótulo .exist~n~lalista, em suas :rátlca:
distam completamente dos princípios eXlstencla!tstas.E lament~v~lmente
o número de profissionais que se revestem do rótulo de existe.nclalIsta sem
a menor conseqüência com o princípios existencialist~s é malO~do :lIC :~-
ria tolerável. Dessa forma, desde escritos absurdos ate colocaçoes dantes-
cas são facilmente encontrados é-tanto artigos de revistas que circulam fre-
qüentemente na área, como até mesmo a literatura específica.
9-t A tentativa de análise da existência incluindo-se () maior número pos-
sível de dados só é possível quando nos livramos da camisa-de-força que a
maioria das teorias impõe na compreensão da existência humana. O fenô-
meno humano é muito amplo e rico para ficar estanque a aspectos reducio-
nistas que direcionam sua compreensão apenas para fatos localizados na vi-
da de pessoas, como se esse encadeamento de causalidade fosse algo
irreversível e muitas vezes intangível para mudar uma vida quedada dian-
te do sofrimento existencial. É importante, assim, deliberar-se que a com-
preensão ampla das condiçõesque norte iam uma existência deve ser algo
libertário que possa dimensionar as de terminantes dessa abrangência. A
psicoterapia existencial propõe-se a ser catalisadora das emoções trazidas
pelo paciente numbalizamento de fatores e fatos ql'lepodem direcionar es-
sa pessoa para novos horizontes existenciais. O que é muito estranho nesse
rol de afirmações é ouvir detalhamentos justamente contrários que tentam
impi~gir à ótica fenomenológica-existencial o rótulo de simplista.
~1::' E freqüente ouvir-se citações das chamadas psicoterapiaoUJX9f1LIlgas.nu-
ma alusão clara a determinadas correntes teóricas.fusas citações pratica-
mente colocam as demais correntes na definição antagônica, portanto,
superficiais. Umas são chamadas de profundas num antagonismo de super-
ficialidade das demais. Primeiro é preciso verificar que esse tipo de defini-
ção é que é de fato simplista, pois nada mais fazem essas psicoterapias que
percorrerem trilhas e caminhos buscando-se acoplar determinados axiomas
teóricos como se esses fossem indiscutíveis e cristalinos. Exemplo disso são
as chamadas psicoterapias jungianas e, recentemente, a terapia de vidas
passadas. São práticas que estão embasadas em teorias absolutamente dog-
máticas no sentido estrito do termo, onde a chamada profundidade é sim-
plesmente a busca de determinados preceitos teóricos que são procurados
de forma messiânica como se fossem fatos precisamente absolutos.
Não se questionam os dogmas buscados e apresentados por essas cor-
rentes teóricas, apenas aceitam-se e contemplam-se as interpretações rea-
lizadas pelo psicoterapeuta. Como mera citação ilustrativa, narro um caso
atendido por mim alguns anos atrás. Fui procurado na ocasião por um
homem que possuía cerca de 30 anos e atravessava um períodode crise
matrimonial bastante contundente. Sua vida praticamente haví~ se tor-
nado infernal devido ao teor das brigas quernantinhácorn sua esposa. Ele
chegou ao .l1leuconsultório depois de anossubmetendo-se~ch~l1la~atera-
pia de vidas passadas. Apesar do intenso amor que nutria peb eSR()s~,'ayl-
da conjugal, além de insuportável, estavacheganclo ~mIlív~is}rasçfy~i§ de
escarcamento emocional. Sua l)erformance profissional estava inclusive bas-
tante comprometida devido às suas condições de fragilidade emocional. Ele
trabalhava como piloto numa companhia aérea, tendo sobre si a responsa-
bilidade sobre o comissariado de bordo. Sua vida emocional estava num tal
teor de comprometimento que ele foi obrigado a se afastar de suas ativida-
des através de licença médica, evitando, assim, danos maiores e celtamen-
te de conseqüências imprevisíveis.
Após algumas sessões, o nosso paciente, fazendo referência à sua tera-
pia anterior, revelou que a antiga terapeuta, após uma vivência específica,
colocou que numa vida passada a sua atual esposa havia sido sua mãe e que
por isso brigavam tanto nessa vida. Argumentava ainda qu(' o teor das bri-
gas não tinha a menor relação com a realidade que viviam nessa vida, pois
tudo estava vinculado ao relacionamento mãe-filho da outra vida e que se-
ria necessário um trabalho de alto alcance espiritual que quebrasse os gri-
lhões deixados pelo rancor t pelas feridas trazidas dessa outra vida. O mais
agravante é que ele havia procurado por essa terapeuta por indicação de
uma colega de trabalho, sendo que, inclusive, não tinha crenças reencar-
nacionistas. A realidade atual com o confronto de personalidades sem afi-
nidades sobre determinadas questões, a falta de perspectivas da vida con-
jugal, ou mesmo a diferença de concepção de valores, enfim tudo que
poderia estar truncando o relacionamento não contava diante da interpre-
tação soberana da terapeuta de que os problemas que viviam se originaram
numa possível vida passada. O nosso paciente conseguiu rebelar-se contra
esse tipo de interpretação procurando por uma psicoterapia de orientação
completamente diferente, fato esse que pode conduzi-Io por caminhos onde
foi possível, na realidade, tornar-se coadjuvante de seu processo de cresci-
mento'e conhecimento existencial.
Diante de casos como esse, a grande questão que sempre fica é a que
reveste pacientes que são submetidos a esse tipo de interpretação e que não
conseguem rebelar-se, tendo, então, além dos problemas anteriores e que
foram responsáveis pela busca do processo terapêutico, uma série de outros,
que certamente são de inteira responsabilidade da própria terapia. Dessa
forma, quando vemos psicoterapeutas experientes colocando o quanto é
delicado o fato de não se respeitar a estrutura emocional do paciente com
o risco, inclusive, de suicídio, estamos diante de fatos que, embora não se-
jam explicitados de maneira clara e transparente, ainda assim, podem pro-
vocar esses danos considerados irreversíveis e que, na realidade, são de intei-
ra responsabilidade da terapia.
T._,
I
~ o nosso paciente felizmente teve a capacidade de rehcl:lr.se dbtHe des-
sas interpretações tão distantes de sua realidade existellcial; :d(:lll disso,
pôde enfrentar sua crise conjugal de maneira alcanç~ldapelo seu campo per-
ceptivo, ao contrário da terapia de vidas passadas, que trazia o sell casamen-
to como um compromisso cármico, portanto, indissnltívc1e sem perspecti-
vas, não apenas de distanciamento e separaç~ln, mas também, e
principalmente, de uma possível retomada da harmonia conjugal. Tudo era
creditado e atribuído a distúrbios que traziam de uma possível vida passa-
da, sendo que todos os esforços para a reversibilidade desse quadro eram
infrutíferos. Restava apenas aperspectiva da resignação e do quietismo dian-
te dos fatos. Se por acaso essas interpretações não encontrarem eco na rea-
lidade do paciente, então trabalha-se com a sua resistência diante da inter-
pretação do psicoterapeuta, pois esta, além de soberana, é irretocável e
infalível.
7)~ Nesse sentido, é sábia a colocação de Sartre referindo-se a explicações
da conduta humana:
"O que acabei de escrever é falso. Verdadeiro. Nem verdadeiro nem falso, como
tudo que se escreve sobre os loucos, sobre os homens."
JU' Dessa maneira, lidar-se com teorias estanques que tudo explicam de
forma reducionista é simplista e sem condições de abarcar a totalidade da
riqueza do f~nômeno humano. Ou ainda, nas palavras de Merleau- Ponty, 7
colocando diante do espírito, foco de toda clareza, o mundo reduzido a seu
e~quema inteligível, uma reflexão conseqüente faz desaparecer toda ques-
tao concernente ao relacionamento entre este e aquele, que doravante é
pura cor~elação: o espírito é o que pensa, o mundo é o que é pensado, não
se poderIa conceber nem a imbricação de um no outro, nem a confusão de
um com o outro, nem a passagem de um para o outro, nem mesmo o con-
tato entre eles - um estando para o outro como o vinculado para o vincu-
lante ou o naturado para o naturante; ambos são demasiada e perfeitamen-
te co~x:ensivos,para que um possa alguma vez ser precedido pelo outro, por
den:als Irremediavelmente distintos para que um possa envolver o outro. É
aceItar que a amplitude de análise possa estar à frente até mesmo das limi-
tações da pr~pri~ consciência: é poder dimensionar que temos a condição
de transcendencla da consciência para atingir limites, inclusive muitas vezes
desconhecidos até mesmo diante dessa mesma consciência. É estabelecer
como parâmetros que os limites de crescimento existencial estão sempre
1lém daqueles impostos pelas teorias psicológicas, sejam elas quais forem.
E ainda que somos capazes de transcender a fenomenal idade de ser, numa
transfenomenalidade além dos nossos próprios limites corpóreos.
Nas palavras de Forghieri8 podemos, pois, considerar que a liberdade
de escolher é tanto maior quanto mais ampla for a abertura do ser huma-
no à percepção e compreensão de sua vivência no mundo. Est~ abertura
requer, também, que a compreensão esteja de acordo com a realidade,' ela
deve ser verdadeira para que a escolha não venha a ser apenas uma qUllne-
ra, ou uma ilusão. Portanto, na liberdade de escolha está contida, também,
a questão da verdade. Escolhemos até mesmoa psicoterapia, ou mesmo as
correntes teóricas a partir da nossa concepção de valores, homem e mun-
do. Então ao enveredar-se por caminhos de teorias dogmáticas estamos,
certamen~e, buscando enredos que se harmonizem com as noss~s próprias
crenças e convicções pessoais. O que não se pode, no ~nt~nto" e ter-se. n.a
teoria posições absolutas como se fosse, realmente, algo mdlscutlvel e mml-
mamente inquestionável. Faz parte das necessidades humanas e crenças em
determinados dogmas para sua própria sustentação emocional diante 90S
desatinos trazidos pela existência. O que não pode ocorrer é a postura, dian-
te desses dogmas, ser soberana frente aos fatos que, inclusive, contradizem-
no. É dizer que se faz necessário um dimensionamento mais amplo de com-
preensão para que o fenômeno humano possa ser considerado como tal:
muito rico e mutante para ser aprisionado em teorias estanques.
Uma outra grande dúvida que surge quando se fala em psicoterapia exis-
tencial é aquela que nos remete à reflexão de como essa abo,rdage~ ~ode
lidar com temas de destrutividade e desespero se o próprio eXlstenclalIsmo
traz à to~a das discussões filosóficas contemporâneas o fato de a vida ser
desprovida de sentido?! E de outra parte, como se pod~ tr~zer,alg~én: para
uma vida libertária se o existencialismo é fruto, em prImeira mstancla, da
própria desesperança do homem diante das atrocidades co~etidas cont,ra
ele mesmo no período .' Ou amda se o eXls-
tencialismo traz o niilismo pode, então, haver uma
psicoterapiá embasada tenha como ptopo:ta tirar
o pa(:ieI1te al~:urrla Certamente, sao ques-
t- m(~receln que nos debru-oes que
, 9 Ini~ialmente, vamos tratar a questão do ~t'ntído d, 'I' 1",
ml, a vida enquanto existência u'nl' 'I 1 _ l Vil ", I "LI Angera-, caelsoalan'\(ll'I"" ("1. eXiste a partir de suas realizaço- _ . I ,L II ~L IlIIl O, J lomem
es e nao pc 'I SU'1111"" 'I' Itexto de suas realizações S 'd _ . ,,' Oplla V Il a l~o ado no con-
, . e a VI a nao tem ~CIlti 1 I I'eXlstencialista a existência' b'j '1' L (l, ou ll~alllo a L dinição
d " e a surta ta cons'i'" ,', Ie realIzações significativas vis d J,', "L U\(I,\ Ilo~ eva em busca
an o Clal~elHldot' c lI',', ".. 'A ,aspecto nos envereda sim I . . l '(S~,l eXlstencw, Esse
I p esmente para C'ltl1iII ',1 'evar o paciente para refl - I ., 1 \o~Ont e a p~lcoterapia iráexoes so )re as esc )11 ' , '
tivados em sua vida e o tant ' j' l la~ e projetos que foram efe-
o que ISSOtue o est'í se d f"cretamente proporcionar ' A , ", n o su IClente para con-
d " a essa eXlstenCIasent'd ,', . ,
o qU/etlsmo e isolamento q r I d ' I Opara, Justamente, Sair-seue a Ia ta e sentId ' , I
paciente. Certamente a partl'r d fl _ ,o eXlstenCla provoca nesse
'd ' as re exoes eXlst " bVI a, a psicoterapia poderá ser d' 'd enClalSso re o sentido de
, " IreClOna a para asp t Itanos sem a necessidade' I' d ec os rea mente liber-, mc USlve e negar s '
tos que envolvam a vida do ' ' S - e quaisquer questionamen_
paCiente. e a existA , 'b dte carenciada de sentido ent-' "encIa e a SUl'a e totalmen-
d I' ' ao e necessano todo d' ,e rea IzaçÕese até mesmo d b d ' um re ImenSlOnamento
de usca e proJetos' , ,
qua 1'0 possa ser transformado em aI o I'b ,.exlstenCIaIS para que esse
existencialista é soberana ' b g I ertano. Nesse sentido, a ótica
, pOISa arca em se I d 'aspectos de destrutividad u postu a o Justamente os, e que, na quase maior' d -
ate mesmo escamoteados das d' _ "Ia as vezes, sao negados ou
d ' ISCussoesteoncas com - f'a propria existência A 'd o se nao, Izessemparte, . ssumlmos a estrutiv'd d 'clal de forma ampla de d ' I a e na PSlcoterapia existen-
A ' mo o que a sua dlsc - Igencia são colocados de rorma b d ussao e o eque de sua abran-
II a erta e e ma 'f I Ipeutaj este fato, seguramente le ,nelra ronta pe o psicotera-
tais temáticas. ' va o paciente a sentir-se seguro diante de
De fato, ao trazer tais temáticas para o cam d " ,
segundo a ótica existencl'all' t _ d po a pratICa PSlcoterápica
I s a, a questao o se t'd d 'd 'qua quer outro parâmetro de d' _ b' n I o e VI a está, antes de, Iscussao, a nndo
paCiente para que as escolhas q I I' o campo perceptivo doue e e rea IzaseJ'a f,' de que, acima de tudo busquem dI' , m e etlva as no cotidiano, ar um emtlvo a e 'A"
te Contra a falta de sentl'do 'd ssa eXlstencla, Justamen-, para a sua VI a E 'd '
pSlcoterap.ia existencial tra 't d' . VI enClava-se, assim, que a
I z a ona os qu t'envo vem o sentido de 'd . b es IOnamentos aspectos que
I'd VI a que, em ora não s' d' 'dtota I ade das correntes t ' ' .' d" eJam Iscutl os pela quase
I'd "d eoncas, sem uVlda é 'd "dI a e das pessoas. senti o e VIVIo pela tota-
?f\iTrata-se então de questões relevantes I
da e que são sistematizada •... .' ~ueenvo vem o sentido de vi-
•.•.•••.• ..•. .••..• s para que o paCIente possa imbricá-Ios em sua
9i\NGERAMI V.Ai> '
, . , s/coterapia existencial, Editor~ Pioneira, SãoPaulo, 1993.
}~alidade existencial, tanto visando sua superação como também almejan-
do libertá-Io de questões que possam ajudá-Io a galgar caminhos de supe-
ração na medida em que estará enfrentando e refletindo sobre temáticas
consideradas tabus no seio das discussões contemporâneas. O sentido de vi-
da, coloca AngeramilO, é algo buscado pelo homem desde os primórdios da
humanidade. No entanto, os progressos obtidos nesse aspecto são nulos,
Dessa maneira, trazer tais questionamentos para o campo da psicoterapia,
seguramente, é uma das maiores contribuições que a ótica existencialista
traz para o campo da psicoterapia. O que é ainda mais interessante: apre-
senta um enfrentamento frontal para temáticas que, além de desestrutu-
rantes, são instigantes da condição humana, mas que ao serem refletidas e
questionadas tomam-se quesitos libertários da própria existência.
O sentido de vida é algo que, aliás, não deveria estar ausente de nenhum
questionamento sobre a existência humana, e não como' ocorre atualmen-
te em que apenas as lides existencialistas reservam-lhe uma condição ím-
par. Nesse sentido, num outro ângulo de análise, vamos encontrar até mes-
mo a obra de Victor Frankl, que embora não seja um autor totalmente
identificado com a ótica existencialista, seus escritos têm bastante simila-
ridade com os princípios existencialistas, e toda a sua obra está totalmen-
te direcionada para a questão do sentido de vida. Ele, inclusive, é autor dos
escritos que culminaram na criação da chamada Logoterapia, que literal-
mente significa Terapia do Sentidócle Vida, apesar de afirmarqueosenti-
do de vida é claramente significado, direcionando-se toda uma propulsão
no resgate dessa temática na condição humana. E assim é, antes de qual-
quer outro posicionamento, a condição primária para que o paciente pos-
sa encontrar caminhos decididamente libertários.
Sobre a questão da desesperança trazida à luz da filosofia pelo existen-
cialismo, é necessária uma reflexão ampla e precisa para que sua real abran-
gência,não se perca em afirmações reducionistas.
A desesperança é algo tão presente na condição humana contemporâ-
nea que sua simples discussão provoca os mais diversos tipos de irascibili-
dade. Inclusive é fato que muitos dos críticos ferozes do existencialismo
centram seu inconformismojustamenteao fato de essa corrente filosófica
ter trazido de forma tão crua e verdadeira essa questão que, embora real, é
tão desestruturante da condição humana. "
O que precisa ficar bastante transparente nessa questão é que 9 exis-
tencialismo não criou a desesperança na condição humana e sim trouxe à
tona dos questionamel}tos seus efeitos na.realidadecontemporânea. Tam-
pouco foi ele quem criou o desespero e as condições de desigualdades sociais
que levam um sem-número de pessoas a uma total desesperança e descren-
ça na própria existência humque buscam o alívio das drogas químicas para poderem suportar minima-
mente o peso e a destrutividade do mundo contemporâneo. Certamente,
o existencialismo em nada contribuiu para que o mundo fosse tão cáustico
e mesquinho na questão da promoção humana. Nem foi ele quem criou a
fome e a miséria socioeconômica que ceifa e dizima milhares de vidas num
total acinte a tudo que se possa conceber como dignidade e respeito à pró-
pria existência humana. Igualmente não foi ele quem efetivou na condi-
, ção humana a saga pelo poder e destruição da própria espécie humana. O
existencialismo apenas trouxe tais questões para o campo da filosofia; se tal
fato teve repercussões tão bombásticas, deve-se à tentativa vã e ilusória das
demais correntes filosóficas de excluir tais temas das discussões contempo-
râneas.
4F5 Por outro lado, foi igualmente ele quem afrontou o poder constituído,
em termos acadêmicos, econômicos e filosóficos, no sentido de mostrar que
a dorda existência humana era dilacerante e pulsante e que independia dos
lenitivos apresentados seja pelas religiões, seja ainda por teorias que insis-
tiam em mostrar o homem originalmente bom e que em algumas circuns-
tâncias apresentava-se como cruel. O existencialismo apenas mostrou a
crueldade da condição humana diante de suas própri~s mazelas e das con-
dições sociais destrutivas e que, em última instância, também é criação
humana. Nesse sentido, um simples passeio pelos fatos e momentos do auge
dos escritos existencialistas mostra que, embora houvesse muita crítica até
mesmo de seus admiradores, alguns apontamentos que provocaram estar-
recimento quando de seu lançamento infelizmente se confirmaram com o
desenrolar dos anos.
/, Nesse rol, podemos incluir as citações existencialistas que afirmavam:
'1Co h I- que nen um regime po ítico-econômico poderia ser bem-sucedido
~devido à precariedade da condição humana;
- que nada poderia ocorrer de maneira plena, pois o próprio homem
se encarregaria dr qestruirtud?o '~~e'pudesse ..lhe beneficiar;
-que.questões queeny()ly~s~eIIla'precariedadeemocional da condi-
ç~ohumanacert~me!ltrfa~i~l11êI~rtudo. se. resumisse à simples e
...empobrecida buscf depqEl~rt ..~cúwul()de riqueras tnateriais,embo-
ra muitas vezes estivessem revestidas pelo rótulo de igualdade, socialismo,
comunismo, etc.
Lamentavelmente, podemos verificar que, embora, como foi dito aci-
ma, até mesmo dentro das lides existencialistas houvesse incômodo dian-
te dessas afirmações, os fatos mostraram e continuarão mostrando que a
crueldade da condição humana acaba com todo e qualquer sonho de uma
sociedade mais justa, digna e fraterna. E isso em que pese todos os argumen-
tos em contrário e que enfatizam a condição humana como tendo poten-
cialidade de fraternidade e justeza, o que, infelizmente, se ainda existir, aca-
ba se tornando exceção diante de tantas atrocidades que são cometidas
contra o homem pelo próprio homem em nome das mais diferentes justifi-
cativas. Até mesmo a paz e assuntos que envolvem aspectos de elevação
espiritual são justificativas para barbáries e outras tantas atrocidades: o ódio
atravessa barreiras e torna disforme e sem contexto todas as tentativas con-
trárias. E disso, certamente, nem os críticos mais ferozes do existencialis-
mo poderão negar, tampouco imputar-lhe responsabilidade.
No tocante à prática psicoterápica, a questão da desesperança, sem
dúvida alguma, se faz presente não apenas na prática existencialista mas
em todas as correntes de psicoterapia. A diferença é que a ótica existencia-
lista mostra-se mais disponível e aberta para abarcar seus questionamentos
na medida, inclusive, em que possui todo um referencial teórico e filosófi-
co para compreender a desesperança humana em todas as suas nuances. A
ótica existencialista não a vê como sendo um problema único e isolado de
determinado paciente que num dado momento se vê nessa condição dian-
te de algum desatino trazido pela existência. Ao contrário, sabe que a deses-
perança é algo que fazparte da condição humana de maneira única e indis-
solúvel e que se torna insuportável em certas ocasiões devido ao
estranljulamento existencial que um conjunto de variáveis, incluindo-se aí
desde condições meramente existenciais até variantes socioeconâmicas,
pode provocar.
Trabalha-se numa performance reflexiva com a desesperança da mesma
maneira aberta e congruente que outras correntes psicoterápicas trabalham
com fatos pertinentes'àinfânc:ia do paciente. Não existe distanciamento
da prática psicoterápica na abordagem existencial de temáticas que, em
princípio, podemapresEiltar.se como sendo apenas meramente filosóficas,
mas que, na verdade, pddernestar estrangulando existencialmente a vida
do paçiente. . .
O psicoterapeuta existendal,aôrefletir sistematicamente sobre os prin-
cipais temas da existência, estará se tornando disponível não apenas para
ajudar o paciente no desdobramento de possibilidades, como também
tomando-se coadjuvante no processo mesmo de Iil>lTI:I vcial no contexto hospitalar, num simples contraponto de análise, temos
uma eficácia alastrando-se muito além da concepção teórica na medida em
que os parâmetros de sofrimento humano serão abarcados de forma tota-
litária sem a menor possibilidade de perder-se a própria essência da condi-
ção humana.
Angerami,12 no livro Histórias Psi- A Ótica Existencial em Psicoterapia,
faz uma análise bastante profunda das atitudes do psicoterapeuta diante dos
casos de suicídio. Desde a própria reflexão das questões pertinentes à des-
trutividade humana presentes no paciente nesse momento de desespero até
situações de que a,vida se transforma diante de uma nova perspectiva exis-
tencial, o suicídio e as implicações tanto na vida do paciente como na do
psicoterapeuta são desentranhados de modo bastante esclarecedor. De
maneira bastante ilustrativa, o suicídio é colocado como sendo uma temá-
tica diante da qual a psicoterapia, mais do que nunca, traz um aprofunda-
mento embasando existencialismo, de modo que as suas vertentes seqüen-
ciais e até mesmo as próprias implicações na própria vida diante da
autodestrutividade sejam totalmente englobadas e apreendidas.
Se a psicoterapia existencial se mostrar exuberante em temáticas que
outras abordagens sequer tangenciaram, em outras questões sua abrangên-
cia está muito à frente do rol das discussões contemporânes. O fato de a psi-
coterapia de base fenomenológica-existencial propor-se a compreender o
fenômt;no a partir do próprio fenômeno confere-lhe uma característica
especial na análise da condição humana, tanto naquilo que se evidencia
numa observação simplista como, e principalmente, no modo como faz do
paciente um coadjuvante em seu processo de libertação e até mesr:t0 na
condição de enfeixar de terminantes do enredo de sua própria vida. E nes-
sa peculiaridade, aliás, que a psicoterapia existencial tem seu arcabouço
nos meandros de sua condição libertária, pois, na medida em que confere
ao paciente a condição de coadjuvante na compreensão de seu próprio pro-
cesso existencial, seqüencialmente uma nova concepção até
mesmo de sua humana.
(:9' E ainda de maneira decididamente diferenciada COllseglll'sohrepor-se
na dianteira da performance psicoterápica nos quesitos de respcilo e digni-
dade até mesmo da própria condição humana. O respeilo dado ao pacien-
te nos seus valores e princípios existenciais certmnentl' revest'e-se de for-
ma a tornar-se uma manifestação extremada de dignidade existencial. É
a construção de uma nova pilastra que se fundamenta nos princípios de
respeito aos valores que se perdem nos atropc!os da vida moderna, e que,
no entanto, se resguardam e persistem num dimensionamento onde os
valores da essência humana se mantêm, apesar de tantos fatores que cami-
nham em sentido contrário.
CJ6 A psicoterapia existencial trabalha no sentido de elevar a condição
humana nos níveis de se estabelecer o resgate dessa condição tão aviltada
e até mesmo assolapada diante dos avanços tecnológicos da sociedade
moekrna.
2.4 O SETTING TERAPÊUTIca
s~ A maioria das correntes teóricas de psicoterapia propõe um settina tera-~' . 6
peutICo pratIcamente com as mesmas bases estruturais. Evidentemente que
de acordo com a rigidez teórica de determinadas psicoterapias suas estrutu-
ras serão mais flexíveis, ou, ao contrário, completamente itntitáveis. Assim,-
vamos encontrar nas propostas mais rígidas de psicoterapia modelos onde
o psicoterapeuta muitas vezes sequer cumprimenta o paciente fora do con-
texto da psicoterapia. Dessa forma, há psicoterapeutas que se encontram
com o paciente, muitas vezes, no próprio elevador do prédio onde se efeti-
va a psicoterapia, mas por conta do enquadre estabelecido pelo setting tera-
pêutica essepsicoterapeuta não dirige a palavra a essepaciente. Certamente
o leitor estará identificando nessa postura algo inerente à proposta mais
ortodoxa da linha psicanalítica, num contraponto totalmente diverso do
pró~rio Fr~ud, que, segundo relato de seus pacientes, tinha uma postura
mUlto afetIva com eles. No entanto, alguns se propõe a serem mais realis-
tas que o próprio rei e se esquecem que a base da psicoterapia, independen-
temente de seu arcabouço teórico, é tomar esse paciente mais confiante
em sua condição humana.
O O modelo mais tradicional de setting terapêuticoé aquele que estabe-
leceu~ horário em ~lguns dias da semana, permitindoao paciente trocá-
.0 ao ate mesmorepo-Io de acordo com regras previamente estabelecidas.
)essaPlaneira, call1inhaI11Pll1itasdas PFáticap.psic()ter~ricas apresentan-
10 pequenas variantes de acordo com a própriapóstura' clopessoal do psi-
coterapeuta. O horário das sessões, quase sempre, é uma compil,~rados a outrem. Ou então, aquelas situações de mesa de bar, quando ami-
gos se encontram e desfiam problemas das mais diferentes naturezas e abran-
gências. Nessas duas situações, o que fica bastante evidenciado é que
estamos diante de situações de catarse emocional, ou mesmo de alívio de
dores existenciais contundentes, não podendo, no entanto, ser situações
que podem vir a ser colocadas na mesma dimensão de um processo psico-
terápico. Essas situações catárticas são, sem dúvida, bastante aliviantes e
trazem um bem-estar indiscutível a quem eventualmente delas participa;
mas ainda assim não podem ser contrapostas com a situação psicoterápica
onde os problemas são aprofundados de maneira articulada e enfeixados
com a realidade existencial do paciente. A catarse promovida pelo proces-
so psicoterápico é seqüencial na medida em que o paciente for adquirindo,
de forma paulatina e bem estruturada, uma condição emocional mais sóli-
da para o enfrentamento de suas mazelas existenciais.
que se o
paCl~nte pao puder .'comparecer nos horáriose~ta?el~cidCls, pr~viaD:lente
~a\,erá um esforço. denlinha part~parªrep?~essas~~ssõ~$.aindaque em
()utros períodos. Assim, tim pacienteHue t~rn asuase~~ão.progr~~ada para
"'"
as 19:00 h de segunda-feirapod~rá ter uma reposição em uma terça-feira
às 15:00 h; mas fica sempre evidenciado que as possíveis alterações e con-
seqüentes reposições só são efetivadas em cas~s ~e _extr.e~a necessidad~,
não se considerando aqueles casos onde a reposlçao e solICItada quando fI-
ca evidenciada atitude sua de negligência quanto ao horário ou, ainda,
quando a falta é uma tentativa de não se entrar em contato com situações
difíceis e que estavam sendo mostradas na psicoterapia. Essas faltas que
denotam resistência ao processo psicoterápico em si, ao contrário, são abor-
dadas enfrentando-se essequestionamento e conseqüente reflexão para tra-
zer-se à consciência a subjetividade presente no imaginário e que estaria a
justificar a ausência na psicoterapia, bem como a resistência manifestada
diante das questões emergidas.
É importante ainda que fique bem claro que todas as possíveis mudan-
?:,10 ças horárias e eventuais reposições terão de ser realizadas ~~ perfeita s!n-
tonia entre o psicoterapeuta e o paciente, não sendo permitida a ocorren-
cia de uma atitude unilateral do paciente no sentido de mudar de maneira
isolada um contrato que envolve duas partes numa eventual negociação .
Nesse ponto, é interessante também salientar que um processo q~e apre-
sente duas partes envolvidas deve ter a participação de ambas dIante de
qualquer perspectiva ou necessidade de mudança. Não é ~ceitável, assim,
que uma das partes decida isoladamente qualquer proc~dllnent~ e apen~s
comunique à parte passiva sobre a deliberação a ser efetivada. EISSO,deCI-
didamente, vale não apenas para o processo psicoter~pico, mas para ql~al-
quer forma de relacionamento, sendo que apenas registramos tal ~corren-
cia a partir da psicoterapia apenas e tão-somente por estarmos diante de
uma análise de suas condições estruturais, não excluindo, portanto, outros
dimensionamentos das relações interpessoais.
.g,\ É sabido ainda que muitos teóricos afirmam que a psicoterapia repro-
duz dé maneira precisa a conduta do paciente em sua vida além doconsul-
tório. Desse modo, diante de uma falta do paciente a uma sessão psicoterá-
pica, o procedimento primeiro a ser adotado é se investigar o signi~icado d.a
falta, bem como o simbolismo de sua repercussão no processo ps~coterápl-
co. A possibilidade de reposição do horário tem de se mostrar Viável ape-
nas diante de uma situação real, onde o paciente não pode comparecer à
sessão e necessite dos efeitos do processo psicoteráprco em sua realidade
existencial. Toda e qualquer alteração deverá ser,efetiv~dac0tljuntamen-
te, de modo que as peculiaridades das tluances do processo se~amp:ese~va-
das e revertidas em prol do pacieIlte edesep .crescimento e)(lstTncla,L , ...
1; Z A psicoterapia é.um Rrocessoqlle faz parte d~

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