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10.3.
Em	 suma,	 enquanto	 a	 coação	 física	 irresistível	 exclui	 a	 conduta	 e,
portanto,	 o	 fato	 típico,	 a	 coação	 moral	 irresistível	 funciona	 como	 causa
excludente	da	culpabilidade,	em	face	da	inexigibilidade	de	conduta	diversa.
4)	 Sonambulismo	 e	 hipnose:	 também	 não	 há	 conduta,	 por	 falta	 de
vontade	 nos	 comportamentos	 praticados	 em	 completo	 estado	 de
inconsciência.
Anote-se	que	a	embriaguez,	voluntária	ou	culposa,	embora	completa,	não
exclui	 a	 conduta.	 Subsiste	 a	 imputabilidade	 e,	 consequentemente,	 a
culpabilidade	(CP,	art.	28,	II).
RESULTADO
Resultado	é	a	consequência	provocada	pela	conduta	do	agente.
Nada	 obstante	 algumas	 poucas	 divergências,	 as	 palavras	 “resultado”	 e
“evento”	podem	ser	 utilizadas	 como	 sinônimas.	Anote-se,	 porém,	 existir	 no
Brasil	a	preferência	por	“resultado”.
Essa	distinção	terminológica	é	irrelevante.	Importa	considerar	somente	o
que	ambas	significam.11
Em	Direito	Penal,	o	resultado	pode	ser	jurídico	ou	naturalístico.
Resultado	jurídico,	 ou	normativo,	 é	 a	 lesão	 ou	 exposição	 a	 perigo	 de
lesão	do	bem	jurídico	protegido	pela	lei	penal.	É,	simplesmente,	a	violação	da
lei	penal,	mediante	a	agressão	do	valor	ou	interesse	por	ela	tutelado.
10.4.
Resultado	naturalístico,	ou	material,	é	a	modificação	do	mundo	exterior
provocada	pela	conduta	do	agente.
É	comum	a	seguinte	indagação:	Existe	crime	sem	resultado?
E	a	resposta,	mais	uma	vez,	é:	Depende.
Não	há	crime	sem	resultado	jurídico,	pois	todo	delito	agride	bens	jurídicos
protegidos	 pelo	 Direito	 Penal.	 Recorde-se	 do	 conceito	 material	 de	 crime,
segundo	o	qual	não	há	crime	quando	a	ação	ou	omissão	humana	não	lesa	ou
expõe	a	perigo	de	lesão	bens	jurídicos	penalmente	tutelados.
Entretanto,	é	possível	um	crime	sem	resultado	naturalístico.
O	 resultado	 naturalístico	 estará	 presente	 somente	 nos	 crimes	 materiais
consumados.	 Se	 tentado	 o	 crime,	 ainda	 que	 material,	 não	 haverá	 resultado
naturalístico.
Nos	 crimes	 formais,	 ainda	 que	 possível	 sua	 ocorrência,	 é	 dispensável	 o
resultado	naturalístico.
E,	finalmente,	nos	crimes	de	mera	conduta	ou	de	simples	atividade	jamais
se	produzirá	tal	espécie	de	resultado.
Em	 síntese,	 todo	 crime	 tem	 resultado	 jurídico,	 embora	 não	 se	 possa
apresentar	igual	afirmativa	em	relação	ao	resultado	naturalístico.
RELAÇÃO	DE	CAUSALIDADE	OU	NEXO	CAUSAL
Emprega-se,	 comumente,	 a	 expressão	 “nexo	 causal”	 para	 referir-se	 à
ligação	entre	a	conduta	e	o	resultado.
O	 art.	 13	 do	 Código	 Penal,	 todavia,	 preferiu	 falar	 em	 “relação	 de
causalidade”.	Essa,	portanto,	é	a	denominação	legal.
Estabelece	o	art.	13	do	Código	Penal:
Art.	13.	O	resultado,	de	que	depende	a	existência	do	crime,	somente	é
imputável	a	quem	lhe	deu	causa.	Considera-se	causa	a	ação	ou	omissão
sem	a	qual	o	resultado	não	teria	ocorrido.
§	 1.º	 A	 superveniência	 de	 causa	 relativamente	 independente	 exclui	 a
imputação	 quando,	 por	 si	 só,	 produziu	 o	 resultado;	 os	 fatos	 anteriores,
entretanto,	imputam-se	a	quem	os	praticou.
§	2.º	A	omissão	é	penalmente	relevante	quando	o	omitente	devia	e	podia
agir	para	evitar	o	resultado.	O	dever	de	agir	incumbe	a	quem:
a)	tenha	por	lei	obrigação	de	cuidado,	proteção	ou	vigilância;
b)	de	outra	forma,	assumiu	a	responsabilidade	de	impedir	o	resultado;
c)	 com	 seu	 comportamento	 anterior,	 criou	 o	 risco	 da	 ocorrência	 do
resultado.
Relação	de	causalidade	é	o	vínculo	formado	entre	a	conduta	praticada	por
seu	autor	e	o	resultado	por	ele	produzido.
É	por	meio	dela	que	se	conclui	se	o	resultado	foi	ou	não	provocado	pela
conduta,	autorizando,	se	presente	a	tipicidade,	a	configuração	do	fato	típico.
Prevalece	 na	 doutrina	 brasileira	 o	 entendimento	 de	 que	 a	 expressão	 “o
resultado”,	 constante	no	 início	do	 art.	 13,	caput,	 do	Código	Penal,	 alcança
somente	 o	 resultado	 naturalístico,	 isto	 é,	 a	 modificação	 externa	 provocada
pela	conduta	praticada	por	alguém.
Destarte,	 o	 estudo	da	 relação	de	 causalidade	 tem	pertinência	 apenas	 aos
crimes	materiais.	Nesses	 delitos,	 o	 tipo	 penal	 descreve	 uma	 conduta	 e	 um
resultado	naturalístico,	exigindo	a	produção	desse	último	para	a	consumação.
É	 aí	 que	 entra	 em	 cena	 o	 nexo	 causal,	 para	 ligar	 a	 conduta	 do	 agente	 ao
resultado	material.
Nos	crimes	de	atividade,	o	resultado	naturalístico	pode	ocorrer	(formais)
ou	 não	 (de	 mera	 conduta).	 De	 qualquer	 forma,	 é	 dispensável,	 pois	 se
consumam	com	a	simples	prática	da	conduta	ilícita.
Destacam-se	três	teorias	na	busca	de	definir	a	relação	de	causalidade:
1.ª	 teoria:	Equivalência	dos	antecedentes:	 também	chamada	de	 teoria
da	 equivalência	 das	 condições,	 teoria	 da	 condição	 simples,	 teoria	 da
condição	generalizadora,	ou,	 finalmente,	 teoria	da	conditio	 sine	qua	non,
foi	criada	por	Glaser,12	e	posteriormente	desenvolvida	por	Von	Buri	e	Stuart
Mill,	em	1873.
Para	 essa	 teoria,	 causa	 é	 todo	 fato	 humano	 sem	 o	 qual	 o	 resultado	 não
teria	ocorrido,	quando	ocorreu	e	como	ocorreu.
2.ª	teoria:	Teoria	da	causalidade	adequada:	também	chamada	de	teoria
da	 condição	 qualificada,	 ou	 teoria	 individualizadora,	 originou-se	 dos
estudos	de	Von	Kries,	um	fisiólogo,	e	não	jurista.
Causa,	nesse	contexto,	é	o	antecedente,	não	só	necessário,	mas	adequado
à	 produção	 do	 resultado.	 Para	 que	 se	 possa	 atribuir	 um	 resultado	 à
determinada	 pessoa,	 é	 necessário	 que	 ela,	 além	 de	 praticar	 um	 antecedente
indispensável,	realize	uma	atividade	adequada	à	sua	concretização.
Considera-se	 a	 conduta	 adequada	 quando	 é	 idônea	 a	 gerar	 o	 efeito.	 A
idoneidade	baseia-se	na	regularidade	estatística.	Descarte,	conclui-se	que	a
conduta	 adequada	 (humana	 e	 concreta)	 funda-se	 no	 id	 quod	 plerumque
accidit,	excluindo	os	acontecimentos	extraordinários,	fortuitos,	excepcionais,
anormais.	Não	são	levadas	em	conta	todas	as	circunstâncias	necessárias,	mas
somente	 aquelas	 que,	 além	de	 indispensáveis,	 sejam	 idôneas	 à	 produção	 do
resultado.13
Portanto,	 a	 causa	 adequada	 é	 aferida	 de	 acordo	 com	o	 juízo	 do	 homem
médio	e	com	a	experiência	comum.	Não	basta	contribuir	de	qualquer	modo
para	o	resultado:	a	contribuição	deve	ser	eficaz.
3.ª	 teoria:	 Teoria	 da	 imputação	 objetiva:	 será	 estudada	 em	 tópico
separado.
Acolheu-se,	como	regra,	a	teoria	da	equivalência	dos	antecedentes.	É	o
que	se	extrai	do	art.	13,	caput,	in	fine:	“Considera-se	causa	a	ação	ou	omissão
sem	a	qual	o	resultado	não	teria	ocorrido”.
Causa,	 pois,	 é	 todo	 o	 comportamento	 humano,	 comissivo	 ou	 omissivo,
que	de	qualquer	modo	concorreu	para	a	produção	do	resultado	naturalístico.
Pouco	 importa	 o	 grau	 de	 contribuição.	 Basta	 que	 tenha	 contribuído	 para	 o
resultado	material,	na	forma	e	quando	ocorreu.
Não	 há	 diferença	 entre	 causa,	 condição	 (fator	 que	 autoriza	 à	 causa	 a
produção	 de	 seu	 efeito)	 ou	 ocasião	 (circunstância	 acidental	 que	 estimula
favoravelmente	a	produção	da	causa).
E,	para	se	constatar	se	algum	acontecimento	insere-se	ou	não	no	conceito
de	causa,	emprega-se	o	“processo	hipotético	de	eliminação”,	desenvolvido
em	1894	pelo	sueco	Thyrén.	Suprime-se	mentalmente	determinado	fato	que
compõe	 o	 histórico	 do	 crime:	 se	 desaparecer	 o	 resultado	 naturalístico,	 é
porque	era	também	sua	causa;	todavia,	se	com	a	sua	eliminação	permanecer
íntegro	 o	 resultado	 material,	 não	 se	 pode	 falar	 que	 aquele	 acontecimento
atuou	como	sua	causa.	Confira-se	o	famoso	exemplo	de	Damásio	E.	de	Jesus:
Suponha-se	que	“A”	 tenha	matado	“B”.	A	conduta	 típica	do	homicídio
possui	uma	série	de	fatos,	alguns	antecedentes,	dentre	os	quais	podemos
sugerir	 os	 seguintes:	 1.º)	 a	 produção	 do	 revólver	 pela	 indústria;	 2.º)
aquisição	 da	 arma	 pelo	 comerciante;	 3.º)	 compra	 do	 revólver	 pelo
agente;	4.º)	refeição	tomada	pelo	homicida;	5.º)	emboscada;	6.º)	disparo
de	projéteis	na	vítima;	7.º)	resultado	morte.	Dentro	dessa	cadeia	de	fatos,
excluindo-se	os	fatos	sob	nos	números	1.º	a	3.º,	5.º	e	6.º,	o	resultadonão
teria	ocorrido.	Logo,	são	considerados	causa.	Excluindo-se	o	fato	sob	o
número	 4.º	 (refeição),	 ainda	 assim	 o	 evento	 teria	 acontecido.	 Logo,	 a
refeição	tomada	pelo	sujeito	não	é	considerada	causa.14
Contra	essa	 teoria	 foram	endereçadas	algumas	críticas.	A	principal	delas
consistiria	 na	 circunstância	 de	 ser	 uma	 teoria	 cega,	 porque	 possibilitaria	 a
regressão	ao	infinito	(regressus	ad	infinitum).
Como	causa	é	todo	acontecimento	que	de	qualquer	modo	contribui	para	o
resultado,	poderia	operar-se	o	retorno	ao	início	dos	tempos.	“A”	matou	“B”.
Consequentemente,	 poderiam	 ser	 seus	 pais	 responsabilizados,	 pois	 sem	 a
concepção	do	filho	a	vítima	não	teria	morrido.	E	assim	sucessivamente,	até	o
primeiro	dos	seus	antepassados.
Essa	 crítica,	 contudo,	 é	 despropositada.	 Para	 que	 um	 acontecimento
ingresse	 na	 relação	 de	 causalidade,	 não	 basta	 a	 mera	 dependência	 física.
Exige-se	ainda	a	causalidade	psíquica	(imputatio	delicti),	é	dizer,	reclama-se
a	presença	do	dolo	ou	da	culpa	por	parte	do	agente	em	relação	ao	resultado.
De	fato,	a	 falta	do	dolo	ou	da	culpa	afasta	a	conduta,	a	qual,	por	seu	 turno,
obsta	a	configuração	do	nexo	causal.
A	 título	 ilustrativo,	 a	 venda	 lícita	 de	 uma	 arma	 de	 fogo,	 por	 si	 só,	 não
ingressa	no	nexo	causal	de	um	homicídio	com	ela	praticado.	Entretanto,	se	o
vendedor	sabia	da	intenção	do	comprador	e,	desejando	a	morte	do	ofendido,
facilitou	 de	 qualquer	 modo	 a	 alienação	 do	 produto,	 sua	 conduta	 será
considerada	causa	do	crime	posteriormente	cometido.
Excepcionalmente,	o	Código	Penal	adota,	no	§	1.º	do	art.	13,	a	teoria	da
causalidade	adequada.
Em	 síntese,	 o	 art.	 13	 do	 Código	 Penal	 acolheu	 como	 regra	 a	 teoria	 da
equivalência	dos	antecedentes	(caput,	in	fine)	e,	excepcionalmente,	a	teoria	da
causalidade	adequada	(§	1.º),	o	que	nos	remete	ao	estudo	das	concausas.
A	palavra	concausa	diz	respeito	à	concorrência	de	causas,	ou	seja,	há	mais
de	 uma	 causa	 contribuindo	 para	 o	 resultado	 final.	 Em	 outras	 palavras,
concausa	 é	 a	 convergência	 de	 uma	 causa	 externa	 à	 vontade	 do	 autor	 da
conduta	e	que	influi	na	produção	do	resultado	naturalístico	por	ele	desejado.
Causa	dependente	é	a	que	precisa	da	conduta	do	agente	para	provocar	o
resultado,	ou	seja,	não	é	capaz	de	produzi-lo	por	 si	própria,	 razão	pela	qual
não	exclui	a	relação	de	causalidade.	Exemplo:	“A”	tem	a	intenção	de	matar
“B”.	Após	espancá-lo,	coloca	uma	corda	em	seu	pescoço,	amarrando-a	ao	seu
carro.	 Em	 seguida	 dirige	 o	 automóvel,	 arrastando	 a	 vítima	 ao	 longo	 da
estrada,	circunstância	que	provoca	a	sua	morte.	A	estrada,	a	corda	e	o	carro
não	são	capazes	de	matar	a	vítima,	se	isoladamente	consideradas.	De	fato,	tais
acontecimentos	somente	levaram	ao	óbito	porque	o	agente	havia	previamente
espancado	a	vítima	e	depois	a	amarrou	com	uma	corda	ao	carro	e	arrastou	o
corpo	pela	via	pública.
Causa	independente,	por	sua	vez,	é	aquela	capaz	de	produzir	por	si	só	o
resultado.15	 Pode	 ser	 de	 natureza	 absoluta	 ou	 relativa,	 dependendo	 da	 sua
origem.
São	 aquelas	 que	 não	 se	 originam	 da	 conduta	 do	 agente,	 isto	 é,	 são
absolutamente	 desvinculadas	 da	 sua	 ação	 ou	 omissão	 ilícita.	 E,	 por	 serem
independentes,	 produzem	 por	 si	 sós	 o	 resultado	 naturalístico.	 Constituem	 a
chamada	“causalidade	antecipadora”,16	pois	rompem	o	nexo	causal.
Dividem-se	 em	 preexistentes	 (ou	 estado	 anterior),	 concomitantes	 e
supervenientes.
É	 aquela	 que	 existe	 anteriormente	 à	 prática	 da	 conduta.	 O	 resultado
naturalístico	 teria	 ocorrido	 da	mesma	 forma,	mesmo	 sem	 o	 comportamento
ilícito	do	agente.	Exemplo:	“A”	efetua	disparos	de	arma	de	fogo	contra	“B”,
atingindo-o	em	regiões	vitais.	O	exame	necroscópico,	todavia,	conclui	ter	sido
a	morte	provocada	pelo	envenenamento	anterior	efetuado	por	“C”.
É	a	que	 incide	simultaneamente	 à	prática	da	conduta.	Surge	no	mesmo
instante	 em	 que	 o	 agente	 realiza	 seu	 comportamento	 criminoso.	 Exemplo:
“A”	efetua	disparos	de	arma	de	fogo	contra	“B”	no	momento	em	que	o	teto	da
casa	deste	último	desaba	sobre	sua	cabeça.
É	 a	 que	 se	 concretiza	posteriormente	 à	 conduta	 praticada	 pelo	 agente.
Exemplo:	 “A”	 subministra	 dose	 letal	 de	 veneno	 a	 “B”,	 mas,	 antes	 que	 se
produzisse	 o	 efeito	 almejado,	 surge	 “C”,	 antigo	 desafeto	 de	 “B”,	 que	 nele
efetua	inúmeros	disparos	de	arma	de	fogo	por	todo	o	corpo,	matando-o.
Em	todas	as	modalidades	(preexistentes,	concomitantes	e	supervenientes),
o	resultado	naturalístico	ocorre	independentemente	da	conduta	do	agente.	As
causas	 surgem	 de	 forma	 autônoma,	 isto	 é,	 não	 se	 ligam	 ao	 comportamento
criminoso	 do	 agente.	 E,	 por	 serem	 independentes,	 produzem	 por	 si	 sós	 o
resultado	material.17
Por	corolário,	devem	ser	imputados	ao	agente	somente	os	atos	praticados,
e	não	o	resultado	naturalístico,	em	face	da	quebra	da	relação	de	causalidade.
De	fato,	suprimindo	mentalmente	sua	conduta,	ainda	assim	o	resultado	 teria
ocorrido	como	ocorreu.	Respeita-se	a	teoria	da	equivalência	dos	antecedentes
ou	 conditio	 sine	 qua	 non,	 adotada	 pelo	 art.	 13,	 caput,	 in	 fine,	 do	 Código
Penal.	Nos	exemplos	mencionados,	o	agente	responde	somente	por	tentativa
de	homicídio,	e	não	por	homicídio	consumado.
Originam-se	 da	 própria	 conduta	 efetuada	 pelo	 agente.	 Daí	 serem
relativas,	pois	não	existiriam	sem	a	atuação	criminosa.
Como,	 entretanto,	 tais	 causas	 são	 independentes,	 têm	 idoneidade	 para
produzir,	por	 si	 sós,	o	 resultado,	 já	que	não	se	situam	no	normal	 trâmite	do
desenvolvimento	causal.
Classificam-se	 em	 preexistentes	 (ou	 estado	 anterior),	 concomitantes	 e
supervenientes.
Existe	previamente	à	prática	da	conduta	do	agente.	Antes	de	seu	agir	ela
já	 estava	 presente.	 Exemplo:	 “A”,	 com	 ânimo	 homicida,	 efetua	 disparos	 de
arma	de	fogo	contra	“B”,	atingindo-a	de	raspão.	Os	ferimentos,	contudo,	são
agravados	pela	diabete	da	vítima,	que	vem	a	falecer.
É	 a	 que	 ocorre	 simultaneamente	 à	 prática	 da	 conduta.	 Exemplo:	 “A”
aponta	uma	arma	de	 fogo	contra	“B”,	o	qual,	assustado,	corre	em	direção	a
movimentada	via	pública.	No	momento	em	que	é	alvejado	pelos	disparos,	é
atropelado	por	um	caminhão,	morrendo.
Em	obediência	à	teoria	da	equivalência	dos	antecedentes	ou	conditio	sine
qua	 non,	 adotada	 pelo	 art.	 13,	 caput,	 in	 fine,	 do	 Código	 Penal,	 nas	 duas
hipóteses	o	agente	responde	pelo	resultado	naturalístico.
Com	 efeito,	 suprimindo-se	 mentalmente	 a	 sua	 conduta,	 o	 resultado
material,	que	nos	exemplos	acima	seria	a	morte	da	vítima,	não	teria	ocorrido
quando	e	como	ocorreu.
Em	 face	 da	 regra	 prevista	 no	 art.	 13,	 §	 1.º,	 do	Código	Penal,	 as	 causas
supervenientes	 relativamente	 independentes	 podem	 ser	 divididas	 em	 dois
grupos:	 (1)	 as	 que	 produzem	 por	 si	 sós	 o	 resultado;	 e	 (2)	 as	 que	 não
produzem	por	si	sós	o	resultado.
Incide	 a	 teoria	 da	 equivalência	 dos	 antecedentes	 ou	 da	 conditio	 sine
qua	non,	adotada	como	regra	geral	no	tocante	à	relação	de	causalidade	(CP,
art.	13,	caput,	in	fine).
O	 agente	 responde	 pelo	 resultado	 naturalístico,	 pois,	 suprimindo-se
mentalmente	 a	 sua	 conduta,	 o	 resultado	 não	 teria	 ocorrido	 como	 e	 quando
ocorreu.	Exemplo:	“A”,	com	a	intenção	de	matar,	efetua	disparos	de	arma	de
fogo	 contra	 “B”.	 Por	 má	 pontaria,	 atinge-o	 em	 uma	 das	 pernas,	 não
oferecendo	 risco	 de	 vida.	 Contudo,	 “B”	 é	 conduzido	 a	 um	 hospital	 e,	 por
imperícia	médica,	vem	a	morrer.
Nesse	caso,	“B”	não	teria	morrido,	ainda	que	por	imperícia	médica,	sem	a
conduta	inicial	de	“A”.	De	fato,	somente	pode	falecer	por	falta	de	qualidade
do	 profissional	 da	 medicina	 aquele	 que	 foi	 submetido	 ao	 seu	 exame,	 no
exemplo,	 justamente	 pela	 conduta	 homicida	 que	 redundou	 no
encaminhamento	da	vítima	ao	hospital.
A	imperícia	médica,	por	si	só,	não	é	capaz	de	matar	qualquer	pessoa,	mas
somente	 aquela	 que	 necessita	 de	 cuidados	 médicos.	 Nesse	 sentido	 é	 a
orientação	do	Superior	Tribunalde	Justiça:
O	 fato	 de	 a	 vítima	 ter	 falecido	 no	 hospital	 em	 decorrência	 das	 lesões
sofridas,	ainda	que	se	alegue	eventual	omissão	no	atendimento	médico,
encontra-se	inserido	no	desdobramento	físico	do	ato	de	atentar	contra	a
vida	 da	 vítima,	 não	 caracterizando	 constrangimento	 ilegal	 a
responsabilização	 criminal	 por	 homicídio	 consumado,	 em	 respeito	 à
teoria	da	equivalência	dos	antecedentes	causais	adotada	no	Código	Penal
e	diante	da	comprovação	do	animus	necandi	do	agente.18
É	 a	 situação	 tratada	 pelo	 §	 1.º	 do	 art.	 13	 do	 Código	 Penal:	 “A
superveniência	 de	 causa	 relativamente	 independente	 exclui	 a	 imputação
quando,	 por	 si	 só,	 produziu	 o	 resultado;	 os	 fatos	 anteriores,	 entretanto,
imputam-se	a	quem	os	praticou”	(grifamos).
Nesse	dispositivo	foi	acolhida	a	teoria	da	causalidade	adequada.	Logo,
causa	 não	 é	 mais	 o	 acontecimento	 que	 de	 qualquer	 modo	 concorre	 para	 o
resultado.
Muito	 pelo	 contrário,	 passa	 a	 ser	 causa	 apenas	 a	 conduta	 idônea	 –	 com
base	em	um	juízo	estatístico	e	nas	regras	de	experiência	(id	quod	plerumque
accidit)	 –,	 a	 provocar	 a	 produção	 do	 resultado	 naturalístico.	 Não	 basta
qualquer	contribuição.	Exige-se	uma	contribuição	adequada.
Os	 exemplos	 famosos	 são:	 (1)	 pessoa	 atingida	 por	 disparos	 de	 arma	 de
fogo	 que,	 internada	 em	um	hospital,	 falece	 não	 em	 razão	 dos	 ferimentos,	 e
sim	queimada	 por	 um	 incêndio	 que	 destrói	 toda	 a	 área	 dos	 enfermos;	 e	 (2)
ferido	 que	morre	 durante	 o	 trajeto	 para	 o	 hospital,	 em	 face	 de	 acidente	 de
tráfego	que	atinge	a	ambulância	que	o	transportava.
Em	 ambos	 os	 casos,	 a	 incidência	 da	 teoria	 da	 equivalência	 dos
antecedentes	acarretaria	a	imputação	do	resultado	naturalístico	ao	responsável
pelos	 ferimentos,	pois,	eliminando-se	em	abstrato	sua	conduta,	certamente	a
morte	não	teria	ocorrido	quando	e	como	ocorreu.
Todavia,	repita-se,	não	foi	em	vão	a	redação	do	§	1.º	do	art.	13	do	Código
Penal	pelo	legislador.	Essa	regra	foi	ali	expressamente	colocada	por	força	da
preferência,	nesse	caso,	pela	teoria	da	causalidade	adequada.
A	expressão	“por	si	só”	revela	a	autonomia	da	causa	superveniente	que,
embora	relativa,	não	se	encontra	no	mesmo	curso	do	desenvolvimento	causal
da	conduta	praticada	pelo	autor.	Em	outras	palavras,	depois	do	rompimento	da
relação	 de	 causalidade,	 a	 concausa	 manifesta	 a	 sua	 verdadeira	 eficácia,
produzindo	o	resultado	por	sua	própria	força,	ou	seja,	invoca	para	si	a	tarefa
de	concretizar	o	resultado	naturalístico.
Nos	 exemplos	 acima	mencionados,	 conclui-se	 que	 qualquer	 pessoa	 que
estivesse	 na	 área	 da	 enfermaria	 do	 hospital,	 ou	 no	 interior	 da	 ambulância,
poderia	morrer	em	razão	do	acontecimento	 inesperado	e	 imprevisível,	e	não
somente	a	ferida	pela	conduta	praticada	pelo	agente.
Portanto,	a	simples	concorrência	(de	qualquer	modo)	não	é	suficiente	para
a	imputação	do	resultado	material,	produzido,	anote-se,	por	uma	causa	idônea
e	adequada,	por	si	só,	para	fazê-lo.
O	 art.	 13,	 §	 1.º,	 cuidou	 exclusivamente	 das	 causas	 supervenientes
relativamente	independentes	que	produzem	por	si	sós	o	resultado.	Não	falou
das	preexistentes	nem	das	concomitantes,	o	que	é	alvo	de	crítica	por	parte	da
doutrina	especializada.	A	propósito,	aduz	Paulo	José	da	Costa	Júnior:
Não	 vemos	 motivo	 para	 que	 se	 levante	 uma	 barreira	 tão	 rígida	 entre
causas	 que	 apresentam	 estrutura	 idêntica	 e	 eficiência	 equivalente.
Consequentemente,	 teria	 sido	 preferível	 que	 a	 nova	 lei	 penal	 houvesse
contemplado,	no	§	1.º	do	art.	13,	a	par	da	superveniência,	a	preexistência
ou	a	intercorrência	de	causa	relativamente	independente.
É	 com	 base	 em	 uma	 aplicação	 analógica	 que	 se	 pode	 coerentemente
fazer	semelhante	extensão.	Desde	que	o	dispositivo	em	foco	se	destina	a
favorecer	 a	 posição	 do	 agente,	 tratando-se	 de	 uma	 analogia	 in	 bonam
partem,	é	ela	admissível	em	direito	penal.19
O	gráfico	abaixo	bem	sintetiza	tudo	o	que	foi	dito:
A	omissão	penalmente	relevante	encontra-se	disciplinada	pelo	art.	13,	§
2.º,	do	Código	Penal:	“A	omissão	é	penalmente	relevante	quando	o	omitente
devia	e	podia	agir	para	evitar	o	resultado”.
O	 dispositivo	 é	 aplicável	 somente	 aos	 crimes	 omissivos	 impróprios,
espúrios	 ou	 comissivos	 por	 omissão,	 isto	 é,	 aqueles	 em	 que	 o	 tipo	 penal
descreve	 uma	 ação,	 mas	 a	 inércia	 do	 agente,	 que	 podia	 e	 devia	 agir	 para
impedir	 o	 resultado	 naturalístico,	 conduz	 à	 sua	 produção.	 São	 crimes
materiais,	 como	 é	 o	 caso	 do	 homicídio,	 cometido	 em	 regra	 por	 ação,	 mas
passível	 também	 de	 ser	 praticado	 por	 inação,	 desde	 que	 o	 agente	 ostente	 o
poder	e	o	dever	de	agir.

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