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SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS E SISTEMAS DE ATERRAMENTO W B A 03 01 _v 1. 0 2 Lucas dos Santos Araujo Claudino Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS E SISTEMAS DE ATERRAMENTO 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Aristóteles Ramon Dias Couto Moreno Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)__________________________________________________________________________________________ Claudino, Lucas dos Santos Araujo C615s Sistemas de proteção contra descargas atmosféricas e sistemas de aterramento/ Lucas dos Santos Araujo Claudino, Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 43 p. ISBN 978-65-87806-00-6 1. Sistemas de Proteção. 2. Sistemas de Aterramento I. Claudino, Lucas dos Santos Araujo. II. Título. CDD 621.3191 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Origem de descargas atmosféricas e elementos do SPDA ___________ 05 Níveis de proteção e suas aplicações em equipamentos, linhas, subestações e cabines ______________________________________________ 20 Sistemas de aterramentos e normas vigentes _______________________ 34 Projeto e dimensionamento de SPDA _______________________________ 49 SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRI- CAS E SISTEMAS DE ATERRAMENTO 5 Origem de descargas atmosféricas e elementos do SPDA Autoria: Lucas dos Santos Araujo Claudino Leitura crítica: Aristóteles Ramon Dias Couto Moreno Objetivos • Estudar a origem das descargas atmosféricas, compreendendo os fenômenos físicos por trás de uma descarga atmosférica e suas consequências. • Conhecer os principais elementos que constituem um sistema de proteção contra descargas atmosféricas. • Estudar e interpretar os métodos de dimensionamento de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas, o posicionamento de captores e o cálculo de condutores. 6 1. Introdução Os Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) são partes essenciais para garantia da segurança de edificações contra os efeitos dos fenômenos de descarga atmosférica. Para garantir a correta elaboração de projetos de SPDA, é preciso entender a origem das descargas atmosféricas até os métodos de dimensionamento e de projeto dos subsistemas de um SPDA. Para a regulamentação de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas, há normas específicas, como NBR 5419, e métodos de projetos a serem seguidos (ABNT, 2001). Diante disto, esta Leitura Digital abordará sobre todos esses assuntos essenciais para segurança de edificações contra raios e tempestades. 2. Origem e formação de descargas atmosféricas Estudos recentes do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), revelaram que em média ocorrem 77,8 milhões de descargas atmosféricas anuais no Brasil (esses dados foram obtidos através de uma média das ocorrências dos anos entre 2010 e 2017) (ELAT, 2017a). Nesse sentido, de acordo com Mamede Filho (2007), diversas teorias já foram criadas para explicar a origem desses fenômenos, mas, atualmente, já é sabido que os raios são originados do atrito entre moléculas de água. As tempestades são iniciadas quando massas úmidas de ar quente são transpostas a grandes alturas. Esse transporte, por sua vez, pode ocorrer de diversas maneiras, como quando porções de solo são intensamente aquecidas pela insolação e o ar próximo ao solo quente 7 aquece e sobe à atmosfera. As partículas das massas ascendentes provocam os processos de separação eletrostática de cargas (fricção), que podem carregar as partículas de água e umidade presentes na atmosfera. As cargas positivas se acumulam na parte superior das nuvens e as negativas permanecem na porção inferior. Na nuvem, essa polarização provoca uma diferença de potencial entre a superfície da Terra e a nuvem. Quando o aumento da diferença de potencial entre a nuvem e o solo supera a rigidez dielétrica do ar, é aberto um caminho para as cargas elétricas migrarem entre as duas camadas com polarizações opostas. O valor aproximado de diferença de potencial necessário para romper a rigidez dielétrica do ar é de 1 kV/mm. Segundo Mamede Filho (2007), a partir disso, as descargas atmosféricas líderes (ou pilotos) são iniciadas. Essas descargas, conhecidas como relâmpagos, podem se iniciar nas nuvens ou no solo, sendo chamadas de relâmpagos nuvem-solo ou solo-nuvem, respectivamente. Por sua vez, as Figuras 1 e 2 ilustram os relâmpagos do tipo nuvem-solo, também conhecidos como relâmpagos descendentes, que representam cerca de 99% das descargas que atingem o solo. A Figura 1 apresenta o relâmpago nuvem-solo negativo, aonde a descarga líder carregada com cargas negativas flui da nuvem em direção ao solo. Quando a descarga piloto se aproxima do solo, a intensidade do campo elétrico ao redor da descarga próxima aos objetos (árvores, antenas, edifícios) aumenta. Então, as cargas positivas dos objetos são atraídas pelo campo elétrico e chegam ao encontro da descarga piloto, iniciando a descarga principal. 8 Figura 1 – Relâmpago nuvem-solo negativo Fonte: Dehn (2014, p. 16). No caso do relâmpago nuvem-solo positivo, apresentado na Figura 2, a descarga piloto é constituída de cargas positivas. Esses relâmpagos representam aproximadamente 10% das descargas que são originadas nas nuvens e atingem o solo. Figura 2 – Relâmpago nuvem-solo positivo Fonte: Dehn (2014, p. 16). 9 Os relâmpagos solo-nuvem são raros e, geralmente, ocorrem em objetos muito altos e expostos (turbinas eólicas, torres de telecomunicações) ou no topo de montanhas. Nesses casos, a grande intensidade de campo elétrico necessária para iniciar o relâmpago não é atingida pela influência da nuvem, mas pela distorção do campo elétrico ao redor do objeto. A partir desse ponto, o canal da descarga piloto se propaga até a nuvem. Os relâmpagos solo-nuvem podem também ser dos tipos negativo (Figura 3) e positivo (Figura 4). Figura 3 – Relâmpago solo-nuvem negativo Fonte: Dehn (2014, p. 17). 10 Figura 4 – Relâmpago solo-nuvem positivo Fonte: Dehn (2014, p. 17). Um ponto muito importante sobre as características das descargas atmosféricas é a sua intensidade. Segundo o ELAT (2020), que é subordinado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a descarga líder de um trovão possui corrente média igual a 1 kA. As cargas que fluem pelo canal principal, por sua vez, podem apresentar uma intensidade média de corrente igual a 30 kA, mas dados já mostraram que as descargas4.6 representam, respectivamente, as variáveis que serão utilizadas para encontrar os resultados das componentes de risco D1, D2 e D3: 5/ 876/ 0 1 10A t T Z T ZL tnr L n −= × × × = ⋅ (4.4) 5/ 0 1/ 876 2 0B p f Z F Z t ZL r r h L n n t −= =× × × × × ⋅ (4.5) / / 8760 0C O Z t ZL tnL n= × =× (4.6) Sendo que os seguintes valores precisaram ser utilizados: 0,01tr = fator redução da perda de vida humana que depende de características do solo ou piso. 0,5pr = fator de redução associados a medidas contra incêndio. 0,01fr = fator de redução da perda por causa de danos físicos. 2Zh = fator de aumento ligado aos perigos especiais. 10Zn = número de pessoas na zona. 100tn = número de pessoas na edificação. 8760Zt = tempo de ocupação da zona 1 [horas/ano]. 0,01TL = média de vítimas de choque elétrico. 0,02FL = média de vítimas de danos físicos. 0OL = média de vítimas falhas em sistemas internos. 60 Devido à reação de choques elétricos, a probabilidade PA de uma descarga atmosférica incidir em uma estrutura e causar ferimentos a seres vivos é calculada da seguinte maneira (ABNT, 2015b, p. 40): 40,01 0,05 5 10A TA BP P P −= × × == ⋅ (4.7) Sendo que PTA é a probabilidade de um choque elétrico (equipotencialização efetiva do solo) e PB a probabilidade de ocorrência de danos físicos causados por descarga direta na estrutura, para obtenção dos valores dessas probabilidades, considerou-se que existe uma equipotencialização e efetiva no do solo e a classe do SPDA é II. No entanto, ainda são necessários mais alguns cálculos para a determinação da necessidade de SPDA na estrutura. Portanto, vamos ao cálculo da probabilidade de uma descarga atmosférica na estrutura da edificação provocar falhas nos sistemas internos da edificação (ABNT, 2015b, p. 48): 2 1 0,020,0C SPD LDP P C= × × == (4.8) 1 11CS SPDS LDSP CP == × × = (4.9) Segundo a norma pertinente, os danos são classificados em D1, D2 e D3, em que cada um possui um valor de dano que precisa ser calculado. Para este projeto de SPDA, considerou-se somente a fonte de dano devido à descarga atmosférica na estrutura. Com os valores e probabilidades encontrados até agora, é possível calcular riscos associados a cada tipo de dano e, finalmente, encontrar o risco total. A Tabela 5 resume os tipos de danos selecionados, com seus respectivos cálculos e o resultado obtido, sendo que todos os equacionamentos são baseados na norma NBR 5419-2 (ABNT, 2015b). 61 Tabela 5 – Resumo dos valores de riscos para a zona 1 Tipo de dano Cálculo Resultado Descrição D1 1A D A AR N P L= × × 105,5 10−⋅ Risco de choque elétrico D2 1B D B BR N P L= × × 71,10 10−⋅ Risco de dano físico D3 1C D C CR N P L= × × 0 Risco de falha dos sistemas internos Fonte: elaborada pelo autor. Nesse sentido, os valores de risco obtidos até agora foram associados à zona 1, que é a parte externa da edificação. O que restam, portanto, é calcular os riscos associados às zonas 2 e 3. A metodologia a ser utilizada é a mesma (equações 4.4 a 4.9), porém, o número de pessoa em cada zona irá variar, e considere que as probabilidades LO serão iguais a 0,01 para ambas as zonas. A tabela a seguir reúne esses resultados, além de apresentar o risco total para a edificação. Tabela 6 – Resumo dos valores de riscos para as zonas 2 e 3 e risco total Zona Cálculo Resultado Descrição ZONA 2 2A D A AR N P L= × × 93,30 10−⋅ Risco de choque elétrico 2B D B BR N P L= × × 76,61 10−⋅ Risco de dano físico 2C D C CR N P L= × × 51,32 10−⋅ Risco de falha dos sistemas internos 62 ZONA 3 3A D A AR N P L= × × 91,65 10−⋅ Risco de choque elétrico 3B D B BR N P L= × × 73,30 10−⋅ Risco de dano físico 3C D C CR N P L= × × 66,61 10−⋅ Risco de falha dos sistemas internos RISCO TOTAL 1 2 3 1 2 3 1 2 3A B C A A A B B B C C CR R RR R R R RR RR R R ++ += = ++ ++ + + + 52,09 10R −= ⋅ Fonte: elaborada pelo autor. A norma NBR 5419, de 2015c, afirma que qualquer edificação cujo risco total seja maior do que 10-5 precisa de um sistema de proteção contra descargas atmosféricas. Portanto, como o risco calculado foi 52,09 10R −= ⋅ , pode-se afirmar que é preciso a instalação de um SPDA na edificação estudada. 7.1 Cálculo da quantidade de descidas Visto que é preciso instalar um SPDA na edificação, escolha um método para projetar o sistema de descida e captação, que pode ser, por exemplo, uma metodologia híbrida utilizando captores Franklin e malha do tipo Gaiola de Faraday. Considerando as especificações já mencionadas da edificação, é possível identificar que ela possui uma área de 2400 m2, altura igual a 15 metros, perímetro de 200 metros e quatro cantos salientes. Para garantir uma proteção de nível II, o espaçamento médio entre descidas deve ser igual a 10 metros (ABNT, 2015c). Logo, é possível calcular a quantidade de condutores de descida da seguinte forma: 1 Perímetro 200Num cantos salientes= 4 24 0 . 10 m 1 N + == + (4.10) 63 Além disso, como o espaçamento máximo recomendado entre condutores para garantir uma proteção de classe II é igual a 10 metros, deve-se instalar condutores horizontais adicionais circundando a edificação, sendo um instalado no canto saliente do topo do prédio e outro a 10 metros do solo ou na metade de edificação. A partir dos conceitos, técnicas e cálculos aprendidos, é possível realizar projetos de SPDA completos, partindo da análise da estrutura, passando pelo dimensionamento e especificação de materiais, pela análise de risco e chegando ao cálculo da quantidade de descidas necessárias ao redor de uma edificação. Além disso, os conceitos aprendidos podem ser facilmente expandidos para casos mais complexos, uma simples técnica seria a adição da análise de risco em linhas condutoras e divisão em mais zonas de proteção. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5410: Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5419-1: Proteção contra descargas atmosféricas parte 1: princípios gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2015a. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5419-2: Proteção contra descargas atmosféricas parte 2: gerenciamento de risco. Rio de Janeiro: ABNT, 2015b. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5419-3: Proteção contra descargas atmosféricas parte 3: danos físicos a estruturas e perigos à vida. Rio de Janeiro: ABNT, 2015c. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5419-4: Proteção contra descargas atmosféricas parte 4: sistemas elétricos e eletrônicos internos na estrutura. Rio de Janeiro: ABNT, 2015d. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 10898: Sistema de iluminação de emergência. Rio de Janeiro: ABNT, 1999. BRASIL. Ministério de Trabalho. NR 10: segurança em instalações e serviços em eletricidade. Brasília: MTE, 2016. 64 Bons estudos! Sumário Origem de descargas atmosféricas e elementos do SPDA Objetivos 1. Introdução 2. Origem e formação de descargas atmosféricas 3. Componentes de um sistema SPDA 4. Métodos de proteção Referências Bibliográficas Níveis de proteção e suas aplicações em equipamentos, linhas, subestações e cabines Objetivos 1. Introdução 2. Níveis de proteção 3. SPDA para proteção de sistemas elétricos e eletrônicos 4. SPDA para linhas, subestações e cabines Referências Bibliográficas Sistemas de aterramentos e normas vigentes Objetivos 1. Introdução 2. Características básicas do sistema de aterramento 3. Tipos de aterramento em SPDA 4. Esquemas de aterramento para finalidade em baixa tensão 5. NR-10 e segurança aplicada ao SPDA Referências Bibliográficas Projeto e dimensionamento de SPDA Objetivos 1. Introdução 2. Considerações e informações sobre a edificação 3. Projeto do SPDA e aterramento Referências Bibliográficaspodem chegar até a uma intensidade de 400 kA. Geralmente, a corrente elétrica atinge seu ponto de maior intensidade após alguns microssegundos e a cada 50 microssegundos ela decai pela metade. 3. Componentes de um sistema SPDA É importante salientar que o Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas é responsável por proteger o sistema elétrico de potência, não sendo capaz de impedir que descargas atmosféricas ocorram ou atinjam o local de instalação. Porém, o SPDA, se corretamente 11 projetado e executado segundo a norma NBR 5419, é capaz de reduzir significativamente os riscos que avarias e danos oriundos de descargas atmosféricas podem causar. Um sistema completo de SPDA pode ser dividido em três subsistemas: captores, condutores de descida e aterramento. A norma NBR 5419 orienta explicitamente que os três subsistemas do SPDA precisam ser corretamente projetados e implementados: “para evitar trabalhos desnecessários, é primordial que haja entendimentos regulares entre os projetistas do SPDA, os arquitetos e os construtores da estrutura” (ABNT, 2001, p. 4). O subsistema de captores tem como objetivo receber (captar) os raios, para que assim os raios não atinjam diretamente a estrutura ou sistema que está sendo protegido. O subsistema dos condutores de descida é o responsável por conduzir a corrente elétrica da descarga recebida pelos captores até o subsistema de aterramento. Assim, o subsistema de aterramento tem a função de dispersar da terra (solo) a corrente elétrica que foi entregue a ele. Observe a Figura 5, em que é possível verificar que um sistema completo de SPDA necessita de todos esses elementos. Os subsistemas estão interligados, e a falta ou dano em qualquer elemento do sistema afetará significativamente o desempenho da proteção contra descargas atmosféricas. 12 Figura 5 – SPDA com representação dos três subsistemas: captores, descida e aterramento Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sistema_de_Prote%C3%A7%C3%A3o_ contra_Descargas_Atmosf%C3%A9ricas_(SPDA).jpg. Acesso em: 22 fev. 2020. A seguir, você poderá estudar com mais detalhes cada um dos subsistemas de um sistema de proteção contra descargas atmosféricas. 3.1 Subsistema de captores Devido aos captores serem os dispositivos que estarão em contato direto com o raio recebido, eles precisam ser mecânica e termicamente resistentes, pois a transferência de energia eletromagnética que ocorre no instante no raio é muito elevada, provocando o intenso aquecimento e o esforço mecânico. Geralmente, essa robustez é alcançada através da escolha dos materiais e tipos de captores e de sua fixação correta na estrutura a ser protegida. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sistema_de_Prote%C3%A7%C3%A3o_contra_Descargas_Atmosf%C3%A9ricas_(SPDA).jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sistema_de_Prote%C3%A7%C3%A3o_contra_Descargas_Atmosf%C3%A9ricas_(SPDA).jpg 13 Um captor é uma estrutura metálica, geralmente de aço inoxidável, composto por uma, três ou mais pontas, sendo fixado a uma haste que está também fixa em um apoio isolante, com tensão de isolamento de no mínimo 10 kV. Segundo a ABNT (2001, p. 4), os captores podem ser compostos por um ou mais elementos, sendo eles: hastes, cabos esticados, condutores em malha ou elementos naturais. Os captores naturais são formados por qualquer elemento condutor exposto a possíveis descargas atmosféricas, como: a. coberturas metálicas sobre o volume a proteger; b. mastros ou outros elementos condutores salientes nas coberturas; c. rufos e/ou calhas periféricas de recolhimento de águas pluviais; d. estruturas metálicas de suporte de envidraçados, para fachadas, acima de 20 m do solo ou de uma superfície horizontal circundante; e. guarda-corpos, caixilhos, ou outros elementos condutores expostos, para fachadas, acima de 20 m da superfície horizontal circundante; f. tubos e tanques metálicos construídos em material de espessura igual ou superior à indicada na tabela 4. (ABNT, 2001, p. 6) Assim como todo elemento de um SPDA, os captores também precisam ser corretamente projetados e, para isso, a norma NBR 5419 permite a utilização de três metodologias de projeto: método Franklin (ângulo de proteção), método eletrogeométrico (esfera rolante ou fictícia) e método Faraday (condutores em gaiola) (ABNT, 2001, p. 5). Ainda, a instalação dos captores pode dividir o SPDA em duas topologias: isolado ou não isolado. Um SPDA não isolado é aquele no qual o sistema 14 a ser protegido recebeu a instalação direta dos captores sobre seu teto. Desse modo, é importante que o SPDA não isolado não seja utilizado em edificações onde a corrente elétrica da descarga atmosférica não cause danos à estrutura, como no caso de construções que contenham materiais inflamáveis. Em um SPDA isolado, a distância entre o subsistema de captores e a estrutura a ser protegida deve ser maior do que dois metros. Então, para projetar corretamente o sistema de SPDA, é preciso estudar os três métodos citados anteriormente (Franklin, Esfera rolante e Faraday). 3.2 Subsistema de descida De acordo com Barbosa (2014), os condutores de descida conectam os captores aos eletrodos de aterramento e, para conduzir a corrente elétrica da descarga, ele deve ser disposto de tal forma que seu comprimento seja o menor possível, além de permitir também que a corrente elétrica possua vários caminhos paralelos para fluir ao solo. Nesse sentido, os condutores de descida podem ser classificados da seguinte forma: • Condutores de descida naturais: em geral, são estruturas metálicas que fazem parte da edificação e, mesmo nos casos em que são revestidos por material isolante, podem fazer um caminho vertical contínuo e possuem seção mínima de acordo com a norma NBR 5419 (2001). No caso de chapas metálicas que cubram a estrutura que se deseja proteger, a espessura das chapas também é ditada pela norma NBR 5419 (2001). • Condutores de descida não naturais: são condutores, que podem ou não estar expostos, ligam os captores ao subsistema de aterramento e devem apresentar uma condutividade mínima igual 15 a 98%. Além de haver uma seção mínima para os condutores de descida ditada pela norma NBR 5419 (2001), é preciso oferecer uma proteção mecânica para o condutor através da utilização de eletrodutos de PVC ou material metálico. Essa proteção deve ser feita até 2,5 metros do chão, ao menos. 3.3 Subsistema de aterramento O subsistema de aterramento é o responsável por dispersar a corrente provinda da descarga atmosférica para o solo. Por sua vez, isso é feito através dos chamados eletrodos de aterramento, que podem ser divididos entre naturais e não naturais. • Sistemas de aterramento naturais: são aqueles compostos por estruturas metálicas conectadas à fundição da edificação ou outros elementos metálicos subterrâneos, que podem ser utilizados como eletrodos e garantem a continuidade elétrica entre o subsistema de captação e a terra. • Sistemas de aterramento não naturais: são compostos por eletrodos metálicos que estejam conectados à terra em ao menos 80% de seu comprimento, malhas de aterramento ou, ainda, um filamento condutor que conecta das armaduras descontínuas da fundação da edificação. A instalação de eletrodos de aterramento requer uma série de cuidados, conforme a norma NBR 5419 de 2001 (ABNT, 2015), como a profundidade mínima de enterro (0,5 metros), distância de um metro da 16 parede externa da edificação, utilização de caixa de inspeção e também cuidados com efeitos de ressecamento do solo. 4. Métodos de proteção 4.1 Método Franklin Esse método é baseado na utilização de captores pontiagudos fixados em hastes, e quanto mais alta for a haste, maior é o volume protegido pelo SPDA. O volume protegido é encontrado pelo traçado de um cone criado a partir de uma linha imaginária que gira com ângulo α ao redor da haste. A Figura 6 ilustra a estimativa desse volume a partir do ângulo α e da altura dahaste. Figura 6 – Influência do ângulo e da altura no volume de proteção Fonte: elaborada pelo autor. 17 4.2 Método Faraday Para edificações horizontais muito grandes, seria necessário utilizar muitos captores do tipo Franklin para proteger a estrutura. Por isso, o método Faraday se baseia na ideia da criação de uma gaiola de Faraday ao redor da estrutura, pois o campo eletromagnético no interior dessa gaiola é nulo quando uma corrente elétrica de qualquer intensidade atinge a gaiola. Para criação dessa gaiola, portanto, é preciso instalar uma malha de condutores elétricos nus, sendo que a distância entre esses condutores (DCO) é ditada pela norma NBR 5419, de acordo com o nível de proteção pretendido pelo SPDA. Segundo Barbosa (2014), para encontrar o número de condutores da malha (NCm) é preciso recorrer à equação a seguir: 1M CM CO DN D = + Sendo que DM é o comprimento da área plana a ser coberta, em metros. Essas dimensões estão ilustradas da Figura 7. Figura 7 – Estrutura de proteção com o método Faraday Fonte: adaptada de SABESP (2011, p. 14). 18 4.3 Método da esfera rolante Nesse método, os captores são posicionados de tal forma que qualquer descarga líder descendente que se aproxime do volume protegido esteja a uma distância mínima de de um captor e a uma distância maior de qualquer ponto da estrutura protegida. A partir disso, a descarga descendente só tende a se conectar com a descarga ascendente através dos captores. O método possui esse nome para determinar a região protegida, logo, deve-se rolar uma esfera fictícia, de raio , sobre o solo e sobre o SPDA, já a zona a ser protegida é a região na qual a esfera rolante não toca. Os pontos tocados pela esfera são considerados os pontos mais expostos à ocorrência de descargas atmosféricas. A Figura 8 contém uma ilustração do método da esfera rolante, assim, observe que a região onde a esfera toca é a região suscetível às descargas atmosféricas, mas o captor colocado ao lado das residências impede que a esfera toque as casas. Portanto, as residências estão protegidas pelo SPDA. Figura 8 – Método da esfera rolante Fonte: elaborada pelo autor. Com o estudo deste tema, primeiramente, foi possível aprender como são formadas as descargas atmosféricas e entender a razão de esses fenômenos transportarem uma carga elétrica tão grande, o que exige a 19 elaboração de projetos de SPDA. Para projetar o sistema de proteção, você estudou também os subsistemas de um SPDA e os métodos utilizados para dimensionamento e posicionamento de captores. Ainda, é importante ressaltar que todos os métodos e requisitos de projeto são regulamentados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas com a norma NBR 5419 (Proteção de Estruturas Contra Descargas Atmosféricas de 2001). Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5419: Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas: Referências. Rio de Janeiro: ABNT, 2001. BARBOSA, T. D. Proteção conta descargas atmosféricas de edificações utilizando a ferragem estrutural. 2014. 56 f. TCC (Bacharel em Engenharia Elétrica)–Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014. COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO–SABESP. Manual Orientador SPDA: proteção contra descargas atmosféricas e proteção contra surtos. São Paulo: Sabesp, 2011. DEHN (Alemanha). Lightning Protection Guide. 3. ed. Neumarkt: Dehn International, 2014. ELAT – Grupo de Eletricidade Atmosférica (São José dos Campos). Nova rede de dados revela aumento da média anual de raios no Brasil e densidades de descargas com maior precisão para estados e municípios. Release ELAT, São José dos Campos, n. 40, 25 set. 2017a. Disponível em: http://www.inpe.br/webelat/ homepage/menu/noticias/release.php?id=72. Acesso em: 20 fev. 2020. ELAT – Grupo de Eletricidade Atmosférica (São José dos Campos). Tipos de relâmpagos. 2017b. Disponível em: http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/ relamp/relampagos/tipos.php. Acesso em: 20 fev. 2020. ELAT – Grupo de Eletricidade Atmosférica (São José dos Campos). Corrente elétrica do raio. Disponível em: http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/relamp/ relampagos/caracteristicas.da.corrente.eletrica.php. Acesso em: 21 fev. 2020. MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007. http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/noticias/release.php?id=72 http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/noticias/release.php?id=72 http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/relamp/relampagos/tipos.php http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/relamp/relampagos/tipos.php 20 Níveis de proteção e suas aplicações em equipamentos, linhas, subestações e cabines Autoria: Lucas dos Santos Araujo Claudino Leitura crítica: Aristóteles Ramon D. C. Moreno Objetivos • Estudar os níveis de proteção apresentados pela norma NBR 5419 (ABNT, 2015a; 2015b; 2015c), que são os responsáveis por ditar diversos parâmetros de projeto de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas. • Analisar as técnicas de proteção de equipamentos elétricos e eletrônicos que exigem cuidados especiais contra sobretensão. • Estudar a aplicação das técnicas de projeto de SPDA para proteção de subestações de distribuição e suas respectivas linhas. 21 1. Introdução A elaboração de projetos de SPDA requer que diversos passos sejam seguidos. Nesse sentido, uma parte fundamental do projeto é o gerenciamento de risco, que tem o objetivo de avaliar qual a probabilidade de ocorrência de descargas atmosféricas e como elas podem prejudicar a edificação, os equipamentos e as pessoas ao redor. Com isso, é possível definir qual o nível de proteção necessário para o projeto, que servirá de guia para definição de diversos fatores de cálculos, independentemente do método de proteção escolhido. Além da elaboração do SPDA, é comum a necessidade de cuidados especiais para equipamentos mais sensíveis às oscilações de tensão, o que obriga o projeto a conter ferramentas adicionais, como a separação em zonas de proteção e o isolamento de sinais. Quando o SPDA é aplicado a edificações especiais, como cabines e subestações, vários cuidados extras precisam ser tomados. O projeto para esse tipo de estrutura parte dos métodos especificação de SPDA comuns, mas devem conter proteções adicionais, como o uso de dispositivos de proteção contra sobretensão em todas as linhas e, na grande maioria dos casos, exigirá estruturas captores mais elaboradas. 2. Níveis de proteção Visto que todo e qualquer projeto de SPD deve seguir as recomendações da norma NBR 5419, é fundamental que os estudos de níveis de proteção sejam também baseados nessa norma. Sendo assim, a NBR 5419-1 (2015a) elenca quatro níveis de proteção (NP), chamados níveis de I a IV, que foram selecionados a partir da intensidade das descargas atmosféricas. Cada nível possui valores mínimos e máximos para as 22 descargas, e o volume a ser protegido é enquadrado em um desses níveis a partir do grau de proteção que é desejado. Portanto, a seleção adequada do nível influencia diretamente no projeto do sistema de proteção contra descargas atmosféricas. Um exemplo é o raio da esfera rolante a ser utilizada para projeto, que possui valores predefinidos para cada um dos quatro níveis de proteção. Por sua vez, A ABNT (2015, p. 16) menciona que “A probabilidade de ocorrência de descargas atmosféricas cujos parâmetros de correntes estejam fora do intervalo máximo e mínimo do NP I é menor que 2%”. Assim, a primeira análise importante para os níveis de proteção é a distinção das descargas quanto aos valores máximos dos parâmetros das descargas atmosféricas. Essa listagem de valores está contida no Quadro 11. Quadro 1 – Valores máximos para os parâmetros dos tipos de descarga atmosférica segundo os quatro níveis de proteção Primeiro impulso positivo Nível de proteção Parâmetro Símbolo Unidade I II III IV Corrente de pico Ip kA (quiloampère)200 150 100 Carga do impulso Qcurta C (coulomb) 100 75 50 Energia específica W/R MJ/Ω (Megajoule por ohm) 10 5,6 2,5 Parâmetros de tempo T1/T2 μs/ μs 10/350 Primeiro impulso negativo Nível de proteção 1 Para o quadro, o primeiro impulso positivo é aquele cuja descarga piloto é composta de cargas positivas, ao passo que no primeiro impulso negativo as cargas são negativas e o impulso subsequente é a descarga atmosférica que ocorre logo após a descarga piloto. 23 Valor de pico Ip kA (quiloampère) 100 75 50 Taxa média de variação di /dt (quiloampère/ microssegundo) 100 75 50 Parâmetros de tempo T1 /T2 μs/ μs 10/350 Impulso subsequente Nível de proteção Valor de pico Ip kA (quiloampère) 50 37,5 25 Taxa média de variação di /dt (quiloampère/ mi- crossegundo) 200 150 100 Parâmetros de tempo T1 /T2 μs/ μs 0,25/100 Fonte: adaptado de ABNT (2015a, p. 17). Desse modo, é importante evidenciar que os parâmetros exibidos no Quadro 1 são apenas algumas das características das descargas atmosférica classificadas de acordo com seu nível de proteção. Para o conhecimento completo dessas grandezas, por sua vez, é preciso recorrer ao que a norma NBR 5419-1 afirma. Assim como dito anteriormente, a classificação de uma estrutura quanto ao nível de proteção dita quais serão as características construtivas do SPDA, como o tamanho da malha, o raio da esfera rolante, ângulo de proteção e comprimento mínimo do eletrodo de aterramento a ser utilizado. O quadro a seguir contém o valor de corrente de pico mínima para os níveis de proteção, e também um exemplo de parâmetro ditado a partir do nível de proteção (o raio da esfera rolante) (ABNT, 2015a, p. 18). Quadro 2–Valores mínimos para os parâmetros dos tipos de descarga atmosférica segundo os quatro níveis de proteção Critério de interceptação Nível de proteção Símbolo Unidade I II III IV 24 Corrente de pico Ip kA (quiloampère) 3 5 10 16 Raio da esfera rolante r m (metros) 20 30 45 50 Fonte: adaptada de ABNT (2015a, p. 18). De acordo com Ozolnieks e Vanzovics (2010), a proteção contra descargas atmosféricas deve trazer benefícios para a estrutura, e a seleção do nível de proteção é que ditará qual a probabilidade de redução do efeito de cada um dos componentes de riscos. Essa redução não é na ocorrência das descargas atmosféricas, mas da probabilidade de danos decorrentes destas. Caso não exista nenhum nível de proteção, essa probabilidade pode ser considerada sendo igual a 100%. Segundo a norma NBR 5419-2 (2015b, p. 26-27), há oito probabilidades de ocorrência de danos devido às descargas atmosféricas. A análise criteriosa das probabilidades, de acordo com cada nível de proteção, o auxilia na decisão do nível a ser implementado no projeto. Portanto, essas probabilidades são: • PA: probabilidade de uma descarga atmosférica em estrutura provocar ferimentos aos seres vivos por meio de choque elétrico. • PB: probabilidade de a descarga atmosférica na estrutura causar danos físicos. • PC: probabilidade de uma descarga atmosférica em uma estrutura causar falha em sistemas interno. • PM: probabilidade de uma descarga atmosférica próxima à estrutura ocasionar falha nos sistemas internos. 25 • PU: probabilidade de a descarga atmosférica em uma linha provocar ferimentos aos seres vivos por choque elétrico. • PV: probabilidade de descarga atmosférica em uma linha causar danos físicos. • PW: probabilidade de descarga atmosférica em uma linha causar falha em sistemas elétricos internos. • PZ: probabilidade de descarga atmosférica próxima a uma linha que entra na estrutura ocasionar falha em sistema interno. 3. SPDA para proteção de sistemas elétricos e eletrônicos Os sistemas de proteção contra descargas atmosféricas reduzem a probabilidade de danos à estrutura e ao volume protegido. Porém, mesmo com a adoção dessas técnicas, os sistemas elétricos e eletrônicos continuam sujeitos às falhas causadas pelos impulsos eletromagnéticos provindos das descargas atmosféricas (LEMP– Lightning Electromagnetic Impulse). Nesse sentido, para evitar esses possíveis danos nos sistemas eletrônicos internos, é recomendável a implementação das MPS (Medidas de Proteção contra Surtos). Segundo Santos (2015), para proteger um volume contra as LEMP, portanto, é preciso utilizar a divisão do espaço em ZPRs (Zonas de Proteção contra Raios), sendo que a região que contenha os equipamentos mais sensíveis precisar possuir uma ZPR associada, e cada zona e fronteira entre zonas necessita de medidas de proteção específicas. 26 Para melhor entender o conceito abstrato de zonas de proteção, observe a Figura 1, que contém um exemplo de divisão em duas zonas de proteção. Figura 1 – Exemplo de divisão do espaço em zonas de proteção Fonte: elaborada pelo autor. A base para elaboração das zonas de proteção são a existência de equipamentos sensíveis, a equipotencialização através de DPSs, o roteamento de condutores e as suas respectivas equipotencializações. Assim, a divisão em diversas zonas de proteção busca atenuar gradativamente os surtos de tensão. Como a Figura 1, em que todos os 27 sistemas condutores que adentram na ZPR 1 são equipotencializados localmente (com uso ou não de DPS) e depois podem ser conectados aos equipamentos. Caso esse condutor precise entrar em uma zona mais sensível (ZPR 2), ele precisará ser equipotencializado novamente para reduzir a probabilidade de ocorrência de LEMP. Sobre a quantificação de ZPR, Santos (2015, [s.p.]) afirma que “a intensidade da indução criada pela corrente da descarga atmosférica é máxima nas ZPR 0A e ZPR 0B, se reduz na ZPR 1, é mínima na ZPR 2 e desprezível na ZPR 3, para um valor determinado da corrente da descarga atmosférica”. As medidas básicas de proteção contra surto para divisão em ZPR e proteção de equipamentos eletrônicos incluem os seguintes itens (ABNT, 2015c, p. 14-15): • Aterramento: responsável por receber e dispersar para o solo o fluxo de corrente proveniente das descargas atmosféricas; • Equipotencialização: tem a função de minimizar possíveis diferenças de potencial entre condutores e reduz o campo magnético; • Blindagem magnética: a blindagem do espaço como um todo atenua o campo magnético que incide no volume protegido (tanto o campo proveniente de descargas diretas como indiretas). A blindagem das linhas condutoras internas é feita com a utilização de cabos ou dutos blindados, reduzindo os surtos que ocorrem no espaço interno; • Roteamento de linhas: o roteamento correto das linhas internas tem a função de reduzir laços de indução eletromagnética e consequentemente a captação de surtos; 28 • Coordenação de DPS: a elaboração de um sistema que possua dispositivos de proteção contra surto coordenados e dimensionados para cada zona minimiza os danos de qualquer surto de origem externa ou interna; • Interfaces isolantes: equipamentos capazes de realizar o interfaceamento e a isolação dos sinais elétricos que cruzam uma zona de proteção podem minimizar significativamente os efeitos das descargas que se propagam pela linha. 4. SPDA para linhas, subestações e cabines Todo o estudo sobre métodos de proteção, níveis de proteção e medidas de proteção contra surtos é aplicável também às subestações de distribuição de energia. Porém, devido ao fato de as subestações serem sistemas sensíveis e falhas no sistema elétrico oriundas de descargas atmosféricas poderem causar falhas inaceitáveis aos serviços de iluminação e energização, é preciso a criação de SPDA com utilização adicional de DPS para proteção contra sobretensão em todas as linhas de serviço que adentram a zona da subestação. Para a elaboração do projeto de SPDA para subestações, o primeiro passo é o Gerenciamento de Riscos, contido na norma NBR 5419-2 (ABNT, 2015b). Esse gerenciamento possibilitará a seguinte tomada de decisão, a partir de uma comparação entre o Risco Total (R) de descargas sobre a estrutura eo Risco Tolerável (RT), que é ditado por cada concessionária de energia elétrica: • Caso R ≤ RT, deve-se adotar a classe de proteção IV, além da utilização de DPS para proteção contra sobretensão em todos os condutores que entram na subestação (linha de telecomunicação, linha de energia elétrica, canos e eletrodutos condutores, etc.). 29 • Caso R RT, deve-se adotar medidas protetivas para primeiramente reduzir o risco, e aplicar a classificação de SPDA mais adequada. Além disso, é preciso utilizar DPS para proteção contra sobretensão em todos os condutores que entram na subestação (linha de telecomunicação, linha de energia elétrica, canos e eletrodutos condutores, etc.). A utilização dos métodos de proteção, assim como mencionado anteriormente, deve ser ainda mais controlada para criação de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas em subestações. Para entender o cuidado a ser tomado, analisaremos um exemplo que aplica o método da esfera rolante para proteção de uma subestação desabrigada de transmissão de energia. Neste exemplo, ao construir a subestação, é preciso instalar os postes a serem utilizados, em que no topo dos postes devem ser inseridos os captores. Então, considere que serão instalados quatro postes com captores, sendo que a configuração para proteger o volume da subestação é o ilustrado na Figura 2. Figura 2 – Disposição dos captores no exemplo de subestação Fonte: elaborada pelo autor. 30 A posição exata e a distância entre os captores podem ser calculadas através do método da esfera rolante, no qual o raio da esfera deve ser escolhido de acordo com a classe de proteção adequada para a subestação. A Figura 3 contém a disposição dos postes com captores fixos no topo, sendo que a posição e altura das hastes foi definida de acordo com a classe de proteção escolhida. Figura 3 – Postes com captores posicionados na subestação Fonte: adaptada de Energisa (2017, p. 50). Desse modo, é importante observar que alguns fatores precisaram ser considerados para o posicionamento dos postes e captores: se o raio da esfera está de acordo com a classe de proteção adequada e se os postes já estão com suas alturas máximas permitidas pela norma. Observe que, mesmo com o projeto do SPDA, alguns equipamentos ficaram fora da zona de proteção da esfera (a linha de distribuição e o transformador). Para proteger esses dispositivos é possível seguir 31 dois caminhos: aumentar a altura dos captores ou instalar estruturas auxiliares. Como o poste já está com sua altura máxima, a única opção é a instalação de componente extras ao SPDA. Para proteger a linha de distribuição, portanto, é preciso posicionar um cabo captor, fazendo com que a base da esfera P12 seja deslocada para o ponto de encontro com o novo cabo, fazendo com que todo equipamento que esteja abaixo do captor fique dentro do volume de proteção. Para proteger o transformador é preciso inserir outro poste auxiliar com captor, aumentando o volume de proteção. Ao tomar essas medidas de projeto, a subestação estará protegida, assim como ilustra a Figura 4. Figura 4 – Postes com captores posicionados na subestação Fonte: adaptada de Energisa (2017, p. 51). O exemplo estudado mostra que os métodos clássicos de projetos de SPDA também se aplicam às subestações com linhas de distribuição, mas evidencia que cuidados especiais devem ser tomados. Além disso, assim como citado, é imprescindível que haja a utilização de DPS para proteção contra sobretensão em todos os condutores que entram na subestação. 32 O estudo deste tema trouxe o conhecimento mais profundo sobre as classes de proteção enunciadas pela norma NBR 5419: níveis I a IV, que relacionam fatores como intensidade máxima e mínima das descargas, ângulo de proteção para captores Franklin ou raio da esfera para o método eletromeométrico. Além disso, a aplicação de técnicas adicionais de proteção (medidas de proteção contra surtos e divisão em zonas de proteção contra raios) para implementação em casos que existam equipamentos eletroeletrônicos especiais. Além disso, esta leitura possibilitou o estudo de caso da aplicação das técnicas de projeto de SPDA e captores a subestações, evidenciando que esses casos geralmente irão exigir estruturas adicionais de proteção contra descargas, além de exigir sempre a utilização de dispositivos de proteção contra surtos (sobretensão) em todas as linhas que entrem na subestação (sejam elas linhas de sinal, de comunicação, elétricas ou outros condutores metálicos). Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5419-1: Proteção contra descargas atmosféricas parte 1: princípios gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2015a. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5419-2: Proteção contra descargas atmosféricas parte 2: gerenciamento de risco. Rio de Janeiro, ABNT, 2015b. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS–ABNT. NBR 5419-4: Proteção contra descargas atmosféricas parte 4: sistemas elétricos e eletrônicos internos na estrutura. Rio de Janeiro: ABNT, 2015c. BORTOLATO, W. W. Estudo comparativo das alterações da norma NBR 5419, avaliação e estudo de gerenciamento de risco. 2017. 90 f. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica)–Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2017. ENERGISA. NTU–014: projetos de sistema de proteção contra descargas atmosféricas em subestações de distribuição. João Pessoa: Energisa, 2017. MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007. 33 OZOLNIEKS, M.; VANZOVICS, E. Determination of the necessity of protection against lightning and overvoltage and its choice. Proceedings off the 2010 Electric Power Quality and Supply Reliability Conference, Kuressaare, p. 171-176., jun. 2010. SANTOS, S. R. Zonas de proteção contra raios. Espaço 5419, [s.l.], ed. 114, jul. 2015. Disponível em: https://www.osetoreletrico.com.br/zonas-de-protecao-contra-raios/. Acesso em: 20 mar. 2020. 34 Sistemas de aterramentos e normas vigentes Autoria: Lucas dos Santos Araujo Claudino Leitura crítica: Aristóteles Ramon Dias Couto Moreno Objetivos • Estudar os sistemas de aterramento interno e externo e a relação entre aterramento com finalidade de proteção contra descargas atmosféricas e para instalação elétrica de baixa tensão. • Analisar os esquemas de aterramento utilizados em instalações elétricas e como eles são conectados ao barramento de equipotencialização e ao subsistema de aterramento do PDA. • Estudar as principais normas e regras de segurança pertinentes aos serviços e projetos de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas e sistemas de aterramento. 35 1. Introdução O sistema de proteção contra descargas atmosféricas envolve diversas etapas de projeto, desde a análise do local a ser protegido até o cuidado com a segurança das instalações elétricas. Por isso, o projeto dos três subsistemas de um SPDA (captação, descida e aterramento) precisa ser cuidadosamente elaborado. O subsistema de aterramento, assim como os outros subsistemas, tem uma função essencial para a proteção de estruturas e equipamentos: fornecer o canal para a corrente de descarga ser escoada. Além disso, o sistema de aterramento deve ser projetado para suportar suas outras funções em instalações elétricas, seja para a proteção de equipamentos eletrônicos em instalações de baixa tensão ou para proteção de subestações e sistemas em média tensão. Desse modo, todos esses projetos, dimensionamentos, requisitos e implementações precisam ser muito bem regulamentados, pois só assim será possível garantir a segurança de todos os sistemas relacionados ao desempenho da energia elétrica nas instalações. É com esse foco que esta leitura digital também fornece as normas de segurança básica aplicadas ao sistema de aterramento, ao SPDA e ao sistema elétrico de potência. 2. Características básicas do sistema de aterramento Todo sistema de instalação elétrica, seja de baixa ou médiatensão, para funcionar corretamente e com segurança contra danos causados por choques elétricos, necessita de um sistema de aterramento corretamente dimensionado. Por isso, os sistemas de aterramentos são 36 analisados e regulamentados a partir de três normas: i) NBR 5410, que trata das instalações elétricas de baixa tensão; ii) NBR 14039, falando sobre as instalações elétricas de média tensão; iii) NBR 5419, que regulamenta os sistemas de proteção contra descargas atmosféricas. A implementação correta de um sistema de aterramento visa proporcionar um caminho de baixa resistência para correntes indesejadas, sejam elas provindas de descargas atmosféricas ou de energização indesejada de componentes metálicos. Segundo Mamede Filho (2017), o corpo humano, por exemplo, pode suportar até 25mA de corrente alternada fluindo por ele, sendo que valores nessa escala de grandeza já são capazes de provocar asfixia, parada cardíaca e queimaduras. Os esquemas de aterramento, seus cálculos e respectivos dimensionamentos são todos regulados pelas normas citadas anteriormente. Porém, antes de estudar a forma correta de projetar e implementar um sistema de aterramento, é preciso conhecer os principais componentes e características desse sistema. 2.1 Elementos de uma malha de terra Nesse sentido, os principais elementos de uma malha de terra são: eletrodos de terra, condutores de aterramento, conexões e condutor de proteção. O eletrodo de aterramento é o componente responsável por realizar o contato direto entre o elemento condutor e a terra, permitindo a dispersão da corrente para a terra. Segundo a ABNT (2004), por meio da NBR 5410, toda edificação precisa conter algum tipo de infraestrutura para condução de corrente de fuga, sendo que as seguintes alternativas podem ser utilizadas para essa finalidade: a. preferencialmente, uso das próprias armaduras do concreto das fundações (ver 6.4.1.1.9); ou 37 b. uso de fitas, barras ou cabos metálicos, especialmente previstos, imersos no concreto das fundações (ver 6.4.1.1.10); ou c. uso de malhas metálicas enterradas, no nível das fundações, cobrindo a área da edificação e complementadas, quando necessário, por hastes verticais e/ou cabos dispostos radialmente (“pés-de-galinha”); ou d. no mínimo, uso de anel metálico enterrado, circundando o perímetro da edificação e complementado, quando necessário, por hastes verticais e/ou cabos dispostos radialmente (“pés-de-galinha”). (ABNT, 2004, p. 142) O condutor de aterramento, por sua vez, é o cabo condutor que conecta o barramento de equipotencialização ao eletrodo de aterramento. E, segundo a norma NBR 5410, esse condutor deve ser dimensionado de acordo com as características do solo (caso este esteja enterrado no solo), da classe de proteção e do material do cabo (BRASIL, 2004). A tabela a seguir mostra como as características do meio, no caso o solo para um condutor enterrado, e de proteção podem influenciar na seção mínima do condutor de aterramento. Tabela 1 – Seção mínima de condutores de aterramento instalados de forma enterrada no solo Protegido contra danos mecânicos Não protegido contra danos mecânicos Protegido contra corrosão Cobre: 2,5 mm2 Aço: 10 mm2 Cobre: 16 mm2 Aço: 16 mm2 Não protegido contra corrosão Cobre: 50 mm2 (solo ácido ou alcalino) Aço: 80 mm2 Fonte: adaptada de ABNT (2004, p. 145). 38 As conexões são realizadas para garantir a continuidade elétrica entre dois elementos condutores. Para o caso específico de implementação de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas, a norma NBR 5419-3 explicita que essa função deve ser realizada através de solda exotérmica ou elétrica, ou através de conexões mecânicas que comprimam ou pressionem os condutores (ABNT, 2015b). Os condutores de proteção são aqueles que tem a função de realizar a ligação das massas (objetos, carcaças, equipamentos etc.) ao sistema de aterramento principal. Esses condutores precisam ser também dimensionados corretamente, e a norma NBR 5410 estabelece ainda dois métodos de dimensionamento: cálculo matemático e tabela de referência (ABNT, 2004). Para calcular a seção mínima S, dada em milímetros quadrados, do condutor de proteção a ser utilizado no sistema de aterramento é preciso conhecer o valor da corrente eficaz (I) da corrente de falha estimada, o tempo de atuação (t) do dispositivo de proteção utilizado para realizar o seccionamento em caso de falta e o fator k, que depende do material do condutor. Sendo assim, a seção S é calculada da seguinte maneira: 2I tS k = (1) Ou então, a seção S pode ser obtida com auxílio da Tabela 2, que relaciona a seção dos condutores de fase e a seção mínima do condutor de proteção. Tabela 2 – Seção mínima dos condutores de proteção Seção dos condutores de fase Sf [mm2] Seção mínima do condutor de proteção S [mm2] Sf ≤ 16 S = Sf 16 35 S = Sf/2 Fonte: adaptada de ABNT (2004, p. 150). 39 3.1 Resistência do sistema de aterramento Segundo a ABNT (2015b), de acordo com a NBR 5419-3, o subsistema de aterramento e sua respectiva malha de terra deve ser projetado de tal forma que seja obtida a menor resistência de aterramento possível, considerando a resistividade do solo local e a topologia de eletrodos escolhida. Para isso, deve-se considerar todos os efeitos resistivos que podem influenciar no valor nominal da resistência de aterramento, que são a resistência relativa às conexões, a resistência relativa ao contato físico entre eletrodo de aterramento e o solo ao seu redor e a resistência de dispersão, que é aquela relativa ao solo que está no terreno no entorno do eletrodo. Como recomendação específica para o sistema de proteção contra descargas atmosféricas, a NBR 5419-3 recomenda que seja utilizada uma única infraestrutura de aterramento projetada para todos os propósitos; ou seja, a utilização da malha e eletrodos de aterramento deve suportar o SPDA, o aterramento da instalação elétrica da residência e dos sinais que adentram o volume protegido (sinais de TV a cabo, sinais de telecomunicações, internet, tubulações metálicas etc.) (ABNT, 2015b). 3. Tipos de aterramento em SPDA Um ponto muito importante é compreender a ligação conceitual entre o sistema de aterramento citado pela norma NBR 5410 e pela NBR 5419, ambas normas tratam sobre a infraestrutura de aterramento, que contempla o eletrodo e toda a malha de aterramento (ABNT, 2004; 2015a; 2015b). As normas estabelecem prescrições para o eletrodo de aterramento; porém, a NBR 5410 prescreve medidas para o aterramento 40 voltado para a aplicação (ligação com as massas) e a NBR 5419 orienta no sentido da malha de proteção contra descargas atmosféricas. Para o que se refere à proteção contra descargas atmosféricas, é importante se ater ao que a norma NBR 5419 prescreve. Sendo assim, ela possibilita duas formas de aterramento: estrutural e externo. Por sua vez, o sistema de aterramento estrutural aproveita as armaduras das fundações e da estrutura da edificação, colunas, baldrames e estruturas de aço, contanto que todas essas estruturas condutoras garantam a continuidade elétrica e proporcionem condições para o aterramento das massas (TERMOTÉCNICA, 2017). Caso seja impossível o aproveitamento das armaduras das fundações, a ABNT (2015b, p. 17), através da norma NBR 5419-3 possibilita o uso de um arranjo baseado em “condutor em anel, externo à estrutura a ser protegida, em contato com o solo por pelo menos 80% do seu comprimento total, ou elemento condutor interligando as armaduras descontínuas da fundação (sapatas)”. Para entender melhor conceito de aterramento através de um condutor externo em forma de anel, observe a Figura 1, que contém uma determinada propriedade com cinco edificações dentro de seu limite. 41 Figura 1 – Exemplificação de aterramento externo por condutor em anel Fonte: elaborada pelo autor. A norma especifica que, caso não seja possível utilizar a estrutura,deve-se aplicar condutores ligados em anel ao redor da estrutura. Mais especificamente, a norma afirma que esse eletrodo em anel deve ser enterrado a uma profundidade mínima de meio metro e posicionado a aproximadamente um metro das paredes da estrutura (ABNT, 2015b). Ainda sobre o aterramento de estruturas dentro de uma propriedade, nenhuma norma obriga a interligação entre os diferentes subsistemas de aterramento. A única regra existente, tanto na norma de instalações elétricas de baixa tensão como nas instalações elétricas de média tensão, é que massas simultaneamente acessíveis devem estar vinculadas ao mesmo eletrodo de aterramento. 4.1 Equipotencialização para PDA O subsistema de aterramento do SPDA é, em grande maioria dos casos, interligado a um barramento ou dispositivo de equipotencialização, que é quando ocorre a ligação da malha de SPDA às instalações elétricas, aos sistemas internos ou às partes condutivas externas e linhas condutores ligadas à estrutura. Essa interligação pode ser realizada 42 de forma direta ou indireta; para ligações diretas, os condutores fornecem a continuidade elétrica entre o SPDA e a estrutura a ser equipotencializada; já a ligação indireta possui o dispositivo de proteção contra surto para realizar a conexão. A equipotencialização para estruturas metálicas internas, para os casos nos quais o SPDA seja externo e isolado, a equipotencialização deve ser realizada diretamente no solo; ao passo que quanto o SPDA externo não é isolado, a equipotencialização deve ocorrer na base da estrutura ou o mais próximo possível do nível do solo, sendo que todas as ligações de equipotencialização para fins de PDA precisam ser retilíneas e curtas (ABNT, 2015b, p. 24). Quando existem elementos condutores externos1 que adentrem o volume protegido, deve haver também a equipotencialização entre esse elemento e a malha de terra, sendo que a ligação deve ocorrer no ponto mais próximo do local de entrada do condutor. Além disso, caso a ligação direta entre esse condutor e o SPDA não seja possível, é preciso utilizar um dispositivo de proteção contra surtos. Além disso, é preciso realizar a equipotencialização entre os sistemas elétricos e eletrônicos internos e o SPDA. No caso de condutores elétricos internos que possuam blindagem ou estejam alocados dentro de eletrodutos condutores, basta fazer a equipotencialização entre a blindagem/eletroduto e o barramento de equipotencialização. Porém, para os casos em que isso não seja válido, os condutores de proteção e neutro devem ser ligados ao SPDA e, consequentemente, ao subsistema de aterramento, através de um DPS. Finalmente, é preciso realizar a equipotencialização entre as linhas2 conectadas ao volume protegido. Todos os condutores, de todas 1 Entende-se por condutor externo qualquer elemento capaz de conduzir corrente elétrica, e não necessaria- mente um cabo condutor. Por exemplos: canos metálicos, eletrodutos, antenas, cabos, barras metálicas etc. 2 Entende-se por linhas os cabos condutores de energia elétrica destinados a fornecer a energia necessária aos equipamentos e aos sistemas internos ao volume protegido. 43 as linhas de entrada, devem ser equipotencializados direta ou indiretamente (através de DPS). Portanto, os condutores vivos devem ser conectados ao barramento de equipotencialização do SPDA através de DPS, e os condutores de proteção (PE) ou combinados (PEN: neutro + proteção) devem ser ligados diretamente ao subsistema de aterramento. 4. Esquemas de aterramento para finalidade em baixa tensão Como já dito anteriormente, as normas NBR 5410 (Instalações Elétricas em Baixa Tensão), NBR 14639 (Instalações Elétricas em Média Tensão) e NBR 5419 (Proteção Contra Descargas Atmosféricas) tratam sobre sistemas de aterramento, e se refém ao mesmo eletrodo (seja ele em anel ou pela estrutura). Porém, cada norma direciona os estudos para a sua respectiva finalidade. Uma classificação muito importante enunciada pela NBR 5410 é a divisão dos esquemas possíveis de aterramento para interconexão das massas à malha de aterramento, por isso, estudaremos a seguinte divisão adiante. A configuração do aterramento recebe um nome específico, sendo que a primeira letra representa a situação da alimentação em relação à terra, a segunda letra contém a situação dos equipamentos da instalação em relação à terra e as demais representam como são as disposições dos condutores neutro e de proteção. Sendo assim, há três configurações possíveis: o esquema IT, o esquema TT e o esquema TN. A seguir você poderá estudar alguns desses esquemas, sabendo que a lista completa e características de cada são detalhadas pela NBR 5410 (BRASIL, 2004). 44 Figura 2 – Esquema TN-S de aterramento Fonte: elaborada pelo autor. Observe a Figura 2, em que é possível verificar o esquema de aterramento do tipo TN-S, onde há dois condutores distintos para a função de neutro (N) e proteção (PE); porém, o condutor de neutro é aterrado na entrada do circuito de alimentação. Caso seja possível e com os condutores corretamente dimensionados, é possível utilizar um único condutor com funções combinadas para neutro e proteção. Então, esse esquema de aterramento recebe o nome de TN-C, assim como ilustra a Figura 3. Figura 3 – Esquema TN-C de aterramento Fonte: elaborada pelo autor. 45 Assim, alguns equipamentos sensíveis ou de uso especial necessitam de um eletrodo específico de aterramento, para fazer a distinção entre aterramento da alimentação e das massas específicas. Para estes casos, o condutor de neutro pode ou não ser também aterrado na entrada de alimentação de energia. Esse esquema de aterramento é chamado de TT. Para melhor entender o esquema de ligação dos condutores, observe a figura a seguir. Figura 4 – Esquema TT de aterramento Fonte: elaborada pelo autor. 5. NR-10 e segurança aplicada ao SPDA A norma regulamentadora, instituída pelo Ministério do Trabalho e do Emprego inicialmente no ano de 1978 e atualizada em 2016, estabelece um comportamento a ser seguido para garantir a segurança em instalações e serviços em eletricidade (BRASIL, 2016). Ou seja, ela contém regras que devem ser seguidas ao executar qualquer trabalho ligado a eletricidade. Visto que o projeto e execução de proteções contra descargas atmosféricas e sistemas de aterramento também faz parte 46 de serviços com eletricidade, é importante destacar alguns pontos desta norma. O primeiro ponto é a abrangência da NR-10, que é aplicada a todas as etapas de projeto, execução e manutenção de elementos do SEP (Sistema Elétrico de Potência). Sendo assim, o SPDA e aterramento se enquadram dentro do escopo da norma (BRASIL, 2016). Outro ponto importante é a exigência que a norma faz da apresentação da documentação técnica simplificada (diagrama unifilar) para toda execução de SPDA; já para os projetos cuja carga instalada é superior a 75kW, a elaboração do chapado prontuário técnico, que contém todos os documentos de procedimentos de segurança a serem adotados durante a execução e manutenção do sistema (BRASIL, 2016). Sobre o aterramento, ainda, esta norma de segurança obriga que o sistema de aterramento das instalações elétricas deva seguir a regulamentação estabelecida pelos órgãos competentes. Ou seja, deve- se aplicar os conceitos e limiares estabelecidos pelas três normas: NBR 5410 no caso de instalações elétricas de baixa tensão, NBR 14639 no caso de instalações elétricas de média tensão e NBR 5419 para projetos de proteção contra descargas atmosféricas. Além disso, ela cita que o projeto deve definir qual é a configuração do esquema de aterramento e se há a conexão entre os condutores neutro e de proteção (BRASIL, 2016). Esses requisitos são aplicados aos projetos de SPDA e instalações de sistemas de aterramento em baixa tensão. Porém, caso o trabalho seja realizado em níveis de alta tensão e subsistemas do SEP, é preciso que haja um treinamento específico para aplicaçãoda NR 10 ao SEP. Um exemplo de norma específica de segurança aplicada ao SEP é que todo e qualquer trabalho em linha de alta tensão ou proximidade do SEP não deve ser realizado individualmente, precisando ser registrado com 47 ordem de serviço especificando a data e local da execução (BRASIL, 2016). A partir de todos os conceitos, normas e regulamentações aprendidos, é possível entender o motivo pelo qual o sistema de aterramento precisa ser muito bem elaborado e seja capaz de interconectar os condutores de descida do SPDA, as malhas de aterramento de subestações e o barramento equipotencial destinado à ligação de equipamentos internos. Por fim, é possível verificar que as normas de segurança pertinentes ao setor elétrico possuem seções específicas para tratar das práticas e cuidados necessários com o sistema de aterramento e com os elementos do sistema elétrico de potência. Para trabalhos relacionados ao SEP, nota-se em especial a grande importância dada à documentação exigida para garantir a segurança do projeto, além dos cuidados com materiais, equipamentos de proteção e técnicas para garantir a segurança dos trabalhos. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 5410: instalações elétricas de baixa tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 5419-1: proteção contra descargas atmosféricas parte 1: princípios gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2015a. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 5419-3: Proteção contra descargas atmosféricas parte 3: danos físicos a estruturas e perigos à vida. Rio de Janeiro: ABNT, 2015b. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 14039: Instalações Elétricas de Média Tensão de 1,0kV a 36,2kV. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. BRASIL. Ministério de Trabalho. NR 10: segurança em instalações e serviços em eletricidade. Brasília: MTE, 2016. 48 MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007. TERMOTÉCNICA (Belo Horizonte). Orientações para dimensionamento da malha de aterramento do SPDA. 2017. Disponível em: https://tel.com.br/orientacoes-para- dimensionamento-da-malha-de-aterramento-do-spda/. Acesso em: 11 mar. 2020. 49 Projeto e dimensionamento de SPDA Autoria: Lucas dos Santos Araujo Claudino Leitura crítica: Aristóteles Ramon Dias Couto Moreno Objetivos • Analisar os passos essenciais a serem seguidos durante o projeto de um SPDA. • Estudar e calcular os riscos e danos possíveis de serem causados por descargas atmosféricas em uma estrutura ou linha de energia. • Projetar, dimensionar e especificar os subsistemas de descida e aterramento de um SPDA. 50 1. Introdução O sistema de proteção contra descargas atmosféricas é essencial para garantir a segurança elétrica de qualquer estrutura ou edificação. Por isso, o projeto de um SPDA deve ser realizado de acordo com as normas, os requisitos de segurança e as análises de riscos. Somente o projeto corretamente elaborado garantirá que o SPDA exercerá corretamente a função de reduzir a probabilidade de descargas atmosféricas causarem danos à estrutura ou aos sistemas internos. Para um projeto de SPDA, o primeiro passo importante é a análise cautelosa das normas pertinentes, pois elas ditam como devem ser dimensionados todos os subsistemas, inclusive quais materiais podem ser utilizados na construção de captores, descida, conexões, aterramento etc. Assim, antes de iniciar o projeto, deve-se elencar todas as normas, os cuidados e as recomendações a serem tomadas durante o projeto e sua execução. Além disso, a análise de risco também é um ponto essencial, pois todo projeto de SPDA deve ser justificado através da apresentação de cálculos e teorias que comprovem a real necessidade e efetividade do sistema de proteção contra descargas atmosféricas. 2. Considerações e informações sobre a edificação Todo projeto de sistema de proteção contra descargas atmosféricas deve se iniciar pelas considerações iniciais e pela descrição da edificação ou estrutura que será protegida. Portanto, para o desenvolvimento deste tema, será considerada uma estrutura destinada ao trabalho de servidores públicos. Considere também que o prédio possui 60 metros 51 de comprimento, 40 metros de largura e 15 metros de altura, essas informações básicas já são suficientes para o início do projeto de SPDA para edificação. Por sua vez, cálculos, considerações e recomendações do projeto devem ser registrados em um documento chamado memorial descritivo, que contém o detalhamento da metodologia utilizada, as informações da obra, as normas utilizadas para projeto e execução, a lista de materiais e outros itens que sejam importantes para o projeto. Portanto, o memorial descritivo deve começar elencando quais normas foram utilizadas como base para o projeto. No caso do projeto de um SPDA, as seguintes normas devem ser elencadas como essenciais: • NBR 5419-1: Proteção contra descargas atmosféricas parte 1 – princípios gerais. • NBR 5419-2: Proteção contra descargas atmosféricas parte 2 – gerenciamento de risco. • NBR 5419-3: Proteção contra descargas atmosféricas parte 3 – danos físicos a estruturas e perigos à vida. • NBR 5419-4: Proteção contra descargas atmosféricas parte 4 – sistemas elétricos e eletrônicos internos na estrutura. • NBR 5410: Instalações elétricas de baixa tensão. • NBR 10898: Sistema de iluminação de emergência. • NR-10: Segurança em instalações e serviços em eletricidade. 52 3. Projeto do SPDA e aterramento Uma vez especificadas as normas utilizadas, você mostrará que seu projeto, se devidamente executado, está atendendo aos requisitos e, consequentemente, fornece proteção contra descargas atmosféricas. 3.1 Especificações para o subsistema de aterramento Após elencadas as normas e as principais características da edificação, pode-se dar início aos cálculos, dimensionamento e escolha de componentes que devem fazer parte do sistema de proteção contra descargas atmosféricas. A seguir, detalharemos as seleções e dimensionamentos de materiais. Devido às características do prédio, especifica-se um eletrodo de aterramento em anel enterrado a uma profundidade mínima de 60 centímetros e distanciado de cerca de 1 metro das paredes externas da edificação. Como a instalação do eletrodo precisa permitir inspeções futuras, deve-se também especificar caixas de inspeção ao longo do eletrodo (ABNT, 2015c). O eletrodo de aterramento a ser enterrado será uma cordoalha flexível de cobre nu com seção de 50 mm2 e hastes cravadas com diâmetro de 15 mm. A conexão entre hastes e condutores, por sua vez, deve ser feita através de solda exotérmica ou conectores de pressão específicos (ABNT, 2015c). Ainda sobre a especificação de materiais a serem utilizados no SPDA, deve-se dimensionar o sistema de captação. Para isso, recorrendo à NBR 5419-3, pode-se especificar uma captação feita por cabos de cobre nu de 35 mm2 e fita maciça de alumínio de seção 70 mm2 (ABNT, 2015c). O posicionamento dos captores deve ser feito através do método 53 eletrogeométrico ou da gaiola de Faraday, partindo da dimensão do edifício e da classe de proteção a ser escolhida. Além disso, outro fator fundamental durante o projeto é a especificação da resistência de aterramento e, consequentemente, a resistividade do solo. Essa característica é muito importante e deve ser aferida através de instrumentos de medição, como o terrômetro. Para especificar esse valor, deve-se recorrer à norma NBR 5419-1 e, tendo a classe de proteção desejada, selecionar a impedância convencional de aterramento e a resistividade do solo (ABNT, 2015a). Esses valores são apresentados na Tabela 1, sendo Z a impedância convencional de aterramento do subsistema de aterramento, Z1 impedância convencional de aterramento das partes externas e ρ a resistividade do solo. Tabela 1– Especificação de impedância convencional de aterramento em função da classe doSPDA e da resistividade do solo ρ [Ωm] Z1 [Ω] Impedância convencional de aterramento Z [Ω] I II III – IV ≤100 8 4 4 4 200 11 6 6 6 500 16 10 10 10 1000 22 10 15 20 2000 28 10 15 40 3000 35 10 15 60 Fonte: adaptada de ABNT (2015a, p. 61). Além disso, todos os condutores metálicos da entrada de serviço de energia (carcaça de caixa de medição, transformadores e equipamentos) devem ser diretamente conectados ao sistema de aterramento. Após essas conexões, caso a medição de resistência de aterramento não forneça valores satisfatórios, deve-se recorrer ao tratamento do solo 54 (para aumentar a condutividade) ou aumento do número de hastes de aterramento, respeitando a distância mínima entre elas. 4.1 Especificações para o subsistema de descida Segundo especificações da ABNT (2015c, p. 14), a fim de reduzir a probabilidade de falhas provenientes de descargas atmosféricas, os condutores de descida devem ser dispostos paralelamente, compondo o menor comprimento possível entre captores e aterramento e não pode haver emendas em um mesmo condutor. A 10 metros do solo deverá existir uma interligação horizontal dos condutores de descida, com a intenção de distribuir mais homogeneamente as correntes provindas das descargas, assim como especifica a Tabela 2, retirada da norma NBR 5419-3 (ABNT, 2015c, p. 15). Tabela 2 – Distâncias típicas aceitáveis entre anéis condutores e condutores de descida em função da classe do SPDA Classe de SPDA Distância [m] I 10 II 10 III 15 IV 20 Obs.: pode-se aceitar um espaçamento máximo de 20% acima dos valores fornecidos nesta tabela. Fonte: adaptada de ABNT (2015c, p. 15). Como a edificação deste projeto é retangular, serão instalados condutores de descida nos quatro cantos e os cabos adicionais serão espaçados igualmente ao redor da estrutura. A conexão entre os condutores de descida e a malha de aterramento deve ser feita através de solda exotérmica ou conector de pressão, sendo que ao menos uma conexão de ensaio deve ser projetada. Essa conexão é um ponto onde a 55 conexão possa ser aberta apenas com auxílio de uma ferramenta, para fins de ensaio do subsistema de descida, sendo que essa conexão não pode estar em contato com o solo. 5.1 Especificações para a equipotencialização A equipotencialização é parte essencial do SPDA e, também, deve ser feita de acordo com as normas vigentes. Caso haja caixas de medição, derivação ou caixas metálicas em geral, a sua carcaça deverá ser ligada ao barramento de equipotencialização principal (BEP) através de cabos não enterrados de cobre com seção de 16 mm2 e isolamento na cor verde. Essa ligação entre carcaça de caixas metálicas e BEP pode também ser feita de forma direta ou indireta (através do uso de DPS) (ABNT, 2015a, p. 24). A equipotencialização para as linhas carregadas de alimentação elétrica ou de sinais deverá ser realizada de forma indireta, por meio de DPS para toda linha condutora. Os condutores carregados devem ser ligados indiretamente ao BEP mais próximo, enquanto os condutores de proteção (PE) e agrupados (PEN) devem ser ligados diretamente ao barramento de equipotencialização. 6.1 Cálculo da necessidade do SPDA A ABNT (2015b)., através da NBR 5419-2, formalizou um cálculo de análise de risco, para identificar a necessidade de instalação de SPDA em uma edificação. Essa análise considera diversos fatores, como a probabilidade de descargas atmosféricas, perigos à vida e à estrutura. Nesta etapa, o trabalho do projeto de um SPDA é justamente analisar o risco e a necessidade de um sistema de proteção, considerando o risco tolerável e o risco aparente. 56 Desse modo, o primeiro parâmetro importante é a densidade de descargas atmosféricas para a terra (Ng), cuja unidade é dada em descargas/km2/ano. Para este caso, considere Ng = 12,4 [descargas/ km2/ano]. O segundo parâmetro é a área de exposição equivalente, que é função das características da estrutura e é dada por (ABNT, 2015b, p. 32): 22(3 )( ) (2 )D W H LA W HL π+ += × + (4.1) Sendo W=40 m, H=15 m e L=60 m, respectivamente, largura, altura e comprimento da edificação, e substituindo os valores na Equação (4.1), pode-se encontrar AD=17761,72 m2. Os próximos parâmetros devem ser escolhidos a partir da análise da estrutura e do local onde ela está instalada, observando os valores possíveis fornecidos pela NBR 5419-2 (ABNT, 2015b). A Tabela 3, por sua vez, fornece os fatores de ponderação importantes para o projeto, bem como sua identificação, valor adotado e motivo da escolha do valor. Essa escolha é toda baseada nos valores existentes ao logo das especificações da norma NBR 5419-2 e da observação do local a ser protegido. (ABNT, 2015b). Tabela 3 – Fatores de ponderação e características para o projeto do SPDA Fator Valor Motivo CD – Fator de localização 0,5 Localizada de com objetos de mesma altura ou mais baixos ao seu redor CI – Fator de instalação de linha de energia 0,5 Linha de energia subterrânea CT – Fator de tipo de linha de energia 0,2 Linha em alta tensão com transformador AT/BT CE – Fator ambiental da linha de energia 0,1 Linha em ambiente urbano 57 LL – Comprimento da linha de energia 60 Medida fornecida CIS – Fator de instalação da linha de sinal 0,5 Linha de sinal subterrânea CTS – Fator de tipo de linha de sinal 1,0 Linha de sinal CES – Fator ambiental da linha de sinal 0,1 Linha em ambiente urbano LLS – Comprimento da linha de sinal 1 Medida fornecida UW – Tensão suportável dos sistemas de energia 13,8 kV UWS – Tensão suportável dos sistemas de sinal 1,5 kV PSPD – probabilidade de falha devido ao uso de DPS–linha de energia 0,02 Uso de DPS para proteção nível II PSPDS – probabilidade de falha devido ao uso de DPS–linha de sinal 1 Ausência de DPS nas linhas de sinal CLD e CLI – fator de tipo de linha–energia 1 e 0,2 Linha de energia com neutro aterrado e nenhuma conexão de entrada CLDS e CLIS – fator de tipo de linha – sinal 1 e 0,3 Linha enterrada com blindagem não ligado ao BEP Fonte: elaborada pelo autor. A partir desses parâmetros, o próximo passo é o cálculo do número de eventos perigosos para a estrutura da edificação (ND) e o número médio de ocorrência perigosas devido às descargas próximas a estrutura (Nm), que são encontrados respectivamente pelas Equações 4.2 e 4.3. 6 610 17761,72 0,5 10 0,110112, 4D G D DN N A C − −× × × × × == = × (4.2) 58 6 6 810 8 612,4 85398,1 1 10,0 9M G MN N A − −= == × × × × (4.3) Sendo AM a área de exposição equivalente, calculada como: 22 500 ( ) 500M LA W π= × × + + × . Para prosseguir com a avaliação da necessidade de SPDA, visto as características da edificação, é preciso a identificação das zonas existentes no local. Como o prédio é destinado ao trabalho de servidores públicos, pode-se fazer a seguinte divisão: • Zona 1: área externa (considerar 10 pessoas circulando). • Zona 2: escritórios (considerar 60 pessoas trabalhando). • Zona 3: central de informática (considerar 30 pessoas trabalhando). Toda estrutura ou edificação que está sujeita às descargas atmosféricas pode sofrer dados ou perdas, sendo que elas precisam ser contabilizadas. A Tabela 4 relaciona dos danos e perdas possíveis associadas às possíveis descargas atmosféricas que atinjam a edificação. Tabela 4 – Tipos de perdas possíveis na edificação estudada Fonte de dano Tipo de dano Tipos de perda Descarga atmosférica D1: ferimento a seres vivos L1: perda de vida humana D2: danos físicos L1, L4 D3: falha de sistemas eletroeletrônicos L4: perda de valores econômicos Fonte: elaborada pelo autor. Após identificados os tipos de perdas e danos possíveis na estrutura, é preciso calcular seus valores, pois isso será essencial para a determinação da necessidade de SPDA. Para esta tarefa, a norma NBR 59 5419-2 (ABNT, 2015b) fornece as equações necessária para o cálculo correto, sendo que alguns parâmetros foram apresentados na Tabela 3. As Equações 4.4, 4.5 e