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As minorias religiosas e o respeito à vontade dos pacientes médicos

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As minorias religiosas e o respeito à vontade dos pacientes nos tratamentos médicos
Jesualdo Eduardo de Almeida Júnior�
Resumo: a autonomia do paciente deve ser levada em consideração num tratamento médico, ainda que isso lhe coloque deliberadamente em situação de risco de morte, seja qual for o fundamento de sua escolha, inclusive de cunho religioso.
Palavras chaves: Minorias religiosas – autonomia do paciente – bioética e biodireito.
Sumário: Introdução; 1. A Bioética e Biodireito; 2. Dignidade da Pessoa Humana; 3. A autonomia privada na escolha de um tratamento médico; 4. A beneficência – outro princípio norteador da bioética e do biodireito; 5. A ponderação dos direitos fundamentais envolvidos; 6. O direito de recusa ao tratamento médico; Considerações finais; Bibliografia.
Introdução
No início de um novo século a medicina conhece novas e significativas conquistas. Doenças que antes eram irremediáveis hoje são facilmente curáveis; estados clínicos outrora irreversíveis são contornados com métodos e aparelhagem médica moderníssimas. Enfim, os tratamentos médicos são cada vez mais eficientes. No entanto, há quem pregue que esse avanço médico não pode ser cerceador da autonomia e da intimidade dos destinatários destas conquistas, quais sejam, os próprios pacientes. 
Nesse contexto, surgem questões conflitantes que devem ser resolvidas à luz da ética, do bom senso e, inegavelmente, do Direito.
Deveras, falar-se em autonomia do paciente ante um tratamento médico é extremamente polêmico, razão pela qual suscita ponderações amiúde ofuscadas por considerações apaixonadas, posto que em alguns casos a análise da problemática passa, necessariamente, por questões de ordem religiosa. E é sabido que nesta seara as paixões sobrelevam-se, suplantadas, via de regra, as reflexões racionais.
Ademais, o tema demanda um exame jurídico multifacetado. Não há como estudá-lo sem uma abordagem constitucional à luz dos princípios da vida, da intimidade, da liberdade religiosa e, sobretudo, sob o manto da dignidade da pessoa humana. 
Envolve, além destes, a proteção de valores sociais, éticos, culturais, religiosos e, até mesmo, de saúde pública�.
Portanto, o tema é vasto e contraditório por excelência. Nossa proposta, por conseguinte, é tecer comentários sobre a questão da autonomia do paciente em recusar um tratamento médico dentro de uma análise da convivência e a concordância de liberdades públicas postas em contradição: de um lado, o direito à vida; de outro, os direito à intimidade, à liberdade em geral, à liberdade de consciência e à liberdade religiosa, como pano de fundo para a preservação do princípio-mor da dignidade da pessoa humana. 
A principal problemática pode ser resumida nesta indagação: há que se falar em autonomia da vontade em casos em que esteja em risco a própria vida do paciente?
1. A bioética e o biodireito
A medicina avança a passos largos. É inconteste que o padrão de vida da humanidade aumentou significativamente com o passar dos tempos e muito deste progresso deve-se às conquistas da ciência médica.
A sociedade nunca experimentou em escala tão profunda impulsos científicos tão marcantes. A tecnologia é a tônica! Biologia molecular, engenharia genética, alimentos transgênicos, testes de DNA, genoma terapêutico e reprodutivo são realidades que estão às escâncaras, trazendo consigo, contudo, várias discussões ético-jurídicas.
De fato, as questões éticas tomaram de assalto esses avanços e reclamaram a posição de paradigma para as decisões sobre o desenvolvimento das ciências humanas, sobretudo quando estiverem envolvidas questões da vida. Daí a expressão bioética, ou ética da vida.
Desde que o homem tocou a natureza assumiu a obrigação de geri-la sem provocar catástrofes.� Para tanto, brotaram do ideário humano balizamentos éticos, cuja ciência entitulou-se de bioética�, considerando-a como ciência da sobrevivência.
Conforme Maria Helena Diniz�, o conceito atual de bioética é um tanto modificado, devendo ser interpretado como o estudo sistemático da conduta humana no campo das ciências da vida e da saúde, examinada à luz dos valores e princípios morais. Seria, assim, uma resposta da ética às novas situações oriundas da ciência no âmbito da saúde e da vida.
A bioética, enquanto ciência, possui seus princípios básicos�, entre os quais se destacam o princípio da autonomia da vontade�, o da beneficência� e o princípio da Justiça�. Todavia, dentre todos estes viceja como paradigma maior o princípio da dignidade da pessoa humana, de difícil conceituação e definição, mas de compreensão vivencial. 
A prevalência do princípio da dignidade da pessoa humana significa o reconhecimento de que o Estado existe em função daquela, e não o contrário. O homem constitui finalidade precípua e não é mero meio da atividade estatal. 
E quando se fala em Estado, logo surge à mente a figura do Direito, pois são institutos que andam de mãos dadas. Nesse desdobramento surge o biodireito, que se preocupa em apresentar os indicativos teóricos e os subsídios da experiência universal para a elaboração da melhor legislação sobre as novas técnicas científicas, com vistas, em última instância, à salvaguarda da dignidade humana. 
E enquanto não emerge “essa nova lei de salvaguarda da dignidade da pessoa humana”, é do destino do biodireito influenciar o traçado de uma hermenêutica jurídica de promoção da vida, atribuição que prescinde, inclusive, do advento de uma nova lei.”� 
Deste modo, a autonomia da vontade, a beneficência, a justiça e especialmente a dignidade são as pedras de toque da hermenêutica do biodireito e da bioética. Dessarte, o avanço da ciência - e na análise que nos interessa, o avanço da ciência médica - não pode fulminar estes valores já consagrados. Esta é a lição de Dernival da Silva Brandão�:
Sem os valores perenes que orientavam a humanidade, restou um vazio ético-existencial com perda substancial do sentido da vida. A Medicina, destituída dos princípios objetivos que a devem nortear, corre o perigo de ser manipulada ideológica e economicamente e vir a ser usada contra a própria vida humana, sob o pretexto de qualidade de vida.
Por conseguinte, a medicina - quer a tradicional, quer a vanguardista -, há de preservar valores éticos objetivos, não podendo ser manuseada contra a liberdade de escolha da pessoa humana e sua dignidade, ainda que sob o pretexto de se trazer “qualidade de vida” ou de “se proteger a vida”.
Deste modo, pode-se concluir que a medicina, sempre, há de se pautar pela defesa da dignidade da pessoa humana como auspício maior e paradigma sobressalente nas questões de saúde.
E exatamente por ser o principal princípio norteador da questão médica e a liberdade do paciente, cabe tentar delimitar o que seja dignidade da pessoa humana.
2. Dignidade da pessoa humana.
De acordo com Márcio Sotelo Felippe�, “quem pensa o Direito tem de pensar em indivíduos livres e iguais. E quem pensa em liberdade e igualdade pensa na dignidade dos homens”.
A dignidade humana, na linguagem filosófica, “é o princípio moral de que o ser humano deve ser tratado como um fim e nunca como um meio”� . 
Dizer que o homem existe como fim em si mesmo é afirmar que ele não pode ser tomando com meio para o uso de uma determinada ação. Pelo contrário, diz Kant, "em todas as ações, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como fim"�
 Vaclav Havel�, dramaturgo e estadista tcheco, enfatiza a dignidade humana como elemento diferenciador em relação às demais espécies; literalmente: 
Tomemos o conceito de dignidade humana. Ele permeia todos os direitos humanos fundamentais e os documentos relativos aos direitos humanos. Para nós, isso é tão natural que achamos que nem sequer faz sentido indagar o que realmente significa a dignidade humana, ou por que a humanidade deveria possuí-la,nem tampouco nos indagamos por que razão faz sentido que todos nós a reconheçamos uns nos outros e uns para os outros. 
As raízes mais profundas do que chamamos direitos humanos se encontram além e acima de nós, em algum lugar mais profundo do que o mundo dos contratos e acordos humanos. Elas têm sua origem no âmbito metafísico. 
Embora muitos não se dêem conta disso, os seres humanos - as únicas criaturas totalmente conscientes de seu próprio ser e da mortalidade, que enxergam aquilo que as cerca como um mundo e mantêm uma relação interna com esse mundo - derivam dignidade, além de responsabilidade, do mundo como um todo; ou seja, daquilo no qual identificam o tema central do mundo, sua espinha dorsal, sua ordem, sua direção, sua essência, sua alma - chame-o como quiser. Os cristãos formulam a questão em termos simples: o homem foi colocado no mundo à imagem de Deus. 
Ainda, conforme Ênio Santarelli Zulliani�, “o homem moderno vale mais pelo ser do que pelo ter; importa sua aura pessoal e não sua riqueza material.” 
Essa dignidade é extensível a qualquer pessoa, independentemente de suas crenças, etnias, condições sociais etc. Neste diapasão são as lições de Fábio Konder Comparato:
Todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza”. Em razão desse reconhecimento universal, conclui: “ninguém – nenhum indivíduo, gênero, etnia, classe social, grupo religioso ou nação – pode afirmar-se superior aos demais”�.
No mesmo sentido ensina Jesus Pérez�:
La dignidad de la persona no admite discriminación alguna por razón de nacimiento, raza o sexo; opiniones o creendicias. Es independiente de la edad, inteligencia y salud mental; como de la conducta y comportamiento. Por muy bajo que caiga el hombre, por grande que sea la degradación, seguirá siendo persona com la dignidad que ello comporta. (...) El hombre conserva su dignidade hasta su muerte.
Neste propósito, “o constituinte de 1988 erigiu a pessoa humana como valor supremo do ordenamento jurídico�.” Deste modo, a dignidade da pessoa humana foi guindada no texto constitucional brasileiro como fundamento da República�. Não bastasse, surge ainda expressamente em três outras passagens do diploma constitucional, quais sejam: art. 226, parágrafo 6º, quando trata do planejamento familiar; art. 227, que aduzem à proteção constitucional da criança e do adolescente; e, art. 230, que trata da defesa dos idosos.
Ademais, segundo o art. 3º, da mesma Constituição, constitui “objetivo fundamental da República”, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”�, em clara alusão à proteção à dignidade da pessoa humana.
Outras expressões de medidas protetivas à dignidade emergiram� da Constituição Federal como, por exemplo, aquela do artigo 5º, inciso III, que prevê que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”, incluindo-se neste conceito os tratamentos médicos experimentais e as brutalidades infringidas às pessoas. 
Conforme Zulmar Fachin�, a dignidade é, pois, um valor nuclear do ordenamento jurídico brasileiro:
A dignidade da pessoa é princípio fundamental da República Federativa do Brasil. É o que chama princípio estruturante, constitutivo e indicativo das idéias diretivas básicas de toda a ordem constitucional. Tal princípio granha concretização por meio de outros princípios e regras constitucionais formando um sistema interno harmônico, e afasta, de pronto, a idéia do predomínio do individualismo atomista do Direito. Aplica-se como leme a todo o ordenamento jurídico nacional compondo-lhe o sentido e fulminando de inscontitucionalidade todo preceito que com ele conflitar. É de um princípio emancipatório que trata.
Contudo, a dignidade da pessoa humana não é um simples valor moral. É, também, um valor jurídico, tutelado pelo Direito, protegido contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral. Todo indivíduo tem, assim, o direito de exigir que se abstenham de ilicitamente lesá-lo física ou moralmente, de exigir dos outros um comportamento que respeite os seus diversos modos de ser, físicos ou mesmo morais.�
Hélio Bicudo� sustenta que a dignidade da pessoa humana repousa numa integração pragmática de valores, que pode assim ser condensada:
afirmação da integridade física e espiritual do homem, como dimensão irrenunciável de sua individualidade autonomamente responsável;
a garantia de identidade e integridade da pessoa através do livre desenvolvimento da personalidade;
a libertação da “angústia da existência” da pessoa mediante mecanismos de socialidade, dentre os quais incluem a possibilidade de trabalho e a garantia de condições existenciais mínimas;
a garantia e a defesa da autonomia individual através da vinculação dos poderes públicos a conteúdos, formas e procedimentos do Estado de Direito.
Por conseguinte, na visão de Bicudo, a dignidade da pessoa humana repousa em valorizar-se sua integridade espiritual, “como dimensão irrenunciável de sua individualidade autonomamente responsável”. Logo, quando se desrespeita uma posição individual responsavelmente formulada, calcada em valores de consciência, amparadas em critérios de foro íntimo, viola-se a dignidade do indivíduo.
Por outro lado, o princípio da dignidade da pessoa humana pode ser analisado sob dupla dimensão: positiva e negativa. A positiva torna obrigatório o reconhecimento da autonomia do indivíduo, proporcionando condições para o seu desenvolvimento. A negativa tem como objetivo obstar que o indivíduo seja ofendido e/ou humilhado.�
Nesta perspectiva, é corolário da dignidade da pessoa humana que qualquer pessoa capaz possa escolher livremente seus tratamentos médicos, devendo o Estado reconhecer-lhe tal autonomia, impedindo-o que seja ofendido ou humilhado em sua prerrogativa.
3. A autonomia privada na escolha de um tratamento médico
A aplicação do conceito de autonomia a nível individual tem as suas origens no iluminismo do século XVIII. Modernamente, tem sido invocada com veemência para a solução de conflitos envolvendo os conflitos entre médicos e pacientes.
Os médicos têm de ponderar dilemas como os seguintes: haveria casos em que um tratamento médico agressivo devesse ser abandonado para que o paciente pudesse morrer com dignidade? Deveria o médico desconsiderar a decisão do paciente se achasse a decisão tomada lhe seria prejudicial? O médico tem a prerrogativa de ministrar-lhe o tratamento contra seu consentimento? Como prestar assistência médica eqüitativamente quando tratamentos caros não estão disponíveis para todos? Uma pessoa pode escolher um tratamento médico, ainda que se coloque em consciente risco de morte? Como conciliar a autonomia do paciente em escolher um tratamento médico, com o dever do médico em salvar sua vida? Até que ponto os médicos devem respeitar as crenças de religiosos que, primariamente por motivos religiosos, não aceitam transfusões de sangue? Deveria o médico administrar transfusão de sangue no paciente contra a vontade deste, se isso parecer “aconselhável” na opinião dos “especializados”? Seria ético fazer isso sem o conhecimento do paciente, como se “o que os olhos não vêem o coração não sente”?
Como se viu alhures, a bioética pretende trazer essas respostas, estando amparada em quatro princípios básicos: da dignidade da pessoa humana; justiça; beneficência; e autonomia da vontade. Ocuparemo-nos, agora, desta última.
Segundo Kant, a autonomia é “[...] o fundamento da dignidade da natureza humana e de toda a natureza racional”�. É, portanto, "não escolher senão de modo a que as máximas da escolha estejam incluídas simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal"�. 
Com Kant, a autonomia é a competência da vontade humana para, com fundamento na razão prática, escolher em liberdadeas suas leis morais. É também a base da responsabilidade individual�.
Autonomia, de acordo com sua etimologia grega, significa capacidade de governar a si mesmo. E no desiderato jurídico, leciona Pontes de Miranda: 
O direito é processo social de adaptação, um dos processos sociais de adaptação. A técnica legislativa, desde os costumes das tribos primitivas, ao deixar às pessoas a determinação de certos direitos e deveres, de certas pretensões e obrigações, atenda a que a adaptação ainda se tem de fazer por meio de contratos individuais. Diminui essa margem , à medida que as regras jurídicas, que se estabelecem, já são cogentes, ou se tornam cogentes as que eram dispositivas ou interpretativas. A maior adaptação caracteriza-se por essa eliminação progressiva do que fica a mercê das manifestações individuais de vontade.
Maria Celina Bodin de Moraes� dá lição de que a “autonomia é o direito de governar-se conforme suas próprias leis e segundo sua própria vontade”. E conclui:
Na elaboração de F. C. von Savigny, o idealizador deste imponente edifício jurídico, isto se deu fundamentalmente através do conceito de direito subjetivo individual, isto é, "do atribuir-se à vontade individual um domínio dentro do qual ela reina independentemente de qualquer vontade estranha".
Tem-se, portanto, que autonomia é a prerrogativa que o indivíduo tem de decidir o que entende ser melhor para si. Contudo, será que essa autonomia pode viger indistintamente em sede de tratamentos médicos? O médico está obrigado a curvar-se à vontade de seu paciente?
Nos termos do art. 61, § 1º, do Código de Ética Médica brasileiro, se o médico não concordar com a opção do paciente, poderá renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente este paciente ou um responsável.� Maria Helena Diniz�, entretanto, leciona que em situações tais o médico deve contrariar a vontade do paciente, e em defesa da vida deste, ministrar-lhe o tratamento, ainda que o atendido não concorde. Seria dispensável, inclusive, autorização policial ou judicial, diante de um iminente perigo de vida. 
Mas, nem todos abonam essa tese. O projeto de reforma do Código Civil argentino dispõe que “ninguém pode ser submetido, sem seu consentimento, a exames ou tratamentos clínicos ou cirúrgicos, qualquer que seja a natureza, salvo por disposição legal em contrário” (art. 120). 
Ricardo Luiz Lorenzeti� observa que a doutrina argentina admite, majoritariamente, que entre o médico e o paciente celebra-se um contrato, e que o consentimento é um elemento estrutural deste último. A estrita lógica jurídica levaria à conclusão de que não existindo acordo entre o paciente e o médico, este último não pode realizar a prestação dos serviços sob sua responsabilidade. O enfermo poderia negar-se a receber tratamentos, mesmo quando isto o leve ao risco de morte. E, de fato, isto não seria defender o suicídio, posto que ninguém pretende a morte. O que se busca é apenas tratamentos alternativos. E conclui:
A ética médica se vai perfilando no sentido da administração da “eutanásia passiva”, baseadas no seguinte: se o paciente expressa livremente que não deseja iniciar ou parar um tratamento, o médico deveria levar isso em conta; não cabe realizar um tratamento quando não existem possibilidades certas de prolongamento (duração) ou de qualidade de vida. 
Por exemplo, recorrentemente vem à tona o peculiar caso das Testemunhas de Jeová, uma associação religiosa que possui entre seus dogmas não aceitar as transfusões de sangue como tratamento médico em face de suas convicções de consciência. O paciente não quer a morte; apenas não aceita aquele tratamento médico com sangue. Qualquer outro que lhe seja ministrado alternativamente será aceito�.
Segundo Tereza Rodrigues Vieira�, a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia debateu o problema e organizou um documento que vem sendo acatado pelos Conselhos Regionais de Medicina (14.12.1974): 
Sugere o documento que, em se tratando de adulto consciente, devem respeitar-se suas convicções, exigindo-se, no entanto, que ele assine uma declaração isentando de responsabilidade o médico, a instituição e quem dele cuidar. No que concerne ao adulto inconsciente, o documento admite que o sangue possa ser aplicado, desde que nem o cliente nem seus familiares venham a saber. No caso de menor ou incapaz, sugere o documento que se respeite a decisão dos pais, exigindo-se deles a assinatura do termo de responsabilidade.
E cada vez mais se tem firmado a posição de que a autonomia do paciente tem de prevalecer, sempre. Por citar-se, na Colômbia�, a autonomia do paciente é prevalente. O Decreto 1571/93, no seu artigo 50, dispõe:
Articulo 50 – Cuando un receptor en uso normal de sus facultades mentales, y em forma libre y consciente, decide no aceptar la transfusión de sangre o de sus hemoderivados, deberá respetarse su decision, siempre y cuando esta obre expresamente por escrito, después que el médico tratante le haya advertido sobre los riesgos existentes.
Paragrafo: Cuando la decisión delpaciente a esse respecto haya sido tomada com anticipación y para que tenga efectos en la eventualida en que se requiera la transfusión, el médico deverá respetarla si consta en documento escrito autenticado notarialmente o suscrito ante dos testigos. En todo caso los riesgos existentes deverá ser advertidos.”
Catalina Rosero Díaz del Castillo�, advogada e responsável pelo Departamento Civil Administrativo Colombiano – SCARE -, resumiu a questão da seguinte forma:
Cuando un paciente capaz y en forma libre e informada rechaza la transfusión, debe respetarse su decisión y consignar por escrito el consentimiento negativo del paciente, lo cual supone la advertencia previa de los riesgos existentes por parte del médico tratante.
Cuando, estando ante un paciente en estado de inconsciencia, se tiene que anticipadamente tomó la decisión de rechazar cualquier transfusión en caso de requerirla, los profesionales de la salud deben respetar esa decisión siempre y cuando ésta conste en un documento autenticado notarialmente o suscrito ante dos testigos.
Concordemente ao texto legal e a doutrina citada, o médico colombiano deve respeitar a opção do paciente.
Affonso Renato Meira�, professor titular aposentado da Faculdade de Medicina da USP, escreveu certa vez: 
Nas sociedades ocidentais, o aparecimento do pensamento bioético levou o médico a essa transição de comportamento muitas vezes consagrada em normas éticas, mas ainda não realmente concretizada na prática.
A transfusão de sangue indicada por um médico, quando rejeitada por um paciente, por motivos religiosos, exemplifica esta assertiva. As reflexões sobre o direito de dizer não partem do entendimento de que o pensamento bioético se decalca, basicamente, em três princípios: o da autonomia, o da beneficência e o da justiça.
Neste passo, segundo Meira, e em atendimento à autonomia que a pessoa tem de decidir, é necessário saber o que é bom, qual o bem que o paciente considera para si. Se este, em vez da verdade científica, considera a verdade divina como absoluta e não aceita a transfusão de sangue, o tratamento médico não pode ser levado a cabo contra sua vontade. 
A Declaração de Lisboa da Associação Médica Mundial sobre os Direitos do Paciente, de 1981, assegura:
“3.a El Paciente tiene derecho a la autodeterminación y a tomar decisiones libremente en relación a su persona. El médico informará al paciente las consecuencias de su decisión.
3.b El paciente adulto mentalmente competente tiene derecho a dar o negar su consentimento para cualquier examen, diagnóstico o terapia. El paciente tiene derecho a la información necesaria para tomar sus decisiones. El pacieente debe entender claramente cuál es el propósito de todo examen o tratamiento y cuáles son las consecuencias de no dar su consentimiento.” 
O Prof. Dr. Marco Segre�, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sustenta que a autonomiada vontade deve ser a mola mestra da medicina:
O princípio da autonomia permeia atualmente os Códigos de Ética Média das sociedades ocidentas, como tal o Código de Ética Médica brasileiro, promulgado em janeiro de 1988. Dá-se extraordinária ênfase aos direitos do paciente, sendo inaceitável toda restrição ao seu direito de auto-governar-se (...) O Código de Ética Médica brasileiro (...) tem uma orientação nitidamente “autonomista” em termos de Bioética.
J. Lowell Dixon�, M.D, doutor em Medicina, é no mesmo pensar:
Os médicos comprometem-se a aplicar seu conhecimento, suas habilidades e sua experiência no combate à doença e à morte. Todavia, que fazer quando um paciente recusa o tratamento recomendado? Isto provavelmente ocorrerá se o paciente for Testemunha de Jeová e o tratamento for sangue integral, papa de hemácias, plasma ou plaquetas.
Quando se trata de administrar sangue, o médico talvez julgue que, quando o paciente escolhe um tratamento sem sangue, isto deixa a dedicada equipe médica com as mãos atadas. Mesmo assim, não devemos esquecer que outros pacientes, que não são Testemunhas de Jeová, muitas vezes resolvem não seguir as recomendações de seu médico. Segundo Appelbaum e Roth, 1 19% dos pacientes dos hospitais-escola recusaram pelo menos um tratamento, ou procedimento médico, embora 15% de tais recusas “colocassem potencialmente em risco a vida”.
O conceito geral de que “o médico é quem sabe” faz com que a maioria dos pacientes submeta-se à perícia e à experiência de seu médico. Mas quão sutilmente perigoso seria o médico proceder como se esta frase fosse um fato científico, e ele tratasse os pacientes de acordo com isso. Na verdade, nossa formação médica, nossa licença de clinicar, e nossa experiência nos dão notáveis privilégios na área médica. Nossos pacientes, porém, têm direitos. E, como estamos provavelmente cônscios, a lei (até mesmo a Constituição) dá maior peso aos direitos.
Nas paredes da maioria dos hospitais [dos EUA], vê-se a “Carta dos Direitos do Paciente”. Um destes direitos é o consentimento conscientizado, que poderia ser mais exatamente chamado de escolha conscientizada. Depois de o paciente ser informado dos resultados potenciais de diversos tratamentos (ou de não se tratar), cabe-lhe decidir a que se submeterá. No Hospital Albert Einstein, no Bronx, Nova Iorque, EUA, declarava uma diretriz formulada quanto a transfusões de sangue e as Testemunhas de Jeová: Qualquer paciente adulto que não seja declarado incapaz tem o direito de recusar o tratamento, não importa quão prejudicial tal recusa possa ser para sua saúde.
No mesmo sentido, indica a Associação Médica Americana que o paciente “é o árbitro final quanto a se correrá os riscos envolvidos no tratamento ou na operação recomendados pelo médico, ou se arriscará a viver sem isso. Este é o direito natural do indivíduo, que a lei reconhece”.�
John Stuart Mill� escreveu apropriadamente: 
Não é livre nenhuma sociedade em que tais liberdades não são, como um todo, respeitadas, seja qual for a sua forma de governo . . . Cada qual é o guardião correto de sua própria saúde, seja ela física, seja mental, seja espiritual. A humanidade é que mais lucra ao permitir que cada um viva como bem lhe parecer, em vez de compelir cada pessoa a viver como parece ser bom para os demais.
Vê-se, portanto, que é cada vez mais presente entre os médicos o primado de que os direitos dos pacientes devem ser respeitados, ainda que, eventualmente, sejam colocados em risco de morte.
A legislação parece querer acompanhar este dogma. O Estado de São Paulo possui, inclusive, uma Lei que “dispõe sobre os direitos dos usuários dos serviços e das ações da saúde no Estado.” Trata-se da Lei 10.241/99, que no seu artigo 2., VII, reza:
Artigo 2.º ‑ São direitos dos usuários dos serviços de saúde no Estado de São Paulo:
(...)
VII ‑ consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos a serem nele realizados;
Ademais, no inciso XIV, do mesmo artigo citado, lê-se:
XIV ‑ ter assegurado, durante as consultas, internações, procedimentos diagnósticos e terapêuticos e na satisfação de suas necessidades fisiológicas:
(....)
b) a privacidade;
c) a individualidade;
d) o respeito aos seus valores éticos e culturais;
Depreende-se da análise desta lei que o paciente terá respeitada sua opinião no tocante ao tipo de tratamento médico que optar. 
Em caso concreto, o Tribunal de Recursos de Nova Iorque declarou que 
O direito do paciente de determinar o curso de seu próprio tratamento [é] supremo (...) Não se pode declarar que [um] médico violou suas responsabilidades legais ou profissionais quando ele honra o direito de um paciente adulto competente de rejeitar o tratamento médico (...)a integridade ética da classe médica, ao passo que é importante, não pode sobrepor-se aos direitos individuais fundamentais aqui garantidos. São as necessidades e os desejos do indivíduo, e não os requisitos da instituição, que são supremos.� 
Portanto, a autonomia é resguardar o direito ao paciente de ter respeitadas sua vontade, crenças e valores morais, reconhecendo-lhe a liberdade e a responsabilidade no que diz respeito à própria vida e à sua intimidade. É, em ultima ratio, assegurar-lhe a dignidade.
4. A beneficência – outro princípio norteador da bioética e do biodireito.
Beneficência, etimologicamente, significa bem-fazer, traduzindo idéia de bem a ato de ajuda a outrem. Remete à idéia do juramento Hipocrático: “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém”. 
O que pode parecer o bem para o médico pode não ser para o paciente. Em outras palavras, um método utilizado para a cura de um doente pode ir contra sua crença, seus princípios, interferindo, assim, no princípio da beneficência�.
Neste caso, ao se ministrar um tratamento médico em desacordo com a vontade do paciente, o médico, na verdade, está desrespeitando a vida deste padecente, ferindo assim o princípio da beneficência.
Hoje se tenta buscar o consenso sobre os valores fundamentais de referência que possam pautar ética e juridicamente a atividade científica e médica. Neste propósito é o artigo 46, do Código de Ética Médica brasileiro, que dispõe ser vedado ao médico adotar qualquer procedimento sem o consentimento do paciente, salvo se houver iminente perigo de vida�.
Atento ao tema, o Conselho Federal de Medicina editou, em 26 de Setembro de 1.980, a Resolução CFM 1.021/80, que dispõe: 
Se não houver iminente perigo de vida, o médico respeitará a vontade do paciente ou de seus responsáveis;
Se houver iminente perigo de vida, o médico praticará a transfusão de sangue, independentemente de consentimento do paciente ou de seus responsáveis.
Todavia, para Marco Segre�
A exceção do esclarecimento e consentimento prévios do paciente em situações de iminente perigo de vida, na limitação do poder do médico de trata, concessão feita à nossa tradição ética, francamente paternalista, não deve ser interpretada como recomendação ao médico para que intervenha sobre o paciente, contrariamente à sua vontade, conforme muitos profissionais querem crer. Trata-se de uma “abertura” legal que permite a violação do direito do paciente, por parte do médico, de decidir sobre si mesmo, em situações de “iminente perigo de vida.” Poderá o médico intervir por sua própria vontade, quando ele não veja outro meio de salvaguardar a vida de seu paciente, não se podendo, entretanto, ver nessa “exceção” uma recomendação ou obrigação a ser seguida. Mesmo porque agindo ou deixando de agir, o profissional assumirá plenamente as conseqüências de sua ação, ou omissão, perante a sociedade e a Justiça.”�
Este professor e médico é flagrantemente favorável ao respeito à liberdade de escolha do tratamento médico pelo paciente - inclusive por motivos de consciência religiosa - como modo de proteção asua saúde�.
Reconhece-se que a ética pode se assentar sobre premissas de crenças e premissas racionais. Nas primeiras, a ética tem como postulado básico a origem divina e como tal deve ser respeitada; nas segundas, são embasadas na razão, com origens nos Direitos dos Homens, com as noções de igualdade e liberdade impondo respeito ao próximo, inclusive no que concerne às suas crenças. 
Em razão disto, o princípio da beneficência não pode ser usado como escudo para a atividade médica, como forma de afronta à decisão do paciente em negar-se a um determinado tratamento médico.
Ao invés, deve ser usado como manto protetivo da autonomia do paciente, que poderá optar livremente pela escolha de seu tratamento médico, ainda que isto lhe coloque sob risco de morte.
5. A ponderação dos direitos fundamentais envolvidos
É absolutamente extreme de dúvidas que o direito à intimidade, à vida privada� e à liberdade são direitos humanos fundamentais. No mesmo sentido, a autonomia na escolha de um tratamento médico como corolário dos referidos direitos, também seria postulado jusfundamental.
No entanto, nas vicissitudes dos tratamentos médicos poderão surgir situações em que a escolha do paciente coloque-o em risco de morte. Neste caso, o médico sujeitar-se-á à escolha do seu paciente ou, em nome de um direito maior - qual seja, o direito à vida deste paciente - fará valer aquilo que for favorável ao status vitae?
A vida é o primeiro e o mais importante de todos os direitos, uma vez que constitui pré-requisito à existência e exercício de todos os demais e apresenta-se sob tríplice aspecto: a) direito de não ser morto; b) condições mínimas de sobrevivência; c) tratamento digno por parte do Estado. 
Segundo Fernando Barcellos de Almeida�, o direito à vida inclui, também:
direito do nascituro, isto é, do ser humano concebido, com a formação do zigoto, que é a célula reprodutora resultante da fusão de dois gametas de sexo oposto, ou segundo alguns biólogos, após o 14. Dia da concepção, que seria o momento de a concepção tornar-se estável;
o direito do morto em relação à sua imagem formada enquanto vivo, reconhecida mesmo que ele não tenha deixado parentes, cônjuge ou herdeiros, portanto não sendo um direito só destes mas também do próprio ser falecido;
o direito funerário, ou seja, o direito de respeito ao cadáver do ser humano morto e da propriedade dessa cadáver.
Dalmo de Abreu Dallari� sustenta que o direito à vida é tão importante que mesmo que não estivesse contemplado expressamente “estaria implícito pois sem ele nem o Estado nem a sociedade humana sobreviveriam.”
Por conseguinte, uma resposta açodada levaria à conclusão de que a vida sempre sobrepor-se-ia sobre todo e qualquer outro direito, como a intimidade, a liberdade e a consciência religiosa. Mas será realmente assim?
A “consciência”, sem dúvida, é consectário da intimidade, da vida privada e da liberdade. O Papa João Paulo II comentou que obrigar alguém a violar sua consciência “é o golpe mais doloroso infligido à dignidade humana. Em certo sentido, é pior do que infligir a morte física, ou matar”�
A consciência, amiúde, está amparada em critérios religiosos�. Neste caso, seria duplamente protegida, pois além da consciência em si, há a necessidade da preservação da opção religiosa�. São neste padrão os primados da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, que no art. XVIII preceitua:
Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, bem como a liberdade de manifestar sua religião ou convicção, só ou em comum, quer em público, quer privadamente, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelo cumprimento de ritos.
Para se garantir o direito de liberdade e consciência religiosa exige-se, entretanto, “à boa-fé dos promotores do culto ou da seita; e também à exclusão de qualquer prática que, independentemente do seu pretenso caráter religioso, seria algo repugnável pela ordem jurídica",�. Fazendo coro, propugna Carlos Ernani Constantino�: 
Ora, quando os ensinamentos de uma seita religiosa provocam o sacrifício desnecessário de vidas humanas, estão sem dúvida a ferir os preceitos da ordem pública, devendo o Estado, por conseguinte, coibir tais abusos (...) Nenhum direito é absoluto, razão pela qual o direito à liberdade religiosa também não seria.
Logo, o direito de consciência não é absoluto, como, de resto, nenhum direito fundamental o é. Inclusive o direito à vida não será. 
Neste ínterim, não há como olvidar-se que direitos fundamentais� não são dotados de igual importância. É que alguns deles, por estabelecerem os parâmetros, as diretrizes a serem seguidos pelo Estado, destacam-se dos demais. São os conhecidos e chamados princípios constitucionais que, pelo seu caráter abrangente, acabam oferecendo o critério de interpretação para as demais normas constitucionais e infraconstitucionais. Nesse sentido as lições de Jorge Miranda� :
A ação mediata dos princípios consiste, em primeiro lugar, em funcionarem como critérios de interpretação, pois, são eles que dão a coerência geral do sistema. E, assim, o sentido exato dos preceitos constitucionais tem de ser encontrado na conjugação com os princípios e a integração há de ser feita de tal sorte que se tornem explícitas ou explicitáveis as normas que o legislador constituinte não quis ou não pode exprimir cabalmente.
Muitas vezes pode ocorrer que vários direitos humanos são colocados em choque, aparentemente conflitando-se. E quando um paciente sob iminente risco de vida recusa-se a um tratamento médico, há evidente embate entre o direito à vida e a preservação de sua intimidade, privacidade, liberdade, consciência e, sobretudo, de sua dignidade. Diante disto, impõe-se a solução deste conflito, que implicará, necessariamente, em dar-se primazia a um direito em detrimento de outro: ou prevalecerá o direito à vida; ou prevalecerá o direito à intimidade, à liberdade, à consciência, como decorrentes da dignidade da pessoa humana.
Ao se falar em antinomias de regras infraconstitucionais poder-se-ia invocar os critérios de solução comumente usados�. Mas, ao se falar de princípios fundamentais, estes critérios se esvaziam uma vez que eles vêm expressos em normas contemporâneas previstas na Constituição, não apresentam relação de hierarquia entre si e, ainda, são caracterizados pela generalidade�.
Sim, pois na aplicação dos princípios não se faz necessária a formulação de regras de colisão, porque essas espécies normativas, por sua natureza, finalidade e formulação, não se prestam a provocar conflitos – no máximo criam estados de tensão – nem estão subordinadas à lógica do tudo ou nada. São mandamentos de otimização, pois podem ser cumpridos em diferentes graus de possibilidades reais�.
Deste modo, os princípios, por serem dotados de menor densidade normativa, maior vagueza, maior generalidade e polimorfia, admitem convivência e conciliação com outros princípios. E se eventualmente surgir um conflito entre princípios, o intérprete, “ao invés de se sentir obrigado a escolher este ou aquele princípio� fará uma ponderação entre os princípios concorrentes, optando, afinal, por aquele que, nas circunstâncias, segundo a sua avaliação, deva ter um peso relativamente maior.”�
De outra banda, pode ocorrer que um dos direitos do ser humano seja ou pretenda ser restringido com base num direito social. Neste particular, ensina Boris Mirkine-Guetzevitch�:
El conflicto entre la libertad ilimitada y la limitacións social de la libertad, es hoy la preocupación em la vida pública de todos los países. Hay circunstancias especiales enc ada caso concreto, que determinan la necessidade de extender o de limitar la libertad. En este dominio no hay regra absoluta; mas es en el espíritu de la Declaración de Derechos donde se puede encontrar el criterio legal y social de la limitación de la libertad. Em tanto que el criterio del controllegal se encuentra el el espiritu de la Declaracion, la solución legislativa será siempre democrática. Pero cuando este criterio de la limitación de la libertad corresponde al espíritu de la Declaración, nos tropezamos ante uma lesión grave de la libertad. La distinción essencial entre Estade de derecho y Estado dictatorial estriba em la conformidade de todas limitacionaes sociales de libertad, en el Estado democrátic, com el espíritu de la Declaración de derecho.
Quando isto ocorrer, lembra José Afonso da Silva�, que: 
uma visão adequada dos direitos humanos fundamentais terá que conduzir o intérprete ao entendimento de que as categorias deles, previstas no corpo da Constituição, hão que integrar-se num todo harmônico, mediante influências recíprocas.
Na interpretação constitucional, J.J. Gomes Canotilho� ministra que o intérprete deve amparar-se nos seguintes fundamentos: princípio da unidade da Constituição�; princípio do efeito integrador�: princípio da máxima efetivação�; princípio da conformidade funcional�: princípio da concordância prática: em caso de conflito entre bens constitucionalmente protegidos, o intérprete não pode sacrificar um, em detrimento de outro; princípio da interpretação conforme a Constituição�: 
Neste passo, conjugando-se todos esses critérios de interpretação dos direitos fundamentais, entendemos que haveria a prevalência da liberdade de consciência, que somente poderia ser restringido se o interesse individual estivesse subjugando o interesse social e coletivo.
6. O direito de recusa ao tratamento médico
 
No Japão, em julho de 1992, a senhora Misae Takeda, uma Testemunha de Jeová com 63 anos de idade, procurou o Hospital do Instituto de Ciências Médicas da Universidade de Tóquio para retirada de um tumor maligno no fígado. Deixou claro sua posição de rejeitar qualquer tratamento a base de sangue por motivo de consciência religiosa. No entanto, os médicos desrespeitaram sua opinião e lhe ministraram uma transfusão. O caso foi levado ao Judiciário japonês. Quando interrogada, assim descreveu a Sra. Misae, com voz trêmula, o trauma emocional que sofreu: “Senti-me violentada, como uma mulher que foi estuprada.”�
A autonomia da Sra. Misae e, concordemente, sua dignidade foram flagrantemente violadas neste caso. Em casos tais, Fernanda Ferrarini G. C. Cecconello� conclui que: 
Particulares não podem sofrer constrangimentos, ainda que seja para salvar suas vidas. Às vezes são convencidos a submeterem-se a procedimentos médicos mais indicados (NCC, art. 15). Mas aqueles que, por convicção religiosa, negarem-se a autorizar transfusões de sangue em seus entes familiares, comum entre os testemunhas de Jeová, não devem sofrer sanções. Nesse mesmo sentido estão aqueles pacientes que não querem amputar ou extrair um membro doente, continuar um tratamento para prolongar sua vida, ou mesmo um presidiário que faça greve de fome, desejando morrer.
Por outro lado, os que defendem que em qualquer circunstância o médico deva ministrar o tratamento que entender pertinente e próprio à salvação da vida de seu paciente, ainda que ao arrepio da vontade deste, embasam sua tese na premissa de que o direito à vida é superior; mais: o direito à vida é constitucionalmente protegido como primado máximo. Maria Helena Diniz�, nesta esteira, leciona:
Se assim é, a vida humana deve ser protegida contra tudo e contra todos, pois é objeto de direito personalíssimo. O respeito a ela e aos demais bens ou direito correlatos decorre de um dever absoluto “erga omne”, por sua própria natureza, ao qual ninguém é lícito obedecer (...) A vida tem prioridade sobre todas as coisas, uma vez que a dinâmica do mundo nela se contém e sem ela nada terá sentido. Conseqüentemente, o direito à vida prevalecerá sobre qualquer outro, seja ele o de liberdade religiosa, de integridade física ou mental etc. Havendo conflito entre dois direitos, incidirá o princípio do mais relevante.
Deste modo, muito mais importante do que ter dignidade seria viver, conquanto sem dignidade.
Todavia, há cada vez mais vozes no sentido de que a liberdade de escolha deve preponderar. Tal assertiva é embasada, mormente, pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 de Dezembro de 1948, inciso XVIII, onde se lê que “todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. Este direito inclui a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou particular.” 
Segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho, "o direito do paciente de aceitar, ou não, um tratamento, ou um ato médico, é expressão de sua liberdade - direito seu de ordem fundamental, declarado e garantido pela Constituição".� 
Celso Ribeiro Bastos� também é favorável ao direito de recusa à transfusão de sangue, embasando-se no art, 5º, II da CF, como segue:
(...) o paciente tem direito de recusar determinado tratamento médico, inclusive a transfusão de sangue, com fundamento no art. 5º, II, da CF. Por este dispositivo, fica certo que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei (princípio da legalidade). Como não há lei obrigando o médico a fazer transfusão de sangue no paciente, todos aqueles que sejam adeptos da religião "Testemunhas de Jeová", e que se encontrarem nesta situação, certamente poderão recusar-se a receber o referido tratamento, não podendo por vontade médica, ser constrangidos a sofrerem determinada intervenção. O seu consentimento, nesta hipótese é fundamental. Seria mesmo desarrazoado ter um mandamento legal obrigando a certo tratamento, até porque podem existir ou surgir meios alternativos para chegar a resultados idênticos. 
Na toada do pensamento do saudoso Celso Ribeiro Bastos, a recusa do tratamento médico é absolutamente legítima e deve ser respeitada.
O teólogo católico Richard Devine� enfatizou: "Embora o hospital deva fazer todo esforço médico para preservar a vida e a saúde do paciente, ele precisa assegurar-se de que os cuidados médicos não violam a consciência dele" 
Nos Estados Unidos�, Bernice Brooks, que era Testemunha de Jeová�, apresentava quadro de úlcera péptica e optara por um tratamento médico sem uso de sangue. O médico responsável pelo seu acompanhamento pleiteou judicialmente que fosse nomeado um curador para a paciente e emitida uma liminar que autorizasse este curador a dar consentimento para a administração do sangue. A liminar foi concedida e o sangue transfundido. 
Interposto recurso contra esta liminar para o Tribunal de Illinois, este assim declarou:
A Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, conforme estendida aos Estados individuais pela Décima Quarta Emenda dessa Constituição, protege o direito absoluto de todo indivíduo de usufruir a liberdade em suas crenças religiosas e no exercício das mesmas, estando sujeito apenas à qualificação que o exercício delas poderá ser limitado pela ação governamental no caso em que tal exercício ponha em risco, de forma clara e presentemente, a saúde, o bem-estar e a moral públicos.
Este aresto deixou assente de que a liberdade religiosa é absoluta, estando limitada somente pelo bem-estar e a moral públicos.
Num outro caso, agora analisado pelo Tribunal de Mississipi, assentou-se que “cada um de nós tem o direito à inviolabilidade e à integridade de nossa própria pessoa, a liberdade de escolher ou um direito à autodeterminação, se assim o quiserem.”�
Segundo a revista A Sentinela�, em 16 de abril de 1996, a Corte Suprema de Connecticut, EUA, assentou o direito das Testemunhas de Jeová de recusar transfusões de sangue.�
O conceito da escolha esclarecida em questões de saúde ou consentimento esclarecido, está sendo cada vez mais aceito também no Japão e em outros países onde não era tão comum no passado. O Dr. Michitaro Nakamura descreveu o consentimento esclarecido da seguinte maneira�: 
É a idéia de o médico explicar ao paciente, numa linguagem simples,a doença, o prognóstico, o método de tratamento e os possíveis efeitos colaterais, respeitando o direito do paciente de decidir, por si mesmo, o método de tratamento. — Japan Medical Journal.
Nos casos acima citados, todos fazem coro à tese de que a liberdade de opção deve ser respeitada. Aliás, essa é a proposta da Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e da Dignidade do Ser Humano face às Aplicações da Biologia e da Medicina, adotada e aberta à assinatura em Oviedo, a 4 de Abril de 1997�. No seu preâmbulo lê-se que conscientes dos rápidos desenvolvimentos da biologia e da medicina; convencidos da necessidade de respeitar o ser humano simultaneamente como indivíduo e membro pertencente à espécie humana e reconhecendo a importância de assegurar a sua dignidade; conscientes dos atos que possam pôr em perigo a dignidade humana pelo uso impróprio da biologia e da medicina; acordaram no seguinte:
Artigo 1.º - As Partes na presente Convenção protegem o ser humano na sua dignidade e na sua identidade e garantem a toda a pessoa, sem discriminação, o respeito pela sua integridade e pelos seus outros direitos e liberdades fundamentais face às aplicações da biologia e da medicina.
Cada uma Partes deve adoptar, no seu direito interno, as medidas necessárias para tornar efectiva a aplicação das disposições da presente Convenção.
Artigo 2.º - O interesse e o bem-estar do ser humano devem prevalecer sobre o interesse único da sociedade ou da ciência.
(...)
Artigo 5.º - Qualquer intervenção no domínio da saúde só pode ser efectuada após ter sido prestado pela pessoa em causa o seu consentimento livre e esclarecido. 
Esta pessoa deve receber previamente a informação adequada quanto ao objectivo e à natureza da intervenção, bem como às suas consequências e riscos.
A pessoa em questão pode, em qualquer momento, revogar livremente o seu consentimento.
Sendo assim, quer no mundo jurídico, quer no mundo médico, levantam-se cada vez mais vozes defendendo a autonomia do paciente esclarecido nos tratamentos médicos, ainda que isto implique em risco de morte.
Considerações finais
Evidentemente que o tema é polêmico e uma resposta precipitada levaria a concluir que o direito à vida, por ser o maior e mais importante de todos, sempre deveria prevalecer.
Contudo, ao cabo do exposto, vê-se que desde Kant o primado da liberdade é decorrência direta da defesa da dignidade da pessoa humana, este sim o maior bem que o indivíduo possa titularizar.
A escolha do tratamento médico pode ser amparada por critérios religiosos, de foro íntimo ou simplesmente de mera opção. Por exemplo, neste último caso, um paciente acometido de câncer meramente se nega a receber quimioterapia que poderia salvá-lo. Embora lhe seja vital, ninguém poderá compeli-lo a se submeter a este tratamento.
Nem se diga, por outro lado, que essas opções seriam fundamentalistas, radicais e absurdas. A ideologia de uma pessoa pode ser motivada por vários critérios e influências. Assim, quando mártires� foram executados por conta de sua ideologia, colocaram sua vida em risco para defenderem aquilo que acreditavam e que os movia a viver. Nitidamente assumiram o risco das conseqüências, que redundaram, inclusive, nas suas mortes. Porém, nunca foram chamados de radicais por conta disso. Pelo contrário, são vistos como mártires.
Quando soldados participam de guerras pelo nacionalismo, pelo amor à Pátria, colocando suas vidas em risco, também não são chamados de fanáticos. Ao contrário, são heróis de guerra!
Não pretendemos criar mártires. Mas, no atual estágio constitucional exige-se que se aceitem as opções religiosas em negação a tratamentos médicos, sem classificações pejorativas ou escarnecedoras. É questão de foro íntimo, pessoal, que não traz conseqüências negativas à coletividade ou a moral pública. E, da mesma forma que devem ser toleradas as opções políticas, nacionalistas e ideológicas, deve se respeitada a livre escolha religiosa que não coloque em risco a segurança pública. 
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� Advogado; Mestre em Sistema Constitucional de Garantia de Direitos; Pós-Graduado em Direito das Relações Sociais; Pós-Graduado em Direito Contratual; Prof. de Direito Civil e Processual Civil da Associação Educacional Toledo e da FEMA/IMESA; Prof. de Processo Civil Constitucional do curso de Pós-Graduação da PUC/PR; Prof da Escola da Magistratura do Trabalho do Paraná; Prof. da Escola Superior da Advocacia de Assis/SP e de Presidente Prudente/SP.
� Segundo a Organização Mundial de Saúde, o termo saúde não é apenas a ausência de doença, mas o bem estar físico, mental e social do indivíduo. Por isso não se pode conceber o estado de saúde violando os valores ético-culturais de alguém. In Jornal do Cremesp, ano XV, n. 93, p. 13.
� VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética e biodireito, p. 15.
� Essa expressão surgiu pela primeira vez em 1971, no título da obra de Van Rens Selaer Potter (Bioethics: bridge to the future, Prenctice Hall, Englewood Clifs, New York). In. VIEIRA, Tereza Rodrigues, loc. cit.
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� Princípio, segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, in MELLO, Celso Antônio Bandeira. O Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3a ed., São Paulo: Malheiros, 1998, p. 9.
é o mandamento nuclear de um sistema; o alicerce; a disposição fundamental; a fonte de regras; o critério de interpretação e inteligência das regras.
� Esse princípio prega que a vontade do paciente ou de seu representante seja levada em conta pelo profissional da saúde, de acordo com os valores morais e crenças religiosas externados por aquele.
� Devem ser respeitados pelo médico os bem-estar do paciente, evitando-se, na medida do possível, causar-lhe danos.
� Esse princípio reclama a imparcialidade na distribuição de riscos e benefícios, no que atina a prática médica pelos profissionais da saúde, pois iguais deverão ser tratados iguais, e os desiguais desigualmente
� SILVA, Reinaldo Pereira e. Os direitos humanos do concebido. Análise biojurídicas das técnicas de reprodução assistida. Porto Alegre: Síntese Publicações, 2002, CD-Rom n. 40. Produzida por Sonopress Rimo Indústria e Comércio Fonográfico Ltda.
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� Op. cit., p. 212
� Jurisprudência Argentina, n. 5884, p. 2
� João Sérgio Moreira (Contestação ao artigo enviada ao autor pelo presidente da comissão de ligação com hospitais para as testemunhas de Jeová. In Porto Alegre: Síntese Publicações, 2002, CD-Rom nº 46. Produzida por Sonopress Rimo Indústria e Comércio Fonográfico Ltda.) sustenta que há inúmeras alternativas médicas para a transfusão de sangue. Além disso, considerar que a transfusão de sangue sempre equivale à sobrevivência do paciente, e, a recusa à transfusão à sua morte, é uma falácia. Não foram poucos os casos em que pessoas morreram mesmo recebendo transfusão de sangue - e, às vezes, por causa delas -, ao passo que outras sobreviveram com tratamento médico isento de sangue. Por exemplo, o Dr. Nelson Hamerschlak (Transfusão de sangue é um procedimento de risco, in Gazeta Hematológica, nº 10, setembro/outubro, 1992.), então presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, escreveu sobre sua "certeza" de que "a população em geral ainda acha que sangue examinado é seguro e (da) impressão de que alguns colegas também acreditam nesta falsa premissa”. O tratamento mediante sangue é perigoso, e motivo suficiente para que o paciente negue-se a recebê-lo. Além disso, o paciente tem seu direito de consciência assegurado, tanto por embasamentos religiosos, quanto por critérios eminentemente pessoais.
� Op. cit., p. 47.
� � HYPERLINK "http://www.acobasmet.org/programa_tp.htm" ��http://www.acobasmet.org/programa_tp.htm�, acessado em <24.04.2005
� Responsabilidad Jurídica. Transfusión sanguinea. Disponível em <� HYPERLINK "http://www.medicolegal.com.co/ediciones/1_2005/resp_jur_2.htm" ��http://www.medicolegal.com.co/ediciones/1_2005/resp_jur_2.htm�> Acessado em 20 mar. 06.
� MEIRA, Afonso Renato. O direito de dizer não. Jornal Estado de São Paulo. São Paulo. Editorial de 11 out 2004, p. A-2.
� Loc. Cit. 
� Tradução da reimpressão, feita com a devida permissão, da revista New York State Journal of Medicine, 1988; 88:463-464, copyright da Sociedade Médica do Estado de Nova Iorque, EUA.
� Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2003, CD-Ron Watchtower Library 2003 Português. Produzido por Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográfico Ltda.
� Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2003, CD-Ron Watchtower Library 2003 Português. Produzido por Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográfico Ltda.
� In Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2003, CD-Ron Watchtower Library 2003 Português. Produzido por Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográfico Ltda.
� MARTINS, Eliana M. C. Otaviano. Clonagem: aspectos médicos e jurídicos. In In Porto Alegre: Síntese Publicações, 2002, CD-Rom nº 46. Produzida por Sonopress Rimo Indústria e Comércio Fonográfico Ltda.
� É vedado ao médico: Art. 46. Efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo iminente perigo de vida.
� SEGRE Marco. Situação Ético-Jurídica da testemunha de jeová e do médico e/ou instituição hospitalar que lhe presta atenções de saúde, face à recusa do paciente-religiosa na aceitação de transfusões de sangue (parecer). São Paulo: Instituto Oscar Freire, 1991
� Loc. cit.
� Para a discussão, não se pode olvidar que, nos termos da Organização Mundial da Saúde, o termo saúde não representa simplesmente ausência de doença. Mas igualmente o bem estar físico, mental e social do indivíduo. Destarte, segundo Marco Segre (“Situação Ético-Jurídica da testemunha de jeová e do médico e/ou instituição hospitalar que lhe presta atenções de saúde, face à recusa do paciente-religiosa na aceitação de transfusões de sangue (parecer). São Paulo: Instituto Oscar Freire, 1991), não se pode conceber o estado de higidez associado à violação de valores éticos-culturais da pessoa.
� Luiz Alberto Davi Araujo e Vidal Serrano Nunes Junior, in Curso de direito constitucional. 6a. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, págs. 100 e 101, lecionam sobre a diferença entre intimidade e privacidade ou vida privada. Dizem, inicialmente, que o texto constitucional se refere a ambas. Portanto, tratam-se de direitos distintos. Entender-se-ia por privacidade os relacionamentos sociais do indivíduo de caráter privado, que habitualmente se mantém oculto ao público, via de regra no seio da entidade familiar. E por intimidade, um núcleo ainda menor, da proteção do indivíduo inserido neste núcleo privado, em relação aos demais indivíduos também ali existentes.
� Teoria Geral dos Direitos Humanos. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1996, p. 54-55.
� O que são direitos da pessoa?, 10a. ed., Brasília: Ed. Brasiliense, 1994, p. 26.
� In Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2003, CD-Ron Watchtower Library 2003 Português. Produzido por Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográfico Ltda.
� Concorde a Uadi Lammêgo Bulos (Op. cit., p. 99 ), há diferença entre liberdade de consciência e liberdade de crença: “Ambas são inconfundíveis (...), afinal, o descrente também tem liberdade de consciência e pode pedir que se tutele juridicamente tal direito, do mesmo modo que a “liberdade de crença compreende a liberdade de ter uma crença e de não ter crença.”
� Países há que não restringem este direito. Os Estados Unidos da América, por exemplo, na sua Emenda I, ratificada em 15 de Dezembro de 1791, reiteraram que “o Congresso não fará lei relativa ao estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício desta; ou restringindo a liberdade de palavra ou de imprensa; ou o direito do povo de reunir-se pacificamente e de dirigir petições ao Governo para a reparação de agravos”. Leda Boechat Rodrigues (A corte suprema e o direito constitucional americano. São Paulo: Edição revista Forense, 1958, p. 32. ) apregoa que não obstante o teor deste “Emenda I”, o livre exercício da religião sempre foi objeto de litígio nos Estados Unidos, envolvendo vários problemas, desde a objeção de consciência contra o serviço militar, até a poligamia pregada pelos Mórmons. E relata um caso havido na Suprema Corte americana, que julgou constitucional lei do Estado de Pensilvânia, que excluía de suas escolas os filhos menores de Testemunhas de Jeová, que, em nome de suas crenças, recusassem saudar a bandeira nacional. O acórdão sustentava ser a “unidade a base da segurança nacional e a bandeira um símbolo da nossa unidade.” Sendo assim, o escrúpulo das crianças deveria ceder a uma exigência mais alta: submeter-se ao treinamento da cidadania. O único voto vencido foi o do Juiz Stone, que entendera que a saudação compulsória à bandeira era um meio de forçar as crianças a professarem algoem que não acreditavam e ofensivo de suas mais profundas convicções religiosas. Além disso, existiam outras maneiras de se ensinar o nacionalismo sem necessidade de ferir-se a pessoalidade.
Três anos após, a mesma Suprema Corte reformava a jurisprudência anteriormente formulada, declarando a inconstitucionalidade daquela lei da Pensilvânia. Foi relator desse segundo julgamento o Juiz Jackson, que assim se manifestou: O direito de um Estado regular, por exemplo, empresa de utilidade pública, pode incluir, considerando-se o teste do processo legal regular, o poder de impor todas as restrições adotadas pelo Legislativo numa base razoável. Mas as liberdades de palavra de de imprensa, de reunião e de crença não podem ser infirngidas sob bases tão tênues. Só são suscetíveis de restrição para obstar perigo grave e imediato aos interesses que o Estado deva legalmente proteger (...) Quem começa a eliminar coercitivamente as discordâncias logo a seguir está exterminando os que discordam. A unificação compulsória de opiniões só consegue a unanimidade no túmulo. Outros países, porém, como a Grécia, já são menos tolerantes. Pinto Ferreira� sustenta que a Constituição grega, de 1952, no seu artigo 1º, declara: A religião predominante na Grécia é a da Igreja Cristo Oriental Ortodoxa. Cada religião conhecida é livre e seu culto será sem impedimento exercido sob a proteção da lei; mas o seu proselitismo e qualquer outra influência contra a religião dominante são proibidas. No Brasil, vige a liberdade religiosa. Aliás, está é, inclusive, dogma constitucional, sendo que o art. 5º, VI, da Constituição, reza: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”. Celso Bastos (in Comentários à Constituição do Brasil, vo. 02, p. 52), comentando este inciso, faz interessante digressão: Neste particular, o atual Texto leva a cabo um retorno às Constituições de 1946 e 1934, onde se apartavam consciência e crença para proteger-se ambas. É esta sem dúvida a melhor técnica, pois a liberdade de consciência não se confunde com a crença. Em primeiro lugar, porque uma consciência livre pode determinar-se no sentido de não ter crença alguma. Deflui, pois, da liberdade de consciência uma proteção jurídica que inclui os próprios ateus e agnósticos. De outra parte, a liberdade de consciência pode apontar para uma adesão a certos valores morais e espirituais que não passam por sistema religioso algum. Exemplo disto são os movimentos pacifistas que, embora tendo por centro um apego à paz e ao banimento da guerra, não implicam numa fé religiosa.
� BASTOS, Celso Ribeiro. MARTINS, e Ives Gandra Martins. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2002, vol. II, p. 52.
� Transfusão de Sangue e Omissão de Socorro, in CD-Ron Juris síntese
� A. E. Pérez Luño, divide em três grupos os usos que a doutrina em geral realiza dos direitos fundamentais: En primer lugar, algunos autores utilizan la expresión para referirse a los derechos humanos positivados en las constituciones estatales; otros designam con ella los principios que contienen la cosmovisión que inspira cada ordenamiento; y unos terceros aluden a la síntesis de las garantías individuales contenidas en la tradición de los derechos públicos subjetivos y las garantías individuales contenidas en la tradición de los derechos públicos subjetivos y las exigencias sociales derivadas de la concepción institucional de derecho. (Delimitación conceptual de los derechos humanos: derechos humanos, significación, estatuto jurídico y sistema. S.l: Publicaciones de la Universidad de Sevilla, 1979, p. 13-45.
� Os direitos fundamentais, sua dimensão individual e social. In Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política, 1992, v. 1, p. 199.
� São: a) critério especial, pelo qual a lei especial derroga a geral (lex specialis derrogata generali); b) critério temporal (lex posterior derogat priori), pelo qual a lei posterior revoga a anterior; c) critério hierárquico (lex superior derogat inferiori), pelo qual a lei hierarquicamente maior revoga a inferior.
� FARIAS, Edílson Pereira de. Colisão de direitos: a honra, a intimidade, a vida pivada e a imagem versus a liberdade de expressão e in formação. 2ª. ed., Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2000, p. 119-120.
� ROTHEMBURG, Walter Claudius. Princípios constitucionais. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1999, p. 39.
� Com exclusão de todos os demais, que, em tese, também poderiam ser utilizados como norma de decisão 
� COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação Constitucional. 2. ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2003. v. 1, p. 86.
� Modernas tendencias del derecho constitucional. Madrid: Editorial réus S.A, 1934, p. 112.
� Op cit., p. 285.
� CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 2a. ed., Coimbra: Livraria Almedina, 1998, p. 1096 a 1099.
� Os princípios elencados na constituição, bem como suas normas, devem ser considerados como um todo, e nunca isoladamente.
� O intérprete há de dar primazia à interpretação que leve a uma integração política e social.
� Oaplicador da lei deve atribuir-lhe valor que lhe empreste maior eficácia ou efetividade.
� O intérprete nunca pode romper o esquema de organização funcional do Estado, como a separação dos poderes.
� Deve-se dar prevalência à intepretação que lhe confira sentido compatível como a Constituição, não podendo o aplicador contrariar o sentido literal da lei e o objetivo inequívoco do legislador
� Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2003, CD-Ron Watchtower Library 2003 Português. Produzido por Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográfico Ltda
� Dano moral: Liberdade de imprensa x indenizações às pessoas jurídicas, públicas e celebridades, in Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil. Porto Alegre: Síntese, nº 22 - MAR-ABR/2003, pág. 141.
� O estado atual do biodireito. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 21
� Há um parecer datado de 24.10.1994, em que Manoel Ferreira Filho refere-se ao art. 5º, caput, e incisos VI e X.
� BASTOS, Celso Ribeiro. Parecer Penal: direito de recusa de pacientes submetidos a tratamento terapêutico ás transfusões de sangue, por razões científicas e convicções religiosas. Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 90, v. 787, p. 493-507, maio 2001.
� Seminário II – Comissão de Ligação com Hospitais para as Testemunhas de Jeová. Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2000, p. 39.
72 478 So. 2d 1033 (Miss. 1985), in Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2003, CD-Ron Watchtower Library 2003 Português. Produzido por Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográfico Ltda. 
� Caso “In re Brooks”
� Caso “in re Brown”, 478 So. 2d 1033 (Miss. 1985), in Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2003, CD-Ron Watchtower Library 2003 Português. Produzido por Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográfico Ltda
� Cesário Lange: Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2003, CD-Ron Watchtower Library 2003 Português. Produzido por Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográfico Ltda
� Esta decisão revogou uma anterior decisão judicial. Em agosto de 1994, Nelly Vega, Testemunha de Jeová, passou a sofrer uma forte hemorragia depois de dar à luz seu primeiro bebê. Os esforços de parar a hemorragia mostraram-se ineficazes. Quando a condição da Sra. Vega piorou, o hospital procurou obter uma ordem judicial, autorizando uma transfusão de sangue. A Sra. Vega já tinha assinado um termo de isenção, dando instruções de que sangue ou derivados de sangue não fossem aplicados a ela durante a sua estada no hospital, assim eximindo o hospital de qualquer responsabilidade pelas conseqüências da sua decisão. No entanto, o hospital argumentou que

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