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Filosofia Existencialista na Cidade

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Aggy Purnell

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A cidade acorda com uma névoa baixa que não esconde as luzes amareladas dos postes. No café da esquina, mesas pequenas acumulam xícaras, jornais e rostos que procuram sentido em rotinas que se repetem como refrões. Descrevo esse cenário porque a atmosfera cotidiana é o terreno fértil da filosofia existencialista: não num laboratório abstrato, mas no concreto das ruas, das escolhas mínimas e das inquietações que brotam entre um gole de café e outro. O existencialismo, em sua dimensão mais humana, é uma lente para observar como vivemos quando nos damos conta de que nada garante que a vida tenha um propósito inscrito de antemão.
Num artigo editorial, cabe começar por uma cena que ilustre a tese. Imagine Ana, recém-formada, diante de duas ofertas de emprego: uma segura, bem remunerada, que suprime dúvidas; outra, incerta, alinhada com seu projeto artístico. A narrativa acompanha a indecisão — as manhãs em que volta ao mesmo café, os telefonemas que ela evita, as noites em que se pergunta se a liberdade é uma bênção ou uma condenação. Essa pequena história não é anedota: espelha o núcleo do existencialismo, onde liberdade, responsabilidade e angústia se entrelaçam. Ao reconhecer que “existir” precede “ser”, Ana percebe que não há um molde pré-fabricado para a sua essência; suas escolhas a constituirão.
Descritivamente, o pensamento existencialista capta a textura dos sentimentos humanos. A angústia não é uma palavra vazia, mas um aperto na garganta quando se enfrenta a possibilidade infinita de escolhas. O absurdo aparece não como piada, mas como aquele fosso entre o desejo de sentido e a indiferença do mundo. O existencialismo descreve esse cenário com precisão quase clínica: a sensação de isolamento, a percepção do tempo que avança inexorável, a urgência de dar forma a uma vida sem recorrer a justificativas prontas — religiosas, ideológicas ou utilitaristas.
Como editorial, é imprescindível avaliar e comentar. O existencialismo surge historicamente como uma reação a instituições que tentavam impor significados homogêneos. Filósofos e escritores — de Kierkegaard a Sartre, de Camus a Beauvoir — exploraram a condição humana em sua singularidade e contradição. Enquanto Kierkegaard acentuou o salto de fé e a subjetividade, Sartre proclamou que “o homem está condenado a ser livre”; Camus, por sua vez, enfrentou o absurdo com a imagem do mito de Sísifo, propondo uma revolta lucidamente absurda como resposta. Essas posições nos desafiam hoje: num mundo saturado de narrativas prontas, o convite existencialista é resistente e provocador.
Narrativamente, o editorial pode cruzar passado e presente. Relembro uma tarde em que um amigo me confessou que, ao perder o emprego, experimentou uma clareza dolorosa: pela primeira vez, sentiu que podia escolher não apenas o trabalho, mas o tipo de pessoa que queria ser. Essa epifania tinha preço — incerteza, reprovação familiar, risco financeiro — mas também uma sensação inédita de autenticidade. A história dele serve como evidência para uma afirmação editorial: viver autenticamente custa, e a sociedade moderna tende a infligir penalidades a quem escolhe a autenticidade em vez da conformidade.
Crítica também é necessária. O existencialismo, em seus exageros, pode romantizar a angústia e transformar a responsabilidade pessoal em fardo absoluto, desconsiderando estruturas sociais que limitam escolhas. A ênfase na liberdade individual precisa ser balanceada com a análise de contextos — desigualdades, opressões, condições materiais — que moldam as possibilidades reais de ação. Beauvoir já apontou que a liberdade não é distribuída igualmente: há gêneros, classes e raças cuja margem de escolha é estreita. Portanto, um editorial informado não celebra o indivíduo isolado, mas problematiza como a liberdade se manifesta em mundos desiguais.
No fechamento, volto ao café. Ana decide aceitar a oferta incerta. Não por heroísmo, mas porque reconheceu que a inércia também é escolha. O existencialismo não dá receitas; oferece uma orientação: responsabilizar-se pelas próprias decisões, mesmo quando isso acarreta medo. Se a filosofia serve para algo, é para iluminar o espaço onde fazemos nossas decisões mais íntimas e mostrar que o chão sob os pés — embora frágil — é terreno para edificar sentido. O desafio contemporâneo é então duplo: acolher a liberdade sem ignorar a injustiça, e cultivar autenticidade sem se isolar da solidariedade.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) O que significa “existência precede essência”?
Resposta: Significa que não nascemos com um propósito definido; nos tornamos quem somos por meio das escolhas e ações que tomamos.
2) Qual é a diferença entre angústia e medo no existencialismo?
Resposta: Medo refere-se a uma ameaça concreta; angústia é a sensação vaga diante da liberdade e da responsabilidade de escolher sem garantias.
3) O existencialismo nega valores éticos?
Resposta: Não; ele desafia valores impostos e propõe que a ética derive da responsabilidade autêntica e das consequências das escolhas, não de normas automatizadas.
4) Como o existencialismo dialoga com questões sociais?
Resposta: Pode ser crítico das estruturas que limitam liberdade, como Beauvoir mostrou; porém, às vezes enfatiza demais o indivíduo, exigindo complementos sociopolíticos.
5) É possível viver sem ansiedade segundo o existencialismo?
Resposta: A ansiedade é vista como inerente à condição humana; a proposta é aprender a conviver com ela, transformando-a em mobilização para escolhas conscientes.

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